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AVALIAÇÃO DE METAFÍSICA II
RIO DE JANEIRO
2023
ANA CLARA DUTRA
RIO DE JANEIRO
2023
Sexta serie: Sobre a colocação em Séries
Essa regressão oral, afirma Deleuze, deve ser apreendida primeiro no sentido
lógico da síntese dos nomes. “A forma de homogeneidade dessa síntese
subsume duas séries heterogêneas da oralidade, comer-falar, coisas
consumíveis-sentidos exprimíveis”; esta seria a forma serial que estaria
associada aos paradoxos de dualidade.
Para além das maneiras diversas pelas quais as séries podem ser
determinadas, o que realmente importa é a possibilidade de construir duas
séries sob uma forma homogênea aparentemente. Quando nos referimos que
as variações das séries não tem nenhuma importância, é no sentido que
Deleuze fala de que elas representam apenas graus de liberdade para uma
organização das séries. “É a mesma dualidade, como vimos, que passa pelo
lado de fora entre os acontecimentos e os estados de coisas, na superfície
entre as proposições e os objetos designados e no interior da proposição entre
as expressões e as designações”. O que importa aqui é demonstrar que é
possível construir duas séries sob uma forma aparentemente homogênea, ou
seja, é possível “duas séries de coisas ou duas séries de acontecimentos; ou
duas séries de proposições, de designações; ou duas séries de sentidos ou de
expressões”. A lei das duas séries simultâneas são as séries que jamais serão
iguais, sendo uma dessas duas séries a que representa o significante,
enquanto a outra; o significado. Entendemos como significante todo e qualquer
signo enquanto apresenta “em si mesmo um aspecto qualquer do sentido”.
Enquanto significado é, de maneira oposta, “o que serve de correlativo a este
aspecto do sentido, isto é, o que se define em dualidade relativa com este
aspecto”. Contudo, significado nunca é o próprio sentido, pelo contrário, ele
está associado, numa compreensão restrita, muito mais a conceito. Enquanto
em uma compreensão ampla, é “cada coisa que pode ser definida pela
distinção que tal ou qual aspecto do sentido mantém com ela”. Cabe também
ressaltar que, no que se refere ao significante, ele estaria associado, em
primeiro lugar, ao acontecimento como “atributo lógico ideal de um estado de
coisas”, enquanto o significado seria o próprio estado de coisas, suas
qualidades e relações reais.
Essa instância paradoxal não para jamais de circular nas duas séries, e isso é
o que garante a comunicação entre ambas as séries. Essa é uma instância de
dupla face, no sentido de que se mantem presentem tanto na série significante
quanto na série significada. Esta instância é a certificação de que as duas
séries venham a divergir sem cessar; ela sempre se deslocará de ambas as
séries, com relação a si mesma. Como discorremos anteriormente acerca dos
termos de cada série se deslocarem uns com relação aos outros relativamente,
ocorre porque as séries tem um lugar absoluto que está sempre determinado
por sua distância em relação a esse elemento que não para de se deslocar nas
duas séries, em relação a si mesmo. Portanto, essa instância paradoxal nunca
estará onde a procuramos e nunca a encontraremos onde ela está; como um
espelho, como o sentido inverso. Ela falta a sua própria identidade, a sua
própria semelhança, equilíbrio e origem. Segundo Lacan, ela falta em seu
lugar. Além do mais, é próprio dessa instância estar em excesso na série que
ela constitui como significante e em faltar na que ela constitui como significada,
pois o seu excesso sempre remeterá a sua própria falta e vice versa. Deleuze
afirma, brilhantemente, que “O que é, em excesso de um lado, senão um lugar
vazio extremamente móvel? E o que está em falta do outro lado não é um
objeto muito móvel, ocupante sem lugar, sempre extranumerário e sempre
deslocado?”. Um exímio exemplo é o que Deleuze descreve, como ocorre com
Alice e as prateleiras: a menina fixava os olhos para contabilizar o que havia
nela, mas a prateleira em questão se mostrava sempre vazia, enquanto,
aparentemente, as outras ao redor pareciam repletas de objetos. Enquanto ela
perseguia uma coisa brilhante, ora numa prateleira, ora outra acima, O seu
plano era de perseguir essa coisa até que não tivessem mais prateleira, crendo
que a coisa hesitaria em atravessar o teto, no entanto, a coisa se foi;
atravessou o teto “como se disso tivesse longo hábito”. Parece, portanto, uma
coisa brincalhona e inalcançável; “Das Ding”, termo utilizado por Lacan, ou “A
coisa”, vulgo aquilo que é estranho, mas familiar.
Referências