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21/02/2024, 08:20 Metodologia do Trabalho Acadêmico

1 CONHECIMENTO COMUM, CONHECIMENTO


TEOLÓGICO E CONHECIMENTO FILOSÓFICO

Primeiramente, tratemos de entender o que vem a ser conhecimento e sua


importância. Podemos dizer que conhecer é ter noção de algo. Assim, o conhecimento
tem início com a informação sobre determinado assunto ou situação. Podemos dizer
também que o conhecimento se inicia pelo vivenciar, pela curiosidade. Ele tem origem,
desse modo, na curiosidade, na vontade de ir além do que se sabe, do que se está
vendo ou daquilo com o que se está tomando contato. Trata-se de desvendar, decifrar,
decodificar. Segundo Matallo Jr. (2000, p. 13),

a preocupação com o conhecimento não é nova. Praticamente


todos os povos da Antiguidade desenvolveram formas diversas
de saber. Entre os egípcios a trigonometria, entre os romanos a
hidráulica, entre os gregos a geometria, a mecânica, a lógica, a
astronomia e a acústica, entre os indianos e muçulmanos a
matemática e a astronomia, e entre todos se consolidou um
conhecimento ligado à fabricação de artefatos de guerra. As
imposições derivadas das necessidades práticas da existência
foram sempre a força propulsora da busca dessas formas de
saber.

O conhecimento começa a ser obtido a partir da leitura, da convivência com


amigos, da escola e dos grupos sociais dos quais fazemos parte. A observação, os
sentidos, o raciocínio, a tradição e, por que não dizer, a família também são fontes de
conhecimento. Nossas relações sociais são ainda uma excelente fonte de informação
(por exemplo, o convívio familiar, afetivo, nas relações de trabalho, nos bancos
escolares, nos bate-papos informais com amigos).

Figura 1 – A leitura é uma das principais fontes de conhecimento. Permite conhecer diversos assuntos e ter
contato com diferentes linguagens. Livros, revistas, jornais, pôsteres, fôlderes – qualquer tipo de mídia
impressa e não impressa – possibilitam o acesso a miríades de informações inimagináveis

Todas essas opções podem ser consideradas fontes de conhecimento e estão



associadas a diferentes formas de pensar, agir e explorar ideias e assuntos.
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No entanto, fica a dúvida: ⦿

Veremos agora, portanto, as características do conhecimento comum, do


conhecimento filosófico e do conhecimento teológico.

1.1 Conhecimento comum

De acordo com Santos (1989), o conhecimento comum é elaborado a partir das


nossas opiniões e daquilo que os nossos sentidos captam, não estando sujeito a
qualquer tipo de crítica ou verificação. Quando alguém diz: “Acho que vai chover”, não
há nesse enunciado qualquer força de verdade, qualquer compromisso com a verdade.
Quando alguém diz: “Aquela estrada parece perigosa”, tampouco há nessa fala
qualquer indício de certeza; aliás, o que é perigoso para mim, pode não sê-lo para
outra pessoa. Em contrapartida, a ciência busca romper com o distanciamento entre o
que é dito e a realidade à qual o dito se refere. Como afirma Santos (1989, p. 35), “o
abandono dos conhecimentos do senso comum é um sacrifício difícil. A observação
científica é sempre uma observação polêmica e, por isso, a teoria [é construída] contra
um conhecimento anterior”.

Vejamos: para desconstruir a afirmação “Acho que vai chover”, um cientista pode
apresentar o histórico de precipitações pluviais nos últimos dias, ou no mesmo período
em anos passados; caso os dados mostrem uma probabilidade grande de ocorrência
de chuva, ele poderá dizer: “Há X% de probabilidade de chover no dia de hoje”, ou “Há
Y% de probabilidade de não chover no dia de hoje”. É possível perceber, portanto, a
diferença entre afirmar que vai chover e prever chuva dentro de determinados
parâmetros de probabilidade: a primeira afirmação é usual no contexto do senso
comum; a segunda, no contexto do mundo científico.

Podemos realizar o mesmo procedimento em relação ao enunciado sobre o perigo


da estrada. Um cientista partiria, inicialmente, da definição de perigo: o que representa
perigo na estrada? Número de acidentes fatais? Número de desabamentos? Em
qualquer dos dois casos, bastariam os dados de ocorrência de acidentes na estrada
para confirmar ou negar a afirmação realizada no âmbito do senso comum. Aliás, essa
afirmação poderia ser negada se associássemos perigo a outra variável: teríamos então
uma situação em que, caso perigo fosse representado por número de acidentes fatais,
seria possível afirmarmos ser a estrada perigosa; caso perigo significasse número de
curvas acentuadas, poderíamos negar ser a estrada perigosa. Marconi e Lakatos (2003,
p. 76) confirmam essa abordagem com outro exemplo:


Saber que determinada planta necessita de uma quantidade X
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de água e que, se não a receber de forma “natural”, deverá ser
irrigada pode ser um conhecimento verdadeiro e comprovável,

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mas nem por isso científico. Para que isso ocorra, é necessário ir
mais além: conhecer a natureza dos vegetais, sua composição,
seu ciclo de desenvolvimento e as particularidades que
distinguem uma espécie de outra.

Figura 2

OBSERVAÇÃO

Segundo Santos (2008), o senso comum é, essencialmente, um saber prático, que é


gerado no fazer e que necessita ser pragmático. Ele serve para que possamos dar
sentido às situações que nos são apresentadas a todo momento e agir diante delas.
Assim, ele resulta das experiências da comunidade – ou dos grupos sociais –, que lhe
dão corpo e significado. Europeus e brasileiros têm opiniões diferentes a respeito da
educação dos filhos. No Brasil, os hábitos e costumes diferem de estado para estado,
de cidade para cidade. Em consequência, o senso comum não é universal, e depende
das condições sociais e históricas de cada grupo social.

O senso comum é superficial. É a consciência diante dos objetos da natureza que


faz com que ele seja constituído. O senso comum não se preocupa em teorizar ou
apresentar provas que o ratifiquem. Agimos no dia a dia sem qualquer compromisso
com a teoria, apenas guiados pelos nossos instintos e por esse saber prático que nos
diz o que fazer e como fazer. Assim, o senso comum não é resultado de qualquer
procedimento sistemático ou metódico. Santos (2008, p. 90) afirma:

O senso comum é indisciplinar e imetódico; não resulta de uma


prática especificamente orientada para o produzir; reproduz-se
espontaneamente no suceder quotidiano da vida. O senso
comum aceita o que existe tal como existe; privilegia a ação que
não produza rupturas significativas no real.


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Ao afirmar que o senso comum é produzido e reproduzido espontaneamente,


Santos está dizendo que esse é um saber que não é produzido de modo intencional.
Quando receitamos determinado chá para alguém que está resfriado, de forma alguma
o fazemos com base em evidências empíricas, tampouco por termos a intenção de
testar se esse chá tem algum efeito curativo. Sugerimos o chá por acreditarmos que
essa é uma atitude correta, não nos interessando, de maneira nenhuma, excluir algum
tratamento medicamentoso. Não temos qualquer intenção de convencer alguém a
fazer o mesmo em situações similares; aliás, nem sequer podemos provar qualquer
efeito benéfico do chá. Tampouco pretendemos afirmar que a ingestão do chá pode
gerar melhores resultados do que a ingestão de um medicamento à base de
paracetamol.

Senso comum ⦿

Parece razoável, então, considerarmos o que Marconi e Lakatos (2003, p. 76)


propõem com base em Mario Bunge (1919), físico argentino:

Se excluímos o conhecimento mítico (raios e trovões como


manifestações de desagrado da divindade pelos
comportamentos individuais ou sociais), verificamos que tanto o
“bom senso” quanto a ciência almejam ser racionais e objetivos:
“são críticos e aspiram à coerência (racionalidade) e procuram
adaptar-se aos fatos em vez de permitir-se especulações sem
controle (objetividade)”. Entretanto, o ideal de racionalidade,
compreendido como uma sistematização coerente de
enunciados fundamentados e passíveis de verificação, é obtido
muito mais por intermédio de teorias, que constituem o núcleo
da ciência, do que pelo conhecimento comum, entendido como
acumulação de partes ou “peças” de informação frouxamente
vinculadas. Por sua vez, o ideal de objetividade, isto é, a
construção de imagens da realidade, verdadeiras e impessoais,
não pode ser alcançado se não ultrapassar os estreitos limites da
vida cotidiana, assim como da experiência particular.

Exemplo de aplicação

Há muita controvérsia, tanto na comunidade científica quanto na civil, a respeito


das teorias sobre o aquecimento global. Alguns grupos dizem que não há qualquer
 evidência de aquecimento na temperatura do globo; ao contrário, afirmam existir sinais
de esfriamento. Os que acreditam na elevação da temperatura estão divididos em dois
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grupos. O primeiro diz que há aquecimento global, mas que a atividade humana não

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tem qualquer participação nesse processo; para estes, o efeito estufa seria um
fenômeno natural, que independeria da ação humana. O segundo diz que o
aquecimento global, um fenômeno natural, tem sido potencializado e intensificado
pela ação humana; para estes, são fundamentais ações que limitem a atividade
predatória sobre a natureza e que assegurem a sustentabilidade da vida no nosso
planeta.

Como há opiniões contrárias e inúmeros interesses políticos em jogo, a mídia, em


geral, emite sinais confusos a respeito do tema. O artigo “A Terra ‘quente’ na imprensa:
confiabilidade de notícias sobre aquecimento global”, de Celso Dal Ré Carneiro e João
Cláudio Toniolo (2012), analisa esse cenário. Com base nele, propomos uma pergunta:
quanto da opinião que você tem a respeito do aquecimento global pode ser ratificada
por explicações científicas?

Partindo do princípio de que há perceptível diferença entre as expressões “eu acho


que” e “eu sei que”, o conhecimento vulgar – comum ou popular – é aquele que as
pessoas adquirem em seu cotidiano, por meio de experiências vivenciadas ou da
simples observação de fenômenos do dia a dia. Por não ter preocupação com
explicações científicas, ou ditas corretas, o senso comum é, na maioria das situações,
limitado, incoerente e impreciso (MARTINS; THEÓPHILO, 2009), e está no nível da
opinião, pois esta pode ser emitida por qualquer sujeito a partir de informações
previamente armazenadas, tomadas de modo corriqueiro ou simplesmente pelo hábito
de emitir opiniões sem que haja argumentação passível de comprovação (MATALLO JR.,
2000). Assim,

o senso comum é um conjunto de informações não


sistematizadas que aprendemos por processos formais, informais
e, às vezes, inconscientes, e que inclui um conjunto de
valorações. São informações fragmentárias e podem incluir fatos
históricos verdadeiros, doutrinas religiosas, lendas ou partes
delas, princípios ideológicos às vezes conflitantes, informações
científicas popularizadas pelos meios de comunicação de massa,
bem como a experiência pessoal acumulada (MATALLO JR., 2000,
p. 18).

Caso não seja colocado a dialogar com o conhecimento científico, o senso comum
torna-se conservador. Se na ciência moderna o grande salto qualitativo do saber se dá
por meio da passagem do senso comum para o conhecimento científico, na ciência
pós-moderna o salto é outro: trata-se de transformar o conhecimento científico em

senso comum. “O conhecimento científico pós-moderno só se realiza enquanto tal na
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medida em que se converte em senso comum.” Em outras palavras, a ciência pós-
moderna, “ao sensocomunizar-se, não despreza o conhecimento que produz 
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tecnologia, mas entende que, tal como o conhecimento se deve traduzir em


autoconhecimento, o desenvolvimento tecnológico deve traduzir-se em sabedoria de
vida” (SANTOS, 2008, p. 90-91). No quadro a seguir, apresentamos as formas de
representação a partir das quais o senso comum se manifesta.

Quadro 1 – Principais características do conhecimento


comum e respectivas formas de representação

Característica Forma de representação

Valorativo e sensitivo Baseado em crenças, valores, emoções e hábitos.

Não pode ser tomado como verdadeiro nem


Reflexivo, não conclusivo
representa formulações gerais.

Visa à repetição de experiências, mas não à


Assistemático
sistematização de ideias no que concerne a validá-las.

Limita-se aos acontecimentos do cotidiano, ao que se


percebe no dia a dia, codificando objetos como
Verificável e qualitativo
grandes ou pequenos, doces ou azedos, pesados ou
leves, novos ou velhos, belos ou feios.

Conforma-se com a aparência e com o que se ouviu


Falível e inexato dizer a respeito do objeto. Não permite formular
hipóteses.

Conforma-se com a aparência, com aquilo que se


pode comprovar simplesmente estando junto das
Superficial
coisas (“porque vi”, “porque senti”, “porque disseram”,
“porque todo mundo diz”).

Fonte: Marconi e Lakatos (2003, p. 77).

Interatividade 1
Avalie as assertivas acerca do apresentado até então:

I. Atividades laborativas, ou mesmo de comunicação, necessitam de pensamento,


preparação, descrição e razão.

II. A observação é uma forma de obtenção de conhecimento.

III. A observação permite produzir conhecimento.


 É possível afirmar que está correta apenas:
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A I.

B I e II.

C I, II e III.

D II.

E II e III.

-      -
Confirmar

1.2 Conhecimento teológico e conhecimento


filosófico

O conhecimento humano desenvolveu-se a partir da investigação da natureza por


parte do homem, desejoso de interpretá-la, entendê-la e, quem sabe, dominá-la. Afinal,
o homem

não vive isolado. Vive no concreto, cercado pelas circunstâncias.


O ser irracional não reage diante da natureza, submete-se. O ser
racional coloca-se diante da natureza assumindo uma atitude de
reação. Por sua capacidade intelectual, alia-se ao que o rodeia e
cria coisas novas, lapida sua consciência, domina a natureza.
Vivendo dentro de uma realidade que o condiciona, o humano
se constrói. O que é aparentemente negativo traz riquezas. Por
interpretar o que o rodeia, o que lhe possibilita o crescimento, o
humano manipula as circunstâncias, transformando-as,
adaptando-as, modificando-as em vista do seu crescimento.
Assim, de produto do meio ele passa a ser o recriador da
natureza (BASTOS; KELLER, 2000, p. 54-55).

Com isso, percebe-se claramente certa interdependência entre o homem e a natureza, ⦿

O homem os utiliza dependendo daquilo que quer conhecer, ou conforme sua


percepção da realidade. Vejamos cada um deles.

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1.2.1 Conhecimento teológico

A teologia é o estudo da natureza do divino, dos atributos do divino e das relações


entre o homem e o divino. Em geral, está associada à cristandade, mas pode aplicar-se
a qualquer religião. Assim, podemos falar de uma teologia cristã da mesma forma que
de uma teologia judaica ou uma teologia budista. Segundo Stigar, Torres e Ruthes
(2014, p. 143),

a teologia problematiza o fenômeno religioso, analisa o caráter


histórico do tema da construção do humano – dos valores, do
sagrado e do discurso teológico – a partir de uma
fundamentação baseada nos referenciais teóricos do dogma e
da fé (vínculo do homem com o sagrado ou transcendente).

Nas universidades, e em alguns cursos, a teologia é dada como uma disciplina


acadêmica, vinculada ou não a outras disciplinas. Ela é parte fundamental dos cursos
de Filosofia e Ciências da Religião e, em geral, costuma provocar polêmicas,

por causa de seu tema, história, relação com outras disciplinas


sobre questões religiosas e por causa da natureza das
universidades que lhe dão suporte. A teologia acadêmica se
distingue de teologia em geral, principalmente por sua relação
com as várias disciplinas da academia.

OBSERVAÇÃO

Essas questões são levantadas por meio da relação com uma


gama de disciplinas acadêmicas (STIGAR; TORRES; RUTHES, 2014,
p. 144).

Do ponto de vista histórico, a teologia já foi chamada de metafísica, o que justifica


o fato de ela ser considerada também uma área da filosofia. Resultado da fé humana
na existência de forças sobrenaturais, consideradas criadoras do universo, o

conhecimento teológico, ou religioso, surge com as revelações do mistério, do oculto,
por alguma manifestação divina, sagrada.
1 / 8 Essas revelações são transmitidas por


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alguém, por uma tradição ou por escritos também tidos como sagrados (MARTINS;
THEÓPHILO, 2009), e que portanto devem ser adorados e obedecidos. Conforme Demo
(1985, p. 20),

quando na Bíblia se montou uma história da criação do mundo e


do surgimento do mal, não se pensou em fazer uma alegoria, um
conto interessante ou qualquer outra coisa, mas certamente em
dar uma explicação de como começou o mundo, o homem e o
mal.

OBSERVAÇÃO

Os teólogos partem do pressuposto de que há um ser divino que pode ser


estudado por meio das manifestações mentais, religiosas ou sociais que suas
representações provocam. O mundo, a natureza, os homens, o bem e o mal foram
criados por esse ser, e estudá-lo significa compreender os textos sagrados,
representados, no caso do cristianismo, pela Bíblia.

A teologia, embora possa questionar dados ou interpretações


comunicadas pela tradição, não questiona a tradição em si. Ela
admite, como premissa de sua reflexão, ser a tradição uma
doadora de sentido consistente. Isto é, a tradição representa
uma fonte com chance de ser verdadeira por remontar a um
conjunto coerente de testemunhas referenciais, por sua vez
conectadas a uma origem ontológica presumida (STIGAR;
TORRES; RUTHES, 2014, p. 142).

OBSERVAÇÃO


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Figura 3

LEMBRETE

De forma genérica, os teólogos estudam as manifestações religiosas a partir da


própria fé, ou seja, considerando a sua própria religião como parâmetro para entender
as outras. Ainda, o teólogo busca distanciar-se de toda e qualquer descrença pessoal
que tenha em relação à existência do divino ou à espiritualidade. Ao estudar a religião
à qual pertence ou ao estudar outras religiões, ele deve, portanto, assumir-se como
crente e como alguém que tem fé na criação do mundo por um ser superior, ser esse
que possui atributos divinos. Por isso, em muitas ocasiões, a teologia é associada ao
pensamento religioso ou à filosofia religiosa.

No entanto, há que diferenciar teologia e religião. Em outras palavras, distinguir o


pensamento teológico do religioso, e distinguir a teologia da ciência da religião. O
pensamento religioso diz respeito a uma religião específica. Em contrapartida, a ciência
da religião procura estudar a religião a partir do ponto de vista da ciência. Assim, para
empreender um estudo científico sobre a religião, não é requisito acreditar na
existência de um ser divino. Estudam-se quais motivos levam as pessoas a entender o
mundo a partir de determinados pressupostos religiosos.

1.2.2 Conhecimento filosófico

Antes do surgimento da filosofia, o ser humano, já em busca de explicações a


respeito do mundo que o cercava, interpretava a realidade a partir de elaborações
míticas, ou seja, elaborações mágicas que tinham força de verdade pela sistematicidade
com que eram utilizadas e pela autoridade das vozes que as declaravam. A repetição e

a memória estabeleciam os critérios de verdade, independentemente do quanto essa
narrativa aderia à realidade. O historiador1 /e8 antropólogo francês Jean-Pierre Vernant
(1914-2007), no livro O universo, os deuses, os homens, resgata parte da tradição mítica 
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que buscou compreender o mundo com base nas forças divinas e nas relações entre
essas forças. Como costumava fazer ao contar essas histórias aos seus netos, ele nos
traz uma interpretação da origem do mundo extremamente interessante a partir das
narrativas mitológicas gregas.

O universo, os deuses, os homens

O que havia quando ainda não havia coisa alguma, quando não
havia nada? A essa pergunta os gregos responderam com histórias e
mitos.

No início de tudo, o que primeiro existiu foi o Abismo: os gregos


dizem Kháos. O que é o Caos? É um vazio, um vazio escuro onde não se
distingue nada. Espaço de queda, vertigem e confusão, sem fim, sem
fundo. Somos apanhados por esse Abismo como por uma boca imensa
e aberta que tudo tragasse numa mesma noite indistinta. Portanto, na
origem há apenas esse Caos, abismo cego, noturno, ilimitado.

Depois apareceu Terra. Os gregos dizem Gaîa, Gaia. Foi no próprio


seio do Caos que surgiu a Terra. Portanto, nasceu depois de Caos e
representa, em certos aspectos, seu contrário. A Terra não é mais esse
espaço de queda escuro, ilimitado, indefinido. A Terra possui uma forma
distinta, separada, precisa. À confusão e à tenebrosa indistinção de Caos
opõem-se a nitidez, a firmeza e a estabilidade de Gaia. Na Terra tudo é
desenhado, tudo é visível e sólido. É possível definir Gaia como o lugar
onde os deuses, os homens e os bichos podem andar com segurança.
Ela é o chão do mundo. […]

Nascido do vasto Abismo, o mundo agora tem um chão. De um lado,


esse chão se eleva bem alto, na forma de montanhas; de outro, desce
bem baixo, na forma de subterrâneo. Essa subterra se prolonga
infinitamente, e assim, de certa forma, o que existe na base de Gaia, sob
o solo firme e sólido, é sempre o Abismo, o Caos. A Terra, que surgiu do
Abismo, liga-se a ele em suas profundezas. Esse Caos evoca para os
gregos uma espécie de névoa opaca onde todas as fronteiras perdem
nitidez. No mais profundo da Terra encontra-se esse aspecto caótico
original.

Embora a Terra seja bem visível, tenha uma forma recortada, e tudo o
que dela nascer também terá limites e fronteiras distintas, nem por isso

ela deixa de ser, em suas profundezas, semelhante ao Abismo. Ela é a
1/8
Terra negra. Os adjetivos que a definem nos relatos são similares aos
que se referem ao Abismo. A Terra negra se estende entre o baixo e o 
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alto; entre, de um lado, a escuridão e o enraizamento no Abismo,


representado em suas profundezas, e, de outro, as montanhas
encimadas de neve que ela projeta para o céu, montanhas luminosas
cujos picos mais altos atingem a zona celeste continuamente inundada
de luz.

A Terra constitui a base dessa morada que é o cosmo, mas não tem
só essa função. Ela engendra e alimenta todas as coisas, salvo certas
entidades […] [saídas do Caos]. Gaia é a mãe universal. Florestas,
montanhas, grutas subterrâneas, ondas do mar, vasto céu, é sempre de
Gaia, a Mãe-Terra, que eles nascem. Portanto, primeiro houve o Caos,
imensa boca em forma de abismo escuro, sem limites, mas que num
segundo tempo abriu-se para um chão sólido: a Terra. Esta se lança para
o alto e desce às profundezas.

[Por meio de Éros primordial a] Terra engendra um personagem


muito importante, Ouranós, Céu, e até mesmo Céu estrelado. Depois
traz ao mundo Póntos, isto é, a água, todas as águas, e mais exatamente
a Onda do Mar, palavra que em grego é masculina. Terra os concebe
sem se unir a ninguém. Pela força íntima que tem, Terra desenvolve o
que já estava dentro de si e que, ao sair dela, torna-se seu duplo e seu
contrário. Por quê? Porque produz um Céu estrelado igual a si mesma,
como uma réplica tão sólida, tão firme quanto ela, e do mesmo
tamanho. Então, Urano se deita sobre ela. Terra e Céu constituem dois
planos superpostos do universo, um chão e uma abóbada, um embaixo
e um em cima, que se cobrem completamente. […]

Assim, o mundo se constrói a partir de três entidades primordiais:


Kháos, Gaîa e Éros, e, em seguida, de duas entidades paridas por Terra:
Ouranós e Póntos. Elas são ao mesmo tempo forças naturais e
divindades. Gaia é a terra onde andamos, e ao mesmo tempo é uma
deusa. Ponto representa as ondas do mar e também constitui uma força
divina, à qual se pode prestar um culto. A partir daí surgem relatos de
outro tipo, histórias violentas e dramáticas.

Fonte: Vernant (2000, p. 17-18).

Para certa linhagem de historiadores, o nascimento da filosofia “significa


 descontinuidade ou ruptura integral com a religião e os mitos. […] A filosofia nasce
quando as velhas explicações míticas e religiosas
1/8 da realidade já não podiam explicar
coisa alguma”. Para outros historiadores, no entanto, haveria uma relação de 

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continuidade entre mitologia e filosofia. Segundo eles, a explicação para a


diferenciação entre esses dois contextos estaria não na distinção entre o campo
mitológico e o campo filosófico, mas na distinção entre teogonia, cosmogonia e
cosmologia:

Teogonia ⦿

Cosmogonia ⦿

Cosmologia ⦿

A ordem poderia ser apreendida por meio da razão e da inteligibilidade de um


princípio originário; em consequência, a filosofia “continuaria carregando dentro de si
as construções míticas, mas agora de forma laica ou secularizada” (CHAUI, 2009, p. 30-
37).

Independentemente das relações de continuidade ou ruptura com o pensamento


anterior, a filosofia nascente buscou diferenciar-se dos mitos teogônicos e
cosmogônicos que lhe haviam dado origem por meio da racionalidade e da busca de
respostas, provas e demonstrações. Dessa filosofia nasceu nossa ciência, e a versão
histórica hegemônica sobre o seu desenvolvimento tratou de manter afastados os
terrenos da racionalidade religiosa e/ou mística e os da racionalidade da ciência.

OBSERVAÇÃO

O conhecimento filosófico tem por origem a capacidade de reflexão do homem e,


por instrumento exclusivo, o raciocínio (MARTINS; THEÓPHILO, 2009). O estudo
filosófico, pelo emprego da lógica, tem por objetivo a ampliação dos limites de
compreensão da realidade, bem como o estabelecimento de uma concepção geral do
universo. Especulativo, utiliza-se de experiências, e não de experimentações. O olhar e a
interpretação da filosofia, predominantemente dedutivos, partem de ideias e relações
entre conceitos que não são redutíveis à realidade material (MARCONI; LAKATOS,
2003).

A filosofia nasceu no século IV a.C. já com a pretensão de se diferenciar do


 pensamento vulgar. Platão (428/427 a.C.-348/347 a.C.), filósofo e matemático da Grécia
antiga, havia proposto essa reflexão. Na obra A república, da qual destacamos um
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fragmento a seguir, Platão encena um diálogo entre Glauco e Sócrates.

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A república

Imagina, pois, homens que vivem em uma morada subterrânea em


forma de caverna. A entrada se abre para a luz em toda a largura da
fachada. Os homens estão no interior desde a infância, acorrentados
pelas pernas e pelo pescoço, de modo que não podem mudar de lugar
nem voltar a cabeça para ver algo que não esteja diante deles. A luz lhes
vem de um fogo que queima por trás deles, ao longe, no alto. Entre os
prisioneiros e o fogo, há um caminho que sobe. Imagina que esse
caminho é cortado por um pequeno muro, semelhante ao tapume que
os exibidores de marionetes dispõem entre eles e o público, acima do
qual manobram as marionetes e apresentam o espetáculo. […]

Então, ao longo desse pequeno muro, imagina homens que


carregam todo tipo de objetos fabricados, ultrapassando a altura do
muro; estátuas de homens, figuras de animais, de pedra, madeira ou
qualquer outro material. Provavelmente, entre os carregadores que
desfilam ao longo do muro, alguns falam, outros se calam. […] Eles são
semelhantes a nós. Primeiro, pensas que, na situação deles, eles tenham
visto algo mais do que as sombras de si mesmos e dos vizinhos, que o
fogo projeta na parede da caverna à sua frente? […] Então, se eles
pudessem conversar, não achas que, nomeando as sombras que veem,
pensariam nomear seres reais? […]

E se, além disso, houvesse um eco vindo da parede diante deles,


quando um dos que passam ao longo do pequeno muro falasse, não
achas que eles tomariam essa voz pela da sombra que desfila à sua
frente? […] Assim sendo, os homens que estão nessas condições não
poderiam considerar nada como verdadeiro, a não ser as sombras dos
objetos fabricados. […] Vê agora o que aconteceria se eles fossem
libertados de suas correntes e curados de sua desrazão. Tudo não
aconteceria naturalmente como vou dizer? Se um desses homens fosse
solto, forçado subitamente a levantar-se, a virar a cabeça, a andar, a
olhar para o lado da luz, todos esses movimentos o fariam sofrer; ele
ficaria ofuscado e não poderia distinguir os objetos, dos quais via
apenas as sombras anteriormente. Na tua opinião, o que ele poderia
responder se lhe dissessem que, antes, ele só via coisas sem
consistência, que agora ele está mais perto da realidade, voltado para
 objetos mais reais, e que está vendo melhor? O que ele responderia se
lhe designassem cada um dos objetos
1 / 8 que desfilam, obrigando-o com


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perguntas a dizer o que são? Não achas que ele ficaria embaraçado e
que as sombras que ele via antes lhe pareceriam mais verdadeiras do
que os objetos que lhe mostram agora? […]

E se o forçassem a olhar para a própria luz, não achas que os olhos


lhe doeriam, que ele viraria as costas e voltaria para as coisas que pode
olhar e que as consideraria verdadeiramente mais nítidas do que as
coisas que lhe mostram? […] E se o tirassem de lá à força, se o fizessem
subir o íngreme caminho montanhoso, se não o largassem até arrastá-lo
para a luz do sol, ele não sofreria e se irritaria ao ser assim empurrado
para fora? E, chegando à luz, com os olhos ofuscados pelo brilho, não
seria capaz de ver nenhum desses objetos, que nós afirmamos agora
serem verdadeiros. […]

É preciso que ele se habitue para que possa ver as coisas do alto.
Primeiro ele distinguirá mais facilmente as sombras, depois as imagens
dos homens e dos outros objetos refletidas na água, depois os próprios
objetos. Em segundo lugar, durante a noite, ele poderá contemplar as
constelações e o próprio céu, e voltar o olhar para a luz dos astros e da
lua mais facilmente que durante o dia para o sol e para a luz do sol. […]
Finalmente, ele poderá contemplar o sol, não o seu reflexo nas águas ou
em outra superfície lisa, mas o próprio sol, no lugar do sol, o sol tal
como é. […] Depois disso, poderá raciocinar a respeito do sol, concluir
que é ele que produz as estações e os anos, que governa tudo no
mundo visível, e que é, de algum modo a causa de tudo o que ele e seus
companheiros viam na caverna. […]

Nesse momento, se ele se lembrar de sua primeira morada, da


ciência que ali se possuía e de seus antigos companheiros, não achas
que ficaria feliz com a mudança e teria pena deles? […] Quanto às
honras e louvores que eles se atribuíam mutuamente outrora, quanto às
recompensas concedidas àquele que fosse dotado de uma visão mais
aguda para discernir a passagem das sombras na parede e de uma
memória mais fiel para se lembrar com exatidão daquelas que precedem
certas outras ou que lhes sucedem, as que vêm juntas, e que, por isso
mesmo, era o mais hábil para conjeturar a que viria depois, achas que
nosso homem teria inveja dele, que as honras e a confiança assim
adquiridas entre os companheiros lhe dariam inveja? Ele não pensaria
antes, como o herói de Homero, que mais vale “viver como escravo de
um lavrador” e suportar qualquer provação do que voltar à visão ilusória
 da caverna e viver como se vive lá? […]
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Reflete ainda nisto: supõe que esse homem volte à caverna e retome
o seu antigo lugar. Dessa vez, não seria pelas trevas que ele teria os
olhos ofuscados, ao vir diretamente do sol? […] E se ele tivesse que
emitir de novo um juízo sobre as sombras e entrar em competição com
os prisioneiros que continuaram acorrentados, enquanto sua vista ainda
está confusa, seus olhos ainda não se recompuseram, enquanto lhe
deram um tempo curto demais para acostumar-se com a escuridão, ele
não ficaria ridículo? Os prisioneiros não diriam que, depois de ter ido até
o alto, voltou com a vista perdida, que não vale mesmo a pena subir até
lá? E se alguém tentasse retirar os seus laços, fazê-los subir, acreditas
que, se pudessem agarrá-lo e executá-lo, não o matariam? […]

E agora, meu caro Glauco, é preciso aplicar exatamente essa alegoria


ao que dissemos anteriormente. Devemos assimilar o mundo que
apreendemos pela vista à estada na prisão, a luz do fogo que ilumina a
caverna à ação do sol. Quanto à subida e à contemplação do que há no
alto, considera que se trata da ascensão da alma até o lugar inteligível, e
não te enganarás sobre minha esperança, já que desejas conhecê-la.
Deus sabe se há alguma possibilidade de que ela seja fundada sobre a
verdade. Em todo caso, eis o que me aparece, tal como me aparece; nos
últimos limites do mundo inteligível, aparece-me a ideia do Bem, que se
percebe com dificuldade, mas que não se pode ver sem concluir que ela
é a causa de tudo o que há de reto e de belo. No mundo visível ela gera
a luz e o senhor da luz, no mundo inteligível ela própria é a soberana
que dispensa a verdade e a inteligência. Acrescento que é preciso vê-la
se se quer comportar-se com sabedoria, seja na vida privada, seja na
vida pública.
Fonte: Paviani (2003, p. 60-64).

O que o mito da caverna nos ensina? Platão mostra que as sombras podem nos
enganar, que a visão parcial ou deturpada da realidade pode nos levar a conclusões
equivocadas, que devemos sair da caverna para ver o mundo exposto à claridade e que
precisamos permitir que a luz nos mostre os objetos em todos os seus detalhes.


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Figura 4 – O mito da caverna nos ensina que o conhecimento científico se opõe ao senso comum, que se
coloca contra o senso comum, exigindo que a lógica se associe à obtenção de evidência empírica para que
determinados enunciados sejam feitos

A filosofia é, portanto, a área do conhecimento que se ocupa em “não aceitar como


óbvias e evidentes as coisas, as ideias, os fatos, as situações, os valores e os
comportamentos de nossa existência cotidiana; jamais aceitá-los sem antes havê-los
investigado e compreendido” (CHAUI, 2000, p. 12).

Tratemos de refletir um pouco mais sobre isso. Imagine que, de repente, você
encontre um amigo que não via há anos. Como se não houvesse transcorrido tempo
algum, vocês retomam a conversa do ponto em que haviam parado, riem das mesmas
piadas de antes, comportam-se como se tivessem se visto no dia anterior. Tal situação
pode gerar estranheza, em especial se você se questionar a respeito do significado do
tempo:

Sobre o tempo


É provável que você jamais tivesse refletido antes sobre o significado do tempo. No
1 / 8 seja formulada. Se, há poucos minutos,
entanto, a situação favorece que a pergunta
você imaginava ter uma resposta pronta a essa questão, agora, após uma experiência 
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específica, está refletindo a respeito da realidade e do que você imaginava certo a


respeito dessa realidade. Para Chaui (2000), inclusive, a distância entre o que se crê e o
que efetivamente é abre espaço para a crítica e para a descoberta, o que se define aqui
como atitude filosófica.

Passamos por uma árvore e dizemos que ela é bela; no entanto, jamais paramos
para refletir a respeito do significado de beleza. Se algo é belo para uns, será belo para
todos? O que define a beleza? O que significa liberdade? Quais os atributos daquilo
que é justo? Beleza, liberdade, justiça: todos esses temas, a respeito dos quais, na vida
cotidiana, imaginamos ter o conhecimento necessário, podem se tornar objeto de
reflexão filosófica. É a essa reflexão, a que fazemos sobre fatos ou conceitos sobre os
quais temos a impressão de tudo saber, que damos o nome de atitude filosófica.

A reflexão filosófica ocorre a partir de dois momentos cruciais. No primeiro, por


meio da atitude crítica, rejeitamos o conhecimento do senso comum, aquilo que
pensamos saber.

Rejeitamos o “eu acho”, “eu penso”, e colocamo-nos na posição de quem nada


sabe. No segundo, questionamo-nos a respeito do real significado das coisas e dos
fenômenos. Colocamo-nos na posição de uma criança que descobre a sua própria mão,
que vê tudo pela primeira vez e para quem o mundo é surpreendentemente novo.
Digamos de outra forma: rejeitamos o julgamento parcial, as opiniões pessoais que
temos em relação aos objetos, afastamo-nos da subjetividade; em contrapartida,
buscamos a objetividade, a percepção do mundo mais isenta possível.

Nossos sentidos podem nos enganar, nossas opiniões podem ter se formado a
partir de erros de observação ou erros de apreensão de causalidade – no nosso
cotidiano, podemos afirmar que A causou B. É evidente que não há percepção
totalmente isenta, não há como, na nossa apreensão do mundo, isolarmos a influência
do que somos, do que pensamos, do que gostamos. Vemos o mundo a partir de lentes
que podem ampliar, reduzir ou deformar nossa visão da realidade.

A filosofia oferece a possibilidade de nos distanciarmos da avaliação subjetiva dos objetos. ⦿


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Figura 5 – Para pensar sobre o que é o pensamento, temos que utilizar palavras precisas, conceitos e ideias
claras 
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Pensar sobre o pensamento significa não apenas estar disposto a conhecer o


mundo, mas também a si mesmo.

LEMBRETE

Como conquistar esse autoconhecimento por meio do pensar sobre o pensamento?


Parece claro que o método que usamos para conhecer e agir no nosso cotidiano não
serve para a reflexão filosófica. Precisamos, inicialmente, utilizar palavras e conceitos
claros. Depois, devemos empregar a nossa razão para formar um conjunto lógico de
princípios e encadeamento de ideias.

O quadro a seguir sistematiza as principais características do conhecimento


filosófico, bem como suas respectivas formas de representação.

Quadro 2 – Principais características do conhecimento


filosófico e respectivas formas de representação

Característica Forma de representação

O ponto de partida são hipóteses que não podem ser


Valorativo submetidas à observação. O conhecimento emerge da
experiência, e não da experimentação.

Os enunciados das hipóteses filosóficas não podem


Não verificável ser confirmados nem refutados, mas são logicamente
correlacionados.

Suas hipóteses e enunciados visam à representação


Sistemático coerente da realidade estudada, na tentativa de
apreendê-la integralmente.

Seus postulados e hipóteses não são submetidos ao


teste da experimentação. Há um esforço da razão
pura, com a finalidade de questionar os problemas
Infalível e exato
humanos e discernir entre o certo e o errado. A
filosofia emprega o método racional, em que
prevalece a coerência lógica.

Fonte: Marconi e Lakatos (2003, p. 78-79).
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Interatividade 2

Acerca dos tipos de conhecimento, notadamente o filosófico e o teológico, indique


a alternativa correta.

A O conhecimento filosófico é resultado da existência de forças sobrenaturais.

B O conhecimento filosófico é necessariamente verificável.

C O conhecimento religioso é impregnado de inspiração.

D O conhecimento religioso é verificável pela expressão da fé.

E Tanto o conhecimento filosófico quanto o religioso não podem ser sistemáticos.

-      -
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