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ACÓRDÃO
Documento: 1049900 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 29/04/2011 Página 1 de 5
Superior Tribunal de Justiça
A Turma, por unanimidade, conheceu em parte do recurso especial e
negou-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.Os Srs. Ministros Raul
Araújo, Maria Isabel Gallotti e João Otávio de Noronha votaram com o Sr. Ministro Relator.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Aldir Passarinho Junior.
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RELATÓRIO
1. Hildebrando José Rossi Filho e sua esposa Nilza Benedicta Lemos Rossi
ajuizaram, em fevereiro de 1995, ação demolitória em face de Hideki Mochizuki e Sonia Maria
de Freitas Mochizuki. Informam serem proprietários de imóvel situado no município de
Itapira-SP, localizado à Rua Major David Pereira nº 122, adquirido do Sr. Paulino Sartori, que,
por sua vez, teria comprado o imóvel do Sr. Atílio Baston. Sustentam que, em todas
alienações da cadeia dominial, constavam das escrituras a existência, em favor de seu
prédio, de servidão de luz e ar. Narram que, em julho de 1994, em inobservância à servidão
constituída, os requeridos edificaram parede em seu imóvel, obstruindo a ventilação e
iluminação naturais do prédio dominante. Pleitearam, na inicial, a intimação dos requeridos
para, em 15 dias, efetuarem a demolição da parede que edificaram.
O Juízo da Comarca de Itapira- SP julgou procedentes os pleitos formulados na
exordial, determinando o desfazimento da parede erguida, fixando multa diária no valor de R$
100,00 (cem reais). (Fls. 107-109)
Não se conformando com a sentença, interpuseram os ora recorrentes recurso
de apelação para o extinto Tribunal de Alçada de São Paulo, que negou-lhe provimento,
manifestando a col. Corte de origem o entendimento de que, como a servidão consta da
matrícula do imóvel dos réus, sendo que as janelas foram construídas há mais de vinte anos,
sem qualquer oposição, seria ilícita a completa obstrução operada pelos demandados. (Fls.
112-116)
O acórdão tem a seguinte ementa (Fl. 140):
DIREITO DE VIZINHANÇA – AÇÃO DEMOLITÓRIA – VIZINHO QUE
CONSTRÓI MURO E VEDA JANELAS ABERTAS HÁ MAIS DE VINTE ANOS
NO PRÉDIO VIZINHO – IMPOSSIBILIDADE – INTELIGÊNCIA DOS ARTS. 573,
PARÁG. 2º E 576 DO CÓDIGO CIVIL – RECURSO IMPROVIDO.
'Se as janelas de um prédio foram abertas há mais de vinte anos, sendo
fundamentais para a claridade e arejamento de dormitório e banheiro, não
pode o vizinho edificar, na divisa, muro que as vede completamente, pois
tal situação configura, em favor do outro, decorrido o lapso de ano e dia,
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verdadeira servidão, a impedir tal construção'.
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VOTO
Observe-se:
PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. ART. 557 DO CPC.
RECURSO EM CONFRONTO COM SÚMULA E JURISPRUDÊNCIA DO STJ.
OFENSA AO ART. 535 DO CPC NÃO CONFIGURADA. REDISCUSSÃO DA
MATÉRIA DE MÉRITO. IMPOSSIBILIDADE. PREQUESTIONAMENTO PARA
FINS DE INTERPOSIÇÃO DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
INVIABILIDADE. ACOLHIMENTO PARCIAL.
1. As causas autorizadoras do julgamento monocrático de recursos estão
previstas no art. 557 do Código de Processo Civil. No caso, foi negado
monocraticamente seguimento ao recurso, tendo em vista estar em
confronto com súmulas e com a jurisprudência dominante do STJ.
2. Os Embargos Declaratórios não constituem instrumento adequado para a
rediscussão da matéria de mérito.
3. Sob pena de invasão da competência do STF, descabe analisar questão
constitucional em Recurso Especial, ainda que para viabilizar a interposição
de Recurso Extraordinário.
4. Embargos de Declaração parcialmente acolhidos, sem efeitos
infringentes.
(EDcl no AgRg no REsp 886.061/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,
SEGUNDA TURMA, julgado em 20/08/2009, DJe 27/08/2009)
3. Por outro lado, não conheço da alegada violação dos artigos 497 e 696 do
Código Civil de 1916, diante da ausência de prequestionamento, incidindo, desse modo,
analogamente, o Enunciado Sumular nº 282 do STF, que declara ser "inadmissível o recurso
extraordinário, quando não ventilada, na decisão recorrida, a questão federal suscitada".
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Para que se configure o prequestionamento da matéria, há que se extrair do
acórdão recorrido pronunciamento sobre as teses jurídicas em torno dos dispositivos legais
tidos como violados, a fim de que se possa, na instância especial, abrir discussão sobre
determinada questão de direito, definindo-se, por conseguinte, a correta interpretação da
legislação federal.
Com efeito, incide, no particular, a Súmula n.º 356/STF.
4. Cumpre estabelecer que, tendo os fatos ocorrido na vigência do Código Civil
de 1916, a lide deve ser dirimida à luz do que dispunha aquele Diploma.
4.1. A questão controvertida, no mérito, é quanto a aplicação do artigo 576,
CC/16, que possui a seguinte redação:
"Art. 576. O proprietário que anuir em janela, sacada, terraço, ou goteira
sobre o seu prédio, só até o lapso de ano e dia após a conclusão da obra
poderá exigir que se desfaça."
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sendo portanto irregular a construção levada a efeito pelos apelantes. " (fls.
141-144)
Com efeito, tendo em vista a moldura fática apurada pela col. Corte local, resta
límpido que a constituição da servidão mostra-se hígida, não sendo constatável qualquer vício
na sua instituição.
4.3. As servidões são direitos reais sobre coisas alheias (art. 674, II, do Código
Civil de 1916), sendo que, conforme a redação do artigo 695 do Código Civil revogado, "Por
ela perde o proprietário do prédio serviente o exercício de alguns de seus direitos dominicais,
ou fica obrigado a tolerar que dele se utilize, para certo fim, o dono do prédio dominante".
Têm por característica, ainda, a indivisibilidade, de modo que estabelecia o
artigo 707 do Código Civil de 1916 que as servidões subsistem em "caso de partilha, em
benefício de cada um dos quinhões do prédio dominante, e continuam a gravar cada um dos
do prédio serviente, salvo se, por natureza ou destino, só se aplicarem a certa parte de um,
ou de outro".
Arnaldo Rizzardo, com oportunas remissões às obras de saudosos mestres,
leciona:
"De todo útil o conceito de Dídimo Agapito da Veiga Júnior, dizendo ser a
figura em exame um direito sobre a coisa alheia, por força da qual é esta
sujeita à prestação de certos serviços a pessoa ou coisa. É o seu
proprietário impedido de exercitar direitos que, não fosse a existência dela,
poderia exercer. Clóvis Beviláqua segue nesta linha: 'As servidões
consistem em restrições impostas à faculdade de uso e gozo do
proprietário, em benefício de outrem... Servidões prediais, segundo os
elementos de definição do que nos oferece o Código, são ônus impostos a
um prédio (o serviente), em favor do outro (o dominante), em virtude dos
quais o proprietário do primeiro perde o exercício de alguns de seus direitos
dominicais sobre o seu prédio, ou tolera que dele se utilize, para
determinado fim, o proprietário ou possuidor do prédio dominante'. Nestas
duas conceituações, o cunho da imposição legal está mais saliente.
Elas manifestam todos os elementos integrantes da figura, coadunando-se
com a definição de Lafayette. Resumindo-se, pode-se afirmar que
constituem restrições impostas a um prédio para uso e utilidade de outro
prédio, pertencente a proprietário diverso." (RIZZARDO, Arnaldo. Direto das
Coisas. Rio de Janeiro, Forense, 3ª ed., 2007, p. 871)
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O princípio da inseparabilidade surge como corolário daquele pelo qual o
fenômeno onera os prédios e não seus titulares (Moreira e Fraga,
1970-1971:310). São incindíveis dos fundos, não podendo, pois, ser
alienadas independentemente deles. Por tal razão, as servidões se
consideram ambulatórias, permanecendo nos imóveis, não importando
quem sejam seus proprietários ou possuidores.
Outra característica das servidões é sua indivisibilidade." (VENOSA, Silvo de
Salvo. Direitos Reais. São Paulo, Atlas, 2ª ed., 2002, ps. 397 e 398)
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dar através deste, com o intuito, por exemplo, de tornar mais curto o acesso
a via pública, que até então só era possível através de caminho mais longo.
Como se vê, aqui se acentuam ainda mais as diferenças entre as duas
subespécies de servidões prediais romanas, eis que em uma (na legal), a
servidão existiria independentemente de qualquer convenção entre os
proprietários dos prédios envolvidos, tendo sua origem ligadas aos prédios
em si mesmos, eis que era necessária- e por isso que nascia independente
da vontade - para permitir a adequada exploração econômica de um deles
ou para evitar conflitos entre seus proprietários; na outra (na convencional),
ao contrário, a servidão não tinha sua origem vinculada aos prédios em si
mesmos, não sendo por isso necessário o seu surgimento para que
qualquer dos prédios pudesse ser integralmente explorado ou para que não
houvesse conflito entre os proprietários, e só viria a nascer se houvesse
convenção entre os proprietários dos prédios.
[...]
Dessa forma aponta Caio Mário que se trata apenas da questão do ângulo
de visada pelo qual as regras são examinadas, não havendo contradição no
uso das duas expressões (direitos de vizinhança e servidões legais) para
os mesmos dispositivos, não havendo possibilidade de ser feita confusão
com as servidões prediais.
[...]
Trazendo o enfoque para nosso trabalho, podemos então afirmar que até
poderia ser aceito, como aponta Caio Mário, o emprego do termo servidões,
para que se fizesse referência aos Direitos de vizinhança, mas desde que a
partir de então apenas para tal uso se reservasse tal termo, sob pena de
ambigüidade." (DANTAS JUNIOR, Aldemiro Rezende. O Direito de
Vizinhança. Rio de Janeiro, Forense, 2003, ps. 113-118)
5. Por outro ângulo, como o artigo 710 do Código Civil de 1916 estabelecia que
as servidões prediais extinguiam-se pelo não uso durante dez anos contínuos, o consectário
lógico é que, dentro deste período, o proprietário do prédio dominante poderia fazer uso de
ação real para resguardar os seus interesses, no que tange à servidão, ressaindo, portanto,
inequívoca a inaptidão do mencionado artigo 576 do Código Civil para dirimir questões
relativas à servidão predial.
Nesse mesmo diapasão, Maria Helena Diniz faz considerações que merecem
registro:
"Se é um direito real sobre coisa alheia, seu titular está munido de ação
real e de direito de seqüela, podendo, ainda, exercer seu direito erga
omnes, desde que a servidão esteja regularmente registrada no registro
Imobiliário competente." (DINIZ, maria Helena. Sistemas de Registros de
Imóveis. São Paulo, Saraiva, 6ª ed., 2006, p. 136)
6. Outrossim, cumpre ser analisado o artigo 573, § 2º, do Código revogado que,
segundo os recorrentes, também foi contrariado.
Observe-se:
"Art. 573. O proprietário pode embargar a construção do prédio que invada
a área do seu, ou sobre este deite goteiras, bem como a daquele, em que,
a menos de metro e meio do seu, se abra janela, ou se faça eirado, terraço,
ou varanda.
[...]
§ 2o Os vãos, ou aberturas para luz não prescrevem contra o vizinho, que, a
todo tempo, levantará, querendo, a sua casa, ou contramuro, ainda que
lhes vede a claridade."
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA
Relator
Exmo. Sr. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. MARIA CELIA MENDONÇA
Secretária
Bela. TERESA HELENA DA ROCHA BASEVI
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : HIDEKI MOCHIZUKI E CÔNJUGE
ADVOGADO : LUÍS EUGÊNIO BARDUCO E OUTRO
RECORRIDO : HILDEBRANDO JOSÉ ROSSI FILHO E CÔNJUGE
ADVOGADO : CLAUDIA A. TRISTÃO ROSSI
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Turma, por unanimidade, conheceu em parte do recurso especial e negou-lhe
provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Raul Araújo, Maria Isabel Gallotti e João Otávio de Noronha votaram
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