Ensino de Porto Alegre como prática libertadora para estudantes trabalhadoras(es), de César Rolim Denner Gomes Rafael Cristaldo Yasmin Pinheiro Sobre o autor César é professor de História da Escola Municipal de Ensino Fundamental Nossa Senhora de Fátima e na Escola Municipal de Ensino Fundamental Porto Alegre (EPA). É licenciado em História (2005) e Especialista em História Contemporânea (2006), ambos pela Faculdade Porto-Alegrense. Também é Mestre em História (2009) pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Seus maiores interesses giram em torno da História Política e em temas como:
História Política do Brasil do período entre 1945 e 1964, História Militar Brasileira, Partidos Políticos, Cultura Política, Nacionalismo, Trabalhismo, Populismo, Governo João Goulart e Leonel Brizola. Origem da EJA em Porto Alegre ● Na Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre, a EJA teve seu início através do Serviço de Educação de Jovens e Adultos (SEJA), no ano de 1989. ● Visa a inclusão e a permanência das (os) estudantes e proporcionando; espaços vivenciais de cidadania, sob a influência da educação popular, a partir do cotidiano das (os) educandas (os); ● Educação de Adultos vai se movendo na direção do de Educação Popular. Os próprios conteúdos a serem ensinados não podem ser totalmente estranhos àquela cotidianidade. Freire (2010, p. 15); Influências do Neoliberalismo na EJA: ● O neoliberalismo retornou ao poder após o golpe de 2017, a partir de políticas adotadas por Michel Temer, com o viés de redução do papel do Estado e perdas de direitos sociais por parte das (os) trabalhadoras (es). ● O Congresso, o qual votou pelo impeachment, predominantemente reacionário, defendiam como principal bandeira uma escola sem partido; ● Passa a ser aplicado um projeto de privatização em todos os níveis da educação, pela legalização das chamadas organizações sociais. EJA em Porto Alegre ● Em julho de 2017, a prefeitura municipal, depois de anunciar o fim do Unipoa e do Pré-Vestibular Municipal, passou a restringir as matrículas para a Educação de Jovens e Adultos a apenas um local: o Centro Municipal de Educação dos Trabalhadores (CMET) Paulo Freire. ● Como lembrou Mônica de la Fare (professora do PPG em Educação da PUCRS) em entrevista: “já estamos com uma oferta limitada em Porto Alegre, porque a maioria das escolas oferece EJA à noite, o que dificulta o acesso. [...] A proximidade da residência é uma questão fundamental. ● As medidas adotadas tornam cada vez mais difícil o acesso a EJA, impossibilitando que os Jovens e Adultos concluam o ensino básico, visando ensino superior e melhores condições de trabalho. Luta pelo EJA ● Prefeitura municipal - sob administração de Marchezan Júnior - passa a restringir acesso a EJA em comunidades, apenas em um local, dificultando a acessibilidade da população trabalhadora à educação. ● Autor menciona como enfatizava a luta, tanto de educadores quanto de estudantes trabalhadores pelo direito de uma boa educação, em sala de aula para estudantes do EJA. ● Sendo que, anteriormente, as divulgações para vagas e matrículas para aulas do EJA era responsabilidade dos educadores, a movimentação dos estudantes para ajudar a assegurar o direito de educação para todas as idades é essencial. EJA e sua luta política ● Constatação que EJA não é apenas uma luta pela escolarização, mas também por direito de acesso, permanência e conclusão da escolarização para jovens e adultos, dentre outras lutas relevantes. ● Esse reconhecimento de direitos, que ocorreu em meados de 1980 e 1990, houve graças à Constituição de direitos sociais. Porém, não recebeu muita ênfase e fundamentalidade durante o ajuste e redefinição do Estado na época, refletindo nas escolas e na educação a má qualidade de recursos. ● No ramo nacional, a EJA foi destacada nas políticas educacionais no início dos anos 2000 por reconhecerem que ofertas pública de oportunidades de escolaridade e formação para o trabalho tornou-se uma imposição legal pela Constituição e a LDB, sendo um direito público e subjetivo dos jovens, adultos e idosos ao estudo. Tudo graças ao conjunto de estados e municípios, e colaboração da União EJA e sua importância histórica ● Autor relembra como uma lei é resultado de uma luta histórica, também se considera a escola como uma conquista da humanidade, já que a luta por direito à escolarização com qualidade é uma bandeira que precisa ser retomada em seu sentido mais profundo, como um compromisso ético-político dos educadores com os estudantes. ● Ataques contra a oferta da modalidade do EJA surgem como um problema para educadores na rede municipal de ensino. Relembrando que vivemos num país historicamente desigual em termos de condições de vida para a população. Não é possível combater as desigualdades sociais e econômicas sem o direito à educação. SMED ● SMED fecha diversas turma de EJA em EMEFs, sem consultar com direções escolares, educadores, e outras comunidades, com o pretexto de modalizar EaD para os estudantes, o que causou baixas no número de vagas para matrículas. ● A demanda para EJA é grande, já que existem muitos jovens adultos e adolescentes, não alfabetizados e/ou que não terminaram Ensino Fundamental. Ainda há menção de como a mobilização dos estudantes para a área central, ao invés de próximas a suas comunidades, para frequentar as aulas são complicadas, e podem causar dificuldades a continuidade dos estudos. Eleição municipal de 2020 ● O autor atribui parte do fracasso de Marchezan Júnior nas eleições ao trabalho de conscientização de educadoras e de seu trabalho docente crítico junto com a população. ● Rolim também enfatiza e lembra que durante a gestão Marchezan, período de descaso com a EJA, educadoras, e não a SMED, foram as mais preocupadas em divulgar as vagas disponíveis na modalidade. Covid-19 ● Durante a pandemia, o ensino, especialmente o ensino da EJA, foi precarizado pela dificuldade ou impossibilidade das alunas em acessar a Internet para participar das aulas remotas. ● Contribuiu para a precariedade das aulas remotas o fato da SMED não ter oferecido qualquer suporte ou treinamento às professoras. Nesse cenário, educadoras tiveram que utilizar recursos próprios para manter o vínculo com os alunos. ● Tudo isso aconteceu em um contexto de alto número de mortes, a falta de vacina e o oferecimento do Kit Covid nas escolas pela Administração Melo. O perigo de Melo para a educação ● Melo, que tem apoio forte no Legislativo, tem uma certa facilidade de aprovar os seus projetos. Além da ampliação da escolas cívico-militares, em 2022, Melo conseguiu aprovar o ensino domiciliar. ● Porém, através da mobilização das professoras de Porto Alegre e de uma decisão judicial, o projeto conseguiu ser barrado. ● Também, na Administração Melo, a SMED tentou reduzir a carga horária de matérias como Geografia, História e Línguas Estrangeiras e a exclusão da Filosofia. Mais uma vez, as professoras da rede se mobilizaram e impediram a reforma. O objetivo foi manter a escola como um lugar para o pensamento crítico para jovens e adultos trabalhadores. Uma visão de educação ● A escola precisa ser um local emancipatório. Ali, alunas devem ter o espaço para se desenvolverem corpo e mente (desenvolver a mente não é só sobre o conhecimento crítico do mundo, mas também das suas emoções e da sua percepção de si etc.). ● O autor também lembra de Paulo Freire, para quem a educação deve permitir às pessoas o que o capitalismo as nega. Em busca de mais matrículas em 2022 ● Para resistir ao desmonte das turmas de EJA em Porto Alegre, a Associação dos Trabalhadores/as em Educação do Município de Porto Alegre e a Sindicato dos Municipários de Porto Alegre se uniram aos educadores para promover as vagas para a EJA através de faixas e panfletos. Alunos também ajudaram: distribuíram panfletos em suas comunidades e onde trabalhavam. Censura em 2023 ● Ano passado, o prefeito Melo assinou um decreto que define que “o ingresso de parlamentares, candidatos, movimentos de juventude ligados a partidos políticos, e demais entidades nas dependências das escolas da rede pública municipal de educação com a finalidade de ministrar aulas ou proferir palestras, fica condicionado a análise e autorização da SMED”. ● Segundo o autor: “Assim, qualquer atividade pode ser permitida ou não pela gestão municipal desconsiderando assim a autonomia das direções das escolas e, no mínimo, dificultando/constrangendo o trabalho docente, pois o mesmo vai estar tutelado pela SMED” (p. 249). Finalizando ● O autor mostra a participação e resistência das educadoras no cenário político de Porto Alegre e sua importância para a luta pela educação popular e pela formação cidadã na cidade. ● “A tarefa das (os) educadoras (es) é árdua, mas, ao mesmo tempo, extremamente importante. Insere-se numa estratégia de envolver as (os) estudantes nestas lutas em defesa do direito de acessar uma escola que favoreça a análise e transformação da sua realidade, pois, como indica [Paulo] Freire (2022b, p. 38), quando o homem compreende sua realidade, pode levantar hipóteses sobre o desafio dessa realidade e procurar soluções. Assim, o trabalho docente se consolida como exemplo de resistência para a garantia de direitos fundamentais ao acesso à educação pública gratuita, universal e com qualidade” (p. 249).
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