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TRIBUNAL DE JUSTIÇA

PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Registro: 2024.0000078049

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº


1009191-68.2022.8.26.0006, da Comarca de São Paulo, em que é apelante
SINDICATO DOS TECNÓLOGOS, TÉCNICOS E AUXILIARES EM RADIOL.,
DIAG. POR IMAGENS E TERAPIA NO EST. DE SÃO PAULO - SINTARESP, é
apelado AMIL ASSISTÊNCIA MÉDICA INTERNACIONAL S/A.

ACORDAM, em 3ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de


Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso.
V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores


JOÃO PAZINE NETO (Presidente) E CARLOS ALBERTO DE SALLES.

São Paulo, 6 de fevereiro de 2024.

VIVIANI NICOLAU
RELATOR
Assinatura Eletrônica
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

VOTO Nº: 43478


APELAÇÃO Nº: 1009191-68.2022.8.26.0006
COMARCA : SÃO PAULO
APTE. : SINDICATO DOS TECNICOS,
TECNOLOGOS E AUXILIARES EM
RADIOLOGIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
SINTARESP
APDA. : AMIL ASSISTÊNCIA MÉDICA
INTERNACIONAL S/A

JUÍZA SENTENCIANTE: DEBORAH LOPES

“APELAÇÃO CÍVEL. NOTÍCIAS VEICULADAS


POR SINDICATO. ABUSO DA LIBERDADE DE
EXPRESSÃO. Ação de obrigação de fazer cumulada
com pedido de indenização por danos morais. Sentença
que julgou os pedidos iniciais procedentes, com
condenação do Sindicato réu ao pagamento de
indenização por danos morais (R$ 20.000,00),
determinação de exclusão das notícias veiculadas e
retratação. Recurso do réu. Insurgência que não
comporta acolhimento. Notícias que indicam possíveis
irregularidades no setor radiológico de operadora de
plano de saúde, com possibilidade de contaminação em
massa. Sindicato que não diligenciou antes da
divulgação das informações na busca pela informação
verossímil, tampouco comprovou a existência de
denúncias anônimas. Inspeção sanitária realizada em
procedimento instaurado junto ao MPT que não
constatou todas as irregularidades divulgadas.
Conjunto probatório que indica a ausência de
veracidade do conteúdo publicado e o intuito
prejudicial das notícias. Sindicato que admitiu estar
insatisfeito com o responsável pelas relações sindicais
do grupo da autora e, por essa razão, faria as
denúncias, que não se confirmaram. Réu, reincidente,
condenado em processo anterior movido pela mesma
operadora de plano de saúde. Abuso do direito à
liberdade de expressão. Violação à honra objetiva da
pessoa jurídica verificada no caso concreto. Sentença
preservada. NEGADO PROVIMENTO AO
RECURSO”. (v. 43478).

Trata-se de ação de obrigação de

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fazer cumulada com pedido de indenização por danos


morais intentada por AMIL ASSISTÊNCIA MÉDICA
INTERNACIONAL S.A. em face de SINDICATO DOS
TECNÓLOGOS E AUX. EM RADIOLOGIA DO
ESTADO DE SÃO PAULO (SINTTARESP). O relatório
da sentença, que se adota, bem resume os principais aspectos
da causa:
“Alegou que a parte ré publicou e disseminou,
em seu sítio eletrônico, matérias com informações de acusações
falsas, infundadas e sem provas. Aduz que as informações
publicadas tem cunho difamatório com a finalidade de
desestabilizar a relação da autora com colaboradores, parceiros,
paciente e induzir a negociação da Convenção Coletiva sindical.
Afirma que as publicações da parte ré extrapolam os limites da
crítica e a liberdade de expressão, atingindo a moral, honra e
imagem. Requer antecipação dos efeitos da tutela para determinar
que a parte ré retire as publicações de falso teor e publique, nos
mesmos veículos, a retratação. Requer também a condenação da
parte ré no pagamento da indenização por dano moral no valor de
R$50.000,00 (cinquenta mil reais). Juntou os documentos de fls.
67/526).

A tutela de urgência foi deferida (fls.527/528).

Citada (fls. 537), a ré apresentou contestação


às fls.538/574. Arguiu a falta de interesse de agir. Alega que
recebeu denúncias de profissionais da categoria que prestam
serviços nos nosocômios geridos pela parte autora. Que as
denúncias foram encaminhadas aos órgãos fiscalizadores
competentes e comunicadas ao Ministério Público do Trabalho.
Aduz que a parte autora negou atendimento da parte ré para
apuração das denúncias, expulsando os seus representantes de
forma agressiva. Afirma que os relatórios do Ministério Público
do Trabalho comprovam as irregularidades apontadas nas
publicações. Discorreu sobre o relatório, sobre a liberdade
sindical, impugnou o pedido de indenização moral e o pedido
liminar. Requereu a condenação da parte autora na litigância de
má-fé. Requereu, também a improcedência do pedido. Juntou os
documentos de fls. 589/800.

Réplica às fls. 804/816.

O réu foi intimado para manifestação quanto a


documentos juntados, apresentando manifestação às fls.831/832.

É o relatório.”.

Ao fim, a r. sentença julgou o pedido

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procedente para: (i) condenar o réu ao pagamento de R$


20.000,00 a título de danos morais; (ii) condenar o réu na
obrigação de fazer consistente na exclusão das publicações
com conteúdo ofensivo em seu site e páginas pessoais nas
redes sociais; (iii) condenar o réu na obrigação de fazer
consistente na publicação de retratação, sob pena de
incidência de multa diária.

Ônus de sucumbência atribuídos ao


réu. Honorários advocatícios arbitrados em 10% sobre o valor
da condenação (fls. 833/837).

Os Embargos de Declaração
opostos pela AUTORA (fls. 840/841) foram acolhidos para
sanar erro material sobre a correção monetária e os juros
remuneratórios. Assim, o dispositivo da r. sentença passou a
constar com a seguinte redação: “condenar o réu no
pagamento de indenização por danos morais, em favor da
autora, fixados em R$ 20.000,00 (vinte mil reais), atualizados
monetariamente pela tabela prática do E. Tribunal de
Justiça, desde a presente data, acrescidos de juros de mora à
taxa de 1% ao mês, desde a data da publicação, nos termos
das Súmulas 54 e 362 do STJ” (fl. 842).

Nas razões do apelo, o RÉU


sustenta, em síntese, que: (i) a determinação de retirada da
matéria do ar impede que as entidades sindicais alertem,
informem e orientem a categoria profissional sobre as
possíveis violações de direitos e os riscos da profissão; (ii) a
matéria não enseja afronta ao direito de imagem ou abuso de
direito, tampouco implica em abalo indenizável; (iii) atua em
favor da área radiológica, que apresenta riscos aos
profissionais; (iv) recebeu denúncias graves sobre
irregularidades envolvendo a autora, razão pela qual
comunicou autoridades (ANVISA e MPT) e publicou as
matérias informativas em seu site; (v) as matérias não contém
acusações levianas e indicam a necessidade de apuração
pormenorizada dos fatos; (vi) os fatos foram tratados como
“supostos, suspeito e/ou possíveis”; (vii) não houve ofensa à
imagem da autora, pois o site no qual as matérias foram

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divulgadas é destinado aos profissionais da categoria; (viii) a


Constituição garante a liberdade de imprensa, opinião e
manifestação do pensamento; (ix) a entidade sindical
vistoriou o estabelecimento e constatou diversas
irregularidades, como infiltração na sala de raio-x e
vencimento do teste de controle de validade; (x) o MPT
instaurou inquérito civil para aprofundar as investigações; (xi)
o pedido inicial é improcedente (fls. 845/864).

O recurso é tempestivo.

Contrarrazões ofertadas (fls.


869/883).

Houve expressa oposição ao


julgamento virtual pela AUTORA (fl. 887).

Custas complementadas (fl. 894).

É O RELATÓRIO.

Tratando-se de liberdade de
expressão, a regra geral é a da inexistência de caráter
absoluto. Isso porque o direito tutelado encontra limites no
exercício abusivo e na responsabilidade civil. Faz-se
necessária, ainda, a observância da verossimilhança das
informações retratadas; a existência de interesse público ou
social; e a salvaguarda dos direitos dos sujeitos referidos.

A respeito do tema, o C. Superior


Tribunal de Justiça já firmou entendimento nos seguintes
sentidos:
“(...) 1. A liberdade de informação e a
liberdade de expressão (em sentido estrito), ao fornecerem meios
de compreensão da realidade - e, consequentemente, propiciarem
o desenvolvimento da personalidade -, conectam-se tanto à noção
de dignidade humana quanto à de democracia, pois o livre fluxo
de informações e a multiplicidade de manifestações do
pensamento são vitais para o aprimoramento de sociedades
fundadas no pluralismo político, a exemplo da brasileira
(FAVERO, Sabrina; STEINMETZ, Wilson Antônio. Direito de
informação: dimensão coletiva da liberdade de expressão e
democracia. Revista Jurídica Cesumar - Mestrado, v. 16, n. 3,

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set./dez. 2016, pp. 639-655).

2. A liberdade de imprensa, nesse cenário,


constitui modalidade qualificada das liberdades de informação e
de expressão; por meio dela, assegura-se a transmissão das
informações e dos juízos de valor pelos jornalistas ou
profissionais integrantes dos veículos de comunicação social de
massa, notadamente emissoras de rádio e de televisão, editoras de
jornais e provedores de notícias na internet.

3. Conquanto seja livre a divulgação de


informações, conhecimento ou ideias - mormente quando se
está a tratar de imprensa -, tal direito não é absoluto nem
ilimitado, revelando-se cabida a responsabilização pelo abuso
constatado quando, a pretexto de se expressar o pensamento,
invadem-se os direitos da personalidade, com lesão à
dignidade de outrem. Assim, configurada a desconformidade, o
ordenamento jurídico prevê a responsabilização cível e criminal
pelo conteúdo difundido, além do direito de resposta.

4. Nessa linha de raciocínio, não se pode


olvidar que, além do requisito da "verdade subjetiva" -
consubstanciado no dever de diligência na apuração dos fatos
narrados (ou seja, o compromisso ético com a informação
verossímil) -, a existência de interesse público também
constitui limite genérico ao exercício da liberdade de
imprensa (corolária dos direitos de informação e de
expressão).

5. Ademais, sempre que identificada, no caso


concreto, a agressão injusta à dignidade da pessoa - vale dizer:
conduta causadora de angústia, dor, humilhação ou
sofrimento que extrapolem a normalidade da vida cotidiana,
interferindo intensamente no equilíbrio psicológico do
indivíduo -, o exercício do direito à informação ou à expressão
deverá ser considerado abusivo, sendo permitida a intervenção
do Estado-Juiz a fim de estabelecer medida reparatória da lesão a
direito personalíssimo. (...)”

(STJ, REsp n. 1.729.550/SP, relator MINISTRO LUIS FELIPE


SALOMÃO, Quarta Turma, julgado em 11/5/2021, DJe de
4/6/2021, destaque não original)

“(...) A liberdade de informação, de expressão


e de imprensa, por não ser absoluta, encontra limitações ao seu
exercício compatíveis com o regime democrático, tais como o
compromisso ético com a informação verossímil; a
preservação dos direitos da personalidade; e a vedação de
veiculação de crítica com fim único de difamar, injuriar ou
caluniar a pessoa (animus injuriandi vel diffamandi). (...)”
(STJ, REsp 1586435/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE

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SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 29/10/2019, DJe


18/12/2019, destaque original).

No caso concreto, cinge-se a


controvérsia sobre duas notícias veiculadas pelo Sindicato réu
em seu site e páginas pessoais nas redes sociais. São elas:

Notícia 1 - “SINTTARESP
DENUNCIARÁ HOSPITAIS DO GRUPO AMIL POR
SUPOSTAS IRREGULARIDADES. Anselmo Carlos Soares,
profissional responsável pelas negociações com grupo, é
despreparado para o cargo” que tem o seguinte teor:
“O SINTTARESP comunica toda a categoria
que realizará denúncia junto à Anvisa e ao Ministério Público do
Trabalho por supostas irregularidades envolvendo hospitais do
Grupo Amil. Veja quais serão alvo de denúncias: (...)

O responsável pelas relações sindicais do


Grupo Amil, ANSELMO CARLOS SOARES, está fazendo o
sindicato travar uma batalha desnecessária para resolver a
questão. Anselmo é uma pessoa autoritária, arrogante e não tem a
capacidade de negociação que seu cargo exige. E por conta da
arrogância do senhor Anselmo Carlos Soares o SINTTARESP
fará as denúncias. (...)” (fls. 67/69).

Notícia 2 - “SINTTARESP
DENUNCIA GRUPO AMIL AO MPT E ANVISA. Supostas
irregularidades sanitárias no setor radiológico” que tem o
seguinte teor:
“(...) A denúncia realizada pelo SINTTARESP
trata sobre a possibilidade de a empresa possuir aparelhos de
diagnósticos por imagem em desconformidade com o que é
exigido pela vigilância sanitária, não haver material de higiene
suficiente e nem esterilização de equipamentos.

O teor da denúncia também cita a


possibilidade de os dejetos oriundos da revelação do filme
utilizados nos exames de Raio-X estarem sendo lançados
diretamente na rede de esgoto e manutenção dos aparelhos sem
proteção radiológica, podendo PROVOCAR CONTAMINAÇÃO
RADIOLÓGICA EM MASSA, A PACIENTES E
PROFISSIONAIS QUE CIRCULAM NO LOCAL!!!

Tudo isso aliado a possíveis diversos


problemas de infraestrutura básicos para a devida acomodação de
pacientes e profissionais. (...)” (fls. 70/73)

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A autora aduz que as matérias


veiculadas são sensacionalistas, difamatórias e falaciosas,
pugnando, em suma, pela remoção, retratação e pagamento de
indenização por danos morais. O réu, por sua vez, sustenta o
exercício regular de direito e a improcedência dos pedidos
iniciais.

O caso, portanto, transborda para o


Direito Constitucional, pois abrange o conflito de direitos
protegidos pela Carta, quais sejam: a liberdade de expressão e
os direitos da operadora do plano de saúde. Assim, é preciso a
ponderação de valores, eis que “como não existe um critério
abstrato que imponha a supremacia de um sobre o outro,
deve-se, à vista do caso concreto, fazer concessões
recíprocas, de modo a produzir um resultado socialmente
desejável, sacrificando o mínimo de cada um dos princípios
ou direitos fundamentais em oposição” (BARROSO, Luis
Roberto. Temas de direito constitucional. Rio de Janeiro:
Renovar, 2001, p. 265).

A r. sentença, que julgou os pedidos


iniciais procedentes, é mantida.

A despeito das insurgências


recursais, o apelante não demonstrou o exercício regular da
liberdade de expressão. Da análise dos autos, verifica-se, em
verdade, que as notícias possuem claro conteúdo valorativo
da situação retratada - o que não se confunde com o mero
apontamento informativo.

Além disso, não há evidências


concretas da veracidade dos dados divulgados, tampouco
indícios de que o réu adotou as cautelas necessárias à análise
da verossimilhança antes da veiculação. Com efeito, as visitas
aos estabelecimentos da autora para apuração da situação
apenas ocorreram posteriormente, na ocasião do ajuizamento
de processo administrativo junto ao MPT.

Os relatórios de vistoria técnica


realizados pelo réu indicam, em suma, as seguintes
irregularidades: (a) ausência de dosímetros (instrumento de

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medição que indica a exposição ou a dose de radiação


absorvida); (b) armazenamento inadequado ou insuficiência
de EPIs; (c) falta de fixação de certificação e de laudo de
dosimetria em local aparente; (d) infiltração no teto; (e) salas
inapropriadas para realização de exames em razão da falta de
ventilação, o que torna o local abafado e com concentração de
radiação ionizante; (f) falta da apresentação de documentação
necessária; (g) aparelhos quebrados; (h) ar condicionado
avariado (fls. 675/731).

No procedimento administrativo
instaurado junto ao MPT (nº 002964.2022.02.000/2) o
Sindicato sequer apresentou cópia das denúncias anônimas,
mesmo quando intimado para tanto (fls. 500/501). Tal inércia
igualmente permaneceu em âmbito judicial durante o
transcurso da presente demanda, o que fragiliza a veracidade
da tese de defesa (CPC, art. 373, II).

A conduta do recorrente, portanto,


destoa do posicionamento firmado pelo C. Superior
Tribunal de Justiça, segundo o qual “A liberdade de
informação diz respeito a noticiar fatos, e o exercício desse
direito apenas será digno de proteção quando presente o
requisito interno da verdade, pela ciência da realidade, que
não se exige seja absoluta, mas aquela que se extrai da
diligência do informador, a quem incumbe apurar de forma
séria os fatos que pretende tornar públicos.” (STJ, REsp
1897338/DF, Relator Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
QUARTA TURMA, julgado em 24/11/2020, DJe 05/02/2021,
destaque não original).

Cumpre ressaltar que, a utilização de


termos como “supostos, suspeito e/ou possíveis” não é
suficiente para legitimar a conduta do réu. Na verdade, a
publicação de narrativa unilateral, com seleção de
informações e sem lastro probatório certamente induzem o
leitor a uma conclusão negativa sobre a autora.

Ademais, infere-se que a conduta do


réu não é isolada, sendo que o sindicato já foi anteriormente
condenado ao pagamento de indenização por danos morais à

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autora por abuso na veiculação de informações. A questão foi


analisada nos autos nº 1086808-55.2018.8.26.0100 (fls.
79/88) e o julgamento teve a ementa assim redigida:
“RESPONSABILIDADE CIVIL Publicação
de matéria em site e redes sociais de Sindicato da categoria, com
graves acusações contra a autora Sentença de improcedência
Recurso da autora Admissibilidade Abuso do direito de
informar configurado, na publicação de denúncias sem
qualquer apuração de sua veracidade Dano moral que se
reconhece Indenização fixada em R$ 10.000,00, e
determinação de retirada do texto e da publicação de nota de
retratação no mesmo local RECURSO PROVIDO EM
PARTE.” (TJSP; Apelação Cível 1086808-55.2018.8.26.0100;
Relator (a): MIGUEL BRANDI; Órgão Julgador: 7ª Câmara de
Direito Privado; Foro Regional VI - Penha de França - 4ª Vara
Cível; Data do Julgamento: 13/11/2019; Data de Registro:
18/11/2019, destaque não original)

A autora, por sua vez, coligiu aos


autos diversos documentos - levantamentos, testes,
certificados, relatórios, licença, etc. - que foram apresentados
em Juízo e ao MPT a fim de demonstrar a regularidade de
seus estabelecimentos (fl. 101/458) (CPC, art. 373, I).

Nota-se também que, após a


realização de inspeções sanitárias pelo órgão competente, a
conclusão majoritária foi a seguinte: “não constatada a
procedência da denúncia” (fls. 817/827).

À vista do exposto, verifica-se a


distorção dos acontecimentos e o abuso do exercício de
liberdade de expressão pelo Sindicato. A situação, portanto,
viola a honra objetiva da autora, sendo evidente que as
notícias veiculadas são capazes de prejudicar a operadora do
plano de saúde perante clientes e parceiros comerciais.

Nesse âmbito, convém destacar que,


de acordo com o entendimento consolidado do C. Superior
Tribunal de Justiça, “toda a edificação da teoria acerca da
possibilidade de pessoa jurídica experimentar dano moral
está calçada na violação da honra objetiva, consubstanciada
em atributo externalizado, como uma mácula à imagem, à
admiração, ao respeito e à credibilidade no tráfego

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comercial.” (STJ, AgInt no AgInt no REsp 1455454/PR, Rel.


Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA,
julgado em 17/04/2018, DJe 20/04/2018).

É, pois, manifesto o dever de


indenizar.

Mantém-se, portanto, o montante


fixado pelo Juízo de origem (R$ 20.000,00) e as condenações
nas obrigações de fazer em observância à reincidência do réu,
aos parâmetros adotados por este Tribunal de Justiça e à
ausência de impugnação expressa do recorrente em sentido
diverso.

Em conclusão, a r. sentença é
preservada.

Os honorários advocatícios por ela


arbitrados são majorados para 15% sobre o valor da
condenação, na forma do art. 85, §2º e 11 do CPC.

Por derradeiro, para evitar a


costumeira oposição de embargos declaratórios voltados ao
prequestionamento, tenho por ventilados, neste grau de
jurisdição, todos os dispositivos legais citados no recurso
interposto. Vale lembrar que a função do julgador é decidir a
lide e apontar, direta e objetivamente, os fundamentos que,
para tal, lhe foram suficientes, não havendo necessidade de
apreciar todos os argumentos deduzidos pelas partes, um a
um. Sobre o tema, confira-se a jurisprudência (STJ, EDcl no
REsp nº 497.941/RS, Rel. Min. FRANCIULLI NETTO,
publicado em 05/05/2004; STJ, EDcl no AgRg no Ag nº
522.074/RJ, Rel. Min. DENISE ARRUDA, publicado em
25/10/2004).

Ante o exposto, NEGA-SE


PROVIMENTO AO RECURSO.

VIVIANI NICOLAU

Relator

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