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Faculdade Santíssima trindade - FAST

Citologia Clínica
Prof. Dr Gilvânia Santana

Nazaré da Mata - 2020


Procedimentos técnicos e laboratoriais
Indicações e periodicidade do exame de Papanicolaou
A realização periódica do exame citopatológico continua sendo a estratégia mais adotada e
mais eficiente no rastreamento do câncer do colo do útero.
É aconselhável a realização do exame de Papanicolaou a partir do início da atividade sexual.

Contudo, no âmbito da saúde pública, considerando principalmente a questão do


custo-benefício, há regulamentações específicas.

De acordo com as Diretrizes Brasileiras para o Rastreamento do Câncer do Colo do Útero


pelo MS/Inca, de 2011, o exame deve ser priorizado para mulheres com atividade sexual
e idade entre 25 e 60 anos.
Indicações e periodicidade do exame de Papanicolaou

Quanto à periodicidade, é indicada a sua realização anual, e após dois exames anuais com
resultados negativos, a cada três anos.

Essa recomendação é baseada na história natural do câncer de colo do útero, que


apresenta uma evolução lenta, o que permite a detecção precoce das lesões pré-
cancerosas e o seu tratamento efetivo, com margem ampla de segurança para a paciente.
Indicações e periodicidade do exame de Papanicolaou
➢ A partir dos 64 anos de idade, a realização do exame de Papanicolaou pode ser interrompida, desde
que a mulher tenha dois resultados citológicos negativos consecutivos nos últimos cinco anos.

➢ Para mulheres com mais de 64 anos de idade e que nunca foram avaliadas através do exame
citopatológico, é necessário realizar dois exames com intervalo de um a três anos.

➢ Se ambos forem negativos, essas mulheres podem ser dispensadas de exames adicionais.

➢ Em pacientes que apresentam lesões pré-cancerosas, o seguimento citológico será semestral.

➢ Após o tratamento da lesão e depois de dois exames citológicos com resultados negativos, a
paciente passa a realizar o teste de Papanicolaou a intervalos anuais, a cada três anos.
Procedimentos técnicos e laboratoriais
As seguintes orientações devem ser fornecidas às pacientes antes da colheita das
amostras citológicas:

• Não estar menstruada.


• Não realizar duchas vaginais e não usar drogas intravaginais (creme, óvulo) nas 48 horas
que antecedem o exame.
• Abstinência sexual nas 48 horas que antecedem o exame.
Preenchimento de ficha da paciente
Antes da colheita das amostras citológicas é fundamental o preenchimento de ficha com os
dados da paciente, que incluem:

Dados pessoais:
Nome completo
Idade
Endereço
Telefone
Número do documento de
identificação se corresponder a
exame do SUS.
Preenchimento de ficha da paciente

Dados do médico que solicitou o exame: nome completo e telefone.

No caso de exame do SUS, às vezes só há a identificação do profissional que colheu a


amostra citológica, devendo constar na requisição do exame.
Preenchimento de ficha da paciente
Dados clínicos da paciente:
Data da última menstruação
Paridade
Queixas clínicas, especialmente sangramento vaginal anormal
Uso de contraceptivos
Referência a terapia de reposição hormonal
Data do último exame preventivo
Resultados de exames citopatológicos e histopatológicos do
colo/vagina prévios
Procedimentos terapêuticos anteriores (cauterização, cirurgia, quimio
e/ou radioterapia)
Colheita das amostras citológicas
➢ Antes da colheita, devem ser disponibilizadas lâminas de vidro identificadas com as iniciais e/ ou
número de registro da paciente (extremidade fosca da lâmina), previamente limpas e
desengorduradas com gaze umedecida com álcool.

➢ Ainda são necessárias espátula de Ayre para a colheita das amostras da ectocérvice e da vagina
através de “raspados” e escovinha para a colheita da endocérvice.

➢ Devem ser acessíveis ainda tubos de plástico contendo etanol a 95% para acondicionar os
esfregaços e obter a sua fixação imediata.
Colheita Triplice
Nesta modalidade de colheita, as amostras obtidas do fundo de saco posterior da vagina, da
ectocérvice e da endocérvice são distribuídas na mesma lâmina.
Colheita Triplice

Vantagens:

➢ Baixo custo; É necessário um treinamento adequado para


➢ Rapidez da avaliação garantir a boa qualidade dos espécimes,
microscópica evitando artefatos de esmagamento e
➢ Efetividade diagnóstica. dessecação do material.
Colheita Triplice
➢ A colheita do fundo de saco posterior da vagina é particularmente importante nas
mulheres peri e pós-menopausadas, uma vez que o fundo de saco vaginal pode ser um
reservatório de células malignas originadas especialmente de tumores do endométrio, do
ovário e das trompas.

➢ Por outro lado, a colheita vaginal é também de interesse para a identificação de micro-
organismos patogênicos

OBS: Apesar das vantagens atribuídas à colheita tríplice, o Instituto Nacional do Câncer
(Inca) recomenda apenas a colheita dupla (ectocérvice e endocérvice), uma vez que o
objetivo do exame é o rastreio das lesões pré-cancerosas do colo.
➢ Há maior dificuldade na colheita das amostras em mulheres pós-menopausadas devido ao
dessecamento das mucosas pela diminuição fisiológica das secreções glandulares.

➢ Neste caso, o esfregaço pode conter escassa celularidade e alterações degenerativas


concomitantes, devendo ser categorizada como insatisfatória para a avaliação.

➢ O uso vaginal de estrógenos conjugados ou estriol, com repetição do exame citológico sete
dias depois da interrupção do tratamento é aconselhável, fornecendo geralmente amostra de
boa qualidade, com celularidade representativa.

➢ Em mulheres histerectomizadas (remoção do útero), a colheita das amostras é realizada


através do raspado da cúpula e das paredes vaginais.
Confecção dos esfregaços citológicos
➢ Os espécimes obtidos são espalhados na mesma lâmina de vidro de modo delicado e
rápido, confeccionando-se esfregaços finos e uniformes.
Confecção dos esfregaços citológicos
➢ A pressão excessiva na confecção do esfregaço pode resultar no esmagamento e na
distorção das células.

➢ Por outro lado, a demora na fixação da amostra em etanol a 95% pode levar à dessecação
com alterações celulares degenerativas.

➢ Especial cuidado deve ser tomado com o espécime endocervical, já que as células
glandulares dessa mucosa são mais frágeis e suscetíveis a artefatos técnicos.
Confecção dos esfregaços citológicos
Fixação dos esfregaços citológicos
➢ O etanol a 95% é o fixador de rotina
devido a sua eficiência, seu baixo custo e
ausência de toxicidade.

➢ O esfregaço ainda úmido deve ser


imediatamente imerso em etanol, onde
permanece até o momento da coloração.

➢ O tempo de permanência da amostra no


fixador deve ser no mínimo 15 minutos,
recomendando-se não ultrapassar duas
semanas.
A demora na fixação ou a utilização de etanol em concentração inferior à preconizada pode
levar a alterações celulares importantes, dificultando ou mesmo impossibilitando a
avaliação oncológica.

Os seguintes efeitos podem ser encontrados nas amostras dessecadas (exposição prolongada
no ar):
• Aspecto opacificado, turvo, dando a impressão de que a amostra está fora do campo de
visão.
• Aumento da eosinofilia citoplasmática.
• Aumento nuclear (de quatro a seis vezes maior ao verificado nas amostras fixadas
imediatamente) e perda dos detalhes da estrutura cromatínica.
Figura 18 - Fixação inadequada das amostras e contaminação por fungos.

a; b - Fixação inadequada das amostras. Esfregaços cervicovaginais. Papanicolaou, 400x.

➢ Demora na fixação com etanol pode resultar em eosinofilia difusa (coloração rosa), aumento
nuclear e perda dos detalhes da estrutura cromatínica, como mostram essas figuras.

➢ Quando essas alterações incidem em mais de 75% do esfregaço, o mesmo deve ser considerado
insatisfatório para fins de diagnóstico.
c;d - Fungo contaminante (Aspergillus). Esfregaços cervicovaginais, Papanicolaou, 100x e 400x.

➢ Quando os esfregaços são fixados com Carbowax ou “cito-sprays”, devem ser acondicionados em
caixas de papelão assim que o material secar.
➢ A exposição prolongada no ar ambiente aumenta o risco de contaminação por fungos que estão
presente no ar, como Aspergillus.
➢ Estes se apresentam sob a forma de numerosas hifas que se ramificam e que geralmente estão num
plano diferente das células (c).
➢ Também podem se mostrar sob a forma de conidióforo com vesícula e cadeias de conídias (d).
Coloração das amostras citológicas
O método de coloração foi elaborado pelo próprio Papanicolaou, com várias modificações ao
decorrer dos anos.
Coloração das amostras citológicas
➢ Consiste na aplicação de um corante nuclear, a hematoxilina, e dois corantes
citoplasmáticos, o Orange G6 e o EA (eosina, verde-luz ou verde-brilhante e pardo de
Bismarck).

➢ A hematoxilina cora o núcleo em azul.

➢ O verde-brilhante cora o citoplasma em verde-azul das células escamosas parabasais e


intermediárias, células colunares e histiócitos.

➢ A eosina cora em rosa o citoplasma das células superficiais, nucléolos, mucina endocervical
e cílios. O Orange G6 cora as hemácias e as células queratinizadas em laranja-brilhante.

➢ Após a coloração do esfregaço segue-se a etapa conhecida como clareamento, que promove
a transparência celular. O xilol, um solvente orgânico, é utilizado para esse fim.
Coloração das amostras citológicas
a - Efeito do EA sobre o citoplasma das células, na coloração padrão. Esfregaço cervicovaginal, Papanicolaou,
400x. Células escamosas superficiais com citoplasma corado em rosa (eosinofílicas) e células intermediárias
com citoplasma corado em azul (cianofílicas). A coloração citoplasmática é bem diferenciada nessas células.

c - Contaminação celular cruzada. Esfregaços cervicovaginais, Papanicolaou, 100x. Observar os conjuntos de


células em outro campo de visão (setas) devido à transferência de células de outro esfregaço. Isso pode
acontecer quando os corantes e soluções utilizados no processamento técnico das amostras não são filtrados
rotineiramente.
Montagem dos esfregaços citológicos
➢ É o processo em que é aplicada uma resina sintética dissolvida em um solvente,
geralmente o xilol, permitindo a adesão entre a lamínula e a lâmina.

➢ A ligação entre as duas protege o esfregaço da dessecação e diminui as chances de


descoloração ao decorrer do tempo.

➢ Os meios de montagem mais utilizados no nosso meio são o bálsamo do Canadá e o


Entellan (Merck).
Montagem dos esfregaços citológicos
Avaliação microscópica das amostras citológicas
➢ Antes de se proceder a “leitura” dos esfregaços, é fundamental a checagem das iniciais
do nome e sobrenome da paciente e do número de registro na lâmina, confrontando-os
com os dados que constam na ficha de cada paciente.

É importante ainda observar as Esses aspectos são considerados no item


informações clínicas: adequabilidade da amostra, da
- Utiliza-se a objetiva de 4x para verificar Nomenclatura Brasileira para Laudos
a qualidade da fixação e coloração do Cervicais e Condutas Preconizadas
espécime, (Ministério da Saúde - Inca, 2006)
- o fundo (área ocupada entre as células), adaptado do Sistema Bethesda de
- a celularidade (quantidade de células), classificação citológica dos esfregaços
- a composição celular (tipos de células) cervicais (2001).
e a sua distribuição.
Avaliação microscópica das amostras citológicas

• Satisfatória:

A amostra que apresenta células em quantidade representativa (estimativa mínima de


aproximadamente 8.000-12.000 células escamosas) bem distribuídas, fixadas e
coradas, de tal modo que a sua visualização permita uma conclusão diagnóstica.
Avaliação microscópica das amostras citológicas
Satisfatória, mas limitada para a avaliação: Falta de informações clínicas.

➢ Esfregaço obscurecido entre 50% a 75% de sua totalidade por vários fatores, entre
eles:

- esfregaço acentuadamente hemorrágico devido ao trauma na colheita da amostra,


esfregaço espesso com acentuada sobreposição celular por falha na distribuição do
material na lâmina,

- esmagamento das células por compressão excessiva durante a confecção do esfregaço,

- dessecação celular devido à demora na fixação ou utilização de fixador com menor


teor alcoólico, falhas na técnica de coloração.
Avaliação microscópica das amostras citológicas
➢ Outras causas de exames citológicos satisfatórios, mas limitados para a avaliação
incluem:

- a escassez de células epiteliais no esfregaço ou a sobreposição acentuada das células


epiteliais por exsudato leucocitário.

- A escassez celular pode decorrer da atrofia do epitélio, comum na menopausa.

- O acentuado exsudato purulento (leucocitário) é determinado por condições


inflamatórias.
Avaliação microscópica das amostras citológicas

• Insatisfatória:

Esfregaço acelular ou obscurecido em mais de 75% da sua totalidade pelos mesmos fatores
discutidos acima.
Avaliação microscópica das amostras citológicas

a; b - Exsudato purulento intenso. Esfregaços cervicovaginais, Papanicolaou, 100x.


Os incontáveis neutrófilos e piócitos recobrem amplamente as células epiteliais,
impossibilitando a sua avaliação.
A insistência no diagnóstico de amostras como essas pode levar a resultados falso-
negativos, pois alterações celulares significativas podem passar despercebidas.
Para evitar a fadiga visual, é recomendado que a leitura dos esfregaços citológicos seja
iniciada pela parte mais alta da preparação à esquerda, correndo a lâmina no sentido vertical,
sobrepondo uma parte de cada área previamente examinada.
Marcação dos campos suspeitos
➢ Quando anormalidades celulares são identificadas, o citotécnico deve assinalá-las para
posterior reavaliação do citopatologista.

➢ A marcação dos campos suspeitos é realizada com caneta de ponta fina e tinta permanente
(à prova de água).

➢ Com a objetiva de 10x, fazer um ponto acima ou abaixo da estrutura que deseja se
destacar ou alternativamente circulá-la.

➢ A seguir, retirar a lâmina do microscópio, girá-la para a superfície contrária e circular o


mesmo campo já marcado previamente.

➢ Com um cotonete umedecido em álcool apagar a marca inicial.


CASO CLÍNICO Nº 1
Exame: Colpocitologia.
Dados clínicos: 30 anos.
Inspeção do colo: Normal.
Descrição citomorfológica do
caso – Figuras 1 e 2.

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