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Joana Santos
Estas ciências são, então, autónomas entre si (cada uma com objeto imediato e um
método específico) mas complementares e interdependentes (objeto último e comum o
crime e indispensáveis para uma abordagem eficaz e justa do delinquente).
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Sistema de justiça misto e, depois, público: crime como ofensa a toda a comunidade;
pena de morte e consagração do processo inquisitório
o Absolutismo: rei em senhor absoluto, detentor de um poder divino, responsável
somente perante Deus e colocado acima das próprias leis
o Centralização do poder no rei/arbitrariedade: passa a legislar para todo o território
nacional, reduzindo o papel do direito consuetudinário e municipal → lealdade em
crise: procuram segurança no rei (relação de subordinação/sujeição, não fidelidade)
o Crime de lesa majestade: crime + grave → proteção poder político; substitui traição
- Humana: crimes contra a lei, corte ou reino
- Divina: atentado à fé do reino
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a) Iluminismo Criminal
Nova Filosofia Política:
▪ Individualismo: prioridade do indivíduo face ao Estado
▪ Jusnaturalismo: direitos de todos os indivíduos – Estado só tem de os reconhecer
▪ Racionalismo: razão humana como fonte e critério da verdade e da justiça
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c) Escola Correcionalista
Röder veio a defender, contra a Escola Clássica, uma conceção mais pragmática e
realista do homem e do direito penal → Portugal: Levy Maria Jordão
▪ Corresponsabilidade social: ao lado da responsabilidade social, vincula o Estado a
criar as condições para o delinquente poder corrigir as suas tendências para o crime
e, assim, exercer a sua liberdade no respeito do Direito
▪ Prevenção especial: a pena é o meio para a correção do delinquente
▪ Enquanto não forem esgotadas todas as possibilidades de recuperação social,
qualquer delinquente deve ser considerado corrigível
d) Escola Positiva
A Escola Positiva recusou a Escola Clássica, apresentando uma política criminal oposta.
▪ Positivismo jurídico-criminal: substituição da razão pela experimentação científica
▪ Comportamento criminoso passou a ser tratado como um fenómeno natural,
explicável pelo único critério válido de conhecimento, a investigação experimental
▪ Comte, Darwin, Marx, Freud
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• Pena não pode ser superior à culpa, mesmo que a prevenção especial o exija (mesmo
que a perigosidade do individuo exija uma pena maior, de modo a garantir uma
recuperação/dissuasão mais adequada, não pode ser maior do que a culpa) → Art. 40/2
• Pena nunca pode ser inferior à pena necessária para a manutenção da confiança da
comunidade, mesmo que a prevenção especial não o exija (mesmo que não seja
necessária uma pena tão grande para recuperar/dissuadir o infrator). Ex:
→ Penas mt graves: > 5 anos - tribunal tem de condenar (não é permitida execução da
pena -art. 50/1- nem substituição-art. 43 ss. → exceção da atenuação (72), passa a <5
→ Penas médias (<3 – com revisão <5) e penas curtas (<6 meses → <1 ano): não têm
de ser aplicadas, podendo ser substituídas por multas + arts. 43, 44, 45 e 46 (apesar de
substituídas por penas mais leves, continua a haver punição devido à prevenção geral)
• Se não pagar multa → prisão subsidiária (art.49/1); reincidência agrava a pena (art.75/1)
• Não é contraditado pela dispensa de pena (art. 74/1): Prisão <6 anos / multa < 120 dias;
culpa/ilicitude do faco diminutas e falta de necessidade de ambas as prevenções, não
devendo ser aplicada qualquer pena
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Porém, uma vez que estes autores também defendem uma conceção ético-jurídica da
pena, no sentido de que não há pena sem culpa e de que a medida ou gravidade desta
constitui o limite máximo da pena, foram e são confrontados com a seguinte objeção:
se a pena dos imputáveis perigosos tem de ser menor, por força da sua menor
censurabilidade ou culpa, em virtude das suas tendências para o crime, então, vai ser
precisamente em relação à categoria dos delinquentes mais perigosos para a sociedade
e para os seus bens jurídicos-penais que a sociedade menos se pode proteger?
Os defensores da teoria monista procuram contornar esta contradição, através da
criação e construção da culpa referida à personalidade, ao lado e a acrescer à tradicional
figura da culpa referida e aferida no momento do facto:
➔ Primeiros autores: culpa da vontade referida à personalidade → o imputável
perigoso é culpado pelas suas tendências para o crime, uma vez que estas são o
resultado de um reiterado exercício e opção do livre-arbítrio pelo ilícito criminal -
resultado das múltiplas decisões da vontade livre do delinquente, tendo culpa pela
não formação de uma personalidade respeitadora dos valores fundamentais
Crítica: culpa da não formação da personalidade a somar com a culpa do facto ilícito
iria aplicar ao imputável perigoso uma pena maior que a um imputável não perigoso
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Direito Penitenciário:
A política criminal que orienta e estrutura o nosso direito penal é uma política criminal
humanista:
➔ Atribui ao direito penal a função positiva de proteção de direitos fundamentais e das
condições sociais indispensáveis à realização destes valores
➔ Pena é um mal que só é legítimo para evitar comportamentos humanos lesivos dos
bens jurídicos – pena como ultima ratio
➔ Pena mais grave de privação da liberdade só deve ser aplicada quando as penas não
detentivas forem insuficientes ou inadequadas à função preventiva geral e especial
➔ Objetivo primordial da pena é a recuperação social do delinquente
Até meados do século XIX: infrator visto como inimigo da sociedade e pena com
finalidade de retribuição e intimidação → recluso como objeto de execução punitiva,
não lhe sendo reconhecida a titularidade dos direitos fundamentais
A partir da segunda metade do século XIX: Escola Correcionalista afirma o princípio da
corrigibilidade → pena de prisão com o sentido de recuperação social, preparando o
recluso para a vida em sociedade: o preso não era apenas um objeto de obrigações mas
também titular de direitos humanos fundamentais
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Assim, o novo DOS passou a incluir, como contraordenações, novas infrações dos novos
“interesses sociais” (fiscais, ecológicos) e as contravenções (ex: as infrações rodoviárias)
Autonomia do direito de ordenação social face ao direito penal
O ilícito de mera ordenação social define-se, por via do DL nº 433/82 como “todo o facto
ilícito e censurável que preencha um tipo legal no qual se comine uma coima” → define
o ilícito por via da sanção a ele atribuída: a contraordenação distingue-se do crime
porque àquela corresponde uma coima enquanto a este se aplica uma pena.
a) Autonomia material
▪ Procura-se perceber se a distinção é qualitativa (material) ou quantitativa (formal)
▪ Entendimento maioritário: qualitativa, mas com divergências doutrinais:
▪ Eduardo Correia: a contraordenação é um ilícito de natureza substancialmente
diferente do crime – denominou o ramo de “direito de mera ordenação social”
▪ Figueiredo Dias: não há nenhum ilícito que seja ético-socialmente indiferente mas,
consideradas as condutas em si mesmas, antes das proibições legais, há umas que
são “axiológico-socialmente relevantes” (ilícito penal) e “axiológico-socialmente
neutras/irrelevantes” (ilícito de mera ordenação social)
▪ Taipa de Carvalho: recusa as condutas neutras – considera que as condutas são
proibidas por serem, em si mesmas, socialmente desvaliosas e censuráveis → afasta
o adjetivo “mera” → contraordenações defendem os valores importantes para a
sociedade, mas que não são considerados fundamentais à vida comunitária
→ este critério é só tendencialmente verdadeiro: há condutas que lesam valores
fundamentais (dignidade penal) mas não são qualificadas como crime por o
legislador entender como suficiente/adequada a punição contraordenacional
b) Sanções contraordenacionais
1. Finalidades
▪ Figueiredo Dias: considerando as condutas neutras, defendem que as
contraordenações têm apenas finalidade preventiva negativa (geral – dissuadir
os destinatários das normas; especial – dissuadir o infrator da prática) → ao
serem neutras, não têm finalidade positiva (pacificação social e interiorização
das normais), visto que não são valoradas negativamente pela sociedade
▪ Taipa de Carvalho: a finalidade principal é, também, negativa (geral e especial);
mas, também têm uma finalidade de prevenção positiva (consciencialização
social e do infrator), visto que os bens jurídicos têm relevância social
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2. Categorias de sanções
• Coimas: sanção principal – DL 422/82 art 17;
- ≠ multa: a coima tem natureza punitiva, mas não penal; gravidade da culpa tem
um papel maior na pena-multa; o não pagamento da multa pode levar a prisão,
enquanto que a coima nunca pode ser substituída por prisão (apenas pode ser
objeto de execução, no caso do não pagamento – DL 433/82 art. 89) + art. 47
(tem em conta a situação económica do infrator)
• Sanções acessórias: Perda de objetos até encerramento de estabelecimento,
passando por interdição do exercício de profissão/privação de direito a subsídios
d) Competência Legislativa
• Art. 165/1 d) CRP: regime geral – definição material e processual das
contraordenações é de competência exclusiva da Assembleia da República,
embora esta possa autorizar o Governo a legislar esta matéria (reserva relativa)
• Competência legislativa concorrente: cabe tanto ao Governo como à AR a
qualificação legal de determinadas condutas como ilícitos de ordenação social
→ Não permite ao Governo converter um crime em contraordenação
(descriminalização – competência da AR; Governo tem de ter lei de autorização)
Direito penal comum e direito penal especial
➔ Direito penal comum: protege direitos liberdades e garantias
➔ Direito penal especial: visa tutelar valores económico-sociais que são necessários
para o funcionamento da comunidade e para a verdadeira realização individual
➔ Não existe diferença qualitativa: ambos tutelam valores considerados fundamentais
➔ Existem 3 grandes diferenças:
→ Grau de ressonância: é mais profundo no direito penal comum (está mais
entranhado na consciência individual; mas Taipa de Carvalho considera que isto nem
sempre é verdade, como no exemplo de um furto simples contra um crime de abuso
de confiança fiscal acima de 25.000 euros (infração é mais grave que o furto)
→ Grau de durabilidade: direito penal clássico resiste a alterações, mantendo-se
merecedor e carecido de tutela penal
→ Localização sistemática: toda a norma que esteja postulado no código penal será,
regra geral, de direito penal comum, até por ser imutável ou perene. Já as normas
que se encontram em legislação avulsa, serão de direito penal secundário
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▪ Leis Penais em branco: norma que contém a sanção penal e que, quanto ao facto
típico, remete, total ou parcialmente, para a descrição feita por uma outra norma
extrapenal (determina diretamente a pena e indiretamente a conduta ilícita) - isto
acontece devido à complexidade técnica de certas atividades e à mutabilidade desta
regulamentação, fruto das inovações tecnológicas/conjeturas económico-sociais
→ a questão da (in)constitucionalidade coloca-se em relação à norma extrapenal,
uma vez que esta tem, necessariamente, de constar de lei ou decreto-lei autorizado
pela AR: desde que a norma respeite as exigências de determinabilidade/tipicidade
(defina com pormenor o comportamento), esta parece poder ser aceite
→ devem ser evitadas, a não ser que seja técnico-legislativamente indispensável: a
regra é que a norma penal seja completa (hipótese legal e estatuição)
▪ Atos normativos da UE não são fonte de DP: não enquanto o Parlamento Europeu
não tiver competência legislativa (único órgão cujos membros são diretamente
eleitos pelos povos da União – princípio da legalidade afetado) → acontece que a UE
obriga os Estados-membros a criar normas penais para tutelar bens
jurídicos/interesses da CE, mediante diretivas vinculativas: do ponto de vista formal,
não afeta o pr. da legalidade, pois que continua a lei formal estatal a ser a fonte
direta da criminalização ou agravação da responsabilidade penal; mas, acabam por
excluir a ilicitude, considerando certas condutas justificadas, mesmo que
formalmente previstas por uma lei penal estatal
▪ Convenções/Pactos internacionais de direitos humanos: não são fonte de DP pois,
apesar de ratificadas e publicadas no DR e prevejam ilícitos, não estabelecem penas
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c) Exigência lei estrita (proibição aplicação analógica)– nullum crimen sine lege stricta
▪ Iluminismo Criminal: procuraram configurar o princípio da legalidade penal de
forma que este constituísse um obstáculo intransponível pelas eventuais
arbitrariedades, não só do poder legislativo, como também do poder judicial →
meio de impedir qualquer arbitrariedade/discricionariedade judicial, em matéria
penal, era a vinculação do juiz a uma estrita interpretação literal, ou seja, reduzir
o aplicador da lei penal a um mero instrumento mecânico de aplicação da lei
▪ Pluralidade de significados: o texto da lei penal, como qualquer lei, é constituído
por um conjunto de palavras que não têm um único significado, dependendo do
contexto → depende da finalidade ou teologia da lei
▪ Determinação da finalidade e do âmbito da lei: não é abstrato ou intuitivo, caso
contrário trariam incerteza e insegurança jurídica → Art 9 CC:
→ o intérprete aplicador deve descobrir qual o “pensamento legislativo” – casos
concretos abrangidos pela norma jurídica
→ circunstâncias históricas em que a lei foi elaborada e circunstâncias atuais em
que a lei é chamada a ser aplicada, bem como a ratio/teologia da norma
→ O texto legal deve ser o ponto de partida e de chegada – impede uma
interpretação que não tenha na letra da lei um mínimo de correspondência legal
→ em situações que não são abrangidas por nenhuma interpretação que o texto
legal comporta, estamos perante um lacuna → pode existir norma jurídica que
se aplique a um caso análogo (analogia legis) ou pode ser apenas preenchida por
princípios jurídicos fundamentais que regulam esse setor (analogia iuris)
▪ Esta aplicação analógica é proibida no direito penal, apenas sendo permitida
uma interpretação extensiva ou a analogia in bonum (boa para o infrator)
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Mas, há casos em que a conduta se protrai por um tempo mais ou menos longo, como
é o caso dos crimes duradouros/permanentes, crimes habituais, crimes de omissão e,
ainda, crimes continuados, de comparticipação e de actio libera in causa.
Nestes casos, entre o início da conduta e o seu termo, pode surgir uma lei
criminalizadora ou uma nova lei que venha simplesmente alterar a pena → que lei deve
ser aplicada?
▪ Lei criminalizadora: só devem ser consideradas as ações que foram praticadas
depois do seu início de vigência – as anteriores são irrelevantes (caso contrário,
constituiria uma violação da proibição da retroatividade de lei criminalizadora)
▪ Lei nova mais favorável: que porque descriminaliza, quer porque diminui a
responsabilidade penal → deve haver aplicação retroativa da lei mais favorável
▪ Quando a lei já existe, mas a pena agrava: deve aplicar-se a LA, exceto quando
a totalidade de pressupostos típicos da LN se tenham verificado na sua vigência
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Crime → Contraordenação
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• Até 17/09/2007 o art. 2/4 CP proibia a retroatividade da lei penal mais favorável
se o agente já tivesse sido julgado por sentença transitada em julgado
• Lei nº 59/2007 substituiu a última parte por “se tiver havido condenação, ainda
que transitada em julgado, cessam a execução e os seus efeitos penais logo que
a parte da pena que se encontrar cumprida atinja o limite máximo da pena
prevista na lei posterior” - só evitava que alguém tivesse de permanecer na
prisão, apesar de já ter ultrapassado o tempo máximo de prisão da LN
• Lei nº 48/2007 + Art. 371 A CPP: o condenado pode requerer a reabertura da
audiência para que lhe seja aplicado o novo regime
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g) Medidas de Segurança
As medidas de segurança são também sujeitas ao Pr. da legalidade e jurisdicionalidade
➔ Proibição da retroatividade desfavorável: (art. 29/1 e 4 CRP + Art. 1/2 e 2/1 CP) →
razão jurídico-política para evitar a utilização abusiva
➔ Aplicação retroativa da medida de segurança mais favorável: tendo as medidas de
segurança exclusiva função de defesa social e tratamento do delinquente,
necessariamente que se a LN é mais favorável, deve aplicar-se retroativamente
o Art. 3/2 CP: “Quando a lei valer para um determinado período de tempo, continua a
ser punível o facto praticado durante esse período” → incompatibilidade com o Pr.
da retroatividade da lei mais favorável, tendo as leis temporárias um regime
especial, aplicando-se a todas as condutas nela previstas e praticadas durante a sua
vigência, independentemente de, no julgamento, a lei temporária não estar em vigor
o Definição material: a lei penal que, visando prevenir a prática de determinadas
condutas numa situação de emergência ou anormalidade social, se destina a vigorar
apenas durante essa situação, predeterminando ela própria a data da cessação da
sua vigência
→ Pressuposto Material: situação de emergência/anormalidade - não depende da
vontade arbitrária do legislador, se não violaria o Pr. da retroatividade favorável
→ Pressuposto Formal: a própria lei estabelece, formalmente, o seu termo de
vigência – impede a prática do facto de factos que nesta situação têm mais gravidade
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▪ Razões materiais: é no território do Estado, onde foi praticado o crime, que mais se
fazem sentir as necessidades de prevenção geral positiva de pacificação social e
reafirmação da ordem jurídica-penal e da importância dos bens jurídicos por ela
protegidas; e de prevenção geral negativa de dissuasão dos potenciais infratores
▪ Razões processuais: é no território onde o crime foi praticado que a investigação e
a prova do crime é mais fácil de realizar-se e, portanto, são maiores garantias de
uma decisão eficaz e justa
▪ Locus delicti: Estado onde o crime deve ser considerado praticado → tenta-se evitar
conflitos negativos de competência, para evitar a impunidade do infrator, utilizando-
se um critério bilateral alternativo – podem verificar-se conflitos positivos de
competência, no entanto, tais conflitos acabam por não ter relevância prática, uma
vez que cada Estado concorrente pretenderá que o crime não fique impune, quer
seja o Estado A ou o Estado B a julga-lo é secundário
→ Art. 7/1: consideram-se praticados em Portugal, e puníveis por lei portuguesa, os
crimes em que a conduta foi, total ou parcialmente, praticado em Portugal, ou cujo
resultado cá se tenha produzido
→ Art. 7/2: serão considerados cometidos em Portugal os crimes tentados cuja ação,
apesar de praticada no estrangeiro, visasse produzir efeitos em Portugal (tentativa)
▪ Art. 4 b): além dos crimes praticados em território português, a lei penal portuguesa
é também aplicável a crimes cometidos “A bordo de navios ou aeronaves
portuguesas”, o que abrange navios e aeronaves quer comerciais, quer de guerra
→ lei penal portuguesa a navios ou aeronaves portuguesas que se encontrem em
portos/aeroportos internacionais, ou em águas/espaço aéreos estrangeiro – ao
mesmo tempo, aplica-se a lei penal do Estado estrangeiro a navios/aeronaves de
outros Estados que estejam em portos/aeroportos/águas/espaço aéreo português
→Mas, águas territoriais/espaço aéreo português: segundo DIP, são território
português (abrangidos por art. 4/a) – conflito positivo, irrelevante em termos prático
→ Navios/aeronaves de guerra: são considerados território do Estado a que
pertencem (não abrangido pelo art.4)
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Princípios Complementares/subsidiários
▪ Art. 5: quando um determinado crime praticado no estrangeiro for abstratamente
aplicável a um dos princípios presentes neste artigo, a solução correta é aplicar a lei
penal portuguesa, segundo a ordem estabelecida
▪ Complementares: acrescentam às situações abrangidas pela eficácia positiva do
princípio da territorialidade novas situações de crimes cometidos no estrangeiro
▪ Subsidiários: (em relação ao pr. fundamental) princípios só funcionam em situações
que, mesmo que afetem os interesses por ele protegidos, não ocorram em Portugal
▪ Art. 6/3: pela relevância nacional e estatal dos bens jurídicos em causa, é razoável
que seja sempre aplicada a lei penal portuguesa, mesmo que a lei do país onde o
crime foi praticado seja + favorável (não é crime/lex loci + favorável)
- Pode haver exceções: distinguem-se dentro da al. a)
➢ disposições que visam direta e exclusivamente a tutela penal de
interesses do Estado português – normas espacialmente autolimitadas
(arts. 308-321 e 325-345); competência especial e exclusiva dos tribunais
portuguesas: aplica-se a lei penal portuguesa
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Pressupostos:
▪ Nacionalidade portuguesa, quer do infrator quer da vítima
▪ Prescinde-se a dupla incriminação (que significa que um facto praticado no
estrangeiro só pode ser praticado e punido em Portugal se tal facto também for
considerado crime pela lei do país onde foi praticado) → evita-se a não punibilidade
ou menor punibilidade do facto segundo a lei do locus delicti
▪ Fraude à lei penal portuguesa → impedir que um cidadão português se desloque ao
estrangeiro para aí praticar, contra um outro português, um facto que, sendo crime
segundo a lei penal portuguesa, não é pela lei desse Estado estrangeiro, ou que,
sendo crime, é punido menos severamente
▪ Residência habitual em Portugal → o português tem de se deslocar ao estrangeiro
com o objetivo principal de aí praticar o facto (não é aplicável a lei portuguesa
quando o agente, embora resida habitualmente em Portugal, decide passar umas
férias no estrangeiro e, quando já se encontra nesse país, decide praticar um facto
que é punível (ou + severamente punível) pela lei portuguesa)
Pressupostos:
▪ Irrelevante nacionalidade do infrator
▪ Enumeração taxativa: mutilação genital feminina (144º/A); casamento forçado
(154º/B); atos preparatórios crime de casamento forçado (154º/C); escravidão
(160º); rapto (161º); abuso sexual de crianças e de menores dependentes
(171º,172º); lenocínio de menores e pornografia de menores (175º 176º); danos
contra a natureza (278º); poluição (279º) e poluição com perigo comum (280º)
▪ Infrator encontrado em Portugal – seria inútil iniciar o processo em Portugal,
encontrando-se o infrator noutro Estado → condição de procedibilidade
▪ Infrator não pode ser extraditado – em primeiro lugar, em regra, todos os crimes são
suscetíveis de fundamentar a extradição, exceto quando é precedida por motivação
politica (art. 33/6 CRP); tendo em conta que em causa estão bens jurídicos
considerados universais, deve interpretar-se a expressão “não possa ser
extraditado” como abrangendo não só a hipótese da extradição ter sido solicitada,
negada e, ainda, em que nem sequer tenha sido solicitada
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Ex: casal guineense promove a mutilação genital da sua filha (não tendo nem os pais nem a
filha nacionalidade portuguesa), na Guiné (antes de vir para Portugal ou deslocando-se à
Guiné com o objetivo da mutilação), não pode ser julgado em Portugal, se naquele país tal
prática não for considerada crime ou, sendo-o, for justificada como costume de certas etnias
▪ Facto também considerado crime pela lei do país em que foi praticado → finalidades
preventivas da pena; exigência é uma decorrência de a lei penal portuguesa
reconhecer o pr. da territorialidade como pr. fundamental nesta matéria
(O CP ressalva a hipótese de haver um lugar onde tenha sido cometido o crime, mas onde
não se exerça o poder punitivo. Nesta hipótese, a lei penal portuguesa é também aplicável.)
▪ Crime admita extradição, mas esta não pode ser concedida → regra é a não
extradição de cidadãos nacionais extradição de cidadão nacionais, no entanto,
admite-se a extradição de portugueses, desde que se verifiquem os pressupostos
estabelecidos no art. 33º/3 CRP
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▪ Evita impunidade de situações não abrangidas por nenhum dos anteriores princípios
▪ Exemplos de crimes graves praticados, no estrangeiro, por estrangeiros contra
estrangeiros, e que poderiam ficar impunes: homicídio (art. 131º), sequestro (art.
158º). → bastava que o infrator fugisse para Portugal e que, apesar de ter sido
pedida a extradição, esta não pudesse ser judicialmente autorizada, por se verificar
algum dos obstáculos constitucionais ou legais à extradição
→ Não seria razoável que o Estado português não só negasse a extradição como
ainda se recusasse a julgar em Portugal o referido crime
▪ Assim, com base neste princípio, já pode ser julgado em Portugal um, por exemplo,
chinês ou americano que tenha cometido, na China ou nos Estados Unidos, um
homicídio qualificado na pessoa de um chinês, americano ou de um qualquer
estrangeiro (em relação a Portugal)
Pressupostos:
▪ Infrator encontrado em Portugal
▪ Extradição ou a entrega tenha sido requerida ou recusada
→ Taipa de Carvalho: não devia ser exigido o pedido de extradição → visto que nas
alíneas c) e d) não se exige, em crimes como homicídio também não se devia exigir
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I. Objeto
Tem por objetivo a determinação e definição das características, elementos ou
categorias essenciais e comuns a todos os crimes (homicídio, roubo, fraude fiscal), bem
como a caracterização da relação recíproca entre estas categorias.
II. Método
O ponto de partida é o direito penal positivo – multiplicidade dos singulares crimes
previstos e descritos nas normas jurídico penais vigentes → tem de se ter em conta a
realidade normativa jurídico-penal existente e ter presente, na elaboração da teoria
geral do crime, os princípios político-criminais subjacentes e que inspiram o DP positivo.
O método utilizado é o método categorial-classificatório e sequencial:
o A partir de um conceito básico (ação/conduta humana) determina-se as
categorias que este substrato fundamental deve ter, de modo a ser qualificado
como crime e, consequentemente, o seu autor possa ser punido com uma pena
o Deve respeitar uma ordenação lógica e orientada pela função da teoria geral →
que é servir de instrumento à decisão penal justa do caso concreto
o Começa-se com uma categoria com maior extensão e menor compreensão até
se chegar à última com maior compreensão e menor extensão → ex: categoria
da culpa pressupõe as categorias anteriores da tipicidade e ilicitude (pode ser
uma conduta típica mas lícita, não fazendo sentido falar-se da culpabilidade do
agente neste caso) – usa-se a “metáfora da pirâmide
III. Funções
No plano prático:
▪ Certeza/segurança jurídica: evitando mera intuição, improvisação e arbitrariedade
▪ Igualdade de tratamento dos casos criminais idênticos
▪ Economia na análise de casos práticos
No plano didático:
▪ Visão de conjunto das características essenciais da infração criminal – há uma
impossibilidade de os alunos, logo no início, terem uma plena compreensão do
sistema da infração criminal
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a) Exposição
b) Crítica
Os pressupostos positivístico-naturalistas de que partiu são inaceitáveis:
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a) Exposição
❖ Surgiu nas primeiras décadas do século XX
❖ Fundamentou-se na filosofia dos valores neokantiana por Rickert, Lask, etc.
❖ Não fez uma alteração radical da conceção positivista-naturalista, apenas tentou
normativizar (atribuir conteúdo valorativo) às categorias do crime anteriores
b) Crítica
❖ Ilícito: permaneceu definido pelo desvalor de resultado (conceção objetivista)
❖ Culpa: misturava componentes psicológicas (dolo natural/psicológico e a
violação do dever objetivo de cuidado) com componentes normativas (como a
imputabilidade e a “exigibilidade)
b) Apreciação
❖ Contribuiu para o avanço da teoria do crime: ilícito pessoal – negligência
(violação do dever objetivo de cuidado) e dolo
❖ Críticas: não explica crimes negligentes (não existe finalidade) nem os crimes de
omissão (não existe atividade causal finalisticamente orientada)
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o Para que haja crime é necessário que a conduta, que constitui um tipo de ilícito,
possa ser censurada, ético-pessoalmente, ao seu autor a título da culpa
o Este juízo de culpabilidade pressupõe a capacidade de o agente avaliar a ilicitude
da sua conduta e de se decidir de acordo com essa avaliação (art. 20/1) →
pressupõe um determinado desenvolvimento e maturidade psicológica, mental
e sociocultural – daí existir a presunção de insusceptibilidade relativamente aos
menores de 16 anos (art. 19 CP)
o Esta capacidade constitui apenas o pressuposto do juízo de culpa e não o
conteúdo material desta → o conteúdo material (aquilo que se censura ao
agente) é a sua atitude ético-pessoal de oposição, indiferença ou descuido
perante o bem jurídico penal lesado/posto em perigo pela sua conduta
o Há 2 tipos de culpa:
▪ Culpa dolosa – atitude ético-pessoal de oposição ou indiferença perante o
bem jurídico-penal lesado ou posto em perigo pela conduta → pressupõe
dolo psicológico ou dolo típico (representação e vontade de realização do
facto descrito no tipo legal do crime)
▪ Culpa negligente – atitude ético-pessoal de descuido na prática de factos que
contêm o risco de lesarem ou porem em perigo bens jurídico-penais
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II – Tipo de Ilícito
11. Função, conteúdo e estrutura do tipo de ilícito
Tipo subjetivo:
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• Comuns: podem ser praticados por qualquer pessoa (ex: homicídio – art. 131)
• Específicos: só podem ser cometidos por quem possua determinada qualidade ou
estatuto, ou sobre quem recaia um dever especial; subdividem-se em:
o Próprios/Puros: qualidade/estatuto/dever especial fundamenta a ilicitude
criminal e, portanto, a responsabilidade penal (ex: recusa de médico – 284)
o Impróprios/Impuros: qualidade/estatuto/dever especial agrava a ilicitude e
responsabilidade penal (ex: coação por funcionário – art. 155/1 d))
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• Crimes simples: constituídos por uma só ação ilícita (ex: furto, abuso de confiança –
art. 205) → coincide com os crimes uni-ofensivos (tipo legal protege apenas 1 bem
jurídico e correspondente conduta criminal afeta 1 só bem jurídico)
• Crimes complexos: constituídos por mais que uma ação ilícita (ex: roubo – art. 210
– constituído pela ação de subtração, como o furto, e ação de violência ou ameaça)
→ coincide com os crimes pluri-ofensivos (protege mais do que 1 bem jurídico e
correspondente conduta criminal lesa mais do que 1 bem jurídico) e com os crimes
de processo típico/execução vinculada – crime de coação é, simultaneamente, os 3
• Crimes de dano: elemento do tipo legal efetiva lesão do bem jurídico (131, 143, 203)
• Crimes de perigo: tipo legal apenas exige a colocação em perigo do bem jurídico
o Concreto: tipo legal exige que o bem tutelado tenha sido, efetivamente,
posto em perigo (ex: 291 – condução perigosa de veículo rodoviário – tem de
se fazer a prova que a condução pôs, de facto, em perigo o bem tutelado)
o Abstrato: perigo não é elemento do tipo legal, não tendo de se fazer a prova
que a conduta colocou em perigo o bem jurídico (ex: 292 – condução de
veículo em estado de embriaguez – baseado na perigosidade e na
importância do bem, considera-se que tal conduta contém sempre risco)
o Abstrato-concreto: podem, num condicionalismo excecional, não ter a
perigosidade que quase sempre têm (ex: 295)
• Crimes instantâneos: lesão do bem jurídico ocorre num momento (ex: 131, 203)
• Crimes duradouros: lesão do bem jurídico pode-se prolongar por um tempo mais ou
menos longo (ex: sequestro – 158)
→ são afetados mas indestrutíveis – consumação ocorre no início da lesão mas só
termina com a cessação da lesão
→ consequências jurídico-práticas: (1) prazo de prescrição só conta a partir da
cessação da consumação; (2) legítima defesa depois do início da consumação até à
cessação; (3) crime cometido em Portugal, mesmo apenas em parte da duração
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Autonomia ou dependência existente entre os tipos legais que protegem o mesmo bem
jurídico:
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Apreciação:
▪ Afastou o conceito de causa (científico-natural) → substituindo-o pelo critério
objetivo-social (de acordo com a experiência social)
▪ Segundo Taipa de Carvalho, a designação mais correta é “teoria da adequação”
pois esta teoria realizou a normativização do conceito de causa
Críticas:
(1) Teoria tem de ter em conta os conhecimentos que o agente tinha ou devia ter
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• Casos de ações que, por serem socialmente necessárias, são permitidas mas que,
segundo a experiência, são adequadas a produzir o resultado típico (como na
circulação rodoviária ou o transporte de materiais perigosos)
• Taipa de Carvalho: esta crítica não põe em causa a teoria pois estas condutas, apesar
de perigosas, são realizadas com os cuidados exigíveis – não sendo adequado dizer-
se que são adequadas a produzir o resultado típico; acrescenta também que nestes
casos há desvalor da ação, não se podendo, então, imputar o resultado a essa ação
Conclusão:
A teoria da adequação é globalmente válida e apta a resolver a generalidade dos casos
e questões de imputação do resultado à ação (tanto dos crimes dolosos como dos
negligentes).
Também é válida no caso dos crimes de comissão por omissão → formula-se a hipótese
de, se a ação tivesse sido praticada pelo omitente, esta teria, ou não, evitado o resultado
– juízo hipotético de adequação: se a ação omitida foi idónea a evitar o resultado.
Neste sentido, estabelece o art. 10/1 CP: “omissão da ação adequada a evitá-lo (ao
resultado típico)”.
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I. Observações introdutórias
• Há crimes que exigem além dos elementos objetivos, algum elemento subjetivo
• O dolo é o elemento subjetivo comum e intrinsecamente inerente a todo o tipo
de ilícito doloso → daqui decorre a designação dolo do facto/do tipo/da
factualidade típica – exigência do conhecimento das características do facto
descrito no tipo legal e a vontade de realizar este facto
• Não basta este dolo do tipo para que o respetivo agente seja punido por crime
doloso → não há pena sem culpa e o dolo não é uma forma de culpa
• É necessário que a esta dimensão psicológica do dolo acresça a dimensão ético-
pessoa do dolo → ex: A disparou contra B a pensar que ia atingir um animal –
não se pode dizer que atuou com dolo ético (culpa dolosa) pois não afirmou uma
atitude de indiferença perante a vida humana; atuou culposamente mas com
culpa negligente se tiver havido descuido ao praticar essa ação perigosa
• Dupla dimensão: dimensão psicológico-intelectual e dimensão ética
• Dolo culpa/ético/culpa dolosa: indiferença do agente perante o bem jurídico-
penal, atitude esta concretizada no facto típico praticado, que o agente
corretamente representou e quis
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a) Elemento Intelectual
Noção e Conteúdo
• Espécies de erro:
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b) Elemento Volitivo
Noção e Conteúdo
➔ A afirmação do dolo pressupõe, também, que o agente dirija a sua vontade ou, pelo
menos, se conforme com a realização do facto típico
➔ Elemento volitivo é a vontade de, a partir do conhecimento que o agente tem de
certa realidade, praticar certa conduta ou produzir um determinado resultado
➔ Podem ser diversas as atitudes psicológico-volitivas do agente relativamente ao
facto típico – definidas em 3 espécies de dolo, no art. 14:
▪ Dolo direto (1º grau): art. 14/1 - realização do facto típico é o fim/objeto imediato
da ação do agente
→ Irrelevante se é o único objetivo do agente (A furta carteira de B) ou um
meio para a realização de outro facto típico (B furta arma de A para matar C)
→ Motivações são irrelevantes – mas podem relevar num plano da culpa
(homicídio motivado por ódio racial – fundamentam a qualificação do
homicídio, agravando a pena devido à maior culpabilidade do agente)
▪ Dolo necessário (2º grau): art. 14/2 – realização do facto típico não é o objetivo
imediato da conduta, mas o agente sabe que tal realização é uma consequência
(quase) certa da sua conduta (A para matar B coloca bomba no seu carro, sabendo
que também matará o motorista)
▪ Dolo eventual: art. 14/3 - agente representa como possível a realização do facto
típico e conforma-se com risco de a conduta vir, efetivamente, a realizar tal facto
o Existem várias teorias como critério de distinção destas duas figuras – tendo
presente que a culpa dolosa significa uma atitude ético-pessoal de oposição ou
de indiferença do bem jurídico penal, rejeitam-se as teorias da probabilidade, da
aceitação e da fórmula de Frank, aceitando-se a da conformação com o risco.
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II. Autonomia “formal” e sistemática das causas de justificação face aos tipos
legais ou incriminadores
▪ Autonomia “formal”: causas de justificação não estão sujeitas às exigências
decorrentes do princípio da legalidade penal → não têm de:
❖ Constar de uma lei formal
❖ Respeitar a exigência da tipicidade (mais precisa possível)
❖ Podem ser objeto de aplicação analógica
❖ São aplicadas, necessariamente, retroativamente
→ isto porque não fundamentam a ilicitude penal, mas excluem a ilicitude e,
consequentemente, a responsabilidade penal
▪ Autonomia sistemática: manifesta-se duplamente
❖ Aplicam-se a uma diversidade de tipos legais → estão na Parte Geral do CP
❖ Não só relevância negativa jurídico-penal → dispersas noutros setores do direito
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a) Posição Tradicional
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b) Posição Correta
▪ Elemento Subjetivo Comum: conhecimento existente, quando se pratica o facto
típico, da situação objetiva justificante (de todos os pressupostos objetivos da
respetiva causa de justificação) → faltando este elemento, não há justificação
▪ Mas o facto de não haver justificação não significa que o agente tenha cometido
um tipo de ilícito consumado, como defendia a doutrina tradicional
→ Nas situações em que se verificam todos os pressupostos objetivos da causa
de justificação, não há desvalor de resultado mas, apenas, desvalor de ação
→ Ex: A opera B, pensando que este não consentiria na intervenção, apesar
deste ter dito ao enfermeiro C que queria ser operado (que não comunicou a A)
Há um desvalor de ação (quando ele inicia a intervenção)
Mas não há desvalor de resultado (dir-se-á que houve um resultado igual
se produziria no caso de não ter sido dado consentimento)
Taipa de Carvalho rejeita: consentiu na operação, embora consentimento
fosse desconhecido – art. 156/1: verdadeira tentativa em que há desvalor
de ação mas não de resultado, sendo esta tentativa impossível pois (com
consentimento) a ação não podia produzir outro resultado
→ Isto aplica-se a todas as causas de justificação – existindo situação objetiva,
produz-se um resultado não desvalioso (desde que não tenha havido excesso)
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