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ENGAGEMENT NO
Introdução
TRABALHO E NOVOS
Para enfrentar adequadamente estas alterações temos sido progressivamente con-
frontados com fortes solicitações para perspetivar e empreender mudanças, por
vezes radicais, nas lógicas que privilegiamos e nas práticas que mobilizamos nas
intervenções no domínio da gestão de pessoas (GP). Neste enquadramento dos de-
DESAFIOS À GESTÃO safios à GP e das respostas que se podem equacionar, assumimos como finalidade
deste artigo refletir com os gestores e líderes das empresas formas alternativas de
concetualizar e implementar a gestão e dinamização das pessoas e das equipas que
DE PESSOAS NO
têm sob sua responsabilidade. Na sua concretização daremos particular ênfase ao
engagement no trabalho, dada a relevância deste conceito para a efetividade do
funcionamento organizacional, como ilustraremos no ponto 3.1..
Esta reflexão configura-se como particularmente relevante na indústria da fundição,
ATUAL CONTEXTO
aparentemente confrontada com dificuldades significativas para atrair e reter talen-
tos qualificados que lhe permitam fazer face aos dinamismos do seu mercado e às
transformações tecnológicas que lhe estão inerentes.
Para estruturar esta reflexão, no ponto 2, identificarmos tendências determinantes
DOS SISTEMAS de transformações que têm vindo a ocorrer em sistemas produtivos e as inerentes
consequências para a GP. No ponto 3, caraterizamos os desafios que decorrem para
as formas de perspetivar e de concretizar a GP, promovendo a adesão e o engage-
PRODUTIVOS
ment dos trabalhadores adequadamente articulados nos projetos e estratégias orga-
nizacionais, operacionalizados na sua missão, visão e valores.
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O conceito de engagement, tal como acontece com outros termos, não possui uma tradução con-
sensual para a língua portuguesa, pelo que optamos por manter a designação original. A tradução
portuguesa poderia ser “comprometimento” ou, mais corretamente, “engajamento”.
24 REVISTA FUNDIçÃO | Publicação trimestral | Nº 286 | setembro 2018 Contribuições técnicas 25
Destas alterações organizacionais resultam significativas consequências que se Promoção do engagement no trabalho
configuram em diferentes exigências e novos desafios para a gestão de pessoas e
do capital humano, sendo que algumas destas mudanças podem ser caraterizadas O engagement no trabalho pode ser definido como um estado mental positivo rela-
como violentas, dada a rapidez, profundidade e extensão das transformações que cionado com o trabalho. Carateriza-se pela presença de três dimensões nos indiví-
induzem. duos que o vivenciam:
Para ilustrar algumas destas tendências, salientamos a necessidade de:
• Dedicação: trabalho percecionado como significativo, entusiasmante, inspi-
• Garantir o alinhamento das políticas e das práticas da GP com as exigências rador e fonte de orgulho;
das opções da estratégia global das organizações; • Vigor: mobilização de níveis altos de energia e resiliência no trabalho;
• Promover culturas organizacionais mais inclusivas, colaborativas e equitativas; • Absorção: grande concentração no trabalho, perdendo-se a noção do tem-
• (Re)organizar alguns processos, como a gestão da performance dos colabo- po despendido. [5].
radores [2];
• Solicitar maior protagonismo às chefias diretas e intermédias na promoção A literatura científica tem evidenciado correlações positivas entre o engagement dos
do comprometimento e desenvolvimento das pessoas que gerem. colaboradores e algumas dimensões fundamentais para o bom funcionamento das
organizações, nomeadamente através de indicadores que se constatam quando os
Desafios do engagement no trabalho e do alinhamento estratégico da trabalhadores estão ativamente comprometidos com o seu trabalho:
gestão de pessoas
• Alto desempenho dos indivíduos e das equipas;
Construção de alinhamentos estratégicos • Elevados níveis de produtividade;
• Redução das taxas de turnover;
A gestão de pessoas (GP) numa perspetiva estratégica envolve uma estreita ligação • Elevados índices de segurança e bem-estar dos trabalhadores;
com as especificidades e finalidades do negócio. Concretiza-se através de interven- • Elevada qualidade dos produtos e da satisfação de clientes;
ções sistemáticas visando a atração, identificação, desenvolvimento, retenção e mo- • Elevada rentabilidade das empresas e dos seus resultados nos planos eco-
bilização de pessoas com qualificações e envolvimento que possibilite acrescentar nómico-financeiro [6] e [7].
valor na concretização das opções estratégicas das organizações [3] e [4].
Nesta perspetiva, as pessoas são consideradas como fonte de vantagem competitiva Neste enquadramento a prestigiada Harvard Business Review [7] salienta a impor-
[3] e [4]. Esta capacidade distintiva do capital humano é possibilitada pelas suas com- tância de gestores e líderes empresariais considerarem o engagement dos seus cola-
petências e pelo seu comprometimento, que se operacionalizam através da mobili- boradores como uma prioridade. Devem ter clara consciência de que numa econo-
zação de altos desempenhos em atividades críticas para a concretização do negócio mia em rápida transformação uma força de trabalho de alto desempenho é essencial
e pelo seu elevado potencial para evoluir em trajetórias profissionais futuras mais para o crescimento e sustentabilidade das organizações. Consequentemente, devem
exigentes e de maior complexidade. reconhecer que uma força de trabalho ativamente comprometida pode mais con-
Podemos assumir que nesta perspetiva estratégica, gerir pessoas solicita aos ges- sistentemente promover a inovação, a produtividade e desempenho e, desta forma
tores e líderes, particularmente os que nas empresas desempenham funções ope- poder, reduzir custos relacionados com a necessidade de contratar talentos em mer-
racionais na interface direta com as pessoas e as equipas, o desenvolvimento uma cados altamente competitivos, devido à sua escassez.
competência crítica: construir alinhamentos estratégicos. Esta competência adequa- Tal como referimos no ponto anterior a propósito da construção de alinhamentos, a
damente mobilizada potencia a compatibilização dos interesses e da ação dos in- promoção do engagement é uma competência crítica de gestores e líderes que quoti-
divíduos e das equipas com as finalidades e opções estratégicas das organizações. dianamente se confrontam com a gestão operacional das pessoas e das equipas no
Na transposição prática desta competência de promoção de alinhamentos podem terreno/chão de fábrica. A eficácia da sua intervenção fica potenciada se pautarem a
surgir obstáculos resultantes de um conjunto de disfunções, como as que se ilus- sua intervenção adotando os comportamentos caraterizados no destaque 2.
tram no destaque 1, que devem ser adequadamente diagnosticados e geridos.
Em jeito de conclusão e para perspetivar uma visão global e integrada das exigências
que as transformações nas organizações fazem ao papel dos gestores e líderes na
gestão de pessoas nas empresas atuais, apresentamos no destaque 4 as competên-
cias dos gestores que a Google valoriza, salientando que quase todas se relacionam
diretamente com a gestão de pessoas.