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INTERPRETAÇÃO
PARA O
DESENVOLVIMENTO
PESSOAL
DESENHO FONTE DE
INTERPRETAÇÃO PARA O
DESENVOLVIMENTO PESSOAL
SUMÁRIO
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DESENHO FONTE DE
INTERPRETAÇÃO PARA O
DESENVOLVIMENTO PESSOAL
1- ARTE-EDUCAÇÃO NO BRASIL: REALIDADE HOJE E EXPECTATIVAS
FUTURAS
Artes têm sido uma matéria obrigatória em escolas primárias e secundárias (1º e 2º
graus) no Brasil já há 17 anos. Isto não foi uma conquista de arte-educadores
brasileiros mas uma criação ideológica de educadores norte-americanos que, sob um
acordo oficial (Acordo MEC-USAID), reformulou a Educação Brasileira, estabelecendo
em 1971 os objetivos e o currículo configurado na Lei Federal nº 5692 denominada
"Diretrizes e Bases da Educação".
A Lei Federal que tornou obrigatório artes nas escolas, entretanto, não pôde assimilar,
como professores de arte, os artistas que tinham sido preparados
pelas Escolinhas, porque para lecionar a partir da 5ª série exigia-se o grau universitário
que a maioria deles não tinha.
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O Governo Federal decidiu criar um novo curso universitário para preparar professores
para a disciplina Educação Artística criada pela nova lei. Os cursos de arte-educação
nas universidades foram criados em 1973, compreendendo um currículo básico que
poderia ser aplicado em todo o país.
Outra pesquisa de Heloísa Ferraz e Idméa Siqueira (1987, p.26-7) que começou em
1983 (continuou em 84 e 85), analisando questionários respondidos por 150
professores de arte sobre as fontes de seu ensino, encontrou que os livros didáticos
são a fonte de ensino para 82,8% deles.
Isso parece uma contradição, porque os livros didáticos para a arte-educação são
modernizações na aparência gráfica de livros didáticos usados no ensino de desenho
geométrico nos anos 40 e 50, sem nenhuma preocupação com o desenvolvimento da
autoliberação — objetivo que os professores de arte da primeira pesquisa deram como
a prioridade de seu curso.
Nas artes visuais ainda domina na sala de aula o ensino de desenho geométrico,
o laissez-faire, temas banais, as folhas para colorir, a variação de técnicas e o desenho
de observação, os mesmos métodos, procedimentos e princípios ideológicos
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encontrados numa pesquisa feita em programas de ensino de artes de 1971 e 1973
(BARBOSA, 1975, p.86-7). Evoluções não têm lugar em salas de aula nas escolas
públicas.
Apreciação artística e história da arte não têm lugar na escola. As únicas imagens na
sala de aula são as imagens ruins dos livros didáticos, as imagens das folhas de
colorir, e no melhor dos casos, as imagens produzidas pelas próprias crianças. Mesmo
os livros didáticos são raramente oferecidos às crianças porque elas não têm dinheiro
para comprar livros. O professor tem sua cópia e segue os exercícios propostos pelo
livro didático com as crianças. Este é o caso de 74,5% dos professores entrevistados
por Heloísa Ferraz e Idméa Siqueira (1987, p.27). Visitas a exposições são raras e em
geral pobremente preparadas. A viagem de ônibus é mais significativa para as crianças
do que a apreciação das obras de arte. A fonte mais freqüente de imagens para as
crianças é a TV, os fracos padrões dos desenhos para colorir e cartazes pela
cidade (outdoors). As crianças de escolas públicas, na sua grande maioria, não têm
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revistas em casa, sendo o acesso à TV mais freqüente e mesmo que não se tenha o
aparelho em casa, há a possibilidade do acesso a algum tipo de TV comunitária.
Mesmo nas escolas particulares mais caras a imagem não é usada nas aulas de arte.
Eles lecionam arte sem oferecer a possibilidade de ver. É como ensinar a ler sem livros
na sala de aula. Em São Paulo há somente duas escolas que usam regularmente
imagens nas aulas de arte. A primeira, uma escola1 para a elite, usa a imagem em um
convencional curso de história da arte para alunos do 2º grau. A segunda é uma escola
particular2 , preferida pelos intelectuais para suas crianças, que incorpora a gramática
visual, a história e a prática.
Mais de 50% das crianças abandonam a escola no primeiro ano (sete anos de idade,
antes da alfabetização ser completada). A profissionalização no 2º grau tornou-se um
fracasso. As companhias não empregam os estudantes quando eles terminam os
cursos porque sua preparação para o trabalho é insuficiente.
Os anos 80 têm sido identificados como a década da crítica da educação imposta pela
ditadura militar e da pesquisa por soluções, mas estas não têm sido ainda
implementadas no País porque a primeira preocupação depois da restauração da
democracia em 1983 foi uma campanha por uma Nova Constituição que libertaria o
País do regime autoritário.
"O ensino tomará lugar sobre os seguintes princípios (...). II — liberdade para aprender,
ensinar, pesquisar e disseminar pensamento, arte e conhecimento."
Das discussões surgiu a necessidade do trabalho criativo a fim de abrir o diálogo com
os políticos locais e regionalizar os procedimentos com respeito à diversidade cultural
do País. Até aquele momento nós tínhamos apenas uma associação de arte-educação,
a SOBREART, de âmbito nacional, filiada ao INSEA, mas operando principalmente no
Rio de Janeiro e estava dominada desde sua criação, em 1970, por uma pessoa ligada
ao regime da ditadura militar.
Como resultado, nós chegamos a 1989 tendo arte-educadores com uma atuação
bastante ativa e consciente, mas com uma formação fraca e superficial no que diz
respeito ao conhecimento de arte-educação e de arte. Algumas universidades federais
e estaduais, preocupadas com a fraca preparação de professores de arte, começaram
a partir de 1983 progressivamente a organizar cursos de especialização para
professores universitários de arte. Os cursos são curtos e intensivos (algumas vezes
com aulas de 10 horas diárias) e são em geral conduzidos por professores e artistas de
outros estados.
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O sistema educacional não exige notas em artes porque arte-educação é
concebida como uma atividade, mas não como uma disciplina de acordo com
interpretações da lei educacional 5692.
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Estas duas idéias juntas lideram a organização dos cursos de arte na USP para
professores de escolas primária e secundária da Secretaria de Educação de São Paulo
para incluir não somente pintura, escultura, desenho, mas também design, TV e vídeo.
Vários outros cursos de atualização foram organizados em outros estados. Merece ser
mencionado o programa de preparação de professores para os CIEPs, 100 instituições
criadas pelo governo do Rio de Janeiro, no período de 1983 a 1986, para recuperar a
educação usando principalmente arte. A concepção de arte era expressionista,
enfatizando auto-expressão combinada com a valorização da experiência estética
assistemática da criança. O governo mudou e o projeto dos CIEPs parou. Mesmo os
prédios estão sendo invadidos pela população para outros propósitos.
Contudo, eles ainda não sabem o que fazer ou quais são os limites da invasão da auto-
expressão dos alunos. A maioria deles, que por um longo período praticaram desenho
de observação de objetos e da natureza com seus alunos, estão chocados com a
introdução da imagem nas suas salas de aula e com crianças observando trabalhos de
arte de adultos. O preconceito contra a imagem é estendido e mais forte na escola
primária.
Após 83, apesar de alguns esforços feitos pelo governo do estado para desenvolver o
conhecimento de arte-educação, mais de 50% dos professores primários (lª a 4ª séries)
estudaram apenas até a 4ª série. Eles não têm nenhum preparo mas lecionam todas as
matérias incluindo arte. Uma das razões são os baixos salários. Uma mulher, e são
sempre mulheres os professores primários, que terminou a escola secundária faz mais
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dinheiro trabalhando como secretária do que como professor primário. Como resultado,
nós temos professores dando aulas de arte que nunca leram nenhum livro sobre arte-
educação e pensam que arte na escola é dar folhas para colorir com corações para o
Dia das Mães, soldados no Dia da Independência, e assim por diante.
Temos sido muito cuidadosos para não transformar a leitura de uma obra de arte num
simples questionário. Esta simplificação está acontecendo com a metodologia da Getty
Foundation apesar da estrutura teórica e complexa construída por Harry Broudy,
porque os professores de arte estão reduzindo a análise ou apreciação artística num
jogo de questões e respostas — um mero exercício escolar que leva a leitura a um nível
medíocre e simplifica a condensação de significados de uma obra de arte, limitando a
imaginação do leitor.
Nossa idéia de leitura da imagem é construir uma metalinguagem da imagem. Isto não
é falar sobre uma pintura mas falar a pintura num outro discurso, às vezes silencioso,
algumas vezes gráfico, e verbal somente na sua visibilidade primária. Para
compreender as relações de significado dentro das imagens nós temos sido ajudados
por sistematizações de Louis Marin (1978), Jean-Louis Schefer (1969), Oscar Morina y
Maria Elena Jubrias (1982), Edmundo Burke Feldman, Harry Broudy, J. Bronowski,
Rudolf Arnheim, etc.
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Nossa concepção de historia da arte não é linear mas pretende contextualizar a obra
de arte no tempo e explorar suas circunstancias. Em lugar de estar preocupado em
mostrar a então chamada evolução das formas artísticas através dos tempos,
pretendemos mostrar que a arte não está isolada de nosso cotidiano, de nossa história
pessoal.
Decidi fazer uma pesquisa para investigar a reação de professores de arte para com a
introdução de imagens no ensino da arte e a produção infantil sob a influência destas
imagens. Organizei uma palestra mostrando como os artistas vêm tomando de
empréstimo imagens de outros artistas, quer seja suprimindo referências à sua origem
ou com citações abertas, como no caso dos artistas Pop. Minha palestra começa com
a análise da "Vênus de Giorgione" (Dresden Art Gallery) tomada primeiramente por
Ticiano para sua "Resting Venus" (Florença, Uffize) e mais tarde por Manet para sua
"Olympia" (Paris, Louvre) que, finalmente, foi reinterpretada por Mel Ramos em
"Manet's Olympia" (Chicago, Coleção de Sr. e Srª Norton G. Newmann) e Larry Rivers
em "I like Olympia in Black Face" (Paris, M.N.A.M. Centro Nacional das Artes e da
Cultura Georges Pompidou). Os outros exemplos de arte sobre arte foram tomados
principalmente a partir do livro de Jean Lipman e Richard Marshall (1978).
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1º) Que se o artista utiliza imagens de outros artistas, por que sonegar imagens às
crianças;
2º) Que se nós preparamos as crianças para lerem imagens produzidas por artistas,
estamos preparando-as para ler as imagens que as cercam em seu meio ambiente;
3º) Que a percepção pura da criança sem influência de imagens não existe realmente,
uma vez que está provado que 80% de nosso conhecimento informal vem através de
imagens;
No caso da obra de Max Bill, uma criança transformou a escultura abstrata do artista
num pássaro, uma outra representou o movimento da obra, mas não sua
materialidade, outra representou apenas a base da escultura, etc. Outras crianças do
mesmo grupo escolheram outras obras e outras duas recusaram qualquer obra de arte,
desenhando seus habituais barcos e pôr-do-sol. De junho a outubro de 1988, escolhi
seis ocasiões para falar para grandes audiências de arte-educadores através do País.
Para três grupos dei apenas a primeira parte da palestra, aquela planejada para
convencer sobre a necessidade de introduzir a obra de arte em aulas de arte, da
necessidade de iniciar as crianças na leitura de imagens e necessidade de dar
informação histórica, mas não mostrei nenhuma interpretação de obra de arte por
crianças incluída na segunda parte da palestra.
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c) Brasília, Distrito Federal. Para professores de arte universitários, estudantes de
cursos de Educação Artística nas universidades e na maioria professores de escolas
secundárias (mais de 50%).
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Frente a esse grupo, um orador convidado, que foi aplaudido quase histericamente
pelo público, manifestou-se contra a avaliação e mesmo contra o comentário do
trabalho de arte dos estudantes em sala de aula, e definiu a arte como "uma sonora
gargalhada para oxigenar a vida quando a velhice chega". A aclamação do laissez-
faire da arte-educação e emotividade da arte por alguns observadores da situação está
ligada com a ideologia do Movimento Escolinhas de Arte; mas apesar do fato de que o
Congresso de Florianópolis foi organizado pela Escolinha de Arte de Florianópolis,
penso que a reação contra a sistematização é mais ampla e não somente um eco da
ideologia das Escolinhas (BARBOSA, 1983).
O Movimento Escolinhas de Arte perdeu poder contra o poder das universidades nos
anos 70, e a célula mater do Movimento, a Escolinha de Arte do Brasil no Rio de
Janeiro perdeu credibilidade depois de uma mudança de política interna nos anos 80,
que afastou por idiossincrasias pessoais os melhores mestres daquela entidade.
Os arte-educadores no Brasil (apenas em São Paulo nós tem os 18.000) estão sendo
confrontados com um novo problema que precisa tanto de força política como
conceitual. Uma nova lei federal para substituir a Lei Federal de 1971 está sendo
estudada. Já existe um projeto escrito que exclui as artes do currículo das escolas
primárias e secundárias. Neste momento de democratização existe algum preconceito
contra as artes nas escolas, não somente porque seu ensino é fraco, mas porque foi
uma exigência de uma lei federal imposta pela ditadura militar.
Esta é a causa obscura da exclusão das artes das escolas na nova organização da
educação brasileira. A razão explícita dada pelos educadores é que a educação no
Brasil tem de ser direcionada no sentido da recuperação de conteúdos e que arte não
tem conteúdo. É algo similar ao movimento de volta ao básico nos EUA. Um simpósio
foi planejado (agosto, 1989) para demonstrar os conteúdos da arte na educação.
Apesar de termos a maioria dos arte-educadores das escolas secundárias defendendo
o laissez-faire e alguns outros que ainda não aceitam auto-expressão, o caminho para
sobreviver é tornar claro os possíveis conteúdos da arte na escola.
Poderia dizer que o futuro da Arte-Educação no Brasil está ligado a três propostas
complementares: uma primeira proposta seria o reconhecimento da importância do
estudo da imagem no ensino da arte em particular e na educação em geral. A
necessidade da capacidade de leitura de imagens poderia ser reforçada através de
diferentes teorias da imagem e também da relação entre imagem e cognição. O Museu
de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo e a experiência em arte-
educação na XIX Bienal de São Paulo são exemplos correntes desta tendência.
Além destas três linhas gerais que antevejo no futuro da arte-educação no Brasil,
haverá uma outra linha centrada na orientação da arte-educação em direção à
iniciação ao design especialmente para escolas de 2º grau. A consciência de que o
artefato trará mais qualidade à vida se não tiver somente propriedades funcionais, mas,
ao mesmo tempo, apelar para a imaginação, está começando a vir à tona. Esta idéia
desponta, junto com a certeza de que o produtor do artefato será mais eficiente se tiver
algum conhecimento de arte, e alguns dos programas na Universidade de São Paulo,
organizados para professores de arte de escolas publicas de 2º grau com a ajuda do
Centro para Design da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), já
enfatizaram esta tendência.
Isto nos faz ver que as correlações dos movimentos culturais com a arte e com a
educação em arte não acontecem no vazio, nem desenraizadas das práticas sociais
vividas pela sociedade como um todo. As mudanças que ocorrem são caracterizadas
pela dinâmica social que interfere, modificando ou conservando as práticas vigentes.
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experimentação psicológica, por outro, influenciando na educação em arte, ao longo
do século XX;
Nas articulações dos atos perceptivos e verbalizadores dos alunos como base da
experiência estética;
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Os programas de desenho do natural, desenho decorativo e. desenho geométrico eram
centrados nas representações convencionais de imagens;. Os conteúdos eram bem
discriminados, abrangendo noções de proporção, perspectiva, construções
geométricas; composição, esquemas de luz e sombra. Nas Escolas Normais os cursos
de desenho incluíam ainda o "desenho pedagógico", onde os alunos aprendiam
esquemas de construções gráficas para "ilustrar" aulas".
A partir dos anos 50, além do Desenho, passaram a fazer parte do currículo escolar as
matérias Música, Canto Orfeônico e Trabalhos Manuais, que mantinham de alguma
forma o caráter e a metodologia do ensino artístico anterior. Ainda nesse momento, o
ensino e a aprendizagem de arte concentram-se apenas na "transmissão" de conteúdo
reprodutivistas. Desvinculando-se da realidade social e das diferenças - individuais. O
conhecimento continua centrado no professor, que procura desenvolver em seus
alunos também habilidades" manuais e hábitos de precisão, organização e limpeza.
A. "Pedagogia Nova", também conhecida por Movimento da Escola Nova, tem suas
origens na Europa e Estados Unidos (século XIX),sendo que no Brasil vai surgir
a partir de... 1930) e ser disseminada a partir dos anos 50/60 com as escolas
experimentais. Sua ênfase é a expressão, como um dado subjetivo. E individual
em todas as atividades, que passam dos aspectos intelectuais para os afetivos.
A preocupação com o método, com o aluno, seus interesses, sua
espontaneidade e o processo do trabalho caracterizam uma pedagogia
essencialmente experimental, fundamentada na Psicologia e na Biologia.
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B. Diferentes autores vêm marcando os trabalhos dos professores de Arte, no
século XX, no Brasil, firmando a tendência da "Pedagogia Nova", Entre eles
destacam-se John Dewey (a partir de 19(0) e Viktor Lowenfeld (a partir de
1939), dos Estados Unidos, e Herbert Read (a partir de 1943), da Inglaterra,
Com a publicação de seu livro Educação pela Arte (traduzido em vários países),
Read contribuiu para a formação de um dos movimentos mais significativos do
ensino artístico. Influenciado por esse movimento no Brasil, Augusto Rodrigues
liderou a criação de uma "Escolinha de Arte", no Rio de Janeiro (em 1948),
estruturada nos moldes e princípios da "Educação Através da Arte":
As crianças vinham cada vez mais, e as idades eram as mais diferentes. Felizmente,
tínhamos duas coisas muito positivas para um começo de experiência no campo de
educação, através de uma escola. A experiência era feita em campo aberto, e a
diferença de idades também foi outra coisa fundamental para que eu pudesse
entender, um pouco, o problema da criança e o da educação através da, arte.
Deveríamos ter um comportamento aberto, livre com a criança; uma relação em que a
comunicação existisse através do fazer e não do que pudéssemos dar como tarefa ou
ensinamento, mas através do fazer e do reconhecimento da importância do que era
feito pela criança e da observação do que ela produzia. De estimulá-la a trabalhar
sobre ela mesma, sobre o resultado último, desviando-a, portanto, da competição e
desmontando a ideia de 2 que ali estavam para ser artistas (Dimento de Augusto
Rodrigues, 1980, p.34.
As palavras de Augusto Rodrigues podem sintetizar as ideias da Escola Nova, que via
o aluno como ser criativo, a quem se devia oferecer todas as condições possíveis de
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expressão artística, supondo-se que, assim, ao "aprender fazendo". Saberiam fazê-lo.
Também, cooperativamente, na sociedade.
A "Pedagogia Tecnicista", presente ainda hoje, teve suas origens partir da segunda
metade do século XX, no mundo, e a partir de 1%0/ 1970, no Brasil.
A partir dos anos 80, acreditando em um papel específico que a escola tem com
relação a mudanças nas ações sociais e culturais, educadores brasileiros mergulham
em um esforço de conceber e discutir práticas e teorias de educação escolar para essa
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realidade. Conscientizam-se de como a escola se configura no presente, com vistas a
transformá-la rumo ao futuro. E nos convidam a discutir as ações e as ideias que
queremos modificar na educação em arte, como um desafio c compromisso com as
transformações na sociedade.
(...) agir no interior da escola é contribuir para transformar a própria sociedade. Cabe à
escola difundir os conteúdos vivos, concretos, indissoluvelmente ligados às realidades
sociais. Os métodos de ensino não partem de um saber espontâneo, mas de urna
relação direta com a experiência do aluno confrontada com o saber trazido de fora, ()
professor é mediador da relação pedagógica - um elemento insubstituível. É pela
presença do professor que se torna possível urna "ruptura" entre a experiência pouco
elaborada e dispersa dos alunos, rumo aos conteúdos culturais universais,
permanentemente reavaliados face as realidades sociais (Cenafor, 1983, p. 30)
Uma pedagogia que leve em conta esses objetivos, no dizer de Dermeval Saviani,
valorizará a escola;
Não será indiferente ao que ocorre em seu interior; estará empenhada em que a escola
funcione bem; portanto, estará interessada em métodos de ensino eficazes. Tais
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métodos se situarão para além dos métodos tradicionais e novos, superando por
incorporação as contribuições de uns e de outros. Portanto, serão métodos que
estimularão a atividade e iniciativa doa alunos, sem abrir mão, porém, da iniciativa do
professor; favorecerão o diálogo dos alunos entre si e com o professor, mas sem deixar
de valorizar o diálogo com a cultura acumulada historicamente; levarão em conta os
interesses dos alunos, os ritmos de aprendizagem e o desenvolvimento psicológico,
mas sem perder de vista a sistematização lógica dos conhecimentos, sua ordenação e
gradação para efeitos do processo de transmissão-assimilação dos conteúdos
cognitivos.
Não se deve pensar, porém, que os métodos acima indicados terão um caráter
eclético, isto é, constituirão uma somatória dos métodos tradicionais e novos. Não. Os
métodos tradicionais assim como os novos implicam uma autonomização da pedagogia
em relação à sociedade. Os métodos que preconizo mantêm continuamente presente a
vinculação entre educação e sociedade. Enquanto no primeiro caso professor e alunos
são sempre considerados em termos individuais, no segundo caso, professor e alunos
são tomados como agentes sociais (Saviani, 1980, pp. 60-61).
Uma das ações que está em processo, hoje, e que vem se afirmando por sua maior
abrangência cultural, refere-se a um posicionamento teórico-metodológico, conhecido
entre nós por "Metodologia Triangular". Esta proposta, difundida e orientada por Ana
Mae Barbosa, e que está sem dúvida interferindo qualitativamente no processo e
melhoria do ensino de arte, tem por base um trabalho pedagógico integrador de três
facetas do conhecimento em arte: o "fazer artístico", a "análise de obras artísticas" e a
"história da arte". Este trabalho vem sendo desenvolvido e pesquisado, desde o início
dos anos 90, em São Paulo, no Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC -USP) e
no sul do país, pela Fundação lochpe e Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS), dentre outras instituições de ensino.
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O desenho nas cavernas, na infância e para a psicanálise: uma linha do tempo que
merece ser revisitada
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teóricos significativos para a clínica com crianças: Melanie Klein e Anna Freud
(Fendrik, 2004).
Melanie Klein, em 1953, escreve um artigo de notável importância para o meio
analítico, denominado A técnica psicanalítica através do brincar: sua história e
significado. (Klein, 1953[1955] /1991).
Nesse artigo, Melanie faz referência a um caso clínico, ao qual ela chamou de Fritz, um
menino de cinco anos que foi atendido na sua própria residência fazendo uso de seus
brinquedos. Ao interpretar o material produzido, inaugurou a técnica a partir dessa
atividade, intervindo na exploração das fantasias e ansiedades advindas das sessões,
que se reproduziam enquanto material adicional nas próprias formulações do brincar
(Klein, 1953[1955]/1991). A partir das intervenções, é possível perceber a cadeia
associativa inconsciente que se confirma através do brincar, do desenhar e do que é
enunciado acerca disso. Sua abordagem privilegiava a compreensão das fantasias
infantis, angústias e defesas arcaicas ainda inexploradas até então. A partir das leituras
freudianas e da investigação clínica, Melanie Klein assegurou que o brincar
contemplava um leque de significados simbólicos, integrados com as fantasias
imaginárias e que esse modo do brincar parecia-lhe muito familiar ao método freudiano
de interpretação dos sonhos, permitindo o acesso ao inconsciente da criança (Klein,
1953[1955]/ 1991).
Para Anna Freud, em contraponto a Melanie, o desenho, na sessão analítica, não
poderia ser o equivalente à associação livre, conforme muitos analistas de crianças
corroboravam. Entendia, então, que: “As crianças podem contar sonhos e divagações,
como os adultos, mas sem livre associação, não existe um caminho idôneo do
conteúdo manifesto ao latente” (Anna Freud, 1971, p. 32), ou seja, de que haveria certa
imaturidade, mas poder-se-ia pensar na livre ação, provocada pelas tendências
agressivas (Anna Freud, 1971).
Por volta de 1927, outra contemporânea de Freud obteve destaque no meio analítico, a
psicanalista de origem judaica-polonesa Sophie Morgenstern (Cognet, 2014). Ela
publicou o célebre caso clínico de Mutisme Psychogène, conduzido através de
desenhos produzidos pelo paciente e das interpretações da analista. Sophie geriu
brilhantemente esse caso de um menino de 9 anos e meio, cujo sintoma era desvelado
por um grave mutismo que perdurou por quase dois anos (Morgenstern, 1927).
Sophie Morgenstern, também considerada pioneira no trabalho psicanalítico com
crianças, pôs em evidência através dos 31 desenhos elaborados pelo paciente, os
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mecanismos psicológicos encontrados nas produções, sustentando a partir da
transferência os deslocamentos de sentido advindos por sua interpretação, que
permitiram o elaborar das fantasias de castração desse paciente. Solicitava que o
paciente desenhasse: suas angústias, o que lhe impedia de falar, seus medos e, a
partir de então, Morgenstern foi pondo palavras e narrativas nas histórias que, naquele
momento, eram só imagens para o paciente, que concordava com um gesto de cabeça
se a história narrada estava de acordo com a intenção do que queria dizer
(Morgenstern, 1927).
Em seu trabalho, a psicanalista lia atentamente os detalhes contidos nas produções
dos pacientes, dando ênfase às dimensões e às proporcionalidades contidas nos
objetos de um mesmo desenho, pois sugeria que cada objeto tinha valor afetivo
diferente dos demais e isso era muito singular (Cognet, 2014). Não deixava de
observar nas produções que, independentemente do modo de expressão utilizado pelo
paciente, seja sonho, desenho, narrativa, ou representação do lúdico, eles eram
definidos pelo clima afetivo, ou seja, atmosferas alegres, melancólicas, privativas,
sofridas, repletas de angústia, etc. E compunham a atenção de Morgenstern assim
como a expressão dos personagens que figuram o desenho. Para Sophie, quanto
maior o conflito e a neurose, mais ricas são as produções artísticas (apud Cognet,
2014).
No ano de 1935, o psicanalista e pediatra inglês D.W. Winnicott desenvolveu uma
técnica particular, utilizando como instrumento o desenho, com o intento de promover a
relação e o fluir da comunicação com as crianças, oferecendo-lhes um lugar ativo e de
descoberta do si mesmo.Nomeou tal método como o “squiggle” jogo do
rabisco, descrito em seu notável livro Consultas Terapêuticas em Psiquiatria Infantil, no
qual, além de exibir o processo, compartilhacerca de 21 casos clínicos trabalhados
nesses moldes (Winnicott, 1975).
Na esteira do tempo, por volta de 1938, a luz incidia sobre a pediatra e a psicanalista
Françoise Dolto que, após ingressar na Sociedade Psicanalítica de Paris, inaugurou
uma abordagem clínica cujo aporte teórico minucioso acerca do desenvolvimento
infantil revolucionaria ainda mais a clínica com crianças (Ledoux, 1995). Ainda
contemporânea de Sigmund Freud e Jacques Lacan, após conhecer Sophie
Morgenstern e se apoiar no recurso do desenho livre, desenvolveu sua própria teoria
tomando o desenho como uma forma de revelar as questões mais profundas do
inconsciente (Ledoux, 1995).
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Em seu relatório compartilhado no Congresso organizado pela Psyche, sob o
título: Relato da Interpretação Psicanalítica dos Desenhos durante Tratamentos
Psicoterápicos (1948) Dolto entenderá, o desenho como um: “. . . autorretrato do
inconsciente, ele nos permite ver como o sujeito se sente em relação ao objeto que ele
quer desenhar, sendo este objeto, de certo modo, uma projeção de si mesmo” (Dolto,
1948, p. 324, tradução nossa).
A partir da sua escuta clínica, Françoise Dolto será consistente ao afirmar que os
analistas necessitam fazer o desenho falar, isso não significa tentar adivinhar o que o
desenho parece dizer. Para ela: “. . . é a criança que se conta através do desenho. Um
desenho é uma fantasia extemporânea em uma análise; é desse modo que convém
escutá-lo” (Dolto & Nasio, 2008, p.12).
Gostamos de pensar como Dolto e Nasio (2008), na perspectiva em que eles propõem:
“Não desenhamos; nos desenhamos e nos vemos eletivamente em uma das partes do
desenho” (p. 11). Dolto (2008), ao ser questionada em um de seus seminários acerca
do que seria passível de leitura no desenho de uma criança, irá dizer que através
desse instrumento “a criança, espaço-temporaliza sua relação com o mundo. Um
desenho é mais que o equivalente de um sonho, é em si mesmo um sonho ou, caso
prefira, uma fantasia viva” (Dolto & Nasio, 2008, p. 30).
Para Dolto, tudo o que se apresenta em um desenho, não é por acaso, há uma
necessidade de isso estar representado por parte da criança em seu desenvolvimento.
E acrescenta que não será possível em uma sessão ou duas sessões, chegar à
compreensão do desenho que a criança faz em análise. Muitas vezes, o desvelamento
do sentido de um primeiro desenho vem somente depois, mas já estava lá, registrado
desde o primeiro traço (Dolto, 1948). Nos parece interessante assinalar aqui que,
mesmo o conteúdo se revelando tempos depois, já na primeira sessão estava posto,
como ocorre com os adultos que procuram atendimento e que na primeira ousegunda
sessão, já enunciam de alguma forma do que se trata seu sintoma.
Assim, Dolto atribuirá ao desenho o estatuto de “. . . meio de contato profundo entre o
sujeito e o médico” (Dolto, 1948, p. 324, tradução nossa). Para a interpretação, a
psicanalista busca reconstruir a mesma cadeia simbólica do sujeito e dirá que esse ato
faz a criança reconhecer do que se trata a questão, favorecendo o surgimento de
materiais ainda mais ricos (Dolto, 1948). A autora também levará em conta as
dimensões e proporções das representações entre si, no desenho, bem como a
maneira que a criança utiliza o material. Isso dará mostras de como o sujeito se situa
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inconscientemente e como se sente diante de exigências da sua vida, sendo assim, ela
dirá que o desenho é a expressão do inconsciente e fará a equivalência do desenho
com o sonho.
Daremos um salto agora para 1983, com as contribuições da psicanalista argentina
Marisa Rodulfo. Ela irá aventar que o desenho ou um fragmento de sessão não
desempenham uma função meramente ilustrativa, ou melhor, o que uma criança irá
trazer enquanto ilustração gráfica irá confirmar algo do discurso dos pais e, inclusive,
do próprio dizer do paciente. O desenho será, em vista disso, um complemento
ilustrativo da linguagem verbal (Rodulfo, 2006). A analista propõe que a marca advinda
do desenho pode possibilitar a emergência do recalcado no paciente, minimizando o
sofrimento que, por vezes, é suscitado através dos sonhos do mesmo. Alerta, portanto,
para a dificuldade de muitos psicanalistas em permanecer no plano do desenho
enquanto produção efetiva, ou seja, por não lerem o desenho naquilo que também é
possível repetir do traço. Sugere que os psicanalistas de crianças não tenham a pressa
de sair do trabalho com o desenho, deixando assim escapar o contexto ao eleger um
ou outro desenho somente, na busca pelos elementos de sua técnica interpretativa
(Rodulfo, 2006).
Para Rodulfo (2006) é necessário ter cuidado para que o desenho livre advenha sem
interferências e solicitações do analista. Aponta que tais requerimentos, como por
exemplo, o pedido „Desenhe você‟, retira a capacidade espontânea da criança,
rompendo com a regra fundamental da associação livre proposta pela psicanálise. O
desenho irá se diferenciar da palavra, pois a elaboração secundária não tende a correr
à frente para manter as aparências e, o efeito surpresa tanto em que o paciente,
quanto o analista são capturados não é, sem dúvida, o da compreensão. Ela propõe
tomar o “figural”, ou seja, a produção gráfica, a representação enquanto cadeia
associativa trazida pela criança (Rodulfo, 2006).
Ainda nos anos 80, teremos os aportes da psicanalista Annie Anzieu que tomará o
desenho infantil como o equivalente da associação livre para os adultos e definirá o
desenho como estando em um nível intermediário entre o brincar e a verbalização,
deixando à disposição da criança, para sua livre escolha, todo o material como: lápis,
papel, tintas, cola, tesoura, brinquedos, materiais de modelagem (Cognet, 2014).
Para Annie Anzieu (1996), em seu livro: O trabalho de desenhar em psicoterapia da
criança (tradução nossa), o desenho oferecerá abertura a um espaço psíquico
extremamente fecundo, em busca de uma representação que, gradativamente, se
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deslocará da imagem para a palavra e portará dois lugares: o da elaboração e o do
aprimoramento dos processos simbólicos, instrumento valioso no manejo da
transferência e sua interpretação deverá levar em conta o ambiente no qual foi
produzido o desenho. A folha de papel em branco corresponderá ao „eu-pele‟,
referenciando o invólucro materno nas suas origens, ou seja, o envelopamento que se
oferece como superfície no ato da grafia (Anzieu, 1996). Além disso, abarcará o uso da
cor pelos pacientes nas produções gráficas, enquanto tonalidade e nuança afetiva, e
advertirá que, independente do estilo ou tipo de traçado que for se delineando no
desenho, o analista não poderá perder de vista os vestígios do fantasma, os conflitos
psíquicos, os objetos internalizados pelo paciente.
Em torno dos anos 90, a psicanalista argentina Alba Flesler abrilhantou ainda mais o
meio analítico com suas contribuições clínicas deste tema. Flesler (2012) irá nos dizer
que o desenho é, para uma criança, um “índice de um tempo estrutural revelador dos
tempos do sujeito” (Flesler, 2012, p.123). Dirá que o desenho é a “escritura da imagem”
(Flesler, 2012, p.124), trazendo consigo um velamento no traçado, ou seja, a
representabilidade, que por ser representável, dá mostras de seu caráter imaginário.
Ele é, portanto, o resultado do enlaçamento que se dá entre o real do objeto e o
simbólico da palavra. O velamento é inerente ao desenho e estará atualizado em toda
a percepção; guardando um resto, não identificado, que escapa ao olhar (Flesler,
2012).
O desenho oferecerá uma dupla eficácia, ou seja, sua representação gráfica implicará
em “. . . uma passagem do objeto do real para o simbólico, mas, ao apresentá-lo obtém
também um enlaçamento imaginário” (Flesler, 2012, p. 125). Além disso, promulgará
que em cada desenho, o que estará em jogo, será um ato inaugural, um traçado que
testemunha a existência (Flesler, 2012).
É importante mencionar que psicanalistas como Daniel Widlöcher, Arminda-Aberastury
Geneviève Hagg e Jacqueline Royer também trouxeram aportes teóricos para a técnica
do uso do desenho, mas estes não serão abordados neste momento..
Podemos vislumbrar através dos teóricos trazidos que, a partir do brincar e do
desenhar, há algo a mais que se coloca nesse ato para a criança na sessão analítica.
Frente ao desenho, em análise estamos diante de pistas do inaudito, da projeção, das
fantasias, dos rastros fantasmáticos, dos mecanismos de defesa que circundam neste
ato. As produções gráficas seguem um encadeamento no próprio traço, na repetição,
que apontam para o desvelamento de questões psíquicas mais profundas.
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3- O DESENHO NA EXPRESSÃO DE SENTIMENTOS EM CRIANÇAS
HOSPITALIZADAS
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Para Angerami-Camon (1984) o atendimento a crianças hospitalizadas deve ser
dirigido para minimizar seu sofrimento, tendo como princípio a promoção da saúde não
somente no âmbito físico. A isso Freitas (2008) acrescenta que neste ambiente a
humanização é fundamental, visto que a criança não está necessitando somente de
atenção nos aspectos relacionados à saúde física, mas também nas questões pessoais
e sociais.
É preciso lembrar que o desenho infantil pode ser utilizado na intervenção com
crianças a partir dos dois anos de idade, pois antes disto eles não apresentam função
simbólica; tal função surge quando a criança adentra no estágio pré-operacional do
desenvolvimento infantil - em referência à teoria do desenvolvimento infantil de Piaget
(1971). Uma das características desta fase é a entrada da criança no universo dos
símbolos; assim, por volta dos dois anos, seus desenhos, ainda que não tenham um
formato definido, já comunicam algo de maneira simbólica - conforme mencionado por
Di Leo (1985) - ; podendo representar algo que está além do que pode ser percebido
numa análise objetiva de seu desenho.
A CRIANÇA HOSPITALIZADA
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A hospitalização para a criança é um processo de muitas perdas caracterizadas pelo
afastamento da família, da escola, dos amigos e de seus brinquedos. Valladares (2003)
destaca alguns sintomas mais comuns a estes pacientes, como: sentimentos de culpa,
reação de angústia, luto, medo de morrer, insegurança, tendência à fobia (agulhas,
médicos, medicação, exames), regressão de comportamento, mudanças no sono,
apetite etc.
O adoecer pode provocar muitas alterações nas vidas das crianças, desequilibrando
seus organismos, despertando-lhes dor e sofrimento, o que acarretará num bloqueio de
seu desenvolvimento saudável, ainda mais se a hospitalização se tratar de um
processo longo (VALADARES; CARVALHO, 2006). A criança hospitalizada entrará
num sofrimento emocional, ou até mesmo físico, que irá transcender a patologia inicial
e que se origina no processo de hospitalização (ANGERAMI-CAMON, 2002).
No ambiente hospitalar, as crianças têm de suportar, na maior parte das vezes, uma
limitação de atividades, devido à própria situação de enfermidade e também devido à
falta de espaço físico das instituições. As características deste ambiente as
entristecem, podendo contribuir para aumentar seu sofrimento físico e psíquico
(MACHADO; GIOIA-MARTINS, 2002).
Segundo Novaes (1997), a criança-paciente deve ser percebida como uma pessoa
tendo sua individualidade respeitada e o profissional deve saber ouvi-la sempre que ela
tiver algo a dizer. Freitas (2008) destaca que a hospitalização e os procedimentos
provenientes deste processo se constituem em experiências desagradáveis e
dolorosas para as crianças; por isso, suas respostas podem ser negativas ou
desfavoráveis em relação às intervenções se o fator humanização não estiver
presente, pois a criança hospitalizada precisa não somente de cuidados físicos, ela
também precisa ter suas necessidades emocionais e sociais atendidas.
O DESENHO INFANTIL
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Há muito tempo o desenho é utilizado pelos humanos como forma de representar
pensamentos, sentimentos e ações. O homem primitivo já fazia uso de sua linguagem
simbólica, utilizando-os antes mesmo dos símbolos que registrassem especificamente
a sua fala. Este simbolismo do desenho permite a comunicação desde épocas bastante
precoces da vida do homem, possibilitando que o mesmo se expresse desde a
infância, antes mesmo de aprender a escrever (HAMMER, 1981). Dessa maneira o
desenho infantil se constitui como uma das primeiras formas de expressão, surgindo
antes do desenvolvimento da leitura e da escrita.
Para Mèredieu (1999) o desenho infantil é como uma língua com seu próprio
vocabulário e sintaxe. Hammer (1981) por sua vez ressalta que, por meio do desenho
as crianças transmitem coisas que não conseguiriam expressar com palavras, ainda
que elas estivessem conscientes dos sentimentos que as mobilizam.
Interpretar o desenho de uma criança é explicar o que está obscuro, traduzindo-o numa
linguagem compreensível, extraindo do desenho um sentido oculto - tanto ao
entendimento da criança quanto dos adultos que a cercam -, transcrevendo este
sentido latente para uma linguagem verbal. O desenho é o método mais eloquente,
imediato e de mais simples execução para se investigar traços de humor, de
comportamento e de caráter de uma criança, assim como seus conflitos intrapsíquicos,
suprindo, dessa maneira, sua dificuldade em falar de si mesma e expor seus
problemas (ARFOUILLOUX, 1983).
Para Winnicott (1984) o desenho é também uma maneira de se entrar em contato com
a criança e seu mundo, funcionando como mediador das relações que são
estabelecidas com ela. Goldberg, Yunes e Freitas (2005) acrescentam que por meio do
desenho a criança pode organizar informações e processar experiências, criando
relações e construindo símbolos, desenvolvendo conceitos e representando seu
universo de maneira singular, expressando ainda sentimento e autoconhecimento.
Para Campos (2006) o uso do desenho como técnica projetiva favorece o surgimento
dos conflitos mais profundos, pois estes conflitos se refletiriam melhor no papel. A
respeito da interpretação dos mesmos Van Kolck (1984) observa que em todo
processo de interpretação de desenhos infantis o princípio básico é de que o desenho
representa o sujeito e a folha de papel seu ambiente. Com isso, entende-se que o
desenho pode ser utilizado para compreender a percepção do sujeito do meio em que
está inserido, bem como para promover a expressão de conflitos vivenciados a partir
da interação do sujeito com o meio, com os outros e com ele mesmo.
Sobre os desenhos, a autora acima referida relata que é bastante comum que as
crianças desenhem o hospital em preto e muito grande, com os pacientes bem
pequenos, demonstrando, assim, que se sentem impotentes perante a instituição. A
autora acrescenta que conversar sobre o que a criança desenha é muito importante
para que elas expressem suas ansiedades e medos. Outra estratégia de desenho
usado pela autora consistia em fazer com que elas pintassem desenhos e contassem
histórias sobre os mesmos, funcionando, assim, como um teste projetivo.
No que diz respeito às pesquisas, Freitas (2008) realizou uma cujo principal objetivo
era verificar aspectos cognitivos e emocionais em crianças por meio do desenho da
pessoa humana e do desenho da pessoa hospitalizada, no intuito de verificar qual das
duas formas de desenho era a mais eficaz para se aplicar em crianças hospitalizadas -
entende-se por mais eficaz aquele em que a criança conseguia se expressar melhor. A
pesquisa concluiu que o desenho da pessoa hospitalizada possibilita uma melhor
obtenção de dados no que diz respeito à compreensão da criança de seu quadro
clínico, bem como das emoções que emergem deste, sendo excelente instrumento
para ser utilizado pelo psicólogo hospitalar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenho infantil consiste num meio pelo qual a criança consegue expressar suas
vivências, seus conflitos, suas emoções, ou seja, todos os sentimentos que emergem a
partir de situações de seu cotidiano. Num contexto hospitalar, o desenho pode se
revelar um instrumento eficaz na comunicação do que a criança sente, revelando seu
sofrimento psíquico e suas angústias, possibilitando, a partir disso, intervenções neste
sentido.
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DESENVOLVIMENTO PESSOAL
REFERÊNCIAS
https://www.scielo.br/j/ea/a/yvtmjR7MGvYKjPDGPgqBv6J<acesso em 29/09/2023
https://www.arteducacao.pro.br/metodologia-do-ensino-de-arte.html<acesso em
29/09/2023>
https://appoa.org.br/correio/edicao/300/o_desenho_nas_cavernas_na_infancia_e_par
a_a_psicanalise_uma_linha_do_tempo_que_merece_ser_revisitada/860<acesso em
29/09/2023>
https://www.scielo.br/j/fractal/a/wsfd6gNXZQN7cxscDD7Kkbh/<acesso em
29/09/2023>
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