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I. Relatório
https://www.tribunalconstitucional.pt/tc/acordaos/20220054.html 14/12/23, 11 46
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:
cessação de desconto da pensão de alimentos na pensão de invalidez auferida
pelo devedor e condenou o Fundo de Garantia de Alimentos Devidos a Menores
(FGADM) a pagar a referida pensão de alimentos, sub-rogando-se o Fundo nos
direitos da criança-credora contra o progenitor-devedor.
[…]
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C.D.S.S. afls. 45A.
"O Direito
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A norma em questão não estabelece na sua hipótese qualquer critério
de diferenciação para aplicação da sua estatuição: nem entre os
diferentes níveis de rendimento, estabelecendo um mínimo abaixo do
qual o desconto não pode ser ordenado, nem entre os diferentes tipos
de rendimento, não distinguido as pensões, sequer de incapacidade,
até ao montante do indexante dos apoios sociais. É uma norma
absoluta, sem qualquer limite ou exceção.
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recorrida, surgindo no decurso de toda a fundamentação como
elemento argumentativo da posição tomada pelo Tribunal, como
acontece, aliás, ao longo da sentença, relativamente às considerações
de (in) constitucionalidade, sobre normas de diversos regimes
contributivos e de impenhorabilidade, efetuadas pelo Tribunal. Não
pode, pois, este Tribunal Constitucional conhecer do objeto do
recurso no que respeita às normas das alíneas a) e b) do artigo 48° do
RGTPC.
[…]
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:
quo tenha explicitamente ponderado a existência de um conflito entre
os direitos do pai, que está obrigado a prestar alimentos e os direitos
da criança beneficiária da prestação.
[…]
[…]
Por outro lado, nos termos do artigo 18° da Portaria n.° 28/2020, de
31 de janeiro, o quantitativo mensal do regime não contributivo é, à
data da sentença, de € 211,79. Ou seja, para efeitos de aplicação do n.
° 4 do citado artigo há que ter em atenção este valor. Por outro lado, o
valor do RSI (rendimento social de inserção) fixado para o ano de
2020 é de 189,66, enquanto o valor do IAS é de 438,81 (Portaria n.º
27/2020, de 31 de janeiro).
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Contrariamente à sentença recorrida consideramos que o valor do
RSI foi considerado pelo Estado como valor que assegura as
condições mínimas de sobrevivência, E por isso é o mesmo
impenhorável.
O Indexante dos Apoios Sociais (IAS), criado pela Lei n.° 53-
B/2006, de 29 dezembro, traduz-se num indexante para efeitos de
uniformização legislativa de critérios de determinação, fixação,
cálculo e atualização dos apoios sociais e outras despesas e das
receitas da administração central do Estado, das Regiões Autónomas
e das autarquias locais, previstos em atos legislativos ou
regulamentares. Não se podendo confundir com a natureza intrínseca
da finalidade e dos objetivos dos diversificados apoios sociais e
demais contribuições sociais, como o RSI.
[…]
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assegurem a dignidades humana.
4. Em Conclusão:
4.2. O Indexante dos Apoios Sociais (IAS), criado pela Lei n.° 53-
B/2006, de 29 dezembro, traduz-se num indexante para efeitos de
uniformização legislativa de critérios de determinação, fixação,
cálculo e atualização dos apoios sociais e outras despesas e das
receitas da administração central do Estado, das Regiões Autónomas
e das autarquias locais, previstos em atos legislativos ou
regulamentares.
4.5. Pelo que, o IAS não pode ser usado como referencial de
critério para definição do valor mínimo de subsistência e
sobrevivência.
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como correspondendo ao mínimo necessário a assegurar a
sobrevivência, como garantia constitucional do princípio da
dignidade da pessoa humana.
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rendimento da pessoa judicialmente obrigada a prestar alimentos e
não estabelecer como limite mínimo de aplicabilidade referencial
para efeitos de penhorabilidade o montante equivalente ao IAS.»
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7. Ora, o valor do RSI fixado para o ano de 2020 é de 189,66€.
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incapacidade, até ao montante do indexante dos apoios sociais. É
uma norma absoluta, sem qualquer limite ou exceção."
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como exposto anteriormente nesta contra-alegação – para as suas
despesas, tendo em conta que o Recorrido aufere uma pensão de
invalidez, o que não lhe permite ter outro tipo de rendimentos.
37. Esses 255,73€ teriam de ser necessários para, não só, arrendar
uma casa.
40. A juntar a este valor da renda, fazendo uma média, com valores
exageradamente baixos, se o Recorrido despendesse 100€ para a sua
alimentação e 50€ para pagar as contas de luz e água, todos os meses
o Recorrido acabaria com um prejuízo mensal de 241,74€.
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46. Sendo assim, a sentença de 18 de fevereiro de 2020, proferida no
processo de Alteração da Regulação das Responsabilidades Parentais
n.° 4784/08.0TBGMR-D, deve-se manter, pois, e segundo o M. º Juiz
de Direito, "ao abrigo do disposto nos artigos 204.° e 280.°, n.°1, ai),
da C.R.P., recusamos a aplicação do disposto no art.º 48.°, n.°1, ai c)
e alíneas a) e b) - do R.G. P.T.C - lido conjuntamente com o disposto
no art.º 738°, n.°4, do C.P.C, (bem como com o disposto no art.º 23°
do Decreto-Lei n° 90/2017, de 28/07/2017, pelo qual o legislador
estatui a impenhorabilidade do R.S.I, independentemente de qualquer
valor) - na medida em que de forma arbitrária e discriminatória o
legislador não diferencia os níveis de rendimento, não estabelecendo
como limite de aplicabilidade a preservação de montante equivalente
ao I.A.S, não cumprindo, assim e também, a obrigação de
diferenciação, quer quanto ao montante isento de desconto, quer;
também, quanto às diferentes naturezas de que uma pensão se pode
revestir (sobretudo no caso das de incapacidade), isentando-as, pelo
menos, até ao valor do I.A.S, pelo que a norma, como se encontra
redigida, viola o disposto nos art.° 1°, 13°, 18° e 26°, n.° 1 ( e 63°, n.
° 3) da C.R.P.".
CONCLUSÕES
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g) Pelo que se concorda com o M.º Juiz de Direito quando decidiu na
sentença aqui já referida, o art.º 48, n° 1, al. c), do Regime Geral do
Processo Tutelar Cível em conjugação com o n.° 4 do art.0 738.°, do
Código do Processo Civil é, efetivamente, inconstitucional.
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aplicabilidade referencial para efeitos de penhorabilidade o montante
equivalente ao I.A.S, pois este deve usado como referencial de
critério para definição do valor mínimo de subsistência e
sobrevivência.
II. Fundamentação
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conjugada com o n.º 4 do artigo 738.º do CPC, quando interpretada no sentido de
não estabelecer nenhuma diferenciação, fundada na natureza ou no montante dos
rendimentos da pessoa judicialmente obrigada a prestar alimentos, e de não
estabelecer como limite mínimo de aplicabilidade a preservação de montante
equivalente ao valor do IAS. No que respeita a esta interpretação normativa não
restam dúvidas de foi convocada para a resolução do caso e de que a sua
aplicação foi recusada, com fundamento na respetiva inconstitucionalidade.
As normas em apreciação têm o seguinte teor:
RGPTC
«Artigo 48.º
Meios de tornar efetiva a prestação de alimentos
1 - Quando a pessoa judicialmente obrigada a prestar alimentos não
satisfizer as quantias em dívida nos 10 dias seguintes ao vencimento,
observa-se o seguinte:
[…]
c) Se for pessoa que receba rendas, pensões, subsídios, comissões,
percentagens, emolumentos, gratificações, comparticipações ou
rendimentos semelhantes, a dedução é feita nessas prestações quando
tiverem de ser pagas ou creditadas, fazendo-se para tal as requisições
ou notificações necessárias e ficando os notificados na situação de
fiéis depositários.»
CPC
«Artigo 738.º
Bens parcialmente penhoráveis
1 - São impenhoráveis dois terços da parte líquida dos vencimentos,
salários, prestações periódicas pagas a título de aposentação ou de
qualquer outra regalia social, seguro, indemnização por acidente,
renda vitalícia, ou prestações de qualquer natureza que assegurem a
subsistência do executado.
2 - Para efeitos de apuramento da parte líquida das prestações
referidas no número anterior, apenas são considerados os descontos
legalmente obrigatórios.
3 - A impenhorabilidade prescrita no n.º 1 tem como limite máximo o
montante equivalente a três salários mínimos nacionais à data de
cada apreensão e como limite mínimo, quando o executado não tenha
outro rendimento, o montante equivalente a um salário mínimo
nacional.
4 - O disposto nos números anteriores não se aplica quando o crédito
exequendo for de alimentos, caso em que é impenhorável a quantia
equivalente à totalidade da pensão social do regime não
contributivo.»
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b) Enquadramento normativo e definição da questão de
inconstitucionalidade
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em atos legislativos ou regulamentares”. Estatui ainda o artigo 4.º da mencionada
lei que o valor do IAS deve ser atualizado anualmente, levando em consideração
distintos indicadores económicos, designadamente, o crescimento real do produto
interno bruto (PIB) e a variação média dos últimos 12 meses do índice de preços
no consumidor (IPC), sem incluir a habitação. O valor atual do referido
indexante, constante da Portaria n.º 27/2020, de 31 de janeiro, é de 438,81 Euros.
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9. Para a análise da problemática que se apresenta ao Tribunal
Constitucional nos presentes autos, cabe ter presente o acervo jurisprudencial
anterior. Efetivamente, este Tribunal prolatou, já, uma série de decisões
relevantes, tanto no que respeita à questão da definição do mínimo existencial,
decorrente do princípio da dignidade da pessoa humana, quanto à problemática,
mais específica, da penhorabilidade de rendimentos de pensões para o
cumprimento de obrigações de alimentos.
O caminho jurisprudencial de densificação do conteúdo do direito a um
mínimo de existência condigna, iniciado ainda na década de 1990 (vejam-se os
Acórdãos n.º 232/1991, n.º 349/1991, n.º 411/1993, n.º 318/1999, n.º 62/2002 e
n.º 177/2002, disponíveis em www.tribunalconstitucional.pt), conheceu um
episódio importante, e clarificador, no Acórdão n.º 509/2002, onde se analisam
alterações ao regime jurídico do rendimento social de inserção. Aí se reforçou a
distinção “entre o reconhecimento de um direito a não ser privado do que se
considera essencial à conservação de um rendimento indispensável a uma
existência minimamente condigna, como aconteceu nos referidos arestos, e um
direito a exigir do Estado esse mínimo de existência condigna, designadamente
através de prestações”, tendo-se afirmado que “o princípio do respeito da
dignidade humana, proclamado logo no artigo 1.º da Constituição e decorrente,
igualmente, da ideia de Estado de direito democrático, consignado no seu artigo
2.º, e ainda aflorado no artigo 63.º, n.ºs 1 e 3, da mesma CRP, que garante a
todos o direito à segurança social e comete ao sistema de segurança social a
proteção dos cidadãos em todas as situações de falta ou diminuição de meios de
subsistência ou de capacidade para o trabalho, implica o reconhecimento do
direito ou da garantia a um mínimo de subsistência condigna”. Do mesmo passo,
reconheceu-se ao legislador ampla margem conformadora na matéria, sob
condição de assegurar sempre o mínimo indispensável, com um mínimo de
eficácia jurídica.
Estas premissas argumentativas constituíram a base para a fundamentação
de muitas decisões subsequentes, tendo este Tribunal procurado desenvolver
critérios operativos que permitam definir, com alguma clareza, como, e em que
termos, é parametricamente mobilizável o direito fundamental a uma existência
condigna. Assim, no Acórdão n.º 3/2010, sustentou-se que “quando esteja em
causa a própria subsistência mínima e, portanto, a existência socialmente
condigna, o direito à segurança social adquire uma urgência e uma força
vinculante que o tornam diretamente aplicável e o subtraem, em ampla medida,
ao poder de legislar”, explicando-se, porém, paralelamente, que essa seria uma
situação, em princípio, excecional.
Nos Acórdãos n.º 187/2013 e n.º 413/2014, tal linha argumentativa foi
retomada a propósito de normas que previam cortes nos subsídios de doença e de
desemprego. Assim, afirmou-se no primeiro destes arestos que “os limites
mínimos que o legislador fixa para essas prestações compensatórias, ainda que
não tenham por referência os critérios de fixação do salário mínimo nacional,
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não deixam de constituir a expressão de um mínimo de existência socialmente
adequado”, razão pela qual se decidiu pela inconstitucionalidade das disposições
normativas em causa, posto que estas não salvaguardavam “a possibilidade de a
redução do montante que resulta da sua aplicação vir a determinar o pagamento
de prestações inferiores àquele limite mínimo, não garantindo o grau de
concretização do direito que deveria entender-se como correspondendo, na
própria perspetiva do legislador, ao mínimo de sobrevivência de que o
beneficiário não pode ser privado”.
10. Além das decisões acima assinaladas, cabe notar que o Tribunal
Constitucional conta com um conjunto relevante de decisões especificamente
relacionadas com a conformidade constitucional de distintas regras relativas à
penhorabilidade de rendimentos decorrentes do recebimento de pensões sociais
para o cumprimento de obrigações de alimentos; de facto, o tema não é novo na
jurisprudência do Tribunal Constitucional, destacando-se, a este respeito, os
Acórdãos n.º 306/2005, n.º 312/2007 e n.º 394/2014.
No Acórdão n.º 306/2005, foi apreciada a recusa de aplicação da norma
constante da alínea c) do n.º 1 do artigo 189.º do (ora revogado) regime jurídico
da Organização Tutelar de Menores (aprovada pelo Decreto-Lei n.º 314/78, de 27
de outubro). Estava em causa a possibilidade de dedução de uma parcela da
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pensão social de invalidez de um progenitor, para satisfação da prestação de
alimentos devida a filhos menores. O tribunal a quo entendera, então, que a
pensão social recebida pelo requerido era de tal forma escassa, que a adjudicação
do necessário ao pagamento das prestações de alimentos vincendas colocaria em
iminente risco a sua subsistência, o que violaria a dignidade da pessoa humana,
tutelada no artigo 1.º da CRP.
O Tribunal Constitucional explicou, no Acórdão mencionado, que «o
dever de alimentos a cargo dos progenitores, um dos componentes em que se
desdobra o dever de assistência dos pais para com os filhos menores, não pode
reduzir-se a uma mera obrigação pecuniária, quando se trata de ponderação de
constitucionalidade dos meios ordenados a tornar efetivo o seu cumprimento.
Ainda que se conceba o vínculo de alimentos como estruturalmente obrigacional,
a natureza familiar (a sua génese e a sua função no âmbito da relação de família)
marca o seu regime em múltiplos aspetos». Fundando-se no caminho
argumentativo percorrido nos Acórdãos n.º 177/2002 e 96/2004 (cujo objeto
eram normas relativas ao instituto da penhora), o Acórdão n.º 306/2005 afirmou,
porém, que «nesta situação não bastará, porque não seria adequado à repartição
dos “custos do conflito” tal como ele, no plano constitucionalmente relevante, se
apresenta perante a norma em apreciação, proceder à simples transposição da
ponderação que foi feita e sumariamente se expôs quando estava em causa a
satisfação de uma dívida indiferenciada. E não é adequado porque o elemento
constitucional que aí foi decisivo (o princípio da dignidade da pessoa humana)
não pode aqui ser lançado a um só prato da balança, uma vez que a insatisfação
do direito a alimentos atinge diretamente as condições de vida do alimentando e,
ao menos no caso das crianças, comporta o risco de pôr em causa, sem que o
titular possa autonomamente procurar remédio, se não o próprio direito à vida,
pelo menos o direito a uma vida digna». Por esse motivo, o aresto afastou a
incidência do direito de propriedade privada, previsto no artigo 62.º da CRP,
como critério de solução do caso, dado que os direitos de crédito em geral não
equivalem à posição dos filhos, credores de alimentos.
Além disso, este Tribunal afastou, no caso, o critério de comparação com
o salário mínimo nacional, anteriormente mobilizado em ponderações de bens
relativas a penhora, por entender que não era o adequado «nesta situação em que
(na medida inversa da proteção ao devedor) também o princípio da dignidade da
pessoa do filho pode ser posto em causa pelo incumprimento, por parte do
progenitor, de uma obrigação integrante de um dever fundamental para com
aquele. Não é critério que neste domínio possa ser eleito, como regra geral, pelas
consequências incomportáveis no plano social e pelo significativo esvaziamento
do conteúdo do direito-dever consagrado no n.º 5 do artigo 36.º da Constituição
que implicaria. Basta pensar na hipótese de o progenitor que tem a guarda do
filho também não auferir rendimento superior ao salário mínimo nacional ou na
sua generalização ao universo das famílias em que nenhum dos pais aufere mais
do que o salário mínimo nacional».
Assim, e asseverando que «até que as necessidades básicas das crianças
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sejam satisfeitas, os pais não devem reter mais rendimento do que o requerido
para providenciar às suas necessidades de autossobrevivência», o Tribunal
identificou outro critério para o problema jusconstitucional em apreço, com vista
a preservar uma sobrevivência minimamente condigna à luz da «dimensão
negativa da garantia do mínimo de existência, isto é o reconhecimento de um
direito a não ser privado do que se considera essencial à conservação de um
rendimento indispensável», ao mesmo tempo em que recordou a potencial
intervenção do Estado, substituindo o pagamento devido pelo progenitor, em
virtude do art. 69.º, da CRP, através do Fundo de Garantia de Alimentos Devidos
a Menores. Tal critério de limite de impenhorabilidade foi o montante do
rendimento social de inserção, uma vez que ele correspondia, na altura, de
acordo com a atuação do legislador, à garantia do mínimo de existência.
Examinando os valores vigentes à época, o Tribunal concluiu que o valor
de referência aplicável e suscetível de assegurar o mínimo necessário era de
146,00 euros. Ora, a quantia requerida a título de pagamento de alimentos
implicaria, naquele caso concreto, que o valor restante disponível – subtraindo-se
da pensão recebida o valor em causa – para o devedor arcar com os seus custos
de vida essenciais colocaria em risco a sua subsistência. Assim, o Tribunal
decidiu julgar inconstitucional a norma em questão, no sentido de permitir a
dedução, para satisfação de prestação alimentar a filho menor, de uma parcela da
pensão social de invalidez do progenitor que prive este do rendimento necessário
para satisfazer as suas necessidades essenciais.
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pensão social que possa ser afetada ao pagamento da prestação de alimentos a
filho menor.
Na senda dos acórdãos anteriores, o Tribunal partiu do pressuposto de que
o progenitor obrigado a alimentos não pode ser privado de qualquer
quantitativo que não exceda o valor do rendimento social de inserção e destacou
a importância do mecanismo do Fundo de Garantia de Alimentos Devidos a
Menores como forma de materializar o direito fundamental à existência condigna
do filho menor. Consequentemente, o Tribunal concluiu que, ao não ter em
consideração qualquer base mínima da pensão social que possa ser afetada ao
pagamento da prestação alimentar a filho menor, pondo em causa a existência
condigna do progenitor, a norma questionada ofendia o princípio da dignidade da
pessoa humana, consagrada no artigo 1.º da CRP.
d) Mérito
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que se trata, em face do objeto sob análise, é do direito a não ser privado de tais
condições, ou seja, um direito estruturalmente defensivo, implicando uma
abstenção por parte do Estado. In casu, esta dimensão negativa tem a
particularidade de estar em causa numa situação de facto em que o mesmo
direito, na sua dimensão positiva, ou prestacional, é também assegurado pelo
próprio Estado.
Efetivamente, no contexto do presente caso, e como decorre da
jurisprudência constitucional acima explanada, «apesar de estruturalmente
diversas, ambas as dimensões integram o conteúdo de um único direito
fundamental, axiologicamente incindível, a um mínimo de existência condigna,
com base no qual se pode afirmar, quer o dever estatal de não suprimir os meios
materiais necessários a uma existência condigna, quer o dever estatal de suprir a
carência de tais meios aí onde ela se verifique» (Gonçalo de Almeida Ribeiro,
Controlo judicial das restrições aos direitos sociais, Revista Eletrónica de
Direito Público, vol. 7, n.º 3, dezembro de 2020). Estando cumprida a dimensão
positiva do direito, questiona-se aqui em que termos pode esta ser reduzida – isto
é, cabe-nos determinar qual o limiar de atuação da dimensão negativa do direito
a uma existência condigna, que impõe ao Estado uma obrigação
jusconstitucional de abstenção de qualquer atuação passível de colocar a pessoa
em situação de carência dos meios indispensáveis à sua existência em condições
de dignidade.
Não é, naturalmente, fácil encontrar o sentido e o alcance concreto dessa
garantia dada pela Constituição da República Portuguesa; isto é, tendo por certo
que o direito a uma existência humana decente e provida encontra abrigo na Lei
Fundamental – conforme acima se procurou demonstrar com recurso à
jurisprudência constitucional –, a determinação concreta do limiar mínimo de
recursos materiais a partir do qual deve atuar a dimensão negativa, ou de
abstenção, já mencionada, não é uma operação despida de dúvidas, mais ainda
quando levada a cabo em sede jurisprudencial. Como vimos, a orientação
reiterada por este Tribunal tem sido no sentido de não fazer coincidir, em termos
absolutos, tal aferição com a garantia de graus mínimos de acesso - nas
comunidades contemporâneas, em geral, e na sociedade portuguesa, em
particular - a bens essenciais, corporizáveis (como a alimentação, habitação,
água, saneamento, ou energia), ou a bens (públicos) essenciais não
(necessariamente) corporizáveis (como a educação, cuidados de saúde, cultura),
na medida em que a sua fruição universal e igualitária deverá resultar do gozo
efetivo dos direitos fundamentais consagrados na CRP. No fundo, isso
corresponderia a fazer equivaler o conceito à ideia de mínimo social, a qual
abrange o direito de «todos os que, por si sós, por incapacidades próprias ou
razões circunstanciais, não disponham do necessário a uma sobrevivência
condigna» a aceder a tal, reconduzindo-se «a esse mínimo de prestações
materiais e de estruturação de estabelecimentos e serviços públicos essenciais [a]
todo o alcance jusfundamental, positivo e negativo, dos direitos sociais» (Jorge
Reis Novais, Direitos sociais: teoria jurídica dos direitos sociais enquanto
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direitos fundamentais, Coimbra, Coimbra Editora, 2010, p. 194).
13. Nestes termos, no plano doutrinal, têm sido têm sido apontados
arrimos específicos para o cotejo de uma igual dignidade social, coletivamente
considerada. Assim, sendo a dignidade humana «a trave mestra da sustentação e
da legitimação da República», ela ganha «um valor próprio e uma dimensão
normativa específicos», englobando todos os direitos fundamentais centrados nas
pessoas, sob o princípio da igualdade, que proíbe «qualquer diferenciação ou
qualquer pesagem» entre a dignidade dos indivíduos, de forma que o «projeto
espiritual» de cada um seja realizável. Trata-se de um bem autónomo, que
justifica o sistema de democracia política, social, económica e cultural na
construção de uma sociedade livre, justa e fraterna. Neste enquadramento, a
ordem constitucional consagra a solidariedade e a corresponsabilidade de todos
os membros da comunidade, «libertando as pessoas do medo da existência,
garantindo-lhe uma dimensão social-existencial minimamente digna». Cria-se,
assim, «uma sociedade justa, em termos de justiça distributiva e retributiva» (J.J.
Gomes Canotilho e Vital Moreira, Constituição da República Portuguesa
Anotada, vol. I, Coimbra, Coimbra Editora, 2007, pp. 198 e seguintes).
Por outras palavras, «uma sociedade que respeita a dignidade da pessoa
humana é aquela em que as pessoas são reconhecidas como polos de liberdade,
são tratadas com justiça e apoiadas com solidariedade». Neste raciocínio, importa
sublinhar que «a dignidade da pessoa é dignidade da pessoa concreta, na sua vida
real e quotidiana; não é de um ser ideal e abstrato». Nesse sentido, ela é pessoal e
universal, exigindo «respeito pela autonomia, mas também preocupação em face
da vulnerabilidade». Esta preocupação dirige-se, muito especialmente, àqueles
«cuja dignidade mais facilmente poderá ser posta em causa» e, também por isso,
«exige condições económicas de vida capazes de assegurar a liberdade e bem-
estar», donde decorrem a atualização do salário mínimo nacional, as garantias
especiais do salário, a proteção pela segurança social em diversas circunstâncias,
etc.». Desse contexto, emerge o direito a uma existência condigna (Jorge
Miranda e Rui Medeiros, Constituição Portuguesa Anotada, vol. I, Coimbra,
2010, pp. 61 e seguintes).
Adicionalmente, convém distinguir as ideias de existência condigna (nas
suas variadas formulações terminológicas) e de subsistência vital. Relativamente
ao mínimo de existência digna, conforme se demonstrou supra, corresponde este
ao conceito de satisfação das necessidades individuais essenciais por meio de
um quantum financeiro recebido pelo visado. O conteúdo indisponível de tal
quantum tende a ser equiparado, como se explicou, segundo jurisprudência
consolidada, ao valor do RSI atualizado, pois este, entende-se, é o valor definido
pelo legislador democrático como o indispensável para a pessoa existir com
dignidade, num patamar mínimo.
De modo distinto, o conceito doutrinal de subsistência vital dispensa a
qualificação condigna, uma vez que o seu âmbito de proteção é mais reduzido do
que o anterior, isto é, a subsistência vital cobre, apenas, «uma proteção contra as
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ameaças à sobrevivência», tratando-se, portanto, da manifestação da mera
«existência fisiológica» (Jorge Reis Novais, Direitos sociais: teoria jurídica dos
direitos sociais enquanto direitos fundamentais, Coimbra, Coimbra Editora,
2010, pp. 195 e 196).
Importa, pois, realçar que a densificação do standard da dignidade
humana inscrita na Constituição da República Portuguesa, em virtude da
jurisprudência do Tribunal Constitucional, se afasta, claramente, de uma ideia
minimalista de salvaguarda de uma mera existência fisiológica. A CRP protege a
dignidade e, em consequência, a possibilidade de ser, condignamente, para lá do
simples existir, no plano físico. De facto, a dignidade humana que a Constituição
da República Portuguesa tutela compreende um conjunto de condições materiais
que sustentem uma vida digna, formado por todos e cada um dos direitos
fundamentais nela consagrados. Ou seja, de uma perspetiva sistémica, a vida
condigna de que fala a CRP não se resume à atribuição de prestações sociais
materiais e ao acesso a serviços públicos; a vida condigna protegida pela
Constituição inclui, por exemplo, os direitos de desenvolvimento da
personalidade, de participação política, de propriedade ou à vida familiar. A
dignidade consagrada na Constituição significa, pois, a realização de uma vida
decente e provida, em todas as esferas da existência pessoal e comunitária do ser
humano. É, pois, a partir dessa ideia, mais ampla, de dignidade, que devem ser
entendidos os standards jusconstitucionais que dela derivem, como é o caso do
mínimo de existência condigna, que nos ocupa no caso concreto.
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Comité Europeu dos Direitos Sociais. Recorde-se, em particular, a decisão de
mérito deste Comité, de 7 de dezembro de 2012, em que se considerou que as
limitações e restrições de garantias (designadamente os cortes financeiros nos
valores percebidos a título de pensões), no domínio da segurança social, não
podem colocar os membros de uma sociedade numa situação de perda de
proteção efetiva contra riscos económicos e sociais (Reclamação n.º 77/2012,
Panhellenic Federation of Public Service Pensioners (POPS) v. Greece, pontos
63 e seguintes, disponível em: http://hudoc.esc.coe.int/eng/?i=cc-77-2012-
dmerits-em). Tal posição foi depois reiterada nas decisões das Reclamações n.º
78/2012, Pensioners’ Union of the Athens-Piraeus Electric Railways (I.S.A.P.) v.
Greece, n.º 79/2012, Panhellenic Federation of pensioners of the public
electricity corporation (POS-DEI) v. Greece e n.º 80/2012, Pensioner’s Union of
the Agricultural Bank of Greece (ATE) v. Greece. Nestas ocasiões, o Comité
recordou decisões anteriores, reafirmando que decorre dos standards impostos
pela Carta que o rendimento de determinadas categorias de sujeitos vulneráveis
não deve ser inferior ao limiar de pobreza, calculado segundo os critérios do
Eurostat (que situam, hoje, tal valor em 60 % da mediana nacional do rendimento
disponível equivalente, como pode comprovar-se em
https://ec.europa.eu/eurostat/statistics-explained/index.php?
title=Archive:Income_poverty_statistics/pt&oldid=293776).
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em causa satisfazer uma dívida, mas cumprir um dever que surge
constitucionalmente autonomizado como dever fundamental e de cujo feixe de
relações a prestação de alimentos é o elemento primordial. É o que diretamente
resulta de no n.º 5 do artigo 36.º da Constituição se dispor que os pais têm o
direito e o dever de educação e manutenção dos filhos.» Nestes termos, a origem
do rendimento dos pais não se afigura como elemento comparativo adequado a
estabelecer quaisquer distinções, posto que a natureza e a força vinculante do
dever fundamental em causa em nada são abaladas pelo facto de tais rendimentos
provirem de pensões, do trabalho, ou de outra fonte. Os pais de filhos menores
têm, face ao disposto na CRP, o dever de alocar parte desses rendimentos às suas
manutenção e educação, possibilitando-lhes um crescimento sadio e equilibrado,
e assegurando condições para que as crianças tenham uma existência digna,
atentas as especificidades e a vulnerabilidade inerente à sua condição.
Já no que respeita ao montante do rendimento dos progenitores, é verdade
que este poderia ser mobilizado como elemento de distinção entre um par
comparativo adequado. De facto, resulta evidente que o grau de sacrifício
imposto pelo pagamento de uma pensão de alimentos é tanto maior quanto menor
o rendimento disponível a priori (isto é, antes do pagamento da pensão) do
devedor, o que poderia fundamentar a adoção de regras jurídicas distintas, em
determinadas situações. Contudo, não se crê que este argumento possa atuar, no
caso, como critério valorativo autónomo, nem o tribunal a quo o fez,
efetivamente. A consideração do montante dos rendimentos do devedor de
alimentos é, pois, chamada à colação na consideração das imposições decorrentes
da dimensão defensiva do direito fundamental a um mínimo de existência
condigna, nos termos acima explicados. Ou seja, decorre, sem dúvidas, da
fundamentação exposta, que a retenção, a qualquer título, pelo Estado, de
rendimentos abaixo de um determinado limiar, em termos tais que não deixe à
pessoa meios disponíveis passíveis de lhe assegurar um mínimo de existência
com dignidade, viola o princípio da dignidade da pessoa humana, consagrado no
artigo 1.º da CRP. Por isso, resta verificar, qual standard materialmente
determinado, isto é, o valor específico constitucionalmente imposto, para que se
dê por respeitado o direito de não ser privado de condições materiais para uma
vida decente e provida.
16. Ora, resulta evidente que a Constituição não contém uma norma que
obrigue à fixação de um valor específico de referência a título de respeito pela
dignidade humana, cabendo ao legislador, na sua legítima margem de
conformação, encontrar o melhor caminho para a prover. Assim, neste caso, a
vinculação, quer do legislador, quer do intérprete constitucional, é ao parâmetro
substancial da dignidade, especificamente considerada, ou, em termos mais
rigorosos, ao standard de uma vida decente e provida. A determinação
quantitativa do mínimo monetário necessário e suficiente para tal, tanto na
dimensão negativa, quanto na dimensão positiva desse padrão jusfundamental,
não pode deixar de depender da intervenção do legislador, na medida em que lhe
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compete avaliar elementos concretos, como custos de alimentação, habitação,
saúde, educação, etc., que são variáveis de acordo com os ciclos económicos, e a
possibilidade de prestação, por parte do Estado, desses direitos-deveres
constitucionais.
Como se explicou, o Tribunal Constitucional tem tendencialmente feito
equivaler este valor mínimo necessário a uma existência condigna ao valor do
RSI, por ser essa a quantia que o Estado se compromete a assegurar a todos, do
ponto de vista prestacional, em caso de ausência de meios de subsistência. No
fundo, a lógica de tal equivalência é que o Estado não pode tirar mais do que o
mínimo que se propõe a dar a qualquer cidadão em situação de absoluta carência.
Contudo, na operação interpretativa efetuada pelo tribunal a quo rejeitou-se este
valor, substituindo-o pelo do IAS.
Ora, a verdade é que a escolha do valor do IAS por parte do intérprete se
afigura como arbitrária; como já se demonstrou, este indicador é definido como
referencial de cálculo não só de apoios sociais, como de outras despesas e
receitas da administração pública, não se afigurando clara, nem justificada, a sua
preferência como critério valorativo do mínimo de existência condigna, em
relação ao RSI. São compreensíveis as preocupações daquele tribunal quanto às
muitas dúvidas que se podem levantar sobre se o valor atualmente atribuído ao
RSI é, ainda hoje, adequado como garantia institucional da dignidade humana.
De facto, tal valor afasta-se significativamente do limiar de pobreza, critério
erigido pelo Comité Europeu dos Direitos Sociais como standard de
cumprimento dos deveres estaduais consagrados na Carta Social Europeia e que,
de acordo com os valores disponibilizados pelo INE e Eurostat, se situa, na
atualidade, aproximadamente em torno dos 540 euros mensais (e era, na
avaliação anterior, de cerca de 501 euros mensais). Este limite, aliás utilizado
pelo legislador democrático para a definição da condição de recursos para
atribuição de determinadas prestações sociais, como os Apoios Extraordinários
ao Rendimento dos Trabalhadores (veja-se o disposto no artigo 156.º da Lei do
Orçamento de Estado para 2021, Lei n.º 75-B/2020, de 31 de dezembro), teria
sido uma escolha mais adequada por parte do tribunal a quo, como critério
alternativo ao valor do RSI na determinação quantitativa do mínimo de existência
condigna.
Contudo, a afirmação, em sede jurisprudencial, da prevalência do valor
correspondente ao limiar de pobreza, em detrimento do valor do rendimento
social de inserção, nos termos em que cabe fazê-lo, no caso concreto, afigura-se
muito problemática, pese embora tudo o que até agora se disse. Efetivamente, e
desde logo, a determinação do limiar de pobreza exige a consideração de todas as
medidas e apoios sociais (monetários e sob forma de prestações materiais)
assegurados pelo Estado à pessoa, e do seu efeito cumulativo no agravamento ou
melhoramento das suas condições de vida.
Além disso, e por outro lado, não podemos esquecer que o problema
concretamente em causa é o da possibilidade de utilização de uma parcela do
rendimento de uma pensão de invalidez para pagamento da prestação de
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alimentos devida a filho menor; ou seja, da mobilização do rendimento
disponível do devedor para fazer face a uma despesa que sempre teria de
assegurar caso tivesse a menor a seu cargo. É, aliás, o que acontece, no caso que
nos ocupa, com a mãe da menor, cujos rendimentos, igualmente escassos e
igualmente provenientes de pensão de invalidez, têm que ser usados, em parcela
muito significativa, para fazer face às despesas com a criança. Não se vê por que
razão deveria ser judicialmente imposto um limite mínimo assegurado ao
devedor de alimentos que não é possível assegurar, da mesma maneira, ao
progenitor que detém a guarda do menor em causa, a não ser por via da
intervenção do legislador democrático.
Assim, a verdade é que o critério interpretativo disponível para a
jurisdição constitucional, simultaneamente respeitador da margem de liberdade
de conformação do legislador, e garantidor de igualdade e uniformidade na
determinação do standard mínimo de existência condigna, não pode deixar de
reconduzir-se, num caso como este, ao valor do RSI. Ou seja, mesmo que pareça
imperativo que o legislador reflita sobre a suficiência dos valores em causa para
o cumprimento do comando constitucional assegurar uma vida com dignidade a
todos os cidadãos, a norma objeto do presente recurso não habilita um juízo de
censura constitucional, porquanto os níveis e a natureza dos rendimentos
recebidos pela pessoa judicialmente obrigada a prestar alimentos não têm, por
força das normas da Constituição apreciadas, de se sujeitar, para efeitos de
penhorabilidade, ao montante equivalente ao IAS. Têm, sim, de assegurar a
manutenção na disponibilidade do devedor de alimentos de um montante
adequado a densificar o direito fundamental a um mínimo de existência
condigna, em termos tais que não se gerem, por via jurisprudencial, contradições
e antinomias, nem se limite excessivamente a margem de atuação do legislador.
Ora, uma ponderação desse tipo, com o alcance que implica, não tem espaço,
neste recurso de fiscalização concreta da constitucionalidade, para além do limite
mínimo definido a partir do valor do RSI.
Pelo exposto, não é inconstitucional a norma da alínea c) do n.º 1 do
artigo 48° do Regime Geral do Processo Tutelar Cível (R.G.P.T.C.) em
conjugação com o n.º 4 do artigo 738.º do Código do Processo Civil, quando
interpretada no sentido de não estabelecer nenhuma diferenciação, fundada na
natureza ou no montante dos rendimentos da pessoa judicialmente obrigada a
prestar alimentos, e de não estabelecer como limite mínimo de aplicabilidade a
preservação de montante equivalente ao valor do IAS.
III. Decisão
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montante dos rendimentos da pessoa judicialmente obrigada a prestar alimentos,
e de não estabelecer como limite mínimo de aplicabilidade a preservação de
montante equivalente ao valor do IAS.
b) Conceder provimento ao recurso interposto e determinar a
reforma da decisão recorrida, em consonância com o presente juízo negativo de
inconstitucionalidade.
Sem custas.
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