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You Will Break - Ember Michaels (Revisado)
You Will Break - Ember Michaels (Revisado)
—Sim, Amber está de férias em Bora Bora agora com seus amigos.
Tenho certeza de que ela não se importará em prolongar por mais um
pouco, — disse ele com um encolher de ombros.
—Eu concordo com isso, — disse Bruce com uma risada baixa. —Então,
qual é o plano, chefe?
—Nyxin, — eu disse.
—Aumente sua conexão com o mercado negro. Diga a eles que teremos
alguns órgãos à venda em breve.
Ele sorriu. —Os firewalls e a segurança do seu pai são uma merda. Isso
é o que acontece quando você contrata pessoas medíocres para proteger
suas coisas.
Meu telefone acendeu mais uma vez com outra chamada, me irritando
pra caralho. Rangendo os dentes, atendi à chamada e coloquei no viva-voz.
—O que? — Eu assobiei.
Bruce olhou para mim com uma sobrancelha levantada, mas eu apenas
dei de ombros. Depois de matar seus dois chefes e eles nos atacarem no
esconderijo, eu não tinha a porra da ideia de por que os negócios ainda
estavam em jogo.
—Quem é? — Eu exigi.
Olhei em volta para meus homens, que pareciam tão confusos quanto
eu. Parecia uma armadilha, o que me deixou ainda mais nervoso.
—Por que diabos eu iria querer fazer negócios com alguém que enviou
homens para me matar? — Eu perguntei, lutando para manter minha
irritação sob controle.
—Se algo aconteceu com você, não foram meus homens, — ele falou
lentamente.
—Besteira, — eu rebati. —Reconheço as bandeiras russas quando as
vejo.
Um favor?
Covarde de merda.
—Puta merda, — eu cuspi. —Não quero uma aliança com uma única
alma que faz negócios com Wilson.
—E por que você acha que ele é meu inimigo? — Eu disse lentamente,
ficando entediado com a conversa.
—Eu suponho que você não seria amigável com alguém que tem uma
recompensa pela sua cabeça, — Aleksi disse, sua voz pingando diversão.
Depois de toda a merda que aquele homem me fez passar, eu queria ser
aquele que derramaria seu sangue. Eu queria ver ele dar seu último
suspiro. Eu queria ver a vida sumir de seus olhos, assim como ele
provavelmente fazia com todos que ele tirou de mim.
—Por que diabos eu faria isso quando posso ficar com isso para mim?
— Eu rebati.
—Eu terei que retornar a você sobre isso. Eu tenho muita merda com
que lidar do que discutir suas merdas. Entrarei em contato, — eu disse e
desliguei antes que ele pudesse dizer outra palavra.
—Você acha que eu devo esperar mais para que o filho da puta possa
tentar me matar? — Eu rosnei.
Ele rapidamente balançou a cabeça. —De jeito nenhum. Basta nos dizer
o que você precisa que façamos.
Tentei ser paciente com ela, dando a ela chance após chance de entrar
na linha, mas tudo o que ela fez ultimamente foi me testar. Entre sua
insistência sobre essas ‘novas revelações’ que ela tivera em seus sonhos, até
ela se tornar mais ousada e falante desde que deixamos a casa segura, e
parei de brincar com ela.
Então, nas últimas horas, a fiz reviver o que ela considerou ser o pior
dia de sua vida. Reproduzi nosso pequeno tango violento na sala
Retribuição em repetição, eletrodos presos em seu corpo em sincronia com
o vídeo. Sempre que ela era atingida ou violada no vídeo, o eletrodo
estimulava a dor naquela área. Depois de horas disso, você pensaria que
ela finalmente aprenderia a lição, mas Aurora não aprendeu com a dor
como a pessoa comum. Se não soubesse melhor, acharia que ela era uma
fodida masoquista.
Seu olhar endureceu quando ela olhou para mim. —Isso é tudo?
—O que?!
—E você não vai falar sem permissão. A única coisa que você vai dizer é
'sim, senhor.'
Dei um tapa forte no rosto dela, a satisfação fluindo por mim quando
ela choramingou. —Você não tinha permissão para falar, vagabunda, —
rosnei. —Eu nem terminei de dizer a você suas novas regras e você já está
quebrando.
Ela acenou com a cabeça. Quando levantei uma sobrancelha para ela,
ela finalmente balbuciou. —Sim.
—Sim?
Ela limpou a garganta quando uma única lágrima caiu. —Sim senhor.
—Que bom que estamos claros, — disse com um sorriso. Ela desviou o
olhar de mim quando um par de lágrimas caiu, seu corpo inteiro tremendo
de medo e raiva desenfreada que ela não podia fazer nada sobre. —Algo
que você gostaria de dizer?
Ela voltou os olhos para mim antes de focar rapidamente no chão.
Dei alguns passos mais perto dela e apertei seu seio macio. —Eu disse
que coisas boas aconteceriam com você quando você se comportasse, —
murmurei, sorrindo quando ela choramingou novamente. Ela se contorceu
sob meu toque quando apertei um pouco mais forte, mordendo seu lábio
inferior para não fazer barulho. —Mas quando você não o faz, nós dois
sabemos o que vai acontecer.
Afrouxei meu aperto em torno de seu seio e deslizei meus dedos até seu
mamilo. Ela respirou fundo quando eu o belisquei e tentou se afastar de
mim, o que só resultou em um aperto mais forte.
Seu rosto lentamente ficou vermelho enquanto ela fechava os olhos com
força, sacudindo o corpo para se libertar do meu aperto. Quando algumas
lágrimas rolaram pelo seu rosto, finalmente a deixei ir. Brincar com ela
seria divertido, mas assistir seu orgulho quebrar com minhas novas regras
seria interessante de assistir também. Aurora não era o tipo de mulher que
se curvava tão facilmente, então eu estava curioso para saber como nosso
pequeno arranjo funcionaria.
Fui até a parede e apertei o botão para baixar a corrente que estendia
seus braços. Ela revirou os ombros quando seus braços estavam baixos o
suficiente, fungando enquanto enxugava algumas lágrimas sem dizer uma
palavra.
—Não toque nisso, — disse, me abaixando para pegar eles. Ela olhou
para mim com olhos selvagens, a confusão gravada em seu rosto. —Você
vai ficar nua na minha presença.
Fechei a distância entre nós e envolvi uma mão firme em torno de sua
garganta. Seu pulso batia esporadicamente sob meus dedos enquanto ela
olhava para mim, um olhar de desafio e determinação brilhando em seus
olhos.
Ela não disse uma palavra, apenas me olhando. Podia ver a rebelião em
seu olhar, mas sua postura gritava medo. Me lembrei da última vez que eu
realmente a puni, como ela parecia no colchão fino no chão coberta de
hematomas.
—Você vai fazer o que quero que você faça, quando eu quiser que você
faça. Se eu quiser que você ande por esta casa nua, você o fará. Se eu quiser
te foder na frente de uma plateia, eu vou. Que fique claro que se você ainda
não consegue se recompor e aprender qual é o seu lugar, você se tornará
uma trabalhadora do sexo. Eu não vou ficar indo e voltando com você. É
isso que você quer?
—Não.
—Não?
Tirei minha mão de sua garganta. —Então, estamos claros agora, certo?
Ela colocou um braço em volta do peito para cobrir os seios e cobriu sua
boceta nua com a mão livre enquanto nos movíamos em direção à porta. Eu
ri.
Por mais que odiasse qualquer outra pessoa olhando para o que me
pertencia, ela tinha que aprender. Ela precisava entender o que a esperava
do outro lado se ela não pudesse seguir instruções simples. Eu queria
mantê-la para mim mesmo, mas não tinha tempo ou paciência para
lidar com ela sempre que ela sentisse que estava acima de seguir as regras
estabelecidas para ela. Havia muita merda em jogo e muito perigo ao nosso
redor para que passasse muito tempo punindo-a por ser tagarela.
—Alguém vai trazer suas refeições para você e vai verificar você a cada
hora. Quando eu quiser ver você, eles vão trazê-la para mim. Entendido?
Não seja ridículo. Alguns desses homens trabalham com você há anos, lembrei
a mim mesmo, mas isso não me deixou mais à vontade.
A porta se abriu antes que a careca de Bruce aparecesse. Acenei para ele
entrar e me endireitei na cadeira.
—Só queria que você soubesse que Nyxin e Josh estão de volta com a
namorada de Kyler e sua irmã. O que você quer que eles façam com elas?
—É isso aí, — disse ele com um aceno de cabeça. Ele me encarou por
mais um momento. —Você está bem?
—Sim, estou bem, — disse em vez disso. Agora não era hora de retratar
nenhuma fraqueza na frente dos meus homens. A situação já era confusa
como estava, pois normalmente não era para a máfia lutar entre si por
dentro. Eles não precisavam me ver sendo indeciso sobre meu desejo de
fazer todos pagarem quando suas vidas estavam em perigo. —Quanto mais
cedo resolvermos essa situação, melhor.
—Essa é a única coisa que faz sentido, — disse com um suspiro. —Ele
me disse especificamente para trazer Aurora em vez de outra garota e você
sabe como sou protetor com ela.
—Esta situação parecia ficar cada vez mais complicada quanto mais
removíamos as camadas dela, — respondeu ele, balançando a cabeça.
—Sim, mas ele será tratado. Eu prometo que ele vai pagar por cada erro
que fez contra mim.
—Você sabe que estou com você a cada passo do caminho, — ele disse
com um sorriso. —De qualquer forma, vou encontrar a cobra e ficar de olho
nela.
—Não, mas está perto. Como a sala é um espaço aberto, era meio difícil
de esconder.
—Vai ficar tudo bem. Eles provavelmente vão pensar que é para limpar
o piso de concreto lá.
—Eu irei pegar isso então, — ele disse e caminhou na minha frente.
—Obrigado por vir tão rápido, — disse quando parei na frente deles. A
conversa cessou, os olhos de todos se concentrando em mim. Olhei para
Kyler e imediatamente fiquei irritado, minhas mãos formigando e ansiosas
para acabar com sua vida. Voltei minha atenção para Bruce, que montava
guarda na porta com Josh. —Estão todos aqui?
—Bom. Vamos acabar com isso para que todos possam voltar para seus
postos, — disse e me encostei na parede do fundo. —Tenho certeza de que
todos vocês já sabem disso, mas estamos oficialmente em guerra com
Wilson.
Todos, exceto Kyler, assentiram solenemente, enquanto ele permanecia
indiferente. Ele provavelmente sabia de tudo muito antes da reunião de
negócios que mudou tudo, considerando que o contrato era datado uma
semana antes.
—Alguma coisa que você queira explicar, já que seu nome está no meu
contrato de recompensa? — Perguntei, colocando minhas mãos no bolso.
—Se acalme, se acalme, — disse com uma risada. —Ele tem razão.
Trabalho é trabalho, certo?
—Relaxe. Está tudo bem, — falei. Ele olhou para Kyler por mais um
momento antes de abaixar a arma e se sentar. —Justin, Theo, Josh e
Malcolm, eu realmente preciso de vocês quatro para chegar ao seu posto.
Eu não quero os portões desprotegidos por muito tempo.
Todos eles assentiram, cada um deles esbarrando propositalmente em
Kyler ou dando um tapa em sua nuca enquanto saíam, murmurando
‘traidor’ baixinho. As duas cadeiras de cada lado de Kyler agora estavam
vazias, dando a Bruce bastante tempo para o que aconteceria a seguir.
—Eu não tive nada a ver com o que aconteceu com Vinnie, — disse ele
com um encolher de ombros indiferente.
Eu ri. —Você vai morrer em honra por ele, mas ele não vai dar a
mínima. Por que você acha que um homem como Wilson se importaria
com você quando mataria seu próprio filho e matou sua própria
esposa? Esse é o tipo de homem pelo qual você deseja morrer em honra?
Antes que ele pudesse responder, Bruce apareceu atrás dele e o chocou
com um taser, Nyxin imediatamente agarrou os braços de Kyler e os
colocou atrás de suas costas. Kyler balbuciou incoerentemente, seus olhos
incapazes de focar em mim. Olhei para os homens restantes na sala, que
pareciam completamente imperturbáveis com o que tinha acabado de
acontecer.
—Deixar ela fora disso? — Repeti. —Mas ela já está aqui. Sua irmã
também.
Seus olhos brilharam com lágrimas de raiva enquanto ele olhava para
mim. —Você não vai se safar dessa merda. Eu te prometo isso, — ele
rosnou.
—Uma coisa que Wilson esqueceu é que ele me ensinou tudo o que
sabe. E quando você conta a alguém todos os seus segredos comerciais, é
fácil usar esses segredos contra você, — comecei. —Ele também se
esqueceu de que pode ter feito alguns inimigos que querem que ele se vá
tanto quanto eu agora.
—Você tem algo que gostaria de dizer para sua namorada e irmã? Serei
pelo menos bom o suficiente para mostrar isso a elas para que entendam
por que estão aqui.
Seu grito encheu a sala cimentada quando levei a marreta até o joelho,
uma onda de satisfação percorrendo meu corpo. Obter vingança era tão
bom pra caralho quando eles sofriam com isso. Seus gritos e lamentos eram
um belo concerto de música torturante enquanto eu esmagava os ossos de
seus braços, costelas e pernas até que ele soluçou para que eu parasse.
—Eu vou... te dizer qualquer coisa... que você queira saber! Apenas...
pare de merda, cara! — Ele implorou, lutando para respirar.
Iria derramar todo o sangue que precisasse para vingar cada pessoa que
Wilson tirou de mim, e não ficaria satisfeito até que ele estivesse morto pra
caralho.
Entrega especial
Cortesia de B. Moreno
Desespero.
Ele inchou no meu peito e vazou dos meus olhos a cada minuto que
passava. Minutos pareciam horas, e horas pareciam dias, todos se
misturando para compor minha existência miserável como escrava sexual
de um psicopata. Não conseguia acreditar no que minha vida havia se
tornado. Trabalhei pra caramba para criar uma vida para mim, anos de
trabalho duro apenas para desaparecer em um piscar de olhos. Minha vida,
que foi esculpida com tanta perfeição, foi destruída pela diabólica dinamite
conhecida como Bennett Moreno.
Não ajudou que ele não quis ouvir nada do que eu disse sobre as coisas
que aprendi com Stephanie. Provavelmente nem importaria se o que ela
disse fosse provado ser verdade. Bennett não me deixou sair deste lugar,
quer eu tenha sido levada injustamente ou não. Eu tinha visto muito e
sabia muito para ele me deixar ir, então meu destino estava selado. Só de
pensar nisso, tive vontade de gritar de raiva e frustração.
Cada fibra do meu ser queria lutar, para mostrar a ele que eu não era
fraca, independentemente do que ele pensava que poderia fazer comigo.
Derrubei um cara com o dobro do meu tamanho, pelo amor de Deus, mas a
ameaça de me tornar uma trabalhadora do sexo foi o suficiente para me
fazer calar. O suficiente para me paralisar de medo. Ver como aqueles
homens me maltrataram naquela reunião foi o suficiente para me dar um
gostinho de como seria minha vida. E, ao contrário da reunião, Bennett não
estaria lá para me salvar de homens decididos a me violar.
Quem diabos ele matou tão rápido? Pensei, incapaz de tirar meus olhos
dele. Era quase como se ele se movesse em câmera lenta enquanto subia os
últimos degraus, seu olhar duro, mas breve em mim, antes de se virar para
o lado oposto e se retirar para o quarto.
—Senhora?
—Não era assim que víamos nosso futuro, era, Heath? — Murmurei.
Algumas lágrimas rolaram pelo meu rosto enquanto olhava para o teto. —
Aposto que você não está orgulhoso das coisas que me viu fazer. Eu
também não estou orgulhosa disso.
E não estava. Heath ainda tinha meu coração, mas Bennett possuía meu
corpo e estava atrás de minha alma. Estava lentamente perdendo minha
identidade, minha vontade de viver e meu desejo de continuar
lutando. Sabia o que tinha que fazer. E assim que tivesse a oportunidade de
fazer isso, acabaria com isso de uma vez por todas.
A mesma mulher voltou um pouco depois com uma garrafa de água e
perguntando se eu precisava ir ao banheiro. Respirando fundo, balancei a
cabeça e levantei lentamente, meu coração disparado a mil por hora. Ela
me entregou um roupão de cetim vermelho sangue.
—Por favor, coloque isso. Mestre Bennett exige que você use um roupão
ao andar pela casa, — disse ela, desviando os olhos da minha nudez.
Ela me levou para fora do quarto e pelo corredor. Meu coração bateu
forte no meu peito enquanto nos aproximávamos do banheiro. Pensei em
Heath, meus pais, meus amigos. Tinha que fazer isso por eles, por mim
mesma. Não me importava com o que quer que fosse a agenda de
Stephanie com suas mensagens no sonho, não que Bennett acreditasse em
mim.
Considerando que não tinha visto ou ouvido falar de Carrie desde que
ela chegou em casa há uma semana, não ficaria surpresa se ele a
convencesse de não me ajudar. Estava cansada de ficar presa, cansada de
ser controlada e abusada por ter minha própria mente e voz. Estava
completamente superada de ser um brinquedo para um lunático de merda
que só queria me quebrar e me manipular. Quando chegamos ao banheiro,
a mulher seguiu atrás de mim até que me virei e levantei a mão.
Tive que pensar em algo rápido. Não havia como executar meu plano se
ela estivesse no banheiro comigo.
—Eu não estou me metendo em problemas por você. Ou você tem que
ir ao banheiro ou não, — ela disse, seu tom afiado.
—Você tem cinco minutos, — ela finalmente disse. —Se você não sair
em cinco minutos, vou entrar.
Merda. Olhei para o roupão para ver que não tinha bolsos. Mesmo se
tivesse bolsos, não haveria como tirá-las sem que ela percebesse.
Meus pais não ficariam orgulhosos de minha decisão. Heath não teria
aceitado minha decisão. Savannah se sentiria traída por minha decisão.
Mas o que isso importa? Estava sozinha em minha luta, sem ninguém para
me salvar, ninguém para me apoiar e ninguém para me ajudar a perceber
que havia realmente um lado bom neste túnel muito longo e escuro que
enfrentei.
O jantar veio não muito depois disso, que não era nada além de um
sanduíche de presunto e queijo, uma mistura de frutas e outra garrafa de
água. Era como se eu estivesse na prisão, indigna de uma refeição decente.
Mesmo quando não estava confinada a este quarto, ele apenas me
serviu mingau de aveia frio e me fez comer no chão. Me recusei a ser
prisioneira de ninguém. Me recusei a ser o saco de pancadas ou o
brinquedo sexual de alguém. Prefiro morrer antes de deixar isso acontecer
por mais tempo.
Chutei a bandeja e alcancei sob o lençol uma das laminas. Meu coração
disparou em meu peito enquanto a segurava entre meus dedos. Lágrimas
turvaram minha visão enquanto a segurava sobre meu pulso, tantos
pensamentos conflitantes batendo em minha mente.
Se conseguisse, toda a dor e tormento acabariam. Finalmente estaria
livre do meu pesadelo, mas isso significava que minha vida também estaria
acabada. Se falhasse, sabia que Bennett tornaria tudo o que restava da
minha vida um inferno.
—Tudo bem, Aurora. Você pode fazer isso, — disse a mim mesma,
tentando acalmar meu corpo trêmulo.
Eu fiz isso.
—O que diabos você quer dizer por quê? E por que estou de volta aqui? Eu não
deveria estar morta? — Perguntei, olhando para os meus pulsos para ver se os dois
estavam enfaixados.
—Não. Pedi a Bennett para te salvar antes que você pudesse realmente se
matar, — Stephanie respondeu sarcasticamente. —Você tem a chance de derrubar
uma organização inteira e realmente escolheu cometer suicídio? É sério?
—Que porra mais eu deveria fazer? — Gritei. —Bennett acha que estou
ficando louca, e Carrie não vai me ajudar. Então, por favor, Inspetor Bugiganga,
me diga como diabos eu devo provar o que você está me dizendo sem soar como se
estivesse drogada ou enlouquecida?
Ela me encarou com uma expressão de decepção no rosto. —Eu pensei que você
fosse mais forte do que isso, — disse ela, balançando a cabeça.
—Oh não, você não pode fazer isso, porra, — disse, apontando para ela. —Você
não tem a porra da ideia do que eu passei com ele para dizer isso para mim. Estou
tão feliz que você viveu uma vida fabulosa com ele, mas ele não é o mesmo homem
que você deixou para trás.
—Estou bem ciente do que ele é agora, mas ele não é nada comparado ao seu
pai. Você tem que ver isso através...
—Eu não tenho que ver nada através. Por que você não vai até Bennett e
mostra a ele todas essas bombas da verdade que você tem me dado? Por que você
está vindo para mim em vez dele?
—Porque você é a chave que vai derrubar tudo. Você só precisa usar seu bom
senso e parar de hostilizar Bennett. Concentre-se no problema real.
Soltei um grito de frustração. —Então, se estou de volta aqui, isso significa que
não estou morta?
Que se foda.
—Bem-vinda de volta, raio de sol, — disse ele. Sua voz estava calma,
vazia de emoção.
Ele não me provocou como pensei que faria. Seu rosto estava em
branco, sua postura relaxada enquanto ele olhava para mim. Engoli em
seco, olhando a arma que ele segurava e me perguntando se ele planejava
fazer algo com ela. Parte de mim esperava que sim, para que eu não tivesse
que lidar com as consequências reais da minha tentativa fracassada.
Ou sua namorada fantasma psicopata disse para você, pensei comigo mesma,
mas não ousei falar em voz alta. Gemi de dor e desespero. Mesmo quando
tentei morrer, ainda acordei no Inferno. Não era justo. Não era justo pra
caralho.
—Já que não posso confiar em você agora, você estará comigo vinte e
quatro horas por dia, sete dias por semana. Você nem vai conseguir cagar
nesta casa sem que eu saiba, — disse ele. —E quando você não puder ficar
comigo, você será amarrada a esta cama. Se você tiver que ir ao banheiro,
terá que esperar até eu voltar. Eu não gostaria que minha boneca tentasse
me deixar de novo, não é?
—Mas por agora, apenas descanse. Você vai precisar. Assim que estiver
bem o suficiente, a punição que receberá fará com que você deseje ter tido
sucesso em sua tentativa de suicídio, — disse ele, cruzando as pernas na
altura do tornozelo. —Vou deixar você pensar nas possibilidades por
enquanto.
Balancei minha cabeça para longe dele. Não queria que ele me
tocasse. Não queria que ele me tocasse novamente. Já sabia que qualquer
punição que ele tivesse para mim seria pior do que qualquer coisa que já
experimentei. Era isso que eu temia, o resultado de minha punição se
falhasse em tirar minha própria vida.
Ele estreitou os olhos para mim com uma carranca. —Eu sei que você
não vai fazer isso de novo. Vou me certificar de que você não faça isso, —
ele disse, seu tom afiado.
Outro homem seguia atrás com duas cadeiras, uma das quais tinha
algemas nos braços e nas pernas. Bennett entrou atrás deles com as mãos
nos bolsos, uma sugestão de sorriso nos lábios quando nossos olhares se
encontraram.
—Peça a uma das garotas que traga o café da manhã para cima, por
favor, — disse Bennett aos homens, acenando com a cabeça para eles
enquanto saíam do quarto. Ele focou seu olhar em mim e sorriu. —Nos
encontramos novamente.
Antes que pudesse processar o que aconteceu, ele agarrou meu braço
com força e me puxou para fora da cama. Seu toque era duro quando ele
colocou a camisola em mim. Choraminguei quando um dos meus pulsos
ficou preso no tecido, a dor irradiando pelo meu braço, mas Bennett não
pareceu se importar. A sala girou ao meu redor enquanto lutava para me
equilibrar, tropeçando ao lado dele enquanto ele me guiava em direção à
cadeira.
Sua voz me tirou do meu torpor. Tirei meus olhos do prato e voltei para
ele. —Sim senhor, — respondi, minha voz rouca.
—Então, por que você fez isso? — Ele perguntou depois de alguns
momentos de silêncio constrangedor. Mantive meu olhar para baixo na
mesa enquanto meu estômago roncava novamente. O aborrecimento saiu
dele em ondas. —Estou falando comigo mesmo aqui? Me responda!
Ele fez uma careta. —As pessoas não tentam o suicídio sem motivo, —
disse ele, dando de ombros. —Você realmente queria morrer?
Lutei contra a vontade de revirar os olhos com a estupidez de sua
pergunta. Eu olhei para ele. —Eu presumo que sim se eu cortei meus
pulsos, — respondi.
—Bem, no entanto, você não fez. Mas vou te dizer isso; depois que sua
semana de punição acabar? Você vai desejar ter feito isso.
Deveria ter pensado melhor do que pensar que reter comida era minha
única punição.
—Você deveria ter visto seu rosto quando eu disse que você não iria
receber comida nos próximos dias. Você quase pareceu aliviada com sua
punição, — ele disse, pegando uma fatia de bacon de seu prato e dando
uma mordida. —Estamos juntos há tempo suficiente para você saber que
algo tão simples não é sua única punição. Este é apenas o primeiro dia dos
Sete Dias do Inferno.
Não pude evitar que as lágrimas rolassem pelo meu rosto. Deveria
saber que essa punição era muito fácil para um homem como ele. Embora
seu rosto estivesse limpo de qualquer emoção, seus olhos brilhavam com
raiva contida, malícia e a promessa de dor.
Muita dor.
Quando ele finalmente terminou seu café da manhã, ele se recostou com
um suspiro de satisfação. —Isso foi delicioso. Você deveria ter provado, —
ele afirmou com um sorriso. Cerrei meus dentes, lutando contra a vontade
de atirar de volta nele. Sabia que era com isso que ele estava contando,
outra razão para me machucar mais do que ele planejou. Ele olhou para a
tela do telefone quando iluminou a mesa. —No momento ideal. Parece que
você também fará sua tatuagem hoje. — Ele se levantou e deu a volta na
mesa, parando atrás de mim. Eu me preparei para a dor, mas em vez disso,
ele abaixou a cabeça, a ponta do nariz mal acariciando a pele ao longo do
meu ombro e até meu pescoço. —Logo você aprenderá que sempre
pertencerá a mim. Sempre.
Se ela soubesse o quão errada estava, mas ela descobriria em breve. Ela
aprenderia que todas as suas ações tinham consequências para ela e para
qualquer outra pessoa que ela levasse com ela. Não fui capaz de quebrar
ela com a dor física, mas a mente não aguentava tanto. Estava preparado
para desistir da mulher atrevida e corajosa que levei cativa semanas atrás,
porque não havia nenhuma maneira que ela seria a mesma mulher que ela
era atualmente uma vez que a semana acabasse, e talvez fosse melhor
assim.
—Perfeito, — disse.
Evan acenou com a cabeça e largou a agulha, indo até sua bolsa sobre a
mesa para pegar coisas para limpá-la. Meu telefone vibrou na minha mão,
exibindo uma mensagem de Bruce.
Olhei para Evan, que limpava a nuca de Aurora. —Quanto tempo mais
você vai demorar? — Perguntei.
—Vou transferir seu dinheiro para você. Obrigado por ter vindo em tão
pouco tempo, — disse, batendo em seu ombro.
Ele me dispensou. —Não é problema homem. Você me tratou bem,
então você sabe que estou fazendo tudo que você precisa, — ele disse, me
dando um aceno de despedida e saindo do quarto.
Voltei minha atenção para Aurora, que se recusou a olhar para mim. —
Sem comida não é sua única punição. Isso seria muito fácil para você. Há
mais duas coisas na agenda hoje, — disse.
Ela não respondeu verbalmente, mas não perdi o tremor que percorreu
seu corpo. Agarrei as costas de sua cadeira e a inclinei para trás, sorrindo
quando ela engasgou. Seus olhos lacrimosos e aterrorizados olharam para
mim enquanto a arrastava para o banheiro antes de sentá-la ereta
novamente.
Ela balançou a cabeça fora do meu alcance, mas não disse nada. Peguei
a tesoura do balcão do banheiro e agarrei uma mecha de seu cabelo,
cortando. Ela congelou ao som da tesoura cortando novamente.
Fiz uma pausa com meu próximo corte. —Oh, gostaria de ver o que
estou fazendo? — Provoquei. —Aqui, me deixe dar-lhe um lugar na
primeira fila.
Girei a cadeira para que ela ficasse de frente para os grandes espelhos,
com os olhos arregalados quando viu a tesoura de cabelo no balcão. Seu
olhar encontrou o meu no espelho, raiva e humilhação brilhando em seus
olhos. Um sorriso permanente se estabeleceu em meus lábios enquanto eu
cortava seu lindo cabelo, seu corpo tremendo quando o cabelo caiu ao
redor dela.
—Agora, todos poderão ver sua linda tatuagem. Não poderia ter seu
cabelo escondendo a quem você pertence, — provoquei, piscando para ela
no espelho.
—Eu acho que estou curtindo o visual do Sr. Limpo, — eu disse com um
bufo. Embora ela não fosse tão careca quanto o comercial, seu cabelo ainda
estava cortado no estilo de um menino. Era completamente diferente das
longas e lindas mechas que agora estavam a seus pés. Inclinei até que
nossos rostos estivessem lado a lado. —Linda Aurora está no chão. Agora...
você é apenas um animal de estimação.
—Eu não me importo com cabelo, — ela retrucou. —Se você acha que
cortar meu cabelo vai me quebrar, então obviamente você não me conhece.
Eu ri. —Oh não, boneca. Isso não é nada comparado ao que tenho
reservado para você. Mas já que você se acha tão grande e má, vamos
descer para a sua terceira e última punição do dia. Veremos se você muda
de tom.
Ele ergueu uma sobrancelha para mim. —Trazê-los aqui? Alguns deles
têm filhos.
—Não brinca, Sherlock. Você tem uma ideia melhor? Podemos mantê-
los na ala sul do bunker. Longe das meninas, mas perto o suficiente para
poder chegar até elas.
—Mas você sabe que Wilson pode atacar este lugar a qualquer
momento, — disse ele, sua carranca nunca desaparecendo.
—É por isso que eles devem permanecer no bunker o tempo todo até
que essa merda passe. Pegue alguma merda para eles ficarem confortáveis
aqui embaixo e traga-os aqui. Se precisarmos movê-los, descobriremos isso
quando surgir a ocasião. Ninguém pode entrar neste bunker sem
autorização, eles estão os mais seguros aqui.
—Bom. Diga a algumas garotas para virem aqui e limparem quatro dos
quartos. Eles não são usados há algum tempo, então tenho certeza de que
precisam de uma boa esfrega.
Ela olhou para mim enquanto a puxava para fora da sala e pelo
corredor. Ela endureceu em meu aperto quando nos aproximamos da sala
de Retribuição, tentando resistir a mim quando a puxei para dentro, mas
ela estava fraca demais para fazer muita diferença. Quando acendi as luzes,
seus olhos se arregalaram quando viu o que, ou melhor, quem, esperava por
ela lá dentro.
―Você não pode punir ela pelo que fiz, ― Aurora exclamou, sua voz
carregando um ar de pânico.
—Sim, o que?
Sua voz foi abafada por trás de sua mordaça enquanto sua cabeça
balançava de um lado para o outro, a venda bloqueando a cena que logo se
desenrolaria diante dela. Aurora me olhou com horror, mas apenas sorri,
caminhando lentamente para trás até ficar ao lado de Jess.
—Oh não, — ela sussurrou, já ciente de que ela não sairia desta sala
viva.
—Bennett, por favor. Vou aceitar qualquer punição que você me der.
Apenas deixe ela ir! Não é culpa dela! — Aurora implorou.
—Mas...
—E eu disse a ela para observar cada movimento seu, e ela não o fez, —
disse, girando a pequena lâmina entre meus dedos. —Ela te deixou fora de
sua vista por cinco minutos. Nesse curto espaço de tempo, você conseguiu
encontrar lâminas de barbear no banheiro. Se ela estivesse no banheiro com
você, isso não teria acontecido.
—Como eu disse antes, querida, você não queria morrer naquele quarto,
— comecei novamente. Inclinei sobre Jess, acariciando sua pele com a
lâmina de barbear. —O segredo é cortar verticalmente, pois é mais difícil
de costurar do que horizontal.
A sala se encheu com um grito de gelar o sangue quando coloquei um
corte profundo no antebraço esquerdo de Jess, sangue manchando sua pele
leitosa.
—Eu continuo dizendo que quanto mais você se rebela, mais você vai
continuar trazendo as pessoas com você. É isso que você quer? Para que as
pessoas sofram por você?
—Não!
—Eu com certeza não posso dizer, — disse com um encolher de ombros.
Jess gemeu de dor, o que começou a me irritar. —Você pode ter
sobrevivido à sua tentativa de suicídio, mas Jess não sobreviverá a isso.
Cortei seu braço direito, outro corte profundo que enviou a essência de
sua vida jorrando em sua pele. O sangue pingando na lona azul parecia um
pouco com gotas de água caindo em uma tenda, o som quase parecendo
vazio na sala fechada.
—Qual é a sensação de saber que você é a razão pela qual esta mulher
vai morrer? — Murmurei enquanto sustentava o olhar feroz de Aurora. —
Tudo que você precisava fazer era seguir as regras, e agora você está
custando a vida de alguém.
—Eu cansei de jogar com você, — disse, minha voz baixa e dura. —Eu
te dei chance após chance, mas você insiste em me desafiar. Então, eu
prometo que vou fazer você sofrer. — Deixei cair a lâmina de barbear
ensanguentada na lona, nunca quebrando o contato visual com Aurora. —
E você olharia para isso? A cor do sangue dela combina perfeitamente com
a sua linda camisola.
Ela ficou um tom claro de verde antes de vomitar no colo. Era apenas
ácido estomacal, já que ela não tinha comido ou bebido nada. Ignorei sua
bagunça, em vez disso me concentrando em limpar minhas mãos
ensanguentadas no cabelo de Jess antes de caminhar até a porta. Os olhos
vazios e mortos de Jess olharam para Aurora através da sala. Isso iria
assustá-la depois de um tempo.
—Tenho certeza de que você está esmagada pela culpa, então vou
deixá-la sentar aqui por um tempo e olhar para o que suas decisões
causaram. Talvez você pense duas vezes antes de fazer algo estúpido, não
é? — Quando ela não disse nada, corri até ela e agarrei ela pela nuca. —
Porra, me responda!
—Eu prometo que você vai pagar por isso, — rosnei antes de deixar a
sala de Retribuição, deixando ela sozinha com o cadáver.
Olhei pela janela do meu escritório, minha mente indo a mil por hora. A
guerra psicológica era meu último recurso com Aurora e, se isso não
funcionasse, ela teria que ser colocada no bunker. Eu sabia que precisava
de paciência para que isso funcionasse, mas com seu histórico, eu não
estava muito confiante. Já que eu estava em uma guerra com meu pai, a
última coisa que eu precisava era me distrair e discipliná-la sempre que ela
quisesse agir como uma maldita perdedora. Sua nova obsessão por
Stephanie não tornava as coisas mais fáceis. Era como se ela quisesse foder
comigo como sua forma de retaliação.
Eu sabia que não estava nem um pouco apaixonado por ela, então não
era porque sentia algo por ela. Eu não tinha certeza do que era, mas estava
atraído para ela como um ímã, querendo consumir seu corpo e alma até
que ela estivesse tão escura e distorcida quanto eu. Se a semana do Inferno
corresse como planejado, ela seria uma tela perfeitamente em branco para
criar exatamente isso.
—Porque eu não terminei de brincar com ela, — disse com
naturalidade, fingindo estar ocupado com os papéis na minha mesa. —
Você não tem algo que deveria estar fazendo?
—Acho que essa é a minha deixa, — disse ele com um meio sorriso
antes de desaparecer no corredor.
Me recusei a deixar ela vencer. Talvez eu quisesse que ela visse que não
ganhou nada no final, que tudo o que ela conseguiu foi uma semana de
tortura e desgosto. Eu era um homem competitivo por natureza, mas o fato
de que ela pensava que tinha ganhado um jogo sobre mim colocou um fim
nisso rapidamente. Ninguém escaparia de mim a menos que eu quisesse.
Uma parte de mim queria derramar sangue por todas as vidas que ele
arruinou, pela parte de mim que foi perdida para sempre devido ao sangue
e à violência de nosso estilo de vida. Mas então aquele lado pequeno e
vulnerável me lembrou que ele era meu último pai vivo. Depois de matar
ele, seria somente eu.
Não tinha certeza de como me sentia sobre isso, mas eu sabia que não
ficaria sentado como um idiota de merda esperando Wilson me atacar.
—Os tater tots estão chegando, — disse ele, usando nossa palavra-
código para os filhos dos meus homens.
Ele apenas sorriu de volta, mas não disse nada até que estivéssemos
seguros no bunker. —Então, qual é o plano para a garota? — Ele disse,
mudando de assunto.
—Com tudo que ela já sobreviveu, você acha que vai funcionar? — Ele
perguntou.
—Pelo bem dela, espero que sim, — murmurei assim que chegamos ao
grande espaço aberto onde as crianças estariam alojadas.
—Um dos caras já estava nisso quando montamos tudo, — disse ele.
—Oh. Bem, ótimo. Quero que cada um deles também tenha um iPad.
Precisaremos de outro roteador aqui para que haja um sinal bom o
suficiente...
—Já nisso, também. Theo achou que seria bom que as crianças
pudessem usar serviços de streaming e essas coisas.
—De onde você tirou essa merda, tão rápido? — Perguntei, observando
os vários pufes e pequenas cadeiras dobráveis que faziam uma sala de estar
improvisada.
—Saint tinha uma conexão. Ele já estava tentando descobrir um lugar
para arrumar as crianças, caso você não tivesse um plano para elas.
Alguém que ele conhece é dono de algum tipo de loja infantil e fez um
acordo com ele.
—Tio Benny! — Uma pequena voz guinchou antes de seu peso colidir
com minha perna.
Olhei para baixo para ver a filha de três anos de Saint, Giselle, enrolada
em minha perna enquanto ela sorria para mim. Seus olhos castanhos
estavam brilhantes quando ela olhou para mim com adoração, seu cabelo
escuro e encaracolado em rabo de cavalo. Abaixei para pegar ela.
Sua pequena boca carnuda franziu a testa enquanto a palma de sua mão
esfregava ao longo do meu queixo. —Você tem que cortar o rosto, — disse
ela com naturalidade.
—Está arranhando.
Ela olhou para as outras crianças. —Você vai dar uma festa? — Ela
perguntou. —Vamos comer pizza?!
Dei a ela um pequeno sorriso. Quão incrível era ser tão jovem e
felizmente ignorante? Saint tinha feito um bom trabalho em protegê-la do
tipo de vida que vivíamos, admitindo que ela era muito jovem para
entender em primeiro lugar.
Não sabia o que diabos ela estava falando, mas concordei com ela de
qualquer maneira. —Sim, algo assim, — respondi.
—Ele vai ser meu namorado do acampamento, tudo bem? — Ela disse
com um aceno de cabeça.
Saint olhou para mim. —Se seu pai não me matar, ela com certeza vai
acabar comigo.
Concordei. —Você pode ter o que quiser. Vou buscar pizza para vocês,
— eu disse.
Bruce sorriu para mim. —Tem certeza que quer abrir a creche Moreno
aqui? — Ele perguntou.
Olhei para os dez rostos reunidos ao meu redor, seus olhos cheios de
confiança e entusiasmo pela pizza. Seus pais lentamente entraram na sala,
seus olhos me agradecendo quando olharam em minha direção.
Esses eram homens em quem confiei minha vida, homens por quem
daria a vida. Quem quer que fosse importante para eles era importante
para mim, então essas crianças estariam protegidas enquanto eu tivesse
respiração em meu corpo.
—Claro. Eles são todos, família. Eu protegerei todos nesta sala por
qualquer meio necessário, — murmurei. Não era a situação mais ideal para
se estar, mas eles estavam mais seguros assim. Queria preservar a inocência
deles o máximo que pudesse e protegê-los da guerra que se formava do
lado de fora dos portões era a única maneira de fazer isso. Eles precisavam
de uma chance que não tive, e faria com que eles permanecessem no escuro
da violência e destruição com a minha vida.
Bruce riu. —Você tem certeza sobre isso? — Ele perguntou novamente.
Sorri e encolhi os ombros. —Eles ficarão bem aqui. Acho melhor
começarmos a conseguir comida antes que uma guerra 'tater tot' comece
aqui.
O som do sangue de Jess pingando na lona provocou todos os meus
pensamentos enquanto se acumulava embaixo dela. Não importa o quão
forte eu tentei apertar meus olhos, eu não consegui bloquear o barulho. Eu
não pude bloquear a visão de sua pele pálida enquanto lentamente drenava
de vida. Seus olhos mortos olharam para mim, mas não viram nada. E
porque eu não tive escolha a não ser olhar para o cadáver, um lembrete
fatal de minhas consequências, fui forçada a aceitar o fato de que a morte
dela estava em minhas mãos.
—Eu sinto muito,— murmurei, embora fosse inútil. Ela já estava morta.
A náusea fez minha barriga vazia rolar enquanto eu olhava para o corte
vermelho e raivoso em sua garganta. O sangue encharcou sua blusa, o
material branco e nítido infinitamente mais brilhante contra a escuridão.
Isso sempre durou pouco, porque uma vez que o barulho passava, seus
olhos e rosto permaneceram vazios de vida. Ela ainda me encarava com um
olhar opaco e vazio, fazendo meus dentes ficarem tensos. Se o único
propósito de Bennet para me manter lá com seu cadáver era me levar à
loucura, então ele estava a caminho do sucesso.
Ainda era tão surreal que minha antiga vida parecia tão distante agora,
embora eu não tivesse ido embora por muito tempo. Heath parecia uma
memória distante, como se ele tivesse sido meu amante em outra vida.
Estar com Bennett pode fazer uma pessoa se sentir assim. Um único dia
parecia anos de inferno e não havia linha de chegada à vista para quando o
sofrimento acabaria.
Mas você sempre foi egoísta, uma vozinha em minha cabeça me lembrou.
Você era egoísta com Heath e seus amigos sempre que podia. Um pequeno
suspiro escapou dos meus lábios enquanto minha mente percorria minhas
interações com Heath, uma em particular se destacando.
—Querida, prove isso, — Heath disse, enfiando uma colher de pau na minha
cara. —É o novo molho que quero apresentar ao chefe de cozinha. Espero receber
sua recomendação para preencher seu cargo quando ele sair.
Ele levou a colher aos meus lábios, observando com olhos brilhantes enquanto
eu lutava contra a vontade de me encolher. Por mais que eu o apoiasse, o molho era
horrível. Muito salgado com pedaços queimados misturados nele, sem mencionar
que os ingredientes não combinavam bem.
—Eu não odeio isso, — eu disse rapidamente, colocando minha mão na dele. —
Só... precisa de algum trabalho.
Ele provou o molho restante na colher e encolheu os ombros. —Para mim, tem
um gosto bom, — disse ele.
—Heath, você tem o pior paladar de todos os tempos. Você acha que a comida de
posto de gasolina tem qualidade cinco estrelas. Às vezes me surpreendo que você
seja um cozinheiro, — eu disse com uma risada, meus olhos voltando para o meu
computador. —É muito salgado e tem gosto de queimado. Você acha que está
pronto para uma posição de chefe de cozinha?
—E agora eu sou uma vergonha, — disse ele com uma zombaria, jogando as
mãos para o ar.
Eu me levantei da minha mesa e me movi para ficar na frente dele,
serpenteando meus braços em volta de sua cintura. —Você não é, querido. Só estou
dizendo que talvez você precise de mais prática e não há nada de errado com
isso. Um dia, você vai ser o maior chef do mundo que faz um molho tão delicioso
que os consumidores vão exigir que seja vendido em uma garrafa, — eu disse,
ficando na ponta dos pés para dar um beijo em seus lábios, mas ele não me beijou de
volta. Ele nem mesmo envolveu seus braços em volta de mim para me segurar mais
perto dele como sempre fazia.
—Bem, obrigado pelo seu voto de confiança, — ele murmurou, tirando meus
braços de sua cintura.
Eu olhei para ele com uma sobrancelha levantada. —Eu estava tentando ser
útil...
—Mas eu te apoio...
—Ao me dizer que não estou pronto para ser um chefe de cozinha por causa de
um pouco de molho ruim? — Ele rebateu.
Suspirei. Ele não era um cozinheiro ruim. Ele tinha sido um subchefe nos
últimos dois anos, e todos os dias voltava do trabalho e se gabava de seus sonhos de
um dia ser chefe de cozinha.
Ele sempre foi tão solidário comigo, nunca questionando minhas ideias ou meus
desejos, mas eu realmente não retribuí isso a ele. Quando eu estava afundado no
trabalho e ele me pedia para tentar coisas, eu o enxotava ou deixava para
depois. Quando ele voltou para casa e contou com orgulho que um prato que ele fez
acabou no cardápio especial, não compartilhei seu entusiasmo.
—Deixa para lá. Talvez você esteja certa. Talvez eu deva ser um subchefe para
o resto da minha vida, — ele murmurou e se virou para sair. —Vou pedir pizza
para o jantar esta noite.
Só pedimos pizza quando estávamos brigando. Eu não queria que ele ficasse
com raiva, mas também não podia mentir para ele.
Ele brevemente olhou para mim antes de voltar sua atenção para o fogão.
—Eu não sei se isso é bom ou ruim vindo de você, — ele murmurou antes de
desligar o fogão e mover a panela para o lado frio.
—Heath, me desculpe. — Eu toquei seu braço. —Eu não queria ferir seus
sentimentos. Eu poderia ter dito coisas muito melhor do que disse, e não estava
apoiando. Você não merecia isso, e eu sinto muito.
Mesmo quando tentei acabar com minha própria vida, Bennett deixou
bem claro que eu nunca me livraria dele até que ele estivesse pronto para
me deixar ir. Ainda era difícil acreditar que minha vida nada mais era do
que ser prisioneira de alguém. A coisa que mais me destruía era que eu não
tinha como escapar. Meus pais e Heath estavam mortos, Savannah estava
na mesma situação em que eu estava, se ela já não estivesse morta e
Kandace provavelmente tentou viver sua vida o melhor que podia para
permanecer segura.
Meus olhos vagaram até o grande relógio no topo da porta, o tique-
taque fraco do ponteiro dos segundos parecendo tão alto que quase
estremeci quando ele se moveu. Assisti em transe enquanto os segundos se
transformavam em minutos, os minutos em horas.
Minha amizade com Savannah não era a mais forte, ainda mais depois
que comecei minha empresa de maquiagem. Ser uma magnata da
maquiagem era o sonho dela, não realmente o meu. A única razão pela qual
eu tive sucesso e ela não foi porque eu tinha dinheiro para isso.
Ele abriu a garrafa de água e, em vez de trazer ela aos meus lábios,
começou a despejar na minha cabeça. Não importa em que direção eu
tentasse seguir, ele me seguia com a garrafa, despejando sobre mim até que
estivesse vazia. Eu balancei minha cabeça para tirar a água dos meus olhos
antes de olhar para ele, encontrando seu rosto de nojo.
Eu apertei meus lábios e não disse outra palavra. Meu nariz enrugou
quando finalmente senti o cheiro de mim mesma, vergonha e
constrangimento me inundando enquanto continuávamos fora da sala.
Aonde quer que ele me levasse em seguida, orava para pelo menos tomar
um banho.
—Bennett? — Eu chamei.
Eu tirei a roupa molhada da minha pele e joguei de lado como ele disse,
tremendo na luz diante dele. O clique de seus sapatos sociais no concreto
soou oco na sala quando ele se aproximou, meu corpo tremendo
involuntariamente.
—Pare! Por favor! — Eu gritei, mas não havia como ele me ouvir sobre o
barulho da água. Doeu por todo o meu corpo e rosto.
—Olhe para isso, a vagabunda suja não quer se lavar. Você quer ficar
suja então? — Ele zombou.
—N-Não, — eu gaguejei.
Minha pele parecia estar pegando fogo. Ele ligou outro interruptor,
iluminando o resto da sala. Eu lentamente levantei minha cabeça para ver
que ele segurava o que parecia ser a porra de uma mangueira de incêndio.
O ar da ventilação lambeu minha pele, enviando um arrepio violento pelo
meu corpo.
Ele não respondeu. Ele agarrou meu braço e me puxou para frente antes
de me empurrar na caixa e fechar a porta atrás de mim. Minhas costas
bateram nos pregos ao longo da parede traseira e eu assobiei de dor. Não
achei que nenhum deles tivesse rompido a pele, mas ainda doía como o
inferno. Se ele tivesse sido um pouco mais enérgico, eles teriam causado
muito mais danos.
—Olha para ela, patética como qualquer outra vadia com uma boceta.
—Eu sinto muito, Savannah. Eu não sei mais o que fazer, — eu chorei,
descansando minha testa no vidro da janela enquanto soluçava.
Ele colocou as mãos nos bolsos e caminhou mais para dentro do meu
escritório. —Você deveria me conhecer melhor do que isso, Bennett. Eu não
estaria aqui a menos que fosse absolutamente necessário. Achei que você
gostaria de receber informações sobre o cara antes de ir para sua casa com
armas em punho.
Soltei um suspiro profundo e recostei na cadeira, passando a mão pelo
rosto. Toda essa situação me deixou no limite com todos quando não era
culpa de ninguém além de mim que estávamos nesta merda em primeiro
lugar.
—Devemos levar esta reunião para baixo, ou você quer que todos
subam aqui? — Bruce perguntou, quebrando o silêncio constrangedor ao
nosso redor.
Ele e eu descemos até o bunker. Eu olhei para ele, o olhar em seu rosto
parecendo como se ele tivesse algo a dizer.
Ele olhou para mim brevemente antes de olhar para frente. —O que está
acontecendo com a garota ruiva? — Ele perguntou.
Eu sorri. —Seu cachorro sujo. O que, você quer uma volta com ela?
— Eu perguntei.
—Ei, ei, ei. Nada disso agora. Temos coisas mais importantes com que
nos preocupar do que discutir se alguém está pegando uma boceta ou não,
— eu disse quando a mão de Bruce foi para seu quadril.
—Eu juro que odeio aquele cara às vezes, — Bruce rosnou baixinho.
Havia muita coisa acontecendo para nós brigarmos um com o outro. Ele
normalmente era calmo e controlado, aquele que era geralmente o mais
sensato de todos nós. Vê-lo criticar KC por algo tão pequeno estava fora de
seu personagem.
—Não, — ele disse, sua voz firme. —Estou bem. Vamos ter esta reunião
ou o quê?
Fiz um gesto para ele andar na minha frente e ele avançou. Se eu não
soubesse melhor, pensaria que ele tinha uma queda por ela. Ele havia
passado mais tempo no bunker, seu nome aparecendo na lista de clientes
com mais frequência do que normalmente acontecia. Ainda assim, não era
hora de pensar nisso. A única coisa que estava clara, apesar da loucura
girando em meus pensamentos, era minha sede de vingança.
Eu não podia ir atrás das pessoas por capricho do jeito que costumava
fazer, porque a última coisa de que precisávamos era um ataque à minha
propriedade enquanto as crianças estivessem aqui. Olhei para a parede no
final do corredor que parecia um beco sem saída, sabendo que aquelas
almas inocentes estavam do outro lado dele. Cada movimento que fazemos
tinha que ser contabilizado porque havia mais vidas em jogo além da
nossa.
—Você vai falar em enigmas a noite toda ou vou ter que cortar a
informação de você? — Eu soltei.
—Uma parte de mim quer pensar que isso é algum tipo de armadilha,
— eu finalmente disse. —Como vamos saber se ele tem homens esperando
para proteger esses caras porque eles anteciparam meu ataque? — Eu
perguntei.
Todos os homens sorriram e saíram da sala, mas Josh ficou para trás. Eu
levantei uma sobrancelha enquanto o estudava. Ele geralmente era o
primeiro a sair pela porta quando estávamos no nosso caminho para
destruir o caos, mas o olhar tenso em seu rosto e o estresse brilhando em
seus olhos me colocaram no limite.
—Não posso trazer Hannah aqui porque ela ainda está no hospital, —
ele murmurou. Lágrimas brilharam em seus olhos, mas ele rapidamente as
enxugou antes que tivessem a chance de cair. —Os médicos estão dizendo
que ela tem um coração ruim ou algo assim, e...
—Isso é importante, Bennett. Não posso perder minha esposa, cara. Ela
é tudo que tenho. Ela está contando comigo para conseguir um coração
para ela, — ele praticamente implorou.
Suspirei interiormente. —Eu sei e entendo, Josh. Tenho certeza que você
sabe que os transplantes são muito mais complexos do que apenas arrancar
o coração de alguém e colocá-lo em outra pessoa. Nem mesmo sabemos se
eles corresponderão a Hannah, significa que o corpo dela poderia rejeitá-lo
e seria um desperdício de órgão. Prometo que começarei a trabalhar nisso
esta noite para que sua esposa possa fazer o transplante antes do fim da
semana. Entendido?
Ele acenou com a cabeça, enxugando os olhos na parte de trás da
manga. —Obrigado. Você pode reter todos os contracheques de que
precisar para pagar...
—Você arrisca sua vida todos os dias por mim. Eu sempre vou cuidar
daqueles que chamo de minha família. Não se preocupe com isso, cara. Eu
cuido de vocês.
—Ei! — Alguém gritou da casa. Olhei por cima do ombro para ver
Carrie parada na porta da garagem, nos observando enquanto
preparávamos os carros. —Onde é que vocês vão?
—Para lidar com os negócios, — respondi.
—Vá para dentro, Carrie. Vou ter que trancar você lá embaixo também?
O objetivo de te trazer aqui foi para te manter segura, não me preocupar
em se meter em mais merda, — rosnei.
Ela bufou. —Tudo bem, seu burro, — disse ela e bateu a porta.
—Eu liguei, — Saint disse enquanto passava pela minha porta, indo
para o Audi blindado estacionado próximo a nós. —Enviei a localização e
disse para esperar alguns quarteirões de distância. Alguém vai chamá-lo
quando estivermos prontos para que ele faça sua parte.
—Sem desrespeito, cara. Pensei que você fosse o cliente esperando por
mim, — disse ele e tirou o capuz da cabeça.
Sua pele morena tinha cicatrizes, como se ele tivesse passado por muitas
brigas ao longo dos anos. Seus olhos escuros tinham olheiras como se ele
não tivesse dormido há dias, e seu moletom exibia todos os tipos de
manchas.
—Espere, — eu disse de repente. Ele fez uma pausa e se virou, mas não
falou. Eu apontei para a casa. —Quem vive lá?
Ele se virou para olhar o prédio, quase como se não soubesse do que eu
estava falando. —Merda, todos os tipos de pessoas. Geralmente está cheio
de viciados em crack e as vadias que trabalham nesta rua, — disse ele com
um encolher de ombros.
Eu olhei para ele por muito tempo antes de finalmente cerrar os dentes.
Mesmo se aqueles dois idiotas estivessem aqui, eu não poderia fazer o que
queria sem chamar a atenção. Este local era muito público e havia muitas
testemunhas em potencial. Eu só estava equipado para matar dois homens,
não toda uma gangue de pessoas que eu nunca considerei.
—Qual foi o último e-mail que meu pai enviou para eles? — Eu
perguntei.
Eu não pude evitar o sorriso que puxou meus lábios. Era hora do jogo,
de fato. Meu coração bateu um pouco mais rápido no meu peito, excitação
correndo em minhas veias enquanto esperávamos pela batida rítmica que
tinha que ser apresentada para entrar aqui.
—Cara, você não sabe o quão aliviados nós ficamos por ter o seu...— um
deles disse e parou imediatamente ao ver Bruce, Saint e Nyxin. —Onde
está Wilson?
—Ele teve que correr para o escritório muito rápido para pegar mais
dinheiro. Acho que ele se esqueceu que há dois de vocês, e você pode
querer ir a lugares diferentes, — declarou Bruce, dando-lhes um sorriso
largo. Os homens se mexeram desconfortavelmente e olharam em volta
novamente. —Você vai entrar ou mandar Wilson colocar uma bala em
todos nós quando ele vier aqui e nos vir conversando no corredor?
Eu sorri enquanto observava os dois irmãos se olharem antes de
finalmente entrarem na sala. Os dois se encolheram e olharam para Bruce
quando a pesada porta se fechou e uma fechadura foi travada.
—Tenho certeza que sim, mas não importa o que ele disse a você. Você
não está aqui para falar sobre mim. Você está aqui para falar sobre a minha
irmã. — Eu disse, estranhamente calmo, apesar da ansiedade correndo por
mim.
Até que todos os filhos da puta que ousaram tocar na minha família
estivessem mortos.
—Não sabemos merda nenhuma sobre nenhuma irmã, — o outro
rosnou.
—Tenho certeza que você sabe tudo sobre aquele dinheiro que acabou
de coletar por agredir uma mulher que era 'muito intrometida para o seu
próprio bem,' — respondi com indiferença. Eles apenas olharam para mim,
reconhecimento e hesitação brilhando em seus olhos. —Ah, agora eu tenho
sua atenção.
Dei de ombros.
Ambos caíram no chão como um peso morto aos meus pés, e Saint riu.
—Eu estava quase preocupado por não termos remédio suficiente para
nocauteá-los, — ele meditou. —Esses são alguns grandes filhos da puta.
—Não importa. Eu não os quero fora por muito tempo. Eu quero que
eles estejam acordados e capazes de sentir cada coisa que está para
acontecer com eles, — murmurei, chutando os dois para ter certeza de que
estavam fora. —Prepare eles para a próxima fase. Vou chamar os
cirurgiões.
—Pronto para rock and roll, meu garoto? — A voz grave perguntou ao
responder.
Eu sorri para mim mesmo. Por mais que eu tenha envelhecido, George
Boitiano continuava a me ver como o garotinho que o seguia para vê-lo
trabalhar porque havia algo no sangue que me fascinava.
Ele esteve ao meu lado como meu cirurgião de plantão desde que
assumi minha parte no negócio, jurando lealdade a mim em vez de meu
pai quando as coisas com sua parceria azedaram. Eu não reclamaria, no
entanto. Ele era o melhor que havia para o que eu precisava e praticamente
o único em quem eu podia confiar neste momento.
—Eles estão amarrados à mesa. Eles ainda estão inconscientes. Você tem
algo que vai acordar eles? Eu os quero acordados o suficiente para sentir
tudo que foi feito com eles.
—Eu posso levar algo. Você trouxe suas próprias ferramentas, ou devo
levar as minhas?
—As suas são melhores. Não quero danificar nenhum dos órgãos
removidos, — respondi.
—Acho que é tudo até o cirurgião chegar aqui, — disse Josh com um
suspiro, afastando as mãos.
Bruce abriu a porta e acenou com a cabeça para George quando ele
entrou com uma mochila e uma mochila com rodinhas, um cirurgião mais
jovem seguindo atrás dele. Ele estava vestido com um uniforme verde claro
com uma rede de cabelo branca cobrindo seu cabelo grisalho. Sua usual
barba branca tinha sido raspada. Rugas confortáveis foram posicionadas ao
redor de seus olhos, que se iluminaram quando seu olhar pousou em mim.
—Basta colocar isso embaixo do nariz para acordar eles, — ele instruiu.
—Eu tenho uma pergunta para vocês dois, — eu disse e dei a ele um
pequeno sorriso. —Se você puder me dar as informações que eu quero,
posso considerar deixá-lo em liberdade. Mas só farei isso se você puder
cumprir sua parte no trato. Acha que pode lidar com isso?
—Você não vai nos deixar sair daqui, e você sabe disso, — disse
Michelangelo com escárnio. —Você pode muito bem fazer o que já está
planejando fazer, porque não estamos dizendo merda nenhuma.
Eu me virei para Marco, cujo rosto estava tão vermelho que pensei que
fosse explodir a qualquer momento. —Você vê como é fácil atacar alguém
de quem você gosta quando está em perigo? Ele não perdeu tempo jogando
você debaixo do ônibus para salvar a própria bunda, — falei.
—Então, quem foi? Osso não quebra por conta própria, — eu disse,
inclinando minha cabeça para o lado.
Ele não disse uma palavra. Sua respiração saiu áspera e irregular, e seu
peito arfava com cada uma. Ele tentou puxar as restrições novamente,
puxando com tanta força que uma veia saltou em seu pescoço antes de
gritar de frustração.
—Vai se foder! — Ele gritou.
Ele gritou para eu parar, implorou por sua vida quando eu liguei o
interruptor de novo da serra elétrica. Seu corpo estremeceu na mesa
enquanto ele tentava se afastar da lâmina.
Dei passos lentos até parar ao lado de seu peito, olhando para ele
enquanto inclinei minha cabeça para o lado.
—O que? — Eu soltei.
—A menos que você queira sangue por toda parte, você precisa colocar
algum equipamento. Essa serra elétrica vai criar muitos respingos de
sangue em uma pessoa viva, — disse ele, segurando um protetor facial e
um longo casaco de plástico.
Tive grande prazer em cortar seu esterno, abrindo seu peito para expor
seu coração e pulmões. Seu coração bateu rápido enquanto o sangue
borbulhava de sua boca, o sangue enchendo sua cavidade torácica. O
cheiro de cobre me atingiu no rosto quando eu cortei sua garganta,
enviando calma e paz através de mim. Os gritos de Marco se
transformaram em gorgolejos nauseantes enquanto George colocava
grampos para manter o peito aberto.
Eu acenei para ele. —Podemos lidar com o que resta aqui. Obrigado
pela ajuda. — Eu olhei para Caleb. —E obrigado pela sua também.
Ele riu e balançou a cabeça. —Certo, seu diabo astuto. Fique longe de
problemas e não hesite em me ligar se precisar de mais alguma coisa.
Assim que a porta pesada foi fechada e trancada, todos nós olhamos
para os corpos. Matar sempre foi divertido e um jogo até a hora de limpar a
bagunça.
Cortar eles, tornaria mais fácil transportar para fora daqui. Quanto mais
cedo voltássemos para casa, mais cedo eu poderia dormir um pouco antes
de mover Aurora para sua próxima punição, bem como planejar o que
aconteceria com a próxima vítima.
—Se você me deixar sair, posso tirar você desse pesadelo, — disse uma voz.
A voz de Stephanie não soou assim. Quem diabos mais Bennett já tinha
criado para me torturar?
Uma parte de mim queria pensar que ele armou algo para me fazer
pensar que eu estava ouvindo merda. Durante toda a semana ele me
acusou de inventar coisas, ameaçando me internar já que eu estava ‘vendo
e ouvindo coisas,’ e não precisava de um animal de estimação que
decidisse que queriam ser lunáticos. Não era como se eu tivesse pedido a
sua namorada morta para vir falar comigo. Eu tinha meus próprios
problemas e poderia passar sem o drama dela.
Eu pulei com o som de uma batida forte, meus olhos se abrindo para
encarar um par de olhos negros. Eu gritei em choque, caindo contra a
fileira de pregos atrás de mim.
—Você está tão fraca que nem consegue olhar para si mesma? — A voz
perguntou.
—Não dê a Bennett o que ele quer, — sussurrei para mim mesma. —Ele
quer que você enlouqueça aqui, mas não dê a ele o que ele quer.
—O que ele quer é transformar você em alguém como ele, — disse a voz. —Ele
quer que você seja tão sombria e corrupta quanto ele.
—Estou feliz que você esteja reconhecendo que estou aqui. Agora olhe para mim
se você for corajosa o suficiente.
Estou apenas perdendo minha cabeça. Não há ninguém aqui, disse a mim
mesma.
—Isso significa que você vai precisar de mim em breve. — Ela deu alguns
passos para trás e estendeu a mão. —Você já está pronta para quebrar?
Eu zombei. Isso tinha que ser algum holograma ou algo que Bennett
montou para me assustar. Bastardo desgraçado. Ele teria que fazer muito
mais do que me deixar em um quarto com um cadáver ou me trancar em
uma caixa apertada para me quebrar.
Ela apenas continuou a sorrir. —Logo vai. A oferta ainda está de pé, — ela
disse e desapareceu.
—Nah. Acho que vou deixar você aqui para morrer, — disse ele. —Você
definitivamente não vale a pena a dor de cabeça.
—Pegue minha mão quando estiver pronta para quebrar, — ela disse, mas eu
não consegui. Eu não daria a Bennett essa satisfação.
Ela não disse nada enquanto continuava a olhar para mim com aquele
sorriso demoníaco e aqueles olhos negros assustadores, o braço estendido
para mim. A parte cansada de mim queria pegar a mão dela. Eu não sabia
se isso significava que ela me mataria ou não, mas talvez isso não fosse
uma coisa ruim, já que eu falhei tão miseravelmente sozinha.
Comida. Finalmente.
Corri o mais rápido que pude até ele, minhas pernas formigando como
se alguém as tivesse picado com agulhas para acordar. Elas cederam
quando eu o alcancei, e eu caí aos seus pés, olhando para ele com olhos
suplicantes.
—Por favor, — eu sussurrei, meu estômago vazio roncando tão alto que
quase ecoou na sala vazia.
Ele olhou para mim com expectativa, seu aperto na bandeja cada vez
mais forte quanto mais tempo eu levava para obedecer. Uma coisa era
certa, se eu não fizesse o que ele disse, seria mais um dia sem comida. Eu
não poderia pagar por isso.
—Da última vez que verifiquei, eu tinha dois pés, — disse ele, seu tom
neutro.
Engoli em seco e me inclinei para beijar seu outro sapato, não ousando
me mover no caso de ele me dizer para fazer outra coisa. Ele deu um passo
para trás e colocou a bandeja na minha frente. Um pouco de mingau de
aveia estava na tigela com dois patéticos mirtilos em cima, uma pequena
garrafa de água ao lado.
—Há um balde ali no canto para que você possa urinar, — disse ele e
apontou para um balde de plástico.
Bennett sorriu, mas era perverso, escuro. —Eu sou, pelo menos, bom o
suficiente para lhe dar algo para se manter aquecida pelas próximas vinte e
quatro horas.
Eu cerrei meus dentes. Ele disse isso como se estivesse tão orgulhoso de
si mesmo, tão feliz por ter sido ‘bom o suficiente’ para tornar meu
sofrimento um centímetro a menos só porque ele me deu a porra de um
cobertor e um travesseiro. Me obriguei a agradecer a ele, mantendo meus
olhos baixos até que me deixassem na sala.
O chão de concreto estava frio quando fui deitar nele. Levantei e estendi
o cobertor no chão antes de me deitar e me enrolar como um burrito.
Embora tenha demorado um bom tempo, finalmente parei de tremer e
meus dentes não batiam mais. Meus olhos pesados finalmente se fecharam,
me puxando para um sono muito necessário, mas foi tudo menos pacífico.
Eu gemi alto quando voltei para a casa segura. Ela era a última pessoa que eu
queria ver depois de todos os problemas em que me meti, mas lá estava ela em seu
lugar normal. Em vez de atiçar o fogo da lareira, ela apenas olhou para mim, a
outra mulher aparecendo ao lado dela.
—Eu não sei o que diabos vocês duas lunáticas querem comigo agora, mas estou
fora, — eu disse segurando minhas mãos para cima.
Stephanie franziu a testa. —Eu já disse a você o que você precisa saber. Você só
precisa descobrir o que fazer com isso, além de levar a verdade para Bennett.
Acenei meus braços ao redor da sala de estar. —E você vê como isso funcionou
bem para mim, não é?— Eu disse sarcasticamente. —Olha, você pode pegar sua
pequena missão de sonho e enfiar na sua bunda morta. Se você quer que ele saiba de
algo, diga a ele você mesma. Eu não devo nada a ele, e também não devo nada a
você.
—É isso que você acha? — A mulher ao lado dela disse, inclinando a cabeça
para o lado. —Que você não deve nada a ela?
—Eu nem a conheço mais. Ela não é a menina que eu me lembro da minha
infância. — Eu olhei para Stephanie. —A garota que eu conheci nunca teria se
apaixonado por um idiota como Bennett.
Stephanie sorriu para mim. —Então por que ela está aqui? — Ela perguntou,
gesticulando para a mulher ao lado dela. —Você está perdendo uma batalha que
nunca teve a chance de vencer. E logo, quando se tornar muito, você vai implorar a
ela para vir salvá-la.
No sexto dia, tudo em mim queria deixar ir e deixar o inferno que era a
minha vida, mas uma pequena voz dentro de mim me disse para continuar
lutando, para seguir em frente, pois a semana estava chegando ao fim
rapidamente.
Ele estava logo acima da porta, a única luz na sala escura como breu. Eu
não tinha certeza se Bennett colocou isso lá para me ajudar a me deixar
ainda mais louca enquanto eu observava os minutos passando ou se
sempre esteve lá, mas eu observava como um falcão sempre que estava no
quarto de concreto. Depois de horas observando o tempo passar
lentamente, Bennett estava na porta às 9h da manhã.
—Bem?
Eu não tinha certeza de que tipo de punição o último dia teria. Depois
de tudo que passei, esperava que não fosse físico. Minhas pernas já
estavam fracas, meu corpo e mente estavam cansados e eu sabia que mais
dor faria a última parte de mim quebrar.
—Sim senhor.
Ele olhou para Saint e Bruce, que ainda estavam na sala. —Eu cuido
daqui. Vocês dois podem esperar do lado de fora por enquanto, — disse
ele.
Os homens assentiram e saíram para o corredor, fechando a porta atrás
deles e me deixando no inferno com o diabo.
—Você está realmente pronta para seguir as regras? Essa vai ser a
última vez que vou fazer essa pergunta, — disse ele.
—Você entende que eu posso fazer o que eu quiser com você sempre
que eu quiser?
—Não quero ouvir mais nada sobre essa besteira de Stephanie sobre a
qual você está falando. Eu fui claro?
—Sim senhor.
O silêncio aumentou minha ansiedade. Uma coisa era saber qual era a
minha punição para que eu pudesse me preparar, mas eu não sabia para o
que eu precisava me preparar. Eu não sabia se ele me deixaria parada ali
por algumas horas, me espancaria de novo, me chocaria ou algo mais
sinistro. As correntes tilintaram enquanto eu tremia. Bennett abriu e fechou
algo atrás de mim. De repente, senti sua presença atrás de mim.
Meu coração parou. Eu mal conseguia lidar com as vinte que ele me deu
na casa secreta, e estava prestes a receber o dobro disso? Com tudo que já
passei, não sabia se sobreviveria a tal punição. Nesse ponto, talvez a morte
não fosse tão ruim.
O próximo golpe veio, desta vez na minha bunda. Bennett não contou
os golpes como fazia quando me castigou na casa secreta, apenas parando
brevemente entre cada golpe antes de desferir outro. Os únicos sons que
encheram a sala foram meus choramingos patéticos enquanto eu tentava
não gritar e o som do que parecia ser um chicote de montaria assobiando
no ar antes de atingir minha pele. A dor logo se transformou em uma
queimadura insuportável, e eu não conseguia mais ficar quieta.
Eu queria tanto ser forte, manter minha dignidade comigo mesma para
mostrar a ele que nada que ele pudesse fazer me quebraria. Mas, a cada
golpe, minhas pernas ficavam mais fracas até que eu praticamente
balançava nos meus braços enquanto Bennett continuava a me golpear com
chicotadas ardentes.
—É por isso que estou aqui. Se ele quiser encher você de escuridão, eu darei a
ele o que ele quer.
Eu não sabia o que havia do outro lado dela ou o que isso significaria
para mim, mas era a passagem para a liberdade que eu queria. Eu queria
sair desesperadamente. Eu não queria mais ser machucada. Eu não queria
sofrer nem mais um segundo. Eu estive o mais forte que pude durante toda
a semana, mas simplesmente não conseguia mais fazer isso. Bennett
venceu. Ele tinha me quebrado com sucesso.
Com lágrimas nos olhos, estendi a mão para ela. Ela estava muito longe
e eu não consegui alcançar ela, enviando desamparo através de mim.
Aurora não tinha falado uma única palavra além de ‘sim senhor’ e ‘não
senhor’ desde que deixamos a sala de Retribuição quatro dias atrás. Foi tão
bizarro testemunhar o momento exato em que ela quebrou.
Eu dei a volta para ficar na frente dela. Seus olhos estavam vazios
enquanto ela olhava para a frente, olhando através de mim em vez de para
mim. Sempre que ela falava, quase soava robótica. Sua voz era baixa e
monótona, e ela nunca me olhou nos olhos quando falou.
Talvez a punição tenha funcionado um pouco bem demais.
Suspirei enquanto desligava meu iPad, acenando para ele. —KC tem
todas as informações que eu pedi? — Eu perguntei quando me levantei da
minha cadeira e caminhei ao redor da minha mesa.
—Ele disse que sim. Esta é a última pessoa local, creio eu. Os outros
estão fora do país em algum lugar.
—Isso não importa. Vou caçar eles onde quer que estejam, — murmurei
enquanto saía para o corredor, trancando a porta do meu escritório antes
de seguir Bruce até a sala de conferências no bunker.
Eu balancei minha cabeça. —Ainda não. Vou dar a ela mais alguns dias
antes de avaliar o quão severa ela está, — eu disse.
Ela franziu a testa para mim, seus olhos verdes quase perfurando um
buraco em mim. Eu já sabia sobre o que seria essa conversa, ela esteve no
meu pé durante toda a semana passada sobre isso. Ela me incomodava
todos os dias para ir falar com Aurora ou pelo menos saber como ela
estava, mas eu não permiti. Eu não precisava de ninguém interferindo no
plano que eu tinha, que incluía manter Carrie longe dela para que ela não
continuasse entretendo a repentina obsessão de Aurora por Stephanie.
—O que diabos você fez com ela? — Ela perguntou, sua voz afiada. —
Ela não vai dizer uma palavra agora. Ela é literalmente apenas um zumbi.
Como isso vai ajudar alguém?
—Mesmo se o que ela disse fosse verdade? Que são irmãs e que seu pai
levou Aurora quando não tinha direitos sobre ela? — Ela perguntou.
—Mesmo que seja verdade, ela está aqui agora, e ela permanecerá aqui.
Eu não sei o que você quer que eu faça...
—Você pode começar deixando ela ir. Ela não merece estar aqui e não
merece a vida que está levando. Não é justo...
O sangue foi drenado de seu rosto enquanto ela olhava para mim, sua
boca abrindo e fechando enquanto ela lutava para encontrar as palavras
para dizer.
—Sim, eu soube que você estava na minha casa na noite em que ela foi
morta, — eu disse, colocando minhas mãos nos bolsos. —Só vou dizer isso
mais uma vez. Fique longe de Aurora e deixe de lado qualquer ideia que
você tenha sobre 'salvá-la' desta vida.
Me afastei dela antes que ela pudesse pronunciar outra palavra. Quase
rosnei de extrema irritação. Depois de ouvir seu alvoroço sobre Aurora
enquanto Aurora estava trancada no bunker, superei seus acessos de raiva
e exigências. Ela estava a mais uma explosão de ser colocada na casa de
hóspedes, apenas para que eu não tivesse que lidar com ela.
Meu coração acelerou no meu peito. Durante anos, fantasiei sobre o que
faria com o homem responsável por tirar minha mãe de mim. Sempre que
acabava com a vida de alguém, sempre imaginei que era a pessoa
responsável por separar minha família. Isso nunca preencheu o vazio que
sua morte deixou para trás. O pensamento de acabar com o homem que era
realmente responsável enviou adrenalina em minhas veias, e eu já estava
ansioso para chegar até ele.
Isso me fez pensar se ele estava ciente da guerra que estava se formando
entre Wilson e eu ou se ele sabia que eu estava atrás do sangue de qualquer
um que tirou alguém importante de mim. Considerando que Wilson já
tinha recebido três corpos de mim, eu não ficaria surpreso se meu plano de
vingança já tivesse passado pelo boato.
—Já que não podemos entrar em seu sistema de câmera, vamos ter que
fazer isso do jeito antigo, — eu disse com um encolher de ombros.
Minha mente e corpo queriam acabar com ele esta noite, mas eu não
podia arriscar a segurança dos meus caras assim quanto a minha. Por tudo
que eu sabia, o bastardo poderia estar nos esperando e ter caras prontos
para nos matar antes mesmo que pudéssemos chegar até ele. Isso
simplesmente não era um risco que eu estava disposto a correr.
Eu amava Carrie até a morte, mas não confiava nela quando ela estava
fora da minha vista. Ela tinha vontade própria e não deu ouvidos a nada
do que eu disse a ela. Com as informações que ela tinha, meu instinto me
disse que ela provavelmente estava tramando algum tipo de plano para
ajudar a libertar Aurora, mas eu não podia permitir que ela fizesse isso.
—Ela ainda não está respondendo ou algo assim? Em que diabos ela
poderia estar se metendo agora? — Saint perguntou com uma risada.
Eu fiz uma careta para ele. Fiquei muito frustrado que ele achasse suas
travessuras e besteiras hilárias, dizendo que ela era ‘divertida’ para ele.
Suas travessuras eram a menor das minhas preocupações quando ela nem
estava falando agora ou fazendo qualquer coisa, por falar nisso.
Eu sorri do outro lado da mesa para KC. —Por que você não faz as
honras e informa a todos sobre o que está acontecendo, já que foi você
quem puxou as informações para Carrie em primeiro lugar? — Eu disse,
recostando na cadeira.
—Não, não seja curta. Eu quero que eles saibam o começo e o fim dessa
merda em que você se meteu, — eu interrompi. —Agora continue.
Saint balançou a cabeça. —Não entendo. Você está falando sobre outra
Stephanie? Porque estávamos todos lá naquela noite para saber o que
aconteceu com a Stephanie de Bennett — disse ele com a testa franzida.
—Carrie disse que veio de um sonho que Aurora teve. Aurora afirmou
que Stephanie a tinha procurado em seus sonhos.
—Havia algo mais que eu encontrei. Aurora disse que não deveria estar
aqui, que Sergio deu Stephanie para Wilson. Quando verifiquei o contrato
de Aurora, não foi encontrado nenhum com o nome dela. Seu pai mantém
uma trilha de papel detalhada para tudo a respeito de seus negócios, mas
não há nenhuma trilha para Aurora além da documentação que você
recuperou dela e que ela agora estava em sua posse, — KC concluiu.
—O que você vai fazer sobre isso? — Bruce perguntou, seus olhos
brilhando de curiosidade.
Nyxin zombou. —O primeiro lugar para onde ela vai correr são os
policiais, especialmente se Bennett não libertar sua amiga também, — disse
ele.
Bruce se irritou com a menção de Savannah, colocando-o de volta no
meu radar para questionar ele sobre isso mais tarde. Voltei minha atenção
para Nyxin.
—Exatamente. Ela sabe e viu muito para deixar ela ir. É uma pena que
ela tenha se envolvido em uma merda que não tinha nada a ver com ela,
mas não há nada que eu possa fazer sobre isso agora, — eu disse.
—Quando ela me disse isso, fui atrás de seu contrato para ver se sua
morte era de fato um trabalho interno. Isso foi o que eu encontrei, — ele
disse, apontando para o papel na minha frente.
Wilson deve saber o que eu estava fazendo. Ele teria muitos seguranças
designados para proteger alguém tão importante para ele quanto
Clemmons parecia ser, especialmente durante uma guerra. Levaria algum
tempo antes que eu pudesse chegar até ele de maneira adequada, mas ele
estava na minha lista de pessoas que eu precisava visitar no devido tempo.
Eu levantei minha sobrancelha para ele. —Tem outro lugar para estar?
—Você tem passado muito tempo com aquela garota ruiva, — Nyxin
brincou. —A garota de Bennett vai pirar quando descobrir que você está
transando com a amiga dela.
—Oh, então você está? É por isso que você está de mau humor por
causa dela ultimamente? — Eu perguntei com um sorriso.
—Eu acredito nisso, — Saint disse, sorrindo quando Bruce olhou para
ele do outro lado da mesa. —O bruto careca não tem namorada há tanto
tempo que não sabe como agir agora.
—Saint e Nyx, vão cuidar de Aurora, por favor. A porta dela está
trancada, mas a bunda sorrateira de Carrie é criativa. Ela poderia escapar
da porra de um caixão enterrado com quase dois metros de profundidade
se ela quisesse, — eu disse, o que fez Saint bufar. —E KC, busque todas as
informações que puder sobre aquele tal de David Clemmons. Eu quero
saber o que estou enfrentando.
—Apenas armas. Farei tudo que acontecer rápido, para que você não
perca seu encontro quente, — provoquei.
—Teria sido por isso que eu teria que voltar lá embaixo. KC acabou de
enviar para mim, — eu disse e digitei o endereço no GPS. Assim que a rota
apareceu na tela, Bruce deu ré com o carro elegante para fora da garagem.
Eu olhei para ele quando passamos pelos portões de segurança. —Então,
Savannah, hein?
—Mas você se importa o suficiente para ficar chateado quando ela tem
clientes, — eu respondi preguiçosamente, assistindo Aurora no meu
telefone. Ela tinha acabado de sair do banheiro e voltou para o centro da
cama, retomando sua atividade habitual de olhar para o nada.
—Eu sei o que ela é, então eu sei que ela tem clientes para cuidar. Eu
simplesmente odeio que eles a machuquem.
Eu olhei para ele e fiz uma careta. —Tem algo que queira dizer? — Eu
perguntei com cautela.
Ele olhou para mim antes de voltar os olhos para a estrada. —Por
quanto você vende suas garotas? — Ele perguntou lentamente.
—Por que? Você está interessado em comprar minha top girl agora?
Ele franziu a testa e olhou para mim. —Se ela é sua top girl agora, tenho
certeza de que não poderia pagar por ela, desde que você a vendesse, — ele
murmurou.
—Se você não pode pagar cem mil, então o que diabos você está
fazendo com todo o dinheiro que eu pago a você? — Eu perguntei com um
sorriso.
Eu zombei. —Eu posso ter que cobrar mais por quase me matar, seu
lunático de merda. — Arrumei meu paletó e me recostei no assento. —Puta
que pariu, cara.
—Agradeço...
—Se eu pagar por ela agora, posso trazer ela para fora do bunker? —
Ele perguntou, olhando para mim.
—Ela pode sair do bunker, mas ela não pode sair da casa principal
ainda, — eu finalmente disse. —Posso colocar ela para trabalhar em casa e
talvez colocá-la em um quarto no andar de cima perto de Aurora até que
tudo isso acabe.
Bruce acenou com a cabeça, um leve sorriso nos lábios. —Posso viver
com isso, — disse ele. —Obrigado.
—Eu juro que você não vai. Se alguma coisa ruim acontecer, eu posso
colocar uma bala em mim mesmo, — disse ele.
Eu balancei a cabeça para que ele soubesse que eu estava ouvindo, mas
mantive meus olhos no meu telefone. Agora que eu tinha uma ficha limpa
com Aurora para fazer o que eu queria, não conseguia decidir o que fazer
com ela. A nova informação sobre ela ser meia-irmã de Stephanie me fodeu
um pouco. Ela e a mulher que eu amava compartilhavam o mesmo sangue,
o que me deixou hesitante sobre como eu queria proceder. No fundo, eu
sabia que ela não era Stephanie e nunca seria, mas isso não impediu meu
coração de desejar que ela fosse.
Olhei pela janela para ver uma pequena casa em estilo chalé no final da
rua. Gritos fracos vieram da casa, a cortina da grande janela da sala de estar
aberta. Um homem alto e magro estava na frente do vidro gritando com
uma mulher pequena que chorava diante dele. O homem de repente bateu
no rosto dela e continuou a repreender ela enquanto ela continuava
desmoronada no chão, soluçando.
—Ele parece agradável, — refletiu Bruce enquanto observávamos.
Quando olhei para Hank pela última vez, me perguntei o que minha
mãe viu quando ele entrou na casa de nossa família e atirou nela. Eu me
perguntei se ela implorou por sua vida ou se ele a pegou de surpresa. Uma
nova raiva borbulhou dentro de mim e, de repente, derrubar ele com um
rifle de precisão não parecia ser o suficiente.
Ele ergueu uma sobrancelha. —Você acha que é uma boa ideia?
—Eu não vou guardar merda até que ele guarde a dele, — ele
respondeu, seus olhos nunca deixando Hank.
—Ela disse que Moreno estava na porta, então quem diabos é você? —
Ele perguntou, sua fala ligeiramente arrastada. —Você não é Wilson.
—Eu sou Bennett, — eu disse com um sorriso. —Acho que a última vez
que te vi, ainda era uma criança quando você trabalhava para o meu pai.
Ele olhou para mim por um momento antes de seus olhos redondos e
frenéticos olharem ao nosso redor. —Sim, certo. Eu estarei lá. Que horas?
—Sim. Wilson costumava realizar reuniões lá. Vejo você às dez então,
— disse ele. —E não apareça na minha casa de novo. — Ele bateu a porta
na minha cara e travou as fechaduras.
Bruce e eu voltamos para o carro, nenhum de nós disse uma palavra até
voltarmos para a estrada.
—Que raio foi aquilo? Achei que estávamos apenas fazendo vigilância
para descobrir como matar ele, não marcando uma reunião com ele para
falar sobre Wilson, — disse ele.
Saiu da minha boca, mas não soou como eu. Minha voz saiu monótona,
morta e quase robótica. Eu parecia tão morta quanto me sentia, o que não
impressionou Bennett, especialmente quando não disse mais do que o
necessário para responder a ele. Isso realmente não importava para mim,
no entanto. Quanto menos eu tivesse que interagir com ele, melhor.
Os primeiros dois dias após os Sete Dias de Inferno também foram um
inferno. Pesadelo após pesadelo atormentava minha mente, memórias do
meu passado me assombrando e premonições do meu futuro me
atormentando. Fui mantida em cativeiro, pois não podia fazer nada além
de dormir para curar meu corpo. Eu queria implorar ao médico para não
me dar mais remédios para me fazer dormir, mas não consegui me forçar a
falar as palavras. Com Bennett sempre presente, eu não queria. Bennett
achava que poderia conseguir o que queria de mim, mas eu ainda tinha
controle sobre uma coisa que ele queria nos últimos quatro dias.
Minha voz.
Havia tantas coisas que eu queria perguntar a ela. Queria saber se ela
estava bem e por que Bennett a trouxe aqui. Eu queria tranquilizar ela de
que continuaria tentando encontrar uma maneira de escapar disso para ela.
Meu cérebro gritou para contar a ela as coisas que aprendi sobre mim,
mas não saiu nada. Apesar das lágrimas tristes rolando pelo meu rosto,
meu rosto não se moveu para mostrar qualquer emoção. Eu apenas olhei
para ela. Sua presença me deixou feliz, triste e culpada. Eu estava tão feliz
por ela ainda estar viva, triste por ela ainda sofrer no bunker com o resto
das meninas e culpada por ter acabado aqui porque tentou me ajudar.
Por que diabos isso é uma boa notícia? Eu queria dizer, mas não disse.
Olhei para a porta, onde Bennett ainda estava de pé, me olhando, com
os braços cruzados sobre o peito. A voz de Savannah me puxou para longe
dele e meus olhos caíram em seu rosto iluminado.
—Eu não preciso mais ser abusada, — ela disse com um suspiro de
contentamento. —Bruce foi o único cara que não me machucou quando
passou um tempo comigo, e agora ele me comprou para si mesmo.
Bom para você. Estou feliz que você saia daqui enquanto eu continuo sofrendo
em um lugar que não pertenço.
—Ele disse que quando a guerra acabar, poderei morar em sua casa com
ele, — ela continuou. —Mas, por enquanto, tenho que ficar dentro de casa,
onde é mais seguro.
Na verdade, é porque você não pode fugir. Você saiu de uma prisão apenas para
ser trancada em outra.
—Bennett até diz que posso te ver todos os dias agora, — disse ela,
olhando para ele por cima do ombro.
Eu puxei minhas mãos das dela e passei meus braços em volta de mim,
baixando meus olhos para o meu colo.
—Isso provavelmente é o suficiente por esta noite, Savannah, — a voz
baixa de Bennett murmurou da porta.
Ela suspirou e deu um beijo suave na minha testa antes de sair da cama,
deixando para trás seu perfume floral. Bennett murmurou algo para
alguém no corredor, provavelmente Bruce, antes de fechar a porta e
trancar.
—Há algo que você gostaria de dizer? — Ele perguntou, sua voz me
fazendo estremecer.
Por favor, me deixe em paz. Eu quebrei como você queria, apenas me deixe em
paz.
—Olhe para mim, — ele ordenou, colocando um dedo sob meu queixo e
inclinando minha cabeça para cima.
—Ele não pode machucar você aqui, — meu alter ego me lembrou.
Ele era uma contradição tão confusa, suas ações traindo suas palavras.
Seu aperto me lembrou do que ele poderia fazer comigo se eu não
obedecesse, mas suas palavras o fizeram parecer inofensivo. Depois do que
já havia passado, não queria arriscar.
Eu lentamente deslizei meus olhos por sua forma. Notei como sua
camisa se ajustava suavemente em seu peito e bíceps duros, as mangas
enroladas até os cotovelos. O ponteiro dos segundos em seu relógio de
prata tiquetaqueava suavemente, me lembrando da falta de segundos que
eu tive que obedecer antes que seu aperto firme se transformasse em um
tapa doloroso.
—Eu estou bem aqui. Ele não vai te machucar aqui, — ela sussurrou
novamente.
—Eu prometo que ele não vai, — meu alter ego sussurrou. —Você não vai
sentir nada.
E ela estava certa. Observei quando ele colocou a mão no meio do meu
peito para me empurrar de volta para a cama antes de se abaixar para
levantar minha camisola. Olhei para o teto e me preparei, estremecendo
quando senti a pressão de seus dedos entre minhas pernas. Era só isso,
pressão, não prazer, o que ainda me permitia ficar em silêncio.
Seu corpo ficou tenso enquanto ele ficava frustrado com o meu silêncio,
mas ele não parou o que estava fazendo. Eu apenas continuei olhando para
o teto, não querendo sentir nada, não querendo ouvir ele, e não querendo
existir.
Havia algo que eu queria e não conseguia identificar, algo escuro para
preencher o buraco agora vazio dentro de mim. Foi assim que Bennett se
sentiu depois de perder Stephanie? Uma casca de seu antigo eu?
—Eu quero ouvir você gemer por mim, linda, — ele murmurou em meu
ouvido enquanto beijava meu pescoço.
—Ele vai ficar tão desapontado esta noite, então, — meu alter ego sussurrou
antes que ela gargalhasse, o som tão alto saindo dos cantos da minha mente
que eu fisicamente estremeci.
Eu só queria que ele terminasse para que ele pudesse ir embora e eu
pudesse ir para a cama. Quando peguei a mão do meu alter ego, pensei que
estaria dormindo enquanto ela fazia o que precisava fazer. Mas ela parecia
controlar apenas certas coisas. Eu ainda podia ouvir e ver Bennett, o que
era a parte mais difícil. Eu não queria estar presente, mas ela disse que era
necessário para o meu renascimento, que eu não poderia me esconder dele
para sempre se quisesse destruir ele.
Eu só não sabia se tinha mais força para destruí-lo sem que ele
destruísse o resto de mim no processo.
—Me dê sua voz, — ele sussurrou, seus quadris bombeando com mais
força contra mim.
Eu não vou.
Não.
Ele se repetiu várias vezes até que finalmente gozou, olhando para mim
em confusão e frustração. Além de não conseguir minha voz, ele não
provocou um orgasmo em mim como costumava fazer. Ele ofegava acima
de mim, sua pele brilhando com uma camada de suor. Eu encontrei seu
olhar brevemente antes de desviar o olhar rapidamente. Depois de alguns
momentos, ele suspirou e se afastou de mim, indo para o banheiro. Rolei
para o lado quando ouvi o chuveiro ligado, minhas costas voltadas para o
banheiro.
—Isso não foi tão ruim, foi? — Meu alter ego perguntou.
Eu fiz uma careta. Ele me usou e me descartou como a prostituta que pensa
que sou.
—Bem, acho que ele sabe que você é irmã de Stephanie agora. Acho que é hora
de executar meu plano.
—Quem disse alguma coisa sobre matar ele? Se você tivesse se comunicado com
Stephanie por mais tempo, em vez de ser uma vadia chorona, você saberia que a
maneira de destruir Bennett é através de seu coração.
Peguei as roupas, que não eram nada além de um jeans skinny surrado
e uma camisa branca. Ele incluiu uma calcinha rendada preta e sutiã
combinando, e eu lutei contra a vontade de revirar os olhos. Ele não tinha
falado muito depois de sua tentativa fracassada de me fazer gemer por ele
na noite anterior, o que estava bom para mim. Eu não tinha certeza do que
ele tinha na manga desde que ele estava me levando para fora de casa, mas
me deixou nervosa, não aliviada como ele provavelmente pensou que faria.
—Não seja tão fraca, — meu alter ego repreendeu. —Eu disse para você
confiar em mim.
—Ele não está. Ele não estaria tocando você do jeito que está se você fosse ser
punida, — disse ela.
—Tio Benny está aqui! — Uma garotinha gritou, correndo até ele e
colidindo com sua perna. Outras crianças pequenas correram para ele,
abraçando qualquer parte dele que pudessem tocar. Ele riu e pegou a
menina com um grunhido.
—Sim, você tem, — disse ele, dando um tapinha no queixo dela antes
de olhar para as outras crianças. —Você está se divertindo?
Eu passei tantos anos ficando com raiva dele por me mandar embora
quando ele estava apenas tentando me proteger da loucura que vinha da
família Moreno, uma loucura que ele conhecia muito bem.
—Lamento ter que encurtar sua visita, mas preciso ter uma reunião com
vocês sobre o 'encontro' hoje à noite, — Bennett murmurou para Saint.
Saint balançou a cabeça e sussurrou algo para sua filha, meu coração
quebrando por ela quando seu rosto caiu.
—Fique aqui com as crianças por alguns minutos. Volto para te buscar
quando terminar esta reunião, — disse ele.
Eu poderia lidar com crianças. Elas eram almas inocentes sugadas para
um mundo fodido devido ao seu pai trabalhar para um maníaco. Vendo
como a menina ficou triste depois que seu pai teve que fugir para cumprir
as ordens de Bennett, imaginei que, se usasse minha voz para alguma
coisa, poderia pelo menos ser para consolar uma criança que não pediu por
esta vida.
—Oi, — murmurei.
Ela olhou para mim e fungou. —Oi, — ela disse, sua voz suave.
Se ela era filha de Saint, presumi que o resto das crianças pertenciam
aos outros homens do grupo de Bennett. Eles devem ter estado aqui para
que estivessem seguros durante a guerra. Mas, apesar da loucura que
aconteceu fora daquelas paredes, as crianças pareciam relativamente
contentes. Alguns deles assistiam televisão, jogavam em iPads ou
brincavam com brinquedos ou entre si.
Cale-se. Eu disse que cuidaria das crianças, você pode cuidar de todo o resto, eu
repreendi.
—Você não precisa me dizer duas vezes, — ela disse e ficou quieta.
—Aww cara, — Giselle choramingou e olhou para mim. —Eu tenho que
tirar uma soneca? Eu quero brincar com você.
Bennett pôs as mãos nos bolsos. —Então acho que teremos que comprar
alguns para você, — disse ele, caminhando até mim.
Eu dei um passo para trás enquanto ele avançava, aquele medo familiar
rastejando sobre mim quando ele me alcançou. Ele fez uma pausa quando
eu vacilei, a hesitação enchendo seus olhos por um momento antes de me
pegar em seus braços e me levar para o Audi.
Bennett olhou para mim com expectativa enquanto estendia a mão para
mim.
—É bom vê-lo de novo, Sr. Moreno, — disse uma delas com cabelo
castanho enquanto Bennett me colocava de pé. Ela se aproximou e deu-lhe
beijos no ar em ambas as bochechas, e ele devolveu o gesto antes de acenar
para a menina mais jovem ao lado de uma cadeira de pedicure.
Nenhuma cor me faria sentir menos morta por dentro. Eu queria algo
que refletisse o quão vazia eu me sentia desde que deixei a sala de
Retribuição, o quão vulnerável eu me sentia com minha saúde mental em
terreno instável.
Era a única coisa que refletia como eu me sentia, que descrevia o vazio
que me preenchia e a escuridão que sussurrava palavras doces em meu
ouvido. A escuridão sonhava em se banhar em uma chuva de sangue e se
deliciava com o desejo de roubar a vida de alguém, mas aquela escuridão
também estava presa. Não era como se eu pudesse matar Bennett tão cedo.
A filha dela olhou para mim. —Você gostaria de usar uma peruca? Ou
você se sentiria mais confortável sem uma? — Ela perguntou. —Não sei se
o seu cabelo foi cortado intencionalmente ou não, então pensei em
perguntar.
Qual plano?
—Aquele que destrói Bennett, duh. Onde diabos você esteve? — Ela
repreendeu. Eu cerrei meus dentes, lutando para manter meu rosto neutro
enquanto Sam olhava para mim com expectativa. —Escolha uma peruca loira
e peça para elas enrolarem.
—Exatamente.
Eu não tinha certeza se esse plano que meu alter ego tinha na manga
funcionaria, mas esperava que não saísse pela culatra para mim quando
Bennett visse o resultado final.
Aurora seria a porra da minha morte.
Não passou despercebida que ela escolheu uma peruca loira ao fazer o
cabelo. Eu fiz um bom trabalho em mascarar minha reação quando a vi
inicialmente, simplesmente dizendo a ela que era uma bela cor nela. Mas
depois que ela se vestiu para o encontro e Bruce a acompanhou escada
abaixo, eu poderia jurar que vi Stephanie por um minuto. Eu cerrei meus
dentes, empurrando as imagens mentais dela para o fundo da minha
mente. Agora não era hora de se distrair. A única razão pela qual eu a
estava trazendo esta noite era para deixar Hank à vontade, bem como para
ver se o assassinato poderia tirar algum tipo de reação dela. Ela ainda
estava fazendo os movimentos de tudo como um zumbi estúpido, só
falando quando alguém falava com ela, desde que ela até respondesse em
primeiro lugar.
Ela usava um vestido de seda vermelho sangue que terminava no meio
de suas coxas com estiletes pretos que acentuavam suas panturrilhas. Seu
cabelo estava enrolado e caindo um pouco abaixo dos ombros. Ela ainda se
recusava a olhar para mim, o que me frustrou profundamente. Além de ela
quase não falar, ela não olharia para mim a menos que eu dissesse a ela ou
a menos que ela quisesse roubar um olhar. Caso contrário, ela olharia além
de mim ou manteria seu olhar colado no chão. Fiz uma nota mental para
ligar para o médico pela manhã e perguntar se havia algo que eu deveria
estar fazendo para ajudar ela, porque, para ser honesto, não tinha certeza
de como tirar ela do bloqueio mental que ela se protegeria a fim de moldá-
la no que eu precisava que ela fosse.
Eu olhei para suas unhas para ver que eram da mesma cor de seu
vestido. Meu peito apertou com o pensamento de Stephanie e como ela
sempre teria suas unhas pintadas dessa cor, já que era minha cor favorita.
—Eles escolheram essa cor para você? — Eu perguntei a ela, cortando o
silêncio desconfortável entre nós.
—Então você escolheu você mesma? Eu não achei que você fosse
alguém que gostasse de cores tão escuras, — pensei. Ela ficou em silêncio
por um momento antes de finalmente falar.
—Achei que fosse sua favorita, — disse ela, seu tom voltando à maneira
plana e robótica com que ela começou a falar.
Eu a estudei por um tempo. Tanta coisa mudou com ela desde que ela
deixou a sala de Retribuição. Mesmo ontem à noite, quando eu fiz sexo
com ela, ela não fez um único som, nem gozou. Não houve um momento
em que ela não gemeu quando eu a toquei para lhe dar prazer, e foi
frustrante pra caralho que ela não disse nada. Ela apenas olhou para o teto,
seus olhos em branco enquanto eu tentava extrair algo dela, um gemido,
um choro, um grito, ela me dizendo para parar. Era como foder uma
boneca sexual quente, um cadáver sem vida que ainda não estava morto.
Não era como se seu corpo não respondesse a mim como normalmente
fazia. Seus quadris rolaram com cada movimento da minha língua, suas
paredes apertaram meu pau como normalmente faziam quando ela estava
perto de gozar. Mas isso nunca aconteceu, e ela nunca disse uma única
palavra, não importa quantas vezes eu pedisse.
—Meu nome é Aurora, — ela disse, sua voz monótona. Apesar do tom
monótono de sua voz, algo sinistro brilhou em seus olhos.
Saint abriu a porta, acenando para Hank quando ele entrou. Ele parecia
nervoso quando viu Nyxin e Bruce, relaxando um pouco quando me viu
sentado à mesa.
—Claro, — disse ele, sentando à minha frente. Olhei para Bruce e acenei
com a cabeça, observando enquanto ele pegava o Bourbon que eu tomava,
misturando com comprimidos de morfina esmagados. Ele se aproximou e
colocou um copo na frente de Hank e o serviu pela metade. Eu escondi
meu sorriso atrás do meu copo enquanto observava Hank engolir o álcool e
pedir outra dose. Bruce encheu o copo de Hank novamente, olhando para
mim com uma sugestão de sorriso nos lábios enquanto se afastava da mesa.
—Sim, então o que você quer saber? Seu pai fez um monte de merda no
passado, — ele começou.
Ele deve estar falando sobre Carrie, pensei antes de tomar outro gole do
meu copo. —Você deu a ela alguma informação? — Perguntei.
Ele zombou. —Claro que não. Não há nada que seu pai odeie mais do
que um rato, — disse ele, balançando a cabeça. —Eu disse a ela para dar o
fora da minha casa e se ela voltasse, ela encontraria minha arma. Mas no
dia seguinte, eu saí para pegar a correspondência e havia uma merda de
uma caixa na minha porta com a porra de um coração Não sei se era um
coração humano ou animal, mas reconheci aquela porra de papel timbrado
na caixa que continha uma ameaça oculta. Portanto, tenho sido cauteloso
desde então.
—O que ele fez com seus melhores assassinos se eles fossem alvos? —
Perguntei. Eu precisava descobrir como conseguir chegar a David
Clemmons. Com tudo o que KC investigou, isso mostrou que ele não era
local onde quer que estivesse. Eu estava ansioso para chegar até ele,
ansioso para vingar a morte de minha amante e filho que ele tinha roubado
de mim.
—Seu pai nos enviou para fora do país, — disse ele. —Sempre nos disse
que éramos valiosos demais para perder, apesar do fato de sermos os
melhores em proteger ele.
—E quais ilhas?
Hank esfregou o rosto, seus olhos piscando rapidamente enquanto ele
lutava para se concentrar em mim. —Uh... o uh... Bora Bora, eu acho, —
disse ele. Gotas de suor se formaram em sua pele quando ele começou a
tossir, ofegante.
Ele colocou a mão na testa. —Não sei. Acho que bebi muito ou algo
assim. — Ele se moveu para se levantar, mas tropeçou, caindo sobre um
joelho. —Talvez devêssemos... continuar isso outra... hora.
—Vai se foder... e ela, — ele soltou, cuspindo aos meus pés. Eu dei um
soco em sua mandíbula, raiva desenfreada batendo em mim. Bruce girou
sobre a mesa com uma variedade de armas, desde facas, um picador de
gelo, um alicate, um bisturi e um martelo. Eu andei ao redor de Hank e fui
até a mesa enquanto Hank lançava insultos arrastados e promessas
de me matar se eu o deixasse fora das algemas. Peguei o furador de gelo e
me aproximei dele até ficar atrás dele.
Ele não podia responder, pois era muito difícil falar quando ele já não
conseguia respirar. Eu caminhei até o outro lado, seus olhos me seguindo
antes que ele começasse a tossir sangue. Justamente quando eu levantei
minha mão para perfurar seu outro pulmão, algo me parou no meu
caminho.
—Senhor?
Eu olhei para cima ao som de sua voz, sua linda e doce voz que eu não
tinha ouvido no que parecia uma eternidade. Ela realmente segurou meu
olhar, aquele brilho escuro que eu havia notado antes ainda estava lá
enquanto ela me observava.
—É o que você quiser, — eu disse. Ela assentiu com a cabeça, seu aperto
no cabo. Eu a virei e a coloquei atrás de Hank. Ele ainda ofegava e ofegava
enquanto lutava para respirar, mas com a arma que Aurora escolheu, ela o
tiraria de sua miséria.
Saint deu uma risadinha. —Deixe tudo sair, garota. Se aquele cara não
estava morrendo antes, ele está definitivamente morto agora, — ele
meditou.
—Eu acho que você acabou agora, — eu disse. Ela piscou, seus olhos
focando em mim antes de olhar para o que tinha feito. Eu esperava que ela
gritasse, para olhar o estrago com horror. Em vez disso, ela deu uma
risadinha, um som doce e inocente que borbulhou em uma risada. Bruce
bufou, Saint e Nyxin se juntando e rindo.
—Isso foi bom, — disse ela finalmente com um suspiro, deixando cair o
martelo no chão. Eu não pude evitar o sorriso que puxou meus lábios.
Perfeito. Acho que não tinha que esperar minha princesa sombria chegar,
afinal. Ela já estava aqui e pronta para pintar a cidade de vermelho.
Hank não fazia mais barulho, então não havia mais nada para eu fazer.
Eu olhei de volta para os caras. —Eu acho que é isso então, — eu disse,
envolvendo um braço ao redor Aurora. Ela olhou para mim com um
sorriso malicioso, mas não disse nada. —Se sente melhor agora?
—Nós vamos limpar aqui. Você deve voltar para a casa. Quanto mais
tempo você manter ela fora, o mais perigoso é, — Bruce afirmou. Eu
definitivamente não esperei por ele para me dizer duas vezes, já pensando
em todas as coisas que eu queria fazer para Aurora uma vez que eu tiver
ela no banco de trás do carro.
—Farei isso, — Saint disse e olhou para Aurora. —Vejo você mais tarde,
princesa sombria.
Ela apenas riu em resposta, olhando para o crânio destruído de Hank.
Eu a levei para fora da sala e pelo corredor, meu pau endurecendo com a
ideia de levar ela no banco de trás do carro. Já fazia um tempo desde que
eu estava sexualmente excitado. Havia algo sobre o sangue que poderia
mudar meu humor, mas assistir Aurora tomar parte em algo que tinha sido
tão pessoal e violento desbloqueou um novo mundo de possibilidades
dentro de mim.
—Se apresse e ligue o carro para que eu possa subir a divisória. Dirija
por aí até que eu diga para você nos levar para casa, — eu ordenei.
—Tudo o quê?
—Você tem certeza disso? Ter sangue em suas mãos cria novos
demônios, — eu murmurei, alcançando entre suas pernas e movendo sua
calcinha para o lado. —Isso pode ser muito complicado.
—Você foi uma garota tão boa esta noite, — eu murmurei, sorrindo
quando ela ronronou. —Veja como você está molhada para mim.
—Eu quero que você me foda agora, il mio amore, — ela sussurrou antes
de me beijar novamente, suas mãos se abaixando e se atrapalhando com
meu cinto. Eu congelei e agarrei suas mãos, franzindo a testa para ela.
Eu a empurrei para fora meu colo, enviando ela caindo sobre o assento
ao meu lado. Toda a evidência estava lá. Eu não podia negar que ela pode
ter tido sonhos reais com Stephanie. A partir das coisas que ela disse sobre
ela, para memórias que ela tinha repetidas de volta para mim que só
Stephanie e eu sabia, eu não podia negar que ela tinha tido algum tipo de
contato sobrenatural com a minha falecida amante. Ela fungou ao meu lado
e eu quase queria me socar. Eu finalmente fiz progressos com ela de onde
ela estava, pelo menos falar, mas agora ela tinha recuado de volta para sua
concha com medo de que eu faria algo para ela por falar sobre Stephanie.
—Nos leve para casa, — eu disse, minha voz plana. Ele me deu um
aceno de cabeça apertado e fez meia-volta no trânsito, continuando na
estrada para nos levar para casa. Ao deixarmos os limites da cidade de Los
Angeles, meus pensamentos se encheram de tudo relacionado a Stephanie.
Minha mão correu para cima e para baixo em sua coxa exposta enquanto eu
verificava mensagens e e-mails de negócios. —Uh huh, — eu disse, digitando uma
resposta rápida a um texto que eu acabei de receber.
Ela colocou a mão sobre a tela do meu telefone com um suspiro. —Bennett, você
está me ouvindo?
—Não havia nada sobre sexo no que eu acabei de dizer, — ela disse enquanto
franzia a testa para mim.
Coloquei meu telefone no bolso e peguei a mão dela na minha. —Me desculpe
amor. Você tem toda a minha atenção.
—Até que você tenha que fugir quando seu pai te chamar, — ela murmurou,
puxando sua mão da minha e cruzando os braços sobre o peito.
—Ele está fora da cidade por um tempo, então somos só eu e você agora. — Me
virei um pouco no banco para encarar ela, colocando um beijo suave em seu ombro
nu. —Você sabe que odeio quando você está com raiva de mim.
—Oh, você quer dizer da mesma forma que eu não senti nenhum amor a noite
toda porque você esteve muito ocupado com seu telefone? — Ela rebateu. —Como é
uma noite de encontro quando você ainda está envolvido no trabalho?
Ela se mexeu e se moveu para sentar no meu colo. —Já consigo pensar em
algumas maneiras de você me compensar, — ela ronronou, inclinando para me
beijar.
Abaixei minha mão e apertei sua bunda, rosnando quando ela rolou seus
quadris contra meu pau.
—Oh sim? Acho que terei que passar a noite toda compensando você, então.
Ela colocou os braços em volta do meu pescoço. —Eu sempre tive a fantasia de
fazer sexo na parte de trás do carro, — ela disse e se inclinou para me beijar.
Ela olhou para mim por um longo momento antes de me dar um sorriso
suave. —Eu te amo, il mio amore, — disse ela.
—Ti amo di più1, — eu sussurrei e a puxando para beijá-la. Ela suspirou
contra meus lábios, sua mão acariciando minha bochecha. Cada vez que eu a
beijava, sua luz se dissipava nas partes escuras de mim. Com tudo que
experimentei na minha vida, eu não sabia se era mesmo capaz de amar, muito
menos um amor tão forte quanto eu sentia por Stephanie. Ela me deu esperança que
eu nunca pensei que fosse possível, esperança de que houvesse algo além da morte e
da destruição que era minha vida.
Quando finalmente nos afastamos um do outro, ela olhou para mim e sorriu. —
Houve um tempo em que você não me amava, sabe, — disse ela. —Você só pensava
que eu era um brinquedo humano para foder.
Ela deu uma risadinha. —Você até disse isso uma vez. Você era um jovem
idiota quando te conheci.
—Sim. — Ela descansou sua testa contra a minha. —Você costumava ser tão
obstinado em não querer amar ninguém porque achava que não era possível nesta
vida. Mas todo mundo merece alguém, mesmo alguém tão sombrio quanto
você. Ninguém deveria ter que navegar neste mundo sozinho.
—Então eu acho que tenho sorte de ter você para navegar pelo mundo, — eu
disse, acariciando sua bochecha. —Agora, sobre aquela sua fantasia...
—Ei, Joe, pegue a rota panorâmica de volta para casa, — eu disse a Joseph,
embora olhasse para Stephanie. —Eu preciso de um pouco mais de tempo a sós com
esta linda senhora aqui.
Subi a partição, minha atenção total agora sobre ela e sorri para ela. —Agora
temos muito tempo.
—Agora não, Carrie, — eu disse. O tom da minha voz a fez parar. Ela se
virou e olhou para mim, seu aborrecimento anterior comigo se
transformando em preocupação.
—Você costumava ser tão obstinado em não querer amar ninguém porque
achava que não era possível nesta vida. Mas todo mundo merece alguém, mesmo
alguém tão sombrio quanto você. Ninguém deveria ter que navegar neste mundo
sozinho.
Era apenas mais uma coisa que eu precisava descobrir, e eu não pararia
até que tivesse respostas.
O que diabos você estava pensando?
—O que diabos você estava pensando por ser uma covarde de novo? Eu sabia o
que estava fazendo.
—O que isso importa para você? Não é como se você sentisse a punição se
tivesse uma.
Você não pode fazer isso. Quer você goste ou não, eu também estou aqui. Você
vai ter que descobrir uma maneira de lidar comigo.
—Ou posso começar a ignorar você.
Meu plano era simples. Agora que Bennett sabia quem eu era, dediquei
um tempo para replicar qualquer coisa que desenterrasse velhas
lembranças de Stephanie quando ele me viu. A peruca que eu tinha
enrolado para se parecer com o jeito que ela costumava ter o cabelo. A cor
das unhas vermelho sangue que ela sempre usava porque era a cor favorita
dele. O vestido que eu escolhi para usar esta noite era semelhante ao
vestido que ela teria usado em uma reunião que ela teria comparecido com
Bennett se ela não tivesse sido assassinada na noite anterior, não que
Bennett soubesse disso. Enquanto esperava que a parte mais fraca de mim
concedesse meu acesso, passei muito tempo com minha querida meia-irmã
sob o pretexto de trazer ‘paz’ e ‘fechamento.’ Depois do que ele fez comigo,
com ambas as partes de mim, eu não poderia perdoar tão facilmente. Só
havia uma maneira de derrotar um homem como Bennett. Matar ele não
me daria muita satisfação, mas quebrar seu coração de novo e deixar ele
viver com isso parecia uma alternativa melhor.
Eu o faria sofrer.
Seu toque enviou arrepios ao longo da minha pele quando ele envolveu
um braço em volta da minha cintura, seus lábios no meu pescoço. Seu pau
grosso pressionou contra mim e meu núcleo doeu com a necessidade. Eu
me virei em seus braços e fiz uma careta para ele.
Obedeci, deslizando pela parede até ficar de joelhos diante dele. Ele
colocou a mão na parede para se firmar, olhando para mim enquanto eu
acariciava sua ereção crescente. Havia algo sobre o olhar em seus olhos que
enviou um arrepio na minha espinha, mas não era de medo. Havia uma
dor abrigada em seus olhos castanhos chocolate, que falavam de tristeza,
solidão e confusão. Eu percebi que ele estava assim desde meu deslize no
carro e isso me fez pensar se ele planejava punir minha garganta assim que
estivesse em minha boca. Independentemente do que ele quisesse fazer
comigo, eu aguentaria.
—É isso aí, linda, — ele gemeu. —Uma garota tão boa pegando todo
esse pau.
Ele apertou nossos lábios novamente, seus dedos correndo para cima e
para baixo na minha fenda molhada. Eu choraminguei contra seus lábios
quando ele deslizou dois dedos dentro de mim, bombeando-os
rapidamente enquanto acariciava meu ponto G. Minhas pernas lentamente
ficaram fracas debaixo de mim enquanto o prazer corria e descia pela
minha espinha, e eu tive que me agarrar a ele para não desmaiar.
Seu gemido encheu o chuveiro quando ele entrou em mim, tirando meu
fôlego. Eu segurei ele enquanto ele bombeava em mim. Eu permiti que
minha mente se afastasse enquanto o prazer lambia minha espinha. As
imagens escuras da morte lentamente derreteram da minha mente quanto
mais perto eu chegava do meu orgasmo. O vapor do chuveiro aqueceu
nossas peles, a luxúria acendendo um fogo no fundo da minha barriga.
—Você é tão gostosa pra caralho, boneca, — ele gemeu. —Me aperte.
—É isso. Eu quero que você grite meu nome quando gozar, — ele
rosnou em meu ouvido, bombeando em mim com tanta força que eu não
consegui parar minha cabeça de bater na parede. Foi uma mistura de dor e
prazer, ambos com o objetivo comum de me levar mais alto quando eu
finalmente explodisse.
—Sem motivo.
Ele ficou quieto por tanto tempo que pensei que ele tivesse adormecido.
—Você ainda tem sonhos com Stephanie? — Ele finalmente perguntou.
—Não.
—Você só está dizendo isso porque acha que será punida? — Ele
perguntou e bocejou.
—Você vai me deixar ir? — Perguntei. A questão era uma faca de dois
gumes. Por um lado, o pensamento dele de boa vontade me deixando ir
colocou um balão de esperança em meu peito. Eu não conseguia nem
começar a pensar em tudo que faria quando essa guerra acabasse e eu
tivesse minha liberdade de volta. Eu mal podia esperar para poder ir e vir
quando quisesse, poder fazer compras ou ter uma vida amorosa repleta de
interações consensuais e encontrar minha paixão em algo novamente. Mas,
por outro lado, havia a possibilidade de que ele pudesse dizer não,
solidificando que eu seria sua prisioneira até que um de nós morresse.
—Você sabe que eu não posso fazer isso, — disse ele, em voz baixa.
—Eu não sei o que você quer que eu diga, Aurora, — ele disse depois de
um longo período de silêncio. —Sim, é uma merda que você tenha sido
presa nesta merda por qualquer motivo estúpido que Wilson teve, mas não
há nada que eu possa fazer sobre isso agora. Não posso arriscar o sustento
das pessoas que dependem de mim.
—Eu disse que, contanto que você se comporte, você pode ter e fazer o
que quiser...
Eu olhei para ele, observando enquanto ele ficava deitado com os olhos
fechados enquanto se preparava para voltar a dormir. Eu balancei minha
cabeça e me sentei na cama, me afastando dele.
—Eu pensei sobre o que você disse, — ele começou. Lutei contra a
vontade de revirar os olhos. Eu não estava com humor para ele ser um troll
ou ser condescendente. Eu apenas olhei para ele, esperando que ele
continuasse. —E talvez você esteja certa. Vai ser mais difícil para você
aceitar o fato de que está presa aqui se não puder se mover da maneira que
deseja.
Eu fiz uma careta para ele, mas engoli as palavras que queria atirar nele.
Deus, ele é um idiota de merda. —O que isso significa? — Eu perguntei em
vez disso, minha voz firme.
—Significa que quero tentar algo. Vou deixar você vagar pela casa hoje.
Nada de ficar trancada em quartos ou confinada a uma parte da casa. Você
pode ir para onde quiser dentro da casa principal e se for do lado de fora,
você não deve ir além do jardim. Hoje estamos tendo atividades ao ar livre
para as crianças, então, se elas podem passear um pouco, achei que não me
mataria te deixar passear também.
Não.
—Você não parece agradecida, — disse ele com uma carranca leve.
Eu encontrei seu olhar e arregalei meus olhos. —Oh meu Deus, senhor!
Muito obrigada por achar a sua boneca sexual digna o suficiente para ser
capaz de entrar e sair de casa como ela quiser! — Exclamei com uma voz
exagerada e borbulhante, juntando minhas mãos. —Não sei o que teria
feito se ficasse trancada neste quarto por mais um minuto, então
obrigada! Obrigada, obrigada, obrigada! — Eu cruzei meus braços sobre
meu peito. —Isso é grata o suficiente, senhor?
Ele sorriu para mim e balançou a cabeça. —Não abuse da sorte, linda, —
disse ele. —De qualquer forma, você deve se levantar e se vestir, a menos
que queira tomar seu café da manhã trancada aqui em vez de na mesa de
jantar. — Ele acenou com a cabeça para uma pilha de roupas
cuidadosamente dobradas ao pé da cama. Eu balancei a cabeça, jogando o
edredom do meu corpo nu. Seu olhar apreciativo ao longo do meu corpo
não passou despercebido quando saí da cama, peguei as roupas e fui para
o banheiro. Um sorriso apareceu em meus lábios quando fechei a porta
atrás de mim. A situação ainda não era ideal, mas era um passo na direção
certa.
—Oi, tio Benny, — disse ela, rindo novamente quando ele se levantou e
fez cócegas em seu lado.
—Pronta para toda a diversão que planejei para vocês hoje? — Ele
perguntou a ela.
—Sim, você vai. Assim que tudo estiver configurado lá fora, vocês
podem ir brincar, tudo bem?
Bennett olhou para Saint e franziu a testa. —O que ela está fazendo
aqui?
Ele encolheu os ombros. —Só queria tirar ela de lá por alguns minutos.
Tenho certeza que ela e o resto das crianças vão ficar loucos olhando para
aquelas paredes de concreto. Mas eu estava apenas dando uma volta com
ela. Estou prestes a levar ela para o quintal, já que tudo está calmo agora.
— Ele fez uma pausa e ergueu uma sobrancelha. —A menos que você
precise de algo?
—Não, estamos bem aqui. Você pode ir em frente, — disse Bennett.
Saint acenou com a cabeça e saiu da sala de jantar com Giselle cantando
uma música que eu não reconheci. Bennett olhou para mim.
Baixei meu olhar para o meu prato. Eu estava tão bem quanto poderia
estar nesse tipo de situação. —Estou bem, — respondi, minha voz baixa.
—Eu estava tão preocupada com você quando te vi outra noite. Bruce
disse que você não estava falando e...
Ela olhou por cima do ombro antes de se inclinar um pouco mais perto
de mim. —A casa dele não é tão segura quanto esta. Acho que assim que
nos mudarmos para aquela, vou planejar minha fuga. Não quero passar o
resto da minha vida presa aqui.
—Isso não é uma boa ideia. Você não sairia da propriedade, — soltei,
enfiando uma garfada de ovos na boca.
Sua sobrancelha se franziu em confusão. —Por que não faria isso? Quer
dizer, eu aprenderia o layout da propriedade primeiro para descobrir a
melhor maneira de escapar. Eu planejaria dias de antecedência...
—Tenho certeza que é fácil para você aceitar ficar presa aqui quando
mora aqui, — ela rosnou. —Não foi você que teve que lidar com ser
estuprada repetidamente por vários homens em todas as horas do dia e da
noite. Não foi você que teve sua dignidade arrancada de você enquanto sua
violação era transmitida por todo o Internet em algum lugar.
—Eu não aceitei isso, Savannah. Eu não sei o que você quer que eu diga.
Estou quebrada assim como você, então as mesmas restrições se aplicam a
mim também. Não há nenhum lugar onde possamos ir onde Bennett não
pode nos encontrar enquanto ainda tivermos esses chips. Não é como se eu
soubesse onde ele foi inserido para poder retirá-lo, — argumentei.
—Então, estamos realmente presas aqui, — disse ela, uma única lágrima
rolando por sua bochecha.
Depois que terminei de tomar o café da manhã, vaguei pela casa até
chegar à porta de vidro que dava para o quintal. Saí para o quintal, que
estava sendo transformado no que parecia ser um pequeno parque de
diversões. O que costumava ser um terreno vazio além do jardim agora
estava cheio de barracas, cabines de jogos, um zoológico, um castelo
inflável e atividades aquáticas. Mesmo que o sentimento fosse bom, ter um
dia divertido ao ar livre para as crianças não parecia a melhor ideia quando
seu pai psicótico poderia aparecer a qualquer momento e nos atacar. Achei
que era um risco que ele estava disposto a correr para fazer as crianças
felizes.
Talvez fosse Stephanie que quisesse isso aqui, pensei, roçando os dedos nas
flores que desabrochavam ao passar por elas. Eu podia ouvir o fraco
borbulhar da água à distância, aumentando minha curiosidade. Andei um
pouco mais rápido, saindo em uma clareira ainda cercada por paredes de
rosas. Uma fonte de pedra borbulhava no meio da clareira, três bancos
colocados na frente de três paredes. Meu coração acelerou um pouco
quando vi o que parecia ser uma lápide de granito brilhante no chão.
Stephanie
Bennett encerrou seu bem mais precioso em uma parede de rosas para
que tudo sempre fosse lindo para ela. Não havia nada de lindo na
escuridão que veio com esta vida e ela acabou sendo consumida por ela.
Você tem que admitir que isso é um pouco doloroso, disse a vozinha na
minha cabeça.
E era. Ver isso, como ele protegeu a própria pessoa que sofreu, fez meu
coração se partir por ele. Quebrou pelo futuro que eles não teriam, a dor
que não tinha curado nele, e o homem que estava perdido na noite em que
ela morreu.
—Então pare com isso, — eu disse e estendi minha mão. —Passe a bola
de volta para mim.
Joguei a bola de futebol com eles antes de notar Bruce parado a alguns
metros de distância com as mãos nos bolsos, sorrindo para mim. Aurora
estava longe de ser vista, uma lasca de pavor rastejando por mim ao pensar
em que diabos ela poderia ter se metido.
—Você sabe que é um pouco estranho ver você brincando com crianças,
certo? — Ele disse quando me aproximei.
—O que é estranho em brincar com crianças? Eu sei como não ser um
maníaco furioso às vezes, — eu disse e ri.
—Para algumas pessoas, isso pode ser discutível, — disse ele. —Estou
começando a me perguntar se este dia divertido é para as crianças ou se
você está usando as crianças como desculpa para ter um. Você parece estar
se divertindo mais do que as crianças.
Dei de ombros. —É uma boa distração com tudo o que está acontecendo
eu admito.
Eu fiz uma careta. A última vez que tive uma reunião com ele e o resto
daqueles malditos russos, isso iniciou uma guerra dentro da minha própria
organização. Apesar do que ele disse quando me ligou, eu não podia
confiar que este não seria outro cenário onde eles tentariam se vingar
depois de eu matar o chefe de sua máfia.
2
—Ele quer conversar mais detalhadamente sobre o plano com Wilson e
seus contatos. Ele diz que vai deixar você lidar com ele como quiser, ele só
quer os contatos que mencionou. — Bruce olhou para mim. —Você planeja
assumir toda a organização?
—Marque outra ligação. Quero saber quanto ele está disposto a pagar
pelas informações que deseja. Tenho muito que fazer e não gosto de perder
meu tempo, — murmurei. Não queria outro cenário como o último
encontro que tive com os russos. Se eu me encontrasse com ele, teria muito
mais homens comigo do que da última vez.
—Vou avisá-lo então, — disse Bruce com um aceno de cabeça. —Se você
não assumir os negócios de seu pai...
—Justo. Eu me pergunto o que os caras que ele vai deixar para trás
farão, — Bruce meditou.
Dei de ombros. —Isso não será problema meu. Eles definitivamente não
podem vir aqui depois do que aconteceu na reunião. — Suspirei e olhei ao
redor do quintal para as crianças. Havia muito para eles fazerem aqui.
Jogos, um zoológico, atividades aquáticas, barracas de comida. Queria ter
momentos como este se tivesse minha própria família. Eu queria fazer mais
do que apenas trabalhar e ver a vida passar por mim. —Além disso, ao
contrário do meu pai, quero uma vida que não gire em torno de negócios,
— eu disse.
Bruce olhou para mim com uma sobrancelha levantada. —Você tem
trabalhado sem parar desde que adquiriu esta parte do negócio. O que fez
você mudar de ideia?
—Porque quando você é mais jovem, você acha que tem todo o tempo
do mundo para fazer coisas com as pessoas... até que não tem, — eu disse
com um suspiro. —Não quero cometer o mesmo erro com Aurora que
cometi com Stephanie. — Bruce parou de andar e ficou boquiaberto. Eu me
virei para olhar para ele, minhas sobrancelhas franzidas em confusão. —O
que?
—Então você vai fazer as coisas funcionarem com a garota? Achei que
você fosse deixar ela ir depois da guerra, já que não há contrato para ela, —
disse ele.
—Ela sabe...
—Você não pode realmente dizer que ela sabe demais para você deixar
ela ir. Ela tem tanto sangue nas mãos quanto você. E considerando tudo o
que aconteceu, eu não ficaria surpreso se ela deixasse totalmente o país. Ela
não iria querer aquele circo da mídia tanto quanto você, — ele
interrompeu.
—Se ela ficar, o que você quer com ela? — Bruce perguntou depois de
um tempo.
Com tudo que eu fiz para Aurora, eu não tinha certeza do que poderia
ser feito de nós. Eu não apenas a tirei de sua vida. Eu destruí tudo o que ela
era, tudo que ela construiu, todos que ela conhecia. Eu só podia imaginar o
que ela viu quando olhou para mim. Ela provavelmente viu o medo que
seus pais e seu falecido noivo tinham em seus olhos antes de eu tirar suas
vidas. Ela provavelmente viu o trabalho árduo de seu negócio virar
fumaça. Ela provavelmente me viu como a chave para sua liberdade que
ela não poderia ter. Se eu fosse ela, ficaria ressentido comigo. Isso
definitivamente não facilitou o meu trabalho de convencer ela a ficar.
Bruce acenou com a cabeça. —Bem, forçar ela a ficar não levaria a nada
genuíno. Eu acho que se você começar a trabalhar com ela agora, já que ela
é uma 'ficha limpa,' como você diz, se você der a ela uma escolha, ela pode
escolher ficar depois que a guerra acabar.
Eu sorri para ele. —Agora que você comprou sua garota, você está feliz
com sua compra? — Perguntei.
—Significado?
—O que significa que ela está se reajustando, não sendo abusada mais.
Quer dizer, ela tem pesadelos o tempo todo e fica muito nervosa quando
alguém se aproxima dela. — Ele ficou quieto por um momento. —Ela
também parece um risco de fuga.
—Já estou trabalhando nisso, — ele disse e olhou para a casa. —Eu não
sei sobre o que ela e Aurora conversaram, mas ela está chateada desde
então.
—Não há como saber quando se trata daquela mulher, — eu disse com
um suspiro.
Ela apontou para o tanque de imersão. —Quero jogar esse jogo, mas
papai diz que não posso porque não há ninguém para eu jogar, — disse ela,
enquanto mais lágrimas rolavam por suas bochechas. Olhei para Bruce,
que balançou a cabeça rapidamente.
—Nem sonhe, — disse ele. Saint também balançou a cabeça, o que não
fez nada além de fazer Giselle gemer ainda mais alto.
Ela franziu a testa em desapontamento quando ela não caiu mais alguns
passos dela, nem perto do botão que precisava apertar para me enviar para
o tanque.
—Espere! Tenho que tentar de novo! — Disse ela, correndo para pegar a
bola de beisebol e voltando ao ponto de partida. Ela tentou várias vezes,
mas obteve os mesmos resultados todas as vezes. Lágrimas brotaram de
seus olhos novamente quando ela ainda não conseguia acertar o alvo.
—Querida, você pode ser muito pequena para este jogo, — Saint disse,
mas isso não fez a situação melhorar.
—Certo, feche os olhos e jogue a bola o mais forte que puder, — instruí.
Ela fechou os olhos com força e jogou a bola o mais forte que pôde, o
que não foi além de suas tentativas anteriores. Bruce acotovelou o botão e
me jogou no tanque com um respingo. Eu podia ouvir gritos e aplausos
quando saí da água.
—Eu fiz isso! Eu fiz isso! Eu fiz o tio Benny entrar na água! — Ela
gritou, pulando para cima e para baixo. Eu ri, enxugando a água do meu
rosto enquanto me puxava para fora do tanque de água.
—Cara, você está ficando muito forte, Giselle. Talvez eu tenha que ter
cuidado! — Eu disse. Bruce riu enquanto eu saía e pisei na grama. Ela
correu até mim e abraçou minha perna.
Eu sorri para ela. —De nada, boneca. Agora o tio Benny tem que trocar
de roupa porque ele está todo molhado, — eu disse.
Meu olhar varreu ao meu redor quando entrei na casa, procurando por
Aurora, mas não a vendo em lugar nenhum. A ansiedade lentamente
tomou conta de mim com o pensamento de não saber onde ela estava, mas
respirei fundo e deixei passar. Eu tinha que afrouxar as rédeas dela. Você
não pode construir um relacionamento com alguém se você não pode dar a ela sua
confiança, eu me lembrei enquanto subia as escadas e entrava no meu
quarto.
—Oi, — ela murmurou. Ela nunca ergueu os olhos quando falava comigo,
apenas mantendo os olhos no colo.
—Eu... hum... eu queria perguntar se você queria brincar com a minha casa de
bonecas comigo, — gaguejei. —Isso pode fazer você não ficar tão triste. Você pode
vir ao meu quarto e brincar se quiser. — Ela balançou a cabeça negativamente,
apertando os joelhos com mais força contra o peito. —Certo. Bem, se mudar de
ideia, pode ir ao meu quarto ao lado, se quiser. Não vou me importar se você
brincar com minhas bonecas e outras coisas.
Voltei para o meu quarto, deixando a porta aberta para o caso de ela mudar de
ideia para não se perder. Mesmo enquanto brincava com minhas bonecas, mantive
meus ouvidos abertos para poder ouvir se ela saía de seu quarto. Ser filha única era
algo solitário, então era emocionante ter outra criança em casa, especialmente uma
menina. Meu pai me ensinou em casa, então eu não tive muita interação com
outras crianças, protegida de quaisquer perigos que meu pai pensava que
esperavam por mim além de nossa casa. Eu estava desesperada por uma
companheira de brincadeira, mas não queria ser agressiva. Era tão difícil ser
paciente o suficiente para ela brincar comigo.
Bem quando eu estava prestes a desistir e encontrar outra coisa para fazer, ela
apareceu ao meu lado no chão. Ela me deu um pequeno sorriso e pegou minha
médica Barbie, pegando um pequeno pente e penteando o cabelo da boneca.
Eu pulei de pé. —Você gosta de música? Eu tenho Carrie Spears. Minha mãe
comprou para mim no Natal.
Ela balançou a cabeça, baixando o olhar para o carro da Barbie. —Eu não quero
falar sobre isso, — ela disse suavemente.
—Acabei de fazer nove anos, — disse ela. Seus olhos se moveram ao redor do
meu grande quarto, parando na minha cama princesa com dossel. —Sua cama é
bonita.
—Obrigada, — eu disse. —Você pode dormir comigo se quiser. Pode ser como
uma festa do pijama.
Ela sorriu. —Eu nunca tive uma festa do pijama antes.
Brincamos com bonecas por mais um tempo antes que ela fungasse, enxugando
algumas lágrimas do rosto.
Mais algumas lágrimas grossas brotaram de seus olhos, que ela rapidamente
enxugou. —Eu só quero minha mãe, — ela disse.
—Onde ela está? Posso dizer ao meu pai para ligar para ela se você não quiser
mais brincar, — eu disse, me sentindo um pouco desanimada. Achei que estávamos
nos divertindo, mas ela ainda estava triste e queria ir para casa. Foi bom ter
companhia pela primeira vez, mas não me fez sentir bem ver que ela ainda estava
chateada.
—Ela me mandou embora porque eu era má, — disse ela, soluçando. —Eu não
iria mais sentar no colo dos amigos dela porque doía muito e ela ficou com raiva de
mim.
Minha testa franziu em confusão. —Não dói quando me sento no colo do meu
pai, — eu disse. Ela apenas olhou para mim e balançou a cabeça.
—Não importa. Ela me trouxe aqui e eu tenho que esperar até que minha nova
casa esteja pronta. — Ela suspirou. —Eu estou assustada.
Eu não conseguia nem começar a processar os horrores reais pelos quais ela
passou ou sobre o que ela estava falando. Fui protegida de tantas coisas por meu
pai, provavelmente por isso mesmo. Stephanie estava sempre triste e assustada,
seus olhos azuis geralmente se enchiam de lágrimas que ela tentava esconder.
Havia tanta coisa naquela época que eu não entendia, mas eles estavam
claros como cristal hoje. Sua mãe a estava vendendo para diferentes
homens, provavelmente porque sua vida já estava assinada pelo meu
pai. Tudo começou a fazer sentido agora. Meu pai me manteve sob um
contrato apertado quando eu era mais jovem. Não fui a muitos lugares e se
fosse, sempre nos movíamos como se fosse um segredo. Meu pai
costumava chamar isso de jogo, me dizendo para fingir que era um espião
secreto tentando ser mais esperto que os bandidos. Ele me ensinou em casa,
e muitas pessoas não foram permitidas em nossa casa. Não tínhamos
grandes jantares familiares, festas de aniversário ou qualquer coisa que as
famílias normais fizessem. Eu costumava pensar que não tínhamos outra
família para visitar ou convidar. O que ele realmente fez durante todo esse
tempo foi me manter fora do radar de Wilson, o que me lembrou do dia em
que Stephanie finalmente deixou nossa casa.
—Querida, eu preciso que você fique no seu quarto até eu ir e ver você, tudo
bem? — Meu pai disse enquanto me escoltava para o meu quarto.
Virei e franzi a testa para ele. —Nós estamos tendo companhia novamente?
— Perguntei. As pessoas tinham indo e vindo de nossa casa por dias, mas eu não
tinha certeza para que. Meu pai disse que eram encontros importantes para o seu
trabalho que não seria seguro para as meninas. Ele me manteve ocupada com
lanches, meus filmes favoritos, e brinquedos, mas isso não me distraiu do fato de
que eu não podia ver Stephanie. Eu podia ouvir outras pessoas em seu quarto e
podia ouvir ela chorando, mas eu nunca a via até que estava no meio da noite e ela
rastejava na cama comigo. Ela nunca falou sobre por que ela estava chorando mais
cedo, apenas que ela só queria dormir comigo porque era mais seguro.
—Eu prometo que não vai demorar, — ele disse e me beijou no topo da testa,
fechando minha porta e trancando ela por fora. Suspirei e afundei no pufe. Eu
odiava ser trancada toda vez que alguém vinha à nossa casa. Era como se meu pai
não quisesse que eu conhecesse ninguém, só queria me manter para ele e para
mamãe.
Eu sabia que tinha apenas alguns segundos antes de Leona fechar e trancar a
porta novamente. Stephanie já estava descendo as escadas e se eu não agisse rápido,
ela teria ido embora e eu nunca mais a veria.
Chamei descendo as escadas, meu pai olhando para mim com os olhos
arregalados. Eu derrapei em uma parada ao lado deles, envolvendo meus braços em
torno de Stephanie.
—Papai, eu não quero que ela vá, — eu disse, lágrimas enchendo meus
olhos. Ter ela aqui fez esta grande casa menos solitária. Era divertido ter alguém
para brincar, dançar, para partilhar segredos. Ela era como a irmã que eu nunca
tive e eu não queria desistir disso em breve.
—Papai? — Alguém repetiu. Eu olhei para cima para ver um homem vestido
em um terno preto, seu cabelo escuro penteado para trás. O jeito que ele olhou para
mim era assustador, seu sorriso o fazia parecer um lobo que iria me destruir. —Eu
não sabia que eram duas.
—Você só tem um contrato para uma, — meu pai rosnou, me puxando para
longe de Stephanie para me mover atrás dele. Stephanie agarrou minha mão e
apertou com força, o olhar em seus olhos era de medo enquanto se enchiam de
lágrimas.
O homem ergueu as mãos, seu sorriso nunca vacilou. —Você está certo. É por
isso que estou aqui, — disse ele, olhando para Stephanie. —Vamos, minha
querida. É hora de ir para sua nova casa.
Stephanie não largou minha mão, seu corpo tremendo ao meu lado. Eu a
segurei com mais força, não querendo que ela ficasse com medo. Não querendo que
ela fosse para pessoas más para machucá-la novamente. Ela me contou os segredos
que guardava, sobre como sua mãe deixava homens maus fazerem coisas que a
machucavam e como ela estava com medo de ir para uma nova casa porque todos a
machucavam. Eu não queria que ela se machucasse mais. Tentei manter ela segura
na minha cama, mas não poderia fazer isso se ela fosse embora.
—Por favor, não me faça ir, — ela pediu, sua voz quase inaudível.
—Me desculpe amor. Eu não tenho controle sobre isso. Stephanie tem que ir
para sua nova família agora, — ele disse, sua voz misturada com tristeza.
Ele olhou para meu pai e sorriu. —Linda garotinha você tem, — disse ele e saiu
pela porta.
Eu olhei para o túmulo de Stephanie. Minha irmã, uma que foi tirada de
mim e destruída por esta família. Wilson Moreno pagaria por tudo que
fizera e eu não desistiria até que ele morresse.
—Eu não era um contrato, então explique isso, porra, — eu rebati. —Eu
pensei que meu pai era um idiota que era totalmente superprotetor. Mas o
tempo todo ele estava tentando me proteger do seu. — Eu dei um passo em
direção a ele, a raiva crescendo dentro de mim. —Seu pai idiota arruinou a
vida da minha irmã e roubou a minha. Você pode levar isso como quiser,
mas eu quero Wilson morto. Se você tentar me impedir, posso te colocar na
minha lista também.
—Eu nunca disse que você estava. Mas se você tem planos de matar
meu pai, pode entrar na fila, — disse ele. Ele olhou para o túmulo de
Stephanie. —Você acha que é a única pessoa que perdeu algo nas mãos
dele?
—Então por que você não está fazendo algo para chegar até ele? Por que
estamos apenas sentados esperando ele atacar? — Eu quase gritei. Ele
apenas olhou para mim, sua expressão indiferente. —Você não entende...
—Sim senhor. Mas quero estar preparada para isso, Bennett, — eu disse.
—Não quero ser empurrada para um quarto ou banheiro de novo.
Ele tirou a mão da minha bochecha. —Eu sei que você não é. — Algo
brilhou em seus olhos quando ele olhou para mim, algo semelhante à
tristeza. —Não pude proteger Stephanie e tenho que viver com a culpa de
falhar com ela todos os dias, porra. Eu me recuso a deixar que qualquer
coisa aconteça com você.
Eu soltei um suspiro suave. —Eu sei, mas é por isso que estou pedindo
para estar preparada. Prefiro morrer tentando do que viver como uma
covarde.
Ele parou de andar e encontrou meu olhar, seu rosto sério. —Quais são
as minhas três regras? — Ele perguntou.
Minha mente voltou ao nosso primeiro encontro, quando ele me
amarrou no avião. Nunca estive tão apavorada em minha vida. A
expressão que ele tinha em seu rosto era a mesma que estava no avião.
—Minhas regras são simples. Você vai se curvar, vai quebrar, vai obedecer.
Siga elas e você sobreviverá. Se não o fizer, vou te machucar de maneiras que vão
fazer você desejar estar morta. Agora repita o que acabei de dizer.
Ele parou na minha frente. —Você se curvou e quebrou, mas não escuta
muito bem. — Eu o encarei sem dizer uma palavra. —Você está pronta
para obedecer?
Pensei em tudo que passei até agora. Bennett era uma pequena parte de
um show de marionetes orquestrado, mas agora era hora de fechar a
cortina do mestre de marionetes. Tudo tinha um preço e, para conseguir o
que queria, precisava dar a Bennett a última parte de mim.
Minha alma.
Quer dizer, vai com o seu plano de qualquer maneira. Isso o faria se apaixonar
por você, que era o seu objetivo final, a vozinha me lembrou. Embora estivesse
certa, não explicava o que eu perderia no final de tudo isso, desde que ele e
eu sobrevivêssemos. Enquanto ele me olhava, esperando uma resposta,
pensei em tudo que já havia perdido nas mãos de Wilson Moreno. Baixei os
olhos para o túmulo de uma mulher que amarrava Bennett e eu. Não
importa o que custasse, eu faria isso pelos meus pais. Por Heath. Por
Savannah. Por minha irmã.
—Nós vamos? Você está pronta para obedecer, princesa das trevas?
— Bennett perguntou novamente.
Estou indo atrás de você, Wilson Moreno, pensei. E não vou descansar até que
você esteja morto.
Ember Michaels é uma autora de ficção dark da Carolina do Sul. Quando ela não
está escrevendo, você pode encontrar ela assistindo excessivos programas policiais,
pendurada na praia e devorando livros de seus autores favoritos!