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Moda e Género

A importância da relevância e a atualidade do tema

Nos últimos dois séculos, as definições de género estão a tornar-se cada vez mais vagas,
refletindo a incerteza cultural que envolve os papéis masculino e feminino. Esses papéis
fornecem a cada um a identidade de género que é uma construção social não determinada
apenas pelo sexo biológico. As qualificações masculinas ou femininas estereotipadas não são
características de personalidade de homens e mulheres, mas representações de género
socialmente construídas, com base no que a sociedade espera de cada sexo.

A moda, por exemplo, sempre exerceu um papel relevante frente à sociedade, capaz de
expressar as mais singulares identidades, sendo um forte agente de comunicação social, que vai
introduzindo constantemente novos padrões estéticos.

O género diferencia socialmente as pessoas, é a construção social atribuída ao sexo que tem em
conta os padrões histórico-culturais atribuídos aos homens e mulheres. É algo que pode
serconstruído e desconstruído, podendo ser entendido como algo mutável e não limitado.

O género é uma dimensão central da vida pessoal, das relações sociais e da cultura. É um campo
de batalha no qual enfrenta-se questões práticas difíceis no que diz respeito à injustiça, à
identidade e até a sobrevivência.

Ann Oakley (1972) foi uma das primeiras cientistas sociais a distinguir o conceito de género a
partir do conceito de sexo. De acordo com Oakley, o género é paralelo à divisão biológica do
sexo masculino e feminino, mas envolve a divisão e a valorização social da masculinidade e da
feminilidade.

A sociedade tem regras tácitas sobre códigos de vestuário associados ao género. Muitos
dosestereótipos de género nem sempre estiveram presentes no passado, são
tendênciasrelativamente novas na sociedade. Ao longo do tempo as expectativas sociais de cada
género foram modificadas e geralmente exprimem-se de maneira diferente devido aos padrões
históricoculturais ao redor do mundo. Boboltz (2014), afirmou que ao longo dos anos os vários
estereótipos de género comuns mudaram e que nem sempre o cor-de-rosa foi uma cor associada
às meninas e o azul associado aos meninos. Explica que entre os anos de 1918 e 1940, o cor-de-
rosa era considerada uma cor masculina, enquanto que azul era visto como uma cor delicada e
suave mais indicada para as meninas. A autora afirma ainda que, na Europa durante a Idade
Média, os sapatos de salto alto eram exclusivamente para homens e não para mulheres, pois
eram vistos como um “sinal de masculinidade”. Há alguns séculos atrás, os atributos que as
pessoas conectavam com as categorias de género considerados “mais tradicionais” eram
bastante diferentes e, atualmente não podem ser usados como uma base confiável para
estabelecer os papeis da sociedade nos dias de hoje.

Atualmente, os papéis de género são frequentemente discutidos em termos da orientação


dogénero de um indivíduo, que é tipicamente descrita como tradicional ou não tradicional. Uma
orientação tradicional de papéis de género enfatiza as diferenças entre homens e mulheres e
assume que cada sexo tem uma afinidade natural com comportamentos particulares. Aqueles
que mantêm uma orientação tradicional de papéis de género provavelmente serão influenciados
pelas regras e rituais das gerações que vieram antes, como por exemplo os pais e avós. Os seres
humanos com orientações de papéis de género não tradicionais são mais propensos a
acreditarque o comportamento de um indivíduo não é, ou não deve ser, determinado apenas pelo
seu sexo.
Ponto de situação sobre o tema no contexto internacional e nacional

Ao longo dos tempos, a moda sempre foi uma forma de autoexpressão e identidade. Embora
existam vários aspetos que influenciam o estilo pessoal, como a idade, a etnia e a classe, ao
longo do tempo os mais influentes foram o género e sexualidade. A moda unissexo refere-se a
roupas projetadas para serem adequadas para ambos os sexos e a um estilo em que homens e
mulheres se parecem e se vestem de maneira semelhante, em que a sua sexualidade é
indistinguível.
O surgimento desta “tendência” unissexo causou impacto na indústria design ao manchar
asnormas de género. Designers internacionais estão a escolher priorizar a autoexpressão ao
invés género em designs recentes, onde as divisões sexuais são contornadas.
A moda tem presente em si um sentimento de mudança, a competição social é um dos maiores
elementos causadores desta mesma mudança, é isto que leva as pessoas a gastarem tempo e
acima de tudo dinheiro, numa peça de roupa que, em pouco tempo ficará fora de moda. Sabe-se
que a moda significa status social, e dentro disso existem vários fatores que geram uma
competição constante. Segundo Crane, as roupas são como artefactos, e permitem que as
pessoas afirmem as identidades sociais. “A variedade de opções de estilos de vida disponíveis
na sociedade contemporânea liberta o individuo da tradição e lhe permite fazer escolhas que
criem uma autoidentidade significativa”.

Por muito que os outfits se relacionem diretamente com a identidade de cada um, está patente a
existência de uma regra limitativa da construção do visual, relacionada com as políticas de
género fundadas nas leis biológicas dos seres humanos, sendo este o ponto de partida para o
fortalecimento de questões de identidade de género. O vestuário pode ou não exprimir uma
identidade de género, mas também pode ser vista como uma capa social do ser humano
Relativamente à evolução da moda, esta é uma constante, contando com inúmeras fases
diferentes ao longo dos tempos. A moda nasce na Idade Média, devido à constante renovação de
formas por parte das altas sociedades, o que dava lugar à fantasia e exageros.
Na época do renascimento, com a expansão das cidades e a organização da vida das cortes surge
o desejo, por parte da burguesia de imitar a nobreza. Por sua vez, a nobreza de forma a tentar
diferenciar-se criava leis que impediam a disseminação dos seus trajes. Desta forma, aparece o
carater estratificador da moda, uma vez que a nobreza procurava constantemente criar algo
diferente. Durante séculos, a forma de vestir da mulher esteve diretamente relacionada com o
estatuto social do seu marido. Desta forma, quanto mais elegantes as roupas, maior a condição
social.
No século XIX, por exemplo, as roupas femininas tinham bastantes elementos de controlo
social, demonstrando o papel restritivo atribuído à mulher na época. Depois de muito tempo
restritas ao domínio dos homens, os acontecimentos acabaram por ser determinantes na
necessidade de uma maior liberdade para as mulheres, cuja mudança, sob análise sócio
histórico, esteve diretamente ligada à moda. A independência feminina foi resultado de uma
situação de necessidade, visto que, ocorreu no período entre guerras, quando os homens eram
enviados para batalhas e assim, as mulheres passaram a assumir papeis até então
declaradamente masculinos, como trabalhar e conduzir por exemplo.
É neste período que surge um dos maiores nomes da história da moda, elemento ativo da
mudança, no que diz respeito à independência feminina, introduzindo uma liberdade para o
vestuário feminino: Coco Chanel. É considerada uma das caras da mudança, incentivando,
libertando a mulher do típico espartilho e introduzindo, por exemplo a calça em coleções
femininas. Em meados de 1920, Coco Chanel, apresenta na sua coleção elementos masculinos e,
desde então começou a desfilar e usar calças largas e camisas de botões.
A luta das mulheres pelos seus direitos traduziu-se na moda, sendo vista como um elemento de
empoderamento e liberdade, bem como um agente social da evolução. A emancipação da
mulher trouxe também consigo o visual andrógeno, devido à semelhança das vestimentas
femininas e masculinas. Neste período, mesmo havendo uma entrada nos guarda roupas
femininos de elementos masculinos, por muito que fossem símbolo de empoderamento, a
mulher tinha uma necessidade de não ser confundida com o homem, procurando apoio na
maquilhagem para se tornarem mais femininas.
Em 1960 o cabelo comprido já́ não estava associado a nenhum género e uma minoria de pessoas
mostrou interesse em voltar a aproximar os dois géneros novamente. Nessa época surge o
movimento hippie nos Estados Unidos e ouve-se falar pela primeira vez no conceito unissexo.
Durante vários séculos o guarda-roupa ocidental foi se adaptando aos papéis que os homens e a
mulheres desempenhavam dentro da sociedade, sendo por isso o género uma questão pertinente.
Se no século XX, a mulher reclamou o seu direito em vestir uma série de coisas diferentes e a
sua liberdade, no século XXI a humanidade parece caminhar em direção a um futuro em que
todos vestimos o mesmo sem distinção de género
As culturas começam a alterar a sua visão sobre o género e esta mudança torna-se cada vez mais
notória tanto nos discursos como nas coleções que são transportadas das passarelas para os
retalhistas, culminando no consumidor final.

Bibliografia
Ribeiro, G. F. (2022). Moda Sem Género. Minho.
Ribeiro, I. (15 de maio de 2021). Steal The Look. Fonte: https://stealthelook.com.br/precisamos-
falar-sobre-moda-sem-genero/

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