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estou.
Sem trabalho.
Sem apartamento.
— Vamos Max!
Fiz tudo o que pude para ignorá-la. Passei por ela sem
dar uma palavra e fechei o trinco da porta do vestiário atrás
de mim para poder me trocar. Yolanda bateu várias vezes,
gritou umas poucas palavras através da fechadura e se deu
por vencida.
Êxtase.
— Os feijões acabaram.
— Sempre acaba.
E sozinha.
Meu bebê.
Engoli a bílis.
— Não!
Sentei-me na cama.
— De jeito nenhum! — Gritei no escuro e vazio cômodo.
— De nenhum modo meu filho crescerá nesse maldito
manicômio! Ninguém criará o meu filho, exceto eu!
— Muito. — Respondi.
— Nada.
— Nada?
— Vamos.
— Tudo.
— Ter um filho?
— Concorda comigo?
— A mais difícil?
— Ser um pai.
— Metadona (analgésico)?
— Beba tudo.
— O quê?
— Perder a noção do tempo, perder a noção de si
mesmo. — Respondeu. — Entre suas reações pós-
traumáticas e as drogas, estava muito centrado em si mesmo
para saber o que acontecia a seu redor. Presumo que isso
também acontecia, quando costumava se drogar
habitualmente.
Nada.
Precisa de treinamento.
Meu treinador.
Engano.
— Não.
— Desapareça!
— Contarei tudo.
Eu preciso de você.
— Sim.
— Shh, baby...
— Ele melhorará?
— Depende dele.
— Não me surpreende.
— Claro, eu o acompanharei.
— Então esquece.
— Maldito. — Murmurei.
— O que fez?
— Eu.... Saí e, hum... — Não tinha nem a puta ideia de
como falar sem que parecesse ruim. Simplesmente não havia
perfume suficiente para cobrir o fedor desta porra. —
Comprei heroína e usei.
Assenti.
— O quê?
— O quê? — Perguntei.
— Farei!
— Espero que sim. — disse Tria — Porque esteve
levando toda essa desgraça em seu interior por muito tempo e
acredito que precisará da sua família para superar tudo isso.
— Como se sente?
— Poderia fazê-lo.
— Droga. — Murmurei.
Concordei com o que ele disse por que sabia que era o
certo a fazer.
Devolveu-me o olhar.
— Patético.
Limpar o apartamento;
Encolhi os ombros.
Maldição.
Procurar trabalho.
Eu te amo.
Liam.
Nosso bebê.
Droga.
Cada dia ficava mais difícil não ir até lá. Dizia a mim
mesmo que era apenas para conseguir um lugar seco onde
dormir à noite, mas sabia o que aconteceria. Não havia
nenhum modo de ficar tão perto das drogas sem que
encontrasse algum meio para usá-las.
Droga de chuva.
Disse que era pelo bem do bebê. Ainda não havia bebê.
Apenas um chute. Pode voltar a se desintoxicar.
Só uma agulha.
Uma vez.
Só uma espetada.
— Tem cigarro?
Lindo.
Preciso de Tria.
— Sim. — Sussurrei.
— Escutei bem?
— Liam, vá para...
Parou de falar por um momento e colocou a mão sobre o
telefone, porque conseguia escutar sua voz, mas não
entender suas palavras. Voltou rapidamente.
— Sim, Liam?
— Espuma? — Perguntou.
— Está acordado?
— Como se sente?
— Quarta-feira.
Limpar o apartamento;
Recuperar a Tria;
Conseguir um trabalho;
Assenti.
— Não quero.
Neguei de novo.
Assenti.
— Objetivos?
— Deve ter um objetivo. — Disse-me Michael. — Não
lembra? Averiguar onde está agora e onde quer estar, então
começar a dar os passos para chegar lá.
— Preciso trabalhar.
— Tentarei. — Suspirei.
— Tria?
— Intimação?
— É obvio.
Porra!
— Sim. — Respondi.
— O quê?
— Ainda não.
— Eu sei. — Concordei.
— Como o quê?
— Uma lista?
— O que escreveu?
— Não. — Respondi.
— O que fará?
— Quando? — Perguntei.
— Quando o quê?
Dei risada.
— O que aconteceu?
— Coisas. — Corrigi.
O que quer que seja, que Krazy Katie disse, parecia ter
acabado de falar. Tria me olhou.
— Sim.
Olhei para Tria. Ela olhava seu corpo com a boca aberta
e uma expressão de assombro em seu rosto.
realidade.
Fiel à sua palavra, Michael me recomendou ao
supervisor da oficina de colocação de pedras e consegui o
trabalho sem sequer ver meu pai. Seu escritório ficava no
centro e aparentemente não visitava essa oficina, em
particular, há mais de um ano.
Porra. Agora que ela aceitou, não tinha nem ideia do que
fazer. Mantive meu olhar no seu enquanto caminhava até ao
sofá e timidamente me sentava na beirada.
— Não.
— O quê?
Não sabia o que fazer com esse pedido ridículo, então fiz
o que me pediu. Contamos juntos lentamente até que
chegamos ao cinquenta.
— Melhor? — Perguntou.
— Um pouco. — Admiti.
Olhei-a.
— Não realmente.
— Costumava tê-los?
— Tria.
Olhei os folhetos.
— Sim. E?
Erin assentiu.
— Liam...
— A odiei. — Disse-lhe.
Ou havia?
— Quase a fodi, sabia.
— Você...?
— O quê? — Perguntei.
— Fantástico, acredito.
Dei risada.
— Muito menos eu.
— Já esteve lá?
— Não.
Grunhi em frustração.
— Há outras opções.
Tria suspirou.
— Liam, me diga uma coisa.
— Qualquer coisa.
Neguei.
— Não.
Sorriu.
— É um talvez. — Disse.
Quase.
— Eu acredito.
— Agora? — Repeti.
— Poderia. — Admiti.
Doze minutos.
— O quê?
Michael sorriu.
— Mas voltará?
Sutil.
— Você está bem? — Perguntou Tria enquanto eu tirava
minha camisa e a deixava cair no chão. Ela veio por trás de
mim, recolheu-a e a colocou no cesto.
— Certeza?
Assenti.
— Eu também. — Admitiu.
— A senhorita Lynn.
Silêncio.
— Sim, eu sei.
— Julianne estará aqui em uma hora. — Disse Douglas.
— O que direi a ela? Ficou um desastre depois do aniversário
de Ryan e agora tudo isso? Nem sequer sei por onde começar.
— Acabaram-me todos.
— Tria, não...
— Saber o quê?
— Preciso escutar todo o resto. Só conheço um lado da
história, Liam... sua parte. Preciso escutar o resto.
— Tolice.
— Bem. — Murmurei.
— É isso um sim?
— Talvez devesse.
— De verdade? — Olhei-a.
Descansando.
Parecia tão pacífico, mas tudo o que eu conseguia ver
era ela tombada no chão do banheiro, coberta de sangue.
Suspirei.
— Liam. — Respondi.
— Não. — Respondi.
— Sim. — Murmurei.
Ele sorriu.
— Quem realmente é?
―Acalmar-me‖.
Apertei meus punhos contra minhas coxas e lutei contra
a urgência de começar a socar um deles, enquanto chutava o
outro, derrubando-o para bater mais tarde. Lembrando-me
que o oposto de lutar é fugir, saí e o empurrei, indo
diretamente para o banheiro dos homens, onde respirei
profundamente até me acalmar. Meu turno quase havia
terminado, então voltei despercebido até que chegou minha
hora de ir embora.
Ela sorriu.
— Quais?
— Sim.
— Sim. — Declarei.
— Tria.
— E agora?
— Como assim?
Dei de ombros.
— Não.
— Baboseira.
— É obvio. — Respondeu.
Eu dei de ombros.
— Não exatamente.
— Eu te amo. — Falei.
— Droga.
— Também acho.
— Eu vou. — disse.
E um pouco nojento.
Eu queria lutar.
Suspirei pesadamente.
— Fala sério?
— Claro.
Território neutro.
— Preparado, Liam?
— Nervoso. — Admiti.
— E você gostava?
Sorri.
— Lugares estranhos?
— Não exatamente estranhos. — Falei. Tentei encontrar
a melhor jeito para descrevê-los. — Eram apenas lugares
comuns. Não íamos ao cinema ou ao parque. Nós íamos ao
lago perto da universidade e alimentávamos os cisnes ou
íamos ao sótão de algum apartamento de um dos velhos
edifícios do campus e o explorávamos. Simplesmente... não
eram as atividades normais de mãe e filho, acho.
— Oi, Liam. — Disse ela. Sua voz era tão baixa que mal
conseguia ouvi-la, embora soubesse que disse isso.
Completamente.
Totalmente.
Muito.
O armazém.
Eu sabia do que ela falava. Tinha algumas vagas
lembranças, nubladas pela heroína, de viaturas de polícia,
uma ambulância, um coronel..., mas nada de concreto.
— Muito intenso?
— Sim.
— Intenso bom?
— Sim. — Falei.
Encolhi os ombros.
— Que pena que você não teve uma cerimônia para que
pudéssemos assistir. — Continuou. — Seria agradável ver o
tipo de cena que você poderia provocar durante a sua
recepção.
— Eu também não.
Uma menina.
— Liam! Para!
— Porra. — Murmurei.
Demorei três passos para chegar ao lado da cama. Uma
vez ali, não sabia o que fazer. Estendi a mão na tentativa de
tocar seu ombro, sem saber o que aconteceria. No momento
que senti sua pele fria, seus olhos piscaram duas vezes.
— Krazy Katie?
Nenhuma resposta.
Câncer de pulmão.
Avançado.
Descansando agora.
— Você é da família?
— Liam?
— Correto, senhor.
Às onze da manhã?
Mais tradição.
Krazy Katie teve uma vida ruim, uma vida que não a
levou em nenhum lugar. O que mais poderia ter o futuro
preparado para ela? Não é como se ela pudesse ter sido a
madrinha do bebê.
Tria riu.
Ela tentou virar sua cabeça para o outro lado, mas não
permiti.
— O que é? — Perguntei.
— Não é muito. — respondi quando me levantei e me
aproximei da minha jaqueta. Tirei uma pequena bolsa de
tecido do bolso e voltei a me sentar no sofá. — Você sabe que
não sou muito bom com essas coisas, então apenas darei
isso, já que nunca te dei um antes.
— Por quê?
— Também te amo.
— Por quê?
— Oferta? — Repeti.
Sem arrependimentos.
— Tria. — sussurrei.
Minha vida.
Que demônios...?
— Sim.
— A respeito do quê?
— É o mesmo. — grunhi.
— Não.
— Liam...
— Vá se foder!
Eu o olhei.
— Sim.
Ele riu.
— Sim, estou.
— Esse rapaz te lembra de alguém? — Ficou de pé e
chegou mais perto.
— Que se foda.
— Talvez.
— Vamos, então.
Dei risada.
De repente, eu soube.
— Mamãe...
— Meu filho...
— Basta! — Esbravejou.
— Droga... Hum...
1
Pássaro que bota ovos azuis – ele compara as bolas do seu saco com esses ovos porque está nervoso,
sentido frio, desagasalhado.
— Acho que nada mesmo.
— Claro.
— Não. — Sussurrei.
— Eu sei. — replicou.
Assim que concordamos, ela foi rapidamente transferida
para uma dessas camas com rodinhas e a levaram enquanto
eu tentava impedir que o meu coração saísse do peito para
segui-la. Chelsea e mamãe tentaram me acalmar enquanto
caminhávamos pelo corredor para a área de preparação da
cirurgia.
Engoli com força e fui para o seu lado, o que não tinha a
intravenosa em seu braço. Ela se virou para mim e seus olhos
estavam quase tão vermelhos como o resto do seu rosto, mas
ao menos já não gritava.
Ela piscou.
— Está bem.
Sua voz parecia fraca e meio adormecida. Apertei
suavemente sua mão enquanto dava uma rápida olhada entre
seu rosto e o médico trabalhando em sua barriga. Mesmo
quando o vermelho de seu sangue cobriu a pele pálida de seu
estômago inchado, não pude me dar ao luxo de pensar. Tudo
aconteceu muito rápido e o que eu podia fazer era implorar
em silêncio para quem pudesse ouvir.
Por favor, não deixe que ela morra... por favor, não deixe
que ela morra...
Então eu a vi.
— Katie. — respondi.
— Liam?
— Sim?
— Que coisa?
— Entendido.
— Sério? — Respondi.
— Sim, de verdade.
— Desculpe-me. — murmurei.
— Seu cabelo.
família.
A privação do sono não era muito diferente do que estar
drogado.
Pequena Katie.
— Escondia bolachas?
— E outras coisas.
— Como o quê?
— Tudo? — Repeti.
— É o mais provável.
— Não sei por que pensou que seria uma boa ideia. —
afirmou ele quando fechou a porta.
— Isso é foda.
— Não.
Jantar de domingo.
— Eu dormia?
Procurei pelo homem que fora meu pai... E ele estava lá.
Tradição.
— Papai!
Tria, Katie
Mais gemidos.
— Fantástico!
— Quem, eu?
Encolhi os de ombros.
Concordou.
— E Katie?
Outro assentimento.
— Papai?
— Como?
— Alcachofra.
— Uma alcachofra!
O fato era que tudo o que eu fiz foi uma luta. Não queria
dizer isso de uma forma ruim, era simplesmente a vida. Ainda
lutava às vezes, mas aprendi a lidar com as porcarias
atiradas em mim sem fugir dela. Essa era a parte importante.
Eu tinha Tria.
Eu tinha Katie.
Fim