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SUMÁRIO

1. Definição........................................................................ 3
2. Epidemiologia............................................................... 3
2. Fisiopatologia e etiologia......................................... 5
3. Quadro Clínico.............................................................. 7
4. Diagnóstico................................................................... 9
5. Diagnóstico diferencial...........................................15
6. Tratamento..................................................................15
Referências Bibliográficas..........................................20
ACALASIA 3

1. DEFINIÇÃO
A acalasia é uma doença motora do CONCEITO! Acalasia é caracterizada
pela ausência do relaxamento do es-
Esfíncter Esofagiano Inferior (EEI) fíncter esofágico inferior, podendo ser
e do corpo do esôfago e é defini- classificada em primária ou secundária.
da como a ausência de relaxamen- A acalasia primária (ou idiopática) pos-
to do EEI durante a deglutição. Ela é sui etiologia desconhecida e é a forma
mais comum no mundo. Já a acalasia se-
normalmente caracterizada por ape- cundária pode ter diferentes etiologias
ristalse (ausência de ondas peristál- como: doença de chagas (mais comum
ticas) nos dois terços distais do esô- no Brasil) neoplasia (principalmente car-
cinoma gástrico), amiloidose, sarcoidose,
fago, relaxamento incompleto do EEI
neurofibromatose, esofagite eosinofílica,
durante a deglutição e elevação da neoplasia endócrina múltipla tipo 2, sín-
pressão basal do EEI. Apesar da evo- drome de Sjögren juvenil com acalasia e
lução natural da doença normalmen- hipersecreção gástrica, pseudo-obstru-
ção intestinal crônica idiopática e doen-
te resultar em alterações da peristalse ça de Anderson-Fabry.
do corpo esofágico, essas alterações
não são necessárias para que se defi-
na um quadro de acalasia.
Com a progressão da doença sem CURIOSIDADE! Acalasia vem do gre-
go a- “não” khálasis “relaxamento”,
tratamento, ocorre uma obstrução significando então “ausência de rela-
à passagem do bolo alimentar, au- xamento”.
mentando a pressão no interior do
corpo do esôfago e levando a reten-
ção do material não digerido, o que 2. EPIDEMIOLOGIA
pode causar um remodelamento do Acalasia primária é o distúrbio motor
esôfago. Esse remodelamento é ob- esofágico primário mais comum no
servado clinicamente como uma di- mundo, com prevalência de cerca de
latação esofágica, que pode se apre- 10/100.000 habitantes. A etiologia
sentar em graus variados e quando da acalasia primária é desconhe-
severa é denominada megaesôfago. cida e ela pode ocorrer em qualquer
ACALASIA 4

idade, sendo, entretanto, mais co- pacientes com a apresentação diges-


mum entre os 25 e 60 anos e inco- tiva da doença de chagas, que tipica-
mum até a adolescência. mente resulta na esofagopatia cha-
Já no Brasil, a doença de Chagas gásica ou no megacolon chagásico.
é o principal fator etiológico para O megaesôfago é uma das formas
acalasia. O Brasil é considerado um clínicas da doença de Chagas que,
país endêmico para Chagas, especial- embora de natureza benigna, tem
mente nos estados da Bahia, Minas caráter crônico e progressivo, o que
Gerais, São Paulo e Goiás. Estima-se determina repercussões relevantes
uma população de quase seis mi- sobre o estado nutricional e psíquico.
lhões de infectados, com uma mé- A forma intestinal da doença de Cha-
dia de 12.000 mortes anuais pela gas foi responsável por 9,4% dos óbi-
doença (em 2010). Estima-se que tos totais causados pelo mal de Cha-
existem hoje entre 70.000 e 170.000 gas entre 1999 e 2007.

Figura 1: Ilustração que mostra a estratificação do risco de transmissão domiciliar da doença de


Chagas. Disponível em: Silveira, A. and Dias, J. (2019). O controle da transmissão vetorial. Rev.
Soc. Bras. Med. Trop. vol.44 supl.2 Uberaba 201
ACALASIA 5

2. FISIOPATOLOGIA
E ETIOLOGIA HORA DA REVISÃO
O esôfago é um órgão do sistema di-
A acalasia pode ser dividida em pri- gestório, responsável pela condução do
mária (idiopática), forma mais comum bolo alimentar até o estômago. Por sua
no mundo, ou secundária. A principal grande extensão, ele é dividido em 3
segmentos que são nomeados pela sua
causa secundária de acalasia no Bra- localização: cefálico, torácico e abdomi-
sil é a doença de Chagas. Nas áre- nal, sendo este último geralmente bem
as endêmicas da doença de Chagas, pequeno, em torno de 2 centímetros,
sempre devemos considerar a possi- delimitado entre o diafragma e o esfínc-
ter esofagiano inferior quando se encon-
bilidade de “esofagopatia chagási- tra com o estômago.
ca” em pacientes com acalasia. O esôfago desempenha sua atividade
Outras doenças associadas a acala- motora através de duas camadas mus-
culares, uma delas longitudinal e a outra
sia, porém não muito comuns, incluem:
circular, formadas por musculatura lisa.
neoplasia (principalmente carcinoma Esses músculos respondem à regula-
gástrico), amiloidose, sarcoidose, neu- ção do sistema autonômico, e apresenta
rofibromatose, esofagite eosinofílica, dois plexos nervosos, um deles se locali-
za na camada submucosa, denominado
neoplasia endócrina múltipla tipo 2, plexo de Meissner e o outro submuscu-
síndrome de Sjögren juvenil com aca- lar, chamado plexo mioentérico de Auer-
lasia e hipersecreção gástrica, pseudo- bach, observados na figura 2. Estímulos
-obstrução intestinal crônica idiopática parassimpáticos, principalmente media-
dos pela acetilcolina, resultam no relaxa-
e doença de Anderson-Fabry. mento do EEI e na peristalse do corpo
esofagiano.
MAPA MENTAL ETIOLOGIA

Outros:
sarcoidose,
SE LIGA! A acalasia resulta da inflama-
amiloideose,
neurofibromatose,
ção e degeneração dos neurônios pre-
esofagite sentes na parede do esôfago! Na acala-
Principal causa
eosinofílica sia primária (idiopática) não se conhece
no Brasil
ainda a causa dessa inflamação, porém
alguns estudiosos propõem a associa-
ção da inflamação à presença de an-
Secundária Chagas ticorpos secundários à resposta a uma
infecção viral (herpes zoster, sarampo).

Etiologia Idiopática A invasão dos plexos mioentéricos


de Auerbach e Meissner pelo Trypa-
nosoma Cruzi, protozoário causador
Principal tipo da doença de Chagas, causa disfun-
ACALASIA 6

ção do relaxamento do EEI, ao mes-


mo tempo em que lesa neurônios im- SE LIGA! O tônus do esfíncter esofagia-
portantes para a peristalse do corpo no inferior é mais elevado em pacientes
com acalasia, podendo ultrapassar 35
esofagiano. A doença é mais comum
mmHg.
no sexo masculino, e tem o mesmo
quadro clínico da acalasia idiopática.
Há também relatos de destruição de
A destruição dos neurônios co-
neurônios localizados no tronco en-
linérgicos do plexo mioentérico,
cefálico e degeneração de fibras no
bem como dos neurônios que pro-
vago em pacientes com acalasia idio-
duzem óxido nítrico, afeta o EEI,
pática, no entanto, a maioria dos auto-
causando aumento da sua pressão
res aponta que a principal causa das
basal e perda da capacidade de re-
alterações da motilidade esofágica é
laxamento adequado do esfíncter.
resultado da afecção dos neurônios
Na musculatura lisa da parede do
do plexo mioentérico na parede do
esôfago, a perda desses neurônios
próprio esôfago.
inibitórios causa aperistalse.

MAPA MENTAL FISIOPATOLOGIA

FISIOPATOLOGIA

Destruição
dos neurônios
colinérgicos
do plexo Aumento da
mioentérico pressão basal
do EEI

Aperistalse da Destruição Perda da


musculatura dos neurônios capacidade de
da parede produtores de de relaxamento
esofágica óxido nítrico adequado do EEI

A acalasia predispõe ao surgi- apresentam o CEC como complica-


mento de lesões malignas, sendo ção. O mecanismo patogênico é a irri-
o carcinoma escamocelular (CEC) o tação da mucosa promovida pelo ma-
tipo histológico mais comum. Em um terial estagnado no corpo do esôfago,
tempo médio de 15 a 25 anos, cerca que induz um processo inflamatório
de 10% dos pacientes com acalasia crônico que pode favorecer a forma-
ACALASIA 7

ção de áreas de metaplasia e poste- dução baixa, que ocorre tanto para
rior neoplasia. sólidos quanto para líquidos. A disfa-
Há também casos de acalasia as- gia costuma surgir insidiosamente,
sociada a insuficiência adrenal e desenvolvendo-se ao longo de me-
alacrimia (redução acentuada da ses ou anos. Os pacientes com acala-
produção de lágrimas) atribuídos à sia tipicamente relatam se alimentar
sindrome de Allgrove, uma síndro- lentamente e ingerir grandes quan-
me autossômica recessiva e rara. tidades de líquidos para auxiliar a
deglutição. Isso é explicado pois o lí-
quido forma uma coluna de água que
exerce pressão contra o EEI que não
apresenta o relaxamento adequado.
Quando a pressão exercida pela co-
luna de água supera o tônus do EEI,
o EEI finalmente se abre permitindo
a passagem do conteúdo alimentar
para o estômago.
A obstrução à passagem do bolo ali-
mentar faz com que o esôfago rete-
nha material não digerido, podendo
sobrevir graus variados de dilata-
ção em seu corpo - o paciente geral-
mente desenvolve, em associação às
queixas de disfagia, sintomas de re-
gurgitação e broncoaspiração des-
se material. A maioria dos pacientes
com acalasia em estágios avançados
desenvolve halitose, pelo acúmulo de
Figura 2: Ilustração mostrando a parede e esôfago, com
os plexos de Meissner e Auerbach que são afetados alimentos no esôfago. Com o tempo,
na acalasia, o que causa o distúrbio motor do esôfago.
Disponível em: http://www.medicinanet.com.br/m/
a perda ponderal passa a chamar
conteudos/acp-%20%20%20%20%20%20%20me- atenção e muitas vezes é o que leva
dicine/5041/disturbios_esofagicos_%E2%80
o paciente a procurar cuidados médi-
cos.
3. QUADRO CLÍNICO A regurgitação pode causar irritação
da faringe, o que dispara o reflexo
A progressão da doença ocorre de
da tosse, dessa maneira os pacien-
maneira gradual. O principal sinto-
tes com acalasia também podem se
ma da acalasia é a disfagia de con-
apresentar com tosse seca, crônica,
ACALASIA 8

não associada a febre. Esses pa- A dor não é um sintoma típico, mas
cientes também podem apresentar pode ocorrer em estágios iniciais da
rouquidão em virtude da irritação doença quando a contração esofa-
que pode causar edema nas cordas giana tenta vencer a força do EEI. O
vocais, resultando assim na disfonia. paciente pode relatar uma sensação
de plenitude ou até mesmo queimor
SE LIGA! Paciente que se apresenta
retroesternal e o quadro pode, muitas
com disfagia de progressão insidiosa e vezes, ser confundido com a doença
perda ponderal deve levantar o alerta do refluxo gastroesofágico (DRGE),
para acalasia, especialmente se oriundo o que frequentemente atrasa o diag-
de região endêmica da doença de Cha-
gas! É importante fazer o diagnóstico di- nóstico. Com a progressão da doença
ferencial com câncer de esôfago, princi- e a degeneração crescente da moti-
palmente se os sintomas apresentarem lidade esofágica a dor retroesternal
evolução rápida.
tende a desaparecer.

MAPA MENTAL QUADRO CLÍNICO

Disfagia de
Regurgitação Rouquidão Dor retroesternal
condução

Beber líquidos
Cólica esofagiana
QUADRO para ajudar a
CLÍNICO comida descer

Perda ponderal Broncospiração Tosse Halitose


ACALASIA 9

4. DIAGNÓSTICO fago-estômago-duodeno (REED).


Este exame demonstra um esôfago
Diversos exames complementares
dilatado, nível de ar- liquido, um
fazem parte do arsenal que permite
retardo do esvaziamento esofágico
a elucidação diagnóstica para pacien-
e uma deformidade regular e afu-
tes com suspeita de acalasia.
nilada no EEI, tipicamente descrita
Radiografia torácica: pode revelar como esôfago em “bico de pássa-
um mediastino mais amplo, nível ro” ou “chama de vela”. A confirma-
de ar-liquÍdo e ausência de bolhas ção é obtida por manometria esofá-
de ar no estômago, no entanto não gica, que demonstra o característico
é um exame sensível ou específico relaxamento incompleto do EEI com
para a detecção do megaesôfago. estudo de deglutição mostrando
aperistaltismo completo no corpo
SE LIGA! Você pode ter percebido que esofágico. A pressão do EEI pode,
na aula do professor Frederico Canta- ou não, estar elevada.
rino sobre acalasia, a radiografia de tó-
rax não é citada como um dos exames A esofagografia também permi-
que auxiliam no diagnóstico da acalasia. te classificar a doença em diversos
Uma vez que esse é um exame que não estágios, sendo a principal delas a
tem boa sensibilidade para o diagnósti-
classificação de Rezende e Masca-
co de acalasia e não permite uma boa
avaliação do quadro, ele não é comu- renhas, criada para estadiamento da
mente usado com o intuito de investigar esofagopatia chagásica. Essas clas-
pacientes com suspeita de megaesô- sificações podem auxiliar a guiar a te-
fago, no entanto, pacientes com mega-
esôfago podem ter uma radiografia to-
rapêutica:
rácica solicitada por outro motivo e em Forma anectásica: esôfago de diâme-
alguns casos as alterações supracitadas tro preservado (até 4 cm), com peque-
podem ser visualizadas. Dessa maneira, GRAU I no retardo do esvaziamento esofágico
em um paciente com megaesôfago pre- e retenção de contraste, um minuto
viamente conhecido, um alargamento do após a deglutição.
mediastino não deve suscitar como pri-
Esôfago discinético: aumento discreto
meira suspeita outra doença, como um
do calibre (entre 4-7 cm) e retenção
aneurisma de aorta, mas sim um achado GRAU II
evidente do contraste (megaesôfago
da própria esofagopatia.
leve)
Esôfago com dilatação significativa
(megaesôfago clássico, entre 7-10
Estudo de deglutição de bário: pode GRAU III
cm), motricidade reduzida e grande
também ser denominado esofago- retenção do contraste baritado.
grafia, esofagograma contrastado Dolicomegaesôfago: maior que 10 cm
GRAU IV
e radiografia contrastada de esô- ou tortuoso.
ACALASIA 10

Classificação de Rezende sência de relaxamento do EEI durante


a deglutição, aperistalse ou hipocon-
tratilidade dos dois terços distais do
esôfago, hipertonia do EEI, pressão
intra-esofagiana maior que a pressão
intra-gástrica e formas de ondas de
baixa amplitude indicando ausência
de tônus muscular. A presença de re-
fluxo gastroesofágico fala contra aca-
lasia, uma vez que o EEI apresenta
Figura 3: Ilustração representando os 4 grupos de elevação do seu tônus, ele não per-
Rezende na esofagografia baritada. Disponível em:
Figueirêdo, S., et al. (2019). Caracterização radiográfica
mitiria refluxo do conteúdo gástrico.
das manifestações esofagogastrointestinais da doença Pressões no EEI > 35mmHg podem
de Chagas. Radiol. Bras. Vol. 35, No. 5.
ser encontradas em pacientes com
acalasia.
Na imagem abaixo, pode-se observar
algumas alterações típicas encontra-
das na manometria esofágica de um
paciente com acalasia.

Figura 4: Sinal do “bico de pássaro”, que podem ser ob-


servados nas setas. É um sinal observado na esofago-
gragfia que representa um afilamento cônico e simétrico
do contraste. Disponível em: http://www.rb.org.br/deta-
lhe_artigo.asp?id=2788&idioma=Portugues.

Esofagomanometria ou manome-
Figura 5: Manometria clássica na acalasia: pode ser
tria esofágica: é o principal exame observado - 1. aperistalse através de contrações simul-
diagnóstico, uma vez que permite a tâneas com perda completa de sua propagação; 2.
ausência de relaxamento (aumento da pressão do EEI).
avaliação do tônus do EEI e avalia- Disponível em: Laurino-Neto RM, Herbella F, Schlott-
ção do seu relaxamento durante a mann F, Patti M. Evaluation of esophageal achalasia:
from symptoms to the Chicago classification. Arq Bras
deglutição. As caractéristicas na ma- Cir Dig. 2018;31(2):e1376.
nometria que indicam o diagnóstico .
de acalasia são, principalmente a au-
ACALASIA 11

• Incipiente: Esôfago sem dilatação,


com ligeira estase de contraste, al-
terações manométricas caracteri-
zadas por aperistalse e ondas de
deglutição de boa amplitude.
• Não-avançado: Esôfago com di-
latação de até 7 cm: orientado ao
longo de seu eixo longitudinal: com
estase considerável; aperistalse;
ondas de baixa amplitude e longa
duração após a deglutição.
Figura 6: Motilidade do esfíncter esofagiano inferior
em paciente com acalasia. Disponível em: SABISTON. • Avançado: Dilatação acima de 7
Tratado de cirurgia: A base biológica da prática cirúrgica
moderna. 19.ed. Saunders. Elsevier.
cm ou dolicomegaesôfago; estudo
manométrico mostrando esôfa-
go atônico ou ondas de contração
SE LIGA! Vamos fixar! O que podemos muito fracas.
encontrar na manometria do paciente
com acalasia?
1. EEI hipertenso, com pressão >35 Endoscopia digestiva alta (EDA):
mmHg, com falha de relaxamento
durante a deglutição
O Guidelines do American College of
Gastroenterology (ACG) sugerem o
2. Pressão esofágica acima do basal
uso da EDA para coleta de material
3. Contrações simultâneas sem evi-
dência de peristalse progressiva
para biópsia e afastar a possibilidade
de uma neoplasia na região inferior
4. Formas de ondas de baixa amplitu-
de demonstrando ausência de tônus do esôfago ou na cárdia, que pode-
muscular. riam simular um quadro de acalasia.
Em caso de quadro clínico que sugira
possibilidade de câncer (perda de
Podemos ainda classificar a acalasia peso acentuada ou em período me-
conforme a classificação de Pinotti: nor que 6 meses), ou na presença
Tranformar em TABELA o texto abai- alterações endoscópicas, o ACG indi-
xo ABAIXO: ca a realização de coleta de material
para realização de biópsia.
ACALASIA 12

de, a esofagografia baritada é mais


SAIBA MAIS
Há também a Classificação de Chicago que utiliza a esofagomanometria para classificar os
distúrbios de motilidade do esôfago. Cheque esse artigo se quiser se aprofundar no tema:
Rohof, W. and Bredenoord, A. (2017). Chicago Classification of Esophageal Motility Disor-
ders: Lessons Learned. Current Gastroenterology Reports, 19(8).

Classificação de Chicago

Tipo Esfincter esofágico inferior Corpo esofágico


I Relaxamento incompleto Aperistalse e ausência de pressurização esofágica
II Relaxamento incompleto Aperistalse e pressurização panesofágica em no mínimo
20% das deglutições.
III Relaxamento incompleto Contrações prematuras (espásticas) com integral de contra-
tilidade distal (DCI) >450 mmHg·s·cm em ≥20% das deglu-
tições.

CHICAGO I CHICAGO II CHICAGO III

Figura 7: Manometria esofágica de alta resolução


conforme classificação de Chicago. Disponível em: disponível e muitas vezes pode ser
Laurino-Neto RM, Herbella F, Schlottmann F, Patti o suficiente para orientar a condu-
M. Evaluation of esophageal achalasia: from symp-
toms to the Chicago classification. Arq Bras Cir Dig. ta, particularmente em casos mais
2018;31(2):e1376. avançados.
MÉTODOS DIAGNÓSTICOS DE ACALASIA

Apesar da esofagomanometria ser Radiografia de tórax

considerada o melhor exame para Esofagografia baritada

diagnóstico da acalasia, por compro- Manometria esofágica

var a ausência do relaxamento do Endoscopia digestiva alta

EEI e outras alterações de motilida-


ACALASIA 13

MAPA MENTAL DIAGNÓSTICO

Coleta de biópsia para afastar Classificação de Aperistalse ou hipocontratilidade


Padrão ouro
neoplasia em esôfago inferior ou cárdia Chicago nos 2/3 inferiores do esôfago

Endoscopia Pressão no EEI >


Entre 4 e 7 cm < 4cm Esôfago dilatado Diagnóstico Esofagomanometria Achados
digestiva alta 35mmHg

Deformidade Ausência de
Grau II – Esôfago Grau I – Forma Esofagografia Pouco sensível/
Entre 7 e 10 cm regular e Rx de tórax relaxamento
discinético anectásica baritada específico
afuniladoa do EEI do EEI

Sinal do “bico de
Classificação Classificação Nível de ar
Grau III – Esôfago francamente dilatado pássaro” ou chama Achados
de Rezende de Pinotti líquido
de vela

Avançado: Ausência de
Não avançado: Mediastino
Grau IV – Dolicomegaesôfago dilatação > 7cm, bolhas de ar no
Incipiente: Esôfago com amplo
com esôfago estômago
esôfago sem dilatação até
atônico ou
dilatação, com 7cm, aperistalse
com ondas de
> 10cm ou aperistalse e estase
contração muito
tortuoso considerável.
fracas
ACALASIA 14

SUSPEITA DE
ACALASIA

Manometria Esofagografia
Investigação
esofágica baritada

Avaliar resultado Esofagografia Esofagografia


da manometria normal alterada

Manometria Manometria
também normal sugere acalasia

Avaliar outras
suspeitas Estadiar através
diagnósticas da classificação
de Rezende

Grau IV – Esôfago perde sua


Grau I – Retenção de contraste com
conformação longitudinal-
diam. esofágico <4cm
dolicomegaesôfago

Grau III – Retenção de contraste


Grau II – Retenção de contraste com
com diam. esofágico entre 7 e 10 cm
diam. esofágico entre 4 e 7 cm
e aperistalse

Tratamento

Tratamento Tratamento
guiado pelo guiado pela
estado do paciente classificação de
(ASA, nutricional) Rezende
ACALASIA 15

5. DIAGNÓSTICO O tratamento conservador pode ser


DIFERENCIAL feito através de nitratos, bloqueado-
res de canal de cálcio, teofilina, ago-
Muitas vezes o quadro de acalasia
nistas beta-adrenérgicos e antico-
pode ser confundido com a doença
linérgicos. O dinitrato de isossorbida
do refluxo gastroesofágico (DRGE).
(via sublingual, antes das refeições) e
Outros possíveis diagnósticos dife-
a nifedipina (via sublingual) provocam
renciais incluem desordens da motili-
alívio em cerca de 50 a 80% dos pa-
dade esofágica e pseudoacalasia se-
cientes, porém causam importantes
cundária a neoplasia.
efeitos colaterais, como cefaleia e hi-
• DRGE: os pacientes com esse dis- potensão. O tratamento farmacológi-
túrbio apresentam regurgitação co não traz muitos benefícios à longo
alimentar com gosto azedo, devido prazo, sendo assim, mais utilizado em
à presença de conteúdo de suco pacientes inoperáveis ou quando não
gástrico. Já na acalasia, a regurgi- há resposta à toxina botulínica.
tação advém do esôfago de forma Outra possibilidade terapêutica é a
mais branda, contendo alimento e injeção de toxina botulínica na mus-
saliva. A manometria nos pacien- culatura do EEI, no entanto o efeito de
tes com DRGE apresenta achados relaxamento é apenas transitório, du-
inespecíficos, como EES hipotenso, rando de 3 a 6 meses e demandan-
aumento do relaxamento do EES e do a repetição periódica do procedi-
motilidade esofagiana ineficaz. mento. É indicada para pacientes não
• Pseudoacalasia: neoplasias po- candidatos ao tratamento cirúrgico ou
dem causar acalasia através da à dilatação pneumática.
invasão dos plexos esofágicos ou As formas intervencionistas de tra-
através da alteração da função tamento para pacientes sintomáticos
esofágica por fatores humorais. incluem a dilatação pneumática e
Pode ser diferenciado da acalasia a cirurgia de miotomia do EEI. Os
através de exames como endosco- resultados de tais intervenções são
pia digestiva alta e ecoendoscopia. mais benéficos em pacientes com
acalasia tipo 2.
6. TRATAMENTO Dilatação endoscópica por Balão
ou dilatação pneumática: o procedi-
Não há tratamento que normalize mento consiste em dilatação força-
a peristalse esofágica, portanto, o da da cárdia por sondas dilatadoras
tratamento visa tratar o sintoma mais endoscópicas usando um balão mon-
prevalente e que mais afeta a quali- tado em haste flexível que é insuflado
dade de vida do paciente: a disfagia.
ACALASIA 16

até pelo menos 30mm, provocando a


rotura das fibras musculares do EEI. SE LIGA! Mesmo em pacientes com
Esse método obtém resultados sa- megaesôfago grau II e III, que apresen-
tam maiores benefícios com a realização
tisfatórios entre 65% e 80% dos ca- do tratamento cirúrgico explicado abai-
sos de doença em estágios iniciais ou xo, o tratamento endoscópico pode ser-
moderados. vir para aliviar os sintomas e possibilitar
a reabilitação nutricional do paciente,
de forma que ele apresente um melhor
estado nutricional e consequentemente,
menor risco cirúrgico.

Tratamento cirúrgico
Casos não avançados – Cirurgia de
Heller-Pinotti: Esofagocardiomioto-
mia à Heller, que consiste na secção
das fibras longitudinais e circulares da
camada muscular própria da transi-
ção esôfago-gástrica, principalmente
na parede anterior. A Esofagocar-
diomiotomia pode ou não ser as-
Figura 8: Ilustração representando a dilatação endos- sociada à fundoplicatura de Pinotti,
cópica por balão. Disponível em: http://www.progastro- uma técnica na qual se usa o fundo
joinville.com.br/enciclopedia/dilatacao_de_esofago
gástrico para fazer um válvula an-
ti-refluxo, através de uma sutura em
As dilatações são realizadas de forma três planos.
seriada, sendo repetidas periodica- A cirurgia obtém até 90% de suces-
mente e apresentam baixa morbimor- so nos sintomas, e apresenta como
talidade, apresentando também boa um dos seus principais efeitos cola-
tolerância por parte do paciente. Ape- terais o desenvolvimento da DRGE,
sar disso, o procedimento de dilatação que chega a acometer 47% dos ca-
apresenta como desvantagens em sos da esofagocardiomiotomia à
relação ao tratamento cirúrgico: efi- Heller sem a fundoplicatura. Com
cácia semelhante ou inferior ao trata- a associação da Fundoplicatura de
mento cirúrgico (ensaios clínicos ran- Pinotti, no entanto o risco de desen-
domizados apresentaram resultados volvimento de refluxo cai para cerca
divergentes), maior risco de DRGE a de 10%.
longo prazo, maior risco de perfuração
No grupo I de Rezende, o tratamento
esofágica e de reabordagem.
cirúrgico parece ter eficácia seme-
ACALASIA 17

lhante ao tratamento endoscópico,


no entanto, o tratamento cirúrgico
é indicado principalmente para pa-
cientes com megaesôfago grupo
II ou grupo III de Rezende. A técni-
ca original consistia em toracotomia
à esquerda, porém hoje a cirurgia é
normalmente realizada por via lapa-
roscópica, reduzindo o trauma cirúr-
gico, tempo de internamento e dor no
pós-operatório.
Casos avançados da doença (grupo
IV de Rezende) ou associados a le-
sões pré-malignas: podem ser tra-
tados com esofagectomia subto-
Figura 9: Ilustração que demonstra o resultado da
tal, trans-hiatal, com transposição cardiomiotomia à Heller com realização de fundoplica-
de tubo gástrico pelo mediastino tura. Disponível em: https://emedicine.medscape.com/
article/1965924-technique
posterior e anastomose esôfago-
-gástrica cervical. Trata-se de uma
cirurgia com alta morbimortali- Há novas perspectivas de tratamen-
dade, mesmo após do desenvolvi- to com o advento da miotomia da
mento de técnicas minimamente in- cárdia por via endoscópica (POEM
vasivas, apresentando mortalidade – Peroral Endoscopy Myotomy).
de cerca de 10%. Os resultados Apesar de um tratamento menos in-
da esofagectomia não são tão bons vasivo, ele também está associado a
quanto os da esofagocardiomioto- problemas como maior risco de per-
mia à Heller-Pinotti. Dessa forma, furação do esôfago e DRGE pela im-
pelos resultados insatisfatórios as- possibilidade de realizar a fundoplica-
sociados à esofagectomia, e a alta tura da cárdia para prevenir o refluxo.
morbimortalidade dessa cirurgia, Estudos ainda são necessários para
ela é raramente indicada para pa- definirem quais os pacientes que se
cientes que não tenham câncer de beneficiam mais dessa nova estraté-
esôfago associado ao quadro de gia de tratamento.
megaesôfago.
ACALASIA 18

MAPA MENTAL TRATAMENTO

TRATAMENTO

Dilatação Miotomia da cárdia


Nitratos, Clínico endoscópica Cirúrgico por via endoscópica
bloqueadores de por balão (POEM)
canal de cálcio,
teofilina, agonistas
beta-adrenérgicos Indicado para
Esofagomiotomia
e anticolinérgicos Toxina botulínica pacientes com Esofagectomia
à Heller
risco cirúrgico
médio
Indicado
Indicado pacientes Indicado para
para pacientes
sem teto para pacientes não Indicado para
classificação
tratamento candidatos ao pacientes
de Rezende
invasivo ou tratamento classificação de
grau IV ou com
quando não há cirúrgico ou Rezende grau II
associação a
resposta à toxina à dilatação e III
lesões pré-
botulínica pneumática
malignas
ACALASIA 19

MAPA MENTAL ACALASIA


Perda da capacidade
de relaxamento
adequado do EEI
Aperistalse da Dificuldade de relaxar Perda ponderal
musculatura da o EEI durante a
Aumento da pressão
parede esofágica deglutição
basal do EEI Tosse
Graus variados de
Destruição dos Destruição dos hipertonia do EEI Broncospiração
neurônios colinérgicos neurônios produtores Fisiopatologia Definição
do plexo mioentérico de de óxido nítrico Aperistalse
Rouquidão

Outros: sarcoidose, amiloideose, Dor retroesternal


neurofibromatose, esofagite eosinofílica

Principal causa Cólica esofagiana


Chagas Secundária
no Brasil
Etiologia
Principal tipo Idiopática Beber líquidos para
ACALASIA ajudar a comida descer

Halitose

Disfagia de
Pseudoacalasia
condução
Diagnostico
Quadro clínico
DRGE diferencial Regurgitação

Esofagografia Ausência de
Dilatação Achados
Indicado para pacientes com risco baritada relaxamento do EEI
cirúrgico médio
endoscópica Tratamento Diagnóstico
por balão Classificação de Pressão no EEI >
Chicago 35mmHg
Miotomia da cárdia por via endoscópica
Cirúrgico Aperistalse ou
(POEM) Padrão ouro
Coleta de biópsia hipocontratilidade
para afastar neoplasia nos 2/3 inferiores
Toxina botulínica Endoscopia Pouco sensível/
em esôfago inferior Rx de tórax do esôfago
ou cárdia digestiva alta específico
Esofagomiotomia à Heller
Achados Mediastino amplo

Nitratos, bloqueadores de canal de cálcio, Clínico


teofilina, agonistas beta-adrenérgicos e Grau IV – Nível de ar líquido
> 10cm ou tortuoso Esofagomanometria
anticolinérgicos Dolicomegaesôfago

Grau III – Esôfago


Entre 7 e 10 cm Ausência de bolhas
Esofagectomia francamente dilatado Sinal do “bico de
Deformidade regular de ar no estômago
pássaro” ou chama
Grau II – Esôfago e afuniladoa do EEI
Entre 4 e 7 cm Esôfago dilatado de vela
discinético

Grau I – Forma Classificação de Classificação de


< 4cm Avançado: dilatação > 7cm, com esôfago
anectásica Rezende Pinotti
atônico ou com ondas de contração
muito fracas

Não avançado: Esôfago com dilatação até 7cm,


aperistalse e estase considerável.

Incipiente: esôfago sem dilatação,


com aperistalse
ACALASIA 20

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
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