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Economia política II
Professor Vitor Calvete
2º turma 2º semestre 2021
Marisa Branco
AR - curva da procura
MC - custos marginais
ATC - custos médios
MR - receita marginal
MR sempre abaixo da linha do preço
Cada ponto da AR corresponde a um preço
Ponto B - diferença entre Custos médios e preço (A)
Na interseção entre Custos marginais com ponto em que ela cruza a Receita
Marginal temos o ponto em que se estabelece a quantidade ótima do monopólio - última
unidade que produz custa exatamente o mesmo que recebe pela sua venda.
Ponto resultante da projeção na curva da procura, da interseção entre Receita
Marginal e CM - ponto escolhido para produzir as quantidades Q - ponto A
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Como descobrir qual a zona elástica da curva da
procura e a zona rígida?
O ponto de elasticidade unitária tem a ver com a curva
da Receita Marginal:
A Receita marginal é positiva até chegar ao eixo
horizontal, quando intersecta o eixo horizontal torna-se
0.
Passamos para a zona rígida da procura quando a
receita marginal é negativa, ou seja, quando passa
abaixo do eixo horizontal
Diagrama inferior - ponto máximo de receitas do
monopolista coincide com o ponto em que receita
marginal = 0.
Receita total máxima - ponto em que a receita marginal
não sobe nem desce - quando a RM interseta o eixo
horizontal - projeta-se na procura e dá-nos a
elasticidade unitária.
Abaixo do eixo horizontal - componente de perda >
componente de ganho - RM negativa - entra-se na zona de elasticidade rígida.
Oligopólio
Curva da procura que se quebra:
Mercado de oligopólio (vários a
vender, mas poucos e grandes) -
introduz considerações
estratégicas.
Nestes mercados, nenhum agente
económico pode fazer o que os
agentes que atuam em
Concorrência Perfeita ou
Concorrência monopolista
podem, tratar dos negócios sem
ter em conta os seus rivais - neste
mercado cada produtor tem de
ter em conta o comportamento
dos rivais - há poucos no
mercado, logo, o que os outros
fazem tem implicações no seu
negócio.
O oligopólio:
• Poder ser perfeito - produto é indistinto Ex: electricidade
• Pode ser imperfeito - produtos distintos Ex: cervejas
A distinção pode ser mais marcada ou menos marcada.
Análise do diagrama:
Preço P1; uma empresa de cerveja pensa em subir os preços do seu produto, tendo em
conta que os oligopolistas não enfrentam curva da procura normal - se subir o preço na
zona elástica perdia procura porque a subida de preço era menor que a perda de
quantidades vendidas, mas na zona rígida ganhava com isso; a empresa não pode
pensar em subir os preços sem pensar no que faz a outra empresa - se subir os preços
sem as outras subirem, a procura que lhe era dirigida pode ser desviada para os seus
rivais; se ela subir e os outros não acompanharem, pode haver elasticidade cruzada
elevada - arriscam-se muito a subir o preço - rivais podem manter ou ate descer os
preços.
Supondo que queriam descer o preço, teriam mais vendas desde que a curva
fosse elástica. Se tomasse essa iniciativa, as outras podiam fazer o mesmo, e a curva da
procura que lhe era dirigida pode se tornar rígida - pode não aumentar as vendas e o
preço ser mais baixo, porque os outros também baixaram os preços.
— se subirem os preços, arrisca-se a que outros não o façam- arrisca-se a procura muito
elástica;
— se descerem os preços e os outros também, arriscam-se a que a curva se torne rígida.
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A boa ideia neste mercada é não mexer os preços, porque qualquer descida ou
subida é um risco.
• O oligopólio leva a uma espécie de equilíbrio
Ninguém mexe os preços a não ser que combinem, mas isso é uma violação das
regras da concorrência.
Teoria dos jogos
Dilema do prisioneiro
2 prisioneiros
A polícia precisa de provas para obter uma condenação mais robusta.
Se nenhum deles assumir responsabilidade, só serão presos durante 1 ano -
opção do canto inferior direito.
Se ambos confessarem, vão os dois para a cadeia 10 anos - opção do canto
superior esquerdo.
Se um confessar e o outro não, o que confessa sai livre, o que não confessa
passa a vida na cadeia.
Jogo de incerteza, não cooperativo, a atuação do outro terá repercussões na vida
do outro.
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Estratégia dominada
Ambas sabiam que não havia mercado
para duas, se a Boing e a Airbus
desenvolvessem super aviões, o mercado
não conseguiria comportar as duas
empresas.
Se P P, ambas perdem (-5) (-5)
Se DP DP - nenhuma teria nenhuma
vantagem nem desvantagem
Se DP P ou P DP - uma fica com 0 e outra
fica com 100
Com esta matriz de pagamentos, cada estratégia se diz dominada, a melhor
opção da Airbus no caso da boing entrar é não entrar - ela quer saber o que a outra quer
fazer e vice-versa
A estratégias dependem uma da outra, logo são estratégias dominadas, será
melhor cooperar
Estratégia dominante
Houve um subsídio atribuído à Airbus e graças a esse subsídio, caso a boing não
entrasse essa ganhava o subsidio mais os 100.
Se ambas entrassem, a boing perderia e a Airbus ainda teria o subsidio.
A melhor opção possível da Airbus foi produzir o avião - estratégia dominante
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Aula 15/03/2021
Nota: Ao longo da evolução das formas de mercado, foram-se desenvolvendo
técnicas para evitar a interação cooperativa que poderiam por em causa as regras de
concorrência no mercado, prejudicando empresas mais limitadas - normas de defesa da
concorrência.
Macroeconomia
Distinção entre micro e macroeconomia:
- Tamanho dos agregados;
- Preocupação essencial de cada uma das áreas da economia :
- Microeconomia: preocupação com a afetação dos recursos - olhar para o mercado
na lógica da otimização;
- Macroeconomia:
Capitulo 6 - Intervenção do Estado na Economia
No estado liberal a lógica era de resguardar o mercado das intervenções, que se
consideravam política, do Estado. Acreditava-se que por força de um mecanismo da
“mão invisível” (expressão de Adam Smith - se cada um for livre para prosseguir o seu
interesse, isso permite realizar o bem estar de todos - de alguma forma, o criador do
universo tinha criado este de forma tao perfeita, que cada um ao pretender obter o
melhor para si, acaba por realizar o melhor para todos - todos os desvios ao interesse
egoísta seria um desvio aos interesses económicos), deixar os agentes económicos fazer
o melhor para eles era o melhor para assegurar o bem coletivo.
A concorrência para Adam Smith era um mecanismo disciplinado dos interesses
egoístas dos agentes económicos - se o agente não fizer o melhor possível, teria
consequência negativas.
Assim, o Estado liberal, informado por esta economia clássica, abstém-se de
interferir na esfera económica.
Isto muda no fim do século XIX:
Criou mecanismos de amparo para as classes trabalhadoras:
- Formas de segurança social - assegurava algum acesso a apoios das pessoas em
situações de carência
Esta ideia do Estado social vem a ganhar mais importância depois da 2ª GM e a
sua ação volta-se para 3 principais funções:
• Locação de recursos: O Estado procura fazer a afetação dos recursos escassos:
funções de orientar os recursos escassos no sentido de desenvolver certas áreas
económicas e parar outras, no sentido da justiça social.
• Redistribuição do rendimento: Permitir uma distribuição satisfatória do ponto de vista
social: o mercado tende a privilegiar uma faixa com maior riqueza.
• Estabilização: Descobriu-se que em certas situações só a intervenção estabilizadora d
Estado consegue por termo a situações de instabilidade económica, tende a servir
ciclos de expansão e de retração e considera-se que a intervenção do Estado, no
sentido de aplainar essas oscilações é função do Estado.
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Entidades reguladoras
Estamos, hoje em dia, a passar do Estado Social para o Estado regulador: fazer
intervir o Estado no seu papel de criador de regras, que cria parâmetros de intervenção
para que o mercado possa funcionar da melhor forma possível - é a ideia de que o
Estado pode recuar um passo, deixar de intervir na produção de bens, no assegurar de
prestações, desde que criando as condições para o bom funcionamento do mercado -
há quem entenda que é possível que se obtenha resultados melhores desta forma.
Assiste-se, na Europa, a esta lógica de retrocesso do Estado desde os anos 80 -
ideia de que o papel do Estado não é na economia e criaram-se entidades reguladoras
independentes: estão a salvo da intervenção hierárquica da administração pública, têm
autonomia e há uma série de requisitos que blindam essas entidades da intervenção
estadual. Ex: ANACOM.
Estas entidades reguladoras, que nascem no início deste século, visam transferir
para o domínio da regulação técnica matérias que antes estavam sujeitas a uma
intervenção política.
Para termos um regulador temos de ter o poder normativo, adjudicativo e
executivo concentradas numa entidade: Na estrutura típica do Estado temos um
sistema de checks and balance, separação dos poderes para que estes se controlem uns
aos outros. O que há de característico na atividade das entidades reguladoras é que elas
concentram estes poderes: poderes normativos por parte das entidades reguladoras,
poderes adjudicativos de aplicação das sanções decorrentes do incumprimento das
normas, sejam do Estado ou do regulador, e atividade executiva (inspeções, ações de
supervisão…)
A intervenção dos reguladores concentra-se nos domínios onde o número de
agentes económicos é reduzido. Exemplo: recolha de resíduos, águas,
telecomunicações, transportes… - o numero de agentes económicos é muito limitado, há
poucos agentes económicos sujeitos à sua intervenção.
Lei quadro nº67/2013 - fornece enquadramento genérico para as entidades reguladoras.
As únicas entidades administrativas independentes com função de regulação que
ficaram fora da identificação da lei 67 foi o banco de Portugal e a entidade reguladora da
comunicação social, porque tem previsão constitucional, entendeu-se que podia
dispensar a recondução a este modelo comum.
A atividade dos reguladores não é, necessariamente, permanente.
No entanto, a ideia da regulação independente começou a ser vista com menos
entusiasmo, porque se percebeu que estas entidades reguladoras muito especializadas
ficaram sujeitas à captura de interesses específicos. As entidades em vez de estarem ao
serviço do interesse nacional, desligadas dos interesses partidários, estavam ao serviço
das entidades reguladas.
(Sistema da porta giratória: Entidades reguladas fornecerem quadros à entidade
reguladora e depois a entidade reguladora fornecerem quadros às reguladas.)
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A criação da CECA aparece por proposta francesa e tinha como objetivo fundamental
garantir o desenvolvimento da indústria francesa, sem a concorrência da Alemanha. A
moeda de troca da criação da CECA foi a fragmentação da indústria Alemã.
EUA: queriam o desenvolvimento da europa
França: queriam desenvolver a sua indústria
Os americanos, com o apoio dos ingleses, desafiaram os franceses a propor uma
solução - mecanismo de superação do problema da concentração de empresas.
Jean Monnet aparece com o projeto da CECA e acaba por persuadir os
americanos, ao introduzir normas de defesa da concorrência no próprio tratado fundador,
como resposta às preocupações americanas - proibição de acordos, prática concertada,
associações de empresa e abuso de posição dominante - Permite desenvolvimento da
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Alemanha, mas sem que esta seja uma ameaça à paz e ao desenvolvimento da indústria
francesa - divide a indústria Alemã e concentra a Francesa (disfarçando de interesses
comunitários, aqueles que eram os interesses franceses).
1957, com a CEE - europeus percebem a necessidade de junção e associação de
empresas para enfrentar a concorrência das multinacionais americanas, então, no tratado
de Roma, não constam normas de proibição de concentração de empresas.
Aula dia 22/03
Outros 2 institutos/ infrações que podem ser cometidas quanto às regras da
concorrência:
1. Abuso de dependência económica
Introduzido, em 1973, na Alemanha, para proteger a produção da força negocial
crescente das cadeias de distribuição.
Imagine-se uma rede de uma entidade comum com grandes superfícies de venda
ao longo de um país ou em diversos países. Isto dá-lhe economias de escala e um
grande poder negocial, em comparação com agentes económicos mais pequenos e
frágeis - Esta assimetria no poder dos intervenientes no mercado leva a que seja criada a
instituição do abuso de dependência económica.
- Situações em que, sem haver perturbação do funcionamento do mercado, alguns
agentes económicos de grande poder podiam exercer poder para extrair condições junto
de fornecedores mais pequenos e criarem uma situação de exploração.
Este instituto funciona fora do quadro do funcionamento do mercado de
concorrência.
Em Portugal, na segunda lei de defesa da concorrência, de 1993, introduziu-se a
figura do abuso de dependência económica. Na altura, havia uma dependência do
ministério da Economia e do Conselho da Concorrência, conselho onde se decidia os
casos remetidos pela direção gral do ministério - os membros do conselho entendiam
que a sua missão era zelar pela concorrência dos mercados, logo, não estavam
disponíveis para aplicar uma lei fora desta lógica. Assim, entenderam que:
- Quando o abuso de dependência acontecesse numa relação bilateral, não se
atingia o limiar para aplicação dessas normas.
Isto veio a ser introduzido no texto da legislação da concorrência, em 2003, onde
o legislador esclarece que tem de haver lesão de funcionamento do mercado para se
aplicar o instituto do abuso da dependência económica.
Se houvesse perturbação no funcionamento do mercado, teríamos razão para
aplicar este instituto, caso contrário, não.
Não existe esta figura a nível da União Europeia, o abuso da posição dominante
era entendida como suficiente. É uma situação de incompreensão do que era o abuso de
dependência económica - este serve para proteção dos mais frágeis, o que está em
causa é uma certa equidade na relação comercial entre agentes económicos, que deve,
eventualmente, ser defendido pelo Estado.
O abuso da dependência económica aproxima-se mais da lógica da concorrência
desleal do que defesa da concorrência, a não ser que se introduza na cláusula da
dependência económica um requisito a dizer que só se aplica este em casos que lesem o
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funcionamento do mercado- esta situação neutraliza a intenção original do legislador
alemão (e depois do francês), que era proteger a parte mais fraca numa negociação
comercial.
Conclusão:
Temos um instituto na nossa lei que parece replicar o abuso de posição
dominante, uma vez sujeita à condicionante de só ser aplicado quando exista
suscetibilidade de perturbar o funcionamento do mercado. A intenção não era essa, mas
foi a evolução da legislação.
2. Controle das ajudas de Estado
- Este tem previsão na legislação nacional e europeia.
- Existe uma diferença em relação ao regime norte americano - Não existe controle das
ajudas de Estado nos EUA.
Este serve para evitar que haja concorrência entre as entidades que atribuem
essas ajudas de Estado - Artigos 108º e 109º, no TFUE, que servem para travar a
concorrência entre Estados, a propósito da atração de atividade económica - Regras
inseridas naquilo que é a area da defesa da concorrência que tem a característica
especial para evita concorrência entre Estados, na lógica do fair-play
Os negociadores do tratado de Roma, fundador da CEE, recearam que os
Estados distorcessem o mercado através dos auxílios a empresas, sobretudo através da
atração a novos investimentos.
- Nesta altura, há uma competição feroz para atrair a fábrica da Volkswagen. O governo
português está na corrida, juntamente com o espanhol, e caso tenha êxito, retira esse
investimento a Espanha. No fundo, vai conseguir atrair a fábrica, aquele país que der
melhores condições, oferecendo contrapartidas:
- Isenções fiscais, subsídios de desenvolvimento…
Tudo isto transforma-se em auxílios de estado que têm de ser sindicados a
Bruxelas.
Já nos EUA, isto não existe, na verdade, o facto de o Kentucky, por exemplo, se
desenvolver mais à custa de outros Estados não faz diferença, porque no fundo é o
mesmo país. O mesmo não se passa na Europa:
Para evitar que os governos transfiram dos recursos do Estado valores
inaceitáveis para as empresas individuais, há um processo de controle das ajudas de
Estado - temos limites àquilo que podem ser as ajudas disponibilizadas por cada país.
Tivemos um precedente com a fábrica da Autoeuropa: Na altura em que se atraiu
o investimento, houve uma sindicância das ajudas - em grande medida, por razões que
não eram estritamente de mercado, por solidariedade para ajudar o desenvolvimento do
país, foi considerado que os auxílios concedidos à Autoeuropa foram justificados. No
entanto, com as transformações que o direito da concorrência Europeia sofreu, com a
neutralização de vetores políticos nesta lógica, esta situação teria sido impossível e,
provavelmente, teríamos perdido a Autoeuropa.
Assim, este controlo das ajudas do Estado traz benefícios e desvantagens:
- Por um lado, o controle das ajudas de Estado evita uma concorrência entre Estados
e que se transfira recursos públicos para as mãos privadas;
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- Por outro lado, cria uma tendência de manter um padrão de especialização prévio -
se os Estados mais atrasados não derem mais benefícios, os investimentos vão
parar sempre aos países mais avançados, resultado numa desigualdade: -
Permanência dos padrões de vantagem pré-existentes - alguns países permanecem
incapazes de atrair novos investimentos.
Aula 23/03
Práticas individuais restritivas do comércio
- Diploma sobre o regime aplicável às praticas individuais restritivas do comércio -
decreto-lei nº 166 de 2013 de 27 de setembro - transfere-se a competência para os
processos de contra-ordenação da autoridade da concorrência para a autoridade de
segurança alimentar e atividade económica, uma vez que este regime pretende proteger
diretamente os agentes económicos e garantir a transparência nas relações comerciais,
sempre que não esteja em causa uma afetação sensível da concorrência.
Até este diploma, era a autoridade de defesa da concorrência que zelava pelo
cumprimento da legislação, que pretende proteger os agentes económicos. A
intencionalidade deste diploma é semelhante aquilo que seria, na sua génese, a do
abuso de dependência económica.
Ex.:Proibição das vendas com prejuízo e praticas negociais abusivas
Durante muito tempo, a autoridade da concorrência esteve obrigada, por um
lado, a defender o funcionamento do mercado e, por outro lado, a defender os agentes
económicos do funcionamento do mercado.
Exemplo:
A situação mais marcante desta “esquizofrenia” que era própria da atuação da
autoridade da concorrência, por imposição legal, é, talvez, a atuação do pingo doce no
1º de Maio, em que se vendeu os bens das lojas a 50% de desconto. Isto fez com que a
autoridade da concorrência fosse aplicar o regime das práticas individuais restritivas do
comércio, de forma a penalizar aquela atuação do pingo doce, que tinha sido uma
atuação extremamente concorrencial.
Direito da concorrência
Nascimento do direito da concorrência
- Sherman Act, aprovado em 1890, nos EUA - não é a 1ª legislação de defesa da
concorrência do ponto de vista histórico factual, em 1889, no Canadá, foi aprovado o
Combines Act. No entanto, este foi aprovado num conjunto de legislação norte-
americana anterior:
Na altura,(em 1890) dos 13 estados que constituíam os EUA, 6 tinham legislação
anti-trust. Eram Estados, maioritariamente, na Baía do Mississipi, eram Estados agrários,
onde a preocupação essencial que levou à aprovação dessas normas anti-trust era a
defesa dos pequenos produtores do poder das grandes empresas ( sobretudo das
empresas que exploravam matadouros à escala industrial e depois distribuíam a carne
embalada, embalada graças a uma rede de distribuição de vagões frigoríficos - são as
inovações tecnológicas da época que alteram completamente o panorama de
funcionamento do mercado, que é um mercado muito importante para os rancheiros
americanos, porque estes produziam as suas rezes e depois levavam-nas até ao centro
urbano perto, onde as manadas eram abatidas e transformadas em carne e distribuídas,
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num espaço geográfico limitado. A introdução de mecanismos de refrigeração e aumento
da aérea da rede de distribuição veio a concentrar a industria de transformação da carne
em Chicago e aquela movimentações e gado para pequenos matadouros deixaram de
ser economicamente rentáveis.
Soma-se a isto, o facto de que na época estava a assistir-se à primeira grande
depressão das economias capitalistas, que tinha feito com que os preços dos produtos
caíssem de fora contínua e sustentada. O índice de preços que, em 1870, era 135, em
1880, era 100 e era 82, em 1890. Assim, verificou-se uma redução dos preços muito
significativa
É a 1ª crise que afeta de uma maneira generalizada as economias capitalistas da
época e enquadra-se num contexto que prova a queda de preços, por causa das novas
inovações tecnológicas e do aumento de dimensão das empresas.
As preocupações dos Estados na da Baía do Mississipi, que levaram à
aprovação das primeiras legislações anti-trust, eram legislações de carácter
protecionista, pretendiam proteger os mais débeis da concorrência esmagadora que era
feita pelos trusts (todas as grandes empresas (de forma simplificada))
O trust foi uma invenção de um dos advogados da Standard Oil, que criou um
mecanismo que atraía outras empresas, fazendo a empresa crescer até atingir grandes
dimensões: os títulos representativos do capital das empresas pertencem a alguém e se
esse alguém se quiser associar a outros iguais detentores de ações de outras empresas,
podem transferir asasses de todos para uma comissão que se vai encarregar de gerir a
atividade de todas as empresas, através de um centro unificado de poder.
Em vez de haver aquisições de empresas, aquilo que este advogado inventou foi
isto: havia uma empresa forte e reconhecida como eficiente, que eventualmente teria que
empatar capitais elevados se quisesse adquirir outras empresas do ramo, mas em vez
disto, podia convidá-las para serem sociais, aliciava-as a participar na sua atividade
empresarial como associados,
beneficiando da condução dos
negócios por quem era mais
eficiente - A Standard Oil cresce
através da atração de outras
empresas que estão no mesmo
negócio, tornando-se
monstruosas.
Representação da época da
Standard Oil
A Grande Depressão
O direito da concorrência norte-americana vai tendo fases de maior expansão,
outras menos, e vamos chegar à altura da Grande Depressão, a crise de 1929-1933.
Os EUA é o país que mais tarda a recuperar.
Seguem-se as experiências de controle da economia através de mecanismos de
direção central, levadas a cabo por Franklin Roosevelt.
Em 1938, nomeia para segundo nome da cadeia de comando da justiça norte
americana, responsável pela anti-trust division, Thurman Arnold.
Este vai transformar o anti-trust num espetáculo, faz apreensões de grande
aparato, prende pessoas, põe as pessoas das empresas nas ruas de NY a desfilar em
algemas a caminho do tribunal)…) Os dirigentes das empresas passam a estar receosos
e isto terá repercussões na economia - se as pessoas que controlam as empresas têm
medo de ser presas a qualquer momento, estarão mais reticentes a fazer investimentos
ou outra coisa que possa animar a economia.
Assim, com a chegada de Thurman Arnold, o anti-trust passa a ser percebido
como poderoso instrumento do poder.
Existe, no entanto, o problema da guerra:
Numa economia em guerra, não se pode estar a prender os responsáveis pelas
maiores empresas, essenciais ao esforço de guerra. De maneira que, Thurman Arnold
acabou por ser dispensado por Roosevelt e passou a juiz federal, afastado da anti-trust
division.
As coisas chegaram a um ponto em que, em 1945, se deu um caso célebre, o
caso Alcoa:
- O juiz Learned Hand decide, no caso Alcoa, que uma empresa que é tão mais
eficiente que as demais, está a violar as leis da concorrência, ou seja, no fundo, foi
punida por ser mais eficiente que as outras - impedia a concorrência por ser
excessivamente eficiente.
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Iniciou-se a lógica de “big is bad”
- Ideia de que para que o mercado funcione é necessário que haja múltiplas
empresas e, para tal, é necessário evitar que haja uma empresa que esmague as outras,
por causa da assimetria do poder e da eficiência.
O anti-trust tornou-se algo que punia a eficiência, aqueles que, no mercado, conseguiam
funcionar da melhor forma.
( Esta fase populista do anti-trust americano tem alguma irracionalidade, irracionalidade
essa que não foi levada a sério até 1978, altura em que Robert Bork aparece.)
Exportação do anti-trust
No fim da 2ª Guerra Mundial, os EUA estavam interessados em que os outros
países adotem no seu direito interno normas de proteção da concorrência e que estas
impeçam as associações de empresas e fusões e aquisições que resultem numa grande
dimensão das empresas.
Na Europa, essa tentativa de convencimento americana não tem grande sucesso.
Os americanos tiveram sucesso nos países onde possuíam mais influência, como
no Japão, por exemplo, onde é aprovada uma legislação de defesa da concorrência, que
também tinha intenções de dissolver umas formas de organização empresarial em que
uma empresa chave tinha atuações e controle de empresas nos mais diversos ramos de
atividade, existentes no Japão.
( No Japão, a legislação que surge é, simultaneamente, de defesa da concorrência,
como da defesa da concorrência leal. )
Tentam ainda que os alemães se dotem de uma lei de defesa da concorrência, o
que não corre bem.
Em 1951, isto acaba de ter sucesso na formação da CECA, que foi a 1ª
consagração do mecanismo de controle de concentrações de empresas na Europa, o
que se encontrava na lógica de defesa da concorrência — Para os americanos, a criação
da CECA era inconcebível porque, uma fusão das capacidades produtivas dos países
fundadores da mesma poderia por em causa os interesses norte americanos, viam na
Comunidade a criação de um super Cartel.
Assim, para apaziguar os receios norte americanos, Jean Monet criou normas de
defesa da concorrência e integrá-las no texto da CECA— normas de proibição de abuso
da posição dominante e proibição de acordos, práticas concertadas e decisões de
associação de empresas. (já referido em cima)
Em 1957, no tratado de Roma, o tratado da CEE, as disposições sobre controle
de concentração de empresas desapareceram, mas ficou a proibição de acordos,
práticas concertadas e decisões de associações de empresas e proibição de abuso da
posição dominante.
É também em 1957, que é aprovada a lei de defesa da concorrência na
Alemanha, uma vez que é neste ano que os outros países, no âmbito da CEE, passam a
ficar sujeitos a regras que são idênticas às regras da lei da concorrência.
Assim, a exportação da legislação anti-trust norte americano vem a ser bem
sucedida, mas com um atraso considerável.
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Caso da empresa ATT
American telephone and telegraph - Empresa com uma enorme escala,
monopolista
Em 1974, o Department of Justice intenta uma ação contra a ATT para a
desmembrar, o mesmo que tinha feito, em 1969, a IBN, a empresa pioneira na criação
dos super computadores. Estas sofrem um processo de dissolução por parte da anti-
trust division — lógica de Big is bad que está a dirigir os esforços dos poderes estaduais
encarregues de defesa dos mercados.
Estes dois processos vêm em a ser encerrados, ambos, em 1982: No caso da
ATT, esta acaba por se dividir em 7 empresas, as Baby Bells.
Robert Bork
Nesta altura, em 1978, é publicado o livro “anti-trust paradox” de Robert Bork, o
homem que mudou radicalmente o anti-trust e que criou o mito de que o anti-trust
nasceu como intencionado à defesa dos consumidores, nos EUA.
Robert Bork não foi nomeado para o Supremo Tribunal, devido a:
Escândalo Watergate
O comité de reeleição do presidente Nixon decidiu fazer espionagem política no
partido democrata e invadiram a sede do partido democrático, invadindo o complexo
Watergate. Acabam por ser apanhados na 2ª incursão e, depois, descobre-se que o
dinheiro que o grupo tinha, era proveniente da campanha presidencial do Nixon.
As coisas levam à nomeação de um procurador especial para investigar e as
investigações começam a trazer acima coisas comprometedoras.
Nixon quis substituir o procurador, mas as coisas não correram bem — este dá
ordem ao ministro da justiça para que o procurador seja substituído, ao que este recusa
e demite-se. O novo ministro faz o mesmo.
De seguida, na falta de ministro para o fazer, a função passa para o grau
seguinte, o Robert Bork, que na altura despede o procurador.
Esta sucessão de 3 demissões tornou Robert Bork diretamente responsável por
uma página não particularmente brilhante da história norte americana. Assim, quando
Robert Bork é nomeado para o Supreme Court por Reagan, o Senado não aprova.
Então, Robert Bork vem criar o tal mito de que o Sherman Act foi criado para
defesa do consumidor, para salvaguardar o bem estar dos mesmos. portanto, e aquilo
que o Congresso tinha querido era isto, então só havia duas coisas que ficavam sujeitas
à aplicação da legislação anti-trust, a subida de preços e a diminuição da produção.
Bork, na sua obra, vem mostrar que aquilo que os americanos estavam a fazer ao
aplicar o anti-trust como estavam a fazer era destruir as suas maiores empresas e
destruir a sua possibilidade de ser uma economia mais eficiente do que as outras, ou
seja, a eficiência, devia ser o principal objeto económico, mas o que estava a acontecer
era que as empresas mais eficientes estavam a ser penalizadas pelo anti-trust.
— O grande aliado dos consumidores é sempre a maior empresa do mercado (uber,
Amazon, Walmart…)
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Anos 80
- Ascensão do neoliberalismo
Defesa da não intervenção do Estado na economia e nascimento o Estado
regulador (das entidades reguladoras).
A lógica é a de que não é adequado prejudicar a eficiência economia —
passamos a ter um direito da concorrência subordinado à obtenção da máxima
eficiência.
Este foi o panorama cultural em que todos vivemos desde os anos 80, o que é
bom é a eficiência, a redução de preços e a proteção do bem estar do consumidor.
As empresas ganharam proporções gigantescas, porque, afinal de contas, estas
defendiam o consumidor, p.e. a Microsoft, a Uber, a Amazon, a Google …
Como o anti-trust é sujeito a sucessivas mudanças de paradigma, em 2014,
começa a haver transformações:
O anti-trust tinha-se tornado completamente inoperante para a emergência das
superpotências económicas, porque estas jogavam com aquilo que era a lógica
deliberada do anti-trust.
As super-empresas, durante anos, conseguiram reforçar o seu poder económico,
tirando partido do quadro mental que Bork criou, dentro da lógica dos governos de
Reagan, Tatcher, governos que pretendem que as grandes empresas façam o seu
trabalho, o de fortalecerem a economia dos países onde se encontram sediadas e serem
eficientes na produção, de modo a poupar recursos e maximizar satisfação.
Nesta altura, o paradigma está a mudar, fala-se dos Neo-Brandeisianos, aqueles
que na esteira do Vestager acham que Big is Bad:
(Nota: Margarete Vestager, a Comissária da Concorrência Europeia é indigitada para o
cargo.
Logo em 2014 vai a uma sessão na Universidade de NY, onde estão das maiores
sumidades norte americanas no domínio do anti-trust e esta tem uma prestação
embaraçosa, uma vez que não tinha experiência do assunto.
Aula 12/04
Outra forma de intervenção do estado na economia:
Apoio às pequenas e médias empresas
As micro empresas e as PMEs constituem a esmagadora maioria do tecido
empresarial nacional e europeu.
Micro empresas - Possuem até 10 trabalhadores e um volume de negócios até 2 milhões
de euros.
Pequenas empresas - Possuem até 50 trabalhadores e um volume de negócios até 10
milhões de euros.
Médias empresas - Possuem até 250 trabalhadores e um volume de negócios até 50
milhões de euros.
Estatísticas:
As empresas que fora do sistema financeiro são pequenas e médias representam
quase 100% das empresas - a nível interno 99,9% do tecido empresarial é composto por
micro e PMEs.
Isto deixa, em 2019, 920 grandes empresas fora do sistema financeiro. Estas, por
sua vez movimentam mais de 50M de euros e mais de 250 trabalhadores.
Há 2 países que têm proximidade de dimensão a Portugal, mas que estão
afastadas destes valores médios do número de grandes empresas: A Grécia, com
apenas 523 grandes empresas e a Holanda, que tem 1756 grandes empresas.
No que diz respeito à Holanda, uma parte da razão deste desvio em relação
aquilo que é uma média de empresas pode estar na atractividade do sistema fiscal
holandês, que beneficia empresas que transfiram a sua sede para lá.
Ao nível da UE, 99,8% são PMEs.
Os restantes 0,02% dizem respeito a grandes empresas. Estas têm um peso
desproporcional em termos de valor acrescentado e de volume de emprego
(representam 1/3 do emprego).
O que fazer para tentar auxiliar as empresas responsáveis por 2/3 do emprego ao nível
da Europa - as micro e PME?
Os Estados têm agências, institutos, setores da administração que procuram auxiliar
estas empresas:
Em Portugal há 2 entidades com esta função:
- AICEP, agora chamada Portugal Global
Esta entidade possui a função de:
- Internacionalização de empresas - detetar oportunidades de negócio no
estrangeiro (através da sua presença externa ou de pesquisas) e passar a
informação às empresas inscritas na AICEP;
25
- Garantir a presença em feiras internacionais que reunem agentes económicos do
lado da oferta e procura;
- Função de apoiar, estimular e procurar atrair investimento estrangeiro para
Portugal - esta dimensão externa está presente na possibilidade de trazer os
agentes económicos para Portugal e, também, de levar os nacionais para o
estrangeiro.
- IAPMEI ou agência para a competitividade e inovação
Distingue-se da AICEP, porque tem uma intervenção voltada para o interior do país:
- Auxiliar o funcionamento das empresas em Portugal, nomeadamente, através da
divulgação de informação; Gere os incentivos, por exemplo, de desenvolvimento
regional (do Estado ou de fundos europeus) e tem centros de atendimento
empresarial em vários pontos do pais, de modo a promover uma maior interação
entre as PMEs;
Contratação pública
• Código de contratação publica (2008)
Este código continha várias diretivas comunitárias e a sua preocupação essencial
era a de aumentar a concorrência, no que diz respeito à atribuição de contratos públicos
(celebrados por entidades publicas).
Estas regras serviam para evitar que os países acabassem por fazer uma
contratação das suas empresas nacionais, estimulando, assim, a concorrência.
Para tal, foram criados limiares comunitários — os contratos a partir de uma
certa dimensão passaram a ter de estar de acordo com essas diretivas: Se o Estado
português decide fazer uma expansão de um aeroporto, por exemplo, está obrigado a
seguir a tramitação do código e, acima de certos valores, isso obriga à divulgação das
condições do contrato em instâncias comunitárias, num portal consultável por todos os
agentes económicos — Isto permite que as empresas possam concorrer a contratos que
passam a saber que estão disponíveis na UE.
Com isto, que se entendia que era a melhor forma de não permitir que houvesse
preferência nacional e, assim, estimular a concorrência, acabou por se perceber que
essas regras de colocação de todos os agentes económicos em igualdade de
circunstâncias acabava por beneficiar os agentes económicos de maior dimensão (a
concorrência defende os mais fortes):
Em 2010, as grandes empresas detinham 66% dos contratos públicos. A média
comunitária, em 2010, de atribuição de contratos públicos de grande dimensão as
grandes empresas era de 2/3.
Estatísticas da situação antes da alteração de 2014:
- As empresas estrangeiras que ganhavam concursos públicos na Alemanha eram 2%,
enquanto em que Portugal eram 23% - a forma como estava construída a dimensão da
contratação pública acabava por beneficiar as grandes empresas.
- Empresas portuguesas a ganhar contratos fora era menos de 0,5%, enquanto que as
empresas Alemãs que ganhavam contratos fora da Alemanha eram 21%.
26
A partir de certa altura, isto tornou-se um incómodo, uma vez que eram sempre as
mesmas empresas a ganhar os concursos, então, a UE deu conta da necessidade de
alterar esta regra dos contratos públicos sujeitos a concorrência internacional:
Em 2014, houve uma série de diretivas que vieram a introduzir algumas mitigações
ao princípio estrito da concorrência, para evitar esta situação (alterações depois
introduzidas em Portugal em 2017).
Uma das regras que se introduziu foi a obrigação da divisão em lotes:
- Desde que seja possível, deve-se fazer uma divisão em lotes, lançar-se concursos
parcelares - em vez de ter um contrato único de realização de uma empreitada, passava
a haver diferentes contratos, sendo que cada um deles era de menor dimensão, o que
atraia empresas de menor dimensão também.
- Além disso, também se estabeleciam limites ao número de lotes que se podia atribuir
ao mesmo contratante.
Com isto, onde não estejam em causa dificuldades técnicas ou custos muito
acrescidos, não há fundamento para se afastar a obrigação da contratação em lotes
Assim, deixa de se estar num sistema de concorrência pura — Isto tem algum
prejuízo em termos de eficiência, mas ganhos em termos de diversificação e de aumento
dos agentes económicos que podem ter acesso à contratação publica.
O primado da eficiência cedeu em relação às outras componentes, também
consideradas relevantes, que neste caso diz respeito à proteção das micro e PMEs.
Aula 13/04
Participação na produção e formação do preço dos fatores
A lógica da formação dos preço dos fatores:
Fatores de produção: A terra, o trabalho e capital
Terra: Conjunto de recursos naturas disponíveis pra produção, mas sem custos de
produção.
Junta-se, ainda, a iniciativa empresarial: Forma de organização dos demais fatores de
produção. É através da iniciativa do empresário que se combina os fatores de produção,
para se por em marcha o processo produtivo.
A cada um dos fatores de produção corresponde uma remuneração:
Terra — Renda
Trabalho — Salário
Capital — Juros (capital enquanto ativo monetário)
Iniciativa — Lucro
— Através da participação no processo produtivo, as pessoas recebem uma
remuneração ligada à sua contribuição para o processo produtivo.
Numa economia de mercado a forma como se distribuem os resultados da
produção acaba por ser um subproduto da participação no processo produtivo. Portanto,
é em função do grau e qualidade (medida por uma avaliação de mercado) dos recursos
27
que são fornecidos ao processo produtivo, que os agentes económicos recebem a sua
quota parte do rendimento que é gerado no processo produtivo
Isto coloca problemas:
- Eventual falta de trabalho no futuro, devido à substituição crescente da força de
trabalho pelas novas tecnologias, por máquinas.
Resta saber se o trabalho, a fonte primordial de rendimento da esmagadora
maioria da população, tem sustentabilidade, se o emprego se torna desnecessário, em
resultado dos avanços tecnológico. Se houver uma diminuição do emprego disponível,
teremos um problema quanto à forma de distribuição de rendimento.
O que há de comum aos fatores de produção e à sua respetiva moderação?
- O facto de eles terem preços — a remuneração dos fatores de produção são os preços
(juro, renda, lucro e salário).
A formação do preço dos fatores, numa economia de mercado, tem uma
correspondência com a formação do preço dos bens, temos uma oferta de um fator de
produção e a procura de um fator de produção - lei da oferta e da procura - e, em função
dessa oferta e dessa procura, os preços serão ajustados de forma a encontrar-se uma
situação de equilíbrio.
Página 186 e 187 do manual:
Princípio geral representado nos diagramas:
Página 186:
É possível que haja um crescimento da produção total, mesmo quando a
marginal vai diminuindo. Só quando o produto marginal se torna 0, é que o produto total
deixa de aumentar e só quando o produto marginal se tornar negativo é que o produto
total diminuiria.
Vemos no diagrama que o produto marginal vai diminuindo.
Página 187:
Há um limite para a aquisição deste fator de produção, esse limite é o daquilo
que é possível obter, em termos produtivos, com a utilização de 1 unidade adicional - se
o preço for F3, é possível adquirir este fator até à quantidade V3, porque em bora em V3
o produto marginal deste fator seja mais baixo, é ainda suficiente para equiparar aquilo
que custa pagar este fator de produção — Quanto mais alto o preço do fator, maior terá
de ser o contributo desse fator para o processo produtivo, porque se não for pelo menos
igual ao seu custo, então não haverá interesse em adquirir quantidades adicionais desse
fator.
A lógica é a da pacificação do produto marginal e do produto total.
Enquanto que a procura de bens e serviços é uma procura imediata, a procura
dos fatores de produção é derivada, a razão pela qual se adquirem fatores de produção é
a possibilidade de os por ao serviço de um processo produtivo. É em função das
necessidades de aumentar as quantidades produzidas que se tem incentivo para ir
adquirir mais fatores de produção.
Diz-se que a procura dos fatores de produção é derivada, porque é movida por
aquilo que acontece no mercado dos bens e dos serviços — + procura de um bem, +
procura derivada dos fatores de produção, para aumentar a produção do bem, cuja
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procura aumentou e, portanto, é uma reação de resposta que determina a quantidade de
fatores de produção desejados incorporar no processo produtivo.
— As oscilações no mercado dos bens e serviços transmitem-se para a procura
derivada dos fatores de produção.
A complementaridade entre capital e trabalho verifica-se na totalidade dos fatores de
produção, não são só o trabalho e o capital que são complementares.
Em relação à terra (apesar de não participar em todos os processos produtivos)
esta e também necessária para uma grande quantidade de processos produtivos.
É, também, necessário que haja uma organização dos fatores de produção de
forma a por em marcha os processos produtivos e isso é a função do empresário.
Portanto, o processo produtivo não dispensa a presença do risco, inovação ou iniciativa
empresarial
Temos estas características comuns aos fatores de produção, procura derivada e
interdependente (na maioria dos casos não se pode aumentar a procura de um fator sem
se aumentar a de outro e vice-versa). Um aumento da procura de um fator tem consigo a
procura acrescida dos fatores complementares - há complementaridade genérica dos
fatores.
1. Terra
Renda é a remuneração de um recurso natural, da Terra.
Sobretudo a partir do século XVIII, os economistas clássicos dedicaram uma
grande atenção ao fator de produção terra, uma vez que se tratava de uma altura pré
revolução industrial, em que a terra acaba por ser o principal fator de produção.
A Terra é um recurso que não custa produzir e é finita.
A oferta rígida, implicava que havia limites à oferta deste recurso natural.
Claro que nem sempre era assim, na altura da expansão americana, havia
expansão geográfica dos recursos naturais disponíveis.
No entanto, uma vez cessada a expansão, foi o fim da expansão dos recursos
naturais disponíveis.
Ainda que haja a ideia de que a oferta dos recurso naturais é rígida, não é
impossível que esta se desloque para a direita.
Fracking - fractura hidráulica: forma de obter gás natural ou petróleo. Obtém-se fazendo
um furo de 2 km de profundidade na costa terrestre e, depois, faz-se a perfuradora
descrever uma curva de 90 graus fazendo-se, de seguida, buracos ao longo do canal. No
fim, injecta-se uma solução de água (milhões de litros de água, ácido, areia e outras
componentes) que vão fazer com que a rocha quebre. Enquanto a rocha quebra, o gás e
o petróleo que estão retidos na rocha começam a escoar em sentido inverso à injeção de
água que foi feita.
Se tivermos uma curva da procura mais à direita, então a interseção com a curva
da oferta vai-se verificar num ponto mais elevado, o que determina um preço elevado. Se
houver uma deslocação da curva da procura para a esquerda, encontraremos um preço
mais baixo.
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Qual é a dimensão das rendas nas diferentes economias?
Isto vai depender das economias que se admite. Há economias em que a renda é
uma componente muito importante do PIB (ex.: países que exportam petróleo ou gás
natural) e outros em que a participação da renda no PIB, países com menor exploração
de recursos naturais.
O país com maior ratio de rendas no seu produto interno, é a Libéria (50%
proveniente de rendas - exporta outro, ferro, madeira e petróleo).
Tentou perceber se era o preço dos cereais que fazia subir as rendas da terra ou
se a subida das rendas da terra provocava a subida do preço dos cereais. Ele constatou
no seu tempo que havia uma subida em paralelo dos preços dos cereais e das rendas
das terras e procurou perceber o que causava a variação da outra variável:
Eram os preços altos do trigo que faziam subir as rendas? Era o facto das terras
se tornarem cada vez mais caras que encarecia o processo produtivo e fazia os cereais
serem mais caros?
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A renda diferencial
As terras têm graus de fertilidade diferentes, há terras mais ricas e com mais
potencial de desenvolvimento de culturas e outras menos. Portanto, se tivermos 1
hectare de terra de primeira qualidade temos uma certa produção se gastarmos um certo
montante em trabalho e em irrigação e adubação dessas terras. Mas se tivermos um
hectare com menos potencial, se gastarmos a mesma quantidade de trabalho e
fertilizantes teremos uma produção menor.
Temos uma primeira terra muito fértil, um hectare de produção que gera um
resultado produtivo de 150 e, se não houver necessidade de produzir mais do que aquilo
que é o resultado da exploração deste hectare, nós teremos uma produção de 150.
Supondo, agora, que os 150 alqueires são insuficientes para satisfazer as
necessidades num determinado momento, então, é necessário produzir numa outra terra
que, anteriormente, não estava a ser trabalhada, porque era menos fértil.
A primeira terra tem um resultado de 150 e a 2ª terra tem um resultado de 125 -
isto implica que se o dono da primeira terra quiser sair do processo produtivo, pode
sugerir àquele empresário trabalhador que se dispõe a produzir na segunda terra,
sabendo que vai ter um resultado de 125, oferecer-lhe a sua primeira terra, através da
cobrança de uma renda. É o facto de se ter tido necessidade de explorar a 2ª terra que
cria, aqui, um diferencial na primeira, a primeira, quando não havia exploração da 2ª não
dava origem a uma renda. Agora, quem quiser explorar a terra menos fértil tem a opção
de explorar com o mesmo custo de trabalho, irrigação e fertilização a terra 2, se o fizer
tem um retorno de 125 ou. Arrendar a terra ao proprietário da 1ª e produzir com essa
mesma quantidade de trabalho, fertilização e irrigação 150.
Para ter este direito de exploração da 1ª terra e não da 2ª, ele terá de pagar ao
proprietário da 1ª 25. Se o fizer, fica numa situação de indiferença - O potencial
explorador da 2ª terra tem agora uma alternativa.
Ficamos com a ideia de que a renda é resultado da diferença de produtividade das terras
e que a necessidade de explorar recursos com qualidade cada vez menor implica uma
valorização das terras que têm uma maior capacidade produtiva.
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2ª forma de explicar:
A produção vamos supor que é igual nos diferentes hectares, mas para produzir
no 1º talhão gastam-se 100 (salários, água…). Se se tiver de recorrer a um hectare menos
fértil, para se garantir o mesmo alqueire de produção tem de se gastar 125. Gera-se aqui
uma renda diferencial de 25 que pode ser paga ao detentor do 1º hectare. Se for
necessário depois explorar uma 3ª parcela e para garantir a produção do mesmo alqueire
tiver que se gastar 150, então a segunda terra passa a ter uma renda diferencial de 25 e a
primeira terra vê o seu diferencial aumentar para 50. Quem estiver na posição de pensar
em explorar a 3ª terra e com isso gastar 150 por alqueire, pode considerar a alternativa
de arrendar a 2ª terra e gastar e para ter esse direito terá de pagar 25 ao proprietário ou,
em alternativa, gastar apenas 100 na produção, mas gastar 50 de renda ao proprietário
da 1ª terra.
Quer pela via dos resultados do processo produtivo, quer pela via dos custos, a
explicação que Ricardo encontrou para o aumento das rendas tinha a ver com este
diferencial que era introduzido de cada vez que as necessidades crescentes da
população exigiam aumentos de quantidades produzidas:
2. Trabalho
Este não é suscetível de uma oferta rígida como a terra, pela lógica da
oferta, esta devia variar na mesma direção do preço, se houver um aumento do
preço, há um aumento da disponibilidade das pessoas do lado da oferta para
oferecerem mais desse bem ou serviço, por isso, a lógica do trabalho também
podia se assim, se as pessoas receberem menos trabalham menos, se as
pessoas receberam mais trabalham mais. A lógica de oferta de trabalho devia ser
a lógica comum a todas as circunstancias da oferta.
33
Acontece que a curva da oferta de trabalho é muito particular (página 189)
Recebe-se o dobro por trabalhar nestas horas, logo, devia haver um aumento de
disponibilidade para trabalhar nessas horas. Se forem bem remunerados, consideram
que aquilo que têm a ganhar com essas horas não compensa, a partir de alguns valores
salariais, as pessoas deixam de reagir positivamente a aumentos de remuneração,
valorizam a libertação de compromissos, o descanso.
Quanto mais baixa for a remuneração, mais horas é preciso trabalhar para ganhar
os mínimos e não é só o facto de cada pessoa trabalhar mais mas unidades sucessivas
do agregado familiar ter de ir trabalhar, como por exemplo, os filhos terem de desistir da
escola para ir trabalhar, porque a remuneração dos pais não é suficiente para a sustentar
o agregado, ou até os avós que já estavam na reforma, aumentando, assim, a oferta de
trabalho.
- Quando o preço desce abaixo certos níveis, a oferta de trabalho aumenta, porque é
impossível sustentar o agregado;
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- Para níveis muito altos de rendimento, o aumento do preço do trabalho provoca a
redução da quantidade de trabalho oferecido.
A lógica do rendimento básico universal não é tão diferente assim, agora, para
fazer face aos problemas da pandemia, os EUA distribuíram cheques à população, de
forma indiscriminada, na lógica do rendimento básico universal - todos têm direito de
receber.
• Por outro lado, mesmo que tenham o conhecimento pode haver restrições à
mobilidade. No espaço da UE, pretendia-se a livre circulação de fatores de produção, a
possibilidade de as pessoas se deslocarem para os locais onde o seu contributo
produtivo fosse mais valorizado. Se o mesmo trabalho poder ser utilizado para uma
actividade produtiva mais valiosa, devia haver condições para que a pessoa se
deslocasse para as desempenhar.
Constatou-se, também, que havia “glass clif” que revela que, aparentemente, as
empresas que contratam mais mulheres para cargos de top têm uma performance
económica menos eficiente que outras. No entanto, os estudos recentes mostram que
são as empresas que estão em maiores dificuldades, ou que têm menos potencial de
desenvolvimento, que nessa altura, recrutam mais mulheres. Portanto, é natural que se
houve este enviesamento no que diz respeito à promoção de mulheres nas empresas
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menos prosperas, se houver uma promoção maior das mulheres nestas empresas,
depois, quando se faz a leitura, se associe uma maior participação de mulheres em
cargos de topo e uma menor performance das empresas, em relação às que têm menos
participação de homens — Esta diferença não tem a ver com uma discriminação (para
trabalho igual, salários diferentes, embora também aconteça): Tem a ver com estas
situações que envolvem a progressão de carreiras. Daí haver maior recurso a quotas, já
há regras para que os cargos de topo tenha uma % de mulheres - lógica da paridade/
equidade.
Está avaliação cega tem uma função de tornar a avaliação mais objetiva,
afastando condicionantes pessoais na avaliação, é algo que tem bons resultados, porque
há mais diversidade de género e ética.
Produtividade
Às vezes, estas reduções nas horas de trabalho são uma forma de tentar
aumentar os valores da produtividade, isto é, se se chegar à conclusão que se podem
reduzir horas de trabalho sem perder o resultado quantitativo do processo produtivo - às
vezes as reduções de horas de trabalho, servem para aumentar a produtividade. Isto só é
possível em alguns casos;
3. Capital
O capital pode ser físico, no caso das infra-estruturas (ex: barragens), dos
equipamentos (ex: computadores) e dos stocks. A remuneração deste capital é feita
através de juros, em termos económicos.
O capital pode, também, ser financeiro, no caso dos empréstimos, das ações, das
obrigações.
O juro é o preço do dinheiro e é ele que faz com que as quantidades procuradas
pelo sistema bancário correspondam às quantidades oferecidas ao sistema bancário.
Se os bancos tiverem poucas solicitações da parte dos particulares e das
empresas para obter empréstimos, não precisam de muito dinheiro e, portanto oferecem
uma baixa taxa de juro. Se houver pouca gente a pedir empréstimos ao banco, como é
que o banco ganha dinheiro? Ganha porque cobra 2% às pessoas que lhe emprestam
dinheiro, e cobra 7% às pessoas que lhe pedem dinheiro.
O banco quer ter dinheiro suficiente para fazer face às solicitações que lhe são
dirigidas. Sabendo que quer ter uma determinada quantidade de dinheiro, o banco sabe
que há uma taxa de juro que induz uma oferta de igual quantidade.
— A taxa de juro tem um mecanismo que vai induzir uma poupança idêntica à
necessidade dos fundos que o banco vai emprestar. Conhecendo a curva da oferta de
fundos, os bancos deduzem a taxa de juro a aplicar. Portanto, dentro desta lógica
clássica, a taxa de juro é o preço que faz o ajuste entre a procura e a oferta de fundos,
nas operações passivas e nas operações ativas.
Agora, o banco também está no negócio de oferecer fundos e está confrontado com uma
procura de fundos dos empresários e dos consumidores.
38
Portanto, o juro tem esta função de ajuste entre a quantidades de fundos queridas
no mercado e as quantidades de fundo que são disponibilizadas no mercado. No fundo,
os bancos intermediam a procura e oferta dos fundos: Se os bancos aumentarem os
juros das operações passivas (quando o banco fica devedor), há mais incentivo para as
pessoas transferirem para o sistema bancário a suas poupanças.
Vamos admitir para já, que o juro influencia a quantidade do aforro (entendimento
clássico). As pessoas aforram em função do montante que podem receber pela
remuneração desse aforro. Portanto, se a taxa de juro for alta nas operações passivas, as
pessoas estarão dispostas a aforrar mais e a disponibilizar ao banco esses montantes
acrescidos de aforro. No entanto, se o banco pagar um juro elevado para convencer as
pessoas a aforrarem e depositarem as suas poupanças no sistema bancário, terá que
cobrar juros elevados nos empréstimos que concede. ora, se o banco praticar juros
elevados nas operações ativas, haverá menos gente à procura de empréstimos.
O sistema bancário, afinal de contas, funciona como um exemplo daquilo que só
foi teorizado no final do século XX, que são os chamados “Two sided markets”:
— O que acontece num dos lados condiciona o que acontece do outro: O que
acontece do lado da compra condiciona o que acontece do lado da venda, e aquilo que
acontece do lado da venda condiciona o que acontece do lado da compra.
Subimos os juros nas operações passivas para atrair fundos —> Depois temos
que cobrar juros altos nas operações ativas —> Isto leva a que haja menos procura de
fundos, portanto, não temos muita necessidade de fundos —> Então, se temos pouca
necessidade de fundos, não temos que pagar juros altos, podemos baixar os juros
porque não precisamos que haja tanta gente a confiar-nos as suas poupanças porque
não temos o que fazer com elas.
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Por outro lado, se baixarmos os juros das operações passivas, isso poderia ser
uma forma de estimular a procura de fundos junto dos bancos para fazer investimentos,
aquisições a crédito —> mas não há fundos suficientes a disponibilizar para tal, porque o
juro das operações passivas é baixo —> as pessoas vão a procura de aplicações
alternativas para o seu dinheiro.
Aula 19/04
Lucros
No entanto, pode acontecer que o total das receitas fique abaixo do total dos
custos e, aí, o empresário terá prejuízo.
Este risco da atividade empresarial, que recai sobre o empresário, é um outro dos
fundamentos para a justificação de obtenção de lucros.
O empresário organiza o processo produtivo, tem a iniciativa, mas além disso, ele
corre um risco, se a totalidade das receitas não cobrir a totalidade das despesas,
supostamente, quem paga a diferença não serão os trabalhadores ( a menos que fiquem
com os salários em atraso), não serão os fornecedores ( a menos que não lhes paguem
os fornecimentos).
No entanto…
Houve atividades empresariais em que quem devia assumir o risco devia ser o
empresários — este tem uma remuneração na atividade económica justamente porque
tem a iniciativa e porque corre os riscos inerentes — acontece que, muitas vezes, o
empresário se resguarda, através de figuras como a criação de sociedades de
responsabilidade limitada — constituindo veículos societários que limitam a
responsabilidade do empresário em caso de insucesso do empreendimento a que ele
deu origem.
A economia que foi desenvolvida a partir dos finais do século XVIII - a ideia de que
também no domínio económico há movimentos que são desencadeados cada vez que
os sistemas se afasta da sua posição de equilíbrio - lógica omioestática, em que os
preços desencadeiam reações, funcionam como sensores e quando há oscilações, isso
põe em marcha as alterações necessárias, no mercado dos bens, dos serviços, dos
fatores de produção, oferta, procura…
Assim, não podemos dizer que a abordagem macro-económica seja uma criação
dos anos 30 do século XX, houve abordagens macro-economias anteriores. No entanto,
estas eram anteriores ao desenvolvimento da economia.
Esta ideia antiga também tem o seu quê de macro, tal como uma das leis
formuladas por um dos clássicos, a Lei de Say.
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Esta lei diz que os produtos se trocam por produtos, a ideia de que a oferta cria a
sua própria procura.
Esta ideia é profundamente emboída na lógica do sistema clássico, que leva a
recusar a existência de crises de superprodução — não pode haver excesso de
produção, porque os produtos trocam-se por produtos.
- Não se pode tirar um presente do saco, sem lá ter posto outro. Quem entrou pós
uma prenda, quem esta no jantar tira uma prenda, se alguém lá não pós, não
poderá tirar, não chega para ele.
Dentro desta lógica, os equilíbrios estavam garantidos. No entanto, isto não se passa
assim… Porquê?
Em dezembro desse ano, John Keynes publica uma carta aberta no New York
Times, a defender que aquilo que eram as prescrições económicas de época estavam
erradas e aquilo que se devia fazer era tudo o inverso. Isto é, aquilo que o Estado tinha
que ter não era um orçamento equilibrado, era um orçamento desequilibrado e aquilo
que se devia incentivar era a que as pessoas não poupassem.
1. Haver mais gastos de cada pessoas — as pessoas que têm capacidade de gasto têm
de gastar mais do que gastavam antes. Para gastar mais elas têm de aforrar menos,
porque o rendimento que as pessoas têm pode ser destinado basicamente ou a
consumo ou aforro, em função do seu rendimento disponível (depois de serem pagos
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os impostos); as decisões que as pessoas tomam tem a ver com esse rendimento
disponível — As pessoas gastarem mais, consumirem mais e pouparem menos.
2. Haver mais pessoas a gastar. Mas como? — Pode haver decisões de investimento
que antes não eram feitas e que agora são, isto é, uma empresa, por exemplo, pode
decidir contratar mais trabalhadores, comprar máquinas, arrendar espaços, comprar
edifícios. Então, esta despesa aparece, também, como adicional em relação às
despesas pré-existentes, criando-se, com isso, despesa nova. Mas na situação de
crise que se estava a viver internacionalmente, mas sobretudo nos EUA, quer o
aumento de gastos por parte das famílias, quer o aumento de gastos por parte das
empresas, não era fácil nas condições da época. então, para Keynes, a solução
parecia óbvia — se as empresas e as famílias não gastam mais, tem de ser o Estado
a fazê-lo. Agora, se o Estado fosse fazer despesas adicionais indo buscar mais
impostos, isto é, procurando manter o orçamento equilibrado, então, não havia
diferença alguma. A única maneira de o Estado aumentar a despesa global, era
através de despesas financiadas com crédito, isto é, recorrendo a empréstimos, ou
então através da criação de moeda. Quer o recurso ao crédito, quer o recurso à
criação de moeda implicavam um desequilíbrio no orçamento, implicavam que
houvesse mais despesas do que receitas.
— Por outro lado, Keynes dizia que se as pessoas ou aforram ou consomem, cada
vez que aforram mais, consomem menos necessariamente. Se o rendimento que as
pessoas têm disponível pode ser afeto a consumo ou a aforro, então, mais aforro traduz-
se em menos consumo. Ora, se pensarmos no que acontece quando há menos
consumo, vamos constatar que a diminuição no consumo provoca efeitos recessivos na
economia: - o rendimento vai para consumo ou para aforro; a despesa privada é
composta, também, por duas componentes: uma componente de consumo e outra
componente de investimento. Se a despesa total for inferior ao rendimento, isto sinaliza
aos agentes económicos de forma clara que se a despesa for inferior ao valor da
produção, então, ao contrário daquilo que é a lei de Say, nem tudo o que se produz se
vende, no mercado ficam algumas coisas de fora. Se o rendimento vai para consumo ou
aforro e se a despesa que é constituída por consumo e investimento e se o consumo é o
mesmo no lado do rendimento e no lado da despesa, o consumo tanto é consumo
quando se gasta, como é consumo quando se afeta uma parte do rendimento a esse
gasto, o valor do consumo é igual quer na lógica da despesa, quer na lógica do
rendimento.
Agora, o aforro não é necessariamente igual ao investimento. Não há nenhuma razão
óbvia para que o valor de um investimento, num certo período, seja igual ao valor do
aforro nesse período - pode ser que sim, pode ser que não. Keynes diz que não é
necessário nem há razão para que aquilo que é o montante de fundos que as pessoas
tiram do consumo vá todo para o sistema bancário, há uma parte desse montante que é
entesourado (o entesouramento é a parte do aforro que não vai para o sistema bancário,
fica em ativos líquidos). Então, na medida em que uma parte do aforro não fosse
canalizado para o sistema bancário, então, esse aforro não poderia ser transformado em
investimento.
45
Por outro lado, mesmo a parte do aforro que é canalizada para o sistema
bancário, só seria absorvida por procura de investimento se realmente a taxa de juro
funcionasse como aquele sensor que garante o equilíbrio entre a procura e a oferta de
fundos. Isto é, se a taxa de juro fosse realmente aquele preço de equilíbrio entre a
procura de fundos por parte dos investidores e a oferta de fundos por parte dos
aforradores, de maneira que quando havia maior procura de fundos por parte dos
investidores, a taxa de juro subia, então, quando a taxa de juro subia as pessoas
aforravam mais e, portanto, canalizavam maior parcela dos seus rendimentos para o
sistema bancário para satisfazerem a procura acrescida de fundos por parte dos
empresários. Por outro lado, se ainda considerássemos que era esta taxa de juro que
influenciava reciprocamente os dois lados do mercado, se os agentes económicos
empresariais, do lado da produção procurassem menos fundos para investimento, ente,
os bancos iriam descer a taxa de juro, porque precisavam de menos fundos para
emprestar ao empresário. Se diminuíssem as taxas de juro nas operações passivas,
então as pessoas aforravam menos e assim consumiam mais.
Portanto, supostamente, dentro da lógica clássica, que vem a ser assim
explicada por Keynes, em termos macroeconómicos, os grandes agregados da
contabilidade nacional, o PIB, o rendimento nacional, a despesa de que ouvimos falar
quotidianamente são uma invenção das reações dos economistas à Grande Depressão
dos anos 20/30.
É claro que se produziram 150 e só venderam 100, não faz sentido no período
seguinte produzir 150, tem de se produzir 100. Se se produz 100, já não se distribui 150,
só 100. Se a produção é no valor de 100, a totalidade dos salários, rendas, lucros e juros
não é 150, a totalidade é 100.
Agora, dividindo os 100 entre consumo e aforro, se não aforrarmos mais, e se o
investimento não for igual ao valor do aforro, então no período seguinte não se produzem
100, produzem-se 100 menos aquilo que não foi vendido no período anterior.
Quer dizer que aquilo que o Keynes tinha percebido é que uma depressão podia
entrar numa espiral que levava a que os resultados fossem sempre piores, até ao
momento em que não era mais possível adiar decisões de investimento e até ao
momento em que o valor do investimento igualasse, pelo menos, o valor do aforro. A
partir do momento em que o valor do investimento iguala o valor do aforro, nó
voltamos a ter uma situação de equilíbrio, isto é, o valor da despesa que é
composta por consumo mais investimento é igual ao valor do rendimento que é
afeto a consumo mais aforro.
Como o consumo, quer do lado do rendimento, quer do lado da despesa,
tem o mesmo valor, a condição de equilíbrio básica, para uma economia se manter
em equilíbrio, é que o aforro seja igual ao investimento.
46
Na lógica clássica, a taxa de juro garante que a procura de fundos para
investimento iguala o aforro das famílias, porque, justamente se a taxa de juro subir, sobe
o aforro. Mas a taxa de juro só sobe se houver maior procura de fundos para
investimento. Portanto, através deste preço, supostamente, mantinha-se o equilíbrio
económico e não havia diferença entre aquilo que se produzia e aquilo que era absorvido.
Se não houvesse diferença entre o que era produzido e o que era absorvido, no
período seguinte repetiam-se as mesmas produções e a mesma produção era absorvida
e a economia manter-se-ia em equilíbrio.
A função consumo:
Keynes partia do princípio que se nós estivéssemos numa situação em que cada
unidade de rendimento era canalizada para consumo, então, poderíamos representar isto
por uma linha a 45º num diagrama cartesiano (eixo vertical - consumo; eixo horizontal -
rendimento disponível; traça-se uma linha a 45º com origem no ponto de encontro entre
os eixos) e temos garantido que o valor do consumo é sempre igual ao valor do
rendimento disponível.
Ora, como já vimos, nem todo o rendimento disponível vai para consumo.
Portanto, essa linha a 45º não é a que respeita o consumo.
Porquê que há um problema de ajuste entre aquilo que é o rendimento e aquilo que é a
despesa?
- Há até quem acredite que a PMC é um traço de personalidade, ou seja, quem já,
desde cedo, aforra algo, continuarão a aforrar no futuro. Se não aforra nada, no
futuro, por muito dinheiro que venha a ganhar, também não irá aforrar nada.
supostamente, isso dependerá de características de personalidade — as pessoas
têm por natureza serem mais poupadas ou menos. Portanto, aquilo que determina
o ponto de interceção da função consumo d cada um com a linha de igualdade
está predeterminado por características psicológicas e não importa tanto o valor
do rendimento que as pessoas alferam.
Nota: Os chamados frugais acham que os países do sul da Europa são os que estão do
lado errado do ponto entre rendimento e despesa, isto é, gastam sempre mais do que
aquilo que têm. Do ponto de vista dos frugais, em que os valores de aforro são uma parte
importante e positiva, enquanto que os perdulários têm um aforro negativa, gastam mais
do que aquilo que têm, está do lado esquerdo do ponto de interseção entre a função
consumo e a linha de igualdade entre consumo e rendimento.
O que interessa não é saber em que ponto é que se verifica aquela igualdade
para cada pessoa, interessa saber como é que a economia se comporta.
Quer quando a despesa fica abaixo da produção, o que faz com que os agentes
económicos, no período seguinte produzam menos, uma vez que aquilo que produziram
não foi absorvido pelo mercado. No entanto, diminuir a produção diminui os salários,
rendas, juros e lucros, o que faz com que no período seguinte haja menos consumo e
aforro. Se o padrão de consumo e aforro, como Keynes acreditava, então o aforro
mantém-se, o consumo também, mas como há menos rendimentos, há menos aquisição
de bens. Assim, entremos na espiral deflacionária, na especial de recessão.
51
Com a análise Keynesiana, e através da intervenção do Estado, sabia-se o que é
que se devia fazer:
Nota:
(Vamos ver como funciona a política contra-cíclica que está a ser posta em prática, há
uma quantidade enorme de fundos que estão disponíveis e não se sabe bem para quê, e
que podem ter feitos nefastos na inflação.)
52
Aula dia 26/04
— Vimos na última aula, que a função consumo representava aquilo que é a procura das
famílias.
Se temos um valor de produção de 100, isso quer dizer que distribuímos, em salários,
rendas, juros e lucros, 100.
R=P
Se fosse igual à despesa, teríamos rendimento 1000, uma produção de 1000, distribuir
rendimentos de 1000, esses rendimentos eram afetos a consumo e investimento, davam
uma despesa de 1000, e andaríamos num ciclo e teríamos uma situação de equilíbrio.
A crise de 1929 demonstrou isso com toda a evidência — se é verdade que a produção é
igual ao rendimento, não é forçoso que a despesa seja igual ao valor da produção. Ao
contrário da analogia do saco do amigo secreto em que as pessoas põe algo e tiram algo
e, no fim, não sobra nada, pode acontecer que na economia haja coisas que não são
54
escoadas pelo mercado. Isso acontece devido à preferência pela liquidez, potencial
aquisitivo que não é convertido em procura efetiva e devido à função consumo.
A função consumo faz com que as pessoas, até um certo nível de rendimento gastem
mais do que têm, mas a partir de certos níveis de rendimento, gastam menos do que
têm.
À medida que nos vamos afastando da nossa linha dos 45º, vamos tendo valores
crescentes de poupança. Se o investimento for exatamente igual à poupança, voltamos à
linha dos 45º.
Se o rendimento for igual à despesa, isso constitui uma ordem à produção para renovar
as quantidades produzidas e distribuir a mesma quantidade de rendimentos. Se se
distribuir a mesma quantidade de rendimentos, se as pessoas afetarem a consumo e
aforro as mesmas parcelas que afetavam antes e se o investimento voltar a ser igual ao
aforro, voltamos a ter uma situação de equilíbrio e mantemo-nos nela.
A procura agregada iguala, num certo momento, o rendimento, no ponto em que aforro =
investimento. — neste ponto estamos em equilíbrio.
Neste caso, quer dizer que as pessoas utilizaram parte do rendimento para
consumo, uma parte para aforro, mas como o investimento não igualou o valor do aforro,
55
houve dinheiro que não retornou ao circuito de produz, distribuir rendimento, consome e
investe (e sempre assim) — houve uma parte do rendimento que saiu.
O aforro é uma fuga do sistema, é uma forma de tirar um potencial aquisitivo que
foi distribuído e não retorna. Na lógica clássica esse potencial aquisitivo só não era
reinventado no sistema se a taxa de juro fosse tão atrativa que as pessoas não gastam
no dia, para depois conseguir consumir mais (+ com os juros daquilo que recebe por
renunciar ao consumo imediato), logo, a taxa de juro garantia um equilíbrio entre o aforro
e investimento.
Para Keynes, o que determina o investimento não é, por si só , a taxa de juro, são
as perceções. Keynes fazia referência aos animals spirits: Os agentes económicos
deixam-se levar pelos espíritos animais — quando a economia está eufórica e as coisas
estão a correr bem, os empresários tendem a investir; Já quando as coisas estão a correr
mal, mesmo que a taxa interna de rentabilidade do investimento pareça ser atrativa, os
agentes económicos retraem-se — A economia também é uma questão de confiança e
se as pessoas não têm confiança, não investem.
- Bull market: Quando toda a gente acredita que vai ganhar dinheiro na bolsa, então
investe, mesmo que não haja racionalidade nenhuma nisto.
— As exportações também são uma injeção de procura líquida. Se nós tivermos uma
balança superavitaria, estamos a transferir bens que estão disponíveis para as pessoas
58
irem buscar ao mercado para o estrangeiro. Quer dizer que as pessoas que cá estão não
podem ir buscar aqueles valores, mas entrou dinheiro, portanto, houve uma injeção de
liquidez que permitiu que houvesse efeitos multiplicadores.
Voltando ao circuito…
Pode acontecer que não haja capacidade de resposta, pode existir "os
engarrafamentos”.
— Imagine-se que as pessoas querem comprar comprar mais cortiça: o aumento brutal
da procura da cortiça resultaria numa subida de preços, não haverá maior produção da
mesma, não haverá resposta para satisfazer essa procura.
Isto quer dizer que desde que haja qualquer rigidez na oferta, é impossível que o
mecanismo multiplicador funcione.
! Para que uma economia esteja em equilíbrio, é necessário que o valor da produção,
que é igual ao valor distribuído em salários, juros, lucros e rendas, depois, se traduza
numa despesa equivalente;
! A partir dos dados de uma certa economia podemos saber qual é a distribuição que
se faz do rendimento entre consumo e aforro, podemos admitir que isso corresponde à
PMC e PMS, que somadas resultam na unidade.
! Propensão marginal (pm) é a forma como se vai afetar a consumo e aforro uma
variação.
! O multiplicador vai ser o inverso da pms: quanto maior for a pms, menor será o
multiplicador (k) e vice-versa.
• k = 1/pms
• k= 1/1- pmc
Exemplo:
Quer isto dizer que o valor do impacto de uma variação líquida de procura inicial
vai ser, no termo de atuação dos períodos do multiplicador, igual ao modo do
multiplicador (k), multiplicado por este valor inicial, ou seja, se quisermos saber o impacto
de variações:
• k x variação inicial
• 5 x 1000 = 5000
Portanto, a razão pela qual os decisores políticos, que eram ilustrados pelos
economistas anteriores, recomendavam às pessoas que poupassem durante a crise e
Keynes, inversamente, que gastassem, porque gastar gera, para além do rendimento e
do consumo, aforro:
NOTA: Isto representa uma revolução em relação aquilo que era o consenso económico
da época. Daí, também, que nos EUA, por um lado, começou a por-se em marcha as
ideias Keynesianas, através do New Deal, por exemplo, mas, por outro lado, Roosevelt
teve sempre a preocupação de querer manter o orçamento equilibrado, então, subiu
muito os impostos. Assim, por um lado estava a fazer o recomendado por Keynes,
gastar, e, por outro, estava a fazer o contrário, aumentar os impostos — para Keynes,
61
aumentar os impostos seria retirar liquidez à economia e, numa situação de depressão, a
economia precisa de liquidez.
Em 2008/2009, a resposta dos poderes estaduais, face à ameaça de crises, foi gastar
dinheiro, foi evitar seguir as más opções tomadas pelos EUA na grande depressão.
Já na Europa, esta lógica tinha muita dificuldade em ser aceite. então, enquanto que
os EUA reagiram à crise gastando dinheiro, na Europa, imposeram-se as políticas
austeritárias.
Síntese esquemática
62
• Políticas financeiras: São aquelas que são levadas a cabo pelo Estado, diretamente.
• Políticas monetárias: São aquelas são geridas pelo Banco Central.
Hoje em dia, a generalidade dos países, das economias têm Bancos centrais
independentes e são esses bancos que levam a cabo as políticas monetárias.
Alguém tem de trabalhar e fazer as coisas que nas se faria se não fossem esses
gastos, logo, haverá mais emprego.
2. Diminuir os impostos;
As pessoas passam a ter mais dinheiro para gastar e assim compram mais bens.
Haverá necessidade de produzir mais, contrata-se mais pessoas.
Assim, esta relação permitiu que, desde o final da 2ª GM até aos choques
petrolíferos da década de 70, a economia funcionasse razoavelmente bem.
No entanto…
Com isto, o preço do barril de petróleo, antes de 3 dólares, passa para 12, um
impacto brutal para as economias, que na altura, extremamente dependentes do petróleo
como fonte de energia.
Acontece que, Milton Friedman tinha antecipado, anos antes, que a curva de
Philips ia deixar de funcionar. Segundo os monetaristas, aquilo que afinal de contas
controlava a economia era a oferta de moeda, aquilo que fazia com que os preços
subissem ou descessem era a oferta de moeda (mais os preços a subirem, porque tinha
havido aumentos na quantidade de moeda em circulação e era isso que tinha provocado
as dificuldade económicas).
Portanto, em relação aos objetivos que tinham sido definidos dentro da lógica
neoliberal era controlar a inflação, objectivo conseguido com custos sociais, o que se
traduziu, desde logo, no aumento do desemprego e, portanto, na recuperação da relação
inversa entre inflação e desemprego que a curva de Philips revelava dentro do quadro
Keynesiano.
Os estabilizadores automáticos
• A Segurança social
Isto será tanto mais amplificado quanto maior for a progressividade do imposto.
O rendimento per capita (valor total da produção dividir pelo nº total de habitantes)
durante milénios
Desde 1500 anos antes de cristo, mantivemo-nos pouco acima ou algo abaixo
daquilo que era o RPC de 1800, não houve grandes progressos ema ermos de
68
crescimento daquilo que era o rendimento das pessoas, desde tempos anteriores à
nossa era.
Este economista clássico considerava que pela experiência histórica que ele
conseguia eventariar, a produção de elementos seguia uma produção aritmética, mas a
população conseguia reproduzir-se a uma cadência geométrica — enquanto os alimentos
alimentam aumentam 2, 4, 6, 8, …, numa progressão aritmética, o crescimento da
população está sujeito a uma lógica geométrica, passa-se de 2 para 4, para 8, para 16,
para 32, para 64….
Assim sendo, o que ele via no futuro da humanidade era a insuficiência dos
recursos disponíveis para sustentar a população.
Ciclos Juglar
Mas, em 1862, um francês, Clément Juglar, médico, notou que havia ciclos
daquilo que chamou expansão e recessão, que fez corresponder a estados de euforia, de
embriaguez e de ressaca. A economia, afinal, comportava-se como um agente
económico que cometia alguns excessos e, depois, sofria as consequências dos
mesmos. Aquilo que constatou é que a sequência de estados de euforia e estados de
depressão, decorrentes da “ressaca”, sucediam-se com um intervalo de cerca de 10
anos — Havia um ciclo de 10 anos que regressava, depois, ao seu início.
De todos estes anos em que tivemos quebre de PIB, a maior queda aconteceu
praticamente na data esperada pelo ciclo juglar, 2012. Voltamos a ter um pico de redução
do nosso PIB em 2012.
Agora, em 2020, voltamos a ter a maior queda de sempre do nosso PIB, no que
diz respeito a esta série iniciada com o regime atual, dentro da série iniciado em 1974, no
tempo da democracia, a maior queda do PIB ocorreu no ano de 2020.
Com estes precedentes não é difícil extrapolar que, por volta de 2029/ 2030,
somos capazes de ter, novamente, um problema económico global na economia
portuguesa.
Ciclo de Kitchin
— 5% dessas mercadorias não são vendidas: isto não constitui, talvez, motivo suficiente
para ela reduzir as aquisições no ano seguinte.
— no ano seguinte renova as aquisições, mas volta a vender menos 5% daquilo que
comprou, o que quer dizer que já tem em stock 10%.
— Volta a repetir a mesma encomenda, mas chega ao fim do ano e repara que já tem
15% em stock, e no ano seguinte, acaba por fazer uma encomenda só de 85% daquilo
que antes fazia porque tem 15% em stock que agora vai escoar.
Ciclo Kuznets
Kondratiev fez os seus estudos com base nos dados estatísticos que haviam à
época, ele consegue ir até à altura da revolução industrial e, em 1780, põe o início do 1º
ciclo Contratiev.
71
Este diagrama mostra os ciclos Kondratiev e, até agora, houve 5 ciclos.
O que Kondratiev notou, até 1920, é que um ciclo termina numa crise mais
acentuada do que é normal, é certo que há as tais flutuações por força dos restantes
ciclos, mas a depressão maior ocorre na mudança de um ciclo Kondratiev.
A partir da reação dessa crise dos anos 30 começamos com um novo ciclo, que
vai até aos anos 70, com os choque petrolíferos.
Outras observações:
• Depois, certamente por efeito da crise que faz com que as estruturas económicas se
transformem, uma parte dessas inovações são introduzidas na economia real. Há
razões para que se faça a substituição das tecnologias (podem ser tecnologias
financeiras, por exemplo, utilização de novas formas de moeda);
Atualmente, passamos a ter, eventualmente, um novo ciclo, ciclo esse que vai ter
de se basear numa tecnologia de aplicação generalizada. Qual será essa tecnologia que
dará origem ao 6º Kondratiev.
Em suma…
Se estamos nesta altura a fazer a transição, o mundo vai mudar muito, vai mudar
para melhor, mas com muita convulsão e conflitos, segundo a extrapolação da análise
histórica com base nestes diferentes ciclos.
73
Aula 4.05
— A hipótese do lag
Falamos do lag a propósito dos ciclos Kitchin. O lag está no facto das indicações
do mercado não serem automáticas, lag, o hiato, está no facto de a respostas às
condições de mercado ser intermediada por uma cadeia que leva à constituição de
stocks nos diferentes elementos dessa cadeia.
— Há uma procura acrescida de café num determinado período. Isso leva à subida
de preço do café. Os agentes económicos querem reagir a essa procura acrescida e a
esse preço mais alto — podem aumentar as plantações de café.
Acontece que o cafezeiro demora 7 anos a produzir, portanto, essa subida de
procura e aumento de preço acaba por só ter resposta 7 anos passados. Acontece que,
durante estes 7 anos, os agentes económicos constatam que não há resolução do
problema de excesso de procura no mercado e durante este período intermédio, que leva
a poder dar resposta à procura, há vários agentes económicos que alteram as suas
decisões, porque consideram que talvez valha a pena transformar outras atividades
produtivas em produção de plantas que dão o café. Quer dizer que passados 7 anos,
começam a aparecer no mercado as produções de café que resultaram deste sinal dado
pelo mercado durante este tempo intermédio e, nessa altura, é provável que haja uma
sobre-resposta. Se houver café a mais, esse café a mais não se escoa, os preços
baixam, sinal para que alguns produtores abandonem o mercado ou diminuam a
produção.
! Portanto, é o facto de haver hiatos, lags, que faz com que se possam explicar
alguns ciclos de expansão e de recessão, a resposta do mercado não é automática,
imediata e, justamente por não o ser, criam-se condições para que haja desencontros
periódicos entre a oferta e a procura.
— Hipótese do eco
Tem a ver com a ideia de que se houver, num determinado momento, um grande
investimento num determinado tipo de bens de capital, passado o prazo de vida útil
desses bens de capital, será necessário substituí-los.
Agora imagine-se que em vez de ser distribuído 20M de euros por anos, são
feitos num determinado período 500M. Se num determinado período são feitas obras e
grande vulto todas ao mesmo tempo, então, em vez de passados 20 anos ter de se
substituir um e depois passado 1 ano ter de se substituir outro e sempre assim,
passados 20 anos tem de se substituir todos ao mesmo tempo.
— Por via do eco ou do hiato, nós temos hipóteses explicativas para os diferentes
ciclos económicos de menor duração, uma vez que a existência das tecnologias de
aplicação generalizada é a melhor explicação para os ciclos de Kondratiev.
A desigualdade
Mas Rawls também tem uma ideia de um contrato social: parte ele da ideia de
que se nós admitíssemos que desconhecemos em absoluto a nossa posição na
sociedade ou qual virá a ser; Se desconhecermos em absoluto os nossos defeitos e
qualidades; se estivermos sob um véu de ignorância e não soubermos aquilo que
75
podemos esperar daquilo que vai ser a nossa situação social, então, certamente
quereremos escolher aquele arranjo que nos proteja mais na pior situação possível.
Dentro deste raciocínio, o que Rawls considerava era que havia 2 princípios
básicos:
— todos deviam ter o máximo de liberdade, de benefícios que fosse compatível com o
benefício de todos;
— a repetição do bolo fazia-se da forma mais igual possível, se não soubermos qual a
posição que nos espera, à partida quereremos que essa repartição seja a mais igualitária
possível, a menos que, havendo desigualdade, essa desigualdade nos permita ficar com
uma fatia maior do bolo — podíamos admitir desigualdade, vários graus de
desigualdade, desde que aqueles que ficam pior, na situação de desigualdade inferior fim
numa posição melhor do que se todos tivessem numa situação de igualdade. Portanto, a
desigualdade é legítima desde que aqueles que ficam na franja inferior da distribuição
fiquem melhor do que estariam se toda a gente tivesse uma repartição igualitária daquilo
que existe.
Acontece que outro autor, Simon Kuznets, nos anos 50, admitiu que havia uma
curva em forma u invertido que representava os valores de desigualdade na distribuição
do rendimento e da riqueza. então, o que teríamos era o seguinte:
De facto, nos anos 10/20 do século XX, o topo dos 10% calculava-se que tivesse
nas sociedades da OCDE, das sociedades avançadas, teria qualquer coisa como 45 a
50% do rendimento. Nos anos 70, os 10% de topo já tinham apenas 35% — a lógica era
de que a desigualdade continuaria a diminuir.
Mas, a partir dos anos 70, a desigualdade, em vez de diminuir, aumentou outra vez e,
nos anos 2000, na 1ª década do século XXI, estava outra vez de volta aos 45/50% do
rendimento.
Quer dizer que esta curva tranquilizadora de Kuznets não corresponde aquilo que
foi o aumento da desigualdade, sobretudo a partir dos anos 80. Já falamos de uma série
de eventos que ocorreram nos anos 80 (choques petrolíferos - alterou as condições de
funcionamento da economia; a eleição de Margaret Tatcher e Ronald Reagan -
inauguraram a ortodoxia neoliberal) e em resultado dessas abordagens e das condições
económicas da época, a verdade é que a desigualdade cresceu outra vez e cresceu
muito, portanto, já tinhamos um problema que vinha dos anos 80.
No último fiscal monitor do FMI (o texto que o FMI divulga com as perspetivas e a
análise daquilo que é a evolução da situação financeira dos Estados) também se
recomenda que os Estados aumentem os impostos sobre os mais ricos, ou seja, que
façam alguma coisa para diminuir a desigualdade.
! O tal grande antagonismo, a ideia de que se nós queremos mais equidade perdemos
eficiência, nesta altura, já não corresponde ao consenso, já se admite que a
desigualdade existente já está a constituir um obstáculo ao crescimento do bolo, é
possível fazer mais transferências, diminuir a desigualdade, adotar políticas que
diminuam a desigualdade sem, com isso, perder eficiência. Pelo contrário, é bem
possível que seja o acentuar das desigualdades que vá diminuir a eficiência e, portanto, a
dimensão do “bolo”.
r - rendimentos do capital
g - crescimento económico
Mesmo não falando na profecia Marxista (de que o capitalismo havia, um dia, de
soçobrar porque a concentração do capital imporia a proletarização crescente das
classes intermédias e, portanto, os pequenos empresários, os trabalhadores acabariam
por ser esmagados pela força do capital acumulado aos grande empresas e estas
78
continuariam a esmagar-se umas às outras, até sobrarem muito poucas e, quando
fossem muito poucas, elas estariam contra tudo mais na sociedade e, assim, não teriam
mais poder para resistir a essa sociedade e acabariam por ser derrubadas) nós temos
uma série de observações, análises que apontam no mesmo sentido, a desigualdade
está a crescer e de há anos a esta parte, podemos admitir que a travagem dessa
desigualdade não tenha efeitos tão nocivos sobre a eficiência, sobre a possibilidade d
fazer crescer a produção, como não fazer coisa nenhuma, que pode muito bem ter mais
custos do que tentar diminuir a desigualdade.
Curva de Lawrence
Justamente por isso, propôs-se medir a desigualdade através de uma razão entre
duas áreas:
! Quanto maior for a área compreendida entre a curva de Lawrence e a linha de igual
distribuição, maior será a desigualdade.
Ratio de Palma
- Se pusermos a América Latina nesta comparação, então, o ratio de palma passa para
5, ou seja, os 10% de topo têm 5x mais rendimento do que os 40% de baixo;
Porém, tenha-se em atenção que, no que diz respeito ao nível de vida, o mais
importante não é propriamente nem o rendimento nem a riqueza, é a despesa, pois é
através dela que acedemos aos bens e serviços. Talvez mais importante para analisar as
desigualdade, não seja tanto o valor dos índices de desigualdade na distribuição de
rendimento, nem sequer os valores do índice de desigualdade na distribuição da riqueza,
mas sim a desigualdade na despesa.
Há dados que mostram que as pessoas com mais riqueza e mais rendimentos
têm uma percentagem de despesa que é inferior, naturalmente, dadas as dimensões
astronómicas da sua riqueza. Em contrapartida, as pessoas de menores rendimentos têm
até uma fase em que consomem acima do seu rendimento, há despesas incomprimíveis,
e isto faz com que o montante das despesas acumulado das franjas com menos
rendimentos da população seja muito superior ao seu valor de participação na riqueza
total dessa comunidade ou na distribuição total do rendimento nessa comunidade.
Portanto, o que nos dizem as estatísticas é que a pobreza absoluta diminuiu para
metade desde os anos 80 e, depois, voltou a diminuir pra metade — isto quer dizer que
em 40 anos houve uma redução de 75% da pobreza mundial.
• Uma das razões é o facto de haver impostos sucessórios muito elevados: As taxas de
imposto sucessório nestas economias asiáticas excedem os 50%, o que trava o
processo de acumulação, a desigualdade que se vai fortalecendo ao longo das
gerações;
84
• São Estados relativamente pequenos, comparado com a dimensão do Estado social
ocidental;
• Os impostos sobre o rendimento são relativamente baixos: não há tanta distribuição
em vida, porque a distribuição se faz em morte — a igualização faz-se em termos
geracionais.
Esta ideia de que se podem fixar limites aos preços tem de ser pensada, tem de
ter considerações económicas por trás. Pode fazer-se se o Estado pagar subsídios, a
diferença entre o preço de mercado e o preço de venda ao público — aí não há razão
para que deixe de se fornecer os bens, pois recebem a diferença do Estado.
Agora, querer transferir para o setor privado um encargo que não é do setor
privado não é uma boa ideia.
É preciso cuidado com a fixação dos preços dos bens. E quem diz dos bens, diz
dos fatores de produção…
— Politica financeira:
• Impostos sucessórios;
Os impostos progressivos retiram uma parcela maior a quem mais tem, portanto,
nessa medida contribuem para diminuir a desigualdade
O impostos regressivos incidem mais sobre os que têm menos, logo, estes não
corrigem as desigualdades. Há impostos regressivos, como os impostos sobre o
consumo: Já tinhamos visto que quanto maior o rendimento, menor é a propensão média
ao consumo. Assim, as pessoas que têm menos são tributados em consumo com 100%,
86
uma pessoa abastada apenas o são em 40%, por exemplo — Quem tem mais não gasta
tanto e o imposto, incidindo sobre o consumo, penaliza mais os que têm menos.
Característica destes impostos indiretos, é que são relativamente indolores, as pessoas
sentem menos quando pagam uma coisa qualquer, já não prestam atenção aos 23% do
IVA, pois já está no preço.
Curva de Laffer
O problema é que há cada vez menos pessoas a pagar e cada vez mais pessoas
a receber, há um problema de sustentabilidade da segurança social, porque a pirâmide
demográfica e a retração do nº de nascimentos faz com que no futuro sejam muitos mais
a receber e muitos menos a trabalhar.
88
As pessoas que estão na fase não ativa vão ter menos rendimentos, se as
pensões forem reduzidas, como estão a ser e as pessoas tiverem uma expectativa de
vida alargada, tendo esgotado as duas poupanças ficarão numa situação menos
tranquila, o que contribuirá para o aumento da desigualdade.
É ainda pertinente acrescentar que a segurança social foi uma forma de evitar a
penúria da velhice. Nas sociedades asiáticas as famílias estão encarregues de tomar
conta dos mais velhos, eles ficam integrados nas grandes famílias, um conceito que,
hoje, no Ocidente, não existe.
O que é curioso é que, como as pessoas de rendimentos mais baixos têm uma
esperança media de vida menor, estatisticamente, acabam por ser as pessoas com mais
rendimentos que beneficiam da segurança social, ou seja, aqui, a desigualdade é em
termos de esperança média de vida.
Contabilidade nacional
— Circuito económico
Até 1628, pelo menos – o ano da publicação do livro de William Harvey sobre a
circulação sanguínea (considerada uma das grandes descobertas da medicina) – os
médicos acreditavam que o sangue era continuamente produzido no fígado, a partir dos
alimentos digeridos, e a partir daí circulava pelas veias para alimentar os pulmões ou os
tecidos, que o absorviam; e que parte desse sangue passava para o ventrículo esquerdo
do coração, onde se misturava com a “pneuma”, uma substância espiritual que era
captada pelos pulmões e que era depois distribuída pelas artérias por todo o corpo. Em
qualquer dos casos, a convicção era a de que o sangue tinha no fígado a nascente e era
distribuído centrifugamente por um sistema de canais (veias e artérias) para os órgãos e
tecidos que o absorviam, tornando necessária a renovação contínua da sua produção.
A circulação dos bens e dos rendimentos no corpo social foi introduzida na Economia
por François Quesnay, um dos Fisiocratas – e, não por acaso, médico.
• Famílias;
• Empresas;
• Estado;
• Exterior;
• Capital.
Se abstrairmos, para já, das relações desta economia simplificada com o Exterior
e com o sector financeiro, essas abstracções permitem estabelecer fluxos entre os
referidos agregados:
Como se viu, porém, as relações entre os agregados funcionais considerados são mais
diversificadas:
- das Empresas para as Famílias há um fluxo real (a cedência dos bens e serviços
produzidos), compensado por um contra-fluxo monetário das Famílias para as Empresas
(despesas de consumo);
- a taxa marginal de substituição no consumo desses bens (ou seja, a relação de troca
estabelecida no mercado – tal que, se o preço do bem X é, por exemplo, o dobro do
preço do bem Y os consumidores estão dispostos a trocar uma unidade de X por duas
unidades de Y – ou vice-versa);
- a taxa marginal de transformação na produção desses bens (ou seja, a relação técnica
de utilização de factores em ambas as linhas de produção – tal que, se o preço do bem X
é, por exemplo, o dobro do preço do bem Y os produtores estão dispostos a produzir
uma unidade de X sacrificando duas unidades de Y – ou vice-versa).
Para evitar duplas contagens, só se atende aos bens finais, uma vez que estes
incorporam no seu valor o valor dos bens intermediários e das matérias-primas
necessários à sua produção. Uma tal soma, porém, fica simultaneamente acima e abaixo
do valor da Produção obtida nesse período.
Fazendo essas (duas) deduções e essas (duas) adições , obtemos o valor básico
da actividade económica – uma “categoria totémica”. Não é o valor mais exato, nem o
mais significativo, mas é o mais usado.
Para se passar de uma grandeza Interna para uma grandeza Nacional, tem de se
afinar a participação na Produção de entidades residentes e não-residentes. A primeira
aproximação ao valor do Produto somou o valor dos bens e serviços gerados
internamente. Porém, parte dessa Produção foi obtida com factores de produção (terra,
trabalho, capital, iniciativa) fornecidos por não-residentes. O valor correspondente à
remuneração desses factores será, portanto, transferida para o Exterior. Trata-se de
Produto Interno, mas não Nacional.
Para se evitar outra dupla contagem, tem de se passar de uma grandeza Bruta
(seja ela de Produto Interno ou de Produto Nacional) para uma grandeza Líquida. Isto
porque o valor dos bens finais (e dos bens intermediários que foram exportados ou
chegaram ao fim do período como tais), que se somaram para obter o PIB, já inclui (a
amortização d)o valor dos bens de produção que foram usados para os produzir. As
quotas de amortização – que são calculadas em todos os processos produtivos para
compensar o desgaste do capital fixo (até porque são fiscalmente dedutíveis) – servem
justamente para compensar o consumo de capital fixo, ou seja, para registar a
transferência para os bens produzidos do custo desse capital.
Em qualquer caso, as Famílias não têm ao seu dispor apenas os rendimentos que
são distribuídos na Produção (Nacional): há transferências secundárias de rendimento –
ie: valores que lhes são atribuídos por razões diversas da sua participação na produção –
que se somam aos anteriores (vg, remessas de emigrantes, bolsas de estudo, donativos
internacionais de ajuda, juros de empréstimos públicos , ...). Em contrapartida, as
Famílias também transferem rendimentos para (outras Famílias n)o Exterior (remessas de
imigrantes). Só apuradas estas correcções – para mais e para menos, respectivamente –
teríamos um valor correspondente ao Rendimento pessoal das Famílias.
Como explica o INE, “A procura global é satisfeita com a oferta interna (o PIB) e
com a oferta externa, as importações. Em consequência, para obter o PIB na ótica da
despesa basta subtrair as importações à procura global.”
Também se pode somar o consumo privado (das Famílias) (C), o investimento (I), o
consumo público (G) e o saldo entre exportações (X) e importações (M). A fórmula C + I +
G + (X- M) apareceu pela primeira vez num artigo de Keynes (How to pay for the War)
publicado em 1940 e está na base dos processos de construção da moderna
Contabilidade Nacional.
Hoje falaremos das razões pelas quais, no período pós 2ª GM, se difundiram
internacionalmente os sistemas de contabilidade para registar as variações da atividade
económica dos países.
• Uma que era aquela que mais interessava o Simon Kuznets — já falámos do Simon
Kuznets por 2 vezes, a propósito da curva de kuznets e a propósito dos ciclos de
kuznets, este era um economista russo que se naturalizou norte-americano e que foi o
pioneiro da contabilidade nacional nos Estados Unidos — e qual era a preocupação do
Kuznets?
— Medir o bem-estar de uma população. Portanto, aquilo que ele queria era, a
partir dos dados estatísticos que estavam disponíveis, conseguir inferir, de alguma
forma, qual é que era o nível de bem-estar das populações, para poder, por um
lado, acompanhar as variações ao longo do tempo, por outro lado, para fazer
comparações internacionais e, portanto, a preocupação dele era uma
preocupação de registar “as experiências satisfatórias”.
O contexto da época não era bem esse, o contexto da época e a preocupação,
aliás, de Keynes, (que era consultor do Tesouro britânico e, nessa qualidade,
esteve muito mais envolvido na preparação dos sistemas de contabilidade
nacional durante muito tempo) era saber quais é que eram a as necessidades de
funcionamento da economia e o potencial da economia, para, afinal de contas,
poder planear o esforço de guerra e, portanto, a preocupação do Keynes não era
bem a de perceber a partir dos dados da contabilidade nacional onde é que
estava o o bem-estar das populações, havia uma situação de guerra e a
preocupação do Keynes era a como é que nós podemos saber quais são os
recursos que é possível mobilizar para o esforço de guerra.
Portanto, estas ópticas que são um bocadinho distintas, para dizer o menos,
destas ópticas acabou por resultar o sistema de contabilidade nacional, que por
um lado foi adotado pelas Nações Unidas, imediatamente no pós guerra, e,
depois, deu origem aos sistemas de contabilidade nacional, que os vários países
foram adotando, em grande medida apoiando-se e inspirando-se nesses trabalhos
Internacionais.
Porque é que, então, aqueles dados que nós estivemos a ver como é que se
podiam apurar segundo as 3 diferentes óticas da produção, do rendimento e da
despesa, porque é que esses dados não são fiáveis ou indicadores do bem-estar
das comunidades?
98
Embora, supostamente, a tal importância que é dada às variações do PIB até dá
a impressão que sim, quer dizer até dá a impressão que a felicidade dos povos
depende do crescimento do PIB — não é bem assim
Porque é que os dados da contabilidade nacional não servem para nós tirarmos ilações
quanto ao nível de bem-estar das sociedades?
• Aquilo que aparece refletido nos dados da contabilidade nacional, seja na ótica do
rendimento, da despesa ou da produção, é aquilo que tem um valor de mercado, ou
seja, aquilo que é transacionado no mercado.
Acontece que há muitas coisas que contribuem para a felicidade humana e que não
têm preço. Pior ainda, se nós tivermos um rio com águas cristalinas e bosques
frondosos a rodeá-lo, isso não conta para nada para o produto interno bruto, mas se
o rio estiver poluído e for necessário limpá-lo, for necessário adotar medidas para
minorar o os danos causados à natureza, isso conta para o PIB. Os bosques
frondosos, as florestas não contam para o PIB, a menos que sejam cortados, porque
se forem cortados, aí, são vendidos e a venda da Madeira, os custos incorridos no
seu corte fazem circular dinheiro pela economia, portanto, isso contribui para
aumentar o PIB
Portanto, aquilo que o produto interno bruto regista, (quem diz o produto interno
bruto, diz o rendimento, porque quando se produz distribui-se rendimento e, portanto,
pela óptica do rendimento íamos lá na mesma, se estivermos a falar de a ótica da
despesa vamos lá na mesma ,temos investimentos, temos gastos do Estado) podem
ser situações que são de correção de anomalias, que são afinal de gastos que
eventualmente seriam escusados, e contribuem para o aumento do PIB.
• Depois repare-se que há uma uma quantidade de atividades, que podem ou não ser
contabilizadas no produto interno bruto.
Dantes dizia o professor Teixeira Ribeiro que quando é um homem casava com a
cozinheira diminuía o PIB, porque ela desempenhava algumas tarefas, era paga por
isso, quando o homem casava com a senhora e deixava de lhe pagar, o PIB diminuía,
na medida do contributo dessa despesa, que antes era feita e que tinha deixado de
ser.
Agora podemos dizer que nós aumentamos o PIB quando pomos os nossos filhos
nas creches, em vez de os termos em casa, ou quando pomos os nossos pais num
lar, em vez de os termos em casa. Estamos, com isso, a aumentar o PIB. Será que,
com isto, melhora a qualidade de vida das pessoas?
Há umas teses feministas que dizem que é para não valorizar o trabalho das
Mulheres, porque, por exemplo, as pessoas podem viver numa casa arrendada, e se
viverem numa casa arrendada, pagam uma renda e isso aparece no PIB, mas se viverem
numa casa própria, também aparece no PIB, porque os sistemas de contabilidade
dispõem de formas de cálculo, de maneira a imputarem a renda que as pessoas teriam
que pagar se vivessem numa casa alheia, imputá-las ao rendimento que as pessoas
auferem seu no seu todo.
Portanto, havia maneiras de fazer considerar esta parcela, que é absolutamente
significativa no PIB, mas não, o consenso, a convenção é de que isso não conta, ao
contrário, por exemplo, da utilização de bens próprios para habitação.
Portanto, num caso considerou-se que tinha que haver uma maneira de reportar
estatisticamente isso para fazer refletir esses dados nos dados contabilidade nacional,
noutros casos entendeu-se que não — são convenções e as convenções, de tempos a
tempos, mudam.
Outro exemplo: o PIB da Grécia num determinado momento, subiu 25%, porque
decidiram incorporar no valor da contabilidade nacional, o valor da economia informal,
portanto, a economia informal é aquela que passa à margem daquilo que é pagamento
de impostos, registos e também, evidentemente, o valor da economia clandestina, do da
economia do crime e como eles decidiram contabilizar aquilo no produto interno, então,
houve um aumento de 25%, que era o valor calculado para essa economia sombra.
Outro exemplo:
Imagine-se que 2 países, até com a mesma dimensão, (porque se forem com
dimensões diferentes é claro que isso muda tudo) se num deles se obtiver um
determinado valor de produção interna ou despesa ou rendimento igual ao do outro, mas
com 35 horas de trabalho, 30 dias de férias por ano e sem custos excessivos de
mobilidade, isso, no outro país que tem aproximadamente a mesma dimensão e tem o
mesmo produto interno bruto, mas se trabalham 50 horas por semana, há 2 semanas de
férias apenas por ano e as pessoas ,para chegarem ao emprego, têm que demorar 3
horas na comutação, é claro que o valor do PIB é igual para ambos, mas podemos inferir
que a satisfação social nas 2 economias é muito diferente.
Portanto, o mesmo rendimento per capita não é uma medida relevante para
fazer as comparações.
Portanto, para nós podermos fazer uma comparação com mais sentido,
reduzimos isso à per capitação — dividimos o valor da produção total pelo número de
habitantes de um determinado país, para termos uma forma de corrigir as diferentes
dimensões.
Esta per capitação é ideal, é suposto ser uma divisão equitativa entre todos, mas
mais uma vez, 2 países com iguais rendimentos per capita podem ter valores de nível
bem-estar completamente diferentes, se houver uma desigualdade brutal na distribuição
da riqueza.
Aqui há 2 ou 3 anos, os países que tinham maior rendimento per capita eram
Macau e a Suíça, apareciam com rendimentos per capita aproximados. Quer isso dizer
que o nível de vida na Suíça e Macau eram semelhantes?
O Kuznets tinha querido que estes dados servissem para que se pudessem fazer
comparações sobre a qualidade de vida, o bem-estar das populações, afinal de contas,
há uma certa lógica em que as economias mais ricas tenham melhor qualidade de vida,
havia a ideia de que, de certa forma, a riqueza não não compra a felicidade, mas é
melhor ser rico que ser pobre, tudo ponderado.
Agora, os dados da contabilidade nacional não servem, são demasiado
desajustados para permitir que se façam ilações sobre a qualidade de vida, a partir
desses dados.
Desde 2007, com o presidente Sarkozy, que reuniu o comitê para proporem
alternativas à medição da atividade económica e não só da atividade económica, daquilo
que se pretende seja o bem estar das sociedades europeias e desde 2007 que a união
europeia anda a enrolar, voltaram a ser produzidos documentos em 2009, em 2011, em
102
2013 e, em 2019, a presidência finlandesa quis introduzir na agenda europeia a criação
de um sistema alternativo de contabilidade, que permitisse aferir aquilo que, na altura, já
era designado como o wellbeing, a satisfação social e, mais uma vez, a coisa morreu lá
nos corredores de Bruxelas.
Onde é que não morreu? — Na Nova Zelândia, que, em 2019, aprovou o primeiro
orçamento baseado em indicadores de bem-estar e, portanto, em vez de estar tão
preocupada assim com o crescimento do PIB, o que a Nova Zelândia quer fazer é ver
como é que se faz crescer o bem-estar das populações, portanto, já em 2019 foi feito o
primeiro orçamento lá.
Agora, parece que, finalmente, a União Europeia também percebeu que tinha que
fazer alguma coisa, porque os tempos estão difíceis, as pessoas estão insatisfeitas e,
quando as pessoas estão insatisfeitas, aquele “castelo” pode correr o risco de
desmoronar. Assim, talvez seja altura de começar a pôr em prática algumas coisas que
apaziguem as massas.
Foi realizada a cimeira social no Porto, de onde saiu um plano de ação, para o
pilares social da união europeia e o pilar social da união europeia tem um compromisso
de um plano de ação com 3 pontos para realizar, até 2025. Um deles é atingir uma taxa
de emprego de 72%, portanto, garantir que as pessoas entre os 20 e os 64 anos estão,
em 72%, no mercado de trabalho e, na mesma faixa etária, devia haver 60% dos
trabalhadores a fazerem ações de formação por ano, 60% é mais de metade da força de
trabalho a fazer formação, em cada ano, na lógica de que as qualificações permitem que
as pessoas se ajustem às mudanças e as mudanças estão aí e vão ser brutais. E,
finalmente, retirar 15M de pessoas da pobreza, entre os quais 5M de crianças, e as
estimativas são que, a nível da união europeia, haja 91M de pessoas em risco de
pobreza, portanto, tirar 15M, até 2025, é um objetivo que se considerou que era atingível.
A importância disto é que todos os países membros da UE têm que enviar para
Bruxelas os seus orçamentos, para que haja uma avaliação daquilo que é o cenário
macroeconómico da condução das políticas de cada um dos Estados. Portanto, os
países têm que se sujeitar a indicações, críticas, recomendações de Bruxelas, em relação
àquilo que pretendem fazer. Já é assim há uns anos, desde o Pacto de estabilidade e
crescimento.
O que Cimeira social do Porto trouxe de novo é que aquelas medidas que
referidas passam a ser também incluídas na avaliação de Bruxelas, no semestre europeu,
ou seja, os países agora já não podem deixar de adotar medidas, não apenas
económicas, mas também sociais, estão obrigados a adotar medidas que permitam a
realização destes objetivos, até 2020, o que é um começo, pode ser que atrás disto
venha a tal alternativa à avaliação daquilo que é a política dos Estados, política
económica dos Estados, reduzida à lógica do crescimento da produção.
O valor do dinheiro não é o mesmo em toda a parte, porque os níveis de vida são
diferentes, quando há diferentes níveis de vida há diferentes sistemas de preços, o que
quer dizer que quando nós comparamos internacionalmente os rendimentos per capita,
não estamos a ver o poder de compra desse valor de dólares, que é completamente
diferente na Noruega e no Burkina Faso, ou em Timor.
Se nós considerarmos o poder de compra dos dólares, que são afinal de contas
a moeda que nos serve para fazer as comparações internacionais, em vez de termos
Estados Unidos, China, Japão, Alemanha, temos China, em primeiro lugar,
destacadíssimo, Estados Unidos a seguir, Índia em terceiro e, em quarto lugar, o Japão e
a Alemanha.
Comércio internacional
Uma das inovações trazidas pela obras de Adam Smith, que é considerado o
fundador da ciência económica, foi a ideia de que era errado produzir algo que pudesse
ser comprado mais barato. Tal como as pessoas na sua vida quotidiana não procuram
produzir tudo para não gastarem dinheiro, também nos Estados não deviam dificultar o
comércio internacional com o pretexto de que, assim, não exportariam metais precisos.
Evidentemente que uma das formas de travar essa saída de metais preciosos era
dificultar as importações, mas dificultando-se as importações, tem de se produzir
internamente. O que acontece é que, como dizia Smith, as pessoas não procuram
pescar, caçar, plantar trigo, (…), aquilo que procuram fazer é especializar-se naquilo que
fazem bem, desejavelmente, até se devem especializar naquilo que fazem melhor e,
depois, através da venda dos bens ou serviços assim produzidos, adquirir os meios para
comprar aquilo que lhes falta — isso é uma solução melhor do que tentar poupar dinheiro
através da autoprodução de tudo.
(Adam Smith, como os clássicos, acreditava que a única forma de criar valor era através
do trabalho - teoria do valor do trabalho)
• Supõe-se que o país 1 gasta 20h de trabalho a produzir 1 unidade do bem A e gasta 50
a produzir uma unidade do bem B;
• Supõe-se que o país 2 gasta, para produzir uma unidade de A, 80h de trabalho e o país
B gasta 60h de trabalho.
Pela mera reafetação dos recursos, nós passamos a ter uma situação em que a
produção aumenta, neste exemplo, 50%.
É claro que isto só é possível se houver comércio internacional, isto é, desde que
o país 1, que só produz A, consiga trocar uma parte daquilo que produz com o país 2,
que só produz o bem B — é do interesse de ambos recorrerem ao comércio internacional
depois de se terem especializado.
Este é um exemplo fácil, porque cada um dos países tem vantagem num bem
diferente, o país 1 no bem A e o país 2 no bem B.
106
Agora, o que é que aconteceria se houvesse um país que tivesse vantagem nos dois
bens?
Portanto, se seguirmos à letra aquela ideia de que ninguém quer produzir aquilo
que compra mais barato, então, o país 1 devia produzir tudo porque não consegue
comprar mais barato.
Quando temos situações em que um país tem vantagem absoluta nos 2 bens, será
que se justifica o comércio? Faz sentido que um país deixe de produzir um bem que
consegue produzir melhor que o outro, para passar a comprar esse bem?
Admitindo que o país 1 utiliza as suas 70h para produzir o bem A — 3,5 unidades
O país 2 vai se especializar no outro bem — se ele afetar as 140h que utilizava
para produzir os 2 bens, para produzir só B, consegue produzir 2 unidades e 1/3. Quer
dizer que se o país 2 utilizar o seu stock de horas de trabalho para produzir só um dos
bens, ele vai produzir 2.3.
! Cada país especializa ou naquilo em que é mais mais eficiente do que o outro, e o
outro país vai ter vantagem relativa naquele bem em que é menos menos eficiente, pois
ele é menos eficiente nos dois bens, mas há um dos dois bens em que ele é menos
menos eficiente do que no outro.
David Ricardo vem dizer que a vantagem absoluta é apenas um caso especial de
um argumento a favor do comércio internacional que é mais amplo.
— Um país tem sempre vantagem comparativa, quer tenha maior vantagem absoluta,
quer tenha menor desvantagem absoluta.
— Há apenas 1 situação em que um país não tem vantagem comparativa, que é quando
a desvantagem absoluta deste país é igual nos dois bens.
108
Agora, o facto de sabermos que o conjunto dos dois países ganha, porque
aumenta a produção global, não quer dizer que ambos ganhem, pode acontecer que um
país fique com os ganhos todos para ele. Como é que isto pode acontecer?
1 B = 2.5 A
Pode acontecer que a procura do bem A seja tal que, comparado com as
unidades do bem B, perde valor.
O país 2, que tinha desvantagem absoluta nos 2 bens, agora, acaba como?
— Ele produziu 2.3 unidades do bem B, trocou uma unidade do bem B por 2.5 do
bem A, ficando, assim, com 2.5 de A e 1.3 de B.
O país 1 era melhor do que o país 2 nos dois bens, especializou-se segundo o seu
padrão de vantagem comparativa, mas acabou por ficar na mesma situação em que
estava antes.
Exemplo:
— Tratado de Methuen:
Conclusões:
Imaginemos que os ingleses que agora saíram da UE e que por enquanto aplicam
um regime de comércio livre com a UE decidem passar a cobrar impostos alfandegários
sobre a importação de certos bens e um dos bens que decidem passar a tributar é o
vinho do Porto. Imaginemos que com 20% de imposto há uma perda de procura inglesa
de 50% - quer isto dizer que a procura é elástica (se a variação relativa das quantidades
for superior à quantidade relativa dos preços então temos uma procura elástica).
110
Argumento dos termos de troca — Quando a procura interna é elástica e quando a oferta
do país exportador é rígida e se houver ameaça de perder uma quota de mercado
superior àquela que é a variação do preço induzida pela aplicação do direito aduaneiro,
mais vale que o exportador pague esse direito aduaneiro.
Este argumento diz que é possível que um país seja menos eficiente que outro,
mas isso é porque está em fases embrionárias do seu processo de desenvolvimento
industrial. Se este país tiver tempo, ele vai se tornar muito eficiente.
Se não tiver tempo, os países que estão mais avançados fazem chegar os
produtos ao mercado e rebentam com a capacidade produtiva de uma indústria que está
na sua infância.
Para que haja um argumento das indústrias nascentes, é necessário que esta
proteção conferida à indústria, isto é, a travagem de importação de produtos produzidos
por empresas concorrentes dela situadas no estrangeiro e que estão mais avançadas no
processo de desenvolvimento industrial, seja temporário.
Se não for temporário não é uma indústria nascente. Se esta indústria tiver que ser
sempre protegida é porque não é uma indústria nascente. Só tem proteção enquanto
tiver numa fase embrionária.
- Teste de Bastable:
- Teste de Kent:
— Diz este teste que só justifica a intervenção pública quando houver alguma
externelidade, isto é, quando houver alguma situação que impeça que a iniciativa
privada, por si, consiga ultrapassar este desfasamento entre custos e benefícios.
Imaginemos que o que é crucial é o fator trabalho e é preciso anos de prática para
que as pessoas atinjam esse patamar. Um empresário não vai investir nesta indústria,
porque ele corre o risco que no fim desses 10 anos quando formou o trabalhador
apareça outra empresa e lhe atraia o trabalhador que ele formou — sofrer os custos e
depois não vir a beneficiar daquilo que seriam os ganhos - risco.
(fim do parênteses)
112
Ex: A China tem mais trabalho, a Índia mais trabalho, os EUA mais capital, a Suíça mais
capital...
Onde é que faz sentido produzir bens que utilizam intensivamente o fator trabalho?
Nas economias que têm abundância de fator trabalho. Se houver muito trabalho, o
preço do trabalho é mais baixo. Se há pouco capital, o preço do capital é mais alto.
A China tem abundância de mão de obra, logo, quando se quer produzir alguma
coisa que precise de muita mão de obra vai se produzir para a China. Logo, há uma
parcela crescente da mão obra chinesa que começa a estar empregada na produção de
um conjunto de bens.
Como o processo continua, há cada vez mais trabalho que na China está a ser
incorporado em processos de fabrico de bens que utilizam intensivamente o fator
trabalho. Quer dizer que vai ficando menos trabalho disponível, porque cada vez o
trabalho vai ser absorvido por mais unidades de produção que utilizam intensivamente o
fator trabalho — quer dizer que o preço do trabalho vai subir.
Se o capital é abundante, o preço é mais baixo. Mais e mais capital está a ser
absorvido em processos de produção que utilizam intensivamente o fator capital. Como
vai sobrando cada vez menos capital, o preço do mesmo vai subindo.
Primeiro pensou que poderia ser uma anomalia. Depois pensou-se que havia um
problema de agregação de fatores, isto é, que aquilo que se regista nas importações e
exportações de bens são os grandes setores de bens que são exportados.
Exemplo:
Pode haver disparidades dentro de cada categoria de bens, que explica que, no
fundo, o padrão de importações e exportações está certo, a classificação dos bens que
são contados é que está mal.
Uma variante a esta explicação tem a ver com os processos produtivos que são
utilizados:
Há uma outra explicação possível que tem a ver com a possibilidade dos EUA, afinal, ter
mais trabalho do que aquilo que se julga, porque cada trabalhador americano vale 4 ou 5
dos outros países.
Exemplo:
Aquilo que 1 trabalhador norte americano conseguia fazer numa hora equivalia
àquilo que 4 ou 5 faziam num dia.
Os países onde há mais abundância de mão obra têm tendência para gostar de
coisas que têm uma grande incorporação de mão de obra.
Exemplo:
Nas economias com alta componente de capital gosta-se de gadgets (p.e.: nos EUA
quase toda a gente usa escovas elétricas).
O que sobra para exportação são o que eles gostam menos (no caso dos EUA
eles exportam trabalho e importam o que eles gostam, ou seja, capital).
Outra explicação: Nos países em que há abundância do fator trabalho, não é necessário
proteger com direitos aduaneiros, ou outras formas de travagem das importações, os
produtos concorrentes que utilizem intensivamente no trabalho.
Exemplo:
Como o capital é caro na Índia, então, os bens que são produzidos com o fator
capital são mais caros. Como são mais caros, é preciso haver uma compensação para
evitar que a importação de bens de capital intensivo que venham de outros sítios afastem
esses bens do mercado interno indiano.
Se a proteção funcionar, a Índia não vai importar bens de capital intensivo, porque
ficaram “parados na alfândega". Os bens não vão para lá porque os direitos aduaneiros
não o permitem. Estes direitos aduaneiros deixam entrar os bens de trabalho intensivo,
porque a abundância que existe lá é suficiente para garantir a competitividade
115
Para haver comércio internacional tem que haver uma certa sobreposição de
procura.