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so de joias na Bíblia

“Falai de Cristo, e quando o coração estiver


convertido, tudo que não está em harmonia com
a Palavra de Deus cairá.” Ellen White

Alguns dias atrás terminei a leitura de um livro e


quero compartilhar com você minhas
considerações. O objetivo não é esgotar o
assunto, mas espero que a leitura seja útil como
foi para mim. O livro é do Dr. Ángel Manuel
Rodríguez, publicado pela Casa Publicadora
Brasileira com o título O Uso de Joias na Bíblia. O
autor inicia ressaltando que o assunto é um
pormenor, talvez um detalhe, mas que ganha
magnitude ao nos fazer refletir sobre a
autoridade de Cristo em todos os aspectos da
vida. Segundo ele, as normas e princípios são
instrumentos para a internalização dos valores
celestiais e, nesse caso (uso de joias e também
vestuário), o princípio por traz da norma é a
negação do próprio eu ou o aborrecer a própria
vida, como diz Cristo em Lucas 14:24, a
modéstia, simplicidade e economia.
Alguns citam a passagem que está em 1 Samuel
16:7, argumentando que para Deus o que importa
é o coração e não o exterior. O texto bíblico está
se referindo a Eliabe que, apesar de ter porte
real aos olhos de Samuel, não seria o escolhido de
Deus. Ou seja, parecia ser, mas não era. Em se
tratando de uso de joias e vestuário, ocorre o
oposto, pois alguns, por seus adornos,
vestimentas e práticas, parecem não seguir os
princípios cristãos, mas afirmam que sim. O que
quero dizer é que Satanás pode se transfigurar
em anjo de luz, mas um anjo de luz jamais se
transfigura em Satanás. Você pode parecer cristão
e não ser, mas, se for, isso não é algo que passará
desapercebido.

Agora vem a questão: Como determinar o que é


apropriado e até recomendado em se tratando de
joias, vestimentas e comportamento daqueles que
professam ser seguidores de Cristo? Segundo
citações do autor, melhor do que criar uma lista
exaustiva ou não ter lista alguma é simplesmente
ensinar princípios. Quais seriam esses princípios,
então? O fundamental seria a simplicidade no
estilo de vida, em que cada membro decidiria por
si e não a igreja.

Segundo Lesley Kay, “usar joias é só uma das


formas com que a natureza humana tenta
compulsivamente cobrir sua nudez”.

É interessante que Deus cria Adão e Eva e não


lhes dá joias, nem mesmo funcionais (o livro
diferencia joias usadas como adorno das
funcionais, religiosas, de status social, riqueza,
moeda e as usadas como oferta no Antigo
Testamento). O casal recebe apenas vestes de luz
e as perde em decorrência de seu pecado. As
únicas joias prescritas por Deus em todo o Antigo
Testamento são as utilizadas pelo sumo sacerdote
e são colocadas na roupa e não diretamente sobre
o corpo. Todos os demais israelitas eram
identificados externamente como adoradores de
Jeová apenas pelas borlas na orla das vestes. No
Novo Testamento, as convicções religiosas
deveriam ficar patentes por meio de uma vida
santa, o adorno do verdadeiro cristão. As joias
que parecem ser toleradas são aquelas utilizadas
como símbolo de autoridade (coroa do rei e da
rainha e o anel como sinete), embora não tenham
sido instituídas por Deus.

Duas passagens, ainda no Antigo Testamento,


sugerem que a remoção das joias utilizadas pelo
povo escolhido estava relacionada ao
arrependimento e à consagração a Deus. A
primeira está em Gênesis 35:4 e a segunda em
Êxodo 33:4-6. Leia esses textos.

No Novo Testamento, duas passagens são


trabalhadas pelo autor: 1 Pedro 3:3-6 e 1 Timóteo
2:9, 10. Ele ainda faz uma rápida alusão aos
contrastes existentes entre as duas mulheres
descritas em Apocalipse 12:1 e 17:4. Os títulos já
são bem sugestivos para não dizer conclusivos: “A
mulher e o dragão” e “A descrição da grande
meretriz”, respectivamente.

Em 1 Pedro3:3-6, o apóstolo deixa claro qual


adorno possui grande valor diante de Deus: um
incorruptível trajo de um espírito manso e
tranquilo. Aprendo aqui uma preciosa lição sobre
o que Deus quer e o que Ele permite ou tolera.
Fica claro que o adorno exterior, utilizado apenas
como ornamento, não é recomendado.

1 Timóteo 2:9, 10 traz palavras-chave como


modéstia, bom senso e decência. Muito bem, se
não devo usar joias seguindo os princípios de
simplicidade, modéstia e economia, o que dizer
dos carros e das casas luxuosas? O que falar,
então, de tiaras, presilhas, broches, relógios
cravejados de diamantes, prendedores de
gravatas? Se um brinco for usado como broche,
deixa de ser reprovável? Se o problema é perfurar
as orelhas, posso usar brincos de pressão ou
colares? E o anel de formatura, 15 anos, de
noivado e a aliança? E sobre o cabelo? Posso
pintar de loiro, ruivo, marrom dourado, preto,
mas não posso pintar de azul, verde ou lilás?
Mulher pode cortar o cabelo curto, mas o homem
não pode deixar a cabeleira crescer? O que para
mim pode ser exagerado ou dispendioso, para o
outro não, e caímos, então, na malha do
relativismo em que tudo pode e nada deve ser
negado.
A lista é exaustiva e canso só de pensar em
encontrar uma explicação para cada item.
Recorro, então, a Romanos 12:2: “Não vivam
como vivem as pessoas deste mundo, mas deixem
que Deus os transforme por meio de uma
completa mudança da mente de vocês. Assim,
vocês conhecerão a vontade de Deus, isto é,
aquilo que é bom, perfeito e agradável a Ele.”

Em lugar de procurarmos saber o que podemos


usar ou não como adorno exterior, deveríamos
fazer aquilo que está explícito na Bíblia: nos
“enfeitarmos” com boas ações e ter a beleza de
um espírito calmo e delicado, que tem muito
valor para Deus. Talvez nos faça bem lembrar que
somos um povo separado, distinto e não podemos
viver como queremos, mas como Deus quer. O
exemplo de João Batista precisa falar alto aos
nosso coração, e mais que isso: o exemplo do
nosso Mestre, que não tinha onde reclinar a
cabeça; salvou-nos não mediante prata e ouro,
mas pelo Seu sangue (1 Pedro 1:18, 19).

O que posso dizer, o que aprendi nesta


caminhada de 19 anos tentando ser cristã, é que
se alguém tem falta de sabedoria peça a Deus
(Tiago 1:5). Sobre o fato de a Igreja Adventista do
Sétimo Dia ter como norma o não uso de joias
ornamentais, segundo Ellen White, no
livro Testemunhos Seletos, v. 1, p. 350, “trajar-
se com simplicidade, e abster-se de ostentação de
joias e ornamentos de toda espécie, está em
harmonia com a nossa fé”. Se você partilha dessa
fé, seria bom reconhecer a autoridade da igreja.
Todas as organizações têm o direito de
estabelecer normas com base em sua missão.
Segundo Jay Gallimore, as normas da igreja são o
mínimo que Deus requer de nós, não o máximo.

Em Lucas 11:42, Jesus censura os fariseus por


dizimar da hortelã, da arruda e das hortaliças (um
trabalho extremamente meticuloso) e, contudo,
desprezar a justiça e o amor de Deus. Na segunda
parte do verso, está para mim a grande lição:
“Devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir
aquelas.” Esse texto é fantástico, pois esfacela os
argumentos de quem desmerece um vestuário
simples e costumes modestos citando exemplos
de cristãos que se vestem “do pé à cabeça”, não
pintam as unhas ou se maquiam, mas cujo
coração é um antro de perdição, a língua que
serpenteia e destila seu veneno… Usando as
palavras de Cristo, o cristão apenas nominal não
resolverá o problema mudando suas vestes
(deixando de dizimar das hortaliças) e, sim, o
coração, ou seja, fazendo estas coisas sem omitir
aquelas… Entende? Não se resolve um problema
apenas citando outro.

Finalizo com dois textos de Ellen White: “Não há


necessidade de fazer do assunto do vestuário o
ponto principal de vossa religião. Algo mais
valioso há de que falar. Falai de Cristo, e quando
o coração estiver convertido, tudo que não está
em harmonia com a Palavra de Deus cairá. […] A
fim de ensinar homens e mulheres o nenhum
valor das coisas terrestres, deveis encaminhá-los
à fonte viva e levá-los a abeberarem-se de Cristo,
até que seu coração esteja repleto do amor de
Deus, e Cristo seja neles uma fonte de água que
salta para a vida eterna” (Evangelismo, p. 272).

“Se somos cristãos, seguiremos a Cristo ainda


mesmo que o caminho em que tenhamos de andar
contrarie as nossas inclinações naturais. Não há
necessidade de vos dizer que não deveis usar isto
ou aquilo, pois se o amor dessas coisas vãs estiver
em vosso coração, pôr de parte os vossos adornos
apenas se assemelhará ao cortar a folhagem de
uma árvore. As inclinações do coração natural de
novo surgiriam” (Orientação da Criança, p. 429,
430).

(Gisele Domini é farmacêutica e mestranda em


Nutrição)

Publicado em 2 de Novembro de
2021 por Michelson Borges

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