Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1. Definição........................................................................ 3
2. Epidemiologia............................................................... 3
2. Fisiopatologia e etiologia......................................... 5
3. Quadro Clínico.............................................................. 7
4. Diagnóstico................................................................... 9
5. Diagnóstico diferencial...........................................15
6. Tratamento..................................................................15
Referências Bibliográficas..........................................20
ACALASIA 3
1. DEFINIÇÃO
A acalasia é uma doença motora do CONCEITO! Acalasia é caracterizada
pela ausência do relaxamento do es-
Esfíncter Esofagiano Inferior (EEI) fíncter esofágico inferior, podendo ser
e do corpo do esôfago e é defini- classificada em primária ou secundária.
da como a ausência de relaxamen- A acalasia primária (ou idiopática) pos-
to do EEI durante a deglutição. Ela é sui etiologia desconhecida e é a forma
mais comum no mundo. Já a acalasia se-
normalmente caracterizada por ape- cundária pode ter diferentes etiologias
ristalse (ausência de ondas peristál- como: doença de chagas (mais comum
ticas) nos dois terços distais do esô- no Brasil) neoplasia (principalmente car-
cinoma gástrico), amiloidose, sarcoidose,
fago, relaxamento incompleto do EEI
neurofibromatose, esofagite eosinofílica,
durante a deglutição e elevação da neoplasia endócrina múltipla tipo 2, sín-
pressão basal do EEI. Apesar da evo- drome de Sjögren juvenil com acalasia e
lução natural da doença normalmen- hipersecreção gástrica, pseudo-obstru-
ção intestinal crônica idiopática e doen-
te resultar em alterações da peristalse ça de Anderson-Fabry.
do corpo esofágico, essas alterações
não são necessárias para que se defi-
na um quadro de acalasia.
Com a progressão da doença sem CURIOSIDADE! Acalasia vem do gre-
go a- “não” khálasis “relaxamento”,
tratamento, ocorre uma obstrução significando então “ausência de rela-
à passagem do bolo alimentar, au- xamento”.
mentando a pressão no interior do
corpo do esôfago e levando a reten-
ção do material não digerido, o que 2. EPIDEMIOLOGIA
pode causar um remodelamento do Acalasia primária é o distúrbio motor
esôfago. Esse remodelamento é ob- esofágico primário mais comum no
servado clinicamente como uma di- mundo, com prevalência de cerca de
latação esofágica, que pode se apre- 10/100.000 habitantes. A etiologia
sentar em graus variados e quando da acalasia primária é desconhe-
severa é denominada megaesôfago. cida e ela pode ocorrer em qualquer
ACALASIA 4
2. FISIOPATOLOGIA
E ETIOLOGIA HORA DA REVISÃO
O esôfago é um órgão do sistema di-
A acalasia pode ser dividida em pri- gestório, responsável pela condução do
mária (idiopática), forma mais comum bolo alimentar até o estômago. Por sua
no mundo, ou secundária. A principal grande extensão, ele é dividido em 3
segmentos que são nomeados pela sua
causa secundária de acalasia no Bra- localização: cefálico, torácico e abdomi-
sil é a doença de Chagas. Nas áre- nal, sendo este último geralmente bem
as endêmicas da doença de Chagas, pequeno, em torno de 2 centímetros,
sempre devemos considerar a possi- delimitado entre o diafragma e o esfínc-
ter esofagiano inferior quando se encon-
bilidade de “esofagopatia chagási- tra com o estômago.
ca” em pacientes com acalasia. O esôfago desempenha sua atividade
Outras doenças associadas a acala- motora através de duas camadas mus-
culares, uma delas longitudinal e a outra
sia, porém não muito comuns, incluem:
circular, formadas por musculatura lisa.
neoplasia (principalmente carcinoma Esses músculos respondem à regula-
gástrico), amiloidose, sarcoidose, neu- ção do sistema autonômico, e apresenta
rofibromatose, esofagite eosinofílica, dois plexos nervosos, um deles se locali-
za na camada submucosa, denominado
neoplasia endócrina múltipla tipo 2, plexo de Meissner e o outro submuscu-
síndrome de Sjögren juvenil com aca- lar, chamado plexo mioentérico de Auer-
lasia e hipersecreção gástrica, pseudo- bach, observados na figura 2. Estímulos
-obstrução intestinal crônica idiopática parassimpáticos, principalmente media-
dos pela acetilcolina, resultam no relaxa-
e doença de Anderson-Fabry. mento do EEI e na peristalse do corpo
esofagiano.
MAPA MENTAL ETIOLOGIA
Outros:
sarcoidose,
SE LIGA! A acalasia resulta da inflama-
amiloideose,
neurofibromatose,
ção e degeneração dos neurônios pre-
esofagite sentes na parede do esôfago! Na acala-
Principal causa
eosinofílica sia primária (idiopática) não se conhece
no Brasil
ainda a causa dessa inflamação, porém
alguns estudiosos propõem a associa-
ção da inflamação à presença de an-
Secundária Chagas ticorpos secundários à resposta a uma
infecção viral (herpes zoster, sarampo).
FISIOPATOLOGIA
Destruição
dos neurônios
colinérgicos
do plexo Aumento da
mioentérico pressão basal
do EEI
ção de áreas de metaplasia e poste- dução baixa, que ocorre tanto para
rior neoplasia. sólidos quanto para líquidos. A disfa-
Há também casos de acalasia as- gia costuma surgir insidiosamente,
sociada a insuficiência adrenal e desenvolvendo-se ao longo de me-
alacrimia (redução acentuada da ses ou anos. Os pacientes com acala-
produção de lágrimas) atribuídos à sia tipicamente relatam se alimentar
sindrome de Allgrove, uma síndro- lentamente e ingerir grandes quan-
me autossômica recessiva e rara. tidades de líquidos para auxiliar a
deglutição. Isso é explicado pois o lí-
quido forma uma coluna de água que
exerce pressão contra o EEI que não
apresenta o relaxamento adequado.
Quando a pressão exercida pela co-
luna de água supera o tônus do EEI,
o EEI finalmente se abre permitindo
a passagem do conteúdo alimentar
para o estômago.
A obstrução à passagem do bolo ali-
mentar faz com que o esôfago rete-
nha material não digerido, podendo
sobrevir graus variados de dilata-
ção em seu corpo - o paciente geral-
mente desenvolve, em associação às
queixas de disfagia, sintomas de re-
gurgitação e broncoaspiração des-
se material. A maioria dos pacientes
com acalasia em estágios avançados
desenvolve halitose, pelo acúmulo de
Figura 2: Ilustração mostrando a parede e esôfago, com
os plexos de Meissner e Auerbach que são afetados alimentos no esôfago. Com o tempo,
na acalasia, o que causa o distúrbio motor do esôfago.
Disponível em: http://www.medicinanet.com.br/m/
a perda ponderal passa a chamar
conteudos/acp-%20%20%20%20%20%20%20me- atenção e muitas vezes é o que leva
dicine/5041/disturbios_esofagicos_%E2%80
o paciente a procurar cuidados médi-
cos.
3. QUADRO CLÍNICO A regurgitação pode causar irritação
da faringe, o que dispara o reflexo
A progressão da doença ocorre de
da tosse, dessa maneira os pacien-
maneira gradual. O principal sinto-
tes com acalasia também podem se
ma da acalasia é a disfagia de con-
apresentar com tosse seca, crônica,
ACALASIA 8
não associada a febre. Esses pa- A dor não é um sintoma típico, mas
cientes também podem apresentar pode ocorrer em estágios iniciais da
rouquidão em virtude da irritação doença quando a contração esofa-
que pode causar edema nas cordas giana tenta vencer a força do EEI. O
vocais, resultando assim na disfonia. paciente pode relatar uma sensação
de plenitude ou até mesmo queimor
SE LIGA! Paciente que se apresenta
retroesternal e o quadro pode, muitas
com disfagia de progressão insidiosa e vezes, ser confundido com a doença
perda ponderal deve levantar o alerta do refluxo gastroesofágico (DRGE),
para acalasia, especialmente se oriundo o que frequentemente atrasa o diag-
de região endêmica da doença de Cha-
gas! É importante fazer o diagnóstico di- nóstico. Com a progressão da doença
ferencial com câncer de esôfago, princi- e a degeneração crescente da moti-
palmente se os sintomas apresentarem lidade esofágica a dor retroesternal
evolução rápida.
tende a desaparecer.
Disfagia de
Regurgitação Rouquidão Dor retroesternal
condução
Beber líquidos
Cólica esofagiana
QUADRO para ajudar a
CLÍNICO comida descer
Esofagomanometria ou manome-
Figura 5: Manometria clássica na acalasia: pode ser
tria esofágica: é o principal exame observado - 1. aperistalse através de contrações simul-
diagnóstico, uma vez que permite a tâneas com perda completa de sua propagação; 2.
ausência de relaxamento (aumento da pressão do EEI).
avaliação do tônus do EEI e avalia- Disponível em: Laurino-Neto RM, Herbella F, Schlott-
ção do seu relaxamento durante a mann F, Patti M. Evaluation of esophageal achalasia:
from symptoms to the Chicago classification. Arq Bras
deglutição. As caractéristicas na ma- Cir Dig. 2018;31(2):e1376.
nometria que indicam o diagnóstico .
de acalasia são, principalmente a au-
ACALASIA 11
Classificação de Chicago
Deformidade Ausência de
Grau II – Esôfago Grau I – Forma Esofagografia Pouco sensível/
Entre 7 e 10 cm regular e Rx de tórax relaxamento
discinético anectásica baritada específico
afuniladoa do EEI do EEI
Sinal do “bico de
Classificação Classificação Nível de ar
Grau III – Esôfago francamente dilatado pássaro” ou chama Achados
de Rezende de Pinotti líquido
de vela
Avançado: Ausência de
Não avançado: Mediastino
Grau IV – Dolicomegaesôfago dilatação > 7cm, bolhas de ar no
Incipiente: Esôfago com amplo
com esôfago estômago
esôfago sem dilatação até
atônico ou
dilatação, com 7cm, aperistalse
com ondas de
> 10cm ou aperistalse e estase
contração muito
tortuoso considerável.
fracas
ACALASIA 14
SUSPEITA DE
ACALASIA
Manometria Esofagografia
Investigação
esofágica baritada
Manometria Manometria
também normal sugere acalasia
Avaliar outras
suspeitas Estadiar através
diagnósticas da classificação
de Rezende
Tratamento
Tratamento Tratamento
guiado pelo guiado pela
estado do paciente classificação de
(ASA, nutricional) Rezende
ACALASIA 15
Tratamento cirúrgico
Casos não avançados – Cirurgia de
Heller-Pinotti: Esofagocardiomioto-
mia à Heller, que consiste na secção
das fibras longitudinais e circulares da
camada muscular própria da transi-
ção esôfago-gástrica, principalmente
na parede anterior. A Esofagocar-
diomiotomia pode ou não ser as-
Figura 8: Ilustração representando a dilatação endos- sociada à fundoplicatura de Pinotti,
cópica por balão. Disponível em: http://www.progastro- uma técnica na qual se usa o fundo
joinville.com.br/enciclopedia/dilatacao_de_esofago
gástrico para fazer um válvula an-
ti-refluxo, através de uma sutura em
As dilatações são realizadas de forma três planos.
seriada, sendo repetidas periodica- A cirurgia obtém até 90% de suces-
mente e apresentam baixa morbimor- so nos sintomas, e apresenta como
talidade, apresentando também boa um dos seus principais efeitos cola-
tolerância por parte do paciente. Ape- terais o desenvolvimento da DRGE,
sar disso, o procedimento de dilatação que chega a acometer 47% dos ca-
apresenta como desvantagens em sos da esofagocardiomiotomia à
relação ao tratamento cirúrgico: efi- Heller sem a fundoplicatura. Com
cácia semelhante ou inferior ao trata- a associação da Fundoplicatura de
mento cirúrgico (ensaios clínicos ran- Pinotti, no entanto o risco de desen-
domizados apresentaram resultados volvimento de refluxo cai para cerca
divergentes), maior risco de DRGE a de 10%.
longo prazo, maior risco de perfuração
No grupo I de Rezende, o tratamento
esofágica e de reabordagem.
cirúrgico parece ter eficácia seme-
ACALASIA 17
TRATAMENTO
Halitose
Disfagia de
Pseudoacalasia
condução
Diagnostico
Quadro clínico
DRGE diferencial Regurgitação
Esofagografia Ausência de
Dilatação Achados
Indicado para pacientes com risco baritada relaxamento do EEI
cirúrgico médio
endoscópica Tratamento Diagnóstico
por balão Classificação de Pressão no EEI >
Chicago 35mmHg
Miotomia da cárdia por via endoscópica
Cirúrgico Aperistalse ou
(POEM) Padrão ouro
Coleta de biópsia hipocontratilidade
para afastar neoplasia nos 2/3 inferiores
Toxina botulínica Endoscopia Pouco sensível/
em esôfago inferior Rx de tórax do esôfago
ou cárdia digestiva alta específico
Esofagomiotomia à Heller
Achados Mediastino amplo
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
SABISTON. Tratado de cirurgia: A base biológica da prática cirúrgica moderna. 19.ed. Saun-
ders. Elsevier.
GOLDMAN, Lee; AUSIELLO, D. A. (Ed.). Cecil Medicina. 23. ed. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier
Saunders, c2009. 2 v.
FIGUEIREDO, Sizenildo da Silva et al . Caracterização radiográfica das manifestações eso-
fagogastrointestinais da doença de Chagas. Radiol Bras, São Paulo , v. 35, n. 5, p. 293-297,
Oct. 2002.
OLIVEIRA, Gustavo Carvalho de et al . O megaesôfago tratado cirurgicamente: perfil epi-
demiológico dos pacientes operados no Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de
Campinas entre 1989 e 2005. Rev. Soc. Bras. Med. Trop., Uberaba, v. 41, n. 2, p. 183-188,
Apr. 2008
Adaptado de Pan American Health Organization, 200617 (TDR/WHO, PAHO, WHO); de
World Health Organization, 2015
Carlos Pinto Dias, J., Novaes Ramos, A., Dias Gontijo, E., et al.. (2019). II Consenso Brasileiro
em Doença de Chagas, 2015.
Torquati A, Lutfi R, Khaitan L, Sharp KW, Richards WO. Heller myotomy vs Heller myo-
tomy plus Dor fundoplication: cost-utility analysis of a randomized trial. Surg Endosc 2006;
20:389-93.
-Gama-Rodrigues.j.j; Machado .M.C.C; Rasslan. S. Clínica cirúrgica. USP – Barueri – SP. Edi-
tora Manole, 2008.
SPECHLER SJ MD. Achalasia: Pathogenesis, clinical manifestations, and diagnosis. In: Talley
NJ ed. UpToDate. Waltham, Mass.: UpToDate, 2018. Disponível em uptodate.com. Aces-
sado em Janeiro 17, 2020.
Pinott i HW , Cecconello I, Rocha JRM , et al. Resection for achalasia of the esophagus. He-
pato -gastroenterol 1991; 38: 470-3.
Laurino-Neto RM, Herbella F, Schlottmann F, Patti M. Evaluation of esophageal achalasia:
from symptoms to the Chicago classification. Arq Bras Cir Dig. 2018;31(2):e1376.
ACALASIA 21