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MARIA ANDRADE

síndrome
síndrome metabólica
metabólica
A síndrome metabólica (síndrome X, síndrome de
HDL-colesterol < 40 mg/dL e < 50 mg/dL para
resistência à insulina) consiste em um grupo de
os homens e as mulheres, respectivamente, ou
anormalidades metabólicas que conferem
medicação específica
aumento de risco de doença cardiovascular (DCV) e
Pressão arterial > 130 mmHg sistólica ou > 85
diabetes melito. A evolução dos critérios para a
mmHg diastólica, ou diagnóstico anterior ou
síndrome metabólica desde a definição original
medicação específica
feita pela Organização Mundial de Saúde em 1998
Glicemia plasmática em jejum ≥ 100 mg/dL
reflete as crescentes evidências e análises clínicas
(indicação alternativa: tratamento
por uma variedade de conferências de consenso e
medicamentoso de glicemia elevada)
organizações profissionais.
EPIDEMIOLOGIA
As principais características da síndrome
metabólica incluem obesidade central, A característica mais desafiadora da síndrome
hipertrigliceridemia, níveis baixos de colesterol metabólica a ser definida é a circunferência
da lipoproteína de alta densidade (HDL, de high- abdominal. A circunferência intra-abdominal
density lipoprotein), hiperglicemia e hipertensão. (tecido adiposo visceral) é considerada mais
fortemente relacionada com a resistência à insulina
Critérios de definição para síndrome metabólica
e o risco de diabetes e DCV e, para qualquer
NCEP: ATPIII 2001 circunferência abdominal dada, a distribuição de
tecido adiposo entre depósitos subcutâneos e
Três ou mais dos seguintes: viscerais varia substancialmente. Assim, entre as
Obesidade central: circunferência abdominal > populações e dentro delas, há um risco menor vs.
102 cm (H), > 88 cm (M) maior com a mesma circunferência abdominal.
Hipertrigliceridemia: nível de triglicerídeos ≥ Essas diferenças nas populações são refletidas na
150 mg/dL ou medicação específica faixa de circunferências abdominais consideradas
HDL-colesterol baixo: < 40 mg/dL e < 50 mg/dL como de risco em diferentes localizações
para os homens e as mulheres, geográficas.
respectivamente, ou medicação específica
Hipertensão: pressão arterial ≥ 130 mmHg A prevalência da síndrome metabólica varia em
sistólica ou ≥ 85 mmHg diastólica ou todo o mundo, refletindo em parte a idade e a
medicação específica etnicidade das populações estudadas e os critérios
Glicemia de jejum ≥ 100 mg/dL ou medicação diagnósticos aplicados. Em geral, a prevalência da
específica ou diabetes tipo 2 previamente síndrome metabólica aumenta com a idade. A
diagnosticado maior prevalência registrada em todo o mundo é
nos norte-americanos, com cerca de 60% das
Definição de harmonização
mulheres entre 45 e 49 anos e 45% dos homens
Três dos seguintes: entre 45 e 49 anos atendendo aos critérios do
Circunferência abdominal (cm): National Cholesterol Education Program e do
Homens Mulheres Adult Treatment Panel III (NCEP: ATPIII).
≥ 94 ≥ 80
*Povos da Europa, da África Subsaariana, do Nos EUA, a síndrome metabólica é menos comum
Oriente e do Oriente Médio nos homens afro-americanos e mais prevalente nas
≥ 90 ≥ 80 mulheres mexicano-americanas. Com base em
*Sul da Ásia, chineses e povos das Américas do Sul dados da National Health and Nutrition
e Central Examination Survey (NHANES) de 2003 a 2006, a
≥ 85 ≥ 90 prevalência ajustada para a idade da síndrome
*Japonês metabólica nos adultos nos EUA sem diabetes é de
Triglicerídeos em jejum > 150 mg/dL ou 28% para homens e 30% para mulheres. Na França,
medicação específica estudos de uma coorte de pessoas de 30 a 60 anos
mostraram uma prevalência de < 10% para cada se-
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xo, embora 17,5% das pessoas com 60 a 64 anos de tilo de vida sedentário, incluindo aumento do
idade sejam acometidas. Uma maior tecido adiposo (predominantemente central),
industrialização global está associada a taxas colesterol HDL reduzido e aumento dos
crescentes de obesidade, que é um prenúncio do triglicerídeos, da pressão arterial e da glicose nas
aumento drástico da prevalência da síndrome pessoas geneticamente suscetíveis. Comparados
metabólica, em especial à medida que a população com os indivíduos que assistem televisão ou vídeos
envelhece. Além disso, o aumento da prevalência e ou usam o computador por menos de 1 hora/dia,
da gravidade da obesidade entre crianças é aqueles que o fazem por mais de 4 horas/dia
refletido nas características da síndrome apresentaram um risco duas vezes maior de
metabólica em uma população mais jovem. síndrome metabólica.
Envelhecimento. A síndrome metabólica
A distribuição da frequência dos cinco acomete quase 50% da população dos EUA com
componentes da síndrome para a população dos mais de 50 anos de idade e mulheres > 60 anos
EUA (NHANES III) é resumida na figura abaixo. de idade são mais acometidas do que os
Aumentos da circunferência abdominal homens. Observa-se que a prevalência da
predominam entre mulheres, enquanto aumentos síndrome depende da idade na maioria das
dos níveis de triglicerídeos plasmáticos de jejum populações mundiais.
(i.e., para > 150 mg/dL), reduções nos níveis de Diabetes melito. O diabetes melito está incluído
colesterol HDL e hiperglicemia são mais prováveis tanto nas definições de síndrome metabólica
em homens. pelo NCEP como nas harmonizantes. Estima-se
que a grande maioria (cerca de 75%) dos
pacientes com diabetes tipo 2 ou com tolerância
à glicose diminuída tenha síndrome metabólica.
A presença da síndrome metabólica nessas
populações está relacionada com uma
prevalência maior de DCV do que em pacientes
com diabetes tipo 2 ou comprometimento da
tolerância à glicose, mas que não têm essa
síndrome.
Doença cardiovascular. Indivíduos com
síndrome metabólica são duas vezes mais
propensos a morrer de doença cardiovascular
em comparação com aqueles que não a têm, e
seu risco de um infarto agudo do miocárdio ou
acidente vascular encefálico (AVE) é três vezes
maior. A prevalência aproximada da síndrome
FATORES DE RISCO
metabólica em pacientes com doença arterial
Sobrepeso/obesidade. Embora a síndrome coronariana (DAC) é de 50%, com uma
metabólica tenha sido descrita pela primeira vez prevalência de cerca de 35% em pacientes com
no início do século XX, o sobrepeso/obesidade doença da artéria coronária prematura (com 45
epidêmico em todo o mundo recentemente anos de idade ou menos), e uma prevalência
tem sido a força motora de seu crescente particularmente alta nas mulheres. Com
reconhecimento. A adiposidade central é uma reabilitação cardíaca apropriada e alterações no
característica essencial da síndrome, e a estilo de vida (p. ex., nutrição, atividade física,
prevalência da síndrome reflete a forte relação redução do peso e, em alguns casos, agentes
entre a circunferência abdominal e o aumento farmacológicos), a prevalência da síndrome
de adiposidade. Entretanto, apesar da pode ser reduzida.
importância da obesidade, os pacientes que Lipodistrofia. Os distúrbios de lipodistrofia em
têm peso normal também podem ser insulino- geral estão associados à síndrome metabólica.
resistentes e podem ter a síndrome metabólica. Tanto a lipodistrofia genética (p. ex., lipodistrofia
Estilo de vida sedentário. A inatividade física é congênita de Berardinelli-Seip, lipodistrofia
um preditor de eventos de DCV e do risco de parcial familiar de Dunnigan) quanto a
morte relacionado. Muitos componentes da lipodistrofia adquirida (p. ex., lipodistrofia
síndrome metabólica estão associados a um es- relacionada com o HIV em pacientes tratados
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com terapia antirretroviral) podem dar origem a sulina, hiperlipidemia e uma gama de distúrbios
resistência grave à insulina e muitos dos cardiovasculares, como hipertensão, aterosclerose,
componentes da síndrome metabólica. DAC e insuficiência cardíaca.

ETIOLOGIA
A hipótese do estresse oxidativo fornece uma

Resistência à insulina teoria unificadora para o envelhecimento e a


predisposição à síndrome metabólica. Em estudos
A hipótese mais aceita e unificadora para descrever realizados em indivíduos resistentes à insulina com
a fisiopatologia da síndrome metabólica é a obesidade ou diabetes tipo 2, na prole dos
resistência à insulina, que é causada por um pacientes com diabetes tipo 2 e em idosos,
defeito incompletamente compreendido da ação identificou-se um defeito na fosforilação oxidativa
da insulina. O início da resistência à insulina é mitocondrial que levou ao acúmulo de
anunciado por hiperinsulinemia pós-prandial, triglicerídeos e moléculas lipídicas relacionadas no
seguida da hiperinsulinemia de jejum e, finalmente, músculo.
hiperglicemia.
Recentemente, o microbioma intestinal surgiu
Um grande contribuinte preliminar para o como um contribuinte importante para o
desenvolvimento da resistência à insulina é uma desenvolvimento da obesidade e de distúrbios
abundância dos ácidos graxos circulantes. Os metabólicos relacionados, como síndrome
ácidos graxos livres (AGLs) ligados à albumina metabólica. Embora o mecanismo permaneça
plasmática são derivados predominantemente dos incerto, a interação entre predisposição genética,
estoques de triglicerídeos do tecido adiposo dieta e flora intestinal é importante.
liberados pelas enzimas lipolíticas intracelulares. Os
ácidos graxos também são produzidos a partir da
lipólise das lipoproteínas ricas em triglicerídeos em
tecidos por meio da lipoproteína lipase. A insulina
medeia tanto a antilipólise como a estimulação da
lipoproteína lipase no tecido adiposo. É importante
salientar que a inibição da lipólise do tecido adiposo
é a via mais sensível de ação da insulina. Assim,
quando se desenvolve resistência à insulina, o
aumento da lipólise produz mais ácidos graxos, os
quais reduzem ainda mais o efeito antilipolítico da
insulina. O excesso de ácidos graxos aumenta a
disponibilidade do substrato e cria resistência à
insulina, modificando a sinalização a jusante. Os
ácidos graxos prejudicam a captação de glicose Fisiopatologia da síndrome metabólica. Os ácidos graxos livres (AGLs)
mediada pela insulina e acumulam-se como são liberados em abundância da massa de tecido adiposo expandida.
No fígado, determinam um aumento da produção de glicose e
triglicerídeos tanto no músculo esquelético quanto triglicerídeos e secreção das lipoproteínas de densidade muito baixa
no cardíaco, enquanto o aumento da produção de (VLDLs, de very low density lipoproteins). As anormalidades
lipídicas/lipoproteicas associadas consistem em reduções do colesterol
glicose e o acúmulo de triglicerídeos ocorrem no
da lipoproteína de alta densidade (HDL, de high-density lipoprotein) e
fígado. um aumento do número de partículas do colesterol da lipoproteína de
baixa densidade (LDL, de low-density lipoprotein). Os AGLs também
reduzem a sensibilidade à insulina no músculo, inibindo a captação de
A resistência à leptina também foi sugerida como glicose mediada pela insulina. Os defeitos associados consistem em
um possível mecanismo fisiopatológico para redução da glicose a partir do glicogênio e aumento do acúmulo de
lipídeos nos triglicerídeos (TGs). O aumento da glicose circulante e, até
explicar a síndrome metabólica. Fisiologicamente, a
certo ponto, dos AGLs aumenta a secreção de insulina pancreática,
leptina reduz o apetite, promove gasto de energia e resultando em hiperinsulinemia. A hiperinsulinemia pode resultar em
aumenta a sensibilidade à insulina. Além disso, a aumento da reabsorção de sódio e aumento da atividade do sistema
nervoso simpático (SNS) e contribui para hipertensão, assim como os
leptina pode regular a função cardíaca e vascular níveis mais altos de AGL circulante. O estado pró-inflamatório
por um mecanismo dependente de óxido nítrico. sobrepõe-se e contribui para a resistência à insulina produzida pelo
excesso de AGL. O aumento da secreção de interleucina 6 (IL-6) e fator
No entanto, quando há desenvolvimento de de necrose tumoral α (TNF-α, de tumor necrosis factor α) produzido por
obesidade, ocorre hiperleptinemia, com evidência adipócitos e macrófagos derivados dos monócitos resulta em mais
de resistência à leptina no cérebro e em outros resistência à insulina e lipólise dos estoques de tecido adiposo em AGL
circulante. A IL-6 e outras citocinas também aumentam a produção
tecidos que resulta em inflamação, resistência à in-
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hepática de glicose, produção de VLDL pelo fígado, hipertensão e lesterol. Essa redução é uma consequência das
resistência à insulina no músculo. As citocinas e os AGLs aumentam
ainda a produção hepática de fibrinogênio e a dos adipócitos do modificações na composição e no metabolismo da
inibidor do ativador do plasminogênio tipo 1 (PAI-1, de plasminogen HDL. Em presença de hipertrigliceridemia, a
activator inhibitor 1), resultando em um estado protrombótico. Níveis
mais altos de citocinas circulantes estimulam a produção hepática de
redução no conteúdo de HDL-colesterol é uma
proteína C-reativa (PCR). A produção reduzida da citocina anti- consequência da redução do conteúdo de éster de
inflamatória e citocina adiponectina sensível à insulina também está colesteril do núcleo da lipoproteína em combinação
associada à síndrome metabólica.
com alterações mediadas pela proteína de
Aumento da circunferência abdominal transferência do éster de colesteril nos
triglicerídeos, tornando essa partícula menor e mais
A circunferência abdominal é um importante
densa. Essa alteração na composição da
componente dos critérios diagnósticos mais
lipoproteína também resulta em um aumento da
recentes e mais frequentemente aplicados para a
depuração de HDL da circulação. Essas alterações
síndrome metabólica. Entretanto, medir a
na HDL têm uma relação com a resistência à
circunferência abdominal não distingue de maneira
insulina que provavelmente é indireta, ocorrendo
confiável os aumentos do tecido adiposo
em consonância com mudanças no metabolismo
subcutâneo daqueles decorrentes da gordura
da lipoproteína rica em triglicerídeos.
visceral; essa distinção requer tomografia
computadorizada (TC) ou ressonância magnética
Além da HDL, as lipoproteínas de baixa densidade
(RM). Com aumentos no tecido adiposo visceral, os
(LDLs) são modificadas em sua composição na
AGLs derivados do tecido adiposo são direcionados
síndrome metabólica. Com triglicerídeos séricos de
para o fígado. Por outro lado, aumentos na gordura
jejum > 2,0 mM (cerca de 180 mg/dL), quase sempre
subcutânea abdominal liberam produtos da lipólise
há uma predominância de LDL pequena, densa,
na circulação sistêmica e evitam efeitos mais
que é considerada mais aterogênica, embora sua
diretos no metabolismo hepático. Aumentos
associação com hipertrigliceridemia e HDLs baixas
relativos no tecido adiposo visceral vs subcutâneo,
dificulte a avaliação de sua contribuição
com o aumento da circunferência abdominal nos
independente para os eventos de DCV. Indivíduos
asiáticos e indiano-asiáticos, podem explicar a
com hipertrigliceridemia frequentemente têm
maior prevalência da síndrome nessas populações,
aumentos no teor de colesterol tanto de subfrações
se comparados com os homens afro-americanos,
de VLDL1 como de VLDL2 e no número de
nos quais predomina a gordura subcutânea.
partículas de LDL. Ambas essas alterações da
Também é possível que a gordura visceral seja um
lipoproteína podem contribuir para o risco
marcador para o excesso de AGLs pós-prandiais na
aterogênico em pacientes com síndrome
obesidade, mas não sua origem.
metabólica.
Dislipidemia Intolerância à glicose
Em geral, o fluxo de AGL para o fígado está
Os defeitos na ação da insulina na síndrome
associado a aumento da produção de lipoproteínas
metabólica levam à deficiência na supressão da
de densidade muito baixa (VLDLs) ricas em
produção de glicose pelo fígado e pelos rins, além
triglicerídeos que contêm apolipoproteína B (apoB).
de redução da captação de glicose e do
O efeito da insulina nesse processo é complexo,
metabolismo nos tecidos sensíveis à insulina, isto é,
mas a hipertrigliceridemia é um excelente
tecidos muscular e adiposo. A relação entre
marcador do distúrbio de resistência à insulina. A
glicemia em jejum alterada ou tolerância à glicose
hipertrigliceridemia não apenas é uma
diminuída e resistência à insulina é bem sustentada
característica da síndrome metabólica, como
em estudos com seres humanos, primatas não
também os pacientes com síndrome metabólica
humanos e roedores. Para compensar os defeitos
apresentam níveis elevados de ApoCIII carregadas
da ação da insulina, a secreção de insulina e/ou a
nas VLDLs e outras lipoproteínas. Esse aumento da
depuração têm de ser modificadas para sustentar a
ApoCIII é inibitório para a lipoproteína lipase,
euglicemia. Finalmente, esse mecanismo
contribuindo para a hipetrigliceridemia, e também
compensatório falha, em geral devido a defeitos na
associado a mais doença cardiovascular
secreção de insulina, resultando na evolução da
aterosclerótica.
glicemia em jejum alterada e/ou tolerância à
glicose diminuída para o diabetes melito.
Outro distúrbio principal da lipoproteína na
síndrome metabólica é uma redução do HDL-co-
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Hipertensão arterial Citocinas pró-inflamatórias


A relação entre resistência à insulina e hipertensão Os aumentos nas citocinas pró-inflamatórias -
está bem estabelecida. Paradoxalmente, sob incluindo as interleucinas 1, 6 e 18, a resistina, o fator
condições fisiológicas normais, a insulina é um de necrose tumoral α e o biomarcador sistêmico da
vasodilatador com efeitos secundários na proteína C-reativa - refletem superprodução pela
reabsorção de sódio nos rins. Entretanto, em caso massa de tecido adiposo expandida. Os macrófagos
de resistência à insulina, o efeito vasodilatador da derivados de tecido adiposo podem ser a fonte
insulina é perdido, porém o efeito renal na primária das citocinas pró-inflamatórias localmente
reabsorção de sódio fica preservado. A reabsorção e na circulação sistêmica. No entanto, ainda não se
de sódio mostra-se aumentada nos indivíduos sabe quanto da resistência à insulina é causado
brancos com síndrome metabólica, mas não nos pelos efeitos parácrinos dessas citocinas e quanto é
africanos ou asiáticos. A insulina também aumenta causado pelos efeitos endócrinos.
a atividade do sistema nervoso simpático, um efeito
que pode ser preservado no caso de resistência à Adiponectina
insulina. A resistência à insulina é caracterizada por A adiponectina é uma citocina anti-inflamatória
deficiência específica da via na sinalização de produzida exclusivamente por adipócitos. Ela
fosfatidilinositol-3-quinase. No endotélio, esse aumenta a sensibilidade à insulina e inibe muitas
comprometimento pode causar um desequilíbrio etapas no processo inflamatório. No fígado, inibe a
entre a produção de óxido nítrico e a secreção de expressão das enzimas gliconeogênicas e a taxa de
endotelina 1, com consequente redução do fluxo produção de glicose. No músculo, a adiponectina
sanguíneo. Embora esses medicamentos sejam aumenta o transporte de glicose e aumenta a
provocativos, a avaliação da ação da insulina pela oxidação do ácido graxo, parcialmente pela
medição dos níveis de insulina de jejum ou pela ativação de AMP-quinase. Os níveis de
avaliação do modelo de homeostase mostra que a adiponectina são reduzidos na síndrome
resistência à insulina contribui apenas metabólica. A contribuição relativa da deficiência
modestamente para o aumento da prevalência de de adiponectina vs superabundância das citocinas
hipertensão na síndrome metabólica. pró-inflamatórias continua sem esclarecimentos.

MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Outro mecanismo possível subjacente à
hipertensão na síndrome metabólica é o papel
vasoativo do tecido adiposo perivascular. As
Sinais e sintomas
espécies reativas do oxigênio liberadas pelo fosfato A síndrome metabólica normalmente não está
de dinucleotídeo de adenosina-nicotinamida associada a sintomas. Ao exame físico, a
(NADPH)-oxidase comprometem a função circunferência abdominal pode estar aumentada,
endotelial e resultam em vasoconstrição local. e a pressão arterial, elevada. A presença de um ou
Outros efeitos parácrinos poderiam ser mediados de ambos os sinais deve alertar o médico sobre a
pela leptina ou outras citocinas pró-inflamatórias necessidade de buscar anormalidades bioquímicas
liberadas do tecido adiposo, como fator de necrose que possam estar associadas à síndrome
tumoral α. metabólica. Porém, menos frequentemente, a
lipoatrofia ou a acantose nigricans são
A hiperuricemia é outra consequência da encontradas ao exame. Como esses achados
resistência à insulina e é comumente observada na clínicos estão associados a resistência grave à
síndrome metabólica. Há evidências crescentes não insulina, outros componentes da síndrome
apenas de que o ácido úrico está associado à metabólica devem ser esperados.
hipertensão, mas também de que a redução do
ácido úrico normaliza a pressão arterial em
Doenças associadas
adolescentes hiperuricêmicos com hipertensão. O DOENÇA CARDIOVASCULAR. O risco relativo
mecanismo parece estar relacionado com um para DCV de início recente em pacientes com a
efeito adverso do ácido úrico na sintase de ácido síndrome metabólica que não têm diabetes fica
nítrico na mácula densa do rim e estimulação do em média entre 1,5 e 3 vezes. Entretanto, um
sistema renina-angiotensina-aldosterona. acompanhamento de oito anos de participantes
de meia-idade no Framingham Offspring Study
documentou que o risco de DCV atribuível à po-
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pulação na síndrome metabólica foi de 34% nos lar renal de ácido úrico e pode contribuir para
homens e apenas 16% nas mulheres. No mesmo hipertensão por seu efeito no endotélio. Um
estudo, tanto a síndrome metabólica quanto o aumento da dimetilarginina assimétrica, um
diabetes foram preditores de AVE isquêmico, inibidor endógeno da óxido nítrico-sintase,
com maior risco entre pacientes com a também está correlacionado com disfunção
síndrome metabólica do que entre aqueles com endotelial. Além disso, a microalbuminúria pode
diabetes isoladamente (19 vs 7%) e uma ser causada por alterações do endotélio
diferença particularmente grande entre as decorrentes de um estado de resistência à
mulheres (27 vs 5%). Os pacientes com a insulina.
síndrome metabólica também apresentam SÍNDROME DO OVÁRIO POLICÍSTICO. A
maior risco de doença vascular periférica. síndrome do ovário policístico é altamente
DIABETES TIPO 2. De modo geral, o risco para associada à resistência à insulina (50-80%) e à
diabetes tipo 2 em pacientes com síndrome síndrome metabólica, com uma prevalência da
metabólica é aumentado 3 a 5 vezes. No síndrome entre 40 e 50%. As mulheres com
acompanhamento de oito anos do Framingham síndrome do ovário policístico são 2 a 4 vezes
Offspring Study de participantes de meia-idade, mais propensas a ter síndrome metabólica do
o risco atribuível à população para o que as mulheres sem síndrome do ovário
desenvolvimento de diabetes tipo 2 foi de 62% policístico.
nos homens e 47% nas mulheres. APNEIA OBSTRUTIVA DO SONO. Apneia
Outros distúrbios associados obstrutiva do sono é comumente associada a
obesidade, hipertensão, aumento das citocinas
Além das características especificamente circulantes, comprometimento da tolerância à
associadas à síndrome metabólica, outras glicose e resistência à insulina. Com essas
alterações metabólicas acompanham a resistência associações, não é surpreendente que os
à insulina. Essas alterações incluem aumentos em indivíduos com apneia obstrutiva do sono com
ApoB e ApoCIII, ácido úrico, fatores frequência tenham síndrome metabólica. Além
protrombóticos (fibrinogênio, inibidor 1 do disso, quando os biomarcadores da resistência à
ativador do plasminogênio), viscosidade do soro, insulina são comparados entre pacientes com
dimetilarginina assimétrica, homocisteína, apneia obstrutiva do sono e controles com o
leucograma, citocinas pró-inflamatórias, proteína mesmo peso, a resistência à insulina é
C-reativa, microalbuminúria, doença do fígado observada como mais grave nos pacientes com
gorduroso não alcoólica e/ou esteato-hepatite apneia. O tratamento da pressão positiva
não alcoólica e apneia obstrutiva do sono. contínua das vias respiratórias melhora a
sensibilidade à insulina em pacientes com
DOENÇA HEPÁTICA GORDUROSA NÃO apneia obstrutiva do sono.
ALCOÓLICA. O fígado gorduroso é uma doença
DIAGNÓSTICO
relativamente comum, acometendo 25 a 45% da
população dos EUA. Entretanto, na esteato- O diagnóstico da síndrome metabólica é
hepatite não alcoólica, o acúmulo de estabelecido a partir do atendimento dos critérios
triglicerídeos e a inflamação coexistem. A já listados na página 1, por meio da utilização de
esteato-hepatite não alcoólica está presente recursos à beira do leito e no laboratório. A
hoje em 3 a 12% da população nos EUA e em anamnese deve incluir a avaliação dos sintomas
outros países ocidentais. Dos pacientes com para apneia obstrutiva do sono em todos os
síndrome metabólica, cerca de 25 a 60% têm pacientes e síndrome do ovário policístico nas
doença do fígado gorduroso não alcoólica e até mulheres na pré-menopausa. A história familiar irá
35% têm esteato-hepatite não alcoólica. À ajudara a determinar o risco para DCV e diabetes
medida que a prevalência do melito. As medidas da pressão arterial e da
sobrepeso/obesidade e da síndrome metabólica circunferência abdominal fornecem informações
aumenta, a esteato-hepatite não alcoólica pode necessárias ao diagnóstico.
se tornar uma das muitas causas mais comuns
de doença hepática de estágio final e carcinoma
Exames de laboratório
O lipidograma e a glicemia de jejum são
hepatocelular.
necessários para determinar se há a presença da
HIPERURICEMIA. A hiperuricemia reflete
síndrome metabólica. A mensuração dos biomarca-
defeitos na ação da insulina na reabsorção tubu-
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dores adicionais associados com resistência à tanto, um padrão de dieta de alta qualidade - isto é,
insulina pode ser individualizada. Esses exames uma dieta rica em frutas, vegetais, grãos,
podem incluir ApoB, proteína C-reativa de alta integrais, carnes magras de aves e peixe - deve
sensibilidade, fibrinogênio, ácido úrico, ser estimulado para fornecer o benefício máximo
microalbuminúria e exame da função hepática. de saúde global.
Deve-se realizar um estudo do sono caso haja a
presença de sintomas de apneia obstrutiva do sono.
Atividade física
Se houver suspeita de síndrome do ovário Antes de recomendar atividade física aos pacientes
policístico com base nas manifestações clínicas e com a síndrome metabólica, é importante
anovulação, é necessário medir a testosterona, o assegurar que esse aumento de atividade não
hormônio luteinizante e o hormônio folículo- cause risco. Alguns pacientes de alto risco devem
estimulante. submeter-se a avaliação cardiovascular completa
antes de iniciar um programa de exercícios. Para
TRATAMENTO
um participante inativo, aumentos graduais na

Estilo de vida atividade físico devem ser incentivados, visando


aumentar a adesão e evitar lesões. Embora os
A obesidade é o motor propulsor por trás da aumentos na atividade física possam levar a uma
síndrome metabólica. Assim, a redução do peso é a redução modesta de peso, 60 a 90 minutos diários
abordagem primária ao distúrbio. Com a redução de atividade são necessários para atingir esse
do peso, a melhora na sensibilidade à insulina com objetivo. Mesmo que um adulto com sobrepeso ou
frequência é acompanhada de modificações obeso seja incapaz de atingir tal nível de atividade,
favoráveis em muitos componentes da síndrome haverá um benefício de saúde significativo de pelo
metabólica. Em geral, as recomendações para a menos 30 minutos de atividade diária de
perda de peso incluem uma combinação de intensidade moderada. É importante salientar que
restrição calórica, aumento da atividade física e várias atividades rotineiras - como jardinagem,
modificação do comportamento. A restrição caminhada e limpeza da casa - requerem gasto
calórica é o componente mais importante calórico moderado. Assim, a atividade física não
enquanto os aumentos na atividade física são precisa ser definida somente em termos de
importantes para a manutenção da perda de peso. exercícios formais, como corrida, natação ou tênis.
Algumas das evidências sugerem que a adição da
prática de exercícios à restrição calórica pode
Modificação do comportamento
promover uma perda maior da gordura visceral. A O tratamento comportamental em geral inclui
tendência para readquirir o peso após a redução recomendações para restrição dietética e mais
bem-sucedida do peso enfatiza a necessidade de atividade física, resultando em perda de peso que
mudanças comportamentais de longa duração. beneficia a saúde metabólica. O desafio

Dieta subsequente é a duração do programa, pois o


ganho de peso com frequência acompanha uma
Antes de prescrever uma dieta para a perda de redução de peso bem sucedida. Desfechos de
peso, é importante enfatizar que o paciente levou longo prazo podem ser aumentados por uma
um tempo para desenvolver uma massa gordurosa variedade de métodos, como acompanhamento
aumentada; assim, a correção não precisa ocorrer por internet, rede social e telefone para manter
rapidamente. Como cerca de 3.500 kcal = 0,5 kg de contato entre provedores e pacientes.
gordura, uma restrição de cerca de 500 kcal diárias
equipara-se a uma redução de peso de 0,5 kg por
Obesidade
semana. As dietas com restrição de carboidratos Em alguns pacientes com síndrome metabólica, as
promovem uma perda de peso inicial rápida. No opções de tratamento precisam estender-se além
entanto, após um ano, a quantidade de redução de da intervenção no estilo de vida.
peso é minimamente reduzida ou não é diferente
daquela apenas com restrição calórica. Assim, a Os fármacos para a perda de peso encontram-se
adesão a uma dieta é mais importante do que o em duas classes: supressores do apetite e
tipo de dieta que será escolhido. Além disso, há inibidores da absorção.
uma preocupação quanto às dietas com baixo teor
de carboidratos ricas em gordura saturada, em SUPRESSORES DO APETITE. Os supressores do
particular para os pacientes com risco de DCV. Por- apetite aprovados pela U.S. Food And Drug Ad-
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ministration incluem fentermina (para uso de curto cientes com síndrome metabólica, mas sem
prazo [três meses] apenas), bem como as adições diabetes, e um escore que prevê um risco de DCV
mais recentes fentermina/topiramato e em 10 anos que excede 7,5% também devem
lorcaserina, que são aprovadas sem restrições tomar uma estatina. Com um risco em 10 anos de
durante o tratamento. < 7,5%, o uso de terapia com estatina não é baseado
Combinação fentermina/topiramato. Em ensaios em evidências.
clínicos, a combinação fentermina/topiramato
resultou em cerca de 10% de perda de peso em 50% Dietas com restrição de gorduras saturadas
dos pacientes. Os efeitos colaterais incluem (menos de 7% de calorias) e gorduras trans (o
palpitações, cefaleia, parestesias, obstipação e menos possível) devem ser aplicadas de maneira
insônia. agressiva. Embora existam menos evidências, o
Lorcaserina. A lorcaserina resulta em menos perda colesterol na dieta também deve ser restrito. Se o
de peso - em geral, cerca de 5% além do placebo -, colesterol continuar elevado, é necessária
mas pode causar cefaleia e nasofaringite. intervenção farmacológica. O tratamento com
INIBIDORES DA ABSORÇÃO. O orlistate inibe a estatinas, que reduz o LDL-colesterol em 15 a 60%, é
absorção de gordura em cerca de 30%, sendo baseado em evidências e é a intervenção
moderadamente eficaz se comparado com o medicamentosa de primeira escolha. É preciso
placebo (cerca de 5% de perda de peso). O salientar que para cada duplicação da dose da
orlistate mostrou reduzir a incidência de estatina, o LDL-colesterol é reduzido ainda mais em
diabetes tipo 2, um efeito especialmente apenas cerca de 6%.
evidente em pacientes com intolerância à
glicose na linha de base. Esse fármaco com Hepatotoxicidade (aumento de mais de três vezes
frequência é difícil de tomar devido ao das aminotransferases hepáticas) é rara, e miopatia
vazamento oleoso pelo reto. é observada em cerca de 10% dos pacientes.

A cirurgia metabólica ou bariátrica é uma opção O inibidor da absorção do colesterol ezetimibe é


para os pacientes com a síndrome metabólica que bem tolerado, devendo ser uma segunda escolha
têm um índice de massa corporal de mais de 40 de intervenção medicamentosa. O ezetimibe reduz
kg/m² ou mais de 35 kg/m² com comorbidades. o LDL-colesterol em 15 a 20%.
Uma aplicação em desenvolvimento para cirurgia
metabólica inclui pacientes com índice de massa Os sequestradores de ácido biliar colestiramina,
corporal de apenas 30 kg/m² e diabetes tipo 2. O colestipol e colesevalam podem ser mais eficazes
bypass gástrico ou gastrectomia vertical em manga que o ezetimibe, mas, pelo fato de poderem
resulta em drástica redução de peso e melhora das aumentar os níveis de triglicerídeos, devem ser
manifestações da síndrome metabólica. Já foi usados com cautela em pacientes com síndrome
realizado um estudo sobre benefício de sobrevida. metabólica.

LDL-colesterol Em geral, os sequestradores de bile não devem ser


O fundamento do NCEP:ATPIII para desenvolver administrados quando os níveis de triglicerídeos de
critérios para a síndrome metabólica foi o de ir alémjejum são > 250 mg/dL. Os efeitos colaterais
do LDL-colesterol, visando identificar e reduzir o consistem em sintomas gastrintestinais (distúrbios
risco de DCV. A hipótese do painel foi de que as do paladar, distensão abdominal, eructação,
metas para o LDL-colesterol já haviam sido constipação, irritação anal).
atingidas e de que evidências crescentes
sustentam uma redução linear dos eventos de DCV O ácido nicotínico tem modesta capacidade de
com a progressiva redução do LDL-colesterol com redução do LDL-colesterol (menos de 20%).
estatinas.
Os fibratos são mais bem empregados para reduzir
Para pacientes com síndrome metabólica e o LDL-colesterol quando tanto o LDL-colesterol
diabetes, uma estatina deve ser prescrita. Para como os triglicerídeos estão elevados. O
aqueles pacientes com diabetes e DCV conhecida, fenofibrato pode ser mais eficaz do que a
as evidências atuais sustentam um máximo de genfibrozila nesse grupo.
penúltima dose de uma estatina potente (p. ex.,
atorvastatina ou rosuvastatina). Para aqueles pa-
ma
MARIA ANDRADE

Triglicerídeos ácido docosa-hexaenoico e ácido


eicosapentaenoico (cerca de 1,5-4,5 g/dia) ou ácido
O NCEP:ATPIII concentrou-se mais no não HDL- eicosapentaenoico isolado reduzem os níveis de
colesterol do que nos triglicerídeos. Entretanto, triglicerídeos de jejum em cerca de 30 a 40%. Não
recomenda-se um valor de triglicerídeo em jejum ocorre qualquer interação medicamentosa com
de menos de 150 mg/dL. Em geral, a resposta dos fibratos ou estatinas, e o principal efeito colateral de
triglicerídeos de jejum está relacionada com a seu uso é a eructação com gosto de peixe. Esse
quantidade de redução de peso atingida: uma gosto pode ser parcialmente bloqueado pela
redução de peso de > 10% é necessária para reduzir ingestão de nutracêutico após congelamento.
os níveis de triglicerídeos de jejum. Experimentos clínicos do ácido nicotínico ou altas
doses de ácidos graxos ômega 3 em pacientes com
Um fibrato (genfibrozila ou fenofibrato) é o a síndrome metabólica não foram relatados.
fármaco de escolha para reduzir os triglicerídeos de
jejum, que costumam atingir uma diminuição de HDL-colesterol
30 a 45%. A administração concomitante com Pouquíssimos compostos modificadores de lipídeos
fármacos metabolizados pelo sistema 3A4 do aumetam os níveis de HDL-colesterol. Estatinas,
citocromo P450 (incluindo algumas estatinas) fibratos e sequestradores de ácido biliar têm efeitos
aumenta o risco de miopatia. Nesses casos, o modestos (5-10%), enquanto ezetimibe e ácidos
fenofibrato pode ser preferível à genfibrozila. No graxos de ômega 3 não têm qualquer efeito.
Veterans Affairs HDL Intervention Trial, a
genfibrozila foi administrada em homens com DCV O ácido nicotínico é o único fármaco atualmente
conhecida e níveis de HDL-colesterol de menos de disponível com propriedades de elevação de HDL-
40 mg/dL. Um evento de doença arterial colesterol previsíveis. A resposta está relacionada
coronariana e benefício na taxa de mortalidade com a dose, e o ácido nicotínico pode aumentar o
foram experimentados predominantemente em HDL-colesterol em cerca de 30% acima da linha de
homens com hiperinsulinemia e/ou diabetes, sendo base. Após vários ensaios de ácido nicotínico vs
que muitos deles foram identificados, placebo em pacientes tratados com estatina, ainda
retrospectivamente, como tendo a síndrome não há evidências de que elevar a HDL com ácido
metabólica. É importante notar que o grau de nicotínico afete de maneira benéfica os eventos de
redução dos triglicerídeos nesse ensaio não previa DCV em pacientes com ou sem síndrome
benefício. Embora os níveis de LDL-colesterol não metabólica.
tenham mudado, uma redução no número de
partículas de LDL correlacionou-se com o benefício. Pressão arterial
Vários ensaios clínicos adicionais não mostraram A relação direta entre a pressão arterial e a taxa de
evidências claras de que os fibratos reduzem o risco mortalidade por todas as causas foi bem
de DCV; no entato, análises post hoc de vários estabelecida em estudos que comparam os
estudos demonstraram que os pacientes com pacientes com hipertensão (> 140/90 mmHg), os
níveis de triglicerídeos na linha de base > 200 pacientes com pré-hipertensão (> 120/80 mmHg,
mg/dL e níveis de HDL-colesterol < 35 mg/dL porém < 140/90 mmHg) e os indivíduos com
realmente se beneficiaram. pressão arterial normal (< 120/80 mmHg).

Outros fármacos que reduzem os níveis de Nos pacientes com a síndrome metabólica sem
triglicerídeos são estatinas, ácido nicotínico e diabetes, a melhor escolha para o anti-hipertensivo
altas doses de ácidos graxos ômega 3. Para esse inicial é um inibidor da enzima de conversão da
propósito, uma dose intermediária ou alta das angiotensina (ECA) ou um bloqueador do
estatinas “mais potentes” (atorvastatina, receptor da angiotensina II, pois essas duas classes
rosuvastatina) é necessária. O efeito do ácido de fármacos parecem reduzir a incidência de
nicotínico nos triglicerídeos de jejum está diabetes tipo 2 de início recente.
relacionado com a dose e é de cerca de 20 a 35%,
um efeito que é menos pronunciado do que aquele Em todos os pacientes com hipertensão, deve-se
dos fibratos. Nos pacientes com a síndrome metabo defender um padrão de dieta com restrição de
´lica e diabetes, o ácido nicotínico pode aumentar sódio, rica em frutas e vegetais e laticínios com
os níveis da glicemia de jejum. As preparações de baixo teor de gordura. O monitoramento
ácido graxo ômega 3 que incluem altas doses de doméstico da pressão arterial pode ajudar a manter
ma
MARIA ANDRADE

um bom controle da pressão arterial.

Alteração da glicemia de jejum


Em pacientes com síndrome metabólica e diabetes
tipo 2, o controle glicêmico agressivo pode
modificar, de maneira favorável, os níveis de
triglicerídeos de jejum e/ou o HDL-colesterol. Nos
pacientes com comprometimento da glicemia de
jejum sem diagnóstico de diabetes, uma
intervenção no estilo de vida que inclua redução
do peso, restrição dietética de gordura e
aumento da atividade física mostra reduzir a
incidência de diabetes tipo 2. A metformina
também reduz a incidência de diabetes, embora o
efeito seja menor do que o observado com
intervenção no estilo de vida.

Resistência à insulina
Várias classes de fármacos (biguanidas,
tiazolidinedionas [TZDs]) aumentam a
sensibilidade à insulina. Pelo fato de a resistência à
insulina ser o mecanismo fisiopatológico primário
para a síndrome metabólica, os fármacos
representativos nessas classes reduzem sua
prevalência. Tanto a metformina quanto as TZDs
aumentam a ação da insulina no fígado e
suprimem a produção endógena de glicose. As
TZDs mas não a metformina, também melhoram a
captação de glicose mediada pela insulina no
músculo e no tecido adiposo. Benefícios de ambos
os fármacos foram observados em pacientes com
doença do fígado gorduroso não alcoólica e
síndrome do ovário policístico, e os fármacos
mostraram reduzir os marcadores de inflamação.

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