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Indice

Indice 1

Mensagem dos Fundadores da Vencer Autismo 3

Introdução 6

Objetivos 8
Estar confortável 8
Saber o que fazer 9
Compreender a minha criança 10
Evolução positiva da minha criança 10

Contexto 11

Autismo e bem-estar 14

Autismo e Alimentação 15
Qual a relação entre autismo e alimentação? 15
Sinais comuns 16
Checklist 17
Diário Alimentar 18
Introdução de novos alimentos 20
Estratégias a evitar 20
Pensar fora da caixa 22
Modelar 26
Introduzir em brincadeiras 27
Deixar disponível 28

Desfralde 29
A grande aventura do reino do WC 29
Adotar novas crenças 29
Não ceder a pressões exteriores 30
Como saber se a minha criança está preparada? 30
Conhecer o ritmo de cada criança 31
Estar preparado a 100% 32
Passo-a-passo 33
Garantir que a criança sabe o que se passa no WC 33
Modelar 35
Escolher dia 36

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Autismo e bem-estar
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Recorrer às motivações 36
Adaptar sanita 39
Livrar-se das fraldas 39
Passo a passo 40
Desvalorizar acidentes 41
Celebrem 42
Timing criança e cuidador 42
Tornar sanita divertida 43
Apoios visuais 44

Sono 45
Fatores que influenciam o sono 46
Atitude do cuidador 47
Rotina de sono 48
Dar previsibilidade 49
Preparar cenário 49
Permitir que a criança chore 50
Levar criança de volta ao seu quarto 50
Acreditar na sua capacidade de mudança 51
Consistência 51
Adaptar ambiente 52
Entrada sensorial 52
Adaptar espaço 52
Preparar hora de deitar 53
Horas consistentes 53
Avisos com antecedência 53
Criar uma rotina 54
Oferecer atividades relaxantes 55
Baixar nível de energia 55

Perguntas e respostas 56

Mais recursos úteis 69

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Autismo e bem-estar
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Mensagem dos Fundadores da Vencer
Autismo

Em 2010 começamos a loucura de trabalhar 32


horas por semana com a nossa filha (enteada do
Joe), a Caui.

As melhorias eram avaliadas a cada duas/três


semanas mas eram melhorias - “milímetro a
milímetro”.

Treinamos e aprendemos junto de dezenas de


voluntários que passaram pelo quarto da Caui
durante vários anos. A história de sucesso da
Caui tinha que ser conhecida e tinha que ser
replicada onde possível.

Pensamos que tínhamos encontrado a fórmula


mágica e assim decidimos criar um centro no
Porto onde tivemos até 35 crianças com
resultados espantosos - melhoraram 10% a cada
12 meses (o relevante não é a percentagem
concreta mas sim as notáveis melhorias).

Mas só conseguimos ajudar quem estivesse perto geograficamente e quem tivesse


dinheiro para realizar uma terapia intensiva. Não era escalável, não era “a” solução
para as mais de 15.000 pessoas que têm Autismo em Portugal.

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Autismo e bem-estar
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Estudamos o problema do autismo e chegamos a esta conclusão que marcou (e
marca todos os dias) o rumo e missão da Vencer Autismo:

O problema não é o Autismo de quem o tem, o problema é o estigma negativo. A


sociedade não entende Autismo.

“ O problema não é o Autismo de quem o tem, o problema é o


estigma negativo. A sociedade não entende Autismo.

Começamos a segunda loucura: vamos ensinar TODOS a entenderem o que é


verdadeiramente o Autismo, tirar o grande estigma negativo que limita as
oportunidades que as pessoas com Autismo poderiam (e deveriam) ter para atingir o
seu verdadeiro potencial.

Anos passaram e o COVID obrigou-nos a passar para o meio digital conseguindo


assim chegar a mais pessoas sem precisarmos de percorrer todo o país todas as
semanas. Isto nos tem permitido dedicar mais tempo a entender os cuidadores: pais,
educadores, professores, terapeutas, psicólogos, médicos, enfermeiros,... a todas as
pessoas que lidam com autismo.

E agora começamos a terceira loucura: criarmos soluções simples, práticas e


acessíveis que permitam a todas estas pessoas entenderem melhor as pessoas com
autismo com quem convivem/ com quem se deparam para que todos possam ser em
maior ou menor grau, dentro da sua atividade habitual, parte da mudança positiva
das pessoas com autismo.

Sabemos que é possível, e também sabemos que é a única forma das pessoas com
autismo ganharem autonomia: é o entorno que tem que perceber a pessoa com
autismo (entrar no mundo da pessoa com autismo) e adaptar-se às suas
necessidades e características até ela ganhar as competências para sucessivamente e
progressivamente estar cada vez mais “no nosso mundo”.

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Autismo e bem-estar
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“ [...] para que todos possam ser em maior ou menor grau, dentro
da sua atividade habitual parte da mudança positiva da pessoa
com autismo.

Por isso celebramos (em maiúsculas!) que estejas a ler este e-book. Porque sabemos
que estás um passo mais perto de mudar a vida de alguém com autismo e de mudar
a tua própria.

Sentimo-nos privilegiados por fazer o que mais gostamos e honrados pela tua
companhia.

Continuamos… até todos entenderem.

Abraços, Sorrisos e Gratidão

Joe & Susana

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Autismo e bem-estar
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Introdução
No final da primeira semana do
confinamento de COVID lançamos um
inquérito para saber como se sentiam os
cuidadores de pessoas com autismo. Um
dado foi muito impactante: 60% diziam
sentir-se “mais sós” ou “muito mais sós”
desde o início do confinamento. Isto numa
população que já se sentia “muito mais só”
do que a média!

Na manhã do dia 18 de março de 2020


analisamos as respostas ao inquérito e à
vista dos resultados reunimos a equipa:

"O que podemos fazer para que os


cuidadores de pessoas com autismo sintam
que não estão sós?”.

Decidimos esse mesmo dia 18 de março que


todos os dias do confinamento iríamos
tomar café às 16h com quem se quisesse juntar a nós. E assim foi, todos os dias de 2ª
a 6ª até final de julho e desde o 1 de setembro todas as 4as feiras… e 1 Milhão de
visualizações depois de termos encontrado uma forma de estar mais próximos de
vocês mas o motivo pelo qual comento isto é pela grande lição que aprendemos:

OUVIR. Perguntar... deixar espaço… e... Ouvir.

Perguntamos aos cuidadores como se sentiam - nos disseram: sentimo-nos sós. Isto
nos permitiu criar o Café Vencer que faz tanto sentido que continua a ter milhares de
visualizações a cada semana.

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Autismo e bem-estar
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Recebemos muitos pedidos para criarmos novos formatos além das nossas palestras
e workshops gratuitos (os quais já tiveram mais de 50.000 participantes!!!), e assim,
decidimos perguntar.

E nos permitimos perguntar tudo: qual os temas que querem que partilhemos? Qual
o preço que devíamos cobrar? Qual a duração ideal da sessão? A que horas deveria
acontecer? Em que dias da semana? Que extras valorizavam que tivesse o
masterclass…

OUVIMOS.

E o resultado é esta masterclass que tens nas mãos. Seguimos o nosso estilo e
paixão para vocês aprenderem criando conteúdos acessíveis, fáceis de compreender,
fáceis de implementar, essencialmente práticos (úteis na vossa vida a partir de “já”)
e com um bom mix de humor com amor, porque todos aprendemos, brincamos e
participamos mais e melhor quando estamos motivados. Pretendemos que esta
Masterclass seja um “atalho” para encontrar as soluções para cada uma das vossas
realidades, que este e-book sejam os 55 minutos aos quais se refere Einstein:

“ Se tivesse 60 minutos para resolver um problema do qual a


minha vida depende… dedicaria 55 minutos a entender o
problema e 5 minutos a resolvê-lo

- Albert Einstein

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Autismo e bem-estar
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Objetivos
Estar confortável

Um dos fatores determinantes para ajudarmos as crianças que acompanhamos é nós


estarmos confortáveis com a situação, com os comportamentos, com a realidade da
nossa criança.

Cuidadores felizes fazem crianças felizes fazem cuidadores felizes…

Desde a Vencer Autismo damos muita importância a este objectivo, porque sabemos
que um cuidador/ uma cuidadora que se sente mais à vontade na presença da sua
criança aumenta as probabilidades de ter mais e melhor interação, além de estar
num lugar que lhe permite tomar melhores decisões.

“ Cuidadores felizes fazem crianças felizes fazem cuidadores


felizes…

Medimos o impacto das nossas palestras e workshops 6 meses após a nossa


intervenção com os seguintes resultados:

“Tenho sentido maior tranquilidade e confiança no meu contexto desde o workshop


Autism Rocks!”
91% responderam Concordo e Concordo totalmente

“Tenho sentido maior tranquilidade e confiança em contexto de sala de aula desde o


workshop Autism Rocks!”
93% responderam Concordo e Concordo totalmente

“Tenho aplicado os conhecimentos adquiridos no workshop na minha vida”


72% responderam Muito e Muitíssimo

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“A minha qualidade de vida em geral tem melhorado”
61% responderam Muito e Muitíssimo

Saber o que fazer

O nosso maior desafio é simplificar o que parece complicado. Criar modelos de


comportamento e/ou de intervenção para o dia-a-dia baseados no bom senso mas
também na experiência e que possam ser realizados por qualquer pessoa. Quando
todas as pessoas à volta da pessoa com autismo sabem o que fazer em cada situação
tornam-se agentes dinamizadores da evolução positiva da criança além de saber
como agir/reagir quando surgem desafios.

Neste e-book partilhamos contigo um modelo simples de como ajudar a tua criança
e permitir-te implementar estas ideias no dia-a-dia e multiplicar assim as horas de
desenvolvimento da tua criança. Horas que irias passar com ela na mesma.

Aqui os resultados de impacto das nossas palestras e workshops 6 meses após a


nossa intervenção:

“Tenho-me sentido mais capaz de estar/trabalhar com crianças com Autismo”


82% responderam Muito e Muitíssimo

“O meu trabalho desde o workshop Autism Rocks! tem sido mais fácil que
anteriormente”
86% responderam Concordo e Concordo Totalmente

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Autismo e bem-estar
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Compreender a minha criança

Cada pessoa com autismo é uma pessoa com autismo. Para sermos eficazes na nossa
intervenção vamos ter que adaptar-nos às necessidades e motivações da nossa
criança. E para isso é fundamental compreendê-la.

Na maior parte das situações não conseguimos resolver desafios porque não
compreendemos a nossa criança. Uma vez que compreendemos como elas podem
sentir o mundo que as rodeiam, passamos a julgar menos, empatizar mais e
automaticamente adaptarmo-nos às suas necessidades para ela poder evoluir
positivamente.

O que mais te ajudar a ajudar a tua criança vai ser observar e “meter as mãos na
massa”.

Nas nossas intervenções estamos a conseguir que cada vez todos compreendam
melhor Autismo e sejam assim, automaticamente, mais capacitados para ajudar as
suas crianças desde o momento que saem duma sessão junto da Vencer Autismo:

“A participação no projeto Autism Rocks! tem contribuído para o meu entendimento


do Autismo”
97% responderam Muito e Muitíssimo

Evolução positiva da minha criança

Este é o objectivo indireto - dotarmos os cuidadores de conhecimento, entendimento,


compreensão e umas ferramentas ou modelos “lógicos” de intervenção irá permitir,
quanto mais intensiva (em tempo e qualidade) a intervenção, maiores progressos
serão de esperar.

Desenvolvemos modelos que permitem aos cuidadores serem parte ativa na


evolução positiva das suas crianças. Aqui os resultados das nossas intervenções em
workshops medidos 6 meses depois:

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“A(s) criança(s) que acompanho está/estão em geral melhor que anteriormente”
76% responderam Concordo e Concordo Totalmente

“A(s) criança(s) que acompanho está/estão em geral mais tranquila(s)”


73% responderam Concordo e Concordo Totalmente

Contexto
Este ebook é um complemento a uma Masterclass que é destinada principalmente a
pessoas que já tenham assistido a uma palestra e/ou um workshop “Entender
Autismo”. Estas palestras e workshops costumam acontecer periodicamente. Cada
mês celebramos aproximadamente duas palestras de 2 horas e um workshop de 6
horas e costumam ser de acesso gratuito.

Caso não tenha assistido ainda, queira rever ou partilhar com alguém, tem aqui os
links para registar-se no próximo evento:

www.vencer.link/palestra
www.vencer.link/workshop
www.vencer.link/masterclass

Recomendamos vivamente assistir aos nossos eventos nesta ordem devido aos
conteúdos que passam de mais genéricos até mais detalhados. Toda nova “lição”
constrói sobre as bases explicadas em “lições” anteriores.

Por exemplo na palestra explicamos detalhadamente como é a configuração


sensorial da pessoa com autismo o qual explica muitos comportamentos e nos

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permite como cuidadores adaptar o ambiente reduzindo assim os desafios sensoriais
da pessoa com autismo e permitindo termos uma pessoa mais disponível para
aprender connosco e com o seu entorno.

Também falamos da importância determinante do cuidador no processo de


desenvolvimento da pessoa com autismo. Em palavras de Naoki Higashida (autismo
não verbal):

“ [...] as suas famílias, cuidadores e professores não devem


desistir deles. A pessoa com necessidades especiais sentirá
essa resignação e perderá a sua motivação deixando de tentar
falar. Isto pode até corroer a sua vontade de viver. Acredita
em mim. A comunicação é a pessoa, a um nível maior. Por favor,
não sejas a primeira pessoa a afastar-se.”

- Naoki Higashida

No workshop e nas Masterclass não explicamos estas partes basilares para o


trabalho com autismo mas insistimos na importância que têm assistir previamente à
palestra de 2 horas para o workshop/ masterclass ser muito mais proveitoso.

Na palestra também explicamos a definição de autismo e as variáveis que afetam


para que uma pessoa tenha dificuldades na interação social e realize atividades
exclusivas e repetitivas (as duas componentes que definem autismo).

Estas variáveis são nas quais trabalhamos para ajudar a pessoa com autismo a
adquirir as competências que precisa para ser mais autónoma, para ter mais
interação social e reduzir os comportamentos repetitivos e exclusivos (e portanto,
por definição: reduzir o seu autismo).

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MODELO AUTISM ROCKS! - DIMENSÕES DO AUTISMO

Todas as variáveis contidas no modelo afetam ou definem “o Autismo” da pessoa de


quem vocês cuidam ou podem vir a cuidar no futuro.

Por isso os conhecimentos partilhados nas palestras e workshops irão contribuir


significativamente a construir uma base sólida para que os conceitos e partilhas
contidas neste livro tenham mais sentido e sejam compreendidas e interiorizadas de
forma quase automática. Caso ainda não o tenham feito, visitem uma das nossas
palestras de 2 horas que já tiveram mais de 50.000 participantes com uma avaliação
média de 92/100. Os nossos Workshops foram frequentados por mais de 5.000
pessoas e têm um NPS® médio de 94 (!!!).

Feitas todas as introduções passemos à ação! É hora de falarmos sobre o bem estar
das nossas crianças! Vamos a isso!

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Autismo e bem-estar
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Autismo e bem-estar
O bem estar das nossas crianças é fundamental.

Se queremos uma criança disponível, aberta e


responsiva à aprendizagem, ela tem de estar
bem nas outras áreas do desenvolvimento,
nomeadamente na área da saúde.

Sabemos que as nossas crianças têm uma forma


de sentir e viver o mundo de uma forma
diferente da nossa.

Nesse sentido é importante termos em conta o


todo, quando queremos trabalhar com elas os
seus desafios.

A área da saúde tem um papel muito importante


no desenvolvimento das nossas crianças e ter em
conta esta variável pode fazer toda a diferença.

Muitas vezes, as nossas crianças têm de lidar


com vários desafios, o que faz com que não
estejam tão abertas e disponíveis para a
aprendizagem.

Entendermos a nossa criança é o ponto chave para as conseguirmos ajudar. No que


toca à área da saúde, a abordagem é a mesma. Quais são as dificuldades concretas
da minha criança na alimentação? Quais são os desafios na área do sono? Do
desfralde? Depois de estes mesmos desafios estarem bem identificados, será muito
mais fácil para nós sabermos o que fazer e como fazer. Por isso, ao longo deste
e-book iremos dar-te várias estratégias para conseguires ajudar a tua criança.

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Autismo e Alimentação

Qual a relação entre autismo e alimentação?

Autismo e desafios na alimentação, são bastante comuns. Mas porque será que esta
relação existe? Apesar de não haver acordo entre os vários especialistas, uma coisa é
certa, é super comum as crianças com autismo terem desafios a nível
gastrointestinal:

* diarreia

* obstipação

* dores de estomago

* intolerâncias / alergias alimentares

* perturbações de sono

Estes sintomas são causados por uma inflamação que pode estar associada a uma
deficiência nutricional e por alterações bioquímicas internas.

Atualmente já é super conhecida a ligação directa entre intestino e cérebro, e se o


intestino não está saudável o cérebro vai ressentir-se. O que as crianças comem
afetará diretamente o cérebro, a saúde do microbioma intestinal e a disponibilidade
de nutrientes cerebrais devido à conexão intestino-cérebro. A má digestão pode
prejudicar a capacidade da criança obter nutrientes importantes para o cérebro e
funções cerebrais. Há evidências de que os alimentos podem causar danos à
microbiota intestinal, intestino permeável, inflamação e resposta imunológica em
crianças com autismo *

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Os alimentos mais comuns para intolerâncias alimentares são o Glúten (proteína
existente na maioria dos cereais e alimentos processados) a Caseína (proteína do
leite e derivados) e o Açúcar.

Existe muita literatura e estudos sobre o tema mas colocando de uma forma simples,
crianças com autismo apresentam intestino permeável o que faz com que as
proteínas do glúten e da caseína entrem na corrente sanguínea e dão ao cérebro uma
sensação de prazer equivalente à morfina.

Para estas crianças este tipo de comida é como uma “droga”.

Possivelmente estás a pensar… Tudo que a minha criança come é pão, massas , leite
e derivados… E é comum crianças que têm intolerâncias acabam por ser as que mais
consomem este tipo de alimentos.

Uma vez que se retira estes componentes eles começam a abrir possibilidade de
experimentar outro tipo de alimentos.

Se a criança come muito açúcar pode impedir que coma alimentos mais saudáveis.
Além disso, o açúcar ajuda no crescimento de fungos e bactérias como a cândida que
por sua vez causa dificuldades na concentração e foco. Adicionalmente cria picos de
energia. Reduzir gradualmente a quantidade de alimentos com açúcar vai ajudar a
que a tua criança fique mais calma e mais tranquila e por consequência seja mais
fácil trabalhar com ela.

*https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/25956238/

Sinais comuns

Os sinais a que deves estar atento e que pode denunciar que algo possa ser
investigado são:

* barriga inchada

* obstipaçao

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* diarreias

* alternar com períodos de diarreia e obstipação

* olheiras

* seletividade Alimentar

Checklist

*Perceber se há intolerâncias / sensibilidades alimentares - consulta um médico


nutricionista especialista em autismo

* Considera eliminar o Glúten a Caseína e o Açúcar da alimentação da tua criança

* Pesquisa diferentes abordagens:

* Está preparado/a:

- Escolhe a abordagem e acredita 100% no processo


- Estuda bem os alimentos que a tua criança pode e não pode comer
- Elimina de tua casa tudo que a tua criança não pode comer
- Explica à tua criança e a todos que vivem em tua casa e que estão em
contacto com ela a dieta e porque é importante e os benefícios de
seguir à risca

* Opta por produtos o mais naturais e biológicos possível

* Dá controlo quando introduzires novos alimentos

* Ama os novos alimentos, modela o que queres ver, mostra à tua criança como são
deliciosos

*Tem os novos alimentos super acessíveis para a tua criança

* Sê criativo na hora de os apresentar

* Não limites a apresentação de novos alimentos à hora da refeição, tenta fazê-lo


quando a tua criança está motivada numa brincadeira ou numa tarefa.

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Diário Alimentar

Uma ferramenta que te pode ser muito útil a identificar quais os desafios da tua
criança nesta área é o diário alimentar.,

Quando falamos em diário alimentar, falamos em registar tudo o que possa ser
relevante para trabalhar este tema.

O importante a saber é:

a. O que come a criança


b. Quando come

Muitas vezes fazer este registo ajuda-nos a perceber uma série de coisas que nos
poderá depois ajudar na fase seguinte: que é a introdução de novos alimentos.

Neste registo podes incluir perguntas como:

* a que horas do dia comeu?

* o que comeu?

* onde comeu?

* quais as quantidades?

* quais as texturas?

* quais os cheiros?

* quais os sabores (fortes, menos fortes, com especiarias, o mais simples possível,
com sal / sem sal, etc)?

* quais as cores?

* quem estava presente?

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* como responderam as pessoas à volta (incentivaram, forçaram, insistiram,
celebraram, modelaram, etc)

* houve algum fator ambiental (ex: música de fundo)?

* como esteve durante o dia?

* quantas horas dormiu?

Etc, etc, etc.

Na verdade não existe um guião “certo” mas aponta tudo o que possa fazer sentido e
tudo o que na tua opinião, possa influenciar a tua criança nesta área.

Aconselhamos a que este registo seja feito por vários dias antes de ser analisado, e
se possível, em vários contextos.

Depois de registar por vários dias, analisa o padrão alimentar da tua criança e tenta
perceber o que poderá ou não influenciar a tua criança nesta área. Haverá alguma
variável que seja facilitadora? Haverá alguma variável que dificulte o processo?

Fazer esta análise vai-te ajudar a perceber qual o padrão e que estratégias podes
testar para ver se ajudam nesta questão.

Por exemplo:

Imagina que a tua criança aceita texturas que sejam mais crocantes vs texturas que
sejam mais macias.

Esta informação é valiosa para a introdução de novos alimentos, pois iremos começar
por alimentos que tenham uma textura semelhante ao que ela já come de momento.

Se a tua criança gosta de comidas crocantes e gostarias de introduzir algum legume


ou fruta, podes introduzir brócolos crus, cenoura em palitos crua, maçã aos pedaços,
etc.

Mas se por outro lado a tua criança prefere comidas mais macias podemos
apresentar estes alimentos de outra forma, tais como: compota de maçã ou maçã

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assada, cenoura e brócolos mais cozidos que dê para esmagar e oferecer em puré,
etc etc.

Outro exemplo:

Imagina que a tua criança não suporta o cheiro do ovo. Neste caso, talvez possas
testar oferecer-lhe ovo cozido, pois o cheiro não é tão forte como o ovo estrelado.

A ideia é entender a tua criança e quais as suas preferências. Ao entender quais as


suas preferências, será muito mais fácil para ti a introdução de novos alimentos.

Queremos modificar a comida para melhorar a experiência sensorial das nossas


crianças e introduzir o novo alimento em pequenos passos, para uma
dessensibilização gradual.

Introdução de novos alimentos

Introduzir novos alimentos é toda uma aventura e queremos estar prontos para esta
nova aventura!

Segue de seguida várias estratégias a ter em conta quando o momento chegar.

Estratégias a evitar

Como vimos, a introdução de novos alimentos pode ser um verdadeiro desafio para
as nossas crianças.

Todos nós temos as nossas preferências e há alimentos que simplesmente não


suportamos (seja pela sua textura, sabor, cheiro, etc).

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No caso das nossas crianças não se passa de forma diferente, mas de facto, podem
ter uma “intolerância” maior a mais alimentos do que nós, muito pelas questões
sensoriais que vivenciam todos os dias.

Quando queremos motivar a nossa criança a experimentar algo de novo, queremos


ser motivadores, entusiastas, divertidos e acima de tudo, um modelo inspirador a
seguir.

Desta forma, recomendamos que quando chegar o momento, evites três estratégias
que são bastante comuns:

1. Forçar / obrigar a criança a comer

Usar esta estratégia pode piorar as coisas e a criança pode criar ainda mais
resistência na altura de comer. A maior parte das crianças vai associar o momento da
refeição a um momento de pressão e desconforto e não é isso que queremos.

Queremos que as nossas crianças associem o momento da refeição a um momento


de aventura, diversão e exploração de novas experiências.

Quando obrigamos ou forçamos uma criança a comer, raramente tem bons


resultados para ambos. Resulta que ambos ficamos frustrados e com uma má
experiência nesta área - quando o que queremos proporcionar é precisamente o
contrário.

2. Preparar refeições separadas

Se queremos que a criança prove novos alimentos, não pode haver uma segunda
opção mais apetecível para ela. Todos nós se temos duas opções de alimentos,
vamos optar pelo alimento da nossa preferência - é perfeitamente normal e tem toda
a sua lógica.

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Contudo, quando estamos a tentar introduzir algo de novo, a segunda opção não
pode existir.

Pega no diário alimentar da tua criança e vê por que alimentos podes começar e tem
esse alimento presente no momento da refeição, sem plano b.

Sabemos que as nossas crianças podem ter hábitos alimentares exigentes, mas
ignorarmos isso e dar-mos sempre uma refeição “especial” para a nossa criança, vai
incentivá-la a continuar a ser exigente, pois sabe que assim terá sempre a refeição
que pretende.

3. Castigar / ameaçar castigar se não comer

Castigar as nossas crianças por não comerem, raramente funciona e pouco motivador
se torna igualmente para elas, toda a relação com a comida - pois associam a um
estímulo negativo.

Antes de castigar / retirar algo que sabemos que a criança gosta, vamos tentar a
abordagem oposta: incentivar, modelar, celebrar. O reforço positivo tem
consequências bem mais proveitosas a longo prazo, do que o reforço negativo.
Vamos “recompensar” o comportamento alimentar que desejamos ver com um
elogio, uma celebração, uma valorização. Vamos mostrar à criança qual o
comportamento que queremos promover e motivar.

Pensar fora da caixa

Várias vezes falamos na importância e no impacto de recorrer à nossa criatividade


quando estamos a trabalhar os desafios das nossas crianças.

A verdade é que cada criança aprende de uma forma diferente e muitas vezes,
aprende através de experiências.

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Sendo a área da alimentação uma área bastante desafiante para as nossas crianças,
queremos promover experiências que sejam positivas e agradáveis, para as motivar a
se desafiarem e a experimentar alimentos novos.

Apresenta a comida de várias formas. Já falámos em cima de apresentar consoante a


textura, sabores, cores e cheiros que a tua criança prefere. Mas não fiques por aí. Vai
mais além e puxa pela tua criatividade.

Cria partos engraçados, apelativos, que despertem o interesse da tua criança. Podes
recorrer às suas motivações ou testar coisas novas.

Partilhamos contigo alguns exemplos para te inspirares. Do mais simples ao mais


complexo, testa o que faz sentido para a tua criança:

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Não existe uma fórmula mágica e só testando e experimentando, é que vamos
descobrir o que funciona para a nossa criança.

Queremos incentivar a criança a mexer, explorar, mexer, cheirar, etc. Numa primeira
fase pode nem colocar os alimentos à boca, mas queremos que veja os alimentos de
uma nova perspetiva - de uma forma mais motivadora, aliciante, interessante,
divertida.

Apresenta os pratos de comida de várias formas, durante vários dias e vai


observando como reage a tua criança: ao que reage mais, ao que reage menos, etc.

Dá-lhe a oportunidade de olhar para os novos alimentos com um novo olhar e de


poder explorar se assim sentir necessidade. Mesmo que pegue, coloque na boca e
volte a cuspir, deixa-a a passar por esse processo a seu ritmo e tempo.

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A introdução de novos alimentos é bastante complexa e é importante trabalhar esta
questão passinho a passinho. Se colocar na boca e depois voltar a cuspir para o
prato: celebra. Se apenas tocar e cheirar: celebra. Mostra-lhe como o que ela está a
fazer é um passo importante para o seu desenvolvimento e crescimento.

E acima de tudo: dá-lhe o controle. Se a criança se sentir segura, em controle (sem


pressões / nem obrigações) estará muito mais tranquila e aberta a experimentar e
tentar algo que para ela é completamente novo. Confia nas capacidades da tua
criança para te surpreender.

Modelar

Modelar é tão importante e deve estar presente em todas as áreas do


desenvolvimento.

Queremos modelar o que queremos ver. Um exemplo é sempre muito mais efetivo do
que uma simples instrução / indicação.

Muitas vezes nós próprios quando estamos a comer fazemos comentários menos
apelativos como “uuuh não quero salada, não gosto nada”, “estes legumes têm mau
aspecto”, etc etc.

Se queremos motivar as nossas crianças a provar novas comidas, nós próprios temos
que AMAR estes novos alimentos e comentar de forma exagerada como aquele novo
alimento é maravilhoso.

A ideia é apresentar o brócolo como se estivéssemos a apresentar um delicioso


gelado.

Nestes momentos em que estamos a modelar, não temos de falar diretamente para a
criança. Podemos comentar simplesmente em família como as cenouras estão
incrivelmente crocantes e deliciosas ou como a sopa de legumes é a sopa do super
dragão que dá energia e força para as aventuras do dia a dia.

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Modela e mostra à tua criança de forma divertida e entusiasta como comer o novo
alimento que estás a propor é efetivamente um momento de prazer. A ideia é
motivá-la através do teu exemplo a ela também provar e experimentar. Modela no
dia-a-dia de forma consistente, pois quanto mais o fizeres, maior serão as
probabilidade de a tua criança te querer imitar e também experimentar.

Introduzir em brincadeiras

Podemos ainda trazer os novos alimentos para as brincadeiras, para estarem


presentes nos momentos em que a criança mais se diverte.

Como falado, aprendemos todos através das experiências e se associarmos o


momento da alimentação a um momento de pressão, a nossa abertura para este
tema será reduzida. Mas se o tema entrar em momentos que nos estamos a divertir e
estamos felizes, a nossa abertura será maior.

Não temos de trabalhar a alimentação apenas nas horas das refeições, mas também
o podemos fazer nas atividades interativas preferidas das nossas crianças.

Por exemplo:

Se a tua criança adora brincar com as bonecas / algum peluche / personagem


específico, etc.

Pode ser a hora do chá e fazem uma brincadeira onde vão todos lanchar e podem
modelar também com as bonecas / peluche / personagem, dando-lhes o novo
alimento a brincar.

Se a tua criança gosta de cócegas, podes por exemplo, fazer um jogo de cócegas em
que és o monstro das cócegas que corre atrás dela para depois a encher de cócegas.
Inicia a brincadeira com ela e quando a sentires completamente envolvida anuncia
que estás a ficar sem energias, que te estás a sentir cansada e vais ter de fazer uma
pequena pausa para comer algo para repor energia. Tem perto um prato com um

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alimento novo que estás a tentar introduzir cortadinho em pedaços pequenos e
quando anunciares que vais comer para ganhar energias pega no prato de forma
entusiasmada e diz algo do género "hummm, que bem que isto cheira e que bom
aspecto tem! Vou comer para ver se ganho forças para continuar a fazer-te
muitaaaaas cócegas!".

Saboreia com entusiasmo, partilha o bom que é o que estás a comer, aproveita o
momento para ser o exemplo que queres que a tua criança seja. E retoma a
brincadeira com ainda mais animação!

Numa fase inicial serve apenas de exemplo e continua a repetir o processo várias
vezes. Deixa o prato à vista e alcance da tua criança e se vires que ela tem
curiosidade (por exemplo se vires que está a olhar para a comida) convida- a ver de
mais perto, a tocar, cheirar e quem sabe provar.

Passo-a-passo sem pressão, deixa-a ir tendo contacto com o alimento novo. Todos
os momentos são oportunidades de aprendizagem e os melhores e mais efetivos é
quando a criança está livre de pressões e se está a divertir. As probabilidades de
aderir aumentarão o dobro!

Deixar disponível

Deixar a comida disponível também é importante.

Como falado, as crianças têm o seu próprio tempo e ritmo e por vezes, o momento
em que apresentamos a comida, pode não ser o timing para a nossa criança.

Depois de aplicar todas estas dicas, assegura-te que tens o novo alimento que
queres introduzir disponível.

Podes colocar em vários pratinhos e / ou tigelas espalhadas pela casa e ao alcance


da criança. Desta forma, se a criança sentir vontade / necessidade, poderá aceder ao
novo alimento e quem sabe experimentar.

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Desfralde
Iniciar o processo de desfralde com as nossas crianças é o início de uma nova
aventura, e é importante que tanto as nossas crianças, como nós cuidadores,
estejamos prontos para este início.

Para tal, partilhamos de seguida várias dicas e estratégias para te ajudar neste novo
processo, bem como, algumas observações importantes a ter em conta.

A grande aventura do reino do WC

Adotar novas crenças

A grande aventura do reino do WC começa com a nossa atitude! Adotar novas


crenças é um passo fundamental.

Por norma associamos o coco e o xixi a coisas negativas e podemos ter comentários
como “iiiih cheira tão mal, que horror, etc”. Criamos todo um monstro em volta do
tema criando um estigma negativo que na verdade não existe.

Portanto, o primeiro passo passa por mudar a nossa visão sobre o cocó e o xixi e
transmitir essa ideia às nossas crianças:

“Yahoooo! Fizeste cocó! Que espetacular! Quer dizer que o teu corpo funciona, que
estas saudável, incrível!”

Falar abertamente sobre este tema irá ajudar a nossa criança a estar mais relaxada.
Explicar como se processa, para onde é que vai, o que acontece - ajuda a retirar toda
uma carga negativa de um assunto que por norma não abordamos, como se fosse
algo de mau.

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E de facto, esta área é a única área que as nossas crianças têm total controlo.
Ninguém pode obrigar uma criança a fazer as suas necessidades, porque são eles e
está dentro do corpo deles.

Desta forma, tem de partir deles e nós temos de ter o papel de facilitadores.

Não ceder a pressões exteriores

Não ceder a pressões exteriores não é fácil, principalmente para crianças que
comecem ou que já estejam na escola. Há muito a ideia de que há uma idade “certa”
para a criança já ter o desfralde feito.

Cada um de nós faz o melhor que sabe e cada criança tem o seu ritmo e timing.

Não te sintas mal, nem pressionado/a para fazer o desfralde à tua criança se ainda
sentes que não está pronta. A verdade é que não depende somente do cuidador,
depende muito da criança também.

Associar pressão ao desfralde vai fazer com que a tua criança tenha menos vontade e
menos motivação para fazer a retirada das fraldas, bem como, gerar frustração por
não estares a conseguir, tornando-se num processo mais longo, penoso e demorado.

Como saber se a minha criança está preparada?

Desta forma, um ponto fundamental é saber quando estará pronta a minha criança
para iniciar esta aventura.

Se iniciarmos o processo numa fase em que a criança mostra muita resistência, está
muito controladora, talvez seja o momento de colocar o processo em pausa e voltar a
tentar numa altura que a criança mostre mais abertura.

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Existem de facto alguns pontos que te podem ajudar a identificar se a tua criança
está ou não pronta para o desfralde:

* a criança ter mais de dois anos e meio

* ter um tempo de atenção conjunta por mais de 2 minutos seguidos (sem


interrupções)

* mostrar alguma noção do que sente: salta de um lado para o outro mostrando que
quer fazer xixi, vai para um canto para fazer cocó na fralda, pede uma fralda para
fazer xixi / cocó nela, pede para remover / trocar a fralda depois de fazer as
necessidades

* tem boas habilidades motoras como caminhar até à casa de banho, subir escadas,
descer a roupa, etc

Conhecer o ritmo de cada criança

Se a tua criança já apresenta vários marcos de que está pronta para o desfralde, é a
altura de conheceres o ritmo da tua criança.

Muitos pais / cuidadores / profissionais, utilizam no início a técnica de levar a criança


de 30 em 30 minutos à casa de banho.

Utilizar esta estratégia acaba por ser maçador para a criança, que fica com a
sensação que está constantemente na casa de banho e muitas vezes não irá fazer as
suas necessidades, porque pode não ser o timing para ela.

Além disso, esta técnica vai fazer com que se interrompa várias vezes o que a criança
está a fazer para a levar à casa de banho e pode interferir com atividades divertidas
que esteja a fazer no momento - tornando a ida à casa de banho uma experiência
chata que a obriga a parar de fazer o que gosta para fazer algo que se calhar para
ela não tem sentido.

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Desta forma, importa antes saber quando faz xixi e cocó a minha criança. Pega numa
folha / diário e aponta quando o faz, como por exemplo:

* cerca de 1h depois de beber água faz xixi

* cerca de 30 minutos após tomar o pequeno almoço faz cocó

* etc

Com este registo vamos conseguir perceber mais ou menos quando tem vontade de
fazer as suas necessidades e a partir desse registo, vamos conseguir definir um
horário para levar as nossas crianças à casa de banho.

Imagina que a tua criança faz xixi, 1h depois do pequeno almoço. Usando por base
esta informação, 15 minutos antes de terminar essa hora, vamos convidar a criança a
ir à casa de banho.

Estar preparado a 100%

Antes de iniciar o processo de desfralde, garante que tens a logística toda


preparada:

* se tens o redutor de sanita ou o pote se queres começar por aí

* se tens a escadinha para subir e apoiar os pés, no caso de crianças que ainda não
cheguem ao chão

* compra tudo o que necessitas para iniciar esta aventura: cuecas extras, proteção de
colchão, toalhas, toalhetes, etc

* escolhe o dia e dá previsibilidade e controlo à tua criança

* retira por completo as fraldas! Se não houver esta opção será mais fácil para a
criança começar a usar a sanita de forma regular

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* estar preparada/o para os acidentes pois eles vão acontecer e fazem parte do
processo

* acreditar na capacidade de a tua criança conseguir

Passo-a-passo

Como falado em cima, o nosso papel ao longo deste processo é sermos um


facilitador. Queremos explicar de forma clara à nossa criança como as coisas
funcionam e que etapas terá de seguir para conseguir fazer o desfralde.

Queremos ser um modelo que as inspire a embarcar nesta aventura sem medos e
receios e mostrar-lhes como as idas à casa de banho são de facto algo maravilhoso!

Garantir que a criança sabe o que se passa no WC

Primeiro passo fundamental: queremos garantir que a criança sabe o que se passa na
casa de banho.

Parece algo de bastante óbvio mas muitas vezes, as nossas crianças não sabem o
que se passa na casa de banho.

Alguma vez usaste a casa de banho e saíste da casa de banho a celebrar e a


verbalizar o que foste lá fazer e porquê?

Por norma o que acontece, é que entramos na casa de banho, fechamos a porta e
saímos de lá caladinhos, como se tivesse acontecido algo de criminoso.

Como mencionado acima, queremos retirar o estigma negativo que possa estar
associado a este tema e partilhar abertamente e de forma simples com a nossa
criança o que afinal se passa na casa de banho.

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Fala abertamente sobre o assunto – que é algo natural, saudável, divertido e que faz
parte de sermos seres humanos. Já não é um segredo, nem algo que não se fala –
vamos falar-lhes abertamente sobre isso e de forma positiva.

Da próxima vez que trocares a fralda à tua criança e ela fizer cocó, mostra-lhe de
forma sorridente e partilha com ela como ela conseguiu, que o corpo dela é incrível e
está a fazer exatamente o que é suposto fazer. De seguida leva a fralda para a casa
de banho para a deitar fora para ela saber exatamente para onde é suposto ir.

Nesta fase inicial, é sempre que fores à casa de banho, anuncia de forma orgulhosa e
entusiástica que estás a sentir algo na tua barriga, na parte de baixo do abdominal,
uma sensação de empurrar para baixo e que está na hora de ir usar a sanita. Partilha
em voz alta com a tua criança e até podes convidá-la a ir contigo para lhe mostrar o
que acontece quando se vai à casa de banho.

Pais mostrem aos vossos filhos e mães mostrem as vossas filhas. Se as vossas
crianças vierem convosco, façam com que seja muito divertido. Talvez elas possam
puxar o autoclismo ou acenar para dizer adeus enquanto desaparece o cocó e o xixi,
sanita abaixo.

Pode parecer estranho, mas as nossas crianças precisam de ver o cocó na casa de
banho para reconhecer que o cocó delas também deve estar lá. O mesmo se passa
com o xixi – se puderes levar a tua criança contigo à casa de banho, ela poderá ouvir
o som do xixi e podes ir conversando com ela sobre o que está a acontecer de forma
animada – “Yahoouuu estou a fazer xixi na sanita. Sinto-me muito melhor agora que
estou a fazer xixi.”

Caso outro membro da família use a casa de banho, felicita-o pela sua experiência
quando sair e dá-lhe por exemplo mais cinco. Vamos mostrar às nossas crianças que
as idas à casa de banho não têm nada de assustador, antes pelo contrário, parece ser
bastante divertido!

Algumas das nossas crianças são aprendizes visuais e precisam de ver as coisas para
realmente as entenderem. Outras crianças precisam de tempo para processar e

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talvez precisem de ouvir um conceito ou ideias várias vezes. Outras precisam da
exemplificação da nossa parte.

Se por acaso a tua criança não quiser ir contigo, não tem mal nenhum. Partilha a tua
experiência “Acabei de fazer cocó e sinto-me muito melhor e bem mais leve.
Limpei-me e agora sinto-me bem fresco/a e limpo/a.”

Modelar

Além de modelar as idas à casa de banho de forma entusiasta, também é importante


elas entenderem como o seu corpo funciona e que sinais lhes pode dar que está na
hora de ir à casa de banho.

Nós sabemos quando temos xixi e sabemos quando temos cocó. Isto acontece
porque os nossos corpos nos dão mensagens diferentes.

Queremos explicar isso para as nossas crianças para as ajudar a perceber os sinais
que recebem.

Explica verbalmente o que estás a sentir ao detalhe em cada uma das situações. Para
nós pode ser óbvio, mas não quer dizer que seja para as nossas crianças. Este passo
é muito importante para se tornarem mais conscientes dos sinais que o corpo lhes dá
e saberem que está na hora de usar a sanita.

Podes ainda modelar o comportamento que gostarias de ver na criança com as suas
personagens favoritas. Pega no Mickey e dá-lhe boleia até à casa de banho para sair
na Estação Sanita e entregar o seu xixi e cocó. Se vires que a criança está motivada
ou está a entrar na brincadeira de levar o peluche, oferece-lhe a ela também boleia
para ver se aceita.

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Escolher dia

Escolhe o dia que vais iniciar a aventura e dá essa previsibilidade e controlo à tua
criança, anunciando esta nova etapa como sendo algo maravilhoso.

Pode ajudar, recorrer a um estímulo visual como o calendário em que se risca os dias
que faltam até o grande dia!

Recorrer às motivações

Quando recorremos às motivações da criança ou quando tornamos a experiência de


aprendizagem mais motivadora para ela, mais fácil é trabalhar com ela os seus
desafios e maiores são as probabilidades de ela entrar e alinhar naquilo que lhe
estamos a pedir.

Desta forma, deixamos algumas dicas, de como poderás tornar o espaço da casa de
banho e a sanita mais motivador para a criança, para ela começar a usá-la de forma
consistente:

* Se a criança gosta de animais podes colar autocolantes de animais na sanita e


podes decorar à volta como se fosse uma floresta, ou um oceano, ou uma selva…

Podes pedir à criança para participar desse processo de decoração contigo,


explicando que como ela está super crescida chegou o super momento de ela
começar a usar a sanita e que nesse sentido vão juntos decorá-la. A ida à casa de
banho pode ser o momento em que se tornam Exploradores e vão explorar o mundo
dos animais. Leva chapéus de explorador, lupa, óculos, máquina fotográfica..

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* Se a criança gosta de brincadeiras mais físicas, como girar/saltar, podes levá-la até
à casa de banho como se fosse um avião e a chegada à sanita pode ser a pista de
aterragem.

No caminho podes colocar uma pista feita com fita preta e com luzes de lado a
indicar o caminho que têm de percorrer. Podes tornar a viagem divertida com
algumas curvas e contracurvas ou alguma turbulência pelo caminho. Podem colocar
capacete de piloto (pode ser imaginário) e cinto de segurança (também imaginário).

* Se a criança gosta de carros, podes criar uma estrada até à casa de banho ou uma
pista de comboios.

Podes usar os carros ou os comboios para fazerem os dois uma corrida e quando
chegam à sanita deixam cair uma carga na sanita.

* Se a tua criança gosta de controlar, podes decorar a sanita como se fosse um torno
e podes criar uma coroa especial para usar quando se sentar no trono/sanita.

* Se a tua criança adora planetas, podes fazer a viagem aos vários planetas
colocando os mesmo no chão e saltitando de planeta em planeta e cada um pode ter
uma característica específica (consoante as motivações da criança).

Por exemplo Marte pode ser o planeta das cócegas, quando aterraram lá recebem
muitaaaas cócegas. Saturno pode ser o planeta da língua inventada e podes começar
a falar numa língua que não existe com sons engraçados e expressões faciais e
corporais mais exageradas. A sanita pode ser o último planeta que vão visitar e onde
podem descansar uns minutos, convidando a criança a sentar-se.

* Se a tua criança gosta de música, crie uma música específica para quando vão à
casa de banho e lá façam um concerto.

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* Se a tua criança gosta de festas, faz uma festa na casa de banho. Leva balões,
confetis, bonecos que ela goste para se juntarem todos à festa.

* Escolhe uma das motivações da tua criança e torna a sanita por exemplo na Sanita
de Cócegas ou Sanita das Bolas de Sabão e sempre que a tua criança se sentar ou a
usar, dá-lhe essa motivação para ela perceber que estar perto da sanita ativa as
ações motivadoras que gosta.

* No caso dos rapazes e se gostarem deste tipo de brincadeiras, coloca por exemplo
cereais na sanita e incentiva a tua criança a acertar com xixi nos cereais e a marcar
pontos.

Podes ter uma tabela ao lado e irem juntos contando quantos pontos conseguiu. Faz
como se estivesse num jogo de futebol e faz de claque, torce pela tua criança,
incentiva a continuar, vai celebrando e contabilizando os pontos de forma
entusiasmada.

Podes colocar uma escala de lado que vais preenchendo com cor e que quando chega
ao topo “arrebenta com a escala” (quando a criança termina de fazer xixi) e celebra
imenso. Podes até oferecer um troféu de melhor jogador!

Todas estas ideias podem ser ajustadas à motivação da tua criança. Podes usar
caminhos com números, letras, bolas… Podes colar autocolantes das suas
personagens favoritas… Podes ainda colocar uma prateleira perto da sanita com as
suas principais motivações para as ter perto dela quando usa a casa de banho.

Vai experimentando situações diferentes e formas diferentes e vê o que funciona


melhor com a tua criança. Vê de que forma o ato de sentar e usar a sanita será mais
confortável e fácil para ela.

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Adaptar sanita

Adaptar a sanita pode ser um passo fundamental para ajudar a tua criança no
processo de desfralde.

Usar redutores e / ou bancos para a criança apoiar os pés enquanto está a fazer as
suas necessidades dá uma sensação de equilíbrio maior, o que ajuda a criança a
permanecer sentada na sanita.

Além disso, pensa em formas de como tornar a casa de banho mais convidativa e
apelativa para a tua criança.

Tem em conta se a casa de banho está adaptada em termos de estímulos: observa a


iluminação, o cheiro dos sabonetes ou ambientadores, o barulho do autoclismo…

Livrar-se das fraldas

Como falado já em cima, retirar por completo as fraldas é fundamental. Não havendo
alternativa, a criança terá de usar a sanita / pote, mesmo que isso leve algum tempo.

A melhor forma da tua criança ter consciência da sua própria vontade de fazer as
suas necessidades é ela começar a usar cuecas.

E aí também podes recorrer à criatividade!

Compra cuecas divertidas e engraçadas para a tua criança (com as suas personagens
preferidas por exemplo). Podes sempre comprar cuecas brancas e decorá-las com
marcadores próprios com as motivações específicas da tua criança.

Se a criança gosta de letras e números podes também coser esses símbolos nas
cuecas. Puxa pela criatividade e pensa naquilo que a tua criança gostaria. Tenta

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diferentes tipos, como cuecas, boxers, com fibras naturais se a tua criança for mais
sensível, etc.

Se quiseres, numa fase inicial para não ser tão radical, podes começar por vestir as
cuecas por cima da fralda até fazer totalmente a transição.

O facto de a tua criança largar a fralda, é uma excelente oportunidade de ela


experienciar a verdadeira sensação de não ter algo que impede o xixi quando ele tem
vontade de sair. Será mais fácil para ela ganhar consciência dos sinais do seu próprio
corpo.

Passo a passo

Ao longo do processo dá total controle à tua criança.

Sempre que ela te comunica que não quer ou quer resistir, celebra o facto de o estar
a comunicar e coloca o pedido ou solicitação em pausa.

​O facto de responder de imediato à necessidade de controlo da criança, respeitando


o facto de ela naquele momento não querer, irá fazer com que perceba que estás lá
para ela e respeitas o seu tempo e vontade. Estarás a criar uma relação de confiança
com ela.

Não queremos insistir mas queremos ser persistentes, mas sem sermos chatos e
controladores. Continua a oferecer formas diferentes e engraçadas para a criança
usar a casa de banho.

Começa a passar mais tempo na casa de banho durante o dia com a tua criança. Faz
por exemplo a troca da fralda no espaço da casa de banho. Se estás a brincar com
ela e ela está por exemplo nas tuas cavalitas, faz um passeio até à casa de banho. Se

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a tua criança adora o Mickey, faz com que um dos seus peluches do Mickey se sente
na sanita e finja descarregar o cocó ao usar uma voz engraçada. A ideia aqui é ser
brincalhão, relaxado e não forçar, mas convidar e motivar.

Como falamos tantas vezes, vamos milímetro a milímetro e vamos fazê-lo por passos
e etapas. Se calhar nesta fase inicial não vamos exigir à criança que faça tudo já
sozinha (despir as calças, fazer xixi / cocó, limpar, etc). Vamos por passos. Se
queremos que a criança comece a usar a sanita de forma regular vamos ser
facilitadores e não exigir que faça tudo de uma só vez. Passinho a passinho.

Desvalorizar acidentes

Se tens algo em casa que tens medo que se estrague, como tapetes ou sofás de pele,
podes cobri-los com um lençol velho ou com outras formas de proteção. Tem sempre
à mão bastante roupa como cuecas, toalhas velhas, toalhetes, anti-séptico para as
mãos, etc.

Agora que sabes que poderão fazer xixi e enquanto procuras pelos sinais, começa
por incentivar a tua criança a ir até à sanita várias vezes ao longo do dia (com base
no registo inicial sugerido). Mesmo que não faça naquele momento as suas
necessidades, deixa-a a estar lá sentada durante o tempo. Acompanha o processo
com muitas explicações – “Já passaram algumas horas desde a última vez que fizeste
xixi e parece que talvez precises de ir outra vez. Estou tão entusiasmado/a com isto
vamos outra vez!”.

Se a criança não fizer na sanita mas fizer depois no chão, tenta não reprovar a
criança, ela está em fase de aprendizagem, ainda está a assimilar toda esta nova
informação e queremos motivá-la a continuar o processo e a deixá-la segura e
confiante.

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Se a criança fizer xixi no chão podes explicar “fizeste xixi, da próxima vez podes fazer
na sanita sim?”.

Caso haja um acidente não retires de imediato as cuecas molhadas, deixa por alguns
minutos pois pode ser importante ela sentir a humidade contra o corpo, quando
anteriormente a fralda protegia isso.

Celebrem

Celebra cada tentativa de aproximação, celebra cada vez que a criança se sentar ou
usar a sanita.

Queremos mostrar como usar a sanita pode ser um processo divertido e queremos
também que sinta que está a ter sucesso no que está a fazer.

Timing criança e cuidador

É importante a criança estar pronta, mas também é fundamental, que nós, enquanto
cuidadores, também nos sintamos prontos.

Escolhe uma altura em que estejas disponível e 100% pronto/a para embarcar nesta
aventura com a tua criança. O processo do desfralde pode ser cansativo e exigir
alguma paciência da nossa parte, por isso garante que também estejas confortável,
confiante e disponível para a nova aventura.

De facto, a nossa atitude é fundamental. Queremos ser a maior claque da nossa


criança e motivá-la a ter sucesso.

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Tornar sanita divertida

Mais uma vez, aqui não há limites para a criatividade, a ideia é sempre: pensar fora
da caixa.

Já falámos em cima das motivações e de como as podemos usar para tornar a sanita
mais apelativa.

Deixamos aqui um exemplo que uma mãe partilhou connosco e que funcionou
lindamente:

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Apoios visuais

Algumas crianças beneficiam de apoios visuais como quadros de rotina (com os


passos concretos a seguir) ou exemplificação através de livros que explorem o tema.

Deixamos aqui duas sugestões de histórias que podes utilizar para ajudar a tua
criança:

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Sono
Dormir pode ser um desafio para as crianças dentro do espectro.

Estudos mostram que entre 44% a 83% das crianças apresentam perturbações de
sono ( comparativamente , crianças neurotípicas apresentam 10% a 20%). E quando
as nossas crianças dormem mal significa que nós também.

Sem uma boa noite de sono vamos ficar mais aborrecidos, stressados, com menos
capacidade para realizar tarefas, etc. O mesmo acontece com as nossas crianças. Por
isso, tentar resolver esta questão torna-se fundamental e prioritário para que tudo o
resto seja também mais fácil.

Aprender a dormir é algo que nós como cuidadores temos que ensinar às nossas
crianças. Tal como as ensinamos a comer de faca e garfo ou a andar de bicicleta,
também o vamos ter que fazer relativamente ao sono.

O primeiro passo é explicar à nossa criança que a noite é para dormir. Muitas vezes
somos tentados a fazer algo quando a nossa criança acorda a meio da noite. Se
acordam e querem comer, acabamos por ir buscar algo na tentativa de que seja esse
o motivo pelo qual não dorme.

No entanto, ao fazermos isso estamos a ensinar que à noite é para comer. Ou quando
acordam e brincamos com eles estamos a mostrar que também se pode brincar a
essa hora. É possível que isto aconteça porque a casa está mais tranquila e assim a
criança tem tranquilidade e toda a atenção para ela. Por isso é importante mostrar
que a noite é para dormir.

Se já estás a adoptar uma abordagem alimentar diferente, possivelmente já deves


ter notado alguma diferença no padrão de sono. Se ainda não estás a fazer,
sugerimos que reconsideres olhar para isso e ver que impacto pode ter na tua
criança.

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Fatores que influenciam o sono

Questoes sensoriais
A maioria das pessoas com autismo é hiper-responsiva a questões sensoriais, talvez
eles tenham mais dificuldade em dormir porque não conseguem bloquear facilmente
os ruídos e sensações que perturbam o seu descanso.

Existe de facto no caso destas crianças uma maior sensibilidade aos estímulos
externos, como o toque ou som. Enquanto a maioria das crianças continua a dormir
profundamente quando a mãe abre a porta do quarto ou lhes aconchega os
cobertores, uma criança com autismo pode acordar abruptamente.

Alimentação
Já comentamos acima a importância da alimentação nas crianças com autismo.
Produtos lácteos, açúcar e refeições antes de dormir são os principais causadores de
perturbações de sono.

Medicação
Algumas crianças com autismo que muitas vezes são também diagnosticadas com
déficit de atenção e hiperatividade, tomam muitas vezes medicação que podem
provocar insónias.

Falta de melatonina
Alguns estudos apontam para que pessoas com autismo produzem menos
melatonina (uma hormona relacionada com o sono) do que as pessoas neurotípicas.
Esta hormona normalmente ajuda a regular os ciclos de sono-vigília.

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Para produzir a melatonina, o corpo precisa de um aminoácido chamado triptofano,
que a pesquisa descobriu estar presente em maior ou menor quantidade do que o
normal em crianças com autismo.

Tipicamente, os níveis de melatonina sobem em resposta à escuridão (à noite) e


diminuem durante as horas diurnas. Estudos demonstraram que algumas crianças
com autismo não libertam a melatonina nos horários do dia adequados. Em vez
disso, têm altos níveis desta hormona durante o dia e níveis mais baixos durante a
noite.

Existem já à venda suplementos de melatonina que podem ajudar crianças que


tenham dificuldade em adormecer.

Desafios físicos
Além dos desafios relacionados ao sono, muitas pessoas com autismo têm mais
perturbações físicas do que as pessoas neurotípicas; problemas gastrointestinais,
refluxo ácido, cólicas causadas pela obstipação, acumulação intensa de energia e
ansiedade que podem dificultar o sono.

Atitude do cuidador

A atitude do cuidador para ajudar a criança a ter uma boa noite de sono, também
pode influenciar mais do que aquilo que achamos à partida.

É preciso ter energia e determinação para o conseguir. Contudo, sabemos que não é
um processo fácil e numa fase inicial, até a criança dormir uma noite descansada, vai
ser preciso da nossa parte muita energia e determinação para o conseguir.

O segredo passa por:

* ter consistência

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* e acreditar na capacidade de mudança da criança

De facto, esta questão é essencial para o bem estar da criança e poderá acontecer,
numa fase inicial, ter de lidar com mais crises de choros e comportamentos
desafiantes.

As nossas crianças estão a fazer o seu papel e seja o desafio não querer dormir
sozinha, acordar a meio da noite e vir para a nossa cama, não querer ir para a cama,
etc - nesse momento a criança está a fazer o melhor que sabe e nós temos que ser o
facilitador para a ajudar nesta questão mantendo consistência nas estratégias que
iremos implementar.

Prontos para a ação? Passemos as dicas e estratégias que irão ajudar com os vários
desafios do sono, que as nossas crianças possam ter!

Rotina de sono

O primeiro passo passa por definir uma hora para ir para a cama, com base nas horas
que a criança terá que acordar no dia a seguir.

Depois de definida a hora tem bem claro para ti que esta foi a hora que escolheste e
que independentemente de qualquer reação, é o que queres e irás fazer a partir de
agora.

Se as coisas se tornarem complicadas (como resistência, crises de choro,


comportamento desafiante), mantém a calma e pensa com força que isto irá ajudar e
será útil para a tua criança. Quanto mais todos descansarem, mais calmos, bem
dispostos e disponíveis se sentirão.

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Dar previsibilidade

Umas semanas ou dias antes de iniciar esta grande nova aventura, anota no
calendário (podes criar um com as motivações da tua criança e ir incluindo outras
atividades que ela gosta que vão acontecer no mesmo dia) e começa a explicar-lhe o
que irá acontecer no dia que escolheste para iniciar esta nova aventura.

Comunica de uma forma entusiasmada, como se fosse uma nova aventura para os
dois, retira todo o peso negativo que isso possa ter tido até agora e explica-lhe
detalhadamente o que vai acontecer:

“Filho/a, nem vais acreditar! Está aí a chegar um grande dia! O dia que vais começar a
dormir sozinho como o grande menino/a e campeão/ã que és! Não é fantástico? Estou
muito entusiasmada/o com este dia, vai ser espetacular.”

Vai falando disso durante vários dias até chegar o grande dia que irás colocar tudo
em prática. Sempre que fales desse evento com a tua criança associa a coisas boas
com boas energias, faz brincadeiras com essa notícia como a “dança dos 3 dias que
faltam até o grande dia” (caso a tua criança goste deste tipo de brincadeiras).

Preparar cenário

Uns dias antes diz-lhe que ela poderá ir contigo escolher um novo amiguinho para
dormir e escolhe em conjunto com ela um peluche que a irá acompanhar nesta nova
aventura.

Ainda uns dias antes, dorme também com uma das tuas t-shirts por dois/três dias
para que a mesma guarde o teu cheiro e possa no grande dia vestir o peluche com a
tua t-shirt para ela permanecer com o teu cheiro.

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No grande dia anuncia de forma tranquila e serena, com bons sentimentos à tua
criança que a partir daquele dia ela irá dormir sozinha na cama dela com o novo
amiguinho e que os papás irão dormir na cama deles.

Permitir que a criança chore

Se mesmo com estas estratégias a tua criança chorar, está tudo bem. Está de facto a
fazer o papel dela e a ver o que poderá ou não funcionar.

Tem presente na tua mente que esta nova aventura é a melhor para toda a família
pois irá permitir-vos descansarem bem e por consequência ter mais energia.

Levar criança de volta ao seu quarto

No caso da criança a meio da noite ou passado algum tempo de estar no quarto dela,
se dirigir ao vosso quarto, mantém a calma.

Explica calmamente que a partir de agora ela vai dormir no quartinho dela, porque
está muito crescida e chegou a hora. E tranquilamente volta a levar a criança para o
seu quarto.

Se esta situação se reproduzir várias vezes na mesma noite, mantém a consistência e


volta a levar a criança para o seu quarto de forma calma, as vezes que forem
precisas.

As nossas crianças irão testar os nossos limites e para perceberem qual a nova regra
a partir de agora, é muito importante, que independente de tudo, se mantenha o que
foi comunicado à criança e haja consistência entre o que dizemos e fazemos.

É perfeitamente natural e muito provável, que nas primeiras noites a criança acorde,
chame por nós, venha ao nosso quarto, chore, etc - e isso pode ser bastante

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cansativo. Mas se queremos efetivamente que ela passe a dormir no quartinho dela,
temos de nos manter fortes e consistentes e manter o que ficou combinado.

Será uma questão de tempo até a criança começar a dormir no seu quarto de forma
tranquila e a noite toda.

Acreditar na sua capacidade de mudança

Mesmo que este desafio já perdura há algum tempo, todos nós temos a capacidade
de mudar, por isso é essencial, acreditar que a tua criança também será capaz. Ao
mudar a nossa atitude face à hora de dormir e ao dar novos estímulos à nossa
criança, iremos ajudá-la a desenvolver novas respostas a estas circunstâncias.

Consistência

Para ajudar, prepara-te para o pior e mentaliza-te desde o início que poderás ter de
levar a tua criança de volta ao quarto dela, mais de dez vezes na mesma noite. E que
o mesmo poderá acontecer durante vários dias seguidos.

A tua criança não vai começar a dormir na sua cama magicamente, é um processo e
precisa da tua ajuda e apoio para a guiar nesta transição.

Ao manteres a consistência e seguir o mesmo rumo, vais oferecer-lhe a oportunidade


espetacular de crescer.

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Adaptar ambiente

Entrada sensorial

Como falado, a maior parte das pessoas dentro do espetro do autismo é hiper
responsiva à entrada sensorial e é importante ter isso em conta no momento de
dormir.

Analisa se o quarto da tua criança não tem um estímulo (ou vários) que poderão
estar a interferir com a hora de dormir.

O quarto está bem isolado em termos sonoros ou fica por exemplo muito perto da
sala e ouve-se a televisão ligada? As persianas deixam entrar luz ou bloqueiam por
completo a entrada de luz natural de madrugada?

Estas pequenas coisas podem interferir com o sono da tua criança que pode ser mais
sensível a estas questões. Tem isso em atenção para ver se não será necessário fazer
alguma adaptação / mudança.

Adaptar espaço

Em seguimento da questão abordada em cima e se se revelar necessário, pensa em


adaptar o quarto da tua criança, para que seja o mais livre de estímulos exteriores
possível.

Por exemplo:

A Caui despertava ou tinha dificuldade em adormecer, quando via a luz do corredor


por baixo do freio da porta. Nesta situação, uma das estratégias que podemos adotar
é colocar um “chouriço” de pano nessa zona da porta para bloquear a entrada de luz
exterior.

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Por vezes são pequenas coisas assim, que para nós passam despercebidas, que
podem influenciar o sono das nossas crianças.

Por outro lado, outros estímulos podem facilitar esse momento e ajudar a nossa
criança a relaxar, tais como:

* cobertores pesados

* música / algum som específico de fundo

* cortinas que bloqueiam luz e som

* luz de presença

* etc

Está atento/a e coloca os teus óculos de detetives para eliminar estas hipóteses.

Preparar hora de deitar

Horas consistentes

Como falado em cima, define uma hora para a tua criança ir para a cama e
mantém-te firme e persistente nessa ideia.

Na hora de dormir é importante que as nossas crianças tenham um sentido de


controlo, um ambiente seguro e previsível, mas também horas regulares e
consistentes de deitar.

Avisos com antecedência

Sabemos que o controle e a previsibilidade é fundamental para as nossas crianças


para estarem mais tranquilas e relaxadas.

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Por isso, antes de chegar o momento de as deitar, queremos dar-lhes bastantes
avisos com antecedência.

Uma hora antes da hora de dormir, começa a explicar à tua criança que irá para a
cama às x horas e que estás muito contente por irem ter uma boa noite de sono.

Explica como se sentirão bem de manhã, que o sono ajudará o corpo a sentir-se
descansado e que dormir ajuda a Mamã e o Papá a sentirem-se bem e a terem mais
energia para brincar! Basicamente, promove a ideia do sono de todas as formas
possíveis que possas.

Criar uma rotina

Cria uma rotina do deitar como:

* banho

* escovar os dentes

* ler uma história

* dar beijinhos de boa noite

* etc

Criar uma rotina dá previsibilidade e ajuda a criança a perceber o que irá acontecer e
a assimilar mais consistentemente a mensagem de que está quase na hora de
dormir.

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Oferecer atividades relaxantes

Oferecer atividades relaxantes quando se aproxima o momento de ir para a cama é


fundamental para ajudar o cérebro a relaxar e acalmar, permitindo o sono de chegar
mais depressa.

Desta forma, 1h a 1h30 antes da hora de deitar, realiza atividades mais tranquilas
com a tua criança.

Caso ela não queira participar de atividades mais calmas, não te juntes às atividades
mais ativas que ela esteja a fazer, para não aumentar os seus níveis de energia. O
ideal seria ela ter essas atividades mais ativas durante o dia para não criar uma
acumulação de energia muito elevada à noite.

Tenta ainda ter em atenção, no momento de dormir, que não haja muito barulho ou
movimento a acontecer dentro de casa nessa altura (por exemplo, se a TV da sala
estiver ligada, baixar um pouco o volume para ter a certeza que não ouve desde o
quarto).

Baixar nível de energia

Baixa a tua energia também. Usa tons de voz mais calmos e tranquilos e se possível,
1h antes da hora de deitar, desliga também os monitores / televisões / aparelhos
eletrônicos, pois são aparelhos muito estimulantes para as nossas crianças.

Boas aventuras!

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Perguntas e respostas
De seguida poderás consultar as perguntas que foram colocadas pelos participantes
e assistir à resposta no seguinte vídeo:

https://youtu.be/h5iknCFj16c

Na descrição do vídeo também terás a mesma numeração das perguntas abaixo com
indicação dos temas tratados - basta selecionar a mesma para o vídeo ser
direcionado para a resposta que pretendes sem ter que procurar ou ouvir na
totalidade.

“ 1. Como fazer que a nossa criança não seja tão seletiva? Mudanças de rotina?

Clique para ouvir a resposta ➡️ 00:30:36

“ 2. O aluno tem 8 anos, autista, não verbal e só consegue fazer xixi e cocó se tiver

a fralda colocada. O que fazer? Neste caso e já por experiência, a criança é capaz de
estar todo o dia sem fazer xixi e cocó se não a colocarmos.

Clique para ouvir a resposta ➡️ 00:37:01

“ 3. A minha questão está relacionada com o desfralde. O meu filho já não usa

fralda há mais de um ano, no entanto continuo a levá-lo a casa de banho para fazer
xixi e cocó, pois raramente dá indicação de querer ir à casa de banho. Ele fala pouco,
mas faz alguns pedidos, contudo raramente pede para fazer xixi ou cocó. Gostaria de

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saber o que posso fazer para que ele peça ou dê indicação de quer ir à casa de
banho. Obrigada.

Clique para ouvir a resposta ➡️ 00:43:18

“ 4. A minha neta, com 5 anos, recentemente estava a fazer o desfralde, esteve


doente e voltou a não controlar, é normal?

Clique para ouvir a resposta ➡️ 00:47:02

“ 5. A criança que lido diariamente na sala está dependente do colo. Os adultos

tentam dar-lhe mas por vezes é difícil, passa a maior parte do dia a chorar. Tem
muitas dificuldades em adormecer e na alimentação. Gostava que me ajudassem
nesta situação. Obrigada.

Clique para ouvir a resposta ➡️ 00:49:44

“ 6. Como inserir outros alimentos dos quais a criança nunca provou?

Como explicar que tem de continuar sentado mesmo que tenha terminado o almoço?

Clique para ouvir a resposta ➡️ 00:52:13

“ 7. Como reduzir o hábito de mexer nas fezes e explorar essa textura por todo

lado (paredes, roupa...)?

Clique para ouvir a resposta ➡️ 00:57:02


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“ 8. Como motivar os pais no processo do desfralde/alimentação, uma vez que

parece estar evidente a frustração de não obter resultados como gostariam? (E por
esse mesmo motivo, por vezes, desmotiva-os o que leva a desistir de insistir)

Clique para ouvir a resposta ➡️ 1:00:12

“ 9. Como reduzir o uso do tablet que usa para comer sozinho? Na escola não o faz

pois não tem esse recurso tecnológico?

Clique para ouvir a resposta ➡️ 1:01:58

“ 10. Como motivar a sua autonomia para comer sozinho (excepto o que é do seu

interesse, isso come de imediato, com as mãos principalmente)?

Clique para ouvir a resposta ➡️ 1:03:14

“ 11. Como reduzir a agressividade para o adulto/ou colegas quando lhe está a ser

imposta alguma regra na alimentação (ex. primeiro tem de comer a sopa e depois o
segundo prato, pois é o que lhe desperta mais interesse do que a sopa)

Clique para ouvir a resposta ➡️ 1:06:32

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“ 12. Como reduzir a produção de sons no momento da sesta, pois quando acorda,

no silêncio reproduz uma série de sons não perceptíveis (ex:: ohhhhhhhhh, xiiiiiii,
o,o,o,o,o,o..a,a,a,a,a,a, uaaaaaa...), isto no caso de o dever fazer, uma vez que poderá
ser um momento de estereotipia?

Clique para ouvir a resposta ➡️ 1:08:50

“ 13. Esta pergunta é relativa a outra criança, também com 3 anos e não verbal:

Como acalmar a criança no período de sono quando acorda aos gritos, parecendo
muito assustada, fica bastante agitada, auto agride-se (morde-se, corre contra a
parede, bate na cabeça, atira coisas ao chão..)?

Clique para ouvir a resposta ➡️ 1:10:26

“ 14. A minha criança não mostra qualquer interesse em alterar a sua alimentação.

Apenas come a sopa e iogurtes na hora do almoço. O que posso fazer relativamente
a isto? Como trabalhar a autonomia nas refeições? A minha criança não é capaz de
pegar no talher ou na comida(ao lanche por exemplo) para comer sozinho.

Clique para ouvir a resposta ➡️ 1:13:53

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“ 15. Os jardins de infância têm que ter uma organização inclusiva e amigável do

autismo. Têm uma responsabilidade acrescida, pois é onde a criança passa mais
tempo. A questão do sono do Jardim de infância sempre foi polêmica, pois muitas
vezes a criança não quer dormir e é forçada a fazê-lo. Podem emitir a vossa opinião?

Clique para ouvir a resposta ➡️ 1:16:08

“ 16. O meu filho só come alimentos crocantes (panados, arroz de forno, maçã,

bolacha, batata frita ou salteada). Tento introduzir novos alimentos (dentro de um


croquete de carne coloco legumes, na batata salteada colocar disfarçado outro
legumes salteados em pouca quantidade mas assim que ele leva a boca mete logo
fora). Este processo já dura há muito tempo. Poderiam me ajudar com mais algumas
dicas?

Clique para ouvir a resposta ➡️ 1:18:48

“ 17. Sempre que vamos em viagem, a casa de amigos ou familiares e no infantário

não come mesmo se for a comida que está habituado a comer. No infantário o lanche
a meio da manhã é na sala dele ( ele não come nada nem bolacha) e ao almoço dirige
se para o refeitório aí as coisas complicam e além de não comer os olhos estão em
lágrimas e esconde se atrás da colega do lado. ( e não come nada). Ele só vai
infantário da parte da manhã, tenho de o ir buscar sempre às 11h30 antes do
almoço. O que fazer para o ajudar?

Clique para ouvir a resposta ➡️ 1:22:31


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“ 18. Já tentei retirar a fralda mas resolvi fazer uma paragem. O meu filho tem

medo da sanita mesmo com o redutor então adquiri um penico em formato sanita. Os
elementos visuais ajudam no bastante e coloquei junto da sanita vários desenhos.
Mostro-lhe imagens e livros e os levo junto comigo à casa de banho. Mas na hora
dele fazer xixi ou coco faz sempre nas calças. E eu pergunto o que aconteceu e ele
responde: Fiz xixi. Volto a perguntar onde se faz o xixi e ele responde na sanita. Ele
sabe mas não consegue avisar antes de fazer ou dirigir se a sanita para fazer as
necessidades. Como devo proceder?

Clique para ouvir a resposta ➡️ 1:29:25

“ 19. Como ser forte para conseguir implementar as várias estratégias

apresentadas? Não duvido das capacidades dele. Neste momento duvido das
minhas...

Clique para ouvir a resposta ➡️ 1:32:05

“ 20. Em relação ao desfralde, tenho tido muita pressão para desfraldar, porque

no próximo ano letivo ele vai para o JI. Na creche já o colocam na sanita várias vezes
ao dia (ele a maioria das vezes faz xixi) conforme a rotina que têm, porque ele não
pede, mas eu só consigo ainda identificar quando ele está a fazer cocó, o xixi não
consigo, por vezes coloco na sanita com o redutor, ele fica algum tempo, mas
normalmente não faz xixi, se coloco a meio do cocó, ele deixa de fazer. Acham que
ainda devo esperar para iniciar o desfralde? Como posso fazer para ele pedir o

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xixi/cócó? Ao iniciar o desfralde, se ele fizer no chão ou na roupa qual a atitude a
tomar? Ser mais rude ou apenas explicar? Colocar na sanita de seguida?

Clique para ouvir a resposta ➡️ 1:36:03

“ 21. Em relação ao intestino, ele tem por vezes diarreia e a seguir fica obstipado,

mas tem alturas que é certinho a fazer cócó. Tenho associado isso a viroses na escola
e não a algum problema no intestino. Deverei mandar fazer teste para saber se é
intolerante ao glúten? Ele gosta de comer massa, arroz e bolachas tipo cracker, mas
também come batata e couve na sopa de feijão, o feijão, ervilhas e outras
leguminosas é que ele rejeita mesmo. Come também batata doce assada no forno.
Será que esta preferência pela massa, arroz e bolachas tem a ver com a dependência
do glúten, apesar de ele também comer outros alimentos? Fiquei em dúvida quando
assisti à masterclass. Em relação à lactose só bebe leite e come iogurtes na escola,
em casa não come lactose e penso que a quantidade que come na escola não o afete
negativamente, ou poderá afetar?

Clique para ouvir a resposta ➡️ 1:38:14

“ 22. O meu aluno já se sente incomodado com a fralda, pois consegue demonstrar

que quer mudar a fralda (vai buscar a fralda limpa para trocar), mas ainda não aceita
estar sentado na sanita (fica agitado).

Gosta de estar a observar os colegas na hora da higiene - rotina antes do lanche e do


almoço (quando estão a fazer chichi e a lavar as mãos).

Pensamos que está no início do desfralde, mas como se recusa a estar sentado na
sanita, não sei qual o passo que poderei introduzir para o ajudar neste processo, uma

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vez que é uma criança não verbal, não demostra interesse por nenhuma atividade em
particular.

Clique para ouvir a resposta ➡️ 1:40:58

“ 23. Gostaria de saber qual o site da Dra.ª Daniela sobre a alimentação. Paguei a

versão normal, mas gostaria de ter a Premium para poder ter o Ebook, ainda é
possível adquirir pagando o valor excedente?

Clique para ouvir a resposta ➡️ 1:43:28

“ 24. O meu filho por norma não come alimentos misturados no prato, come pouco

e come apenas um alimento de cada vez, se hoje decidir comer arroz só come arroz,
mas no dia seguinte pode comer carne e só come carne, mas come todo o tipo de
alimentos. Quando está alterado só come bananas e nada mais. Agora que já
mudámos muitas coisas na nossas vidas e na dele, percebemos que ele consegue
comer vários alimentos e até misturados ( tentamos todos os dias dar, mesmo que
tenhamos de trocar o prato durante a refeição) e parece-nos que é uma questão
emocional e não propriamente sensorial..o meu marido está fora durante a semana e
por exemplo nas férias ele comeu de tudo , assim que ele voltou ao trabalho deixou
de comer novamente... como podemos ajudá-lo?

Clique para ouvir a resposta ➡️ 1:43:44

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“ 25. Em relação ao sono, temos uma rotina muito rígida e levamos 4 meses a

conseguir que ele parasse de lutar contra o sono na hora de dormir. Temos uma
rotina calma, tranquila e muito bem disposta, lemos um livro , dizemos o anjinho da
guarda e desligamos as luzes. Ele adormece com a nossa presença e quando agitado
faz movimentos circulares na nossa mão, no entanto tem alturas em que acorda a
gritar e é capaz de estar 1h ou mais a gritar, não conseguimos entender o porquê.
Tivemos fora uns tempos e ele gritava e só se acalmava na janela, adormecia e
30min depois acordava , gritava, janela adormecia.. era isto a noite toda..depois
percebemos que as luzes da rua o estimulavam, passamos a fechar a janela, esteve 2
noites gritar a pedir a janela e depois desistiu e passou a dormir, no Natal aconteceu
algo semelhante com as luzes da árvore..mas fora isso não percebo o que o faz
acordar a gritar. (desde que temos esta rotina rígida acontece com muito menos
frequência).

As sestas continuam a ser dolorosas, ele dorme sestas de 2 horas mas leva 1 hora ou
mais para adormecer, é uma hora muito penosa cá em casa, tenho sempre de o
obrigar a deitar e tenho de ser intransigente. Na escola também demora muito
tempo e acaba por dormir ao colo da educadora ou da auxiliar. Não conseguimos
ainda arranjar uma estratégia para melhorar este momento.

Clique para ouvir a resposta ➡️ 1:45:51

“ 26. Como fazer com que a criança peça para ir ao quarto de banho?

Clique para ouvir a resposta ➡️ 1:49:26

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“ 27. É necessária uma avaliação clínica (e, se sim, como e onde realizá-la) para

detetar se a criança tem intolerâncias alimentares ou bastará fazer a mudança nos


alimentos e observar os efeitos/melhorias na criança?

Clique para ouvir a resposta ➡️ 1:50:16

“ 28. Trabalho com uma criança que coloca muito os objetos na boca e esfrega

muito a boca com as mãos e até com o braço, e apresenta grande agitação motora -
será devido a candida (como entendi dizerem)? Como poderá ser despistada?
(presumo de que através de análises clínicas mas estarão os médicos receptivos a
esta proposta?)

Clique para ouvir a resposta ➡️ 1:52:03

“ 29. Se entendi bem, sugeriram deixar a criança explorar a comida, mexer,

cuspir... (Trabalho com uma criança que espalha a sopa com as mão na mesa, tipo
digitinta, outras crianças brincam com os alimentos, pegam com a mão, atiram os
alimentos...). Compreendo que seja uma necessidade da criança mas como os
educadores poderão conciliar esta exploração com a aquisição de regras sociais e
hábitos à mesa?

Clique para ouvir a resposta ➡️ 1:53:18

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“ 30. O ambiente nos refeitórios das estruturas escolares (creches e jardins de

infância) é, geralmente, muito ruidoso e com excesso de estímulos, o que perturba


muito a alimentação das crianças com PEA. Que estratégias para minorar esta
hiperestimulação? E como adequar os alimentos à criança se a comida tem que ser
igual para todos?

Clique para ouvir a resposta ➡️ 1:55:39

“ 31. Em relação ao controle dos esfíncteres, a Susana referiu que enquanto não

conseguisse faltar de pés juntos, não era capaz de controlar os esfíncteres.

Podem por favor explicar detalhadamente este ponto.

O meu filho tem 3 anos e ao saltar no trampolim tem as pernas abertas. Sera um
bom local para avaliar?

Clique para ouvir a resposta ➡️ 1:57:30

“ 32. Tenho uma grande dúvida em relação ao desfralde noturno. O meu pequeno

tem 5 anos.

No Verão, dos 3 aos 4 anos, tentamos tirar a fralda de dia e também de noite. Depois
de um verão esplêndido (digo: asseadinho), chegou o outono, o tempo mais frio, a
chuva e os acidentes voltaram. Voltamos à fralda de noite.

No Verão, dos 4 aos 5 anos, tentamos outra vez. Chegou o outono, aconteceu o
mesmo. Voltamos à fralda.

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Estamos no outono dos 5 anos, quase a fazer 6, e está a acontecer igual.

Entre maio e meados de outubro, houve 1 único chichi na cama. Mas, desde então, é
quase todos os dias. A diferença é que ainda não voltamos à fralda.

Que raio de fenómeno “psico-bio-químico” acontece no tempo frio? A única coisa que
sabemos é que ele faz chichi a dormir. Já sabemos que no verão as crianças suam
mais durante o sono, porque está calor.

Temos cuidado com a ingestão de líquidos desde o fim de tarde.

Devíamos acordá-lo por volta das 00h00 (2,5 h depois de adormecer), mas a nossa
experiência com isso não foi boa. Ele chorava imenso quando o levávamos a fazer
chichi. Às tantas, já acordava por ele a essa hora, mas aos prantos. Já antevia o
pesadelo de ser retirado da cama para fazer chichi (interpretação nossa). E, muitas
vezes, demorava a pegar no sono novamente. Tentámos depois às 6h00, porque é
por essa hora que ele faz chichi, mas tem vezes que a ida ao WC o desperta e já não
dorme mais.

Ou seja: a minha dúvida mete chichi e mete sono. Queremos que ele não use fralda
de noite, mas não queremos que isso lhe provoque pesadelos e que diminua o
número de horas de sono. Costuma deitar-se às 21h30 e acordar às 8h00 (no tempo
quente sempre seco; no tempo frio muitas vezes molhadinho).

Clique para ouvir a resposta ➡️ 1:59:03

“ 33. A minha criança tem 5 anos, é verbal e já ultrapassou muitos dos seus

desafios iniciais como o não falar, o não interagir, etc.!

No entanto, há outros que ainda terão que ser trabalhados, como é o caso de
adormecer sozinha! Tenho a perfeita noção de que aqui eu ainda não tomei a

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ATITUDE certa, e só quando acontecer o clic em mim é que acontecerá o resto (e isto
foi um ensinamento VA, naturalmente!).

Neste sentido, queria apenas pedir conselhos relativamente aos muitos medos que a
minha criança sente. Tem medo do escuro, das sombras se existir luz de presença, de
estar sozinha, de barulhos mínimos que possa ouvir no quarto, por exemplo carros a
passar, pessoas a conversar, qualquer coisa, está sempre alerta! Não vai à casa de
banho sozinha! Tudo isto torna o processo de adormecer sozinha bem difícil!

Clique para ouvir a resposta ➡️ 2:05:12

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Mais recursos úteis
Próxima Palestra:
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