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Pesquisa sobre Transtorno do Espectro Autista e o Design de Interiores

Fontes:

BRASIL, ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2020:


https://www.al.sp.gov.br/noticia/?18/03/2020/opiniao---o-autismo-no-brasil

ABRIL, 2020: https://www.numenarquitetura.com/post/abril-azul-como-otimizar-espacos-


para-criancas-autistas

Design de Interiores com foco no TEA: https://www.youtube.com/watch?v=AcXcTYFJ1fQ

- O que é autismo?

Transtorno do Espectro Autista (TEA) define-se por prejuízos persistentes na comunicação e


interação social, bem como nos comportamentos que podem incluir os interesses e os padrões
de atividades, sintomas estes presentes desde a infância que limitam ou prejudicam o
funcionamento diário do indivíduo (ONZI; GOMES, 2015).

O autismo é definido como um transtorno complexo do desenvolvimento, do ponto de vista


comportamental, com diferentes etiologias que se manifesta em graus de gravidade variados
(GADIA, 2006 apud ONZI; GOMES, 2015).

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que, em todo o mundo, uma em
cada 160 crianças tenha o transtorno. No Brasil, os dados ainda são muito limitados, mas
informações do Censo Escolar mostram que o número de alunos com autismo que estão
matriculados em classes comuns no Brasil aumentou 37,27% entre os anos de 2017 (77.102) e
2018 (105.842) (BRASIL, ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2020).

Como se sabe, o autismo não é um transtorno uno, mas um espectro de transtornos que
variam em cada indivíduo. Na maioria das vezes, o autista apresenta déficit na comunicação
social ou interação social, além de padrões restritos e repetitivos de comportamento. Os
cientistas ainda não sabem ao certo a causa do transtorno e nem chegaram a um consenso
sobre a melhor forma de tratá-lo, mas mapeá-lo com certeza ajudará a entender melhor a
questão (BRASIL, ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2020).

O autismo é mais comum em meninos e se manifesta nos três primeiros anos de vida. Os
sintomas são: déficits na comunicação e interação social, movimentos repetitivos, resistência à
mudanças, dentre outros. Há ainda as comorbidades, que são problemas de saúde que podem
acompanhar o autismo, como Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH),
problemas motores, distúrbios do sono, distúrbios gastrointestinais, Epilepsia, Deficiência
intelectual, em que acometem 70% dos casos (NUNES; NUNES, 2017).

Desde 1911 surgiram muitos estudos e definições sobre o autismo em diferentes áreas como
na psicanálise, na pedagogia, na biologia, na genética e em áreas da cognição. O autismo não é
uma síndrome. Segundo a bióloga Patrícia Braga, a doença é definida como um transtorno
porque não há um gene comum em muitos pacientes. Para ser determinado como síndrome
seria preciso identificar o gene causador (AGUIAR; ALONSO;2015). A doença é então
denominada Transtorno do Espectro Autista (TEA) (NUNES; NUNES, 2017).

O transtorno é mais comum em meninos, e quando presente em meninas se manifesta de


forma menos grave (AGUIAR; NEGRETTI; 2015). Surge nos primeiros três anos de vida, com
atraso ou desenvolvimento anormal na linguagem e na interação social. O diagnóstico não é
simples, dado que, embora existam sintomas em comum no grupo de autistas há diferenças
significativas em como se manifestam individualmente (ALONSO; AGUIAR, 2015 apud NUNES;
NUNES, 2017).

- Sintomas:

Quando ainda bebê, não há interação com a mãe quando é amamentado, tem obsessão por
rotinas, detalhes e por certos objetos. Possuem movimentos estereotipados, ou seja,
movimentos repetitivos. Segundo Mariana Arend de Paula Xavier, psicóloga e psicopedagoga,
todos nós possuímos algum movimento estereotipado em algum momento, como rabiscar em
um papel enquanto falamos ao telefone. Mas em pessoas com o transtorno se intensificam
quando estão eufóricos, irritados ou ociosos e reagem assim para se adequarem a algo que
está incomodando (ALONSO; AGUIAR,2015 apud NUNES; NUNES, 2017).

São resistentes às mudanças, como por exemplo, alterar sua rotina ou mudar um móvel de
lugar, provocando irritabilidade na criança (AGUIAR; NEGRETTI,2015). Há uma desordem
sensorial quando são hipersensíveis, como por exemplo, perceber cheiros, sons e luzes com
intensidade afeta o seu comportamento. Podem também ser hiposensíveis, não percebendo
os estímulos ao redor (ALONSO; AGUIAR,2015 apud NUNES; NUNES, 2017).

O modo de entender o mundo para a criança com o transtorno é completamente diferente.


Estas não conseguem separar o que está fora e o que está dentro delas (NUNES; NUNES,
2017).

O transtorno do espectro do autismo é definido por um padrão de características de


comportamento anormal, variando a proporção de leve à grave (CENTERS FOR DISEASE
CONTROL AND PREVENTION, 2019). Algumas crianças têm apenas dificuldade de contato
visual e um tom ligeiramente anormal e inexpressivo da fala. Outras explodem em paroxismos
aterrorizados de raiva quando alguém encosta nelas, ou apenas lhes dirige a palavra, ou
mesmo tenta fazer contato visual. Em outras, ainda, o sintoma mais visível é focarem em uma
parte específica de alguma coisa, como as rodas de um carrinho. Assim sendo, as pessoas que
estão no espectro autista variam desde as que funcionam bem em sociedade, como a
estudiosa do comportamento animal Temple Grandin, até aquelas que apresentam
incapacidade funcional e necessitam de cuidados intensivos. Contudo, independentemente do
ponto em que alguém se situa nesse espectro, sempre existe alguma deficiência na interação e
na comunicação social (DAVIDSON; BEGLEY, 2013 apud MOSTARDEIRO, 2019).

- Transtorno do Espectro Autista e o Design de Interiores

O design pode contribuir com especificações adequadas para: os materiais utilizados, a


iluminação correta, a composição e distribuição do mobiliário e o uso das cores, trazendo
melhor qualidade de vida ao paciente e, consequentemente, contribuindo para o sucesso do
seu tratamento (NUNES; NUNES, 2017).

É fundamental que o espaço arquitetônico seja projetado adequadamente e para isso todo
local deve atender a normas projetuais, segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas-
ABNT, na NBR 9050 de Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos
urbanos, alguns critérios devem ser seguidos:
Sinalização tátil e visual direcional: A sinalização tátil e visual direcional no piso deve ser
instalada no sentido do deslocamento das pessoas, quando da ausência ou descontinuidade de
linha-guia identificável, em ambientes internos ou externos, para indicar caminhos referenciais
de circulação. (ABNT NBR 9050,2015, p.49 apud NUNES; NUNES, 2017).

Revestimentos: Os materiais de revestimento e acabamento devem ter superfície regular,


firme, estável, não trepidante para dispositivos com rodas e antiderrapante, sob qualquer
condição (seco ou molhado). Deve-se evitar a utilização de padronagem na superfície do piso
que possa causar sensação de insegurança (por exemplo, estampas que pelo contraste de
desenho ou cor possam causar a impressão de tridimensionalidade). (ABNT NBR 9050,2015,
p.55 apud NUNES; NUNES, 2017).

Rampas: São consideradas rampas as superfícies de piso com declividade igual ou superior a 5
%. A largura das rampas (L) deve ser estabelecida de acordo com o fluxo de pessoas. A largura
livre mínima recomendável para as rampas em rotas acessíveis é de 1,50 m, sendo o mínimo
admissível de 1,20 m (ABNT NBR 9050,2015, p.59 apud NUNES; NUNES, 2017).

Pesquisadores descobriram que pessoas com TEA enxergam as cores de maneira diferente,
pois seus cones e bastonetes podem ter se modificado por causa de desequilíbrios químicos ou
deficiências neurais. Realizado um teste, 85% das crianças envolvidas enxergaram os tons com
alta intensidade, 10% enxergou normalmente e 5% delas percebeu as cores como suaves.
Essas 5% precisam de estímulos maiores para percebê-las melhor porque veem tudo cinza
(NUNES; NUNES, 2017).

Descobriu se que o rosa pálido é a cor preferida em geral e tons suaves proporcionam calma.
No ambiente deve se evitar desenhos lineares e que não sejam intrusivos, objetos como
brinquedos não devem ficar à vista para não ocorrer desordens na criança. Materiais de
revestimento que diminuem efeitos sonoros são altamente recomendáveis. (MOFFITT, 2011
apud NUNES; NUNES, 2017).

Para os que possuem hiposensibilidade (baixa sensibilidade) é importante evitar muitos


móveis pois estes podem se tornar obstáculos, gostam de lugares barulhentos, por isso
estímulos sonoros são bem vindos. Gostam de colocar objetos pesados em cima de si mesmos,
tem alto limiar de dor. Possuem também alto limiar de temperatura, portanto o isolamento
térmico deve ser observado. Os limites de cada espaço devem ser ressaltados com fitas
coloridas, por exemplo, tudo deve ter pistas visuais, como placas indicando os espaços
(NUNES; NUNES, 2017).

Pistas visuais no chão ajudam a direcionar o caminho a ser feito, evitando que as crianças
vaguem ou entrem em lugares inapropriados. (PARON-WILDES, 2014). Para os hipersensíveis
os ambientes não devem ter cheiros fortes, devem ser usadas cores suaves e como já foi
citado, materiais com isolamento acústico. Outro detalhe a ser pensado são as texturas, os
revestimentos devem ser macios e trazer sensação de conforto. A iluminação não deve ser
muito forte, a fluorescente pode causar incômodo. Dê preferência à luz natural (PARON-
WILDES, 2014). O índice de reprodução de cor (IRC) deve ser o mais próximo possível da
lâmpada incandescente. (PARON WILDES,2014, p. 29 apud NUNES; NUNES, 2017).

Estas crianças precisam de um ambiente que tenha uniformidade, pois se organizam por meio
de rotinas rigorosas. Movimentar objetos e móveis de lugar pode fazer com que elas não
reconheçam o lugar e sua função, tornando as tarefas diárias mais complicadas (PARON-
WILDES, 2014). Em um ambiente ideal de terapia, os pequenos objetos das atividades devem
ser armazenados em armários fechados e com identificação. Para trabalhar o lúdico, podem
ser usadas araras que armazenem fantasias ou ambientes em pequena escala para a
interpretação de papéis, como casas de bonecas (NUNES; NUNES, 2017).

O mobiliário deve possuir cantos abaulados (sem quinas afiadas) e o piso acolchoado para a
segurança da criança, que, em momentos de crise pode se debater pelo espaço. Para que não
haja uma poluição visual, os locais de terapia podem ter desenhos nas paredes que possam ser
colocados e retirados conforme a atividade. É importante também que um único espaço
consiga acomodar várias funções para estimular a socialização de tarefas em grupo. Um local
assim se assemelha ao método Montessoriano, onde a criança pode tomar sua própria decisão
de acordo com as opções que encontra no local. Para que o momento da espera na sala de
recepção seja mais tranquila é viável algum objeto de distração. Para fornecer um maior
conforto e privacidade nesse ambiente, pequenos layouts podem ser divididos dentro do
espaço. (PARON WILDES, 2014 apud NUNES; NUNES, 2017).

ESTUDO DE CASO NO ARQUIVO

O design de interiores pode influenciar a saúde e o bem-estar de uma maneira positiva


(GUERIN; MARTIN, 2010; MATOS, 2016). À medida que o mundo se torna mais complexo, com
mudanças sociais que afetam a saúde, a segurança e o bem-estar das pessoas, cresce a
necessidade de conhecimento especializado para o desenvolvimento de projetos de interiores
(GUERIN; MARTIN, 2010). Os interiores residenciais não são apenas os lugares em que as
pessoas vivem, são espaços com os quais elas se relacionam, são o lugar delas no mundo e
como elas querem ser percebidas (HOLLIS, 2017). Assim sendo, cada detalhe que compõe o
ambiente tem sua importância ao longo do processo de projeto (POLDMA, 2011).

O construtivismo é uma teoria sobre a origem do conhecimento que considera que o


desenvolvimento de uma criança segue uma sequência predeterminada de etapas, onde a
aprendizagem ocorre em resposta à estímulos (PIAGET, 1987). Assim, a interação da criança
com seu ambiente é um fator essencial em seu desenvolvimento (PIAGET, 1987). Quando a
criança se acomoda ao seu ambiente ela assimila o ambiente para si mesma. A combinação de
dar e receber produz uma resposta adaptativa eficaz, suave e satisfatória. Tanto a assimilação
(processo que ocorre quando novas experiências ou informações são introduzidas na estrutura
cognitiva da criança e não há modificação em suas estruturas mentais), quanto a acomodação
(processo que modifica suas estruturas cognitivas para “enfrentar” o novo, os elementos que
ela assimila), desenvolvem alguma parte da inteligência (PIAGET, 1987 apud MOSTARDEIRO,
2019).

Projetar um ambiente amigável ao autismo consiste em antecipar atividades e reduzir riscos,


como lesões com o mau uso de equipamentos e mobiliário (BRADDOCK; ROWELL, 2011). Os
ambientes domésticos convencionais podem ser confusos, estimulantes, assustadores,
perturbadores ou muito restritivos para autistas. Especialmente na residência, as atividades
preferenciais de um indivíduo com TEA e seus mecanismos de enfrentamento podem resultar
em danos à propriedade como janelas quebradas e carpetes com mau cheiro, podem colocar
as pessoas em risco por exemplo arremessando objetos da decoração, ou irritar os vizinhos
com barulhos. Estes comportamentos são rotulados como "comportamentos problemáticos".
Porém, o problema pode estar associado à própria inadequação do ambiente (BRADDOCK;
ROWELL, 2011 apud MOSTARDEIRO, 2019).

Considerar às necessidades autistas no projeto de design de interiores é mais simples do que


remover a estimulação existente em um ambiente (MOSTAFA, 2008). Aspectos físicos do
ambiente (iluminação, ventilação, acústica, cores, texturas), assim como, aspectos de
organização (simplicidade, legibilidade, proteção, segurança e supervisão) reduzem o nível de
estresse e o desconforto da criança com TEA (REEVES, 2012). Desta forma, ela pode se
concentrar no desenvolvimento de habilidades que lhe permitam experimentar maiores níveis
de independência e funcionalidade no mundo cotidiano (REEVES, 2012 apud MOSTARDEIRO,
2019).

Devido à diferença no processamento de informações, as pessoas com TEA lidam com o meio
ambiente de uma maneira única, o que influencia sua experiência espacial e sua interação com
o mundo envolvente (KINNAER; BAUMERS; HEYLIGHEN, 2015). As crianças com TEA
representam um grupo heterogêneo com certos sintomas em comum, um dos quais a
dificuldade na percepção sensorial (AYRES; TICKLE, 1980; WIGGINS et al., 2009), também
descrita como Disfunção de Integração Sensorial (ANDRADE, 2012). A integração sensorial é o
processo pelo qual o cérebro organiza as informações de modo a dar uma resposta adaptativa
adequada, para organizar as sensações do próprio corpo em relação ao ambiente (AYRES;
TICKLE, 1980; HOOGSLAG; BOON, 2016; ORNITZ, 1974). As crianças com dificuldade de
integração sensorial podem: apresentar hipersensibilidade, hipossensibilidade (ou ambos) para
os sentidos auditivo, visual, tátil, olfativo, gustativo, vestibular e proprioceptivo (AYRES;
TICKLE, 1980); não ter sensibilidade alguma em relação a algum aspecto do ambiente e ter
dificuldade em mudar de um modo sensorial para outro, criando uma sobrecarga sensorial
(HEBERT, 2003).

Sistema Auditivo: Muitas crianças com TEA têm a sensibilidade alterada aos estímulos
sonoros. As diferenças no processamento auditivo são uma das deficiências de processamento
sensorial mais comumente relatadas, com toda a gama de respostas atípicas observadas
(TOMCHEK; DUNN, 2007). Nas crianças com hiperacusia, hipersensíveis ao som, há um
bombardeio sensorial e ruídos cotidianos comuns se tornam angustiantes e podem
desencadear ações inadequadas, causar frustração, impedir a aprendizagem e afetar a
capacidade de se concentrar (MOSTARDEIRO, 2019).

Sistema Tátil: Tal como acontece com a entrada auditiva, indivíduos com autismo podem
relatar serem hipersensíveis aos estímulos táteis, enquanto outros podem relatar ser
hipossensíveis aos estímulos táteis. (REEVES, 2012). Por exemplo, algumas crianças não
suportam andar com os pés descalços em carpetes, enquanto outras tem alta tolerância a dor
e não percebem a areia quente da praia (MOSTARDEIRO, 2019).

Sistema Olfativo: Embora os odores fortes possam ser desagradáveis para os indivíduos
neurotípicos, muitas crianças com TEA são particularmente sensíveis a uma variedade de
odores presentes no ambiente (CHERRY, 2012). Portanto, elas podem não tolerar certas
fragrâncias, o cheiro de couro em um estofado ou o cheiro da comida sendo preparada na
cozinha (HEBERT, 2003). Da mesma forma, elas podem não perceber certos cheiros que
indicam que alguma coisa está errada, como por exemplo, o cheiro de quando pisa no coco do
cachorro (MOSTARDEIRO, 2019).
Sistema Gustativo: Crianças com TEA podem exibir sistemas gustativos alterados,
hipersensíveis ou hipossensíveis. Estas crianças podem ter dificuldade de alimentação ou
comer coisas que não são alimentos (terra, grama, tecidos, etc.) (REEVES, 2012). Por exemplo,
algumas crianças se alimentam apenas com frango, mas, se tiverem a possibilidade, comem o
enchimento das almofadas (MOSTARDEIRO, 2019).

Sistema Vestibular: A hipersensibilidade vestibular pode dificultar a realização de atividades


que incluem movimento (subir ou descer escadas, esportes, dança), bem como dificuldade
para parar rapidamente ou durante uma atividade (REEVES, 2012). Tarefas ou atividades que
exigem movimentos excessivos de cabeça podem ser limitantes e desconfortáveis (HEBERT,
2003 apud MOSTARDEIRO, 2019).

Sistema Proprioceptivo: O sistema proprioceptivo permite reconhecer a localização espacial


do corpo, sua posição e orientação, a força exercida pelos músculos e a posição de cada parte
do corpo em relação às demais (BRAND; GHEERAWO; VALFORT, 2010; HEBERT, 2003). Ao lidar
com crianças com um baixo sentido proprioceptivo, sua "falta de jeito" deve ser levada em
conta. Essas crianças têm dificuldade em estimar as distâncias entre si e os outros e, quando
armadas com objetos grandes que podem pegar e balançar, como uma vassoura, podem
causar situações indesejáveis (SCHAAF; LANE, 2015 apud MOSTARDEIRO, 2019).

Ser feliz em um ambiente está relacionado com o que as pessoas são capazes de realizar
naquele lugar (PETERMANS; NUYTS, 2016). Com o autista não é diferente, o que difere é que a
maneira como a emoção acontece quando o ambiente não é pensado de forma a atender as
demandas do autismo, podendo fazer com que a realidade se torne extremamente confusa e
imprevisível (KINNAER; BAUMERS; HEYLIGHEN, 2014).

COMO OTIMIZAR ESPAÇOS PARA CRIANÇAS AUTISTAS

O autismo pode ser entendido como uma alteração de percepção entre o indivíduo e o
ambiente que o cerca, limitando, muitas vezes, o seu conhecimento do mundo. Há uma
confusão na recepção de informações e dos sentidos. Assim, para os autistas, o mundo
externo passa a ser repleto de ruídos, fortes odores e caos visual. Todos esses fatores causam
insegurança e instabilidade (ABRIL, 2020).

Luzes e Cores:

Forte incidência solar é um fator incômodo. Para solucioná-la, podem ser usados elementos de
barreira, como: persianas, pergolados e brises, deixando a luz mais difusa. Luz artificial em
demasia também incomoda, principalmente se for a luz branca. Recomenda-se uma
iluminação de temperatura mais suave. O ideal é que os pontos de luz possam ser controlados.
Por isso, pode ser interessante usar essas soluções:

 Vários spots fracos;


 Iluminação indireta, como as feitas com fitas de LED;
 Dimerizadores.

Lembra-se que cores são intensidades luminosas. Por isso, deve haver cautela na aplicação
desses estímulos visuais, devendo ser evitadas cores de alta intensidade.

Formas e Texturas:
Formas primárias da geometria, como círculos, retângulos e triângulos são uma espécie de elo
universal que liga a consciência humana ao mundo externo, sendo elas facilmente
reconhecidas pelas crianças. Por esse motivo, o uso de enfeites deve ser moderado. Nada de
estímulos complexos na decoração, com desenhos que a criança não absorve com facilidade. A
preferência é por poucos tipos de materiais e mobiliários de formas simples.

Sons:

O cuidado com os sons abrange desde o uso do piso ao uso do trilho das janelas e portas.

Vale citar: pisos acústicos, janelas acústicas e telhas acústicas. O uso do forro é indispensável.
Atenção à vedação das portas e janelas.

Olfato:

Plantas, sobretudo em ambientes internos e jardins de inverno, devem possuir aroma suave ou
imperceptível. Vale citar o cuidado com materiais que exigem manutenção constante com
cheiros fortes, como o do verniz.

Setorização:

Os ambientes propícios para os autistas são aqueles setorizados por estímulo sensorial e não
genericamente por atividade. Por exemplo: a mesa onde são feitas as refeições (paladar) fica
em um setor e a de fazer as tarefas (visual) fica em outro. Outra solução é criar modos de
transição entre um estímulo e outro.

O Refúgio:

Uma dica de grande valor é: criar um miniambiente aconchegante no qual a criança possa fugir
dos estímulos sensoriais. É uma espécie de nicho ou cabana minimalista:

 Formas simples
 Um material só
 Cores neutras
 Barreira visual
 Barreira acústica

Equilíbrio:

Ao adotar uma abordagem de minimização de provocações sensoriais, é preciso trabalhar com


um limite de variação de estímulos ao mesmo tempo em que se diminui sua intensidade. O
acompanhamento profissional multidisciplinar auxilia os pais a perceberem os limites de cada
criança, para que não sintam insegurança através do excesso e nem isolamento através de sua
falta.

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