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Faculdade Santíssima trindade - FAST

Citologia Inflamatória
Prof. Dr Gilvânia Santana

Nazaré da Mata
Inflamação

É um conjunto dos fenômenos de reação a qualquer agressão tissular, seja bacteriana, viral,
micótica, parasitária, pós- traumática, química ou física.

É uma reação vásculo-conjuntiva local do organismo à agressão, tendendo, através de uma


série de fenômenos, a circunscrever o agente lesivo e/ou seus produtos para, posteriormente,
eliminá-los.
Infecção

É uma inflamação produzida por um organismo vivo. Algumas são sexualmente


transmissível (doenças venéreas), outras não sexuais.

Infestação

É a presença de organismo vivo (saprófitas) sem causar reação inflamatória.


Inflamação características microscópicas
➢ Reação vascular com formação de capilares;
➢ Migração dos leucócitos, macrófagos e plasmócitos para o local da inflamação;
➢ Modificação da estrutura dos epitélios (leucoplasia, hiperplasia, metaplasia, fenômenos de
reparação);
➢ Descamação celular: Erosão / ulceração.
➢ Destruição celular: necrose.
➢ Alterações morfológicas variadas: algumas comuns a todas as inflamações, outras
específicas a determinados agentes;
➢ Presença eventual do fator causal.
IMPORTÂNCIA PARA CITOLOGIA
➢ Avaliar a intensidade da reação inflamatória;
➢ Acompanhar a evolução do processo;
➢ Determinar a natureza do agente causal, quando possível.

ORIGEM E TRASMISSÃO DO PROCESSO INFLAMATÓRIO

CLASSIFICAÇÃO
Etiologia da Inflamação

➢ Biológicos (microorganismos): bactérias, protozoários, fungos, vírus, etc.

➢ Físicos: traumáticos, lacerações, térmicos (eletro-cauterização, radiações


(radioterapia), uso do Diu, etc.

➢ Substâncias químicas: caústicos, uso de drogas antiblásticas, etc


Citologia: aspectos inflamatórios
Processo inflamatório é a reação do tecido vivo a uma agressão

➢ Existem critérios citológicos para a inflamação a nível de núcleo e citoplasma

Tipos de processos:
➢ Específicos: apresentação dos critérios acompanhado do possível agente agressor
➢ Inespecífico: a célula apresenta alteração mas sem a evidencia do agente agressor
➢ Agudos: o esfregaço apresenta -se “sujo ” , em caso de ulceração pode apresentar
células parabasais e predomínio de polimorfos
➢ Crônicos: predomínio de linfócitos e histiocitos além dos critérios celulares
Em casos inflamatórios onde a camada basal é preservada (erosão) ou não
(úlcera) pode -se observar sinais de reparo e adaptação celular

➢ Reparo: pode ser típico ou atípico; as células de reparo apresentam núcleos maiores
surgem células e nucléolos proeminentes, jovens geralmente agrupadas e figuras de
mitose

➢ Metaplasia: é o mecanismo de adaptação observado pelo encontro de grupos de células


com citoplasma abundante finamente vacuolado, núcleos arredondados, hipercromasia
discreta com pontes intercelulares
Citologia Inflamatória
➢ O trato genital feminino está em contato direto através da vagina com o ambiente
externo, propiciando a instalação de infecções.

➢ Os seguintes sintomas podem ser associados às infecções: secreção vaginal anormal,


prurido, dor e sangramento.

➢ O objetivo primordial da citologia cervicovaginal é a detecção de lesões pré-cancerosas


do colo uterino, embora o método possibilite o reconhecimento e a avaliação da
intensidade dos processos inflamatórios.

➢ Em muitas dessas condições é possível ainda estabelecer o agente causal.


Citologia Inflamatória
➢ Para o estudo da microflora vaginal, é recomendada a colheita de amostras do fundo de
saco posterior da vagina.

➢ Essa é uma das razões da opção pela colheita tríplice, que representa material da
ectocérvice, endocérvice e também da vagina.

➢ A princípio, deve-se considerar que a simples presença de micro-organismos no


esfregaço não sinaliza para infecção.
Citologia Inflamatória
➢ Na vagina, são comuns bactérias tanto aeróbicas como anaeróbicas, como lactobacilos,
Staphilococcus epidermidis, Streptococcus viridans, sem provocar necessariamente
doença.

➢ Até mesmo a Gardnerella vaginalis, que habitualmente provoca sintomatologia, pode


eventualmente não despertar nenhuma reação.

➢ Vários fatores influenciam a microflora vaginal, entre eles: fisiológicos (parto, gravidez,
menopausa), patológicos (insuficiência hepática, distúrbios hormonais, distúrbios
metabólicos como diabete) e locais (DIU, diafragma, exposição sexual).
Sistema de Bethesda, porquê?

O Sistema de Bethesda para reportar relatórios de citologia cervico-vaginal, remonta a


Dezembro de 1988. Esta foi a primeira vez que um grupo de indivíduos com experiência
em citopatologia, histopatologia e clínica médica se reuniram no National Institutes of
Health em Bethesda, Maryland.
Esta reunião, que se tornou o primeiro workshop de Bethesda, teve como objetivo
estabelecer a terminologia que daria indicações claras para a gestão do doente assim como
para reduzir a variabilidade inter-observador
Relato do Diagnóstico Citológico - Bethesda, 2001
1. Negativo para lesão intra-epitelial ou 2. Células epiteliais anormais
malignidade • Células escamosas
• Alterações celulares reativas • Células escamosas atípicas
• Inflamação (incluindo reparo típico) • De significado indeterminado (ASC-US)
• Não exclui HSIL (ASC-H)
• Atrofia com inflamação
• Lesão intra-epitelial escamosa de baixo
• Radiação grau (LSIL), compreende: HPV / Displasia
• Outras Leve / NIC 1.
• Organismos • Lesão intra-epitelial escamosa de alto
grau (HSIL), compreendo: Displasia
• Trichomonas vaginalis Moderada e Acentuada, Carcinoma “in
• Fungos morfologicamente consistentes com situ” / NIC 2 e NIC 3.
Candida spp. • Carcinoma de células escamosas
• Desvio na flora sugestivo de vaginose • Células glandulares
bacteriana
• Bactérias morfologicamente consistentes com
• Células glandulares atípicas (AG)
Actinomyces spp. • Adenocarcinoma “in situ”
• Alterações celulares consistentes com o vírus do • Adenocarcinoma
herpes simples.
Classificação de Bethesda, 2001
• Negativo para lesão intraepitelial ou malignidade
• Alterações celulares reativas
• Inflamação (incluindo reparo típico)
• Atrofia com inflamação
• Radiação
• Outras
• Núcleo
• Aumento nuclear
Alterações celulares • Hipercromatismo
reativas associadas • Binucleação ou multinucleação
com inflamação • Degeneração nuclear
Critérios Citológicos • Nucléolos únicos ou múltiplos
• Halos perinucleares, sem espessamento periférico
• Citoplasma
• Metacromasia, policromasia (anfofilia)
• Vacuolização
• Fagocitose
• Degeneração citoplasmática
• Citoplasma com bordas apagadas
• Outras células – Leucócitos
• Neutrófilos
• Histiócitos
• Linfócitos
Aumento nuclear
• Células escamosas
• 1 ½ a 2 vezes o tamanho do
núcleo de uma célula
intermediária normal
• Calibrar o olho
• Células glandulares endocervicais
• podem apresentar grande
aumento nuclear (núcleos
volumosos), nucléolos
Hipercromatismo

• Cromatina fortemente corada, mas


uniforme
• Binucleação ou multinucleação
• Célula apresentando dois ou três núcleos
Degeneração nuclear
• Cariorrexe
• Dissolução da cromatina
• Dispersão da cromatina
• Perda dos limites nucleares

• Picnose
• Retração nuclear
• Redução do volume nuclear
• Condensação do DNA
• Núcleo hipercromático

• Cariólise
• Dissolução da cromatina pela DNAse
• Núcleo sem coloração ou pouco corado
• Nucléolos únicos
ou múltiplos,
proeminentes
• Citoplasma com metacromasia, policromasia
(anfofilia)
Vacuolização e Degeneração
citoplasmática Fagocitose
• Halos perinucleares, sem espessamento periférico
• Citoplasma com bordas apagadas
Outras Células - Leucócitos
• Neutrófilos são vistos em todos
os esfregaços cervicais e não
são indicativos de infecção

• Mas, quando eles estão


presentes, em quantidade
aumentada indicam um
processo infeccioso
Leucócitos
• Na fase aguda da infecção
• Exsudato leucocitário, apresentando polimorfonucleares
neutrófilos e histiócitos (macrófagos – monócitos)
• Exsudato inflamatório denso, pode impedir uma análise
citológica de neoplasia.
Monócitos → Histiócitos
Pequenos Grandes
• Após a fase menstrual • com núcleo excêntrico,
(êxodo) ➔ NORMAL forma oval, redonda ou em
• Fora dessa fase ➔ feijão
INFLAMAÇÃO CRÔNICA • Após menopausa e após
radioterapia
Linfócitos
• Na fase crônica, ocorre
infiltração localizada ou difusa
de linfócitos formando folículos
linfoides
• Cervicite folicular → infecção crônica
severa

• Linfócitos e seus precursores


com padrão de cromatina
grosseira, nucléolos
proeminentes, mimetizando
carcinoma de células
escamosas pouco diferenciado
• Chlamydia trachomatis
(Doença inflamatória pélvica -
DIP)
Classificação de Bethesda, 2001
• Negativo para lesão intra-epitelial ou malignidade
• Alterações celulares reativas
• Inflamação (incluindo reparo típico)
• Atrofia com inflamação
• Radiação
• Outras
Critérios
• Aumento do núcleo
• Autólise, resultando núcleos
desnudos
• Células parabasais degeneradas
eosinofílicas com núcleos
degenerados
• Exsudato inflamatório com
granulações basofílicas
• Material amorfo basofílico
Classificação de Bethesda, 2001
• Negativo para lesão intra-epitelial ou malignidade
• Alterações celulares reativas
• Inflamação (incluindo reparo típico)
• Atrofia com inflamação
• Radiação
• Outras
• Critérios
• Tamanho celular normalmente aumentado
• Células em forma bizarra
• Núcleos aumentados com degenerações
• Binucleação ou multinucleação comum
• Nucléolos proeminentes único ou múltiplos
• Reação reparatória pode ser observada
• Vacuolização do citoplasma
Classificação de Bethesda, 2001
• Negativo para lesão intra-epitelial ou malignidade
• Alterações celulares reativas
• Inflamação (incluindo reparo típico)
• Atrofia com inflamação
• Radiação
• Outras
Reparo → Erosão ou Úlcera
• Um trauma ou infecção
aguda pode levar a uma
perda da descontinuidade
do epitélio → ulcera ou
erosão

Reparo → restitui um epitélio destruído por erosão


ou ulceração
Representação esquemática simplificada da reparação

• Proliferação das células


basais ou de células de
reserva na periferia da
lesão

• Células cobrem a superfície


como um lençol

• Reconstituição do epitélio
por proliferação e
diferenciação celular
• Critérios Citológicos
• Fundo da lâmina normalmente limpo
• Células e núcleos orientados na mesma direção, refletem
crescimento celular rápido, aspecto de lençol
• Aumento do tamanho nuclear, nucléolos proeminentes
• Ausência de células isoladas com alterações nucleares
Estudo de caso
Explique de forma sucinta o motivo desses achados citológicos

Exame: Colpocitologia.
Dados clínicos: 75 anos. Radioterapia.
Descrição citomorfológica do caso – Figuras de 21 a 25.
Estudo de caso
Exame: Colpocitologia.
Dados clínicos: 75 anos. Radioterapia.
Descrição citomorfológica do caso – Figuras de 21 a 25.
Estudo de caso
Exame: Colpocitologia.
Dados clínicos: 75 anos. Radioterapia.
Descrição citomorfológica do caso – Figuras de 21 a 25.
Estudo de caso
Exame: Colpocitologia.
Dados clínicos: 75 anos. Radioterapia.
Descrição citomorfológica do caso – Figuras de 21 a 25.
Estudo de caso
Exame: Colpocitologia.
Dados clínicos: 75 anos. Radioterapia.
Descrição citomorfológica do caso – Figuras de 21 a 25.
Estudo de caso
Exame: Colpocitologia.
Dados clínicos: 75 anos. Radioterapia.
Descrição citomorfológica do caso – Figuras de 21 a 25.

Laudo técnico (citotécnico): Satisfatório. Células atípicas com efeito pós-


radioterapia. Encaminhado
ao citopatologista.
Diagnóstico final (médico): Alterações celulares benignas reativas ou reparativas
(efeito actínico).
Estudo de caso
Efeitos citológicos da radioterapia no tratamento do câncer do colo do útero

Radioterapia

➢ Encontra-se no Medical Dictionary (2008) a definição de radioterapia como radiação


de alta frequência que é usada para destruir células malignas e parar o crescimento e a
divisão celular.

➢ O objetivo da radioterapia é liberar uma dose precisamente calculada a um volume ou


leito tumoral com o mínimo de danos às estruturas vizinhas sadias, resultando em
erradicação do tumor, com melhoria da qualidade de vida e seu prolongamento.
Estudo de caso
Critérios citológicos do efeito da radioterapia

➢ Segundo os autores Kurman (1997), Koss (1979) e Bibbo (1997), há um consenso entre os
critérios observados: células notavelmente aumentadas com alteração da relação núcleo
citoplasma.

➢ Células bizarras podem aparecer, núcleos aumentados com alterações degenerativas


incluindo palidez, condensação da cromatina e vacuolização citoplasmática frequente.
Estudo de caso
Critérios citológicos do efeito da radioterapia

➢ As células exibem ainda discreta hipercromasia nuclear com variação de tamanho nuclear,
bi ou multinucleação.

➢ É comum visualizar nucléolos proeminentes, únicos ou múltiplos, se a ação reparatória


estiver presente.

➢ Reação policromática do citoplasma também pode ser observada.

➢ O fundo vem acompanhado de infiltrado inflamatório e há presença de grandes histiócitos


multinucleados.
Estudo de caso
Considerações

➢ Segundo Kurman (1997), alterações agudas induzidas por radiação geralmente


desaparecem algumas semanas após a terapia ter sido completada.

➢ No entanto, algumas alterações podem persistir indefinidamente.

➢ Essas alterações crônicas podem incluir aumento nuclear, hipercromasia discreta e reação
policromática do citoplasma.

➢ Essas modificações, se não forem corretamente interpretadas, podem levar a erros de


diagnóstico.

➢ Segundo Bibbo (2008), a radiação interrompe a replicação celular, causando


modificações no DNA, nas proteínas e no citoplasma da célula

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