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A DESNUDAÇÃO DA CIÊNCIA: PÓS-VERDADE E CONSPIRAÇÃO

A ciência, tão importante ao longo da evolução das sociedades humanas e, ao mesmo


tempo, questionada ao longo da mesma, após um período de certa aceitação e
compreensão, encontra-se, novamente, em meio a ataques e à descrença que, por
mais que ainda sejam pequenos, têm um grande potencial de reverberação, graças à
internet. Pensamentos já considerados obsoletos, como o de que a Terra é plana,
ganham adeptos e são difundidos seriamente. Outros que não são tão antigos, mas já
foram igualmente refutados, como os de que as vacinas trariam graves consequências
e seriam maléficas ou que minimizam ou negam os efeitos do aquecimento global,
além de difundidos, passam a atingir, de fato, as pessoas.

É válido ressaltar que essas ideias acompanham o sentimento de desconfiança em


Instituições, que tem se generalizado pelo mundo. A crença de que governos corruptos
e agências e órgãos indistintos atuam contra a população em geral, escondendo
informações e promovendo, ocultamente, campanhas que espalham doenças e mortes
(como no caso das vacinas), acaba sendo facilmente aceita por grupos de pessoas que
não têm acesso a muitas informações variadas. Com casos de corrupção envolvendo
governantes e grandes empresários, a predisposição dessas pessoas para aceitarem
esse tipo de informação que, supostamente, desmascara ideologias aumenta.

O efeito prático de algumas dessas teorias pode ser observado. Por mais que não seja
possível atribuir totalmente à difusão de teorias anti-vacinação, o aumento em casos
de doenças que eram consideradas erradicadas, como o sarampo, pólio ou rubéola,
pode ter relação com os movimentos que consideram vacinas danosas à população,
capazes de causar males como o de Parkinson.

Por mais que o perigo das vacinas seja muito menor do que o alardeado e que diversos
experimentos já tenham comprovado que a Terra não é plana, entre outros exemplos
de refutações dessas teorias conspiratórias, elas são, não obstante, tópicos de debates
e aceitas por muitas pessoas. É possível relacioná-las ao conceito de pós-verdade,
onde o apego às emoções e aos valores pessoais acaba superando provas racionais
que, por mais que possam ser desagradáveis, são mais fidedignas. Alardeadas por
pessoas carismáticas e que buscam ao máximo simplificar o acesso às teorias, acabam
tendo mais alcance e maior potencial de reverberação do que teorias científicas que,
por mais fidedignas que sejam, são tidas como sisudas e exclusivas a nichos mais
educados.

Destarte, é necessário que artigos e materiais científicos sejam amplamente


divulgados e relatados nas mídias sociais e nas mídias formais. Simplificar o conteúdo
para maior alcance, assim como investir na educação e na ampliação do acesso a
informações diversas é essencial no combate à insidiosa cultura da pós-verdade e de
teorias conspiratórias. Teorias essas que devem ser escrutinadas e não tratadas com
descaso e desprezo afim de que não haja espaço para sua propagação.

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