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UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS

DEPARTAMENTO DE DIREITO

Discentes: Álvaro José Pereira Neto (201520940) e Anna Luísa Braz Rodrigues
(201520932)
Disciplina: Direito Empresarial III
Docente: Professor Icaro Motta e Pedro Viana

1. Manifeste-se sobre os destinatários da Lei 11.101/2005, abordando o caso


específico dos empresários irregulares.

A princípio, é preciso destacar que a Lei 11.101/2005 é destinada ao tratamento da crise


empresarial e, portanto, aquele que exerce atividade empresária pode usar dos regimes
recuperatórios e está sujeito à falência. A referida lei se aplica ao empresário individual
e à sociedade empresária. Conforme seu artigo 1º, esses são os destinatários que podem
se valer das disposições, ou seja, podem falir e se valer dos regimes recuperatórios.
Destaca-se a inclusão da empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI),
regulamentada nos artigos 44, VI e 980-A do Código Civil.

Como destinatário regular, o empresário é o agente econômico singular (pessoa física)


em acordo com o artigo 966, caput do Código Civil. Nesses casos, é possível falir por
meio de pedido de terceiros ou autofalência, além de não importar se explorava a
atividade de forma regular ou não. O requisito indispensável ao irregular trata do
impedimento de que aquele em irregularidade não possa requerer a falência de terceiros,
conforme artigo 97, §1º, e não possa utilizar a recuperação judicial ou extrajudicial,
conforme artigos 48 e 161.

Por sua vez, as sociedades empresárias dos artigos 982, 983 e 966, caput do Código Civil
estão sujeitas ao regime da Lei 1.101/2005 por serem aquelas que a própria legislação
determina (sociedade anônima e sociedade em comandita por ações) ou que exploram
atividade empresária na forma do artigo 966 do Código Civil. Em resumo, se enquadram
nessa classificação sociedade em comum

A sociedade em comum dos artigos 986 a 990 do Código Civil são equivalentes as antigas
sociedades irregulares e de fato, ou seja, sem registro ou que por outros motivos se
encontram em situação de irregularidade. Caso exerça atividade empresarial, como já
dito, pode falir e tal ensejará a falência dos sócios, mas não pode requer a falência de
terceiros. Quanto a recuperação, a sociedade comum não pode usar dos institutos
recuperatórios, vez que a regularidade é uma condição expressa e indispensável dos
artigos 48, 51, V e 161.

2. As empresas públicas e sociedades de economia mista estão submetidas à Lei


11.101/2005? Em caso positivo, de que forma? E as concessionárias do serviço
público?

A própria Lei 11.101/2005 decidiu excluir algumas figuras de maneira expressa do seu
rol de incidência, incluindo a empresa pública e a sociedade de economia mista, conforme
artigo 2º. Empresa pública seria toda entidade dotada de personalidade jurídica de direito
privado que foi criada por meio de autorização legal, tendo patrimônio próprio em que o
capital social é integralmente detido pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou
pelos Municípios, conforme artigo 3o da Lei 13.303/16. Já a sociedade de economia mista
seria entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado que foi criada por meio
de autorização legal sob a forma de sociedade anônima em que as ações com direito a
voto pertencem em sua maioria à União, aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios
ou a entidade da administração indireta, conforme artigo 4o da Lei 13.303/16.

As empresas estatais foram excluídas em razão do interesse público na exploração de


certas atividades econômicas, conforme o artigo 173 da Constituição Federal. Além disso,
a crise das empresas estatais pode gerar perturbações se submetida a soluções
consideradas comuns para outras figuras.

Portanto, pelo controle e pelo interesse público envolvido na dinâmica da empresa pública
e da sociedade mista, o Estado é o agente obrigado a lidar com a crise econômico-
financeira, mesmo que o tratamento jurídico seja semelhante ou idêntico aos das empresas
privadas quanto as obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributárias. As normas
aplicáveis serão aquelas de Direito Administrativo que definem regras específicas sobre
pagamento de dívidas de entes públicos, inclusive da Administração Pública Indireta.

Por fim, é importante esclarecer que alguns autores consideram que essa disposição não
seria necessária por entenderem que não há problemas de compatibilidade na aplicação
de um regime recuperatório ou liquidatório quanto aos agentes econômicos sob controle
estatal.

3. Comente sobre as exclusões que a Lei 11.101/2005 estabelece em relação ao seu


âmbito de incidência.

A Lei 11.101/2005 estabelece em seu artigo 2º um rol de excluídos para além das
empresas públicas e sociedades de economia mista, sendo: instituição financeira pública
ou privada, cooperativa de crédito, consórcio, entidade de previdência complementar,
sociedade operadora de plano de assistência à saúde, sociedade seguradora, sociedade de
capitalização e outras entidades legalmente equiparadas às anteriores.

As instituições financeiras são aquelas pessoas jurídicas públicas ou privadas com


atividade principal ou acessória em que há intermediação ou aplicação de recursos
financeiros próprios ou de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, autorizadas pelo
Banco Central do Brasil ou por Decreto do Poder Executivo a funcionar no Território
Nacional, conforme artigo 10, § 2º da Lei 8.870/94.

Além disso, também podem ser pessoas jurídicas públicas ou privadas com atividade
principal ou acessória a coleta, intermediação ou aplicação de recursos financeiros
próprios ou de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, e a custódia de valor de
propriedade de terceiros, funcionando por prévia autorização do Banco Central do Brasil
ou decreto do Poder Executivo quando estrangeiras, conforme artigos 17 e 18 da Lei
4.595/64.

Já cooperativas de crédito são sociedades cooperativas regulamentadas pela Lei 5.768/71


e pelos artigos 1.093 a 1.096 do Código Civil. Contém finalidade econômica, mas não
finalidade lucrativa. Submetem-se às normas da Lei 4.595/64 em função do seu objeto
social.

Os consórcios são uma reunião de pessoas naturais e jurídicas em grupo, com prazo de
duração e número de cotas previamente determinados, promovida por administradora de
consórcio. A finalidade é a aquisição de bens ou serviços, por meio de autofinanciamento,
de modo isonômico entre os participantes, conforme artigo 2º da Lei 11.795/08. O grupo
de consórcio é uma sociedade não personificada formada por consorciados e representada
por administradora que é pessoa jurídica prestadora de serviços sob forma de sociedade
limitada ou sociedade anônima, detendo caráter irrevogável e irretratável, ativa ou
passivamente, em juízo ou fora dele, na defesa dos direitos e interesses coletivamente
considerados e para a execução do contrato de participação em grupo de consórcio, por
adesão, conforme artigo 3º da referida lei.

Juntamente com as entidades de previdência complementar, regulamentada nos artigos


47 a 56 e 62 da Lei Complementar 109/2001, se aplicam a essas figura a Lei 6.024/74
sobre intervenção e liquidação extrajudicial de instituições financeiras.

A Lei 9.656/98 prevê que suas normas se submetam às pessoas jurídicas de direito privado
que operam planos de assistência à saúde, sem prejuízo do cumprimento da legislação
específica que rege a sua atividade. Os artigos 23 e 24 são expressos ao dispor que tais
sociedades não podem requerer recuperação e não estão sujeitas a falência ou insolvência
civil, mas tão somente ao regime de liquidação extrajudicial. Ainda, a Lei 9.661/00 define
que cabe à ANS determinados atos referentes à crise empresarial de tal figura.

Quanto à sociedade seguradora, o artigo 94 do Decreto-lei 73/66 diz que a cessação das
operações das sociedades seguradoras poderá ser voluntária, por deliberação dos sócios
em assembleia geral, ou compulsória, por ato do Ministro da Indústria e do Comércio.
Quanto à sociedade de capitalização, o Decreto-lei 261/67 diz que todas as operações das
sociedades de capitalização ficam subordinadas às suas disposições.

Por fim, a expressão acerca de outras entidades legalmente equiparadas às anteriores


cumpre o papel de ampliar o alcance do dispositivo, sendo possível que legislações
especiais definam novas diretrizes.

4. No tocante à competência para a tramitação dos feitos falimentares e


recuperacionais, quais são os entendimentos havidos em relação à definição de
principal estabelecimento, mormente na hipótese em que o devedor possua mais de
um estabelecimento.

Em caso de pluralidade de domicílios, todas as ações contra o devedor devem ser


propostas no bojo do processo de falência ou recuperação da empresa para que sejam
atendidos os diversos interesses de empresário ou sociedade empresária, trabalhadores,
Estado) e credores. O artigo 3o da Lei 11.101/2005 determina a competência do juízo
como local do principal estabelecimento do empresário ou sociedade empresária, mas
questiona-se que a disposição ignore o conceito de sede (artigos 46, I, 968, IV, e 997, II,
do Código Civil), já que um estabelecimento secundário poderá se tornar a referência
para competência da jurisdição concursal. O sentido da norma é alcançar o local comum
das operações empresariais por razões fiscais, administrativas ou mesmo de outra
natureza e, nesse sentido, a sede pode não representar o local de maior volume de
operações negociais e referencial da maioria das relações jurídicas empresariais.

Destaca-se que a questão não é encontrar o maior estabelecimento, o mais notório ou o


núcleo pensante da empresa, vez que não há uma relação direta entre principal
estabelecimento e as diversas dinâmicas apresentadas na atividade empresarial. O
judiciário determinará no caso concreto qual estabelecimento tem predominância sobre a
estrutura empresarial. Para tal, é preciso se atentar à estrutura da empresa (perspectiva
estática) e também à atividade empresarial efetivamente verificada (perspectiva
dinâmica), sendo possível, assim, identificar qual estabelecimento merece ser qualificado
como o predominante das atividades da empresa em caso de competência para a
recuperação ou a falência da empresa.

Por fim, destaca-se que a finalidade primordial é o juízo universal, ou seja, a capacidade
de atrair para si todos aqueles que mantêm relações positivas ou negativas com o
empresário ou sociedade empresária (credores e devedores). É preciso investigar onde
essas relações foram estabelecidas ou domiciliadas por meio do foro de eleição. Em caso
de dúvidas, apelar para a sede é recomendável. Ao encontrar mais de um estabelecimento
em grupo de empresas ou empresas coligadas, deve ser determinado que todos
correspondem à previsão legal de estabelecimento principal para que a regra processual
da prevenção seja posta em prática, ou seja, será competente aquele que primeiro
conhecer do pedido de instauração do juízo universal.

5. O que se entende por “juízo universal”, em termos de recuperação e falência?


Responda abordando as ideias de competência e de prevenção.

O juízo da falência é uno, indivisível e universal. Nos termos da Lei n° 11.101/2005, ele
é competente para conhecer todas as ações sobre bens, interesses e negócios do falido,
ressalvadas as causas trabalhistas, fiscais e aquelas não reguladas nessa lei em que o falido
figurar como autor ou litisconsorte ativo (art. 76). A respeito da competência, cabe
mencionar que ela se dá em razão da matéria (ratione materiae), apreciada de ofício pelo
magistrado (SCALZILLI, 2018, p.177-188).
Desse modo, o art. 3º deixa em evidência que é competente o juízo do local do principal
estabelecimento ou da filial da empresa. No caso de sociedade que tenha sede no exterior
e atua no Brasil com autorização do Poder Executivo (art. 1134, CC), o foro competente
é o local da filial nacional, conforme preconiza Scalzilli (2018, p.177-188). Diante disso,
é necessário ressaltar que no momento em que é deferido o processamento de recuperação
judicial ou decretada a falência, a execução de todos os créditos, inclusive os de natureza
trabalhista, deve ser processado no juízo recuperatório ou falimentar (SCALZILLI, 2018,
p.177-188).

A partir disso, cabe mencionar que, no que tange à prevenção, Scalzilli (2018, p.177-188)
esclarece que ela objetiva impedir decisões contraditórias, ao considerar a competência
daquele juízo que primeiro conhecer da causa.

Neste sentido, o juízo universal é aquele que deve exercer o controle sobre as ações
individuais que venham a ser propostas contra o devedor em recuperação judicial ou
falido, sendo que ele é o competente para conhecer e julgar todas as demandas que exijam
uma decisão uniforme.

6. Retome as ideias ventiladas no primeiro texto indicado e, somando aos novos


conhecimentos, disserte sobre o papel do Órgão Ministerial – Ministério Público –
nos feitos submetidos à Lei 11.101/2005, em comparação com os regimes anteriores
no direito pátrio.

De início cabe que mencionar que um veto do Presidente da República ao art. 4º do


projeto de lei que resultou na Lei nº 11.101/2005 retirou a disposição de que o Ministério
Público deveria intervir em todos os atos dos processos de recuperação judicial e de
falência, como estava disposto no regime preconizado no Decreto-lei 7.661/45, conforme
preconiza Mamede (2020, p.26).

De acordo com Scalzilli (2018), remonta de longa data a presença do Ministério Público
nos processos de falência, tendo em vista que a “quebra” é um fenômeno de reconhecida
repercussão no plano econômico – social.

Contudo, Mamede (2020, p.26) estabelece que mesmo com o veto ao art. 4º, ele não afasta
o papel do Ministério Público do juízo concursal, sendo que a pretensão foi apenas de seu
envolvimento absoluto no procedimento.
Diante disso, nos termos da Lei nº 11.101/2005, o Ministério Público deve ser intimado
do deferimento do processamento da recuperação judicial (art. 52, inciso V), e da
decretação da falência (art 99, XIII).

7. Disserte em um pequeno texto, de até uma página, sobre o seguinte: “Lei


11.101/2005 e histórico do direito de quebra: princípios, objetivos e inovação”.

De início cabe mencionar que o Código Comercial de 1850, na sua Parte Terceira, tratava
“Das quebras”, conforme estava disposto nos arts. 797 a 911. Nesse sentido, o Decreto nº
738/1850 regulamentou o Código Comercial no que diz respeito à questão processual.

Em um momento posterior, o Decreto nº 917/1890 revogou a Parte Terceira do Código


Comercial e o Decreto nº 738/1850 no que diz respeito à questão “Das Quebras”,
conforme disposto no seu art. 157.

Dito isso, outra norma relevante para compreender o direito de quebra foi o Decreto-Lei
nº 7.661/1945. O referido decreto tratava da falência e da concordata, sendo que o art. 1º
estabelecia que o falido era o comerciante que, sem relevante razão de direito, não pagasse
no vencimento obrigação líquida, constante de título que legitimava a ação executiva.

A Lei nº 11.101 (Lei de Recuperação e Falência), revogou o Decreto-Lei nº 7.661/1945,


sendo que o instituto da falência se mantém, mas não contempla o da concordada,
conforme pode ser verificado no art. 192.

A respeito das inovações trazidas pela Lei nº 11.101/2005, cumpre trazer o seguinte
entendimento:

A nova Lei, não por acaso, estabelece uma ordem de prioridades na


finalidade que diz perseguir, ou seja, colocando como primeiro objetivo
a ‘manutenção da fonte produtora’, ou seja, a manutenção da atividade
empresarial em sua plenitude tanto quanto possível, com o que haverá
possibilidade de manter também o ‘emprego dos trabalhadores’.
Mantida a atividade empresarial e o trabalho dos empregados, será
possível então satisfazer os ‘interesses dos credores’ (BEZERRA
FILHO, p. 123).
Assim, a Lei n. 11.101/2005 disciplina as recuperações extrajudicial e judicial e a falência
do empresário individual e da sociedade empresária. O “empresário individual” e a
“sociedade empresária” passam a ser chamados de “devedor” nos termos do art. 1º.

A respeito da quebra, conforme entendimento do Superior Tribunal de Justiça no RE


363.206/MG, em virtude do princípio da conservação da empresa, a quebra não pode ser
compreendida apenas como um fenômeno econômico que interessa apenas aos credores,
mas sim, uma manifestação jurídico-econômica na qual o Estado tem interesse
preponderante.

Diante disso, o art. 47 traz a pretensão do legislador de que a recuperação judicial tem
por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor,
a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos
interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social
e o estímulo à atividade econômica.

Nesse sentido, na lógica da Lei nº 11.101/2005, a quebra da empresa, vai de encontro com
o objetivo do referido diploma legal, que é o de querer reerguer a sociedade empresária.

BEZERRA FILHO, Manoel Justino. Lei de recuperação de empresas e falência: Lei


11.101/2005: comentado artigo por artigo. 12.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2017.

SCALZILLI, João Pedro. Recuperação de empresas e falência: teoria e prática na Lei


nº 11.101/2005. 3. ed. São Paulo: Almedina, 2018.

Superior Tribunal de Justiça. Relator: Ministro HUMBERTO MARTINS, Data de


Julgamento: 04/05/2010, T2 - SEGUNDA TURMA

MAMEDE, Gladston. Falência e recuperação de empresas. 11. ed. São Paulo: Atlas,
2020.

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