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FASCITE PLANTAR:

COMO AVALIAR E
TRATAR COM
PALMILHAS
A fáscia plantar é uma camada de tecido

que reveste a face plantar do pé́ e se

origina do calcâneo, inserindo-se

através de uma rede complexa, na face

plantar do antepé. Composta de muitas

fibras de colágeno e elásticas, a

estrutura robusta e fibrosa da fáscia

plantar serve para ajudar no suporte de

peso. Ela é dividida em duas camadas

no plano transversal: a fáscia plantar

superficial e a fáscia plantar profunda. A

profunda se subdivide em três camadas

no plano coronal (porções central, lateral

e medial). A fáscia superficial forma um

revestimento rígido e espesso sobre a

sola do pé́ e apresenta ligamentos


cutâneos fortes que amarra a pele à

aponeurose plantar subjacente.


A fáscia profunda se assemelha àquela

dentro da mão. Há uma aponeurose

plantar central que se estende para a

frente e se divide em digitações para os

artelhos.

A fascite plantar é uma condição

inflamatória que afeta a fáscia plantar e

as estruturas perifasciais do pé́.

Historicamente, a fascite tem sido

atribuída à biomecânica defeituosa, tal

como pronação excessiva. No entanto,


uma revisão da literatura mais recente

revela que pessoas com um pé́ plano

(arco plantar baixo) ou pé cavo (arco

plantar alto), podem sofrer de fascite

plantar. Tem sido descrito que pessoas

com arcos mais baixos têm condições

resultantes de movimentação excessiva

na região do mediopé e retropé,

enquanto pessoas com pé cavo

apresentam pouca movimentação nessa

região.
O “mecanismo de molinete” é um

modelo usado para prover uma

explicação dos fatores biomecânicos e

estresses aplicados sobre o pé́ e a

fáscia plantar. Um molinete é um

dispositivo usado para mover pesos e

consiste em uma corda enrolada em


volta de um cilindro ou cano horizontal,

que é girado pela rotação de uma

manivela ou correia. O efeito molinete

da fáscia plantar pode ser ilustrado

quando se fica em pé́, na ponta dos pés.

A corda é análoga à fáscia plantar e o

cilindro é análogo às articulações

metatarsofalangianas. Durante a fase de

pré balanço da marcha, a dorsiflexão

causa o encurtamento da fáscia plantar

quando o enrolamento desta última


encurta a distância entre o calcâneo e

os metatarsos. Esse estreitamento da

fáscia plantar ajuda a elevar o arco

longitudinal medial. Esse mecanismo de

molinete também pode auxiliar na

supinação do pé́ durante a parte tardia

da fase de apoio no ciclo da marcha.


Na imagem acima, pode-se notar a

imagem de um triângulo que delineia a

pilastra formada pelo calcâneo, pela

articulação mediotarsal e pelos

metatarsos. A hipotenusa (linha


horizontal) representa a fáscia plantar.

As setas para cima ilustram as forças de

reação ao solo. A seta para baixo ilustra

a força vertical do corpo. A orientação

das forças verticais e de reação ao solo

causaria um colapso da pilastra;

entretanto, o aumento da tensão da


fáscia plantar em resposta a essas

forças mantém a integridade da pilastra.

As causas específicas de fascite plantar

não são bem compreendidas, mas é

provável que diversos fatores

contribuam para a condição. A fascite

plantar é responsável por 15% de todas

as queixas de adultos relativas aos pés

necessitando de cuidados profissionais,

e a condição é prevalente tanto em

atletas como de não atletas. Há também


uma relação entre fascite plantar e

diminuição de amplitude de movimento

de dorsiflexão do tornozelo. Outros

fatores de risco incluem passar a maior

parte do dia de trabalho em pé́ e ter um

índice de massa corporal (IMC) >30

kg/m2.7. Uma revisão sistemática


recente examinando fatores de risco

relacionados à dor crônica plantar no

calcanhar afirmou a associação

independente entre um IMC de 25 a 30

kg/m2 e o desenvolvimento de fascite

plantar. Essa revisão também identificou

a presença de esporão do calcâneo, em

uma população não atlética, como um

fator de risco significante.

Avaliação do paciente com fascite

plantar

Antes de iniciarmos o tratamento,

podemos conversar com o paciente para

saber quais seus objetivos reais, suas

expectativas, pois paciente motivado e

engajado no tratamento demonstra

resultados muito mais favoráveis.


A meta do tratamento para a maioria

dos pacientes com

fascite plantar é diminuir a dor e

melhorar a função.

Aqueles com risco mais alto de

desenvolver fascite plantar ou aqueles

que já́ têm a condição apresentam,

frequentemente, diminuição da flexão

passiva do tornozelo, obesidade, e

tendem a passar a maior parte de seu

dia de trabalho em pé́. Os pacientes


com fascite plantar, muitas vezes,

descrevem um início insidioso de dor

aguda localizada na face anteromedial

do calcanhar ou, algumas vezes, no

centro da face plantar do pé́. A dor é

mais perceptível com os passos iniciais

após um período de inatividade (p. ex.,


os primeiros passos ao sair da cama ao

despertar), mas pode piorar depois do

suporte do peso prolongado,

especialmente ao se aproximar do fim

do dia. Em ocasiões de dor aumentada,

uma marcha antiálgica pode estar

presente. A dor da fascite plantar com

frequência é subsequente a um

aumento de atividade recente com

suporte do peso (p. ex., aumento das

distâncias de caminhada ou corrida).


Uma apresentação clinica comum

também inclui dor imediata após os

passos iniciais fora da cama de manhã̃,

que pode diminuir gradualmente com o

aumento da atividade.

O profissional terapeuta deve conduzir

uma avaliação minuciosa da história de


saúde do paciente e da condição atual.

Com frequência, o paciente relata

mudança recente em nível de atividade

ou mudança de emprego que requer

ficar de pé́ ou andar mais.

A avaliação de um paciente deve

continuar com um exame musculo

esquelético abrangente, durante o qual

o terapeuta deve estar atento para

diagnósticos alternativos quando as

limitações de atividade e os achados


clínicos forem inconsistentes com fascite

plantar. Os diagnósticos diferenciais

importantes incluem: fratura por

estresse do calcâneo, contusão óssea,

atrofia do coxim gorduroso, esporão do

calcâneo, síndrome do túnel do tarso,

doença óssea de Page, doença de


Sever e dor irradiada devido a uma

radiculopatia de S1.

O que podemos encontrar em um

paciente com probabilidade de fascite

plantar inclui: dor à palpação da

inserção da fáscia plantar proximal,

diminuição da dorsiflexão ativa e

passiva da articulação talocrural, sinal

de Tinel positivo com o teste da

síndrome do túnel do tarso (teste de

dorsiflexão-eversão), dor na parte


anteromedial do calcanhar ou no meio

do pé́ com o teste do molinete e

diminuição do ângulo do arco

longitudinal.

Interessante também avaliar dorsiflexão

passiva do tornozelo diminuída com o


joelho estendido (flexibilidade do

complexo gastrocnêmio-sóleo) pois

indivíduos com fascite plantar tendem a

apresentar diminuição da amplitude de

movimento desse complexo.

Embora exercícios de alongamento para

o complexo gastrocnêmio-sóleo sejam

uma intervenção quase universal em um

plano de tratamento da fascite plantar,

tem sido recomendado que o

comprimento dos isquiotibiais também


seja avaliado. Se os isquiotibiais

mostrarem comprimento limitado, o

alongamento deve ser prescrito, porque

a retração dos isquiotibiais aumentada

pode causar sobrecarga prolongada do

antepé, com aumento resultante da

tensão na fáscia plantar. O alongamento


especifico da fáscia plantar é benéfico

para diminuir a dor em

Indivíduos com fascite plantar,

independentemente do comprimento

inicial desse tecido.

Avaliação e Tratamento com uso de

palmilhas sob medida

Em relação ao arco plantar e tipo de

pisada, o terapeuta dever examinar se o

paciente apresenta pé plano (pé chato)

ou pisada pronada. Pois, ao avaliar o

paciente e observar estas condições,

podemos produzir uma palmilha sob

medida para apoiar o arco longitudinal

medial e amortecer o calcanhar visando

reduzir a dor e melhorar a função,


especialmente naqueles indivíduos que

apresentam ambos os casos, ou seja, pé

plano, juntamente com pisada pronada.

Depois de determinar que a causa da

dor e a disfunção do paciente são

secundárias a fascite plantar, um plano

de tratamento deve ser implementado, e

o terapeuta deve monitorar de forma

continua o progresso do paciente por

meio da reavaliação.

Todo tratamento relacionado a

pacientes com fascite plantar consiste

em alongamento da fáscia plantar e

alongamentos do com plexo

gastrocnêmio e sóleo.
Estas condutas, associada a confecção

de uma palmilha para pé plano ou

pisada pronada conforme a avaliação

realizada, normalmente diminuem a dor

e melhoram a função do paciente.

A educação do paciente também é

muito importante para o tratamento, pois

fazer os alongamentos, manter um estilo

de vida ativo e peso normal ajudam na


resolução do quadro do paciente. Acima

de tudo, temos que tentar eliminar todos


os fatores que podem estar relacionados

com a fascite plantar. Podemos

perguntar sobre hábitos, rotina, esportes

praticados, se ouve alguma mudança no

trabalho, postura, ou rotina de treinos

em esportes.

Portanto, com este roteiro de raciocínio

clinico, você vai poder ampliar sua

expertise para tratar pacientes com

fascite plantar de maneira mais

assertiva. Lembre-se sempre um dos


pontos fundamentais é passar

um programa de tratamento para o

paciente e combinar com ele todas as

etapas e não

trabalhar apenas na prescrição da

palmilha, pois este paciente poderá não

melhorar. Desta forma,


você consegue um compromisso por

parte do paciente, sabendo que seu

tratamento tem um começo, meio e fim.

Caso você tenha dúvidas, entre em

contato para trocarmos informações e

avançarmos sempre em busca do

melhor tratamento para nosso paciente.

Um forte abraço, Marcos Costa.

Fisioterapeuta - CREFITO 247040.

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