Você está na página 1de 11

10.

MAIS FRUTOS QUE OS DEMAIS

Mas, pela graça de Deus, sou o que sou; e a sua graça, que me foi concedida, não se tornou
vá; antes, trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça

de Deus comigo. 1Co 15.10

Nesse versículo, vemos uma daquelas afirmações que, na boca de qualquer outro, seria
tomada como pretensiosa e ar- rogante, mas vinda do apóstolo Paulo, apenas nos confronta.
Paulo diz claramente que ele trabalhou muito mais sque todos os outros apóstolos. Ele diz que
a graça que ele recebeu não se tornou vá, mas se expressou no trabalho que desenvolveu.

Partindo do princípio de que Paulo não trabalhava pelo simples objetivo de preencher seu
tempo, podemos dizer que trabalho aqui é sinônimo de fruto. Além disso, o trabalho de Paulo
era unicamente abrir igrejas, ganhar almas, fazer dis- cípulos e edificar os santos. Isso significa
que ele abriu mais igrejas que todos os outros apóstolos. Podemos, então, afirmar que Paulo
produziu mais frutos que todos os outros apóstolos.
154

O LUCA O SUPERVISOR

que Paulo fazia algumas afirmações que em nossa cultura atual nos parece sem modéstia. Aos
mesmos coríntios, ele disse falava em linguas mais que todos eles (1Co 14.18). E na pas-
sagem acima, diz que trabalhou mais que todos os apóstolos. Mas Paulo não era um tolo
pretensioso, ele apenas colocou os fatos como realmente são.

Assim, pergunto: por que Paulo conseguiu produzir mais frutos que os demais apóstolos? Que
atitude sua fez com que se diferenciasse dos demais? Que escolhas ele fez que os outros não
fizeram?

Gostaria de propor algumas possibilidades à luz do Novo Testamento. Antes, porém, de


meditarmos nelas, é preciso descartar fatores que, definitivamente, não fizeram diferença entre
Paulo e os demais apóstolos. Em primeiro lugar, não po- demos dizer que Paulo era mais santo
que os demais. Todos os apóstolos eram santos homens do Senhor, assim como Paulo.
Também entre os apóstolos, todos eram cheios do Espírito, fa- ziam milagres e tinham a
revelação do evangelho. Certamente. tinham um mesmo padrão de caráter e todos tinham
grande reconhecimento porque haviam estado com Jesus. Nada disso foi um diferencial entre
os apóstolos. No entanto, Paulo diz que produziu mais frutos que todos eles.

A primeira resposta que nos vem à mente quando coloca- mos essa questão é que Paulo era
mais capaz e mais culto que os demais apóstolos, e esse foi o diferencial. Poderia acreditar
nessa possibilidade se o próprio apóstolo não a tivesse demolido completamente na mesma
carta aos Corintios.
MAIS FRUTOS QUE OS DEMAIS
155

Ele disse que sua pregação não foi feita com ostentação de linguagem ou de sabedoria, porque
ele decidiu nada saber entre os irmãos, senão a Jesus Cristo, e este crucificado. Além disso,
ele diz que foi em fraqueza, temor e grande tremor que pregou o evangelho. Afirma
categoricamente que sua palavra e sua pregação não consistiram em linguagem persuasiva de
sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder (1Co 2.1-4). Vemos aqui um homem
que não dependia de diplomas nem de retórica humana. Se há algum segredo do sucesso de
Paulo, deve ser completamente espiritual.

É triste, mas muitos ainda são naturais em seu entendimento das coisas espirituais. Eles
imaginam que a obra de Deus é fei- ta pela capacidade humana, pela eloquência e grande
cultura. Imaginam que aqueles que falam mais idiomas ou possuem mais diplomas serão,
necessariamente, mais úteis para Deus. Essa é a visão carnal da obra feita pelo braço do
homem. Se Paulo possuía algumas dessas habilidades e capacidades, ele considerou tudo
como refugo para conhecer a Cristo.

Paulo diz claramente que ele é o que é e fez o que fez pela graça de Deus. Isso coloca todos
nós no mesmo nível. Se tudo depende da graça, então qualquer um de nós pode ser grande-
mente usado nas mãos de Deus.

Se desejamos frutificar em abundância, precisamos vasculhar a Palavra de Deus em busca do


segredo do sucesso ministerial de Paulo. Mas, ao fazer isso, não estou em nenhum momento
diminuindo a importância dos demais apóstolos ou insinuando que não foram grandes homens
de Deus. Quero deixar bem claro que todos eram santos e ungidos por Deus. No entanto,
156

O LUGAR DO SUPERVISOR

permanece o fato de que Paulo trabalhou e frutificou mais que todos eles. Qual a razão disso?
O que Paulo fez? Que escolhas ele fez que os demais não fizeram? O que pode explicar sua
frutificação abundante?

Gostaria de propor sete respostas para essas questões. Elas são um desafio para termos um
ministério de impacto como Paulo teve.

1. PAULO CONSEGUIA EQUILIBRAR A VIDA NATURAL COM A VIDA ESPIRITUAL

Em Atos 6, lemos a respeito de um incidente que e culminou no estabelecimento do ministério


diaconal,

Ora, naqueles dias, multiplicando-se o nú- mero dos discípulos, houve murmuração dos
helenistas contra os hebreus, porque as viú- vas deles estavam sendo esquecidas na distri-
buição diária. Então, os doze convocaram a comunidade dos discípulos e disseram: Não é
razoável que nós abandonemos a palavra de Deus para servir às mesas. Mas, irmãos, escolhei
dentre vós sete homens de boa re- putação, cheios do Espírito e de sabedoria, aos quais
encarregaremos deste serviço; e, quanto a nós, nos consagraremos à oração e ao ministério
da palavra. At 6.1-4
MAIS FRUTOS QUE OS DEMAIS

157

Nessa passagem, vemos que os apóstolos decidiram se dedicar apenas à oração e à Palavra.
Em minha opinião, esse foi o embrião da visão clerical que, séculos mais tarde, as- solou a
Igreja. É com base nisso que surgiram os mosteiros e os monges que se separavam de tudo
para se dedicarem à oração e à Palavra. Mesmo hoje, essa é a base para que mui- tos
pastores simplesmente se recusem a atender e cuidar das ovelhas. Muitos missionários
justificam a falta de frutos pelo fato de terem de trabalhar secularmente. Imaginam que a única
maneira de servir a Deus plenamente é abandonando toda atividade considerada natural, Mas
não foi essa a história de Paulo nem a de Jesus.

Não estou dizendo que não seja bom e até desejável que os pastores se dediquem à oração e
à Palavra. Eu creio nisso. A questão é que Paulo diz claramente que ele sempre trabalhou com
as próprias mãos para se manter enquanto abria as igrejas.

Porque, vos recordais, irmãos, do nosso labor e fadiga; e de como, noite e dia labutando para
não vivermos à custa de nenhum de vós, vos proclamamos o evangelho de Deus.

1Ts 2.9

Ele diz que trabalhou com labor e fadiga, dia e noite, para se manter enquanto pregava o
evangelho. Não é irônico que aqueles que estavam completamente dedicados à oração e à
Palavra não tenham trabalhado mais que Paulo, que, segundo parece, nem tinha muito tempo,
pois trabalhava noite e dia? Aquele que trabalhava fabricando tendas o dia todo acabou
158

O LUGAR DO SUPERVISOR

abrindo mais igrejas que aqueles que estavam no quarto orando

estudando a Palavra. Se você é lider, pode servir a Deus na mesma unção de Paulo ou dos
diáconos de Jerusalém. Eles trabalhavam e serviam a Deus debaixo de uma forte unção. Não
coloque seu trabalho secular como desculpa para não frutificar.

Para o serviço natural da igreja, os apóstolos em Jerusalém colocaram os sete diáconos.


Contudo, parece que os sete diá conos começaram a ter maior primazia e unção. Observe que,
no capítulo seguinte, Estevão ganha proeminência e é apedre- jado porque estava
incomodando os fariseus. Depois, Filipe, outro diácono, é trasladado para pregar ao eunuco e
também em Samaria, onde um avivamento acontece. Os diáconos não tinham tanto tempo
para se dedicar à oração e à Palavra, mas tiveram um impacto espiritual impressionante.

Creio que esse foi o primeiro segredo da frutificação de Paulo. Ele não fazia separação entre
serviço secular e sagrado. Tudo era sagrado e, enquanto fazia o secular, edificava também o
espiritual. Isso se parece mais com a atitude de Jesus, pois não o vemos se separando
completamente das pessoas para se dedicarà oração e à Palavra. Por incrível que pareça,
quem agia assim eram os fariscus. Eles é que viviam por conta de orar e estudar a lei.

Infelizmente, esta tem sido a mentalidade atual das igrejas em célula: afastar o pastor das
ovelhas. A visão celular não é para aumentar a distância entre a ovelha e o pastor, mas
aproximá los. Algumas igrejas em célula se tornaram piores que as antigas
MAIS FRUTOS QUE OS DEMATS

159

igrejas denominacionais, onde uma ovelha simplesmente não consegue ter contato com o
pastor. Muitos pastores perderam o "cheiro" de ovelha.

A atitude de Paulo serve também de advertência para os membros de igrejas das grandes
cidades, que sempre se recusam a se envolver nas células com a desculpa de que não têm
tempo. Paulo trabalhava em jornada dupla e ainda assim frutificou mais que os demais
apóstolos. Nosso trabalho não pode ser motivo para nos recusarmos a trabalhar para Deus.

2. PAULO SE DISPOS MAIS

PRONTAMENTE A SER ENVIADO

Em Atos 1.8, o Senhor disse aos apóstolos que eles rece- beriam poder ao descer sobre eles o
Espírito Santo, e seriam Suas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e
Samaria e até aos confins da terra. Mas os apóstolos insistiram em ficar em Jerusalém. É
interessante que a perseguição que se levantou levou toda a igreja a ser dispersa, mas os
apóstolos permaneceram em Jerusalém. Sabemos que, depois, eles tam- bém saíram, mas
isso mostra um pouco de demora em perceber o mover do Espírito.

Naquele dia, levantou-se grande perseguição contra a igreja em Jerusalém; e todos, exceto os
apóstolos, foram dispersos pelas regiões da Judeia e Samaria. At 8.1b
160

O LUGAR DO SUPERVISOR

Não é angustiante o fato de que apenas os apóstolos foram poupados da perseguição? É como
se o inimigo dissesse: "es- ses não são um perigo para mim no momento". Certamente, a
dispersão da igreja foi segundo a vontade de Deus, pois Seu propósito era espalhar as
sementes pelo mundo. O Senhor já havia dito que eles deveriam ir até os confins da terra, mas,
em vez disso, ficaram tempo demais em Jerusalém.

Com Saulo, porém, vemos exatamente o oposto. Uma vez que o Espírito falou, ele
imediatamente se dispôs a ser envia- do (At 13.1-3). Se quisermos frutificar hoje, precisamos
da atitude disponível de Paulo. O desafio está colocado diante de nós. Atualmente, somente a
Videira de Goiânia está abrindo, simultaneamente, 72 igrejas no interior do estado. Mas, preci-
samos ser rápidos para seguir o mover de Deus. Caso contrário, o Senhor providenciará meios
para que a igreja vá ou então removerá de nós o candeeiro (Ap 2.5).

O grande problema de algumas igrejas celulares é que nunca entenderam que precisam abrir
igrejas. Esse foi o motivo porque muitas se dividiram e até perderam a unção. Hoje, porém,
temos avançado na visão de Deus. Qualquer líder de célula que já tenha multiplicado sua
célula mais de duas vezes está apto a ser um plantador de igreja. Sei que essa afirmação pode
soar absurda para os ouvidos clericais que acreditam que só há uma igreja quando existe um
pastor ordenado à frente. Mas é justamente aqui que está a beleza da visão celular: é uma
estrutura simples que pode ser facil- mente replicada. Precisamos da prontidão de Paulo, pois
é tempo de conquista.
MAIS FRUTOS QUE OS DEMAIS

161

3. PAULO REJEITOU COMPLETAMENTE TODO ENSINO JUDAIZANTE

A terceira razão que me leva a crer que Paulo frutificou mais que os demais apóstolos é porque
ele rejeitou completamente todo ensino judaizante. Não pense que esse assunto de judai-
zante não tem nada a ver conosco hoje. Ainda temos um bom- bardeio de ensinos judaizantes
e legalistas no meio evangélico. Todo ensino que diminui a eficácia da cruz e acrescenta outras
coisas ao evangelho é, de alguma forma, judaizante.

O problema é que nos tornamos tolerantes com tudo isso exatamente como os apóstolos em
Jerusalém, que se tornaram conciliadores com o judaísmo. Em Atos 15, vemos claramente que
os irmãos em Jerusalém ainda ensinavam os novos a se cir- cuncidarem e parece mesmo que
ainda adoravam no templo. Não se menciona que os apóstolos tenham resistido àquelas
pessoas, mas diz-se que Paulo contendeu seriamente com eles (Ar 15.1-5).

Alguns individuos que desceram da Judeia ensinavam aos irmãos: Se não vos circunci- dardes
segundo o costume de Moisés, não podeis ser salvos. Tendo havido, da parte de Paulo e
Barnabé, contenda e não pequena discussão com eles. At 15.1-2a

Quantos de nós temos hombridade suficiente para contender por causa da verdade do
evangelho? Paulo tinha essa atitude. Ele sustentava um testemunho e estava disposto a
contender
162 O LUGAR DO SUPERVISOR

por causa da verdade. Parece que os judaizantes perseguiram apenas Paulo, não há menção
de que tenham perseguido os de- mais apóstolos. Eles, porém, eram o espinho na carne de
Paulo.

Não devemos contender por causa de nossos interesses pes- soais, mas precisamos ser
firmes e ousados para defender a fé e o evangelho de toda contaminação. Creio firmemente
que aqueles que agem assim frutificarão com maior abundância. Se você não tem uma
mensagem pela qual valha a pena contender e até morrer, então sua mensagem não vale a
pena ser pregada.

4. PAULO COMPREENDEU MAIS

CLARAMENTE O CHAMADO DE DEUS

Paulo compreendeu mais claramente e também mais rapi- damente que a salvação era para
todos, inclusive os gentios. Pedro foi o primeiro a pregar aos gentios, mas Paulo diz que Pedro
foi mesmo chamado para os judeus. No entanto, será que Pedro não deveria ter entendido que
a visão do lençol era também um chamado?

Em Atos 10 temos a história de Cornélio e da visão que Pedro teve do lençol que descia do
céu. Você certamente conhece a história. Pedro estava no eirado quando "sobreveio-lhe um
êxtase; então, viu o céu aberto e descendo um objeto como se fosse um grande lençol, o qual
era baixado à terra pelas quatro pontas, contendo toda sorte de quadrúpedes, répteis da terra e
aves do céu. E ouviu-se uma voz que se dirigia a ele: Levanta-te, Pedro! Mata e come. Mas
Pedro replicou: De modo nenhum,
MAIS FRUTOS QUE OS DEMAIS

163

Senhor! Porque jamais comi coisa alguma comum e imunda. Segunda vez, a voz lhe falou: Ao
que Deus purificou não con- sideres comum" (At 10.9-16).

Essa foi a revelação de Deus a Pedro de que os gentios que antes eram impuros agora haviam
sido purificados por Deus. Foi uma experiência extraordinária. Na verdade, foi uma experiência
que mudou a era. Se tivesse acontecido comigo, eu passaria a pregar para gentios todos os
dias a partir dali. Mas não foi isso o que aconteceu com Pedro. Sabemos que, depois, ele foi
para Roma, mas Paulo entendeu tudo isso e foi pregar aos gentios.

É verdade que o próprio Paulo disse que Pedro recebeu o apostolado para a circuncisão. Mas
você não acha que depois de um êxtase e de uma grande revelação, Pedro deveria pregar aos
gentios?
Pois aquele que operou eficazmente em Pedro para o apostolado da circuncisão tam- bém
operou eficazmente em mim para com

os gentios. Gl 2.8

Paulo deixa claro que o evangelho era primeiro para o judeu, mas que depois deveria ser
anunciado aos gentios. Ele somente foi pregar aos gentios depois que os judeus rejeitaram o
evan- gelho. Paulo disse que seu apostolado era para os gentios, mas ele sempre começava
pregando aos judeus.

Então, Paulo e Barnabé, falando ousadamen- te, disseram: Cumpria que a vós outros, em
primeiro lugar, fosse pregada a palavra de
164 O LUGAR DO SUPERVISOR

Deus; mas, posto que a rejeitais e a vós mes- mos vos julgais indignos da vida eterna, eis af
que nos volvemos para os gentios. At 13.46

5. PAULO POSSUÍA UMA EQUIPE DE DISCIPULOS

O caso dos diáconos é emblemático. Quando houve a ne- cessidade de levantar pessoas para
servir às mesas, os apóstolos mandaram que o povo escolhesse, mas Paulo, quando precisa-
va corrigir ou estabelecer algo nas igrejas, enviava um de seus discípulos. Exceto João
Marcos, que também foi discípulo de Paulo, não se menciona que os demais apóstolos tinham
dis- cípulos. Numa situação como aquela, era de se esperar que os apóstolos enviassem seus
discípulos para servirem às mesas, mas eles pediram que o povo escolhesse.

Certamente, os apóstolos ensinavam a Palavra, mas o fato de todos terem sido dispersos e
somente eles terem ficado em Jerusalém mostra que, provavelmente, ainda não faziam dis-
cípulos como Paulo. Sabemos que, depois, Pedro discipulou João Marcos, mas perece que,
inicialmente, seu ensino era mais público do que de discipulado.

Paulo sempre teve discípulos, e uma das características mais marcantes de seu ministério foi o
trabalho com alguns homens num discipulado próximo. A partir desse ponto, é fácil entender
porque Paulo frutificou tanto: ele tinha uma equipe. Nada relevante jamais foi feito por um
homem sozi-
MAIS FRUTOS QUE OF DEMAIS

165

nho (exceto a obra da cruz). Assim, Paulo potencializou seu ministério simplesmente gerando
discípulos.

Em termos ministeriais, não há nada mais importante que minha equipe de discípulos.
Podemos realizar muitas coisas e administrar muitos trabalhos, mas a equipe é o mais impor-
tante. Quem não tem uma equipe de discípulos ainda não tem nada. Só temos um ministério
relevante e de alcance quando fazemos discípulos.

6. PAULO COMPREENDEU MAIS CLARAMENTE TODAS AS IMPLICAÇÕES DO


EVANGELHO

Paulo percebeu claramente o problema quando os judaizan- tes começaram a dizer que, para
ser salvo, era preciso crer em Jesus e também se circuncidar. Ele entendeu que isso anulava o
sacrificio de Jesus, ou seja, compreendeu completamente todas as implicações do evangelho.

Parece que Pedro não teve muita coerência entre sua prática e o entendimento de que o
evangelho era para os gentios. Isso é claramente visto quando Paulo resiste a Pedro (Gl 2). Em
Atos 9, lemos que Pedro teve a revelação do lençol, mas em Gálatas 2 vemos que ele ainda
não conseguia praticar completamente a visão recebida.

Paulo diz que, antes de chegarem alguns da parte de Tiago, Pedro comia com os gentios;
quando, porém, chegaram, afas- tou-se e, por fim, veio a apartar-se, temendo os da circuncisão
166

O LUGAR DO SUPERVISOR

(GI 2.12). Muitos de nós somos como Pedro, recebemos uma visão, mas não conseguimos ser
sempre coerentes com ela.

No processo de Deus de trazer sua verdade para nossa ex- periência, passamos por três
fases: a revelação, a visão e a reali- dade. Podemos ver esta sequência na experiência de
Pedro em Mateus 16 e 17.

No capítulo 16, lemos que Pedro teve a revelação de que Jesus era o Filho de Deus (Mt 16.13-
17). Mais à frente, no ca- pítulo 17, vemos que ele teve a visão e ouviu o Pai falando que Jesus
era o Filho de Deus (Mt 17.1-5). Mas, logo em seguida, Pedro falhou em aplicar a revelação.
Quando questionado se o Senhor pagava o imposto do templo, Pedro não entendeu que o
Filho de Deus é o dono da Casa de Deus e, portanto, não precisa pagar imposto (Mt 17.24).

De acordo com esses textos, o primeiro estágio da experiència de Pedro foi a revelação. O
povo dizia que Jesus era Jeremias, João Batista ou algum dos profetas, mas Pedro recebeu a
revela- ção: "Ele é o filho do Deus vivo". Foi Jesus mesmo quem disse: "Bem-aventurado és,
Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está nos
céus."

A primeira fase é sempre a revelação, que nada mais é do que simplesmente ter algo
desvendado diante de nossos olhos. Antes não víamos, éramos cegos, mas agora vemos
claramente. Muitos nem sequer pensavam a respeito da visão de células, mas houve um dia
em que ouvimos algo, uma pregação, um testemunho, e ela tornou-se clara para nós.
MAIS FRUTOS QUE OS DEMAIS

167

Depois de ter a revelação, Pedro mudou de nome, de identi dade. É como se, a partir de então,
ele fosse outra pessoa. Creio que o mesmo tem acontecido com muitos de nós. A revelação da
visão de células tem mudado nossa identidade, somos vistos e conhecidos de outra forma, e as
pessoas até mesmo se referem a nós como aqueles que seguem uma visão.

A visão vem depois da revelação, por isso, Pedro foi convida- do a ter uma experiência no
monte e passar ao estágio seguin- te: a visão (Mt 17.2, 5). A revelação é subjetiva, mas a visão
é mais nítida e objetiva. Pedro havia entendido que Jesus era o filho de Deus (Mt 16), mas
depois, no monte, ele viu Jesus transfigurado em glória diante de seus próprios olhos atónitos,
e o próprio Pai trovejando do céu: "Este é meu Filho amado".

A partir do momento em que Pedro teve a revelação de que Cristo é o Filho do Deus vivo, e a
visão de Cristo glorificado no monte, ele não podia dizer que não sabia quem era Cristo, pois
havia passado por ambas, revelação e visão.

O problema é que, mesmo depois de ter uma revelação seguida de uma visão, ainda podemos
ter imensa dificuldade para aplicá- las de maneira prática. Muitos têm tido a revelação e até a
visão das células, mas quantos têm conseguido aplicá-las na prática?

Assim, quando Pedro foi questionado pelos cobradores de impostos se Cristo pagava o
imposto das duas dracmas, ele res- pondeu precipitadamente segundo o seu conceito natural,
não segundo a revelação e visão que havia recebido. Ele não conseguiu fazer uma ponte entre
a visão e a exigência da situação prática. Ele não conseguia enxergar a ligação entre Cristo ser
o Filho de Deus ea necessidade de pagar o imposto do templo (17.14-21:24-27).
168

O LUGAR DO SUPERVISOR

O imposto das duas dracmas era um tributo religioso para a manutenção do templo (Ex 30.12-
16; 38.26). Se Pedro tivesse se lembrado da revelação, da visão no monte e até da voz do Pai
dizendo que Jesus era o filho amado, não teria dado aquela resposta, mas ele respondeu
segundo o seu conceito natural.

Ao entrar Pedro em casa, Jesus se lhe anteci- pou, dizendo: Simão, que te parece? De quem
cobram os reis da terra impostos ou tributo: dos seus filhos ou dos estranhos? Respondendo
Pedro: Dos estranhos, Jesus lhe disse: Logo, estão isentos os filhos. Mt 17.25, 26

Foi como se Jesus tivesse dito: "Preste atenção Pedro: os filhos não pagam! Você se lembra
da revelação e da visão no monte? Lembra-se do Pai dizendo que eu era o Filho? Pois eu sou
o Filho de Deus, não preciso pagar!" Demorou a cair a ficha, mas Pedro deve ter entendido.
Então, Jesus mandou que ele fosse pescar um peixe com uma moeda na goela. Penso que Ele
fez isso para que Pedro pudesse ter tempo de meditar em todas as implicações de se conhecer
a Cristo como filho de Deus. Ele, de fato, teve a revelação e a visão, mas não conseguiu aplicá-
las na vida prática.

Nesses dias, precisamos aprender a andar de acordo com a re- velação e a visão que
recebemos e aplicá-las em todas as áreas de nossa vida. Muitos têm visão de células, mas são
extremamente clericals, creem que cada crente é um ministro, mas permitem que alguns
poucos liderem. Dizem ser uma igreja em células, mas são incoerentes na aplicação dos
valores.
MAIS FRUTOS QUE OS DEMAIS

169

7. PAULO SE DISPOS A UM SACRIFICIO ADICIONAL

A vida de Paulo é um retrato de alguém que se dispôs ao sacrificio. Ele renunciou posições,
conhecimento, conforto e até lutou com feras. Ele fez de tudo para pregar o evangelho. Ao que
parece, todos esses sacrificios foram colocados por Deus diante dele, mas há um sacrificio que
Deus não requereu nem de Paulo nem dos outros apóstolos: a decisão de não se casar. Tudo
indica que Paulo deixou de se casar para poder pregar o evangelho mais livremente, pois ele
disse que o casado se preocupa em agradar a esposa, mas o solteiro está livre para agradar a
Deus.

O fato de Paulo ser solteiro (ou viúvo?) era um fator que facilitava a pregação do evangelho,
uma vez que os demais apóstolos sempre eram acompanhados de esposas. Não estou
sugerindo que os servos de Deus devam ser solteiros, mas quero mostrar que Paulo abriu mão
do casamento por causa do evan- gelho. Ele se dispôs a esse tipo de sacrificio para poder
pregar e obter mais resultados.

E aos solteiros e viúvos digo que lhes seria bom se permanecessem no estado em que
também eu vivo. 1Co 7.8

Não temos nós o direito de comer e beber? E também o de fazer-nos acompanhar de uma
mulher irmã, como fazem os demais apósto- los, e os irmãos do Senhor, e Cefas? ICo 9.5
170

O LUGAR DO SUPERVISOR

Você tem se disposto a fazer algum sacrificio pela obra de Deus? Ainda que não seja,
necessariamente, um grande sa- crificio, pois mesmo um pequeno sacrifício pode fazer uma
tremenda diferença em nossa frutificação. Precisamos perceber o tempo profético em que
vivemos e procurar fazer escolhas sábias, pois nossos frutos e nossa multiplicação são o
resultado das escolhas que fazemos na obra de Deus.
Certo dia, alguém estava recriminado determinada igreja que recomenda aos pastores não
terem filhos para poderem servir a Deus com mais liberdade. E o irmão que comentava comigo
estava furioso com o fato. Porém, confesso que aquilo teve um efeito completamente oposto
em mim. Não creio que ninguém tenha o direito de exigir tal sacrificio de alguém, mas o fato de
haver pastores que estão dispostos a esse nível de sacrifício me deixou realmente tocado.

Preste atenção! O sacrificio de Paulo de permanecer solteiro é apenas um exemplo. Pode não
ser aplicável ou necessário hoje. Porém, quem sabe Deus está esperando de você uma
renúncia a todo bem material, ou uma disposição de se desgastar em ní- veis maiores pela
obra? Não sei o que pode ser, mas o Espírito Santo vai falar ao seu coração.

Todos os apóstolos eram santos homens de Deus, cheios do Espírito, mas observando a vida
deles, percebemos que Paulo fez algumas escolhas que lhe permitiram frutificar numa me- dida
muito maior. Hoje, essas mesmas escolhas estão diante de nós. Posicione-se para que seu
fruto seja abundante nesses dias.

Você também pode gostar