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A Concentração de proteínas no humor aquoso

de pacientes com glaucoma

Escola Superior de Saúde do Porto

Licenciatura em Ortóptica

1º ano

Bioquímica

Porto, 02 de janeiro de 2024

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Autores: Ágata Costa 10220856, Rita Mesquito 10230165 e João Seabra 10230965

Índice:

Resumo —-------------------------------------------------------------------------------------------3
1.Introdução —---------------------------------------------------------------------------------3,4,5
2.Glaucoma de ângulo aberto —---------------------------------------------------------------5,6
3.Processo Bioquímico no Glaucoma e Humor Aquoso —----------------------------6,7,8,9
4.Estudos realizados -------------------------------------------------------------------------9,10
5.Conclusão —------------------------------------------------------------------------------------10
6. Bibliografia —----------------------------------------------------------------------------------10

Índice das Imagens:


Imagem 1: Classificação dos fármacos utilizados na redução da PIO.

Índice das Tabelas:

Tabela 1- Eletrólitos e solutos orgânicos no humor aquoso e plasma.

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Resumo:

A abordagem realizada no presente trabalho será fundamentada numa investigação


científica, utilizando dados sobre a concentração de proteínas no humor aquoso de
pacientes com Glaucoma. A análise comparativa desses resultados proporcionará insights
sobre a possível relação entre proteínas e a manifestação do Glaucoma.

Através da análise de dados, este estudo procura elucidar as implicações da interação


entre as proteínas no humor aquoso e o desenvolvimento ou progressão do Glaucoma.
Destacamos a importância da bioquímica como uma ferramenta crucial na compreensão
do Glaucoma, salientando a sua contribuição para desvendar os enigmas associados a essa
condição ocular.

Ao explorar este campo, não ampliamos só o nosso conhecimento científico, mas


abrangemos também estratégias inovadoras de diagnóstico e intervenção, impactando
positivamente a gestão clínica do Glaucoma.

1. Introdução

O humor aquoso é o nome dado ao fluido transparente que preenche a câmara anterior e
posterior do olho, tem como funções a nutrição da córnea e do cristalino, a regulação da
pressão hidrostática conveniente para o olho e ajuda a refração da luz que entra no olho,
canalizando-a para a pupila e depois para o cristalino.

É produzido pelo epitélio não pigmentado do corpo ciliar e absorvido pelo trabeculado,
passa da câmara posterior à anterior e daí sai pelo ângulo cameral, 99,6% do humor
aquoso é água no entanto, essa percentagem restante contém substâncias importantes tais
como a ureia, glicose, creatinina, ascorbato, ácido úrico, ácido hialurônico,, ácido
ascórbico, lactato, potássio, cálcio, bicarbonato de sódio e cloro.

Os mecanismos da produção do humor aquoso envolvem dois processos: a Ultrafiltração


e a Secreção.
A Ultrafiltração ocorre através das barreiras hemato-oculares, é regulada para manter a
composição do humor aquoso adequada.
A Secreção envolve a atividade da bomba celular de sódio, o processo é essencial para
manter a pressão intraocular e garantir as condições necessárias para a função visual.

A regulação da produção do humor aquoso consiste em dois principais mecânicos:

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A Regulação Nervosa influência diretamente os processos ciliares na medida em que, a
ausência de fibras nervosas nas camadas celulares epiteliais resulta numa intervenção
simpática apenas nos vasos dos processos ciliares
A Regulação Neuro Hormonal refere-se a fatores humorais que atuam sobre recetores
celulares específicos, têm um papel crucial na modulação da produção do humor aquoso
com base em sinais químicos e moleculares.
O Glaucoma é uma condição ocular complexa e progressiva, está intrinsecamente ligado
a processos bioquímicos que ocorrem no olho, especificamente no humor aquoso. Uma
perspetiva histórica revela contribuições cruciais de diversos investigadores e entidades
que desempenharam papéis fundamentais na descoberta e caracterização desses
processos.

No século XIX, os cientistas Albrecht von Graefe e William Bowman lançaram as bases
para a compreensão da pressão intraocular (PIO) e a sua relação com o Glaucoma.
Entretanto, foi Sir George Biddell Airy, no mesmo século, que identificou a pressão
intraocular como um fator fundamental nessa patologia. Já no século XX, avanços de
notáveis cientistas como Harold Ridley e Paul A. Chandler expandiram o entendimento
sobre o humor aquoso.

O Glaucoma é caracterizado por danos do nervo óptico e nas células fotorreceptoras da


retina, levando a um dano progressivo desses que culmina com cegueira irreversível se
não diagnosticado e tratado precocemente, foi frequentemente associado a uma pressão
intraocular elevada, destaca-se como uma patologia fisiopatologia e pode ser
assintomática ou sintomática.

Os sintomas de glaucoma são detetados, de um modo geral, numa fase avançada da


doença, quando cerca de 50% das células ganglionares estão atrofiadas. Os sintomas
iniciais ou são inexistentes ou são praticamente impercetíveis o que faz com que a
doença avance para fases avançadas de forma silenciosa.

Esta condição pode ser uni ou bilateral e apresenta como principal fator de risco o
aumento da pressão intraocular (PIO), que está normal entre 10 e 21 mmHg (SCHOR,
2009). Segundo dados mais recentes da Organização Mundial de Saúde (OMS), é a
segunda causa de cegueira no mundo (12,3%).

No glaucoma primário agudo de ângulo fechado, ocorre um fecho anatômico do ângulo


da câmara anterior, que resulta num obstáculo à drenagem de humor aquoso. Nesse
caso, o paciente apresenta como sintoma mais proeminente a intensa dor nos olhos e
pressão ocular elevada. Já no glaucoma primário de ângulo aberto, os sintomas são
apresentados mais frequentemente quando há um grande dano visual.

Esta patologia é explicada pelo seguinte exemplo: Quando estamos a ver um filme no
cinema e que não conseguimos visualizar o ecrã completo, apenas vemos a parte do

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meio, como se estivéssemos a ver por uma espécie de túnel. No olho com glaucoma, à
medida que a doença evolui, as manchas vão aumentando e a visão vai-se deteriorando.
Os principais sintomas são olhos vermelhos, olhos lacrimejantes, fotofobia, dor nos
olhos e dor de cabeça.

No campo da biotecnologia, as vantagens tecnológicas na pesquisa e tratamento do


Glaucoma são notáveis. Os avanços em terapias farmacológicas, diagnósticos precoces
e intervenções cirúrgicas têm impactado positivamente o controlo da condição.

O tratamento do glaucoma tem como principal objetivo evitar o dano da papila ótica
através do controle da PIO. (CONSENSO, 2009; COSTA E NETO, 2006).
O tratamento tem como objetivo reduzir ou estabilizar a pressão intraocular. Quando
este objetivo é atingido, o dano das estruturas oculares, principalmente do nervo ótico
pode ser evitado.

Na maioria dos casos, o tratamento do glaucoma pode ser efetuado apenas com o
recurso a colírios. Trata-se de um tratamento farmacológico que permite reduzir ou
estabilizar a pressão intraocular, não sendo, portanto, necessário qualquer tipo de
tratamento cirúrgico.

No entanto, alguns doentes podem necessitar de tratamento cirúrgico de modo a reduzir


a pressão intraocular para níveis mais baixos, inferiores normalmente a 22 mmHG.

A prevenção e tratamento adequado de doenças crónicas, como por exemplo a diabetes


e as suas complicações nos olhos, são também de primordial importância de modo a
evitar o glaucoma ou retardar a sua progressão.

2. Glaucoma primário de Ângulo Aberto


O glaucoma primário de ângulo aberto é o mais frequente em adulto, representa cerca
de 80% dos casos. Neste tipo de glaucoma, o aumento da pressão intraocular é
progressivo, a perda de visão e o campo visual é constante, é um tipo de glaucoma
assintomático até à perda de cerca de 50% dos axónios do nervo ótico.

Esta patologia é causada por uma falha na drenagem do humor aquoso, que ocorre
especificamente no ângulo da câmara anterior, o que impede a saída da substância e
aumenta a PIO e é originada na malha trabecular ou do canal de Schlemm.

O glaucoma primário de ângulo aberto (GPAA) é a forma mais comum de glaucoma,


estudos recentes estimam que em todo o mundo 60,5 milhões de pessoas apresentam
alguma forma de glaucoma.

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A elevação da PIO seria secundária ao aumento da resistência à drenagem do humor
aquoso através da malha trabecular. As causas do aumento de resistência na malha
trabecular ainda não são bem determinadas, no entanto, é provável que alterações
bioquímicas, tais como diferenças na concentração de ácido hialurônico e ácido
ascórbico, além de proteínas, como fator transformador de crescimento beta-2,
endotelina, cochilina e transferrina presentes no humor aquoso e na malha trabecular de
pacientes com glaucoma, estejam envolvidas na patogénese da doença.

Estudos na literatura demonstraram o aumento da concentração total de proteínas em


pacientes com GPAA e associaram esta alteração a dois mecanismos principais: quebra
de barreira hemato-aquosa e uso de medicação anti glaucomatosa.

O mecanismo de quebra de barreira tem sido implicado como o principal responsável


pelo aumento de proteínas no humor aquoso de pacientes com GPAA. Em relação ao uso
de medicações anti glaucomatosas, estudos prévios provam o aumento na concentração
total de proteínas no humor aquoso com o uso tópico de maleato de timolol 0,5%.

Quanto ao efeito de outras medicações anti glaucomatosas, foi descrito um aumento na


concentração total de proteínas no humor aquoso após administração oral de 500 mg de
acetazolamida.

Após extensa revisão da literatura, não encontramos relatos sobre a influência do uso de
inibidores tópicos da anidrase carbônica ou de alfa-agonistas na concentração total de
proteínas no humor aquoso.

3.Processo Bioquímico
A velocidade média de produção do humor aquoso está entre 2 e 3 microlitros por
minuto, esta quantidade é produzida pelos processos ciliares, estes são "dobras" que se
projetam do corpo ciliar para o espaço atrás da íris, onde se encontram os ligamentos do
cristalino e o músculo ciliar junte-se ao globo ocular.

A formação do humor aquoso começa como uma secreção de sódio pelas bombas: Na +
/ K + ATPase que transportam ativamente esse íon para os espaços intercelulares laterais.
Ânions como cloro (Cl-) e bicarbonato (HCO3-) são arrastados por trás do sódio para
manter a eletroneutralidade.

A acumulação desses íons têm um efeito osmótico que promove o movimento da água
dos capilares vizinhos. A solução assim formada acumula-se, a pressão hidrostática
aumenta e flui através das junções intercelulares do epitélio em direção à câmara
posterior.

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As causas do aumento de resistência na malha trabecular ainda não são bem determinadas.
No entanto, é provável que alterações bioquímicas, tais como, diferenças na concentração
de ácido hialurônico e ácido ascórbico, além de proteínas, como fator transformador de
crescimento beta-2, endotelina, cochilina e transferrina, presentes no humor aquoso e na
malha trabecular de pacientes com glaucoma, estejam envolvidas na patogénese da
doença.

(MacKnight et al., 2000, Prata et al., 2007) Os autores descobriram que a concentração
total de proteínas no humor aquoso de pacientes com glaucoma primário de ângulo aberto
em tratamento clínico foi duas vezes superior em relação a indivíduos não glaucomatosos
portadores de catarata senil.

3.2. Processo Bioquímico no Glaucoma e Humor Aquoso:


A síntese do humor aquoso acontece no corpo ciliar, utiliza componentes do sangue
como por exemplo íons e nutrientes como substratos.
As enzimas fundamentais que desempenham um papel crucial no processo bioquímico
são a anidrase carbônica, transportadores de sódio-potássio, enzimas na regulação do
metabolismo celular, enzimas antioxidantes e enzimas de síntese proteica.

A circulação do humor aquoso consiste no fluxo do corpo ciliar para a câmara anterior
do olho que é facilitado por vários íons e moléculas transportadoras.

As enzimas especializadas e os transportadores de íons e proteínas desempenham papéis


essenciais como catalisadores na circulação do humor aquoso.

O stress oxidativo ocorre no tecido ocular e contribui para a degeneração celular.

A drenagem do humor aquoso ocorre na malha trabecular e no canal de Schlemm e


envolve íons e metabólitos. As enzimas que se encontram nas células endoteliais são
fundamentais na eficiência na drenagem do humor aquoso.

A acumulação inadequada de humor aquoso pode significar um aumento da PIO, pode


induzir lesões no nervo ótico comprometendo a integridade funcional e contribuindo
para a patogénese da condição ocular.

A apoptose consiste na morte das células ganglionares da retina, o glaucoma pode ser
desencadeado por vias de apoptose ativadas por estresse oxidativo e inflamação no que
toca ao humor aquoso.

O processo ativo de secreção de humor aquoso é mediado pelo transporte seletivo de


certos íons e substâncias através da membrana baso lateral do epitélio não pigmentado,
contra um gradiente de concentração. Duas enzimas abundantes no epitélio não

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pigmentado estão envolvidas nesse processo: a adenosina trifosfatase ativada por Na+ -
K + (Na+ -K +ATPase) e anidrase carbônica (AC).

O Na+ - K +ATPase é encontrado geralmente ligado à membrana plasmática das pregas


baso lateral do epitélio não pigmentado. Esta enzima fornece a energia 5 necessária para
a bomba metabólica, que transporta o Na+ para dentro da câmara posterior a catalisar a
reação seguinte: ATP → ADP + Pi + energia onde: ATP = adenosina trifosfato ADP =
adenosina difosfato Pi = fosfato inorgânico.

Representação Molecular:
Compostos-Chave: Íons como sódio, potássio, cloreto; moléculas orgânicas, como
glicose; Estruturas Moleculares: Variedade de moléculas, dependendo do estágio
específico do processo.

3.2. Tratamento médico


A seleção do tratamento depende do tipo de glaucoma, a fase do glaucoma e o potencial
de visão do(os) olho(os) afetados. Os objetivos terapêuticos consistem essencialmente,
na manutenção da visão e controle da PIO. A terapia médica consiste na administração
tópica e/ou sistémica de hipotensores oculares tendo como objetivo reduzir a PIO
através da diminuição da produção de Humor aquoso e(ou aumento do fluxo de saída de
Humor aquoso.

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Imagem 2: Classificação dos fármacos utilizados na redução da PIO.

4. Estudos realizados
Objetivos do Estudo: Comparar a concentração total de proteínas no humor aquoso
entre pacientes com glaucoma primário de ângulo aberto e sem glaucoma.

Métodos: Foram recolhidas amostras de humor aquoso de 22 pacientes com glaucoma


primário de ângulo aberto (grupo GPAA) no momento da trabeculectomia.
Na coleta, 0,1 ml de humor aquoso foi aspirado da câmara anterior através de uma
agulha de calibre 26, no início do procedimento cirúrgico.
Coleta semelhante foi realizada em 22 pacientes sem glaucoma no início da cirurgia de
catarata (grupo controle). A amostra de humor aquoso foi armazenada a -20°C após a
coleta.
A concentração total de proteínas no humor aquoso foi determinada por meio de um
teste colorimétrico.

Resultados: A média geométrica da concentração total de proteínas no humor aquoso


foi de 32 mg/dl (amplitude: 8–137 mg/dl) no grupo glaucoma primário de ângulo aberto
e de 16 mg/dl (amplitude: 2–85 mg/dl) no grupo controle.
A razão da concentração total de proteínas no humor aquoso entre estes dois grupos foi
de 2,0 (intervalo de confiança de 95%: 1,3 a 3,2; p=0,003).

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Conclusões: A concentração total de proteínas no humor aquoso de pacientes com
glaucoma primário de ângulo aberto foi aproximadamente duas vezes maior quando
comparada aos pacientes sem glaucoma.

5. Conclusão
A história revela contribuições significativas de cientistas que fizeram descobertas
necessárias para compreender esta condição oftalmológica.
O estudo do processo bioquímico do humor aquoso relacionado com o glaucoma é
complexo e de estudo contínuo e a bioquímica é crucial e sustenta a saúde visual.
Desde a produção meticulosa no corpo ciliar até à regulação da pressão intraocular, cada
componente constitui um papel importante para a funcionalidade visual.
A ligação entre o humor aquoso e o glaucoma pressupõe a necessidade de abordagens
holísticas na saúde ocular, à medida que vão sendo descobertos “segredos moleculares”
ficamos mais próximos de enfrentar o glaucoma com compreensão de modo a preservar
a visão e melhorar a qualidade de vida.

6. Referências Bibliográficas:
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MACKNIGHT, A.D.C.; MCLAUGHLIN, C.W.; PEART, D. PURVES, R.D.; CARRÉ,
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Pharmacology and Physiology (2000) 27, 100–106.
PRATA, T.S.; NAVAJAS, E.V.; MELO, L.A.S.; MARTINS, J.R.M.; NADER, H.B.;
BELFORT, R. Concentração de proteínas no humor aquoso de pacientes com glaucoma
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Guyton AC, Hall JE: The Eye: I. Optics of Vision, em: Livro de fisiologia médica , 13ª
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CONSENSO BRASILEIRO DE GLAUCOMA SECUNDÁRIO DA SBG, 1., 2014, São
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