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BELO HORIZONTE
2023
MARIA EDUARDA NUNES DOS SANTOS
BELO HORIZONTE
2023
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................ 1
2. DESENVOLVIMENTO ................................................................................... 2
3. CILINDROS .................................................................................................... 4
3.1 Cilindros Hialinos............................................................................................. 4
3.2 Cilindro Hialino-Granuloso.............................................................................. 5
3.3 Cilindro Granuloso........................................................................................... 6
3.4 Cilindros Céreos ............................................................................................... 7
3.5 Cilindros Epiteliais ........................................................................................... 8
3.6 Cilindros Graxos Ou Adiposos ......................................................................... 9
3.7 Cilindros Hemáticos ....................................................................................... 10
3.8 Cilindros Leucocitários .................................................................................. 11
3.9 Cilindros Eritrocitários .................................................................................. 12
4. CRISTAIS ANORMAIS DE ORIGEM METABÓLICA ................................ 13
4.1 Cristais De Bilirubina ..................................................................................... 13
4.2 Cristais De Cistina .......................................................................................... 14
4.3 Cristais De Colesterol ..................................................................................... 15
4.4 Cristais De Leucina ........................................................................................ 16
4.5 Cristais De Tirosina ........................................................................................ 16
5. CRISTAIS DE ORIGEM IATROGÊNICA .................................................... 17
5.1 Cristais De Ampicilina .................................................................................... 17
5.2 Cristais De Sulfonamida ................................................................................. 18
6. CRISTAIS NORMAIS DE URINA ÁCIDA ................................................... 19
6.1 Cristais De Ácido Úrico .................................................................................. 19
6.2 Cristais De Oxalato De Cálcio ........................................................................ 20
6.3 Cristais De Urato Amorfo ............................................................................... 21
6.4 Cristais De Urato De Sódio ............................................................................. 22
7. CRISTAIS NORMAIS DE URINA ALCALINA ............................................ 23
7.1 Cristais De Biurato De Amônio ...................................................................... 23
7.2 Cristais De Carbonato De Cálcio .................................................................... 24
7.3 Cristais De Fosfato Amorfo ............................................................................ 25
7.4 Cristais De Fosfato De Cálcio ......................................................................... 26
7.5 Cristais De Fosfato Triplo............................................................................... 27
8. BACTÉRIAS .................................................................................................. 27
9. CÉLULAS ...................................................................................................... 29
9.1 Células Epiteliais Escamosas .......................................................................... 29
9.2 Células Epiteliais De Transição ...................................................................... 30
9.3 Células Epiteliais Do Túbulo Renal ................................................................ 31
10. HEMÁCIAS/ERITRÓCITOS ........................................................................ 32
11. LEUCÓCITOS/PIÓCITOS ............................................................................ 33
12. LEVEDURAS ................................................................................................. 34
13. MUCO ............................................................................................................ 35
14. ESPERMATOZOIDES .................................................................................. 36
15. CONCLUSÃO ................................................................................................ 37
16. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................... 38
1
1. INTRODUÇÃO
Esperamos que este atlas se torne uma ferramenta valiosa para a formação e atualização
de profissionais da saúde, contribuindo para uma melhor compreensão da uroanálise e,
consequentemente, para o aprimoramento da qualidade dos cuidados de saúde prestados à
população.
2. DESENVOLVIMENTO
Coleta da Amostra
Uma vez coletada a amostra, ela deve ser devidamente preparada para a análise
microscópica. Isso inclui a centrifugação da urina, que separa os elementos sólidos do líquido,
facilitando a sedimentoscopia. A velocidade e o tempo de centrifugação recomendados são de
1500-2000 RPM por 5 minutos. Após a centrifugação, o sobrenadante é cuidadosamente
removido, deixando apenas o sedimento.
Cristais: Identificação de cristais, como oxalato de cálcio, fosfato triplo e urato amorfo, que
podem estar presentes na urina.
Cilindros: Observação de cilindros hialinos, granulosos, eritrocitários e outros cilindros que
podem indicar patologias específicas.
Interpretação e Diagnóstico
Os cilindros são estruturas formadas no túbulo contorcido distal e ducto coletor, possuindo
formato semelhante a essas estruturas, e à medida envelhecem, vão se degradando e começam
a apresentar formas irregulares e, assim são denominados cilindróides. Formam-se devido a
produção de Proteínas de Tamm-Horsfall produzido pelas células epiteliais tubulares renais
(ETR), que vão se compactando no interior do túbulo devido a um aumento de acidez
urinário, presença de sódio e potássio, associado ao processo de estase urinária
Figura 1: Cilindro Hialino. Formados por uma matriz proteica, composto principalmente pela
proteína de Tamm-Horsfall e são homogêneos. Apresenta aspecto cilíndrico com lados paralelos,
extremidades arredondadas e de cor clara (transparente/incolores). Possuem um baixo índice de
refração e são dificilmente visíveis em uma microscopia de campo claro. Sua presença não se
correlaciona a qualquer doença específica e pode aparecer em urina normal e temporariamente em
casos de febre, desidratação, exercício físico intenso ou em casos de insuficiência cardíaca. O número
de cilindros em uma amostra pode aumentar quando se há nefropatias agudas ou crônicas,
glomerulonefrite, pielonefrite e doença renal crônica.
3.2 Cilindro Hialino-Granuloso
Figura 2: Cilindro Hialino-granulosos. O cilindro hialino-granuloso são nada mais que cilindros
hialinos que adquiriram algum tipo de granulação moderada. Possuem a mesma característica de
cilindros hialinos, são vistos em baixa luminosidade, tem aspecto cilíndrico com lados paralelos,
extremidades arredondadas. Assim como os cilindros hialinos, desde que apareçam em pequeno
número não apresentam uma importância clínica, e também possam aparecer temporariamente com
exercício físico, febre ou em casos de patologia renal associada a proteinúria.
3.3 Cilindro Granuloso
Figura 3: Cilindros Granulosos. É o segundo tipo de cilindro mais comum e geralmente são
observados e associados aos cilindros hialinos, muitas vezes tem aparência "marrom lamacenta".
Apresentam-se como cilindros de contorno espesso e aspecto bem definido, com granulações de
diversos tamanhos em sua superfície, podendo esses grânulos serem grânulos finos ou grossos. Pode
se dizer que possui uma composição considerada variável, apresenta a matriz típica de um cilindro e
possui inclusões de diversas origens como: proteínas plasmáticas (albumina), imunoglobulinas,
glóbulos vermelhos, glóbulos brancos, restos de organelas e etc. São facilmente identificados na
microscopia de campo claro. Ocasionalmente, ocorrem após exercício ou desidratação quando a
função renal é normal, porém com mais frequência pode ser um indicativo de necrose tubular aguda.
3.4 Cilindros Céreos
Figura 4: Cilindros Céreos. São cilindros curtos, largos e possuem uma estrutura rígida de
aparência lisa homogênea e bordas serrilhadas. Sua cor pode variar entre amarela, acinzentada ou
incolor. Os cilindros céreos são formados a partir da desidratação dos cilindros hialinos ou a partir
da separação dos elementos granulares dos cilindros granulosos. Sua presença pode ser um
indicativo de insuficiência renal crônica. Pode também aparecer em casos de nefrites crônicas,
nefroesclerose, amiloidose renal e rejeição de transplantes de rim. Podem também ser pigmentados
por bilirrubina e hemoglobina.
3.5 Cilindros Epiteliais
Figura 5: Cilindros Epiteliais. São cilindros que possuem a matriz proteica variavelmente
preenchida de células tubulares. São cilindros pouco frequentes na urina e são associados a
descamação de células presentes nos túbulos renais que são incluídas na matriz proteica
(normalmente hialiana ou granulosa). São cilindros raramente vistos na urina devido a pouca
frequência de doenças renais que causam danos aos túbulos. As células podem ser originárias de
porções variadas do túbulo. Estes cilindros normalmente aparecem acompanhados de cilindros
leucocitários em casos de pielonefrite, mas podem ser encontrados também em casos que o
paciente sofreu de exposição a algum vírus que gerou danos causando a lesão glomerular.
3.6 Cilindros Graxos Ou Adiposos
Figura 6: Cilindros Graxos. Aumento de 400x – Microscopia de campo claro (esquerda) – Microscopia contraste de fase (centro)
– Microscopia de campo claro com coloração de Sternheimer-Malbin (direita).
Figura 7: Cilindros Hemáticos. Os cilindros hemáticos possuem uma coloração castanha, mas
podem ser laranja-avermelhados ou podem ser incolores. Este tipo de cilindro é um dos mais
frágeis e são patológicos indicando hematúria renal. Podem vir apenas como pedaços de formas
irregulares ou podem possuir poucas hemácias em uma matriz proteica. A sua presença indica
grave doença renal, e também indica que pode haver um sangramento no interior dos néfrons.
Frequentemente são diagnósticos de doença glomerular, sendo encontrados na glomerulonefrite
aguda, trauma renal, nefrite lúpica, endocardite bacteriana subaguda e síndrome de Goodpasture.
Podem estar presentes também na trombose de veia renal, infarto renal, na insuficiência cardíaca
congestiva direita, periarterite nodosa e pielonefrite grave.
3.8 Cilindros Leucocitários
Figura 8: Cilindros Leucocitários. Aumento de 400x - Microscopia de campo claro (esquerda) -Microscopia de contraste de fase
(centro) - Microscopia de campo claro com coloração de Sternheimer-Malbin (direita).
Figura 8: Cilindros Leucocitários. São cilindros que possuem sua matriz proteica preenchida
com leucócitos. Possuem bordas irregulares e são geralmente compostos por neutrófilos. São
refringentes e podem conter grânulos e núcleos multilobulados. Sua presença na urina significa
que há uma infecção ou inflamação vinda do interior dos néfrons. Aparecem com maior
frequência em casos de pielonefrite, mas podem aparecer em qualquer doença que cause a
inflamação dos néfrons ou na inflamação tubulointersticial.
3.9 Cilindros Eritrocitários
Figura 9: Cilindro Eritrocitário. Estes cilindros podem possuir a cor castanha ou serem quase
incolores. Podem ser formados por alguns glóbulos vermelhos em uma matriz proteica. A sua
presença na urina pode indicat hematúria de origem renal e são sempre patológicos. Geralmente
também indicam doenças glomerular como glomerulonefrite aguda, mas podem ser encontradas
na síndrome de GoodPasture, na nefrite lúpica, na endocardite bacteriana e em traumatismo renal.
4. CRISTAIS ANORMAIS DE ORIGEM METABÓLICA
Figura 10: Cristais de bilirrubina. Aumento de 400x - Microscopia de campo claro (esquerda). - Microscopia de contraste de fase
(centro). - Microscopia de luz polarizada (direita).
Figura 11: Cristais de Cistina. Os cristais de cistina aparecem como placas hexagonais incolores
e pode ser grosso ou fino. Estes cristais podem ser difícil de diferenciar dos cristais incolores de
ácido úrico. Cristais de cistina são encontrados na urina de pessoas que herdam um distúrbio
metabólico que impede a reabsorção de cistina pelos túbulos renais (cistinúria). Pessoas com
cistinúria apresentam tendência a formar cálculos renais, especialmente em idade precoce.
Cristais de Ácido úrico são muito birrefringentes sob microscopia polarizada, enquanto apenas
cristais espessos de cistina têm capacidade de polarização. A confirmação positiva dos cristais de
cistina é feita utilizando o teste de cianeto-nitroprussiato
4.3 Cristais De Colesterol
Figura 12: Cristais de Colesterol. Cristais de colesterol raramente são vistos e possuem uma
difícil visualização, a menos que as amostras tenham refrigerado, porque os lipídios permanecem
em forma de gotículas. Porém, quando observados, apresentam uma aparência muito
característica, lembrando uma placa retangular com um detalhe em um ou mais cantos. Estão
associados a distúrbios que produzem lipidúria, como a síndrome nefrótica, e são vistos em
conjunto com cilindros graxos. Cristais de colesterol são altamente birrefringentes com luz
polarizada. A presença destes cristais na urina pode indicar intensa ruptura tissular, nefrite,
condições nefríticas, quilúria e síndrome nefrótica.
4.4 Cristais De Leucina
Figura 13: Cristais de Leucina. Os cristais de leucina são esferas marrom-amareladas que se
apresentam em círculos bem estruturados. Os cristais de leucina são vistos com uma menor
frequência que os cristais de tirosina, e quando estão presentes devem vir acompanhados por
cristais de tirosina. Os cristais de leucina são encontrados na urina de pacientes com síndrome da
má absorção de metionina e em doenças hepáticas graves.
4.5 Cristais De Tirosina
Figura 14: Cristais de Tirosina. Os cristais de tirosina se parecem muito como agulhas finas que
variam de tom entre incolor ao amarelo e frequentemente formam rosetas ou aglomerados.
Geralmente estes cristais são vistos acompanhados dos cristais de leucina em amostras com
resultados de testes químicos positivos para bilirrubina. Cristais de tirosina podem ser
encontrados em distúrbios hereditários do metabolismo de aminoácidos.
5. CRISTAIS DE ORIGEM IATROGÊNICA
Figura 15:Cristais de Ampicilina. A. Cristais de ampicilina não refrigerados (esquerda) - Cristais de Ampicilina após
refrigeração (direita) – Aumento de 400x
Figura 17: Cristais de Ácido Úrico. Os cristais de ácido úrico podem ser vistos em variados
formatos que incluem: placas planas de quatro lados (pedras de amolar), losangos e rosetas.
Geralmente aparecem com cor marrom-amarelados, mas podem ser incolores e possuir o formato
de 6 lados, bem semelhante aos cristais de cistina. Os cristais de ácido úrico são altamente
birrefringentes sob a luz polarizada, o que ajuda a distingui-los dos cristais de cistina.
Em grandes quantidades, específicamente na urina fresca, são associados a níveis aumentados de
purinas e são muito observados em pacientes com síndrome de Lesch-Nyhan, e pacientes com
leucemia que estão no processo de quimioterapia.
6.2 Cristais De Oxalato De Cálcio
Figura 18: Cristais de Oxalato de Cálcio. São cristais frequentemente encontrados em urina
ácida, mas podem ser encontrados na urina neutra, e raramente aparecem na urina alcalina. A
forma mais comum destes cristais é a desidratada, que se parece com um envelope incolor
(imagem da esquerda). Sua forma menos comum é a monoidratada, são ovais com a ponta bem
arredondada (imagem da direita). Ambas as formas são birrefringentes sob a luz polarizada.
Cristais de oxalato de cálcio às vezes são vistos em aglomerados presos a fios mucosos e as vezes
podem assemelhar-se a cilindros. O achado de aglomerados de cristais de oxalato de cálcio na
urina fresca pode estar relacionado à formação de cálculos renais, pois a maioria dos cálculos
renais é composta por oxalato de cálcio. O principal significado patológico dos cristais de oxalato
de cálcio é a presença muito perceptível da forma monoidratada em casos de envenenamento por
etilenoglicol (anticongelante). A forma monoidratada é vista com mais frequência em crianças e
animais de estimação porque o anticongelante pode ter um sabor doce e os recipientes
descobertos deixados em lugares que crianças e animais alcançam podem ser muito tentadores.
Grandes quantidades de cristais são frequentemente produzidas nestes casos.
6.3 Cristais De Urato Amorfo
Figura 19: Cristais de Urato Amorfo. Os cristais de Urato Amorfo parecem microscopicamente
como grânulos de cor marrom-amarelados. Podem ocorrer em aglomerados que são semelhantes
visualmente a cilindros granulares e ligados a outras estruturas sedimentares. Os uratos amorfos
são frequentemente encontrados em amostras que foram refrigeradas e produzem um sedimento
rosado que é muito característico, e esta cor rosada se dá pela concentração do acúmulo do
pigmento uroeritrina na superfície dos grânulos. Normalmente os uratos amorfos são encontrados
em urina ácida com um ph superior a 5,5. Patologicamente falando, a presença destes cristais não
indicam uma importância clínica e podem ser de ocorrência natural do organismo.
6.4 Cristais De Urato De Sódio
Figura 20: Cristais de Urato de Sódio. Os cristais de urato de sódio são cristais normais de urina
ácida e se parecem como agulhas ou pequenas tábuas de madeira incolores ou amarelas que se
apresentam em grupos e aglomerados. Estes cristais são solúveis a temperatura de 60ºc e são
solúveis também em ácido acético. Entretanto, patologicamente falando, a presença destes cristais
na urina não apresenta uma importância clínica.
7. CRISTAIS NORMAIS DE URINA ALCALINA
Figura 21: Cristais de Biurato de Amônio. São cristais que possuem cores que variadas entre
amarelo e marrom e são observados na urina ácida. São comumente descritos como “maçãs
espinhosas” por causa de sua aparência que é redonda/esférica e cobertas de espículas. Exceto
pela sua ocorrência na urina alcalina, os cristais de biurato de amônio assemelham-se a outros
uratos, pois se dissolvem a 60°C e viram cristais de ácido úrico quando é adicionado ácido
acético glacial. Cristais de biurato de amônio são quase sempre encontrados em amostras
antigas/velhas e podem estar associados à presença de amônia produzida por bactérias que
decompõem a ureia.
7.2 Cristais De Carbonato De Cálcio
Figura 22: Cristais de Carbonato de Cálcio. Os cristais de carbonato de cálcio são pequenos e
incolores, com formato esférico, parecendo bolinhas de pérolas. Podem ocorrer em aglomerados
que lembram urato amorfo, mas podem ser distinguidos pela formação de gás que ocorre após a
adição de ácido acético. Eles também são birrefringentes, o que os diferencia das bactérias.
Cristais de carbonato de cálcio não têm significado clínico ou patológico e se dissolvem em ácido
acético formando dióxido de carbono.
7.3 Cristais De Fosfato Amorfo
Figura 23: Cristais de Fosfato Amorfo. Os fosfatos representam a maioria dos cristais vistos em
urina. Os fosfatos amorfos têm aparência granular, semelhante aos uratos amorfos. Quando estão
presentes em grandes quantidades após a refrigeração da amostra, eles causam um precipitado
branco que não se dissolve no calor. Eles podem ser diferenciados dos uratos amorfos pela cor do
sedimento e pH da urina. Além disso, o fosfato amorfo não possui significado clínico ou
patológico.
7.4 Cristais De Fosfato De Cálcio
Figura 24: Cristais de Fosfato de Cálcio. Cristais de fosfato de cálcio são prismas longos, finos e
incolores, aparecem formando rosetas ou estrelas e não são encontrados tão frequentemente na
urina. Estes cristais também podem formar placas granulares grandes, finas e irregulares que
ficam flutuando na superfície da urina. Os cristais de fosfato de cálcio são solúveis em ácido
acético diluído. Este tipo de cristal não possui um significado clínico, entretanto é importante
lembrar que o fosfato de cálcio em si é um constituinte comum dos cálculos renais.
7.5 Cristais De Fosfato Triplo
Figura 25: Cristais de Fosfato Triplo. Cristais de fosfato triplo são comumente vistos na urina
alcalina. São facilmente identificados pelo seu formato prismático que se assemelha a uma
“tampa de caixão”. Ao longo da desintegração destes cristais, eles podem desenvolver uma
aparência de penas ou samambaias. Estes cristais são birrefringentes sob a luz polarizada e não
possuem um significado clínico. São observadas normalmente em urina altamente alcalina que
está associada à presença de bactérias que decompõem a ureia.
8. BACTÉRIAS
As bactérias normalmente não devem ser presentes na urina. Porém, a menos que as amostras
sejam coletadas em situações estéreis, algumas bactérias podem sim estar presentes por causa
da contaminação vaginal, uretral, da genitália externa ou do próprio recipiente de coleta. Estas
bactérias multiplicam-se muito rapidamente em amostras que ficam em temperaturas
ambientes durante longos períodos, porém apesar disso não representam um significado
clínico. A presença de bactérias pode gerar um resultado positivo no teste de nitrito e pode
também resultar em um ph acima de 8.
Estas bactérias podem estar presente na forma de cocos (esferas) ou bacilos (bastonetes).
Normalmente são relatados como poucos, moderados ou muito por campo. Para que essas
bactérias sejam consideradas significativas, elas devem vir acompanhadas de leucócitos, e
normalmente indica uma infecção do trato urinário. As bactérias mais frequentemente
associadas a infecções do trato urinário são as Enterobacteriaceae (Gram-negativos), porém o
Staphylococcus em forma de cocos e Enterococcus também podem levar ao quadro de
infecção.
Figura 28: Células Epiteliais Escamosas. São as maiores células encontradas no sedimento
urinário. Possuem um citoplasma abundante de borda irregular e com núcleo de tamanho
aproximado a um eritrócito. As células epiteliais escamosas são relatadas como raras, poucas,
moderadas ou muitas em laudos. São formadas no revestimento da vagina e da uretra feminina e
da porção inferior da uretra masculina. Sua presença indica uma descamação celular normal e não
possui um significado patológico.
9.2 Células Epiteliais De Transição
Figura 29: Células Epiteliais de Transição. As células epiteliais de transição são menores que as
células escamosas e podem aparecer de diversas formas como esféricas, poliédricas e caudadas.
Todas as formas possuem núcleos distintos e localizados no centro da célula. As células de
transição são identificadas e contadas usando ampliação de alta potência. Assim como as células
escamosas, geralmente são relatadas como raras, poucas, moderadas ou muitas, seguindo o
protocolo laboratorial. As células epiteliais de transição formam e vem do revestimento da pelve
renal, cálices, ureteres e bexiga, e da porção superior da uretra masculina. Geralmente estão
presentes em pequenos números na urina normal, e representam uma descamação celular normal.
9.3 Células Epiteliais Do Túbulo Renal
Figura 30: Célula Epitelial Tubular Renal. As células epiteliais tubular renal variam de tamanho
e de forma dependendo da área onde se formaram nos túbulos renais. As células do túbulo
contorcido proximal são maiores que outras células do túbulo renal. As células do túbulo
contorcido distal são menores que as do túbulo contorcido proximal e são redondas ou ovais,
diferente das células do túbulo contorcido proximal que são retangulares. Eles podem ser
confundidos com leucócitos e células epiteliais de transição em formas esféricas.
As células epiteliais tubular renal devem ser identificadas e enumeradas usando ampliação de alta
potência. Dependendo do protocolo do laborátorio, eles podem ser relatados como raros, poucos,
moderados ou muitos, ou como o número real por campo de grande aumento. A presença de mais
de duas células por campo de grande aumento indica lesão tubular, e as amostras devem ser
encaminhadas para exame citológico da urina.
Estas células são as células epiteliais mais clinicamente significativas. A presença de quantidades
aumentadas é indicativa de necrose dos túbulos renais. As células também podem ser vistas como
efeitos secundários de doenças glomerulares.
10. HEMÁCIAS/ERITRÓCITOS
Figura 31: Células de Hemácias. Na urina, as hemácias também conhecidas como eritrócitos
aparecem em formato semelhantes a discos, lisos e sem núcleos, medindo aproximadamente 7
mm de diâmetro. Eles devem ser identificados usando objetiva de alta potência (40x – ampliação
de 400x). Quando aparecem na urina concentrada (hiperstenúrica), as células encolhem devido à
perda de água e podem aparecer com formato irregular. Já na urina diluída (hipostenúria), as
células absorvem água e incham rapidamente, liberando sua hemoglobina e deixando apenas a
membrana celular. Estas grandes células vazias possuem o nome de células fantasmas e podem
facilmente passar de forma despercebida se as amostras não forem examinadas sob luz reduzida.
De todos os elementos presentes no sedimento urinário, os eritrócitos são os mais difíceis de
serem reconhecidos pelos estudantes, por causa da falta de estruturas características dos
eritrócitos, variações de tamanho e grande semelhança com outros constituintes do sedimento
urinário. As hemácias são frequentemente confundidas com células de levedura, gotículas de óleo
e bolhas de ar.
Os eritrócitos que variam em tamanho, apresentam saliências celulares ou estão e têm sido
associados principalmente ao sangramento glomerular. A presença de hemácias na urina está
associada a danos na membrana glomerular ou lesão vascular no trato geniturinário. O número de
células presentes indica a extensão do dano ou lesão. A possibilidade de contaminação por causa
da menstruação também deve ser levada em conta nas amostras de pacientes do sexo feminino.
11. LEUCÓCITOS/PIÓCITOS
Os neutrófilos que são expostos à urina hipotônica absorvem água e incham. O movimento
browniano dos grânulos dentro dessas células maiores produz uma aparência brilhante e são
chamados de "células brilhantes". Quando coradas com coloração de Sternheimer-Malbin, essas
células grandes ficam coradas em azul claro. As células brilhantes não apresentam um significado
patológico.
Figura 33: Leveduras. As células de levedura aparecem na urina como pequenas estruturas ovais.
Em infecções mais graves, podem surgir como formas miceliais ramificadas. As células de
levedura são relatadas como raras, poucas, moderadas ou muitas nos laudos clínicos. A
diferenciação entre células de levedura e hemácias pode às vezes ser difícil. Células de levedura,
principalmente de Candida albicans, são observadas na urina de pacientes diabéticos, pacientes
imunocomprometidos e mulheres com o quadro de monilíase vaginal. A urina ácida e contendo
glicose de pacientes com diabetes fornece um meio ideal para o crescimento das leveduras. Isso
também acontece com as bactérias, uma pequena quantidade de levedura que entra numa amostra
como contaminante multiplica-se rapidamente se a amostra não for examinada enquanto fresca.
Quando há uma verdadeira infecção por fungos, na amostra deve ser observada também a
presença de leucócitos.
13. MUCO
Figura 34: Muco. O muco é um material proteico que é produzido pelas glândulas e células
epiteliais do trato geniturinário inferior. Uma análise imunológica mostra que a uromodulina é o
principal constituinte do muco encontrada nas urinas. A uromodulina é uma glicoproteína
excretada pelas células epiteliais dos túbulos contorcidos distais e dos ductos coletores superiores.
O muco aparece microscopicamente como estruturas semelhantes a fios com um baixo índice de
refração. A luz suave é necessária ao usar microscopia de campo claro. Deve-se tomar um grande
cuidado para não confundir aglomerados de muco com cilindros hialinos. A diferenciação entre
eles pode ser feita observando-se o aspecto irregular que os fios mucosos apresentam. Os fios de
muco são relatados como raros, poucos, moderados ou muitos em laudos clínicos. O muco é
encontrado com mais frequência em amostras de urina de pacientes do sexo feminino. Não possui
um significado clínico quando presente na urina feminina ou masculina.
14. ESPERMATOZOIDES
Um teste de tira reagente positivo para proteínas pode ser observado quando quantidades
aumentadas de sêmen estão presentes. Os protocolos laboratoriais variam em relação à
notificação ou não da presença de espermatozoides em uma amostra de urina. Os laboratórios que
não relatam sua presença citam a falta de significado clínico e possíveis consequências legais. Os
laboratórios que apoiam a notificação de espermatozoides citam o possível significado clínico e a
possibilidade mínima de consequências legais.
15. CONCLUSÃO
Levando em conta todas as informações dadas nos capítulos 3 à 14, torna-se possível
verificarmos a importância do exame de sedimentoscopia realizado na urina e das estruturas
que podemos encontrar durante o exame afim de evitar e tratar possíveis doenças, infecções e
lesões relacionadas ao trato urinário.
Que este atlas sirva como uma fonte inspiradora de aprendizado e uma referência
confiável para aqueles dedicados ao estudo da sedimentoscopia da urina, impulsionando
avanços significativos na compreensão e gestão das condições clínicas associadas.
16. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
POLONI, J. A. T.; SALDANHA, E.; ABREU, J. Mini Atlas Urinálise. Disponível em:
<https://controllab.com/wp-content/uploads/Mini-Atlas-Sedimento-Urinario.pdf>. Acesso
em: 24 out. 2023.
Table: Cilindros urinários - Manuais MSD edição para profissionais. Disponível em:
<https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/multimedia/table/cilindros-urinários>.
Acesso em: 24 out. 2023.