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ANATOMIA

APLICADA A
ENFERMAGEM

Diego Santos
Fagundes
Sistema digestório:
órgãos e funções do
trato gastrintestinal
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Identificar a anatomia das estruturas e dos órgãos que compõem o


trato gastrintestinal.
„„ Caracterizar as funções de cada órgão do trato gastrintestinal.
„„ Relacionar os aspectos anatômicos com patologias que acometem
o trato gastrintestinal.

Introdução
Os pacientes acometidos pelas doenças do sistema digestório ficam
muito debilitados em função da restrição e das dificuldades em manter
uma nutrição adequada. O emagrecimento, a fraqueza, a diarreia ou
constipação, a necessidade de jejum prolongado ou, ainda, a alimentação
por sonda enteral ou via parenteral fazem com que haja a necessidade da
assistência de enfermagem ao paciente em suas atividades de higiene,
conforto, alimentação e eliminação.
Neste capítulo, você vai identificar a anatomia das estruturas e dos
órgãos do trato gastrintestinal, bem como as suas funções, além de fazer
uma relação da anatomia com as patologias que acometem o sistema
digestório.
2 Sistema digestório: órgãos e funções do trato gastrintestinal

A anatomia das estruturas e dos órgãos


do trato gastrintestinal
O nosso corpo necessita de nutrientes que são utilizados para o fornecimento
de energia para o seu funcionamento, além de formar e reparar os tecidos.
É por meio dos alimentos que conseguimos o aporte necessário para essas
funções, porém necessitamos da ação do sistema digestório para que os ali-
mentos sejam triturados e transformados em moléculas menores passíveis de
serem absorvidas pelas células.
O sistema digestório é dividido em:

„„ Trato gastrintestinal: tubo contínuo de aproximadamente 5 a 7 metros


de comprimento que recebe o alimento quando consumido, até ele ser
digerido, absorvido e eliminado. É formado por boca, faringe, esôfago,
estômago, intestino delgado e intestino grosso.
„„ Órgãos digestórios acessórios: fazem a trituração do alimento (di-
gestão mecânica), secretam ou armazenam secreções que auxiliam
na decomposição química dos alimentos. São os dentes, a língua, as
glândulas salivares, o fígado, a vesícula biliar e o pâncreas.

Para realizar a descrição da anatomia das estruturas e dos órgãos do sis-


tema digestório, será utilizado como base o percurso que o alimento faz da
boca até o ânus.

Boca ou cavidade oral: é formada por bochechas, palatos duro e mole e língua.

As bochechas compõem as paredes laterais da boca. Externamente são


recobertas pela pele e internamente por uma túnica mucosa com epitélio
escamoso estratificado não queratinizado. Os músculos bucinadores e o tecido
conjuntivo estão entre a pele e as túnicas mucosas das bochechas. As partes
anteriores das bochechas terminam nos lábios. Esses são pregas que circundam
a abertura da boca, são externamente recobertos pela pele e internamente por
túnica mucosa. Cada face interna do lábio está ligada à gengiva por uma prega
de túnica mucosa denominada de frênulo do lábio. O vestíbulo da boca é o
espaço delimitado externamente pelas bochechas e lábios e internamente pelas
gengivas e dentes. No adulto existem 32 dentes e cada dente tem três regiões
principais: coroa (parte visível acima do nível da gengiva), raiz (estruturas que
fixam o dente) e colo (junção constrita entre a coroa e a raiz). São compostos
por esmalte, tendo duas dentições, a decídua e a permanente.
Sistema digestório: órgãos e funções do trato gastrintestinal 3

O palato é considerado uma parede ou septo que separa a cavidade oral da


nasal, formando o céu da boca. Permite mastigar e respirar ao mesmo tempo. É
dividido em: palato duro (parte anterior do céu da boca, formado pelas maxilas
e palatinos, recoberto por túnica mucosa, parte óssea entre cavidade oral e
nasal) e palato mole (parte posterior do céu da boca, partição muscular em
forma de arco entre a parte oral da faringe e a parte nasal da faringe, revestida
por túnica mucosa). A úvula é uma estrutura muscular em formato de dedo
que fica pendurada na margem livre do palato mole e durante a deglutição,
juntamente com ele, é atraída superiormente, fechando a parte nasal da faringe
e impedindo que o alimento entre na cavidade nasal.

Faringe: tubo afunilado que se estende dos cóanos ao esôfago posteriormente


e à laringe anteriormente. É composta por uma única mucosa e por músculo
esquelético. Pode ser dividida em três partes: nasal da faringe (atua na respi-
ração), oral da faringe e laríngea da faringe (ambas têm funções digestórias
e respiratórias). O alimento é ingerido pela boca, passa então para as partes
oral e laríngea da faringe, sendo que as suas contrações ajudam a impulsionar
o alimento para o esôfago e, após, ao estômago.

Esôfago: é um tubo muscular flexível que comunica a faringe ao estômago.


Está situado posteriormente à traqueia, tem aproximadamente 25 cm de com-
primento e 2 cm de diâmetro. Entra na cavidade abdominal por meio de uma
abertura no diafragma chamada de hiato esofágico. Contém um esfíncter
esofágico superior e um esfíncter esofágico inferior. A parede do esôfago
apresenta túnica mucosa (epitélio escamoso estratificado resistente à abrasão)
e uma tela submucosa (as túnicas mucosas e submucosas formam pregas que
permitem a expansão do esôfago durante a passagem do bolo alimentar). A
submucosa contém glândulas esofágicas que produzem secreção mucosa que
lubrifica o bolo alimentar e protege a superfície epitelial e túnica muscular,
que apresenta uma camada helicoidal de passo curto — interna e circular, e
uma camada helicoidal de passo longo — externa e longitudinal. No terço
superior do esôfago, ambas as camadas contêm fibras musculares estriadas
esqueléticas; no terço médio, apresenta mistura de tecidos musculares liso e
estriado esquelético; no terço inferior, apresenta apenas músculo liso.

Estômago: liga o esôfago ao duodeno. Apresenta o formato de “J” expandido,


está localizado nas regiões do hipocôndrio direito, epigástrio e partes das
regiões umbilical e lateral esquerda. As principais regiões anatômicas são:
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„„ Cárdia: o esôfago faz contato com a margem medial do estômago na


cárdia. É a parte súpero-medial do estômago, com 3 cm desde a junção
esofagogástrica. A luz esofágica se abre na cárdia pelo óstio cardíaco.
„„ Fundo gástrico: parte do estômago localizada superiormente à junção
esofagogástrica.
„„ Corpo gástrico: é a parte entre o fundo gástrico e as curvaturas do
estômago. É a maior parte do estômago, funciona como compartimento
para mistura dos alimentos ingeridos e secreções gástricas.
„„ Piloro: é a última porção do estômago.

Intestino delgado: se estende do músculo esfíncter do piloro até o óstio ileal.


Está dividido em: duodeno (região mais curta e retroperitoneal, tem a forma
de um “C” e estende-se por aproximadamente 25 cm), jejuno (continuação
do intestino delgado, e tem aproximadamente um metro de comprimento) e
íleo (é a última e mais longa região do intestino delgado, mede aproximada-
mente dois metros e junta-se ao intestino grosso em um esfíncter de músculo
liso chamado de óstio ileal). O intestino delgado preenche a maior parte da
cavidade abdominal, seus 2,5 cm proximais são móveis e o restante é retro-
peritoneal, mantendo-se fixa à parede abdominal posterior. O jejuno e o íleo
são sustentados por um mesentério amplo e em forma de leque (mesentério
próprio). Vasos sanguíneos (artérias e veias jejunais, ramos da artéria me-
sentérica superior e veia mesentérica superior), linfáticos e nervos atingem
esses segmentos do intestino delgado passando através de tecidos conectivos
do mesentério. A inervação parassimpática é fornecida pelo nervo vago; a
inervação simpática envolve fibras pós-ganglionares do gânglio mesentérico
superior. Os movimentos do intestino delgado são controlados principalmente
por reflexos neurais que envolvem o plexo submucoso e o plexo mioentérico.

A parede do intestino delgado apresenta túnica mucosa (tela submucosa,


túnica muscular e túnica serosa; contém diversos tipos de células: as células
absortivas, que liberam enzimas que digerem o alimento e contém microvi-
losidades que absorvem os nutrientes no quimo, as células caliciformes, que
secretam muco, e as glândulas intestinais, que secretam suco intestinal), tela
submucosa (contém glândulas duodenais que secretam um muco alcalino
que ajuda a neutralizar o ácido gástrico no quimo), túnica muscular e túnica
serosa.
O intestino delgado apresenta as pregas circulares que são pregas da tú-
nica e tela submucosa, tem aproximadamente 10 mm de comprimento, estão
presentes do duodeno ao íleo e aumentam a absorção pelo aumento da área
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de superfície. Tem glândulas que secretam líquido e muco e as suas paredes


com pregas circulares, vilosidades e microvilosidades fornecem uma grande
área de superfície para digestão e absorção dos alimentos. Apresenta também
vilosidades (projeções digitiformes da túnica mucosa medindo 0,5 a 1 mm)
e microvilosidades (projeções da membrana apical das células absortivas,
medindo aproximadamente 1 µm de comprimento) que aumentam ainda mais
a superfície, propiciando a troca de nutrientes.

Intestino grosso: tem o formato de ferradura e se estende do óstio ileal ao ânus,


sendo dividido em: ceco, colo ascendente, colo transverso, colo descendente,
colo sigmoide, reto e canal anal. A sua túnica mucosa contém muitas células
caliciformes e a túnica muscular consiste em tênias do colo e saculações do
colo. O intestino grosso realiza movimentos mecânicos que incluem a agita-
ção das saculações do colo, o peristaltismo e o peristaltismo em massa. É no
intestino grosso que ocorrem as últimas fases da digestão química por meio
da ação bacteriana, sendo que as substâncias são adicionalmente quebradas
e algumas vitaminas são sintetizadas.

Em relação aos órgãos digestórios acessórios pâncreas e fígado:

Pâncreas: consiste em uma cabeça, um corpo e uma cauda, tem comunicação


com o duodeno por meio dos ductos pancreático e pancreático acessório. As
ilhotas pancreáticas endócrinas secretam hormônios e os ácinos exócrinos
secretam suco pancreático. Esse suco contém enzimas que digerem o amido
(amilase pancreática), proteínas (tripsina, quimotripsina, carboxipetidase e
elastase), triglicerídeos (lipase do pâncreas) e ácidos nucleicos (ribonuclease
e desoxirribonuclease).

Fígado: o fígado é uma glândula mista e tem quatro lobos: quadrado, caudado,
direito e esquerdo. Esses lobos são constituídos por lóbulos que contêm hepa-
tócitos (as células do fígado), vasos sinusoides, células estreladas do fígado e
uma veia central. Esses hepatócitos produzem a bile, que é transportada por
um sistema de ductos até a vesícula biliar para concentração e armazenamento
temporário. A vesícula biliar é um saco localizado em uma depressão na face
posterior do fígado. O fígado atua também no metabolismo de carboidratos,
lipídeos e proteínas, no processamento de fármacos e hormônios, na excreção
de bilirrubina; na síntese de sais biliares, no armazenamento de vitaminas e
minerais, na fagocitose e na ativação da vitamina D.
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Na Figura 1, temos os órgãos e as estruturas do sistema digestório: trato


gastrintestinal e estruturas e órgãos acessórios.

Boca (cavidade oral)


contém os dentes
Glândula parótida e a língua
(glândula salivar) Glândula sublingual
(glândula salivar)
Glândula submandibular
(glândula salivar) Faringe
Esôfago

Estômago
Duodeno Pâncreas

Colo
Jejuno transverso
Íleo Colo
descendente
Colo ascendente
Colo sigmoide
Ceco Reto
Apêndice Canal anal
vermiforme Ânus

Figura 1. Estruturas do sistema digestório e dos órgãos acessórios.


Fonte: Tortora e Derrickson (2017, p. 478).

As funções dos órgãos que compõem


o trato gastrintestinal
Os diversos órgãos que compõem o sistema têm funções importantes desde
o momento que o alimento entra na boca, é triturado, deglutido, na mistura,
na propulsão, na digestão e na absorção, até o momento que os resíduos são
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eliminados pelo corpo. Descreveremos a seguir as principais funções desses


órgãos.

Cavidade oral: a língua manobra os alimentos para ser realizada a mastigação,


modela o alimento e faz manobras para que seja feita a deglutição e inicia a
digestão dos triglicerídeos. Na língua, temos os sensores do paladar.

Os dentes cortam, dilaceram e pulverizam os alimentos sólidos em partí-


culas menores para auxiliar na deglutição.
Os lábios e as bochechas mantêm os alimentos entre os dentes durante a
mastigação, as glândulas vestibulares e salivares produzem saliva e conseguem
amaciar, hidratar e dissolver os alimentos e inicia a digestão do amido. Além
disso, limpa a boca e os dentes.

Faringe: recebe um bolo alimentar da cavidade oral e passa-o ao esôfago.

Esôfago: recebe o bolo alimentar da faringe e passa-o ao estômago. Requer o


relaxamento do esfíncter esofágico superior e secreção de muco.

Estômago: ondas de mistura combinam a saliva, os alimentos e o suco gástrico,


o que ativa a pepsina, inicia a digestão de proteínas, mata microrganismos
dos alimentos, ajuda a absorver a vitamina B12, contrai o esfíncter esofágico
inferior, aumenta a motilidade do estômago, relaxa o músculo esfíncter do
piloro e move o quimo para o intestino delgado.

Intestino delgado: a segmentação mistura o quimo com os sucos digestórios.


O peristaltismo impulsiona o quimo para o óstio ileal. As secreções digestórias
do intestino delgado, pâncreas e fígado completam a digestão dos carboidra-
tos, das proteínas, dos lipídeos e dos ácidos nucleicos, as pregas circulares,
vilosidades e microvilosidades ajudam a absorver aproximadamente 90%
dos nutrientes digeridos. O suco pancreático tampona o suco gástrico ácido
no quimo, interrompe a ação da pepsina do estomago, cria o pH apropriado
para a digestão no intestino delgado e participa na digestão de carboidratos,
proteínas, triglicerídeos e ácidos nucleicos. A vesícula biliar armazena e
concentra a bile e libera-a para o intestino. A bile atua na digestão por meio
da emulsificação dos lipídeos dietéticos.

Intestino grosso: a agitação das saculações do colo, o peristaltismo e o peris-


taltismo em massa dirigem o conteúdo do colo para o reto, bactérias produzem
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algumas vitaminas do complexo B e a vitamina K, ocorre a absorção de um


pouco de água, íons e vitaminas e, no final, ocorre a defecação (é uma ação
reflexa auxiliada por contrações voluntárias dos músculos diafragma e abdo-
minais e pelo relaxamento do esfíncter externo do ânus).

Os aspectos anatômicos e as patologias que


acometem o trato gastrintestinal
Os diferentes órgãos que compõem o sistema digestório podem apresentar
diversas alterações e patologias. Procurou-se aqui abordar a maioria dos órgãos
e das estruturas e algumas patologias que acometem o trato digestório serão
contempladas, como: faringite, doença do refluxo gastresofágico, esofagite,
acalasia, gastrite, úlcera péptica, intolerância à lactose, apendicite, pólipos,
doença diverticular e câncer de colo.

Faringite: é a inflamação da faringe, que pode ser causada por microrganis-


mos (vírus ou bactérias) que entram pelas vias aéreas, ou como processo de
alergias, imunidade baixa, infecções respiratórias crônicas (asma e enfisema
pulmonar) e exposição à poluição e componentes químicos, como a fumaça de
cigarro. Os sintomas são dor de garganta, rouquidão, garganta seca e dificul-
dade para engolir. No entanto, esses sintomas podem se confundir com outras
inflamações da garganta, como a amigdalite e a laringite, que afetam esses
órgãos próximos da faringe. O tratamento será com antibioticoterapia, quando
infecção bacteriana, antialérgicos, antitérmicos, analgésicos, entre outros.

Doença do refluxo gastresofágico (DRGE): ocorre normalmente em decor-


rência da incapacidade do esfíncter esofagiano inferior em se fechar após a
ingestão de alimentos. Dessa forma, o conteúdo do estômago pode retornar
(refluxo) para a parte inferior do esôfago. O ácido clorídrico do conteúdo
estomacal pode irritar a parede esofágica. A ingestão de álcool e o tabagismo
podem causar relaxamento desse esfíncter, piorando a situação. Os sintomas
da DRGE podem ser minimizados ao se evitar alimentos que estimulam a
produção de suco gástrico (café, chocolate, tomate, alimentos gordurosos,
suco de laranja, e cebola). Para aliviar os sintomas, pode-se ingerir antiácidos,
pequenas refeições e não deitar antes de 2 horas após alimentação.
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Esofagite: inflamação do esôfago, pelo contato com o ácido da secreção


gástrica. O epitélio do esôfago apresenta poucas defesas contra a agressão
dos ácidos e enzimas, resultando em processo de inflamação, erosão epitelial
e desconforto intenso. Pode ser em decorrência da DRGE. Caracterizada por
pirose e náuseas.

Acalasia: é quando ocorre uma disfunção do plexo mioentérico em que o


esfíncter esofágico não relaxa normalmente conforme o alimento se aproxima
dele. Dessa forma, o alimento se acumula no esôfago, causando distensão e
dor torácica. O tratamento mais efetivo envolve secção da camada muscular
circular na região inferior do esôfago ou laceração dessa camada por expansão
de um balão posicionado nessa região.

Gastrite: é a inflamação superficial do revestimento (túnica mucosa) do


estômago. Pode se desenvolver após a ingestão de drogas, álcool ou aspirina,
após estresse físico ou emocional, após infecção bacteriana da parede gástrica
ou, ainda, após a ingestão de substância química de pH muito ácido ou muito
alcalino. As infecções pela bactéria Helicobacter pylori são um importante
fator na formação de úlceras. Na evidência de infecção por Helicobacter
pylori, é necessário o tratamento com antibioticoterapia. Se não for tratada
essa infecção, a bactéria pode penetrar o muco que cobre o estômago, ficando
protegida da ação do suco gástrico. Com o tempo, danifica o revestimento
epitelial, podendo causar erosão da lâmina própria por suco gástrico, levando
ao desenvolvimento de úlceras.

Úlcera péptica: lesão no revestimento gástrico ou no intestino delgado. As


localizações podem ser: úlcera gástrica (estômago) ou úlcera duodenal (duo-
deno). Estimativas trazem que 50 a 80 % das úlceras gástricas e 95% das úlceras
duodenais ocorram em indivíduos infectados pela Helicobacter pylori. As
úlceras podem provocar dores agudas e intensas abdominais. A administração
de antiácidos pode minimizar essas dores. Importante é o tratamento e a eli-
minação da bactéria Helicobacter pylori observando a reinfecção. São efetivas
também a limitação de ingestão de bebidas alcóolicas e a eliminação dos
alimentos que estimulem a produção de suco gástrico. Em casos mais graves,
a úlcera pode ser mais profunda e produzir sangramento significativo, além
dos ácidos poderem causar corrosão completa da parede do trato digestório,
sendo uma úlcera perfurada invadindo a cavidade peritoneal. O sangramento
significativo é interno e pode não ser percebido, ficando ativo durante horas ou
dias. Esse sangue passará por todo o trato digestório, sofrerá a ação de todos
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os líquidos e enzimas até ser eliminado via retal em forma de fezes muito
escuras ou pretas, com odor fétido e forte, o qual é denominado de melena.
O paciente precisa passar por exame com introdução de um aparelho até o
local da lesão (endoscopia digestiva alta) para a realização da hemostasia. Se
houver perfuração, é necessária a correção cirúrgica imediata.

Intolerância à lactose: em algumas pessoas as células absortivas do intestino


delgado não produzem lactase suficiente. Essa enzima é necessária e essencial
para a digestão da lactose, levando a uma intolerância à lactose. A lactose não
digerida no quimo faz com que seja retido líquido nas fezes. A fermentação
bacteriana da lactose não digerida resulta na produção dos gases e, além disso,
a pessoa apresenta diarreia, distensão abdominal e cólicas após a ingestão
de leite e derivados. As pessoas com essa intolerância devem optar por uma
dieta que restrinja a lactose e ingerir suplementos alimentares para ajudar na
digestão desta.

Apendicite: é a inflamação do apêndice vermiforme, sendo precedida pela


obstrução do lúmen do apêndice pelo quimo, inflamação, corpo estranho,
carcinoma e outros. O indivíduo normalmente apresenta febre alta, dor na
região umbilical do abdômen, que depois pode se localizar no quadrante
inferior direito, seguida de náuseas e vômitos. É recomendada a retira do
apêndice (apendicectomia).

Pólipos: são tumores benignos de desenvolvimento lento. Surgem a partir da


túnica mucosa do intestino grosso, podendo ser assintomático ou, em casos
mais graves, apresentar diarreia, sangue nas fezes e eliminação de muco pelo
ânus. Os pólipos devem ser removidos por colonoscopia ou cirurgia, pois
alguns deles podem se tornar câncer mais tarde.

Doença diverticular: os divertículos são evaginações em forma de saco na


parede do colo, em locais em que a túnica muscular enfraqueceu e pode estar
inflamada. O desenvolvimento desses divertículos é denominado de diver-
ticulose. Das pessoas conhecidas com diverticulose, entre 10 a 25% acabam
apresentando diverticulite, que é a inflamação. Nesse caso, a pessoa pode
apresentar dor, constipação intestinal ou aumento da frequência das evacu-
ações, náuseas, vômitos e febre baixa. O tratamento consiste em aumentar o
consumo de fibras ou, em casos mais graves, as porções afetadas devem ser
retiradas por meio da cirurgia.
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Câncer de colo: são tumores malignos do colo. A maioria dos casos de câncer
do cólon surge por meio de pólipos presentes na mucosa do intestino. Cerca de
5% dos pólipos adenomatosos transformam-se em adenocarcinoma após cerca
de 10 anos de existência. Em estágios iniciais, a quimioterapia é o tratamento
indicado, em estágios mais avançados é necessário fazer colectomia (retirada de
parte do colo) e colocação de uma colostomia (uma abertura artificial no colo).

Acesse o link a seguir para ver uma página do UNA-SUS


com conteúdo teórico e vídeo sobre caso clínico de um
paciente com doença do sistema digestório.

https://goo.gl/w7k6RE

Referência

TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Corpo humano: fundamentos de anatomia e fisiologia.


10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.

Leituras recomendadas
CURY, M. Doenças do aparelho digestivo: discussão do caso do Sr. Fernando. Disponível
em: <http://production.latec.ufms.br/new_pmm/u1a7.html>. Acesso em: 17 out. 2018.
MARTINI, F. H.; TIMMONS, M. J.; TALLITSCH, R. B. Anatomia humana. 6. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2009.
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