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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES


DEPARTAMENTO DE LETRAS
DISCIPLINA: Leitura e Produção de Texto Argumentativo
PROFESSOR: Clebson Luiz de Brito

Compreensão geral da categoria do éthos


Informações básicas
- tem a ver com a relação pessoa/discurso (quem diz e o que se diz).
- é uma palavra de origem grega para se referir a caráter, costume, uso (PLANTIN, 2008, p. 112). O
termo é aproveitado em retórica para se referir mais especificamente ao caráter, ao modo de ser do
orador (produtor do texto).
- É uma imagem que se atribui ao produtor do texto e que, por isso, pode ser usada por ele para
favorecer seu projeto de influência junto ao leitor/ouvinte.
- Tem a ver com um princípio básico de que confiamos mais nas ideias defendidas por quem
tem/demonstra credibilidade.
- Envolve a afetividade, pois permite uma identificação do leitor/ouvinte com o produtor.
- Não diz respeito ao indivíduo real, ao produtor do texto de “carne e osso”. Éthos é imagem, é
representação do produtor.
- Embora se refira ao produtor do texto, não está vinculado a marcas formais de 1a pessoa no texto
nem se confunde com o que eventualmente o produtor fala de si. Éthos não é autoelogio.
Éthos na retórica
• O éthos é uma das chamadas provas retóricas. A Retórica, em Aristóteles, é entendida como “a
capacidade de descobrir o que é adequado a cada caso com o fim de persuadir” (ARISTÓTELES, I,
II, 1356a). Nessa tradição, considera-se discurso argumentativamente bem construído aquele em que
o orador, a) pelo próprio dizer, se mostra digno de fé e confiança, o que quer dizer produzir uma
imagem de si favorável à persuasão (prova do éthos); b) se adapta às disposições afetivas do
auditório, que julga diferentemente conforme os sentimentos que experimenta (prova do páthos); e c)
demonstra, com raciocínios válidos, o que é a verdade ou o que parece verdade (válido) em cada caso
(prova do logos).
- Isso faz com que o éthos tenha ao menos três dimensões: a phrónesis relaciona-se ao uso mais
acentuado da prova do logos, correspondendo a uma imagem ligada à ponderação, sensatez,
racionalidade; a areté, por sua vez, se constrói, sobretudo, pela ênfase sobre o próprio éthos,
correspondendo a uma imagem de alguém franco, sincero ou mesmo “desbocado”; por fim, a eúnoia
ocorre quando o orador se vale mais do páthos, mostrando-se solidário e benevolente para com o
público (FIORIN, 2004, p. 121).
- Argumentação eficiente, por isso, pode ser formalmente descrita como: E+ P+ L = 0 [éthos, logos e
pathos contribuindo para uma distância zero entre orador e auditório, que é a chegada ao acordo
visado na comunicação] (MEYER, 2010, p.113)
Éthos na área dos estudos do texto e do discurso
- Imagem engendrada em qualquer processo comunicativo. “Não é possível enunciar sem construir
um caráter; pode-se controlá-lo, mas não evitá-lo”( CRUZ, 2009, p. 71).
- Toda tomada de palavra implica a construção de uma imagem de si passível de ser avaliada pelo
outro. Por isso, o orador (enunciador), ao tomar a palavra, deve construir a própria autoridade como
produtor do texto, para que tenha mais chances de ser bem sucedido na troca comunicativa.
- Tem a ver com a ideia de “construir um caráter que faça o discurso parecer verdadeiro” (CRUZ,
2009, p. 71).
- O produtor precisa fazer isso “indiretamente, criando, pela forma como elabora seu discurso,
indícios de que possui ou não esta ou aquela qualidade” (CRUZ, 2009, p. 71)
• Nos estudos do discurso, a noção tem a ver com a imagem do enunciador (aquele que enuncia)
construída pelo modo como o texto é apresentado, organizado, produzido (nível da enunciação).
Grosso modo, éthos é um conjunto de características que atribuímos a um dado enunciador em
função de como o enunciado é organizado, apresentado.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE LETRAS
DISCIPLINA: Leitura e Produção de Texto Argumentativo
PROFESSOR: Clebson Luiz de Brito
- Éthos é um modo de dizer que aponta para um modo de ser (MAINGUENEAU, 2013). Os textos,
sejam orais ou escritos, apresentam um “tom” que dá autoridade ao que é dito e que permite ao leitor
construir uma representação de aspectos psicológicos (caráter) e mesmo físicos (uma corporalidade,
uma maneira de se vestir e de se movimentar no espaço social) para o produtor.
- O éthos é uma espécie de fiador do discurso, algo que está apoiado em representações sociais
(estereótipos culturais). Seu poder persuasivo tem a ver, em grande medida, com uma identificação
do leitor/ouvinte com o modo de ser que o modo de dizer do texto constrói para o produtor.
Éthos e discurso político
- O éthos tem a ver com a credibilidade, mas decorre de um entrecruzamento do social (legitimidade)
com o discursivo, que reafirma ou reformula as imagens antecipadas pelo interlocutor.

Legitimidade vs credibilidade
Questão legal e social: Questão discursiva:
quem está autorizado como fazer para ser
a falar? aceito?

Construção do éthos
Identidade social (identidade textual-
discursiva)

Identificação
Éthé baseados no afeto e que
Credibilidade promovem a identificação do
• Sério eleitor com o político:
• Virtuoso • Potência (força física)
• Competente •Caráter (aspecto moral,
É preciso dizer que/ força do espírito)
dar provas de que •Inteligência
quer, pode e sabe •Humanidade
fazer • Chefe (capacidade de
liderança além da
racionalidade; carisma)
• Solidariedade
Referências:
ARISTÓTELES. Retórica. Tradução e notas de Manuel Alexandre Jr. et al. Lisboa: Imprensa Nacional, 2005.
CHARAUDEAU, Patrick. O ethos, uma estratégia do discurso político. Alguns procedimentos lingüísticos. In:
______. Discurso político. São Paulo: Contexto, 2006. p. 113-184.
CRUZ, Dilson F. da. O éthos dos romances de Machado de Assis: uma leitura semiótica. São Paulo:
Nankin/EDUSP, 2009.
FIORIN, José Luiz. O éthos do enunciador. In: CORTINA, Arnaldo; MARCHEZAN, Renata. C. (orgs.).
Razões e sensibilidades: a semiótica em foco. Araraquara: Laboratório Editorial/FCL/ UNESP/ São Paulo:
Cultura Acadêmica, 2004a. p. 117-138.
MAINGUENEAU, Dominique. Análise de textos de comunicação. São Paulo: Cortez, 2001.
______. A propósito do ethos. In: MOTTA, Ana Raquel; SALGADO, Luciana (orgs.). Ethos discursivo. São
Paulo: Contexto, 2008, p. 11-29.
MEYER, Michel. Principia Rhetorica: une théorie générale de l’argumentation. Paris: PUF, 2010.
PLATIN, Christian. A argumentação: história, teorias, perspectivas. São Paulo, Parábola: 2008.

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