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GRUPO ACOLHIMENTO
CAPA
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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO......................................................................................................... 4
2 OBJETIVOS............................................................................................................. 5
3 MÉTODO.................................................................................................................. 6
4 DESCRIÇÃO DOS ENCONTROS............................................................................8
4.1 ENCONTRO 01..................................................................................................8
4.1.1 Quem somos?............................................................................................ 8
4.1.2 Nossa história.............................................................................................8
4.2 ENCONTRO 02................................................................................................10
4.2.1 Bethânia....................................................................................................10
4.2.2 Acolhimento..............................................................................................11
4.2.3 Nossas motivações..................................................................................11
4.3 ENCONTRO 03................................................................................................11
4.3.1 Motivo Marta.............................................................................................12
4.3.2 Dimensão física........................................................................................13
4.3.3 Saúde........................................................................................................ 13
4.3.4 Alimentação..............................................................................................15
4.4 ENCONTRO 04................................................................................................17
4.4.1 Esporte......................................................................................................17
4.4.2 Trabalho....................................................................................................17
4.4.3 Repouso....................................................................................................18
4.5 ENCONTRO 05................................................................................................19
4.5.1 Motivo Maria............................................................................................. 19
4.5.2 Dimensão Espiritual.................................................................................21
4.6 ENCONTRO 06................................................................................................23
4.6.1 Motivo Lázaro...........................................................................................24
4.6.2 Dimensão Psicoafetiva............................................................................25
4.6.3 Reconstrução dos relacionamentos.......................................................26
4.7 ENCONTRO 07................................................................................................27
4.7.1 Maturidade Afetiva...................................................................................27
4.7.2 Sexualidade Integrada.............................................................................27
4.8 ENCONTRO 08................................................................................................27
4.8.1 O Mundo das Drogas...............................................................................27
4.8.2 Desintoxicação.........................................................................................32
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4.9 ENCONTRO 09................................................................................................34


4.9.1 Planejamento do Futuro..........................................................................34

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................... 39
ANEXO I – PLANEJAMENTO DOS GRUPOS.........................................................40
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1 INTRODUÇÃO

O processo de acolhimento na Comunidade Bethânia é constituído por cinco


etapas: pré-acolhimento, acolhimento, restauração, reinserção social e pós-
acolhimento. Cada uma dessas etapas conta com estratégias específicas para o
cumprimento dos objetivos. O acolhimento caracteriza-se como a segunda etapa do
processo, e é constituído por trabalhos em grupos, juntamente com o
acompanhamento, trabalho com as famílias, desenvolvimento da espiritualidade,
entre outras atividades.
O Projeto Pedagógico de Acolhimento e Restauração de Bethânia pontua a
importância dos grupos no processo, afirmando que o Espírito Santo é criativo e nos
faz buscar dentro do carisma ferramentas que agregam no processo de
amadurecimento e restauração de nossos filhos. Um instrumento que tem se
mostrado bastante eficaz são os momentos de grupos de partilhas e discussões,
que podem ser chamados de grupos terapêuticos.
Esta cartilha foi gestada a partir do desejo de padronizar e qualificar o grupo
referente a etapa do acolhimento. Para tanto, serão apresentadas propostas dos
encontros, sugestões de dinâmicas e outros recursos que possam ser mediadores
no desenvolvimento de cada tema. Vale lembrar que apesar dos grupos serem
abertos as preferencias do facilitador e às contribuições dos participantes, as
temáticas são inspiradas especialmente no Viver Bethânia.
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2 OBJETIVOS

O Grupo Acolhimento pertence a segunda etapa do processo na Comunidade


Bethânia, intitulada de Etapa Acolhimento. Portanto, o grupo trabalha para o
cumprimento dos objetivos que se estabeleceram nesta etapa. Estes estão descritos
a seguir:
a) Acolher o filho e responsáveis e/ou familiares possibilitando conhecer a
dinâmica da comunidade, levando-o ao vínculo com a instituição afim de
aderir à Proposta Pedagógica e Terapêutica;
b) Possibilitar ao acolhido maior conhecimento da instituição, da proposta
pedagógica e terapêutica, bem como das motivações para o tratamento,
reações físicas e psicológicas decorrentes da interrupção do uso de drogas;
c) Conhecer o acolhido nas diversas áreas de sua vida, para poder cuidar e
atender às necessidades;
d) Praticar o acolhimento, fazendo com que o acolhimento se sinta seguro,
protegido, amado, respeitado e cuidado.
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3 MÉTODO

O Grupo Acolhimento é organizado em nove encontros que acontecem uma


vez por semana. Apesar dos objetivos delimitarem algumas temáticas do grupo, os
encontros são abertos às falas, contribuições e demandas, possibilitando o
acolhimento e a significação das questões que os acolhidos julgam importantes.
O trabalho é pautado nos ensinamentos do Viver Bethânia. Os encontros
serão constituídos por momentos de exposição do conteúdo, pois é de interesse que
os acolhidos conheçam a aprendam as questões teóricas e práticas presentes neste
material. A parte expositiva do encontro poderá ser mediada por apresentações de
slide, leituras em pequenos grupos e outros recursos, à escolha do facilitador do
grupo.
Além disso, o momento de desenvolvimento do tema também precisa ter um
caráter dinâmico e dialogado. Para tanto, poderão ser utilizadas ferramentas, tais
como dinâmicas de grupo, recursos audiovisuais, músicas, trabalhos coletivos, entre
outros que poderão ser escolhidos ou criados pelo facilitador do grupo. Este material
traz sugestões de ferramentas para os encontros, que podem ser apropriadas pelo
facilitar ou adaptadas.
Outros elementos que constituem os encontros são: ambientação, acolhida,
oração inicial e oração final. A ambientação é uma questão para ser realizada antes
do início do grupo. Refere-se a preparação do ambiente, que pode incluir uma
decoração que remeta ao tema, bem como a disposição das cadeiras e outros
elementos que são necessários para o bom funcionamento, como por exemplo, a
instalação dos aparelhos audiovisuais.
A acolhida é realizada no momento em que os participantes estão chegando
no grupo e pode ser realizada pelo próprio facilitador do grupo. A oração inicial
antecede o desenvolvimento do tema e pode ser realizada com trechos bíblicos,
escritos do Pe. Léo, entre outros, de acordo com a preferência do facilitador. É
importante lembrar de iniciar os acolhidos que estão participando pela primeira vez,
com apresentações e boas-vindas.
O último passo no encontro, após o desenvolvimento do tema, é a oração
final, também preparada pelo facilitador. Se algum dos participantes passará para a
próxima etapa, é importante aproveitar esse momento para o “rito de passagem”,
uma despedida desta etapa.
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Vale lembrar que o trabalho com grupos não se encerra no final do encontro.
Existem os elementos posteriores aos encontros, tais como as avaliações e
registros. O registro documental se faz necessário por vários aspectos, para a
instituição ter controle das atividades, bem como realizar avaliações a respeito dos
objetivos estarem sendo alcançados. Além disso, os registros e avaliações auxiliam
a acompanhar o desenvolvimento dos acolhidos, e a pensar novas estratégias de
intervenção. Objetivamente, o grupos contém os seguintes elementos/passos:
a) Anteriores aos encontros: planejamentos (anexo I), ambientação;
b) Encontros propriamente ditos: acolhida, oração inicial, desenvolvimento do
tema, oração final;
c) Posteriores aos encontros: avaliação, registros (anexo I).
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4 DESCRIÇÃO DOS ENCONTROS

4.1 ENCONTRO 01

Sugestões: Vídeo Tributo ao Padre Léo, vídeo “Tralhas”.

4.1.1 Quem somos?

A “Associação Educacional e Assistencial Bethânia”, designada simplesmente


“Comunidade Bethânia”, fundada em 14 de março de 1995, é uma associação civil,
de cunho religioso, âmbito nacional e Utilidade Pública Federal, conforme Portaria
no. 2012, de 26/10/2005, publicada no DOU em 27/10/2005, sem fins lucrativos, de
caráter educacional, assistencial, beneficente e cultural, com prazo de duração
indeterminado, inscrita no CNPJ/MF sob o no.00.816.354/0001-09, com sede na
Estrada Municipal Bethânia, 400, Bairro Timbezinho, Município de São João
Batista/sc, Caixa Postal 71 CEP 88240-000, registrada no Ofício do Registro Civil
das Pessoas Jurídicas de Brusque/SC, e com foro na Comarca de São João
Batista/SC. Sob o número 450, Livro A-2, Folhas 68 à 69, com visto número 2585 da
OAB. Em 27/11/2000, conforme a Resolução 240, de 22/11/2000, publicada no
Diário Oficial da União pelo processo 44006.002772/2000-84, Bethânia recebeu o
Atestado de Registro no CNAS (Conselho Nacional de Assistência Social).

4.1.2 Nossa história

A Comunidade Bethânia nasceu de um desejo que o Espírito Santo colocou


no coração do Pe. Léo scj, a partir de sua própria experiência, como dependente
químico, e como sacerdote, trabalhando no Colégio São Luiz, em Brusque.
Atendendo diariamente muitos jovens que buscavam nas drogas a solução para
seus problemas, viu crescer a necessidade de um trabalho organizado, num lugar
apropriado.
Era impossível continuar atendendo nas dependências do Colégio. Muitos
problemas estavam surgindo, especialmente com alguns pais de alunos,
preocupados com o contato de seus filhos com os dependentes e marginalizados
que procuravam o Colégio e a Capela.
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A partir das celebrações na Capela Espírito Santo e do trabalho de


atendimento pessoal, outras pessoas foram se entusiasmando com a idéia: primeiro
foi a Juscélia, engenheira civil, que já tinha feito o projeto e os vitrais da Capela.
Depois veio a Zeni que ajudava o Pe. Léo no atendimento, e por fim, o casal
Ideraldo e Margarida, que ajudava nas celebrações eucarísticas e logo se prontificou
em abandonar tudo para viver no Recanto. Nascia ali, com a disponibilidade do
casal, o primeiro sinal da vida consagrada.
A idéia estava tomando corpo, mas faltava o terreno para se construir um
Recanto. Numa celebração eucarística em São João Batista, em junho de 1994, Pe.
Léo falou sobre a necessidade desse trabalho. Dona Vanda, católica e participante
da RCC, se dispôs a falar com o Dr. César, proprietário da Portobelo e dono do
terreno onde se encontra o Recanto São João Batista.
Graças ao grande empenho do Sr. Luiz Teles, antigo funcionário e
administrador da USATI, conseguimos um encontro com o Dr. César. Pe. Léo
partilhou a necessidade e a importância do projeto. Diante de tudo que lhe foi
proposto, Dr. César se prontificou em nos doar o terreno.
No dia 12 de outubro de 1995, graças especialmente ao grande apoio e
empenho do Sr. Jair Amorim (Nonga), na época Vice-Prefeito de São João Batista e
posteriormente Prefeito do município, abrimos uma pequena clareira, na parte mais
alta do terreno, fizemos uma estrada e do alto da colina, às 15h, com a participação
de milhares de pessoas e a animação da Banda Vida, celebramos a Eucaristia, em
que consagramos esse chão à ação do Espírito Santo. Nasceu com esta missa o
Recanto São João Batista. Imediatamente começamos a construção da Casa Mãe.
Juscélia, autora dos projetos, responsável por toda a Documentação, Tesoureira e
Diretora de Patrimônio, coordenou os trabalhos.
Um mês antes da inauguração de nossa casa, Ideraldo passou a auxiliar
Juscélia, vindo diariamente acompanhar os trabalhos da construção. Graças à
generosidade de muitos benfeitores e amigos, no Domingo de Páscoa, 7 de abril de
1996, celebramos a missa festiva de inauguração de Bethânia. No dia 1º de maio do
mesmo ano, com a consagração de Ideraldo, Margarida, Zeni e Jocelino, em missa
celebrada na sala da Casa Mãe, iniciamos nossa missão. Em 06 de maio recebemos
nossos primeiros filhos.
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4.2 ENCONTRO 02

Sugestões: Vídeo Institucional geral, vídeo Institucional de Uberlândia, filme


“Um sonho possível”, filme “O presente”, dinâmica “espelho” (PAYÁ; MELO; FIGLIE,
2004, p. 159).

4.2.1 Bethânia

A vida e o trabalho da Comunidade Bethânia estão embasados em uma visão


integral do ser humano. Olhamos para a pessoa na sua totalidade: físico, psico-
afetivo e espiritual. Na experiência com dependentes químicos constatamos que as
drogas não afetam somente o físico, ou o psíquico. As drogas afetam o ser humano
na sua totalidade. O mesmo acontece em relação ao soropositivo. Não vemos a Aids
como uma doença que atinja somente o físico. Não se trata apenas de uma
diminuição ou exclusão da capacidade de defesa do organismo, mas sim da pessoa
como um todo.
Por isso vamos encontrar na espiritualidade bíblica e teológica, a partir da
reflexão acerca da Bethânia de Jesus, os fundamentos para uma ação concreta em
nossa comunidade. Se a dependência química e a Aids atingem o ser humano na
sua totalidade, todo trabalho nestas áreas precisa contemplar estas três dimensões.
A escolha de Bethânia como nome da comunidade deve-se exatamente ao fato de
encontrarmos aí a fundamentação bíblica para nossa ação nestas três dimensões.
Aliás, Bethânia nos sugere cinco grandes motivos iluminadores de ação:
a) Bethânia, a casa que sabia acolher Jesus: nosso carisma é acolher a cada
um como ao próprio Cristo. Este é o primeiro passo para a vida na comunidade.
b) Bethânia, lugar da ressurreição de Lázaro: queremos como Jesus, gritar
aos “Lázaros” que estão presos nos sepulcros das drogas, do álcool, da prostituição,
da violência e de toda espécie de contaminação: Vem para Fora! Vem para a vida!
c) Bethânia, lugar do trabalho e da restauração física: com Marta percebemos
a necessidade do trabalho como modo de transformar o mundo e de se transformar.
d) Bethânia, convite para o verdadeiro encontro com Deus: com Maria
queremos aprender a nos sentar aos pés do Mestre. Espiritualidade é aprender a
viver segundo o Espírito, é aprender a viver como Jesus viveu.
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e) Bethânia, lugar de vivência e expressão da amizade verdadeira: Jesus


chora por causa de Lázaro. Ele não tem medo de demonstrar para seus discípulos e
para todos os judeus que estavam presentes, que ele amava profundamente aquele
amigo. Por ele é capaz de chorar. A cura interior (psíquica, afetiva, emocional) é
decorrência de relacionamentos sadios e curadores, segundo o jeito de se relacionar
do próprio Jesus de Nazaré.

4.2.2 Acolhimento

A mística fundamental da comunidade é o acolhimento. Procuramos acolher

cada um que vem até nós como o próprio Cristo. Neste sentido, é fundamental a

liberdade pessoal e que a própria pessoa, com a ajuda de todos nós, possa

descobrir o tempo que precisa viver num Recanto. Não podemos tratar de modo

igual, aqueles que são diferentes. Logo, cada pessoa será sempre tratada como

indivíduo, único, irrepetível. Procuramos, através do diálogo constante, sereno,

sincero e fraterno, ir descobrindo, juntos, o tempo de cada um.

4.2.3 Nossas motivações

 O grande número de dependentes químicos em nossa região.


 O aumento do número de soropositivos.
 O grande número de adolescentes grávidas, solteiras que são abandonadas.
 O crescente número de menores abandonados nas periferias de nossas
cidades.
 A necessidade de uma ação concreta de promoção social e um sério trabalho
visando a transformação da sociedade.
 A necessidade de um ambiente apropriado para uma retomada de vida
através da pregação de retiros espirituais e cursos que ajudem na
redescoberta de um novo sentido para a vida.
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4.3 ENCONTRO 03

Sugestões: filme “Osmose”.

4.3.1 Motivo Marta

Marta é um nome que vem do aramaico e quer dizer Senhora. Ela é


aquela senhora que procurava servir o Senhor. A exemplo de Maria, mãe de Jesus,
todos aqueles que se colocam como servos de Deus precisam aprender a servir
seus irmãos. Segundo São Lucas, Marta estava atenta às necessidades de Jesus e
procurava servi-lo da melhor maneira possível. Nós queremos trabalhar e servir
nossos irmãos. Além disso, queremos fazer do trabalho uma importante dinâmica
para todos os nossos filhos.
Alguns textos bíblicos nos ajudam a aprofundar as decorrências de
nosso carisma a partir do Motivo Marta: Lc 10,38-42; Lc 12, 22-31; Jo 11,1ss.
Marta está sempre pronta para ir ao encontro de Jesus (Jo 11). Marta simboliza o
compromisso e a ação. Mas, ao ser repreendida por Jesus: “Tu te inquietas por
muitas coisas”, leva-nos um questionamento acerca da inutilidade de preocupar-se
excessivamente com as coisas mundanas.
No questionamento feito por Jesus identificamos seu ensinamento
acerca do Reino de Deus: “Não vos preocupeis por vossa vida, pelo que
comereis, nem por vosso corpo, como vos vestireis. A vida não é mais do que o
alimento e o corpo não é mais que as vestes? Olhai as aves do céu. Não semeiam
nem ceifam, nem recolhem em celeiros e vosso Pai celeste as alimenta. Não
valeis vós muito mais do que elas? Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a
sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo” (Mt 6, 25-34).
Em Marta vemos a necessidade de servir ao Senhor através do
trabalho aos irmãos, mas, ao mesmo tempo, a coragem de não se perder no
fazer. Corremos o risco de também nos inquietarmos por coisas desnecessárias.
Lázaro era leproso, Maria era prostituída e Marta era agitada. Cada um recebe uma
linda cura de Jesus. Lázaro ressuscita, Maria quebra o vaso e Marta se
encontra intimamente com o Senhor.
Quando Ele chega para a ressurreição de Lázaro, Marta ainda demonstra seu
ativismo. Sai correndo, estabanada, e vai logo cobrando de Jesus sua ausência. O
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Senhor aproveita para curar seu coração inquieto e agitado. Fala da vida plena,
mostra que nossa vida tem um sentido que vai além do que vemos. Fala de um reino
que se inaugura com Jesus e em Jesus. Ele é o Reino. Agora, Marta curada pelo
Senhor, vai ao encontro de sua irmã e lhe diz baixinho (cf Jo 11,28). Ao frisar que
Marta disse baixinho, o evangelista quer mostrar que ela é uma pessoa nova.
Para quem vivia gritando e cobrando dos outros, falar baixinho, diante da
morte de seu irmão é um grande sinal de cura e libertação.
Algumas coisas só podem ser ditas baixinho. Com carinho, delicadeza, jeito.
Muitas vezes o que mais machuca o outro não é aquilo que falamos, mas
como falamos. Precisamos aprender com Marta. Diante dos problemas mais
graves é preciso falar baixinho, sinal de quem confia que Deus está no comando de
sua história. Com Marta precisamos aprender a confiar no amor providente do
Senhor. Viver da providência precisa ser um dos pontos fundamentais de nossa
espiritualidade e de nossa mística, pois significa abandonar-se inteiro em Deus.
Com Marta devemos aprender também a importância do trabalho, do empenho por
um mundo novo, um mundo que precisa ser construído com a colaboração efetiva
de cada um de nós.

4.3.2 Dimensão física

Existe uma profunda relação entre a dimensão física e a dimensão


espiritual. Não rezamos somente com o coração. O corpo também reza, ajuda
a rezar ou atrapalha a oração. Ou seja, o corpo pode ser um grande aliado
ou um inimigo da vida espiritual. Talvez seja por isso que Jesus tenha
insistido tanto na necessidade de jejum e oração. Vejo o jejum não só como
um poderoso instrumento de desintoxicação física, mas também como um forte
aliado espiritual. Além do jejum, Jesus sempre falou da disciplina e da
ascese. A espiritualidade vivida de modo equilibrado pode nos levar a uma
experiência física de bem estar e desintoxicação.

4.3.3 Saúde
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A doença e a dor física, de modo geral, são consequências da

tentativa do nosso organismo de eliminar tudo aquilo que provoca seu

desequilíbrio. Portanto é um grande aviso de que algo não vai bem. Não

podemos simplesmente eliminar seus sintomas. Se são avisos, precisamos

descobrir o que estão querendo nos dizer. Tomemos o exemplo da diarréia.

Ela é um aviso de que algo que comemos não está nos fazendo bem. Se

tomamos um remédio que a elimine, sem descobrir as causas e tratá-las, o

problema permanece e se manifestará de outras formas.

Quando o organismo ou um dos órgãos excretores não consegue

realizar sua função todo o corpo sofre e pode até mesmo provocar a morte.

Se o fígado pára de funcionar, pode gerar a cirrose hepática, que pode levar

à morte. O mesmo acontece com as doenças intestinais, renais, pulmonares e

até com o câncer de pele, muito mais comum do que imaginamos. Aliás,

parece que a Bíblia chama de lepra toda e qualquer enfermidade relacionada

às doenças da pele. Mas se nosso corpo é tão perfeito e se tem os

mecanismos necessários para eliminar as toxinas, porque então nos

intoxicamos? Exatamente porque, pela vida que levamos e especialmente

pelos alimentos que ingerimos, acabamos por comprometer esta sua função

essencialmente vital. No caso das pessoas soropositivas e dos usuários de

drogas o nível de intoxicação e a dificuldade de limpeza são acentuadamente

mais consideráveis ainda.

Para devolvermos a harmonia que nosso organismo necessita para ser

saudável, precisamos urgentemente reduzir ao máximo o grau de intoxicação

para que o próprio corpo possa se limpar, se purificar e até mesmo se

regenerar. A saúde física está relacionada ao equilíbrio e à harmonia do


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nosso corpo. Não devemos ingerir mais do que conseguimos eliminar. Do

mesmo jeito que o excesso de alimento provoca a obesidade, que pode ser

fatal; pode provocar também a intoxicação geral do organismo ou impedir sua

capacidade de limpeza. A pessoa que quer viver sem o uso das drogas e

que precisa viver a partir do HIV, até mesmo para encontrar a cura total de

sua vida, precisa aprender a se alimentar corretamente. Tente imaginar o

quanto de substâncias tóxicas jogamos diariamente para dentro de nosso

corpo?

Normalmente nossos filhos chegam em nossos casas completamente

feridos e machucados. Muitos não têm dentes, alguns não têm roupa, outros

estão fedendo porque há tempo não se preocupam com a higiene pessoal.

Alguns já chegaram com piolhos, sarnas e outras doenças semelhantes. Eles

chegam fisicamente estragados. Com a alimentação correta, o banho diário, o

trabalho e o repouso, verdadeiros milagres começam a acontecer. Em pouco

tempo estão se preocupando novamente com a aparência: roupas novas,

tratamento dentário, cuidado com os cabelos, perfume, etc... Eu acredito, cada

vez mais, que este milagre que observamos em Bethânia pode acontecer na

vida de toda e qualquer pessoa. Basta que nos abramos à graça de Deus.

4.3.4 Alimentação

O grande objetivo neste item é não ingerir toxinas (alimentos com

conservantes, gordura e açúcar em excesso) e aprender a nos alimentarmos

corretamente (qualidade, quantidade e freqüência da alimentação). Alguém já

disse que somos o que comemos. Hoje podemos também afirmar que somos

o que comemos e também como comemos. O horário das refeições precisa ser
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cumprido com o maior rigor possível. O corpo precisa se adaptar ao novo

ritmo de vida.

A vida é também estressante pela loucura da correria dos horários,

especialmente o sagrado horário das refeições. Não se tem mais tempo de

permanecer sentado com a família. Come-se muito depressa. Há tanta coisa

para fazer que, parece que parar para comer é perda de tempo. A mesa

precisa ser redescoberta como lugar de cura, restauração e até como

privilegiado lugar de revelação da graça e do amor de Deus. Basta lembrar

quantas vezes Jesus se manifestou em torno da mesa. Muitos estudiosos

chegam a afirmar que 80% de todas as doenças fatais que existem no

mundo são conseqüentes de intoxicação (fumo, álcool, carne, ovos, laticínios,

café, açúcar, produtos que contenham conservantes, bebidas gaseificadas e

refrigerantes em geral). Logicamente que os maiores responsáveis aqui são o

fumo e o álcool, mas não podemos ignorar que, muitas vezes, acabamos

“comendo” nossas doenças.

Em Bethânia não consumimos nada que contenha conservantes. Por

isso não bebemos refrigerantes e nem sucos que não sejam naturais, não

consumimos nenhum derivado de porco e evitamos produtos industrializados

em geral. O café só é permitido uma vez ao dia, de manhã, e mesmo assim

misturado ao leite. Também não permitimos que se coma fora de hora, nem

mesmo uma simples bolacha e muito menos chocolates e doces

industrializados. Procuramos nos alimentar com comidas naturais. Afinal de

contas, aqueles que nos procuram e que desejam viver em nossos Recantos

estão completamente intoxicados: pelas drogas ou pela diminuição da defesa

do organismo.
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Mantemos em cada casa uma horta onde cultivamos as hortaliças que

consumimos. Quando consumimos verduras, nosso organismo queima mais

calorias para digeri-las do que recebe das mesmas. Logo, se o organismo

gasta gorduras para digerir verduras, quando as comemos estamos nos

desintoxicando e emagrecendo. Talvez seja por isso mesmo que a Bíblia afirme:

“Deus disse: Eis que eu vos dou toda a erva que dá semente sobre a terra,

e todas as árvores frutíferas que contém em si mesmas a sua semente, para que

vos sirvam de alimento .” (Gn 1,29). “O Senhor Deus fez brotar da terra toda

sorte de árvores e de frutos bons para comer” (Gn 2,9). Sem querer cair no

vegetarianismo ou coisa parecida, já que também comemos carnes e massas

procurando somente não exagerar; cada vez mais nos convencemos da

necessidade de uma alimentação sadia, feita com calma e tranqüilidade.

A mesa é lugar sagrado. Por isso, custe o que custar, é preciso

saborear os alimentos num clima de serenidade, paz e harmonia, sem

nenhuma espécie de discussão, gritaria e música alta. Reforço cada vez mais

a necessidade de evitar todo e qualquer alimento que teve sua força vital

destruída, quimicamente ou não (açúcar, sal, café, bebidas alcoólicas,

refrigerantes, aditivos químicos). A pessoa que quer se desintoxicar deve evitar

consumir estes produtos, ou quando for necessário, consumir a menor

quantidade possível.

Reaprender a comer não é trabalho fácil, pois a cultura alimentar, como

toda cultura, está mais do que enraizada em nossa cabeça. Mas sempre é

tempo para aprender. Se a correta alimentação é muito importante para a

limpeza do organismo, o jejum é o mais fenomenal instrumento de

desintoxicação que o ser humano conhece, pois ele atinge não somente a
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dimensão física, mas também a afetiva e espiritual. Além de desintoxicar o

corpo, o jejum nos coloca em solidariedade efetiva com os famintos e nos

aproxima de Deus, já que nos purifica das inclinações pecaminosas e da

busca dos prazeres ilícitos. É impressionante observar a natureza.

4.4 ENCONTRO 04

Sugestões: Dinâmica – Levar todos até um setor da comunidade (ex.: horta,


estrebaria, galinheiro). Combinar com o responsável do setor para não realizar as
rotinas de limpeza. Grupo auxiliará na limpeza, com o responsável explicando.

4.4.1 Esporte

A organização do horário, desde a hora de levantar-se até o repouso noturno,


deve prever momentos reservados para a oração pessoal e comunitária, para o
trabalho e o esporte, para o descanso e o lazer, bem como estabelecer metas e
objetivos comuns. Nunca os desejos pessoais devem prevalecer às necessidades
comunitárias.
O trabalho e o esporte em contato com o sol, evitando a superexposição que

pode provocar doenças terríveis, nos oferece os benefícios da energia solar

imediatamente. O sol ajuda a queimar as toxinas, além de aumentar a sede, que

nos faz absorver mais água. É um maravilhoso círculo desintoxicante.

4.4.2 Trabalho

Um dos fatores privilegiados para a restauração que almejamos é o

trabalho sério, metódico, persistente e, sempre que possível, em contato direto

com a natureza. O trabalho braçal produz verdadeiros milagres na

desintoxicação, pois torna mais intensa a ventilação pulmonar, a circulação do

sangue e todo o metabolismo de nosso corpo. Aliado à correta alimentação e


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ao repouso, o trabalho ajuda a limpar nosso organismo e nos coloca em direta

relação com Deus e com o mundo. Em Bethânia olhamos para o trabalho como

um privilégio sagrado. Por meio do trabalho ajudamos a criar dignidade e

auto-estima. O trabalho merece uma atenção muito especial, pois, além de

ajudar na desintoxicação física (suor, ritmo, persistência e perseverança), nos

dá a oportunidade de um contato íntimo com o meio ambiente: terra, ar, sol,

plantações e animais. O trabalho tem portanto, em primeiro lugar um grande

sentido pedagógico, mas, acima de tudo, ele é um poderoso aliado para a

restauração completa da pessoa.

O contato com a terra ajuda a manter o equilíbrio físico-psíco-espiritual.

É como um retorno ao Paraíso Bíblico, do ser humano criado em contato

com a natureza, tirando da terra o seu sustento e humanizando-se no contato

com os animais. O contato com a terra é um fator de limpeza geral do

organismo e também de equilíbrio físico e emocional. O cheiro da terra nos

liberta e nos ajuda a reencontrar um sentido novo para a vida, já que nos

faz pensar no pó que somos e no que podemos nos tornar, pela graça de Deus

e pelo nosso esforço pessoal. Hoje em grandes centros de reabilitação física e

psíquica é notório o papel benéfico do contato com os animais na

recuperação até mesmo de casos extremamente graves de retardamento físico

e/ ou mental. O contato e o cuidado com a natureza, especialmente com os

animais e com as flores e plantas em geral, merece um destacado lugar em

nosso estilo de vida.

Em cada Recanto reservamos espaços para jardins, horto, horta, viveiros

e lagoas. Quando a pessoa aprende, por experiência concreta, a importância

de uma planta, o valor de uma ave, a beleza de uma flor, então acabará
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também redescobrindo seu próprio valor. A dependência química tira nossa

sensibilidade. Pior ainda para os homens que são educados num mundo

machista. O cultivo dos jardins é, para Bethânia, mais importante do que a

plantação de uma lavoura de milho ou feijão. Uma lavoura assim levaria, no

mínimo, uns quatro meses para que o resultado aparecesse. Num jardim, o

processo entre limpeza da terra, adubagem, preparação dos canteiros,

semeadura, cultivo e colheita das flores é muito rápido. Com isso, em quatro

ou cinco meses a pessoa já vivenciou esse processo, ao menos durante

umas cinco ou seis vezes.

A ciência nos ensina que o sol é a base da alimentação humana. Os

vegetais, através da fotossíntese, armazenam a energia solar e depois nós as

absorvemos através da alimentação. O trabalho e o esporte em contato com

o sol, evitando a superexposição que pode provocar doenças terríveis, nos

oferece os benefícios da energia solar imediatamente. O sol ajuda a queimar

as toxinas, além de aumentar a sede, que nos faz absorver mais água. É

um maravilhoso círculo desintoxicante. O alimento mais importante para nosso

organismo é o ar. Sem ele morremos. Quando respiramos o ar poluído, o

alimento vira doença. Precisamos de ar puro. Por isso, nossos Recantos

estão localizados sempre em um sítio, cercado de muita plantação e água.

Precisamos purificar o ar que respiramos. O trabalho em contato com o ar

puro desintoxica e cura. O trabalho ao ar livre ajuda a melhorar as funções

dos pulmões e especialmente do diafragma, além de revigorar a pele e

eliminar, pelo suor, grande quantidade de toxinas.

4.4.3 Repouso
21

O sono é um grande mecanismo de descanso e regeneração das

funções vitais de nosso organismo. Dormir bem é um fator essencial para a

limpeza geral de nosso corpo. Por isso em Bethânia somos rigorosos. Cada

um deve dormir cerca de oito horas por noite. Às 22h30 se encerram todas

as nossas atividades e o dia só começa a partir das 7h. Durante o dia, a

não ser em caso de doença grave e por explícita recomendação médica, é

absolutamente proibido dormir, para não atrapalhar o sono da noite e também

para ajudar nossos filhos a reorganizarem o relógio biológico.

4.5 ENCONTRO 05

Sugestões: Vídeo “O canto das Írias”.

4.5.1 Motivo Maria

Maria, do hebraico Miryam, vem do egípcio mrjt e significa amada.


Segundo os evangelistas, Maria de Bethânia é aquela que seis dias antes da
Páscoa ungiu Jesus na casa de Simão, o leproso pecador (cf. Jo 12). Também dela
se diz que Jesus expulsou sete demônios, ou seja, sua vida foi terrivelmente
marcada pelo pecado, mas, a experiência que fez de Jesus foi tão profunda que a
transformou numa “discípula”, por isso mesmo sua atitude passa a ser a
escuta amorosa. Maria é aquela que está sentada aos pés do Mestre. (Lc 10,39.
42). Aliás, três vezes os evangelhos nos mostram Maria aos pés do mestre (Jo 11;
12).
Maria de Bethânia, que ungiu Jesus no jantar na casa de Simão (Mt 26, 6-13;
Mc 14, 3; Jo 12,1ss) usou um perfume muito caro e de grande valor. O
perfume valia uns 300 denários, o que correspondia há um ano inteiro de
trabalho. Maria de Bethânia tinha numerosos pecados (Lc 7,47.49). Que
pecados poderiam ser?
Maria de Bethânia era prostituta de leprosos. Era um serviço terrível. Imagine
a humilhação. E por realizar algo tão terrível acabou conseguindo ajuntar uma
22

boa soma em dinheiro, já que o perfume era muito caro (Mt 26,7). Muitos
pecados estavam concentrados em sua essência. Inclusive, faz um grande
sentido com a unção de Jesus. Ele, que não tinha pecados, se faz pecado por nós e
é ungido com um perfume que era a somatória de muitos pecados (cf. 2Cor 5,21).
São João diz que o perfume, além de caro, tinha um grande valor (Jo 12,3).
Isso quer dizer que não tinha apenas um alto custo monetário, mas especialmente,
tinha valor incalculável para a dona, já que era uma das ferramentas mais
importantes em sua profissão. Ademais, era o símbolo de s ua vida: a síntese de seu
passado e o melhor investimento para o futuro. O valor aproximado desse perfume
correspondia a 180 dias de trabalho. Maria quebrou o vaso depois de
derramar tudo.
Consagrar é dar tudo e ainda quebrar o vaso! Interessante que São Marcos
diz que o perfume era de nardo puro (Mc 14,3). Ela, a impura por profissão, usava o
delicado perfume de uma bela flor que simbolizava a pureza. Que gesto maravilhoso
e profundo Maria teve ao quebrar o vaso. Se o perfume simbolizava seu passado
(tudo que ela economizou para comprá-lo); seu futuro (os fregueses que
conseguiria se perfumando); ao quebrá-lo simbolizou também o seu presente:
naquele momento ela tomou uma decisão radical. Ao quebrar o vaso, quebrou
também toda a possibilidade de voltar a pecar. Ela não deixou nada escondido.
Naquele momento nascia uma nova mulher. Ao mostrar-se inteira para Jesus,
acaba transformando-se, ali mesmo, numa grande discípula, que mais tarde estará
sentada aos pés do mestre (Lc 10,38s).
Ela deu tudo. Não reservou nada para si mesma. Teve a coragem de se
mostrar inteira diante de Jesus. Maria de Bethânia torna-se para todos nós um
modelo e um sinal. Com ela queremos nos despir de todos os nossos pecados, de
todas as nossas fraquezas e hipocrisias. Com ela queremos aprender a entregar
para Jesus todo o nosso passado, inclusive aquilo que é conseqüência de nossos
pecados. Como Jesus acolheu Maria de Bethânia, queremos também ter a
coragem de acolher, de tocar e permitir que nos toquem todos aqueles que estão
jogados à margem da vida.
Com Maria de Bethânia queremos aprender a nos sentar aos pés do mestre.
Sem uma verdadeira atitude de oração a vida perde o seu sentido. Com ela
aprendemos a transformar a vida em oração. Aliás, a verdadeira oração é sempre
uma releitura da vida à luz da misericórdia infinita do Senhor. Em nossos Recantos
23

queremos que reine sempre um clima favorável à oração contínua e à


meditação. O mundo tem medo do silêncio. O barulho acaba se tornando uma
grande fuga. “Em Bethânia, não se agita para servir a Deus: contempla-O e escuta-
O: quem tem Jesus tem tudo” (Pe.Dehon).
Uma outra dimensão muito importante que percebemos da atitude de
Jesus com Maria de Bethânia, está embutida no citado texto da unção de Bethânia
(Jo 12,1ss; Mt 26,6-13; Mc 14,3-9; Lc 7,36-50). São João é explícito em afirmar que
faltavam somente seis dias para a festa da páscoa, quando Maria teve essa atitude
de profunda conversão. É impressionante pensar na ternura de Jesus.
Quantas vezes ele esteve em Bethânia? Quantas vezes dormindo naquela
casa ele deve ter ouvido os passos de Maria, voltando depois de uma noite de
pecado? E como ele esperou até o último momento... Jesus não desistiu de
Maria de Bethânia. Ele também não desiste de nenhum de nós.
Maria de Bethânia levou muito tempo para se converter. Nem mesmo o
grande milagre da ressurreição de seu irmão foi capaz de mudar seu coração
empedernido e machucado. Parece que o mais forte em sua vida era o pecado.
Jesus continuou acreditando em Maria de Bethânia mesmo tendo presenciado
muitas de suas recaídas. Ela teve momentos lindos de oração aos pés de Jesus, e
depois voltava para a prostituição. Jesus continuou esperando.
Jesus é o mestre do acolhimento para todos aqueles que caem ou
recaem no pecado ou nos vícios. Ele não condena ninguém. Sempre há tempo!
Mesmo que seja na última semana, como foi para Maria de Bethânia (Jo 13,1).
A conversão de Maria, sendo posterior à ressurreição de Lázaro nos mostra
o carinho, a ternura, e, principalmente, a esperança em Jesus. Ele não desiste de
Maria, mesmo depois de suas inúmeras recaídas. Deus não força, nunca! Jesus
sempre propõe a graça de Deus e oferece o amor gratuito, absoluto, incondicional.
Por isso também, Maria de Bethânia é o grande modelo para a restauração
espiritual, de todos e de cada um de nós.
Um outro fato que chama nossa atenção é quanto à preocupação de
Judas com o valor do perfume. Segundo ele, daria para ajudar muitos pobres
e Jesus diz: “pobres, sempre tereis entre vós.”(Jo 12,8). A meu ver, o sentido
profundo dessa frase de Jesus se relaciona com nossa pobreza interior. Nunca
devemos julgar ninguém, pois cada um de nós tem áreas empobrecidas em nossa
vida. A pobreza de que Jesus fala significa nossa miséria interior, nossos vícios,
24

nossos pecados. Significa também que cada um de nós precisa lutar sempre contra
essa pobreza interior.

4.5.2 Dimensão Espiritual

A maior carência do mundo moderno é a graça da experiência de

Deus. A maioria dos que chegam até nossos Recantos está há muito tempo

longe de Deus. Nunca tiveram uma verdadeira experiência do amor de Deus

e nem de práticas religiosas. Não sabem mais rezar. Há tempo não se

confessaram. Outros embora adultos, não fizeram primeira eucaristia. Já

tivemos até mesmo pessoas que não tinham sido batizadas.

Com a vivência na comunidade nossos filhos e filhas começam a

redescobrir a importância da religião, não somente como prática religiosa, mas

como uma necessidade vital. Religião significa “ligar de novo”. Em pouco

tempo muitos manifestam o desejo pelo sacramento da reconciliação, pela

eucaristia e pelos demais sacramentos, além de buscarem uma comunhão

com Deus através da oração pessoal e em grupos.

Em Bethânia não temos medo de manifestar explicitamente a nossa fé.

Não temos dúvida que sem a experiência de fé é impossível êxito em

qualquer trabalho de restauração. A droga não atinge somente o corpo. O

HIV não atinge somente a capacidade de defesa do organismo. O ser

humano não existe somente na dimensão física. Se isso acontecesse, ele

seria matéria pura ou um ser animalesco e irracional. Infelizmente o mundo

fechou as portas do coração para Deus. O afastamento de Deus acaba

gerando um ser humano frio, ferido, machucado, cheio de mágoas e

ressentimentos. O estresse que tantos experienciam é fruto da ausência de

uma comunhão sincera e equilibrada com Deus.


25

A experiência da dependência a Deus ajuda a nos livrar da dependência

química. Durante o dia reservamos momentos específicos para a oração

pessoal e comunitária. Logo ao acordar, nosso primeiro contato do dia, é com

Deus, através da oração comunitária. O Louvor da Manhã, feito a partir da

leitura de um Salmo ou do Evangelho do dia, através da partilha de cada

um, ajuda a dar um novo sentido para aquele dia.

Da mesma forma que o primeiro contato do dia é com Deus, é com

Ele também que precisamos ter o último contato, a cada noite. Antes do

repouso noturno, nos reunimos em grupos para partilhar o dia, refletir os

acontecimentos, ajudar a superar as dificuldades e corrigir atitudes e

comportamentos errados. A oração da noite nos ajuda a tomarmos

consciência do valor do dia, a louvarmos e agradecermos pelo dia vivido,

puro dom de Deus e nos prepara para o merecido repouso.

Durante o dia reservamos momentos para a recitação do Rosário

Mariano, do Terço da Providência ou da Misericórdia. Estes momentos podem

ser realizados em grupos ou individualmente. Antes de cada refeição recitamos

o Ângelus e encerramos sempre as refeições com a oração do Glória ao Pai.

Ninguém pode se levantar da mesa antes do responsável do dia convidar

para recitar esta oração. Como já vimos, a mesa é um lugar sagrado.

Precisamos favorecer um clima de diálogo, partilha e verdadeiro encontro de

irmãos pertencentes a uma grande família.

Temos uma especial atenção quanto à formação religiosa de nossos

filhos, especialmente no tocante a possibilidade da celebração periódica do

sacramento da Reconciliação, bem como a preparação para os sacramentos

do Batismo e Primeira Eucaristia. Embora todos sejam livres e ninguém seja


26

obrigado a confessar, comungar, ou buscar outro sacramento, percebemos

que a vivência sacramental é uma poderosa aliada na cura e restauração de

nossa vida. Na raiz de todas as enfermidades que vivemos está uma

saudade e um desejo de um encontro profundo e pessoal com Deus.

Bethânia tornou-se um grande centro de vivência e difusão de

espiritualidade. O mundo tem sede de Deus. Só que não sabe disso ou tem

medo de se manifestar. Os retiros que realizamos, não somente para nossos

filhos e benfeitores como também para todos aqueles que almejam viver esta

experiência de amor, são privilegiados momentos de experiência de Deus,

aprofundamento da fé, cura do coração, renovação da esperança e

reabastecimento para enfrentar as dificuldades da vida.

4.6 ENCONTRO 06

Sugestões: Vídeo Casal bêbado e “momentos”, dinâmica “minha qualidade,


meu defeito” (PAYÁ; MELO; FIGLIE, 2004, p. 283).

4.6.1 Motivo Lázaro

Lázaro, em hebraico el‘azar significa: Deus Ajudou. Jesus foi até Bethânia
para ressuscitar Lázaro. O Evangelho de São João nos conta este episódio tão rico
em humanidade. Jesus vai como consolador de suas amigas queridas e ali revela
sua profunda humanidade. Jesus chorou! Seu choro externalizou sua comoção, seu
profundo amor ao amigo,(sua capacidade de se colocar no lugar do outro), sua
empatia com Marta e Maria. Jesus chorou,isto é, foi capaz de se colocar no lugar do
outro.
É muito importante descobrirmos toda a riqueza deste episódio, narrado de
forma espetacular por São João (cf. Jo 11).O choro de Jesus mostra o seu lado
humano. É interessante observar que o Evangelho de São João é o que melhor
evidencia a divindade de Jesus, o mais teológico de todos, tanto que no episódio da
27

ressurreição de Lázaro, aparece a confissão do senhorio de Jesus em sete


explícitas ocasiões e deixa transparecer de modo tão evidente o lado
profundamente humano de Jesus.
Ele chega próximo de todos os que sofrem e choram (1 Ts 4,13), mas não
com um choro desesperado daquele que não confia e não experiencia o amor de
Deus, e sim como uma atitude concreta de unidade ao sofrimento e à vida do
próximo. Jesus tem coração! Ele nos revela um Deus que está próximo de cada ser
humano que sofre.
Não é um Deus longe, distante e insensível. Cada um de nossos Recantos
precisa ser lugar de aconchego, de ternura e, sobretudo, de acolhimento. Queremos
nos solidarizar com cada pessoa que nos procura.Queremos ter a capacidade de
chorar com os que choram. Queremos ser um ombro amigo para aqueles que já
perderam o sentido da vida e estão, como Lázaro, nos sepulcros das drogas, da
violência, da prostituição, das doenças incuráveis, do abandono... “O que fizerdes
ao menor dos meus irmãos... Eras tu Senhor?” (Mt 25,31s).
São João procura perceber o profundo sentido dos milagres de Jesus. A
ressurreição de Lázaro é o mais longo registro de um milagre no Novo Testamento.
E isto é intencional. São João não está apenas narrando um fato acontecido, por
mais extraordinário que seja. São João está testemunhando o poder de Deus em
Jesus, de modo concreto, visível e palpável. Ele está nos dizendo que quando tudo
parece perdido... sem esperanças... Eis que surge Jesus. O bem pode vencer o
mal até mesmo nos fatos aparentemente mais impossíveis.
Com Cristo o que predomina é a vida e não a morte. Como Cristo queremos
ser canais da vida plena para todos aqueles que já perderam o sentido da vida.
Jesus fez o milagre, mas foram os amigos de Lázaro que retiraram a pedra do
sepulcro. Fazia quatro dias que Lázaro estava no sepulcro.Era um absurdo retirar
a pedra. Mas por causa da Palavra de Jesus o milagre aconteceu.

4.6.2 Dimensão Psicoafetiva

Na medida em que a pessoa vicia-se nas drogas ou fecha-se numa

sexualidade genitalizada e egoísta, deixa de lado seus principais

relacionamentos. A droga não permite ser partilhada. Ela é sempre


28

excludente. Quem se deixa seduzir por ela acaba se aniquilando. O

casamento vai por água a baixo. O relacionamento com os pais torna-se, em

muitos casos, insuportável. A afetividade fica totalmente quebrada. A pessoa

machucada não consegue mais amar e nem se sentir amada. Se o amor

vem de Deus, e somente quem é nascido de Deus e conhece a Deus

consegue amar, a dependência química, grande arma do encardido para

deformar o ser humano, acaba produzindo uma pessoa fria, machucada,

ferida, magoada e sem esperanças.

Com o processo de restauração física e espiritual, a afetividade,

especialmente no campo dos relacionamentos, começa a vir à tona

novamente. A família que antes era relegada a um plano muito inferior passa

a ser muito importante. Com a restauração física, volta especialmente nos

mais jovens toda a potencialidade afetiva e sexual. O que estava antes

adormecido ou excluído em função da opção pelas drogas, agora vem à tona

e com isso experimentamos muitos e sérios problemas, já que também a

afetividade precisa ser trabalhada e desintoxicada.

Do mesmo modo que a dependência química e a contaminação por

HIV provocam um desequilíbrio afetivo e emocional; a intoxicação também

gera distúrbios psíquicos. As emoções provocam uma descarga de adrenalina

na corrente sanguínea, que gera um obstáculo para a limpeza do corpo e

aumenta o grau de intoxicação. Cria-se um círculo vicioso, já que a

intoxicação torna ainda mais graves os distúrbios do nosso psiquismo. Hoje,

mais do que nunca, sabemos da somatização e de seus terríveis efeitos.

Sabemos também que os problemas afetivos e emocionais acabam

atrapalhando nossas funções cerebrais.


29

É preciso educar para o verdadeiro amor, especialmente num mundo

em que amar é um desafio quase sobre-humano. Os grandes meios de

comunicação social falam de um amor poético e sem nenhum problema. Um

amor inconseqüente. Light. Os jovens estão “ficando” ou vivem “no rolo”. É

preciso educar para o verdadeiro amor. É preciso ensinar a importância dos

relacionamentos sadios e sarados. Não permitimos o namoro entre filhos e

filhas, pois sabemos que, primeiramente, é preciso consertar a vida para

depois construir relacionamentos sadios. Mas, até que ponto o namoro faz

parte da construção destes relacionamentos?

Ainda na dimensão psico-afetiva, é essencial o contato de nossos filhos

com seus familiares. A participação e o apoio da família são essenciais neste

processo. O mesmo refere-se às boas amizades. O horário de visitas

semanais é um momento forte de convivência, partilha e ajuda mútua.

4.6.3 Reconstrução dos relacionamentos

Procuramos ajudar a descobrir e a cultivar relacionamentos equilibrados


consigo mesmo e com os outros. A afetividade, o cultivo correto das emoções, o
sentir-se responsável por si mesmo e pelos outros provoca uma redescoberta do
sentido da vida. Dentro desta dimensão, procuramos viver a prática da amizade
fraterna numa comunidade de vida onde cada um é valorizado como pessoa e não
por aquilo que fez no passado. A vida é hoje! É a partir da vivência correta do hoje
que construímos o amanhã.
É essencial o contato de nossos filhos com seus familiares. A participação e o
apoio da família são essenciais neste processo. O mesmo refere-se às boas
amizades. O horário de visitas semanais é um momento forte de convivência,
partilha e ajuda mútua.
30

4.7 ENCONTRO 07

Sugestões: Dinâmica – escrever um sonho, colocar dentro do balão e amarrar


no pé. Sem perceber incentivar um a estourar o balão do outro. Quando terminarem
questionar: Porque estouraram? Refletir: Qual o sentimento de perder? Procurar o
sonho que está no chão.

4.7.1 Maturidade Afetiva

4.7.2 Sexualidade Integrada

Em consonância com a visão integral de homem já trabalhada neste material


por meio das palavras do Pe. Léo no Viver Bethânia, trazemos considerações
acerca da Teologia do Corpo (TdC) de São João Paulo II, que colabora oferecendo
também uma visão total do ser humano, da beleza da sexualidade, do mistério do
corpo e do nosso chamado ao amor. Partindo desses princípios, a TdC nos convida
a transformar nosso olhar e corrigir nossa linguagem.
São João Paulo II afirmou que é necessário ensinar a amar, e empenhar
forças a favor do “belo amor”. Isto quer dizer, precisamos educar para o amor
autêntico capaz de tirar da solidão. Em seus escritos pontua um giro na
compreensão do corpo. A partir da TdC trabalhamos o corpo humano como eixo da
salvação, possibilidade de tornar o mistério de amor visível.

4.8 ENCONTRO 08

Sugestões: Entrevista do Pe. Léo no Jô Soares, dinâmica “Conhecendo a


fissura” (PAYÁ; MELO; FIGLIE, 2004, p. 113).

4.8.1 O Mundo das Drogas

Sabemos que as drogas são um dos maiores problemas do mundo

moderno. E quando falamos mundo, não estamos usando a palavra somente

como força de expressão para evidenciar ainda mais o problema. De fato, o


31

mundo todo está sofrendo as terríveis conseqüências desta praga de final de

século e início do novo milênio. Diante deste problema, surgem muitos

questionamentos e algumas pistas de solução. Neste capítulo procuraremos

apresentar sucintamente alguns aspectos relacionados à dependência química.

A dependência química é a oitava causa de solicitação de internação

hospitalar, revela a Organização Mundial da Saúde (OMS). Dados da mesma

fonte apontam a doença como responsável por 64% dos homicídios, 39% dos

estupros, 80% dos suicídios, 60% dos casos de agressão a crianças, 35% a

64% dos acidentes de trânsito e como o terceiro motivo para afastamento do

trabalho. O abuso de substâncias psicoativas causa danos de proporções

alarmantes e a Medicina se desdobra para conter o avanço dessa tragédia. A

dependência química é catalogada pela OMS como doença fatal e primária,

ou seja, não é decorrente de nenhuma outra. Apenas um pequeno número de

dependentes tenta e consegue deixar as drogas permanentemente.

O uso de drogas, apesar das sensações de prazer e alívio

proporcionadas, sempre resulta em conseqüências negativas. O dependente

químico é um escravo da droga. Apesar do empenho da Medicina, não existe

fórmula mágica para tratar a dependência química. Por isso é preciso que a

pessoa queira mudar de vida e esteja disposta a deixar as drogas. Portanto,

parte de uma decisão pessoal, o que nem sempre é fácil. O uso de drogas é

uma tentativa de não sentir a dor existencial, uma maneira de não pensar,

de não sofrer. É fuga! Para livrar-se deste mundo terrível é preciso aprender

a esperar, abrir mão do desejo, ter autodisciplina, pedir ajuda, equilibrar a

auto-estima e modificar o vocabulário para evitar a apologia às drogas e

afastar-se dos ambientes que estimulem o uso.


32

O uso de drogas é resultante da não aceitação de si. Na relação

pessoa-droga não há lugar para o semelhante. O dependente químico volta a

usar drogas quando, consciente ou inconscientemente, não consegue criar

novas saídas em situações de crise, seja em momentos de triunfo ou de

fracasso. Por isso é preciso aprender a trabalhar e descobrir novas

possibilidades de existir fora da droga. O primeiro e principal sintoma da

dependência é a negação. O dependente nunca se assume como tal. Daí a

necessidade de quebrar os mecanismos de defesa. O dependente precisa

concluir que é impotente diante da droga e que sua vida tornou-se

ingovernável. Este é o primeiro momento para a cura. Em segundo lugar é

preciso convencer-se de que é possível mudar. A partir daí é preciso

estimular esta decisão e ajudar no empenho pela mudança. Neste processo é

muito importante compartilhar a vida com alguém de extrema confiança. Para

o dependente é muito difícil confiar em alguém, pois ele não confia nem em si

mesmo.

A OMS reconhece também a co-dependência. Significa que quem

convive com o usuário de drogas torna-se emocionalmente instável, sofre de

insônia, enxaqueca e gastrite. A droga do familiar é o próprio dependente

químico. Em Bethânia valorizamos muito o contato com a natureza, pois esta

harmonia ajuda na busca da auto-estima perdida. A restauração precisa ser

física, mental, emocional e espiritual.

A razão pela qual não fazemos uso de remédios é que, infelizmente,

os remédios usados para combater a ansiedade e a depressão são contra

indicados porque também provocam dependência. Acabam sendo somente a

substituição de uma droga ilícita por uma droga lícita.


33

Entre os muitos questionamentos que nos fazem, destacamos:

a) Porque os jovens se drogam?

b) Que mecanismos são acionados em sua vida para que se inclinem ao


vício?

c) Que forças interiores se somam para levar o dependente químico a


essa condição?

Apresentamos aqui algumas tentativas de respostas:

 Curiosidade: este é o motivo primeiro: saber como é, no que consiste, o


que se sente.

 Pressão do grupo: os que se recusam a entrar no jogo logo são


tachados de atrasados, retrógrados... Está na moda e é fácil, e modas

contagiam mais do que infecções. É preciso ser decidido e estar em ambiente

de muita proteção para não deixar-se levar por essa corrente.

 Satisfação: o mundo das drogas representa para o jovem a satisfação


de uma sede de aventuras e de uma necessidade de novas experiências.

Tem-se o desejo de ver tudo, olhar tudo, experimentar tudo. Na verdade é

como se o jovem quisesse nos dizer: “Quero viver intensamente, experimentar

sensações novas e intensas”. É um afã desordenado de mergulhar em todos

os cantos da vida.

 Desejo de escapar de si próprio: o jovem abandona-se numa

passividade que repudia tudo o que significa esforço e responsabilidade,

facilmente desiste diante de qualquer problema ou obstáculo.

 Fuga e Protesto: a droga é sempre fuga. Dá-se, então, uma reação


contra os adultos e a sociedade que os criou: racionalista, baseada no

sucesso e no dinheiro, burocratizada, montada sobre o consumo e muito


34

afastada dos valores, especialmente, do espiritual. Não se agradando desta

sociedade, o jovem quer fugir para outra que não tenha os mesmos

problemas. Assim, inicia-se a fuga em direção aos paraísos artificiais que a

droga promete. Estimulado pela crítica aos mais velhos, o jovem busca uma

nova liberdade que, em médio prazo, termina numa sugestiva prisão na qual

ele vai ficando fechado – física, psíquica, social e espiritualmente. Fuga e

protesto são duas palavras-chave para compreender o mecanismo de

funcionamento da dependência química. Quem se droga, no fundo, está se

rejeitando conformar-se com o mundo e quer outro melhor. Desaprova uma

realidade que considera uma prisão. E aqui cabem três observações

importantes: a moral interpretada como hipocrisia, a felicidade como auto-

engano e a vida como uma questão de ter e acumular. Isso é o que eles

acabam captando e é, na verdade, a mensagem que estes jovens transmitem.

 Reação ao Vazio Espiritual: Uma das grandes causas da dependência


química, senão a maior, é o vazio espiritual. No mais profundo do coração

humano está, como nos lembra S. Agostinho, um grande desejo de Deus: O

coração humano está inquieto até o dia em que repousar em Deus. Na

grande viagem das drogas, se esconde um desejo de Deus e uma forma

pervertida de mística que pula a ascética e tudo o que ela exige (sacrifícios,

jejum, oração, penitência...). A sede de infinito que todos trazemos dentro de

nós se satisfaz mediante a chave ilusória da droga. A droga é uma mística

falsa num mundo materialista, hedonista (só quer o prazer) e de consumo.

Por isso podemos dizer que a droga acentua o vazio de nossa sociedade e

a falta de consistência em alguma coisa mais sólida e que seja capaz de

preencher tantas lacunas no coração do homem.


35

 Fugir da Dor: a droga permite afastar a dor e o sofrimento, desterrar os


sentimentos de fracasso e frustração, ainda que apenas momentaneamente.

O dependente químico fugiu da luta, só quer saber de sensações vazias e

baratas e que não levam a compromisso nenhum. Por isso é tão difícil viver

na sobriedade. De vez em quando a casa cai! Diante de situações negativas,

problemas ou dificuldades, infelizmente, muitos caem. O caminho mais rápido

é também o mais frágil e volúvel. E o resultado é que a droga monta a

armadilha de pensar que essa fuga das contrariedades é duradoura. Aos

poucos isso significa a perda da liberdade interior e a submissão a um dono

fanático e devorador. É a dependência.

 Falsa Liberdade: A verdadeira liberdade tem somente um objetivo: o


bem. E o bem é aquilo capaz de saciar a mais profunda sede do coração

humano. A falsa liberdade das drogas gera uma paixão inútil, totalitária e

descomprometida. Uma armadilha. Nela se esconde a busca do processo de

identidade pessoal.

 Dependência: Uma vez instalada a droga, as motivações mudam. Com


a droga se combate o tédio e a falta de um projeto de vida coerente e

realista. O jovem vai sendo dominado por esse “deus” mágico e maravilhoso,

que conserta tudo na hora, mas que depois manda uma fatura imensa: a

dependência e a tolerância. Dependente, não consegue mais ficar sem as

drogas (maconha, cocaína, álcool, cigarro, etc...) e ao contrário, é comum

experimentar a síndrome da abstinência. A dependência é a progressiva

adaptação (física, psíquica, espiritual) da pessoa, de tal forma que em pouco

tempo se torna escrava destas drogas. No plano biológico, segundo os

especialistas no assunto, esta progressiva dependência tem uma base


36

metabólica, que é chamada de protesto celular. A tolerância aparece numa

fase posterior e consiste na necessidade de ir incrementando progressivamente

a dose para produzir os efeitos do princípio.

 Escravidão: O que antes significava liberdade, agora é escravidão. A


dependência acaba gerando a escravidão. O usuário torna-se prisioneiro da

droga. E a droga é um feitor tirano. A escravidão caracteriza-se por um

estado de ânimo que expressa uma contínua avidez, um terrível desejo, uma

paixão incontrolável, um impulso irracional e incoerente. É a contínua busca

do nada. No entanto, a partir da nossa experiência e também de muitos

estudos modernos, o que na verdade o dependente químico está procurando

é acabar com a rotina cotidiana, e, mesmo sem saber, voltar-se para o

infinito. Como já afirmamos, a dependência química é a expressão permanente

da busca inconsciente de Deus.

4.8.2 Desintoxicação

Vivemos num mundo altamente intoxicado e intoxicante. Vamos


acumulando toxinas que nos chegam pelo ar (poluição), pelos alimentos, pela
água, e pelas substâncias propriamente tóxicas ou drogas. Nosso corpo é a
máquina mais perfeita que existe no universo. Ao criar-nos, Deus já nos deu
a capacidade de nos desintoxicarmos. Aliás, esta capacidade divina é
manifesta até mesmo antes de nascermos.
Para que continuemos o trabalho da desintoxicação, Deus nos deu os
órgãos excretores. Percebemos quando comemos algo que não nos faz bem.
Logo podemos ter uma diarréia, uma crise de vômito ou mesmo um
acentuado aumento da urina. Tudo isso é sinal de que o organismo está
tentando se desintoxicar. Por isso que quando temos uma doença intestinal,
devemos fazer também um regime alimentar para ajudar a combater a doença.
37

Quando ingerimos uma quantidade de toxina que seja maior do que a


capacidade que nosso organismo tem de eliminá-la, nos sentimos mal,
pesados, estressados e doentes. Infelizmente nosso corpo está saturado de
toxinas. Imagine o de uma pessoa que compromete ainda mais este
mecanismo com a ingestão de drogas ou com a diminuição da capacidade
de defesa que o organismo possui. Nosso corpo, perfeito como é, possui
mecanismos de limpeza geral: intestino, rins, fígado, pulmões e até mesmo a
pele (suor).
Não podemos sobrecarregar estes órgãos ou diminuir sua capacidade de
funcionamento. Quando isso acontece, qualquer doença pode tomar conta do
corpo. E isso, infelizmente, é mais do que comum hoje em dia. Vivemos uma
vida em contínua tensão. Com isso experienciamos o estresse, que acaba
atrapalhando o funcionamento dos “soldados de defesa” de nosso corpo. Não
tenho dúvida que o excesso de toxinas (e não somente de entorpecentes,
alucinógenos ou psicotrópicos em geral) acaba provocando o enfraquecimento
do organismo e, por conseqüência, gestando doenças agudas, crônicas e graves.
Logo, se queremos encontrar um novo sentido para a vida e mesmo
nos libertar de doenças, enfermidades e da dependência química, precisamos
fazer um sério trabalho de desintoxicação geral do organismo. Como uma
pessoa conseguirá restaurar sua vida se continua se alimentando de forma
errada, dormindo pouco ou em demasia, se entregando ao ócio e se
intoxicando o tempo todo com álcool, cigarro e outras drogas? É fundamental
criar um novo estilo de vida. Não podemos nos fixar num único aspecto.
A desintoxicação que desejamos e a conseqüente cura e restauração, é
resultado de um processo amplo: limpar o organismo tirando tudo aquilo que
o intoxica, fortalecer sua capacidade de defesa e acostumar-se a um novo
estilo de vida. Em Bethânia procuramos favorecer este trabalho. Temos um
cuidado muito acentuado, especialmente em relação à alimentação, à higiene,
ao repouso e ao trabalho físico.
A organização da vida em nossas casas obedece ao cumprimento de
um horário comum. Nesta organização acentuamos a necessidade da
desintoxicação geral do organismo. Sabemos que muitos fatores intoxicantes
podem provocar um acúmulo das funções excretoras e, em conseqüência
disso dificultar este precioso trabalho. Assim, procuramos cultivar uma
38

harmonia geral de nossas atividades para favorecer este importante processo. Se


os principais órgãos excretores são a pele, os pulmões, o fígado, os rins e
os intestinos, precisamos evitar tudo aquilo que prejudica seu funcionamento.
Alguns cuidados são fundamentais para não atrapalhar nosso “exército
de limpeza”. Sabemos que uma das qualidades necessárias para se vencer
uma batalha é a resistência física dos soldados e a adaptação ao meio
ambiente (frio, neve, calor, fome, etc.). A mesma relação precisa ser
aplicada ao nosso exército de defesa. A pele deve ser cuidada, bem limpa e
nunca sobrecarregada com produtos químicos que só atrapalham seu
funcionamento. O creme para a beleza pode embelezar durante a festa, mas
causar danos irreparáveis para o resto da vida, se a pessoa não o retira na hora
de dormir. Da mesma forma, os sabonetes alcalinos, os desodorantes e
mesmo as roupas sintéticas, acabam dificultando o trabalho da pele, pois
modificam a temperatura, prejudicam a circulação sanguínea e evitam o suor
e a transpiração. Por isso precisamos aprender a usar roupas adequadas
conforme o clima.
Em Bethânia damos um grande peso à higiene pessoal (banho diário,
escovação dentária, limpeza das unhas e cabelos, etc...). Os intestinos e o
fígado sofrem muito com o consumo do álcool, com o uso dos alimentos que
possuem conservantes, com o fumo, o café, alguns tipos de chá, açucares
refinados, excesso de gorduras, etc... além disso os intestinos sofrem com a
prisão de ventre, que evita a eliminação e, provoca a conseqüente reabsorção
de elementos tóxicos. Nossos rins padecem com o excesso de sal, com a
carência de água pura, e também com os conservantes e alimentos químicos
em geral.
Os pulmões, além da poluição do ar, gemem com as conseqüências do
uso do cigarro, maconha e outras drogas. Além disso eles também sofrem
com o acúmulo dos elementos químicos que não conseguimos expirar,
dificultando ainda mais o trabalho de limpeza.
Conhecemos fatos similares relacionados especialmente ao aparelho de ar
condicionado. Diante de tudo isso precisamos aprender a desintoxicar nosso
organismo e evitar que ele receba mais toxinas do que aquelas que,
independente de nossa vontade e de nossos vícios, já é obrigado a receber.
Por isso também que precisamos cuidar muito bem de nossa alimentação,
39

higiene, repouso e com o trabalho físico. Sabemos que quando um dos


agentes de limpeza está sobrecarregado, ele acaba transferindo sua função
para outro ou mesmo para o corpo todo.

4.9 ENCONTRO 09

Sugestões: música “Sem sonho não se pode ir” (Pe. André Luna).

4.9.1 Planejamento do Futuro

Por mais difícil que seja a vida e mais rude que seja uma pessoa ela tem
planos para o futuro. Não existe ninguém que não queira realizar um sonho ou
alcançar seus objetivos. Em todos os lugares existem dois tipos de pessoas, os que
têm coragem para realizar as mudanças e transformações necessárias e os que não
têm esta coragem.
Muitas pessoas acham difícil mudar ou ainda não sabem o que realmente
querem de suas vidas. É para elas que estamos propondo esta tarefa, para facilitar
as suas descobertas ou evocar as suas dúvidas, enfim, para tirá-las do lugar
comum.
Para os que acham que não precisam mudar nada na vida ou não querem
mudar nada, saibam que cada minuto da vida é precioso. A vida tem nosso
comando. Pode-se planejá-la, traçar metas e agir na melhor direção ou ficar parado
e reclamar do sucesso e prosperidade dos outros. A escolha é sua.
Escreva nos quadros abaixo quatro metas que você pretende alcançar a
curto, médio e longo, e no futuro distante.

METAS

1ª Meta 2ª Meta 3ª Meta 4ª Meta

Imagine quais ações são necessárias para realizar essas metas e escreva nos
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quadros indicados:

AÇÕES

Quais as atitudes positivas que preciso desenvolver para realizar cada


uma das metas

Quais os comportamentos negativos que preciso eliminar para realizar


essas metas
41

O que pode ameaçar a não-realização desses objetivos


42

Entre as ameaças o que é possível eliminar

O que perderei quando atingir essas metas


43
44

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
45

ANEXO I – PLANO DE INTERVENÇÃO DOS GRUPOS

Data:
Grupo:
Responsável:
Tema:

Objetivo:

Planejamento
Início Fim Atividade

Avaliação:
46

LISTA DE PRESENÇA

Nº Nome Assinatura
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
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28
29
30

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