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TRIBUNAL DE JUSTIÇA

PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Registro: 2013.0000011221

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº 0002790-

86.2008.8.26.0127, da Comarca de Carapicuíba, em que são apelantes BERENICE

CASSUNDÉ DA SILVA (ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA) e MARIO HELIAS PINTO DOS

SANTOS (ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA), é apelado RAFAEL LOPES ALVES

(MENOR(ES) REPRESENTADO(S)).

ACORDAM, em 32ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça

de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento em parte ao recurso. V.

U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmo. Desembargadores LUIS

FERNANDO NISHI (Presidente) e RUY COPPOLA.

São Paulo, 17 de janeiro de 2013.

FRANCISCO OCCHIUTO JÚNIOR


RELATOR
Assinatura Eletrônica
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TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo
SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO - 32ª CÂMARA
Apelação 0002790-86.2008.8.26.0127

COMARCA : CAPAICUÍBA – 2ª VARA CÍVEL


JUIZ : DR. DOUGLAS IECCO RAVACCI
APELANTES : BERENICE CASSUNDÉ DA SILVA E OUTRO
APELADO : RAFAEL LOPES ALVES
VOTO Nº 12.231

Responsabilidade civil. Indenização por danos materiais,


morais e pensão mensal vitalícia. Acidente de trânsito.
Sentença que julgou a ação procedente.
Apelação dos réus. Reiteração dos argumentos constantes da
peça defensória.
Atropelamento do autor que estava brincando na calçada com
outras crianças. Danos materiais comprovados nos autos.
Danos morais fixados em 20.000,00 reais.
Pensão mensal vitalícia: não devida. Incapacidade laborativa
não comprovada. Menor que pode vir a realizar trabalhos
intelectuais que não dependam de sua mobilidade. Fisioterapia
que pode reabilitá-lo para o trabalho. Ausência de prova
pericial.
Danos morais: existência. Valor mantido. Obediência aos
Princípios da Razoabilidade e Proporcionalidade.
Sentença parcialmente reformada para afastar a condenação ao
pagamento de pensão mensal vitalícia.
Recurso parcialmente provido.

Cuida-se ação de indenização por danos materiais, morais e


pedido de pensão mensal vitalícia proposta por RAFAEL LOPES ALVES,
menor de idade, em face de BERENICE CASSUNDÉ DA SILVA e OUTRO,
tendo em vista atropelamento do autor quando jogava bola com outras
crianças, o que resultou em diversas fraturas e diminuição da sua futura
capacidade laborativa. A r. sentença de fls. 191/194, julgou a ação procedente,
condenados os réus a pagarem meio salário mínimo a título de pensão mensal
vitalícia a partir dos seus 16 anos, com o dever de constituírem os réus capital
que assegure o pagamento nos termos do art. 602 do CC, despesas com o
tratamento das lesões com suporte no art. 942 do CC, e indenização por danos

Voto nº - Apelação nº 0002790-86.2008.8.26.0127


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morais fixados em R$ 20.000,00 (vinte mil reais), atualizados a partir da


publicação da sentença em cartório e juros de mora de 1% ao mês a contar da
citação.

Inconformados, recorrem os réus. Em suas razões, fls. 198/203,


aduzem que já prestaram os socorros e ajuda necessários para amenizar o
sofrimento do autor e seus familiares. Desta forma, entendem que não há dano
moral indenizável. Demais disto, alegam que o seguro obrigatório cobre
possíveis danos morais.

Impugnam a condenação da pensão mensal vitalícia já que não


houve prova pericial atestando a perda ou redução de capacidade laborativa
do apelado. Pugnam pela reforma da decisão.

Contrarrazões a fls. 209/216.

Parecer do Ministério Público, fls. 220/222, pelo improvimento do


recurso.

É o relatório do necessário.

A ação versa sobre a investigação das condutas dos envolvidos


no acidente retratado no processo.

Pelo exame dos autos e das provas documentais e orais


produzidas, tem-se que a corré Berenice assume que estava em fase de
habilitação para a condução de veículos automotores e que se assustou com
as crianças jogando bola perto do seu veículo, de forma que acelerou em vez
de frear.

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Daí, já resta caracterizado o dever de indenizar. O fato de terem


os apelantes já arcado com algumas despesas de medicamentos, não os
desincumbe de arcar com o restante do tratamento, tampouco a transação
realizada na esfera penal.

Tem-se que a corré, que dirigia o veículo de propriedade do


segundo corréu, não agiu com o dever de cuidado. O evento era evitável, já
que a vítima não surgiu de repente e poderia ser vista pelo veículo que a
atropelou. Desta forma, tem-se que o fato era previsível, restando culpados os
dois réus (motorista e proprietário do veículo) envolvidos no acidente.

Nos ensinamentos de Sérgio Cavalieri Filho ao explicar a falta de


cuidado: “Se era pelo menos previsível, porque o agente não o previu e,
consequentemente, o evitou? (...) porque faltou a cautela devida; violou aquele
dever de cuidado que é a própria essência da culpa. Por isso vamos sempre
encontrar a falta de cautela, atenção, diligência ou cuidado como razão ou
substrato final da culpa. Sem isso não se pode imputar o fato ao agente a título
de culpa, sob pena de se consagrar a responsabilidade objetiva.” (CAVALIERI
FILHO; Programa de Responsabilidade Civil; 9ª. Edição; Ed. Atlas).

A pensão mensal vitalícia, contudo, não é devida. Não houve


comprovação por laudo médico pericial de que tenha havido perda de
capacidade laborativa. O autor é menor de idade e sequer trabalha. Apesar
das sequelas definitivas relatadas a fl. 66 dos autos, há notícias de que pode
deambular.

Aliás, nesse mesmo sentido opinou o douto Promotor de Justiça


Substituto no sentido de que:

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“Em relação à pensão vitalícia pretendida, entendo que não é o


caso de seu deferimento.
Com efeito, os relatórios médicos apontam graves lesões sofridas
por Rafael, mas em momento algum indicam que o menor não poderá laborar
no futuro. Ao contrário, há relatório médico afirmando que, tendo sido operado
em 10 de setembro de 2006, a partir da data de 10 de agosto de 2007 o menor
já poderia andar (fls.66).
Assim, forçoso reconhecer que não foi ceifada a capacidade
laborativa futura do autor, não sendo o caso de pensão vitalícia.
Finalmente, quanto ao dano moral pleiteado, evidente sua
ocorrência.” (fl. 185).

Desta forma, o autor pode ser capaz de trabalhar em funções que


não exijam muito esforço físico.

Quanto aos danos morais, por óbvio que ocorreram. O fato de


existir o seguro obrigatório não isenta os réus do dever de indenizar. Isentar os
réus, que concorreram para a ocorrência do acidente, seria agraciá-los com o
patrimônio do próprio autor, o que não se sustenta. Desta forma, bem fixada a
condenação no dever de indenizar.

Quanto ao valor fixado para os danos morais R$ 20.000,00


entendo que não merece alteração, pois guarda em si a devida proporção
entre a lesão e a respectiva reparação. Segundo a lição de Antonio Jeová
Santos, "A indenização não pode servir de enriquecimento indevido para a
vítima. Idêntico raciocínio é efetuado em relação ao detentor do
comportamento ilícito. Uma indenização simbólica servirá de enriquecimento
indevido ao ofensor que deixará de desembolsar quantia adequada,

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enriquecendo-se com o ato hostil e que desagradou, de alguma forma, algum


ou quaisquer dos direitos da personalidade" (Dano Moral Indenizável, Editora
Revista dos Tribunais, 4ª edição, pág. 199).

Há, assim, que observar o princípio da lógica do razoável, ou


seja, "importa dizer que o juiz, ao valorar o dano moral, deve arbitrar uma
quantia que, de acordo com seu prudente arbítrio, seja compatível com a
reprovabilidade da conduta ilícita, a intensidade e a duração do sofrimento
experimentado pela vítima, a capacidade econômica do causador do dano, as
condições sociais do ofendido, e outras circunstâncias mais que se fizerem
presentes" (cf. Sérgio Cavalieri Filho, "Responsabilidade Civil", pág. 116).

O valor fixado, desse modo, atende aos critérios da razoabilidade


e proporcionalidade, levando-se em conta o dano e sua extensão, bem como
tendo em vista a comprovação do dano, do ato ilícito e do nexo de causalidade
entre eles.

Por esta razão, a r. sentença merece pequeno reparo, apenas


para afastar a condenação no pagamento de pensão mensal vitalícia, como
acima descrito, permanecendo no mais, conforme prolatada.

Ante o exposto, pelo meu voto, dou parcial provimento ao


recurso.

FRANCISCO OCCHIUTO JÚNIOR


Relator

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