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Fontes:
- O que é autismo?
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que, em todo o mundo, uma em
cada 160 crianças tenha o transtorno. No Brasil, os dados ainda são muito limitados, mas
informações do Censo Escolar mostram que o número de alunos com autismo que estão
matriculados em classes comuns no Brasil aumentou 37,27% entre os anos de 2017 (77.102) e
2018 (105.842) (BRASIL, ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2020).
Como se sabe, o autismo não é um transtorno uno, mas um espectro de transtornos que
variam em cada indivíduo. Na maioria das vezes, o autista apresenta déficit na comunicação
social ou interação social, além de padrões restritos e repetitivos de comportamento. Os
cientistas ainda não sabem ao certo a causa do transtorno e nem chegaram a um consenso
sobre a melhor forma de tratá-lo, mas mapeá-lo com certeza ajudará a entender melhor a
questão (BRASIL, ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2020).
O autismo é mais comum em meninos e se manifesta nos três primeiros anos de vida. Os
sintomas são: déficits na comunicação e interação social, movimentos repetitivos, resistência à
mudanças, dentre outros. Há ainda as comorbidades, que são problemas de saúde que podem
acompanhar o autismo, como Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH),
problemas motores, distúrbios do sono, distúrbios gastrointestinais, Epilepsia, Deficiência
intelectual, em que acometem 70% dos casos (NUNES; NUNES, 2017).
Desde 1911 surgiram muitos estudos e definições sobre o autismo em diferentes áreas como
na psicanálise, na pedagogia, na biologia, na genética e em áreas da cognição. O autismo não é
uma síndrome. Segundo a bióloga Patrícia Braga, a doença é definida como um transtorno
porque não há um gene comum em muitos pacientes. Para ser determinado como síndrome
seria preciso identificar o gene causador (AGUIAR; ALONSO;2015). A doença é então
denominada Transtorno do Espectro Autista (TEA) (NUNES; NUNES, 2017).
- Sintomas:
Quando ainda bebê, não há interação com a mãe quando é amamentado, tem obsessão por
rotinas, detalhes e por certos objetos. Possuem movimentos estereotipados, ou seja,
movimentos repetitivos. Segundo Mariana Arend de Paula Xavier, psicóloga e psicopedagoga,
todos nós possuímos algum movimento estereotipado em algum momento, como rabiscar em
um papel enquanto falamos ao telefone. Mas em pessoas com o transtorno se intensificam
quando estão eufóricos, irritados ou ociosos e reagem assim para se adequarem a algo que
está incomodando (ALONSO; AGUIAR,2015 apud NUNES; NUNES, 2017).
São resistentes às mudanças, como por exemplo, alterar sua rotina ou mudar um móvel de
lugar, provocando irritabilidade na criança (AGUIAR; NEGRETTI,2015). Há uma desordem
sensorial quando são hipersensíveis, como por exemplo, perceber cheiros, sons e luzes com
intensidade afeta o seu comportamento. Podem também ser hiposensíveis, não percebendo
os estímulos ao redor (ALONSO; AGUIAR,2015 apud NUNES; NUNES, 2017).
É fundamental que o espaço arquitetônico seja projetado adequadamente e para isso todo
local deve atender a normas projetuais, segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas-
ABNT, na NBR 9050 de Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos
urbanos, alguns critérios devem ser seguidos:
Sinalização tátil e visual direcional: A sinalização tátil e visual direcional no piso deve ser
instalada no sentido do deslocamento das pessoas, quando da ausência ou descontinuidade de
linha-guia identificável, em ambientes internos ou externos, para indicar caminhos referenciais
de circulação. (ABNT NBR 9050,2015, p.49 apud NUNES; NUNES, 2017).
Rampas: São consideradas rampas as superfícies de piso com declividade igual ou superior a 5
%. A largura das rampas (L) deve ser estabelecida de acordo com o fluxo de pessoas. A largura
livre mínima recomendável para as rampas em rotas acessíveis é de 1,50 m, sendo o mínimo
admissível de 1,20 m (ABNT NBR 9050,2015, p.59 apud NUNES; NUNES, 2017).
Pesquisadores descobriram que pessoas com TEA enxergam as cores de maneira diferente,
pois seus cones e bastonetes podem ter se modificado por causa de desequilíbrios químicos ou
deficiências neurais. Realizado um teste, 85% das crianças envolvidas enxergaram os tons com
alta intensidade, 10% enxergou normalmente e 5% delas percebeu as cores como suaves.
Essas 5% precisam de estímulos maiores para percebê-las melhor porque veem tudo cinza
(NUNES; NUNES, 2017).
Descobriu se que o rosa pálido é a cor preferida em geral e tons suaves proporcionam calma.
No ambiente deve se evitar desenhos lineares e que não sejam intrusivos, objetos como
brinquedos não devem ficar à vista para não ocorrer desordens na criança. Materiais de
revestimento que diminuem efeitos sonoros são altamente recomendáveis. (MOFFITT, 2011
apud NUNES; NUNES, 2017).
Pistas visuais no chão ajudam a direcionar o caminho a ser feito, evitando que as crianças
vaguem ou entrem em lugares inapropriados. (PARON-WILDES, 2014). Para os hipersensíveis
os ambientes não devem ter cheiros fortes, devem ser usadas cores suaves e como já foi
citado, materiais com isolamento acústico. Outro detalhe a ser pensado são as texturas, os
revestimentos devem ser macios e trazer sensação de conforto. A iluminação não deve ser
muito forte, a fluorescente pode causar incômodo. Dê preferência à luz natural (PARON-
WILDES, 2014). O índice de reprodução de cor (IRC) deve ser o mais próximo possível da
lâmpada incandescente. (PARON WILDES,2014, p. 29 apud NUNES; NUNES, 2017).
Estas crianças precisam de um ambiente que tenha uniformidade, pois se organizam por meio
de rotinas rigorosas. Movimentar objetos e móveis de lugar pode fazer com que elas não
reconheçam o lugar e sua função, tornando as tarefas diárias mais complicadas (PARON-
WILDES, 2014). Em um ambiente ideal de terapia, os pequenos objetos das atividades devem
ser armazenados em armários fechados e com identificação. Para trabalhar o lúdico, podem
ser usadas araras que armazenem fantasias ou ambientes em pequena escala para a
interpretação de papéis, como casas de bonecas (NUNES; NUNES, 2017).
O mobiliário deve possuir cantos abaulados (sem quinas afiadas) e o piso acolchoado para a
segurança da criança, que, em momentos de crise pode se debater pelo espaço. Para que não
haja uma poluição visual, os locais de terapia podem ter desenhos nas paredes que possam ser
colocados e retirados conforme a atividade. É importante também que um único espaço
consiga acomodar várias funções para estimular a socialização de tarefas em grupo. Um local
assim se assemelha ao método Montessoriano, onde a criança pode tomar sua própria decisão
de acordo com as opções que encontra no local. Para que o momento da espera na sala de
recepção seja mais tranquila é viável algum objeto de distração. Para fornecer um maior
conforto e privacidade nesse ambiente, pequenos layouts podem ser divididos dentro do
espaço. (PARON WILDES, 2014 apud NUNES; NUNES, 2017).
Devido à diferença no processamento de informações, as pessoas com TEA lidam com o meio
ambiente de uma maneira única, o que influencia sua experiência espacial e sua interação com
o mundo envolvente (KINNAER; BAUMERS; HEYLIGHEN, 2015). As crianças com TEA
representam um grupo heterogêneo com certos sintomas em comum, um dos quais a
dificuldade na percepção sensorial (AYRES; TICKLE, 1980; WIGGINS et al., 2009), também
descrita como Disfunção de Integração Sensorial (ANDRADE, 2012). A integração sensorial é o
processo pelo qual o cérebro organiza as informações de modo a dar uma resposta adaptativa
adequada, para organizar as sensações do próprio corpo em relação ao ambiente (AYRES;
TICKLE, 1980; HOOGSLAG; BOON, 2016; ORNITZ, 1974). As crianças com dificuldade de
integração sensorial podem: apresentar hipersensibilidade, hipossensibilidade (ou ambos) para
os sentidos auditivo, visual, tátil, olfativo, gustativo, vestibular e proprioceptivo (AYRES;
TICKLE, 1980); não ter sensibilidade alguma em relação a algum aspecto do ambiente e ter
dificuldade em mudar de um modo sensorial para outro, criando uma sobrecarga sensorial
(HEBERT, 2003).
Sistema Auditivo: Muitas crianças com TEA têm a sensibilidade alterada aos estímulos
sonoros. As diferenças no processamento auditivo são uma das deficiências de processamento
sensorial mais comumente relatadas, com toda a gama de respostas atípicas observadas
(TOMCHEK; DUNN, 2007). Nas crianças com hiperacusia, hipersensíveis ao som, há um
bombardeio sensorial e ruídos cotidianos comuns se tornam angustiantes e podem
desencadear ações inadequadas, causar frustração, impedir a aprendizagem e afetar a
capacidade de se concentrar (MOSTARDEIRO, 2019).
Sistema Tátil: Tal como acontece com a entrada auditiva, indivíduos com autismo podem
relatar serem hipersensíveis aos estímulos táteis, enquanto outros podem relatar ser
hipossensíveis aos estímulos táteis. (REEVES, 2012). Por exemplo, algumas crianças não
suportam andar com os pés descalços em carpetes, enquanto outras tem alta tolerância a dor
e não percebem a areia quente da praia (MOSTARDEIRO, 2019).
Sistema Olfativo: Embora os odores fortes possam ser desagradáveis para os indivíduos
neurotípicos, muitas crianças com TEA são particularmente sensíveis a uma variedade de
odores presentes no ambiente (CHERRY, 2012). Portanto, elas podem não tolerar certas
fragrâncias, o cheiro de couro em um estofado ou o cheiro da comida sendo preparada na
cozinha (HEBERT, 2003). Da mesma forma, elas podem não perceber certos cheiros que
indicam que alguma coisa está errada, como por exemplo, o cheiro de quando pisa no coco do
cachorro (MOSTARDEIRO, 2019).
Sistema Gustativo: Crianças com TEA podem exibir sistemas gustativos alterados,
hipersensíveis ou hipossensíveis. Estas crianças podem ter dificuldade de alimentação ou
comer coisas que não são alimentos (terra, grama, tecidos, etc.) (REEVES, 2012). Por exemplo,
algumas crianças se alimentam apenas com frango, mas, se tiverem a possibilidade, comem o
enchimento das almofadas (MOSTARDEIRO, 2019).
Ser feliz em um ambiente está relacionado com o que as pessoas são capazes de realizar
naquele lugar (PETERMANS; NUYTS, 2016). Com o autista não é diferente, o que difere é que a
maneira como a emoção acontece quando o ambiente não é pensado de forma a atender as
demandas do autismo, podendo fazer com que a realidade se torne extremamente confusa e
imprevisível (KINNAER; BAUMERS; HEYLIGHEN, 2014).
O autismo pode ser entendido como uma alteração de percepção entre o indivíduo e o
ambiente que o cerca, limitando, muitas vezes, o seu conhecimento do mundo. Há uma
confusão na recepção de informações e dos sentidos. Assim, para os autistas, o mundo
externo passa a ser repleto de ruídos, fortes odores e caos visual. Todos esses fatores causam
insegurança e instabilidade (ABRIL, 2020).
Luzes e Cores:
Forte incidência solar é um fator incômodo. Para solucioná-la, podem ser usados elementos de
barreira, como: persianas, pergolados e brises, deixando a luz mais difusa. Luz artificial em
demasia também incomoda, principalmente se for a luz branca. Recomenda-se uma
iluminação de temperatura mais suave. O ideal é que os pontos de luz possam ser controlados.
Por isso, pode ser interessante usar essas soluções:
Lembra-se que cores são intensidades luminosas. Por isso, deve haver cautela na aplicação
desses estímulos visuais, devendo ser evitadas cores de alta intensidade.
Formas e Texturas:
Formas primárias da geometria, como círculos, retângulos e triângulos são uma espécie de elo
universal que liga a consciência humana ao mundo externo, sendo elas facilmente
reconhecidas pelas crianças. Por esse motivo, o uso de enfeites deve ser moderado. Nada de
estímulos complexos na decoração, com desenhos que a criança não absorve com facilidade. A
preferência é por poucos tipos de materiais e mobiliários de formas simples.
Sons:
O cuidado com os sons abrange desde o uso do piso ao uso do trilho das janelas e portas.
Vale citar: pisos acústicos, janelas acústicas e telhas acústicas. O uso do forro é indispensável.
Atenção à vedação das portas e janelas.
Olfato:
Plantas, sobretudo em ambientes internos e jardins de inverno, devem possuir aroma suave ou
imperceptível. Vale citar o cuidado com materiais que exigem manutenção constante com
cheiros fortes, como o do verniz.
Setorização:
Os ambientes propícios para os autistas são aqueles setorizados por estímulo sensorial e não
genericamente por atividade. Por exemplo: a mesa onde são feitas as refeições (paladar) fica
em um setor e a de fazer as tarefas (visual) fica em outro. Outra solução é criar modos de
transição entre um estímulo e outro.
O Refúgio:
Uma dica de grande valor é: criar um miniambiente aconchegante no qual a criança possa fugir
dos estímulos sensoriais. É uma espécie de nicho ou cabana minimalista:
Formas simples
Um material só
Cores neutras
Barreira visual
Barreira acústica
Equilíbrio: