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Ficha técnica

Copyright © 2022 Camila Alkimim Todos os direitos reservados. Este


ebook ou qualquer parte dele não pode ser reproduzido ou usado de forma
alguma sem autorização expressa, por escrito, da autora, exceto pelo uso de

citações breves em uma resenha do ebook.

Pirataria é crime!

Os direitos autorais são protegidos pela lei nº 9.610/98, punido pelo artigo
184 do código penal.

Título: Meu dorama da vida real Autora: Camila Alkimim Esta é uma
obra de ficção! Qualquer semelhança com nomes, ambientação e/ou
situações é mera coincidência.
Sinopse
Jeong Taeyang e Maitê Rossi são melhores amigos desde a infância e

nunca passaram tanto tempo separados, até ele precisar ir para a Coreia do

Sul cumprir o serviço militar obrigatório.


Três anos depois, Taeyang está de volta ao Brasil para as festas de

final de ano e, além da saudade de sua antiga vida, ele traz na bagagem
muita determinação, pois além de se reaproximar da amiga que deixou para
trás, também pretende conquistá-la, já que desde sempre foi apaixonado por
ela.

Venha se deliciar com essa história de natal que promete aquecer o


seu coração.
Sumário

Ficha técnica

Sinopse

Sumário

Trilha sonora

Nota da autora

Prólogo

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Epílogo
Agradecimentos

Outras obras da autora

Leia um trecho de Brandon – Amor além do gelo

Leia um trecho de A noiva do bilionário inglês

Leia um trecho de Um sonho de babá

Leia um trecho de Como enlouquecer um CEO

Sobre a autora
Trilha sonora

Acredito que toda história merece uma boa trilha sonora, por isso,
aqui estão algumas das músicas que me acompanharam e inspiraram

durante o processo de escrita.


Para ter acesso à playlist, basta apontar o celular para o QR Code,
procurar por “Meu dorama da vida real” no Spotify ou clicar no link.
Nota da autora

Este é meu presente de natal para todos que desejam uma história

com um amor leve, além de um pouco de doçura.

Camila Alkimim
Prólogo

Eu estava nervoso. Olhando para os lados, tentava encontrar um


rosto conhecido em meio as outras crianças que me observavam com

curiosidade, algo que acontecia desde que me mudei para o Brasil, menos

com a minha melhor amiga.


Diferente de seus primos, que zombavam por eu ter olhos puxados e

os cabelos cortados com molde de tigela — o que não era verdade, porque

nem a mamãe e nem o barbeiro usavam qualquer coisa além de tesoura e a


máquina —, Maitê era legal e boazinha comigo. Às vezes um pouco

grudenta e chorona, já que ficava me olhando com cara de boba e me fazia

brincar de boneca, mas em troca ela brincava de carrinho e de videogame,


então tudo bem.

— Podemos ir embora? Eu não quero ir para a escola — pedi em

coreano para a minha mãe, assim ninguém nos entenderia.

— Querido, você precisa aprender o português assim como eu, esse

país será a nossa casa agora. A Maitê já deve estar vindo…


Desde que a conheci meses atrás na festa de natal a garota vinha me

ajudando. Mesmo sem entender uma só palavra em coreano e eu não saber

nada de português, nós encontramos uma maneira de nos comunicar, o que

me fez sentir menos perdido.


Quando desejava me ensinar o nome das coisas, ela apontava para o
objeto e dizia pausadamente como se chamava, até que eu fosse capaz de

repetir. Quanto às brincadeiras com outras crianças, algo que eu detestava, a

menina simplesmente me agarrava pela mão e saía arrastando, como se

fôssemos um só.

No começo, foi irritante não conseguir falar ou me explicar como

gostaria, e em muitas oportunidades Mai se aproveitou disso para me fazer


comer coisas que eu não tinha ideia do que eram, mas depois que comecei

as aulas de português com um professor particular que ia em casa todos os

dias, estava mais fácil de nos entendermos.

— Talvez ela também não queria vir e a senhora Rossi a deixou ficar

em casa.

Antes que mamãe pudesse responder qualquer coisa para me

convencer a entrar na escola, meu nome foi chamado.


— Taeyang, espera por mim! — gritou a voz aguda antes mesmo que

eu pudesse vê-la, pronunciando meu nome certinho, “tê-iãn”, como tinha

lhe ensinado.

Surgindo do meio da multidão de crianças, Mai corria em minha

direção com os cabelos trançados e um sorriso com dentes a menos. Como

se acontecesse em câmera lenta igual nos filmes, a vi tropeçar em seus tênis


azuis com asas de borboleta desenhadas quando estava prestes a me
alcançar. Mesmo correndo muito rápido em direção a ela, não pude evitar

que caísse.
Quando me aproximei e a ajudei a se levantar já era tarde, o joelho

direito estava ralado, sangrando, e ao invés do sorriso banguela que eu


achava divertido, minha amiga estava chorando.
— Logo vai parar de arder. — Falei, repetindo o que ela me disse

semanas antes, quando fui chutar a bola e acabei perdendo a ponta do dedão
no chão.

Por mais que tivesse me esforçado naquele dia, acabei chorando na


frente dela e isso me deixou com vergonha. Não queria que Maitê pensasse

que eu era um fracote.


— Você promete?
O questionamento veio acompanhado de um bico enorme formado

por seus lábios, enquanto mais lágrimas escorriam pelas bochechas.


— Sim, mas você precisa parar de chorar.

— Mas eu não consigo! — retrucou, olhando para o joelho ferido e


fungando.

Não querendo ver ela chorar por mais um minuto que fosse, fiz algo
que detestava, mas que sabia que a faria sorrir: beijei sua bochecha. Como
se fosse mágica, ela sorriu no mesmo instante, fazendo com que os furinhos
que tinha em suas bochechas voltassem a aparecer, então eu tive a certeza

de que tudo ficaria bem.


Capítulo 1

Alguns anos depois

— É hoje que o Taeyang chega, não é?

A pergunta foi feita por mamãe, que tinha acabado de chegar na

cozinha ainda vestindo seu pijama. Como era manhã de domingo e ela não
iria a lugar algum nas próximas horas, passaria boa parte do tempo daquela

maneira enquanto estivesse planejando e cozinhando o almoço.

— Uhum, preciso estar no aeroporto em trinta minutos — respondi,


tomando o último gole do meu café, antes de colocar a caneca vazia dentro

da pia e pegar a bolsa pendurada em uma das cadeiras.

— Ele realmente não avisou os pais que viria?

Desde que recebi a notícia de que meu melhor amigo voltaria para

casa, precisei concordar com a loucura de surpreender seus pais, que não
esperavam recebê-lo até poucos dias antes do natal.

— Não e me pediu sigilo absoluto porque quer fazer uma surpresa.

Disse que só chegaria na próxima semana, mas me certifiquei de que o

senhor e a senhora Jeong estejam em casa. Por falar nisso, só devo voltar no

final do dia.
Com um sorrisinho nos lábios, negou com um aceno, provavelmente
se recordando das travessuras que Tae e eu aprontávamos na infância, que

deixavam tanto ela quanto a mãe do meu amigo, malucas.

— Como está se sentindo?

A pergunta até poderia parecer despretensiosa, mas eu sabia que não

era. Mamãe mais do que ninguém viu o quanto sofri ao longo do tempo que

passamos afastados. É o que acontece quando seu melhor amigo vai morar
do outro lado do planeta e fica quase incomunicável por obrigação, e não

desejo.

— Feliz que a espera finalmente acabou, não vejo a hora de

reencontrá-lo. Já vou indo, mãe.

Após pegar a chave do carro do meu pai em cima do aparador ao

lado da porta, acenei em despedida e fui até a garagem. Por se tratar de uma

manhã de domingo com céu azul e temperatura agradável, quase não havia
trânsito na cidade, o que me possibilitou chegar ao destino no tempo

previsto.

A cada passo dado dentro do enorme aeroporto, mais rápido meu

coração batia no peito. Apesar de saber a verdadeira razão de me sentir

daquela maneira, tentei me convencer de que se tratava do cansaço, uma

consequência das últimas duas noites que tive a insônia como minha
companheira. Seguindo a instrução das placas, não tive dificuldades para
encontrar o desembarque internacional, onde me juntei a um grupo de

pessoas.
Mais de uma vez meus olhos se dirigiram até o painel que indicava

que seu voo havia chegado, então tentei me acalmar. Quando isso se
mostrou tão impossível quanto ficar parada, passei a caminhar de um lado
para o outro. Não surtar ou morrer engasgada com meu próprio coração

estava se mostrando mais e mais difícil a cada vez que as portas


automáticas se abriam.

Como alguém que aguentou longos quase três anos até poder revê-lo
— não que eu estivesse contando — sentia como se aqueles minutos fossem

uma eternidade?
Eu ainda estava lutando para recuperar meu bom senso, quando as
portas se abriram mais uma vez e um fluxo maior de pessoas começou a

atravessá-las, sendo a maioria delas de origem asiática. Constatar tal fato


me fez sorrir e resgatar a memória de um pedido de natal inusitado da

minha infância, que foi a razão pela qual me conectei a Tae assim que nos
vimos pela primeira vez.

Perdida em pensamentos, demorei alguns instantes para me dar conta


de que o homem alto, de ombros largos, com uma postura confiante, vestido
todo de preto e caminhando na minha direção com um sorriso no rosto, era

aquele por quem estive esperando. Contrariando tudo que imaginei para o
nosso reencontro, já que a visão mais se parecia com um sonho do que com

a realidade, permaneci imóvel onde estava, apenas observando-o. Aquele


era mesmo o Taeyang, o meu Taeyang?

A resposta veio logo em seguida, quando a poucos metros de


distância ele parou de caminhar, colocou a mochila no chão e abriu os

braços para mim em um convite silencioso. Me sentindo novamente no


primeiro dia de aula, ignorei tudo à nossa volta e, sem pensar duas vezes,
corri para ele, que me pegou no ar depois de eu ter me lançado em sua

direção.
— Você está aqui — murmurei, enlaçando-o com braços e pernas,

enquanto absorvia sua presença.


A primeira prova de que o encontro era real e não apenas um sonho,
foi ter meu nariz — que se encontrava enterrado em seu pescoço —

invadido pelo cheiro único e familiar que só ele tinha. A segunda, foi a
maneira como estreitou ainda mais o aperto ao redor do meu corpo, me

mantendo presa a ele com firmeza. Por último, mas não menos importante,
ouvir sua voz dizendo: — Sim, Mai, eu estou mesmo aqui!

Desde que soube de sua volta, preparei meu psicológico para não
fazer cena, para não chorar feito uma criancinha na frente dele, mas ouvir
tais palavras me desarmou por completo. Após um longo minuto, que era

pouco se comparado ao tempo que precisei esperar até aquele instante, Tae
me colocou no chão, recuou um passo e tomou meu rosto entre as mãos,
usando os polegares para secar minhas bochechas como fez muitas vezes ao
longo dos anos.

— Olha só, sentiu tanto a minha falta que nem foi capaz de manter a
pose de durona. Não se preocupe, seus dias voltarão a ser felizes e

brilhantes como eu. — Brincou, fazendo um paralelo com seu nome, que
significava “sol” em coreano”.
Ainda em meio às lágrimas, acabei rindo e lhe dando um empurrão

de leve no peito firme, que o fez recuar para ainda mais longe.
— Está enganado, estou chorando porque não poderei mais me livrar

de você apenas apertando um botão e encerrando a chamada.


Achando graça da minha resposta afiada, Taeyang tombou a cabeça

para trás e riu, enquanto eu o observava com fascinação. Meu Deus, olhar
para ele daquela maneira, a menos de um braço de distância, ainda
parecia bom demais para ser verdade. Recolhendo tanto a mochila quanto

as duas malas que foram deixadas no meio do caminho e começavam a


atrapalhar o fluxo de pessoas, Tae me entregou uma e puxou a outra com a

mão direita, enquanto seu braço esquerdo repousava sobre meus ombros,
me mantendo perto. Era como se nenhum de nós quisesse ficar distantes.
Embora seu toque não me deixasse margem para dúvidas, a cada

cinco passos me peguei virando o rosto em direção ao meu amigo, como se


precisasse ver com meus próprios olhos de que era real, que ele estava
mesmo ali.
— Parece que você encolheu desde a última vez que te vi —

provocou, sem diminuir o passo.


— Engraçadinho! Mal chegou e já quer biscoito por ter crescido

alguns centímetros? Se você não falasse, eu nem notaria…


Óbvio que estava mentindo sobre aquilo, porque estava nítido que
Taeyang não apenas tinha crescido, como também adquirido uma aparência

mais masculina, que o tornava diferente do garoto que me despedi naquele

mesmo aeroporto.
— Pense em todos os elogios que não me fez nesses últimos anos, é

hora de colocá-los para fora, além do mais, é algo gentil de se fazer com os

mais velhos.

— Quer mesmo entrar nesse detalhe? Só falta exigir que te chame de

Oppa[1] — rebati, com falsa impaciência, já que me divertia com nossos

falsos embates.

— Exigir? Não! Mas quem sabe, em breve você faça isso por
vontade própria… — piscou, dando um sorrisinho enigmático antes de

deixar o assunto morrer, já que chegamos ao carro.

Depois de acomodar as malas no compartimento traseiro, ele ocupou

o banco do passageiro e eu dei partida, dirigindo para fora do


estacionamento do aeroporto rumo a casa de seus pais.

Todas as vezes que pensei em nosso reencontro, acreditei que não


ficaríamos calados por um único segundo, afinal, todo o tempo que ele

esteve servindo no exército coreano, ficamos praticamente incomunicáveis.

Posso dizer que passei três anos vivendo de migalhas, tendo poucas
notícias, sabendo apenas que ele estava “bem”, mas sem grandes detalhes

sobre sua rotina, o que pensava, sentia, ou se comia e dormia direito. No

entanto, conforme os minutos foram passando e permanecemos em silêncio

dentro do carro, comecei a ponderar sobre o quanto esse distanciamento


teria sido prejudicial em nossa amizade.

Determinada a ler sua expressão e descobrir se Tae se pensava sobre

a mesma coisa, respirei fundo e tentei ser o mais discreta possível ao virar o
rosto em sua direção, o que não deu tão certo, já que o encontrei me

observando de volta. Assim que nossos olhares se encontraram, um sorriso

lento, de canto de boca, surgiu em seu rosto, deixando-me confusa.


— O que foi, porque está me olhando assim? — questionei, soando

mais na defensiva do que gostaria, enquanto voltava a atenção para o

trânsito.

— É a primeira vez que te vejo dirigindo, você é boa nisso...


Me agarrando a chance de deixar o clima mais leve, voltei a lançar

um olhar de esguelha enquanto sorria aliviada e falei: — Pois fique sabendo


que sou boa em muitas outras coisas, andei aprimorando meus talentos

enquanto você estava fora.

— Ótimo, mal posso esperar para descobrir cada um deles.


Talvez fosse pelo tom de voz com que disse aquilo, também poderia

ser por todas possibilidades ocultas em suas palavras, ou apenas pela

maneira intensa como Tae continuava me olhando, mas a questão é que meu

corpo reagiu a ele de maneira inesperada, com meus pelos se arrepiando e


um friozinho se instalando em meu estômago, e isso me assustou.
Capítulo 2

Eu estava hipnotizado, talvez parecendo um perseguidor, já que não


conseguia desviar os olhos dela, mas estava difícil me controlar. Como era

possível que Maitê parecesse igual e ao mesmo tempo diferente da garota

que me despedi três anos atrás? A maneira como ficou estática no


aeroporto, apenas me observando com seus olhos amendoados arregalados,

me lembrou de quando a vi pela primeira vez, quase quinze anos atrás.

Na época, éramos duas crianças de quase sete anos, que não falavam
o mesmo idioma e estavam se vendo pela primeira vez, no entanto, isso não

a impediu de correr até mim e me envolver em um abraço de urso, com um

sorriso largo em seu rostinho delicado. Naquele encontro, eu não soube bem
como reagir às demonstrações de afeto de uma estranha, então fiquei

imóvel enquanto ela parecia feliz demais por me conhecer. Foi interessante

saber, muito tempo depois, que Maitê havia pedido aos pais um irmãozinho

de olhos puxados como presente de natal.

Que criança normal pediria aquele tipo de coisa tão específica?


Considerando que o senhor Rossi era descendente de italianos, com

pele e olhos claros e a mãe tinha uma aparência similar, exceto pelos

cabelos e olhos que eram castanho-escuros, atender tal pedido seria

inviável. Eles só esqueceram que o destino tem maneiras próprias de agir e


fez nossos caminhos se cruzarem. Desde então nunca mais nos
desgrudamos, até eu precisar servir o exército.

Embarcar rumo à Coreia do Sul logo depois de completar dezoito

anos não foi fácil, ainda mais quando tudo que eu queria fazer era

permanecer. No entanto, aquela era uma decisão que já havia sido tomada

muito tempo atrás, quando papai pediu que não me naturalizasse brasileiro

e honrasse as tradições do nosso país. Sabendo que cumprir seu pedido o


deixaria orgulhoso, acabei concordando, mesmo que parte de mim temesse

que ao me afastar, acabaria sendo esquecido por Maitê.

Aquela não era minha única preocupação quanto à mudança, a

verdade é que eu vivia há tantos anos fora do meu país de origem, que

quase podia ser considerado um estrangeiro, o que poderia não ser bem

visto por meus colegas militares. A última coisa que eu desejava era passar

quase dois anos vivendo em um ambiente hostil e sem amigos. Entretanto,


depois de deixar essa etapa da vida para trás, passei a me considerar um

cara de sorte, já que nenhum dos meus medos se tornou real.

— Está tudo bem? Estamos quase chegando.

Como uma âncora que mantém um barco preso para que não se

perca à deriva, a voz de Maitê me trouxe de volta ao momento presente.

Ainda anestesiado com o fato de que enfim havíamos nos reencontrado, a


encarei, admirando cada detalhe de seu lindo rosto antes de dizer: — Agora
que estou aqui, com você, está tudo ótimo. Não é como se meus pais

soubessem que estou a caminho e estivessem esperando, não precisamos ter


pressa.

Parecendo meio desconcertada com a resposta que dei, Mai apenas


acenou em concordância, evitando olhar em minha direção e continuou
dirigindo, enquanto eu a observava um pouco mais. Poder vê-la através da

câmera do celular foi bom, me deu forças para aguentar aquela fase, mas
nada se comparava a proximidade que me permitia não apenas ver sua

imagem, como também sentir seu cheiro e o calor de seu toque.


Me aproveitando do fato de estarmos confinados dentro do carro,

estiquei o braço esquerdo até apoiá-lo no banco do motorista, de forma que


meus dedos alcançassem sua nuca e se embrenharam em meio aos seus
cabelos. Assim que iniciei a carícia, vi Maitê se encolher no banco e me

lançar um olhar assustado, de puro pânico.


— O que você está fazendo?

Com a coluna ereta e uma postura mais tensa do que instantes atrás,
ela alternava a atenção entre o trânsito à frente e eu.

— Ah, isso? — perguntei, movendo os dedos mais uma vez e


arranhando de leve seu couro cabeludo próximo a nuca, o que fez seus
olhos crescerem ainda mais, se é que era possível. — Se chama cafuné,

conhece? — sorri, tentando soar inocente sem interromper a carícia.


Se eu estivesse certo, e tinha certeza que sim, o gesto lhe provocou

arrepios, o que era bom, porque agora que estava de volta ao Brasil e sem
nenhum outro lugar para ir que não fosse junto dela, eu não pretendia

recuar. Havia chegado o momento de conquistá-la e fazer de Maitê a minha


garota.

Chegar de surpresa na casa dos meus pais causou o alvoroço que

havia previsto quando tomei a decisão. Mamãe derramou um punhado de


lágrimas e me abraçou apertado. Quanto ao meu pai, sorriu orgulhoso e

feliz ao me dar boas-vindas, e enquanto isso tudo acontecia, Maitê se


manteve alguns passos atrás, com o celular em mãos, registrando o
momento.

Com a mesa do café ainda posta resolvi aproveitar, já que não


consegui comer direito no avião. Depois disso permanecemos ao redor da

mesa conversando, até a próxima refeição. O almoço, uma encomenda em


meu restaurante preferido da cidade, foi entregue no horário previsto e
enquanto saboreava a comida deliciosa, não pude me sentir mais grato por

estar rodeado pelas três pessoas mais importantes da minha vida.


Apesar dos protestos da minha mãe, Mai e eu cuidamos da louça
suja e em seguida, quando o cansaço se abateu de vez sobre mim, pedi
licença e fui para o meu antigo quarto, seguido por minha amiga. A

sensação de me deitar em uma cama confortável após horas de viagem e


escalas em aeroportos foi algo indescritível, que só perdeu para o banho que

tomei minutos antes.


— Isso é bom — murmurei, fechando os olhos por um instante, mas
abrindo-os logo em seguida, para encontrá-la me observando de longe. —

Vai ficar parada me admirando por quanto tempo? Vem aqui.


— Acho que é melhor eu ir, você precisa descansar e…

— Preciso mesmo, então deita logo aqui.


Seu olhar acompanhou o meu gesto de dar dois tapinhas no espaço

vago ao meu lado, e apesar de parecer um tanto incerta, Maitê se sentou na


beirada do colchão, de frente para mim. Não me dando por satisfeito, pousei
as mãos em seus ombros e a puxei, até que se deitasse usando meu braço

como travesseiro. Como eu tinha intencionalmente me acomodado no meio


da cama, seu espaço era um tanto restrito, o que nos deixava bem próximos.

Talvez eu estivesse sendo um pouco filho da puta por agir daquela


maneira, mas estava determinado a usar cada minúscula oportunidade que
tivesse a meu favor. Precisava mostrar a Maitê de maneiras não tão óbvias,

que fomos feitos um para o outro não apenas no sentido da amizade.


— Tae, melhor não, o que seus pais vão pensar se virem isso?
— Que estou morrendo de saudades e não quero desgrudar de você!?
Sem ter como argumentar contra aquela verdade inquestionável,

Maitê procurou se acomodar melhor e eu a ajudei, fazendo com que se


virasse de lado e apoiasse a cabeça sobre meu peito, ficando colada a lateral

do meu corpo. Como era bom tê-la em meus braços, sentir seu cheiro e não
apenas ficar sonhando acordado a milhares de quilômetros de distância.
— Quando disse que passaria mais um tempo na Coreia do Sul,

mesmo após o término do serviço militar, tive medo que nunca mais

voltasse. Que conhecesse alguém e decidisse ficar de vez.


A confissão sussurrada estava carregada de dor e angústia, os

mesmos sentimentos que fizeram morada em meu peito por todo aquele

tempo. Decidir permanecer do outro lado do mundo, quando tudo que eu

mais desejava era voltar para o lugar que eu considerava como minha casa
não foi nada fácil, porém, necessário.

Quando deixei o Brasil com dezoito anos de idade, tinha acabado de

me formar no ensino médio e a única coisa que constava no meu currículo


era um curso técnico, além dos três idiomas que falava. Caso tivesse

retornado logo após o serviço militar, não conseguiria emprego ou dinheiro

para me sustentar por falta de qualificações. Sendo um homem de vinte e


um anos de idade, depender do meu pai financeiramente estava fora de
cogitação, razão pela qual aceitei a oferta de trabalho de um colega alguns

anos mais velho, que conheci no exército.


Diferente de mim, que tinha ingressado com a idade mínima exigida,

ele foi pra lá no limite máximo, o que lhe possibilitou estruturar a vida antes

de ir. Sendo dono de uma empresa pequena, mas muito promissora, ele me
ofereceu um emprego e lugar para morar, e assim passei o último ano,

conforme tínhamos combinado. Aquela foi uma alternativa que encontrei

para adquirir experiência e ter dinheiro, mas que me custou passar mais

algum tempo longe de quem amava.


— Isso nunca foi uma opção.

— Que bom, eu já estava cogitando a ideia de vender meus órgãos

como forma de conseguir dinheiro para ir te encontrar.


— Não deixaria que fizesse tal sacrifício. Se tudo mudasse, eu teria

dado um jeito de te levar para lá. Aliás, você também parece cansada, está

até delirando e falando besteiras. Não tem dormido bem?


— Acho que estava ansiosa com seu retorno, tive algumas noites de

insônia.

— Pois então, trate de aproveitar que estou de volta e descanse —

falei, puxando-a para mais perto de mim, se é que era possível.


Sem mostrar qualquer resistência, Maitê se aninhou a mim quando a

abracei e, pouco depois, a ouvi ressonar baixinho. Satisfeito por lhe


transmitir segurança o suficiente a ponto de tê-la dormindo em meus

braços, plantei um beijo no topo de sua cabeça e fechei os olhos.


Capítulo 3

A primeira coisa que notei assim que abri os olhos, foi que não
estava em meu quarto, apesar do ambiente não ser estranho. A segunda, foi

que eu não estava sozinha, já que tinha um braço forte enlaçando minha

cintura e era possível sentir o calor confortável de outra pessoa vindo de


trás de mim.

Sabendo de quem se tratava, pensei em me levantar com ele ainda

dormindo e sair do quarto antes que a situação se tornasse estranha, afinal,


eu estava deitada de conchinha com meu melhor amigo. Porém, enquanto

meu debate mental acontecia, a voz masculina, um tom mais grave pelo

sono, sussurrou em meu ouvido: — Como sempre, você está pensando


demais, consigo ouvir as engrenagens da sua cabeça funcionando.

— Alguém tem que ser racional — respondi, me sentindo tensa por

estar gostando de ficar naquela posição com Taeyang.

Ao longo dos anos, sua presença em minha vida teve importância

por diferentes motivos. Na infância ele foi, literalmente, o meu presente de


natal, o irmão postiço de olhos puxados que a vida me deu, e isso se refletia

nos bons momentos e também nas briguinhas. Conforme fomos crescendo a

amizade foi se transformando, e então veio a adolescência, a fase mais

crítica de todas.
Admitir que Taeyang era um garoto bonito não foi uma tarefa fácil,
mas ouvir minhas amigas comentarem a respeito, algo que me causava

incômodo a ponto de querer socá-las, foi ainda mais difícil. Aos poucos a

situação foi me irritando, bagunçando meus sentimentos até quase nos

afastarmos por completo. Percebendo as mudanças, Tae lutou por nós antes

que nos perdêssemos de vez e depois disso me convenci que éramos apenas

amigos, o que possibilitou mantermos nossa relação preservada.


— Porra, eu passei quase três anos longe, me deixa ficar abraçado

com você mais um minuto e então eu te deixo ir… por enquanto.

“Por enquanto”, como uma frase tão curta poderia conter tantos

significados ocultos?

Como não queria correr o risco de estragar a atmosfera que nos

envolvia com as minhas palavras, apenas acenei em concordância com a

cabeça apoiada em seu travesseiro e voltei a fechar os olhos. Apesar de não


ser a primeira vez na vida que nos abraçávamos ou dividíamos a cama,

inclusive, fizemos algo parecido pouco antes de sua partida, por alguma

razão daquela vez tudo parecia diferente.

Embora o momento não tivesse qualquer conotação sexual, apesar de

eu ter quase certeza que senti algo rígido encostando na base de minha

coluna antes de ser rapidamente afastado, o homem que me abraçava não


era mais o meu melhor amigo, um garoto jovem e brincalhão. Ele havia
passado por muita coisa durante o treinamento, eu também precisei encarar

desafios e isso nos amadureceu de muitas maneiras. Era estranho ver seu
“eu” do passado e o novo Tae diante de mim, sem saber o quanto essas

mudanças iriam refletir em nossa amizade depois do reencontro.


Talvez fosse muito errado pensar na situação daquela maneira, mas
quando Tae se livrou do casaco que vestia e ficou apenas de camiseta e

calça, só consegui pensar no quão bem o exército fez para seu


desenvolvimento corporal. Com os ombros largos, braços mais fortes, as

veias do antebraço — que passei o almoço todo tentando não olhar —


saltadas, o seu um metro e oitenta parecia ainda maior.

Outras coisas que haviam mudado com o passar do tempo foi seu
rosto, que ganhou ângulos mais marcados na mandíbula, tornando-se um
pouco mais quadrado e o corte de cabelo mais curto, moderno e menos

volumoso, diferente do tradicional corte "tigelinha", que usou por muitos


anos. No entanto, após espiar nosso reflexo no espelho do armário,

constatei que as quatro horas de sono e a ausência de qualquer produto


capilar fizeram com que os fios escuros caíssem por sua testa, lhe

devolvendo parte do ar juvenil que me era familiar.


— Está começando a ficar tarde, eu deveria ir, quero chegar em casa
antes que anoiteça…
Para a minha infelicidade, o sol estava mais fraco do que algum

tempo atrás, dando indícios que o dia estava chegando ao fim.


— Sim, você está certa — suspirou com resignação, sem mover um

músculo sequer para se afastar. — Mas estou me sentindo egoísta demais no


momento, quero ter você só pra mim tanto quanto possível.

Achando graça de sua confissão, virei o rosto e o espiei sobre o


ombro, apenas para encontrá-lo sorrindo, ainda de olhos fechados.
— É tão cara de pau que nem fica vermelho.

— Não acredito que é isso que ganho por abrir meu coração. Ok,
pode ir, mas não entregarei seus presentes hoje.

Tendo a curiosidade aguçada por sua provocação, me virei na cama


até estar deitada de frente para ele e só então percebi quão próximos nossos
rostos estavam. Com o coração batendo em um ritmo mais acelerado depois

de me dar conta de que os lábios dele estavam a centímetros dos meus,


pensei em recuar, mas era tarde demais, pois se o fizesse acabaria caindo da

cama ou demonstraria que toda aquela proximidade estava me afetando.


— Que interesseira, quer dizer que pela minha companhia você não

ficaria, bastou eu tocar no assunto “presentes” para mudar de ideia? —


questionou com falsa indignação enquanto me observava fixamente. — Tô
começando a duvidar que sentiu minha falta… — desviou o olhar, fazendo
um biquinho com os lábios, que me fez encará-los por mais tempo do que
seria prudente.
— Deixe de drama, é claro que senti sua falta, mas quero meus

presentes!
Incapaz de sustentar o personagem por muito tempo, Taeyang sorriu.

— Se acertar três coisas que tem na mala, eu te entrego.


Considerando que ele conhecia bem os meus gostos e sabia o quanto
eu estava ansiosa por um item em especial da maior banda de K-pop do

mundo, não hesitei em responder: — O álbum mais recente do BTS, soju[2]


de blueberry e uma caixinha de Pepero, porque você sabe que eu amo esses

biscoitinhos!
— Deveria ter pedido que você acertasse três coisas além do óbvio

— resmungou, antes de afastar o braço que permanecia envolvendo minha


cintura, rolar para o lado vago da cama e se levantar.

Animada para descobrir o que mais Tae poderia ter me trazido de


presente, corri para o banheiro e logo em seguida me sentei no chão do
quarto, onde meu amigo esperava por mim. Graças a ele e aos pais, tive a

oportunidade de conhecer a cultura coreana desde cedo, a ponto de tê-la


como parte de mim, já que desde pequena aprendi a falar o idioma, comer

os pratos típicos, ouvir as músicas e ver doramas com a senhora Jeong.


Quando os dramas asiáticos e não apenas os coreanos se tornaram
populares nas plataformas de streaming, eu já mantinha há algum tempo um
perfil no Instagram que falava sobre o assunto, dando dicas do que assistir,

músicas que bombaram nas minhas playlists e até falando um pouco sobre a
vida dos atores. Foi um pouco assustador, no bom sentido, quando da noite

para o dia ganhei milhares de seguidores e me tornei uma influenciadora


para o público daquele nicho. Dentre todas as pessoas que acompanharam o
processo, Taeyang foi o que mais me apoiou.

Fascinada com o que meu amigo acabara de me entregar, agarrei a

embalagem ainda fechada do álbum do BTS e a pressionei de encontro ao


peito. Quando abri os olhos, encontrei a atenção dele toda voltada para

mim, me admirando em silêncio, como fez mais cedo enquanto estávamos

no carro e também durante o almoço.

— O que foi? — questionei, de repente ficando envergonhada por


parecer uma adolescente boba diante dele.

— Você parece feliz, isso me deixa feliz, mas acho que o melhor está

dentro da caixa, você deveria olhá-la.


— Se importa se eu fizer isso mais tarde?

— De maneira alguma, mas por que?

— Há chances de que eu caia no choro e não quero parecer patética


na sua frente.
— Maitê, jamais te acharia patética, por qualquer que fosse a razão.

A convicção em sua voz e a intensidade de seu olhar fizeram com


que meu coração falhasse uma batida dentro do peito. Com medo de deixar

isso transparecer, achei melhor agir.

— Vamos lá, o que mais você tem de especial para mim?


— Por enquanto, fique satisfeita com isso. O restante você pode

esperar até o natal.

Mesmo querendo muito descobrir o que ele estava guardando, decidi

respeitar seu pedido, já que acreditava que Tae tinha um bom motivo para
me fazer esperar.

— Tudo bem, são só mais alguns dias, acho que dou conta.

— Ótimo, prometo que vai valer a pena. — Piscou, antes de me


lançar um sorrisinho de canto, que me deixou momentaneamente sem

palavras.

Meu Deus, Taeyang, você não deveria me confundir dessa maneira


com seu jeito conquistador, que estava ainda mais mortal do que antes.
Capítulo 4

Ver um sorriso lindo e brilhante surgindo nos lábios de Maitê ao me


encontrar do lado de fora do prédio onde trabalhava, fez os últimos dias

valerem a pena.

Quando estávamos em um fuso-horário diferente, nossas conversas


aconteciam por mensagens escritas, áudios e, sempre que possível,

fazíamos chamadas de vídeo. No entanto, desde que voltei nossa rotina

estava bagunçada, tinha sofrido alterações e até as mensagens mais básicas


estavam difíceis de acontecer. Incomodado com a situação, resolvi agir.

O devaneio no qual me perdi acabou assim que fui envolvido em um

abraço apertado, que me aqueceu por dentro. Mais do que depressa tratei de
retribuir o gesto, e também aproveitei para afundar o nariz no topo de sua

cabeça. Eu adorava o cheiro dos cabelos dela. Assim que nos afastamos,

notei um grupo de pessoas paradas a alguns passos de distância, nos

encarando.

— Como sugeriu que fôssemos a um karaokê, resolvi convidar a


Pilar, que está na fossa porque terminou o namoro. Samuel e Matheus, que

são nossos amigos do trabalho, ouviram a conversa e também quiseram vir

com a gente. Espero que não tenha problema — comentou com um ar de

incerteza, ao notar o meu sorriso murchando.


Infelizmente — ou não — eu era péssimo em disfarçar o que estava
pensando ou sentindo, e me conhecendo há tanto tempo, Mai sabia me ler

melhor do que ninguém, à ponto de perceber que não fiquei animado com a

ideia de termos companhia. Apesar da grande vontade de dizer que levar

aqueles convidados seria um problema, neguei com um aceno para

tranquilizá-la.

Quando fiz o convite, planejei uma noite a dois, na qual usaria o


karaokê para cantar algumas músicas românticas para ela, enquanto não

achava o momento certo para me declarar. Dadas as circunstâncias, mais

uma vez o momento seria adiado.

Paciência, Taeyang, o que são mais alguns dias esperando,

comparados a todos os anos guardando segredo?

— Está com fome? Precisamos encontrar um restaurante para jantar,

onde pensei em te levar não terá lugar para todos.


— Desculpe estragar os planos, deveria ter perguntado antes…

Como não queria que ela se sentisse culpada, tratei de dizer: — Tudo

bem, faremos a programação original outro dia.

Sorrindo aliviada com a minha resposta, Maitê me levou para junto

de seu grupo de amigos e me apresentou a eles. Em seguida, decidimos ir a

um restaurante próximo ao karaokê e apesar da minha vontade de ficar a sós


com ela, mesmo que fosse por cinco minutos, ofereci carona aos três
amigos porque sabia que isso a deixaria contente. Mais do que depressa eles

ocuparam o banco traseiro do carro.


No curto trajeto Maitê estava falante, sorridente e se mostrou muito

animada que diferentes partes de sua vida estivessem se fundindo,


tornando-se uma só. Como ela mesma disse, depois daquele tempo ausente,
eu estava retornando ao seu mundo, lugar de onde não pretendia sair nunca

mais.
Como todos estavam famintos e sem paciência para decidir entre as

opções, terminamos indo a uma pizzaria. Durante o jantar pude ver a nova
versão da Maitê interagindo com seus amigos, rindo de assuntos do

trabalho, mas ainda sendo gentil e cuidadosa ao me incluir nos temas, de


forma que não me sentisse excluído, assim como aconteceu em nossa
infância.

Outra coisa que pude notar naquela situação foram os olhares


demorados que Matheus, um de seus colegas, lhe lançou a cada

oportunidade que teve, e que se tornaram menos discretos conforme os


minutos se passavam. Como não estava bebendo, uma vez que voltaria para

casa dirigindo e pretendia manter Mai em segurança, pude analisá-lo com


atenção e constatar o óbvio, ele era atraído por ela.
Eu ainda pensava a respeito daquilo quando chegamos ao karaokê.

Saber que outros caras se sentiam atraídos ou apaixonados por Mai não me
surpreendia em nada, afinal, ela era uma garota incrível e que, além de

bonita, também tinha inteligência e transbordava alegria. A questão real


para mim era saber como ela se sentia em relação a ele, se tinha algum

interesse ou qualquer questão mal resolvida, porque uma coisa era certa, eu
não recuaria tão fácil.

— Que tal cantarmos essa aqui? — Maitê sugeriu para os amigos,


apontando uma das opções do programa. Assim que Pilar e Samuel
concordaram, os três pegaram um microfone cada e foram para a frente da

sala.
Sem saber o que esperar da apresentação, me ajeitei melhor no lugar

para poder assistir e acabei sendo surpreendido pelo funk que começou a
tocar nos alto-falantes. Quando meu olhar encontrou o de Maitê, arregalei
os olhos para que notasse meu espanto diante de sua escolha de música,

mas isso se mostrou ínfimo comparado ao fato de vê-la não apenas rebolar,
como fazer isso em sincronia com os amigos. Para alguém que a vida toda

se definiu como descoordenada e que dizia ter dois pés esquerdos, suas
habilidades tinham melhorado muito nos últimos anos.

O que mais eu não sabia sobre ela?


Como não se tratava de uma letra complexa, Mai, Pilar e Samuel
foram se revezando com facilidade ao longo de toda a música “Dançarina”,

do Pedro Sampaio. Enquanto alguém cantava, as outras duas pessoas


faziam o que a música pedia, como rebolar, descer e “sentar”, para em
seguida trocarem de lugar e dar continuidade ao pequeno show.
Quando foi a vez de Maitê dançar, lancei um rápido olhar de

esguelha para o lado e não me surpreendi ao encontrar Matheus lhe


comendo com os olhos, enquanto a cerveja que segurava estava esquecida.

Nunca na vida precisei usar tanto autocontrole e força de vontade quanto


naquele momento, para me impedir de partir para cima dele. Otário do
caralho.

A música acabou pouco depois e Maitê veio até mim com um sorriso
nos lábios. Para me adiantar e lhe fazer um agrado, abri a Coca-Cola que

tinha comprado quando chegamos, mas pela segunda vez na noite tomei um
banho de água fria quando ela, meio sem jeito, recusou.

— Desculpa, Tae, estou dando um tempo do refrigerante.


— Aqui está o chá de pêssego que você gosta — disse Matheus,
entregando uma lata da bebida industrializada.

Se a preocupação era com a saúde, como aquilo poderia ser melhor


que refrigerante?

Devido a iluminação baixa e colorida eu não podia ter certeza, mas


por um instante tive a impressão que Maitê estava corando, enquanto
desviava o olhar. Frustrado, precisei ver o imbecil com um sorriso arrogante
nos lábios, arrastá-la de volta para a frente da sala, depois de a intimar para
um dueto.
Quando a música que cantavam acabou, ele a convidou para mais

uma. Para a minha sorte, Pilar e Samuel eram pessoas legais e ficaram me
fazendo companhia enquanto bebiam. Assim que o álcool fez efeito na

garota, ela foi para a frente da sala e se juntou a dupla, deixando-me com
Samuel.
— Pode relaxar, cara, Matheus não tem vez com ela não.

— Como sabe? Ela disse algo? — questionei de imediato, para só

depois pensar que ele poderia estar jogando comigo.


— Eu sou bom em ler as pessoas. Além do mais, Maitê consegue

não enxergar o óbvio, não concorda?

Como ele já tinha notado meu desconforto de ver o outro dar em

cima dela e minha resposta foi meio óbvia, nem tentei negar que meus
sentimentos por ela iam além da amizade.

— Tive meus motivos para não fazer nada antes, mas agora é

diferente.
— Sabe, Taeyang, conheci a Mai na faculdade e nesses anos todos,

nunca vi ela falar de alguém com o mesmo brilho nos olhos que tem quando

é o seu nome envolvido.


— Quer dizer que ela não namorou ninguém nesse período?
— Não… nada além de “casinhos” sem importância. Minha amiga

tem um padrão elevado no quesito homem e relacionamento. — Sorriu,


parecendo se divertir com alguma lembrança. — Talvez seja por influência

dos doramas que assiste, ou este é apenas o jeito dela, não sei, mas em todo

caso, agora tenho mais certeza que só há uma pessoa capaz atender essas
expectativas.

— Tenho a sua benção? — questionei, sorrindo pela primeira vez na

noite.

— Só se cantar a próxima música comigo.


Capítulo 5

Dando um tapinha de aprovação nas costas de Samuel, nós nos


levantamos e fomos para a frente da sala assim que os três terminaram.

Sorridente, Maitê me passou o microfone e correu para se sentar, pronta

para ver um show que eu não fazia ideia do que iria cantar.
Após escolher, Samuel veio para perto de mim e falou “você

começa”, pouco antes da batida preencher a sala. Por sorte era uma música

que eu conhecia, então me senti um pouco mais relaxado quando “Closer”,


do The Chainsmokers com a Halsey, começou a tocar.

No refrão, Maitê batia palmas e, juntamente com Pilar que estava de

olhos fechados, se balançavam de um lado para o outro em seus assentos, e


quanto ao Matheus, bem, esse me olhava com cara de poucos amigos.

Samuel não encontrou qualquer dificuldade em interpretar a parte da

Halsey, e nossas vozes harmonizaram bem quando nos juntamos para cantar

o final. A julgar pelos polegares apontados para cima formando dois

“joinhas” e o sorriso amplo de minha amiga, a performance tinha sido


aprovada, embora Pilar não parecesse pensar o mesmo, já que lágrimas

escorriam de seus olhos.

— Meu ex e ouvimos essa música da última vez que fomos à praia.

— Lamentou, limpando o rosto com o dorso da mão, para em seguida pegar


o meu microfone.
Lhe dando espaço para colocar os sentimentos para fora, atravessei a

sala e me aproximei de Maitê, que encarava a amiga preocupada.

— Será que devemos fazer alguma coisa?

A pergunta foi direcionada para Samuel e Matheus, que deram de

ombros e negaram enquanto os acordes de “Eu sei de cor”, da Marília

Mendonça, começavam a tocar. Como já dizia o meme, a partir daquele


instante a festa virou um enterro, considerando que ela chorava enquanto

cantava. Quando não aguentaram mais ver a amiga sofrer, Mai e Samuel

foram consolá-la.

— Desculpa estragar a noite, gente, é melhor eu ir para casa.

— Não, amiga, já que viemos juntos, vamos juntos também! —

falou Samuel, passando um dos braços pelo ombro da garota, como forma

de consolo, enquanto eu tentava entender se sua escolha de música tinha


sido proposital ou apenas uma coincidência Ao ver que não teria outra

saída, Matheus se levantou, pegou os pertences de Pilar e se juntou a eles.

Depois de uma despedida breve e meio atrapalhada, os três se foram, nos

deixando sozinhos.

— Se quiser, ainda podemos usar a sala por mais um tempo, nossa

reserva não acabou. — Diante de sua indecisão, fiz a única oferta capaz de
melhorar o final da noite: — Que tal cantar uma do BTS?
— Tudo bem, mas antes, acho que preciso de uma bebida para

relaxar.
Como o karaokê ficava localizado no bairro oriental e grande parte

do público estava familiarizado com os costumes, bebidas e comidas, não


tivemos qualquer dificuldade em conseguir comprar uma garrafa de soju.
Enquanto Mai abastecia o próprio copo e virava uma dose, fui para a frente

da sala e escolhi “Dimple”, do BTS. Assim que a melodia começou a tocar,


ela sorriu e negou com um aceno, então cantei o primeiro verso olhando em

seus olhos: — Ela se esconde bem, mas aparece quando você sorri. De
onde você veio? Não minta, você é um anjo, não é? O que você é?

Embora não fosse o melhor cantor do mundo, eu me saía bem no


papel, conseguia não desafinar e ser consistente, e a maneira como estava
sendo observando, com um olhar de admiração, diversão e algo a mais,

reforçaram isso.
— Essa covinha é ilegal, ilegal. Não, é perigoso, oh, sim. Então eu

te chamo de garota ilegal, garota ilegal. A sua própria existência é um


crime.

Apesar de parecer um pouco tímida, Mai pegou o outro microfone e


se aproximou enquanto continuei cantando.
— Foi um erro cometido por um anjo? — Deslizei o polegar por sua

bochecha, enquanto meu olhar estava preso ao dela — Ou um beijo


profundo? Essa covinha é ilegal, ilegal. Mas eu a quero de qualquer forma.

— Cantei junto ao seu ouvido.


Quando fui recuar, aproveitei para dar um beijo em uma de suas

covinhas, mas antes que tivesse a chance, Maitê virou o rosto para me olhar,
fazendo com que nossos lábios se tocassem. Por um instante foi como se o

tempo parasse, a música desaparecesse e tudo além dela deixasse de existir.


Com os olhos arregalados e os lábios afastados em choque, Maitê
permanecia imóvel apenas me encarando, como se esperasse que eu fizesse

algo, que tomasse uma atitude que ela mesma não era capaz naquele
instante. Dividido entre ir adiante e beijá-la, ou recuar e me desculpar,

pressionei a boca na dela com um pouco mais de intensidade, antes de


ajustar o encaixe de nossos lábios e fechar os olhos.
Eu podia sentir a tensão emanando de seu corpo, sabia que a cabeça

dela estava sendo bombardeada por um milhão de pensamentos, mas não


queria que o momento acabasse daquela maneira, não quando finalmente

cheguei tão longe. Pousando a mão livre em sua nuca, ajustei a cabeça no
ângulo perfeito para o beijo e então suguei seus lábios entre os meus,

ganhando um arfar em resposta. Como não fui repreendido ou empurrado,


enlacei sua cintura com o outro braço e a trouxe para junto de mim.
Sem pressa alguma, deslizei a ponta da língua por seus lábios, que se

afastaram mais em um convite silencioso. Satisfeito com a reação dela,


mordisquei de leve a carne macia de sua boca e isso foi o suficiente para
que Mai passasse a corresponder. Enlaçando meu corpo com seus braços,
ela eliminou qualquer espaço que havia entre nós, e eu aproveitei o

momento para aprofundar o beijo e explorar o interior de sua boca.


Em poucos segundos descobri que beijá-la era ainda melhor do que

todas as fantasias que tive ao longo dos anos. A sensação de nossas línguas
entrelaçadas, do corpo estreito pressionado ao meu, o doce perfume
feminino me embriagando, puta que pariu, era quase demais para mim.

Apesar do meu desejo que o tempo estivesse congelado, percebi que


ele havia passado quando o ar começou a faltar. Relutante, diminuí o ritmo

do beijo até finalizá-lo com um selinho. Como ainda não estava pronto para
encará-la, sem saber se encontraria algum tipo de horror ou rejeição em

suas feições, permaneci de olhos fechados por alguns segundos, com nossas
tetas encostadas, enquanto pouco a pouco retornava para a realidade.
Quando já não tinha mais como adiar, abri os olhos e a encontrei

fazendo o mesmo. O peso do que tinha acontecido recaiu sobre mim justo
quando percebi que as luzes coloridas tinham se apagado e dado lugar à

lâmpada comum, que me permitia ver as bochechas coradas. Enquanto


procurava a coisa certa para dizer, acabei sendo atrapalhado por um
funcionário que abriu a porta e falou: — O tempo de vocês acabou,

precisam liberar a sala.


O homem se foi sem ao menos esperar por minha resposta, deixando
para trás um clima tenso. Evitando me olhar, Mai foi ao outro lado da sala,
apanhou sua bolsa que estava em uma das poltronas e quando se

aproximou, ainda sem me olhar, disse apenas que estava pronta para ir.
Ótimo, era por aquela razão que amigos não deveriam se beijar. Eu

tinha acabado de estragar tudo.


Capítulo 6

Foi só um sonho, disse a mim mesma, assim que acordei na manhã


de sábado, me sentindo atordoada. De maneira alguma aquilo poderia ser

real. Tae e eu, nos beijando de maneira tão intensa enquanto tocava

Dimple? Não, no mundo real aquilo jamais aconteceria! Mas… se não era
real, como eu era capaz sentir os lábios dele nos meus, seu toque, cheiro e

todas as coisas que despertou em meu corpo?

Não foi só um sonho, constatei, depois de fechar os olhos e reprisar


mais uma vez na memória a sequência de acontecimentos.

A volta do karaokê foi tão estranha e silenciosa que, quando Tae

parou diante de casa, mal consegui olhar em sua direção ao dizer um


simples “tchau” e sair correndo do carro. Que grande idiota eu fui ao agir

daquela maneira, pois ao permanecer calada, fiz com que o desconforto

crescesse e a situação toda parecesse muito pior do que era, afinal, quem

nunca se deixou levar pelo momento e acabou dando um beijo — muito

gostoso, por sinal — no melhor amigo?


Merda, Taeyang, por que fomos nos beijar, ainda mais você fazendo

isso tão bem? O lamento veio antes que eu notasse o rumo de meus

pensamentos e me repreendesse, afinal, a culpa era minha por ter virado o

rosto na hora errada.


O que será que deu nele para agir assim, de repente?
O pensamento mal tinha saído de cena para dar lugar ao próximo,

que também me faria surtar, quando o alerta de uma nova mensagem me fez

olhar na direção do celular.

Como uma mulher madura que era, minha primeira reação foi

afundar o rosto no travesseiro e tentar me esconder. A verdade é que no

fundo eu temia encontrar um pedido de desculpas — que não tinha certeza


se queria receber —, seguido de uma mensagem dizendo que a noite

passada tinha sido um erro.

Depois de relutar um pouco em ver do que se tratava, mesmo porque

podia ser uma mensagem de Pilar ou Samuel, peguei o aparelho de cima da

mesinha de cabeceira, apenas para confirmar que a minha primeira suspeita

estava correta, se tratava de uma mensagem do Tae.

“Bom dia, Mai. :) Como a minha tentativa anterior de fazer


surpresa não deu muito certo, já estou avisando: esteja pronta às 19:00,

passo para te buscar. Ah, e não convide mais ninguém.”

Ok, de onde veio aquilo? Alguns pontos positivos na mensagem de

Tae foram: ele ter agido normalmente e ter tomado a iniciativa de puxar

assunto primeiro, algo que eu teria adiado durante todo o dia. O lado

negativo foi não ter qualquer pista do que ele pretendia, além de saber que o
acontecimento da noite anterior precisava ser esclarecido.
“Bom dia. Tae, precisamos conversar”, despejei de uma vez, pois

como dizem por aí, é mais fácil arrancar o curativo de uma única vez, do
que ir aos poucos.

“É exatamente o que vamos fazer.”


“Pode me dizer onde vamos ou o que devo vestir?”
“Ainda não, mas não precisa se preocupar, basta colocar uma roupa

que te faça sentir bonita.”


“Ok, até mais tarde”, me despedi, sabendo que Tae não daria mais

nenhuma informação.
Pouco depois a curiosidade começou a borbulhar dentro de mim

como quando esquento a água para o chá, então eu soube que precisava me
colocar em movimento, do contrário, acabaria enlouquecendo antes que o
relógio marcasse o horário combinado.

Rolando para fora da cama, fui até o banheiro cuidar da minha


higiene, em seguida para a cozinha, onde preparei meu café da manhã.

Depois de satisfeita, peguei os suprimentos que precisaria, voltei para o


quarto e, com os fones de ouvido ligados comecei a única tarefa que me

traria um pouco de paz, uma mega faxina que se estendeu por todo o dia.
Como mamãe já sabia que quando tal “evento” acontecia naquela proporção
— que implicava em tirar tudo do lugar e virar o quarto do avesso, a ponto
de parecer que uma bomba tinha explodido ali dentro — era porque algo me

perturbava, ela evitou fazer comentários.


Quando o relógio se aproximou do final da tarde, fui tomar banho

para começar a me arrumar e só então percebi quão estúpida tinha sido


minha decisão, uma vez que estava cansada e com as unhas feias. Apesar de

dizer a mim mesma que não tinha motivos para querer fazer algo de
diferente, porque estava apenas indo encontrar o meu amigo, acabei dando
uma atenção especial a minha depilação.

— Meu Deus, eu tô perdendo a cabeça, só pode — resmunguei,


encarando as roupas no armário.

Tendo como única referência as mensagens enviadas pela manhã,


acabei optando por um vestido preto até o meio das coxas, com mangas
longas e bufantes, que ao fechar com a amarração cruzada, formava um

belo decote em V que valorizava o meu colo. Nos pés optei por um sapato
de salto alto e a maquiagem foi um pouco mais elaborada do que costumava

usar no dia a dia.


No horário combinado, avistei o carro chegando e saí de casa,

deixando minha mãe curiosa para trás, provavelmente espiando pela janela.
Ao ver Tae descer do veículo, dar a volta e caminhar na minha direção,
senti o coração falhar algumas batidas. Usando um terno escuro, com uma
camisa cinza por baixo, sem gravata e os dois primeiros botões abertos, ele
era uma visão e tanto.
— Você está deslumbrante — falou em um tom baixo, sedutor, que

era algo novo para mim.


Saindo do transe em que entrei apenas pela sua proximidade, me

perguntei se ele tinha se olhado no espelho antes de me fazer aquele elogio.


Não que eu estivesse questionando a minha beleza, longe disso, mas a dele
estava em outro patamar naquela noite. Quem estava diante de mim poderia

ser qualquer um, menos o meu amigo.


— Meu Deus, Tae, você… de terno… Wow, está lindo.

Modesto como sempre, vi suas bochechas corarem de leve enquanto


ele respondia ao meu elogio com um sorrisinho de canto de boca. Filho da

puta! Como ele conseguia ficar ainda mais bonito e charmoso? Tanta
beleza reunida em uma só pessoa era até injusto com outros caras.
Tentando desfazer a cara de boba que eu certamente estava enquanto

o admirava, não me opus quando uma de suas mãos veio parar na base de
minhas costas e me conduziu alguns passos a frente até o carro, onde ele

abriu a porta do passageiro para que eu me acomodasse.


Brasil, o que é que está acontecendo? De repente eu tropecei e caí
dentro de um dorama? Se for o caso, pode me deixar aqui mesmo, porque

estou sendo feliz neste momento!


Repetindo o meu mantra da vida, “respira, não surta”, enquanto me
deliciava com o cheiro masculino e delicioso de Taeyang que pairava no
interior do carro, o vi dar a volta no veículo e ocupar o banco do motorista.

Com uma mão segurando firme no volante — algo que eu sempre achei
absurdamente sexy e que por um momento me fez pensar como seria se ele

me segurasse daquela maneira — e o rosto virado na minha direção, Tae


voltou a exibir um sorrisinho de canto de boca antes de dar a partida e
começar a dirigir.

— Será que já posso saber onde estamos indo? — perguntei a seguir,

quando consegui desviar os olhos dele e voltar a raciocinar com um pouco


mais de clareza.

Depois do beijo, temi que as coisas ficassem muito estranhas entre

nós, porém, a única coisa de diferente até então era a atração incontrolável

que eu estava sentindo. Como era possível que o Tae, meu amigo de
infância, o cara que esteve lá para mim em todas as horas, tivesse

despertado algo dentro de mim a ponto de me fazer sentir desejo e querer

ser vista como mulher, não apenas como uma velha amiga.
— Aguenta só mais um pouco — pediu, dando duas batidinhas leves

logo acima de meu joelho, antes de voltar a segurar o volante.

Falando daquela maneira, com a voz mansa e sexy, foi impossível


não me questionar se na cama ele também usava aquele tom. Assustada
com o rumo dos meus pensamentos e temendo deixar escapar algo que

pudesse vir a me arrepender depois, concordei com um aceno e voltei a


atenção para o lado de fora.

— Esqueceu alguma coisa em casa?

O questionamento foi feito assim que ele entrou no condomínio em


que os pais moravam. Como ele apenas me lançou um sedutor olhar de

esguelha, resolvi não fazer mais perguntas, estava cansada de não obter

respostas.

Assim que parou na garagem, ele repetiu o mesmo gesto que teve ao
me buscar e abriu a porta do carro. Em seguida, me levou para dentro de

sua casa, que estava silenciosa e com algumas poucas luzes acesas. Antes

que eu pudesse raciocinar demais, fui conduzida até a cozinha, onde uma
das banquetas diante da ilha foi afastada para que eu me sentasse.

— Deve estar com fome, não é? Prometo não te fazer esperar muito,

já preparei o que costuma ser mais demorado.


Completamente sem palavras, graças às inúmeras velas espalhadas

pelo ambiente e ao fato de Tae ter tirado o blazer e dobrado as mangas da

camisa, deixando seu antebraço exposto, acenei em concordância.

Satisfeito, ele me serviu uma taça de vinho e foi cuidar de seus afazeres.
Enquanto o assistia mexer nas panelas, cortar ingredientes e levar tudo ao
fogo, notei que algumas vezes seu olhar recaiu sobre mim e ao ver que

minha atenção estava cem por cento nele, fez charme.

Porra, até aquele momento nunca percebi o quão sexy poderia ser
assistir um homem cozinhando.

— Onde aprendeu a cozinhar assim?

— A vida ensinou. — Piscou.

Se ele continuasse fazendo aquilo, muito em breve eu perderia de


vez o juízo e não responderia por mim. Deus, era enervante me sentir tão

afetada por pequenos gestos, como um olhar, um sorriso e até mesmo

aquela teimosa mecha de cabelo que havia se soltado do restante, que estava
penteado de maneira elegante, e caía sobre a testa dele.

Para evitar falar qualquer besteira, procurei manter a conversa em

torno de assuntos confortáveis, que só duraram até eu perguntar por seus

pais, para logo depois descobrir que eles estavam fora da cidade, porque o
senhor Jeong viajou a trabalho e levou a esposa junto. Ótimo, tudo que eu

mais precisava no momento era ficar a sós com ele, quando estava me

sentindo uma safada por cobiçá-lo.


Para o meu completo alívio, Tae não demorou muito mais tempo

para finalizar o preparo do Dakgalbi, um prato típico coreano, e nos servir.

Prestes a respirar aliviada por acreditar que o “pior já tinha passado”,

percebi que na verdade o desafio estava apenas começando, já que ficar


encarando o esplendor em forma de homem sentado diante de mim não era

muito educado. Não me engasgar com a comida ou deixar a bebida escorrer


para fora dos meus lábios também exigiu muito de mim, ainda mais quando

ele passou a me observar diretamente, sem sequer disfarçar.

— Por que está me olhando dessa maneira?


— Como? — perguntou, com um tom de desafio, me instigando a

falar.

Assim, como se não conseguisse pensar em mais nada além de mim,

como se ficar sentado do outro lado da mesa, sem me tocar, fosse


insuportável. Como se quisesse arrancar minhas roupas e me fazer gemer

seu nome. Como se tivesse planos envolvendo nós dois não apenas para

essa noite, mas para o futuro, para a vida toda; foi o que pensei em dizer a
ele, mas me detive, engolindo todos aqueles pensamentos junto com um

gole de vinho.

Nos últimos tempos, pouco antes de seu retorno, percebi que Tae se

mostrava mais desinibido e sedutor em nossas chamadas de vídeo, flertando


por diversão, lançando alguns olhares e passando as mãos nos cabelos,

gestos típicos da conquista, que na ocasião não levei a sério. Porém,

presenciar tudo isso ao vivo estava me provocando coisas, bagunçando


meus pensamentos, me fazendo olhar para ele com segundas intenções e

querendo ligar o foda-se para as consequências.


Nós já havíamos nos beijado mesmo, quem se importava se uma

amizade de quase quinze anos fosse arruinada depois de uma noite?

Naquele momento, eu não.

— Não sei, mas tem algo diferente.


— Isso é bom ou ruim?

— Depende…

— Posso saber de quê?


— Não sei se estou vendo coisas onde não tem, ou se tem muito

mais do que estou vendo.

Cruzando as mãos diante de si sobre a mesa, Tae inclinou o corpo

para frente, com o peito largo se projetando em minha direção. Foi


impossível não baixar o olhar até o pedaço de pele visível através dos dois

primeiros botões abertos de sua camisa.

— E se eu disser que tem muito mais do que está vendo…? —


Parou, deixando a pergunta morrer antes de ser finalizada.

Tomada pela coragem e ousadia, ou talvez pela imprudência e desejo

desenfreado, levantei do lugar onde estava e dei a volta na mesa. Quando

parei ao lado dele, que já tinha se virado parcialmente em minha direção,


segurei seu rosto entre as mãos e após me curvar até ficar em sua altura, uni

nossos lábios.
Capítulo 7

Durante todo o preparo do jantar fiquei esperando que Maitê entrasse


no assunto da noite anterior, isso porque depois de agir sem pensar nas

consequências, queria respeitar o espaço dela, saber o que pensava e quão

grande tinha sido o impacto das minhas ações. A última coisa que eu
desejava quando a beijei era colocar tudo a perder.

Ao vê-la tomar a iniciativa, respirei aliviado, pois seu gesto me fez

acreditar que as barreiras que a impediam de me ver como algo além de seu
amigo tinham desaparecido, o que nos deixava na mesma página da nossa

história.

Sem esperar que sua boca se afastasse da minha, levantei da cadeira,


enlacei sua cintura a trazendo para mais perto e pousei a outra mão na base

de sua nuca. Assim que inverti nossas posições e a prendi contra a borda da

mesa, senti seu corpo relaxar e se aconchegar mais ao meu. Pouco depois

suas mãos pequenas e delicadas deixaram meu rosto e enquanto uma

pousou sobre meu peito, a outra foi parar em minha nuca. Com as pontas
dos dedos ela iniciou uma massagem lenta e estimulante, que só fez meu

pau ficar ainda mais duro dentro das calças.

Me afastando de sua boca para que pudéssemos respirar, trilhei um

caminho de beijos por seu pescoço e em seguida até sua orelha, onde
confessei: — Estou tentando me segurar, mas você não está ajudando ao
fazer isso.

Para ilustrar do que estava falando, pressionei minha ereção contra

seu estômago, para que sentisse quão duro eu estava.

— Não quero que se segure, Tae, quero que continue me beijando,

me tocando…

Como o pedido dela era uma ordem, a suspendi em meus braços, fui
até a outra ponta da mesa que estava vazia e a coloquei sentada, deixando-a

alguns centímetros mais alta. Depois de me encaixar entre suas pernas, o

que fez o vestido curto subir um pouco mais, deixando suas coxas expostas,

apoiei o indicar sob seu queixo e o elevei, para que ela me encarasse.

— Você só precisa me mandar parar, ok?

Concordando com um aceno lento enquanto um brilho perverso

surgia em seus olhos, Maitê sorriu de maneira travessa antes de me puxar


para junto dela e reivindicar minha boca mais uma vez. Incapaz de manter

as mãos paradas, decidi realizar um desejo da adolescência. Sem pressa

alguma, percorri toda a extensão de suas coxas grossas, com os polegares

deslizando pela parte interna, até alcançar o ponto sensível entre as pernas,

que com o mínimo toque a fez arfar. Apesar de não me orgulhar, não foram

poucas as vezes que bati punheta pensando nela, Mai sempre foi a minha
musa.
Enquanto nos beijávamos e eu a provocava, suas mãos exploravam

minhas costas. Ao chegarem à cintura da calça, vieram para a parte da


frente e subiram, passando por meu abdômen, até alcançarem os primeiros

botões de minha camisa, que foram abertos com uma rapidez


surpreendente, deixando meu peitoral exposto.
Surpresa, desejo, admiração, tesão, estava tudo ali, queimando em

seus olhos e estampado em seu rosto enquanto me observava. Durante


nossa infância e adolescência, Mai me viu brincar sem camisa muitas vezes,

no entanto, o que estava diante dela naquele momento era completamente


diferente. Ao que parecia, todos aqueles músculos e definição que o

exército me ajudou a ganhar tinham valido a pena.


Parecendo não acreditar no que via, esticou as mãos com certa
relutância, como se temesse que eu fosse desaparecer sob seu toque.

Quando isso não aconteceu, vi seus lábios se afastarem um pouco mais e


formarem um “O” ao sentir a rigidez dos meus músculos. Lambendo os

lábios como se estivesse diante de um prato muito apetitoso, Maitê


desenhou cada um dos gominhos em meu abdômen, enquanto eu lutava

para não perder a cabeça e fodê-la ali mesmo. Aquilo estava me dando um
tesão do caralho.
— Porra, Tae, você tá muito gostoso!
Quando ela deslizou a camisa por meus ombros, se livrando da peça,

não fui capaz de me conter. Apoiando as mãos na base de suas costas, a


puxei mais para frente, até que meu pau estivesse pressionando o ponto

sensível entre as pernas dela e a beijei com fervor. Depois de me perder em


seus lábios e na sensação gostosa de sua língua se enroscando na minha,

desci os beijos por seu colo através do decote e afastei o tecido do vestido,
me deparando com seus peitos perfeitos.
— Cacete, Mai — murmurei, antes de cobrir um com a mão e

abocanhar o outro.
Um gemido intenso e profundo deixou sua garganta quando suguei o

mamilo sensível, fazendo-a tombar a cabeça para trás e enlaçar minha


cintura com as pernas, como se toda proximidade do mundo não fosse o
suficiente.

— Meu Deus, isso é bom!


Enquanto me perdia em seu corpo e lhe dava prazer, eu mal podia

acreditar que estava mesmo acontecendo, que Maitê estava em meus


braços, entregue e passional, respondendo aos meus estímulos. Era tão bom,

que me sentia preso em um sonho do qual não pretendia acordar.


— Se segure em mim — falei, antes de pegá-la nos braços e
caminhar até o quarto.
No curto trajeto percebi que seus olhos não se desviaram de mim
nem por um segundo, e como não aguentei lidar com tamanha fofura e
safadeza estampada em seu rosto, plantei um beijo na ponta de seu nariz,

que a fez sorrir e as bochechas corarem.


A primeira coisa que fiz ao entrar no quarto foi colocá-la deitada em

minha cama, para em seguida ligar a luminária da escrivaninha, do outro


lado do cômodo, que deixou o ambiente com a iluminação perfeita, nem
claro demais para deixá-la tímida e nem muito escuro a ponto de não

conseguir vê-la. Com olhos atentos e curiosos, Mai observou cada uma das
minhas ações, antes de me reaproximar. Engatinhando na cama, só parei

quando estava por cima dela, com os braços apoiados ao lado de sua
cabeça.

— Tão perfeita…
Para ter certeza que não estava fantasiando com o momento, usei
uma das mãos para acariciar a lateral de seu rosto e quando a linda garota

sorriu, meu mundo se iluminou. Diminuindo a distância entre nossos


corpos, mas ainda controlando meu peso para não a sufocar, provoquei seus

lábios com mordidinhas antes de lhe dar beijos espaçados. Quando a


temperatura voltou a subir, desatei o laço que mantinha o vestido fechado e
me deliciei com a visão de seu corpo.
Percebendo que ela estava à vontade, sem qualquer traço de timidez
ou pudor diante de mim, tive a confirmação que precisava para ir adiante.
Depois de distribuir beijos por sua barriga, enganchei os dedos na lateral da

calcinha rendada e a puxei para baixo, até escorregar por suas pernas e se
perder no chão do quarto. Mantendo o olhar fixo ao dela, afundei o rosto

entre suas pernas, mas assim que senti o delicioso sabor de sua boceta não
me contive, fechei os olhos em apreciação enquanto a ouvia gemer.
Como se precisasse de algo para se segurar, Maitê pegou uma das

minhas mãos que a segurava pelo quadril e entrelaçou nossos dedos. Me

deixando levar por seus suspiros e gemidos, fui provando e explorando sua
intimidade, até levá-la ao orgasmo, que não demorou a vir. Voltando à

posição anterior, a assisti flutuar de prazer e então retornar para mim,

abrindo os olhos lentamente enquanto um sorrisinho surgia em seus lábios.

Ainda mais apaixonado por ela, se é que tinha como, afastei de seu rosto os
fios de cabelo que grudam em sua pele.

— Quero mais, Tae — pediu, trazendo meu rosto para junto do dela.

— Quero tudo. — Chupou meu lábio inferior, provando de seu próprio


sabor. — Quero você dentro de mim, me fazendo sua, como nunca fui de

ninguém.

Apesar de suspeitar que Maitê ainda fosse virgem, ter a confirmação


mexeu comigo de uma maneira que não saberia explicar. Talvez fosse
bobeira, mas me senti honrado em ser o primeiro e, no que dependesse de

mim, único homem a tocá-la e amá-la de tal maneira.


— Prometo ser cuidadoso.

Depois de plantar um beijo em sua testa, desci da cama e me livrei

de uma vez da calça, cueca e meias. Em seguida, a ajudei a terminar de tirar


o vestido e o joguei para longe, para só então pegar um preservativo na

mesa da cabeceira e o deslizar por meu pau, sob o olhar atento de Maitê,

que mordia o lábio inferior, me encarando com desejo.

— Queria te chupar também.


— Prometo que não vai faltar oportunidade — pisquei —, mas agora

eu preciso de você.

Concordando com um aceno, Mai me recebeu de braços e pernas


abertas. Com a ponta do meu pau peguei parte da umidade que vazava de

dentro dela e espalhei por toda a região e isso a fez se remexer debaixo de

mim. No momento em que nenhum de nós aguentava mais esperar, me


posicionei em sua entrada, segurei uma de suas mãos e, lentamente, deslizei

para dentro dela. Quando seu rosto se contraiu, parei e esperei, apesar de

não ser a tarefa mais fácil, já que sua boceta me apertava com força. Assim

que a expressão de desconforto suavizou e os lindos olhos cor de avelã


voltaram a encontrar os meus, fui adiante, até preenchê-la por inteiro.
Depois de se acostumar com a invasão, passei a mover o quadril em

um ritmo lento, mas que pouco a pouco foi se tornando mais intenso e

ritmado, até que o som de nossos corpos se chocando estivessem


preenchendo o quarto, junto com gemidos e ofegos.

Determinado a fazê-la ter outro orgasmo, levei uma mão até seu

clitóris e passei a estimulá-lo ao mesmo tempo em que continuava

penetrando-a. Ao sentir suas unhas afundarem na carne de minhas costas e


sua boceta me apertando com ainda mais força, eu soube que ela havia

chegado lá, então passei a perseguir meu próprio prazer. A sensação de

gozar junto com ela foi intensa, poderosa, única, transcendental, algo que
nunca tinha experienciado antes.

Casado pelo esforço, tombei no colchão ao lado dela e a puxei para

junto de mim, mantendo-a presa em um abraço, enquanto as batidas do meu

coração desaceleravam. Quando senti que o êxtase tinha passado, abri os


olhos e me deparei com a visão mais bonita de todas, Maitê sorrindo para

mim. Incapaz de guardar o sentimento por mais tempo, acariciei sua

bochecha com o polegar, passando por uma de suas covinhas e falei: —


Saranghae.

— Eu também te amo, Tae — falou, plantando um beijo em meu

peito, exatamente onde estava meu coração.


Capítulo 8

O cheiro de café fresco foi o que me fez abrir os olhos na manhã


ensolarada de domingo, mas o que me roubou o ar de verdade foi ver Tae

entrar no quarto carregando uma bandeja, vestindo apenas o short de

dormir. Enquanto o assistia se aproximar da cama com seus belos músculos


à mostra, já que quem usava sua camiseta era eu, meu cérebro tratou de

encontrar a trilha sonora perfeita para o momento.

“Você é o raio de Sol que nasceu de novo na minha vida. A volta dos
meus sonhos de infância. Não sei o que é este sentimento. Será que aqui

também é o sonho?”, era o que dizia a letra de Euphoria do BTS, e que

descrevia muito bem o que se passava dentro de mim.


Depois de tudo que aconteceu desde o retorno dele, em especial a

noite anterior, eu só conseguia pensar que, de fato, estava presa dentro de

um sonho já que nunca me permiti fantasiar com a possibilidade de existir

um “nós”, além do quesito amizade.

— Bom dia, Bela Adormecida — me saudou com um sorriso, que


fez seus olhos se tornarem dois risquinhos adoráveis, quando notou que eu

estava acordada.

Colocando a bandeja nos pés da cama, Tae se aproximou trazendo

consigo duas canecas e se sentou na beirada do colchão ao meu lado.


— Hum, que delícia ser mimada assim, com café na cama.
— É o mínimo que posso fazer pela minha garota.

Aquela não era a primeira vez que Tae me encarava com intensidade,

a ponto de me fazer acreditar que ele podia espiar o que se passava em

minha alma.

— Sua garota, hein? — provoquei, com uma das sobrancelhas

arqueadas.
— Não é?

— Não sei, fui atraída para cá ontem com a desculpa de que iríamos

conversar.

— Vai dizer que tudo o que fizemos não foi melhor do que

conversar?

A insinuação somada ao seu sorriso de canto de boca, carregado de

malícia, fez minhas bochechas se aquecerem no mesmo instante.


— Foi… — o espiei por cima da borda da caneca, antes de voltar a

atenção para o líquido escuro — mas ainda acho que algumas coisas

precisam ser esclarecidas.

Por mais que não quisesse quebrar a magia na qual estávamos

envolvidos nas últimas horas, precisava saber o que Tae pretendia com

aquilo. Tinha sido tudo tão de repente, que preferia falar de uma vez e
deixar a situação bem resolvida, do que ter que lidar com algum mal-

entendido no futuro que pudesse nos afastar.


Me manter virgem até os vinte e um não foi uma decisão calculada,

na verdade, apenas esperei encontrar alguém que eu gostasse e confiasse o


suficiente para compartilhar tamanha intimidade. Muitas garotas não se
importam sobre quem seria o primeiro, mas eu não queria que fosse um

cara qualquer, que só pensaria no próprio prazer e após o sexo fosse me dar
as costas, sem se importar comigo e que, com certeza, não me ligaria no dia

seguinte.
Analisando friamente, acho que sempre esperei encontrar alguém

que me tratasse com o mesmo carinho e cuidado que Tae tinha comigo,
porém, com o adicional de fazer coisas que amigos não costumavam fazer,
como tudo que aconteceu na noite anterior.

— Que tal compartilhar comigo os pensamentos que estão te fazendo


corar? E nem tente dar a desculpa que é pelo café quente.

Se tinha algo que não dava para negar, era o quão bem Taeyang me
conhecia, talvez até melhor do que eu mesma. Como tinha insistido para

que a conversa acontecesse, resolvi compartilhar com ele os pensamentos a


respeito do que imaginei para a minha primeira vez, e enquanto falava,
percebi como era estranho me sentir à vontade e ao mesmo tempo tímida
por discutir tais assuntos com ele, já que sexo nunca foi algo comentado

entre nós.
— Nunca teve a curiosidade de saber como seria se nos

beijássemos?
A pergunta que veio na intenção de acabar com meu silêncio o

prolongou um pouco mais, isso porque me recordei de um sonho que tive


não muito tempo atrás, quando Tae ainda estava na Coreia, e que me deixou
mexida por dentro, fazendo com que eu me perguntasse “e se…?”, ao

mesmo tempo que rejeitava a ideia, temendo as consequências.


— Até tive, mas sabia que isso não iria acontecer. E que se

acontecesse estragaria tudo.


— E agora?
E agora? Repeti em silêncio, de olhos fechados, assimilando o peso

atrelado àquela simples pergunta.


“Segure as minhas mãos agora, você é a causa da minha euforia.

Mesmo que o chão de areia rache, mesmo que alguém balance este mundo,
nunca solte a mão segurada. Por favor, não acorde do sonho.”

— Parece bom demais para fingir que nunca aconteceu. E certo


demais para ser ignorado, apesar de eu sentir medo de te perder por
bagunçarmos as coisas — admiti, o encarando.

— Não precisa se preocupar, Mai, isso não vai acontecer.


Nos quase três anos que passamos longe enquanto Tae esteve no
serviço militar, carreguei comigo um buraco no peito, que nada foi capaz de
preencher. Agora eu sabia o motivo, era o lugar que pertencia a ele e mais

ninguém.
— Promete?

Pegando minha mão e entrelaçando nossos dedos, Tae olhou no


fundo de meus olhos e disse: — Mai, eu já te amava antes mesmo de
entender o que era esse sentimento, quando era apenas um garoto. No início

não foi fácil aceitar que a minha melhor amiga fazia meu coração bater
acelerado e deixava meus hormônios em ebulição. — Sorriu, com um toque

de safadeza. — Mas ao mesmo tempo não podia fazer nada, porque sabia
que iria embora servir o exército do meu país e te deixar esperando por

mim, de coração partido, não seria justo com nenhum de nós.


— Poderia ter me contado… não deve ter sido fácil lidar com isso
sozinho.

— Achei melhor deixar como estava, já que eu não era


correspondido. — Deu de ombros, me fazendo sentir um pouco culpada de

nunca ter notado, ou talvez ignorado de maneira inconsciente a existência


de tais sentimentos.
— E se eu tivesse conhecido alguém e me apaixonado?
— Acredite, esse era o meu pior pesadelo enquanto estava longe.
Não teve uma única noite que não pedi ao universo que te guardasse para
mim.

Como Tae pôde aguentar aquilo por anos e esconder tão bem, se o
simples fato de estarmos cara a cara enquanto ele se declarava, fazia meu

coração querer sair pela boca?


— Mai, não tenho dúvidas do que eu quero.
— E o que é?

— Ter você como minha namorada.

Eu poderia pensar o quanto quisesse a respeito, mas só havia uma


resposta certa.

— Sim, oppa, eu aceito ser sua namorada — falei, deixando a

caneca de lado e enlaçando seu pescoço, ao mesmo tempo em que um

sorriso bonito e muito brilhante surgia em seus lábios.

Depois de tomarmos café na cama, com direito a Tae me dando

comida na boca e contando algumas experiências que viveu durante os

últimos meses que esteve na Coreia, colocamos um filme de Natal na TV,


mas como não estava cem por cento recuperada da nossa noite, em algum
momento acabei adormecendo e quando acordei, me deparei com ele

velando meu sono.


— Isso é um pouco assustador.

— Que culpa eu tenho, se não consigo parar de te olhar?

Segurando meu rosto entre as mãos, Tae selou nossos lábios com um
beijo rápido e se afastou sorrindo, no entanto, seu gesto serviu apenas para

“abrir meu apetite”, então eu reagi trazendo-o para junto de mim e lhe

beijando de verdade, sem pressa alguma, com a língua explorando a boca

dele. Em momentos assim, me faltavam palavras para descrever o quão


perfeito era o nosso encaixe, a ponto de me fazer acreditar que ele tinha

sido feito para mim.

Nós nos afastamos quando o ar se tornou escasso e ao abrir os olhos,


passei uns bons minutos em silêncio, apenas memorizando cada traço do

rosto dele enquanto processava a informação de que aquilo estava mesmo

acontecendo, que meu melhor amigo e eu não apenas estávamos nos


beijando, como tínhamos nos tornado um casal!

— Linda.

O elogio veio acompanhado de uma delicada carícia na lateral do

meu rosto, que foi mais do que suficiente para fazer meu coração disparar
dentro do peito.
— Quando estou contigo, estou em utopia — sussurrei o último

verso de Euphoria, do BTS, que era a trilha sonora daquele nosso momento,

e então completei: — Apesar de já te amar de muitas maneiras, acho que


estou me apaixonando por você, Tae.
Capítulo 9

Alguns dias depois

— Um beijo por seus pensamentos — disse Maitê, me abraçando por

trás e apoiando a cabeça em minhas costas.

Não satisfeito com o arranjo, porque queria admirá-la a cada


oportunidade que tinha como forma de compensar o tempo que passamos

distantes, soltei o enlace de suas mãos e a trouxe a minha frente, abraçando-

a em seguida. Não satisfeito com o arranjo, porque queria admirá-la a cada


oportunidade que tinha como forma de compensar o tempo que passamos

distantes, soltei o enlace de suas mãos e a trouxe a minha frente, abraçando-

a em seguida.
Como nossos pais ainda não sabiam que o status do nosso

relacionamento tinha sido modificado de amigos para namorados,

estávamos tentando ser discretos para surpreendê-los aquela noite, porém, a

minha necessidade de estar perto dela a todo momento estava tornando cada

vez mais difícil manter o segredo.


— Hum, vou cobrar com juros — alertei, pousando as mãos em sua

cintura ao mesmo tempo em que tentava resistir ao impulso de beijá-la.

— Acho que posso lidar com isso.


A declaração veio acompanhada de um sorriso travesso, que me fez
pensar em um milhão de possibilidades para quando ficássemos a sós. Que

Maitê era do tipo romântica eu já sabia, a surpresa veio quando ela passou a

retribuir meus flertes descarados e descobri que seu lado safado ia além do

que imaginei. Não que eu estivesse reclamando, longe de mim, na verdade,

foi uma grata surpresa descobrir que minha garota e eu tínhamos a mesma

intensidade em diversos aspectos, fosse para nos divertir, amar ou na hora


do sexo.

— Sendo assim, eu conto. Estava me lembrando do primeiro natal

que passamos juntos.

Por ocupar um cargo alto dentro da empresa multinacional com sede

na Coreia, e que estava abrindo mais uma filial no Brasil, papai acabou

sendo transferido de país algumas semanas antes do natal. Entender o

processo de mudança, os novos costumes e lidar com a ausência de crianças


que me compreendiam não foi nada fácil, mas o senhor Rossi, pai da Mai e

que também trabalhava na empresa, tornou tudo menos sofrido para nós ao

nos acolher em sua casa, em um momento tão familiar quanto as

celebrações de final de ano.

Na época, mamãe falava coreano e inglês, além desses dois idiomas

papai já havia aprendido um pouco de português, enquanto que eu sabia


apenas o meu idioma de origem. Por ter uma aparência diferente e não falar
a mesma língua que os demais, vinha enfrentando certa dificuldade em

socializar com as crianças do prédio onde estávamos morando. Que sorte a


minha ter Maitê em minha vida.

— Nossa, meus primos te infernizaram naquele ano, fingindo que


você era meu amigo imaginário e te ignorando. Deve ter sido horrível
querer se comunicar e não conseguir se expressar.

— Um pouco, mas você foi superprotetora comigo desde o primeiro


instante, quando me agarrou e não deixou que eu me sentisse excluído.

— Estava cuidando do que era meu.


— Seu?

— Sim, meu presente de natal. Ou já esqueceu da história que pedi


um irmãozinho de olhos puxados para os meus pais?
— Lembro que quando os presentes foram abertos você nem deu

importância para aquela boneca esquisita que ganhou, só quis saber de ficar
de mãos dadas comigo, como se eu fosse mesmo seu presente… Quem diria

que ao invés de irmão você ganharia um amigo, que no futuro se tornaria


seu namorado? — sussurrei a última parte, olhando-a nos olhos.

Quando Mai abriu um sorriso cúmplice, provavelmente revivendo


aquelas e outras memórias que construímos ao longo dos anos, senti meu
peito se aquecer. Incapaz de resistir por mais tempo, plantei um beijo na
ponta de seu nariz segundos antes de ouvir a conversa e o som de passos

dos nossos pais se aproximando.


Quebrando nosso contato, Mai recuou um passo para longe, mas fiz

questão de trazer seu corpo para perto e mantê-la ao meu lado, enquanto um
braço descansava sobre seus ombros.

— O que fazem aí, quietos e escondidos? Estão mexendo nos


presentes como naquele outro natal? — perguntou mamãe, me lançando o
mesmo olhar de advertência de quando era pequeno.

Na situação relembrada por ela, Maitê e eu já estávamos mais


crescidos, e por influência de seus primos mais velhos, tentamos abrir os

presentes para descobrir o que estava sob a árvore. O plano era embalá-los
outra vez, para que ninguém notasse, mas óbvio que fomos pegos e levamos
a culpa sozinhos. Por sorte esse ano éramos apenas nós seis celebrando a

data, já que os demais familiares da minha namorada fizeram planos


diferentes, enquanto que os Rossi decidiram ficar por minha causa.

— Na realidade, eu estava aqui pensando sobre algo que queria dizer


aos senhores. Em nosso primeiro natal juntos eu era um garoto assustado,

que mal conseguia interagir com outras crianças, mas a Maitê tornou isso
mais fácil. Com esse mesmo jeito doce, sorriso lindo e alegria de viver, ela
me cativou dia após dia. Eu gostaria de ter falado ou feito algo a respeito
muito antes, mas sabendo que partiria de volta para a Coreia por um
período, decidi que o melhor a ser feito era esperar.
Lançando um breve olhar para Mai, vi que parecia nervosa e

animada ao mesmo tempo, então decidi seguir adiante.


— Passar esses quase três anos longe só confirmou o que eu já sabia,

que amo essa linda garota e que ela é única para mim. Se de alguma forma
no passado eu fui o presente de natal tão aguardado que ela pediu aos
senhores — sorri, encarando os pais dela —, hoje é a Mai quem faz isso por

mim, aceitando ser a minha namorada.


Com as bochechas coradas e um enorme sorriso no rosto, os braços

dela me enlaçaram pela cintura em um abraço apertado e sua cabeça


encostou no lado esquerdo do meu peito, onde o coração batia um pouco

mais rápido que de costume.


— Mãe e pai, senhor e senhora Jeong, o Tae me pediu em namoro e
eu aceitei! — reiterou Maitê.

A primeira resposta que tivemos quanto ao anúncio foram olhos


arregalados e suspiros de surpresa, seguidos por sorrisos amplos, olhares

cúmplices e um grande abraço trocado por nossas mães, enquanto diziam


uma para a outra “te falei para não perder a esperança” e “sempre soube que
foram feitos um para o outro”. Junto disso, papai me encarava com

aprovação, enquanto que o senhor Rossi estava sério nos observando.


— Papai… — disse Mai, parecendo alarmada diante do silêncio
dele.
Se aproximando alguns passos, que fez praticamente todo mundo

prender a respiração, ele parou diante de mim, olhou para sua filha que
ainda me abraçava e voltou a me encarar, para então dizer: — Por conhecer

os seus pais e te ver crescer, sei que você é excelente um rapaz, que a minha
filha será bem cuidada e muito amada. Continuem sendo bons amigos, isso
os ajudará a passar por qualquer dificuldade que a vida colocar em seus

caminhos, espero que sejam ainda mais felizes — concluiu, antes de nos

envolver em um abraço, que se tornou coletivo logo depois.


— Agora que já sabem da novidade, podemos abrir os presentes?

A pergunta foi feita por minha namorada enquanto secava o cantinho

dos olhos, após ser abraçada por nossas mães. Apesar de ser apenas o

anúncio do nosso namoro, de alguma forma todos sabiam que a nossa


história de amor não iria parar por ali. Não me surpreenderia se até a festa

da virada de ano nossas mães já estivessem começando o planejamento do

casamento.
— Eu começo — falei, recolhendo um dos embrulhos que estava

debaixo da árvore e o colocando nas mãos de Maitê.

Com a empolgação de uma criança, ela tratou de rasgar o papel em


um piscar de olhos. Dentro da caixa haviam diversas coisas, mas o que
pareceu ter lhe chamado mais atenção foi o envelope roxo.

— O que é isso, Tae? — questionou, com confusão estampada em


seu lindo rosto.

— Preciso mesmo dizer que são ingressos para o show do BTS?

— Isso eu entendi, mas… ficou maluco!? Esse show é na Coreia!


— Sim, e essas passagens nos levarão até lá. — falei, mostrando a

reserva do nosso voo, com data próxima a do show.

Como ela tinha acabado de se formar na universidade e ainda não

estava oficialmente contratada pela empresa em que trabalhava, nós


possuíamos uma janela de possibilidades para o que viria a seguir e a ida ao

show era apenas uma delas, já que assim como noite de natal, as surpresas e

revelações ainda não tinham acabado.


Feliz com o presente, Mai não deu importância à presença dos

nossos pais e, em meio às lágrimas, pulou em meus braços, para em seguida

me beijar.
— Eu te amo, Tae, obrigada por ser o protagonista do meu dorama

da vida real.
Epílogo

Os ingressos para o show e a passagem aérea com destino à Coreia


não foram as únicas surpresas que Tae me fez na noite de natal. Depois que

sua família foi embora e eu insisti para que ele ficasse, papai o “convidou”

a dormir na sala, uma consequência da nossa mudança de status de


relacionamento.

Enquanto fazíamos o arranjo, não pude deixar de pensar no quão

engraçado era algo que nunca foi problema antes, quando éramos
adolescentes e ele vinha passar o final de semana em casa, dormindo em um

colchão no canto do meu quarto, de repente se tornou um risco a minha

pureza. Mal sabia papai que estava atrasado com tal preocupação.
Claro que a “sugestão” do senhor Rossi não adiantou de muita coisa,

uma vez que peguei o travesseiro e as cobertas e fui dormir no sofá, apenas

porque queria estar perto do meu amor. De mãos dadas, com a casa em

silêncio e as luzes de natal iluminando a sala, Tae me contou seus planos

para o futuro, que também me incluíam, apesar de serem um pouco


ousados.

Por envolver grandes decisões, pedi a ele um tempo para pensar,

mesmo que no meu coração a resposta já estivesse florescendo. Quando fui

desligada da empresa alguns dias após a virada de ano, tomei aquilo como o
empurrão que faltava para dizer sim e começar um novo capítulo na nossa
história.

Meus pais ficaram apreensivos ao saberem da decisão de Tae de se

mudar para a Coreia do Sul pelos próximos anos para estudar, e da minha

vontade de acompanhá-lo. Não estava sendo fácil assimilar a ideia de que a

única filha estava decidida a ir morar com o namorado do outro lado

mundo, longe de tudo e de todos, falando um idioma diferente.


No entanto, aquele era um passo importante para o futuro do meu

namorado, que pouco antes de retornar ao Brasil realizou a prova do SAT

— uma espécie de ENEM coreano — e acreditava ter ido bem, o que lhe

garantiria ingresso a uma boa universidade. Outro ponto importante, foi

compreenderem que Tae não seria o único beneficiado com a mudança, uma

vez que no âmbito profissional, muitas portas poderiam se abrir para mim,

com oportunidades que jamais seriam possíveis no Brasil. Depois de


assimilarem tudo isso, recebi o apoio de ambos.

Apesar de muito contentes pela decisão do filho, o senhor e a

senhora Jeong também não ficaram tão satisfeitos por sermos um casal de

namorados dividindo um apartamento em Seul, mas depois do último jantar

em família antes de nossa mudança, todos entenderam e aceitaram a nossa

decisão de não apressar ainda mais as coisas. Tae e eu queríamos ir com


calma e viver todas as fases possíveis do nosso relacionamento.
Os últimos dois meses foram intensos e especiais de muitas

maneiras, pois a cada esquina que virava, sentia que estava protagonizando
o meu dorama da vida real. Publicar nas redes sociais o processo de

mudança e como estava sendo minha adaptação à nova rotina atraiu não
apenas a atenção de novos seguidores, como também de uma plataforma de
streaming com quem fechei parceria. Para alguns poderia até parecer

bobeira, mas aquela foi uma conquista pessoal não planejada, que validou o
que fiz com amor e por pura diversão, nos últimos anos.

A mudança no ambiente a minha volta me fez sair do devaneio em


que havia mergulhado e retornar ao momento presente. Rodeada por

pequenos pontos de luzes, onde cada um deles era um fã na multidão, vi o


foco de luz surgir no centro do palco e sob ele estava o Jimin, quando as
primeiras notas de Serendipity começaram a tocar. Embora o cantor fosse o

centro das atenções de noventa e nove ponto nove por cento das pessoas
que estavam ali, quem recebeu a minha foi Taeyang, que até então estava

atrás de mim.
Trazendo-o para o meu lado, fiquei de frente para ele. Envolvendo

sua cintura com os braços e olhando em seus olhos, cantei com o coração a
letra da música que melhor definia não apenas os meus sentimentos por ele,
como também a relação que tínhamos, porque o amor que Tae me fez sentir

era único.
— Talvez seja uma providência do universo, tinha que ser assim.

Você sabe, eu sei. Você sou eu e eu sou você.


O sorriso bonito em seus lábios enquanto me observava era como

um abraço em minha alma, era o que eu precisava para ser feliz, para ter fé
e acreditar que tudo daria certo, independentemente da situação em que

estivesse. Tae era a minha base, o meu apoio, o meu amor, assim como eu
era o dele.
— O universo se move para nós. Não houve nem uma pequena falta,

nossa felicidade era pra ser. Porque você me ama e eu te amo — ele cantou
de volta, fazendo as lágrimas acumuladas em meus olhos transbordarem.

Negando com um aceno divertido, segurou meu rosto entre as mãos


e eu fiz o mesmo com o dele, unindo nossos lábios em um beijo breve,
terno, carregado de amor e carinho, enquanto a última estrofe era cantada:

“Deixe-me te amar”.
Agradecimentos

Querido leitor, muito obrigada a você que acompanhou a história de


amor desse casal e chegou até aqui. Espero que o Tae e a Maitê tenham
trazido um pouco de doçura e leveza para a sua vida.

Para as minhas amigas que me apoiaram quando decidi escrever este


conto aos “45 do segundo tempo”, só posso dizer que amo vocês. Obrigada

por estarem comigo mais uma vez.


Bruna Andrade, obrigada pelo toque final na ilustração e também
por, indiretamente, me inspirar a escrever um conto de natal.
Por último, mas não menos importante, quero agradecer a Andressa,

do perfil @andy_pelomundo no Instagram, por ter disponibilizado seu


tempo para responder algumas das minhas dúvidas. Ela é uma jovem
brasileira, que atualmente vive na Coreia do Sul, onde cursa uma

universidade e compartilha seu dia a dia com os seguidores. Andy, obrigada


por tudo, você foi uma fofa!

Um beijo a todos,

Camila Alkimim
Outras obras da autora

Brandon – Amor além do gelo (série Amores no hóquei)


Eternamente sua
A noiva do bilionário inglês (escrito com Aretha V. Guedes)

Um match no bilionário grego (escrito com Aretha V. Guedes)


Um sonho de babá

Um “sim” para nós


Como enlouquecer um CEO
Seduzindo o CEO
Querido Intruso

Amores e Vinhos
Procura-se Pedro
O amor não tem regras

Uma bela jogada (conto)


Doce rendição

Em busca de mim
Longe de você (conto)
Leia um trecho de Brandon – Amor além do gelo

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— Olhando para você assim, todo empolgado por rever os amigos,
parece até que estou vendo a sua versão universitária, o Brandon de dez

anos atrás que roubou meu coração — comentou Maya, caminhando ao


meu lado em direção a fogueira.

— A sensação é mais ou menos essa, amor, já nem me sinto cansado,


depois de tantas horas viajando.
— Engraçadinho, diz isso porque tirou um cochilo de mais de uma
hora!

— Isso é um mero detalhe e não podemos esquecer que você me


acompanhou — Pisquei.
Nas últimas semanas Maya estava mais cansada e sonolenta do que o

normal, e isso vinha me preocupando. A rotina exaustiva vinha cobrando


um preço alto dela, por isso acreditava que alguns dias de descanso na casa

do lago, junto com nossos amigos da época da universidade lhe faria bem,
além é claro, de visitar um médico assim que voltássemos para casa.

Incapaz de manter as mãos longe dela, coloquei no chão a caixa

térmica com as bebidas e a puxei para junto de mim, lhe roubando um


beijo, antes de seguirmos caminhando em direção ao nosso grupo de

amigos.
Com a vida agitada e tantas obrigações impostas pela fase adulta,

além do fato de cada um viver em um lugar diferente do país, ou do mundo,

ter o compromisso do nosso encontro anual à beira do lado era quase como
beber de uma fonte da juventude. Era em reuniões como aquela que Hunter,

Leonardo, Adam, Romeo e Matteo — meus antigos companheiros do time

de hóquei da universidade — e suas companheiras, estreitávamos os laços


construídos.

Anos atrás, quando deixei Nova Iorque e a minha família, e cruzei o

país com destino a Denver, desejava não apenas ingressar na Universidade


do Colorado, como deixar os problemas para trás. Jamais imaginei que

minha vida mudaria tanto, tampouco considerei o peso e significado que as


amizades dessa época teriam nos anos posteriores, a ponto de nos trazer

mais uma vez àquele lugar.

— Estão todos aqui? — perguntou Adam correndo os olhos à sua

volta, após Maya e eu nos juntarmos aos demais. — Ótimo, então as

comemorações já podem começar!

Com a mesma animação que costumava sentir antes de um jogo


importante, todos — incluindo nossas garotas — erguemos as bebidas e

repetimos o grito de guerra que eu jamais esqueceria: — Vai, Buffaloes!


Depois de concluirmos o brinde chocando nossos copos e garrafas,
nos dissipamos, prontos para assumirmos as tarefas que faria daquela noite,

um momento especial.

— É sério isso, está quente e vocês ainda querem se encontrar ao

redor da fogueira?

— É sério isso, Hunter, todo ano a mesma reclamação? —

provoquei, lhe dando um descontraído tapinha nas costas — Vamos


relembrar os velhos tempos, irmão.

— Devíamos ter escolhido outra época do ano, então.

— Isso que dá nascer na Europa, qualquer outro lugar é quente. No

Brasil seria uma normal e agradável noite de inverno. Bem, talvez não hoje

em específico — disse Leonardo, espetando marshmallows no graveto que

segurava.

— Por que não?


Ainda bem que Sophie fez a pergunta, pelo menos eu não levaria a

fama de curioso sozinho. Interessado na explicação que viria a seguir, até

parei de remexer a lenha da fogueira para prestar atenção no assunto.

— É doze de junho, dia de Santo Antônio.

— Algum santo especial? É o padroeiro do Brasil?

Dessa vez, foi Charlotte que pediu por mais explicações, já que até
para coisas simples Leonardo insistia em fazer mistério e contar aos poucos.
— Sim e não. É o santo casamenteiro, não celebramos o dia de São

Valentim lá, então, hoje é o dia dos namorados — declarou, puxando


Abigail para perto e lhe dando um beijo rápido.

Saber o significado da data colocou um sorriso apaixonado no rosto


de todas as garotas, mas foi Laura quem deu voz ao que certamente passava
na cabeça delas.

— Ah, que romântico! Se tivesse avisado, teríamos feito cartões para


presentear uns aos outros.

Retomando a tarefa de preparar os espetos que em breve assaríamos,


Leo negou com um aceno e explicou: — Não é assim que funciona lá, é

mais uma data para compartilhar com quem tem um envolvimento


romântico mesmo, não com todas as pessoas queridas, como fazemos aqui.
— Neste caso, devemos aproveitar que as crianças estão dormindo e

subir para os nossos quartos, aproveitar a noite — sugeriu Hunter.


Claro que algo do tipo sairia da boca dele.

— Ou podemos relembrar como foi que nos apaixonamos, já que


este é um encontro de dez anos.

A ideia foi dada por Maya, que havia se aproximado sorrateiramente


e plantado um beijo em minha bochecha. Quando todos — exceto Hunter,
que parecia querer povoar sozinho a Europa — concordaram animados, nos

sentamos ao redor da fogueira, prontos para relembrarmos o início de tudo.


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Há quem diga que o dinheiro trazia felicidade, para outros, ele
mandava buscar, mas no meu caso, tanto dinheiro tornou-me uma refém

desta condição. Dizer que não usufruía do que ele poderia me proporcionar
seria hipocrisia de minha parte, porém, no final do dia, quando deitava a

cabeça no travesseiro, eu ainda me sentia sozinha.


Muitas pessoas acreditavam que ser jovem era sinônimo de ser boba
e inocente, mas isso não se aplicava a mim. Cedo demais aprendi a não
confiar nas pessoas, a saber quando se aproximavam porque gostavam

genuinamente de mim, ou porque acreditavam que poderia proporcionar


algo a elas, já que era a filha mais jovem de um magnata dos minérios.
Desenvolver essa habilidade me livrou de muitos problemas e de

pessoas interesseiras, mas também me fez duvidar do amor verdadeiro, já


que boa parte dos príncipes se mostraram apenas sapos com o passar do

tempo.
A esperança de encontrar alguém que me amasse por quem eu era de

verdade e não por minha aparência ou conta bancária surgiu depois que

Atlas, meu irmão mais velho, conheceu a esposa através de um aplicativo

de relacionamentos, durante uma estadia no Brasil.[3]


Usar o Tinder em Cambridge, minha nova moradia por causa da

universidade, não se mostrou tão eficiente quanto eu gostaria, mas tudo


mudou depois que recebi uma proposta um tanto inusitada da Netflix, que

estava recrutando pessoas com um perfil parecido com o meu para ser parte

de um experimento social.
“Você acredita que o amor pode estar além da aparência?”

Quinze homens e quinze mulheres ficariam confinados, teriam

encontros às cegas onde poderiam conversar sobre tudo e se conhecerem


melhor. Se ao final de um período pré-estabelecido o interesse de se

conhecerem fosse mútuo, o casal passaria um mês convivendo, antes de

irem ao altar dizer sim ou não à união.


— Ainda não desistiu disso, Selene? Você só pode ter enlouquecido

— disse Atlas, ao entrar no meu quarto.


Meu irmão mais velho e CEO da Mavridis, a mineradora da nossa

família, não estava encarando com bons olhos a minha decisão de fazer

parte daquele programa. Desde que contei a ele a novidade, Atlas vinha

tentando de todas as maneiras possíveis me convencer de que estava prestes

a cometer o maior erro da minha vida.

— Diz isso porque já encontrou a pessoa perfeita para si.


— Você é jovem e tem todo tempo do mundo para encontrar o amor,

sem precisar se expor tanto assim — argumentou Clarice, minha cunhada,


jornalista e digital influencer, sentada ao pé da cama.
Embora também não estivesse muito contente e apoiando minha

decisão, ela ao menos estava ajudando a fazer as malas.

— Estou cansada de esperar, de ter que lidar com pessoas

interesseiras e algo do tipo. Realmente acredito que esse programa pode ser

a solução para os meus problemas, mas eu ainda posso sair na primeira fase,

caso ninguém se interesse por mim.


— Isso não vai acontecer, você é encantadora.

Por mais tendencioso que o elogio pudesse soar, eu sabia que era

sincero. Desde que bati os olhos em Clarice, diferente do que aconteceu

quando vi Kora — minha outra cunhada —, soube que ela era uma boa

pessoa e com o passar dos anos, isso só continuava se confirmando. Eu a

amava como se fosse uma irmã.

— Não sei se estou pronto para ver você tendo encontros e fazendo
sabe-se lá mais o quê na TV.

— Não vou fazer nada que você já não tenha feito.

— Porra, Selene, é exatamente isso que me preocupa! — admitiu,

coçando a cabeça e até puxando um pouco os cabelos da nuca.

O som da risada de Clarice fez com que eu desviasse os olhos dele e,

a julgar pelo sorrisinho estampado no rosto dela, provavelmente lembrando


de alguma safadeza que fizeram, era compreensível o motivo de Atlas se

preocupar.
— Chega, eu preciso pegar um ar.

Sem dizer nada, o assisti caminhar para fora do cômodo. Não estava
sendo nada fácil seguir adiante com aquela decisão, quando todos que eu
amava e deveriam me apoiar, na verdade se mostravam contra. O fardo se

tornava cada vez mais difícil de ser carregado e eu não conseguia deixar de
me questionar se estava fazendo a coisa certa.

— Ele só está preocupado, seu irmão te ama.


— Estou cansada de ser uma princesa intocada, aprisionada no alto

da torre, Clarice, quero viver minhas próprias experiências, cometer erros e


aprender com eles. A verdade é que ninguém dessa família parece confiar
no meu julgamento. Foi a mesma coisa quando apareci com o braço

tatuado.
A primeira vez que voltei para casa após uma longa temporada em

Cambridge, acabei surpreendendo a todos por aparecer com um braço


repleto de tatuagens. Marcar minha pele com tinta e belos desenhos era uma

vontade antiga, que foi realizada assim que completei dezoito anos, me
tornei maior de idade e dona do meu próprio nariz. Como previ, tal decisão
chocou a todos de minha família, afinal, isso borrou a imagem de menina

doce e delicada que ainda carregava até aquele momento.


— Nós te amamos, filha, só não queremos que faça algo

publicamente do qual possa se arrepender depois — disse mamãe ao entrar


no quarto, surpreendendo-me por não ter notado sua figura parada junto à

porta. — Uma coisa é você fazer e agir como quer longe das câmeras e
holofotes, outra muito diferente é ter tudo registrado. Sendo uma figura

pública nas redes sociais, aposto que sabe bem das consequências que um
único deslize pode fazer à sua imagem.
Talvez a minha decisão ainda parecesse impulsiva aos olhos deles,

que eu estava deslumbrada por aparecer na TV e serviços de streaming ou


algo do tipo, mas não era o caso. Entre receber a proposta e assinar o

contrato, tive tempo suficiente para pensar em cada coisa que poderia
acontecer a partir do momento que estivesse dentro. Depois de muito
refletir e até mesmo perder algumas horas de sono, acreditei ter tomado a

melhor decisão.
— Me deem um voto de confiança, é só o que eu posso pedir.

Apesar de ainda se mostrar relutante, mamãe acenou em


concordância, antes de buscar um espaço vazio na cama abarrotada de

roupa e se unir a nós no processo de arrumar a minha mala. Uma vez que eu
era adulta e dona das minhas próprias ações, nenhum deles poderia me
impedir de verdade.
Naquela noite, que poderia ser a última a estarmos juntos antes de
alcançar a etapa do programa na qual me permitiria ter contato com eles
novamente, tivemos um delicioso jantar em família, mesmo com a tensão

ainda pairando no ar.


Quando o novo dia chegou, me despedi de todos e fui levada ao

aeroporto pelo motorista da família assim como, óbvio, pela equipe de


seguranças que sempre estavam por perto, inclusive dentro do avião. Ao
desembarcar em Londres, fui recepcionada por uma pequena equipe da

produtora, que me levou ao estúdio.


Ainda estava difícil de acreditar que, muito em breve, viveria algo

parecido com o que vi em outros reality shows do mesmo formato, onde a


aparência dos participantes não importava, e o que faria as pessoas terem

uma ligação especial seriam suas personalidades.


Será que eu conseguiria aquilo, que alguém se apaixonasse por mim
sem levar em consideração minha herança? Partindo do pressuposto que

todos ali tinham uma boa situação financeira, tal preocupação era
desnecessária.

Mas e quanto à verdadeira Selene? Alguém se identificaria com os


meus medos e inseguranças, com os sonhos e desejos guardados em meu
peito a sete chaves? Não tinha mais volta, me doaria àquele desafio de

corpo e alma. Eu estava disposta a ir até o fim.


Com o coração batendo acelerado a cada passo que eu dava naquele
labirinto de corredores e salas, só fui capaz de assimilar que estava
realmente acontecendo quando um dos produtores apertou minha mão e

disse: — Selene, seja bem-vinda ao Ricos e Apaixonados.


Loucura ou não, aquilo estava prestes a acontecer.

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— Por favor, Verônica, pode se sentar — pediu o homem em traje


social e bigode, ocupando a cadeira de encosto alto do outro lado da mesa.
Vinte e nove de março. Aquela seria a data da mudança em minha

vida, o dia em que além de celebrar os meus vinte e três anos de idade,
também iria comemorar uma promoção no emprego. Ao menos, era o que
eu esperava.

Os últimos meses foram intensos, com cento e dez por cento de


dedicação, prazos cumpridos com excelência, além de colecionar feedbacks
positivos dos clientes para quem prestei serviço em nome da empresa. Tudo

caminhava muito bem e as chances de que algo desse errado ou saísse


diferente do previsto eram mínimas.

Ao me tornar auditora da qualidade, fiscalizaria se todas as filiais —


que eram como pequenas extensões da empresa para a qual eu trabalhava e

que estavam distribuídas em diferentes cidades, estados e países —,

realizavam cada etapa de seus processos e prestação de serviço, conforme


previsto nas diretrizes.
Mais do que um salário generoso, que me traria certa estabilidade

financeira e abriria portas para que eu deixasse a casa dos meus pais, ao
conquistar o novo cargo poderia expandir meus horizontes e conhecer mais

do mundo, uma vez que viajaria em nome da empresa.

— Gostaria de começar essa conversa agradecendo todo seu


empenho e dedicação, não apenas pelo que observei nos últimos meses,

como também ao longo dos anos. Você está conosco desde que era

estagiária e, sem dúvidas, é perceptível o quanto cresceu desde então.


As palmas das mãos estavam pressionadas contra a calça jeans para

conter a umidade, meu coração havia assumido um ritmo frenético dentro

do peito e as ondas de expectativas me atingiam com força, uma após a


outra, deixando-me nervosa a ponto de quase não compreender o que o

gerente de meu setor tinha a dizer.


— Como você sabe, a vaga para auditor da qualidade estava em

aberto e esse é um cargo que exige bastante do profissional, devido às

viagens, os relatórios e o bom relacionamento com o cliente, afinal de

contas, quem for até a filial estará representando nossa empresa. — acenei

em concordância, já que não cabia a mim abrir a boca no momento. Meu

Deus, se esse homem não falar logo eu vou morrer, já posso sentir. — Por
essa razão, acreditamos que no presente momento o melhor é que Carlos

assuma essa posição, pois encontra-se melhor qualificado.


Será que tinha ouvido bem o que ele disse? Não era possível que
Carlos, meu colega de trabalho folgado e preguiçoso, que sempre despejava

seus afazeres para cima de mim — embora trabalhasse ali há pelo menos

dois anos a mais do que eu —, tivesse conquistado a vaga para a qual ralei

tanto para conseguir. Não, aquilo só podia ser algum mal-entendido, talvez

minha distração fez com que eu perdesse uma parte importante da conversa.

— Desculpe, senhor, eu não... Hum, quem fica com a vaga é o


Carlos?

— Entenda Verônica, você não está sendo punida por sua juventude

ou pouco tempo de experiência. Apenas foi constatado que ele tem mais

qualificações, assim como o nível de inglês, que é imprescindível para um

bom relacionamento com nossos clientes no exterior.

O caralho que Carlos tinha um inglês melhor, eu queria protestar. O

filho da puta mal sabia pronunciar “the book is on the table”, como assim
ele se saiu melhor do que eu?

— E o que acontece comigo? A partir de agora irei assumir as

funções dele até que haja uma nova oportunidade de me tornar auditora da

qualidade?

Embora aquele não fosse meu principal objetivo, qualquer

promoção, por menor que fosse, seria bem-vinda. Se dessa vez não tivesse
dado certo, iria trabalhar o dobro se preciso fosse, para conseguir a vaga

numa próxima.
— Infelizmente não. Na realidade, nós estamos passando por

mudanças na direção da empresa, alguns setores serão remodelados, no


caso o seu, e você não se encaixa nessa nova dinâmica de trabalho.
Lamento, Verônica, mas você será desligada da empresa.

Desligada da empresa.
Demitida.

Desempregada.
Fodida.

Aquelas eram algumas formas de classificar meu atual estado.


Pior do que não conseguir uma promoção era ser dispensada do
trabalho no dia do aniversário, mesmo sendo uma funcionária exemplar.

Com o coração em frangalhos, ainda escutando a voz daquele senhor


zumbir em meus ouvidos, um pensamento insistente se repetia em minha

cabeça: o que vai ser de mim a partir de agora?

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Leia um trecho de Como enlouquecer um CEO

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— Você precisa melhorar sua estratégia de jogo.
— Estou apenas sem sorte — disse baixo com um dar de ombros,

antes de me virar e ficar sem ação ao constatar que ali, parado ao meu lado,
estava o cara gato da piscina com quem eu vinha sonhando. Socorro! Eram

emoções demais para o meu pobre coração aguentar em uma noite!


Com um discreto sorriso nos lábios e os olhos de um intenso tom de
azul cravados em mim, o homem de cabelos castanhos claros e terno
elegante parecia discordar de minhas palavras enquanto negava com um

discreto aceno.
— Isso não se trata de sorte — começou ele, entregando-me uma das
taças de champanhe que segurava —, trata-se de estratégia, e eu posso te

ajudar — concluiu, seguro demais antes de tomar um gole da bebida sem


desviar os olhos de mim.

— Você não pretende contar cartas, né? — questionei, pois a última


coisa que eu precisava era começar o ano mais pobre e na cadeia.

— Não, contar cartas é ilegal. Como eu disse, você só precisa de

estratégias e saber jogar — garantiu.


Será que o universo estava tentando compensar a perda de dinheiro

me dando ele como prêmio de consolação? Por que olha, esse seria um
consolo e tanto...

— E o que você ganharia se eu aceitasse sua oferta e recuperasse o

meu dinheiro? — Apesar de ter uma pequena suspeita do que ele diria, não
pude ignorar a curiosidade de saber qual seria sua resposta.

— Você... pelo resto da noite.

A maneira firme e sedutora como ele disse aquilo, com os olhos


fixos em mim, fez o meu corpo se arrepiar com as palavras implícitas nas

entrelinhas...

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Sobre a autora
Embora a paulista seja graduada em Biomedicina e tenha atuado por

vários anos na área, a paixão pela literatura sempre esteve presente e no ano

de 2009, começou a escrever pequenos contos por diversão, para presentear


às amigas.

Em 2016, seu romance de estreia “O amor não tem regras” foi


publicado na Amazon. Desde então, muitas outras histórias assinadas por
ela estão disponíveis na plataforma.
Para estar inteirado sobre futuros lançamentos e conversar com a

autora, entre em contato através das redes sociais.


Whatsapp (19) 99243-0142
Instagram Facebook Wattpad

[1] A tradução de "oppa" para o português é "irmão mais velho" e


deve ser utilizado pelas mulheres ao se referir a um homem com quem tem
proximidade, de maneira informal. Nos doramas, geralmente é utilizado
para se referir ao namorado de maneira carinhosa.
[2] É uma bebida destilada transparente de origem coreana, seu teor

alcoólico varia de cerca de 16,8% a 53%.


[3] Conheça a história de Atlas e Clarice em: Um match no bilionário grego.

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