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ANÁLISE LINGUÍSTICA E SEMIÓTICA NO NOVO ENSINO MÉDIO

Leandra Vieira dos Santos Diamor


Priscila dos Santos Bastos

Orientadora: Cláudia Lopes Nascimento

Resumo:
O presente artigo tem como objetivo apresentar os resultados de uma pesquisa desenvolvida
durante o estágio supervisionado obrigatório, no 1º ano, do Ensino Médio, em uma escola da
rede pública de ensino do município de Cambé. Nossa preocupação recaiu sobre o ensino e
aprendizagem de análise linguística e semiótica, um dos eixos de ensino da Língua Portuguesa
mais evidenciados na Base Nacional Comum Curricular-BNCC (2018), uma vez que
contempla o trabalho com textos verbais e não verbais em uma perspectiva discursiva
enunciativa, o que traz grandes desafios ao professor. O objetivo da pesquisa foi verificar se o
material didático disponibilizado pelo governo traz em seu bojo atividades que possibilitem
desenvolver nos alunos habilidades de linguagem com gêneros de textos verbais e não verbais.
Para isso, a metodologia de pesquisa empregada foi a de cunho bibliográfico (LUDKE e
ANDRÉ, 1986). Os resultados alcançados demonstraram que o conteúdo da prática de
linguagem de análise linguística e semiótica não é suficiente para o desenvolvimento de
atividades que sejam relevantes para o processo de ensino-aprendizagem dos alunos, uma vez
que não há aprofundamento e não propõe reflexões aos alunos acerca das análises.

Palavras-chave: Análise linguística e semiótica; ensino de língua portuguesa; material


didático;

1 Introdução
Apresentamos neste artigo, os resultados de uma pesquisa realizada em uma escola
estadual do Município de Cambé, acerca do conteúdo disponibilizado para as aulas no novo
ensino médio. A motivação da pesquisa se deu devido aos relatos de que o material muitas
vezes precisa ser complementado por ser considerado insuficiente para os conteúdos que
alunos de 15 a 17 anos precisam em razão de obter o conhecimento necessário. Com o estágio
supervisionado obrigatório, entre regência e observações, acompanhamos de perto como os
professores estão lidando com esse material do RCO (Registro Curricular Online)
disponibilizado para o ensino, e como podemos pensar em diferentes estratégias de trabalhar
ele, visto que se trata de algo obrigatório a ser seguido.

2 Revisão de literatura

A análise linguística e semiótica é importante também pelo fato de ser um dos critérios
estabelecidos pela BNCC, que busca sempre relacionar os textos a seus contextos de produção
e o desenvolvimento de habilidades ao uso significativo de diferentes linguagens, em várias
mídias. Como premissa, considera a diversidade cultural, de forma a garantir ao aluno uma
ampliação de repertório e um convívio respeitoso com o diferente. Ou seja, já se tem um
estudo que comprova uma boa participação dos alunos quando se junta a linguagem com as
diferentes mídias, e nesse caso, buscamos relacionar os slides do RCO, sistema
disponibilizado pelo governo, para ver se atende com efetividade a proposta da BNCC, de
garantir a maior participação e atenção dos alunos.
De acordo com a BNCC, cabe ao componente Língua Portuguesa:proporcionar aos
estudantes experiências que contribuam para a ampliação dos letramentos, de forma a
possibilitar a participação significativa e crítica nas diversas práticas sociais
permeadas/constituídas pela oralidade, pela escrita e por outras linguagens (BRASIL, 2017,
p. 65-66).
Cabe então ao educador saber utilizar a linguagem e a imagem para que o conteúdo
aplicado seja passado de uma forma mais clara e transparente para o aluno. Essa questão entra
nas habilidades, pois é a forma e metodologia utilizada para aplicar o conteúdo programado.

3 Observações

Inicialmente, a professora regente fez a chamada através do sistema do RCO (Registro


de Classe Online), ela usa esse sistema através de uma TV digital que é disponibilizada em
todas as salas de aula. Para complementar o que foi passado no RCO a professora também
utiliza o quadro para escrever.
O primeiro dia foi uma aula expositiva sobre poema, foi explicado a estrutura como os
versos brancos, a métrica, estrofe. Todas as definições estavam de uma forma objetiva e rápida
nos slides do RCO, para explicar a escansão dos versos ela utilizou o quadro para que ficasse
mais clara a explicação.
O primeiro autor que foi trabalhado para ensinar o conteúdo foi Fagundes Varela. Após
a explicação a professora pediu aos alunos que copiassem os slides e o que foi passado no
quadro. Assim a aula finalizou na turma de 1º ano A.
Já na turma do 1º B, além da aula expositiva que teve anteriormente deu tempo de
passar um vídeo da aula paraná sobre poema, porém como observadoras achamos que o vídeo
não ajuda muito, já que fala tudo o que foi explicado e é cansativo pois só tem um professor
falando.
A turma do 1ºC teve o mesmo conteúdo no dia e em todas as turmas observadas foi
notado que os alunos demoram excessivamente para copiar as coisas.
Segundo dia, foi levado para os alunos o poema da canção de exílio do Gonçalves dias,
disponibilizado pelos slides do RCO. Para ter mais exemplos e fazer comparações foi levado
também a paródia do Murilo Mendes, da canção de exílio, mas essa paródia foi levada como
sugestão nossa, então foi trabalhado também com nosso auxílio. Os alunos também realizaram
cópia dos poemas no caderno. Foi o mesmo conteúdo nas três turmas do primeiro ano.
No terceiro dia a professora pediu que os alunos fizessem a produção de um poema
com base em alguma lembrança importante para os alunos, como uma viagem, uma festa, um
momento em família, etc. Os alunos obtiveram um pouco de dificuldade em relação a
criatividade para realizar a produção mas compreenderam bem como se deve escrever um
poema..
No quarto dia eles continuaram a produção do poema e também levaram uma foto a
pedido da professora, da lembrança que eles se basearam para escrever o poema e teve um
momento de interação entre os colegas de classe, o que é bem importante para a socialização.
No quinto dia eles fizeram uso do laboratório de informática da escola para passar essa
produção para a plataforma redação Paraná, visto que essa proposta é obrigatória segundo o
planejamento do RCO. Por mês os alunos tem que fazer um envio de uma proposta de redação
sobre o conteúdo que está sendo explicado em sala. Essa plataforma atrapalha um pouco os
professores por conta da dificuldade que grande parte dos alunos têm em relação ao uso de
computadores.
4 O trabalho prático com a análise linguística e semiótica em sala de aula

Na primeira aula levamos exercícios sobre acentuação, visto que, mesmo se tratando
de turmas do ensino médio, eles possuem grande dificuldade em acentuar as palavras. Foi
passado no quadro sobre oxítonas, paroxítonas e proparoxítonas, com uma aula expositiva
onde copiaram e deram exemplos de palavras de cada classificação. Deu tempo de passar todo
o conteúdo e a sala se manteve em ordem.
Demos uma explicação sobre a estrutura de um artigo de opinião. Não fizemos uso do
RCO, embora esse conteúdo estivesse em slides, e levamos um material com um assunto que
julgamos mais interessante, já que os do RCO eram meio infantis para ensino médio. Usamos
esse texto impresso para fazer a interpretação com os alunos e colocamos a definição de cada
parte da estrutura para que pudessem copiar no quadro.
Explicamos para os alunos sobre os diferentes tipos de argumento que existem,
colocando no quadro cada um deles para que fosse copiado. Eles tiveram uma certa
dificuldade em relação a diferenciar alguns tipos mais parecidos, mas finalizamos a aula sem
dúvidas maiores.
Levamos para os alunos uma reportagem impressa sobre o novo ensino médio e pedi
para que colocassem alguns argumentos e opiniões a respeito do tema em uma folha separada.
Todos eles realizaram a atividade e nos entregaram;
Pedimos para que realizassem a elaboração do artigo de opinião, primeiro passamos as
instruções e posteriormente auxiliamos cada um deles que estavam com dificuldade na carteira
para que pudesse avaliar como estava a produção do texto deles. Percebemos uma dificuldade
na escrita mas deu para notar que compreenderam o que é um artigo de opinião.
Iniciamos a aula distribuindo as provas da Prova Paraná, aguardamos eles realizarem a
prova e expliquei no quadro como deveriam preencher o gabarito. Auxiliamos na carteira
aqueles que possuem laudo e certa dificuldade com coordenação motora para realizar o
preenchimento.
Começamos a aula explicando o contexto histórico do Barroco, já que era aula de
literatura, mostrei também em slides como eram as igrejas da época e as esculturas, pedimos
para que participassem mais da aula e questionamos sobre as imagens, se já tinham visto, se já
visitaram alguma construção assim, entre outras perguntas interativas. Após isso, passamos a
explicar as características do Barroco. Levamos também um poema do Gregório de Matos
para ler e interpretar com os alunos, mostrando onde se localizava as características do
movimento dentro do texto.
Como se tratava de uma aula de produção de texto, fizemos a correção das atividades
sobre os tipos de argumentos que os alunos haviam nos entregado em folha separada,
explicando para eles o que tinham errado e como saber identificar esse tipo de argumento com
exemplos melhores.
Iniciamos a aula de literatura, começando pelo arcadismo, passamos no quadro o
contexto histórico do que estava acontecendo no momento dessa escola literária e levamos
algumas imagens em slide sobre as construções dessa época.
Continuamos a aula sobre arcadismo falando da Literatura e mostrando alguns poemas
onde as características são bem marcantes, como por exemplo, os do autor Cláudio Manuel da
Costa, e também explicamos um pouco sobre os principais autores e a vida deles.
Levamos os alunos na biblioteca para que pudessem localizar livros do arcadismo,
passamos uma lista para eles, se organizaram em grupo, e fizeram pesquisa dentro da
biblioteca de informações que seriam interessantes para eles, já que a professora regente
pretende passar um seminário sobre esse tema futuramente.
Levamos a obra “O Uruguai” de Basílio da Gama para fazer uma interpretação com os
alunos. Por se tratar de uma linguagem mais complexa os alunos não interagiram muito, pois
acreditamos que estavam com dificuldade para entender a obra.

5 Análise do material referente à análise linguística e semiótica disponibilizado no RCO

Em todas as aulas observadas, tivemos contato com o conteúdo do Registro de Classe


Online (RCO), onde ficam armazenados todo o planejamento anual da educação do estado do
Paraná. Lá é disponibilizado para os professores os conteúdos prontos em slides, listas de
exercícios e vídeo-aulas, em disposição de ajudar na organização do docente.
Contudo, o que era para ser um material de apoio e organizacional, não substitui um
planejamento completo e personalizado para os alunos, o que deixou muitas lacunas no
material da disciplina de Língua Portuguesa, ainda mais no que se refere a análise linguística e
semiótica, uma vez que muitas vezes os professores utilizam deste material como única fonte
de conhecimento. Vejamos alguns exemplos das poucas atividades de análise linguística e
semiótica no material disponibilizado em slides e video-aulas para os docentes e alunos.
(ANEXO 1)
Aqui podemos analisar uma atividade sobre artigo de opinião, que é o que foi
direcionado para os alunos conforme o planejamento do RCO. Podemos ver que a questão é
objetiva, o que já não faz com que o aluno trabalhe a habilidade de desenvolver a escrita e
capacidade de argumentação, e a questão é muito simples, mesmo com as alternativas sendo
objetivas, poderia ter um pouco mais de complexidade por se tratar de adolescentes com
capacidade de reflexão crítica. Talvez questões que desorientem a argumentação e
pensamentos dos alunos, para que exija um esforço maior de pensamento, uma vez que as
questões de vestibulares são bem mais complexas.
Em uma das aulas observadas, a professora regente usou o material didático de apoio
slides, disponibilizado pelo RCO, o tema era “Leitura e Análise Linguística”, onde apresenta a
leitura do conceito bullying, uma sinopse do filme “Extraordinário” e a leitura de uma crônica
chamada “Baixinho” do autor Gregório Duvivier. Não há uma questão sequer pedindo para
que os alunos façam alguma análise linguística, apenas um Slide no final.
(ANEXO 2)
No slide final, podemos ver o título “Análise” e um texto verbal dando uma possível
sugestão de análise ao aluno, ou seja, não o faz pensar sobre aquilo que foi lido e nem analisar
individualmente o conteúdo verbal, o que nos faz concluir que o conteúdo de suporte não é o
suficiente para ser utilizado sem complemento do docente.

6 Conclusão

Com base em nossas experiências durante o estágio, concluímos que a semiótica


realmente é algo essencial para se trabalhar em sala de aula. Imagens e representações visuais
chamam mais atenção dos alunos do que somente a linguagem verbal e escrita. Quando os
alunos recebem um texto com uma imagem,eles ficam mais atentos e interativos, já um texto
sem imagem acaba fazendo com que tenham a impressão de ser um texto chato e cansativo. O
RCO possui slides bem coloridos e chamativos, para atrair a atenção dos estudantes, porém foi
identificado por grande parte dos professores, que os assuntos abordados não estão muitas
vezes de acordo com a faixa etária daquela turma. Assuntos básicos sobre o meio ambiente
seriam melhor direcionados se fosse para o ensino fundamental, assuntos mais complexos e
que exigem maior reflexão que devem ser direcionados ao ensino médio, e o RCO deixa um
pouco a desejar nessa questão, fazendo com que os professores tenham que usar outros
métodos além das imagens para fazer com que o aluno reflita e tenha maior senso crítico.

Referências
LOURENÇO, Delane Cristina Galiza. A proposta de Análise linguística/Semiótica
na BNCC: a natureza dos objetos de conhecimento. Revista de Literatura e
Linguística, 2019

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