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2022/2023
Casamento
Art.1576º CC (noção de casamento) - “O casamento é o contrato celebrado entre duas
pessoas que pretendem constituir família mediante uma plena comunhão de vida, nos termos
das disposições deste código”. Ora, nem sempre foi esta a noção de casamento, existindo
gradualmente diferenças.
É completamente irrelevante saber se os cônjuges pretendem ou não ter filhos, ao
contrário do católico que sim.
Vamos ver que no nosso ordenamento jurídico temos o casamento civil, o casamento
católico e o casamento civil sobre a forma religiosa. No caso do casamento católico e do
civil, estes são 2 sistemas diferentes regidos por normas diferentes. O católico para além disso
tem normas próprias do direito canónico. Existe o civil sobre a forma religiosa, que não tem
regras próprias, mas uma diferente forma de realização.
Em relação ainda ao casamento católico, este é regulado pela lei civil, o que significa
que o direito canónico apenas terá competência para se pronunciar pela validade (art.1621ºCC).
Relativamente à validade esta é exclusiva dos tribunais eclesiásticos. O casamento católico só
pode ser declarado nulo. Se falarmos em anulação estamos a falar de casamento civil. O
casamento rato é um casamento não consumado.
Parentesco
Art.1578º CC (noção de parentesco) - “parentesco é o vínculo que une duas pessoas,
em consequência de uma delas descender da outra ou de ambas procederem de um progenitor
comum”. Ou seja, o parentesco é uma relação de sangue, é um vínculo que se estabelece entre 2
pessoas. Desta forma, temos de distinguir 2 linhas de parentesco: parentesco em linha reta
(descendem uns dos outros) e parentesco em linha colateral (descendem de um progenitor
comum). Podemos ter ainda a distinção entre a linha materna (pessoas que têm a mesma mãe) e
linha paterna (pessoas que têm o mesmo pai).
Art.1579º CC (elementos do parentesco): “O parentesco determina-se pelas gerações
que vinculam os parentes um ao outro: cada geração forma um grau, e a série dos graus
constitui a linha de parentesco”.
Segundo o art.1580º podemos ter parentes em linha reta quando um dos parentes
descende um do outro, e parentes em linha colateral quando ambos procedem de um progenitor
comum.
Art.1581º CC (truque: fazer o esquema- contar os traços)
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Afinidade
Art.1584ºCC (noção de afinidade): vínculo que liga cada um dos cônjuges aos parentes
do outro cônjuge. Determinam-se pelos mesmos graus e linhas. Mesmo quando há a morte dos
cônjuges a afinidade mantém-se, mas termina quando há divórcio. A afinidade tem sempre por
base o casamento. “A afinidade não gera afinidade”. Art.1585º
Adoção
Art.1586ºCC (noção de adoção): “A adoção é o vínculo que, à semelhança da filiação
natural, mas independentemente dos laços do sangue, se estabelece legalmente entre duas
pessoas nos termos dos art.1973º e seguintes”. A adoção não é um vínculo biológico, tendo na
sua base uma realidade afetiva e sociológica. O principal efeito é que o adotado constitui o
efeito jurídico de filho, rompendo os laços com a família biológica, visando sempre o superior
interesse/proteção da criança.
A realidade social vai evoluindo e agora existem outras relações que foram surgindo e
que podem ser classificadas ou não como relações familiares, como por exemplo, a união de
facto. Esta é uma relação entre 2 pessoas semelhante à dos cônjuges, mas que não está sujeita
ao vínculo jurídico do casamento. O reconhecimento da união de facto como relação familiar
resulta do art.36º CRP. A união de facto pode ser abrangida pelo art.26º CRP. Esta não tem os
mesmos efeitos do casamento. Isto não impede que o legislador possa atribuir alguns efeitos à
união de facto que são semelhantes aos atribuídos ao casamento (ex. proteção de casa de
morada de família em casa de morte, atribuição de alguns benefícios em caso de morte, etc.).
Lei 7/2001- contém a união de facto.
28.09.2022
União de facto
Em relação à união de facto, são inúmeras as razões que levam as pessoas a querer ou
optar por viver em união de facto. Quando se constitui união de facto? Quais os seus efeitos?
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Catarina Serra | A91478
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Como se prova a união de facto? A união de facto não tem um formalismo de criação,
nem está sujeita a registo. Assim, segundo o art.2º-A menciona que, na falta de disposição legal
ou regulamentar que exija prova documental específica, a prova da união de facto pode fazer-se
através de qualquer meio legal admissível, mas normalmente é feita por declaração emitida
pela Junta de Freguesia competente da residência dos unidos de facto, eventualmente
comprovada por testemunhas. Não podemos esquecer que se isto for mostrado está provada a
união de facto, mas para isso é preciso que não exista qualquer impedimento previsto no art.2º.
Estas exceções são muito semelhantes com alguns dos impedimentos do casamento. Assim,
impede a união de facto: (a) idade inferior a 18 anos à data do reconhecimento da união de
facto; (b) demência notória; (c) casamento não dissolvido; (d) parentesco na linha reta ou no 2º
grau da linha colateral ou afinidade na linha reta; (e) condenação anterior de uma das pessoas
com autor ou cúmlice por homicídio doloso ainda que não consumado contra o cônjuge. Se se
verificar uma destas exceções, a união de facto não pode ser invocada.
Art.3º.
Estas prestações e proteções da alínea (e), (f) e (g) têm algumas concretizações no art.6º,
porque havia uma discussão na doutrina sobre o unido de facto preenchendo os requisitos poder
vir a ser alimentado pelos bens da herança era discutido se, havendo bens suficientes na herança
que acautelassem esta prestação de alimentos, ele teria direito. O que a lei vem dizer é que o
membro sobrevivo da união de facto benificia dos direitos, independentemente de haver
necessidade da prestação de alimentos.
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Para a proteção da casa de morada de família em caso de morte, temos o art.5º, que
menciona que em caso de morte não há a produção de efeitos sucessórios, sendo que os
herdeiros serão os descendentes ou acendentes. No entanto, em caso de morte do membro da
união de facto proprietário da casa de morada da família e do respetivo recheio, o membro
sobrevivo pode permanecer na casa, pelo prazo de 5 anos, como titular de um direito real de
habitação e de um direito de uso do recheio. No entanto, o nº2 vem corrigir o prazo de 5 anos,
para os casos em que a união de facto tenha começado há mais de 5 anos antes da morte e,
assim, os direitos de uso e habitação são conferidos por tempo igual ao da duração da união, ou
seja, se A e B estiveram juntos durante 10 anos em união de facto, quando A morrer, o B tem o
direito real de habitar na casa e de usar o seu recheio durante 10 anos. Temos aqui um legado
legal imperativo, sendo que o autor da sucessão não pode excluir este legado. No entanto, estes
direitos caducam se o interessado não habitar a casa por mais de 1 ano, salvo se a falta de
habitação for devida a motivo de força maior (nº5). NOTA: O direito real de habitação não é
conferido ao membro sobrevivo se este tiver casa própria na área do respetivo concelho da
freguesia da casa de morada da família (nº6). Ora, esgotado o prazo em que o membro
sobrevivo beneficiou do direito de habitação, este pode ter o direito de permanecer no imóvel,
mas na qualidade de arrendatário e tem o direito de permanecer no local até à celebração do
respetivo contrato (nº7). Em caso de alienação do imóvel, o membro sobrevivo tem direito de
preferência, durante o tempo em que o habitar a qualquer título, ou a título do direito real ou a
título de arrendatário (nº9). Se a casa de morada de família for arrendada a lei também protege o
membro sobrevivo da união de facto remetendo para o art.1106º CC (nº10). Este artigo do CC
só fala em transmissão, mas pode acontecer a transmissão ou concentração.
Considerações importantes
Temos na nossa CRP algumas normas que se referem ao direito da familia. O principal
é o art.36º CRP, enquadrado no regime das DLG´s, e depois temos outras normas que são
mais de ordem programática. O art.36º tem o reconhecimento de 2 direitos: o direito de
constituir família e o direito de contrair casamento. Alguns autores viam aqui enquadrado o
reconhecimento das novas formas de família como a união de facto. Outros autores, vêm dizer
que este direito não abrange outras formas de família para além das do art.1576ºCC. Para estes
últimos, o reconhecimento da possibilidade de viver em união de facto pode sim ser enquadrado
no nº26º CRP.
A nossa lei diz-nos que o casamento pode ser civil ou católico (art.1587º CC), sendo
que estes são 2 diferentes formas de celebração do casamento e 2 institutos jurídicos diferentes.
Quem casa catolicamente está sujeito a normas de direito canónica para além das leis civis.
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Mas o art.1625º diz que isso é reservado aos tribunais e às repartições eclesiasticas
competentes. Ora, este artigo não é inconstitucional, mas temos de perceber a articulação entre
ambas as normas.
Assistimos a uma mudança da grande família para a pequena família. A par disso,
assistimos, à perda das funções da família que tinha, a função política do direito romano. Perdeu
a função económica e fundamentalmente, perdeu a função de educação, que passou a ser da
responsabilidade do Estado. A evolução da relação conjugal tambem mostra uma passagem para
o casamento puro que só importa para os conjuges. Ou seja, dantes o casamento era da
responsabilidade de toda a família. A partir do sec. XIX surge a ideia do casamento romântico,
sendo que as funções dos conjuges estavam muito bem definidas. Isto começa a mudar na dec
de 60 e 70 do sec. XX, com a ajuda das grande guerras, sendo que temos aqui uma mudança
para uma relação paritária. Cada um dos conjuges quer a realição pessoal na relação e exige
mais do outro, o que leva cada vez mais a divórcios. O casamento passou para uma relação
pura. Surgem então as famílias recombinadas que também são uma realidade de hoje em dia.
As normas do direito da família são imperativas, ou seja, não encontramos aqui normas
coletivas. Onde existe maior flexibilidade é no domínio do casamento, mas mesmo
assim temos normas imperativas. Não temos aqui grande margem de manobra.
As normas que regulam as relações familiares caracterizam-se pelo seu
institucionalismo, o que não quer dizer que pontualmente o legislador não tenha aqui
um carácter pedagógico.
O direito da família é muito permiável às alterações sociais, económicas e políticas.
As suas normas têm muita ligação a outras ciências humanas.
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do dto canónico, da validade ou nulidade do casamento católico. O Estado dá, pois, efeitos civis
ao casamento católico como tal e reconhece ou recebe não só as normas do dto canónico que
regem o ato matrimonial, como inclusivamente a aplicação que dessas normas seja feita pelos
órgãos jurisdicionais da própria Igreja.
Por outro lado, Gomes Canotilho, Vital Moreira e Marques Santos entendem que o
casamento canónico instituído pela Concordata de 1940 e reafirmado pela concordata de 2004
para que não seja considerado inconstitucional apenas pode existir como forma diferente de
celebração do casamento, admitindo a legislação concordatária, a segunda modalidade do
sistema de casamento civil facultativo (dois institutos diferentes) e até porventura a primeira
modalidade do sistema de casamento civil facultativo (duas formas de celebração) como
inconstitucionais. Esta não é a opinião dos autores do livro.
O dto português tentou ainda evitar os inconvenientes que resultam do sistema aplicado
(segunda modalidade do sistema de casamento civil facultativo) em alguns pontos
fundamentais:
a) Aproximar os sistemas de impedimentos (art. 1596º CC) exige-se a capacidade civil
para a celebração do casamento católico, aplicando a este casamento todo o sistema de
impedimentos do casamento civil. Para dar valor prático, proíbe a lei ao pároco, sob
pena de graves sanções (art. 296º a) nº1 do CRegCivil) a celebração do casamento
católico sem que lhe seja presente certificado, passado pelo conservador do registo
civil, a declarar que os nubentes podem contrair casamento (art. 1598º/1 do CC e 146º e
151º CRegCivil). Ainda assim como é óbvio o casamento católico está sujeito e até
antes de mais nada aos impedimentos do dto canónico (nem todos os casamentos que se
podem celebrar civilmente também se podem celebrar catolicamente).
b) Para unificar o registo do casamento, o CRegCivil impôs ao pároco, sob cominação das
sanções previstas no art 296º c) nº1, a obrigação de enviar à conservatória do registo
civil competente o duplicado do assento paroquial, a fim de ser transcrito no livro de
casamentos (art. 1655º/1 CC e 169º CRegCivil).
c) Quanto à questão do casamento o Decreto-lei nº 261/75 de 27 de maio desaparece a
situação anterior que dizia que os tribunais civis só podiam decretar o divórcio nos
casamentos civis ou nos casamentos católicos anteriores a 1 de agosto de 1940,
podendo agora o casamento civil e o casamento católico ser dissolvidos por divórcio,
nos tribunais civis, com os mesmos fundamentos e nos mesmos termos.
Por que normas – de direito civil ou canónico – se rege o casamento católico em cada um
dos seus aspetos?
a) Promessa de casamento – artigos 1591º ss. do CC aplica-se quer à promessa do
casamento católico, quer à do casamento civil.
b) Requisitos de fundo do casamento católico temos de distinguir os problemas relativos
ao consentimento onde se aplica o direito canónico uma vez que se trata de requisitos de
validade (art. 1625º CC). Já quanto à capacidade como vimos aos impedimentos
matrimoniais aplicam-se as duas ordens jurídicas, o casamento católico está sujeito
primeiramente aos impedimentos do dto canónico e também ao sistema de
impedimentos do dto civil (art. 1596º CC).
c) Forma – em geral é regulada pelo dto civil e pelo dto canónico. Assim quanto às
formalidades preliminares há ao mesmo tempo formalidade canónicas e civis a cumprir
(ex. processo preliminar que corre na conservatória do registo civil).
d) Causas de nulidade – apenas são competentes o dto e foro eclesiástico (art. 1625º CC).
Mas é ao dto civil que pertence, uma vez declarada a nulidade do casamento pelo
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A vontade dos contraentes não se pode manifestar de qualquer modo, de acordo com o
princípio geral da liberdade de forma, mas só através de certa forma, determinada pela lei.
Contudo, diferentemente da forma formal exigida para outros negócios/declarações de vontade
(documento escrito), a forma requerida para a validade do casamento consiste na “cerimónia de
celebração do ato”. As formalidades do casamento católico são regidas pelo direito canónico e
as formalidades do casamento civil estão previstas no art.115º CRCivil, sendo que este deve ser
celebrado perante o funcionário do registo civil.
Carateres do casamento como estado matrimonial
Unidade ou exclusividade - não é possível alguém contrair casamento com outra
pessoa sem dissolver o casamento anterior, ou seja, uma pessoa não pode estar casada ao
mesmo tempo com duas ou mais pessoas (1601º c) do CC). A bigamia é crime previsto e punido
nos termos do art.247º CP. Não é permitida a poligamia simultânea, no entanto, não existe nada
contra a poligamia sucessiva (segundas núpcias), essa é livremente admitida pelo direito civil e
pelo direito canónico (a morte dissolve o vínculo matrimonial).
Tendencial indissolubilidade - a doutrina tradicional falava em perpetuidade do
casamento para exprimir a ideia de que este só se dissolve quando algum dos cônjuges falecer.
Contudo, ao longo do tempo a tendência foi sempre no sentido de o divórcio ser facilitado. Face
à legislação atual faz sentido falar de perpetuidade do casamento em relação ao casamento
católico, mas quanto ao casamento civil faz mais sentido falar de dissolubilidade condicionada
no sentido em que não possam ser apostos ao casamento condição ou termo resolutivos, ou seja,
há um elenco de causas do divórcio e não se pode estipular outras para além das previstas no art.
1781º do CC.
Promessa de casamento
É um instituto com pouca aplicação prática e está regulado no art.º 1591ºCC - “O
contrato pelo qual, a título de esponsais, desposórios ou qualquer outro, duas pessoas se
comprometem a contrair matrimónio não dá direito a exigir a celebração do casamento, nem a
reclamar, na falta de cumprimento, outras indemnizações que não sejam as previstas no artigo
1594.º, mesmo quando resultantes de cláusula penal.”
Uma questão que se coloca é saber porque é que o legislador estabeleceu um regime
próprio para a promessa de casamento, quando há um regime geral para o contrato promessa?
Qual a particularidade da promessa de casamento? Ora, em termos gerais, na eventualidade de
não cumprimento do contrato promessa, há possibilidade de indemnização por todos os danos
causados. No entanto, na promessa de casamento, o contraente que não cumpre a promessa de
casamento não responde pela totalidade dos prejuízos causados, nos termos gerais do direito dos
contratos ou pela cláusula penal convencionada, mas responde apenas por certas despesas
(despesas feitas e obrigações contraídas na previsão do casamento), sem que as partes possam
estipular cláusula penal de montante superior – art.º 1594º do CC.
É de notar ainda que mesmo que a promessa de casamento fosse plenamente eficaz,
nunca dela resultaria uma obrigação de casar cujo cumprimento fosse judicialmente exigível.
Isto significa que embora o art.830º do CC admita, em geral, a execução específica das
obrigações derivadas dos contratos promessa, a natureza da obrigação assumida (natureza
pessoal – obrigação de casar) excluiria desde logo a possibilidade de recurso à execução
especifica. Concluímos que a especialidade do regime promessa de casamento está na menor
extensão do dever de indemnizar que deriva do não cumprimento dessas obrigações.
Se nos questionarmos sobe o porquê de a lei não querer que se vá muito longe no dever
de indemnizar resultante da violação da promessa de casamento a resposta é que o
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consentimento para o casamento seria menos livre. Pensemos que talvez para não ter de
indemnizar a totalidade dos prejuízos causados, para não ter de pagar uma indemnização
porventura muito avultada, o contraente que estivesse na disposição de romper a promessa
preferiria casar. Então em matéria de casamento a lei tem especial empenho em que o
consentimento dos nubentes seja livre, tanto quanto possível, até ao momento da celebração do
casamento (art. 1591º CC).
Sendo a promessa de casamento um verdadeiro negócio jurídico, dela resultarão, em
princípio os mesmos efeitos que derivam de qualquer promessa de contratar, resultando dela, se
for válida, duas obrigações de casar igualmente válidas. A garantia destas obrigações é, no
entanto, como já vimos mais frágil do que a garantia que a lei dá às obrigações que resultam de
outros contratos-promessa sendo que está excluída a execução em forma específica e o dever de
indemnizar que resulta do não cumprimento destas obrigações é circunscrito a certas obrigações
e despesas. Vamos agora tratar exatamente deste dever de indemnizar.
Quanto aos sujeitos da obrigação de indemnizar o art. 1594º/1 do CC não levanta
dúvidas, a indemnização pode ser pedida pelo esposado inocente, pelos pais deste ou por
terceiros que tenham agido em nome dos pais. E pode ser pedida ao nubente culpado que
rompeu a promessa sem justo motivo ou que por sua culpa deu lugar a que o outro a rompesse.
O art. 1594º/2 estabelece ainda a hipótese de haver obrigação de indemnização caso o
casamento não se realize por motivo de incapacidade de algum dos contraentes, se ele ou os
seus representantes houverem procedido com dolo. “Justo motivo” é um conceito indeterminado
que pertenceria à jurisprudência determinar a sua aplicação nos casos concretos, no entanto,
poderá dizer-se que há justo motivo quando, segundo as conceções que dominam na esfera
social dos nubentes, a continuação do noivado e a celebração do casamento não podem
razoavelmente ser exigidas a um ou ambos os esposados. Estas causas podem ser anteriores ou
posteriores à promessa de casamento, mas sendo anteriores, em regra, não devem ser
conhecidas do nubente que se retratou. A prova do justo motivo cabe ao réu (devedor) segundo
decorre das regras gerais (art. 799º/1 do CC).
Quanto ao objeto da obrigação de indemnizar suscitam-se alguns problemas. Sabemos
que o dever de indemnizar não se estende à totalidade dos prejuízos causados sendo restrito às
despesas feitas e às obrigações contraídas na previsão do casamento (art. 1594º/1 do CC)
ficando assim de fora os lucros cessantes, os restantes danos emergentes que não se reconduzam
a despesas feitas ou obrigações contraídas e os danos patrimoniais. A indemnização é fixada
segundo o prudente arbítrio do tribunal (art. 1594º/3 do CC) devendo atender-se no seu cálculo
“não só à medida em que as despesas e obrigações se mostrem razoáveis, perante as
circunstâncias do caso e a condição dos contraentes, mas também às vantagens que,
independentemente do casamento, umas e outras possam ainda proporcionar” – isto já acontecia
no regime geral da responsabilidade civil e significa que uma despesa que não se mostre
“razoável” não será consequência adequada do rompimento da promessa e que se as despesas
ainda proporcionarem vantagens ao nubente inocente o dano sofrido por ele será menor.
Para além da indemnização, outro efeito que a lei prevê sempre são as restituições dos
donativos feitos em virtude da promessa e na expectativa do casamento (art. 1592º e 1593º do
CC). Estas estão previstas em dois artigos distintos: art.1592º (casos gerais em que a promessa
de casamento não foi cumprida); 1593º (restituições em caso de morte).
Art.1592º CC - a lei diz que os donativos que os promitentes tenham feito um ao outro
ou recebido de um terceiro em virtude da promessa devem ser sempre restituídos. Há sempre
lugar a restituição dos donativos (restituição mútua), se a promessa não se cumprir, seja em caso
de retratação ou de incapacidade, tanto ao esposado culpado como ao inocente e tanto em
relação a donativos recebidos do outro esposado como aos recebidos de terceiro. Se a restituição
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em espécie não for possível, será o valor do mesmo restituído. Art. 1592º/2 do CC – “A
obrigação de restituir abrange as cartas e retratos pessoais do outro contraente, mas não as
coisas que hajam sido consumidas antes da retratação ou da verificação da incapacidade”.
Art.1593º CC - O promitente sobrevivo tem uma opção: de harmonia com as regras
gerais, pode exigir aos herdeiros do outro esposado os donativos que tenha feito, restituindo os
que recebeu; mas pode também conservar os donativos do falecido, perdendo, neste caso, o
direito de exigir os donativos que por sua parte foram feitos. No entanto, “O mesmo promitente
pode reter a correspondência e os retratos pessoais do falecido e exigir a restituição dos que este
haja recebido da sua parte”, ficando com tudo e isto devido ao caráter pessoal dos “donativos”
em questão sendo que a lei considera que as cartas e retratos constituem património moral.
O fundamento e os termos da obrigação de restituir os donativos decorrem do
preceituado no art. 1592º do CC. Verdadeiramente, o fundamento da obrigação de restituir
reside na ineficácia dos donativos (por não se ter verificado a condição a que eles se
subordinavam – casamento), mas a lei equipara a ineficácia, sob este aspeto, à nulidade ou
anulabilidade, obrigando os nubentes a restituir os donativos segundo os termos da
nulidade/anulabilidade do negócio jurídico. O art. 1592º do CC remete assim para o disposto no
art. 289º do CC segundo o qual a obrigação de restituir derivada da declaração de nulidade ou
da anulação do negócio jurídico se funde no princípio do enriquecimento sem causa e se meça
por este enriquecimento. Assim, mesmo não sendo este princípio o fundamento da obrigação,
ele explica alguns aspetos de tal obrigação de restituir. Por exemplo, se o nubente que recebeu
os donativos os alienar gratuitamente, e não puder tornar-se efetiva contra o alienante a
restituição do seu valor, fica o adquirente obrigado a restituir, mas só na medida do seu
enriquecimento (art. 289º/2 do CC). É ainda este princípio que explica que a obrigação de
restituir não abranja as coisas que hajam sido consumidas antes da retratação ou da verificação
da incapacidade (art. 1592º/2 do CC).
Por último, sobre o prazo de caducidade o art. 1595º do CC marca o prazo de um ano a
contar da data do rompimento da promessa ou da morte do promitente, para a ação destinada a
exigir a restituição dos donativos ou as indemnizações previstas no art. 1594º do CC.
19.10.2022
O casamento
Sem vontade de casar da parte de ambos os cônjuges e sem que esta vontade seja
manifestada, não pode haver casamento nenhum. É o consentimento que constitui a relação
matrimonial. O casamento é um contrato verbal, mas solene, inclusivamente a lei vai ao ponto
de nos dizer que palavras é que os cônjuges têm de pronunciar (art.155º/nº1 (a) e (e) CRegCiv).
Seria excessivo que se considerasse o casamento inválido quando proferidas palavras diferentes,
mas com o mesmo sentido.
O consentimento para casamento tem de obedecer a determinados requisitos. Umas são
gerais à generalidade dos negócios jurídicos e outras são especiais, relativas a este negócio.
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3. Perfeito, ou seja, não só as declarações de vontade têm de ser concordantes uma com a
outra, mas deve haver uma concordância entre declaração e vontade. Não podem existir
faltas de vontade.
legislador presume que há concordância entre declaração e vontade (art.1634º CC), ele
presume que não há falta de vontade, ou seja, há uma concordância entre declaração e vontade.
Se na eventualidade de um casamento é celebrado com falta de vontade subjacente a uma das
declarações, ele vai ser considerado anulável.
Em matéria de invalidades do casamento vigora o princípio da tipicidade (art.1627º CC).
Para efeitos de invalidade só valem as causa de invalidade previstas na lei para causas de
invalidade do casamento. Pode haver mil e uma causa de invalidade do negócio jurídico, mas
para o casamento só valem as que estão previstas na lei como invalidades do casamento. Estão
previstas no art. 1635º CC: reserva mental, declarações não sérias, erro na declaração,
simulação. Nestas situações o casamento é anulável por falta de vontade.
- Reserva mental (art.244ºCC): ela só vai relevar em matéria de invalidade quando for
conhecida do declaratário e nesse caso vai ser equiparada à simulação.
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4. Livre. O legislador também presume que o consentimento é livre (art.1624º CC). Dupla
presunção, porque presume que o consentimento é perfeito e livre. Quando falamos em
liberdade do consentimento estamos no âmbito dos vícios da vontade- erro e coação.
Ele é verdadeiramente livre quando: (1) a vontade se formou com exato esclarecimento,
ou seja, tenha sido esclarecida- quando isto não é cumprido falamos em erro; (2) a
vontade tenha sido formada com liberdade exterior (livre de pressões e ameaças) - aqui
falamos em coação.
Aqui só vamos falar do erro e da coação por força do princípio da tipicidade. Para além do
dito anterior, eles valem nos exatos termos na matéria do casamento.
Erro
Em matéria do casamento só vale o erro sobre qualidades essenciais da pessoa do
cônjuge.
Pressupostos: o erro é irrelevante a não ser que estejam preenchidos 4 pressuposto: (1)
tem de incidir sobre qualidades essenciais; (2) tem de ser próprio; (3) tem de ser
desculpável; (4) a circunstância sobre que incidiu o erro tem de ser determinante da
vontade de contrair casamento, tanto subjetiva como objetivamente. Art.1636º CC.
1. São as particularidades significativas, ou seja, que em abstrato sejam idóneas a
determinar o consentimento. Exemplo: prática de um crime difamante, doenças
contagiosas e hereditárias, nacionalidade, religião, etc.
2. O erro é próprio se não recair sobre qualquer requisito legal de validade ou
existência do casamento. Exemplo: Imaginemos que eu me vou casar com B e na
altura não sei, mas descobri depois que ele só tem 15 anos. Já vimos que se trata de
um impedimento à celebração do casamento. Eu estava em erro, mas como ele
insidia sobre a idade, ele incide sobre um requisito de validade. É mais fácil anular
um casamento por a pessoa não poder casar por não ter idade do que estar a
preencher os requisitos todos do erro. Isto resulta do princípio geral do concurso de
normas.
3. O erro indesculpável ou grosseiro, no qual não caísse uma pessoa normal, em
condições normais, não é relevante.
4. Se o erro não existisse, ele não teria querido casar. Esta essencialidade tem de
assumir 2 vertentes, uma subjetiva (na pessoa da pessoa que estava em erro) e outra
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Coação
26.10.2022
Capacidade matrimonial
Regra: todos têm capacidade para casar, salvo quando a lei vier dizer o contrário
(art.1600º CC).
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Art.1633º CC- que se não só a este caso, mas também se aplica a outros impedimentos.
É possível que o casamento de menor veja a sua anulabilidade sanada, caso se verifique o que
está neste artigo.
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Art.1633º CC.
Prazo (art. 1643º/nº1 (c) CC). O prazo é até 6 meses após a dissolução do casamento.
Qual casamento? Do 2º casamento, pois é aquele que quero anular com base neste
impedimento. Caso passe o prazo, o 2º casamento convalida-se, ou seja, passa a válido.
São aqueles que impedem a celebração do casamento. Caso, mesmo assim o casamento seja
celebrado, o casamento é válido, mas vai ter sanções mais leves que a anulabilidade. Aqui os
impedimentos absolutos e relativos estão todos misturados no artigo. Não geram a
anulabilidade, mas gerem outras sanções: art.1649º e 1650º CC.
02.11.2022
Permite que as partes pensem bem no que estão a fazer, as cláusulas que estão a aceitar
e serve para prova. Tendo também desvantagens, ou seja, é mais demorado, inclui mais
despesas.
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casamento civil, que é copia do casamento católico. Depois, serve para incutir nos cônjuges a
seriedade do ato.
3 tipos de formalidades:
A nossa lei exige que haja uma capacidade negocial por parte dos nubentes, tendo os
cônjuges de dar início a um processo preliminar do casamento (art.134º CRegCivil). Havendo
sanções se celebrarem um casamento, sem este processo preliminar, tendo este de ser sempre
realizado. O art.135º CRegCivil- no processo preliminar podem ambos os cônjuges estar
representados por procurados, contrariamente ao que acontece na própria celebração do
casamento, em que só um dos nubentes pode estar representado. A declaração deve conter os
elementos que aparecem no art.136º/nº2 CRegCivil e devem conter os elementos contidos no
art.137º CRegCivil (ter atenção o nº1, nº4). Depois do processo ser instruído com todos estes
elementos, é necessário publicitá-lo, ou seja, obter uma cópia (art.140º CRegCivil- publicidade
do processo). Este processo serve para aferir a capacidade matrimonial dos nubentes, sendo que
no final deste, o conservador, tem de aferir desta legitimidade, tendo de realizar algumas
diligências (art.143º CRegCivil- diligências a efetuar pelo conservador). Se o casamento for
sobre a forma civil, o próprio conservador, assegura que haja conhecimento sobre estas normas
(no casamento católico, deve o conservador acautelar o conhecimento destas normas).
Posteriormente a estas diligencias, é necessário ser proferido um despacho final (art.144º
CRegCivil), sendo que se uns dos nubentes tiverem manifestado a sua vontade de casar
civilmente sobre a forma religiosa ou pretendem casar catolicamente, o conservador tem,
necessariamente, de enviar um certificado para casamento, sendo que ser ele, o pároco não pode
celebrar o casamento (art.146º e 147º CRegCivil). Com o despacho final encerra-se esta fase
preliminar (esta é a situação normal).
Art.154º CRegCivil (intervenientes)- o casamento tem de ser celebrado com a presença de,
pelo menos, 2 testemunhas, sob pena de o casamento ser considerado anulável, nos termos do
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Art.1631º (c) CC (“é anulável o casamento celebrado sem a presença de testemunhas, quando
exigida por lei, que é o caso”).
Art.155º CRegCivil (solenidade). Diz-se aqui tudo o que o conservador tem de dizer para
celebrar o casamento. Se faltar esta declaração do conservador, o casamento existe, pois é a
declaração dos nubentes que faz o casamento.
Art.1º e 2º CRegCivil (conjunto de atos sujeitos a registo). Se alguns destes atos não forem
registados, eles são inatendíveis, ou seja, eles até podem ser válidos, mas não podem ser
invocados (exceção das convenções antinupciais). Art.1669º CC. Continua a ser um
impedimento matrimonial o presente no art.1601º (C), mesmo não tendo sido registado.
Art.190º CRegCivil- não há um registo por assento, ele faz-se por menção no assento do
casamento (exceção).
Os assentos podem ser por inscrição (a entidade faz o registo do casamento que presenciou)
ou por transcrição (é feito por entidade que não foi a que a presenciou). Art.52º e 53º
CRegCivil.
Os averbamentos são atualizações. Os assentos são inalteráveis, ou seja, não posso estar a
mudar (art.62º CRegCivil).
Art.1670º CC (efeito retroativo do registo). A lei salvaguarda aqui o registo feito por
transcrição (feito com base no documento que enviem ao conservador, pois ele não
esteve presente, e corre algum lapso temporal) estabelecendo 7 dias para ocorrer o
registo. Os efeitos são retroativos, mas ficam ressalvados os direitos de terceiro que
sejam compatíveis com direitos e deveres de natureza pessoal dos cônjuges ou filhos.
Exemplo: no decurso do casamento, há atos que os cônjuges não podem celebrar
sozinhos e precisam do consentimento do outro, imaginemos que antes do registo, um
dos cônjuges estabelece um contrato que necessitava de consentimento para celebrar o
negócio, o outro cônjuge vem dizer que o negócio não é válido, mas este terceiro com
quem foi celebrado o negócio fica aqui protegido, pois existe um direito patrimonial do
terceiro que é compatível com o direito pessoal do cônjuge.
Pequenos desvios
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09.11.2022
INVALIDADE DO CASAMENTO
® Inexistência de casamento
Regime da inexistência
® Anulabilidade do casamento
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Regime da anulabilidade
A anulabilidade não opera ipso iure (pela própria lei), não sendo invocável para
qualquer efeito, judicial ou extrajudicial, enquanto não for reconhecida por sentença em ação
especialmente intentada para esse fim (art.1632º). Sendo que a ação de anulação só pode ser
proposta por certas pessoas (art.1639º a 1642º) e dentro de certos prazos (art.1643º a 1646º),
considerando-se sanada a anulabilidade e válido o casamento em determinadas hipóteses.
Não há só um, mas vários regimes de anulabilidade. Pode dizer-se que há na lei 3
regimes diferentes de anulabilidade, consoante os interesses em vista dos quais a anulabilidade é
estatuída.
Há, todavia, dentro desta ampla esfera de casos, ainda uma distinção a fazer:
® Casamento putativo
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Pressupostos:
Efeitos:
Princípio geral
Caso os cônjuges estavam ambos de boa-fé, o casamento produz todos os feitos entre
eles até à data da declaração de nulidade ou anulação (art.1647º/nº1). Exemplo: Se A,
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Caso só um dos cônjuges estava de boa-fé, o casamento inválido produz (em relação a
ambos os cônjuges) os efeitos que forem favoráveis, concretamente, ao cônjuge de boa-fé
(art.1647º/nº2). Exemplo: Se A, casado com B, faleceu, e B foi herdeiro de A, o efeito
sucessório mantém-se se B era o cônjuge de boa-fé; a convenção antinupcial terá efeitos se o
regime estipulado beneficiar o cônjuge de boa-fé (art.1716º).
Caso ambos os cônjuges estavam de má-fé, o casamento não tem eficácia putativa em
relação a eles.
Caso ambos os cônjuges estavam de boa-fé, o casamento inválido produz todos os seus
efeitos, também em relação a terceiros, até ao transito em julgado da sentença de anulação do
casamento civil ou do averbamento da decisão do Tribunal eclesiástico que declarou a nulidade
do casamento (art.1647º/nº1 e 3).
Caso só um dos cônjuges estava de boa-fé, o art.1647º/nº2 faz ainda uma distinção.
Tratando-se de relações que, estabelecendo-se entre os próprios cônjuges, vão afetar terceiros
nos seus interesses, os respetivos efeitos produzem-se ou não conforme forem favoráveis ou
desfavoráveis ao cônjuge de boa-fé. Tratando-se de relações que se estabeleçam diretamente
entre cada um dos cônjuges e terceiros, mas que estejam dependentes do estado pessoal do
casado a solução é diversa. Aqui não se justificaria que fosse aqui decisiva a distinção entre boa
e má-fé, só se produzindo os efeitos favoráveis àquele. O terceiro não merece mais ou menos
proteção porque esteja de boa ou má-fé o cônjuge com quem contratou. Não se tratando aqui de
relações abrangidas pelo art.1647º/nº2 o princípio a aplicar deve ser o da invalidade, pelo que
o casamento não produz aqui quaisquer efeitos.
Caso ambos os cônjuges estejam de má-fé, o casamento não produz efeitos em relação a
estes e, por conseguinte, também não os produz em relação a terceiros.
CASAMENTO CATÓLICO
Consentimento
O cânone 1095º considera incapazes de contrair matrimónio por não poderem prestar
consentimento válido todos o que se encontrem em qualquer das 3 situações aí previstas:
Os que carecem de suficiente uso da razão (nº1), o qual se presume a partir dos 7 anos
(cânone 97º) Abrangem-se aqui tanto as doenças mentais que revestem carácter
permanente (exemplo: esquizofrenia), como, segundo alguns autores, as perturbações
mentais transitórias (exemplo: alcoólicos);
Os que sofrem de grave defeito de discrição do juízo acerca dos direitos e deveres
essenciais do matrimónio, que se devem dar e receber mutuamente (nº2)
Abrangem-se aqui as perturbações que retiram ao sujeito a capacidade crítica, ou seja, a
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À semelhança do que acontece no direito civil, o direito canónico exige igualmente que o
consentimento para o casamento seja atual, pessoal, puro e simples, perfeito e livre.
O casamento contraído sob condição de um facto futuro não é válido (cânone 1102º/nº1),
mas o nº3 permite que se contraia casamento sob condição de um facto passado ou presente com
autorização escrita do Ordinário do lugar, sendo o casamento válido ou não conforme exista ou
não o objeto da condição (nº2).
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O cânone 1103º considera inválido o casamento celebrado por violência ou medo grave
incutido por uma causa externa, ainda que não dirigido a extorquir o consentimento, para se
libertar do qual alguém se veja obrigado a contrair matrimónio.
Capacidade
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O casamento católico urgente pode ser celebrado sem que seja exibido o certificado do
art.151º/nº1 CRegCivil perante o respetivo pároco nos casos de casamento in articulo mortis, na
iminência de parto ou cuja imediata celebração seja expressamente autorizada pelo ordinário
próprio por motivo de ordem moral (art.1599º CC e 151º/nº2 CRegCivil). Estes casamentos
urgentes podem ser celebrados independentemente de processo preliminar. No entanto, a
dispensa de processo preliminar não altera as exigências da lei civil quanto à capacidade
matrimonial dos nubentes.
Celebrado o casamento urgente, o pároco lavra, nos termos gerais, o assento paroquial,
de que deve enviar duplicado à conservatória. A transcrição, porém, não tem agora de ser feita
no prazo do art.172º/nº1, salvo se já tiver corrido o processo preliminar. Se não for esse o caso,
é preciso que corra primeiro o processo preliminar (que não foi realizado anteriormente à
cerimónia do casamento urgente, mas não é dispensado) substituindo-se a declaração dos
nubentes pelo duplicado ou pela certidão do assento canónico (art.173º). Só depois é que se faz
a transcrição, nos 2 dias seguintes ao despacho final do conservador (art.172º/nº2). Deve a
transcrição ser recusada nos casos previstos no art.174º/nº1 (e) CRegCivil.
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É o caso das pessoas que viviam em união de facto, mas se supunha que eram casadas,
assim permite-se o seu casamento secreto para se evitar o escândalo que poderia resultar da
celebração pública do ato (art.170º (a) e 296º/nº2 CRegCivil).
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diocese (cânone 1165º). A sanatio in radice do casamento católico nulo, mas transcrito, é
averbada ao respetivo assento, mediante comunicação do pároco (art.70º/nº1 (d) e 177º/nº1
CRegCivil).
16.11.2022
OS EFEITOS DO CASAMENTO
Efeitos pessoais
A matéria está regulada nos art.1671º a 1689º CC, sendo que estas disposições gerais não
regulam apenas os efeitos pessoais do casamento, mas também o regime ou estatuto
matrimonial “primário”, ou seja, os efeitos patrimoniais do casamento independentes do regime
de bens: administração de bens dos cônjuges, poderes dos cônjuges sobre os bens que integram
as várias massas patrimoniais, partilha do casal.
O art.1671º enuncia dos 2 princípios fundamentais por que se rege a matéria dos
efeitos pessoais do casamento: o princípio da igualdade dos direitos e deveres dos cônjuges
(nº1) e, em correlação, o da direção conjunta da família (nº2).
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dever de “acordar sobre a orientação da vida em comum tendo em conta o bem da família
e os interesses de um e outro”. Trata-se de um dever pessoal dos cônjuges, a acrescer aos 5
deveres referidos no art.1672º. Claro que os cônjuges podem não chegar a um acordo sobre
certo ato ou assunto da vida conjugal comum, mas devem ter disponibilidade para procurarem
um acordo. Violaria este dever o cônjuge que quisesse decidir por si em assuntos da vida
matrimonial, recusando deliberadamente qualquer disposição para chegar a acordo com o outro.
O objeto do acordo deve versar sobre a orientação da vida em comum e só sobre ela e o poder
de executar a orientação acordada pertence a qualquer dos cônjuges. Note-se que a lei apenas
obriga os cônjuges a acordar sobre a orientação da vida em comum, nomeadamente, a repartição
dos recursos e o decurso da vida, a residência de família, o planeamento familiar, a repartição de
funções, etc. Mas fica fora da vida pessoal, a vida privada do marido e da mulher. Pode
assim cada um dos cônjuges, sem ter de ouvir o outro, vestir-se ou pentear-se como quiser,
escolher os seus amigos, professar a sua religião, etc. O casamento não limita os direitos de
personalidade dos cônjuges, salvo o direito à liberdade sexual, pois cada um está obrigado em
face do outro ao “débito conjugal”, assim como a não ter relações sexuais com terceiros. Neste
quadro também se integra o art.1677ºD, segundo o qual cada um dos cônjuges pode exercer
qualquer profissão ou atividade sem o consentimento do outro. Pode também cada um dos
cônjuges exercer a atividade que quiser. O termo abrange qualquer espécie de atividade:
económica, cívica, política, cultural, social, religiosa, desportiva, etc.
Sendo estes os princípios, é de notar que eles têm de se conciliar com o dever de os
cônjuges acordarem sobre a orientação da vida em comum, tendo em conta o bem da
família e os interesses de um ou outro (art.1671º/nº2). O exercício por um dos cônjuges, sem o
acordo do outro, de profissão pouco decorosa ou de atividade muito perigosa, assim como a
assunção de compromissos que impliquem proselitismo excessivo ou grande empenhamento e
disponibilidade de tempo, podem configurar, nas circunstâncias do caso e tendo em conta a
personalidade e a suscetibilidade do outro cônjuge, uma violação grave dos deveres de
cooperação ou de respeito, e contribuir decisivamente para a rutura da vida conjugal.
Cada um dos cônjuges é livre, em princípio, de exercer a profissão ou atividade que quiser, mas
quando se proponha exercer certa profissão ou atividade não deve esquecer de que não é só.
A igualdade tem o seu preço, pois os cônjuges podem estar em desacordo sobre a
orientação da vida familiar e, não cabendo a decisão a qualquer deles, há que saber como se
resolve o diferendo. É necessário saber se o juiz deve intervir e em que termos. Em princípio, o
nosso direito recusa a intervenção judicial. No âmbito das relações pessoais entre os cônjuges
apenas em 3 casos é que a lei permite que o conflito entre os cônjuges seja decidido pelo
Tribunal: nos casos de desacordo sobre a fixação ou alteração da residência de família
(art.1673º/nº3); sobre o nome próprio ou os apelidos dos filhos (art.1875º/nº2) e sobre
questões de particular importância relativas ao exercício das responsabilidades parentais
(art.1901º/nº2). São casos em que é especialmente necessária ou urgente a solução do conflito.
À parte estes casos, o desacordo deve ser resolvido dentro da família, pelos próprios cônjuges.
O direito recusa-se a intervir e faz apelo ao sentido de responsabilidade dos cônjuges e à sua
capacidade de autorregulamentação da família.
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é causa de divórcio, a violação não vale por si mesma. Sabendo que o cumprimento dos deveres
referidos corresponde ao que se espera de uma “plena comunhão de vida”, a verificação de
incumprimentos importantes dos deveres conjugais (art.1781º (a) a (c)) faz acreditar, segundo a
lei, que o vínculo matrimonial se rompeu. Segundo a al.d, a prova de quaisquer factos que
constituem violações graves no quadro dos deveres conjugais, com uma intensidade ou uma
repetição grave, pode convencer o Tribunal de que o projeto de vida em comum está
definitivamente terminado. É a rutura que justifica a dissolução formal do casamento. A rutura
definitiva do vínculo deve apresentar-se como objetiva, a justificar plenamente o regime de
legitimidade ativa previsto no art.1785º/nº1: qualquer dos cônjuges pode pedir o divórcio.
® Dever de respeito:
Só são violações do dever de respeito atos ou comportamentos que não constituam
violações diretas de qualquer dos outros deveres mencionados no art.1672º. O dever de
respeito é um dever ao mesmo tempo negativo e positivo. Como dever negativo ele é o
dever que incumbe a cada um dos cônjuges de não ofender a integridade física ou
moral do outro, compreendendo-se na “integridade moral” todos os bens ou valores da
personalidade cuja violação constituía “injúria”: a honra, a consideração social, o amor
próprio, a sensibilidade e ainda a suscetibilidade pessoal. Em segundo logo, é ainda o
dever de cada um dos cônjuges não se conduzir na vida de forma indigna, desonrosa e
que o faça desmerecer no conceito público, estando aqui em causa as “injúrias
indiretas”. Embora não dirigidas ao outro cônjuge, a relevância destas injurias funda-se
na ideia de que o casal é uma “unidade moral”, de tal forma que a honra, a dignidade e
a reputação de um dos cônjuges são ao mesmo tempo a dignidade, a honra e a
reputação do outro. Se um dos cônjuges se embriagar ou se drogar com frequência, ou
cometer crime infamante, está a violar o seu dever de respeito ao outro cônjuge.
® Dever de fidelidade
Trata-se de um puro dever negativo. O dever de fidelidade obriga cada um dos
cônjuges a não ter relações sexuais consumadas (cópula e ainda o coito anal e oral)
com outra pessoa que não seja o seu cônjuge. O adultério supõe ainda um elemento
subjetivo, a intenção ou, pelo menos, a consciência de violar o dever de fidelidade.
Assim, não haverá violação deste dever se o cônjuge que teve relações com terceiro só
o fez, por exemplo, por erro ou sob coação. Por outro lado, também a tentativa de
adultério constitui violações deste dever. E independentemente da prática de relações
sexuais, consumadas ou tentadas, são ainda violações a conduta licenciosa ou
desregrada de um dos cônjuges nas suas relações com terceiro, a ligação
sentimental e a correspondência amorosa que mantém com ele, etc.
® Dever de coabitação
“Coabitar” não quer dizer apenas habitar conjuntamente, na mesma casa, ou viver em
economia comum, mas viver em comunhão de leito, mesa e habitação.
a. Comunhão de leito: o casamento obriga os cônjuges ao “débito conjugal”, sendo
que o casamento implica uma limitação lícita do direito à liberdade sexual, no
duplo sentido de que a pessoa casada fica obrigada a ter relações sexuais com o
seu cônjuge e a não ter essas relações com terceiros. A recusa constitui violação
do dever de coabitação, se não for justificada por impotência, doença de um ou
outro dos cônjuges, etc.
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Nome e nacionalidade
Nome
Os efeitos do casamento quanto aos apelidos dos cônjuges estão regulados no art.1677º
a 1677ºC.
Exemplo: Maria Alves casa com João Monteiro. Os cônjuges podem: (1) manter os seus
apelidos sem qualquer alteração decorrente do casamento; (2) pode a mulher acrescentar ao
seu o apelido Monteiro; (3) pode o homem acrescentar o apelido Alves; (4) pode a mulher
juntar ao seu o apelido do marido e este intercalar no seu nome o apelido dela, ficando a ser
Alves Monteiro o nome do casal; (5) pode o marido acrescentar ao seu o apelido da mulher e
esta intercalar no seu nome o do marido, ficando os cônjuges a chamar-se os 2 Monteiro Alves;
(6) cada um dos cônjuges pode acrescentar ao seu o apelido do outro, ficando a ser Maria
Alves Monteiro e João Monteiro Alves.
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Nacionalidade
23.11.2022
Efeitos patrimoniais
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Os bens do casal são “bens comuns”, supondo um regime específico para a sua
administração, porque não há regras gerais de direito civil sobre o assunto. Por outro lado,
mesmo quando os bens pertencem a um ou a outro cônjuge, as circunstâncias de grande
proximidade em que eles vivem - “a comunhão de vida” - recomendam que um dos cônjuges
tenha poderes de administração sobre os bens do outro, ou tenha poderes exclusivos sobre bens
que são dos dois.
As regras sobre administração dos bens do casal são imperativas (art.1699º/nº1 (c)). Esta
imperatividade não exclui que um cônjuge ceda ao outro todos ou em parte dos seus poderes
sobre bens próprios ou bens comuns, desde que o faça por mandato, que é livremente revogável
(art.1678º/nº2 (g) e 1170º/nº1).
i. Quanto aos BENS PRÓPRIOS cada cônjuge administra os seus próprios bens
(art.1678º/nº1). No entanto, existem algumas exceções a esta regra nos termos do
nº2, sendo que um dos cônjuges pode administrar bens do outro:
a. Quando se trate de móveis que, embora pertencentes ao outro cônjuge, são
exclusivamente utilizados como instrumento de trabalho pelo cônjuge
administrador (al. e);
b. No caso de ausência ou impedimento do outro cônjuge (al. f);
c. Quando o outro lhe confira, por mandato revogável, poderes de administração
(al. g).
ii. Quanto aos BENS COMUNS temos a regra de administração conjunta
(art.1678º/nº3, 2ª parte): ambos os cônjuges são administradores do património
comum. Constitui exceção a este princípio a concessão de poderes de
administração ordinária a qualquer dos cônjuges (art.1678º/nº3, 1ª parte).
Constituem também desvios àquela regra os casos dos bens que, embora comuns,
devem ser administrados por um dos cônjuges, quer porque têm uma ligação
privilegiada com esse cônjuge, quer porque o outro esteja ausente ou impedido de
os administrar ou tenha conferido àquele, por mandato revogável, poderes de
administração. Assim, e embora se trate de bens comuns, o nº2 do art.1678º
atribui a cada um dos cônjuges a administração exclusiva:
a. Dos proventos que receba pelo seu trabalho (al. a), embora os bens sejam
comuns por força do regime que vigora no casamento (art.1724º (a) e 1734º);
b. Dos seus direitos de autor (al. b), tratando-se de direitos patrimoniais de autor,
pois os direitos pessoais de autor são incomunicáveis, como “direitos
estritamente pessoais” e administrados pelo titular (art.1733º/nº1 (c));
c. Dos bens comuns que levou para o casal ou adquiriu depois do casamento a
título gratuito e dos sub-rogados em lugar deles (al. c);
d. Dos bens que tenham sido doados ou deixados a ambos os cônjuges com
exclusão da administração do outro cônjuge, salvo se se tratar de bens doados
ou deixados por conta da legitimidade desse outro cônjuge (al. d);
e. Dos bens moveis comuns por ele exclusivamente utilizados como instrumentos
de trabalho (al. e);
f. De todos os bens do casal, se o outro cônjuge se encontrar ausente ou impedido
de administrar (al. f). O texto da lei refere-se apenas aos bens próprios do outro
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Nos casos em que o cônjuge tem o poder, por força da lei, de administrar bens que não
são seus- art.1678º/nº2 (a) a (f)- o administrador não é obrigado a prestar contas da sua
administração e só responde pelos atos intencionalmente praticados em prejuízo do casal ou do
outro cônjuge (art.1681º/nº1). Nos outros casos, o administrador de bens comuns ou bens
próprios do outro cônjuge é obrigado a prestar constas da administração, por aplicação das
regras do mandato (art.1681º/nº2 e 3 e art.1161 (d)). No entanto, o administrador só é
obrigado a prestar contas e a entregar o saldo dos últimos 5 anos.
Por outro lado, o administrador responde pelos atos e pelas omissões nos termos em que o
mandatário responde. E responde mesmo como um possuidor de má-fé, no caso da parte final
do art.1681º/nº3, ou seja, responde pela perda da coisa mesmo que tenha agido sem culpa
(art.1269º), deve restituir os frutos que não colheu, mas que um proprietário diligente poderia
ter obtido (art.1271º) e perde, em qualquer caso, as benfeitorias voluptuárias que tenha feito
(art.1275º/nº2).
O cônjuge que não tem a administração dos bens não está inibido de tomar providencias a
ela respeitantes, se o outro se encontrar, por qualquer causa, impossibilitado de o fazer, e do
retardamento das providencias poderem resultar prejuízos (art.1679º). Visam-se aqui apenas os
casos de impossibilidades temporárias, ficando o cônjuge não administrador com poderes de
administração, mas só para o efeito de poder requerer as providencias necessárias.
Ilegitimidades conjugais
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(b) onerar bens imoveis, próprios ou comuns, através da constituição de direitos reais de
gozo ou de garantia, e ainda dar de arrendamento esses bens ou constituir sobre eles outros
direitos pessoais de gozo (art.1682ºA/nº1 (a));
(f) onerar a casa de morada de família através da constituição de direitos reais de gozo ou
de garantia, e ainda dá-la de arrendamento ou constituir sobre ela outros direitos pessoais de
gozo (art.1682ºA/nº2);
(i) alienar os moveis, próprios ou comuns, utilizados conjuntamente pelos cônjuges como
instrumento comum de trabalho (art.1682º/nº3 (a)).
(j) alienar os seus bens moveis e móveis comuns, se não for ele a administrá-los
(art.1682º/nº2 e 3 (b));
Aqui, as ilegitimidades conjugais têm muita menor amplitude, pois são aqui restritas à
prática dos atos mencionados nas anteriores alíneas e, f, g, h, i, j. Sendo que a prática dos
restantes atos é permitida a qualquer dos cônjuges.
CONSENTIMENTO CONJUGAL
O consentimento conjugal para a prática dos atos que dele legalmente carecem deve ser
especial para cada um desses atos (art.1684º/nº1). A lei pretende que o cônjuge que dá o
consentimento pondere e reflita sobre a oportunidade de cada ato. O que não obsta a que o
consentimento possa ser expresso ou tácito.
A autorização do cônjuge pode ser revogada quando o ato para que foi concedida não
estiver começado, mas se tiver tido começo a execução, o cônjuge só a poderá revogar
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Poderes dos cônjuges relativamente aos bens que integram as várias massas patrimoniais
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faça dos seus bens próprios ou dos moveis comuns que não administre
ou que se refere o artigo anterior é anulável, nos termos do
art.1687º/nº1. Não pode também cada um dos cônjuges dispor dos bens
do outro, quer esteja quer não esteja na administração desses bens, sob
pena, respetivamente, de anulabilidade (art.1682º/nº3 (b) e 1687º/nº1)
ou de nulidade do ato (art.892º e 1687º/nº4), a não ser que, estando na
administração dos bens, o respetivo ato de disposição seja “ato de
administração ordinária” (art.1682º/nº3 (b)).
Regime da separação: cada um dos cônjuges pode dispor livremente
dos seus bens próprios se os administrar, salvo nos casos referidos na
alínea a do art.1682º/nº3. Mas não pode dispor dos bens do outro, sob
pena de nulidade do ato (art.892º e 1687º/nº4).
® Poderes de disposição mortis causa: Cada um dos cônjuges só pode dispor, para depois
da morte, dos seus bens próprios e na sua meação dos bens comuns (art.1685º). As
disposições são feitas durante a vida dos cônjuges, mas, por definição, só pretendem
produzir os seus efeitos depois da morte do disponente e a morte tem a consequência de
dissolver o matrimónio. Assim, não se justifica a imposição de restrições aos poderes
normais de cada cônjuge proprietário, nos interesses da suspensão económica do outro
cônjuge e da família.
30.11.2022
O regime da responsabilidade por dívidas: a) A legitimidade para contrair dívidas; b) A
responsabilidade pessoal; c) A
responsabilidade patrimonial (bens comuns ou próprios); d) As compensações devidas (art.
1697.º).
- Termo das relações patrimoniais. A partilha (arts. 1688.º e 1689.º): operações da partilha.
06.12.2022
- Os regimes de bens.
- As convenções antenupciais: a) A liberdade de convenção; os seus limites. aa) As limitações à
liberdade de celebração;
bb) As limitações à liberdade da fixação do conteúdo: b) O conteúdo possível das convenções; o
seu regime; as doações
para casamento; c) O princípio da imutabilidade.
- O princípio da imutabilidade: os argumentos a favor e contra o princípio; âmbito do princípio.
- Contratos entre cônjuges.
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Catarina Serra | A91478
2022/2023
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