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22/08/2023

Cuidados Paliativos
Bianca Oliveira Maniçoba Ferreira

Introdução

Indicações de leitura:
● À margem do leito - A mãe e o câncer infantil
● Enquanto eu respirar
● Vida inteira
● Uma questão de vida e morte

Dicionário:
● Cuidar
○ Ter cuidado, tratar de, assistir: cuidar das crianças. Cogitar, imaginar,
pensar, meditar: cuidar de casos graves. / Julgar, supor: cuida ser
uma pessoa importante. / &151; V.pr. Ter cuidado; tratar-se (da saúde
etc.).
● Paliativo
○ Que serve para acalmar, aliviar temporariamente. / &151; S.m. Recurso
empregado para atenuar ou adiar a solução de um caso. / Delonga,
adiamento.

História dos cuidados paliativos:


● Idade Média – Cruzadas – As hospedarias abrigavam doentes, moribundos,
famintos, mulheres em trabalho de parto, pobres, órfãos e leprosos.
● Século XVII – Padre São Vicente de Paula – fundou a Ordem das Irmãs da
Caridade em Paris – órfãos, pobres, doentes e moribundos.
● 1900 – Cinco das Irmãs de Caridade , irlandesas, fundaram o St. Joseph´s
Convent , em Londres – passaram a visitar os doentes em suas casas.
● 1902 – Elas abriram o St. Joseph's Hospice com 30 camas para moribundos
pobres

“Você é importante porque você é você. Você é importante até o último


momento de sua vida E nós faremos tudo o que pudermos. Não só para ajudá-
lo a morrer em paz, mas para viver até morrer.” Cicely Saunders

Brasil:
● Iniciativas isoladas e discussões desde 1970;
● Anos 90 – Prof. Marco Túlio de Assis Figueiredo – UNIFESP/EPM;
● 1997 - Associação Brasileira de Cuidados Paliativos;
● 1998 – INCA inaugurou o hospital Unidade IV , exclusivamente para
Cuidados Paliativos , porém o atendimento acontece desde 1986;
● 2002 – Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo, porém o
serviço existe desde 2000;
● 2004 - Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo, o serviço
existe desde 2001;
● 2005 – Academia Nacional de Cuidados Paliativos.

Os cuidados paliativos, baseados nos conceitos da Ortotanásia, se concentram


em amenizar os sintomas da doença e dar apoio físico e psicológico ao paciente
e à família, integrando diferentes profissionais da área médica, havendo ou não
possibilidade de cura.

Conceitos:
● Eutanásia:
○ Etimologicamente, a palavra significa boa morte ou morte sem dor,
tranqüila , sem sofrimento. Holanda, Bélgica, Suíça , EUA ( Estados
de Oregon e Washington).
● Ortotanásia:
○ Etimologicamente, significa morte correta. Significa o não
prolongamento artificial do processo de morte, além do que seria o
processo natural.
● Distanásia:
○ O prolongamento artificial do processo de morte, com sofrimento e
agonia do doente, artificialmente, mesmo que os conhecimentos
médicos, no momento, não prevejam possibilidade de cura ou de
melhora sem a devida atenção em relação ao ser humano.
○ Ao invés de se permitir ao paciente uma morte natural, prolonga-se
sua agonia.
○ Não visa prolongar a vida, mas sim o processo de morte.

O que fazer quando nada há mais para ser feito?

“São os cuidados ativos e totais aos pacientes quando a doença não responde aos
tratamentos curativos, quando o controle da dor e de outros sintomas
(psicológicos, sociais e espirituais) são prioridade e o objetivo é alcançar a melhor
qualidade de vida para pacientes e familiares.”

Ex: Colostomia/ Traqueostomia

Objetivo:
● Melhorar a qualidade de vida do paciente e da sua família, atendendo suas
necessidades físicas, psíquicas, sociais e espirituais.
● Necessidades:
○ Físicas (Médico, enfermeira, fisio, terapeuta ocupacional e nutri)
■ Avaliar limitações corporais
■ Dor
○ Psicológicas (Psicólogo, psicoterapeuta, psicanalista e psiquiatra):
■ O paciente precisa se sentir segura
■ Precisa confiar na equipe
■ Ter segurança em uma companhia que lhe dê apoio e não o
abandone
■ Necessita amar e ser amado
○ Sociais (Assistente social e voluntários)
■ Desgaste emocional
■ Desajuste familiar
■ Desgaste financeiro
■ Necessidade de resolver questões jurídicas (testamento,
pensão...).
○ Espirituais (Sacerdotes das diferentes crenças religiosas)
■ Falta de fé
■ Medo do desconhecido

Controle de sintomas:
● Agitação psicomotora,
● Anorexia,
● Ascite,
● Constipação
● Depressão
● Diarréia
● Dispnéia
● FADIGA
● Náuseas
● Vômitos
● Sangramento
● DOR (cerca de 80% dos pacientes experimentarão no decorrer da doença)

“ Na vida, temos de fazer escolhas. Se não há como mudar o rumo dos


acontecimentos, podemos optar por vivenciar cada momento de uma forma
alegre, agradecendo por tudo de bom que tivemos durante a vida, por nossa
família e nossos amigos. Morrer é uma das poucas coisas que ocorrem com
todo mundo, mas quase ninguém suporta pensar nisso. O que estou sugerindo é
que a morte não precisa ser exatamente uma experiência horrenda “

Patch Adams
Atitudes preservadas:
● O favorecimento da autonomia do paciente: Dar a pessoa cuidada a
possibilidade de agir como sujeito.
● O consentimento informado: Explicar os cuidados para que o paciente
decida se aceita ou não.
● A responsabilidade do profissional: Quem cuida deve ter um desejo
permanente de progresso
● O segredo profissional partilhado: A obrigação do
segredo profissional é igual para todos os profissionais

Modalidades:
● Hospitalização
○ Dificuldades:
■ Identidade
■ Autonomia
■ Privacidade
■ Liberdade
■ Saúde
● Home Care
○ Vantagens para o paciente:
■ Ser tratado no conforto do seu lar
■ Ter maior privacidade
■ Poder contar com o apoio, atenção e carinho da família
■ Alimentar-se adequadamente com alimentos preparados em
casa, sob orientação profissional
■ Evitar riscos de infecções cruzadas
○ Para a equipe:
■ Propiciar um trabalho organizado e bem planejado, que se
traduz em uma visão global do paciente, algo muitas vezes
impossível quando o paciente hospitalizado
○ Hospital:
■ Diminuir a carência dos leitos.
■ O hospital passa a ter prejuízos financeiros, caso o paciente
permaneça internado além de um certo período sem a
possibilidade de realizar algum tratamento curativo.
○ Família:
■ Ver, sentir e cuidar do paciente em sua casa, sem precisar se
deslocar para o hospital em um horário pré – determinado.
■ Melhor acompanhamento da evolução do paciente através
dos serviços prestados

Cuidadores:
● Formal: Profissionais
● Informal: Leigo ou familiar
Cabe aos profissionais treinar os cuidadores informais para que estes possam
dar continuidade ao tratamento na sua ausência. Como cuidados com a
higiene, nutrição, curativos e fisioterapia.

Assistência e cuidado:
● ASSISTIR este paciente e escutá-lo, é tentar compreendê-lo no que ele
mais precisa naquele momento, se é atendimento psicológico, carinho,
atenção ou qualquer outra necessidade.
● CUIDAR é, nada mais do que, exercer as nossas obrigações de ser humano
e de profissional. É oferecer uma sobrevida digna. É fazer com que este
paciente sinta, depois de tanto sofrimento, o respeito que lhe é devido e,
para nós, o orgulho de simplesmente, sermos humanos.

Más notícias:
● Em uma rotina hospitalar, médicos e internos de medicina têm que
comunicar uma doença rara, sem cura, em fase terminal, um câncer em
metástase ou muito agressivo.
● É uma situação muito desagradável e difícil.
● É preciso ser honesto;
● Contar a real situação;
● Ser humano;
● Empático com a dor do outro.
● Robert Buckman, em 1992, protocolo:
○ O protocolo (SPIKES) consiste em seis etapas e a intenção é habilitar
o médico a preencher os 4 objetivos mais importantes durante a
transmissão de más notícias:
■ Recolher informações dos pacientes;
■ Transmitir as informações médicas;
■ Proporcionar suporte ao paciente;
■ Induzir a sua colaboração no desenvolvimento de uma
estratégia ou plano de tratamento para o futuro.
○ Etapa 1 – S (setting up the interview)
■ S (setting up the interview): Planejar/ensaiar a conversa
mentalmente já que é uma situação de estresse.
● Escolha um local que possibilite alguma privacidade;
● Envolva pessoas importantes para o paciente, se for da
sua escolha, como por exemplo os familiares; procure
sentar-se (isso relaxa um pouco o paciente e
demonstra que você não está com pressa) e mantenha
contato com o paciente caso seja confortável para ele
(contado visual, pegar no braço no paciente, como
forma de acolhimento).
○ Etapa 2 – P (Perception)
■ P (Perception): Avaliar a percepção do paciente.
● Antes de falar sobre a doença, pergunte ao paciente o
que já foi dito para ele sobre sua condição e quais as
suas expectativas.
● Assim, você consegue entender o que se passa na
cabeça do seu paciente, corrigir possíveis ideias
incorretas e moldar a notícia para a compreensão do
mesmo.
○ Etapa 3 – I (Invitation)
■ I (Invitation): Obtendo o convite do paciente.
● Quando o paciente explicita a vontade de saber sobre
tudo, o médico recebe o cartão verde para falar sobre a
verdadeira condição do paciente. Entretanto, quando o
paciente não deixa clara a sua vontade de saber toda a
informação ou não quer saber, é válido que o médico
questione ao paciente o que ele quer saber sobre a sua
doença e sobre o resultado dos seus exames.
● Se o paciente não quer saber dos detalhes, se ofereça
para responder a qualquer pergunta no futuro ou para
falar com um parente ou amigo.
○ Etapa 4 – K (Knowledge)
■ K (Knowledge): Dando Conhecimento e Informação ao
Paciente.
● Avisar ao paciente que você tem más notícias pode
diminuir o choque da transmissão dessas notícias e
pode facilitar o processamento da informação.
● Informe ao paciente sua condição usando um
vocabulário que facilite sua compressão e demonstre
compaixão. Passe as informações aos poucos e vá
avaliando o grau de entendimento do paciente.
○ Etapa 5 – E (Emotions)
■ E (Emotions): Abordar as Emoções dos Pacientes com
Respostas Afetivas.
● Demonstre compaixão e responda às emoções do
paciente.
● Quando os pacientes ouvem más notícias a reação
emocional mais frequente é uma expressão de choque,
isolamento e dor.
● Nesta situação o médico pode oferecer apoio e
solidariedade com uma resposta afetiva.
■ Exemplo trazido pelo próprio protocolo SPIKES:
● Médico: Sinto dizer que a radiografia mostra que a
quimioterapia não parece estar fazendo efeito [pausa].
Infelizmente, o tumor cresceu um pouco.
● Paciente: Era o que eu temia! [Choro]
● Médico: [chega sua cadeira mais perto, oferece ao
paciente um lenço e pausa]. Eu sei que isso não é o que
você queria ouvir. Eu gostaria que as notícias fossem
melhores.
● Nesse diálogo o médico percebe a reação do paciente e
se aproxima dele de maneira afetiva.
○ Etapa 6 – S (Strategy e Summary)
■ S (Strategy and Summary): Estratégia e Resumo.
● Caso o paciente queira e esteja preparado, apresente as
opções de tratamento e compartilhe a
responsabilidade das tomadas de decisões.
● Procure entender o paciente, demonstrar compaixão e
usar uma comunicação acessível.
● Demonstrar compaixão não é dar falsas esperanças ao
paciente!
● Caso ele queira, seja claro ao falar do prognóstico, mas
tenha em mente que sempre temos algo para fazer por
ele, mesmo que não seja a cura.
● Em situações onde não há tratamento curativo,
devemos oferecer conforto ao paciente e deixar isso
claro para ele.
● O cuidado de fim de vida é uma situação que deve ser
dada a mesma importância que o tratamento curativo
de uma doença.

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