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Fenótipos multifatoriais

INTRODUÇÃO menor grau. Considerando que nesse caso o fenótipo é


quantificável, existe uma grande variabilidade dentro do
Os distúrbios de herança multifatorial ou complexa resultam da espectro, sendo os fenótipos intermediários mais frequentes
interação entre mutações genéticas em vários loci e fatores que os fenótipos extremos.
ambientais. Esses fenótipos apresentam prevalência de 600 a  Dentro da herança quantitativa, os genes possuem pequeno
cada 1.000 indivíduos, sendo responsáveis por cerca de 25 a efeito para determinado caráter. Os alelos, portanto,
30% da mortalidade infantil, por até 50% das internações suplementam uns aos outros, implicando no aumento ou na
pediátricas e pela maior parte dos problemas de saúde pública redução da suscetibilidade a uma variável mensurável.
à nível global.
 Exemplos: cor da pele, estatura, peso, PC, inteligência.
CARACTERÍSTICAS  Os fenótipos poligênicos quantitativos podem ser distribuídos
• O componente genético dos fenótipos multifatoriais envolve ao longo de uma curva de Gauss (= curva de distribuição
dois ou mais loci cujos efeitos são aditivos ou substrativos normal), com ascendentes e descendentes em igual
(= genes de suscetibilidade). Já o componente ambiental proporção e um valor médio. A maioria dos valores se localiza
envolve fatores que iniciam, aceleram ou exacerbam o em torno da média, e observa-se decaimentos simétricos de
distúrbio (= fatores desencadeantes). frequência para os dois lados.
• Os fenótipos multifatoriais não seguem os padrões de
herança mendeliana simples. Nesse tipo de etiologia, não
existe a relação de dominância e recessividade entre os genes,
e sim uma ação conjunta, de maneira que seus efeitos
aumentam a suscetibilidade ou protegem o indivíduo,
determinando assim o fenótipo final.
• A participação de múltiplos genes determina uma grande
variabilidade fenotípica relacionada a esses distúrbios,
sendo o número de fenótipos proporcional ao número de
alelos envolvidos.

B) Qualitativa
 A herança poligênica qualitativa pode ser definida como
aquela na qual os genes de suscetibilidade herdados se
• Os principais fatores de risco para distúrbios multifatoriais
combinam com influências ambientais, mas só há
são: história familial positiva, exposições ambientais,
expressão do fenótipo caso o limiar seja ultrapassado (=
consanguinidade parental e origem étnico-geográfica.
conceito de tudo ou nada – a pessoa tem ou não tem o
• Exemplos de fenótipos multifatoriais: câncer, DM II, HAS, fenótipo).
obesidade, distúrbios psiquiátricos, doença de Alzheimer,
 Dentro da herança qualitativa pode haver níveis de gravidade,
características físicas (cor dos olhos, cor da pele, estatura,
sendo isso explicado pelo fato de que uma vez se ultrapasse
peso, PC), atopia, defeitos de fechamento do tubo neural,
o limiar, a gravidade do fenótipo é proporcional à
deficiência intelectual, cardiopatias congênitas,
suscetibilidade do indivíduo.
coronariopatias, epilepsia, fendas labiopalatinas, estenose
congênita do piloro, etc.  Exemplos: fenda labiopalatina, defeitos de fechamento do
tubo neural (anencefalia, espinha bífida, mielomeningocele,
TIPOS DE HERANÇA MULTIFATORIAL mielocele, raquisquise) e estenose do piloro.
 Os fenótipos multifatoriais qualitativos podem ser explicados
A herança multifatorial pode ser de dois tipos quantitativa
por meio do modelo do limiar multifatorial, o qual
(variação contínua) ou qualitativa (variação descontínua).
estabelece uma nítida diferença entre o que é “normal” e o
A) Quantitativa que é afetado. O limiar é determinado pelo valor de
 A herança poligênica quantitativa pode ser definida como suscetibilidade genética (ou de propensão), o qual se trata de
aquela na qual se herda uma potencialidade quantitativa um valor teórico que interage com os fatores ambientais.
(predisposição genética) que será desenvolvida em maior ou destacar que o limiar
Bruna Larissa → MED 52 UNCISAL
menor grau.
genéticos envolvidos; e quanto menor a taxa de
herdabilidade (quanto mais próxima de 0), maior a
influência dos fatores ambientais.

Atenção: Lembrando que a taxa de concordância entre os


gêmeos monozigóticos é sempre maior que nos gêmeos
dizigóticos (MZ > DZ), mas esse valor nunca chegará a 100%
no contexto dos distúrbios multifatoriais, pois nesse caso
 Vale destacar que o limiar pode ser influenciado por fatores existe alguma influência dos fatores ambientais.
que incluem o sexo, o grupo étnico-geográfico e o grau de
parentesco com indivíduos afetados; o que por sua vez se Nos dias atuais, os objetivos e as perspectivas da pesquisa na
relaciona com a incidência do distúrbio em questão área dos distúrbios multifatoriais se concentram em aspectos
→ exemplo: Nas fendas labiopalatinas e na estenose do piloro, que incluem a identificação dos genes envolvidos; a
o limiar é menor para o sexo masculino (mais homens compreensão das interações gene-gene e gene-ambiente; e a
acometidos); enquanto que nas fendas palatinas e nos proposição de medidas de prevenção e tratamento à nível
defeitos de fechamento do tubo neural, o limiar é menor para populacional e individual.
o sexo feminino (mais mulheres acometidas). *Um exemplo de medida à nível populacional instituída para a
prevenção de distúrbios multifatoriais foi a introdução do ácido
COMO SUSPEITAR
fólico na farinha de trigo, visando a prevenção de distúrbios do
A suspeita de um distúrbio de origem multifatorial se baseia em fechamento do tubo neural e a fenda labiopalatina.
dois pontos principais:
(1) História familial positiva na ausência de identificação de
padrão de herança monogênica – não há padrão definido no
heredograma, mas percebe-se recorrência familiar do
fenótipo em questão.
(2) Quadro clínico não-polimalformativo – os distúrbios
multifatoriais em geral se distinguem dos distúrbios de origem
cromossômica por não abrangerem múltiplas malformações
(ex: fenda labiopalatina isolada).

Observação: O risco de recorrência de um fenótipo


multifatorial é diretamente proporcional aos seguintes fatores:
grau de parentesco, número de indivíduos afetados, gravidade
do fenótipo, probando do sexo menos comumente afetado e
consanguinidade.

INFLUÊNCIA GENÉTICA X AMBIENTAL


A avaliação das contribuições relativas dos genes e do
ambiente no contexto dos distúrbios multifatoriais pode ser feita
com base no estudo de concordância entre gêmeos. Quanto a
isso, tem-se que:
✓ Se ambos os indivíduos de um par de gêmeos compartilham
a mesma característica, trata-se de um par concordante. Caso
ocorra o contrário, trata-se de um par discordante.
✓ Os gêmeos monozigóticos permitem a avaliação da
concordância em indivíduos com genótipos idênticos que
podem ou não ser criados juntos no mesmo ambiente;
enquanto que os gêmeos dizigóticos que são criados juntos
permitem a avaliação da concordância em indivíduos que
crescem em ambientes similares, mas não compartilham todos
os seus genes.
✓ A mensuração populacional das taxas de concordância entre
gêmeos permitiu que se chegasse à fórmula de
herdabilidade, que é capaz de quantificar a contribuição
genética na determinação dos fenótipos multifatoriais. Nesse
sentido, quanto maior a taxa de herdabilidade (quanto mais
próxima de 1), maior a influência dos componentes
genéticos envolvidos). Já quanto mais próxima de 0, maior a Bruna Larissa → MED 52 UNCISAL
influência dos fatores ambientais.

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