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Economia política II
Professor Vitor Calvete
2º turma 2º semestre 2021
Marisa Branco

(Manual - professor Manuel Porto)


Continuação do 1º semestre

Mercado de concorrência monopolista

AR - curva da procura
MC - custos marginais
ATC - custos médios
MR - receita marginal
MR sempre abaixo da linha do preço
Cada ponto da AR corresponde a um preço
Ponto B - diferença entre Custos médios e preço (A)
Na interseção entre Custos marginais com ponto em que ela cruza a Receita
Marginal temos o ponto em que se estabelece a quantidade ótima do monopólio - última
unidade que produz custa exatamente o mesmo que recebe pela sua venda.
Ponto resultante da projeção na curva da procura, da interseção entre Receita
Marginal e CM - ponto escolhido para produzir as quantidades Q - ponto A
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Como descobrir qual a zona elástica da curva da
procura e a zona rígida?
O ponto de elasticidade unitária tem a ver com a curva
da Receita Marginal:
A Receita marginal é positiva até chegar ao eixo
horizontal, quando intersecta o eixo horizontal torna-se
0.
Passamos para a zona rígida da procura quando a
receita marginal é negativa, ou seja, quando passa
abaixo do eixo horizontal
Diagrama inferior - ponto máximo de receitas do
monopolista coincide com o ponto em que receita
marginal = 0.
Receita total máxima - ponto em que a receita marginal
não sobe nem desce - quando a RM interseta o eixo
horizontal - projeta-se na procura e dá-nos a
elasticidade unitária.
Abaixo do eixo horizontal - componente de perda >
componente de ganho - RM negativa - entra-se na zona de elasticidade rígida.

Curva dos custos médios de longo


prazo - descem de uma situação de
concorrência perfeita para situação
de oligopólio, duopólio e monopólio.
O aumento da escala de produção, a
distribuição dos centros de produção
de forma a garantir o abastecimento
do mercado em condições ótimas,
faz-se através de um modelo central
que controle todas as variáveis -
otimização - não tem custos
adicionais quando atingem a escala
ótima de produção.
À medida que vai diminuindo o
número de agentes no mercado, tira-
se maior partido das economias de
escala - menos custos na realização
do objetivo de assegurar a maior
eficiência possível, daí a tendência
das grandes empresas comprarem
as mais pequenas.
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Em que medida é que os ganhos na eficiência produtiva são ou não compensados pelo
maior poder de mercado?

Comparação de Concorrência Perfeita (esquerda) e monopólio (direita):


Se houver uma grande vantagem da produção em escala de grandes dimensões -
a curva da oferta de monopólio fique abaixo da oferta de Concorrência Perfeita - se
assim for, o preço de monopólio, mesmo muito superior ao ponto de interseção entre
Custo Marginal e Receita Marginal é um preço muito inferior ao de Concorrência Perfeita
Não é verdade que a Concorrência Perfeita seja melhor que o monopólio - existem
situações em que monopólio é mais eficiente, problema é o poder que, do ponto de vista
social, deve ser regulado.
É possível que o monopólio consiga praticar preços mais baixos que Concorrência
Perfeita - diminuição adequada dos custos -> menor preço.
(Página 159 Manual)
Exemplos:
1. Transporte de contentores - super porta-contentores vs pequenas embarcações -
custos menores vs custos maiores;
2. NBA - é um monopólio (sempre as mesmas equipas) vs ligas de futebol - mercado de
concorrência - descidas e subidas de liga -> dá origem a que, desde 2000, tenha
havido 5 campeões na Alemanha, na Italia, na Espanha, 4 em Portugal; NBA - 9
campeões - maior diversidade de ganhadores — na NBA existe mais concorrência
como rivalidade, maior concorrência dinâmica do que a própria concorrência como
forma de mercado.
Concorrência como rivalidade - outras formas de mercado podem ser mais
concorrenciais do que o mercado de concorrência.
Concorrência dos clássicos - dinâmica; concorrência dos economistas mainstream -
formal, construção puramente teórica e, mesmo que existisse, não seria boa para a
economia.
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Concorrência monopolista
Forma intermédia entre monopólio e concorrência perfeita

Não há barreiras à entrada neste mercado - o volume de lucros (retângulo) =


quantidades vendida x P - cm -> haverá empresas a querer obter este lucro também.
O preço não é o único fator distintivo neste tipo de mercados.
Curva da procura é mais próxima da horizontal - maior elasticidade (cruzada) da
procura porque há alternativas, produtos com características diferentes, ao contrário do
monopólio.
Não haver barreiras à entrada no mercado, no caso de existirem os lucros
justificativos, atrai mais empresas para o mercado - Passa-se do diagrama da esquerda
para a direita.
Diagrama da direita - situação de equilíbrio - curva da procura baixou (AR), porque
apareceram outras empresas a atrair clientela; deslocou-se até se tornar tangente à curva
dos Custos Médios (AC). Continuamos a ter o ponto de equilíbrio Receita Marginal e
Custo marginal e com a coincidência entre custo medio e preço, não há lucros, deixa de
haver entradas e saídas no mercado.
Neste mercado, o ponto em que o preço = custo medio não é o ponto mínimo da
curva do custo médio, não atingimos os custos médios mínimos, porque cada empresa
se pudesse produzir mais podia diminuir os custos médios - não podem; tem que haver
diferenciação nos produtos - essa diferenciação tem custos.
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Oligopólio
Curva da procura que se quebra:
Mercado de oligopólio (vários a
vender, mas poucos e grandes) -
introduz considerações
estratégicas.
Nestes mercados, nenhum agente
económico pode fazer o que os
agentes que atuam em
Concorrência Perfeita ou
Concorrência monopolista
podem, tratar dos negócios sem
ter em conta os seus rivais - neste
mercado cada produtor tem de
ter em conta o comportamento
dos rivais - há poucos no
mercado, logo, o que os outros
fazem tem implicações no seu
negócio.

O oligopólio:
• Poder ser perfeito - produto é indistinto Ex: electricidade
• Pode ser imperfeito - produtos distintos Ex: cervejas
A distinção pode ser mais marcada ou menos marcada.
Análise do diagrama:
Preço P1; uma empresa de cerveja pensa em subir os preços do seu produto, tendo em
conta que os oligopolistas não enfrentam curva da procura normal - se subir o preço na
zona elástica perdia procura porque a subida de preço era menor que a perda de
quantidades vendidas, mas na zona rígida ganhava com isso; a empresa não pode
pensar em subir os preços sem pensar no que faz a outra empresa - se subir os preços
sem as outras subirem, a procura que lhe era dirigida pode ser desviada para os seus
rivais; se ela subir e os outros não acompanharem, pode haver elasticidade cruzada
elevada - arriscam-se muito a subir o preço - rivais podem manter ou ate descer os
preços.
Supondo que queriam descer o preço, teriam mais vendas desde que a curva
fosse elástica. Se tomasse essa iniciativa, as outras podiam fazer o mesmo, e a curva da
procura que lhe era dirigida pode se tornar rígida - pode não aumentar as vendas e o
preço ser mais baixo, porque os outros também baixaram os preços.
— se subirem os preços, arrisca-se a que outros não o façam- arrisca-se a procura muito
elástica;
— se descerem os preços e os outros também, arriscam-se a que a curva se torne rígida.
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A boa ideia neste mercada é não mexer os preços, porque qualquer descida ou
subida é um risco.
• O oligopólio leva a uma espécie de equilíbrio
Ninguém mexe os preços a não ser que combinem, mas isso é uma violação das
regras da concorrência.
Teoria dos jogos
Dilema do prisioneiro

2 prisioneiros
A polícia precisa de provas para obter uma condenação mais robusta.
Se nenhum deles assumir responsabilidade, só serão presos durante 1 ano -
opção do canto inferior direito.
Se ambos confessarem, vão os dois para a cadeia 10 anos - opção do canto
superior esquerdo.
Se um confessar e o outro não, o que confessa sai livre, o que não confessa
passa a vida na cadeia.
Jogo de incerteza, não cooperativo, a atuação do outro terá repercussões na vida
do outro.
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Estratégia dominada
Ambas sabiam que não havia mercado
para duas, se a Boing e a Airbus
desenvolvessem super aviões, o mercado
não conseguiria comportar as duas
empresas.
Se P P, ambas perdem (-5) (-5)
Se DP DP - nenhuma teria nenhuma
vantagem nem desvantagem
Se DP P ou P DP - uma fica com 0 e outra
fica com 100
Com esta matriz de pagamentos, cada estratégia se diz dominada, a melhor
opção da Airbus no caso da boing entrar é não entrar - ela quer saber o que a outra quer
fazer e vice-versa
A estratégias dependem uma da outra, logo são estratégias dominadas, será
melhor cooperar
Estratégia dominante

Houve um subsídio atribuído à Airbus e graças a esse subsídio, caso a boing não
entrasse essa ganhava o subsidio mais os 100.
Se ambas entrassem, a boing perderia e a Airbus ainda teria o subsidio.
A melhor opção possível da Airbus foi produzir o avião - estratégia dominante
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Aula 15/03/2021
Nota: Ao longo da evolução das formas de mercado, foram-se desenvolvendo
técnicas para evitar a interação cooperativa que poderiam por em causa as regras de
concorrência no mercado, prejudicando empresas mais limitadas - normas de defesa da
concorrência.
Macroeconomia
Distinção entre micro e macroeconomia:
- Tamanho dos agregados;
- Preocupação essencial de cada uma das áreas da economia :
- Microeconomia: preocupação com a afetação dos recursos - olhar para o mercado
na lógica da otimização;
- Macroeconomia:
Capitulo 6 - Intervenção do Estado na Economia
No estado liberal a lógica era de resguardar o mercado das intervenções, que se
consideravam política, do Estado. Acreditava-se que por força de um mecanismo da
“mão invisível” (expressão de Adam Smith - se cada um for livre para prosseguir o seu
interesse, isso permite realizar o bem estar de todos - de alguma forma, o criador do
universo tinha criado este de forma tao perfeita, que cada um ao pretender obter o
melhor para si, acaba por realizar o melhor para todos - todos os desvios ao interesse
egoísta seria um desvio aos interesses económicos), deixar os agentes económicos fazer
o melhor para eles era o melhor para assegurar o bem coletivo.
A concorrência para Adam Smith era um mecanismo disciplinado dos interesses
egoístas dos agentes económicos - se o agente não fizer o melhor possível, teria
consequência negativas.
Assim, o Estado liberal, informado por esta economia clássica, abstém-se de
interferir na esfera económica.
Isto muda no fim do século XIX:
Criou mecanismos de amparo para as classes trabalhadoras:
- Formas de segurança social - assegurava algum acesso a apoios das pessoas em
situações de carência
Esta ideia do Estado social vem a ganhar mais importância depois da 2ª GM e a
sua ação volta-se para 3 principais funções:
• Locação de recursos: O Estado procura fazer a afetação dos recursos escassos:
funções de orientar os recursos escassos no sentido de desenvolver certas áreas
económicas e parar outras, no sentido da justiça social.
• Redistribuição do rendimento: Permitir uma distribuição satisfatória do ponto de vista
social: o mercado tende a privilegiar uma faixa com maior riqueza.
• Estabilização: Descobriu-se que em certas situações só a intervenção estabilizadora d
Estado consegue por termo a situações de instabilidade económica, tende a servir
ciclos de expansão e de retração e considera-se que a intervenção do Estado, no
sentido de aplainar essas oscilações é função do Estado.
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Lógica do Estado Liberal Lógica do Estado Social

Entidades reguladoras
Estamos, hoje em dia, a passar do Estado Social para o Estado regulador: fazer
intervir o Estado no seu papel de criador de regras, que cria parâmetros de intervenção
para que o mercado possa funcionar da melhor forma possível - é a ideia de que o
Estado pode recuar um passo, deixar de intervir na produção de bens, no assegurar de
prestações, desde que criando as condições para o bom funcionamento do mercado -
há quem entenda que é possível que se obtenha resultados melhores desta forma.
Assiste-se, na Europa, a esta lógica de retrocesso do Estado desde os anos 80 -
ideia de que o papel do Estado não é na economia e criaram-se entidades reguladoras
independentes: estão a salvo da intervenção hierárquica da administração pública, têm
autonomia e há uma série de requisitos que blindam essas entidades da intervenção
estadual. Ex: ANACOM.
Estas entidades reguladoras, que nascem no início deste século, visam transferir
para o domínio da regulação técnica matérias que antes estavam sujeitas a uma
intervenção política.
Para termos um regulador temos de ter o poder normativo, adjudicativo e
executivo concentradas numa entidade: Na estrutura típica do Estado temos um
sistema de checks and balance, separação dos poderes para que estes se controlem uns
aos outros. O que há de característico na atividade das entidades reguladoras é que elas
concentram estes poderes: poderes normativos por parte das entidades reguladoras,
poderes adjudicativos de aplicação das sanções decorrentes do incumprimento das
normas, sejam do Estado ou do regulador, e atividade executiva (inspeções, ações de
supervisão…)
A intervenção dos reguladores concentra-se nos domínios onde o número de
agentes económicos é reduzido. Exemplo: recolha de resíduos, águas,
telecomunicações, transportes… - o numero de agentes económicos é muito limitado, há
poucos agentes económicos sujeitos à sua intervenção.
Lei quadro nº67/2013 - fornece enquadramento genérico para as entidades reguladoras.
As únicas entidades administrativas independentes com função de regulação que
ficaram fora da identificação da lei 67 foi o banco de Portugal e a entidade reguladora da
comunicação social, porque tem previsão constitucional, entendeu-se que podia
dispensar a recondução a este modelo comum.
A atividade dos reguladores não é, necessariamente, permanente.
No entanto, a ideia da regulação independente começou a ser vista com menos
entusiasmo, porque se percebeu que estas entidades reguladoras muito especializadas
ficaram sujeitas à captura de interesses específicos. As entidades em vez de estarem ao
serviço do interesse nacional, desligadas dos interesses partidários, estavam ao serviço
das entidades reguladas.
(Sistema da porta giratória: Entidades reguladas fornecerem quadros à entidade
reguladora e depois a entidade reguladora fornecerem quadros às reguladas.)
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Autoridade de defesa da Concorrência


A autoridade da concorrência não determina preços, não cria normas para os
agentes económicos cumprirem (não têm poder normativo).
As autoridades da defesa da concorrência têm uma intervenção transversal a
toda a economia e estas atuam expost.
A lógica da intervenção desta autoridade é a de salvaguardar o funcionamento de
mecanismos descentralizados, ao contrário das entidades reguladoras, não fixam, nem
impedem a entrada de agentes no mercado.
Há um domínio em que esta autoridade tem um domínio regulador: Operações
de concentração de empresas - para que a redução do número de intervenientes do lado
da oferta, num determinado mercado, não gere soluções monopolistas, sujeita-se à
autorização da autoridade de defesa da concorrência - faz-se intervir estas autoridades
se essa operação de concentração tiver uma grande dimensão e se não forem limitados
a um determinado país.
Ou seja, há uma entidade que não tem funções de regulação, existe para
sancionar desvios ao cumprimento das normas, mas, nesta matéria, opera segundo uma
lógica ex ante e aproxima-se de um modelo de direção centralizada.
A autoridade de defesa da concorrência é superficialmente designada como uma
atividade reguladora, apesar de a atividade reguladora ser bastante diferente da atividade
da autoridade de defesa da concorrência.
2 situações de infração que a legislação de defesa de concorrência pune:
• Realização de acordos decisões, de associações de empresas e de ação concertada:
- Ganging up - o acordo entre empresas com fins anti-concorrenciais faz com
que deixe de existir rivalidade no mercado e passe a ter-se concertação: Ex:
interfere com a determinação dos preços no mercado, reserva-se certas áreas
para uma das empresas, repartição de mercado…
Estes acordos estão previstas e punidos no artigo 101º TFUE e artigo 9º RJC.
- Nos mesmos artigos, estão proibidas as práticas concertadas.
- No entanto, na prática, se se chegar à conclusão de que agiram sem ser por
razões de paralelismo inteligente, não lhes é imputada uma prática de ação
concertada.
- Decisão de associação de empresas- em vez de atuarem individualmente, as
empresas estabelecem uma associação - a decisão é tomada por uma instância
em que todos participam, que evita que depois haja acordo de fixação de preços -
a associação toma a decisão e depois comunica aos associados.
• Abuso de posição dominante:
- Há uma desproporção de poder tal, que permite que uma das empresas, nas
relações com as outras, explore a situação de vulnerabilidade das outras - uma
das partes abusa de posição dominante:
- Abusos de exploração - Ex: exigência de condições desproporcionais
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- Abusos de exclusão Ex: atuação concertada para evitar que um
concorrente entre no mercado.
Incorre-se em violação do artigo 102º TFUE e do artigo 11º do regime da concorrência
de Portugal, da lei 19 de 2012.
Nota: A lógica de funcionamento do mercado, especialmente o de concorrência intensa,
exige que se opere uma vigilância dos preços dos rivais - a autoridade da defesa da
concorrência entendeu que isto servia para uniformizar os preços.
Concentrações de empresas
O regime de controle da concentração de empresas é um aditamento posterior à
criação do regime regras das infrações às leis do mercado.
Exemplo: A Standard Oil cresceu bastante através da aquisição de empresas rivais e, em
1914, com o Clayton Act, para prevenir a monopolização, foi introduzida uma proibição
comprar empresas em situações como esta. No entanto, não teve o efeito pretendido,
arranjou-se uma forma de ultrapassar o obstáculo - em vez de se vender a empresa,
venderam-se os ativos das empresas.
Só em 1950, nos EUA, com o Clayton Act, é que os mecanismos de controle de
operações de concentração começaram a ter efetividade - passa a haver um controle
efetivo.
Aparece, em 1951, com a CECA, na Europa:
- Havia disposições sobre controle de operações de concentração, porque a
grande preocupação da CECA era controlar o poder económico Alemão - a Alemanha, no
2º pós guerra, tinha entre 70 a 80% da capacidade produtiva intacta e tinha empresas
gigantes. O objetivo da CECA era por em conjunto e permitir o controle de todo sobre o
carvão e o aço e, também, controlar a expansão destas atividades na Alemanha.
- A preocupação do controle das concentrações era uma preocupação francesa,
porque tinham tentado convencer os americanos e ingleses a desconcentrarem a
industria alemã, para que o setor francês pudesse competir em igualdade com as
industrias alemãs do aço e do carvão. Cada um dos aliados, na sua zona de ocupação,
fragmentou o setor siderúrgico e do carvão.

A criação da CECA aparece por proposta francesa e tinha como objetivo fundamental
garantir o desenvolvimento da indústria francesa, sem a concorrência da Alemanha. A
moeda de troca da criação da CECA foi a fragmentação da indústria Alemã.
EUA: queriam o desenvolvimento da europa
França: queriam desenvolver a sua indústria
Os americanos, com o apoio dos ingleses, desafiaram os franceses a propor uma
solução - mecanismo de superação do problema da concentração de empresas.
Jean Monnet aparece com o projeto da CECA e acaba por persuadir os
americanos, ao introduzir normas de defesa da concorrência no próprio tratado fundador,
como resposta às preocupações americanas - proibição de acordos, prática concertada,
associações de empresa e abuso de posição dominante - Permite desenvolvimento da
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Alemanha, mas sem que esta seja uma ameaça à paz e ao desenvolvimento da indústria
francesa - divide a indústria Alemã e concentra a Francesa (disfarçando de interesses
comunitários, aqueles que eram os interesses franceses).
1957, com a CEE - europeus percebem a necessidade de junção e associação de
empresas para enfrentar a concorrência das multinacionais americanas, então, no tratado
de Roma, não constam normas de proibição de concentração de empresas.
Aula dia 22/03
Outros 2 institutos/ infrações que podem ser cometidas quanto às regras da
concorrência:
1. Abuso de dependência económica
Introduzido, em 1973, na Alemanha, para proteger a produção da força negocial
crescente das cadeias de distribuição.
Imagine-se uma rede de uma entidade comum com grandes superfícies de venda
ao longo de um país ou em diversos países. Isto dá-lhe economias de escala e um
grande poder negocial, em comparação com agentes económicos mais pequenos e
frágeis - Esta assimetria no poder dos intervenientes no mercado leva a que seja criada a
instituição do abuso de dependência económica.
- Situações em que, sem haver perturbação do funcionamento do mercado, alguns
agentes económicos de grande poder podiam exercer poder para extrair condições junto
de fornecedores mais pequenos e criarem uma situação de exploração.
Este instituto funciona fora do quadro do funcionamento do mercado de
concorrência.
Em Portugal, na segunda lei de defesa da concorrência, de 1993, introduziu-se a
figura do abuso de dependência económica. Na altura, havia uma dependência do
ministério da Economia e do Conselho da Concorrência, conselho onde se decidia os
casos remetidos pela direção gral do ministério - os membros do conselho entendiam
que a sua missão era zelar pela concorrência dos mercados, logo, não estavam
disponíveis para aplicar uma lei fora desta lógica. Assim, entenderam que:
- Quando o abuso de dependência acontecesse numa relação bilateral, não se
atingia o limiar para aplicação dessas normas.
Isto veio a ser introduzido no texto da legislação da concorrência, em 2003, onde
o legislador esclarece que tem de haver lesão de funcionamento do mercado para se
aplicar o instituto do abuso da dependência económica.
Se houvesse perturbação no funcionamento do mercado, teríamos razão para
aplicar este instituto, caso contrário, não.
Não existe esta figura a nível da União Europeia, o abuso da posição dominante
era entendida como suficiente. É uma situação de incompreensão do que era o abuso de
dependência económica - este serve para proteção dos mais frágeis, o que está em
causa é uma certa equidade na relação comercial entre agentes económicos, que deve,
eventualmente, ser defendido pelo Estado.
O abuso da dependência económica aproxima-se mais da lógica da concorrência
desleal do que defesa da concorrência, a não ser que se introduza na cláusula da
dependência económica um requisito a dizer que só se aplica este em casos que lesem o
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funcionamento do mercado- esta situação neutraliza a intenção original do legislador
alemão (e depois do francês), que era proteger a parte mais fraca numa negociação
comercial.
Conclusão:
Temos um instituto na nossa lei que parece replicar o abuso de posição
dominante, uma vez sujeita à condicionante de só ser aplicado quando exista
suscetibilidade de perturbar o funcionamento do mercado. A intenção não era essa, mas
foi a evolução da legislação.
2. Controle das ajudas de Estado
- Este tem previsão na legislação nacional e europeia.
- Existe uma diferença em relação ao regime norte americano - Não existe controle das
ajudas de Estado nos EUA.
Este serve para evitar que haja concorrência entre as entidades que atribuem
essas ajudas de Estado - Artigos 108º e 109º, no TFUE, que servem para travar a
concorrência entre Estados, a propósito da atração de atividade económica - Regras
inseridas naquilo que é a area da defesa da concorrência que tem a característica
especial para evita concorrência entre Estados, na lógica do fair-play
Os negociadores do tratado de Roma, fundador da CEE, recearam que os
Estados distorcessem o mercado através dos auxílios a empresas, sobretudo através da
atração a novos investimentos.
- Nesta altura, há uma competição feroz para atrair a fábrica da Volkswagen. O governo
português está na corrida, juntamente com o espanhol, e caso tenha êxito, retira esse
investimento a Espanha. No fundo, vai conseguir atrair a fábrica, aquele país que der
melhores condições, oferecendo contrapartidas:
- Isenções fiscais, subsídios de desenvolvimento…
Tudo isto transforma-se em auxílios de estado que têm de ser sindicados a
Bruxelas.
Já nos EUA, isto não existe, na verdade, o facto de o Kentucky, por exemplo, se
desenvolver mais à custa de outros Estados não faz diferença, porque no fundo é o
mesmo país. O mesmo não se passa na Europa:
Para evitar que os governos transfiram dos recursos do Estado valores
inaceitáveis para as empresas individuais, há um processo de controle das ajudas de
Estado - temos limites àquilo que podem ser as ajudas disponibilizadas por cada país.
Tivemos um precedente com a fábrica da Autoeuropa: Na altura em que se atraiu
o investimento, houve uma sindicância das ajudas - em grande medida, por razões que
não eram estritamente de mercado, por solidariedade para ajudar o desenvolvimento do
país, foi considerado que os auxílios concedidos à Autoeuropa foram justificados. No
entanto, com as transformações que o direito da concorrência Europeia sofreu, com a
neutralização de vetores políticos nesta lógica, esta situação teria sido impossível e,
provavelmente, teríamos perdido a Autoeuropa.
Assim, este controlo das ajudas do Estado traz benefícios e desvantagens:
- Por um lado, o controle das ajudas de Estado evita uma concorrência entre Estados
e que se transfira recursos públicos para as mãos privadas;
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- Por outro lado, cria uma tendência de manter um padrão de especialização prévio -
se os Estados mais atrasados não derem mais benefícios, os investimentos vão
parar sempre aos países mais avançados, resultado numa desigualdade: -
Permanência dos padrões de vantagem pré-existentes - alguns países permanecem
incapazes de atrair novos investimentos.

Aula 23/03
Práticas individuais restritivas do comércio
- Diploma sobre o regime aplicável às praticas individuais restritivas do comércio -
decreto-lei nº 166 de 2013 de 27 de setembro - transfere-se a competência para os
processos de contra-ordenação da autoridade da concorrência para a autoridade de
segurança alimentar e atividade económica, uma vez que este regime pretende proteger
diretamente os agentes económicos e garantir a transparência nas relações comerciais,
sempre que não esteja em causa uma afetação sensível da concorrência.
Até este diploma, era a autoridade de defesa da concorrência que zelava pelo
cumprimento da legislação, que pretende proteger os agentes económicos. A
intencionalidade deste diploma é semelhante aquilo que seria, na sua génese, a do
abuso de dependência económica.
Ex.:Proibição das vendas com prejuízo e praticas negociais abusivas
Durante muito tempo, a autoridade da concorrência esteve obrigada, por um
lado, a defender o funcionamento do mercado e, por outro lado, a defender os agentes
económicos do funcionamento do mercado.
Exemplo:
A situação mais marcante desta “esquizofrenia” que era própria da atuação da
autoridade da concorrência, por imposição legal, é, talvez, a atuação do pingo doce no
1º de Maio, em que se vendeu os bens das lojas a 50% de desconto. Isto fez com que a
autoridade da concorrência fosse aplicar o regime das práticas individuais restritivas do
comércio, de forma a penalizar aquela atuação do pingo doce, que tinha sido uma
atuação extremamente concorrencial.
Direito da concorrência
Nascimento do direito da concorrência
- Sherman Act, aprovado em 1890, nos EUA - não é a 1ª legislação de defesa da
concorrência do ponto de vista histórico factual, em 1889, no Canadá, foi aprovado o
Combines Act. No entanto, este foi aprovado num conjunto de legislação norte-
americana anterior:
Na altura,(em 1890) dos 13 estados que constituíam os EUA, 6 tinham legislação
anti-trust. Eram Estados, maioritariamente, na Baía do Mississipi, eram Estados agrários,
onde a preocupação essencial que levou à aprovação dessas normas anti-trust era a
defesa dos pequenos produtores do poder das grandes empresas ( sobretudo das
empresas que exploravam matadouros à escala industrial e depois distribuíam a carne
embalada, embalada graças a uma rede de distribuição de vagões frigoríficos - são as
inovações tecnológicas da época que alteram completamente o panorama de
funcionamento do mercado, que é um mercado muito importante para os rancheiros
americanos, porque estes produziam as suas rezes e depois levavam-nas até ao centro
urbano perto, onde as manadas eram abatidas e transformadas em carne e distribuídas,
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num espaço geográfico limitado. A introdução de mecanismos de refrigeração e aumento
da aérea da rede de distribuição veio a concentrar a industria de transformação da carne
em Chicago e aquela movimentações e gado para pequenos matadouros deixaram de
ser economicamente rentáveis.
Soma-se a isto, o facto de que na época estava a assistir-se à primeira grande
depressão das economias capitalistas, que tinha feito com que os preços dos produtos
caíssem de fora contínua e sustentada. O índice de preços que, em 1870, era 135, em
1880, era 100 e era 82, em 1890. Assim, verificou-se uma redução dos preços muito
significativa
É a 1ª crise que afeta de uma maneira generalizada as economias capitalistas da
época e enquadra-se num contexto que prova a queda de preços, por causa das novas
inovações tecnológicas e do aumento de dimensão das empresas.
As preocupações dos Estados na da Baía do Mississipi, que levaram à
aprovação das primeiras legislações anti-trust, eram legislações de carácter
protecionista, pretendiam proteger os mais débeis da concorrência esmagadora que era
feita pelos trusts (todas as grandes empresas (de forma simplificada))
O trust foi uma invenção de um dos advogados da Standard Oil, que criou um
mecanismo que atraía outras empresas, fazendo a empresa crescer até atingir grandes
dimensões: os títulos representativos do capital das empresas pertencem a alguém e se
esse alguém se quiser associar a outros iguais detentores de ações de outras empresas,
podem transferir asasses de todos para uma comissão que se vai encarregar de gerir a
atividade de todas as empresas, através de um centro unificado de poder.
Em vez de haver aquisições de empresas, aquilo que este advogado inventou foi
isto: havia uma empresa forte e reconhecida como eficiente, que eventualmente teria que
empatar capitais elevados se quisesse adquirir outras empresas do ramo, mas em vez
disto, podia convidá-las para serem sociais, aliciava-as a participar na sua atividade
empresarial como associados,
beneficiando da condução dos
negócios por quem era mais
eficiente - A Standard Oil cresce
através da atração de outras
empresas que estão no mesmo
negócio, tornando-se
monstruosas.
Representação da época da
Standard Oil

Standard Oil representada como


um gigante polvo que tem, num
dos seus tentáculos, o Capitólio e
outro dirige-se para a Casa Branca. Era a convicção da época de que no Senado, quem
mandava era os trusts.
Do outro lado, encontra-se o Parlamento, também controlado pelo polvo.
Esta ideia de que os trusts eram a ameaça para os outros agentes económicos é
que levou à aprovação das leis anti-trust dos Estados. Na época, sentia-se que as
grandes empresas gigantes tinham demasiado poder e eram elas as responsáveis pela
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redução dos preços que afetava os outros agentes económicos que actuavam do lado da
produção. Em certa medida isto é verdade, o índice dos preços caiu, mas acontece que
a queda dos preços, nas áreas da economia controlada por trusts, ainda era superior:
- No que diz respeito ao petróleo e produtos derivados dele, na altura utilizados
para iluminação, aquecimento, etc, refinados pela standard oil, os preços caíram
61% até 1890.
Os trusts eram responsabilizados pela descida dos preços, o que era, em parte,
verdade, uma vez que os trusts conseguiam fazer descer os preços mais do que as
outras indústrias, mas, no contexto da época, todos os preços estavam a descer.
( Para evitar fenómenos de deflação justifica-se intervenções corretivas do Estado, que
na altura não existiam ainda, estas são introduzidas por Keynes. )
Assim:
Causa da queda dos preços:
- Desenvolvimento tecnológico, aumento dos mercados, qua antes eram
compartimentados, porque não havia forma de movimentar os bens de forma alargada
e, por isso, os mercados eram mais fechados.
- Depois, com o desenvolvimento dos transportes, os mercados alargam-se e, a isto,
junta-se o desenvolvimento nos processos de transformação do aço, que vem
substituir o ferro.
O anti-trust nasce para travar o poder dos grandes:
A partir dos anos 80 foi recriada a história do anti trust para defender interesses
específicos, o que criou vários mitos, sendo um deles que os trusts oprimiam os
consumidores, fazendo com que estes pagassem mais pelos produtos, o que é falso - os
preços estavam a cair e nos trusts caiam ainda mais.
Ao mesmo tempo que o preços caía, a produção aumentou exponencialmente.
Nos anos 80, o PIB cresceu 24%, a economia cresceu um quarto do seu potencial prévio
e nos setores sujeitos a trust nos EUA, a produção aumentou 175%. Face ao
crescimento de 24% do PIB, a performance dos trust é avassaladora.
- Temos uma situação em que a economia está a mudar profundamente; a
concorrência da altura é considerada “cut throat competition”, onde os mais pequenos
eram esmagados, devido ao poder avassalador dos trust, logo, era normal que os
representantes dos Estados tivessem simpatia pela generalidade dos pequenos e médios
produtores.
À escala estadual, 6 dos 13 dotaram-se de legislação anti-trust e alguma dessa
legislação proibia os acordos entre agentes económicos para a descida de preços.
17
Contexto político
Se é verdade que os Estados reagiam na proteção dos seus interesses locais
(interesses dos produtores), a nível federal, quem chegava aos órgãos de representação
era quem tinha poder para o efeito.
Representação, de 1887, do Senado do futuro
Nos lugares dos senadores estão sacos de
moedas, que representavam as empresas.
O empresário individual tinha dignidade
humana, era respeitado, já as sociedades eram
entes despersonalizados, que se associavam
com base no dinheiro, eram sacos de moedas.
Senadores enfiados dentro de sacos de
moedas: Seria a antevisão do caminho do
Senado norte americano

Representação de 1890, ano em que o


Sherman act foi aprovado no senado.
O senador Sherman foi o propositor desta
legislação, mas acabou por ficar desanimado
com o que o Senado fez com a sua iniciativa e
recusar a paternidade do ato, que mesmo
assim, acabou por ficar associado a ele. O
Sherman Act resulta da transformação da
proposta do senador Sherman, num outro
texto, da responsabilidade de outro senador.
Os Senadores, na altura, não eram eleitos,
eram escolhidos pelas Assembleias
Representativas dos Estados e quem ia para o
Senado era quem comprava lugar. Este cartoon
mostra um indivíduo a pagar 1 milho de dollars,
para garantir lugar no Senado.
Quem teria o dinheiro para ir para o senado
seriam os homens de confiança dos
milionários, que depois cuidariam dos seus
interesses.
18
Representação de 1889
Mostra os trusts a dominarem o
senado norte americano.
Em cima encontra-se uma porta
fechada - a entrada do povo no
Senado estava fechada.
Do lado direito - discurso de Lincoln
- Senado dos monopolistas, pelos
monopolistas, para os
monopolistas.
Na altura, o Senado era controlado pelos super poderes económicos da época e,
isso, devia ter tornado implausível a história de que o Sherman Act era uma verdadeira lei
anti-trust, isto não poderia acontecer, uma vez que quem mandava no senado eram os
trusts, e o que estes queriam era evitar que os Estados aprovassem leis anti-trust.
Em 1890, são aprovados 3 diplomas de grande importância:
- Sherman Silver Act: previa que o Estado adquirisse uma certa quantidade de prata
para permitir a circulação de moedas de prata - importante para os Estados
produtores de prata.
- Sherman Act: Anti-trust
- Pauta aduaneira McKinley: Aumenta de forma extraordinária os direitos de importação
norte-americanos - legislação protecionista, com o intuito de acabar com a
concorrência, sobretudo a concorrência inglesa. Os trusts são dos principais
interessados nisto.
- Ideia de que o mesmo Congresso, controlado pelos trusts, que teria como
principal preocupação o consumidor , aprova a pauta aduaneira que só pode prejudicar
os consumidores.
Em 1897 e 1898, o supremo tribunal faz uma interpretação literal da norma que
proibia acordos entre empresas e põe em causa acordos entre empresas ferroviárias. As
empresas faziam acordos entre si para se repartir custos de transporte, entre outros. Por
força desta proibição, que a partir de então se começa a pensar ser uma proibição séria
de acordos entre empresas, qual é a resposta das empresas? Criarem super corporações
- super trusts: passa a existir uma empresa que absorve as outras, tornando se uma
empresa única.
A lei anti-trust serve como justificação para convencer os industriais da época
que se se mantivessem independentes ou se fizessem formas de cooperação soft,
arriscavam-se a sr sancionados pela lei anti-trust. Já se construíssem uma empresa
única, então isso já estaria conforme a legislação do estado, e assiste-se a uma vaga de
fusões e concentrações, as empresas ganham uma dimensão fantástica para a época.
De seguida, McKinley indica como vice-presidente Theodore Roosevelt, um
homem muito ciente e afirmativo no que diz respeito à utilização do poder que tinha.
McKinley morre assassinado e, de repente, Theodore Roosevelt torna-se
presidente dos EUA e este não gostava de ter um governo federal com menos
funcionários que os trusts, sendo que esses movimentavam, ainda, mais dinheiro que o
governo e achavam poder fazer aquilo que lhes aprouvesse.
19
Roosevelt montado no polvo, que identifica os
trust, a discipliná-lo.
Roosevelt queria controlar os trust através do
Estado, tentou fazer aprovar legislação que desse
ao governo controlo destes, mas não conseguiu.
Acabou por recorrer ao Sherman Act:
Em 1904, utilizou o Sherman Act para barrar
uma fusão de empresa, utilizando a sua influência
no Supremo tribunal.
Assim, o Sherman Act passa não so a proibir
acordos, mas também fusões. Embora tenha
permitido ao poder político reganhar algum poder
sobre o poder económico, isto configura um
problema.

Roosevelt não estava, aqui, a defender o mercado, mas sim a supremacia do


poder político sobre o mesmo.
O sucessor de Roosevelt, William Howard Taft (1908-1912), veio a ser um adepto
da política de nomeações para o Supremo Tribunal e dá seguimento a estas políticas de
levar os trusts aos tribunal.
Taft vem a incompatibilizar-se com Roosevelt, e este decide voltar a candidatar-
se à presidência. Na altura, em 1911, tenta ser nomeado candidato pelo Partido
Republicano, mas Taft era o indigitado candidato.
Portanto, temos um candidato presidencial que é o presidente em exercício, Taft, temos
Roosevelt, que cria um partido novo para se candidatar e temos Woodrow Wilson, como
candidato democrático.
As franjas republicanas ficam divididas e Wilson acaba por ser eleito.
20
Aqui vemos Wilson, a fazer o mesmo que
os antecessores, a disciplinar os trusts
através da régua.
Wilson é responsável pelo Cleyton Act
(1914), aqui está as primeiras previsões para
o controle da concentração de empresas.
Ao mesmo tempo que este foi aprovado, é
aprovado o Federal Trade Commission Act,
a legislação que cria a 2ª entidade de defesa
da concorrência norte-americana, que tanto
tem competência em matérias de defesa da
concorrência, como de proibição e sanção
de comportamentos de concorrência
desleal.

A Grande Depressão
O direito da concorrência norte-americana vai tendo fases de maior expansão,
outras menos, e vamos chegar à altura da Grande Depressão, a crise de 1929-1933.
Os EUA é o país que mais tarda a recuperar.
Seguem-se as experiências de controle da economia através de mecanismos de
direção central, levadas a cabo por Franklin Roosevelt.
Em 1938, nomeia para segundo nome da cadeia de comando da justiça norte
americana, responsável pela anti-trust division, Thurman Arnold.
Este vai transformar o anti-trust num espetáculo, faz apreensões de grande
aparato, prende pessoas, põe as pessoas das empresas nas ruas de NY a desfilar em
algemas a caminho do tribunal)…) Os dirigentes das empresas passam a estar receosos
e isto terá repercussões na economia - se as pessoas que controlam as empresas têm
medo de ser presas a qualquer momento, estarão mais reticentes a fazer investimentos
ou outra coisa que possa animar a economia.
Assim, com a chegada de Thurman Arnold, o anti-trust passa a ser percebido
como poderoso instrumento do poder.
Existe, no entanto, o problema da guerra:
Numa economia em guerra, não se pode estar a prender os responsáveis pelas
maiores empresas, essenciais ao esforço de guerra. De maneira que, Thurman Arnold
acabou por ser dispensado por Roosevelt e passou a juiz federal, afastado da anti-trust
division.
As coisas chegaram a um ponto em que, em 1945, se deu um caso célebre, o
caso Alcoa:
- O juiz Learned Hand decide, no caso Alcoa, que uma empresa que é tão mais
eficiente que as demais, está a violar as leis da concorrência, ou seja, no fundo, foi
punida por ser mais eficiente que as outras - impedia a concorrência por ser
excessivamente eficiente.
21
Iniciou-se a lógica de “big is bad”
- Ideia de que para que o mercado funcione é necessário que haja múltiplas
empresas e, para tal, é necessário evitar que haja uma empresa que esmague as outras,
por causa da assimetria do poder e da eficiência.
O anti-trust tornou-se algo que punia a eficiência, aqueles que, no mercado, conseguiam
funcionar da melhor forma.
( Esta fase populista do anti-trust americano tem alguma irracionalidade, irracionalidade
essa que não foi levada a sério até 1978, altura em que Robert Bork aparece.)
Exportação do anti-trust
No fim da 2ª Guerra Mundial, os EUA estavam interessados em que os outros
países adotem no seu direito interno normas de proteção da concorrência e que estas
impeçam as associações de empresas e fusões e aquisições que resultem numa grande
dimensão das empresas.
Na Europa, essa tentativa de convencimento americana não tem grande sucesso.
Os americanos tiveram sucesso nos países onde possuíam mais influência, como
no Japão, por exemplo, onde é aprovada uma legislação de defesa da concorrência, que
também tinha intenções de dissolver umas formas de organização empresarial em que
uma empresa chave tinha atuações e controle de empresas nos mais diversos ramos de
atividade, existentes no Japão.
( No Japão, a legislação que surge é, simultaneamente, de defesa da concorrência,
como da defesa da concorrência leal. )
Tentam ainda que os alemães se dotem de uma lei de defesa da concorrência, o
que não corre bem.
Em 1951, isto acaba de ter sucesso na formação da CECA, que foi a 1ª
consagração do mecanismo de controle de concentrações de empresas na Europa, o
que se encontrava na lógica de defesa da concorrência — Para os americanos, a criação
da CECA era inconcebível porque, uma fusão das capacidades produtivas dos países
fundadores da mesma poderia por em causa os interesses norte americanos, viam na
Comunidade a criação de um super Cartel.
Assim, para apaziguar os receios norte americanos, Jean Monet criou normas de
defesa da concorrência e integrá-las no texto da CECA— normas de proibição de abuso
da posição dominante e proibição de acordos, práticas concertadas e decisões de
associação de empresas. (já referido em cima)
Em 1957, no tratado de Roma, o tratado da CEE, as disposições sobre controle
de concentração de empresas desapareceram, mas ficou a proibição de acordos,
práticas concertadas e decisões de associações de empresas e proibição de abuso da
posição dominante.
É também em 1957, que é aprovada a lei de defesa da concorrência na
Alemanha, uma vez que é neste ano que os outros países, no âmbito da CEE, passam a
ficar sujeitos a regras que são idênticas às regras da lei da concorrência.
Assim, a exportação da legislação anti-trust norte americano vem a ser bem
sucedida, mas com um atraso considerável.
22
Caso da empresa ATT
American telephone and telegraph - Empresa com uma enorme escala,
monopolista
Em 1974, o Department of Justice intenta uma ação contra a ATT para a
desmembrar, o mesmo que tinha feito, em 1969, a IBN, a empresa pioneira na criação
dos super computadores. Estas sofrem um processo de dissolução por parte da anti-
trust division — lógica de Big is bad que está a dirigir os esforços dos poderes estaduais
encarregues de defesa dos mercados.
Estes dois processos vêm em a ser encerrados, ambos, em 1982: No caso da
ATT, esta acaba por se dividir em 7 empresas, as Baby Bells.
Robert Bork
Nesta altura, em 1978, é publicado o livro “anti-trust paradox” de Robert Bork, o
homem que mudou radicalmente o anti-trust e que criou o mito de que o anti-trust
nasceu como intencionado à defesa dos consumidores, nos EUA.
Robert Bork não foi nomeado para o Supremo Tribunal, devido a:
Escândalo Watergate
O comité de reeleição do presidente Nixon decidiu fazer espionagem política no
partido democrata e invadiram a sede do partido democrático, invadindo o complexo
Watergate. Acabam por ser apanhados na 2ª incursão e, depois, descobre-se que o
dinheiro que o grupo tinha, era proveniente da campanha presidencial do Nixon.
As coisas levam à nomeação de um procurador especial para investigar e as
investigações começam a trazer acima coisas comprometedoras.
Nixon quis substituir o procurador, mas as coisas não correram bem — este dá
ordem ao ministro da justiça para que o procurador seja substituído, ao que este recusa
e demite-se. O novo ministro faz o mesmo.
De seguida, na falta de ministro para o fazer, a função passa para o grau
seguinte, o Robert Bork, que na altura despede o procurador.
Esta sucessão de 3 demissões tornou Robert Bork diretamente responsável por
uma página não particularmente brilhante da história norte americana. Assim, quando
Robert Bork é nomeado para o Supreme Court por Reagan, o Senado não aprova.
Então, Robert Bork vem criar o tal mito de que o Sherman Act foi criado para
defesa do consumidor, para salvaguardar o bem estar dos mesmos. portanto, e aquilo
que o Congresso tinha querido era isto, então só havia duas coisas que ficavam sujeitas
à aplicação da legislação anti-trust, a subida de preços e a diminuição da produção.
Bork, na sua obra, vem mostrar que aquilo que os americanos estavam a fazer ao
aplicar o anti-trust como estavam a fazer era destruir as suas maiores empresas e
destruir a sua possibilidade de ser uma economia mais eficiente do que as outras, ou
seja, a eficiência, devia ser o principal objeto económico, mas o que estava a acontecer
era que as empresas mais eficientes estavam a ser penalizadas pelo anti-trust.
— O grande aliado dos consumidores é sempre a maior empresa do mercado (uber,
Amazon, Walmart…)
23
Anos 80
- Ascensão do neoliberalismo
Defesa da não intervenção do Estado na economia e nascimento o Estado
regulador (das entidades reguladoras).
A lógica é a de que não é adequado prejudicar a eficiência economia —
passamos a ter um direito da concorrência subordinado à obtenção da máxima
eficiência.
Este foi o panorama cultural em que todos vivemos desde os anos 80, o que é
bom é a eficiência, a redução de preços e a proteção do bem estar do consumidor.
As empresas ganharam proporções gigantescas, porque, afinal de contas, estas
defendiam o consumidor, p.e. a Microsoft, a Uber, a Amazon, a Google …
Como o anti-trust é sujeito a sucessivas mudanças de paradigma, em 2014,
começa a haver transformações:
O anti-trust tinha-se tornado completamente inoperante para a emergência das
superpotências económicas, porque estas jogavam com aquilo que era a lógica
deliberada do anti-trust.
As super-empresas, durante anos, conseguiram reforçar o seu poder económico,
tirando partido do quadro mental que Bork criou, dentro da lógica dos governos de
Reagan, Tatcher, governos que pretendem que as grandes empresas façam o seu
trabalho, o de fortalecerem a economia dos países onde se encontram sediadas e serem
eficientes na produção, de modo a poupar recursos e maximizar satisfação.
Nesta altura, o paradigma está a mudar, fala-se dos Neo-Brandeisianos, aqueles
que na esteira do Vestager acham que Big is Bad:
(Nota: Margarete Vestager, a Comissária da Concorrência Europeia é indigitada para o
cargo.
Logo em 2014 vai a uma sessão na Universidade de NY, onde estão das maiores
sumidades norte americanas no domínio do anti-trust e esta tem uma prestação
embaraçosa, uma vez que não tinha experiência do assunto.

No entanto, Vestager foi um dos pivôs da “dança do anti-trust” - trustbuster. )


Chumbo da Comissão Europeia da Concorrência de um projeto de fusão que viria a criar
o RailBus:
- Um projeto de concentração das operações de ferrovia e comboios rápidos e
aparelhagem das linhas dos mesmos, da Siemens alemã e da Alstom francesa, na lógica
do que tinha sido a criação da AirBus — esta fusão criaria uma empresa com dimensão
suficiente para ter uma dimensão mundial e, se ainda vigorasse a lógica do Big is good, a
fusão tinha passado. No entanto, Vestager não era uma pessoa emboída nos quadros
mentais da época e, traçou outro caminho, o de criar mais concorrência no mercado.
24

Aula 12/04
Outra forma de intervenção do estado na economia:
Apoio às pequenas e médias empresas
As micro empresas e as PMEs constituem a esmagadora maioria do tecido
empresarial nacional e europeu.
Micro empresas - Possuem até 10 trabalhadores e um volume de negócios até 2 milhões
de euros.
Pequenas empresas - Possuem até 50 trabalhadores e um volume de negócios até 10
milhões de euros.
Médias empresas - Possuem até 250 trabalhadores e um volume de negócios até 50
milhões de euros.
Estatísticas:
As empresas que fora do sistema financeiro são pequenas e médias representam
quase 100% das empresas - a nível interno 99,9% do tecido empresarial é composto por
micro e PMEs.
Isto deixa, em 2019, 920 grandes empresas fora do sistema financeiro. Estas, por
sua vez movimentam mais de 50M de euros e mais de 250 trabalhadores.
Há 2 países que têm proximidade de dimensão a Portugal, mas que estão
afastadas destes valores médios do número de grandes empresas: A Grécia, com
apenas 523 grandes empresas e a Holanda, que tem 1756 grandes empresas.
No que diz respeito à Holanda, uma parte da razão deste desvio em relação
aquilo que é uma média de empresas pode estar na atractividade do sistema fiscal
holandês, que beneficia empresas que transfiram a sua sede para lá.
Ao nível da UE, 99,8% são PMEs.
Os restantes 0,02% dizem respeito a grandes empresas. Estas têm um peso
desproporcional em termos de valor acrescentado e de volume de emprego
(representam 1/3 do emprego).
O que fazer para tentar auxiliar as empresas responsáveis por 2/3 do emprego ao nível
da Europa - as micro e PME?
Os Estados têm agências, institutos, setores da administração que procuram auxiliar
estas empresas:
Em Portugal há 2 entidades com esta função:
- AICEP, agora chamada Portugal Global
Esta entidade possui a função de:
- Internacionalização de empresas - detetar oportunidades de negócio no
estrangeiro (através da sua presença externa ou de pesquisas) e passar a
informação às empresas inscritas na AICEP;
25
- Garantir a presença em feiras internacionais que reunem agentes económicos do
lado da oferta e procura;
- Função de apoiar, estimular e procurar atrair investimento estrangeiro para
Portugal - esta dimensão externa está presente na possibilidade de trazer os
agentes económicos para Portugal e, também, de levar os nacionais para o
estrangeiro.
- IAPMEI ou agência para a competitividade e inovação
Distingue-se da AICEP, porque tem uma intervenção voltada para o interior do país:
- Auxiliar o funcionamento das empresas em Portugal, nomeadamente, através da
divulgação de informação; Gere os incentivos, por exemplo, de desenvolvimento
regional (do Estado ou de fundos europeus) e tem centros de atendimento
empresarial em vários pontos do pais, de modo a promover uma maior interação
entre as PMEs;
Contratação pública
• Código de contratação publica (2008)
Este código continha várias diretivas comunitárias e a sua preocupação essencial
era a de aumentar a concorrência, no que diz respeito à atribuição de contratos públicos
(celebrados por entidades publicas).
Estas regras serviam para evitar que os países acabassem por fazer uma
contratação das suas empresas nacionais, estimulando, assim, a concorrência.
Para tal, foram criados limiares comunitários — os contratos a partir de uma
certa dimensão passaram a ter de estar de acordo com essas diretivas: Se o Estado
português decide fazer uma expansão de um aeroporto, por exemplo, está obrigado a
seguir a tramitação do código e, acima de certos valores, isso obriga à divulgação das
condições do contrato em instâncias comunitárias, num portal consultável por todos os
agentes económicos — Isto permite que as empresas possam concorrer a contratos que
passam a saber que estão disponíveis na UE.
Com isto, que se entendia que era a melhor forma de não permitir que houvesse
preferência nacional e, assim, estimular a concorrência, acabou por se perceber que
essas regras de colocação de todos os agentes económicos em igualdade de
circunstâncias acabava por beneficiar os agentes económicos de maior dimensão (a
concorrência defende os mais fortes):
Em 2010, as grandes empresas detinham 66% dos contratos públicos. A média
comunitária, em 2010, de atribuição de contratos públicos de grande dimensão as
grandes empresas era de 2/3.
Estatísticas da situação antes da alteração de 2014:
- As empresas estrangeiras que ganhavam concursos públicos na Alemanha eram 2%,
enquanto em que Portugal eram 23% - a forma como estava construída a dimensão da
contratação pública acabava por beneficiar as grandes empresas.
- Empresas portuguesas a ganhar contratos fora era menos de 0,5%, enquanto que as
empresas Alemãs que ganhavam contratos fora da Alemanha eram 21%.
26
A partir de certa altura, isto tornou-se um incómodo, uma vez que eram sempre as
mesmas empresas a ganhar os concursos, então, a UE deu conta da necessidade de
alterar esta regra dos contratos públicos sujeitos a concorrência internacional:
Em 2014, houve uma série de diretivas que vieram a introduzir algumas mitigações
ao princípio estrito da concorrência, para evitar esta situação (alterações depois
introduzidas em Portugal em 2017).
Uma das regras que se introduziu foi a obrigação da divisão em lotes:
- Desde que seja possível, deve-se fazer uma divisão em lotes, lançar-se concursos
parcelares - em vez de ter um contrato único de realização de uma empreitada, passava
a haver diferentes contratos, sendo que cada um deles era de menor dimensão, o que
atraia empresas de menor dimensão também.
- Além disso, também se estabeleciam limites ao número de lotes que se podia atribuir
ao mesmo contratante.
Com isto, onde não estejam em causa dificuldades técnicas ou custos muito
acrescidos, não há fundamento para se afastar a obrigação da contratação em lotes
Assim, deixa de se estar num sistema de concorrência pura — Isto tem algum
prejuízo em termos de eficiência, mas ganhos em termos de diversificação e de aumento
dos agentes económicos que podem ter acesso à contratação publica.
O primado da eficiência cedeu em relação às outras componentes, também
consideradas relevantes, que neste caso diz respeito à proteção das micro e PMEs.
Aula 13/04
Participação na produção e formação do preço dos fatores
A lógica da formação dos preço dos fatores:
Fatores de produção: A terra, o trabalho e capital
Terra: Conjunto de recursos naturas disponíveis pra produção, mas sem custos de
produção.
Junta-se, ainda, a iniciativa empresarial: Forma de organização dos demais fatores de
produção. É através da iniciativa do empresário que se combina os fatores de produção,
para se por em marcha o processo produtivo.
A cada um dos fatores de produção corresponde uma remuneração:
Terra — Renda
Trabalho — Salário
Capital — Juros (capital enquanto ativo monetário)
Iniciativa — Lucro
— Através da participação no processo produtivo, as pessoas recebem uma
remuneração ligada à sua contribuição para o processo produtivo.
Numa economia de mercado a forma como se distribuem os resultados da
produção acaba por ser um subproduto da participação no processo produtivo. Portanto,
é em função do grau e qualidade (medida por uma avaliação de mercado) dos recursos
27
que são fornecidos ao processo produtivo, que os agentes económicos recebem a sua
quota parte do rendimento que é gerado no processo produtivo
Isto coloca problemas:
- Eventual falta de trabalho no futuro, devido à substituição crescente da força de
trabalho pelas novas tecnologias, por máquinas.
Resta saber se o trabalho, a fonte primordial de rendimento da esmagadora
maioria da população, tem sustentabilidade, se o emprego se torna desnecessário, em
resultado dos avanços tecnológico. Se houver uma diminuição do emprego disponível,
teremos um problema quanto à forma de distribuição de rendimento.
O que há de comum aos fatores de produção e à sua respetiva moderação?
- O facto de eles terem preços — a remuneração dos fatores de produção são os preços
(juro, renda, lucro e salário).
A formação do preço dos fatores, numa economia de mercado, tem uma
correspondência com a formação do preço dos bens, temos uma oferta de um fator de
produção e a procura de um fator de produção - lei da oferta e da procura - e, em função
dessa oferta e dessa procura, os preços serão ajustados de forma a encontrar-se uma
situação de equilíbrio.
Página 186 e 187 do manual:
Princípio geral representado nos diagramas:
Página 186:
É possível que haja um crescimento da produção total, mesmo quando a
marginal vai diminuindo. Só quando o produto marginal se torna 0, é que o produto total
deixa de aumentar e só quando o produto marginal se tornar negativo é que o produto
total diminuiria.
Vemos no diagrama que o produto marginal vai diminuindo.
Página 187:
Há um limite para a aquisição deste fator de produção, esse limite é o daquilo
que é possível obter, em termos produtivos, com a utilização de 1 unidade adicional - se
o preço for F3, é possível adquirir este fator até à quantidade V3, porque em bora em V3
o produto marginal deste fator seja mais baixo, é ainda suficiente para equiparar aquilo
que custa pagar este fator de produção — Quanto mais alto o preço do fator, maior terá
de ser o contributo desse fator para o processo produtivo, porque se não for pelo menos
igual ao seu custo, então não haverá interesse em adquirir quantidades adicionais desse
fator.
A lógica é a da pacificação do produto marginal e do produto total.
Enquanto que a procura de bens e serviços é uma procura imediata, a procura
dos fatores de produção é derivada, a razão pela qual se adquirem fatores de produção é
a possibilidade de os por ao serviço de um processo produtivo. É em função das
necessidades de aumentar as quantidades produzidas que se tem incentivo para ir
adquirir mais fatores de produção.
Diz-se que a procura dos fatores de produção é derivada, porque é movida por
aquilo que acontece no mercado dos bens e dos serviços — + procura de um bem, +
procura derivada dos fatores de produção, para aumentar a produção do bem, cuja
28
procura aumentou e, portanto, é uma reação de resposta que determina a quantidade de
fatores de produção desejados incorporar no processo produtivo.
— As oscilações no mercado dos bens e serviços transmitem-se para a procura
derivada dos fatores de produção.
A complementaridade entre capital e trabalho verifica-se na totalidade dos fatores de
produção, não são só o trabalho e o capital que são complementares.
Em relação à terra (apesar de não participar em todos os processos produtivos)
esta e também necessária para uma grande quantidade de processos produtivos.
É, também, necessário que haja uma organização dos fatores de produção de
forma a por em marcha os processos produtivos e isso é a função do empresário.
Portanto, o processo produtivo não dispensa a presença do risco, inovação ou iniciativa
empresarial
Temos estas características comuns aos fatores de produção, procura derivada e
interdependente (na maioria dos casos não se pode aumentar a procura de um fator sem
se aumentar a de outro e vice-versa). Um aumento da procura de um fator tem consigo a
procura acrescida dos fatores complementares - há complementaridade genérica dos
fatores.
1. Terra
Renda é a remuneração de um recurso natural, da Terra.
Sobretudo a partir do século XVIII, os economistas clássicos dedicaram uma
grande atenção ao fator de produção terra, uma vez que se tratava de uma altura pré
revolução industrial, em que a terra acaba por ser o principal fator de produção.
A Terra é um recurso que não custa produzir e é finita.
A oferta rígida, implicava que havia limites à oferta deste recurso natural.
Claro que nem sempre era assim, na altura da expansão americana, havia
expansão geográfica dos recursos naturais disponíveis.
No entanto, uma vez cessada a expansão, foi o fim da expansão dos recursos
naturais disponíveis.

Não é possível aumentar a quantidade de diamantes ou de petróleo que existem


na terra, por exemplo.

Isto implicaria que o preço para os fatores naturais, as rendas, seriam


determinadas unicamente pela procura. Temos um preço e a especificidade das rendas
como preço resultaria de a oferta dos recursos naturais ser fixa, rígida.

Ainda que haja a ideia de que a oferta dos recurso naturais é rígida, não é
impossível que esta se desloque para a direita.

Quando um determinado recurso é descoberto, a curva da oferta do mesmo,


evidentemente, desloca-se para a direita. Não é que o recurso não continue a ser fixo,
mas agora é fixo a um patamar diferente ao que antes era conhecido. Portanto, há
situações em que aumenta a oferta de recursos que são dados, daqueles que não
podem ser aumentados pelo homem.
29

Fracking - fractura hidráulica: forma de obter gás natural ou petróleo. Obtém-se fazendo
um furo de 2 km de profundidade na costa terrestre e, depois, faz-se a perfuradora
descrever uma curva de 90 graus fazendo-se, de seguida, buracos ao longo do canal. No
fim, injecta-se uma solução de água (milhões de litros de água, ácido, areia e outras
componentes) que vão fazer com que a rocha quebre. Enquanto a rocha quebra, o gás e
o petróleo que estão retidos na rocha começam a escoar em sentido inverso à injeção de
água que foi feita.

O ponto de inflexão no consumo do petróleo, desde os anos 70, vem sendo


antecipado. Houve uma altura em que não conseguíamos combustíveis fósseis mas,
depois, as sucessivas inovações industriais começaram a carecer de combustíveis
fósseis . No entanto, à medida que esses combustíveis vão sendo necessários, vai
aumentado o consumo do petróleo.

Os recursos naturais da terra são fixos, apesar de poderem ser descobertas


novas reservas. Há possibilidade que a curva da oferta se desloque para a esquerda,
acontece quando os recursos não renováveis são consumidos. À medida que vamos
consumindo o petróleo ele deixa de existir. O petróleo deixa de ser considerado um
recurso natural visto que passa a ser integrado num processo produtivo. A ideia que a
oferta de um recurso é dado, não significa, por um lado, que possa haver um aumento
desse recurso como também a diminuição.

No que diz respeito às insuficiências ou desleixo na manutenção dos solos, é


possível que se percam as capacidades produtivas - deslocação para a esquerda.

Se tivermos uma curva vertical, o que determina o preço é a deslocação da curva


da procura. Se tivermos uma curva vertical, a oferta é fixa, mas o preço que se vai
estabelecer para remunerar este fator, dependerá da procura do mesmo.

Se tivermos uma curva da procura mais à direita, então a interseção com a curva
da oferta vai-se verificar num ponto mais elevado, o que determina um preço elevado. Se
houver uma deslocação da curva da procura para a esquerda, encontraremos um preço
mais baixo.
30
Qual é a dimensão das rendas nas diferentes economias?

Isto vai depender das economias que se admite. Há economias em que a renda é
uma componente muito importante do PIB (ex.: países que exportam petróleo ou gás
natural) e outros em que a participação da renda no PIB, países com menor exploração
de recursos naturais.

O país com maior ratio de rendas no seu produto interno, é a Libéria (50%
proveniente de rendas - exporta outro, ferro, madeira e petróleo).

Explicação da renda de David Ricardo (economista clássico)

Tentou perceber se era o preço dos cereais que fazia subir as rendas da terra ou
se a subida das rendas da terra provocava a subida do preço dos cereais. Ele constatou
no seu tempo que havia uma subida em paralelo dos preços dos cereais e das rendas
das terras e procurou perceber o que causava a variação da outra variável:

Eram os preços altos do trigo que faziam subir as rendas? Era o facto das terras
se tornarem cada vez mais caras que encarecia o processo produtivo e fazia os cereais
serem mais caros?
31
A renda diferencial

Pode ser explicada de 2 formas:

Numa 1ª situação encontra-se a primeira explicação da renda diferencial de


Ricardo, que parte do seguinte pressuposto:

As terras têm graus de fertilidade diferentes, há terras mais ricas e com mais
potencial de desenvolvimento de culturas e outras menos. Portanto, se tivermos 1
hectare de terra de primeira qualidade temos uma certa produção se gastarmos um certo
montante em trabalho e em irrigação e adubação dessas terras. Mas se tivermos um
hectare com menos potencial, se gastarmos a mesma quantidade de trabalho e
fertilizantes teremos uma produção menor.

Isso está representado no primeiro diagrama:

Temos uma primeira terra muito fértil, um hectare de produção que gera um
resultado produtivo de 150 e, se não houver necessidade de produzir mais do que aquilo
que é o resultado da exploração deste hectare, nós teremos uma produção de 150.
Supondo, agora, que os 150 alqueires são insuficientes para satisfazer as
necessidades num determinado momento, então, é necessário produzir numa outra terra
que, anteriormente, não estava a ser trabalhada, porque era menos fértil.
A primeira terra tem um resultado de 150 e a 2ª terra tem um resultado de 125 -
isto implica que se o dono da primeira terra quiser sair do processo produtivo, pode
sugerir àquele empresário trabalhador que se dispõe a produzir na segunda terra,
sabendo que vai ter um resultado de 125, oferecer-lhe a sua primeira terra, através da
cobrança de uma renda. É o facto de se ter tido necessidade de explorar a 2ª terra que
cria, aqui, um diferencial na primeira, a primeira, quando não havia exploração da 2ª não
dava origem a uma renda. Agora, quem quiser explorar a terra menos fértil tem a opção
de explorar com o mesmo custo de trabalho, irrigação e fertilização a terra 2, se o fizer
tem um retorno de 125 ou. Arrendar a terra ao proprietário da 1ª e produzir com essa
mesma quantidade de trabalho, fertilização e irrigação 150.
Para ter este direito de exploração da 1ª terra e não da 2ª, ele terá de pagar ao
proprietário da 1ª 25. Se o fizer, fica numa situação de indiferença - O potencial
explorador da 2ª terra tem agora uma alternativa.

Aqui está a lógica que, depois, se propaga para utilizações sucessivas de


terrenos cada vez menos férteis. Se utilizarmos num momento posterior um 3º talhão
menos fértil, que tem apenas uma quantidade de 100, então passa a haver uma renda
que é possível ser paga ao proprietário da 2ª parcela, e sobe o que é a renda que pode
ser pedida pelo 1º proprietário.

Assim, o 1º proprietário não recebe nenhuma renda diferencial quando não há


mais nenhuma terra a ser explorada, quando há necessidade de explorar uma segunda
terra, cuja produção é 25 alqueires menos do que a sua produção, ele passa a poder
pedir uma renda de 25. No momento em que é necessário explorar uma 3º terra que
produz 100, a sua renda passa a poder ser de 50.

Ficamos com a ideia de que a renda é resultado da diferença de produtividade das terras
e que a necessidade de explorar recursos com qualidade cada vez menor implica uma
valorização das terras que têm uma maior capacidade produtiva.
32
2ª forma de explicar:

A produção pode ser igual, podemos garantir que produzimos as mesmas


quantidades nas diferentes terras, só que para o podermos fazer, temos que gastar cada
vez mais nesse processo produtivo. O resultado final acaba por ser o mesmo, mas
enquanto que numa terra que à partida já tem condições opimas para a produção isso se
faz com menos custos, numa terra que tem menos potencial produtivo, garantir essa
mesma quantidade de produção custa, em termos de horas de trabalho, de consumo de
água (…), bastante mais.

Isto também dá origem a uma renda diferencial, o chamado diferencial 2 ou a


teoria da renda diferencial na sua segunda formulação.

A produção vamos supor que é igual nos diferentes hectares, mas para produzir
no 1º talhão gastam-se 100 (salários, água…). Se se tiver de recorrer a um hectare menos
fértil, para se garantir o mesmo alqueire de produção tem de se gastar 125. Gera-se aqui
uma renda diferencial de 25 que pode ser paga ao detentor do 1º hectare. Se for
necessário depois explorar uma 3ª parcela e para garantir a produção do mesmo alqueire
tiver que se gastar 150, então a segunda terra passa a ter uma renda diferencial de 25 e a
primeira terra vê o seu diferencial aumentar para 50. Quem estiver na posição de pensar
em explorar a 3ª terra e com isso gastar 150 por alqueire, pode considerar a alternativa
de arrendar a 2ª terra e gastar e para ter esse direito terá de pagar 25 ao proprietário ou,
em alternativa, gastar apenas 100 na produção, mas gastar 50 de renda ao proprietário
da 1ª terra.

Quer pela via dos resultados do processo produtivo, quer pela via dos custos, a
explicação que Ricardo encontrou para o aumento das rendas tinha a ver com este
diferencial que era introduzido de cada vez que as necessidades crescentes da
população exigiam aumentos de quantidades produzidas:

Quando se aumentavam as necessidades de cereais, era necessário ir explorar


terras que ou eram menos férteis e, portanto, proporcionavam menos alqueires de
produção, ou para garantirem uma certa quantidade de produção exigiam maiores
gastos, cada vez que isto acontecia, seja pela explicação do diferencial pela produção ou
pelo diferencial pelos custos, então, quando isto acontecia, aumentavam as rendas.
A lógica de Ricardo era de que era a pressão que era exercida pela necessidade de
quantidades sucessivamente maiores de produto que gerava a oportunidade para a
cobrança de rendas cada vez maiores por parte dos detentores das terras.

2. Trabalho

Este não é suscetível de uma oferta rígida como a terra, pela lógica da
oferta, esta devia variar na mesma direção do preço, se houver um aumento do
preço, há um aumento da disponibilidade das pessoas do lado da oferta para
oferecerem mais desse bem ou serviço, por isso, a lógica do trabalho também
podia se assim, se as pessoas receberem menos trabalham menos, se as
pessoas receberam mais trabalham mais. A lógica de oferta de trabalho devia ser
a lógica comum a todas as circunstancias da oferta.
33
Acontece que a curva da oferta de trabalho é muito particular (página 189)

A curva da oferta do trabalho é semelhante a um z inclinado, quer dizer que na


sua parcela intermédia ela tem uma inclinação positiva, estamos naquilo que é a lógica
normal da reação da oferta ao preço, o preço aumenta, aumentam as quantidades
oferecidas de trabalho. Porém, na parte superior da curva ela torna-se negativa, quer
dizer que à medida que aumenta o preço que é oferecido por hora de trabalho, as horas
de trabalho diminuem. Verificou-se que os quadros mais bem pagos das empresas eram
os primeiros a desistir de horas extraordinárias ou de fim de semana:

Recebe-se o dobro por trabalhar nestas horas, logo, devia haver um aumento de
disponibilidade para trabalhar nessas horas. Se forem bem remunerados, consideram
que aquilo que têm a ganhar com essas horas não compensa, a partir de alguns valores
salariais, as pessoas deixam de reagir positivamente a aumentos de remuneração,
valorizam a libertação de compromissos, o descanso.

Na fase inferior do gráfico, à medida que desce a remuneração do trabalho,


aumenta a oferta de horas de trabalho, porque se as pessoas não têm o suficiente para
sustentar o seu agregado familiar, aquilo que têm de fazer é aumentar as horas do seu
trabalho, por exemplo, horas extraordinárias, duplo emprego.

Quanto mais baixa for a remuneração, mais horas é preciso trabalhar para ganhar
os mínimos e não é só o facto de cada pessoa trabalhar mais mas unidades sucessivas
do agregado familiar ter de ir trabalhar, como por exemplo, os filhos terem de desistir da
escola para ir trabalhar, porque a remuneração dos pais não é suficiente para a sustentar
o agregado, ou até os avós que já estavam na reforma, aumentando, assim, a oferta de
trabalho.

Esta curva do trabalho tem dois segmentos paradoxais:

- Quando o preço desce abaixo certos níveis, a oferta de trabalho aumenta, porque é
impossível sustentar o agregado;
34
- Para níveis muito altos de rendimento, o aumento do preço do trabalho provoca a
redução da quantidade de trabalho oferecido.

Esta particularidade da curva da oferta não é a única questão importante em


matéria de mercado de trabalho.

Há, hoje, uma grande preocupação quanto à sustentabilidade da oferta de


trabalho e da procura de trabalho, ou seja, a ideia de que podemos estar a caminhar para
um mundo em que há mais oferta de trabalho do que há procura de trabalho.
Isto acontece porque a robotização, os progressos tecnológicos, computação,
inteligência artificial tem vindo a conseguir substituir trabalho por capital (como por
exemplo, nas portagens, com as máquinas).
É possível dispensar franjas crescentes da força de trabalho. Isto acontece
também no que diz respeito ao trabalho intelectual, a inteligência artificial, hoje em dia, já
faz muitas coisas, o que permite dispensar trabalhadores qualificados (consultar material
de apoio - semana de 4 dias).

Tudo isto coloca em causa a ligação entre o acesso a rendimentos e o contributo


para o processo produtivo — Se as pessoas forem cada vez mais dispensáveis para o
processo produtivo e o seu contributo for cada vez menor, como é que elas recebem o
suficiente para sustentar os mercados?

Rendimento básico universal

Então, começam a aparecer programas de estabelecimento de um rendimento


básico, incondicional, é a ideia que todas as pessoas deviam receber um certo montante,
montante esse que lhes é devido pelo facto de, coletivamente, serem detentores de toda
a capacidade produtiva, a ideia de que, afinal de contas, há uma solidariedade de base a
nível nacional/regional/local, uma certa comunidade tem uma certa relação com o
potencial produtivo de uma determinada zona e, portanto, deve participar naquilo que é o
resultado desse processo produtivo (por exemplo: algumas áreas do Alasca dão um
rendimento anual aos residentes, que decorre da distribuição de uma parte das receitas
que são geradas pela exploração dos recursos naturais do Alasca, mas não é um sítio
muitíssimo atraente para se viver e isso vai ajudar a fixá-las lá)

A lógica do rendimento básico universal não é tão diferente assim, agora, para
fazer face aos problemas da pandemia, os EUA distribuíram cheques à população, de
forma indiscriminada, na lógica do rendimento básico universal - todos têm direito de
receber.

A ideia do Rendimento Básico Universal, para não estabelecer estigmas de quem


recebe e não recebe, é distribuir de forma indiscriminada, não há ninguém que fique de
fora da receção do montante.

Há um ex-candidato presidencial dos EUA, Andrew Young, que tinha como


principal proposta a adoção do rendimento básico universal. Este não foi escolhido, mas
nesta altura, ele é candidato a mayor de Nova York, com este mesmo projeto de
implantar um rendimento básico universal e é um dos dois candidatos como mais
provável futuro mayor.
35
Portanto, há várias experiências que têm sido feitas em todo o mundo e podem
constituir uma possível alternativa às insuficiências crescentes do mercado de trabalho,
criando rendimentos necessários para todos.

O mercado de trabalho tem condicionantes (demográficos - população


envelhecida; das migrações), por isso, há diferentes capacidades de oferta de trabalho
no mercado.

Também releva o enquadramento normativo-legislativo da disponibilidade de


horas de trabalho, o facto dos horários nos países serem distintos, também interfere com
a quantidade trabalho disponível, e também dos dias de folga.

Há importantes consequências no que diz respeito à participação do trabalho no


rendimento nacional, no PIB, que vai para os trabalhadores, mas, depois, há uma série
de imperfeições no mercado de trabalho:

• Falhas de informação e mobilidade: Em muitas situações não é possível dispor de


informação relativa às ofertas de trabalho, porque não está suficientemente divulgada,
então, as pessoas perdem oportunidades.

• Por outro lado, mesmo que tenham o conhecimento pode haver restrições à
mobilidade. No espaço da UE, pretendia-se a livre circulação de fatores de produção, a
possibilidade de as pessoas se deslocarem para os locais onde o seu contributo
produtivo fosse mais valorizado. Se o mesmo trabalho poder ser utilizado para uma
actividade produtiva mais valiosa, devia haver condições para que a pessoa se
deslocasse para as desempenhar.

• Participação dos sexos no mercado de trabalho, porque há diferença de remunerações


que favorece o sexo masculino em função do feminino. É algo não tem a ver com leis,
mas sim com haver determinadas tarefas que são mal pagas, que são exercidas
fundamentalmente por trabalhadores do sexo feminino - lares, tarefas domésticas.
E, também, as grandes empresas, que representam 0.2%, mas que absorvem 1/3 do
emprego. Elas, normalmente, têm carreiras com uma certa progressão, e verifica-se
que as mulheres têm mais dificuldade em percorrer carreira profissional nessas
empresas, devido, por exemplo, à maternidade , e quando os filhos necessitam de
apoio, doenças, também são muitas vezes as mulheres que assumem essas tarefas.
Portanto, do ponto de vista da sua carreira profissional, acabam por incorrer em
sacrifícios adicionais que dificultam a progressão da carreira e, portanto, não as levam
aos lugares de topo.
Fala-se, até, no mamitrack - quer dizer que as senhoras ficam num percurso de
progressão que não é exatamente igual ao dos homens.
Fala-se, também, do Glass seeling, teto de vidro — por várias razões, no topo das
grandes empresas, a participação das mulheres é menor, e como no topo das empresas
é que estão os rendimentos mais elevados, isso também faz com a absorção de
rendimentos do trabalho por parte dos homens seja superior ao das mulheres.

Constatou-se, também, que havia “glass clif” que revela que, aparentemente, as
empresas que contratam mais mulheres para cargos de top têm uma performance
económica menos eficiente que outras. No entanto, os estudos recentes mostram que
são as empresas que estão em maiores dificuldades, ou que têm menos potencial de
desenvolvimento, que nessa altura, recrutam mais mulheres. Portanto, é natural que se
houve este enviesamento no que diz respeito à promoção de mulheres nas empresas
36
menos prosperas, se houver uma promoção maior das mulheres nestas empresas,
depois, quando se faz a leitura, se associe uma maior participação de mulheres em
cargos de topo e uma menor performance das empresas, em relação às que têm menos
participação de homens — Esta diferença não tem a ver com uma discriminação (para
trabalho igual, salários diferentes, embora também aconteça): Tem a ver com estas
situações que envolvem a progressão de carreiras. Daí haver maior recurso a quotas, já
há regras para que os cargos de topo tenha uma % de mulheres - lógica da paridade/
equidade.

Uma outra curiosidade no que diz respeito às possibilidades de atenuar as


desigualdades género e étnicas/de raça, tem a ver com as formas de seleção /avaliação
cega (embora hoje em dia estejam a ser substituídas por mecanismos de inteligência
artificial) — o júri não vê o candidato.
Por exemplo, uma grande orquestra está a recrutar violinistas. A partir de o momento
em que se introduziu a regra do júri não conseguir ver quem estava a tocar, aumentou
substancialmente o número de mulheres e o número de pessoas de minorias étnicas.

Está avaliação cega tem uma função de tornar a avaliação mais objetiva,
afastando condicionantes pessoais na avaliação, é algo que tem bons resultados, porque
há mais diversidade de género e ética.

Produtividade

Diz respeito à divisão do valor da produção, num determinado período, pelo


número de horas que foram trabalhadas nesse período.

Como podemos aumentá-la?

• Aumentar o valor da produção;

• Manter este valor de produção e reduzir as horas de trabalho.

Às vezes, estas reduções nas horas de trabalho são uma forma de tentar
aumentar os valores da produtividade, isto é, se se chegar à conclusão que se podem
reduzir horas de trabalho sem perder o resultado quantitativo do processo produtivo - às
vezes as reduções de horas de trabalho, servem para aumentar a produtividade. Isto só é
possível em alguns casos;

• Produzir bens de maior valor — exemplo do trabalhador da Mercedes e da Dacia, com


o mesmo número de horas de trabalho, a produtividade dos trabalhadores da
Mercedes é maior que o da Dacia, porque o valor do primeiro é maior do que o do
segundo.

A falta/baixa de produtividade na economia Portuguesa não tem a ver com os


trabalhadores serem pouco eficientes, nada disso, eles até são bastante eficientes, a
questão é que a capacidade produtiva destes trabalhadores não está associada à
produção de bens de grande valor - problema de não se gerarem bens de grande valor.

3. Capital

É remunerado com juros.


37

O juro é o preço do dinheiro, é uma remuneração de uma forma de capital, que


consiste na disponibilização de montantes através do seu aforro, por parte dos
detentores originais desses recursos.

Se nós tivermos um ativo líquido monetário, a forma de o remunerar é através do


juro, mesmo que o juro não seja assim totalmente designado.

O capital, em economia, não é só o capital financeiro, até podemos dizer que é


outra coisa, são as máquinas, as fábricas, os stocks.

- Contrato de Leasing: pagamos aquilo a que usualmente chamamos de renda, mas na


realidade é um juro, porque estamos a pagar uma remuneração de capital.
Arrendamento (bens imóveis) e aluguer (bens móveis) são coisas distintas.

Em termos económicos, juro é quando há remuneração de capital, seja qual for o


termo que utilizemos.

O capital pode ser físico, no caso das infra-estruturas (ex: barragens), dos
equipamentos (ex: computadores) e dos stocks. A remuneração deste capital é feita
através de juros, em termos económicos.
O capital pode, também, ser financeiro, no caso dos empréstimos, das ações, das
obrigações.

A correta interpretação daquilo que são as remunerações dos diferentes fatores é


especiosa. O empresário que avançou com um determinado processo produtivo apura,
no fim do ano, que as receitas excederam os custos. Tudo isso é lucro? Depende. Se ele
não for administrador da empresa, então, tudo isso é lucro. No entanto, se ele for o
administrador da empresa, então, uma parte dos lucros que são gerados também são
remuneração do fator trabalho, mesmo que ele não esteja na folha de salários da
empresa.

O juro é o preço do dinheiro e é ele que faz com que as quantidades procuradas
pelo sistema bancário correspondam às quantidades oferecidas ao sistema bancário.
Se os bancos tiverem poucas solicitações da parte dos particulares e das
empresas para obter empréstimos, não precisam de muito dinheiro e, portanto oferecem
uma baixa taxa de juro. Se houver pouca gente a pedir empréstimos ao banco, como é
que o banco ganha dinheiro? Ganha porque cobra 2% às pessoas que lhe emprestam
dinheiro, e cobra 7% às pessoas que lhe pedem dinheiro.
O banco quer ter dinheiro suficiente para fazer face às solicitações que lhe são
dirigidas. Sabendo que quer ter uma determinada quantidade de dinheiro, o banco sabe
que há uma taxa de juro que induz uma oferta de igual quantidade.

— A taxa de juro tem um mecanismo que vai induzir uma poupança idêntica à
necessidade dos fundos que o banco vai emprestar. Conhecendo a curva da oferta de
fundos, os bancos deduzem a taxa de juro a aplicar. Portanto, dentro desta lógica
clássica, a taxa de juro é o preço que faz o ajuste entre a procura e a oferta de fundos,
nas operações passivas e nas operações ativas.
Agora, o banco também está no negócio de oferecer fundos e está confrontado com uma
procura de fundos dos empresários e dos consumidores.
38
Portanto, o juro tem esta função de ajuste entre a quantidades de fundos queridas
no mercado e as quantidades de fundo que são disponibilizadas no mercado. No fundo,
os bancos intermediam a procura e oferta dos fundos: Se os bancos aumentarem os
juros das operações passivas (quando o banco fica devedor), há mais incentivo para as
pessoas transferirem para o sistema bancário a suas poupanças.

A fixação da taxa de juro depende da procura de fundos que o banco percebe: se


há muita gente à procura de dinheiro emprestado, o banco tem de arranjar fundos, e faz
isso através do aumento das taxas de juro.

Vamos admitir para já, que o juro influencia a quantidade do aforro (entendimento
clássico). As pessoas aforram em função do montante que podem receber pela
remuneração desse aforro. Portanto, se a taxa de juro for alta nas operações passivas, as
pessoas estarão dispostas a aforrar mais e a disponibilizar ao banco esses montantes
acrescidos de aforro. No entanto, se o banco pagar um juro elevado para convencer as
pessoas a aforrarem e depositarem as suas poupanças no sistema bancário, terá que
cobrar juros elevados nos empréstimos que concede. ora, se o banco praticar juros
elevados nas operações ativas, haverá menos gente à procura de empréstimos.
O sistema bancário, afinal de contas, funciona como um exemplo daquilo que só
foi teorizado no final do século XX, que são os chamados “Two sided markets”:

Os mercados de dupla face começaram a ser percebidos como tais quando se


divulgou a economia das plataformas, isto é, um conjunto de atividades económicas em
que havia um intermediário que atuava do lado da oferta e da procura e este tinha a
possibilidade de ajustar o seu comportamento em cada um dos mercados, em função
daquilo que era o seu comportamento no outro. Os primeiros exemplos tiveram a ver
com o mercado da publicidade nos meios de comunicação e constatou-se que se nós
tivermos publicidade cara, então, teremos que vender este nosso meio caro, mas se
vendermos caro vamos chegar a menos pessoas e os nossos anunciantes vão quero
diminuir o que nos pagam porque acham que a sua mensagem não está a chegar a um
maior número. Por outro lado, se quisermos chegar a um maior número, temos de
praticar, no mercado de venda, preços mais baixos, idealmente, até temos que diminuir
esses preços até chegar ao grátis. No entanto, se assim for podemos por ouro lado,
cobrar altos preços aos anunciantes, porque a mensagem deles vai chegar a um número
muitíssimo mais elevado. Assim, percebeu-se que nos two sided markets:

— O que acontece num dos lados condiciona o que acontece do outro: O que
acontece do lado da compra condiciona o que acontece do lado da venda, e aquilo que
acontece do lado da venda condiciona o que acontece do lado da compra.

Nesta lógica clássica, os juros funcionam como o mecanismo de equilíbrio de 2


lados de mercado, o sistema bancário e as taxas de juro funcionam como exemplos
destes mercados de dupla face:

Subimos os juros nas operações passivas para atrair fundos —> Depois temos
que cobrar juros altos nas operações ativas —> Isto leva a que haja menos procura de
fundos, portanto, não temos muita necessidade de fundos —> Então, se temos pouca
necessidade de fundos, não temos que pagar juros altos, podemos baixar os juros
porque não precisamos que haja tanta gente a confiar-nos as suas poupanças porque
não temos o que fazer com elas.
39
Por outro lado, se baixarmos os juros das operações passivas, isso poderia ser
uma forma de estimular a procura de fundos junto dos bancos para fazer investimentos,
aquisições a crédito —> mas não há fundos suficientes a disponibilizar para tal, porque o
juro das operações passivas é baixo —> as pessoas vão a procura de aplicações
alternativas para o seu dinheiro.

De que depende então, também, a procura de empréstimos junto dos bancos?

Vão pedir dinheiro para anteciparem consumos, para realizarem despesas de


consumo. Mas também vão procurar fundos para investir.

Os investidores, quando decidem contrair uma dívida, comparam a taxa de juro


(custo anual em relação a uma certa unidade - 10% por cada 100 de empréstimo, no fim
do ano tem de se pagar 10). Quanto mais baixa a taxa de juro, maior é a procura desse
empréstimo.
O interesse do potencial devedor dos bancos depende também do que o
investimento lhe pode proporcionar. O investimento pode proporcionar-lhe um retorno, e
se este for de 1, ao fim do ano, ele só está disposto a contrair o empréstimo, desde que
no fim do ano só tenha de pagar 1 ao banco. Mas, se o investimento lhe der um retorno
de receitas de 10, então, mesmo que a taxa de juro esteja em 10%, ele inda terá,
eventualmente, interesse em contrair empréstimo, porque aquilo que vai receber com a
aplicação desse é o suficiente para pagar esse empréstimo.

Então, o indicador de remuneração dos investimentos que vai selecionar os


créditos que vão ser ou não ser pedidos ao sistema bancário vai ser a taxa interna de
rentabilidade do investimento, que é uma relação muito semelhante à do juro: No juro
compara-se o que se pede ao banco e aquilo que se tem de pagar; Na taxa interna de
rentabilidade o que se compara é aquilo que se gasta, a utilização do dinheiro que se foi
buscar ao banco, e aquilo que se recebe por essa utilização.

— A lógica dos investidores é fazer corresponder a taxa interna de rentabilidade à taxa


de juro, em tempos de duração semelhantes.

Aula 19/04

Lucros

É o empresário que toma a iniciativa de se lançar numa atividade produtiva, recrutando


terra, trabalho e capital, ou alguns destes.

A iniciativa pode ser um fundamento suficiente para que, depois, o empresário


obtenha uma remuneração, que é o lucro (receitas totais - custos totais).

• A parcela que excede os custos de produção, depois de pagos os inputs


(incluindo os fatores de produção empregues, incluindo os auto-fornecidos) é dita
remunerar, consoante o contributo imputado aos empresários, a iniciativa de pôr em
marcha o processo produtivo, organizando concretamente os fatores produtivos (e
adiantando os fatores à necessários à produção, antes de ter acesso à remuneração do
resultante da venda do produzido); o risco de o resultado apurado ser negativo e de o
seu responsável ter de arcar com os prejuízos; e, ou a inovação (ou seja, a introdução
de novos produtos, a utilização de novos processos, a melhoria de uns ou outros, ou,
40
pelo menos, a percepção da oportunidade de explorar uma atividade económica que
podia proporcionar um excesso de receitas sobre as despesas).

Uma forma de explicar a atividade do empresário é admitir que este compara os


custos esperados de um certo projeto (para simplificar: os juros do capital necessário à
sua montagem e funcionamento anual, expressos em percentagem) com a sua taxa de
rentabilidade (para simplificar: o excesso anual de receitas sobre as despesas,
igualmente expresso em percentagem do capital mobilizado). Desde que a taxa de
rentabilidade seja superior à taxa de juro (supondo que o tempo de duração do
investimento e de pagamento integral do empréstimo é igual), o investimento compensa.
Se as receitas totais excederem os custos totais, o excesso será o lucro.

No entanto, pode acontecer que o total das receitas fique abaixo do total dos
custos e, aí, o empresário terá prejuízo.

Este risco da atividade empresarial, que recai sobre o empresário, é um outro dos
fundamentos para a justificação de obtenção de lucros.

O empresário organiza o processo produtivo, tem a iniciativa, mas além disso, ele
corre um risco, se a totalidade das receitas não cobrir a totalidade das despesas,
supostamente, quem paga a diferença não serão os trabalhadores ( a menos que fiquem
com os salários em atraso), não serão os fornecedores ( a menos que não lhes paguem
os fornecimentos).

No entanto…

Houve atividades empresariais em que quem devia assumir o risco devia ser o
empresários — este tem uma remuneração na atividade económica justamente porque
tem a iniciativa e porque corre os riscos inerentes — acontece que, muitas vezes, o
empresário se resguarda, através de figuras como a criação de sociedades de
responsabilidade limitada — constituindo veículos societários que limitam a
responsabilidade do empresário em caso de insucesso do empreendimento a que ele
deu origem.

Os lucros podem ser remuneração do risco, da iniciativa ou da inovação.

Também os empresários que conseguem tornar viável um novo produto, acabam


por ser recompensados pelo mercado devido à inovação que introduziram. Esta inovação
pode ser, por exemplo, um processo de fabrico mais eficiente que, depois, se torna
dominante (ex.: o motor de busca da Google) — A inovação como forma de obter lucro.

Repartição do rendimento (breve referência)

Acontece que, com os desenvolvimentos dos últimos anos, a questão da


repartição do rendimento é um assunto cada vez mais premente. A grande questão do
nosso tempo terá a ver com a forma como aquilo que é o resultado da atividade
económica é distribuída entre os participantes nos processos produtivos.

Assistimos a cada vez menos detentores de processos produtivos a ficarem com


cada vez mais do resultado económico e a esmagadora maioria das pessoas está a ficar
com uma parcela cada vez menor da totalidade do processo económico (sobre a
desigualdade e políticas de diminuição da mesma falaremos mais à frente).
41
Essa assimetria cada vez mais abrupta na distribuição do rendimento acaba por
resultar de uma questão que normalmente é omitida na abordagem económica
tradicional:

A economia mainstream explica o funcionamento do mercado através daquilo


que, no fundo, são mecanismos omioestáticos, mecanismos que permitem manter o
equilíbrio.

Relembrando a lógica da explicação dos fenómenos económicos, no que diz


respeito à oscilação dos preços nos bens e serviços:

Podemos interpretar a oscilação dos preços como formas de reajuste para


obtenção do equilíbrio:

A economia que foi desenvolvida a partir dos finais do século XVIII - a ideia de que
também no domínio económico há movimentos que são desencadeados cada vez que
os sistemas se afasta da sua posição de equilíbrio - lógica omioestática, em que os
preços desencadeiam reações, funcionam como sensores e quando há oscilações, isso
põe em marcha as alterações necessárias, no mercado dos bens, dos serviços, dos
fatores de produção, oferta, procura…

Toda a lógica do raciocínio da economia que se desenvolveu a partir de Adam


Smith, David Ricardo vai no sentido de encontrar as leis, as regularidades, que permitem
detetar os mecanismos de correção económica que permitem repor os equilíbrios. Aquilo
que falamos em economia I, foi uma série de exemplos de situações em que através de
reações postas em marcha pelo sensor dos preços nós recuperávamos o equilíbrio

• Grande depressão de 1873/1896

Nesse período, os preços caíram enormemente e, no entanto, nem assim


aumentou a procura de bens, nem aumentou a procura de fatores de produção. Portanto,
esta ideia de que a economia tem em si incorporados mecanismos de reposição do
equilíbrio não coincidia exatamente com aquilo que era a interpretação dos economistas
da época. Mas, a verdade é que foi possível manter a ideia de que, pelo menos a prazo,
os mecanismos económicos se reajustam, mesmo que não aconteça a curto prazo -
crises apenas transitórias e temporais.

Era neste ponto que estávamos quando a crise de 1929/33 chegou:

• Crise da Grande Depressão de 1929

- Perde-se 1/3 da capacidade produtiva nos EUA;


- Preços caem 1/3 em termos reais;
- Desemprego atinge 25% da população ativa.
Os remédios propostos pelos dirigentes políticos da época — manter
orçamentos equilibrados para evitar que o setor público fosse um fator de perturbação
na economia; incentivar a poupança, por um lado, porque se acreditava que importava
conservar ativos que podiam ter importância numa outra qualquer fase do ciclo, face às
dificuldades da época, parecia lógico que as pessoas constituíssem uma reserva e, por
42
outro lado, havendo um aumento de poupanças e se este aumento fosse canalizado para
o sistema bancário, então, esse excesso de oferta de fundos para poupança faria descer
a taxa de juro nas operações passivas e ativas. — influenciados por um qualquer
economista morto, como dizia Keynes, não resultavam - acreditava-se que a intervenção
do Estado na economia era prejudicial à economia, o que era uma ideia errada.
No entanto, com este choque, a economia teve que aceitar/reconhecer que os
tais mecanismos de reequilíbrio que, supostamente, garantiram a estabilização do
sistema económico funcionavam muito deficientemente se é que funcionavam. Para isso,
foi decisivo uma abordagem radicalmente diferente da explicação dos fenómenos
económicos, que foi devida a John Keynes.

John Keynes é o criador da macroeconomia, a revolução Keynesiana mudou a


face da economia.

A partir de 1776, os economistas clássicos, neoclássicos, sempre se


preocuparam com os equilíbrios que pelo menos a médio prazo se verificariam. O
Keynes, face à hecatomba económica dos anos 30 escreveu que a longo prazo estamos
todos mortos, o que interessa é o curto prazo e temos de perceber o que causa esta
brutal divergência entre aquilo que era suposto resultar da teoria, os equilíbrios
sucessivos, e aquilo que se contestava realmente: a realidade dos factos, a crise de 1929
punha em causa esse processo de explicação e cria a ideia de que há outras
condicionantes que não são as micro-económicas.

No pensamento anterior a Keynes já tinha havido abordagens que tinham em


atenção o todo, ou pelo menos uma aproximação ao todo. Antes de mais, os
mercantilistas, as correntes de explicação económica pré-clássica.

Os mercantilistas tinham em comum a ideia de que a riqueza dos estados estava


nos metais preciosos. Nessa altura, a base dos sistemas monetários eram os metais
preciosos, o que levava a que a generalidade dos pensadores estaduais
(administradores, conselheiros do rei…), o que queria obter (bens, serviços, exércitos
mercenários…) era obter excesso de reservas metálicas — exportar mais, importar
menos, produzir bens que pudessem ser vendidos no estrangeiros e que dispensassem a
importação — queriam obter excedentes de balanças de pagamentos.
Podemos dizer que era uma abordagem da economia a partir de uma lógica
macro.

Assim, não podemos dizer que a abordagem macro-económica seja uma criação
dos anos 30 do século XX, houve abordagens macro-economias anteriores. No entanto,
estas eram anteriores ao desenvolvimento da economia.

Em alguns desenvolvimentos económicos também houve abordagens macro,


como por exemplo, a teoria quantitativa da moeda. Esta remonta pelo menos à Idade
Média e associa a ideia de que quanto mais moeda houver em circulação, menor será o
seu poder de compra. Isto pode ser inferido daquilo que foram as circunstâncias
históricas em vários momentos do desenvolvimento da humanidade.
Se houver demasiada moeda em circulação os preços sobem e vice-versa.

Esta ideia antiga também tem o seu quê de macro, tal como uma das leis
formuladas por um dos clássicos, a Lei de Say.
43
Esta lei diz que os produtos se trocam por produtos, a ideia de que a oferta cria a
sua própria procura.
Esta ideia é profundamente emboída na lógica do sistema clássico, que leva a
recusar a existência de crises de superprodução — não pode haver excesso de
produção, porque os produtos trocam-se por produtos.

A lógica desta lei é a lógica do amigo secreto:

- Não se pode tirar um presente do saco, sem lá ter posto outro. Quem entrou pós
uma prenda, quem esta no jantar tira uma prenda, se alguém lá não pós, não
poderá tirar, não chega para ele.

- No mercado, vemos algo que queremos comprar. Se queremos comprar, temos de


arranjar maneira de arranjar meios para adquirir, por exemplo, vendendo algo que
temos — lançamos algo no mercado, obtemos os meios para ir buscar a outra.
Eventualmente, a pessoa que comprou o que tinhamos a vender até pode ser a
que estava a vender o que queríamos comprar.

Na economia, o que obtemos é através da cedência de algo para o mercado,


bens, serviços ou então fatores de produção.
Para se ir buscar, direta ou indirectamente, alguma coisa ao mercado, tem de se
lá por alguma coisa. Ora, como aquilo que se põe é igual ao que se tira, a lógica dos
clássicos é que não podiam haver sobras.

Dentro desta lógica, os equilíbrios estavam garantidos. No entanto, isto não se passa
assim… Porquê?

Como é que a economia entrou em crise em 1929 e passados anos continuava em


desequilíbrio? Porquê que apesar das recomendações aparentemente sábias face
aos conhecimentos da época, para manter orçamentos equilibrados e para se
aumentar a poupança, ao fim daqueles anos, continuava a economia em depressão?

Em 1932, há eleições nos EUA, e é eleito Franklin Roosevelt, candidato


democrata.

Em dezembro desse ano, John Keynes publica uma carta aberta no New York
Times, a defender que aquilo que eram as prescrições económicas de época estavam
erradas e aquilo que se devia fazer era tudo o inverso. Isto é, aquilo que o Estado tinha
que ter não era um orçamento equilibrado, era um orçamento desequilibrado e aquilo
que se devia incentivar era a que as pessoas não poupassem.

A lógica de Keynes vem resolver aquela contradição entre a teoria e a prática.

O raciocinio de keynes era:

— As únicas maneiras de aumentar a despesa são:

1. Haver mais gastos de cada pessoas — as pessoas que têm capacidade de gasto têm
de gastar mais do que gastavam antes. Para gastar mais elas têm de aforrar menos,
porque o rendimento que as pessoas têm pode ser destinado basicamente ou a
consumo ou aforro, em função do seu rendimento disponível (depois de serem pagos
44
os impostos); as decisões que as pessoas tomam tem a ver com esse rendimento
disponível — As pessoas gastarem mais, consumirem mais e pouparem menos.

2. Haver mais pessoas a gastar. Mas como? — Pode haver decisões de investimento
que antes não eram feitas e que agora são, isto é, uma empresa, por exemplo, pode
decidir contratar mais trabalhadores, comprar máquinas, arrendar espaços, comprar
edifícios. Então, esta despesa aparece, também, como adicional em relação às
despesas pré-existentes, criando-se, com isso, despesa nova. Mas na situação de
crise que se estava a viver internacionalmente, mas sobretudo nos EUA, quer o
aumento de gastos por parte das famílias, quer o aumento de gastos por parte das
empresas, não era fácil nas condições da época. então, para Keynes, a solução
parecia óbvia — se as empresas e as famílias não gastam mais, tem de ser o Estado
a fazê-lo. Agora, se o Estado fosse fazer despesas adicionais indo buscar mais
impostos, isto é, procurando manter o orçamento equilibrado, então, não havia
diferença alguma. A única maneira de o Estado aumentar a despesa global, era
através de despesas financiadas com crédito, isto é, recorrendo a empréstimos, ou
então através da criação de moeda. Quer o recurso ao crédito, quer o recurso à
criação de moeda implicavam um desequilíbrio no orçamento, implicavam que
houvesse mais despesas do que receitas.

— A recomendação de Keynes, era de que se gastasse, não a custo de um


orçamento equilibrado, porque este iria fazer com que a totalidade das despesas fosse
igual à totalidade das receitas e, portanto, estar-se-ia a retirar do circuito económico, do
mercado, a mesma quantidade que se lançava nele e isso não teria efeitos para estimular
a economia, tinha que ser através do desequilíbrio orçamental.

— Por outro lado, Keynes dizia que se as pessoas ou aforram ou consomem, cada
vez que aforram mais, consomem menos necessariamente. Se o rendimento que as
pessoas têm disponível pode ser afeto a consumo ou a aforro, então, mais aforro traduz-
se em menos consumo. Ora, se pensarmos no que acontece quando há menos
consumo, vamos constatar que a diminuição no consumo provoca efeitos recessivos na
economia: - o rendimento vai para consumo ou para aforro; a despesa privada é
composta, também, por duas componentes: uma componente de consumo e outra
componente de investimento. Se a despesa total for inferior ao rendimento, isto sinaliza
aos agentes económicos de forma clara que se a despesa for inferior ao valor da
produção, então, ao contrário daquilo que é a lei de Say, nem tudo o que se produz se
vende, no mercado ficam algumas coisas de fora. Se o rendimento vai para consumo ou
aforro e se a despesa que é constituída por consumo e investimento e se o consumo é o
mesmo no lado do rendimento e no lado da despesa, o consumo tanto é consumo
quando se gasta, como é consumo quando se afeta uma parte do rendimento a esse
gasto, o valor do consumo é igual quer na lógica da despesa, quer na lógica do
rendimento.
Agora, o aforro não é necessariamente igual ao investimento. Não há nenhuma razão
óbvia para que o valor de um investimento, num certo período, seja igual ao valor do
aforro nesse período - pode ser que sim, pode ser que não. Keynes diz que não é
necessário nem há razão para que aquilo que é o montante de fundos que as pessoas
tiram do consumo vá todo para o sistema bancário, há uma parte desse montante que é
entesourado (o entesouramento é a parte do aforro que não vai para o sistema bancário,
fica em ativos líquidos). Então, na medida em que uma parte do aforro não fosse
canalizado para o sistema bancário, então, esse aforro não poderia ser transformado em
investimento.
45
Por outro lado, mesmo a parte do aforro que é canalizada para o sistema
bancário, só seria absorvida por procura de investimento se realmente a taxa de juro
funcionasse como aquele sensor que garante o equilíbrio entre a procura e a oferta de
fundos. Isto é, se a taxa de juro fosse realmente aquele preço de equilíbrio entre a
procura de fundos por parte dos investidores e a oferta de fundos por parte dos
aforradores, de maneira que quando havia maior procura de fundos por parte dos
investidores, a taxa de juro subia, então, quando a taxa de juro subia as pessoas
aforravam mais e, portanto, canalizavam maior parcela dos seus rendimentos para o
sistema bancário para satisfazerem a procura acrescida de fundos por parte dos
empresários. Por outro lado, se ainda considerássemos que era esta taxa de juro que
influenciava reciprocamente os dois lados do mercado, se os agentes económicos
empresariais, do lado da produção procurassem menos fundos para investimento, ente,
os bancos iriam descer a taxa de juro, porque precisavam de menos fundos para
emprestar ao empresário. Se diminuíssem as taxas de juro nas operações passivas,
então as pessoas aforravam menos e assim consumiam mais.
Portanto, supostamente, dentro da lógica clássica, que vem a ser assim
explicada por Keynes, em termos macroeconómicos, os grandes agregados da
contabilidade nacional, o PIB, o rendimento nacional, a despesa de que ouvimos falar
quotidianamente são uma invenção das reações dos economistas à Grande Depressão
dos anos 20/30.

É esta ideia de que há grandes agregados macroeconómicos e que estes


agregados podem divergir uns dos outros, ao contrário daquilo que pensavam os
clássicos e daquilo que resultava da Lei de Say, então, é esta ideia de que a despesa que
é composta por consumo e investimento deve ser igual ao valor da produção e ao valor
do rendimento para que a economia esteja em equilíbrio, porque se a despesa ficar
abaixo do valor da produção, então, há uma parte da produção que não é escoada,
então, há sobreprodução. Se houver sobreprodução, isto é, se nem tudo o que se
produzir for vendido, se os empresários não venderem tudo o que produziram no período
anterior, no período seguinte vão produzir menos.

É claro que se produziram 150 e só venderam 100, não faz sentido no período
seguinte produzir 150, tem de se produzir 100. Se se produz 100, já não se distribui 150,
só 100. Se a produção é no valor de 100, a totalidade dos salários, rendas, lucros e juros
não é 150, a totalidade é 100.
Agora, dividindo os 100 entre consumo e aforro, se não aforrarmos mais, e se o
investimento não for igual ao valor do aforro, então no período seguinte não se produzem
100, produzem-se 100 menos aquilo que não foi vendido no período anterior.

Quer dizer que aquilo que o Keynes tinha percebido é que uma depressão podia
entrar numa espiral que levava a que os resultados fossem sempre piores, até ao
momento em que não era mais possível adiar decisões de investimento e até ao
momento em que o valor do investimento igualasse, pelo menos, o valor do aforro. A
partir do momento em que o valor do investimento iguala o valor do aforro, nó
voltamos a ter uma situação de equilíbrio, isto é, o valor da despesa que é
composta por consumo mais investimento é igual ao valor do rendimento que é
afeto a consumo mais aforro.
Como o consumo, quer do lado do rendimento, quer do lado da despesa,
tem o mesmo valor, a condição de equilíbrio básica, para uma economia se manter
em equilíbrio, é que o aforro seja igual ao investimento.
46
Na lógica clássica, a taxa de juro garante que a procura de fundos para
investimento iguala o aforro das famílias, porque, justamente se a taxa de juro subir, sobe
o aforro. Mas a taxa de juro só sobe se houver maior procura de fundos para
investimento. Portanto, através deste preço, supostamente, mantinha-se o equilíbrio
económico e não havia diferença entre aquilo que se produzia e aquilo que era absorvido.
Se não houvesse diferença entre o que era produzido e o que era absorvido, no
período seguinte repetiam-se as mesmas produções e a mesma produção era absorvida
e a economia manter-se-ia em equilíbrio.

Portanto, de acordo com Keynes, havia, na recomendação às pessoas para


pouparem, uma terapêutica errada. Aquilo que resulta da análise keynesiana é que
poupar mais é poupar menos.

Se se recomenda às pessoas que aforrem mais, o que se recomenda é que tirem


dinheiro do circuito económico. É claro que uma parte desse dinheiro volta ao Circuito
económico se for para os bancos e volta na medida em que as empresas, os
empresários decidirem pedir empréstimos bancários e, depois, utilizarem esse dinheiro
para fazer despesa de investimento. Quando a despesa de investimento mais a despesa
de consumo somadas forem iguais ao rendimento que é afeto a consumo mais aforro, a
economia está e equilíbrio. Mas isto não é uma necessidade e, sobretudo, isto não é
garantido pela taxa de juro, como julgavam os clássicos. Isto, por duas razões, segundo
Keynes:

1. A preferência pela liquidez: As pessoas não gastam tudo o que têm.


A lógica dos clássicos era a de que a moeda é um véu, não serve para nada,
a não ser como passaporte para a aquisição de bens, a lógica do Say, os
produtos trocam-se por produtos. Na lógica clássica, o dinheiro simplifica as
transações, intermedia, mas, na verdade, o que estamos a trocar são coisas
físicas, trocamos bens por bens, ou fatores de produção por bens, ou fatores
de produção por serviços. O dinheiro serve apenas para facilitar estas trocas, a
lógica do dinheiro é uma lógica de neutralidade, supostamente, este só serve
para adquirir coisas, e é apenas para isso que as pessoas o querem. Portanto,
se pensarmos que a moeda só serve para adquirir coisas, então, sim,
trocamos produtos por produtos por intermédio da moeda e esta só serve para
isso.
Keynes vem dizer que isto não é verdade, vem fundir duas área da
economia que se pensava que se podia manter separadas, a economia real e a
economia monetária. Os clássicos julgavam que, como a moeda era neutra, se
podia tratar das questões reais de funcionamento da economia real e, depois,
explicar que a moeda tinha interferência nisto, mas apenas através da lógica
da teoria quantitativa da moeda (os preços variam em função da oferta de
moeda, se a moeda aumentar, os preços sobem, se a moeda diminuir, os
preços baixam). Mas, tirando este dado que era um dado adquirido pelos
clássicos, (que a moeda interferia na formação dos preços e, portanto,
também tinha de haver cautelas quanto à quantidade de moeda que se punha
em circulação) julgava-se que, verdadeiramente, a moeda não era um bem
desejado como os outros bens eram desejados, só era desejada como um
passo na obtenção de algo. Keynes diz que não, há razões pelas quais os
agentes económicos querem moeda, e não querem ter a moeda para fazerem
algo com ela num momento imediato, querem-na para ter moeda. Portanto, a
diminuição do consumo pode, também, ser explicada por um excesso de
procura de moeda: se houver um excesso de procura de moeda (se a
47
preferência pela liquidez dos agentes económicos for muita), então, há
rendimentos que são distribuídos (salários, rendas, juros e lucros) e as famílias
ou empresas que obtenham esses rendimentos, se tiverem uma preferência
pela liquidez, ficam com a moeda, não a gastam, não canalizam o aforro para
o sistema bancário, antes, entesouram a moeda.
Segundo Keynes, isto acontecia por várias razões: (1) As pessoas conservam
moeda para fazer face a despesas, as empresas, por exemplo, têm a sua
caixa; (2) Há um montante que as pessoas guardam por motivo de precaução,
porque nunca se sabe o que pode acontecer, por exemplo, nos países onde já
houve congelamento de acesso às contas bancárias (não foi o caso de
Portugal) e as pessoas ficaram sem acesso ao seu dinheiro, certamente que as
pessoas mantêm ativos líquidos; (3) Ter capacidade de resposta imediata às
oportunidades — isto ligado aos agentes económicos que têm atividade
económica empresarial, sobretudo, de intermediação ou arbitragem, também é
frequente manter ativos líquidos — Imagine-se alguém que se dedique a
comércio de compra e venda de automóveis em segunda mão. Para pode
fazer um negócio, pode ser que tenha que ter ativos líquidos, por exemplo,
para comprar um determinado carro a um sujeito pode ser conveniente fazer o
pagamento em notar, porque o sujeito pode ter necessidade imediata do
dinheiro; (4) há pessoas que não têm acesso ao sistema bancário, não
possuem conta nos bancos, por exemplo, por não possuirem rendimentos
suficientes, porque eventualmente se tornaram insolventes, (…).

2. Motivo especulação: tinha a ver com a necessidade de fazer pagamentos para


comprar títulos na bolsa, para comprar ações, títulos de dívida pública e, aí, o
especulador, para poder tirar partido das oscilações, é preciso conservar aforros
líquidos, é preciso, num determinado momento, converter dinheiro em títulos e,
num outro momento, converter títulos em dinheiro e deixar ficar o dinheiro à
espera da próxima oportunidade para depois comprar títulos. Portanto, a
especulação também era uma das razões que levava a que a preferência pela
liquidez mantivesse permanentemente valores elevados.

A preferência pela liquidez e a função consumo por outro:

A função consumo:

Keynes partia do princípio que se nós estivéssemos numa situação em que cada
unidade de rendimento era canalizada para consumo, então, poderíamos representar isto
por uma linha a 45º num diagrama cartesiano (eixo vertical - consumo; eixo horizontal -
rendimento disponível; traça-se uma linha a 45º com origem no ponto de encontro entre
os eixos) e temos garantido que o valor do consumo é sempre igual ao valor do
rendimento disponível.
Ora, como já vimos, nem todo o rendimento disponível vai para consumo.
Portanto, essa linha a 45º não é a que respeita o consumo.

Qual é a linha que representa o consumo?


— Há um ponto em que o consumo é igual ao rendimento, em que as pessoas
gastam em consumo tudo o q recebem. Se as pessoas tiveram no limiar na
sobrevivência, então, tudo o que recebe é gasto em consumo. Quer dizer que temos um
48
ponto de igualdade entre rendimento disponível e consumo na linha dos 45º, mas só
temos um ponto.
— À direito desse ponto, nós temos aforro, ou seja, quando as pessoas têm um
rendimento que supera o valor necessário para elas sobreviverem.
— A partir de um certo valor de rendimento, as pessoas não têm de gastar tudo o
que recebem e, então, a partir de certo ponto nós temos uma linha que é a função
consumo, que fica abaixo dos 45º graus — a partir do momento me que temos um
rendimento que nos permite e aforrar, já não estamos na linha de igualdade dos 45º,
estamos abaixo dessa linha, temos um valor de consumo que é inferior ao nosso valor de
rendimento, que vai ser representado por essa linha, que fica abaixo da linha de
igualdade entre consumo e rendimento disponível e que corta essa linha num
determinado ponto.

— Mas se temos situações em que temos rendimento acima do consumo,


também devemos ter pontos em que temos rendimento abaixo do consumo, quer dizer
que abaixo de certo valor, as pessoas têm de gastar mais do que têm, ou individando-se,
ou recorrendo às poupanças que acumularam ou dependem de transferências de outrem
(ex.: Estado, família, instituições de caridade…). No entanto, há certamente valores em
que o consumo excede o rendimento para um conjunto de pessoas.

Portanto, se nós juntarmos estas 3 possíveis situações face à linha de igualdade,


descobrimos o seguinte:

A — ponto de rendimento disponível que as pessoas afetam totalmente a consumo

s — do ponto A para a direita, a função consumo fica abaixo da linha de 45º

a — do ponto A para a esquerda, a função consumo fica acima da linha de 45º


49
Parte sombreada — corresponde a despesas superiores ao rendimento disponível

c — à medida que o RD aumenta, a diferença entre a despesa necessária e o RD vai


sendo menor

Parte com riscas — aqui vamos podendo aforrar

Quanto maior for o rendimento disponível, maior é o aforro, segundo Keynes.

Exemplo: 100 de Rendimento Disponível, 80 de gastos de consumo — poupamos 20


1000 de RD, já não afeamos a consumo 800, afetamos menos do que 800,
porque a propensão marginal ao consumo diminui à medida que o rendimento vai
aumentando — isto é mostrado pela função consumo keynesiana.

A Função consumo Keynesiana é representada por uma linha que corta na


linha de igualdade entre o RD e o C, e que tem um valor incomprimível de despesa,
a partir do qual parte e depois uma inclinação que depende da propensão marginal
ao consumo (o que as pessoas fazem quando têm mais uma unidade de
rendimento). Se as pessoas mantivessem sempre a mesma propensão ao consumo,
cada unidade de rendimento seria gasta/tratada da mesma maneira que foram
tratadas as anteriores, isto é, se eu tenho uma propensão marginal ao consumo de 9
décimos para 100, e tenho uma PMC de 9 décimos para 1000. A questão é — será que
tenho a mesma propensão marginal ao consumo quando tenho 100, 1000, 10000… — a
lógica Keynesiana é que não:

As pessoas têm uma propensão marginal ao consumo, mas essa depende


do nível de rendimento.

Porquê que há um problema de ajuste entre aquilo que é o rendimento e aquilo que é a
despesa?

Nem tudo o que é produzido é, necessariamente, absorvido — porquê?

— Porque uma parte daquilo que as pessoas recebem, o seu rendimento, é


mantido em aforro líquido, isto é, é mantido fora do circuito de aquisições, as pessoas
têm preferência pela liquidez, pelas razões vistas acima. Por outro lado, porque a função
consumo nos mostra que, embora haja situações em que se gasta mais do que o que se
tem, a partir de certa altura, não se gasta tudo aquilo que se tem e quanto mais se tem,
menos se gasta, a propensão ao aforro aumenta com os seus níveis de rendimento.

Se já sabemos que o rendimento tem 2 destinos possíveis, o consumo e o aforro,


então, podemos intuir que se há um propensão marginal ao aforro, há uma propensão
marginal ao consumo. Isto é, a soma da propensão ao consumo com a soma da
propensão ao aforro é igual à unidade — o rendimento ou vai para consumo ou para
aforro e, portanto, temos uma unidade que dividimos em aforro e em consumo.

Se temos uma PMC, temos uma PMA — é a diferença para a unidade.

- Se a PMC for 9/10, a PMA será de 1/10;


- Se a PMC for 2/3, PMA é de 1/3.
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Verdadeiramente, o que importa não é a discrição individual da posição de cada
sujeito económico, cada agente económico tem a sua própria função consumo, aquele
ponto em que se gasta tudo o que se tem, é muito diferente para cada um dos agentes,
cada um tem valores diferentes para o momento em que começa a poupar e o momento
em que gasta tudo o que tem.

- Há até quem acredite que a PMC é um traço de personalidade, ou seja, quem já,
desde cedo, aforra algo, continuarão a aforrar no futuro. Se não aforra nada, no
futuro, por muito dinheiro que venha a ganhar, também não irá aforrar nada.
supostamente, isso dependerá de características de personalidade — as pessoas
têm por natureza serem mais poupadas ou menos. Portanto, aquilo que determina
o ponto de interceção da função consumo d cada um com a linha de igualdade
está predeterminado por características psicológicas e não importa tanto o valor
do rendimento que as pessoas alferam.

Nota: Os chamados frugais acham que os países do sul da Europa são os que estão do
lado errado do ponto entre rendimento e despesa, isto é, gastam sempre mais do que
aquilo que têm. Do ponto de vista dos frugais, em que os valores de aforro são uma parte
importante e positiva, enquanto que os perdulários têm um aforro negativa, gastam mais
do que aquilo que têm, está do lado esquerdo do ponto de interseção entre a função
consumo e a linha de igualdade entre consumo e rendimento.

O que interessa não é saber em que ponto é que se verifica aquela igualdade
para cada pessoa, interessa saber como é que a economia se comporta.

Pode apurar-se uma propensão média ao consumo e uma propensão média ao


aforro, desde que tenhamos os valores da contabilidade nacional (esta também é uma
criação da macroeconomia, é a partir dos conceitos, das reflexões Keynesianas que,
depois, se constroem os quadros macro-económicos que indicam os valores de
produção de despesa e de rendimento). Ora, se nós soubermos o valor do PIB, o valor
da produção, sabemos, também, qual é o valor do consumo, e por diferença do valor do
consumo para o valor da produção, sabemos qual é o valor do aforro. Ou, também
podemos saber qual é o aforro, através dos depósitos no sistema bancário, se
soubermos qual o valor canalizado para o sistema bancário, podemos imaginar que esse
é o valor do aforro desse ano — o valor que afluiu de novo ao sistema bancário
corresponde a uma determinada parte do rendimento.

Dotados das explicações Keynesianas, era possível desenvolver um quadro de


respostas adequado.

Quer quando a economia passava por situações em que a despesa excedia a


produção (o consumo mais o investimento, somados, excedem o valor da produção), o
que resulta em inflação);

Quer quando a despesa fica abaixo da produção, o que faz com que os agentes
económicos, no período seguinte produzam menos, uma vez que aquilo que produziram
não foi absorvido pelo mercado. No entanto, diminuir a produção diminui os salários,
rendas, juros e lucros, o que faz com que no período seguinte haja menos consumo e
aforro. Se o padrão de consumo e aforro, como Keynes acreditava, então o aforro
mantém-se, o consumo também, mas como há menos rendimentos, há menos aquisição
de bens. Assim, entremos na espiral deflacionária, na especial de recessão.
51
Com a análise Keynesiana, e através da intervenção do Estado, sabia-se o que é
que se devia fazer:

A produção excede o consumo e o investimento privados. O que falta, o Estado


põe, o Estado faz a despesa compensadora e restabelece o equilíbrio;

A despesa excede a produção. O Estado tira liquidez da economia, aumenta os


impostos, diminui as possibilidades que as pessoas têm de consumir ou,
eventualmente, de investir.

— Em situações de sobreaquecimento da economia, o Estado ela a cabo políticas


recessivas.
— Em casos de situação de insuficiência da procura agregada (aquilo que resulta do das
despesas de investimento, da procura de bens de investimento e da despesa em bens
de consumo, da procura de bens de consumo), o Estado faz despesas compensadoras,
põe a diferença.

Estas intervenções Keynesianas, atribuíam ao Estado a função estabilizadora,


realiza atividades redistributivas, de estabilização e de alocação. As funções
estabilizadoras vêm desta lógica Keynesiana de interferência com o cálcio económico.
Se se perceber o funcionamento macroeconómico, temos oportunidade de intervir.

Nota:

Até ao primeiro choque-petrolífero, em 1973, as políticas Keynesianas


funcionaram muito bem, depois disso, deixaram de funcionar e o mundo deixou de ser
Keynesiano. A partir dos anos 80 houve mudanças políticas, as políticas monetaristas
tornaram-se políticas ortodoxas.

Com a pandemia, afinal de contas, percebeu-se de que há certas circunstâncias


em que o Estado tem de intervir e a lógica da intervenção do estado continua a ser a
lógica Keynesiana, a realização de políticas contra-cíclicas. Em vez de termos a quase
ortodoxia monetarista neoliberal de que os mercados funcionam e que devemos deixar
que os mercados funcionam, temos, agora, a reabilitação das políticas contra-cíclicas.
Se a economia está em depressão, o Estado gasta mais do que aquilo que tem, para
permitir que a economia retome a sua atividade. Quando a economia está em
sobreaquecimento, os valores de despesa excedem os de produção, é necessário travar
a inflação, recorrendo a políticas de cariz austeritário.
Agora, ter políticas de cariz austeritário em situações de crise é, do ponto de
vista Keynesiano, um perfeito absurdo. Aparentemente, já se percebeu que a tese da
austeridade expansionista, que foi vendida para sustentar, do ponto de vista teórica, as
medidas de reação à crise de 2008, a austeridade expansionista não funciona.

(Vamos ver como funciona a política contra-cíclica que está a ser posta em prática, há
uma quantidade enorme de fundos que estão disponíveis e não se sabe bem para quê, e
que podem ter feitos nefastos na inflação.)
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Aula dia 26/04

— Vimos na última aula, que a função consumo representava aquilo que é a procura das
famílias.

— O rendimento iguala a produção.


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Se temos um valor de produção de 100, isso quer dizer que distribuímos, em salários,
rendas, juros e lucros, 100.

R=P

Se fosse igual à despesa, teríamos rendimento 1000, uma produção de 1000, distribuir
rendimentos de 1000, esses rendimentos eram afetos a consumo e investimento, davam
uma despesa de 1000, e andaríamos num ciclo e teríamos uma situação de equilíbrio.

A crise de 1929 demonstrou isso com toda a evidência — se é verdade que a produção é
igual ao rendimento, não é forçoso que a despesa seja igual ao valor da produção. Ao
contrário da analogia do saco do amigo secreto em que as pessoas põe algo e tiram algo
e, no fim, não sobra nada, pode acontecer que na economia haja coisas que não são
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escoadas pelo mercado. Isso acontece devido à preferência pela liquidez, potencial
aquisitivo que não é convertido em procura efetiva e devido à função consumo.

A função consumo faz com que as pessoas, até um certo nível de rendimento gastem
mais do que têm, mas a partir de certos níveis de rendimento, gastam menos do que
têm.

À medida que nos vamos afastando da nossa linha dos 45º, vamos tendo valores
crescentes de poupança. Se o investimento for exatamente igual à poupança, voltamos à
linha dos 45º.

— Imagine-se que se aforra 200. Para estar com a economia em equilíbrio,


precisamos de ter um valor de investimento em 200. Se a linha do investimento se
somar à função consumo, voltamos a estar numa situação de equilíbrio, em que
R = D.

Se o rendimento for igual à despesa, isso constitui uma ordem à produção para renovar
as quantidades produzidas e distribuir a mesma quantidade de rendimentos. Se se
distribuir a mesma quantidade de rendimentos, se as pessoas afetarem a consumo e
aforro as mesmas parcelas que afetavam antes e se o investimento voltar a ser igual ao
aforro, voltamos a ter uma situação de equilíbrio e mantemo-nos nela.

Despesa ou Procura agregada é formada por consumo + investimento

A procura agregada iguala, num certo momento, o rendimento, no ponto em que aforro =
investimento. — neste ponto estamos em equilíbrio.

No caso de a despesa ser maior do que os rendimentos D > R:

Isso provoca tensões inflacionistas na economia — é necessário que se diminua


a procura agregada e, então, pode-se, por exemplo, aumentar os impostos, diminuindo o
dinheiro para consumo das pessoas e cortam consumo, mas também cortam o aforro.

No caso de a despesa ser maior do que os rendimentos R > D:

Neste caso, quer dizer que as pessoas utilizaram parte do rendimento para
consumo, uma parte para aforro, mas como o investimento não igualou o valor do aforro,
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houve dinheiro que não retornou ao circuito de produz, distribuir rendimento, consome e
investe (e sempre assim) — houve uma parte do rendimento que saiu.

O aforro é uma fuga do sistema, é uma forma de tirar um potencial aquisitivo que
foi distribuído e não retorna. Na lógica clássica esse potencial aquisitivo só não era
reinventado no sistema se a taxa de juro fosse tão atrativa que as pessoas não gastam
no dia, para depois conseguir consumir mais (+ com os juros daquilo que recebe por
renunciar ao consumo imediato), logo, a taxa de juro garantia um equilíbrio entre o aforro
e investimento.

Para Keynes, o que determina o investimento não é, por si só , a taxa de juro, são
as perceções. Keynes fazia referência aos animals spirits: Os agentes económicos
deixam-se levar pelos espíritos animais — quando a economia está eufórica e as coisas
estão a correr bem, os empresários tendem a investir; Já quando as coisas estão a correr
mal, mesmo que a taxa interna de rentabilidade do investimento pareça ser atrativa, os
agentes económicos retraem-se — A economia também é uma questão de confiança e
se as pessoas não têm confiança, não investem.

No mercado bolsista, existe uma designação para cada um destes estados:

- Bull market: Quando toda a gente acredita que vai ganhar dinheiro na bolsa, então
investe, mesmo que não haja racionalidade nenhuma nisto.

A tese do rendimento permanente:

Parte do princípio de que os agentes económicos tratam as suas variações de


rendimento de forma diferente, consoante interiorizem que essas variações de
rendimento são permanentes ou são transitórias — as pessoas tratam diferentemente os
acréscimos no rendimento que são transitórios e acréscimos no rendimento que são
permanentes.

Exemplo: Se houver, num determinado momento um ganho anormal de rendimento,


esse ganho não altera o padrão de consumo e de aforro que as pessoas têm, porque
elas partem do princípio que esse encaixe não é renovável e não sendo renovável eles
não entram em linha de conta com esse encaixe para alterar os seus padrões de
despesa.
Por outro lado, se as pessoas forem promovidas, mesmo que o eu
rendimento tenha subido apenas no 1º mês, as pessoas ajustam de imediato o seu
padrão de despesas em função daquilo que contem que seja a reiteração desse
rendimento daí para o futuro. Saltam de patamares de despesa em consumo e de aforro
para um patamar diferente mesmo que não tenham tido, num determinado momento,
uma variação de rendimento muito significativa, mas como estão a antever que a sua
situação mudou ajustam essas suas decisões em função daquilo que estão à espera de
ser o seu padrão de ganhos daí para a frente.
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Circuito multiplicador

Se assumirmos que o padrão de gastos de uma determinada economia se repete, para


variações no seu rendimento:

— Supondo uma taxa de poupança de 20%.


— Suponhamos que 0,8 vai para consumo, e 0,2 vão para aforro, de cada unidade de
rendimento. Isto é algo que pode ser medido face ao valor dos gastos numa economia,
num determinado ano e ao valor da poupança dessa economia num determinado ano.
— Supondo que quando esta economia no seu todo, se vai comportar da mesma forma
— Admitindo que mesmo que o rendimento desta economia varie, ela vai manter o
mesmo padrão de PMC e PMA.
— Supor, ainda que: A forma como nós vamos tratar cada unidade de rendimento que
vamos ter a mais = maneira como se distribui rendimento entre consumo e aforro.

Se nós tivermos um sistema em equilíbrio e injectarmos + 1000 — uma parte vai


para consumo e outra vai para aforro.
Se admitirmos que temos uma PMC = PmédiaC, até sabemos quanto vai mais de
consumo, no período seguinte:

No entanto, se a economia, primeiramente, estava em equilíbrio, não há mais 800


para eles poderem comprar. As pessoas aparecem, agora, a comprar com 800, algo que,
antes, não estava disponível.

Assim, é necessário que a economia responda, produzindo 800 adicionais, para


fazer face ao aumento de procura.
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Se se produz + 800, então, distribuem-se + 800 de rendimento.

Afetaram a consumo 640, mas alguém tem de satisfazer, novamente, esta


procura adicional gerada pelo impacto dos 2 períodos anteriores. Este valor dá ordens à
produção para disponibilizar bens, de forma a permitir que este consumo encontre
satisfação.

É necessário produzir +640. Se se produz mais bens e serviços no valor de 640,


então distribui-se +640 de rendimento.

(O acréscimo de consumo seguinte seria 512, num 4º período; 409,6 num 5º


período; 327,68 num 6º período (…) )

O que nós vimos, aqui, foi o mecanismo multiplicador a funcionar.

O mecanismo multiplicador diz-nos que qualquer variação líquida da procura se


multiplica subsequentemente nos períodos seguintes.

Tem de ser procura líquida porque:

Se os agentes estiverem a lançar no mercado a mesma coisa que retiram do


mercado não há acréscimo de procura e não há efeito multiplicador. Injetando produtos
no mercado, estamos, simultaneamente, a adquirir capacidade aquisitiva para retirar do
mercado o mesmo valor que se lançou.
Portanto, a procura líquida não pode ser através de produção.

— Há procura líquida, por exemplo, no investimento:

O dinheiro investido na fábrica não se recupera no mesmo ano em que se criou a


mesma. Gasta-se x e, depois, ao longo do tempo, ganha-se o suficiente para ganhar o
que gastou e só depois é lucro, mas primeiro gasta-se mais do que recebe. O
investimento é uma injeção de procura líquida.

— As exportações também são uma injeção de procura líquida. Se nós tivermos uma
balança superavitaria, estamos a transferir bens que estão disponíveis para as pessoas
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irem buscar ao mercado para o estrangeiro. Quer dizer que as pessoas que cá estão não
podem ir buscar aqueles valores, mas entrou dinheiro, portanto, houve uma injeção de
liquidez que permitiu que houvesse efeitos multiplicadores.

— O desentesouramento também tem efeitos multiplicadores.

Voltando ao circuito…

Pode acontecer que não haja capacidade de resposta, pode existir "os
engarrafamentos”.

— Imagine-se que as pessoas querem comprar comprar mais cortiça: o aumento brutal
da procura da cortiça resultaria numa subida de preços, não haverá maior produção da
mesma, não haverá resposta para satisfazer essa procura.

Isto quer dizer que desde que haja qualquer rigidez na oferta, é impossível que o
mecanismo multiplicador funcione.

Agora, havendo desemprego de recursos, é sempre possível que a procura


induza a produção a responder e, portanto, teremos o circuito multiplicador.

! Para que uma economia esteja em equilíbrio, é necessário que o valor da produção,
que é igual ao valor distribuído em salários, juros, lucros e rendas, depois, se traduza
numa despesa equivalente;

! Se não houver uma despesa igual à produção e se a despesa ficar abaixo da


produção, então, no período seguinte, diminuirá a produção, diminuirá a distribuição de
rendimento e entraremos numa espiral recessiva;

! Um aumento da procura líquida (p.e.: um acréscimo de despesas pública através de


gastos do Estado; investimento…) tem efeitos multiplicadores;

! A partir dos dados de uma certa economia podemos saber qual é a distribuição que
se faz do rendimento entre consumo e aforro, podemos admitir que isso corresponde à
PMC e PMS, que somadas resultam na unidade.

! Propensão marginal (pm) é a forma como se vai afetar a consumo e aforro uma
variação.

! Se admitirmos que a Propensão marginal ao consumo e a propensão marginal ao


aforro são iguais às propensões médias, se admitirmos que as pessoas vão continuar a
gastar o dinheiro da mesma forma que o gastavam antes, também é aceite que variações
no rendimento também serão tratadas da mesma forma que esta economia está a tratar
do seu rendimento afetando-o a consumo e aforro.

! A diferença é que a propensão marginal ao consumo mede-se pela variação no


rendimento, a variação no rendimento é que dá origem a uma propensão marginal ao
aforro ou ao consumo. portanto, uma variação no rendimento vai ser repartida entre
consumo e aforro de acordo com aquilo que é o padrão daquela economia, padrão esse
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que se infere da repartição entre consumo e aforro do rendimento que era anteriormente
gerado nessa economia.

• PMC e PMS — para valores de R


• pmc e pms — para acréscimo de R (AR)

! O multiplicador vai ser o inverso da pms: quanto maior for a pms, menor será o
multiplicador (k) e vice-versa.

• k = 1/pms
• k= 1/1- pmc

Exemplo:

Quer isto dizer que o valor do impacto de uma variação líquida de procura inicial
vai ser, no termo de atuação dos períodos do multiplicador, igual ao modo do
multiplicador (k), multiplicado por este valor inicial, ou seja, se quisermos saber o impacto
de variações:

• k x variação inicial
• 5 x 1000 = 5000

No termo de atuação dos períodos do multiplicador, o rendimento, neste


exemplo, terá crescido 5000.

! Sabendo a pms e a pmc, ou sabendo a PMC e PMS e assumindo que PM = pm,


conseguimos determinar k; Multiplicando k pela variação inicial do investimento,
obtemos o impacto dessa variação.
! Retomando o exemplo, dos 5000 de acréscimo de rendimento no termo de atuação
dos períodos do multiplicador, 4000 são consumo e 1000 são o aforro:

! Paradoxo da poupança: quanto mais se poupa, menos se poupa, o aumento da


poupança diminui a poupança, porque a poupança é criada, não por ela, mas pelo
consumo: Quando há um mecanismo multiplicador a funcionar, quanto maior for a
poupança, menor será o impacto na criação de rendimento e sendo menor o impacto na
criação de rendimento, também será menor a poupança que pode ser gerada nesta
economia.
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Portanto, a razão pela qual os decisores políticos, que eram ilustrados pelos
economistas anteriores, recomendavam às pessoas que poupassem durante a crise e
Keynes, inversamente, que gastassem, porque gastar gera, para além do rendimento e
do consumo, aforro:

NOTA: Isto representa uma revolução em relação aquilo que era o consenso económico
da época. Daí, também, que nos EUA, por um lado, começou a por-se em marcha as
ideias Keynesianas, através do New Deal, por exemplo, mas, por outro lado, Roosevelt
teve sempre a preocupação de querer manter o orçamento equilibrado, então, subiu
muito os impostos. Assim, por um lado estava a fazer o recomendado por Keynes,
gastar, e, por outro, estava a fazer o contrário, aumentar os impostos — para Keynes,
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aumentar os impostos seria retirar liquidez à economia e, numa situação de depressão, a
economia precisa de liquidez.

Em 2008/2009, a resposta dos poderes estaduais, face à ameaça de crises, foi gastar
dinheiro, foi evitar seguir as más opções tomadas pelos EUA na grande depressão.

Já na Europa, esta lógica tinha muita dificuldade em ser aceite. então, enquanto que
os EUA reagiram à crise gastando dinheiro, na Europa, imposeram-se as políticas
austeritárias.

— Concluindo, apesar da poupança vir do rendimento, não é o rendimento que cria


poupança, o que cria o rendimento é o gasto, portanto, para termos mais rendimento
temos de gastar mais.

Síntese esquemática
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Da lógica Keynesiana, resultou que:

— Estudos empíricos revelaram uma relação entre desemprego e inflação.

Inflação: Subida contínua, generalizada dos preços.

Se tivermos uma relação inversa entre inflação e desemprego, e se soubermos utilizar


os instrumentos para atuar sobre um ou outro dos objetivos de política económica,
conseguimos controlar a inflação e o desemprego:

A curva de Philips revelava uma relação entre o desemprego e inflação, que


correspondia a uma curva convexa em relação à origem.

Diminuir a inflação tem como


consequência aumentar o desemprego
(de A para B).

Se quisermos diminuir o desemprego


utilizavam-se políticas com impacto na
redução do desemprego, mas sabíamos
que isso acontecia à custa de uma
elevação da inflação (de B para A).

Que políticas de redução do desemprego?

• Políticas financeiras: São aquelas que são levadas a cabo pelo Estado, diretamente.
• Políticas monetárias: São aquelas são geridas pelo Banco Central.

Hoje em dia, a generalidade dos países, das economias têm Bancos centrais
independentes e são esses bancos que levam a cabo as políticas monetárias.

Queremos diminuir o desemprego, o que podemos fazer com políticas financeiras?

1. Aumentar os gastos públicos;


(Exemplo.: bazuca europeia)

Alguém tem de trabalhar e fazer as coisas que nas se faria se não fossem esses
gastos, logo, haverá mais emprego.

Quando contratamos mais pessoas, distribuímos mais rendimentos, injectamos


liquidez na economia. Se a produção não responder na mesma proporção, os
preços vão subir.
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Portanto, aumentamos os gastos públicos e já sabemos que vamos ter um custo
em termos de subida da inflação.

2. Diminuir os impostos;

As pessoas passam a ter mais dinheiro para gastar e assim compram mais bens.
Haverá necessidade de produzir mais, contrata-se mais pessoas.

Assim, seja de forma direta, através da contratação de pessoas por parte do


Estado, seja de forma indireta, aumentando os rendimentos das pessoas (redução de
impostos, atribuição de subsídios, aumento das transferências da segurança social…),
tudo isso injecta liquidez, permitindo que as pessoas comprem mais, aumentando a
produção, aumentando o recursos à mão de obra, diminuindo o desemprego.
Consequência de tudo isso — aumento da inflação.

Ou então, pode fazer-se o inverso:

• Controlar a subida de preços.

As políticas não são expansivas, são recessivas — aumenta-se os impostos,


diminuem-se os gastos públicos, (…) de forma a retirar-se a liquidez da economia.

(Teoria quantitativa da moeda) Diminuem-se os rendimentos, diminui a procura, os


preços não sobem.

Mas se as pessoas têm menos dinheiro, os preços descem, mas as empresas


produzem menos, porque o que se está a produzir está a ser vendido mais barato ou em
menos quantidades.

Assim, esta relação permitiu que, desde o final da 2ª GM até aos choques
petrolíferos da década de 70, a economia funcionasse razoavelmente bem.

Os decisores de política económica tinham estes instrumentos da política


financeira ao seu dispor.

Tinham, também, instrumentos de política monetária:

Para diminuir o desemprego:

• Baixavam-se as taxas de juro;

• Comprar os títulos de dívida pública;

As pessoas tinham colocado os seus aforros em títulos, os títulos permitem-lhes


ter uma taxa de juro, se o Estado amortizar esses empréstimos que pediu às
pessoas, são reembolsados os empréstimos, as pessoas ficam com o dinheiro
disponível. Eventualmente, canalizam uma parte para consumo, estimulando a
produção e, consequentemente, o emprego.

Até recentemente, os Bancos centrais não tinham a preocupação de interferir no


desemprego, a única missão que tinham era controlar a inflação.
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O que é que os Bancos Centrais faziam para controlar a inflação?

• Aumentavam as taxas de juro

Se aumentarem as taxas de juro, as pessoas, querendo antecipar consumos,


querem mudar de automóvel, ir de férias a crédito e têm de pensar duas vezes,
porque isso fica mais caro.
Quer dizer que retrai-se o consumo, retrai-se o investimento, diminuindo-se a
distribuição de rendimento, o consumo e a pressão sobre os preços.

Nesta lógica de cruzamento de política financeira e monetária, o Estado pode


contribuir solicitando empréstimos junto das famílias ou empresas, criando ofertas/taxas
de juro atrativas.

Por exemplo: Instigar a compra de certificados de dívida; os agentes económicos


investem o dinheiro, se investirem em títulos de dívida pública, um investimento
seguro, que não consumo demasiado tempo nem atenção, e recendo 6% (p.e.).

Com estas políticas monetárias e financeiras, a economia estava sob controle.


Finalmente, parecia ter-se percebido como funcionava o “acelerador” e o “travão” da
economia, utilizando o uso alternado destes - políticas recessivas ou expansivas, de
acordo com o necessário.

No entanto…

Em 1973, dá-se a Guerra de Yom Kippur, entre Israel e os países árabes.

Com isto, o preço do barril de petróleo, antes de 3 dólares, passa para 12, um
impacto brutal para as economias, que na altura, extremamente dependentes do petróleo
como fonte de energia.

Os árabes não só fizeram subir o preço do petróleo, em retaliação ao apoio a


Israel, como, para alguns países, cessaram a venda de petróleo ou passaram a vender
apenas quantidades reduzidas, para asfixiarem as suas economias.

As economias mais afeadas foram as economias europeias e a dos EUA.

• O choque petrolífero de 1973 confinou as pessoas, havia proibições de circulação em


dias da semana, por exemplo;
• O preço tinha quadruplicado, andar de carro tinha-se tornado caríssimo e insustentável
para muitos;
• A indústria era muito dependente do recurso fóssil, logo, a produção baixou muito.

Houve 2 choques petrolíferos - 1973 e 1979

Na altura, o choque de 1979 elevou o preço do petróleo para os 40 dólares por


barril.
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Com esta alteração dos custos da principal fonte energia do mundo, a curva de
Philips passou a ser a seguinte:

Carregava-se no acelerador para estimular a economia e diminuir o desemprego


e o desemprego não diminuía e a inflação disparava;

Carregava-se no travão para diminuir a inflação, o desemprego aumentava


brutalmente e a inflação não se reduzia.

Portanto, as políticas Keynesianas, a partir dos choques petrolíferos, deixaram de


funcionar.

Acontece que, Milton Friedman tinha antecipado, anos antes, que a curva de
Philips ia deixar de funcionar. Segundo os monetaristas, aquilo que afinal de contas
controlava a economia era a oferta de moeda, aquilo que fazia com que os preços
subissem ou descessem era a oferta de moeda (mais os preços a subirem, porque tinha
havido aumentos na quantidade de moeda em circulação e era isso que tinha provocado
as dificuldade económicas).

Margaret Thatcher sobe ao poder na Grã-Bretanha, em 1979, com um programa


monetarista, e Ronald Reagan sobe ao poder nos EUA, em 1980, na base das mesmas
políticas monetaristas:

— Privatizações, redução da intervenção do Estado na economia, controlar


brutalmente a oferta de moeda.

Quer na Grã-Bretanha, quer nos EUA, isto funcionou do ponto de vista do


controle da inflação, a inflação, entre 1980 e 1983, na Grã-Bretanha desceu de 18% para
3,8% e nos EUA de 13,5%. Para 3,2% . Portanto, em 3 anos, as reformas introduzidas
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pelos programas monetaristas tiveram um grande impacto, provando que as teses
monetaristas conseguiam aquilo que as teses Keynesianas já não conseguiam.

Curiosamente, também estavam a demonstrar que a curva de Philips funcionava:

Na verdade, a inflação desceu e o desemprego aumentou — nestes 3 anos, o


desemprego passou de 5,3% para 11,5% em Inglaterra e nos EUA passou de 5,7% para
10,1%, ou seja, as políticas Keynesianas — de despesa públicas e alterações de
impostos e oscilações de taxas de juros, dentro da lógica Keynesiana — tinham-na já a
funcionar; as receitas monetaristas — redução da intervenção do Estado destinadas a
controlar a economia, por termos à política contra-cíclicas, controlar de forma estrita.
Oferta de moeda — estavam a provar que eram eficientes.

Portanto, em relação aos objetivos que tinham sido definidos dentro da lógica
neoliberal era controlar a inflação, objectivo conseguido com custos sociais, o que se
traduziu, desde logo, no aumento do desemprego e, portanto, na recuperação da relação
inversa entre inflação e desemprego que a curva de Philips revelava dentro do quadro
Keynesiano.

Os estabilizadores automáticos

As economias têm um conjunto de instrumentos que, mesmo que não sejam


mobilizados pelos decisores de política monetária ou económica, têm algum efeito
contra-cíclico. Portanto, estes estabilizadores automáticos contribuem para aplanar os
ciclos de expansão e de recessão, mas não dependem da intervenção deliberada dos
decisores de política económica.

• A Segurança social

As receitas e despesa da segurança social: nos períodos de recessão, a s.s. paga


mas subsídios de desemprego, paga mais apoios aos trabalhadores, às empresas —
recebe menos (porque os salários diminuíram), mas os gastos aumentam.
Portanto, sem se faz nada, há logo um efeito contra-cíclico.

Nas fases de expansão, acontece o inverso, a s.s. paga menos, menos


desempregados, menos falências, mas ganha mais, porque há mais gente a trabalhar, os
rendimentos das pessoas são maiores.

• Imposto sobre o rendimento

Se as pessoas recebe muito dinheiro, o imposto é muito progressivo, pagam


muito dinheiro;

Se recebem pouco, pagam pouco (ou nada).

Isto será tanto mais amplificado quanto maior for a progressividade do imposto.

• Imposto sobre o consumo

IVA, por exemplo.


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Se houver menos consumo, haverá menos receitas e vice-versa.

Aula dia 3.05

! O que é que pode dar origem a estas oscilações da atividade económica?

! Estas oscilações da atividade económica têm um padrão?

A conceção do tempo que temos, hoje, acabou por resultar da revolução


industrial: As coisas fluem como um rio, os rios fluem sempre no mesmo sentido.
Mas será que o tempo económico se aproxima mais do tempo linear ou se tem algumas
características do tempo cíclico, circular, de repetição?

O rendimento per capita (valor total da produção dividir pelo nº total de habitantes)
durante milénios

Verificou-se a oscilação daquilo que era o rendimento per capita durante


milénios, à volta de um valor que era próximo daquele que se escolheu como base ( o do
ano 1800).

Desde 1500 anos antes de cristo, mantivemo-nos pouco acima ou algo abaixo
daquilo que era o RPC de 1800, não houve grandes progressos ema ermos de
68
crescimento daquilo que era o rendimento das pessoas, desde tempos anteriores à
nossa era.

A isto chamou-se a armadilha Malthusiana, de Thomas Robert Malthus.

Este economista clássico considerava que pela experiência histórica que ele
conseguia eventariar, a produção de elementos seguia uma produção aritmética, mas a
população conseguia reproduzir-se a uma cadência geométrica — enquanto os alimentos
alimentam aumentam 2, 4, 6, 8, …, numa progressão aritmética, o crescimento da
população está sujeito a uma lógica geométrica, passa-se de 2 para 4, para 8, para 16,
para 32, para 64….
Assim sendo, o que ele via no futuro da humanidade era a insuficiência dos
recursos disponíveis para sustentar a população.

Se fizermos a análise histórica, a população, ao longo de 2 milénios, terá


triplicado, passando de 300 para 900M (até 1800). Depois de 1800, a população passou
de 900M para 7000M, portanto, multiplicou-se por 7 em 200 anos apenas.
Ainda que isto tenha acontecido, o RPC desde 1800 estaria, hoje, no índice 12,
em relação ao valor de 1800. Ou seja, não obstante esta progressão enorme da
população, o RPC aumentou 12 vezes, passamos de um valor índice 1 em 1800, para um
valor índice 12 nos primeiros anos do século XXI.

O rendimento traduz-se em nível de vida. E o rendimento per apita andou a


oscilar até 1800 (subindo e descendo), o que quer dizer que em 1800 não se vivia melhor
do que em 1000 a.C, (há quem diga que se vivia pior, até).

A partir da revolução industrial passamos a viver num mundo que parece


corresponder a um tempo linear e a perspetiva que tínhamos era de um progresso
contínuo, assistimos a uma melhora constante e acelerada dos padrões de vida. Hoje,
temos à nossa disposição instrumentos, auxiliares daquilo que é a nossa vida quotidiana,
que nos dão um nível de vida que nem os mais ricos reis de há centenas de anos atrás
teriam ao seu dispor.

Ciclos Juglar

Mas, em 1862, um francês, Clément Juglar, médico, notou que havia ciclos
daquilo que chamou expansão e recessão, que fez corresponder a estados de euforia, de
embriaguez e de ressaca. A economia, afinal, comportava-se como um agente
económico que cometia alguns excessos e, depois, sofria as consequências dos
mesmos. Aquilo que constatou é que a sequência de estados de euforia e estados de
depressão, decorrentes da “ressaca”, sucediam-se com um intervalo de cerca de 10
anos — Havia um ciclo de 10 anos que regressava, depois, ao seu início.

Em Portugal, desde 1974, tivemos 9 anos em que o PIB diminuiu, os 6 períodos


em que o PIB decresceu mais estão praticamente separados por estes 10 anos

— em 1975 tivemos uma grande quebra do PIB;


— em 1984 foi a 2ª vez que tivemos uma quebra do PIB;
— em 1993;
— em 2003;
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Depois houve os anos da crise do suprime e da crise das dívidas públicas sentidas
na europa, sobretudo na europa do sul;
— perdas de PIB nos anos 2009, 2011, 2012 e 2013.

De todos estes anos em que tivemos quebre de PIB, a maior queda aconteceu
praticamente na data esperada pelo ciclo juglar, 2012. Voltamos a ter um pico de redução
do nosso PIB em 2012.
Agora, em 2020, voltamos a ter a maior queda de sempre do nosso PIB, no que
diz respeito a esta série iniciada com o regime atual, dentro da série iniciado em 1974, no
tempo da democracia, a maior queda do PIB ocorreu no ano de 2020.

Com estes precedentes não é difícil extrapolar que, por volta de 2029/ 2030,
somos capazes de ter, novamente, um problema económico global na economia
portuguesa.

Ou seja, a lógica de que há ciclos no funcionamento da economia acaba por ter


uma tradução estatística muito concreta no caso português e não só, estes ciclos são
bem conhecidos da teoria económica.

Ciclo de Kitchin

Joseph Kitchin identificou um ciclo de mais curto prazo, de 1 e meio a 3 anos,


está ligado à constituição e redução de stocks.

Supondo que uma determinada empresa de distribuição, de retalho, adquire


habitualmente uma certa quantidade de mercadorias:

— 5% dessas mercadorias não são vendidas: isto não constitui, talvez, motivo suficiente
para ela reduzir as aquisições no ano seguinte.
— no ano seguinte renova as aquisições, mas volta a vender menos 5% daquilo que
comprou, o que quer dizer que já tem em stock 10%.
— Volta a repetir a mesma encomenda, mas chega ao fim do ano e repara que já tem
15% em stock, e no ano seguinte, acaba por fazer uma encomenda só de 85% daquilo
que antes fazia porque tem 15% em stock que agora vai escoar.

Esta sucessão de constituição de excedentes, investimento em stocks, é uma


componente da formação de capital e ocorre quando nem tudo o que se compra se
vende, ficando em armazém o stock, é um valor que a qualquer momento, desde que
não sejam produtos perecíveis, pode ser posto à disposição da produção.
Mas quando for, então, é natural que haja uma redução das encomendas e,
portanto, há um determinado período em que esta constituição - esvaziamento de stocks
- constituição - esvaziamento de stocks - … - dá origem a um certo flutuar nas
encomendas económicas e, portanto, temos aqui um ciclo de curto prazo, de 1,5 a 3
anos, o chamado Ciclo Kitchin.

Ciclo Kuznets

Ligado a um investimento de infraestruturas, entre 15 e 25 anos, identificado por


Simon Kuznets. Simon verificou que no que diz respeito às infraestruturas há uma certa
tendência para a sua renovação 15 a 25 anos depois.
70
Talvez não seja o nosso caso, mas é natural que vias férreas, portos, auto-
estradas, infra-estruturas de funcionamento da economia tenham de ser reparados,
renovados no termo do seu período de vida útil.

Kuznets, olhando para os dados da contabilidade nacional, conseguiu identificar


este ciclo que se sucede entre 15 a 25 anos.
Ciclo de Kondratiev (/ Kondratieff)

O maior interesse que os ciclos – ou ondas – suscitam está na possível


identificação de um padrão de variações ainda mais longas. O trabalho essencial da
identificação de padrões e de formulação das “regularidades empíricas” associadas a
essa quarta instância de regularidades económicas (acima dos ciclos Kitchin, Juglar, e
Kuznets) ficou a dever-se ao economista russo Nikolai Kondratiev, e esses ciclos são
designados com o seu nome.
Mesmo quando há, como há nas modernas economias, estabilizadores
automáticos – que, sendo suficientemente alargados, evitam que variações no
investimento sejam responsáveis por flutuações muito amplas do ritmo da actividade
económica – continuam a identificar-se ritmos curtos, ritmos médios e ritmos longos.

Acontece, então, que o mais interessante do todos os ciclos/regularidades/


repetição de circunstâncias económicas acontece com um prazo entre os 40 e 60 anos e
foi identificado nos anos 20 pelo russo Nicholai Contratiev.

Kondratiev fez os seus estudos com base nos dados estatísticos que haviam à
época, ele consegue ir até à altura da revolução industrial e, em 1780, põe o início do 1º
ciclo Contratiev.
71
Este diagrama mostra os ciclos Kondratiev e, até agora, houve 5 ciclos.

- O que está na origem destes ciclos?


! Hoje em dia, aquilo que é consensual é que estes ciclos estão ligados ao ciclo de
introdução, implantação, apogeu e esgotamento daquilo que se chama de tecnologia de
aplicação generalizada (generalized porpused technology) ou o paradigma tecno-
económico. Portanto, é a sucessão de paradigmas tecno-económicos que dá origem a
estes ciclos, 40 a 60 anos.

- O que é que se vê no diagrama?

O que Kondratiev notou, até 1920, é que um ciclo termina numa crise mais
acentuada do que é normal, é certo que há as tais flutuações por força dos restantes
ciclos, mas a depressão maior ocorre na mudança de um ciclo Kondratiev.

O 1º Kondratiev que começa justamente na data de 1780 e vai até ao pânico de


1837/43. Esta estilização vai basear-se naquilo que são os retornos das 500 maiores
empresas da bolsa americana, olhando para o retorno das ações listadas na bolsa
americana, conseguia dar origem a este padrão.

A marcar o início do primeiro Kondratiev encontramos, então, o pânico de


1837/1843. É uma fase em que a economia americana aumenta enormemente o
desemprego, diminuem os preços, há um choque bolsista, e este pânico prolonga-se até
1843 e está a marcar esta transição do 1º Kondratiev para o 2º.

O paradigma tecno-económico deste primeiro Kondratiev é o motor a vapor, a


mudança da força ou da energia animal para a força da energia mecânica, através da
possibilidade que o vapor permitia de fazer mover máquinas, está na origem da
industrialização.

O 2º Kondratiev vai de 1830 a 1880

A depressão de 1873/1897, onde os preços caem generalizadamente.

O 2º Kondratiev tem como tecnologia de aplicação generalizada a indústria do


aço e a construção de linhas férreas e, portanto, o transporte de massas.

O 3º Kondratiev vai de 1880 a 1930

Está ligado à eletrificação e às indústrias químicas.

Cai na crise da Grande Depressão de 1929

O 4º Kondratiev vai de 1930 a 1970

A partir da reação dessa crise dos anos 30 começamos com um novo ciclo, que
vai até aos anos 70, com os choque petrolíferos.

Os choques petrolíferos deram origem a uma ampla transformação do


funcionamento das economias.
72
Este kondratiev é um ciclo caracterizado pela utilização intensiva da energia do
petróleo para as deslocações, temos uma sociedade de mobilidade
Generalizada obTida pela aplicação de derivados de petróleo — indústria petroquímica,
aviões, navios, automóveis…

O 5º Kondratiev tem início em 1970 e era feito terminar em 2010.

Em 2010, a crise do suprime nos EUA e a paragem do mercado imobiliário que


se prolongou na europa.

Tinham admitido que o 5º ciclo se sustentava no paradigma das tecnologias de


informação e da comunicação. Desde os anos 70 assistimos à substituição da
mobilidade física pela de informação — Televisão, internet, telemóveis, computador…

O grande confinamento atual, devido à pandemia, veio contribuir para os ciclos


de 50 anos estarem mais perfeitos — 1970 a 2020.

Outras observações:

• Na fase final de cada ciclo há um acumular de inovações na fase descendente do


ciclo;

• Depois, certamente por efeito da crise que faz com que as estruturas económicas se
transformem, uma parte dessas inovações são introduzidas na economia real. Há
razões para que se faça a substituição das tecnologias (podem ser tecnologias
financeiras, por exemplo, utilização de novas formas de moeda);

Temos aqui um acumular de inovações que num determinado momento


começam a expandir-se por toda a economia. Ex.: Teletrabalho que com a crise passou a
ser implantado.

Atualmente, passamos a ter, eventualmente, um novo ciclo, ciclo esse que vai ter
de se basear numa tecnologia de aplicação generalizada. Qual será essa tecnologia que
dará origem ao 6º Kondratiev.

Em 2010, estavam a admitir que fossem as energias renováveis, a


nanotecnologia,… Mas pode ser, também, que a tecnologia de aplicação generalizada
ainda não esteja identificada — pode ser o teletrabalho, a diminuição do trabalho, a
computação quântica…

• Conflitos concentrados na fase ascensional dos ciclos. A fás em que se concentrava


as revoluções e os transtornos sociais não ocorria quando a economia esta em baixa,
mas sim quando estava em alta, portanto, é na fase de ascensão do ciclo que há as
maiores roturas sociais e históricas.

Em suma…

Se estamos nesta altura a fazer a transição, o mundo vai mudar muito, vai mudar
para melhor, mas com muita convulsão e conflitos, segundo a extrapolação da análise
histórica com base nestes diferentes ciclos.
73
Aula 4.05

Os ciclos da economia de mercado têm diferentes durações e têm 2 explicações


(tirando a explicação dos ciclos de Kondratiev:

Ciclos económicos de menor duração

— A hipótese do lag

Falamos do lag a propósito dos ciclos Kitchin. O lag está no facto das indicações
do mercado não serem automáticas, lag, o hiato, está no facto de a respostas às
condições de mercado ser intermediada por uma cadeia que leva à constituição de
stocks nos diferentes elementos dessa cadeia.

Imaginando que, num determinado momento, há uma subida de preço de um


determinado bem. Se fosse possível uma resposta imediata, isso permitiria a respostas
do mercado sem haver condições para se constituirem desencontros entre a oferta e a
procura. Mas se houver algum atraso:

— Há uma procura acrescida de café num determinado período. Isso leva à subida
de preço do café. Os agentes económicos querem reagir a essa procura acrescida e a
esse preço mais alto — podem aumentar as plantações de café.
Acontece que o cafezeiro demora 7 anos a produzir, portanto, essa subida de
procura e aumento de preço acaba por só ter resposta 7 anos passados. Acontece que,
durante estes 7 anos, os agentes económicos constatam que não há resolução do
problema de excesso de procura no mercado e durante este período intermédio, que leva
a poder dar resposta à procura, há vários agentes económicos que alteram as suas
decisões, porque consideram que talvez valha a pena transformar outras atividades
produtivas em produção de plantas que dão o café. Quer dizer que passados 7 anos,
começam a aparecer no mercado as produções de café que resultaram deste sinal dado
pelo mercado durante este tempo intermédio e, nessa altura, é provável que haja uma
sobre-resposta. Se houver café a mais, esse café a mais não se escoa, os preços
baixam, sinal para que alguns produtores abandonem o mercado ou diminuam a
produção.

! Portanto, é o facto de haver hiatos, lags, que faz com que se possam explicar
alguns ciclos de expansão e de recessão, a resposta do mercado não é automática,
imediata e, justamente por não o ser, criam-se condições para que haja desencontros
periódicos entre a oferta e a procura.

— Hipótese do eco

Tem a ver com a ideia de que se houver, num determinado momento, um grande
investimento num determinado tipo de bens de capital, passado o prazo de vida útil
desses bens de capital, será necessário substituí-los.

Falamos disso a propósito do ciclo de Kuznets, a propósito das infraestruturas.

Se as infraestruturas forem feitas paulatinamente e se todos os anos houver um


investimento de 20M de euros em estradas, podemos admitir que passados 20 anos seja
necessário proceder a reparações significativas ou intervenções de fundo nessas
infraestruturas, mas podemos admitir que uma vez que esses investimentos não foram
74
concentrados num ano, também a reposição das condições de funcionamento dessas
infraestruturas seja feito paulatinamente.

Agora imagine-se que em vez de ser distribuído 20M de euros por anos, são
feitos num determinado período 500M. Se num determinado período são feitas obras e
grande vulto todas ao mesmo tempo, então, em vez de passados 20 anos ter de se
substituir um e depois passado 1 ano ter de se substituir outro e sempre assim,
passados 20 anos tem de se substituir todos ao mesmo tempo.

! Isto é a ideia do eco, a ideia de que se nós tivermos concentrações de investimentos


num determinado período, a necessidade de substituir estes investimentos provoca, ela
própria, um movimento oscilatório na economia, porque a razão de ser desse
investimento acrescido é inato a essa inicial concentração de investimento.

— Por via do eco ou do hiato, nós temos hipóteses explicativas para os diferentes
ciclos económicos de menor duração, uma vez que a existência das tecnologias de
aplicação generalizada é a melhor explicação para os ciclos de Kondratiev.

A desigualdade

A desigualdade tornou-se um problema e um problema que tem visibilidade


pública, não só pelo facto de estar a ser considerado nas agendas políticas e mediática
dos vários países.

A pandemia acentuou brutalmente as desigualdades, nos ja estávamos com a


desigualdade como um problema candente nos últimos tempos, e se alguma coisa
resultou deste último ano, é que a desigualdade se tornou uma questão muito mais atual
e mais importante.
É um problema que pode ter consequências bastante negativas, até para os
hiper-ricos — Se o ressentimento social se tornasse insustentável podia acontecer uma
revolução em que as pessoas acabassem por ser vítimas pelo facto de serem ricos.

Em termos filosóficos o problema pode formular-se a partir de várias perspetivas,


uma delas é a de John Rawls, a teoria da justiça.

Esta teoria assenta numa espécie de um contrato social, a ideia de contrato


social a é de que as pessoas abdicam de uma parte da sua liberdade para assegurar,
através da transferência desses poderes para o Estado, para um poder político, a sua
tranquilidade e segurança: As pessoas acabam por fazer algo que tem um custo, porque
o benefício esperado é superior ao custo em que incorrem, a ideia do nascimento do
Estado pode ser explicado, não de uma forma real, mas apenas de uma forma hipotética,
como se tivesse havido um acordo entre os membros da sociedade, no sentido de
abdicarem de uma parte das suas liberdades, na medida em que constituíam um poder
que tinha força para impor determinadas regras e, portanto, limita aquilo que era a
autonomia de cada um, mas que esse custo tinha associado benefícios, como o de
poder viver tranquilamente em sociedade.

Mas Rawls também tem uma ideia de um contrato social: parte ele da ideia de
que se nós admitíssemos que desconhecemos em absoluto a nossa posição na
sociedade ou qual virá a ser; Se desconhecermos em absoluto os nossos defeitos e
qualidades; se estivermos sob um véu de ignorância e não soubermos aquilo que
75
podemos esperar daquilo que vai ser a nossa situação social, então, certamente
quereremos escolher aquele arranjo que nos proteja mais na pior situação possível.
Dentro deste raciocínio, o que Rawls considerava era que havia 2 princípios
básicos:

— todos deviam ter o máximo de liberdade, de benefícios que fosse compatível com o
benefício de todos;

— a repetição do bolo fazia-se da forma mais igual possível, se não soubermos qual a
posição que nos espera, à partida quereremos que essa repartição seja a mais igualitária
possível, a menos que, havendo desigualdade, essa desigualdade nos permita ficar com
uma fatia maior do bolo — podíamos admitir desigualdade, vários graus de
desigualdade, desde que aqueles que ficam pior, na situação de desigualdade inferior fim
numa posição melhor do que se todos tivessem numa situação de igualdade. Portanto, a
desigualdade é legítima desde que aqueles que ficam na franja inferior da distribuição
fiquem melhor do que estariam se toda a gente tivesse uma repartição igualitária daquilo
que existe.

Esta é a lógica de que a desigualdade tem um fundamento, do ponto de vista da


Teoria Ética da Justiça, como Rawls a designou.

O grande antagonismo/ Grande Tradeoff

O economista Okun falava na desigualdade, no grande antagonismo porque via


as transferências de rendimento ou riqueza daqueles que têm mais para aqueles que têm
menos como se fosse uma espécie de um balde furada, ou seja, para se diminuir a
desigualdade, é necessário tirar aos que têm mais e dar aos que têm menos, mas o
problema, segundo Okun, é que quando nós tiramos aos que têm mais para dar aos que
têm menos, é como se tivéssemos a por um líquido dentro de um balde, mas acontece
que no trajeto há uma quantidade de líquido que se perde, porque o balde está furado —
tiramos 100 aos que têm mais e os que têm menos só recebem 50.

— Quer dizer que há aqui um problema de eficiência.

É a ideia de que há um tradeoff, nós ou queremos mais ou mais igual, se


queremos mais temos de ter alguma desigualdade, se queremos mais igualdade, temos
algo mais pequeno.

Acontece que outro autor, Simon Kuznets, nos anos 50, admitiu que havia uma
curva em forma u invertido que representava os valores de desigualdade na distribuição
do rendimento e da riqueza. então, o que teríamos era o seguinte:

Enquanto as economias estão no seu processo de desenvolvimento, enquanto


estão na fase de crescimento de implantação das estruturas económicas modernas,
passando das sociedades tradicionais para as de mercado, durante essa fase
ascensional, as economias teriam grandes desigualdades e essas iam aumentando até,
potencialmente, enquanto essas economias seguiram esse trilho de desenvolvimento;

A partir de certa altura, quando chegassem ao estado de desenvolvimento mais


avançado, as desigualdades diminuiriam tanto mais quanto a sociedade se
desenvolvesse.
76
No início, quando passamos das sociedades tradicionais para mais modernas
criam-se grandes assimetrias de rendimento, porque há possibilidades de se fazerem
excelentes negócios e ganhar muito dinheiro. Mas depois à medida que a sociedade se
vai desenvolvendo, vai tendo necessidade de quadros qualificados, de generalizar os
investimentos, ter a possibilidade de intervenções sociais do Estado,…, essa
combinação de desenvolvimento, modernização, aperfeiçoamento dos sistemas fiscais,
diminuição da corrupção, aumento da educação, necessidade de quadros técnicos
qualificados com a subida de rendimentos que isso implica e, então, nós teríamos uma
progressiva diminuição das desigualdades.

De facto, nos anos 10/20 do século XX, o topo dos 10% calculava-se que tivesse
nas sociedades da OCDE, das sociedades avançadas, teria qualquer coisa como 45 a
50% do rendimento. Nos anos 70, os 10% de topo já tinham apenas 35% — a lógica era
de que a desigualdade continuaria a diminuir.
Mas, a partir dos anos 70, a desigualdade, em vez de diminuir, aumentou outra vez e,
nos anos 2000, na 1ª década do século XXI, estava outra vez de volta aos 45/50% do
rendimento.

Quer dizer que esta curva tranquilizadora de Kuznets não corresponde aquilo que
foi o aumento da desigualdade, sobretudo a partir dos anos 80. Já falamos de uma série
de eventos que ocorreram nos anos 80 (choques petrolíferos - alterou as condições de
funcionamento da economia; a eleição de Margaret Tatcher e Ronald Reagan -
inauguraram a ortodoxia neoliberal) e em resultado dessas abordagens e das condições
económicas da época, a verdade é que a desigualdade cresceu outra vez e cresceu
muito, portanto, já tinhamos um problema que vinha dos anos 80.

As instituições internacionais que gerem o capitalismo mundial: o Banco Mundial


tinha uma preocupação com a diminuição da pobreza nos países mais pobres, tal como
a ONU, mas o FMI, por exemplo, não era conhecido por se preocupar com as questões
da desigualdade no rendimento e, hoje, o FMI também é um dos atores internacionais
que sublinha a necessidade de se reduzirem as desigualdades.

A lógica do FMI é a lógica de que com o aumento da desigualdade destrói-se


capital social, isto é, as sociedades de mercado para funcionarem precisam de
estabilidade e confiança e de reconhecimento da legitimidade dos resultados obtidos
pelo mercado. A legitimidade dos resultados obrigados supõe que as pessoas acreditam
que o mercado recompensa o mérito, se as pessoas aceitarem que o mercado
recompensa o mérito, aceitam a distribuição que resulta do mercado, quer isto dizer que
aquelas pessoas que fazem melhor, fazem mais, recebem mais e melhor do que aquelas
que fazem menos e pior.

Se houver o reconhecimento de que o mercado opera de acordo com princípios


de equidade, no sentido de que ninguém é prejudicado por outras razões que não a falta
das suas qualidades ou do seu empenho, então, as pessoas aceitarão os resultados da
distribuição efetuada pelo mercado.
O problema é se as pessoas deixam de acreditar no mercado como forma de
reconhecer o mérito e acham que os resultados são obtidos através de corrupção ou se
são obtidos porque há uns que têm a possibilidade de fazer tudo o que querem sem
sofrerem as consequências e os outros são brutalmente penalizados só porque
cometeram uma pequena infração, se, afinal de contas, descrêem, dos mecanismos de
mercado, então, isso pode constituir uma destruição de capital social e esta aumenta os
custos de funcionamento do mercado, por um lado e, por outro lado, alimenta políticos
77
anti-sistema, que podem fazer coisas perigosas (sair do movimento de integração
europeu, fazer nacionalizações, repentinamente expropriar direitos de propriedade
privada, podem fazer requisição de unidades produtivas) criando danos ao
funcionamento do mercado. E a preocupação do FMI é a de que desiguales excessivas
levem a perda de legitimidade do mercado, que pode traduzir-se em revoltas, revoluções
ou instabilidade económica e social, que é má para os negócios.

Portanto, não é bom que as coisas continuem a permitir o aumento das


desigualdades.

No último fiscal monitor do FMI (o texto que o FMI divulga com as perspetivas e a
análise daquilo que é a evolução da situação financeira dos Estados) também se
recomenda que os Estados aumentem os impostos sobre os mais ricos, ou seja, que
façam alguma coisa para diminuir a desigualdade.

! O tal grande antagonismo, a ideia de que se nós queremos mais equidade perdemos
eficiência, nesta altura, já não corresponde ao consenso, já se admite que a
desigualdade existente já está a constituir um obstáculo ao crescimento do bolo, é
possível fazer mais transferências, diminuir a desigualdade, adotar políticas que
diminuam a desigualdade sem, com isso, perder eficiência. Pelo contrário, é bem
possível que seja o acentuar das desigualdades que vá diminuir a eficiência e, portanto, a
dimensão do “bolo”.

Também importante neste consenso, que é agora um consenso muito alargado,


foi a obra de um autor chamado Thomas Piketty (o maior economista rockstar do
mundo) “ o Capital no século XXI”, em que chegou a uma fórmula simples e elegante,
que é r>g:

r - rendimentos do capital
g - crescimento económico

— Se os rendimento do capital forem superiores ao crescimento económico, a


desigualdade aumenta, inevitavelmente.

Isto acontece porque se nós tivermos os rendimentos do capital, que sejam


juros, lucros, rendas (a remuneração dos ativos que entram nos processos produtivos), à
roda dos 4 ou 5% (estimativa conservadora) e se pensarmos que o crescimento
económico na maior parte das sociedades anda na casa de 1 ou 2%, então, quer dizer
que os detentores de capital estão a aumentar aquilo que é a sua quota parte acima
daquilo que é o valor do crescimento que poderia ser distribuído equitativamente por
todos. Quer dizer que, pelo mero facto de eles terem acumulado capital, vão continuar a
receber mais participação do que o resto dos participantes na economia, vão ter mais
retorno do que os restantes participantes na economia, ou seja, os trabalhadores. Se o
retorno do capital é muito superior ao retorno ou crescimento económico, então, a
consequência é a de que, de ano para ano, se vá abrindo mais o fosso, a distância entre
aqueles que contribuem para o processo produtivo com capital e os que contribuem com
trabalho.

Mesmo não falando na profecia Marxista (de que o capitalismo havia, um dia, de
soçobrar porque a concentração do capital imporia a proletarização crescente das
classes intermédias e, portanto, os pequenos empresários, os trabalhadores acabariam
por ser esmagados pela força do capital acumulado aos grande empresas e estas
78
continuariam a esmagar-se umas às outras, até sobrarem muito poucas e, quando
fossem muito poucas, elas estariam contra tudo mais na sociedade e, assim, não teriam
mais poder para resistir a essa sociedade e acabariam por ser derrubadas) nós temos
uma série de observações, análises que apontam no mesmo sentido, a desigualdade
está a crescer e de há anos a esta parte, podemos admitir que a travagem dessa
desigualdade não tenha efeitos tão nocivos sobre a eficiência, sobre a possibilidade d
fazer crescer a produção, como não fazer coisa nenhuma, que pode muito bem ter mais
custos do que tentar diminuir a desigualdade.

Como é que medimos a desigualdade?

Curva de Lawrence

Esta proposta tem a ver com a distribuição do rendimento.

Dividiu a população em vintis (10 marcas em cada eixo), com a população


representada no eixo horizontal e o rendimento representado no eixo vertical.

Soma-se o valor de rendimento que cabe a um certo conjunto da população:


100% da população tem 100% do rendimento.

Se tivermos uma distribuição perfeitamente equitativa do rendimento, então,


estaríamos sobre a curva de igualdade de distribuição (curva vermelha).

Como é claro, a curva de distribuição efetiva do rendimento não tem uma


configuração de 45º, está representada, antes, a azul: 30% da população, no gráfica
acima, só têm 20% dos rendimentos.
79
A distribuição do rendimento afasta-se da linha da igualdade de distribuição e,
por isso, em vez de estarmos sobre a linha de igual distribuição, estamos afastados dela.
Para somar 20% do rendimento temos de juntar 30% da população.

! A curva de Lawrence, quanto mais afastada estiver da linha de igualdade na


distribuição de rendimento, quanto maior for o afastamento da linha de distribuição
cumulativa do rendimento por classes agregadas de população, maior será a
desigualdade.
Esta representação permite-nos fazer representações entre diferentes sociedades, se
representarmos as suas curvas de Lawrence.

Se uma curva de Lawrence cortasse outra curva (a verde), se tivermos


distribuições mais assimétricas não é fácil fazer comparações.
80

Justamente por isso, propôs-se medir a desigualdade através de uma razão entre
duas áreas:

Comparar a área entre a curva de Lawrence e a linha de igual distribuição e a


área que corresponderia ao triângulo da perfeita igualdade da distribuição de rendimento.

! Quanto maior for a área compreendida entre a curva de Lawrence e a linha de igual
distribuição, maior será a desigualdade.

— Isto permite fazer comparações entre os coeficientes de Gini.


81

Isto dá-nos coeficientes de Gini de:

• 0 - curva de Lawrence sobreposta à linha de igualdade de distribuição de rendimentos


- não há área para dividir pelo valor do triângulo — Igualdade perfeita na distribuição de
rendimentos;
• 1 - valor máximo do coeficiente de Gini: Se houver uma distribuição de rendimento em
que ninguém tem nenhum rendimento, mas a última pessoa tem 100% do rendimento,
então, a curva de Lawrence corresponderá ao eixo horizontal, a curva de Lawrence
coincide com os eixos e o valor da área que se põe como numerador é igual ao valor
da área que se põe como denominador.

Os coeficientes de Gini servem para concretizar e comparar a distribuição que existe,


seja no rendimento seja na riqueza, com base na curva de Lawrence.

Ratio de Palma

Recentemente, surgiu uma outra forma de representar a desigualdade que foi


proposta por um economista chamado José Gabriel Palma, que propôs comparar a
distribuição do rendimento através da comparação entre os últimos 10% das pessoas
que recebem mais rendimento numa determinada economia (o decil 10) com os 40% de
baixo, com os primeiros 4 decís, porque das comparações e medições que fez da
distribuição do rendimento nas diferentes sociedades, constatou algo que não
corresponde aquilo que é convicção generalizada. A convicção generalizada que se tinha
era de que se tava a ver um esvaziamento das classes médias, as classes médias
estariam a ficar cada vez mais para trás, mas aquilo que Palma notou é que os dados
estatísticos não revelam isso, revelam que entre o decil 5 e 9 correspondem a 50% do
rendimento nas diferentes economias, e não só correspondem como tendem a convergir
para este valor, ou seja, 50% da população de cada economia concentra 50% do
rendimento.

Quem concentra 50% do rendimento? - as classes médias

As classes médias, entre o decil 5º e o 9º, ou seja, tirando os 40% de baixo e os


10% de cima, no seu conjunto, tendem a concentrar 50% do rendimento nacional, o que
faz com que a outra metade do rendimento seja distribuído entre os últimos 10% e os
40% de baixo.

Como são distribuídos os 50%?

- Se considerarmos os países desenvolvidos, a tendência é para que se obtenham


ratios de palma ( a tal relação que se estabelece entre os 10% de cima Eos 40% de
baixo) que atinjam valores que vão de menos de 1 a 3, ou seja, os 10% de cima têm
entre algo menos do que os 40% de baixo ou têm até 3x mais do que os 40% de
baixo;

- Se pusermos a América Latina nesta comparação, então, o ratio de palma passa para
5, ou seja, os 10% de topo têm 5x mais rendimento do que os 40% de baixo;

- África do Sul tem um ratio de Palma de 8,5;


82
- O único país da América latina que tem o ratio de palma abaixo dos 3 é o Uruguai,
que o tem À volta de 2.
Porém, se fizermos o ratio de palma, não dentro de cada país, mas para os 40% mais
pobres da população mundial, então, a percentagem de rendimento que era auferido
pelos 10% mais ricos excedia o rendimento dos 40% mais pobres 32x.

A análise que fizemos em relação à distribuição do rendimento, no que diz respeito


à distribuição da riqueza ainda se magnifica:

A Oxfam (organização britânica que se ocupa de monitorização das questões da


pobreza), em 2017, anunciou que pela primeira vez, o 1% de topo tinha mais riqueza do
que os outros 99%; 62 pessoas têm mais riqueza do que metade da população mundial
e, portanto, é uma assimetria tão grande como a que se verifica na economia americana
- 3 pessoas tinham tanta riqueza como a metade mais pobre, estes 3 tinham uma riqueza
comparável a 160M de pessoas, até porque uma parte considerável da população
americana não tem riqueza, não é detentora de nenhuma ativo, pelo contrário, tem
riqueza negativa.
São dados como estes que provocam descontentamentos, quando as coisas chegam a
esta assimetria, dão origem a movimentos como o Movimento Occupy Wall Street.

Porém, tenha-se em atenção que, no que diz respeito ao nível de vida, o mais
importante não é propriamente nem o rendimento nem a riqueza, é a despesa, pois é
através dela que acedemos aos bens e serviços. Talvez mais importante para analisar as
desigualdade, não seja tanto o valor dos índices de desigualdade na distribuição de
rendimento, nem sequer os valores do índice de desigualdade na distribuição da riqueza,
mas sim a desigualdade na despesa.

Há dados que mostram que as pessoas com mais riqueza e mais rendimentos
têm uma percentagem de despesa que é inferior, naturalmente, dadas as dimensões
astronómicas da sua riqueza. Em contrapartida, as pessoas de menores rendimentos têm
até uma fase em que consomem acima do seu rendimento, há despesas incomprimíveis,
e isto faz com que o montante das despesas acumulado das franjas com menos
rendimentos da população seja muito superior ao seu valor de participação na riqueza
total dessa comunidade ou na distribuição total do rendimento nessa comunidade.

Aqueles indicadores que estivemos a referir quanto à desigualdade na


distribuição do rendimento e da riqueza são muito significativos. Mas, na verdade, aquilo
que traduz mais aproximadamente o nível de vida é a despesa, o consumo e, em relação
à distribuição do consumo nós não temos estas disparidades brutais da distribuição da
riqueza e não temos, nem sequer uma valor aproximado, das disparidades da
distribuição do rendimento.
A distribuição da despesa por decis e acumulando as despesas dos decis, de
forma que 100% da população tenha 100% das despesas, seria regulada por uma curva
mais próxima da linha de igual distribuição, do que a representação da distribuição do
rendimento e da riqueza.
83
Aula dia 10/05

O que acontece a nível internacional?

De facto, a desigualdade diminuiu, em grande medida por causa do


desenvolvimento económico extraordinário de alguns países da Ásia, que já chegou a ser
o continente mais pobre do mundo, mas uma série de países seguiram o Japão: primeiro,
os chamados 4 dragões — Coreia sul, Taiwan, Hong Kong e Singapura — casos de
sucesso económico extraordinário.

Depois, a partir da década de 80, a China tem um desenvolvimento


extraordinário, que tira centenas de milhões de pessoas da pobreza. A economia indiana
também estava a conseguir retirar milhões da pobreza, estava num bom caminho, pelo
menos antes da pandemia.

Portanto, o que nos dizem as estatísticas é que a pobreza absoluta diminuiu para
metade desde os anos 80 e, depois, voltou a diminuir pra metade — isto quer dizer que
em 40 anos houve uma redução de 75% da pobreza mundial.

Temos que equilibrar o aumento das desigualdades absolutas, das


desigualdades nas sociedades ocidentais, mas, ao nível global, graças ao
desenvolvimento, sobretudo, da economia chinesa foram retiradas da pobreza centenas
de milhões de pessoas.

O que é que aconteceu na China?

• A integração da China na economia mundial, ou seja, na globalização;


• A abertura ao investimento estrangeiro;
• A liderança forte do Estado;
• Disciplina social;
• Altas qualificações da mão de obra;
• Pouca desigualdade social.

Se tentarmos identificar as características comuns os sucessos asiáticos


(Singapura, coreia do sul…) encontramos sempre este pacote. Esta ideia de que a menor
desigualdade também pode estar na origem do desenvolvimento das sociedades
asiáticas, em comparação, por exemplo, com a América Latina — o problema da
América Latina foi a instabilidade política e social gerada, em grande medida, por
grandes desigualdades, o que afasta investimento e desenvolvimento social.

! Começa a encontrar-se uma relação entre desigualdade, estabilidade económica e


crescimento. Portanto, aquele grande trade off de que se falava começa a ser reavaliado.
Nós temos vantagens em reduzir as desigualdades, para promover o crescimento
económico.

Como é que as sociedades asiáticas mantiveram níveis de desigualdade reduzidas?

• Uma das razões é o facto de haver impostos sucessórios muito elevados: As taxas de
imposto sucessório nestas economias asiáticas excedem os 50%, o que trava o
processo de acumulação, a desigualdade que se vai fortalecendo ao longo das
gerações;
84
• São Estados relativamente pequenos, comparado com a dimensão do Estado social
ocidental;
• Os impostos sobre o rendimento são relativamente baixos: não há tanta distribuição
em vida, porque a distribuição se faz em morte — a igualização faz-se em termos
geracionais.

Em muitos Estados asiáticos a desigualdade é menor por força desta equidade


patrimonial que se faz a cada geração.

Como se faz a redistribuição dos rendimentos, nesses Estados asiáticos?

• Com políticas de preços e rendimentos;


• Com políticas de segurança social;
• Com políticas financeiras.

— Políticas de preços e rendimentos:

Para reduzir a desigualdade através de políticas de preços e rendimentos:

Fixa-se o preço máximo de um certo cabaz de bens, essenciais, se esses


tiverem preços subsidiários, a vida das pessoas com menos rendimentos tem um
incremento, porque não têm de pagar o preço de mercado daqueles bens.
O problema destes limites de preços é que, muitas vezes, dão maus resultados.

Ex.: Fixação de preços de venda na Venezuela: A solução de fixar o preço de venda de


pão — esse bem desapareceu de circulação, porque aquilo que era o valor que estava
fixado para a sua venda não custeava o seu custo de produção, ninguém ia por à venda
uma coisa que, se vendesse naquelas condições, lhe provocava prejuízo.

Esta ideia de que se podem fixar limites aos preços tem de ser pensada, tem de
ter considerações económicas por trás. Pode fazer-se se o Estado pagar subsídios, a
diferença entre o preço de mercado e o preço de venda ao público — aí não há razão
para que deixe de se fornecer os bens, pois recebem a diferença do Estado.

Agora, querer transferir para o setor privado um encargo que não é do setor
privado não é uma boa ideia.

Ex.: Congelamento de rendas: Deixou de haver investimento na construção para


arrendamento, se as pessoas não podiam receber o valor de mercado do bem, para quê
investir?
Durante anos, os centros das cidades ficaram desertificados, descuidados, como
efeito do congelamento dos preços.

É preciso cuidado com a fixação dos preços dos bens. E quem diz dos bens, diz
dos fatores de produção…

O fator que mais beneficia com intervenção do Estado é o trabalho, o salário


mínimo é uma importante forma de evitar a pauperização dos trabalhadores. Um estudo
recente revela que uma parte substancial dos pobres, em Portugal, são pessoas que
trabalham, recebem o salário mínimo que, em 2019, era de 600€, o que para pouco
chega, portanto, mesmo trabalhando, vivem em condições de pobreza.
85

O salário mínimo tem subido, houve um aumento de 10% em 2 anos, o que é um


avanço considerável, mas que tem um problema:

O problema não é tanto pela curva da procura e da oferta de trabalho, o problema


está em que, se houver substituibilidade entre capital e trabalho, o aumento do preço do
trabalho vai provocar uma troca de trabalho por capital — em vez de contratar pessoas,
passe a haver mais máquinas automáticas de atendimento das pessoas, por exemplo.

O aumento dos custos de trabalho não é só do salário, os empregadores têm de


pagar a taxa social única que é bastante elevada, além de pagarem o aumento do salário,
os empregadores ficam onerados com o aumento da taxa correspondente ao aumento
do salário. Para financiar uma parte daquilo que as empresas vão pagar a mais de taxa
social única, o Estado em 2022 vai pagar subsídios aos empregadores.

As políticas de preços e rendimentos como forma de correção das desigualdade,


quando não considerados todos os efeitos económicos possíveis, podem comportar
problemas e resultar em situações piores do que as anteriores.

— A redistribuição fiscal, o aumento dos impostos é mais eficiente do que a


redistribuição através do aumento dos salários, porque não tem o efeito de substituição.

— A ideia de que a solução para os problemas da desigualdade se resolve com políticas


de preços e rendimentos, tem que passar por uma análise criteriosa, para evitar efeitos
perversos.

— Politica financeira:

Mais seguro é a subida dos impostos:

• Impostos sucessórios;

• Imposto único sobre o rendimento: Imposto que englobe os rendimentos que as


pessoas auferem de diferentes componentes, pode ser sobre rendas, lucros que
transferidos das empresas para os seus detentores, (…) e que podem ou não englobar
os rendimentos de capitais e de propriedade.

O imposto sobre o rendimento, quanto mais elaborado for melhor é para


assegurar a correção das desigualdades.

Os impostos podem ser progressivos, regressivos ou proporcionais:


Proporcionais quando a taxa do imposto é sempre a mesma, qualquer que seja a base;
Progressivo quando a taxa marginal é maior do que a taxa média — se a pessoa tem 10
paga 10%, se tem 1000 paga 20% — a taxa acompanha a base tributária.

Os impostos progressivos retiram uma parcela maior a quem mais tem, portanto,
nessa medida contribuem para diminuir a desigualdade

O impostos regressivos incidem mais sobre os que têm menos, logo, estes não
corrigem as desigualdades. Há impostos regressivos, como os impostos sobre o
consumo: Já tinhamos visto que quanto maior o rendimento, menor é a propensão média
ao consumo. Assim, as pessoas que têm menos são tributados em consumo com 100%,
86
uma pessoa abastada apenas o são em 40%, por exemplo — Quem tem mais não gasta
tanto e o imposto, incidindo sobre o consumo, penaliza mais os que têm menos.
Característica destes impostos indiretos, é que são relativamente indolores, as pessoas
sentem menos quando pagam uma coisa qualquer, já não prestam atenção aos 23% do
IVA, pois já está no preço.

Os governos tendem a substituir impostos sobre o rendimento por impostos


“indolores”, diminuindo, assim, a redistribuição. A única maneira de fazer redistribuição é
ter impostos fortemente progressivos.

Os impostos fortemente progressivos também têm as suas desvantagens. Nos


anos 80, Tatcher e Reagan reduziram as taxas dos impostos e há um argumento
económico para esta:

Curva de Laffer

Um economista americano, para explicar o que acontecia com impostos sobre o


rendimento de 70% desenhou a curva:

— Com 0% de taxa de imposto sobre o rendimento, existe 0% de receita .


— Com 100% de taxa, a receita também é 0%.

À medida que íamos aumentando as taxas, íamos aumentando a receita.

A partir de certa altura, o efeito de desincentivo é maior do que aquilo que é o


aumento da taxa, há um momento em que fazer aumentar a taxa já não faz aumentar a
receita, pelo contrário, à medida que as taxas aumentam, depois da taxa máxima
comportável, a receita diminui.
87
A partir de certa altura taxa sobe e a receita desce porque diminui a base
tributaria, as pessoas partem do princípio que não vale a pena esforçarem-se.

Ou seja, os impostos fortemente progressivos também têm contra indicações.

Começou a fazer-se descer os impostos progressivos na ideia de que não iriam


perder receita, mas, mesmo não tendo perdido receita, deixou de haver o efeito de
restrição das desigualdades, com menos progressividade do sistema fiscal, as
desigualdades não são corrigidas.

Mas, a política financeira, para além da componente tributária (de receita),


também tem a componente de despesa.

Na política financeira temos uma solução, que é a dos impostos progressivos e,


por outro, as receitas que vão ser canalizadas para despesas.

As despesas do Estado social cresceram muito, em Portugal, entre 1974 e 2016


estas duplicaram quase.
Isto é uma progressão extraordinária, o orçamento do Estado passou a canalizar
para despesas sociais (saúde, educação, transportes e habitação) o dobro do
orçamento.

Estas despesas começaram a diminuir as desigualdades - p.e. acesso gratuito à


saúde, à educação gratuita e à universidade pública de propinas baixas. Isso
corresponde a uma transferência e espécie que beneficia as pessoas com menos
recursos.

— Políticas de segurança social:

Há dois sistemas básicos:

• Sistema de capitalização: Sistema dos países de influência anglo-saxónica: As


pessoas descontam para uma conta delas e, em função dos descontos que fazem nas
suas próprias contas, que é gerida pelos fundos de pensões, esse dinheiro que todas
as pessoas descontam é canalizado para investimentos com graus variáveis de risco e,
portanto, quando a pessoa termina o seu percurso contributivo, recebe o que tem a
receber, os benefícios dos investimentos feitos.

• Sistema de redistribuição: As pessoas que estão num determinado momento a


descontar para a segurança social pagam para os outros, os que deixaram de
descontar e, quando as pessoas que estão hoje no ativo chegarem ao termo da sua
carreira contributiva vão ser pagos, não pelo dinheiro acumulado (porque não há), mas
sim pelos descontos que vão ser feitos pelos ativos.

Nestes sistemas de segurança social, a segurança social funciona como forma


de evitar a penúria da velhice.

O problema é que há cada vez menos pessoas a pagar e cada vez mais pessoas
a receber, há um problema de sustentabilidade da segurança social, porque a pirâmide
demográfica e a retração do nº de nascimentos faz com que no futuro sejam muitos mais
a receber e muitos menos a trabalhar.
88
As pessoas que estão na fase não ativa vão ter menos rendimentos, se as
pensões forem reduzidas, como estão a ser e as pessoas tiverem uma expectativa de
vida alargada, tendo esgotado as duas poupanças ficarão numa situação menos
tranquila, o que contribuirá para o aumento da desigualdade.

É ainda pertinente acrescentar que a segurança social foi uma forma de evitar a
penúria da velhice. Nas sociedades asiáticas as famílias estão encarregues de tomar
conta dos mais velhos, eles ficam integrados nas grandes famílias, um conceito que,
hoje, no Ocidente, não existe.

O que é curioso é que, como as pessoas de rendimentos mais baixos têm uma
esperança media de vida menor, estatisticamente, acabam por ser as pessoas com mais
rendimentos que beneficiam da segurança social, ou seja, aqui, a desigualdade é em
termos de esperança média de vida.

Contabilidade nacional

— Circuito económico

A contabilidade nacional foi uma invenção que resultou da 2ª Guerra Mundial.

Certamente que já tinha havido precedentes de representação de uma versão


simplificada de um circuito económico:

Até 1628, pelo menos – o ano da publicação do livro de William Harvey sobre a
circulação sanguínea (considerada uma das grandes descobertas da medicina) – os
médicos acreditavam que o sangue era continuamente produzido no fígado, a partir dos
alimentos digeridos, e a partir daí circulava pelas veias para alimentar os pulmões ou os
tecidos, que o absorviam; e que parte desse sangue passava para o ventrículo esquerdo
do coração, onde se misturava com a “pneuma”, uma substância espiritual que era
captada pelos pulmões e que era depois distribuída pelas artérias por todo o corpo. Em
qualquer dos casos, a convicção era a de que o sangue tinha no fígado a nascente e era
distribuído centrifugamente por um sistema de canais (veias e artérias) para os órgãos e
tecidos que o absorviam, tornando necessária a renovação contínua da sua produção.
A circulação dos bens e dos rendimentos no corpo social foi introduzida na Economia
por François Quesnay, um dos Fisiocratas – e, não por acaso, médico.

No seu Tableau Économique, de 1759, Quesnay identificou três agregados: o da


classe “produtiva” (os rendeiros e os trabalhadores agrícolas), o da classe rentista (os
“proprietários” da terra) e o da classe“estéril” (os artesãos, comerciantes e prestadores
de serviços). Na medida em que a classe rentista retivesse parte do rendimento que lhe
era entregue por quem explorava as suas terras, haveria um défice na procura de bens
agrícolas ou de bens fabricados, mas, de outro modo, a economia faria circular entre as
três classes os resultados da produção, compensando com o aumento (a diminuição) do
consumo de uns (por exemplo, da classe estéril) a redução (o aumento) do consumo de
outros (por exemplo, os rentistas).

Esta ideia de fluxos recorrentes inspirou a criação de sistemas de registos que


permitissem descrever, e medir, o ritmo – ou a temperatura – da actividade económica.
89
— Setores da Contabilidade Nacional

• Famílias;
• Empresas;
• Estado;
• Exterior;
• Capital.

A lógica da moderna Contabilidade Nacional é uma decorrência da percepção da


relação entre agregados funcionais.

Para facilitar a compreensão da linearidade das relações que se estabelecem, os


agregados tornam-se uni-funcionais: no modelo mais simples, as Empresas são
supostas (só) produzir bens e serviços e (só) realizar despesas de investimento e de
pagamento de factores , as Famílias são supostas (só) fornecer factores de produção e
(só) poupar ou realizar despesas de consumo, o Estado é suposto (só) cobrar impostos
às Famílias e às Empresas e fazer gastos públicos, o Capital é suposto (só) recolher o
aforro das Famílias financiar o investimento das Empresas, e o Exterior é suposto só
comprar às Empresas (exportações) e só vender às Famílias e às Empresas
(importações).

Trata-se, em todos os casos, de convenções: é fundamental medir a Produção, o


Consumo e o Investimento, e portanto faz sentido criar um centro de imputação para
cada: daí as Empresas, as Famílias e o Capital; não se pode ignorar a intervenção do
Estado na economia (a inclusão das suas despesas como consumo final ou investimento
– e não como consumos intermédios – foi um contributo de Keynes); e é importante
registar as relações de uma economia com as demais, e portanto faz sentido considerar
um centro de imputação dessas relações (o Exterior). Cada um desses agregados – ou
sectores – é idealizado em função de algo que se quer medir, e tem pouco a ver com o
que se entende, fora das convenções da Contabilidade Nacional, por Estado, ou
Famílias, ou Empresas.
E as convenções mudam: até 1976 as contas nacionais seguiram as convenções
da OCDE; até 1986 seguiram as do Sistema Europeu de Contas Económicas Integradas
(SEC); depois, até 1995, adoptaram-se as convenções do chamado Sistema de Contas
Nacionais Portuguesas (SCNP-86); desde essa altura, o Sistema de Contas Nacionais
Portuguesas (SCNP95) seguiu as convenções do Sistema Europeu de Contas Nacionais
e Regionais, que se tornou obrigatório por força do Regulamento (CE) n.o 2223/96 do
Conselho de 25 de Junho, sucessivamente alterado; desde 2010, a Contabilidade
Nacional conforma-se com o SEC 2010, tornado vinculativo para os Estados-membros
pelo Regulamento (UE) n.o 549/2013 do Parlamento Europeu e do Conselho de 21 de
Maio de 2013 relativo ao sistema europeu de contas nacionais e regionais na União
Europeia. Este baseia-se, por sua vez, no System of National Accounts da ONU (versão
de 2008).
Neste sistema utilizam-se “dois tipos de unidades e duas formas correspondentes
de subdivisão da economia que são bastante diferentes e servem para fins analíticos
distintos” (1.54), sendo que, para o que ora importa – que é a “descrição do rendimento,
da despesa e dos fluxos financeiros” – o sistema agrupa “unidades institucionais em
setores com base nas suas funções, comportamento e objetivos principais” (1.55), tal
como na divisão simplificada anteriormente apresentada, mas dando origem aos
seguintes cinco sectores institucionais (divididos em sub-sectores), mutuamente
exclusivos, que constituem “o total da economia” (1.57):
90
a) Sociedades não financeiras (correspondentes às Empresas no modelo simplificado);
b) Sociedades financeiras (entidades que realizam intermediação financeira);
c) Administrações públicas (Administração Central e Local e Segurança Social);
d) Famílias (englobam os consumidores, os produtores de bens não financeiros
exclusivamente para utilização final própria, os empresários em nome individual e os
profissionais independentes desde que essas actividades não dêem lugar a entidades
distintas tratadas como quase- sociedades, e ainda as instituições sem personalidade
jurídica e sem fins lucrativos ao serviço das famílias);
e) Instituições sem fim lucrativo ao serviço das famílias (entidades que, tendo
personalidade jurídica, não constituem fontes de rendimento para quem as cria, como
sindicatos, associações profissionais, partidos, igrejas, associações de bombeiros, etc);
A estes cinco sectores de entidades residentes junta-se “um sexto setor institucional: o
setor do resto do mundo” (as entidades residentes noutras economias que podem
interagir com as unidades residentes).

— Fluxos: Produção, Rendimento e Despesas

Se abstrairmos, para já, das relações desta economia simplificada com o Exterior
e com o sector financeiro, essas abstracções permitem estabelecer fluxos entre os
referidos agregados:

- das Famílias para as Empresas há um fluxo real (a cedência de terra, trabalho e


iniciativa), compensado por um contra-fluxo monetário das Empresas para as Famílias
(rendas, salários e lucros);

- das Famílias para o Estado há um fluxo real (a cedência de terra e trabalho),


compensado por um contra-fluxo monetário do Estado para as Famílias (rendas e
ordenados);

- do Capital para as Famílias há um (contra-)fluxo monetário (juros) que remunera o aforro


disponibilizado pelas Famílias.

Assim, os pagamentos das Empresas, do Estado e do Capital às Famílias podem


identificar-se com o RENDIMENTO.

Como se viu, porém, as relações entre os agregados funcionais considerados são mais
diversificadas:

- das Empresas para as Famílias há um fluxo real (a cedência dos bens e serviços
produzidos), compensado por um contra-fluxo monetário das Famílias para as Empresas
(despesas de consumo);

- das Empresas para o Capital há um fluxo monetário (despesas de investimento) que


remunera o aforro que lhes é disponibilizado pelo Capital;

- do Estado para as Empresas há um (contra-)fluxo monetário (gastos públicos – em bens


de consumo e investimento), compensador de um fluxo real (a cedência dos bens e
serviços produzidos);

- do Exterior para as Empresas há um (contra-)fluxo monetário (pagamento dos bens de


consumo e investimento exportados ou dos serviços prestados ao Exterior),
compensador de um fluxo real (a cedência pelas Empresas desses bens e serviços); mas
91
também há (contra-)fluxos monetários das Empresas e das Famílias para o Exterior
(pagamento dos bens de consumo e investimento importados ou dos serviços prestados
pelo Exterior às Famílias e às Empresas), compensador de um fluxo real (a cedência pelo
Exterior desses bens e serviços).

Assim, as despesas de consumo das Famílias somadas às despesas de


investimento das Empresas, aos gastos do Estado e às compras ao Exterior podem
identificar-se com a DESPESA, e os bens e serviços entregues pelas Empresas às
Famílias, ao Estado e ao Exterior podem identificar-se com a PRODUÇÃO.

Temos, portanto, três fluxos essenciais entre os agregados: um real – a Produção


– e dois monetários – o Rendimento e a Despesa.

Recordando que os agregados se relacionam uns com os outros através da


circulação dos bens e dos pagamentos que, para esse efeito, são realizados, podemos
pensar em medir as relações entre esses agregados instalando “contadores” nos canais
desses fluxos:

- o do Rendimento (para somar os valores pagos em rendas, salários/ordenados, juros e


lucros – e, eventualmente, as transferências de, e para, o Estado, e de, e para, o Exterior);

- o da Despesa (para somar os valores pagos em bens e serviços de consumo,


investimento, gastos públicos e em compras líquidas ao Exterior);

- o da Produção (para somar o valor dos bens e serviços produzidos internamente).


92
No diagrama abaixo , os arcos exteriores correspondem a estas três ópticas de cálculo
da actividade económica, e os agregados são os descritos acima:

Um dos arcos – o superior – representa simultaneamente dois agregados: a


Produção e o Rendimento. Na verdade, não é possível que o valor da Produção aumente
(diminua) sem aumentar (diminuir) na mesma exacta medida a distribuição do
Rendimento: dizer que o bem X se vendeu por 100 uc quer dizer que a totalidade dos
factores envolvida na produção, distribuição e venda desse bem X recebeu 100 uc. Se a
venda tiver sido feita por 105 uc, então alguém – eventualmente o último vendedor –
recebeu mais 5 uc do que no caso anterior (tal como se a venda tiver sido feita por 95 uc
alguém recebeu menos 5 uc).

Se a identidade entre Produção e Rendimento é necessária – há sempre alguém


ligado ao processo produtivo que ganha com uma subida do preço final, como há
sempre alguém ligado ao processo produtivo que perde com uma descida desse preço –,
a igualdade entre Produção e Despesa é contingente: nada garante que o arco inferior
seja de valor idêntico ao arco superior fácil encontrar variáveis de ajustamento: a
variação de stocks – vista como investimento em inventário – é uma delas: quando a
Despesa excede o Rendimento (e, portanto, a Produção desse período), os inventários (a
Produção de outros períodos que não foi escoada) diminuem (e temos Investimento
negativo em stocks); quando a Despesa é inferior ao Rendimento (e, portanto, à
Produção desse período), os inventários aumentam (e temos Investimento positivo em
stocks – mesmo que tal investimento seja involuntário: os stocks de produtos não
vendidos constituem custos não recuperados e geram eles próprios custos de
armazenamento e conservação).
93
— Determinação de fluxos

Sendo diferentes os fluxos de Produção, Rendimento e Despesa, difere


naturalmente o processo de determinação de cada um. Mas mesmo na determinação do
mesmo fluxo podem seguir-se metodologias diversas. Por exemplo: os valores da
Produção – que, entre nós, são calculados pelo Instituto Nacional de Estatística – são
apurados segundo procedimentos diversos para as estimativas trimestrais (em que se
usam modelos econométricos cujos parâmetros vão sendo actualizados em função da
informação que é obtida – ou seja: através de métodos indirectos), e para os valores
anuais (que assentam em procedimentos de recolha de informação – ou seja: através de
métodos directos).

Não é a única bifurcação metodológica no apuramento dos valores da Produção:


estes tanto se podem obter pela via do somatório do valor dos bens finais, com as
necessárias correcções (designadamente para evitar as duplas contagens, como se
descreve a seguir), como pela via do Valor Acrescentado em cada fase do processo
produtivo (ie: pela soma de todas as diferenças entre o valor de venda e o valor de
compra, ou, dizendo-o de outra forma, entre o preço do output e os custos dos inputs
materiais), acrescido dos “impostos líquidos de subsídios sobre os produtos”. Este
método assegura que nenhuma atividade produtiva é considerada duas vezes,
justamente porque só retém a diferença de valor de cada fase para a seguinte.

a) Produto Interno Bruto (PIB)

O PIB, convencionalmente visto como uma medida do tamanho e do


crescimento – e, portanto, do sucesso – de uma economia , também pode ser
determinado pelo somatório do valor de todos os serviços e bens finais produzidos num
determinado período numa determinada economia , desde que se introduzam as
necessárias
correcções.
É claro que a ideia de que os diferentes bens e serviços se podem comparar pelos
preços assenta num pressuposto implícito (que é de uma economia de concorrência
perfeita): o de que a relação entre os preços dos bens é um retrato adequado da relação
entre

- a taxa marginal de substituição no consumo desses bens (ou seja, a relação de troca
estabelecida no mercado – tal que, se o preço do bem X é, por exemplo, o dobro do
preço do bem Y os consumidores estão dispostos a trocar uma unidade de X por duas
unidades de Y – ou vice-versa);

- a taxa marginal de transformação na produção desses bens (ou seja, a relação técnica
de utilização de factores em ambas as linhas de produção – tal que, se o preço do bem X
é, por exemplo, o dobro do preço do bem Y os produtores estão dispostos a produzir
uma unidade de X sacrificando duas unidades de Y – ou vice-versa).

Na ausência desta transparência de preços, a soma obtida não é um retrato fiel,


nem das condições de produção (uma unidade de X pode custar a produzir mais, ou
menos, do que duas unidades de Y), nem das preferências no consumo (mesmo que X
custe o dobro de Y, os consumidores estão dispostos a dar mais do que, ou menos do
que, duas unidades de Y para obterem uma unidade de X). As razões de afastamento
das razões de preços das razões de custos de produção ou das razões de utilidade
94
marginal são, porém, questões microeconómicas – que são removidas do cômputo do
valor da produção.

Para evitar duplas contagens, só se atende aos bens finais, uma vez que estes
incorporam no seu valor o valor dos bens intermediários e das matérias-primas
necessários à sua produção. Uma tal soma, porém, fica simultaneamente acima e abaixo
do valor da Produção obtida nesse período.

Acima, porque incorpora o valor de bens intermediários e matérias-primas que


provieram do Exterior ou de anteriores períodos. Abaixo, porque não incorpora o valor
dos bens intermediários ou das matérias-primas que foram produzidas nesse período na
economia em causa, e foram exportadas ou chegam ao fim desse período como tais.

É necessário, portanto, fazer uma dupla correcção geográfica (somar ao valor


dos bens finais produzidos o valor dos bens intermediários e matérias-primas que foram
exportados e deduzir ao valor dos bens finais produzidos o valor dos bens intermediários
e matérias-primas neles incorporados que foram importados) e uma dupla correcção
temporal (somar ao valor dos bens finais produzidos o valor dos bens intermediários e
matérias-primas que chegam ao fim do período como tais e deduzir ao valor dos bens
finais produzidos o valor dos bens intermediários e matérias-primas neles incorporados
que foram produzidos em períodos anteriores).

Fazendo essas (duas) deduções e essas (duas) adições , obtemos o valor básico
da actividade económica – uma “categoria totémica”. Não é o valor mais exato, nem o
mais significativo, mas é o mais usado.

b) Produto Nacional Bruto

Para se passar de uma grandeza Interna para uma grandeza Nacional, tem de se
afinar a participação na Produção de entidades residentes e não-residentes. A primeira
aproximação ao valor do Produto somou o valor dos bens e serviços gerados
internamente. Porém, parte dessa Produção foi obtida com factores de produção (terra,
trabalho, capital, iniciativa) fornecidos por não-residentes. O valor correspondente à
remuneração desses factores será, portanto, transferida para o Exterior. Trata-se de
Produto Interno, mas não Nacional.

Em contrapartida, há residentes em Portugal que são detentores de factores de


produção (terra, trabalho, capital, iniciativa) que são utilizados em processos produtivos
que decorrem fora do território nacional. O valor dos bens e serviços produzidos no
Exterior que seja devido a titulares residentes em Portugal constitui, simetricamente,
Produto Interno das respectivas economias, mas Produto Nacional português.

Para se chegar ao valor do Produto Nacional importa, portanto, deduzir ao


Produto Interno (tal como anteriormente apurado, por via do valor acrescentado ou da
soma, corrigida, dos valores dos bens finais) o valor dos factores de produção que é
devido a residentes no Exterior, e somar-lhe o valor dos factores de produção utilizados
na produção no estrangeiro que é devido a residentes em Portugal. A diferença entre os
dois valores dá o saldo dos rendimentos primários com o resto do mundo.

Se, para mais, se pretender estabelecer a equivalência entre agregados, é fácil


perceber que o Rendimento que fica disponível para Despesa é o Nacional e não o
Interno.
95
No caso português, a diferença é significativa e sistematicamente desfavorável
aos residentes: desde 1996 que o PNB é inferior ao PIB. Em 2019, os não-residentes
detentores de factores produtivos utilizados na produção interna receberam cerca de 13
mil milhões de euros, ao passo que os residentes receberam, pela utilização de factores
produtivos seus em processos produtivos exteriores à nossa economia, cerca de 8 mil
milhões de euros. Assim, em 2019 o PIB (cerca de 212 mil milhões de euros) excedeu o
22 PNB (cerca de 207 mil milhões de euros) em cerca de 5 mil milhões de euros.

c) Produto (Interno ou Nacional) Líquido

Para se evitar outra dupla contagem, tem de se passar de uma grandeza Bruta
(seja ela de Produto Interno ou de Produto Nacional) para uma grandeza Líquida. Isto
porque o valor dos bens finais (e dos bens intermediários que foram exportados ou
chegaram ao fim do período como tais), que se somaram para obter o PIB, já inclui (a
amortização d)o valor dos bens de produção que foram usados para os produzir. As
quotas de amortização – que são calculadas em todos os processos produtivos para
compensar o desgaste do capital fixo (até porque são fiscalmente dedutíveis) – servem
justamente para compensar o consumo de capital fixo, ou seja, para registar a
transferência para os bens produzidos do custo desse capital.

Se deduzirmos o valor anual dessas quotas de amortização (que permitem, no


final dos respectivos prazos de amortização, a substituição desses bens) ao valor do PIB,
ficaremos com um valor Líquido, removendo a dupla contagem que distorce os valores
brutos.

Não seria, de resto, a única forma de o fazer: se limitássemos a soma do valor


dos bens finais aos bens de consumo (uma vez que nestes já se incorpora a totalidade
do valor dos bens de produção, tal como neles se incorpora a totalidade do valor dos
bens intermediários e das matérias-primas) também chegaríamos a um valor que não
contava duas vezes a mesma coisa. Neste caso, porém, a flutuação na produção dos
bens de produção escaparia aos dados da Contabilidade Nacional. Ora, uma das
componentes mais voláteis da actividade económica é justamente a produção desses
bens: os bens (de consumo) consumíveis são dotados da estabilidade que lhes advém
da relativa constância das necessidades que satisfazem. Os bens de investimento, em
contrapartida, dependem das expectativas dos agentes económicos em relação à
evolução da economia: se esta estiver em contracção é de supor que a renovação dos
bens de produção (que implica um dispêndio que só será recuperado no termo dos seus
respectivos prazos de amortização) não apareça como prioritária; em contrapartida,
perante o crescimento da actividade económica, é natural que a renovação dos bens de
produção pareça necessária para manter ou aumentar a capacidade produtiva. Deixar de
fora dos dados da Contabilidade Nacional essas flutuações diminuiria a sua utilidade
como base de projecções e decisões económicas.

d) Produto (Interno ou Nacional, Bruto ou Líquidos) a preços de mercado e a custos de


fatores

Sendo o valor da produção interna durante um determinado período calculado


pela soma dos preços dos bens finais, incorpora duas distorções: por um lado os
impostos sobre os produtos aumentam o preço dos bens; por outro, os subsídios à
produção diminuem-nos. A forma de converter esse valor, calculado a preços de
mercado, num valor equivalente de Rendimento, ou seja, a custo de factores (os titulares
de rendimentos gerados no processo produtivo recebem os subsídios mas não o valor
96
dos impostos) seria, portanto, retirar ao valor dos bens finais os impostos sobre a
produção e somar-lhe o valor dos subsídios.
No actual sistema de Contabilidade Nacional, porém, o apuramento dos valores
acrescentados dispensa essas correcções.

e) Rendimento Nacional, Rendimento Pessoal e Rendimento Disponível

Partindo da óptica da Produção e fazendo as sobreditas correcções


aproximamo-nos de valores de Rendimento: um valor de produção Nacional, Líquida e a
Custo de Factores é um valor de Rendimento primário (ie: antes da distribuição
secundária, levada a cabo por transferências entre Famílias, com intervenção do Exterior,
e pelos impostos e subsídios às Famílias, com intervenção das Administrações Públicas).

Pela óptica do Rendimento, seria obtido um valor aproximado somando as


remunerações dos empregados, os impostos sobre a produção e a importação, líquidos
de subsídios, e o excedente bruto de exploração (a soma das rendas, juros, lucros, e os
demais impostos). As diferenças adviriam da existência de valores de Produção que não
são distribuídos (reservas das empresas, ou rendimentos de bens ou empresas do
Estado).

Em qualquer caso, as Famílias não têm ao seu dispor apenas os rendimentos que
são distribuídos na Produção (Nacional): há transferências secundárias de rendimento –
ie: valores que lhes são atribuídos por razões diversas da sua participação na produção –
que se somam aos anteriores (vg, remessas de emigrantes, bolsas de estudo, donativos
internacionais de ajuda, juros de empréstimos públicos , ...). Em contrapartida, as
Famílias também transferem rendimentos para (outras Famílias n)o Exterior (remessas de
imigrantes). Só apuradas estas correcções – para mais e para menos, respectivamente –
teríamos um valor correspondente ao Rendimento pessoal das Famílias.

Subsequentemente, têm estas de enfrentar a outra infalibilidade que afecta os


mortais: os impostos. Só depois do cumprimento das suas obrigações para com as
Administrações Públicas – embora também só depois de obtidas as transferências
destas – é que as Famílias podem tomar as decisões de afectação do seu Rendimento a
consumo ou aforro, e é por isso que o Rendimento líquido de tributos é considerado
Rendimento disponível.

f) Despesa: Consumo, Investimento, Gastos do Estado e Saldo de Exportações-


Importações

Como explica o INE, “A procura global é satisfeita com a oferta interna (o PIB) e
com a oferta externa, as importações. Em consequência, para obter o PIB na ótica da
despesa basta subtrair as importações à procura global.”
Também se pode somar o consumo privado (das Famílias) (C), o investimento (I), o
consumo público (G) e o saldo entre exportações (X) e importações (M). A fórmula C + I +
G + (X- M) apareceu pela primeira vez num artigo de Keynes (How to pay for the War)
publicado em 1940 e está na base dos processos de construção da moderna
Contabilidade Nacional.

No actual sistema de contas nacionais (SEC 2010) a óptica da Produção e a


óptica da Despesa são usadas em paralelo num instrumento único, o Quadro de
Equilíbrio de Recursos e Utilizações (QERU), no qual, para cada produto (entre nós cerca
97
de 430) se estabelece o equilíbrio entre a quantidade produzida (recursos) e a quantidade
utilizada, como se exemplifica no quadro seguinte:

Aula dia 17/05

Hoje falaremos das razões pelas quais, no período pós 2ª GM, se difundiram
internacionalmente os sistemas de contabilidade para registar as variações da atividade
económica dos países.

Os registos estatísticos a partir dos quais se elaboraram os sistemas de


contabilidade nacional já estavam disponíveis, não estavam era integrados num todo
coerente. A coerência dos agregados da contabilidade nacional, nas óticas da despesa,
do rendimento e da produção são um resultado, também, daquilo que é a reformulação
da economia feita por Keynes, é a existência de uma lógica macro-económica que
justifica que aqueles dados estatísticos que eram colhidos desde tempos antigos, mas
que não tinham uma coerência, nem um potencial explicativo tivessem sido mobilizados
para serem apresentados com duas preocupações essenciais:

• Uma que era aquela que mais interessava o Simon Kuznets — já falámos do Simon
Kuznets por 2 vezes, a propósito da curva de kuznets e a propósito dos ciclos de
kuznets, este era um economista russo que se naturalizou norte-americano e que foi o
pioneiro da contabilidade nacional nos Estados Unidos — e qual era a preocupação do
Kuznets?

— Medir o bem-estar de uma população. Portanto, aquilo que ele queria era, a
partir dos dados estatísticos que estavam disponíveis, conseguir inferir, de alguma
forma, qual é que era o nível de bem-estar das populações, para poder, por um
lado, acompanhar as variações ao longo do tempo, por outro lado, para fazer
comparações internacionais e, portanto, a preocupação dele era uma
preocupação de registar “as experiências satisfatórias”.
O contexto da época não era bem esse, o contexto da época e a preocupação,
aliás, de Keynes, (que era consultor do Tesouro britânico e, nessa qualidade,
esteve muito mais envolvido na preparação dos sistemas de contabilidade
nacional durante muito tempo) era saber quais é que eram a as necessidades de
funcionamento da economia e o potencial da economia, para, afinal de contas,
poder planear o esforço de guerra e, portanto, a preocupação do Keynes não era
bem a de perceber a partir dos dados da contabilidade nacional onde é que
estava o o bem-estar das populações, havia uma situação de guerra e a
preocupação do Keynes era a como é que nós podemos saber quais são os
recursos que é possível mobilizar para o esforço de guerra.
Portanto, estas ópticas que são um bocadinho distintas, para dizer o menos,
destas ópticas acabou por resultar o sistema de contabilidade nacional, que por
um lado foi adotado pelas Nações Unidas, imediatamente no pós guerra, e,
depois, deu origem aos sistemas de contabilidade nacional, que os vários países
foram adotando, em grande medida apoiando-se e inspirando-se nesses trabalhos
Internacionais.

Porque é que, então, aqueles dados que nós estivemos a ver como é que se
podiam apurar segundo as 3 diferentes óticas da produção, do rendimento e da
despesa, porque é que esses dados não são fiáveis ou indicadores do bem-estar
das comunidades?
98
Embora, supostamente, a tal importância que é dada às variações do PIB até dá
a impressão que sim, quer dizer até dá a impressão que a felicidade dos povos
depende do crescimento do PIB — não é bem assim
Porque é que os dados da contabilidade nacional não servem para nós tirarmos ilações
quanto ao nível de bem-estar das sociedades?

• Aquilo que aparece refletido nos dados da contabilidade nacional, seja na ótica do
rendimento, da despesa ou da produção, é aquilo que tem um valor de mercado, ou
seja, aquilo que é transacionado no mercado.
Acontece que há muitas coisas que contribuem para a felicidade humana e que não
têm preço. Pior ainda, se nós tivermos um rio com águas cristalinas e bosques
frondosos a rodeá-lo, isso não conta para nada para o produto interno bruto, mas se
o rio estiver poluído e for necessário limpá-lo, for necessário adotar medidas para
minorar o os danos causados à natureza, isso conta para o PIB. Os bosques
frondosos, as florestas não contam para o PIB, a menos que sejam cortados, porque
se forem cortados, aí, são vendidos e a venda da Madeira, os custos incorridos no
seu corte fazem circular dinheiro pela economia, portanto, isso contribui para
aumentar o PIB

Ou seja, todas as situações em que há destruição da qualidade de vida e, em


função dessa destruição da qualidade de vida, é necessário adotar medidas paliativas
dessa destruição, isso contribui para o PIB dos países, se alguém é irresponsável e
cria um uma urbanização monstruosa, servida por um uma estrada com 2 sentidos,
com uma faixa do trânsito para cada lado e, depois, as pessoas que vivem nessa
urbanização ficam horas para chegar à via principal e depois é necessário criar
viadutos, criar túneis, criar formas de desembaraçar aquela situação caótica que se
gerou pela falta de planeamento, isso entra no PIB.

Portanto, aquilo que o produto interno bruto regista, (quem diz o produto interno
bruto, diz o rendimento, porque quando se produz distribui-se rendimento e, portanto,
pela óptica do rendimento íamos lá na mesma, se estivermos a falar de a ótica da
despesa vamos lá na mesma ,temos investimentos, temos gastos do Estado) podem
ser situações que são de correção de anomalias, que são afinal de gastos que
eventualmente seriam escusados, e contribuem para o aumento do PIB.

• Depois repare-se que há uma uma quantidade de atividades, que podem ou não ser
contabilizadas no produto interno bruto.

Dantes dizia o professor Teixeira Ribeiro que quando é um homem casava com a
cozinheira diminuía o PIB, porque ela desempenhava algumas tarefas, era paga por
isso, quando o homem casava com a senhora e deixava de lhe pagar, o PIB diminuía,
na medida do contributo dessa despesa, que antes era feita e que tinha deixado de
ser.

Agora podemos dizer que nós aumentamos o PIB quando pomos os nossos filhos
nas creches, em vez de os termos em casa, ou quando pomos os nossos pais num
lar, em vez de os termos em casa. Estamos, com isso, a aumentar o PIB. Será que,
com isto, melhora a qualidade de vida das pessoas?

Portanto, aquilo que nós registamos como valor de produção ou despesa ou de


rendimento é aquilo que passa pelo mercado e há muitas coisas que não passam por
mercado, por exemplo, o trabalho doméstico que todos nós fazemos — cuidar da roupa
99
cuidar da casa, cuidar de pequenos arranjos — esse trabalho é um trabalho que tanto
pode ser feito pessoalmente, evidentemente, como pode ser contratado, se for
contratado aparece no PIB, não sendo contratado não aparece, e é um valor
surpreendentemente elevado, os cálculos apontam para 35% do valor do PIB ,35% em
média, do valor do PIB, sejam tarefas domésticas, trabalho não pago, atividades que
poderiam ser realizadas por concurso ao mercado, mas não são — cuidar dos filhos, por
exemplo, cuidar dos cães — isso tudo, em média, dá 35% do PIB. Variando, segundo os
cálculos feitos, entre 60% do PIB na Albânia e os 10% da Coreia do Sul, onde
praticamente, então, nós percebemos quase tudo passa pelo mercado.

Porque é que o trabalho doméstico não é considerado?

Há umas teses feministas que dizem que é para não valorizar o trabalho das
Mulheres, porque, por exemplo, as pessoas podem viver numa casa arrendada, e se
viverem numa casa arrendada, pagam uma renda e isso aparece no PIB, mas se viverem
numa casa própria, também aparece no PIB, porque os sistemas de contabilidade
dispõem de formas de cálculo, de maneira a imputarem a renda que as pessoas teriam
que pagar se vivessem numa casa alheia, imputá-las ao rendimento que as pessoas
auferem seu no seu todo.
Portanto, havia maneiras de fazer considerar esta parcela, que é absolutamente
significativa no PIB, mas não, o consenso, a convenção é de que isso não conta, ao
contrário, por exemplo, da utilização de bens próprios para habitação.

Portanto, num caso considerou-se que tinha que haver uma maneira de reportar
estatisticamente isso para fazer refletir esses dados nos dados contabilidade nacional,
noutros casos entendeu-se que não — são convenções e as convenções, de tempos a
tempos, mudam.

Por exemplo, para lhes dar um exemplo de que as convenções mudam: O


produto interno bruto norte-americano subiu 2,5% num dia, porque os alteraram a
convenção que considerava que os gastos de investigação e desenvolvimento internos
das empresas passavam a contar como investimento, antes, contavam como despesa,
como consumo intermédio e como era um consumo intermédio não apareciam no valor
dos bens finais. Houve uma alteração da convenção e como o valor da investigação feita
in House era 2,5 do PIB, o PIB norte-americano subiu 2,5% num dia.
Isto mostra que, realmente, aquilo que é um valor do produto ou do rendimento ou da
despesa, depende das convenções que são as aceites e que são utilizadas.

Outro exemplo: o PIB da Grécia num determinado momento, subiu 25%, porque
decidiram incorporar no valor da contabilidade nacional, o valor da economia informal,
portanto, a economia informal é aquela que passa à margem daquilo que é pagamento
de impostos, registos e também, evidentemente, o valor da economia clandestina, do da
economia do crime e como eles decidiram contabilizar aquilo no produto interno, então,
houve um aumento de 25%, que era o valor calculado para essa economia sombra.

Nas avaliações internacionais que são feitas, o setor de economia informal, em


Portugal, não anda longe disso, há avaliações entre os 18% e os 25%, portanto, o valor
da economia informal, em Portugal, também está na na mesma dimensão daquele que
foi avaliado para a economia grega, o que é curioso é que o instituto nacional de
estatística considera que, desses valor, só 0,5% é que é economia do crime.
Portanto, segundo as estimativas do INE, o crime é 0,5% do PIB — isto engloba
contrabando, tráfico de droga, prostituição, essa economia a paralela e ilegal. Não
100
contam aqui os roubos e os assaltos — os roubos e os assaltos não contam, porque aí
há transferência de um bem, do património de alguém para outro, sem consentimento e,
portanto, isso não conta. Agora quando se trata de fornecer um produto a troco de um
preço, como por exemplo, quando se vende droga ou quando se vende os serviços do
instituição, isso já conta.

Outro exemplo:

Imagine-se que 2 países, até com a mesma dimensão, (porque se forem com
dimensões diferentes é claro que isso muda tudo) se num deles se obtiver um
determinado valor de produção interna ou despesa ou rendimento igual ao do outro, mas
com 35 horas de trabalho, 30 dias de férias por ano e sem custos excessivos de
mobilidade, isso, no outro país que tem aproximadamente a mesma dimensão e tem o
mesmo produto interno bruto, mas se trabalham 50 horas por semana, há 2 semanas de
férias apenas por ano e as pessoas ,para chegarem ao emprego, têm que demorar 3
horas na comutação, é claro que o valor do PIB é igual para ambos, mas podemos inferir
que a satisfação social nas 2 economias é muito diferente.

Imagine-se também que os valores das economias são aproximados, até os


direitos e regalias sociais das pessoas também são aproximados, mas, num dos países,
há uma situação de guerra e, no outro, não.

Israel, por exemplo, tem 9000000 de habitantes, e Portugal tem 10000000,


aqui há uns anos, não muitos anos, Portugal e Israel tinham aproximadamente o
mesmo é PIB.
Hoje em dia. Portugal está nos 23000 USD por ano (cálculos do FMI para 2021)
— dividindo o valor da produção total de Portugal pelos 10000000 de habitantes,
dividindo o valor da produção do total de de Israel pelos 9000000 de habitantes e,
aqui há alguns anos, o rendimento per capita, isto é, aquilo que caberia a cada um
se dividíssemos o total de forma equitativa, Israel estaria com números quase
iguais a Portugal. Hoje tem quase o dobro, porque na última dúzia de anos, Israel
passou a ter 44000 dólares de rendimento per capita e Portugal está nos 23 —
não é exatamente metade, mas é quase .
Portanto, a verdade é que nesta dúzia e tal de anos a Israel duplicou é o seu
rendimento per capita, em relação àquilo que é o rendimento per capita de
Portugal.
Quer isto dizer que se vive 2x melhor em Israel do que em Portugal?
Certamente que não.

Portanto, o mesmo rendimento per capita não é uma medida relevante para
fazer as comparações.

No entanto, é um avanço, porque na lista dos países que tem maior


rendimento, maior produção no mundo, vamos encontrar, em primeiro lugar, os
Estados Unidos e, em segundo lugar, a China. Nos Estados Unidos são 287M, na
China são 1400 milhões, faz uma diferença. Se se vir as listas para 2021,
procurando pelo PIB per capita, tem tabelas com e as previsões do FMI, os dados
do banco mundial e das Nações Unidas, e segundo as previsões para do FMI para
de 2021, Portugal está em 47º lugar na lista dos países que têm mais PIB no
mundo, está em 47º, e em 46º, está o Paquistão.
101
Isto quer dizer alguma coisa? Então quer dizer que a economia portuguesa
está logo a seguir à economia do Paquistão, em comparação entre uma e outra?

Portugal tem 10M de de pessoas e o Paquistão tem 212M de habitantes e,


portanto, se nós fizermos o apuramento per capita, lá encontramos os tais 23000
USD, de rendimento per capita para Portugal, e pro Paquistão temos 1300, 1300
para 23000 é uma diferença muito significativa, embora nós estejamos logo um a
seguir ao outro na lista.
Portanto, se nós comparássemos valores absolutos globais tínhamos estes
que são perfeitamente absolutamente díspares.

Para nós fazermos comparações internacionais, não podemos utilizar valores


absolutos, o facto de os Estados Unidos aparecerem em primeiro e a China em segundo,
em terceiro aparece o Japão, em quarto aparece a Alemanha e, depois, consoante os
anos, em quinto aparece ou Reino Unido ou Índia, mas, mais uma vez, estamos a falar de
coisas muito diferentes, de economias com dimensões muito diferentes.

Portanto, para nós podermos fazer uma comparação com mais sentido,
reduzimos isso à per capitação — dividimos o valor da produção total pelo número de
habitantes de um determinado país, para termos uma forma de corrigir as diferentes
dimensões.

Esta per capitação é ideal, é suposto ser uma divisão equitativa entre todos, mas
mais uma vez, 2 países com iguais rendimentos per capita podem ter valores de nível
bem-estar completamente diferentes, se houver uma desigualdade brutal na distribuição
da riqueza.

Aqui há 2 ou 3 anos, os países que tinham maior rendimento per capita eram
Macau e a Suíça, apareciam com rendimentos per capita aproximados. Quer isso dizer
que o nível de vida na Suíça e Macau eram semelhantes?

Claro que não, a distribuição da riqueza e do rendimento, em Macau, está


concentrada naquelas grandes empresas, que são as detentoras dos paraísos de jogos e
de hotelaria e de serviços associados a isso, portanto, a desigualdade, o coeficiente de
gini era de 0.35, enquanto que na Suíça era 0.29, portanto, havia uma diferença na
desigualdade de distribuição da riqueza e, portanto, quanto mais desigual for a riqueza,
menor indicador é do nível de qualidade de vida, mesmo este indicador do rendimento
per capita.

O Kuznets tinha querido que estes dados servissem para que se pudessem fazer
comparações sobre a qualidade de vida, o bem-estar das populações, afinal de contas,
há uma certa lógica em que as economias mais ricas tenham melhor qualidade de vida,
havia a ideia de que, de certa forma, a riqueza não não compra a felicidade, mas é
melhor ser rico que ser pobre, tudo ponderado.
Agora, os dados da contabilidade nacional não servem, são demasiado
desajustados para permitir que se façam ilações sobre a qualidade de vida, a partir
desses dados.

Desde 2007, com o presidente Sarkozy, que reuniu o comitê para proporem
alternativas à medição da atividade económica e não só da atividade económica, daquilo
que se pretende seja o bem estar das sociedades europeias e desde 2007 que a união
europeia anda a enrolar, voltaram a ser produzidos documentos em 2009, em 2011, em
102
2013 e, em 2019, a presidência finlandesa quis introduzir na agenda europeia a criação
de um sistema alternativo de contabilidade, que permitisse aferir aquilo que, na altura, já
era designado como o wellbeing, a satisfação social e, mais uma vez, a coisa morreu lá
nos corredores de Bruxelas.
Onde é que não morreu? — Na Nova Zelândia, que, em 2019, aprovou o primeiro
orçamento baseado em indicadores de bem-estar e, portanto, em vez de estar tão
preocupada assim com o crescimento do PIB, o que a Nova Zelândia quer fazer é ver
como é que se faz crescer o bem-estar das populações, portanto, já em 2019 foi feito o
primeiro orçamento lá.

Agora, parece que, finalmente, a União Europeia também percebeu que tinha que
fazer alguma coisa, porque os tempos estão difíceis, as pessoas estão insatisfeitas e,
quando as pessoas estão insatisfeitas, aquele “castelo” pode correr o risco de
desmoronar. Assim, talvez seja altura de começar a pôr em prática algumas coisas que
apaziguem as massas.

Foi realizada a cimeira social no Porto, de onde saiu um plano de ação, para o
pilares social da união europeia e o pilar social da união europeia tem um compromisso
de um plano de ação com 3 pontos para realizar, até 2025. Um deles é atingir uma taxa
de emprego de 72%, portanto, garantir que as pessoas entre os 20 e os 64 anos estão,
em 72%, no mercado de trabalho e, na mesma faixa etária, devia haver 60% dos
trabalhadores a fazerem ações de formação por ano, 60% é mais de metade da força de
trabalho a fazer formação, em cada ano, na lógica de que as qualificações permitem que
as pessoas se ajustem às mudanças e as mudanças estão aí e vão ser brutais. E,
finalmente, retirar 15M de pessoas da pobreza, entre os quais 5M de crianças, e as
estimativas são que, a nível da união europeia, haja 91M de pessoas em risco de
pobreza, portanto, tirar 15M, até 2025, é um objetivo que se considerou que era atingível.

A importância disto é que todos os países membros da UE têm que enviar para
Bruxelas os seus orçamentos, para que haja uma avaliação daquilo que é o cenário
macroeconómico da condução das políticas de cada um dos Estados. Portanto, os
países têm que se sujeitar a indicações, críticas, recomendações de Bruxelas, em relação
àquilo que pretendem fazer. Já é assim há uns anos, desde o Pacto de estabilidade e
crescimento.
O que Cimeira social do Porto trouxe de novo é que aquelas medidas que
referidas passam a ser também incluídas na avaliação de Bruxelas, no semestre europeu,
ou seja, os países agora já não podem deixar de adotar medidas, não apenas
económicas, mas também sociais, estão obrigados a adotar medidas que permitam a
realização destes objetivos, até 2020, o que é um começo, pode ser que atrás disto
venha a tal alternativa à avaliação daquilo que é a política dos Estados, política
económica dos Estados, reduzida à lógica do crescimento da produção.

No entanto, esta é uma lógica que é insustentável, é impossível que num


universo com recursos finitos, todos os países do mundo estejam apostados em crescer,
porque o crescimento absorve recursos, se os recursos fossem infinitos não haveria
problema, mas os recursos não são infinitos, portanto, um dia, o crescimento tem que
parar.

A lógica do crescimento, é uma lógica que vêm sendo denunciadas há imenso


tempo, sobretudo, pelos ecologistas. A longo prazo, a lógica do crescimento, que é uma
lógica que está ligada aos indicadores que nós dispomos, há de um dia resultar num
problema.
103

Nunca houve da parte de ninguém com responsabilidade grande vontade de


mudar isto, à exceção da Nova Zelândia (e Finlândia), mas pode ser que com esta lógica
do pilar social algo venha a mudar.

O Índice de Desenvolvimento Humano será, talvez, a melhor alternativa a isto.


Foi criado com o apoio das Nações Unidas e relaciona, num indicador único, a
esperança de vida à nascença, o nº médio de anos de escolaridade e expectativa de
anos de formação — aparecem estes indicadores porque até podia haver economias
onde o nº de anos médio de formação fosse baixo, mas com as reformas que
introduziram no sistema de ensino, as novas gerações já tivessem uma expectativa de
escolaridade diferente da média e, portanto, considerar apenas a média dos anos de
escolaridade enviesava o indicador, assim, temos estes 2 indicadores relativos à
educação — e, por último, inclui também o rendimento per capita em paridade de
poderes de compra. Se considerarmos estes 3 indicadores, estes ja dão uma melhor
avaliação, indicação daquilo que é o nível d bem estar de uma comunidade.

As paridades de poder de compra:

O valor do dinheiro não é o mesmo em toda a parte, porque os níveis de vida são
diferentes, quando há diferentes níveis de vida há diferentes sistemas de preços, o que
quer dizer que quando nós comparamos internacionalmente os rendimentos per capita,
não estamos a ver o poder de compra desse valor de dólares, que é completamente
diferente na Noruega e no Burkina Faso, ou em Timor.

Portanto, quando nós fazemos uma avaliação Internacional de nível de vida,


também temos que ter em conta o poder de compra da respectiva moeda, isto é, o nível
de preços internos de cada economia.
É por isso, também, que nas fronteiras, por exemplo, na fronteira entre Portugal e
Espanha escolhe-se ir por gasóleo a Espanha, que é muito mais barato, mas escolhe-se
ir a um restaurante em Portugal, porque também é mais barato — estas diferenças
permitem, também, fazer uma correção dos valores, quer absolutos, quer per capita, por
exemplo, em valores absolutos, avaliados em paridades de poder compra, a maior
economia do mundo não são os Estados Unidos, é a China, a China é a maior economia
do mundo em paridade de poderes de compra, porque o valor da moeda na China
permite uma quantidade de aposições muito maior do que nos Estados Unidos.

Se nós considerarmos o poder de compra dos dólares, que são afinal de contas
a moeda que nos serve para fazer as comparações internacionais, em vez de termos
Estados Unidos, China, Japão, Alemanha, temos China, em primeiro lugar,
destacadíssimo, Estados Unidos a seguir, Índia em terceiro e, em quarto lugar, o Japão e
a Alemanha.

Assim, se os dados nos permitem alguma comparação Internacional é, por um


lado, com estas correções e, por outro lado, com esta consciência de que aquilo é um
indicador muito pouco fiável, para daí se retirarem quaisquer indicações de bem-estar.
104
Aula 18/05

Comércio internacional

Já tinhamos referido que os mercantilistas procuravam obter balanças


excedentárias - obter um excesso de receitas que eram obtidas em metais preciosos,
sobretudo em ouro, através de políticas que dificultassem as importações e
favorecessem as exportações.

Uma das inovações trazidas pela obras de Adam Smith, que é considerado o
fundador da ciência económica, foi a ideia de que era errado produzir algo que pudesse
ser comprado mais barato. Tal como as pessoas na sua vida quotidiana não procuram
produzir tudo para não gastarem dinheiro, também nos Estados não deviam dificultar o
comércio internacional com o pretexto de que, assim, não exportariam metais precisos.

Evidentemente que uma das formas de travar essa saída de metais preciosos era
dificultar as importações, mas dificultando-se as importações, tem de se produzir
internamente. O que acontece é que, como dizia Smith, as pessoas não procuram
pescar, caçar, plantar trigo, (…), aquilo que procuram fazer é especializar-se naquilo que
fazem bem, desejavelmente, até se devem especializar naquilo que fazem melhor e,
depois, através da venda dos bens ou serviços assim produzidos, adquirir os meios para
comprar aquilo que lhes falta — isso é uma solução melhor do que tentar poupar dinheiro
através da autoprodução de tudo.

Teoria clássica da vantagem absoluta e da vantagem relativa

(Adam Smith, como os clássicos, acreditava que a única forma de criar valor era através
do trabalho - teoria do valor do trabalho)

Temos o país 1 e 2, e dois bens, A e B.

• Supõe-se que o país 1 gasta 20h de trabalho a produzir 1 unidade do bem A e gasta 50
a produzir uma unidade do bem B;
• Supõe-se que o país 2 gasta, para produzir uma unidade de A, 80h de trabalho e o país
B gasta 60h de trabalho.

Agora supõe-se outra situação:

Mantém-se os mesmos bens A e B e agora temos uma situação em que a


vantagem de cada um deles é recíproca, simétrica — o país 1 gasta 20h a produzir o
bem A e gasta 40h a produzir o bem B; o país 2 gasta 40h a produzir o bem A e 20h a
produzir o bem B.

Na segunda situação, se houver 60h de trabalho de trabalho no país 1, essas 60


horas permitem produzir 1 unidade de A e uma unidade de B, ou seja, 2 unidades.

No país 2, o mesmo se passa — com as mesmas 60h, ele produz 2 unidades e


essas 2 unidades são 1 de A e B.
105
Esta é a situação em que cada um dos países está se tiver que produzir aquilo que
necessita para consumir — vamos supor que estes 2 bens são complementares, e sendo
complementares, ´ necessário ter unidades de 1 e de outro.

Se os países não recorrem ao comércio, cada um deles produz, com 60h de


trabalho, um bem de A e um bem de B.

Agora, repare-se que, se cada um deles, com as mesmas 60h de trabalho,


especializar naquilo que faz melhor, aquilo em que tem vantagem absoluta, então, o país
1 afetará as 60h de trabalho à produção do bem A e o país 2 afetará as 60 horas de
trabalho à produção do bem B. Assim, o país 1 passa a produzir 3 unidades, tal como o
país 2, logo, em vez de termos 2 unidades em cada país, vamos ter 3 unidades em cada
país — em vez de termos um total de 4, vamos ter um total de 6, o que representa um
crescimento de 50% da quantidade produzida.

Pela mera reafetação dos recursos, nós passamos a ter uma situação em que a
produção aumenta, neste exemplo, 50%.

É claro que isto só é possível se houver comércio internacional, isto é, desde que
o país 1, que só produz A, consiga trocar uma parte daquilo que produz com o país 2,
que só produz o bem B — é do interesse de ambos recorrerem ao comércio internacional
depois de se terem especializado.

Este é um exemplo fácil, porque cada um dos países tem vantagem num bem
diferente, o país 1 no bem A e o país 2 no bem B.
106

Agora, o que é que aconteceria se houvesse um país que tivesse vantagem nos dois
bens?

O país 1 é melhor produtor de A do que o país 2, gasta 20h, enquanto o país 2


gasta 80.

O país 1 é, também, melhor produtor de B do que o país 2, gasta 50h enquanto


que o país 2 gasta 60h.

Portanto, se seguirmos à letra aquela ideia de que ninguém quer produzir aquilo
que compra mais barato, então, o país 1 devia produzir tudo porque não consegue
comprar mais barato.

Quando temos situações em que um país tem vantagem absoluta nos 2 bens, será
que se justifica o comércio? Faz sentido que um país deixe de produzir um bem que
consegue produzir melhor que o outro, para passar a comprar esse bem?

Com 70h, o país 1 consegue 2 unidades — 1 de A e 1 de B.

O país 2 com 140h consegue 2 unidades — 1 de A e 1 de B.


107

O que acontecia se cada um deles se especializasse num dos bens?

O país 1 deve especializar-se no bem A, porque o diferencial em relação ao país 2


é muito maior (apesar de ser maior nos 2 bens).

Admitindo que o país 1 utiliza as suas 70h para produzir o bem A — 3,5 unidades

Se o país 1 se especializar no bem A consegue produzir 3,5 uni em vez de produzir


2, o que representa um ganho de 1,5 unidades.

O país 2 vai se especializar no outro bem — se ele afetar as 140h que utilizava
para produzir os 2 bens, para produzir só B, consegue produzir 2 unidades e 1/3. Quer
dizer que se o país 2 utilizar o seu stock de horas de trabalho para produzir só um dos
bens, ele vai produzir 2.3.

Ou seja, o total passou de 4 para 5.8 unidades. Assim, através da especialização


conseguiu-se aumentar a produção.

No entanto, a especialização já não é segundo o padrão de vantagem absoluta,


porque o país 1 tem vantagem nos dois bens, antes, e aqui está o contributo de David
Ricardo, que aperfeiçoou a teoria de Smith, dizendo que se cada um dos países tiver
vantagem absoluta num bem faz sentido que se especializem, mas se não tiver, se
houver um país que tem essa vantagem nos dois bens, vale a pena, ainda assim, haver
especialização segundo um padrão de vantagem relativa/comparativa.

Esta vantagem relativa traduz-se no seguinte:

! Cada país especializa ou naquilo em que é mais mais eficiente do que o outro, e o
outro país vai ter vantagem relativa naquele bem em que é menos menos eficiente, pois
ele é menos eficiente nos dois bens, mas há um dos dois bens em que ele é menos
menos eficiente do que no outro.

A vantagem relativa está onde houver maior vantagem absoluta, ou onde a


desvantagem absoluta for menor: o país 2 tem desvantagem absoluta nos 2 bens, mas
há um dos bens em que a desvantagem é menor.

David Ricardo vem dizer que a vantagem absoluta é apenas um caso especial de
um argumento a favor do comércio internacional que é mais amplo.

Se um país não tiver vantagem comparativa em nada?

— Um país tem sempre vantagem comparativa, quer tenha maior vantagem absoluta,
quer tenha menor desvantagem absoluta.

— Há apenas 1 situação em que um país não tem vantagem comparativa, que é quando
a desvantagem absoluta deste país é igual nos dois bens.
108

Assim, nós sabemos que, com o comércio internacional e a especialização, nós


garantimos um aumento de produção.

Agora, o facto de sabermos que o conjunto dos dois países ganha, porque
aumenta a produção global, não quer dizer que ambos ganhem, pode acontecer que um
país fique com os ganhos todos para ele. Como é que isto pode acontecer?

Depende dos termos de troca, depende da razão de troca entre os bens A e B.

Imagine-se que o país 1 se tinha especializado na produção de A e o país B se


tinha especializado na produção de B, mas que, depois, a razão de troca entre A e B, o
preço de um destes bens expresso em unidades do outro, era:

1 B = 2.5 A

Pode acontecer que a procura do bem A seja tal que, comparado com as
unidades do bem B, perde valor.

Se acontecesse que o bem B se valorizava em termos de trocas internacionais, o


país 1, o que acontece?

— Inicialmente, tinha uma unidade de A e de B e, agora, produz 3.5 de A, mas 2.5


têm de ser cedidas para obter uma unidade de B. Assim, ele acaba com 1 de A e
com 1 de B;

O país 2, que tinha desvantagem absoluta nos 2 bens, agora, acaba como?

— Ele produziu 2.3 unidades do bem B, trocou uma unidade do bem B por 2.5 do
bem A, ficando, assim, com 2.5 de A e 1.3 de B.

O país 1 era melhor do que o país 2 nos dois bens, especializou-se segundo o seu
padrão de vantagem comparativa, mas acabou por ficar na mesma situação em que
estava antes.

! Portanto, sabemos que a especialização, segundo um padrão de vantagem


comparativa, faz aumentar o stock de bens disponíveis e o conjunto ganha. Não é
necessário que os 2 países ganhem, isso depende dos termos de troca, que foi a
precisão introduzida por John Stuart Mill, que veio mostrar que, consoante se
estabelecesse a razão de troca entre dois bens (os termos de troca), poderia acontecer
que um dos países ficasse na mesma ou até pior do que estava antes.

Exemplo:

— Tratado de Methuen:

Este tratado foi celebrado entre a Grã-Bretanha e Portugal, em 1703.

Era um tratado que consistia em 3 curtos artigos: Portugal deixava de cobrar


direitos aduaneiros à importação de têxteis ingleses; os ingleses comprometiam-se a, até
ao fim dos tempos, a cobrarem sempre 1/3 menos do que cobrassem aos vinhos
109
franceses, de forma a Portugal ganhar vantagem sobre os franceses; Cada um dos
negociadores se comprometia a que os respeitos amos respeitassem este Tratado.

Aquilo que dizem os economistas clássicos é que os portugueses, na altura,


tinham vantagem absoluta nos 2 bens, vinho e têxteis.

Com o tratado, incentivou-se a entrada de têxteis ingleses em Portugal e facilitou-


se a venda de vinhos portugueses à Grã-Bretanha. Assim, Portugal tendeu para se
especializar naquilo em que tinha vantagem comparativa, o vinho.

No entanto, aconteceu que os termos de troca evoluíram desfavoravelmente ao


vinho, quer dizer que foi necessário cada vez mais unidades de vinho para pagar cada
unidade de têxtil — o preço dos têxteis subiu e o preço do vinho desceu.

Assim, em vez de se aumentar a quantidade produzida de têxteis e de vinho,


como se pensava, originalmente, que iria acontecer, Portugal ficou a perder.

Conclusões:

• Há razões que justificam, do ponto de vista da eficiência, a especialização produtiva


segundo um padrão de vantagem comparativa;
• A especialização segundo um padrão de vantagem absoluta é apenas um caso
especial;
• No entanto, isso não quer os envolvidos no comércio ganhem, quem ganha vai
depender dos termos de troca.

(Pequeno parêntesis na teoria clássica da vantagem absoluta e relativa, para fazer


referência aos argumentos a favor da proteção)

A conclusão a que chegamos é que nós conseguimos aumentar a quantidade de


produção conjunta se cada país se especializar segundo o padrão de vantagem
comparativa.

O que é que pode justificar que haja desvios a esta especialização?

- Argumento económicos - embora se saiba que o comércio é benéfico -se houver


especialização a quantidade de bens que é possível produzir aumenta - mesmo assim
há razões económicas para recorrer à proteção (para travar o comércio livre).

Quais são esses argumentos?

1º Argumento dos termos de troca

Imaginemos que os ingleses que agora saíram da UE e que por enquanto aplicam
um regime de comércio livre com a UE decidem passar a cobrar impostos alfandegários
sobre a importação de certos bens e um dos bens que decidem passar a tributar é o
vinho do Porto. Imaginemos que com 20% de imposto há uma perda de procura inglesa
de 50% - quer isto dizer que a procura é elástica (se a variação relativa das quantidades
for superior à quantidade relativa dos preços então temos uma procura elástica).
110

Há um aumento de 20% dos preços (por força da aplicação do direito aduaneiro) -


a garrafa que custava 10 passa a custar 12, se passou a custar 12 e por isso os ingleses
passam a consumir metade das garrafas do vinho do Porto isso significa que os
exportadores nacionais perdem metade das suas vendas.
Os exportadores têm que pagar o imposto para continuar a ser vendido a 10 —
em vez de perder 50% das vendas perdem 20% daquilo que vendiam antes.

Argumento dos termos de troca — Quando a procura interna é elástica e quando a oferta
do país exportador é rígida e se houver ameaça de perder uma quota de mercado
superior àquela que é a variação do preço induzida pela aplicação do direito aduaneiro,
mais vale que o exportador pague esse direito aduaneiro.

Isto só funciona no caso do comprador ser um país grande (grande no sentido de


haver uma concentração económica das aquisições de certo bem).

! Este argumento de termos de troca é excelente para defender a aplicação de


direito aduaneiros, embora esses direitos prejudiquem a especialização.

! O problema deste argumento é que, se for possível, o outro país retalia.

2º Argumento das indústrias nascentes:

Este argumento diz que é possível que um país seja menos eficiente que outro,
mas isso é porque está em fases embrionárias do seu processo de desenvolvimento
industrial. Se este país tiver tempo, ele vai se tornar muito eficiente.
Se não tiver tempo, os países que estão mais avançados fazem chegar os
produtos ao mercado e rebentam com a capacidade produtiva de uma indústria que está
na sua infância.

É necessário dar tempo para que a indústria atinja um determinado patamar de


eficiência.

A lógica das indústrias nascentes está sujeita a três testes:

- Teste de Mill (ou da transitoriedade do estatuto de proteção):

Para que haja um argumento das indústrias nascentes, é necessário que esta
proteção conferida à indústria, isto é, a travagem de importação de produtos produzidos
por empresas concorrentes dela situadas no estrangeiro e que estão mais avançadas no
processo de desenvolvimento industrial, seja temporário.
Se não for temporário não é uma indústria nascente. Se esta indústria tiver que ser
sempre protegida é porque não é uma indústria nascente. Só tem proteção enquanto
tiver numa fase embrionária.

- Teste de Bastable:

É preciso averiguar qual é que é o custo da proteção e qual é que é o ganho da


possibilidade desta empresa se afirmar, fornecer o mercado interno.
Como os custos são "agora" e os benefícios são quando a indústria se
desenvolver, é preciso por estes dois fluxos no mesmo plano - é claro que o dinheiro que
111
custa hoje pesa mais do que o dinheiro que se vai receber amanhã. No fundo é aplicar
uma taxa de juros para saber qual é o fluxo de sacrifícios que se tem de fazer para
garantir a existência desta empresa e depois qual é o fluxo de benefícios que se vai
retirar da existência desta empresa. Como estes dois fluxos acontecem em momentos
diferentes do tempo, é necessário aplicar uma taxa de desconto para comparar o valor
que custa e o valor que se vai ganhar.

- Teste de Kent:

O empresário, quando lança um investimento, não está a espera de ter lucros no


primeiro ano, tem uma série de anos até chegar ao break even point (momento em que o
recebeu pela atividade produtiva é suficiente para cobrir os custos em que incorreu
durante aqueles anos).

— Se o empresário chegar à conclusão de que isto é um bom negócio, ele durante


anos está a perder dinheiro depois há de ganhar - se for uma indústria nascente a sério
ela vai se tornar competitiva no futuro. Se o fluxo de benefícios exceder o fluxo de custos
então há ali um negócio.

— Diz este teste que só justifica a intervenção pública quando houver alguma
externelidade, isto é, quando houver alguma situação que impeça que a iniciativa
privada, por si, consiga ultrapassar este desfasamento entre custos e benefícios.

Como é que pode acontecer uma situação dessas?

Imaginemos que a implantação da indústria nascente exigia formação ao longo de


vários anos (vamos supor 10 anos). Enquanto não chegasse aos 10 anos, esta atividade
não tinha recursos humanos à altura dos padrões de qualidade internacional. Ao longo
de 10 anos, se não houver proteção, esta indústria está a perder face as suas
congéneres estrangeiras.

Imaginemos que o que é crucial é o fator trabalho e é preciso anos de prática para
que as pessoas atinjam esse patamar. Um empresário não vai investir nesta indústria,
porque ele corre o risco que no fim desses 10 anos quando formou o trabalhador
apareça outra empresa e lhe atraia o trabalhador que ele formou — sofrer os custos e
depois não vir a beneficiar daquilo que seriam os ganhos - risco.

Assim… A ideia de que para o argumento funcionar é necessário verificarem-se estes 3


testes — a transitoriedade; o excesso de ganhos sobre custos; teste de Kent.

(fim do parênteses)
112

Teorias explicativas do comércio internacional:

A explicação neoclássica (hoje em dia mais aceite) é o chamado teorema de


Hecksher-Ohlin e Samuelson - são dois autores suecos.

Sugeriram como forma de explicar o comércio internacional a ideia de que os


países têm dotações de fatores diferentes. Há economias que são ricas em fator trabalho
e outras em fator capital.

Ex: A China tem mais trabalho, a Índia mais trabalho, os EUA mais capital, a Suíça mais
capital...

Onde é que faz sentido produzir bens que utilizam intensivamente o fator trabalho?

Nas economias que têm abundância de fator trabalho. Se houver muito trabalho, o
preço do trabalho é mais baixo. Se há pouco capital, o preço do capital é mais alto.

Se quisermos produzir bens com alta incorporação de trabalho vamos produzir


nos EUA? Não, porque aí o trabalho é caro, porque é relativamente raro.
Mas se quisermos produzir bens de capital intensivo, se calhar faz sentido
produzir onde o capital é mais abundante e provavelmente mais barato.

! A lógica da teoria explicativa neoclássica parte da dotação dos fatores: as


economias mais ricas num fator atraem produção que utilize intensivamente esse fator,
pois nessa economia esse fator é relativamente mais barato.

O Samuelson notou uma consequência deste teorema: o que vai acontecer é a


tendência para a uniformização do preço internacional dos fatores. Ou seja, nós
começamos com uma teoria explicativa do comércio internacional e acabamos com uma
teoria explicativa das diferenças ou da aproximação da remuneração dos fatores.

O mecanismo é fácil de explicar:

A China tem abundância de mão de obra, logo, quando se quer produzir alguma
coisa que precise de muita mão de obra vai se produzir para a China. Logo, há uma
parcela crescente da mão obra chinesa que começa a estar empregada na produção de
um conjunto de bens.
Como o processo continua, há cada vez mais trabalho que na China está a ser
incorporado em processos de fabrico de bens que utilizam intensivamente o fator
trabalho. Quer dizer que vai ficando menos trabalho disponível, porque cada vez o
trabalho vai ser absorvido por mais unidades de produção que utilizam intensivamente o
fator trabalho — quer dizer que o preço do trabalho vai subir.

Quando é que o preço do trabalho deixa de subir?

Quando deixa de interessar transferir processos de trabalho intensivos para a


China — isto acontece quando a renumeração da mão de obra na China for igual a de
outro país.
113
Este movimento vai levar à subida do preço daquele fator que inicialmente era
barato. Como era o facto de ele ser barato que justificava a importação de atividade
produtiva, isso vai diminuindo e vai cessar no momento em que não houver vantagem na
renumeração.

Nos países de capital intensivo:

Se o capital é abundante, o preço é mais baixo. Mais e mais capital está a ser
absorvido em processos de produção que utilizam intensivamente o fator capital. Como
vai sobrando cada vez menos capital, o preço do mesmo vai subindo.

Deixa de houver transferência de processos produtivos de capital intensivo para


esta economia quando o preço do capital já se tornar igual ao dos outros países.

! Na teoria neoclássica, os pressupostos de que dependia a explicação dos fluxos


comerciais, acabou por levar a uma explicação da tendência para a harmonização da
renumeração dos fatores produtivos.

No entanto, na prática as coisas não são assim.

Leontief analisou as exportações e importações dos EUA e chegou à conclusão de


que os EUA exportavam bens de trabalho intensivo e importavam bens de capital
intensivo. Exatamente o oposto do que o teorema de Hecksher Ohlin apontava como
sendo aquilo que seria natural.

Houve uma série de tentativas de explicar esta anomalia.

Primeiro pensou que poderia ser uma anomalia. Depois pensou-se que havia um
problema de agregação de fatores, isto é, que aquilo que se regista nas importações e
exportações de bens são os grandes setores de bens que são exportados.

Exemplo:

Imaginemos que a produção automóvel é um bem de capital intensivo. Sempre


que tivéssemos a exportação de um automóvel, contávamos aquilo como exportação de
um bem de capital intensivo. Suponhamos que, porém, há bens que são bens
automóveis, mas não são de trabalho intensivo (ex: os Morgan).

Quando temos uma categoria que classificamos como capital intensiva ou


trabalho intensivo, podemos ter dentro dessa categoria bens que têm uma configuração
de produção completamente diferente.

Pode haver disparidades dentro de cada categoria de bens, que explica que, no
fundo, o padrão de importações e exportações está certo, a classificação dos bens que
são contados é que está mal.

Uma variante a esta explicação tem a ver com os processos produtivos que são
utilizados:

Quando Leontief fez os cálculos, partiu do princípio de que os bens eram


produzidos da mesma forma em toda a parte e, portanto, um bem que fosse capital
intensivo nos EUA seria capital intensivo nos outros todos — Não é assim.
114

Há uma outra explicação possível que tem a ver com a possibilidade dos EUA, afinal, ter
mais trabalho do que aquilo que se julga, porque cada trabalhador americano vale 4 ou 5
dos outros países.

Exemplo:

Imaginemos que estamos a falar de abater árvores:

Nesta altura, em 1947, abatia-se árvores com trabalhadores, serras e machados.

Nos EUA como é que se abatiam árvores? Com motosserras.

Aquilo que 1 trabalhador norte americano conseguia fazer numa hora equivalia
àquilo que 4 ou 5 faziam num dia.

Se multiplicarmos a quantidade de horas de trabalho disponíveis na economia


americana pelo diferencial de produtividade do trabalho norte americano, até podíamos
chegar à conclusão que os EUA até são ricos em trabalho.

Outra explicação tem a ver com a assimetria de preferência dos consumidores:

Os países onde há mais abundância de mão obra têm tendência para gostar de
coisas que têm uma grande incorporação de mão de obra.

Exemplo:

Na China, os palitos são entalhados (não são feitos em máquinas).

Nas economias com alta componente de capital gosta-se de gadgets (p.e.: nos EUA
quase toda a gente usa escovas elétricas).

O que sobra para exportação são o que eles gostam menos (no caso dos EUA
eles exportam trabalho e importam o que eles gostam, ou seja, capital).

Outra explicação: Nos países em que há abundância do fator trabalho, não é necessário
proteger com direitos aduaneiros, ou outras formas de travagem das importações, os
produtos concorrentes que utilizem intensivamente no trabalho.

Exemplo:

Como o capital é caro na Índia, então, os bens que são produzidos com o fator
capital são mais caros. Como são mais caros, é preciso haver uma compensação para
evitar que a importação de bens de capital intensivo que venham de outros sítios afastem
esses bens do mercado interno indiano.
Se a proteção funcionar, a Índia não vai importar bens de capital intensivo, porque
ficaram “parados na alfândega". Os bens não vão para lá porque os direitos aduaneiros
não o permitem. Estes direitos aduaneiros deixam entrar os bens de trabalho intensivo,
porque a abundância que existe lá é suficiente para garantir a competitividade
115

Há duas teorias tecnológicas:

1. Teoria do hiato tecnológico

A ideia é a de que nós teremos comércio internacional sempre que o intervalo de


procura for menor que o intervalo de imitação e não teremos comércio internacional
quando o intervalo de imitação for mais pequeno que o intervalo de procura.

Imaginemos que há a introdução de um produto qualquer e que, noutro país, as


pessoas querem aceder a esse bem. Isto quer dizer que o intervalo de procura foi menor
que o intervalo de imitação, ou seja, não há possibilidade de disponibilizar internamente
esse bem, logo, importa-se.

Se o intervalo de produção for menor, os consumidores do outro país só vêm a


perceber que o bem existe quando ele lhes é posto à frente do nariz pelos seus
produtores internos. O bem foi introduzido na economia A, mas quem percebeu o
potencial do bem não foram os consumidores dos outros países, mas sim os produtores
desses outros países e passaram a disponibilizar os bens internamente, logo, não há
importações. O intervalo de imitação (tempo de reação da oferta) foi inferior ao tempo de
reação da procura.

2. Teoria do ciclo do produto

Se nós supusermos que há três tipos de economias — economias avançadas,


economias médias e economias menos desenvolvidas — a introdução de bens costuma
acontecer nas economias avançadas.

Quando o produto atinge maturidade, começa a haver produção nos países de


rendimentos intermédios o que faz com que a produção dos países de altos rendimentos
diminua.

Quando a produção começa nos países de menor rendimento é o momento em


que o produto entrou na fase de standartização (é uma questão de produzir em massa).

— O processo produtivo começa nas economias avançadas; na fase intermédia e


na fase da maturidade da produção dissemina-se pelas economias de rendimentos
intermédios e quando chega à fase da standartização transfere-se para os países de
baixo rendimento.

Teoria da sobreposição de procura:

Para haver comércio internacional tem que haver uma certa sobreposição de
procura.

As economias de grandes rendimentos só querem produtos com um certo o grau


de sofisticação e as economias com rendimentos mais baixos só conseguem ter procura
dentro de um certo intervalo de sofisticação.
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