EXERCÍCIOS IV: Herança poligênica e multifatorial, Genética do Câncer, Imunogenética e Noções
de Genética de Populações. Questão 1: Explique de que forma é possível obter uma variação contínua de fenótipos, variando entre duas formas extremas (o mais alto e o mais baixo, o mais escuro e o mais claro...) em uma herança poligênica. Resposta: Isto ocorre porque os vários alelos dos poligenes contribuem de forma aditiva para a manifestação do fenótipo. Dependendo de quantos genes dominantes ou + o indivíduo tiver, ele acrescenta algumas unidades a mais daquela característica na manifestação de seu fenótipo. Questão 2: Considerando a herança de cor da pele, como é possível nascer um descendente com um tom de pele mais escuro em comparação com seus pais? Resposta: Devido a quantidade de alelos dominantes ou + para a cor da pele que, aleatoriamente, cada um dos genitores repassou para este descendente em seus gametas (óvulo e espermatozóide). Se o somatório de alelos que contribuem para a manifestação de cor da pele forem maiores no descendente do que em qualquer um dos parentais, este filho vai manifestar o fenótipo de cor da pele mais escura. Questão 3: Sempre, na herança poligênica, os vários alelos de todos o genes envolvidos contribuem de forma equivalente na manifestação do fenótipo? Exemplifique. Resposta: Não. A cor do olho é um exemplo de herança poligênica em que há um gene (HERC2 – OCA2) cuja mutação está fortemente associada com a manifestação de olho azul ou castanho, ou seja, há um gene com efeito maior sobre a cor do olho. Os demais genes contribuem para que o tom de cor seja mais claro ou mais escuro. Questão 4: Porque o conceito de herdabilidade não se aplica a herança poligênica? Resposta: Porque a herdabilidade refere-se ao cálculo do quando uma característica/doença multifatorial é devido a fatores exclusivamente genéticos, não ambientais. A herdabilidade é calculada para doenças multifatoriais porque nunca será 100%. Caso o valor de herdabilidade seja 100%, a característica deixa de ser multifatorial e torna-se apenas de efeito genético. A herdabilidade de doenças que são apenas poligênicas (não multifatoriais) não precisa ser calculada porque é sempre 100%, não efeito ambiental. Questão 5: Explique o objetivo do cálculo de agregação familiar e porque ele não pode ser confundido com herdabilidade. Resposta: A agregação familiar tem o objetivo de investigar se a recorrência de uma determinada doença multifatorial em uma família é ao acaso (coincidentemente dois ou três indivíduos foram afetados) ou se realmente a doença está se manifestando como uma herança multifatorial. Se for constatada a ocorrência de agregação familiar nas famílias dos indivíduos afetados, é possível afirmar que estes indivíduos estão compartilhando genes e hábitos (ou seja, fatores genéticos e ambientais) que estão causando a ocorrência da doença. Não há como estimar o quanto a agregação familiar é devido à genética ou ao ambiente, por isso não se pode empregar a herdabilidade nestes casos. Questão 6: Que tipo de resultado para o cálculo de risco relativo indicaria que não há segregação de herança multifatorial para uma doença em uma família, ou seja, que não há agregação familiar? Resposta: Um risco relativo calculado para uma família, cujo valor fosse igual a 1 (λr = 1) indica que não há agregação familiar para a doença naquela família, ou seja, os indivíduos forma aleatoriamente afetados naquela família, a frequência de indivíduos afetados dentro desta família é igual a da população em geral. Questão 7: Se um estudo de caso-controle para uma doença multifatorial encontra valores maiores de ocorrência de parentes afetados nos casos do que nos controles (ex.: 5% dos parentes dos casos também são afetados e 0,25% dos parentes dos controles são afetados), o que é possível concluir a respeito da agregação familiar nesta doença e da herdabilidade?
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Resposta: É possível concluir que há agregação familiar para esta doença multifatorial, pela recorrência maior da doença entre parentes dos afetados. Entretanto, não há como estimar o quanto desta doença é de causa genética (herdabilidade) ou ambiental. Questão 8: Quais são os dois principais pressupostos nos quais os estudos com gêmeos se baseiam para avaliar a contribuição genética e ambiental de uma característica multifatorial? Resposta: 1) Sendo geneticamente idênticos e vivendo em ambiente familiar similar, qualquer diferença fenotípica constatada entre gêmeos MZ deve-se a influência ambiental. 2) Considerando que pares de gêmeos MZ e DZ compartilham influências ambientais muito similares, a frequência maior de uma característica entre MZ, em comparação com DZ, reflete a influência de fatores genéticos. Questão 9: Sabendo que estudos de concordância entre gêmeos monozigóticos (MZ) e dizigóticos (DZ) para o autismo resultou em valores de 64% e 9%, respectivamente, o que é possível concluir a respeito desta doença multifatorial? Resposta: Um valor alto de concordância entre gêmeos MZ (e bem maior do que o observado para DZ) reflete uma doença multifatorial com fator genético bem mais pronunciado do que o ambiental. Questão 10: Suponha uma determinada doença multifatorial, cujos cálculos de concordância para MZ e DZ foram de 18% e 9%, respectivamente. 10.1) O que é possível concluir a respeito desta doença? Resposta: Apesar da observação de que a concordância entre DZ é 50% da concordância entre MZ (considerando que DZ compartilham 50% de seus genes contra 100% dos MZ), os valores baixos de concordância para ambos refletem um peso maior aos fatores ambientais para a ocorrência desta doença do que genéticos. 10.2) Como a análise de diversos pares de gêmeos gerou o resultados de concordância de 9% da doença em DZ? O que os pesquisadores observaram em seus dados para chegar a este valor? Resposta: Uma concordância de 9% significa que de todos os pares de gêmeos DZ investigados, em apenas 9% ambos apresentavam a doença. Nos outros 91% dos pares de gêmeos DZ, apenas um dos irmãos apresentava a doença. Questão 11: Complete as frases: 11.1) Um coeficiente de correlação muito próximo de 1 (rMZ ≈1) para gêmeos MZ representa... Resposta: que as diferenças medidas entre os irmãos era muito pequena, ou seja, para aquela característica, ambos os membros do par MZ apresentavam quase o mesmo valor, o que indica um alto coeficiente de correlação. 11.2) Um coeficiente de correlação muito baixo (rMD <0,3) para gêmeos DZ representa... Resposta: que as diferenças medidas entre os irmãos eram muito altas, ou seja, para aquela característica, ambos os membros do par DZ apresentavam valores bem diferentes, o que indica um baixo coeficiente de correlação. Questão 12: o coeficiente de correlação mede o quanto semelhante são os pares de gêmeos MZ e DZ para determinada característica quantitativa (de variação contínua), ou seja, que não pode ser classificada de forma dicotômica (normal/afetado) como no caso das doenças. O que é possível interpretar a respeito da herança multifatorial da renovação óssea, cujos valores de coeficiente de correlação foram de 0,78 e 0,31 para MZ e DZ, respectivamente? Resposta: Um valor alto de coeficiente de correlação entre MZ, e bem maior do que o de DZ, indica contribuição genética maior do que ambiental para a renovação óssea. Significa que as diferenças de renovação óssea entre irmãos MZ são bem menores do que as diferenças observadas entre irmãos DZ. Questão 13: Os cálculos de herdabilidade utilizam dados de variância para calcular o quanto da variabilidade fenotípica de uma característica é devido à variação nos genes.
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13.1) Suponha que, para uma determinada característica, foi observado um valor de variância de 5,78 nos fenótipos que as pessoas da população estudada apresentavam. Ao analisar os genes destas pessoas, foi constatada uma variância de 2,94. Qual o valor da herdabilidade e como ela pode ser interpretada no contexto da característica multifatorial? Resposta: O cálculo da herdabiliade para estes valores de variância seria: H2 = VG/VP = 2,94/5,78 = 0,51. Este valor indica que aproximadamente 50% desta característica é devida à fatores genéticos. 13.2) Para uma outra característica, foi observado um valor de variância de 10,2 nos fenótipos que as pessoas da população estudada apresentavam, ao passo que a análise dos genes destas pessoas revelou uma variância de 0,4, ou seja, era todos geneticamente muito parecidos. Qual o valor da herdabilidade e como ela pode ser interpretada? Resposta: O cálculo da herdabiliade para estes valores de variância seria: H2 = VG/VP = 0,4/10,2 = 0,039. Este valor indica que apenas cerca de 4% desta característica é causada por fatores genéticos, ou seja, a maior parte da variação fenotípica observada na população para esta característica é devido a fatores ambientais. 13.3) Considere outra característica, para a qual foi observado um valor de variância de 0,62 nos fenótipos que as pessoas da população estudada apresentavam, ao passo que a análise dos genes destas pessoas revelou uma variância de 0,59. Qual o valor da herdabilidade e como ela pode ser interpretada? Resposta: O cálculo da herdabiliade para estes valores de variância seria: H2 = VG/VP = 0,59/0,62 = 0,95. Este valor indica que as manifestações das variações fenotípicas observadas na população são quase que exclusivamente devido a fatores genéticos (herdabilidade de 95%), sendo a contribuição ambiental muito pequena na expressão do fenótipo. Questão 14: Estudos de gêmeos MZ e DZ também são aplicados em cálculos de herdabilidade, comparando-se a variância fenotípica de determinada característica em pares de irmãos MZ e DZ. 14.1) Se uma análise de variância fenotípica encontra valores de VP =4,46 para pares DZ e VP =2,15 para MZ, qual o valor calculado de herdabilidade para esta característica? Resposta: O cálculo da herdabiliade para estes valores de variância seria: H2 = (VDZ – VMZ) / VDZ = (4,46 – 2,15) / 4,46 = 0,51. Este valor indica que aproximadamente 50% desta característica é causada por fatores genéticos. 14.2) Para uma outra característica, as análises de variância fenotípica encontram valores de VP =7,2 para pares DZ e VP =6,7 para MZ. Qual o valor da herdabilidade e como ela pode ser interpretada? Resposta: O cálculo da herdabiliade para estes valores de variância seria: H2 = (VDZ – VMZ) / VDZ = (7,2 – 6,7) / 7,2 = 0,07. Este valor indica que apenas 7% desta característica é causada por fatores genéticos, sendo que a maior contribuição para a manifestação das variações fenotípicas encontradas é devido a fatores ambientais. 14.3) Considere outra característica, para a qual foi observado um valor de variância de VP =1,2 na comparação entre gêmeos MZ, enquanto que a variância observada para DZ foi de VP =24,6. Qual o valor da herdabilidade e como ela pode ser interpretada? Resposta: O cálculo da herdabiliade para estes valores de variância seria: H2 = (VDZ – VMZ) / VDZ = (24,6 – 1,2) / 24,6 = 0,96. Este valor indica que 96% desta característica é causada por fatores genéticos, sendo que a contribuição de fatores ambientais para a manifestação da característica é muito pequena. Questão 15: De que forma os proto-oncogenes e os genes supressores de tumor atuam normalmente no organismo? Resposta: Proto-oncogenes possuem a função normal de estimular a divisão celular de uma forma controlada, mediante um estímulo. Os genes supressores de tumor controlam os passos da divisão celular e interrompem o ciclo celular, caso ocorra algum problema (erros de replicação do DNA, por exemplo). Questão 16: De que forma mutações nestes genes, descritos na questão anterior, levam ao surgimento de um tumor? Cite exemplos trabalhados em aula.
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Resposta: Mutações em proto-oncogenes os tornam oncogenes, ou seja, são mutações do tipo “ganho de função”, nas quais a proteína mutante sinaliza incontrolavelmente a proliferação celular sem um estímulo necessário e controlado. É o que ocorre com mutações no gene RET, cuja proteína tirosina quinase passa a sinalizar a divisão celular mesmo sem a presença do estímulo (fator de crescimento). No caso dos genes supressores de tumor, mutações causam “perda de função” e suas proteínas mutantes perdem a capacidade de diagnosticar problemas e interromper divisões de células com erros no DNA. Este acúmulo de erros contribui para o surgimento do câncer. Um exemplo é a proteína p53, a qual reconhece erros de replicação no DNA e impede o prosseguimento do ciclo celular. Questão 17: De que forma genes apoptóticos e anti-apoptóticos atuam normalmente no organismo? Resposta: Genes apoptóticos possuem a função de induzir a morte em células que apresentam danos no DNA. Por outro lado, genes apoptóticos não apresentam esta função normal no organismo de combater a morte celular. Estes genes geralmente apresentam outra função e, quando sofrem mutação, passam a desempenhar a função de barrar a morte celular (ganho de função). Questão 18: De que forma mutações nestes genes, descritos na questão anterior, levam ao surgimento de um tumor? Cite exemplos trabalhados em aula. Resposta: Mutações em um gene apoptótico produzem proteínas incapazes de conduzir a apoptose em células que apresentam danos no DNA, o que pode significar o acúmulo de mutações nestas células que levam ao surgimento de um tumor. São mutações do tipo “perda de função”, como é o caso da proteína p53 que também é capaz de induzir apoptose. No caso dos genes anti-apoptóticos, sua função normal não geralmente não está associada à interromper a apoptose, porém quando mutados adquirem esta característica e passam a inviabilizar a morte celular. O caso específico do gene BCL2, o ganho de função anti-apoptótica leva a não destruição de vários linfócitos produzidos pelo organismo (que normalmente seriam destruídos), gerando um tipo de linfoma. Questão 19: Considerando a taxa de mutação em nossas células, a cada evento de divisão celular, e o fato de que, desde que surgimos após a fecundação, termos sofrido bilhões de divisões celulares, podemos considerar que somos portadores de milhares de mutações em nosso organismo. Sob este ponto de vista, porque o acúmulo de tantas mutações não causa câncer em todas as pessoas frequentemente? Resposta: Por que boa parte do nosso genoma não possui genes ou regiões reguladoras. As mutações que ocorrem nestas regiões não causam efeito. Mesmo aquelas que ocorrem nos genes, somente as que ativam proto-oncogenes ou inviabilizam genes supressores de tumor é que vão gerar câncer. Questão 20: Qual a diferenças entre frequências gênicas e genotípicas e qual delas pode ser considerada o pool gênico de uma população? Resposta: Frequências gênicas são as frequências dos alelos de um determinado gene em uma população. Por exemplo, se para o gene A houver os alelos A e a, as frequências gênicas de cada um deles representam a quantidade de As e as desta população, ou seja, o seu pool (conjunto) gênico. As frequências genotípicas referem-se aos genótipos dos indivíduos nesta população, ou seja, a forma como estes alelos A e a estão distribuídos entre os homozigotos AA e aa e os heterozigotos Aa. Questão 21: Conhecendo o número de indivíduos em uma população que possuem cada genótipo para a hipercolesterolemia familial (deduzidos a partir do fenótipo do indivíduo), demonstrado na tabela abaixo, é possível calcular as frequências gênicas e genotípicas desta população? Demonstre. Fenótipo Genótipo Nº de indivíduos Gravemente afetado HH 5 Afetado leve Hh 46 Normal hh 263 Resposta: Os valores de frequências genotípicas podem ser calculados automaticamente, apenas pela razão entre cada genótipo e o total de indivíduos na população (5+46+263 = 314):
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→Afetados graves: Freq. Genótipo (HH) = 5/314 = 0,01 →Afetados leves: Freq. Genótipo (Hh) = 46/314 = 0,15 →Normais: Freq. Genótipo (hh) = 263/314 = 0,84 Os valores de frequências gênicas (dos alelos H e h) podem ser calculados da seguinte forma: → Freq. gênica H = 2.(HH) + 1.(Hh) = 2.(5) + 1.(46) = 56 = 0,09 2.(total de indivíduos) 2.(314) 628 → Freq. gênica h = 2.(hh) + 1.(Hh) = 2.(263) + 1.(46) = 572 = 0,91 2.(total de indivíduos) 2.(314) 628
Questão 22: A hipercolesterolemia familiar é uma exceção, na qual é possível deduzir
automaticamente o genótipo do indivíduo a partir do seu fenótipo, por se tratar de uma característica de Dominância Incompleta. Entretanto, para a grande maioria das doenças de Dominância Completa esta quantificação dos genótipos na população não é viável pela impossibilidade de diferenciar homozigotos dominantes (AA) de heterozigotos (Aa), igualmente normais para doenças recessivas. A única informação disponível é a quantidade de indivíduos afetados (aa). Neste tipo de situação, é possível calcular as frequências gênicas e genotípicas na população? Utilize como exemplo a incidência de afetados por fibrose cística nos EUA, de 1 a cada 3.200. Resposta: O número de afetados em uma população representa o valor da frequência genotípica ff (recessivos para o alelo mutante). →Afetados por FC: Freq. Genótipo (ff) = 1/3200 = 0,0003 A partir da frequência genotípica ff é possível calcular a frequência do alelo f (qf). → Freq. Genótipo (ff) = q2 0,0003 = q2 0,0003 = q → qf = 0,017
Sabendo a frequência do alelo f (qf), calcula-se a frequência do alelo F (pF):
→ pF + qf = 1 pF + 0,017 = 1 Lembrete: a soma das frequências pF = 1 - 0,017 → pF = 0,983 gênica é igual a 1 (100% dos alelos). p+q=1 As frequências genotípicas de FF, Ff e ff podem ser estimadas a partir das frequências gênicas p e q: → Freq. Genótipo (FF) = p2 = (0,983)2 = 0,9663 Lembrete: a soma das frequências genotípicas → Freq. Genótipo (Ff) = 2.p.q = 2.(0,983).(0,017) = 0,0334 é igual a 1 (100% dos indivíduos da população). → Freq. Genótipo (ff) = q2 = (0,017)2 = 0,0003 p2 + 2pq + q2 = 1 [0,9663 + 0,0334 + 0,0003 = 1]
Questão 23: Explique de que forma a ocorrência de endogamia e a ocorrência de seleção
influenciam nas frequências dos alelos e genótipos, para a ocorrência de distúrbios genéticos. Resposta: Em situações de endogamia, doenças recessivas vão ocorrer com maior frequência porque haverá maior chance de homozigose do alelo mutante, ou seja, aumenta a frequência do genótipo aa. No caso de ação de alguma força seletiva (do ambiente) favorecendo a ocorrência do genótipo heterozigoto, como no caso da anemia falciforme, haverá uma frequência maior do que o esperado de indivíduos portadores da mutação (Aa) e, consequentemente, haverá uma frequência maior do alelo mutante na população.