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FISIOLOGIA DA DOR
A via da dor começa nos nociceptores periféricos que são terminações nervosas livres. De seguida o estímulo vai pelas
fibras C (não mielinizadas) e pelas fibras Aδ (menos mielinizadas). Há uma primeira sinapse nas pontas posteriores da
medula e depois há um segundo neurónio que passa pela comissura cinzenta do lado oposto e vai ascender nos
cordões ântero-laterais até ao tálamo e deste até ao córtex parietal.
O organismo humano possui um sistema endógeno que controla a dor. Se a dor for excessiva, aumenta o limiar para
a mesma, ou seja, de forma a diminuir a dor.
Nós temos duas partes do sistema analgésico endógeno que são o sistema analgésico descendente (principal) e
sistema analgésico segmentar.
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Sistema Analgésico Endógeno Descendente
Concluindo, temos como neurotransmissores do sistema analgésico endógeno: opioides, serotonina e noradrenalina.
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TIPOS DE DOR
Quando estamos a administrar, por exemplo, um AINE que inibe a síntese de prostanóides, sabemos que estes
correspondem apenas a uma parte desta “sopa de substâncias”, ou seja, o efeito é sempre limitado tanto em
intensidade como no tempo, ou seja, trata-se apenas de uma terapêutica sintomática de certo modo limitada.
Há outro tipo de dor que não é estimulada por substâncias químicas, são fibras nervosas defeituosas e que fazem
sinapse com a fibra da dor, dando origem à Dor Neuropática.
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Como podemos perceber pelo esquema, se quisermos diminuir ou tratar a inflamação poderá inibir-se a COX (ciclo-
oxigenase) com AINEs ou inibir a fosfolipase A2 com corticosteroides.
▪ Inflamação;
▪ Influenciam o tónus do músculo liso (aumentam – ex: Prostaglandina F2α - ou diminuem – ex: prostaciclina);
▪ Trombose (Tromboxano A2; Prostaciclinas – antiagregantes);
▪ Parto ou expulsão do embrião/feto 1;
▪ Secreção gastrointestinal e produção de muco no estômago (PGE1 e PGE2).
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A ocitocina só desencadeia o parto no caso de um parto a termo. Por isso é que antes do parto a termo no segundo
trimestre ou início do terceiro trimestre, a ocitocina tem pouco ou nenhum efeito, ao contrário do que acontece com
as prostaglandinas que são utilizadas, porque têm um efeito muito maior e eficaz.
Cada prostaglandina tem recetores próprios. No entanto, ainda não se avançou muito no que toca a fármacos
agonistas e antagonistas dos recetores das prostaglandinas.
A PGD2 tem como recetor o DP. Foi descoberto um antagonista deste recetor – laropiprante. Esta descoberta deu-se,
pois ao administrarmos aos doentes alguns fármacos, como ácido nicotínico, o doente acabava com um “flushing” da
face e cefaleias originadas pela PGD2 e, ao ser administrado o antagonista desse recetor, essa situação era evitada.
Porém, depois descobriu-se que ao invés de se utilizar um fármaco caríssimo como o laropiprante poderia utilizar-se,
por exemplo, um AINE (inibidor da COX) numa dose baixa para obter o mesmo resultado.
Pela via da lipoxigenase são originados leucotrienos que, de um modo geral, têm uma ação contraturante. Todos
ativam a fosfolipase C.
Resumo
Músculo Brônquico
Músculo Uterino
Músculo Gastrointestinal
Sistema Cardiovascular
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- PGI2 - vasodilatação e hipotensão; taquicardia;
- TXA2 – vasoconstrição potente;
- LTC4 e LTD4 – hipotensão, redução do fluxo, exsudação de plasma.
- PGI2 – sintetizada no endotélio vascular inibe a agregação plaquetar e é antitrombogénica na parede vascular
intacta;
- TXA2 – origina-se nas plaquetas e é um indutor da agregação plaquetar (trombose);
- LTB4 – agente quimiotático potente dos leucócitos, eosinófilos e monócitos, promove a desgranulação dos
leucócitos e a geração de radicais superóxidos. Promove a adesão dos neutrófilos ao endotélio vascular e a
sua migração;
- PGE2 – inibe a diferenciação dos linfócitos B em células produtoras de anticorpos, deprimindo a resposta
humoral.
As prostaglandinas de um modo geral aumentam a excreção renal de sal e água e aumentam o fluxo sanguíneo renal,
tendo assim efeitos diretos ao nível do túbulos renais.
Assim, posteriormente, iremos estudar que, ao inibir as prostaglandinas pela administração de AINEs, o rim vai ser
afetado.
Nervos aferentes
Há 3 tipos de COX!
O paradigma trata-se de conseguir fármacos seletivos para a COX-2 que não inibissem a COX-1 - coxibes.
Mas há um grande contra relativamente à utilização destes fármacos: a COX-2 está envolvida na produção de
prostaciclina PGI2 (antiagregante plaquetar) e a COX-1 é um agregante plaquetar ou trombogénica, ou seja, ao inibir
a COX-2, a COX-1 fica livre e o resultado são tromboembolias por agregação plaquetar. Este paradigma resultou num
grande número de enfartes do miocárdio.
Por isso, os fármacos muito seletivos da COX-2 foram praticamente todos retirados do mercado.
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DOR NEUROPÁTICA VS DOR SOMÁTICA
A dor neuropática pode resultar da lesão da própria fibra da dor em que esta
se estimula a si mesma ou de sinapses anómalas entre fibras do simpático e
as fibras sensitivas da dor.
Esta dor pode ser periférica (em toda a fibra nervosa até ao sistema nervoso
central) ou central (no seu trajeto até ao córtex parietal).
- Dor Somática
• Analgésicos e anti-inflamatórios (AINEs e corticoides).
ANALGÉSICOS
- Centrais
• Narcóticos
• Não narcóticos
- “Periféricos”
• Analgésicos Simples
• Analgésicos Antipiréticos
• Anti-inflamatórios não esteroides
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- Dor sensível aos opioides
Dor somática, dor visceral;
Ópio
O ópio tem origem na papoila.
‒ μ 1- analgesia;
‒ μ 2- depressão respiratória.
δ (DOR)
Alguns fármacos:
▪ Mofina, Codeína, metadona, fentanil – são
agonistas sobretudo dos recetores μ;
▪ Buprenorfina é um agonista parcial dos μ;
▪ Naloxona, naltrexona, nalmefeno –
antagonistas dos três tipos de recetor;
▪ Tramadol – agonista μ e também é um
inibidor da recaptação neuronal de 5-HT (serotonina)
e NA (noradrenalina);
AÇÕES DA MORFINA
▪ Ações Excitantes
Náuseas, Vómitos, contratura intestinal, miose (pupilas em ponta de alfinete);
▪ Ações Depressoras
Analgesia, depressão do centro da tosse (antitússica), depressão do centro respiratório (depressão
respiratória), apatia (embotamento mental), sedação;
▪ Outras
- Dependência (vício e dependência física), disforia.
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12ª TEÓRICA – AUTACÓIDES I
Os autacóides ou hormonas locais são substâncias naturais do organismo com estruturas químicas e atividades
fisiológicas e farmacológicas variadas, e são produzidas rapidamente pelo organismo em resposta a estímulos.
Mediadores inflamatórios (autacóides):
− Histamina
− Serotonina
− Eicosanóides (como Prostaglandinas PG e leucotrienos LTs) e PAF
− Peptídeos (como cininas, neuropeptídeos, citocinas)
A histamina e a serotonina são aminas que se encontram em muitos tecidos. Têm efeitos fisiológicos e patológicos
complexos em múltiplos tipos de recetores. São frequentemente libertadas localmente e têm uma curta duração de
ação.
Os seus efeitos são normalmente indesejáveis e nem a histamina nem a serotonina têm qualquer aplicação no
tratamento de doenças.
A utilidade clínica destas substâncias baseia-se em compostos que ativam seletivamente alguns subtipos de recetores
destas aminas (mimetizam as aminas) ou compostos que antagonizam as ações destas aminas.
HISTAMINA
Biossíntese da histamina nos mastócitos e basófilos
Uma vez sintetizada, a histamina é armazenada ou rapidamente inativada. Muito pouca é excretada de forma
inalterada. Temos então duas hipóteses:
− Inibir a síntese de histamina:
• Inibir a descarboxilase da histidina, utilizando a alfa-metilhistidina.
− Aumentar a excreção de histamina:
• Doenças como a urticaria pigmentosa, algumas neoplasias (ex: mastocitose sistémica), o carcinoide
gástrico e, por vezes, a leucemia mielógena estão associadas com o aumento do número mastócitos
ou basófilos e com o aumento da excreção de histamina.
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Formas de armazenamento da histamina nos mastócitos e basófilos
A histamina também tem um papel fundamental no estômago nas células do tipo enterocromafim. As células
enterocromafins do estômago libertam histamina que regula a produção de ácido clorídrico pelas células parietais da
mucosa. Também encontramos células enterocromafins libertadoras de histamina noutros locais do tubo digestivo.
Libertação de histamina
Como já vimos, a maior parte da histamina está sequestrada em vesículas nos mastócitos e basófilos. Está armazenada
na forma ligada (complexo grânulo-proteoglicano-protease) que é inativa.
Alguns estímulos que desencadeiam a libertação de histamina são:
− Processos imunológicos: após sensibilização pelos anticorpos IgE ligados à superfície das membranas, nas
reações tipo I.
− Processos patológicos: inflamação, reações de hipersensibilidade imediata.
− Agentes físicos: radiações, frio, estímulos mecânicos, traumatismos, queimaduras.
− Compostos químicos: venenos de animais, dextrano, fármacos (tubocarina, morfina etc.).
− Os mastócitos existem em tecidos de potencial agressividade - alvos de lesão (nariz, boca, pés, superfícies
internas do corpo, vasos ...)
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Subtipos de recetores da histamina
Temos 4 subtipos de recetores metabotrópicos: H1, H2,
H3 e H4.
H1: aumentam os níveis de diacilglicerol DAG Inositol
trifosfato IP3 e cálcio intracelular
H2: aumentam os níveis de AMPc
H3: diminuem os níveis de cálcio intracelular
H4: diminuem os níveis de AMPc
Os recetores H4 são expressos essencialmente em células do sistema imunitário como eosinófilos, neutrófilos,
linfócitos T CD4…
No cérebro, os recetores H1 e H2 tem uma localização pós-sináptica.
Inversamente, os recetores H3 tem uma localização pré-sináptica no SNC. Assim, vai diminuir as concentrações de
cálcio intracelular e inibir a libertação de neurotransmissores.
Para além do cérebro, os recetores H1 existem também no músculo liso e no endotélio. Assim, os antagonistas do
recetor H1 (mepiramina, triprolidina, cetirizina) são usados para tratar situações alérgicas (por exemplo, a cetirizina é
usada para tratar a rinite alérgica).
Da mesma forma, os recetores H2 também existem no musculo cardíaco e na mucosa gástrica. De facto, os
antagonistas seletivos H2 (como a ranitidina e cimetidina) são usados para tratar doenças do ácido péptico já que
reduzem a libertação de histamina.
Resposta da histamina
Podemos consideram um efeito geral e um efeito local.
Efeito geral - O efeito geral depende da quantidade de histamina em circulação sanguínea. Temos:
− Pele vermelha;
− Taquicardia (reflexa ou direta);
− Cefaleia pulsátil;
− Hipotensão;
− Broncoconstrição.
Efeito local - O efeito local acontece em resposta a uma injeção intradérmica de histamina, uma picada de inseto, etc,
com participação do músculo liso, endotélio e terminações nervosas sensitivas. Obtemos uma resposta muito
particular:
− Edema;
− Vesícula ou pápula no local de injeção;
− Rubor por vasodilatação;
− Prurido e urticaria,
Antagonistas fisiológicos
Estes antagonistas têm ações opostas às da histamina por ação em recetores distintos. Um exemplo destes é a
adrenalina usada em choques anafiláticos.
Inibidores da libertação
Estes reduzem a desgranulação dos mastócitos consecutiva à interação antigénio/anticorpo. Por exemplo, o
cromoglicato de sódio, o nedocromil e agonistas b2.
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Antagonistas dos recetores de histamina de 1ª geração
Estes fármacos causam:
− sedação (por antagonismo dos receptores H1 centrais)
− sonolência
− cefaleias
− diminuição da agilidade
− diminuição da capacidade de condução automóvel
− aumento do tempo para controlo de maquinaria
− redução da função cognitiva.
Alguns exemplos são: doxilamina, hidroxizina (ou atarax. Usada como hipnótico para perturbações curtas do sono),
cinarizina (para tratar perturbações vestibulares), clorfeniramina (ou clorfenamina usada para doenças gripais - “cold
drugs” - associado com paracetamol), ciclizina, dimetindeno.
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Reações alérgicas que respondem melhor aos anti-histamínicos H1
Como já vimos os antagonistas H1 tem um papel muito importante nos processos alérgicos. As seguintes são as
reações alérgicas que respondem melhor ao tratamento com antagonistas H1:
− Rinite sazonal e perene;
− Conjuntivite alérgica;
− Urticária;
− Reações de hipersensibilidade a medicamentos;
− Prurido que acompanha a dermatite atópica e a dermatite de contato;
− Picadas de insetos.
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Inibidores da libertação de histamina
Os principais inibidores da libertação de histamina são: o cromoglicato de sódio, o cetotifeno (que também é um
antagonista H1 de 1ª geração) e o nedocromil sódico.
Cromoglicato de sódio
Esta substância estabiliza a membrana dos mastócitos e impede que o estímulo derivado da interação antigénio-
anticorpo seja capaz de libertar esta histamina.
Não tem ação relaxante nos músculos brônquicos e é ativo sobre os mastócitos da mucosa nasal e do tecido pulmonar.
Previne também a desgranulação não imunológica dos mastócitos.
Só tem valor profilático (asma, rinite e conjuntivite alérgicas) e não é eficaz na terapêutica da asma aguda. Em Portugal,
já não se usa para tratar a asma, mas sim para tratar a conjuntivite e a rinite alérgicas.
O fármaco absorve-se mal por via oral. Por isso, administra-se por inalação (asma), embora se perca 50-80% na boca
e faringe, sendo a absorção total no pulmão. Produz mau sabor na boca e irritação brônquica (se necessário usar
imediatamente antes um estimulante b2 inalado para prevenir a broncoconstrição induzida pela irritação brônquica).
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Alguns antagonistas H2
− Cimetidina (protótipo)
− Ranitidina
− Famotidina
− Nizatidina
Com o conhecimento do papel do H. pylori na doença ulcerosa (que pode ser tratada com antibacterianos adequados)
e o advento dos inibidores da bomba de protões, a prescrição dos bloqueadores H2 tem diminuído muito.
− Sangue: as plaquetas concentram (não sintetizam) a amina por meio dum transportador ativo, semelhante ao
das vesículas das terminações nervosas noradrenérgicas e serotonérgicas).
− SNC: neurotransmissor no córtex, substância subcortical e nos núcleos do rafe (são os maiores sintetizadores
de serotonina do SNC). Como estes núcleos têm conexões com inúmeras áreas do SNC, a serotonina tem um
papel importante no humor, sono, apetite, regulação da temperatura, perceção da dor, regulação da pressão
arterial e vómito. Existem recetores para a serotonina em terminações nervosas (por exemplo do trigémeo)
que regulam a dor na enxaqueca.
No SNC:
− Controlo do apetite;
− Controlo movimentos estereotipados;
− Sono;
− Perceção da dor;
− Humor;
− Vómitos;
− Temperatura.
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Efeitos farmacológicos da serotonina
5-HT1:
− controlo aferente da sensibilidade dolorosa;
− regulação de funções vegetativas (pressão arterial e atividade respiratória);
− contração dos vasos cerebrais.
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Agonistas da serotonina
Agonistas dos recetores 5-HT1A
A buspirona é um agonista parcial. É um fármaco ansiolítico.
A fenfluramina e a desfenfluramina são também agonistas dos recetores 5-HT1A. Foram muito utilizados para suprimir
o apetite, mas foram retirados por ações cardiovasculares.
Tempo de semivida t½ em
Triptano Modo de administração
horas
Almotripatano 3,3 Via oral
Eletriptano 4 Via oral
frovatriptano >25 Via oral
Naratriptano 6 Via oral
Sumatriptana 2-3 Via oral, via subcutânea e nasal
Zolmitriptano 2,8 Via oral, orodispersível e nasal
Rizatriptano 2 Via oral, orodispersível
Reações adversas dos triptanos: Calor, formigueiros, zumbidos, cansaço muscular, dor na nuca, sensação de aperto
retroesternal, dor cutânea no local de injeção (para o sumatriptano que pode ser injetável).
Contraindicações: Angina de peito (ou qualquer doença aterosclerótica manifesta é uma precaução ou
contraindicação), doença hepática, doença renal ou síndroma vascular periférico.
Agonistas 5HT4
Os fármacos agonistas dos recetores 5HT4 são pro-cinéticos.
Cisapride
Útil no refluxo gastroesofágico e alterações da motilidade gastrointestinal.
Já quase não se usa, porque se descobriu que a coadministração da cisapride com macrólidos ou antifúngicos (que são
inibidores da CYP3A4) pode causar interações a nível da CYP3A4 e provocar arritmias cardíacas graves às vezes mortais.
Tegaserod
É um agonista parcial do recetor 5HT4.
Usa-se em casos de síndroma do colón irritável associado à obstipação. Causa uma melhoria modesta e descobriram-
se, após comercialização, efeitos cardiovasculares graves.
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Metoclopramida e domperidona
Também são antagonistas pouco potentes dos recetores D2 dopamina.
São úteis como gastrocinéticos e antieméticos. A metoclopramida, mas não a domperidona, atravessa a barreira
hemato-encefálica e pode causar sintomas extrapiramidais por ações anti-D2 no SNC.
Antagonistas da serotonina
Antagonistas dos recetores 5HT3
O ondansetrom, granisetrom e tropisetrom são fármacos antagonistas do recetor 5HT3, sendo potentes antieméticos.
São usados para tratar as náuseas e vómitos provocados pela radioterapia abdominal ou pelo tratamento com alguns
antineoplásicos compostos de platina.
Antagonistas 5HT2
A cetanserina é um fármaco antagonistas dos recetores 5HT2. Foi usado na hipertensão arterial, mas está agora em
desuso.
Outros antagonistas
Alguns antipsicóticos, as fenotiazinas e as butifenonas e antipsicóticos de 2ª geração, como a risperidona, cariprazina
e outros, são antagonistas dos recetores 5HT2A.
Os sintomas da esquizofrenia estão associados a baixos níveis de dopamina nas vias mesocorticais. Assim, estes
fármacos favorecem a libertação de dopamina nestas vias, melhorando a sintomatologia da esquizofrenia.
Síndroma carcinóide
A síndroma carcinoide é um estado clínico associado a tumores das células enterocromafins. As células
enterocromafins libertam serotonina, substância P, prostaglandinas e bradicininas. Nesta doença, estão aumentadas
todas estas substâncias.
Verifica-se rubor, diarreia, broncoconstrição, variações da tensão arterial, fibrose cardíaca associada à insuficiência
cardíaca.
Quando medimos o 5-HIAA, observamos um aumento de até 10 vezes da concentração normal, confirmando-se a
hipótese diagnóstica.
Interessa bloquear a produção destas substâncias (serotonina, substância P, prostaglandinas e bradicininas). Na
clínica, usam-se análogos da somatostatina ou recessão cirúrgica.
Síndroma serotoninérgica
Esta síndroma é grave e potencialmente fatal.
É causada pelo excesso de serotonina na fenda sináptica. É precipitada pela
administração de fármacos serotoninérgicos e sobretudo pela coadministração
destes (inibidores da recaptação da serotonina, IMAO, tramadol, sumatriptano,
ondansetrom, lítio, MDMA, erva de são João, LSD e outros.)
Note-se que o ondansetrom é um fármaco antagonistas dos recetores
serotoninérgicos, pelo que não se conhece bem o mecanismo da síndroma
serotoninérgica associada a este fármaco.
Quadro clínico: hipertensão, hiperreflexia, tremor, clónus, hipertermia, diarreia,
midríase, agitação, coma dentro de horas.
Terapêutica: benzodiazepinas, clorpromazina (antagonista dos recetores da
serotonina) e eventualmente intubação traqueal.
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Nesta tabela vemos comparados os sintomas da síndroma serotoninérgica com outras doenças.
[Para veres um quadro com os fármacos associados a esta síndrome, podes consultar o ppt.]
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13ª AULA TEÓRICA – FÁRMACOS NA INIBIÇÃO DA DOR II
Derivados pirazólicos
Utiliza-se apenas como analgésico. Bom analgésico em termos de eficácia (em termos de segurança,
obviamente que não será).
Pode provocar depressão da medula óssea, sendo que é necessário ter cuidado com a administração repetida.
A administração durante uma semana é perigosa.
Apenas existe um: Dipirona ou Metamizol (nome mais utilizado)
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Derivados do ácido nicotínico
Utiliza-se apenas como analgésico. Causa irritação da mucosa gástrica.
Clonixonato de lisina ou Clonixina (muito utilizada)
Salicicatos
Utilizados a par do paracetamol. Muito irritantes da mucosa.
Ácido acetilsalicílico (AAS) e Acetilisalicilato de lisina (pó). Existem outros que foram cada vez menos usados.
Alguns AINEs
Também se utilizam como analgésicos.
Ibuprofeno e Nimesulida.
PARACETAMOL
O metabolismo do paracetamol dá origem a um metabolito hepatotóxico, ou seja, pode casar hepatite tóxica. Para
evitar que ocorra hepatite tóxica, este metabolite tem que ser eliminado através da conjugação com o glutatião, como
já visto na farmacocinética. O glutatião está normalmente disponível, exceto em casos de alcoolismo.
Deve-se, assim, evitar dar doses muito elevadas de paracetamol, para que não se esgote o glutatião, nunca
ultrapassando as 2/3 g diárias, especialmente no alcoólico. Uma dose de 10g diárias é hepatotóxica para qualquer
pessoa.
SALICILATOS
Os salicilatos provocam irritação da mucosa gástrica, asma e outros efeitos secundários, sobretudo a nível renal.
O Síndroma de Reye corresponde a encefalopatia e hepatopatia necrosante e pode ser resumida em: salicilato +
criança + febre elevada. Não se sabe bem qual é a causa, mas trata-se de uma associação estatisticamente significativa.
Assim, deve-se evitar os salicilatos na criança com febre elevada, por exemplo, na criança com gripe.
O AAS é um forte irritante gástrico e, mesmo com a toma de doses baixas, há estudos que demonstram a perda de
eritrócitos nas fezes.
ASSOCIAÇÕES FIXAS
São aceitáveis desde que haja:
− sinergismo na eficácia/ efetividade (adição ou potenciação);
− aumento da segurança;
− significativo aumento da adesão à terapêutica.
Exemplos:
− Analgésico associado à cafeína – a cafeína aumenta a eficácia do analgésico, mas teria de ser uma dose
superior a 100mg diárias. Sendo que os comprimidos de cafeína têm, normalmente cerca de 30mg de cafeína,
a sua utilidade é questionável.
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− Analgésico associado à vitamina C – a vitamina C não ter qualquer interação com o analgésico, sendo inútil em
qualquer dose.
− Analgésico + analgésico – é preferível dar uma dose eficaz e terapêutica de apenas um analgésico, em vez de
associar, especialmente fármacos com o mesmo mecanismo de ação.
Um exemplo de uma associação fixa admissível é a de um analgésico periférico, como paracetamol, com um opioide,
como a codeína, porque o mecanismo de ação é diferente. (dose máxima de codeína: 180mg diárias; 3 comprimidos
de 60mg)
AINES
Representam cerca de 10 % das vendas de medicamentos sem Portugal. São extremamente usados (e abusados).
Todos são classificados em classes químicas à exceção dos coxibes.
AAS
Acetilsalicilato de lisina
Derivados do ácido salicílico Diflunisal
Trisilicato de magnésio e colina
Salsalato
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Nabumetona (a agressão gástrica é sistémica, inibindo
a COX e a produção de prostaglandinas E1 e E2, o que
diminui a produção de muco. Por isso, apesar de a
Compostos não acídicos nabumetona não ser ácida, continua a provocar
gastrite)
Proquazona
Bufexamac.
Os inibidores preferenciais/”seletivos” da COX-2 não são uma classe química! Qual a razão desta exceção?
Os AINEs classificam-se por classes químicas, exceto os coxibes, já que em diversas classes químicas existem inibidores
preferenciais ou seletivos da COX-2.
As enzimas proteolíticas não são anti-inflamatórias! São muito utilizadas em ORL, mas felizmente não são absorvidas,
porque se não digeririam as proteínas do organismo – ex: ananase [“dar ananase é um disparate. Comam ananás que
faz melhor.”]
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AUSÊNCIA DE RESPOSTA AOS AINES
1a RS de RCT
A
RCT individuais (com IC
1b
curtos)
2a RS de estudos de coorte
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Biblioteca MBE (Medicina Baseada na Evidência): The Cochrane Library
As revisões sistemáticas não encontram diferenças na eficácia entre os AINEs (não há correlação entre a concentração
plasmática e a eficácia, existindo uma grande variabilidade interindividual), existindo risco diferente entre alguns.
Para os síndromes músculo-esqueléticos agudos, não existe comparação robusta com o paracetamol.
Uma revisão sistemática verificou eficácia dos AINEs tópicos quando comparados com placebo.
Não existem RCT (Randomized Control Trial) de qualidade que comparem as formas tópicas (mais seguras, mas menos
eficazes) com as sistémicas dos AINEs.
UTILIZAÇÃO CLÍNICA
− São tratamentos quase sempre sintomáticos, para as dores somáticas (nunca neuropáticas).
− Não há uma indicação preferencial, nem hierarquias. Se a eficácia é semelhante, começar pelo mais bem
tolerado (baseado na prova).
− Existe variabilidade interindividual na resposta aos AINEs — ritmos circadianos, patogenias diferentes...
− Começar pela dose mais baixa que tenha a melhor relação benefício/risco.
− Não prescrever AINEs para melhorar a penetração dos antibióticos- prática já não utilizada.
REAÇÕES ADVERSAS
Em 1997, nos EUA, a toxicidade por AINEs foi responsável por 16.500 mortes, quase tantas como a SIDA. Foi este grupo
farmacoterapêutico que viu maior número de fármacos a serem retirados do mercado por toxicidade. Quase 25% de
todas as reações adversas imputadas aos medicamentos!
AINEs retirados do mercado:
− Fenclofenac, zomepirac
− Indoprofeno, suprofeno, benoxaprofeno
− Fenilbutazona, hidrofenilbutazona, oxifenilbutazona, suxibuzona, tiazolinobutazona, pirazinobutazona
− Isoxicam
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2. Não dependentes das PGs
- Reações Cutâneas (Piroxicam, Diclofenac)
• Erupções alérgicas banais
• Acidentes cutâneos graves
(Piroxicam provoca fotossensibilidade; Diclofenac provoca dermopatias)
- Reações Hematológicas (Pirazolonas)
• Agressão medular de origem Imuno-Alérgica
• Agressões tóxicas
- Reações Hepáticas (Nimesulida)
• Hepatites colestáticas, citolíticas ou mistas
• Muitos outros AINEs são hepatotóxicos
- Púrpura e vasculites
O rofecoxib, num ano, atingiu quase 100% de vendas em Portugal. Num ensaio clínico de rofecoxib vs naproxeno
(estudo de vigor), o rofecoxib teve 4x mais casos de enfarte do miocárdio que o naproxeno. A FDA questionou a
farmacêutica que se defendeu dizendo que o problema não era do rofecoxib, mas sim uma vantagem do naproxeno,
porque este é antiagregante plaquetar. Depois, a farmacêutica resolveu utilizar o rofecoxib como preventivo do cancro
do colon, porque a COX-2 transforma os pólipos em carcinoma do colon, pelo que, inibindo a COX-2, estamos a evitar
a transformação. Assim, o rofecoxib foi utilizado em doses muito mais elevadas que antes. A taxa de enfartes do
miocárdio foi brutal e o rofecoxib acabou por ser retirado do mercado, bem como outros coxibes.
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− Proteção gástrica (antiácidos e inibidores da bomba de protões só devem ser utilizados em doentes de risco,
com antecedentes de, por exemplo, úlcera péptica ou cirrose hepática).
Apesar de os inibidores seletivos da COX-2 provocarem menos agressão gástrica, continuam a tê-la!
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INTERAÇÕES A NÍVEL FARMACODINÂMICO
Nota: deve começar-se por prescrever produtos que se conhecem melhor, normalmente os mais antigos, porque se
sabe quais são os efeitos adversos, mesmo os mais raros, e porque são, na sua maior parte, menos dispendiosos.
DOR NEUROPÁTICA
A dor neuropática corresponde a uma lesão da fibra, ou da via da dor, excetuando a estimulação os nociceptores, ou
seja, de todo o trajeto da fibra até ao córtex parietal.
Envolve múltiplos mecanismos, desde a estimulação excessiva da fibra, por sinapses anómalas do simpático com a
fibra nervosa, ou até mesmo por desmielinização da fibra nervosa. Há sempre alguma fragilidade do sistema analgésico
endógeno.
É uma dor espontânea e muito intensa (hiperalgesia periférica e central; alodinia – hipersensibilidade periférica e
central), sendo muito frequente.
Exemplos:
− Polirradiculoneuropatias inflamatórias desmielinizantes, aguda ou crónicas
− Polineuropatia alcoólica
− Polineuropatia por quimioterapia
− Neuropatias por compressão (entrapment neuropathies)
− Neuropatias por compressão ou infiltração tumoral
− Neuropatias por deficiência nutricional (sobretudo de vitaminas do complexo B)
135
− Neuropatia diabética
− Dor do membro fantasma
− Nevralgia pós-herpética
− Radiculopatias (cervicais, torácicas ou lombossagradas)
− Nevralgia do trigémeo
− Nevralgias pós-traumáticas
− Neuropatias por intoxicação
− "Causalgias" (não se sabe a causa); síndrome ombro-mão; atrofia de Sudeck (acontece quando me mete, por
exemplo, gesso num membro, ocorrendo uma certa descalcificação).
4. Outros, como a lidocaína tópica (inibe canais de sódio) ou capsaicina tópica na dor pós-herpética.
136
14ª AULA TEÓRICA – ANTI-INFLAMATÓRIOS ESTERÓIDES (CORTICOESTERÓIDES)
137
PRINCIPAIS AÇÕES DOS GLICOCORTICOIDES
‒ Efeitos metabólicos e sistémicos gerais;
‒ Efeitos de feedback negativo sobre a hipófise anterior e hipotálamo;
‒ Efeitos anti-inflamatórios e imunossupressores.
138
Os fosfolípidos da membrana, por ação da fosfolipase A2,
libertam ácido araquidónico, que pode ser usado em várias
vias. As principais são as vias da lipoxigenase e da
cicloxigenase.
A cicloxigenase irá dar origem às prostaglandinas TXA2 e
PGI2, enquanto a lipoxigenase dá origem aos leucotrienos.
Os corticosteroides inibem a fosfolipase A2, sendo, por
isso, mais potentes que os AINEs, que inibem apenas a
cicloxigenase.
PRINCIPAIS CORTICOSTEROIDES
‒ Glucorticoides
• Hormonas naturais
o Cortisona (cortisol)
o Hidrocortisona (pouco potente)
• Hormonas sintéticas
o Prednisona: pró-fármaco da prednisolona
o Betametasona
o Dexametasona
o Beclometasona
o Triancinolona
‒ Mineralocorticoides
• Hormonas sintéticas
o Fludrocortisona: não é comercializado em Portugal. Muito útil em situações de hipotensão
arterial grave.
Cortisol e cortisona
‒ Pouco potente;
‒ Usado apenas em terapêuticas de reposição;
‒ Não possuem boas propriedades anti-inflamatórias;
‒ Elevada atividade mineralocorticóide.
Prednisona e prednisolona
‒ 1ª escolha no tratamento anti-inflamatório a longo prazo, sendo dos mais utilizados;
‒ Baixa atividade mineralocorticóide;
‒ Grande atividade glicocorticoide.
Dexametasona e betametasona
‒ Usados com anti-inflamatórios para respostas agudas máximas (choque séptico e edema cerebral);
‒ Mais potentes;
‒ Baixa atividade mineralocorticóide;
‒ Atividade supressora do crescimento e cicatrização;
‒ Anti-inflamatórios potentes.
139
Podemos observar que, em termos de afinidade
relativa, potência inflamatória e retenção de sódio, a
hidrocortisonsa toma o valor de 1.
A prednisolona, em termos de afinidade relativa e
potância inflamatória, toma valores mais altos.
No entanto, quanto à retenção de sódio (capacidade
mineralocorticóide), todas as substâncias têm um
desempenho inferior à hidrocortisona, à exceção da
fludrocortisona e da aldosterona.
Quanto à potência inflamatória, todas as substâncias são superiores à hidrocortisona. A dexametasona e a
betametasona são 30 vezes mais potentes que a hidrocortisona neste parâmetro.
Em relação à semivida, excluindo a cortisona e a hidrocortisona que têm uma semivida curta, todas as substâncias têm
uma semivida intermédia ou longa, sendo que só é preciso uma administração por dia.
‒ Atravessam a membrana celular com muita facilidade, tendo uma boa e rápida absorção por via oral.
‒ Existem preparações para administração por diversas vias (oral, intramuscular, endovenosa, parentéricas,
inalatória, nasal, tópica, intra-articular).
‒ Baixa ligação às proteínas plasmáticas (10-15% á albumina e apenas 3 a 10% livre).
‒ Os corticosteroides sintéticos apresentam melhor biodisponibilidade que o cortisol.
‒ Metabolização pelo fígado, formando compostos hidrossolúveis que são eliminados pelo rim.
Na via oral:
− O corticosteroide mais utilizado é a prednisolona (mais
práticos) ou o seu pró-farmaco prednisona.
− A forma metilada da prednisolona – metilprednisolona – é
mais solúvel, sendo mais preferível para a administração
endovenosa.
− A Fludrocortisona não é comercializada em Portugal
− O deflazacort é muitas vezes descrito como tendo poucos
efeitos secundários. Isto não é verdade, uma vez que, em
doses equiefetivas, todos os corticosteroides têm efeitos
secundários semelhantes. O que realmente acontece é
que, por miligrama, o deflazacort é menos eficaz, tendo
menos efeitos secundários por este motivo.
Na via parentérica:
− São frequentemente usados a prednisolona ou a metilprednisolona.
• Estes fármacos devem estar presentes em qualquer consultório, caso ocorra uma situação de alergia
ou choque anafilático.
− A dexametasona é bastante utilizada em neurologia, para diminuir o edema cerebral.
− A betametasona e a trimcinolona têm aplicação oftálmica.
140
USO TERAPÊUTICO DOS CORTICOSTEROIDES
‒ Terapêutica de substituição, quando existe destruição do córtex renal (insuficiência suprarrenal aguda ou
crónica, tuberculose)
‒ Doenças alérgicas (choque anafilático, urticária, …)
• Em situação de choque anafilático, a administração tem de ser imediata.
‒ Doenças inflamatórias (arterite temporal, colite ulcerosa, doença de Crohn, iridociclite, pericardite, edema
cerebral vasogénico, etc).
• No caso de doenças graves como a iridociclite, pericardite e edema cerebral vasogénico, os
corticosteroides devem ser administrados por via parentérica.
‒ Doenças autoimunes (anemia hemolítica autoimune, artrite reumatoide, LES, hepatite auto-imune,
vasculite, …)
• Deve ser administrado corticosteroide junto com um imunomodelador.
‒ Asma brônquica, sobretudo na prevenção.
• Grelhas de tratamento R-CHOP (rituximab, ciclofosfamida, doxorrubicina, vincristina e prednisona)
‒ Tratamento de neoplasias (linfomas, leucemias…)
‒ Doentes transplantados (em combinação com imunossupressores).
‒ Situações muito graves de COVID-19, para evitar a morte dos doentes.
141
‒ Atraso do crescimento em crianças
• Nas crianças com asma, existia a preocupação dos corticosteroides terapêuticos inalados estarem a
causar atraso do crescimento. No entanto, foi provado que esse atraso não é muito significante, sendo
apenas de 1-2cm.
‒ Miopatia (enfraquecimento e atrofia muscular);
‒ Cataratas;
‒ Depressão imunitária (suscetibilidade imunitária). Pode ser utilizada clinicamente em algumas situações (p.ex.
em casos graves de Covid-19);
‒ Úlcera gastroduodenal, com irritação gástrica e problemas renais;
‒ Atraso na cicatrização de feridas;
‒ Diminuição da líbido e amenorreia;
‒ Complicações tromboembólicos;
‒ Ansiedade, euforia, insónias (por vezes depressão ou reações psicóticas, ideação suicida);
‒ Hipertensão intracraniana.
− Insuficiência cardíaca;
− Hipertensão arterial grave;
− Insuficiência renal;
− Úlcera péptica;
− Psicose;
− Osteoporose;
− Infeções sistémicas ativas.
Desmame: redução gradual da dose. Quanto maior a dose e a duração do tratamento, mais lento e progressivo tem
de ser o desmame.
142
14ª AULA TEÓRICA – AUTACÓIDES II
PÉPTIDOS VASOATIVOS
Vasoconstritores Vasodilatadores
‒ Angiotensina II ‒ Bradicinina e cininas relacionadas
‒ Vasopressina ‒ Péptidos natriuréticos
‒ Endotelina ‒ Péptido intestinal vasoativo (VIP)
‒ Neuropéptido Y ‒ Substância P
‒ Neurotensina
‒ Péptido relacionada com o gene da calcitonina
(CGRP)
‒ Adrenomedulina
‒ Urotensina
SISTEMAS PEPTIDÉRGICOS QUE PARTICIPAM NA REGULAÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL, VOLÉMIA E EXCREÇÃO DE SÓDIO
− Renina-angiotensina-aldosterona
− Cininas
− Péptidos natriuréticos
SISTEMA RENINA-ANGIOTENSINA-ALDOSTERONA
‒ Sistema mais importante no aparelho cardiovascular.
‒ A renina, produzida no rim por estimulação simpática, transforma Angiotensinogénio
(presente no fígado) em Angiotensina I. A Angiotensina I é convertida em
Angiotensina II pela Enzima de conversão (ECA)
‒ As aminopeptidases degradam Angiotensina II em Angiotensina III.
Ações da angiotensina
Locais de ação
‒ Músculo liso vascular, aumentando a contração vascular;
‒ Coração;
‒ Córtex suprarrenal, aumentando a produção e libertação de aldosterona;
‒ Rim, aumentando a taxa de filtração glomerular;
‒ Cérebro.
Através das ações exercidas nestes locais regula
− O equilíbrio dos fluidos e eletrólitos;
− A pressão arterial, sobretudo através da aldosterona, que promove a retenção de sódio e água e a
vasoconstrição;
− A estrutura cardiovascular, sobretudo a espessura das paredes do coração e dos vasos.
A atividade excessiva resulta em
− Hipertensão;
− Alteração da homeostasia de fluidos e eletrólitos;
− Alteração da parede.
143
Efeitos na pressão arterial
− Agente pressor muito potente (40 vezes mais potente que a noradrenalina)
• O efeito pressor deve-se, em grande parte, à contração do músculo liso arteriolar e ao efeito no SNC
e SNV (estimula os gânglios, aumenta a libertação de aldosterona e noradrenalina e estimula a
transmissão simpática por ação nos terminais nervosos.
− Início rápido (10-15s) e mantido durante a infusão.
− Tem um efeito direto inotrópico no coração.
Efeitos no rim
‒ Vasoconstrição renal;
‒ Aumenta a reabsorção de sódio no tubo contornado proximal.
‒ Metildopa - Simpaticolítico
‒ Propanolol e outros antagonistas beta - Bloqueia os recetores beta envolvidos na secreção de renina; é um
dos mecanismos de ação dos bloqueadores beta no controlo da hipertensão arterial.
2. Inibidores da renina
‒ Aliscireno
• É administrado por via oral, tendo uma biodisponibilidade reduzida - compensa-se aumentando a dose
administrada.
• Eficácia aparentemente semelhante aos IECAs e ARAs (em doses equiefetivas!).
• Igual tolerabilidade (mais diarreia que os IECAs e ARAs e menos tosse que os IECAs).
144
‒ Ativos por via oral:
• Captopril (já não tem muito interesse, pois são precisas várias administrações ao longo do dia)
• Enalapril
• Perindopril Administram-se uma vez por dia
• Ramipril
• Trandolapril
• Benazepril
• Fosinopril
• Lisinopril
• Quinapril
Ações farmacológicas
‒ Reduzem a resistência vascular sistémica sem aumentarem a frequência cardíaca.
‒ Promovem a natriurese.
‒ São eficazes como anti-hipertensores.
‒ Reduzem a morbilidade e a mortalidade na insuficiência cardíaca congestiva (substituíram a digoxina) e na
disfunção do ventrículo esquerdo após enfarte do miocárdio – fármacos de 1ªlinha nestas patologias.
‒ Atrasam a progressão da nefropatia diabética
• Será que devemos administrar IECAs na nefropatia diabética, mesmo que não exista HTA? Há quem
defenda que sim, para evitar a sua progressão.
Reações adversas
‒ Hipotensão arterial, sobretudo no aumento do eixo renina-angiotensina-aldosterona e na primeira
administração e/ou com diuréticos;
‒ Palpitações (compensação da vasodilatação periférica);
‒ Taquicardia;
‒ Tosse (20% dos indivíduos);
‒ Perturbações hematológicas (neutropenia, anemia e trombocitopenia);
‒ Proteinuria, hipercaliémia (diminuímos a retenção de sódio e aumentamos a retenção de potássio), urémia e
creatinina elevadas
• Nunca associar um aliscereno com um IECA ou um ARA, porque irá existir sinergismo associado à
retenção de potássio.
‒ Manifestações cutâneas e outras reações alérgicas;
‒ Edema angioneurótico e maleolar.
Apesar de todas estas reações adversas, são dos anti-hipertensores mais seguros! (a par com os ARAs)
145
Os fármacos que denominamos de antagonistas dos recetores da angiotensina são antagonistas dos recetores AT1,
não atuando sobre os recetores AT2.
Estes antagonistas irão bloquear os recetores AT1, deixando a angiotensina II disponível para atuar apenas nos
recetores AT2, contribuindo para um efeito anti-hipertensor e remodelador da parede do coração e dos vasos.
CININAS
As cininas são vasodilatadores potentes. São formados por ação das calicreínas ou cininogenases sobre substratos
proteicos, os cininogénios (de baixo peso molecular, presentes no plasma, linfa e fluido intersticial).
Estão envolvidas na inflamação. Apresentam várias características comuns com o sistema renina-angiotensina-
aldosterona.
Bradicinina (BK)
- É um nonapeptídeo, derivado do cininogénio de peso molecular elevado, presente no plasma.
- Degradada por uma bradicininase semelhante a uma ECA (cininase I). Deste modo, quando administramos um
IECA, inibimos a bradicininase e aumentamos os níveis de bradicinina, que contribui para um efeito
hipertensor.
- 2 subtipos de recetores
• Tipo B1
o Inflamação, síntese do colagénio e multiplicação celular;
o Antagonistas B1 são de uso farmacológico apenas em investigação.
146
Ações das cininas
‒ Aparelho cardiovascular:
• Vasodilatação arteriolar acentuada (por ação direta ou mediada pela libertação de NO ou PGI2 e
PGE2);
• Vasoconstrição das veias (PGF2a);
• Contração do músculo liso visceral;
• Por via intravenosa, produz queda rápida da Pressão Arterial.
‒ Inflamação
• Produzem todos os sintomas da inflamação.
‒ Nervos sensoriais
• Desencadeiam dor, por estimulação dos nervos aferentes nociceptivos da pele e vísceras.
PÉPTIDOS NATRIURÉTICOS
‒ Péptidos de 19 a 20 aminoácidos formados e libertados, por exemplo, pelos miócitos das aurículas, de onde
serão lançados para a circulação.
‒ São neuromodeladores do SNC.
‒ Provêm de uma pré-pró-hormona de 152 aminoácidos por rutura de 24 aminoácidos na terminação N,
formando o atriopeptinogénio.
Péptido natriurético auricular (ANP): chama-se assim, porque foi descoberto na parede
das aurículas. Aumenta a excreção de Na+ e o volume urinário. Têm estruturas semelhantes,
Péptido natriurético cerebral (BNP): atividade natriurética, diurética e hipotensora. mas ações biológicas distintas
Péptido natriurético C (CNP): vasodilatador potente.
147
Ações farmacológicas dos péptidos natriuréticos
‒ Atuam em recetores específicos (ANPA, ANPB, ANPC).
‒ Rápida e intensa ação diurética e natriurética.
‒ Aumentam inicialmente o fluxo plasmático renal, a nível medular e papilar, e a velocidade de filtração
glomerular.
‒ Inibem a produção de aldosterona em resposta à angiotensina.
São diuréticos e natriuréticos, por isso, se aumentarmos no sangue o ANP, temos um efeito mais natriurético e mais
diurético. A enzima neprilisina é responsável pela degradação do ANP. Se diminuirmos os níveis de neprilisina,
aumentamos os níveis de ANP e, consequentemente, o efeito diurético e natriurético.
O sacubitril é um inibidor da neprilisina e utiliza-se na insuficiência cardíaca, em associação com o valsartan. Verificou-
se que, em doentes com insuficiência cardíaca com diminuição da fração de ejeção ventricular, o sacubitril aumentou
a sobrevivência em 20%. Surgiu um artigo no mês passado que diz que o sacubitril não é eficaz em casos sem
diminuição da fração de ejeção ventricular.
ENDOTELINAS
‒ 3 tipos: ET-1, ET-2 e ET-3.
‒ Dois tipos de recetores: ETA e ETB.
‒ Potentes vasoconstritores: produzem vasoconstrição das coronárias, ação inotrópica e cronotrópicas
positivas; vasoconstrição renal. Predomina o efeito vasoconstritor potente.
‒ Aumentam a secreção de renina, aldosterona, vasopressina e péptidos natriuréticos.
‒ Exercem ações no SNC e periférico, trato gastrointestinal, fígado e sistema reprodutor.
Os antagonistas dos recetores ETA e ETB – Bosentano e Macitentano – produzem vasodilatação pulmonar. Por isto,
são úteis na hipertensão pulmonar.
Em situações de hipertensão pulmonar, usamos também análogos da prostaciclina e fármacos inibidores da
fosfodiasterase tipo 5, também utilizados na disfunção erétil (p.e. sildenafil e tadalafil). Muitas vezes, associa-se um
inibidor da fosfodiasterase tipo 5 com um inibidor das endotelinas.
INTERFERÕES (IFN)
‒ São citocinas indutáveis sintetizadas pelas células, em resposta a estímulos indutores, virais e outros, e causam
alterações bioquímicas das próprias células com efeito antiviral, por exemplo.
‒ 3 classes:
• IFN alfa
• IFN beta
• IFN gama (“O gama não serve para nada no fundo”)
‒ São produzidos por células imunitárias (monócitos, macrófagos e alguns linfócitos B e T).
‒ Induzem a produção de citocinas e são também induzidos por citocinas.
148
Interferões disponíveis
Interferão Alfa-2a: indicação clínica para a hepatite B e C
Interferão Alfa-2b: indicação clínica para a hepatite B crónica e doença granulomatosa crónica
Existem ainda formas conjugadas com o polietilenoglicol, que dão origem ao peginterferão alfa-2a e peginterferão alfa
2b, que são mais ativas e têm maior duração de ação e melhor tolerabilidade, sendo por isso muito usadas.
Interferões Beta-1a e Beta-1b: indicação clínica para esclerose múltipla na forma surto-remissiva. Existe também um
peginterferão beta-1a para a esclerose múltipla.
Efeitos adversos
‒ Síndrome tipo gripal (febre, arrepios, cefaleias, mialgias, artralgias, náuseas, vómitos e diarreia);
‒ Supressão da medula óssea;
‒ Neurotoxicidade (sonolência, confusão, alterações do comportamento, depressão, tendência suicida);
‒ Cardiotoxicidade e inibição enzimática;
‒ Fadiga (muito frequente).
149
Antagonistas seletivos dos recetores V2
‒ Tolvaptano (inicia uma nova classe)
• Indicação clínica presente no RCM: “para abrandar a progressão do desenvolvimento de quistos e
insuficiência renal da doença poliquística renal (…)”.
• Medicamento órfão (“interessante”).
‒ Lixivaptano
‒ Mozavaptano
‒ Satavaptano
Existem 3 formas da enzima que sintetiza o óxido nítrico (NO Sintetase), descritas no quadro abaixo:
150
o Nitroprussiato de Sódio: medicação de urgência em crises hipertensivas. Não pode ser exposto a
grande luminosidade.
• Outros dadores de NO
o SNAP (experimental)
• Inalação do gás NO, para redução da pressão pulmonar
• Estratégias alternativas
o Inibidores da fosfodiesterase de tipo 5: sildenafil, tadalafil e vardenafil, que aumentam a duração do
aumento do GMPc induzido pelo NO nos tecidos. São muito usados na impotência sexual masculina e
também na hipertensão pulmonar
OUTROS PÉPTIDOS
Péptido intestinal vasoativo (VIP)
Vasodilatador potente, que atua em recetores VPAC1 e VPAC2. É também um cotransmissor no sistema nervoso
parassimpático, atuando com a acetilcolina.
Neurotensina
Neuromodelador do SNC, associado ao sistema dopaminérgico e da neurotensina, envolvido na esquizofrenia, doença
de Parkinson e abuso de drogas. Ainda não existem medicamentos para este tipo de fármacos.
Neuropéptido Y (NPY)
Possui 5 recetores (Y1 a Y5), é um cotransmissor no sistema nervoso simpático. Contrai os vasos cerebrais e alguns
periféricos. Sem aplicação clínica ainda.
151
15ª AULA TEÓRICA - TRATAMENTO DE FUNDO DE DOENÇAS REUMÁTICAS
(DMARDS - MODIFICADORES DA PROGRESSÃO DA DOENÇA)
ARTRITE REUMATOIDE
A artrite reumatoide é uma doença inflamatória crónica autoimune, onde há degradação das pequenas articulações
(pulsão, mão, pé…) e uma grande deterioração da qualidade de vida. Há desenvolvimento de artrite com proliferação
de macrófagos, linfócitos e de fibroblastos que vão formar um panus de tecido conjuntivo que cobre parcialmente a
cartilagem. Assim, verifica-se a perda do espaço interarticular e grande dificuldade no movimento, o que resulta em
dor e contraturas.
Esta patologia possui um ritmo inflamatório, ou seja, demonstra-se com dor precoce, geralmente logo nas primeiras
horas da manhã (rigidez matinal) e também durante a noite, e piora com o movimento.
Nesta patologia verifica-se um aumento dos eicosanóides, nomeadamente das prostaglandinas (PGE2, PGF2a), do
tromboxano (TXA2), leucotrienos (LTB4) e de outras vias. É por este motivo que se começa em primeiro lugar o
tratamento com anti-inflamatórios não esteroides. Os AINEs proporcionam principalmente alívio sintomático.
Reduzem a inflamação e a dor e, muitas vezes, preservam a função, mas têm pouco efeito na progressão da destruição
da cartilagem e do osso.
Além do aumento dos eucosanóides, também se verifica um aumento dos radicais livres do oxigénio e de aniões
superóxido e uma enorme quantidade de citocinas e, por isso, é que muitos fármacos atualmente tentam combater
estas citocinas. As imunoglobulinas ativam o MHC e há ativação de linfócitos B (formação de imunocomplexos) e T
(mecanismo de imunidade celular).
Depois de se tentarem os AINEs, utilizam-se os corticosteroides e, por último, os DMARDs. Inicialmente, os DMARDs
têm um efeito muito lento, visto que demoram entre 6 semanas e 6 meses para começarem a fazer efeito.
Era bom que isto fosse muito eficaz, ou seja, que a progressão da doença fosse lentificada ou parasse. Infelizmente,
isto consegue-se de início, mas depois deixa de se conseguir.
Apesar de a artrite reumatóide ser a mais falada, existem outros tipo que não podem ser esquecidos, como a artrite
reumatóide juvenil, espondilite anquilopoiética e artrite psoriática, sendo que esta última é muito mais resistente aos
tratamentos em comparação com a artrite reumatóide.
NOTA: Tanto os linfócitos como os monócitos e os macrófagos produzem citocinas, principalmente TNFα, IL-1 e IL-6
(citocinas pró-inflamatórias).
Terapêutica
Não farmacológica: repouso (principalmente quando o doente está nos períodos agudos da doença), fisioterapia (deve
ser feita quando o doente não tem dores), aparelhos auxiliares, entre outros.
Farmacológica:
− Inicia-se com analgésicos (ex: paracetamol), de seguida AINEs, corticosteroides (sendo o preferido a
prednisolona ou o seu pró-fármaco, a prednisona). Pode adicionar-se ao corticosteroide um citotóxico
(metrotrexato, clorambucil, azatioprina, ciclofosfamida). Contudo, muitas vezes, não se acrescenta e apenas
faz-se a administração isolada de metrotrexato.
− Quando já nenhum destes fármacos resulta, recorre-se aos DMARDs. Inicialmente, com os DMARDs clássicos
(muitas vezes podemos fazer combinação terapêutica de 2 ou mais tipos - metotrexato+ciclosporina e
metotrexato+sulfassalazina).
− Se estes falharem, passa-se para os medicamentos biológicos. Os medicamentos biológicos não são
substitutos e, por isso, são quase sempre acrescentados a DMARDs, nomeadamento ao metotrexato.
152
Concluíndo, o tratamento farmacológico:
- AINEs;
- Corticosteroides;
- Metotrexato ou outro fármaco citotóxico (como clorambucil, azatioprina, ciclofosfamida);
- Ciclosporina (foi uma revolução em medicina, permitindo os transplantes de órgãos);
- Micofenolato de mofetil (pouco utilizado);
- Cloroquina e Hidroxicloroquina;
- Sais de ouro (já não se utilizam);
- Penicilamina (é um quelante do cobre – raramente usado pela sua toxicidade);
- Sulfassalazina (uma sulfamida);
- Leflunomide;
- Agentes biológicos - Infliximab, Etanercept (liga-se ao recetor do anti-TNFα), Adalimumab, Rituximab (anti-
CD20), Tocilizumab (anti-IL6), entre outros.
CORTICOSTEROIDES
FÁRMACOS CITOTÓXICOS
Exs: Metotrexato (mais utilizado), azatioprina, ciclofosfamida, clorambucil;
− São eficazes. Quando a doença atinge determinada fase, é quase obrigatória a utilização do metotrexato, em
doses inferiores às usadas em quimioterapia anticancerosa.
− Melhoram o curso clínico e reduzem o aparecimento de novas erosões. Impedem a evolução agressiva
articular enquanto são administrados.
− Os efeitos secundários centram-se na depressão imunitária e da medula óssea. O metotrexato é um anti-
neoplásico mas um dos seus efeitos secundários é precisamente a neoplasia (engraçado, não?).
− Uso reservado a formas reumatismais particularmente graves, pela toxicidade destes fármacos.
− Reduzem a necessidade de consumo de corticoides.
− São administrados em meio hospitalar (hospital de dia...).
− Usam-se na artrite crónica juvenil, na psoríase, na artrite psoriática, espondilite anquilosante, poliomiosite,
dermatomiosite, granulomatose de Wegener, arterite de células gigantes, lúpus eritematoso sistémico e
vasculite.
153
Metotrexato
Representa a primeira escolha para tratar a artrite reumatoide e é usado em 60% dos doentes. O metotrexato é usado
em doses inferiores às usadas em quimioterapia anticancerosa.
Clorambucil
O clorambucil atua através do seu metabolito, mustarda do ácido fenilacético, e da ligação cruzada com o DNA,
impedindo a replicação celular.
Azatioprina
A azatioprina também atua através do seu metabolito, a 6-tioguanina, impedindo a síntese de ácido inosínico, a função
das células B e T, produção de imunoglobulinas e secreção de interleucina-2 e, por isso, a replicação.
Ciclofosfamida
A ciclofosfamida é um antineoplásico independente de fase, sendo pouco utilizado. Utilizado, por exemplo, no cancro
da mama.
O seu metabolito mais ativo é a mustarda fosforamida que se liga de forma cruzada com o DNA para impedir a
replicação celular. Suprime a função das células T e B. A supressão das células T correlaciona-se com a resposta da
doença reumática.
Ciclosporina
A ciclosporina foi uma grande revolução na medicina por ter permitido o transplante de órgãos com sucesso. Regula
a transcrição genética e os linfócitos B e T, por isso, é que impede a rejeição de transplante.
Atua através da regulação da transcrição genética. Inibe a produção de recetores de interleucina-1 e interleucina-2 e,
secundariamente, inibe a interação macrófago – célula T e a resposta da célula T. Afeta ainda a função da célula B
dependente da célula T.
Tem alguma metabolização pela CYP3A4. Tem má disponibilidade, pois a sua absorção é incompleta. Através de uma
microemulsão, é possível melhorar a biodisponibilidade. Foi descoberto que o consumo de laranja ou de toranja faz
com que haja um aumento da sua biodisponibilidade de 30 para 62%. Assim, a forma de ciclosporina utilizada
atualmente é uma forma líquida que tem sumo associado.
Além de ser usada nos síndromas reumatológicos, a ciclosporina tem muitas outras utilizações. No entanto, também
têm efeitos secundários, nomeadamente nefrotoxicidade (pode aumentar, quando se associa com diltiazem,
diuréticos e inibidores do CYP3A), HTA, hiperplasia das gengivas (acontece, mas raramente é grave) e hirsutismo.
Micofenolato de mofetil
O micofenolato de mofetil é convertido na sua forma ativa, o ácido micofenólico, que inibe a desidrogenase da citosina
monofosfato e, secundariamente, a proliferação dos linfócitos T. Na corrente sanguínea, interfere com a adesão dos
leucócitos às células endoteliais por inibição da selectina-E, da selectina-P e de outras moléculas de adesão
intercelular.
Impede a proliferação de linfócitos T e B e, por isso, é também muito utilizado para evitar a rejeição de transplantes e
em conjunto com os corticosteroides para tratar doenças autoimunitárias. Apesar de ter alguns efeitos secundários é
bem tolerado. Tem perfis de toxicidade gastrointestinais, hematopoiéticos e hepáticos semelhantes aos da
azatioprina, com menor incidência de infeções por fungos.
154
Cloroquina e Hidroxicloroquina
Hoje em dia, a cloroquina não é tão utilizada. A hidroxicloroquina é um antimalárico, usado nas doenças reumatismais.
O seu mecanismo de ação passa por suprimir as respostas linfocitárias, por reduzir a quimiotaxia dos leucócitos e por
captar radicais livres de O2. Inibe a síntese de DNA e RNA e estabilizam as membranas lisossomais.
Tem um período de latência de 3 a 6 meses, sendo que só após esse período é que melhoram a artrite reumatoide.
Reduz a inflamação, mas não altera muito as lesões ósseas.
É necessário controlo oftalmológico a cada 6-12 meses por haver o risco de lesão ocular. Produz ainda efeitos
secundários não tão importantes, tais como dispepsia, náuseas, erupções e tonturas. Parece ser relativamente seguro
na gravidez.
Sulfassalazina
A sulfassalazina é formada pela junção de ácido salicílico com sulfapiridina (aparentemente, a sulfapiridina é o
composto ativo). É pouco absorvida, mas é possível compensar isso aumentado a dose. Atua a nível do sistema
imunitário, sendo metabolizada pelas bactérias intestinais até sulfapiridina (que é reabsorvida e excretada por via
renal) e ácido 5-aminosalicico que não é absorvido. Por isso, é que se usa em doença inflamatória intestinal, como
colite ulcerosa.
Reduz a produção de IgA e de fator reumatóide IgM. Além disso, suprime as respostas das células T à concavalina e
inibe a proliferação das células T.
Sendo uma sulfamida, tem reações tóxicas como febre, anemia hemolítica, uveíte, erupções... Se a pessoa for alérgica
às sulfamidas, não pode tomar sulfassalazina. O contrário também é verdadeiro, ou seja, se for alérgico à
sulfassalazina, não pode tomar sulfamidas.
Leflunomide
O leflunomide é um imunossupressor, mas ainda não se conhece muito sobre ele. Apenas se sabe que atua no
aparelho nuclear, inibindo a ativação do fator nuclear K, e inibe a proliferação dos linfócitos B e T e,
consequentemente, inibe a produção de anticorpos.
Sofre ativação por via oral e tem uma biodisponibilidade muito boa (aproximadamente 100%). Sofre rápida convesão
no intestino e no plasma num metabolito ativo, o A77-1726 (não tem interesse saber o nome do metabolito, por isso, esqueçam o
A77-1726). Tem uma semivida longa (19 dias), o que permite a uma administração única diária. A sua eficácia é
semelhante à do metotrexato, no entanto, este último é muito mais barato, por isso, não faz sentido substituir um
pelo outro. Os doentes que não respondem ao metotrexato beneficiam com a associação.
Tem como principais reações adversas: diarreia e elevação das enzimas hepáticas (suspender se o aumento for
superior a 3 vezes o normal).
TERAPÊUTICAS BIOLÓGICAS
É necessário em 1º lugar definir quais os alvos biológicos, de seguida, é preciso desenvolver fármacos que consigam
alterar os alvos escolhidos, como:
- Anticorpos monoclonais - contra antigénios como o TNF-α, a IL-1e a IL-6. Ex: fliximab (anti-TNFα);
- Fármacos recetores que neutralizam os alvos - um recetor para o TNF-α liga-se a ele e neutraliza-o. Ex:
etanercept (mais bem tolerado que o infliximab e é dado por via subcutânea);
- Inibidores enzimáticos/antagonistas/agonistas.
Um aparte sobre nomenclatura: todos os anticorpos monoclonais terminam em -mab (monoclonal antibody). Quando
são de origem murina, terminam em -mumab. Quando são de origem quimérica (ou seja, rato e humano) terminam
em -ximab. Quando são humanizados, acabam em -zumab. Quando são totalmente humanos, terminam em -humab.
155
Um dos grandes problemas destes anticorpos monoclonais, que são proteínas muito grandes, é o facto de poderem
desenvolver anticorpos contra eles mesmos. Portanto, quanto mais próximo eles forem da espécie humana, menos
chances há de rejeição.
156
ANTICORPOS MONOCLONAIS
Infliximab
É um anticorpo monoclonal quimérico lgG1 (25% de ratinho e 75% humano) que se liga com elevada especificidade
ao TNF-a humano, neutralizando-o. Isto porque, ao complexar-se com TNF-a solúvel, impede a interação com
recetores de superfície celular p55 e p75, de que resulta subregulação do macrófago e das funções da célula T.
Administra-se por via intravenosa e a sua concentração plasmática é proporcional à dose. Não sofre distribuição e a
sua semivida é de 8-10 dias, pelo que se administra uma vez por mês. É de salientar que doses repetidas não levam a
acumulação.
Usa-se em combinação com o metotrexato, mas pode ser usado isoladamente, quando não é possível dar o
metotrexato.
As reações adversas mais comuns da associação são infeções da árvore respiratória superior, em particular
tuberculose; náuseas; cefaleias; sinusite; erupção e tosse; não parece aumentar a incidência de doenças malignas;
pode levar à formação de anticorpos, neutralizando o seu efeito.
Etanercept
Como percebemos pelo nome, não é um anticorpo monoclonal (não acaba em -mab). É uma proteína que funciona
como recetor do TNF-α, neutralizando-o. Pode ser administrado em combinação com o metotrexato ou isoladamente.
Em combinação com o metotrexato, verificou-se que a progressão das lesões articulares, avaliadas radiograficamente,
é mais lenta do que com o metotrexato isolado (eficácia pelo menos igual ao infliximab).
Administra-se por via subcutânea e, por isso, é mais seguro, e tem como reações adversas eritema e prurido no local
da injeção. Aparecem isoladamente anticorpos em 16% dos doentes.
Utiliza-se o Abatacept e Tocilizumab, quando já não há resposta a um anti-TNFα.
157
BIOSSIMILAR
“Os biossimilares são uma espécie de equivalente, mas não é, não são iguais aos medicamentos genéricos”.
(Perceberam? Não? Temos pena.)
Nos estudos clínicos a grande questão que se coloca é: Que ensaio clínico? Por exemplo, o infliximab tem indicação
clínica na artrite reumatoide, na artrite reumatoide juvenil, na artrite psoriática, na doença de Crohn, na colite
ulcerosa… então a dúvida é em que doença fazer o ensaio clínico. A empresa pede aconselhamento à EMA.
No ensaio clínico, são feitos estudos de farmacocinética e de farmacodinamia e tentou-se estabelecer equivalência
terapêutica com o original, sempre em termos comparativos. É muito importante estudar a imunogenicidade, porque
é uma molécula nova.
ARTROSE
A artrose é a doença mais frequente em Portugal. A dor é tratada com analgésicos e, em algumas circunstâncias, com
AINEs, como em situações inflamatórias. Os AINEs quando usados prolongadamente prejudicam as cartilagens das
articulações.
A Glucosamina atrasa a evolução da artrose, mas é muito pouco eficaz. No entanto, é bastante usada devido à escassez
de outras terapêuticas. Tem um efeito curioso, porque às vezes dá um efeito de analgesia. Além disso, poupa as
cartilagens.
GOTA
A gota é uma patologia associada ao ácido úrico. Antigamente, ao ser eliminado pelos rins, o ácido formava litíase nos
túbulos renais e, consequentemente, causava insuficiência renal crónica e levava à morte do indivíduo, algo que
atualmente já não acontece.
A gota é uma doença metabólica caracterizada por episódios frequentes de artrite aguda, resultantes da deposição de
cristais de urato no líquido sinovial das articulações e em tecidos moles (orelhas, por exemplo). A deposição de uratos
vai desencadear um processo inflamatório e sintomas como calor, dor, rubor, dor intensa, impotência funcional...
Ocorre aumento da atividade quimiotática dos polimorfonucleares e da fagocitose de ácido úrico pelos leucócitos com
lise rápida das células, descarga de enzimas proteolíticas e reação inflamatória.
O ácido úrico pode causar nefrolitíase e também nefrite intersticial.
A correlação entre a quantidade de ácido úrico e a gota ainda não está bem esclarecida, porque foi descoberto que se
pode desenvolver gota com baixos níveis de ácido úrico.
Esta doença manifesta-se mais frequentemente nas pequenas articulações, em especial na primeira articulação
metatársico-falângica (basicamente no dedo grande do pé).
158
Critérios para o diagnóstico de gota
− Presença de uratos no líquido articular;
− Desenvolvimento de tophus;
− Inflamação aguda de uma articulação (podagra) (excecionalmente de várias em simultâneo) ou deposição de
uratos numa cartilagem.
A hiperuricémia não é fundamental para o diagnóstico de gota. Contudo, o risco de gota aumenta com a intensidade
e duração da hiperuricémia.
Os fármacos usados na gota dividem-se em 2 categorias: os que são para crise aguda (alívio da dor) e os que são para
prevenir os seus episódios recorrentes. Na crise aguda, utiliza-se: colchicina, AINEs (exemplo: indometacina,
etoricoxib, azapopazona) e corticosteroides. Na prevenção de episódios utilizam-se: alopurinol e febuxostato.
Crise Aguda
Colchicina*
Dada por via oral e tem um efeito muito rápido. Tem um efeito de inibição do quimiotatismo e inibe a formação do
fuso mitótico. A célula para se dividir tem de unir microtúbulos para formar o fuso mitótico, para depois haver a
migração dos cromossomas. A colchicina inibe esta formação, tendo um efeito antineoplásico. Alivia rapidamente a
dor e a inflamação nas crises de gota. Não atua sobre o metabolismo dos uratos.
Ninguém administra colchicina por via intravenosa, porque é perigoso, devido ao aumento da toxicidade da medula
óssea.
Tem uma larga distruição e ligação tecidular, persistindo nos leucócitos durante 10 dias. É excretada na bílis, nas
secreções intestinais (circulação entero-hepática) e na urina.
Pode ser também utilizada na profilaxia dos episódios recorrente de artrite gotosa, mas apenas a curto prazo.
O problema da colchicina é que, quando entramos em doses terapêuticas (médias a elevadas), ocorre diarreia por
vezes sanguinolenta, dose-dependente. Além disso, sendo um antineoplásico, pode dar supressão da medula óssea. E
está ainda associada a problemas renais e hepáticos.
AINEs
Apenas estes 3: indometacina (muito utilizada em alternativa à colchicina), etoricoxib, azapropazona. Porquê? Porque
são os que têm ensaios clínicos onde foi demonstrado eficácia. Administram-se em doses muito elevadas e inibem a
fagocitose e a síntese de prostaglandinas.
A indometacina pode ser usada desde o início ou em alternativa à colchicina, quando esta não é bem tolerada pelos
doentes.
Outros AINEs, como a azapropazona e o etoricoxibe, têm que ser administrados em doses terapêuticas mais elevadas.
Corticoesteróides
Os corticosteróides (ex., prednisolona) podem ser usados em situações clínicas mais severas (tratamento sintomático
apenas). Como são dados por curtos períodos de tempo, os efeitos secundários não são um grande problema.
159
Prevenir recorrência das crises
Alopurinol
Fármaco de eleição. É um isómero da hipoxantina. É bem absorvido por via oral e rapidamente metabolizado até
oxipurinol, um análogo da xantina (aloxantina) que também inibe a xantina-oxidase, inibindo assim a produção de
ácido úrico.
Tem uma semivida longa o que permite apenas 1 toma diária. Tem alguns efeitos adversos, mas a erupção cutânea é
o maior problema, porque não há alternativa acessível ao alopurinol. A alternativa é o febuxostato, mas este não está
muito disponível.
A excreção do oxipurinol é impedida na insuficiência renal, mas é aumentada pelos uricosúricos.
Febuxostato
Quando não se pode dar alopurinol, sendo bem tolerado pelos doentes tolerados ao alopurinol. É um inibidor
potente da xantina-oxidase, bem absorvido por via oral e é mais eficaz que o alopurinol. Porque é que não entrou
para a farmácia comunitária? Porque tem efeitos adversos, nomeadamente, alterações hepáticas (e outros de
menor relevância como diarreia, cefaleias e náuseas).
É extensamente metabolizado pelo fígado até metabolitos inativos.
Uricosúricos
Eliminam o ácido úrico da urina. O problema é o risco de litíase renal. Exs: Sulfimpirazona e Probenecid. O
probenecid inibe um transportador renal para aminas, ou seja, não há passagem de aminas (anfetaminas, penicilina)
para a urina e é bom para quem quer fazer dopping.
Provocam irritação gastrointestinal (a sulfimpirazona é a mais responsável) e estão associados a problemas renais.
O ácido úrico é um produto final da via das purinas, e, como sabemos, as purinas vêm dos ácidos nucleicos. Quanto
mais células tiver a carne, mais ácido úrico vai produzir, e, por isso, é importante fazer-se mudanças na alimentação,
evitando sobretudo carnes jovens e marisco (sobretudo quando associado a ceveja).
160
16º AULA TEÓRICA – ANESTÉSICOS LOCAIS
ANESTÉSICOS LOCAIS
São fármacos usados para bloquear a sensação de dor, uma vez que inibem a sensibilidade a nível local ou regional,
sem perda da consciência. Inibem os processos de excitação e condução do estímulo nervoso ao longo dos nervos.
Esta capacidade inibitória ocorre sobretudo porque os anestésicos locais inibem os canais de sódio responsáveis por
originar os potenciais de ação.
− Ter especificidade e ação reversível (reversíveis são, mas ter especificidade nem por isso)
− Não possuir toxicidade sistémica (tem, desde que sejam absorvidos)
− Ter um elevado índice terapêutico (eles são potentes inibidores dos canais de sódio. Portanto, o índice
terapêutico não é tão elevado quanto isso)
− Ser ativo topicamente e por injeção (por exemplo, não são ativos na pele íntegra)
− Ter um início de ação rápida (tem)
− Ter uma duração de ação apropriada (tem)
− Não provocar reações de hipersensibilidade alérgica (a maior parte não provoca)
− Possibilitar o uso simultâneo de outros fármacos (ex: vasoconstritores) sem perda de atividade
− Ser quimicamente estável
− Não ser irritante
− Não provocar uma lesão permanente
− Não criar dependência (não criam, exceto a cocaína que já não é usada)
Na realidade, nenhum anestésico local é ideal, porque estas propriedades não se verificam todas.
Em 1860, com o isolamento da cocaína, esta começou a ser usada para estes fins.
Só em 1905 é que foi sintetizado o primeiro anestésico local a sério, a procaína (anestésico local dominante nos 50
anos seguintes).
Em 1943, sintetizou-se pela primeira vez a lidocaína (protótipo dos anestésicos locais) que ainda hoje é o usado.
137
Existem anestésicos locais de dois tipos: um dos tipos é liderado pela Lidocaína e o
outro pela Procaína.
Ambos tem um anel aromático (anel benzénico), uma parte intermédia e uma amina
terciária que pode ou não estar ionizada.
- Estes anestésicos são ésteres, porque tem uma cadeia intermédia éster.
- O protótipo do grupo dos ésteres é a Procaína, mas, como esta tem uma duração de ação muito curta, foi
substituída por outros, como, por exemplo, pela Tetracaína.
- A Cocaína, pertencente a este grupo, deixou de ser utilizada.
- A Benzocaína é um bom anestésico local, mas é um bocado irritante e, por isso, só se dá em forma de pastilhas
para a boca, por exemplo.
- As amidas são de longe as mais usadas. Tem uma cadeia intermédia amida.
- O protótipo deste grupo é a Lidocaína, sendo o anestésico mais usado.
- A Bupivacaína, Mepivacaína, Prilocaína e Ropivacaína são mais caros que a Lidocaína que, por si só, é um bom
anestésico local e, portanto, é usado para tudo.
- Bloqueio dos canais de sódio dependentes de voltagem: só há condução nervosa na fibra nervosa, se houver
entrada de Na+. Essa entrada é bloqueada pelos anestésicos locais, sejam do tipo éster ou tipo amida.
- Algumas toxinas (tetrodotoxina e saxitoxina): estes canais de Na+ podem ser bloqueados por outras
substâncias como toxinas. A tetrodotoxina é capaz de matar uma pessoa, sendo um terrível veneno.
- O frio também inibe estes canais de Na+: o cloreto de etilo é um gás que, ao evaporar, provoca um frio de tal
ordem que permite um efeito de anestesia local. Este gás é aquele spray milagroso muito utilizado nos campos
de desporto, que se aplica nos atletas e estes melhoram logo.
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AÇÕES FARMACOLÓGICAS DOS ANESTÉSICOS LOCAIS
O bloqueio das fibras nervosas é devido ao bloqueio dos canais de Na+, mas as diferentes fibras nervosas reagem de
um modo distinto a este bloqueio. Assim:
1. Primeiro são bloqueadas as fibras mais finas e pequenas: fibras do tipo C (dor).
2. Depois as fibras de tipo A delta (dor e temperatura).
3. As fibras de tipo A gama, A beta e A alfa são muito pouco bloqueadas. A função motora é a última a ser
bloqueada.
O bloqueio das fibras depende do diâmetro das mesmas. Quanto menor o diâmetro, maior o bloqueio da fibra.
Começando pelas fibras C que não são mielanizadas e terminando nas fibras A alfa que são as mais resistentes (mais
mielinizadas). É de relembrar que as fibras A alfa são referentes sobretudo à atividade motora.
Os anestésicos locais têm efeitos sobre outras membranas celulares excitáveis, nomeadamente nas células cardíacas.
A Lidocaína que é o mais usado, também se utiliza como antiarrítmico.
SNC
- Os anestésicos locais, se atingirem concentrações elevadas no sangue, atravessam a barreira
hematoencefálica (BHE) e, portanto, vão bloquear neurónios. Isto raramente acontece, porque os anestésicos
locais, tal como o nome indica, são para aplicação local ou regional.
- Baixas concentrações podem originar: excitação com agitação, tremores e convulsões.
- Concentrações mais elevadas: originam sono ou mesmo coma, deprimem completamente o tecido nervoso
(centros vasomotores e respiratório).
Aparelho cardiovascular
- Diminuição da velocidade de condução AV e ventricular relacionada com a dose; também gera arritmias.
- Depressão da contractilidade cardíaca.
- Vasodilatação.
São aplicados localmente ou regionalmente, pelo que não têm uma questão complexa a nível da farmacocinética.
Dependente de:
- Idade (tem um efeito mais potente nos idosos; são mais sensíveis aos anestésicos locais).
- Especificidade dos enantiómeros
Não é desejável a absorção sistémica! Temos de ter cuidado para que o anestésico local seja administrado nos tecidos
e não nos vasos, porque, se, por exemplo, for numa veia, é absorvida mais rapidamente e dá mais problemas.
139
Absorção dos anestésicos locais com vasoconstritores
Para aumentar a duração da ação e a potência do efeito dos anestésicos gerais juntam-se vasoconstritores.
Preferencialmente esta associação faz-se com os anestésicos de duração curta ou intermédia, por exemplo, a
adrenalina junta-se à procaína, lidocaína e mepivacaína. Os anestésicos de duração longa, como bupivacaína e
etidocaína, praticamente não precisam destes vasoconstritores.
A captação neuronal é aumentada pela concentração local mais elevada do fármaco e os efeitos tóxicos sistémicos
são diminuídos.
Os anestésicos locais também se utilizam para anestesia epidural ou raquianestesia (administra-se no espaço epidural)
ou a nível intratecal (administra-se diretamente no LCR). Cada vez mais é feita esta raquianestesia ou anestesia
epidural e a anestetesia intratecal.
VIAS DE ADMINISTRAÇÃO
- Anestesia tópica, de contacto ou superficial: aplica-se o anestésico local na mucosa ou numa ferida (pele
lesada sem as camadas superficiais).
Repara que o anestésico local a nível da pele integra não atua, porque não atinge as terminações nervosas livres. A pele
tem de estar danificada, por exemplo, por uma abrasão ou por uma queimadura de 1º ou 2º grau (não pode ser de 3º
grau porque aí nem sequer há terminações nervosas), para que o anestésico local consiga atuar.
- Anestesia infiltrativa: variante da anestesia tópica. Injeção do anestésico à volta do local a ficar anestesiado
(na vizinhança das fibras nervosas periféricas a serem bloqueadas).
140
Imagina que temos uma ferida inciso contusa. Não vais injetar na ferida, porque podes infetar os tecidos com a própria
picada. Vais antes injetar na pele íntegra à volta da ferida (fazer múltiplas injeções/infiltrações, tendo o cuidado de não
administrar um volume muito elevado).
- Anestesia troncular ou nervosa: outro tipo de anestesia local. Injeção na vizinhança de um nervo.
- Anestesia epidural e raquianestesia: dentro do espaço epidural, à volta das meninges e no espaço
subaracnoide, no próprio LCR.
- Anestesia endovenosa regional: uma variante da anestesia infiltrativa. Injeta-se o anestésico local junto ao
rolo vasculo-nervoso.
Exemplos: Imagina que tens de arrancar uma unha, podes injetar o anestésico à volta da unha, o que vai doer
muito ou então podes injetar junto ao rolo vasculo-nervoso e ficar com o dedo todo anestesiado. Outro
exemplo é, quando se quer fazer várias intervenções dentárias em vários dentes do mesmo quadrante, injeta-
se junto ao nervo maxilar interno e toda essa parte fica anestesiada.
141
ANESTÉSICOS LOCAIS USADOS EM ANESTESIA DE SUPERFÍCIE OU TÓPICA
Devem ter uma penetração rápida e pouca tendência a difundir-se do local de aplicação.
Não nos interessa que eles tenham grande penetração através da pele. Interessa é que atinga as terminações nervosas
livres. Usam-se no olho, ouvido, nariz, orofaringe e no alívio de curta duração em algumas afeções dermatológicas.
Utiliza-se principalmente a Lidocaína, mas também se pode usar a Tetracaína, Pramoxina, Dibucaína, Benzocaína e
Diclonina. A Benzocaína é muito mal absorvida, mas isso não é um problema, porque é usada em anestesia tópica ou
de superfície.
Diminui:
- A absorção sistémica do anestésico local
- Os efeitos indesejáveis
- As hemorragias
Aumenta:
- A duração da anestesia
- A potência do efeito do anestésico geral
A toxicidade dos anestésicos locais é baixa, porque são pouco absorvidos. Todavia, quando são absorvidos, podem ser
atingidos níveis sanguíneos elevados e provocar efeitos secundários:
No SNC:
- Sonolência, delírio, distúrbios visuais e auditivos, cansaço, insensibilidade lingual e circum-oral.
- Em concentrações mais elevadas: nistagmo e contraturas musculares; podem chegar às convulsões e depois
há depressão do SNC e, eventualmente, morte.
Sistema cardiovascular:
- Como os anestésicos locais são vasodilatadores e bloqueadores dos canais de Na+, podem provocar depressão
da atividade do “pacemaker”, da excitabilidade e da condução. Isto também pode ser útil. Por exemplo, a
Lidocaína é usada para evitar arritmias no EAM.
Neurotoxicidade:
- Só quando se atinge uma concentração muito elevada (após anestesia
espinhal prolongada ou doses elevadas) é que começa a haver parestesias,
convulsões, coma e, por fim, o indivíduo entra em colapso cardiovascular.
Sangue:
- Metahemoglobinémia
Reações alérgicas:
- Muito mais comuns com os anestésicos locais de tipo éster, nomeadamente a Procaína.
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CONTRAINDICAÇÕES PARA O USO DE ANESTÉSICOS LOCAIS
- Indivíduos alérgicos aos anestésicos locais do mesmo grupo químico não devem tomá-los (são sobretudo os
anestésicos do tipo éster, sendo raríssimo para o grupo das amidas)
- Alterações da condução auriculoventricular (por exemplo: indivíduos com bradiarritmias não devem tomar
anestésicos locais)
- Epiléticos não controlados
- Profiria (exceto a procaína)
- Hipertermia maligna
- É preciso ter muito cuidado para não se provocar uma isquémia quando se administra o anestésico local junto
de um rolo vasculo-nervoso porque pode dar vasoconstrição e isquémia – ex: na base de um dedo pode
provocar isquémia do dedo.
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16º AULA TEÓRICA – RELAXANTES DO MÚSCULO ESQUELÉTICO OU
MIORRELAXANTES
PERIFÉRICOS
TRANSMISSÃO NEUROMUSCULAR
Os miorrelaxantes do tipo periférico vão bloquear a neurotransmissão a nível da junção neuromuscular, isto é, ao nível
comunicação da fibra nervosa motora voluntária com a fibra muscular esquelética.
Na imagem, vemos a fibra motora a amarelo e a roxo o sarcolema da fibra muscular esquelética.
Inibição:
- A nível pré-sináptico:
• Por impedimento da síntese de ACh:
o Hemicolina e Trietilcolina (são fármacos experimentais, não se utilizando na clínica).
144
- A nível pós-sináptico:
• Antagonismo competitivo com a ACh, provocando um bloqueio não despolarizante ou competitivo
dos recetores nicotínicos.
• Dessensibilizar o recetor nicotínico: ativação do recetor nicotínico com despolarização sustentada da
membrana.
3- Fármacos que produzem bloqueio não despolarizante, curarizantes ou competitivos: bloqueiam o recetor nicotínico
Compostos naturais:
− d-Tubocurarina: primeiro a surgir. Vem do Curare (toxina que os indígenas da América do Sul colocavam nas
setas para paralisar os animais ou o inimigo);
− Dimetil-d-tubocurarina;
− Alcurónio.
145
Compostos de síntese: hoje em dia são estes os fármacos utilizados para provocar paralisia. São sobretudo dados
durante a anestesia geral, para provocar um relaxamento da musculatura estriada. Por exemplo, se abrirmos o
abdómen do individuo, as vísceras com a pressão intra-abdominal saem e, para evitar isso, injetam-se durante a
anestesia geral.
− Pancurónio, Atracúrio, Rocurónio, Vecurónio, Cisatracúrio e Mivacúrio
Protótipo: d-Tubocurarina:
− Antagonista competitivo do recetor nicotínico;
− Bloqueio reversível do recetor nicotínico e, consequentemente, bloqueio do canal de Na+ associado.
São fármacos que se utilizam sempre na anestesia geral - relaxamento muscular em cirurgia abdominal, torácica,
ortopédica e oftalmológica, quando a duração prevista da intervenção é igual ou superior a 20 minutos.
Contra-indicações:
− Miastenia (já há falta de ACh)
− Associação com antibióticos aminoglicósidos e polipeptídicos (bloqueiam os canais de Ca2+ tipo N)
− Asma (não usar d-tubocurarina, porque aumenta a histamina e esta pode induzir asma)
− Insuficiências respiratórias
146
4- Fármacos que produzem bloqueio despolarizante (acetilcolinomiméticos): dessensibilizam o recetor nicotínico
O efeito é muito semelhante aos bloqueadores não despolarizantes, mas não é igual!
Ocupam de modo ativo o recetor nicotínico e provocam despolarização da membrana, o que faz com que o recetor
fique refratário a novos estímulos.
O resultado final é o bloqueio da junção neuromuscular.
Há, portanto, uma estimulação inicial do recetor nicotínico que origina fasciculações musculares e só depois é que há
um relaxamento de certo modo espático.
Efeitos secundários:
• Depressão respiratória e apneia
• Aumento da pressão intragástrica, intracraniana e intraocular
• Fasciculações peri-orbitárias, etc,
• Reação taquifiláctica possível
Problema: Não há antídoto capaz de terminar a sua ação (mas não é um problema grave, porque a sua ação só
dura 3 a 5 minutos).
Aplicação clínica: Usam-se em intervenções de curta duração (mas também nas de longa duração, desde que se
faça uma administração contínua).
Não despolarizantes: Estando o recetor nicotínico bloqueado, para o desbloquear temos de aumentar a ACh na fenda
sináptica e para tal usamos:
- Inibidores das Colinesterases: Neostigmina, Prostigmina e outros anticolinesterásicos
- Sugamadex:
• Neutraliza diretamente dois miorrelaxantes esteroides: Vecurónio e Rocurónio.
• Tem 2 problemas: só neutraliza esteroides, especificamente o Vecurónio e o Rocurónio (ambos caros
e, por isso, menos usados) e o próprio Sugamadex é caro.
• Tem uma ciclodextrina modificada que estabelece uma ligação seletiva e neutraliza o Vecurónio e o
Rocurónio, revertendo o bloqueio deste dois miorrelaxantes com uma certa facilidade.
• Administra-se no final da anestesia.
CENTRAIS
148
FÁRMACOS QUE INTERFEREM COM A FUNÇÃO MOTORA
Existem vários fármacos que interferem com o controlo neuronal da célula muscular, uns são eficazes e outros não
são nada eficazes. Relativamente aos eficazes temos os:
- Agonistas: reduzem o tónus muscular por aumentarem a atividade dos interneurórios intra-espinhais
inibitórios (GABA). Usam-se no tratamento dos espasmos dolorosos decorrentes das lesões espinhais.
• Baclofeno: é um fármaco que atua no recetor GABA-B e utiliza-se imenso na espasticidade pós-AVC.
• Benzodiazepinas como o diazepam: atuam no recetor GABA-A e potenciam a entrada de GABA.
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Tizanidina
- É um agonista alfa-2 com ação na ME (diferente dos outros).
- Usa-se na espasticidade associada à esclerose múltipla e a outras lesões do SNC. Também se usa no torcicolo
e outras contraturas e nas lombalgias.
- Produz alguma sonolência e perturbações gastrointestinais. Ainda que produza sonolência, esta é menor que
a provocada pelo diazepam pelo que a tizanidina acaba por ser utilizada.
- Potencia as ações dos outros depressores do SNC e dos antihipertensores
São muito usados como miorrelaxantes nas contraturas, nas mialgias e noutras situações, sobretudo o tiocolquicosido.
Não têm eficácia demonstrada (porque não têm estudos), enquanto os outros mencionados em cima tem eficácia
demostrada. Na prática, as pessoas usam muito o tiocolquicosido, porque acham que faz alguma coisa, mas a verdade
é que não tem ensaios clínicos de suporte.
150
17ª AULA TEÓRICA – FARMACOLOGIA DAS CEFALEIAS I
As cefaleias são das queixas mais comuns em Medicina. Hoje em dia, em termos de farmacologia, passámos do 8 ao
80, ou seja, hoje temos muitos tratamentos.
Desde tempos muito antigos, pensava-se em algumas causas que deram origem a tratamentos um bocado drásticos
(ex: trepanação).
TRATAMENTO DA ENXAQUECA/MIGRAINE
A enxaqueca é habitualmente uma dor ligeira e intensa, unilateral, pulsátil, com uma duração de 4h a 72h no adulto
(na criança, tem duração mais curta), acompanhada frequentemente de náuseas e vómitos. Pode ser desencadeada
pela atividade física de rotina (embora esta atividade física também previna a enxaqueca). São crises de cefaleias
recorrentes.
− Tratamento preventivo – de modo que não haja crises de cefaleias.
• Tratamento preventivo de sucesso é quando se tem menos de 50% das cefaleias que é habitual.
130
− Tratamento sintomático – tratar a própria crise.
• Tratamento sintomático de sucesso é quando há alívio de mais de 50% na intensidade da crise de
enxaqueca. Não é possível fazer com que as crises de enxaquecas desapareçam, ainda que fosse o
ideal!
FISIOPATOGENIA DA ENXAQUECA
A teoria fisiopatológica da enxaqueca tem sofrido várias alterações ao longo dos anos. contudo, atualmente,
considera-se que é uma teoria mista, mas sobretudo neurovascular.
A enxaqueca mais comum é a sem aura, depois a enxaqueca com aura, depois a enxaqueca hemiplégica familiar (a
pessoa tem crise de enxaqueca e fica paralisada de um lado).
Na enxaqueca mais comum (sem aura), a genética não é muito evidente.
Há uma zona de gatilho/gerador da enxaqueca, que já se
confirmou por PET, que pode estar no tronco cerebral ou no
hipotálamo. Este ponto de gatilho vai fazer com que, a nível do
território do trigémeo oftálmico, haja uma ativação dos seus
ramos, mas ao contrário (do SNC para fora – condução
antidrómica1) e, a nível das terminações do trigémeo, vão ser
libertados neurotransmissores da dor (CGRP, neuroquinina A e
B, substância P). Estes neurotransmissores levam a
vasodilatação, incluída numa inflamação neurogénica,
originando a enxaqueca. Depois segue-se um período
pósdrómico, o período de resolução.
Na fase inicial, depois do gerador da enxaqueca e antes de
começar a crise, pode haver a aura – inclui, por exemplo,
alterações do campo visual (negro, tremido ou com luzes
brilhantes – mais frequente), alterações auditivas, sensitivas,
motoras. A aura deve-se a uma depressão alastrante em que vai
haver despolarização (não respeitando estruturas – não para
nas cisuras), desde o polo occipital para a frente. Depois há uma
hipoperfusão seguida de hiperperfusão, por alterações
vasculares.
TEORIA NEUROVASCULAR
1
O trigémeo oftálmico é sensitivo, ou seja, faz a condução da informação recolhida nos olhos e em certas zonas da face para o
SNC.
131
− Facilitação da passagem dos estímulos dolorosos no sistema trigeminal oftálmico.
− Simultaneamente: estimulação do locus coeruleus levando a vasoconstrição dos vasos intracranianos, seguida
de vasodilatação intra e extracraniana.
− Vasodilatação, levando ao reflexo trigémio-vascular e, consequente, inflamação neurogénica, porque tem
origem nos neurotransmissores da dor e provocam inflamação nas meninges. No fundo, a enxaqueca é uma
inflamação das meninges que, por um dor referida, vai ser sentida na região fronto-parieto-temporal.
TRATAMENTO SINTOMÁTICO
Tratamento escalonado – Começamos com fármacos mais fracos e vamos avançando para fármacos mais fortes.
Neste tratamento, podemos esperar demais e há alodinia e não resposta a fármacos.
− 1º Analgésicos, analgésicos anti-inflamatórios não esteroides
• Opióides (?); neurolépticos (...)
− 2º Ergotamina, triptanos, ditanos, gepantes.
132
Deve optar-se pelo tratamento estratificado, porque, quando o estímulo é muito intenso, há uma hipersensibilização
a nível central (do 1º com 2º neurónio), desencadeando-se alodinia – haver dor para um estímulo que habitualmente
não dá dor.
− Quando a dor é severa, desencadeia-se alodinia e o indivíduo depois não responde aos fármacos.
TRIPTANOS
Os triptanos surgiram porque se injetou serotonina por via endovenosa e descobriu-se que aliviava a dor de cabeça.
Então, fez-se um fármaco análogo, o sumatriptano, por administração subcutânea, com bastante eficácia. Ainda hoje
existe este fármaco quer por administração subcutânea como por comprimido.
Depois surgiram os outros fármacos como: almotriptano, eletriptano, frovatriptano, naratriptano, rizatriptano,
zolmitriptano. São todos semelhantes. São todos agonistas dos recetores 5-HT1B e 5-HT1D.
Têm todos início de ação semelhante exceto naratriptano e
frovatriptano, que também atingem o pico mais tarde uma
vez que têm maior semivida.
Um dos problemas destes fármacos é que o início de ação é
demasiado lento. Depois têm o pico bastante depois da
toma.
A biodisponibilidade pode ser mais baixa, mas compensa-se com a administração de dose mais elevada.
Alguns destes fármacos têm uma estrutura de sulfonamida, como sumatriptano, naratriptano, eletriptano e
almotriptano. Se o indivíduo for alérgico a sulfamida, não pode obviamente tomar estes fármacos.
Quanto à eliminação, os IMAO (inibidores da monoamina
oxidase), antidepressivos do grupo dos inibidores seletivos
da recaptação da serotonina (SSRI) são fármacos usados
frequentemente para a prevenção de crises de enxaquecas.
Pode haver interações entre os fármacos, portanto é
aconselhado não dar triptanos com SSRI e com IMAOs. O
propranolol só aumenta o rizatriptano.
133
Recorrência do ataque de enxaqueca
Muitas vezes tratamos as crises, mas, após algumas horas, há nova crise de
enxaqueca – recorrência.
Verifica-se que a recorrência é menor para fármacos de maior semivida. O
frovatriptano é o que tem a maior semivida e tem a menor recorrência.
Havendo taxa de recorrência elevada, só se deve dar o tratamento mais 1 vez, para
qualquer triptano. Ex: se após 4h tiver outra vez enxaqueca, dar medicamento, mas
depois não se deve dar mais.
Pôs-se outra questão: se se devia dar triptanos na aura – na aura há aquela fase de vasoconstrição e o triptano atua
nos recetores 5-HT1B vasculares, causando vasoconstrição. Ora, se já há vasoconstrição na aura e vamos dar um
fármaco que causa vasoconstrição, poderíamos piorar a vasoconstrição na aura. Houve estudos que mostraram que a
aura não é contraindicação para uso de triptanos. Isto é importante, porque a aura é o início da cefaleia, se não
pudéssemos dar o fármaco na aura tínhamos muitos doentes excluídos.
134
AGONISTAS 5-HT1F – DITANOS - LASMIDITANO
O lasmiditano é um agonista dos recetores 5-HT1F, mas não é específico. Não tem grande afinidade para os 5-HT1B/D.
Em relação à eficácia, há um estudo comparativo com o sumatriptano e não há grandes diferenças.
[Caso queiras ler mais informação sobre isto, vê o ppt, porque tem lá um texto com muitas letras.]
− Antagonistas do CGRP
• Telcagepant (causou hepatotoxicidade e foi suspenso);
• Ubrogepant e rimegepant (já tratam a crise de enxaqueca);
• Atogepant (será para a prevenção), Vazegepant.
• Inibidores da síntese de NO – gera dúvidas, porque estas sintetases estão por todo o organismo e
dariam muitos efeitos secundários – só se se descobrir que há subtipos. Existem 3 sintetases de óxido
nítrico: endotelial, neuronal e indutível. Contudo, ainda não se sabe se existem subtipos destas
sintetases.
• Estes fármacos são mais caros e discute-se se são superiores aos triptanos.
− Fazer sempre um tratamento não farmacológico (único ou a acompanhar os fármacos), ou antes ou durante
− Quando utilizar medicamentos? Ter em atenção a frequência de crises (mais do que 2/mês) e a qualidade de
vida, mas depende muito da pessoa.
− Personalizar a terapêutica
• por exemplo, um hipotenso não pode tomar um adrenolítico beta, nem um obeso a flunarizina. Um
hipertenso trata a hipertensão e previne a enxaqueca com um bloqueador beta...
− Regularizar o sono – o excesso ou falta de sono causa enxaqueca (há a enxaqueca de fim de semana, quando
se dorme demais ao fim de semana, por exemplo).
− Praticar exercício, em intensidade, frequência e duração, que habitualmente não desencadeia cefaleias e pode
levar ao tratamento das cefaleias – inicialmente pode sentir-se pior, mas eventualmente as crises diminuem.
− Evitar os alimentos que o doente relaciona com os ataques de cefaleias (comida com glutamato – é muito
usado na comida chinesa, chocolate, vinho ou álcool, determinadas frutas, leite e derivados), situações de
stresse, modificações rápidas de estilo de vida (ex: enxaqueca de fim de semana).
− Limitar a ingestão de cafeína (se necessário) – pode melhorar ou pode piorar, depende da pessoa.
− Identificar os medicamentos que causam cefaleias, nomeadamente vasodilatadores.
135
TRATAMENTO PREVENTIVO FARMACOLÓGICO
− Antagonistas do cálcio (flunarizina – útil nas enxaquecas das crianças, porque temos que ter fármacos que
não prejudiquem o desenvolvimento da criança)
• A enxaqueca surge principalmente na infância/adolescência e dura a vida toda. Nas mulheres, depois
da menopausa, costumam parar as enxaquecas. É importante ter atenção se estas não pararem ou se
surgirem apenas após a menopausa.
− AINEs (ex: ibuprofeno, naproxeno, diclofenac... - usar mais na enxaqueca menstrual) – estes fármacos dão
irritação gástrica e diminuição da perfusão renal; são preventivos, mas a curto prazo.
• Existe a enxaqueca menstrual e a enxaqueca associada à menstruação. Na enxaqueca menstrual,
começa-se uns dias antes da data prevista (cerca de 3) e usar durante a menstruação e depois parar.
• Pode-se ainda manter o nível hormonal com vários meses de ação como DIUs...
− Outros (L-5-hidroxitriptofano – usado apenas como adjuvante, toxina botulínica; Q10; candesartan;...)
Toxina botulínica A
É eficaz, mas tem de ser administrada em 31 pontos do couro cabeludo.
A toxina botulínica A liga-se à SNAP-25 (complexo fundamental para a docagem das vesículas à membrana celular para
haver exocitose), clivando-a e não permitindo a sua ligação à VAMP/sinaptobrevina (nas vesículas sinápticas). Assim,
altera o complexo SNARE, não permitindo a fusão e a libertação de neurotransmissores (ACh (leva a paralisia
muscular), CGRP e SP (leva a diminuição da inflamação neurogénica); também interferirá na estimulação do 2º
neurónio da via sensitiva e nas células da glia (com diminuição da sensibilização central).
O uso principal é para provocar paralisia muscular, por exemplo, nas mistenias, tiques, mas também em
hipersudoração e prevenção de crises de enxaquecas.
Usado para a enxaqueca crónica, refratária.
136
CEFALEIAS DO TIPO TENSÃO
São as mais comuns e surgem mais por stress, atividade do dia a dia... Maior parte destas cefaleias não se tratam,
tomando-se apenas um analgésico.
Termos previamente utilizados:
− Cefaleia de tensão, cefaleia de contração muscular (mas nem sempre há a contração muscular), cefaleia psico-
miogénica, cefaleia do stresse, cefaleia comum, cefaleia essencial, cefaleia idiopática e cefaleia psicogénica.
Quanto à fisiopatologia das cefaleias de tipo tensão, não se sabe grande coisa, mas a classificação internacional divide-
as em 3 tipos.
Fisiopatologia / Classificação
− Cefaleia tipo tensão episódica pouco frequente (12 ou menos dias com cefaleias por ano)
• efaleia tipo tensão episódica pouco frequente associada a dor pericraniana
• Cefaleia tipo tensão episódica pouco frequente não associada a dor pericraniana
− Cefaleia tipo tensão crónica (pelo menos 15 dias por mês durante pelo menos 3 meses)
• Cefaleia tipo tensão crónica associada a dor pericraniana
• Cefaleia tipo tensão crónica não associada a dor pericraniana
Fatores psicológicos
− Ansiedade, depressão e neurose são comuns na CTT.
− Não há diferença do grupo controlo, portanto isto pode não ser muito evidente.
− Quanto mais intensa a cefaleia, mais peso têm os fatores psicológicos (mas CTT crónica = dor crónica).
137
Fatores musculares
− Alguns estudos fizeram EMG (frontal, temporal e trapézio) sem diferenças em relação a um grupo controlo.
− 87% com CTT crónicas e 66% com CTT episódicas => maior tensão muscular pericraniana e/ou atividade EMG
Outros fatores
− Fatores vasculares
• Sensibilidade à vasodilatação › intermédia entre enxaqueca e controlos
− Fatores humorais
• 5-HT plaquetar baixa na cefaleia tipo tensão crónica com abuso de analgésicos
• níveis anteriores aumentam com o "desmame" de analgésicos
− Fatores centrais
• [NGF e SP]LCR na cefaleia crónica diária
• [glutamato e NO]LCR na cefaleia crónica diária
• hipersensibilidade (e alodinia?)
Papel do NO
− Cefaleias tardias induzidas por dadores de NO em indivíduos com história de cefaleias do tipo tensão.
− Prevenção pelos inibidores da NOS
− NO tem papel a nível periférico e a nível central.
Dor leva a “exaustão" do sistema analgésico endógeno, havendo menor eficácia dos interneurónios inibitórios ("gate"
aberta!, levando à supersensibilização e alodinia (dor referida)) e menor eficácia do sistema analgésico endógeno
descendente (<[5- HT], < [catecolaminas] e < [opioides endógenos] para uma situação de "dependência", estabelecida
pela dor crónica).
138
18ª AULA TEÓRICA – FARMACOLOGIA DAS CEFALEIAS II
De notar que se as crises forem constantemente de um só lado (não variam o sítio) podemos estar perante
uma causa orgânica.
O doente pode apresentar-se com o nariz entupido, lacrimejo e olhos vermelhos.
‒ Tratamento Sintomático
• Tem uma resposta particularmente boa ao oxigénio. Quando o indivíduo aparece na urgência com
este quadro clínico, pode administrar-se O2 (7-15L/min)
• Triptanos (sumatriptano subcutâneo) – estamos a falar de cefaleias brutais, não se utilizam fármacos
orais, mas sim endovenosos.
139
‒ Tratamento Preventivo
• O Lítio é muito eficaz, mas tem muitos efeitos secundários.
• Antagonistas do cálcio (verapamil em doses muitos elevadas).
• Ergotamina e Triptanos orais (no início – por exemplo, frovatriptano), e outros fármacos também
usados na enxaqueca.
Hemicrânia (paroxística ou contínua de fenómenos autonómicos) – Indometacina em doses elevadas. Se o doente não
reagir, temos de pôr em dúvida o diagnóstico.
RECOMENDAÇÃO FINAL
‒ Estabelecer e ser razoável nos objetivos terapêuticos. Não é razoável esperar alívio completo (bom objetivo:
aliviar pelo menos 50%).
‒ Sossegar o doente.
‒ Evitar o “efeito dominó” – tratar uma cefaleia com medicamentos, efeitos secundários, medicamentos para
efeitos secundários…
140
18ª AULA TEÓRICA – ANESTÉSICOS GERAIS
ANESTESIA GERAL
A anestesia geral é uma alteração do estado funcional do SNC com perda de consciência, de indução rápida e reversão
fácil, provocada por fármacos.
Caracteriza-se por:
− Analgesia;
− Perda da consciência (grande distinção da anestesia local)
• Impossibilidade de posterior recordação consciente (amnésia) dos acontecimentos peri- anestésicos;
− Perdem-se todas as sensibilidades
• Ausência de reflexos sensoriais e autonómicos à agressão;
• Relaxamento muscular esquelético.
Qualquer anestésicos gerais pode exercer estes efeitos, variando um pouco com a natureza do fármaco, a dose e as
circunstâncias clínicas.
UM ANESTÉSICO IDEAL
- Deve induzir uma anestesia suave e rápida;
- Condicionar recuperação rápida, uma vez terminada a administração;
- Ter uma larga margem de segurança;
- Deve ser fácil de aplicar;
- Deve ser destituído de reações adversas (é impossível, mas tenta-se que tenha o menos possível).
Há alguns anestésicos que estão perto de conseguir todas estas características como é o caso do Propofol, mas mesmo
este tem uma duração curta e necessita de um anestesista muito experiente para intubar o doente.
Assim, nenhum dos anestésicos gerais usados isoladamente é capaz de satisfazer todos estes efeitos desejados.
A ANESTESIA ATUAL
Hoje em dia, faz-se a indução da anestesia geral com um fármaco e a manutenção da mesma com outro fármaco.
Assim:
− Envolve o uso de combinações de fármacos;
− Procura as vantagens das propriedades favoráveis de cada doente;
− Tenta reduzir ao máximo o potencial de reações adversas;
− Usa protocolos variáveis de acordo com os vários propósitos:
• Diagnóstico
• Terapêutica
• Intervenção Cirúrgica
Na pequena cirurgia, não é preciso muitas vezes recorrer a um anestésico geral. Basta usa um sedativo oral + anestesia
loco-regional.
Nos protocolos de sedação consciente (por exemplo nos partos com epidural), utilizam-se benzodiazepinas i.v. +
analgésicos opióides ou dexmedetomidina. Nestes protocolos, o doente mantém a capacidade respiratória e responde
a ordens verbais.
Na grande cirurgia, tem que se fazer a indução e a manutenção da anestesia geral. Utiliza-se:
- Sedativos pré-operatórios;
- Antieméticos;
- Atropina para evitar o choque vagal;
- Relaxantes neuromusculares periféricos;
- Indução da anestesia com propofol, tiopental ou outros anestésicos i.v.;
- Continuação da anestesia com anestésicos inalados só ou em combinação com fármacos i.v.
184
TIPOS DE ANESTÉSICOS GERAIS
- Anestésicos inalados (para a manutenção da anestesia)
Os mais antigos - éter e ciclopropano (inflamáveis); clorofórmio (muito tóxico, tendo uma margem de
segurança muito curta) – já não são utilizados nos países desenvolvidos.
Os mais utilizados na atualidade incluem o protóxido de azoto, halotano e outros.
- Anestésicos intravenosos (indução da anestesia)
Anestésicos Inalados
− Protóxido de azoto (gás à temperatura ambiente. É obrigatoriamente associado a oxigénio - 80% protóxido
de azoto + 20% oxigénio)
− Desflurano
− Enflurano
− Halotano
− Isoflurano
− Metoxiflurano
− Sevoflurano
- O Éter e Clorofórmio já não são utilizados.
Anestésicos Intravenosos
− Barbitúricos: tiopental (muito potente)
− Benzodiazepinas: midazolam, diazepam
− Analgésicos opióides: morfina, fentanilo (normalmente dá-se associado a droperidol que é um neuroléptico)
e seus análogos (alfentanilo, remifentanilo, sufentanilo)
− Propofol (indução e recuperação muito rápidas, doente tem de ser intubado rapidamente)
− Cetamina
− Vários: droperidol, etomidato, dexmetoximidina
185
Estadio II – Excitação ou Delírio
O doente está delirante, excitado, com hiperreação a estímulos, respiração irregular em volume e frequência (estadio
perigoso em termos de arritmias cardíacas).
Pode ocorrer vómito (no fim do estadio), pupilas dilatadas e movimentos involuntários.
ANESTÉSICOS INALATÓRIOS
Usam-se principalmente para a manutenção do estado anestésico da anestesia geral, após administração de um
agente i.v..
Hoje em dia temos anestésicos tanto inalatórios como endovenosos muito potentes.
Há o mito de que se deve vomitar depois da anestesia ou a pessoa fica marcada para toda a vida, obviamente, isto é
mentira e pode tornar-se até perigoso. Outro é que há pessoas com problemas no SNC para a toda a vida. Nas primeiras
semanas, pode haver alguns défices, mas posteriormente passam e volta tudo ao normal.
Têm a vantagem (que os agentes i.v. não possuem) de permitir variar rapidamente a profundidade da anestesia com
a alteração da concentração do anestésico inalado.
Uma vez que são rapidamente eliminados do organismo, não causam depressão respiratória pós – operatória.
186
Características comuns aos Anestésicos inalatórios usados
− São dados em circuito fechado (não se espera que passe alguma coisa para o ambiente);
− Não são agentes explosivos (o éter que era já não se usa);
− Diminuem a resistência vascular cerebral, com aumento da perfusão do cérebro;
− Causam broncodilatação (é uma vantagem) e diminuem o volume respiratório por minuto;
− A potência clínica não está relacionada com a estrutura química, mas está algo (não altamente) relacionada
com a lipossolubilidade, porque, se estivesse altamente relacionada, significaria que todos os fármacos
lipossolúveis eram anestésicos gerais, o que é obviamente falso;
− A sua distribuição depende da sua solubilidade no sangue e nos vários tecidos;
− A recuperação dos seus efeitos deve-se à redistribuição a partir do cérebro. O cérebro é muito lipídico, pelo
que os anestésicos gerais se ligam muito a este. Assim, quando a concentração no sangue começa a diminuir,
saem do cérebro para a circulação geral.
Quanto maior a lipossolubilidade do anestésico, menor a concentração necessária para produzir a anestesia,
ou seja, quanto maior a lipossolubilidade menor a MAC.
187
O tempo decorrido para se alcançar o estado de equilíbrio de um anestésico geral no sangue depende de:
− Solubilidade no sangue;
− Captação tecidular;
− Solubilidade no cérebro.
188
Efeitos no Rim
- Reduzem a filtração glomerular e o fluxo plasmático renal efetivo;
- Aumentam a resistência vascular renal.
Efeitos no Fígado
- Reduzem o fluxo sanguíneo hepático;
- Podem ser tóxicos hepáticos (halotano).
Efeitos no Músculo Liso Uterino
- Os hidrocarbonetos halogenados são relaxantes uterinos potentes;
- O protóxido de azoto não afeta muito o útero.
PROTÓXIDO DE AZOTO
Desvantagens Vantagens
- Anestesia incompleta; - Rápida instalação/recuperação;
- Ausência de relaxamento muscular; - Seguro, não irritante;
- Deve ser associado a outros anestésicos para atingir - Não deprime a respiração;
anestesia cirúrgica (fraco anestésico geral); - É o menos hepatotóxico de todos os anestésicos
- Necessita de, pelo menos, 20% de O2 em inalatórios.
administração concomitante.
189
HALOTANO
Desvantagens Vantagens
- Reduz o fluxo sanguíneo hepático e renal; - Agente de escolha em pediatria;
- Diminui a Tensão Arterial; - Conveniente relaxamento da musculatura lisa
- Sensibiliza o miocárdio às ações das catecolaminas; brônquica em doentes asmáticos.
- Hepatotóxico;
- Arritmias.
ISOFLURANO
- Anestésico halogenado com baixa toxicidade orgânica;
- Bom relaxamento muscular;
- Recuperação rápida;
- Não afeta o débito cardíaco;
- Não aumenta a pressão intracraniana;
- Não sensibiliza o miocárdio às catecolaminas (não induz arritmias).
DESFLURANO
- Baixa volatilidade, pode dar tosse e laringoespasmo;
- Ativação simpática
SEVOFLURANO
- Quimicamente instável, nomeadamente em substâncias reativas ao CO2, produzindo-se um metabolito
nefrotóxico (o sevoflurano também se degrada no fígado em iões de fluoreto que são nefrotóxicos).
190
ANESTÉSICOS INTRAVENOSOS
Tiopental
Desvantagens Vantagens
Cetamina
- Anestésico de ação curta que induz um quadro de dissociação: o doente parece estar acordado, mas na
verdade está inconsciente e não sente dor;
- Esta anestesia dissociativa fornece sedação, amnésia e imobilidade;
- Estimula o tónus simpático central, com estímulo cardíaco, aumento da tensão arterial, do débito cardíaco e
do fluxo sanguíneo, que limitam o uso da cetamina em hipertensos e vítimas de AVC;
- Sofre redistribuição e é metabolizado no fígado;
- Usa-se principalmente em crianças e adultos jovens para intervenções curtas;
- Produz alucinações (+ pesadelos) no período pós-anestésico;
- Muito utilizado em farmacologia experimental;
- Devido ao quadro de dissociação e às alucinações, não é um anestésico muito utilizado atualmente.
Dexmedetomidina
- Sedativo utilizado nas Unidades de Cuidados Intensivos e em cirurgia;
- É um agonista do recetor α2 (tal como a clonidina), atuando em determinados locais do cérebro (locus
ceruleus);
- Particularidade de causar sedação SEM depressão respiratória;
- Tem efeito sedativo (sono NREM), analgésico, ansiolítico e simpaticolítico;
- Coadministração com: propofol, midazolam, fentanil, cetamina
191
Opióides
- Usam-se em associação com outros anestésicos gerais pelas suas propriedades analgésicas;
Ex: Morfina + Protóxido de Azoto = anestesia adequada para cirúrgica cardíaca;
- Não fornecem boa amnésia;
- Podem causar alterações da pressão sanguínea, depressão respiratória e rigidez muscular;
- Após a anestesia, podem produzir náuseas e vómitos – ação excitante;
- O Fentanilo é mais usado que a Morfina;
- Podem ser antagonizados pela Naloxona (i.v.).
NEUROLEPTOANALGESIA / NEUROLEPTOANESTESIA
A associação de Droperidol com Fentanilo em proporções fixas produz amnésia e analgesia e corresponde à
neuroleptoanalgesia. O Droperidol (neuroléptico) causa bloqueio adrenérgico e possui propriedades sedativas,
antieméticas e anticonvulsivantes, enquanto o Fentanilo e.v. (ou outro analgésico opióide) tem uma duração de ação
curta e é muito potente.
Usados em associação com o protóxido de azoto (ou outro anestésico inalado) realizam a neuroleptoanestesia.
Representam uma variante da Anestesia Analgésica Opióide.
- Anticolinérgicos (atropina) – para evitar o reflexo vagal que faz com que o coração pare;
- Anti-arrítmicos (eventualmente, utilizava-se mais quando o halotano ainda era usado);
- Anti-histamínicos H1 (mais quando há risco de alergia ou de náuseas e vómitos);
- Benzodiazepinas (nos dias precedentes);
- Opióides.
Relaxantes Musculares
- Atracúrio;
- Succinilcolina;
- Vecurónio.
- Permitem uma intervenção cirúrgica numa fase menos avançada da anestesia geral (por exemplo, na fase 2
do estadio III)
• Despolarizantes – Suxametónio (duração de ação de 3 a 5 minutos);
• Não despolarizantes ou curarizantes ou antagonistas competitivos (mais usados)– tubocurarina,
gallamina, pancurónio, vecurónio, atracúrio…
192
Estes antagonistas do recetor nicotínico (anticolinesterásicos) podem ser deslocados, aumentando a acetilcolina na
fenda sináptica para deslocar o antagonista. Mas a atropina que é administrada de seguida vai proteger os recetores
muscarínicos do excesso de acetilcolina.
SUGAMADEX
Sugamadex é uma gama ciclodextrina modificada, a qual é um agente de ligação seletivo de miorrelaxantes. No
plasma, forma um complexo com os agentes bloqueadores neuromusculares rocurónio ou vecurónio, o que reduz a
quantidade de agente bloqueador neuromuscular disponível para se ligar aos recetores nicotínicos da junção
neuromuscular – neutralização direta. Isto resulta na reversão do bloqueio neuromuscular induzido pelo rocurónio
ou vecurónio.
193
19ª AULA TEÓRICA - POLITERAPIA E POLYPILL
ASSOCIAÇÕES FIXAS
Associações fixas correspondem à existência de dois ou mais fármacos no mesmo comprimido/cápsula (muito pouco
frequente mais que dois). Os dois fármacos devem ter um objetivo final comum. Uma condição necessária nestas
associações é a congruência de farmacocinética e farmacodinâmica dos fármacos.
Exemplo de farmacocinética: não pode um fármaco ter semivida de 2h e outro de 12h, pois isso resultaria em efeitos
secundários e menor eficácia.
Exemplo de farmacodinâmica: os dois fármacos têm de contribuir para um efeito comum final. Pode ser no sentido
de uma contribuição sinérgica de adição/potenciação ou um dos fármacos ter como objetivo diminuir os efeitos
secundários do efeito principal. A morfina dá-se com naloxona, impedindo o efeito de obstipação (secundário à
morfina).
Hoje em dia começam a surgir conjuntos de fármacos para diferentes objetivos terapêuticos, ou seja, na mesma
associação fixa os vários fármacos têm vários efeitos – polypill.
TIPOS DE ASSOCIAÇÕES
Associações para a mesma indicação clínica
- Sinergismo
• Adição
• Potenciação
- Antagonismo (opioide, como a morfina, e naloxona)
Quando dois fármacos já têm um efeito individual próximo do máximo, a sua
soma não é tão substantiva – não há uma adição de efeitos. Sem interesse
nenhum.
MEDIDA DA ADESÃO
A principal vantagem das associações fixas é a melhoria da adesão. A adesão pode ser testada por vários métodos:
questionário/entrevista/consulta, inspeção - ver o blister, quantos comprimidos já foram tomados ou faltam tomar -,
concentrações sanguíneas - não tão exata como seria de prever, pois para valores baixos é complicado saber se o
doente tomou de facto a medicação. A monitorização eletrónica - frasco com rolha eletrónica (data, hora e tempo de
abertura da embalagem) - é o gold standart.
199
Quanto mais tomas diárias, menor a adesão.
Polypill é uma associação fixa com vários fármacos com fins terapêuticos
diferentes, embora com o mesmo efeito final comum (exemplo: no
mesmo comprimido ter um anti-hipertensor, um fármaco para o
colesterol – estatina, p.ex. – e um antiagregante plaquetar. O
antiagregante plaquetar é para evitar as tromboembolias, a estatina é
para baixar o colesterol e o anti-hipertensor é para baixar a tensão
arterial – objetivos terapêuticos diferentes, mas têm como objetivo final
baixar o risco de AVC ou de enfarte do miocárdio).
A polypill é uma terapêutica de população, ou seja, não é personalizada, sendo este o real problema, porque a
dosagem dos vários componentes pode não estar adequada para todos os indivíduos. Assim, vai contra a base da
medicina personalizada.
Problemas da Polypill
- Em termos de farmacocinética, os componentes têm que ser similares.
- Têm de ser estudados de modo que não haja incompatibilidade dos seus componentes.
- A validade dos vários componentes deve ser mais ou menos comum.
- A influência alimentar nos vários componentes não deve significar relevâncias clínicas diferentes.
200
- A cronobiologia deve ser semelhante. Exemplo: uma estatina com um antiagregante plaquetar. A estatina
deve ser dada à noite e o antiagregante plaquetar de manhã. A questão prende-se com a relevância clínica
diferir consoante serem tomados no seu devido tempo vs. serem tomados em conjunto ao mesmo tempo.
- Os fármacos presentes na polypill são considerados os mais apropriados com base na sua patente, no
portefólio do seu laboratório e no lucro. As doses também devem ser as mais corretas para a maioria da
população, uma vez que estas não são adaptáveis ao doente. Este problema de dosagem pode ser
ultrapassado, caso a adesão ultrapasse a dos medicamentos isolados.
Indicação Clínica
- Substituir: doente já toma os fármacos isoladamente e passa a tomar polypill. Não são necessários estudos.
- Adicionar: O doente não está controlado com um medicamento isolado, então adiciona-se aos fármacos que
já toma outro na associação fixa. São necessários estudos.
- Escolher fármacos com efetividade demonstrada, perfil farmacocinético similar e perfil de ligação ao alvo
semelhante (seria inadmissível adicionar um fármaco com ligação irreversível ao alvo, mas claro que há
exceções. Uma das exceções é a aspirina que inibe irreversivelmente a cicloxigenase, mas é aceitável, porque
é um bom antiagregante plaquetar). Pode adicionar-se um terceiro medicamento a uma associação fixa.
CANABINÓIDES
INTRODUÇÃO
A canábis tem dois tipos principais: a sativa e a índica, sendo composta por mais de 500 compostos dos quais mais de
100 são canabinóide - 1 a 12,4% de D9-tetrahidrocanabinol que é o composto mais psicoativo. De entre tantos
compostos é importante perceber quais os efeitos de cada um, se são ou não semelhantes, se o seu uso é ou não
aceitável... A canábis medicinal é uma forma de legalizar o seu uso.
[Aparte subjetivo do professor de como grandes empresas em Portugal podem produzir, colher e vender e os pequenos produtores com plantas
na varanda não, que se devia proibir ou legalizar tudo...]
Alguns produtos naturais com diferentes variedades canabinóides já estão legalizados com AIM:
− Sativex: nabiximol (delta-9-tetrahidrocanabinol) + canabidiol – RCM: “espasticidade moderada a grave na
EM”;
− Epidyolex: canabidiol usado na epilepsia sobretudo em crianças, em associação com clobazam;
− Canábis Medicinal (empresa Tiray Flor Seca).
O que se aproveita da planta da canábis são as flores e o caule, mas existem também sementes das quais se extrai
óleo que é muito comercializado, mas tem muito pouco tetrahidrocanabinol, sendo, portanto, uma grande burla. Não
vão à loja do fórum em frente ao continente...
Componentes
Saber só os mais importantes: tetrahidrocanabinol (THC) e canabidiol (CBD).
201
Recetores
− CB1 é mais a nível do SNC: neocórtex, gânglios da base, hipotálamo, hipocampo, cerebelo, substância
cinzenta periaquedutal...
− CB2 mais em células imunológicas, microglia e outros locais do SNC.
O tetrahidrocanabinol atua em enzimas próprias como a COX, a lipoxigenase e em algumas CYPs, bem como em alguns
recetores para além do CB1 e do CB2.
Descobriu-se que algumas doenças têm defetos no sistema endocanabinoide. Ainda existem diversas dúvidas quanto
ao objetivo da existência deste sistema. Contudo, sabemos ao certo que os canabinóides estão associados à
diminuição da ansiedade, aumento do apetite, na analgesia e em fenómenos psicológicos.
Descobriu-se a diminuição de AEA no LCR em doentes com epilepsia e baixos níveis do recetor CB1. Isto sugere
fortemente que o sistema endocanabinóide tem um papel controlador das convulsões. Agora faltam fármacos eficazes
para tratar estas situações.
CANABIDIOL
202
O CBD e o THC apresentam perfis diferentes. CBD apresenta um efeito mais depressor do SNC. O THC é o componente
mais psicoativo da canábis, diferindo o seu efeito consoante a dose. Tem uma tolerância associada e causa
dependência. Sendo agonista parcial do CB1 diminui a memória, afeta o pensamento, ficando este mais fragmentado,
desinibe o comportamento, aumenta o apetite, a recompensa e os movimentos, modulando ainda a libertação de
outros neurotransmissores. Ambos contribuem para evitar o vómito e a ansiedade.
A partir dos conhecimentos do sistema endocanabinoide e daquilo que se sabe sobre a canábis e os seus efeitos,
começou-se a tentar desenvolver fármacos que vão atuar numa destas facetas. Ribonamant diminuía o apetite e o
peso, sendo depois removido do mercado por efeitos psiquiátricos graves.
[O professor não focou muito a atenção em nenhum destes fármacos, mas fica aqui para consulta, caso tenham memória fotográfica ou caso o
exame seja online.]
203
MODULAÇÃO ENDOCANABINÓIDE
Era muito bom que a neuroprotecção pela modulação
endocanabinóide em doenças neurodegenerativas
fosse muito eficaz, mas não é.
Por exemplo, a nível da microglia, diminui o P38, o
NFkB e a expressão de citocinas pró-inflamatórias, de
COX2 e da óxido nítrico sintetase. Tem um efeito
canabinoide direto, inibindo a síntese de Superóxido
Dismutase e, assim, diminuindo os radicais livres.
Aumenta ainda o BDNF (fator de crescimento),
aumentando a neurogénese. Atua ainda a nível da
astroglia (recetores CB1 e CB2). Estes vários processos
contribuem para a neuroproteção.
− GPR55;
− Antagonismo 5-HT3 (recetor da serotonina ligado às náuseas e aos vómitos) – será um dos mecanismos
que justificam o efeito antiemético da canábis;
− Ativação TRPV1 (recetor vanilóide ativado pela capseicina ou pelos canabinóides, uma vez ativado vai
depletar a terminação nervosa neurotransmissora da dor t inibe a transmissão do primeiro para o segundo
neurónio da via da dor, daí o efeito analgésico da canábis). A libertação de CGRP em pequenas doses pode
levar ao alívio da dor (dores de cabeça), enquanto em altas doses pode despoletar a própria dor.
204
EFEITOS NAS VIAS DA RECOMPENSA
INDICAÇÕES CLÍNICAS
Apesar de diversas indicações clínicas publicadas por Lochte em 2017, o Professor refere que “isto é mais fantasia” e
atualmente a canábis tem apenas umas 7 indicações clínicas aprovadas pelo Infarmed como ansiedade, epilepsia,
analgesia, espasticidade na esclerose múltipla e pouco mais.
Há racionalidade farmacológica para o uso de canabinóides? Não há racionalidade, embora, nas cefaleias (eg,
migraine), pareça haver alteração do sistema endocanabinóide, tal como noutras doenças ou sintomas. Existe grande
variabilidade inter-individual. Não se tem a certeza se, tratando alguma debilidade do sistema endocanabinoide, se
vai ter alguma consequência clínica útil.
São necessários ensaios clínicos consistentes (robustos) com os canabinoides (naturais, semissintéticos e sintéticos).
Há a questão do “p<0,05”. Muitas vezes o p é de facto menor que 0,05, mas não é clinicamente relevante. Contudo,
deve ser clinicamente relevante! Daí que alguns autores recomendem um p<0,005.
As especialidades farmacêuticas têm de ter AIM (eficácia e segurança), mas a “canábis medicinal" (Decreto-Lei
08/2019) tem de ter uma "autorização de colocação no mercado" (ACM), com descrição da segurança (e eficácia?).
Na opinião do professor isto trata-se de “um enviesamento e cedência aos media … e não existem ensaios clínicos
praticamente nenhuns que justifiquem o uso da canábis medicinal. Ou não demonstram eficácia, ou a janela
terapêutica é demasiado pequena, ou falham...”
Quando se usam as plantas ou partes das plantas temos a certeza de usar a mesma qualidade e quantidade de
canabinóides? Padronização? Existe grande variabilidade nos componentes e respetiva quantidade.
Epidyolex (CBD)
Está indicado para Síndrome de Lennox-Gastaut (SLG) ou Síndrome de Dravet (SD) e deve-se tomar associado ao
clobazam. É utilizado apenas quando nada resultou (depois da toma sem efeito de vários antiepiléticos). Apresenta
diversos eventos adversos como diarreia, vómito, pneumonia e bronquite...
FARMACOCINÉTICA DO THC
Quando é fumado, a farmacocinética do THC é boa, sendo muito semelhante à via intravenosa. Quando é tomado por
via oral, a farmacocinética é miserável e com alta variabilidade, permanecendo no organismo muito tempo (semivida
de 30h).
205
MÉTODO DE ADMINISTRAÇÃO
LEGISLAÇÃO EM PORTUGAL
LEI nº 33/2018 - Implica AIM, prescrição médica, cedência na farmácia.
Decreto-Lei nº 8/2019 (refere que regulamenta a Lei nº 33/2018)
Criou a chamada “Autorização de Colocação no Mercado” para “preparações ou substâncias à base da planta da
canábis para fins medicinais”. Não obriga à evidência de eficácia, mas apenas a “qualidade farmacêutica”. Deve ser
por prescrição médica e dispensado na farmácia. A legislação da publicidade aplica-se. Segundo o professor, “Existem
muitos interesses envolvidos.”.
206
20ª AULA TEÓRICA – FARMACOGENÓMICA, TERAPIA GÉNICA E EPIGENÉTICA
TERMINOLOGIA EM FARMACOGENÓMICA
As sequências lidas são de 3 bases -tripleto, codão e anticodão (tRNA).
Apenas os exões são transcritos do DNA para o mRNA. Os intrões não
são transcritos. Os intrões condicionam a expressão dos exões.
Locus: local físico que um gene ocupa num cromossoma ou numa
porção de DNA.
Alelos: formas alternativas de um dado gene.
Duas pessoas não relacionadas partilham 99.9% do genoma, mas esta
diferença de 0.1% permite a ocorrência de milhões de polimorfismos.
Mutação: troca de uma base no nosso código genético.
Polimorfismo: variante da sequência de DNA num determinado alelo que ocorre em > 1% da população. Responsáveis
por variações na expressão e função proteica, que resultam em fenótipos de doença ou alteração da reposta
farmacológica. São considerados variantes do normal, importantes para a sobrevivência da espécie.
HISTÓRIA DA FARMACOGENÓMICA
510 a.C: Pitágoras documentou o primeiro caso de variação interindividual na resposta — alguns indivíduos
desenvolviam anemia hemolítica após ingestão de favas (FAVISMO — deficiência de Glicose-6-fosfato desidrogenase)
Existiu um grande período sem novas descobertas.
1950: uso de succinilcolina (relaxante muscular) em anestesia associou-se nalguns doentes a paragem respiratória.
Defeito em ambas as copias da pseudocolinesterase – colinesterase atípica.
202
1959: Fredrich Vogel introduziu o termo Farmacogenómica (idiossincrasia a medicamentos – variações de resposta a
um medicamento conforme o indivíduo, ainda sem grandes respostas, mas veio-se a descobrir que eram devido a
variações genéticas).
Neuropatia periférica com isoniazida no tratamento da tuberculose devido a variação genética na enzima N-
acetiltransferase (acetiladores lentos).
A genética condiciona muito a farmacocinética sobretudo a nível do metabolismo, dos transportadores e da ligação
às proteínas plasmáticas. Também condiciona muito a absorção. Quando a absorção ocorre por difusão simples, não
há qualquer intervenção genética. Quando está associada a um transportador ou a uma bomba de transporte, se
houver uma alteração genética dessa proteína, há alteração da absorção.
Várias proteínas transportadoras podem ser afetadas por diferentes polimorfismos e alterar a absorção, distribuição,
metabolismo ou a excreção de fármacos. Tudo isto vai dar alterações na curva dose-resposta.
203
= tipo normal
Como sabemos, os fármacos são metabolizados por reações de fase I e fase II. Estas também estão sujeitas a variação
genética.
Obviamente, as variações mais importantes são mediadas pela superfamília do Citocromo P450, que são enzimas
oxidativas (CYPs).
O Citocromo P450 é uma das principais fontes de variabilidade farmacocinética e de resposta a fármacos.
As oxidases mais frequentes são a CYP3A4 e a CYP2D6, que representam 70 a 80% das CYPs e que metabolizam a
maioria dos medicamentos. No entanto, o ideal e útil é que o medicamento seja metabolizado por várias CYPs e não
apenas por uma.
Através da imagem, conseguimos compreender que há determinismo genético tanto para a fase I como para a fase II.
A maioria das enzimas metabolizadoras exibem polimorfismos genéticos clinicamente relevantes - subgrupos
populacionais com distinta capacidade biotransformadora.
Os polimorfismos podem provocar expressão ou atividade enzimática aumentada, diminuída ou inexistente.
Dependendo do polimorfismo podemos ter 4 fenótipos:
- Metabolizadores lentos (sem atividade enzimática);
- Metabolizadores intermédios (atividade baixa);
- Metabolizadores rápidos (ATIVIDADE NORMAL);
- Metabolizadores ultrarrápidos (atividade aumentada).
O ideal seria fazer-se a personalização da terapêutica, caracterizando o
genoma, e verificar de que tipo de metabolizador se trata, para adaptar
as doses e as tomas. No entanto, isto raramente se faz.
De notar que a frequência dos alelos varia com as diferentes populações.
CYP2C9
− Metabolização de centenas de fármacos, incluindo fármacos com margem terapêutica estreita. Como por
exemplo:
• Fenitoína —casos de confusão mental e alteração da memória em doentes com variante alélica não
funcional
• Glipizida - risco de hipoglicemia
• AINEs — aumento do risco de gastropatia
• Varfarina e acenocumarol - risco de hemorragias graves
CYP2C9 e Varfarina
A varfarina é um anticoagulante oral, que atua na inibição da enzima vitamina K epóxido redutase (VKORC1),
impedindo a formação de vitamina K funcionante e, por conseguinte, a ativação de fatores de coagulação no fígado.
Se houver um alelo com alterações da resposta a varfarina, teremos uma diminuição da eficácia da varfarina,
contribuindo para um maior risco hemorrágico, sendo que 1/3 da população é portadora de pelo menos 1 alelo para
a forma metabolizador lento da CYP2C9.
A personalização da terapêutica não será muito útil na toma da varfarina, porque é utilizada em função dos resultados
do tempo de coagulação e do tempo de protrombina, sendo a dose ajustada em função destes parâmetros.
CYP2C19
− Grandes diferenças na proporção de metabolizadores lentos em função da etnia (5% caucasianos, 20%
asiáticos)
− Para além do alelo selvagem CYP2C19*1, conhecem-se mais 8 alelos mutados.
− Fármacos metabolizados pela CYP2C19:
• Clopidogrel
o Pro-fármaco. Tem de ser convertido em metabolito ativo pela CYP2C19.
o 6-10% dos indivíduos de raça caucasiana têm baixa expressão enzimática (PM), sendo
metabolizadores lentos. Deve considerar-se outro antiagregante plaquetar.
o Black-box warning em 2010 — eficácia diminuída em metabolizadores lentos.
• Diazepam
o A semivida plasmática do diazepam é mais longa nos indivíduos homozigotos para o alelo
defeituoso CYP2C19*2 comparativamente com os homozigotos para o alelo selvagem.
o Risco de toxidade com diazepam - particularmente em asiáticos, onde a prevalência de
metabolizadores lentos é muito elevada.
CYP2D6
205
CYP2D6 e Tamoxifeno
- O tamoxifeno é usado como adjuvante no tratamento da neoplasia da mama estrogénio-dependente.
- É um pró-fármaco.
- A CYP2D6 medeia a ativação do tamoxifeno em endoxifeno que é 100x mais potente.
- Os polimorfismos genéticos são responsáveis por diferentes outcomes no tratamento com tamoxifeno:
ineficácia terapêutica nos PM e toxicidade nos UM.
- Os alelos CYP2D6*4, *5, *10 ou *41 estão associados a menor formação de metabolito ativo, diminuindo
significativamente a ação anti-estrogénica – recorrência significativamente maior de cancro da mama e
períodos livres de recorrência mais curtos.
- Recomendação: avaliação genética prévia.
CYP3A4
206
IMPORTÂNCIA DA FARMACOGENÓMICA
A farmacogenómica é, de facto, muito importante, porque doentes com o
mesmo diagnóstico, tomando o mesmo fármaco, podem ter respostas muito
diferentes.
Podemos ter, felizmente, uma resposta favorável, o que acontece para a
maioria dos doentes, mas uma parte significativa pode ter uma resposta fraca
ou ausente, necessitando de uma dose mais elevada. Um número menor de
indivíduos, no entanto, pode ter uma toxicidade aumentada, necessitando de
uma dose mais baixa.
Esta é uma noção que deve ser tida em conta na personalização da terapêutica,
apesar de ser aplicada, atualmente, apenas em casos muito específicos.
Pode existir uma abordagem fenotípica ou genotípica. A genotípica foca-se em caracterizar o gene, enquanto a
fenotípica visa caracterizar as consequências de todos os mecanismos genéticos e epigenéticos da alteração do gene.
Na abordagem fenotípica, mede-se no sangue e ao longo do tempo, um fármaco, por exemplo, a debrizoquina, e o
seu metabolito ativo hidroxilado pela CYP2D6, e calcula-se a razão. Conseguimos assim, concluir se estamos perante
um metabolizador rápido, intermédio ou lento para a CYP2D6.
A abordagem genotipica é menos exata porque, apesar de estudarmos o gene, há várias sequências que podem
modificar a sua expressão, nomeadamente os mecanismos epigenéticos. No entanto, esta abordagem é mais barata,
recorrendo-se, por isso, com mais regularidade a esta abordagem.
APLICAÇÕES DA FARMACOGENÓMICA
A Farmacogenómica pode vir a transformar a forma como praticamos Medicina, substituindo métodos gerais de
diagnóstico e tratamento por abordagens personalizadas, tendo em conta quer as características clínicas, quer
genéticas do doente. Pode influenciar a escolha racional do fármaco para início da terapêutica (identificação de
resposta), a dose a administrar e a monitorização de reações adversas.
Seleção do fármaco com:
- Melhor eficácia;
- Menor risco de reações adversas;
- Dose personalizada de fármaco.
TERAPIA GÉNICA
A terapia génica é uma nova abordagem terapêutica que tem por objetivo corrigir defeitos genéticos responsáveis por
uma determinada doença, através da introdução de material genético no organismo hospedeiro. Ou seja, imagina que
há um gene defeituoso, vamos introduzir um gene normal ou, se for necessária uma proteína especifica, introduzimos
o gene que permite a sua produção.
Possíveis abordagens
1. Terapia de melhoria genética — o gene em falta ou mutado é substituído por um gene normal (ex:
substituição do gene p53 mutado por gene normal na neoplasia do fígado)
207
Tipos
A. Terapia Génica na Linha Germinativa – proibido eticamente;
B. Terapia Genica em Células Somáticas
a. Ex Vivo - extração de células – cultura dessas células – transferência dos
genes terapêuticos - transplante das células tratadas (feito para tratar
leucemia linfoblástica ou mieloblástica aguda).
208
APLICAÇÕES CLÍNICAS DA TERAPIA GÉNICA
1— Deficiência de Adenosina Desaminase (ADA) – EX VIVO
− Primeira experiência com terapia génica realizada com algum sucesso
(1990).
− ADA é fundamental na manutenção de linfócitos saudáveis - sem
tratamento, esperança de vida < 2 anos.
− Strimvelis - fração celular autóloga enriquecida com células CD34+
transduzidas com vetor retroviral que codifica a sequência cADN da ADA
humana.
− Aprovado pela EMA em 2016 para a imunodeficiência combinada grave
por deficiência de ADA (ADA-SCID) em doentes sem dador compatível.
3 — Distrofia Retiniana Hereditária Causada Por Mutações Bialélicas Do Gene RPE65 – IN VIVO
− A ausência da enzima RPE65 causa deficiência severa no funcionamento
da rodopsina (uma proteína sensorial que converte a luz em sinal elétrico)
e morte das células fotorrecetoras da retina. Os doentes acabam
eventualmente por perder a visão.
− Voretigene neparvovec - vetor de transferência génica que utiliza um
capsídeo vírico adeno-associado (AAV) para transporte do gene da
proteína do epitélio pigmentado da retina humana (hRPE65) — injeção
intravítrea do gene. Elevada taxa de sucesso.
209
EPIGENÉTICA
A epigenética estuda as alterações na atividade genética não dependentes de variações na sequência de DNA e que
podem resultar de fatores ambientais e outros. Revela-se cada vez mais importante, sobretudo na oncologia.
Inclui uma sobreposição de mecanismos:
− Metilação do DNA (...);
− Modificação de histonas;
− RNA não codificadores (ex: miRNA).
A Terapia Epigenética corresponde ao uso de fármacos ou de técnicas influenciadoras do epigenoma para tratar
doenças.
Terapia de RNA
1. Vacinas mRNA para doenças infeciosas (COVID-19)
e neoplásicas (pouco desenvolvidas).
2. mRNA transcrito in vitro para substituir ou
suplementar proteínas.
3. RNAs antisense ou RNA de interferência (iRNA)
para inativação da expressão génica, via:
- miRNA;
- siRNAs (pequenos RNAs de interferência).
4. Aptâmeros de RNA ou "anticorpos químicos" que
podem funcionar como transportadores de
pequenas moléculas quimioterapêuticas, como
siRNAs, miRNAs ou nanopartículas até aos tecidos
alvo.
RNAs antisense
Uso de sequências de RNA complementares do mRNA alvo (maiores que o miRNA ou iRNA), que são introduzidas nas
células e reduzem, alteram ou anulam a expressão da proteína associada à doença.
O facto de o RNA antisense ser maior que o miRNA e o iRNA é muito importante, porque o miRNA e o iRNA são
sequências pequenas que podem existir no mRNA que queremos neutralizar, mas também noutros mRNAs que não
queremos afetar – respostas off target. Com um sequência maior, reduzimos a possibilidade de ser complementar a
sequências de bases noutros mRNAs. Assim, é mais seguro.
Aplicações clínicas
− Nusinersen —para tratamento da Atrofia Muscular Espinhal tipo 1;
− Os doentes têm deficiência de SMN1, mas possuem o gene SMN2 que produz uma proteína SMN curta e que
não funciona tão bem como a proteína de comprimento completo;
− Nusinersen é um oligonucleótido antisense que se liga ao pré-RNAm da SMN2, originando um RNAm do SMN2
mais estável e com produção da proteína de comprimento completo e alívio dos sintomas da doença;
− Injeções intratecais repetidas (basal, 2, 4, 9 semanas, 4/4 meses); eficácia muito eficaz à terapia génica.
iRNA
− Os miRNAs são pequenos RNAs não codificadores que desempenham um importante papel na diferenciação,
proliferação e sobrevivência celular. Atuam no complexo indutor do silêncio do RNA (RISC), interagindo com
alvos parcialmente complementares no RNAm e inibem a produção proteica.
− Podem usar-se RNAs antisense anti-miRNA que bloqueiam a sua atividade ou RNAs que mimetizam miRNA
aumentando a sua atividade.
− Tanto os inibidores como os miméticos de miRNA estão atualmente em fase de investigação.
− Os siRNAs (pequenos RNAs de interferência) reconhecem o mRNA, causando a sua clivagem e degradação.
Silenciam completamente o gene e inibem a produção proteica.
210
Aplicações clínicas
− Patisiran — liga-se a nanopartículas lipídicas que levam siRNA
até aos hepatócitos para tratamento da hATTR, em doentes com
polineuropatia em estadio 1 e 2 – permite tratar a doença dos
pezinhos ou paramiloidose familiar. Nesta doença, há falta de
transtirretina (TTR).
− Alvo: sequência na região 3' não traduzida do mRNA da TTR —
degradação catalítica do mRNA da TTR.
− Inibição da expressão de TTR e atraso da evolução da hATTR.
− Injeção iv a cada 3 semanas. Substitui o Tafamidis, mas é mais
caro.
Aptâmeros de RNA
− São RNAs curtos de cadeia simples, selecionados in vivo para ligação a alvos moleculares específicos, usando
SELEX (systematic evolution of ligands by exponential enrichment).
− Devido à sua dimensão reduzida e flexibilidade, têm capacidade de ligação a locais inacessíveis para outros
anticorpos.
− Exemplo: PEGAPTANIB – para a Senescência Macular Senil.
Resumo
− Acondicionamento/estabilidade;
− Expressão em quantidade e ao longo do tempo;
− Elevados custos;
− Penetração de barreiras biológicas – por isso é que se usam vetores, mas não resolvem tudo;
− Ineficácia no tratamento de doenças multigénicas, que são as mais frequentes (ex: diabetes, doença
aterosclerótica coronária ...);
− Limitações éticas (o que é normal e anormal?);
− Toxicidade.
− Genotoxicidade com terapia génica. Risco de disrupção do DNA e mutagenicidade insercional (mais com
retrovírus, menos com vetores associados a adenovírus);
− Imunogenicidade e reações inflamatórias (reações anafiláticas)
• Terapia génica - principalmente com AAV (in vivo) (aumento da aminotransferase ou CK)
• Terapia dependentes de RNA - por desenvolvimento de anticorpos anti-fármaco
• Pré-medicação com corticosteroides e anti-histamínicos
211
− Risco de infeções;
− Carcinogénese por inespecificidade da terapia e atingimento de outras células;
− Depressão medular (trombocitopenia com Nusinersen).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
− A farmacogenómica, as terapias génicas e epigenéticas são promissoras para a cura das doenças genéticas.
− Existem várias dificuldades técnicas e de segurança que têm de ser ultrapassadas.
− Em três décadas de terapia génica, verificou-se uma evolução lenta e um número limitado de opções
terapêuticas.
− Medicamentos órfão — doenças raras.
− Os elevados custos destas terapêuticas podem limitar o seu desenvolvimento.
− A farmacogenómica, a terapia génica e epigenética têm o potencial de poder revolucionar a prática da
Medicina.
212
Errata das aulas teóricas 11 a 20
Aula 14 Parte 1 - página 137 + em baixo onde diz “mudar as setas!!” isso não devia estar aí
(é para apagar)
Aula 18 - página 180 antiga/página 186 atual (voltámos a versão anterior. Ainda que o
professor diga “estadio II”, consideramos que não faz muito sentido intervir no estadio II,
porque o doente está em estado de delírio. Se alguém achar que faz mais sentido “estadio
II” ou outra opção, diga, por favor)
Vou procurar manter os documentos atualizados e com os erros que estão aqui corrigidos.
Caso encontres algum erro que não está nesta lista ou que ainda não está corrigido nos
documentos (já foram encontrados dois ou três erros que estão corrigidos, mas que não
estão nesta lista, porque foram encontrados logo no início), por favor, avisa uma das
pessoas que esteve envolvida na realização destas desgravadas: Maria José Torres, Ana
Filipa Caldeira, Ana André Pereira, Ana Brás, Ana Isabel Santos, Adriana Moura, Luísa
Sousa, Ana Catarina Ramos.
Erros ortográficos não contam XD já basta a dor que sinto quando os encontro.