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No período embrionário, os fatores externos podem bem definidos: pré-embrionário, embrionário e fetal.
facilmente alterar o desenvolvimento dos tecidos e ór- Os grupos de dentes obedecem os mesmos fenôme-
gãos. A migração, diferenciação e síntese estão em sua nos celulares e teciduais para o desenvolvimento, mas
plenitude e as células são facilmente modificadas, em em momentos diferentes aos do organismo como um
sua forma e função, pelos fatores externos. Nessa fase, todo. Há uma cronologia específica para a formação
a ação desses fatores modificadores promove, como re- de cada grupo de dentes, por exemplo: temos odonto-
sultado final, um tecido ou órgão com forma e funções al- gênese até os 15-16 anos de idade nos terceiros mola-
teradas — conhecido como malformações ou anomalias. res. A grande maioria dos dentes tem a sua formação
Quando múltiplas, essas malformações geram quadros na vida extrauterina e, por isso, está sujeita à ação de
clínicos como síndromes, associações e sequências. muitos fatores ambientais. Mas os mesmos conceitos
O feto, as deformidades e as displasias — No e nomenclaturas dos distúrbios do desenvolvimento
início do terceiro mês, o ser em formação dá sinais geral se aplicam às alterações dentárias.
aparentes da espécie a que pertence e passa a ser no-
minado de feto, tendo início o período fetal, que se es- Diferenças entre distúrbios do desen-
tende até o nascimento. Nesse período, as células, em volvimento e do crescimento celular
sua maioria, já migraram para seus respectivos locais Embora sejam bem diferentes, ocorrem confusões
e darão origem aos variados tecidos e órgãos. Agora, terminológicas na aplicação dos conceitos de distúr-
sofrerão o processo de diferenciação e maturação fi- bios do desenvolvimento do organismo e de distúrbios
nal: essa fase recebe o nome de histogênese (histo = do crescimento celular.
tecidos). As células sintetizarão produtos para consti- Os distúrbios do crescimento celular ocorrem em
tuir as estruturas teciduais, como colágeno, membra- tecidos maduros e representam respostas adaptati-
nas extracelulares e produtos especiais como a matriz vas dos tecidos frente a novas situações, como uma
óssea, dentinária, cementária e adamantina. demanda funcional aumentada. Os mais frequentes
Quando fatores externos atuam no período fetal, distúrbios do crescimento celular são as hiperpla-
as alterações afetam a maturação e a formatação final sias, ou aumento local do número de células em um
dos tecidos e órgãos. Geralmente, os distúrbios são determinado tecido; hipertrofias, que representam o
na síntese de alguns componentes teciduais ou na aumento do tamanho das células maduras; e meta-
forma final do órgão ou tecido afetado. Os distúrbios plasias, nas quais uma célula madura se transforma
do desenvolvimento promovidos no período fetal são em outro tipo morfológico igualmente maduro e da
conhecidos como deformidades. Quando a alteração mesma linhagem embrionária.
nesse período afeta a maturação tecidual, às vezes As atrofias, por sua vez, não são nem distúrbios do
comprometendo a função, os distúrbios provocados desenvolvimento e nem do crescimento celular. Elas
são denominados de displasias. representam a redução do tamanho de uma célula
Os distúrbios do desenvolvimento, ou disgenesias, adulta para se adaptar a uma redução ou perda de ati-
podem ser divididos em malformações (que ocorrem vidade, nutrição ou estímulo. Essa redução se dá pela
predominantemente no período embrionário), displasias perda de organelas, citosol e mudanças estruturais, o
e deformidades, que ocorrem em geral no período fetal. que representa no conjunto uma verdadeira lesão ce-
Dentes: tempos e momentos diferentes — A lular subletal com caráter reversível, mas não um dis-
formação do corpo humano ocorre em três períodos túrbio do desenvolvimento.
A B
C
Figura 2 - As duas causas principais da Hipoplasia do Esmalte localizada: A) traumatismo dentário, como a intrusão do decíduo, resvalando no germe
do permanente; B) lesão periapical inflamatória crônica do decíduo, afetando o germe do permanente, por contiguidade. Nesses casos, a amelogênese
pode ser afetada, gerando manchas brancas ou amareladas com ou sem superfície alterada, como em C.
Hipoplasia do Esmalte: pode ser deve ter provocado um distúrbio, na deposição e mi-
adquirida ou hereditária neralização das últimas camadas do esmalte, quando
A Hipoplasia do Esmalte implica em desenvolvi- a superfície estava sendo definida. Se a causa local foi
mento alterado desse tecido, induzido por fatores mais duradoura ou intensa, uma área maior da coroa
externos referidos também como causas adquiridas, pode ter sido comprometida e o esmalte se apresentar
que podem atuar local ou sistemicamente. No entan- mais severamente comprometido, como na Figura 3.
to, existem famílias com formação alterada do esmalte Em outros casos, a superfície da Hipoplasia do
por causa de defeitos genéticos e transmitidos de pai Esmalte pode estar normalmente lisa, mas com uma
para filho, caracterizando um quadro de Hipoplasia do mancha de cor branca opaca, amarelada ou mista2;
Esmalte de causa genética e transmissão hereditária, por transparência, nota-se um padrão organizacional
em que a amelogênese (ou formação do esmalte) está subsuperficial irregular (Fig. 1, 2). A causa local atuou
imperfeita ou incompleta. Esse quadro clínico é conhe- nas fases iniciais de deposição das camadas do es-
cido como Amelogênese Imperfeita Hereditária. malte e houve tempo para que, uma vez eliminada a
Quando nos referirmos à hipoplasia do esmalte de causa, novas camadas normais de esmalte fossem
natureza hereditária, devemos fazê-lo de forma com- depositadas sobre a área hipoplásica, estabelecendo-
pleta, usando o termo Amelogênese Imperfeita He- -se uma superfície normal. Os ameloblastos fazem
reditária. Usar o termo Amelogênese Imperfeita sem parte do epitélio interno do órgão do esmalte e, como
acrescentar o adjetivo Hereditária pode gerar confu- todo epitélio, têm grande capacidade de proliferação e
sões, pois a Hipoplasia do Esmalte de causa adquiri- regeneração quando lesados focalmente.
da, local ou sistêmica, também representa um quadro Uma das principais causas locais da hipoplasia
de formação incompleta ou imperfeita do esmalte, ou do esmalte é o traumatismo dentário pela intrusão de
seja, de amelogênese imperfeita. dentes decíduos (Fig. 2A), promovendo o contato de
Os distúrbios do desenvolvimento podem ser indu- sua raiz com os germes dentários durante a fase coro-
zidos por causas adquiridas — como traumatismos, nária de sua formação. Esse contato desorganiza e/ou
drogas, infecções e outras —, assim como podem ser paralisa temporariamente a síntese dos ameloblastos,
resultado de defeitos ou mutações nos genes e/ou nos assim como modifica a matriz ainda não mineralizada
cromossomos. Esses defeitos nos genes e/ou nos cro- recém-depositada no local.
mossomos podem ser repassados para os filhos ou Outra causa local muito comum da Hipoplasia
não; quando o forem, esses distúrbios do desenvolvi- do Esmalte são as doenças inflamatórias no periápi-
mento serão considerados hereditários. ce (Fig. 2B) e nas bifurcações das raízes dos dentes
decíduos (Fig. 3). Nessas áreas localizam-se os ger-
As causas locais da Hipoplasia do mes dos dentes permanentes e essas lesões decí-
Esmalte Adquirida duas podem desorganizar o órgão do esmalte e pa-
A Hipoplasia do Esmalte pode afetar apenas um ralisar temporariamente a deposição de matriz pelos
dente (Fig. 1, 2, 3) ou, ainda, apenas uma pequena ameloblastos. A matriz adamantina no local e o seu
área da face vestibular, como por exemplo nas Figuras padrão de mineralização ficam alterados, ainda que
1 e 2. No local, o esmalte pode estar socavado, depri- temporariamente, resultando em manchas branca-
mido ou irregular em sua superfície, e a cor pode variar centas ou amareladas irregulares, com ou sem su-
de normal a branca ou amarelada. Uma causa local perfície lisa, a serem detectadas no aparecimento do
A B
Figura 3 - Hipoplasia do Esmalte localizada, induzida pela lesão inflamatória crônica na bifurcação do decíduo, afetando o germe do permanente, por
contiguidade. A amelogênese pode ser afetada e comprometer severamente a coroa do permanente, como em B.
A B C
Figura 4 - Hipoplasias do Esmalte por causa sistêmica, comprometendo temporariamente a amelogênese. A severidade desse comprometimento
depende da gravidade da causa sistêmica e da sua duração. Os dentes e locais afetados dependem da idade de comprometimento do paciente,
podendo envolver os decíduos, como em C.
forte ligação química com o cálcio — podem ser in- pecíficas: na Fluorose Dentária e na Amelogênese
corporados nos tecidos mineralizados naquele perí- Imperfeita Hereditária.
odo e, se forem coloridos, podem mudar a coloração A Fluorose Dentária representa uma Hipoplasia
dos dentes e ossos, como no caso da tetraciclina. do Esmalte caracterizada pela hipomineralização di-
Porém, a presença das moléculas da tetraciclina nos fusa, com aumento da porosidade abaixo da super-
tecidos duros não altera suas propriedades físico- fície do esmalte. Nessas áreas o conteúdo orgânico
-químicas normais, apenas a cor fica alterada. Se, é maior, com menor concentração de minerais. Os
além do quadro de alteração de cor, for observada cristais de apatita são menores e distribuídos ale-
também a malformação do esmalte, deve-se tratar atoriamente em espaços vazios, indicando desor-
de uma hipoplasia do esmalte de causa sistêmica, ganização e falhas na produção do esmalte, mais
para a qual o antibiótico em questão foi prescrito. especificamente em sua matriz orgânica. Essas ob-
Quando causas sistêmicas atuam sobre a for- servações sugerem que o flúor interfere na função
mação do esmalte, ou amelogênese, o comprome- dos ameloblastos durante a amelogênese, induzindo
timento dos dentes é bilateral e concomitante em a formação de grânulos intracitoplasmáticos e desor-
todos os dentes superiores e inferiores em formação ganizando-os na sua disposição colunar.
naquele momento em que o estado sistêmico esteve Quando o flúor estiver excessivo em todas as
atuando, justificando novamente os defeitos hipoplá- fases da amelogênese de todos os dentes, pratica-
sicos em forma de faixas, em bandas, sulcos e valas mente todos terão o esmalte defeituoso caracteriza-
na superfície coronária. Quando quadros clínicos as- do por manchas brancas, amareladas, acastanhadas
sim são diagnosticados, a terminologia diagnóstica e associadas ou não a sulcos, depressões ou perdas
a ser utilizada deve ser Hipoplasia do Esmalte por irregulares de esmalte. No entanto, o flúor excessi-
causa sistêmica, sem que haja um nome específico vo pode ter estado presente apenas em uma fase da
para identificá-la (Fig. 4). amelogênese ou da vida do paciente e, nesses casos,
Porém, em duas situações a Hipoplasia do Es- ter-se-á faixas, bandas ou sulcos no esmalte que es-
malte por causa sistêmica pode receber nomes tava em formação nessa fase. Se esse excesso de
especiais, pelo fato de suas causas serem muito es- flúor tiver sido irregular no tempo e comprometido
REFERêNCIAS