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Capa e Projeto Gráfico

L.A. Creative

Diagramação

Katherine Salles (Imagens Pixabay e Canva)

Revisão e Preparação de Texto


Ana Roen

Livro Digital
1ª Edição
Aline Damasceno

Todos os direitos reservados © Aline Damasceno.


É proibido o armazenamento ou a reprodução de qualquer parte

desta obra, qualquer que seja a forma utilizada – tangível ou

intangível, incluindo fotocópia – sem autorização por escrito do


autor.

Esta é uma obra de ficção. Nomes de pessoas, acontecimentos e

locais que existam ou que tenham verdadeiramente existido em


algum período da história foram usados para ambientar o enredo.

Qualquer semelhança com a realidade terá sido mera coincidência.


ÍNDICE

GLOSSÁRIO
SINOPSE
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Epílogo
AGRADECIMENTOS
SOBRE A AUTORA
Primeiramente, começo pedindo desculpas caso haja algum
erro no emprego das palavras turcas presentes no texto a fim de

ambientar melhor a história. Apesar da pesquisa, posso ter cometido

erros, principalmente por não ter fluência na língua.

Optei por traduzir algumas palavras em nota, porém, como

algumas delas se repetem, faço um pequeno glossário básico para


consulta.

Anne – mãe
Aşk – amor

Benim değerli – minha preciosa

Bok – merda
Değerlim – preciosa

Güzel – gostosa

Kıymetli – preciosa

Tanri – Deus

Tatlim – querida
Uma mocinha ferida, um milionário arrogante e uma gravidez
acidental...

Depois de flagrar o homem que achava que seria o seu


príncipe encantado transando com uma colega em plena festa da

empresa, Valdete refugiou-se em um terraço vazio para lamber suas

feridas. Mas o que a ingênua e romântica assistente administrativa


não esperava era que um estrangeiro misterioso, que não tinha

conseguido parar de devorá-la com os olhos, fosse atrás dela e

usaria todo o seu charme para tê-la. Tiveram uma tórrida noite de
prazer, mas, arrependida, por não ser o tipo de mulher que mantém

casos passageiros, ela foge. No entanto, dias depois descobre que

o homem misterioso, que não estava nada satisfeito por ter sido
deixado, seria seu novo chefe.

E tudo se complica ainda mais, pois a noite que tiveram teve

consequências e o CEO seria o pai dos seus bebês.


I remember the smell of your skin
I remember everything

I remember all your moves

I remember you, yeah


I remember the night

You know I still do![1]

Please forgive me – Bryan Adams


Chicago

Peguei uma taça de champagne de um dos garçons que


circulavam por todo o salão e dei um sorriso ao homem, que

retribuiu antes de se virar para os outros convidados para também

os servir.
Bebendo um pouco, sentindo as pequenas bolhas contra a

minha língua, embora não me desse nenhum prazer beber o

espumante absurdamente caro para ser oferecido por uma empresa


que estava indo à falência, me direcionei para fora do salão

elegante da mansão em Burton Place, onde acontecia a

comemoração de aniversário da Motors Company, buscando o


terraço que imaginava que estaria vazio, já que a festa não se

concentrava ali.

Enquanto caminhava, tive a impressão de que alguém me

observava, então olhei discretamente ao redor e vi um homem

atento a cada passo que dava para deixar o local, focando no


ondular dos meus quadris, emoldurados pelo vestido azul-marinho

longo e justo. Tinha consciência de que era alvo do escrutínio

faminto de algum homem desde que entrei na mansão, e o arrepio

que percorria minha pele e o formigamento de antecipação que


agitava minhas veias eram indicativos disso, mesmo assim,
desanimada, não procurei saber quem ele poderia ser, pois estava

ridiculamente decepcionada quando vi uma das diretoras executivas

chegar acompanhada de Mark, e de mãos dadas com ele. Também,

era insegura demais para flertar com quem quer que fosse à

distância, ou até mesmo retribuir um olhar mais provocante, embora

todo o meu corpo parecesse estar ciente dele. Além de que, o


interesse poderia ser apenas fruto da minha imaginação, já que

estava com o ego completamente ferido.

Segurando o cristal com mais força, apertei meu passo,

mesmo que soubesse que não era nada elegante correr com meus

saltos e usando aquele vestido, mas não me importei se alguém

pudesse me ver ou cruzar o meu caminho. Precisava urgentemente

ficar sozinha, estava cansada de fingir uma felicidade que não


sentia, ainda mais quando, alguns minutos atrás, num dos

corredores escuros, quando procurava um banheiro mais longe para

retocar a minha maquiagem e buscar um pouco de autocontrole, vi

os dois se beijando, amasso que, provavelmente, terminaria em

sexo, o que me fez vestir uma máscara de indiferença e frieza, algo

que comumente usava quando estava trabalhando.


Deveria imaginar que um dos principais diretores do

departamento de finanças, um homem que vinha sendo gentil e


atencioso comigo nos últimos meses, uma mera assistente, apenas

queria brincar comigo.


Me usar.
Transar e me descartar.

Afinal, não havia nada demais em mim de diferente das


outras funcionárias da Motors. Não havia dúvidas que ele se jogava

em cima de todas, inclusive a senhora Jenkins, mas eu era burra


demais para perceber. Como não cedi com facilidade, o que deveria

ser comum para homens como ele, Mark deve ter desistido de mim.
Esse pensamento fez com que eu quisesse rir amargamente
da minha idiotice, mas me contive, lamberia minhas feridas mais

tarde, não ali.


Não que eu estivesse completamente apaixonada por ele,

estava muito longe disso, mas foi impossível para mim não me
deixar levar pelas suas palavras doces, seu toque gentil, o olhar

caloroso, os jantares e cafés românticos. E também pelos beijos


impróprios no estacionamento da empresa, bem como os amassos,
ainda mais quando, depois de ser magoada pelo meu primeiro

namorado na faculdade e também meu primeiro homem, me fechei


para qualquer um que ousasse se aproximar. Houve várias

tentativas, não podia negar, mas sabia o que os espécimes


masculinos queriam de mim. Contudo, nos últimos tempos, estava

me abrindo mais e mais para o diretor financeiro, que nunca tinha


olhado para mim antes. Uma vez brinquei com ele sobre isso, mas

ele apenas disse que era um grande bobo por não ter visto a mulher
linda e inteligente que eu era, alimentando ainda mais o meu ego.
Balancei a cabeça em negativa, mas me concentrei para não

cair dos meus saltos. Ingenuamente, embora meu ex tenha me


magoado, deixando marcas profundas ao me trair não com uma,

mas duas calouras ao mesmo tempo, eu ainda sonhava com meu


próprio conto de fadas e encontrar o meu príncipe encantado. Uma
grande tolice, e parecia ainda mais ao ter chegado a pensar que

Mark poderia ser esse homem. Não sei onde estava com a cabeça
por confundir tudo, de não ter conseguido enxergar a verdade, que

ele era um mulherengo e dava em cima de todas as funcionárias,


inclusive as casadas, como a Jenkins. Algo dentro de mim parecia

saber disso, mas acabei me iludindo.


Mark era tão gentil, tão caloroso, tão lindo com seus cabelos
loiros e olhos verdes! Seu sorriso me desarmava, me fazendo

quebrar minha ética de trabalho. Foi quase que impossível não cair
na sua rede e estava prestes a sucumbir, entregando meu corpo a
ele, o que teria sido pior ainda.
Respirando fundo quando a brisa fresca tocou o meu rosto,

pousei a taça sobre o balaústre e encarei a escuridão dos jardins


iluminados apenas pelas estrelas, contendo as lágrimas que

queriam surgir em meus olhos e que me fariam sentir ainda mais


tola. Chorar por um cara que nunca me prometeu nada seria
ridículo.

Não segurei a risada rouca que brotou em minha garganta


que ecoou pelo ambiente aberto, mas sabia que não iria chegar ao

salão tomado pela música alta. Novamente, balancei a cabeça em


negativa, alguns cachos do meu penteado se desfazendo. Precisava

parar urgentemente de alimentar minhas esperanças de encontrar


um amor igual ao dos filmes e livros. Por Deus, tinha vinte e três
anos, não era mais uma adolescente que poderia sonhar acordada

com um homem que só existia no entretenimento. Era uma mulher


adulta! Com todos meus problemas, deveria focar em procurar outro

emprego com a possível falência da Motors, que caminhava a


passos largos para esse destino.
Então não deveria perder o meu tempo ansiando por algo

que não existia…


Queria um amor como o dos meus pais. Ele, um americano
que se apaixonou por uma linda brasileira, uma imigrante ilegal, que
fez de tudo para tornar sua estada legal, mesmo não tendo tantos

recursos para tal, vendendo tudo que tinha para isso, reconstruindo
tudo com ela novamente. Um sentimento puro que sobreviveu às

barreiras, inclusive a do preconceito. É, talvez eu é que nunca iria


tirar a sorte grande de encontrar alguém para passar o restante da
vida, alguém que me amasse intensamente, que daria tudo por mim,

um homem que não me achasse fria e sem sal na cama, mas sim,

poderosa, quente e sexy. Estremeci ao pensar na acusação do meu


ex traidor e tentei empurrar todos esses pensamentos para o fundo

da mente. De nada adiantaria ficar me martirizando com essas

lembranças, muito menos ficar sofrendo por Mark, um canalha doce,

amável e encantador. Um falso.


Fiquei observando as estrelas por minutos a fio, então peguei

minha taça e a levei aos lábios, bebendo o conteúdo, sentido

vagamente as notas frutadas. Pouco a pouco, o líquido foi me


fazendo relaxar, pelo menos naquele assunto, e passei a focar

naquilo que realmente importava: a perspectiva de encontrar um

outro emprego que pagasse tão bem como o que eu tinha, e que
pudesse amar tanto quanto amava trabalhar para a companhia, já

que minhas economias não durariam dois meses.


Sentia em meus ossos que o iminente desastre viria e que a

corda arrebentaria para o lado mais fraco, deixando a maioria das

pessoas desempregadas, inclusive eu e principalmente funcionários


de baixo cargos que precisavam daquela renda, ainda mais aqueles

que residiam em uma pequena cidade de Illinois, onde ficava o

parque industrial da empresa. Essa constatação me deixou

subitamente triste e fez com que eu tomasse o restante da bebida


de um só gole.

Imersa nessas torrentes de pensamentos, presa na incerteza,

quase não percebi que alguém se aproximava, só fui alertada pelo


pequeno arrepio que senti, a mesma sensação que me percorreu ao

descobrir que era alvo do homem misterioso.

Emiti um suspiro baixinho e mordi os lábios, não sabendo se


estava pronta para encará-lo. Ele estava ali por minha causa, ou era

uma mera coincidência? Por mais que achasse que era somente o

acaso, minha autoestima preferia acreditar que era o desejo por

mim que o movia. Mais uma das minhas bobagens. Nem sabia se
era realmente ele, o tal “homem” que me seguia com o olhar.
— Boa noite, senhorita. — A voz grave e rouca, acentuada

por um sotaque estrangeiro, fez com que meu pulso se acelerasse e

minhas pernas ficassem ligeiramente trêmulas sobre os saltos.


Forcei-me a aparentar uma calma que não sentia, mesmo

perturbada pela sua presença. Virei-me para ele, observando o

homem alto se aproximar de mim com passos lentos, como se fosse

um felino espreitando-me. Seu terno preto perfeitamente cortado


deixava toda a sua altura e seu corpo musculoso em evidência.

Uma mecha do cabelo escuro caía sobre sua têmpora e uma barba

espessa cobria seu rosto, deixando-o ainda mais másculo. Embora


sua expressão fosse severa, rígida, ele era incrivelmente sexy.

Selvagem. Perigoso. Exalando poder a cada passo que dava. Não

havia nenhuma dúvida de que ele era alguém a se temer, no bom e

no mau sentido. A determinação presente em suas feições deixava


mais do que claro de que tinha o que queria, usando todas as armas

que tinha ao seu dispor.

E mesmo na minha quase total ingenuidade com os homens,


eu sabia que ele me desejava, embora não compreendesse o

motivo para tal, já que ali havia mulheres muito mais atraentes do

que eu, em seus trajes insinuantes. Nunca o tinha visto na sede da

companhia. Talvez fosse diretor de alguma empresa parceira que


também tivesse sido convidada para a festa luxuosa, ou um parceiro

de negócios em potencial. O que sabia era que meu corpo todo


reagiu perante a luxúria que ardia em seus olhos, apesar de eu

buscar conter com todas as minhas forças. Confiante em si mesmo,

o estranho deve ter percebido o que causava em mim, pois abriu um


sorriso devasso que roubou por alguns segundos o meu ar. Essa

noite estava me sendo um completo fiasco, desde que me senti

melindrada por ver Mark com outra, até essa minha reação

descabida àquele desconhecido que também me devorava com o


olhar.

Poderia não me sentir segura para flertar com ninguém, mas

algo me dizia que ele o faria por mim.


— Boa noite, senhor. — Obriguei-me a dizer em tom firme

enquanto encarava o moreno encostar-se no balaústre e levar o

copo de bebida alcoólica transparente aos lábios.

— Não muito boa, ao que parece.


— Pelo menos as outras pessoas estão se divertindo —

comentei displicentemente, evitando pensar no casal que realmente

estava aproveitando o evento, apesar que a imagem veio com tudo


na minha mente.
Não disse nada e, fitando-me como se me compreendesse,

tomou o restante do líquido em um gole. Me senti levemente curiosa

por aquele homem, mas logo suprimi, voltando-me para a direção

dos jardins escuros, retomando o meu controle.


— Excelente. — Emitiu um som de apreciação e com o canto

do olho vi que ele pousava o copo ao lado do meu e esticava os

braços sobre a superfície do guarda-corpo.


— Pelo preço, tem que ser excelente mesmo. — Sei que não

deveria tecer tal crítica, mas me parecia um gasto surreal quando a

companhia estava prestes a deixar centenas de funcionários

desempregados. Não seria um problema para os ricaços, claro.


— E você desaprova o gasto, senhorita… — O tom grave,

sussurrado tão próximo a mim, foi como uma deliciosa carícia

inesperada e contive o estremecer, que nada tinha a ver com a brisa


que soprava e não era capaz de apagar o calorzinho desconhecido

que brotava em meu interior.

Não podia deixar ainda mais evidente para ele o quanto

mexia comigo, que estava consciente do seu corpo próximo ao meu,


do seu cheiro, reação completamente ridícula. E sentir meus

pelinhos se arrepiarem ao pensar em como seria ouvir aquela voz

sedutora murmurada contra o meu ouvido, enquanto sua barba


roçava no meu pescoço, era muito mais absurda. Mesmo assim,

indo contra todo o bom-senso e diferentemente da minha


personalidade, minha mente começou a seguir por esses caminhos

perigosos, de imaginar as mãos grandes percorrendo o meu corpo,

tocando-me por toda a parte, os lábios deixando uma série de

mordidas e beijos pela minha garganta até alcançar o topo dos


meus seios.

Balancei a cabeça suavemente, em um gesto quase

imperceptível, mas que com certeza foi percebido por ele. Estava
ficando completamente maluca em fantasiar com aquele homem

que nem sabia o nome, além de que eu não era o tipo de mulher

que tinha casos de uma noite, o que obviamente o estrangeiro


queria. E não começaria hoje. Ou começaria? Permanecer ali,

conversando com um homem que me devorava com os olhos

enquanto podia dar uma desculpa e me retirar, parecia um bom

indicativo.
Merda, eu não era tão imprudente assim. Nem ao menos

poderia culpar as duas taças de champagne que tinha consumido

durante a festa como a causa do meu descontrole.


Voltando a minha atenção para a pergunta que

pacientemente esperava uma resposta, fiquei em silêncio por alguns


segundos, pensando no que dizer, mesmo sabendo que a atual
situação financeira da Motors fosse nenhum segredo, já que

grandes veículos de comunicação dos Estados Unidos vinham

cobrindo a iminente falência da empresa, que vinha em declínio nos


últimos meses. Eu sempre seria leal à Motors. Embora, tinha que

admitir, não concordasse com as atitudes tomadas pelo CEO que

em nada ajudavam o crescimento da companhia e que só a faziam


afundar vertiginosamente. Aquela festa, os escândalos na mídia, os

gastos exacerbados em automóveis de luxo só confirmavam suas

péssimas escolhas. Apesar de que duvidava muito que somente

aquilo estivesse levando a empresa à derrocada. Provavelmente


alguém poderia estar embolsando uma grande soma de dinheiro

desviado.

Por um momento pensei que esse ‘alguém’ poderia ser Mark,


afinal ele tinha muito poder como diretor do departamento de

finanças, até mesmo auxiliando na compra de matéria prima para


fabricação das peças e despacho, e poderia manipular os números
e ter acesso a coisas restritas na empresa, mas sabia que isso era

somente algo criado pela minha mente machucada que queria vê-lo
na pior. Uma espécie de vingança, o que era ainda mais ridículo da
minha parte, me fazendo sentir ainda mais patética.
Virei-me para o homem desconhecido, forçando-me voltar a
realidade, dando-me conta de que ele me observava atentamente.
Apesar do brilho de desejo ainda cintilar em seu olhar, percebi que

havia algo a mais, que era indefinível para mim.


— Me parece bastante triste quando, em breve, se nada
mudar, muitos poderão perder os seus empregos, inclusive eu —

minha voz saiu em um sussurro baixo, revelando o quanto aquilo me


preocupava. Um pouco por mim, claro, mas mais pelos funcionários
que tinham família para cuidar, alimentar.

Ele não disse nada por um tempo e voltei a fitá-lo,


percebendo que sua expressão estava mais séria e rígida e eu temi
que tivesse dito demais em meu pequeno desabafo. Tinha quase

certeza de que ele não trabalhava para a Motors, então não


entendia o porquê da sua irritação.
— Desculpe, senhor, não importa — disse em um murmúrio.

— Com licença.
Fiquei constrangida pelo modo com que reagia a ele e pela

decepção que me invadiu por aquele desconhecido “supostamente”


me recriminar. Balançando a cabeça em negativa, tolamente ferida
pela segunda vez na noite, virei-me em meus saltos e descolei meu

corpo do balaústre e dele, que estava muito próximo a mim.


Precisava me afastar, ou melhor, fugir. Mas quando ia dar um passo
à frente, senti a mão grande e quente envolvendo o meu braço, e eu
fechei os olhos com o arrepio que me percorreu com o contato

delicioso. Seu toque era gentil e dava-me a escolha de me deslocar


para o lado, porém, sem nenhuma explicação, eu era cativa daquele

calor que irradiava por todo o meu corpo. Perante aquele estranho,
parecia que não tinha vontade própria, e, para o meu pânico, eu
soube que, com o seu toque, eu poderia fazer tudo aquilo que ele

me pedisse, inclusive bancar a amante dele por uma noite.


Soltou-me, como se soubesse que não mais fugiria, mas
apenas para girar-me com gentileza em sua direção, fazendo-me

estremecer ao sentir a respiração dele contra a minha pele. Abri os


olhos, percebendo que ele estava inclinado contra mim. Não havia
mais aquela rigidez, apenas ânsia.

Ele estava perto demais de mim para o meu bom-senso, seus


lábios tão próximos, que bastava aproximar-me alguns centímetros
para senti-los contra os meus.

Deus!
— Senhor? — questionei, sentindo meus lábios ficarem

secos.
Apoiei uma mão no ombro largo quando senti minhas pernas
ficarem bambas pela onda de desejo que me assolou ao fitar

aqueles olhos negros intensos, repletos de promessas silenciosas


que estava mais do que disposto a cumprir. Sua mão envolveu a
minha cintura suavemente, aproximando-me mais do corpo dele.

— Yazuv, me chamo Yazuv.


— Yazuv? — Tentei pronunciar o nome estrangeiro, mas

minha voz saiu extremamente rouca e o homem me brindou com um


sorriso lascivo, como se apreciasse ouvir-me dizê-lo e eu repeti: —
Yazuv…

— Sim, benim tatlim[2].

Surpreendendo-me, fazendo-me esquecer o quão o nome


dele era diferente, ergueu um pouco o rosto, ainda me encarando
com devoção, então venceu a distância entre nós dois e plantou um

beijo casto na minha testa. Pisquei várias vezes, apreciando o calor


morno dos seus lábios contra a minha pele, não me recordando se
algum outro homem, além do meu pai, beijou-me ali. Era

desconcertante demais, já que esperava algo mais ousado daquele


estrangeiro, de tal maneira que recuei. Ele removeu a mão da minha
cintura, mas não sem antes resvalar nos meus quadris, o que ateou

fogo em mim.
Buscando me controlar e suprimir aquele calor indesejável,

trôpega, apoiei-me novamente no balaústre e fitei o céu. Sentindo


que ele se postava ao meu lado, respirei fundo, e pouco a pouco fui
me acalmando. O fato dele não pedir desculpas pelo ocorrido era

um bálsamo, odiaria que o fizesse depois de um beijo tão carinhoso.


Também, nada seria pior do que se desculpar por algo que não se
arrependia, e algo me dizia que ele calculava muito bem cada

movimento e gesto que fazia, e que a palavra arrependimento não


se encontrava em seu vocabulário.

— E você? — perguntou longos minutos depois em um tom


suave, persuasivo, e não resisti em encará-lo novamente, puxada
pelo seu magnetismo, embora estivesse confusa.

— Eu?

— Seu nome, tanrıçamın[3].


Franzi levemente o cenho não compreendendo a última
palavra dita lentamente, o que novamente me causou arrepios, mas

apenas dei de ombros, contendo a sensação inquietante que senti


ao ouvi-la. Não importava seu significado, não quando ele me
despia com o olhar.

— Valdete, mas todos me chamam de Val.


Dei um sorriso a ele, mesmo sabendo que era um erro
encorajá-lo dessa maneira, não quando tudo indicava de como
terminaríamos a noite.

— Pode ser um nome tanto masculino quanto feminino no


Brasil — completei.
— Diferente — sussurrou e, sem pudores, tocou uma mecha

do meu cabelo que tinha escapado do meu penteado, acariciando


os fios com seus dedos como um amante faria, com ternura, com
devoção.

— Minha mãe resolveu homenagear a minha avó que faleceu


antes de eu nascer — meu tom falhou um pouco.
— Sinto muito, Valdete… — Meu nome saiu engraçado em

meio ao sotaque irreconhecível e eu quis rir, mas não o fiz, porque


pegou a minha mão, levando-a aos lábios para plantar um beijo no

dorso, o que mexeu com as minhas terminações nervosas


Emiti um pequeno som de protesto quando não mais senti o
peso da sua boca contra minha pele, fazendo com que os olhos de

Yazuv brilhassem em divertimento. Droga!


— Eu também — aprumei o corpo, falando baixinho.
Não queria pensar o quanto eu queria ter conhecido aquela

mulher fantástica que minha mãe tanto falava, pois sabia que isso
só deixaria minha noite ainda mais melancólica. Lidar com o fato de
ter sido feito de boba por Mark, que provavelmente dava em cima de

tudo que usava saia, do meu futuro desemprego, e o desejo que


sentia pelo desconhecido já eram demais para mim. Não precisava
acrescentar outro sentimento à lista que me levaria às lágrimas,

fazendo-me parecer ainda mais tola perante ele.


— O seu nome também é bastante curioso, Yazuv. — Disse
qualquer coisa que afastasse o assunto de mim. No fundo também

estava curiosa para saber um pouco mais sobre ele.


— É de origem turca.
— Hm… — Sorri para ele, que me retribuiu. — E tem algum

significado especial?
— Severo.
— Oh!

Levei as mãos aos lábios, surpresa, tentando conter a


gargalhada, mas falhei miseravelmente. Acabei rindo, arrancando

um arquear de sobrancelha dele. E eu ri ainda mais, por mais que


eu não devesse fazer isso.

— Que bom que a divirto, canim[4]. — Fez uma pausa em


meio a uma careta e, sem querer, pousei minha mão sobre o braço
dele, sentindo o calor da sua pele transpassar o tecido e irradiar por
todo o meu ser. — É uma honra servi-la.

— Desculpe-me — disse quando consegui me controlar e,


inconscientemente, acariciei o braço dele, tocá-lo parecia algo

natural. — Mas parece combinar bem com você, Yazuv.


— É o que me dizem — um brilho perigoso cintilou nos olhos
negros, que fez com que um calafrio me varresse, dessa vez, não

de desejo —, mas é um preço baixo a se pagar.


— Compreendo. — Desviei o olhar, fitando o jardim.
Ergui minha mão quando ela pareceu queimar ao tocá-lo,

mas o turco me impediu, colocando a palma quente sobre a minha,


não deixando que eu me movesse, prendendo-me em seu calor.
— Deixe-a aí, tanrıçamın — pediu com a voz rouca, quase

como uma ordem, o que poderia não me fazer encarar bem o fato,
mas as palavras seguintes me desarmaram: — gosto que você me
toque.

— Yaz…
— Por favor.

Não disse nada enquanto ele afastava a mão e observei que,


ao passo que eu continuava a acariciá-lo no braço, o turco fechou
os olhos e suas feições pareceram relaxar, tornando-o bem menos
severo do que demonstrava ser, dando-me a impressão de que ele

não era tão rigoroso e implacável como seu nome, apenas um


homem cansado, que precisava esconder suas emoções atrás de
uma máscara austera.

— E o que faz tão longe da Turquia? — Movida por um


impulso, levei minha mão ao rosto dele, sentindo os pelos ásperos

bem aparados sob o meu tato, curiosa.

— Trabalho, tatlim[5].
— Apenas isso, senhor? — Com uma ousadia que não sabia
que existia dentro de mim, insinuei-me para ele, que abriu os olhos,

revelando-me o quanto estava faminto. Por mim.


— Sou obrigado a confessar que a princípio sim, Val.
Pousou sua palma sobre a minha mão que acariciava a barba

dele, e eu estremeci com o calor de pele contra pele. Fitando-o,


tentei perscrutar a verdade em seus olhos, mas não consegui
enxergar nada além de ânsia, de um desejo avassalador. Contra

todo o meu bom-senso, me senti ferida ao pensar que ele também


só queria me usar, o que era patético, mas isso fez com que eu
abaixasse a mão e virasse meu rosto. Ele não me impediu, porém,

retribuindo o meu contato, Yazuv, delicadamente, acariciou o meu


queixo e bochechas e, mesmo machucada, eu não tive forças para
rejeitá-lo.
— Te magoaram muito, benim tatlim?

O polegar dele roçou os meus lábios e eles formigaram em


resposta, principalmente quando imaginei ele me beijando, a boca
morna e convidativa me tomando em um beijo lento, que se tornaria

cada vez mais possessivo, acompanhando o desejo furioso que


ardia nele, com suas mãos grandes deslizando pelo meu corpo,
apertando-me. Engolindo em seco com a onda de desejo que se

assomou no meu baixo-ventre, pulsante de uma maneira que nunca


senti antes, sem pensar muito, acabei falando demais:

— Os homens sempre me fazem de tola…


— Entendo. — Continuou a massagear os meus lábios,
eletrizando-me.

— Primeiro foi meu ex, que me traiu com duas ao mesmo


tempo, agora o Mark…
— Um grande idiota — sussurrou.

Percebi um brilho perigoso cruzar seu olhar que durou


questão de segundos, e se eu não estivesse atenta a sua
expressão, passaria quase que imperceptível. Mas o fato dele

chamar meu ex de idiota, fez com que eu sentisse que tinha valido a
pena meu desabafo, que não era eu a culpada pela minha suposta
frigidez.

— Mark? — Perguntou, curioso.


— Um diretor financeiro. Pensei que ele queria algo sério, eu
estava me abrindo para ele... — Emiti um suspiro e balancei a

cabeça. Talvez não fosse tão ruim assim continuar desabafando


com um estranho, ainda mais que não o veria no dia seguinte. —
Mark era tão gentil, tão carinhoso. Pensei que fosse diferente dos

outros. Mas imagina a minha surpresa quando o peguei quase


transando com outra diretora em um canto escuro da festa.
Ele não disse nada, mas continuou me acariciando,

incentivando-me a continuar.
— Mas só posso culpar a mim mesma, a minha ilusão de

querer viver um amor de contos de fadas — minha voz saiu


estrangulada e desviei o olhar — por acreditar em palavras doces.
Poxa, eu não sou mais uma adolescente para me deixar levar por

beijos quentes e frases amáveis.

— Não é correto um homem iludir uma mulher, değerli[6].


Removeu os dedos dos meus lábios, apenas para segurar o
meu queixo, fazendo-me encarar seus olhos negros sérios, com seu
jeito severo como o significado do nome dele. E, embora não

soubesse nada sobre ele, eu intuía que Yazuv era temido.


Eu não disse nada por longos minutos, tentando descobrir
mais sobre o turco, que tipo de homem ele era somente com o olhar,

e surpreendendo a mim mesma, apoiei minhas mãos nos ombros


dele, sentindo o calor sob a minha palma.
— E você, Yazuv? — sussurrei uma pergunta idiota.

— Sim?
Antes que pudesse perguntar se ele era do tipo que iludia, de
que iria me fazer promessas doces só para me levar para cama,

ouvi vozes e risadas que ficavam cada vez mais próximas, e quando
as reconheci, fiquei tensa, esquecendo-me do flerte com o homem à
minha frente, da perspectiva de nos envolver. Maneei a cabeça.

Tinha ido até o jardim para fugir do casalzinho de amantes, mas


parece que eles escolheram outro lugar para transarem, justo o que

eu estava. Era quase que um carma, jogando na minha cara minha


tolice.
Mas eles teriam pudores para não fazer aquilo conosco lá,

não teriam?
Eu que não ficaria ali para descobrir, ainda mais quando
sabia que tinha gente que gostava de ser assistido. O melhor seria
deixar aquela festa e não mais sofrer com aquilo. Colocaria uma

cara de paisagem ao passar por eles, e isso seria tudo.


— Foi bom conhecê-lo, Yazuv, mas preciso ir — disse

baixinho.
Pousei a minha palma contra a mão dele apenas para baixá-
la, um pedacinho de perda me invadindo por não ter mais o seu

toque. Outra grande idiotice.


— Quem sabe nos encontramos por aí? — Sabia que era
uma mentira, em uma cidade grande como Chicago dificilmente isso

ocorreria.
Dei um passo à frente quando a risada da Senhora Jenkins
se tornou mais próxima, porém o turco segurou meu braço e

murmurou:
— Espere!
Girei-me em sua direção, não tendo forças para me afastar

dele, vendo que sua expressão era completamente severa, o


maxilar rígido pela tensão, e percebi um brilho de contrariedade em
seus olhos frios. Não sabia se era porque estava gostando da minha

companhia ou porque era daquele tipo que não aceitava não, mas
não importava.
— São Mark e a amante — minha voz saiu rasgada e quase
não reconheci meu próprio tom.
Detestei minha vulnerabilidade, que de algum modo

aumentou a irritação dele, só que não era por mim, mas pelo diretor
financeiro.

— Ah, já tem gente aqui — ouvi a voz esganiçada da mulher,


agora bem próxima —, que sem graça.

— É só a Val — Mark falou, parecendo bêbado, e a


acompanhante dele deu uma risada de deboche ao ouvir meu
apelido.
Meu estômago embrulhou ao pensar no quanto aquela
mulher me achava tola por acreditar no diretor, e notei que Yazuv
ficou ainda mais rígido com a atitude do casal e que ele se

controlava com uma força de vontade descomunal.


Ouvi os passos deles se aproximando, mas para minha
surpresa, o turco soltou meu braço apenas para levar a mão à
minha cintura, me trazendo mais contra si, colando nossos corpos, e
com a outra, segurou o meu queixo para que eu não desviasse o

meu olhar no dele, numa atitude possessiva, como se ele quisesse


manter minha atenção somente nele. E conseguiu, ainda mais
quando através da fúria dele, pude perceber o desejo descomunal.
Estremeci ao sentir a rigidez do peitoral sólido mesmo sob o terno
bem cortado quando não houve nenhuma polegada entre nós, e o
quanto nós dois parecíamos nos encaixar bem um no outro mesmo

eu sendo vários centímetros mais baixa ainda que em meus saltos.


Meu coração batia acelerado no peito, minha respiração cada vez
mais entrecortada.
— Yazuv? — Senti um formigamento de prazer quando a
boca dele ficou tão próxima à minha que podia sentir a respiração
dele contra mim.

— Cehenneme[7] — sussurrou a palavra, que não tinha ideia

do que significava, e eu emiti um suspiro de deleite quando senti os


lábios mornos pousarem suavemente sobre os meus.
Toda a raiva que se apoderava de mim dissolveu-se ao sentir
aqueles lábios suculentos contra os meus. Nunca uma mulher

despertou tanto a minha atenção como aquela ao ponto de me fazer

ir atrás dela.

Não menti quando tinha dito a ela que estava completamente

focado no trabalho para aumentar meu patrimônio, que estava


chegando na casa dos bilhões, tanto que me abstinha até mesmo

de sexo, não sentia necessidade de me envolver com ninguém, e

nem me lembrava há quantos meses não tinha alguém.


Diferentemente do meu pai e avô, que dormiam com tudo que

usasse saia que vissem, eu conseguia manter meus desejos sob

controle, até pousar meus olhos sobre a mulher morena de feições


angelicais, que havia entrado solitariamente no salão, roubando

minha atenção das conversas de negócio, o que realmente me

interessava. Estava consciente de cada movimento que fazia, dos

sorrisos, dela levando uma taça aos lábios chamativos. Meus olhos

não paravam de persegui-la, embora tenha notado que em


momento algum ela me fitou, alheia ao meu interesse.

Mesmo sendo ignorado, algo que deveria cutucar o meu ego,

eu senti que faria de tudo para remover aquele vestido azul marinho

que cobria a pele pálida e sedosa, deixando-a nua ao meu olhar e


meu tato, apenas para, depois de prová-la, tê-la em minha cama
entregue, nesta noite e pela madrugada, e, provavelmente, por

vários outros dias. E usaria todas as minhas armas para obter o que

queria. A perspectiva de fazê-la refém do desejo, que eu sabia que

despertaria nela, era difícil de ignorar, até mesmo para um homem

como eu. A mulher tinha aberto as comportas da minha ânsia e

somente ela poderia aplacá-la.


Jurei a mim mesmo que aquela mulher seria minha e não

hesitei em pegar a chance que foi me dada quando ela se afastou

de todos.

Mas, próximo dela, conversando, tocando-a, não esperava

encontrar tamanha vulnerabilidade naqueles olhos azuis exóticos, e

que ela se sentisse tão ferida pelos homens, principalmente o tal de

Mark, o que fez com que minha determinação, sempre implacável,


se arrefecesse. Não poderia usá-la como os outros homens da sua

vida, por mais que tudo em mim quisesse pele contra pele, gemidos,

e a satisfação que eu tanto me negava. Mesmo assim, não consegui

me privar dela, de respirar o seu perfume, de olhar para os seus

olhos, de vez ou outra tocá-la. De continuar conversando com ela.

De distraí-la do quer que fosse que a fazia sofrer. Uma ânsia boba
que em nada combinava comigo se espalhou pelo meu peito. E por
mais que eu tentasse suprimir aquele sentimento tolo, ele se tornava

mais forte, o que fugia da minha compreensão, mas não perderia


meu tempo tentando fazê-lo.

Entretanto, saber que o casal que se aproximava, quebrando


a magia daquele momento que estávamos tendo juntos, que ele era
o homem era quem a tinha magoado, fez com que as minhas finas

barreiras de controle e fúria se rompessem. Ouvir aquela mulher


rindo dela, da ilusão de Val, fez com que, movido pelo impulso e por

um sentimento de posse e proteção, eu agisse rápido, e a tomasse


em meus braços, colando nossas bocas, o que me fez arrepiar

como nunca antes. Moldando-nos vagarosamente, eu explorava


suavemente a sua doçura, conhecendo-a com um mero roçar
suave, arrancando um suspiro baixinho dela que ateou fogo em

minhas veias. Durante a noite inteira imaginei beijar aqueles lábios


convidativos, mas a expectativa não chegava aos pés da realidade.

Eram muito mais doces, cálidos, suaves, mesmo em sua hesitação.


E eu deixei-me embriagar por aquela mulher, dando um selinho no

lábio inferior para fazer o mesmo com o superior, apenas para me


juntar novamente a ela, roubando os pequenos sons de prazer que
ela emitia com apenas meu deslizar lento. Eu não tinha pressa

nenhuma em minha degustação, a queria demais.


Cativado, esqueci de tudo que não fosse Valdete, até mesmo

a presença inoportuna do casal de amantes, ou a ausência, já que


não ouvia mais nenhum som. Estava completamente focado no

olhar de Val que estava nublado pelo desejo que espelhava o meu.
Com meu pênis ficando cada vez mais excitado, ainda mais

ao sentir o ventre dela roçando no meu, deslizei uma mão em


direção a sua nuca, segurando-a firme, guiando nossos
movimentos, enquanto escorregava a outra em direção às suas

costas, trazendo-a ainda mais para mim, querendo me fundir a ela.


Quando ela espalmou as mãos nos meus ombros buscando

equilíbrio, mole com o meu beijo, o mero roçar não era mais o
suficiente para aplacar minha fome. Querendo senti-la, aprofundei o
contato ao usar a ponta da língua para abrir os lábios macios para

mim, e quando um som rouco escapou pela minha garganta,


entrelacei nossas línguas em uma dança lenta, porém não menos

intensa. E, de um momento para o outro, de dominador passei a ser


dominado, deixando que a Val me beijasse, me provasse, sentisse o

meu gosto, entregando a ela o que nunca dei a ninguém: o controle


sobre mim, sobre o meu corpo. Algo que percebi que daria somente
a ela e a mais ninguém. A razão disso não me importava, desde que

ela continuasse me devorando cada vez mais sedenta, provando


cada canto da minha boca com sua língua, aguçando todos os meus
sentidos. Com um mero beijo, ela arruinava o homem controlado e o
transformava em um bruto selvagem que agora faria de tudo para

tê-la, mesmo que isso significasse minha redenção.


Nossos corpos passaram a buscar um ao outro em meio ao

beijo, arqueando-se um contra o outro, deixando-me cada vez mais


rígido e descontrolado por mais. Nossas mãos percorriam
freneticamente, explorando de maneira desordenada, ansiando por

algo que parecia ir além do prazer físico, como se o mero toque não
fosse o suficiente. Pelo menos para mim não o era, precisava

mergulhar nela e nas sensações que tê-la no comando produzia em


mim. Éramos movidos pelo desespero por sentir e por um momento,

tive medo daquela necessidade desmedida e furiosa que sentia por


ela. Ela me transformava em seu cativo com o seu toque e beijo,
tornando-me pela primeira vez vulnerável a alguém. Nem mesmo

meus pais, com todas as suas falhas, brigas e problemas de casal,


me deixou tão exposto, pois costumava me trancar na armadura da

severidade.
Ignorando esses pensamentos impróprios, apartei o beijo por
alguns momentos e encarei as duas safiras que me pediam por

satisfação, e, sem cerimônia, encostei novamente nossas bocas


uma na outra, enquanto ela acariciava meus cabelos. A tomei num
beijo lento, moldando nossos lábios suavemente, buscando conter
aquele fogo selvagem que me queimava, indo com calma, e Val não

me apressou. Entreabrindo meus lábios para ela, encontrei sua


língua no meio do caminho. Era um beijo diferente de todos que

ganhei e dei, preenchendo vazios. E aquilo me fez interromper o


contato subitamente, mesmo estando dolorosamente excitado,
fazendo a mulher me olhar surpresa, e vi um pequeno brilho de

rejeição cintilando em meio ao azul claro como o céu.

Traguei em seco com o desconforto que me invadiu e com a


ternura que não sabia que existia em um homem tão severo como

eu, notoriamente rude, coloquei um cacho do cabelo dela atrás da

orelha e deixei um beijo em sua fronte, em um gesto que

demonstrava minha afeição e respeito por ela, algo que


normalmente os noivos faziam com suas prometidas na Turquia.

Encarei-a por alguns longos segundos, nossas respirações

completamente aceleradas pelo beijo, percebendo o quão


vulnerável ela parecia, e simplesmente a abracei, amassando-a com

o meu corpo, consciente de como ajustávamos bem um ao outro,

como se completássemos. Foi instintivo para mim trazer sua pelve


em direção a minha, roçando meu pau dolorosamente ereto contra o

seu sexo.
— Eu quero você — confessei, deixando uma série de

beijinhos na linha da sua mandíbula; por instinto meus lábios

buscando os dela novamente. — Só Allah sabe o quanto eu desejo


você.

Agora que eu conhecia o seu gosto, que parecia impregnado

em minha boca, eu era como se eu não pudesse mais ficar sem

senti-lo.
— Não podemos, Yazuv… — disse baixinho, saindo do meu

abraço.

Prendi o ar, perante a sensação desconcertante de perda e


decepção que me invadiu, completamente amarga. Nem mesmo os

revezes financeiros que sofri ao longo da vida ou propostas não

fechadas foram capazes de suscitar esses sentimentos conflitantes.


Eu a queria demais.

— Val? — Minha voz saiu quebrada em um tom que nunca

ouvi antes, irreconhecível pela vulnerabilidade que nunca expus.

— Não na festa da empresa que eu trabalho.


Olhou para além de mim, só agora percebendo que

estávamos a sós. Demorei alguns segundos a interpretar suas


palavras, que me fizeram sorrir quando elas se infiltravam na minha

mente atordoada pelo desejo, a expectativa vibrando pelo meu

corpo.
— Tatlim? — Tive que perguntar, precisando da certeza.

Ela não respondeu de imediato e eu deixei-me navegar no

desejo que resplandecia em seus olhos azuis que me tornavam seu

cativo, que me conquistava e desarmava. Meu coração se acelerou


quando ela abriu um sorriso lento, provocante, e, surpreendendo-

me, puxou-me para si, beijando suavemente meus lábios, um

choque percorrendo o meu corpo com o contato. Quando ela


intensificou o contato, pedindo passagem com a ponta da língua

pela minha boca, que eu morreria se não concedesse, estremeci, e

degustei-a novamente, inclinando-a para ganhar mais acesso ao

seu interior, enroscando nossas línguas, capturando os gemidos


dela.

— Leve-me embora dessa festa — disse contra a minha boca

e eu deixei meu olhar pousar nos topos dos seios arfantes, não
contendo o sorriso com a ousadia dela. Não me lembrava de algum

dia ter sorrido tanto quanto hoje, tudo por causa dela. — Me mostre

o quanto você me deseja, Yazuv.

— Com prazer, benim değerli[8].


Mordisquei os lábios dela, puxando-os, antes de afrouxar o

meu aperto que tinha dado nela em meio ao beijo e Val emitiu um
chiado, que despertou ainda mais a minha fome. E eu não resisti em

presenteá-la ao levar as minhas mãos a sua bunda, enterrando

meus dedos na carne macia, trazendo-a contra o meu sexo,


fazendo-a arfar. Meu pau ficou mais rígido quando ela rebolou em

minhas palmas, e não contive os meus próprios gemidos.

— Yazuv? — murmurou quando eu me afastei, buscando um

pouco de controle para não fazer sexo com ela ali mesmo.
— É só uma amostra do que te darei, değerli.

Dei um último beijo em seus lábios e entrelacei nossos

dedos, como se fôssemos um casal, não me recordando se alguma


vez na vida alguém tinha me dado as mãos assim. Nunca me

permiti um gesto que me parecia tão íntimo. Estava quebrando um

monte de regras para ter aquela mulher.

— Você está de carro? — perguntei, fitando-a com o canto do


olho enquanto caminhávamos lentamente pelo terraço.

Balançou a cabeça em negativa enquanto tentava se

recuperar.
— Hoje não, peguei um táxi.

— Ótimo.
Não escondi o meu contentamento, ainda mais perante a

perspectiva de tocá-la cada vez que parássemos em um semáforo,

ainda mais quando ela dissesse meu nome.

— Yazuv? — Estacou quando paramos próximo a porta da


sacada.

— Sim? — Virei-me para ela.

— Estou muito desalinhada? — Suspirou baixinho.


Em silêncio, deixei meu olhar deslizar por todo o corpo

esbelto e bem-feito, sorrindo em apreciação, me sentindo um

maldito sortudo por aquela mulher ter me escolhido. Mas foram os

lábios que tinham todo o meu foco, enchendo-me de desejo de


beijá-la novamente.

— Perfeita para quem acabou de ser quase devorada. —

Roubei um selinho dela, sabendo que se não me controlasse, nunca


iriamos deixar aquela maldita festa.

— Yazuv! — Deu um gritinho.

— Linda.

— Eu não posso aparecer assim, não no salão.


— Vamos pelos fundos.

Segurei a mão dela com mais força, entendendo a sua

necessidade de discrição, e a arrastei atrás de mim pelo mesmo


caminho pelo qual adentrei a festa para não ser anunciado, indo

devagar para ela não tropeçar nos saltos. Naquela noite, não
precisava atrair atenção para mim, não mais do que o necessário,

principalmente por estar prestes a fechar um grande negócio.

Quando estávamos dando a volta na mansão, não muito

iluminada naquele local, prensei-a contra o muro e tomei os seus


lábios novamente em um beijo sôfrego, sedento, precisando sentir

seu gosto embriagante mais uma vez, do calor dos seus lábios, do

deslizar da sua língua contra a minha, do corpo contra o corpo.


— Mal posso esperar para vê-la quando estiver

completamente saciada, tatlım — sussurrei em meio a um arfar.

Soltei-a apenas para receber seu olhar intenso e silencioso,


que era capaz de derrubar as camadas de proteção que erigi em

torno de mim. E o pensamento de que talvez nessa noite não faria

apenas sexo com aquela quase desconhecida novamente me

invadiu, dessa vez mais intensa.


— Vamos.

Sem esperar uma resposta, tentando ignorar aquela

sensação, entrelacei novamente nossos dedos e recomecei a


caminhar para pegar meu carro no estacionamento e deixar a

mansão.
Mas, a cada passo que dava, algo dentro do homem rígido e
severo que eu era, intuía que aquela mulher tinha entrado em minha

vida para mudá-la por completo. Estranhamente, não temia

descobrir o que se alteraria; pelo contrário, parecia mais do que


disposto a pagar esse preço se isso aplacasse o desejo e a atração

que sentia por aquela mulher.


Remexendo-me no assento de couro, enquanto contemplava
a rua iluminada que não tinha um volume grande de carros naquela

hora, algo que comumente o trânsito de Chicago tinha pelas

manhãs, sentia minhas palmas suarem frio, meu coração se


acelerar, ao mesmo tempo que meu corpo formigava e queimava de

antecipação.

Era completamente ciente que eu estava perdendo o juízo,

mas, mesmo assim, eu estava me permitindo a loucura de estar

prestes a ir para a cama com um desconhecido, sobre quem eu


nada sabia, além do primeiro nome e seu país. Apesar de que, pelo

carro preto esportivo de luxo, podia chutar que as posses daquele

homem eram muito maiores do que eu imaginei a princípio, o que


indicava que ele não ocupava um cargo tão baixo quanto o meu.

Havia a hipótese de que ele fosse daqueles tipos de cara que

gostava de ostentar o que não tinha, mas observando-o com o canto

do olho, recusava tal ideia. Tudo nele indicava poder, e a seriedade

em sua expressão denotava que ele não era o típico exibicionista


que vivia um padrão que não podia pagar.

Mas pensar o quão poderoso ele poderia ser, fez com que me

sentisse desconfortável, e uma pontinha de medo de ser taxada de

interesseira quebrou as ondas de desejo que aquele homem me


fazia experimentar apenas com a sua proximidade, alimentada pela
imagem dele me beijando que ainda rodopiava na minha mente.

Fechando os olhos, tentando afastar da mente o que ele

poderia pensar de mim, de que eu queria algo em troca, inspirei o

perfume dele, buscando me acalmar, dizendo a mim mesma que

não era o momento de refletir sobre isso. E eu não me importava

minimamente com o que ele tinha, eu só me permitiria ser aquela


mulher ousada que sabia que nunca mais seria.

Meu baixo-ventre se aqueceu quando a mão grande e

pesada pousou sobre a minha coxa e a apertou com força,

possessiva, fazendo com que abrisse minhas pálpebras e o

encarasse luxuriosamente, lamentando a presença do tecido do

vestido que impedia de ter pele contra pele. Quando deslizou seus

dedos em direção ao meu sexo, tocando-o suavemente, eu arfei,


fincando minhas unhas no couro, sentindo meu coração sair pela

boca com a carícia, não contendo um gemido ao arquear-me contra

ele. Querendo muito mais do que aquele toque, que já me deixava

completamente úmida, principalmente quando resvalou de leve o

indicador na minha fenda, aumentando a minha excitação.

Outro gemido morreu em meus lábios, se transformando em


um protesto quando ele deixou de me tocar, e Yazuv riu de mim.
Deveria ter imaginado que ele só queria me provocar, me dando a

certeza disso, quando seu sorriso se transformou em uma


expressão séria. Engoli em seco, voltando a olhar pela janela,

embora ainda fosse refém do calor pulsante que ele tinha


desencadeado, ansiando por ser preenchida.
— O que está te incomodando, değerli? — Parou o carro no

acostamento em uma rua pouco iluminada e deserta. Segurando o


meu rosto, fez com que eu encarasse seus olhos escuros, atento.

— Nada. — Dei um sorriso fraco que não o convenceu.

— Não esconda nada de mim, kıymetli[9] — sussurrou,


acariciando meu queixo, prendendo-me no seu magnetismo, e tive a

certeza que ele não aceitava omissões e mentiras, o que poderia


dizer muito do seu caráter. — Se você não quiser mais, eu
entenderei e deixarei você em casa, tatlim.

Soltando-se do cinto, o que fez a luz interior do carro acender


automaticamente, pousou os lábios sobre os meus em um beijo

casto, que fez um calor gostoso e diferente subir pelo meu peito. Era
um toque que tinha a intenção de acalmar o que quer que fosse. E
eu me senti grata por isso também, pelo fato dele respeitar os meus

limites, de dar-me a escolha de desistir. Meu ex várias vezes tinha


me pressionado para seguir em frente, e tinha sido completamente

horrível.
Embora aparentasse ser rígido, pude notar que ele escondia

um homem capaz de gestos incrivelmente sensíveis.


— Eu te desejo, değerli, mais do que você pode imaginar,

mas eu quero você tão disposta a isso quanto eu — completou. —


Não tenciono obter nada menos do que o fogo que eu sei que é
capaz de me dar.

Meus pelinhos se arrepiaram com as suas palavras e senti


meu sexo se contrair com a onda de desejo avassalador que me

percorreu, principalmente quando os olhos negros pousaram sobre


o topo dos meus seios, como se estivesse louco para liberá-los do
decote modesto. Minha respiração se acelerou ainda mais, tudo em

mim consciente dele. Com ele me encarando daquela maneira, era


impossível não me achar a mulher mais sexy que o turco tinha visto,

embora fosse uma completa tolice imaginar isso, provavelmente


estava longe de o ser. Não consegui conter o suspiro quando Yazuv,

segurando o meu rosto com uma mão, me trouxe para perto do seu,
enquanto a outra voltava a pousar sobre a minha coxa, seus dedos
bem próximos da minha vagina, apertando-me. O arrepio delicioso

que me percorreu fez com que por um momento minhas


inseguranças fossem varridas para longe, especialmente quando o
polegar roçou os meus lábios com suavidade, traçando-os, como se
os guardasse na sua memória, em um gesto completamente íntimo

e sensual. E uma vontade de agradá-lo, de tocá-lo, da mesma forma


que ele fazia comigo me invadiu, principalmente ao roçar o nó dos

dedos na região que eu mais ansiava por ser provocada.


Com uma ousadia que imaginava ser impossível para alguém
como eu, soltando-me do cinto, mas sem deixar de fitá-lo, levei o

indicador dele aos lábios e, depois de deixar um beijinho na ponta,


tomei-o por inteiro, roçando minha língua pela extensão, lambendo-

o e sugando-o como eu queria fazer com o seu pau, ao passo que


ele brincava com meu sexo, fazendo com que eu me ressentisse

pela presença do tecido. E enquanto eu me insinuava para ele,


levando-o a imaginar o que faria quando estivesse nu, e evitando
pensar que meu ex dizia o quão fraca eu era naquilo, levei minha

mão livre ao cós da sua calça, sentindo a ereção firme sob o meu
tato. Arfei quando fui brindada com um gemido de contentamento e

um olhar que fez com que a umidade entre as minhas pernas


ficasse ainda maior. Meu sexo se contraía à medida que o tocava
com mãos e lábios. Um calor delicioso se acumulava no meu baixo-

ventre com as carícias, criando uma aflição por senti-lo me


preenchendo, ou que ele simplesmente tornasse mais ousado no
seu toque. Meu corpo se arqueava contra a mão dele, sem importar
com o pudor, em um pedido para que ele me desse muito mais. O

que era óbvio que ele não deu.


Nossas respirações ficavam cada vez mais aceleradas, o

desejo fluindo entre nós dois, pesado, ardente, enquanto


brincávamos um com outro, estimulando, arrancando gemidos cada
vez mais altos.

Por mim, faria sexo com ele ali mesmo, tamanha a urgência

de tê-lo, de ser sua mulher por aquela noite. O som dos carros que
passavam por nós era um mero ruído, somente o barulho do nosso

inspirar me importava.

Mas quando ia abrir o botão da calça dele, para tocar sua

carne rígida pelos meus estímulos, ele me impediu, segurando


minha mão com força, grunhindo um protesto por ter me

interrompido, fazendo-me também protestar por ele também não

continuar me acariciar por cima do tecido. Estava tão gostosa a


provocação.

— Yazuv?

— Você merece mais do que um sexo rápido dentro de um


carro, benim değerli — sussurrou contra os meus lábios ao se
inclinar contra mim, em um tom suave embora severo, mas ao invés

de beijar minha boca, senti a calidez morna contra a minha testa.


Deus, por que aquele desconhecido me tratava daquela

maneira ao mesmo tempo terna e dominadora? Ele me adulava, o

que me amolecia. Ele já tinha conseguido me deixar mais do que


disposta a ser dele essa noite, então não compreendia por que ele

se preocupava comigo.

Dei um suspiro baixinho. Atordoada como me sentia, estava

vendo coisas que não existiam. Às vezes ele só não curtia a posição
que daria a ele menos controle, já que eu teria que ficar por cima,

em seu colo. Yazuv parecia selvagem e dominador demais para se

submeter. Mesmo assim, não contive um calafrio gostoso, que


incidiu no meu âmago, ao imaginar o turco completamente à minha

mercê. Imagens eróticas dele se ajoelhando e colocando sua boca

entre as minhas pernas me encheu de calor. Apesar de que tinha


ouvido em algum lugar que quem realmente detém o controle sobre

o outro era quem se deixa dominar. Afastei esses pensamentos,

isso não importava, pois assim que amanhecesse minha carruagem

se transformaria em abóbora e nunca mais veria aquele homem.


— Quando eu te penetrar pela primeira vez, quero ter você

embaixo de mim, se contorcendo, gemendo, afoita. Completamente


nua. — A voz extremamente rouca me tirou dos meus pensamentos,

e os seus olhos me mantinha presa no seu magnetismo feroz. —

Sem nenhuma barreira entre nossos corpos.


— Entendo…

Senti meus lábios secarem e ficamos em um silêncio

perturbador para os meus sentidos, mas parecia que nenhum de

nós conseguia afastar o olhar um do outro, do calor que emitimos ao


estar tão próximos, quase que colados.

— Kıymetli?

— Sim? — sussurrei a pergunta e acariciei uma mecha dos


seus cabelos pretos, já desarrumados pelos meus dedos.

— O que está te preocupando?

Por um momento, não soube o que responder. Tentava me

recordar da razão pela qual ele tinha parado o veículo, pois minha
ânsia por ele, as sensações despertadas tinham sido intensas

demais que arruinaram a minha capacidade de pensar

racionalmente, até que a lembrança da nossa possível diferença de


classe social surgiu, bem como o fato que não conseguia mentir

para ele. E na mesma hora, uma vergonha pela minha tolice me

invadiu. Quis desviar o olhar do dele, mas a mão quente e forte me

impediu.
— Uma bobagem.

— Valdete — o tom dele era de advertência, mas eu sorri


pela pronúncia dele. Mas a expressão séria me indicava que não

conseguiria fugir de sua pergunta. Pelo visto, Yazuv sempre obtinha

o que desejava.
— Eu sou apenas uma assistente administrativa. — Meu

sorriso morreu ao dizer isso.

— E?

— Não sou interesseira — disse rápido.


Ele fez uma careta, principalmente quando apontei para o

painel, indicando o carro, mas logo percebi que sua expressão se

transformou quando um brilho cruzou os seus olhos, mas não


compreendia o que isso poderia significar. Ainda mais com ele

permanecendo em silêncio, a tensão sexual pelos nossos estímulos

ainda pairando no ambiente que pareceu pequeno demais para nós

dois.
— Sei que você é…

— Xiu — pousou um dedo em meus lábios, impedindo-me de

prosseguir —, não importa quem eu sou e muito menos o que você


é. Seremos somente um homem e uma mulher explorando a

atração selvagem que une um ao outro. Estamos entendidos?


— Claro — murmurei.

Tentando suprimir e esconder a decepção inexplicável que

me invadiu, cruzei a distância entre nós e beijei os lábios macios,

moldando-os suavemente, antes de pedir passagem, passando a


língua pelos dentes dele, encontrando-o ávido por mim. Tornei o

contato mais intenso quando novamente começamos a nos tocar

novamente.
— Acho melhor irmos — deslizei minha boca até alcançar a

orelha dele, puxando o lóbulo da orelha entre os dentes. Meu corpo

se regozijava com o fato de ver que ele perdia o controle de si

mesmo, o peito subindo e descendo, acelerado, a pelve dele


buscando a minha.

Yazuv rosnou, contrariado, mas poucos segundos foram

suficientes para ele obter o controle sobre si, assumindo a postura


implacável outra vez. E eu soube que ele não deixaria aquilo

barato. Tudo em mim formigou de desejo, louca para provar aquela

deliciosa tortura que seus olhos prometiam que ele iria me infligir.
Um silêncio de antecipação preenchia o veículo enquanto eu
sentia meu corpo todo tenso, com o meu desejo insatisfeito pelos

toques suaves daquela mulher no meu pau que parecia esticar

contra o tecido da minha cueca e calça, uma carícia que era mais
exploração do que algo para fazer-me perder o controle, mas que foi

o suficiente para me deixar em chamas.

Mas foi o modo como reagiu ao roçar dos meus dedos na sua

vagina, que me deu mais uma amostra de como sob a aparência

recatada se escondia um fogo que era capaz de me incinerar e me


fazer viciar em dar prazer a ela. E se antes eu tinha certeza que a

queria não apenas por uma noite, agora tinha total certeza disso.

Estava mais do que afoito para descobrir as reações dela

quando a explorasse lentamente e também para estar em seu


interior, com nossas peles coladas uma na outra banhadas de suor,

as bocas se devorando ao mesmo tempo que ela me arranhava nos

ombros e costas, me trazendo para si. A teria em diferentes

posições, queria tudo que eu sabia que Valdete poderia me dar com

uma ânsia desconhecida. Desejava todos os gemidos dela, suas

expressões e arfares para mim. Queria impregnar-me dela, fazendo-


a me querer da mesma maneira descontrolada que eu a cobiçava,
que esquecesse qualquer outro que a tocou ao sentir meus lábios e
mãos. A exploraria vagarosamente, tomando todo o meu tempo

para degustá-la, proporcionando a satisfação que a benin değerlim

merecia. Por isso, apesar da minha excitação dolorosa, não pude

tomá-la bem ali no meio da rua, em um sexo urgente dentro de um

carro, ou até mesmo deixar que ela me masturbasse e esvaísse nos

seus dedos. Não hoje, quem sabe em outro dia. Eu queria tudo com
Valdete. Explorar aquele desejo irracional e desconhecido por sexo,

por toques, por beijos. Por aquela morena angelical e ferida.

Seria o homem dela enquanto eu estivesse ali para fechar a

transação de negócios e deixar a empresa em ordem. Seriam

meses mais que deliciosos. Dominado pela posse e pela minha

determinação implacável que me guiava em qualquer transação

comercial, fitei-a pelo retrovisor, sorrindo lascivamente quando meus


olhos pousaram naquela boca saborosa marcada pela minha, que

me proporcionou os melhores beijos que ganhei na vida. Ela me

embriagava. Algo que nunca teve tanta importância para mim, agora

ganhava novos significados.

Como se adivinhasse que era observada, tirou-me da minha

linha de pensamentos desconfortáveis sobre nuances de beijos e a


relevância deles quando seus olhos encontraram os meus através
do espelho. Mordeu os lábios macios, e eu segurei o volante com

força ao sentir-me à beira do limite, meu pau latejando, tomando o


gesto como incentivo. Desviei o olhar para as avenidas iluminadas

pelos postes, mas não consegui conter um gemido em meio a minha


respiração acelerada quando a mão dela pousou na minha coxa, os
dedos a poucos centímetros de tocar minha ereção.

— Değerli… — Minha própria voz saiu estrangulada quando


ela me tocou por cima da calça novamente.

Começou a me massagear, o toque dela fazendo com que


meu abdômen se retesasse em resposta, e eu odiei a presença do

tecido que me impedia de sentir a palma quente acariciando-me,


deslizando pela minha extensão, bem como minha negativa tola em
não me enterrar logo dentro dela. Mas seu toque era uma espécie

de tortura a qual eu me submetia sem hesitar. Grunhindo, ansiando


por mais, deixava que ela me estimulasse sabendo que eu iria

retribuir aquela provocação, fazendo Valdete implorar por mim,


sedenta. E eu seria muito mal.

Quando arqueei meus quadris contra ela, querendo mais da


carícia, ela removeu a mão com um gritinho e eu chiei baixinho pela
mulher ter parado, e acabei aumentando a velocidade do carro,
querendo logo chegar ao meu destino e iniciar o meu jogo de

sedução.
Enquanto dirigia, com o canto do olho, percebi que ela tinha

uma expressão contente, seus lábios levemente curvados para cima


em um sorriso. Não tinha certeza se ela era inconsciente do poder

que tinha sobre mim e que poderia ser a minha derrocada. Reprimi
um suspiro e mantive minha expressão, voltando a minha mente
para as deliciosas maneiras que eu a faria gozar. Era um terreno

bem mais seguro, apesar de que, no que tangia a ela, minha


intuição me dizia que nada era tão simples.

— Para onde está me levando? — perguntou em um tom


rouco, sexy, que fez os pelos da minha nuca se arrepiarem com as
promessas luxuriosas, depois de vários minutos em um silêncio

carregado de tensão e desejo, quebrado apenas pelo barulho do


pneu contra o asfalto. — Está demorando muito.

Não contive a risada com a impaciência dela, que rivalizava


com a minha, e novamente o desejo brutal me consumiu.

— Para um hotel que fica a poucas quadras daqui.


— Entendo — comentou displicentemente —, fico feliz por
isso.
Deveria sorrir com sua fala, mas percebi certa hesitação em
sua voz, o que me impediu. Parecia acreditar que eu era o tipo de
homem que nunca a levaria para a minha casa, estabelecendo

limites no relacionamento, demonstrando que seria apenas sexo,


como tinha feito antes. Que não havia lugar para ela na minha vida

pessoal e que só a queria nua e debaixo de mim por uma noite.


Diferentemente dos poucos casos que tive no passado, a ideia
desse distanciamento me incomodou o suficiente para que eu

quisesse justificar-me com a değerli, algo que não costumava fazer


com ninguém. Disse a mim mesmo que agia assim por não me

colocar no mesmo patamar que meu avô e pai, que não ajudaria a
destruir ainda mais uma mulher com problemas de autoestima. Não

era igual aos dois bostas que a magoaram. Mas sabia que estava
enganando a mim mesmo por razões que era melhor não investigar.
— O apartamento que comprei ainda está sendo mobiliado —

sussurrei quando paramos em um semáforo e segurei o seu queixo,


querendo que ela me encarasse e visse a verdade em meus olhos.

— Se pudesse, eu levaria você até lá.


— Novamente estou sendo tola — abriu um sorriso fraco,
vulnerável —, daqui a pouco você desiste de mim e minha série de

empecilhos.
Balancei a cabeça negando, e inclinando-me o máximo que o
cinto permitia, aproximei meus lábios dos dela. Pairando sobre ela,
desejei beijá-la com toda a fúria a fim de fazê-la esquecer as

inseguranças que a dominavam, mas apenas dei um selinho.


— Desejo você demais para desistir — beijei novamente a

boca convidativa, um toque breve, terno —, e dizem por aí que


quando eu quero uma coisa, eu não descanso até obtê-la. E eu vou
ter você.

Ela estremeceu, entendendo a minha promessa em meio a

advertência, e umedeceu com a ponta da língua os lábios, ateando


mais lenha na minha excitação. Porém uma buzina tirou-me do

transe e, a contragosto, me ajeitei de volta no banco, mas não sem

antes ouvir um sou uma péssima amante dito baixinho. Aquela fala

fora de tempo me irritou, ao mesmo tempo que pareceu aumentar

minha determinação. Provaria para ela o quanto era mukëmmel[10] e


o quanto era adequada para aquele papel, o de minha mulher.
Assim que estacionei o veículo em frente a fachada de vidro
e metal do hotel, Valdete soltou um som de surpresa e eu sorri,

dominado por uma estranha satisfação por saber que a tinha

surpreendido.

Antecipando-me ao manobrista, que estava ocupado com

outro automóvel, removendo o cinto rapidamente, deixei o carro e


caminhei até o lado do carona, abrindo a porta para estender a

minha mão para ela em um ato de cavalheirismo exacerbado. Mas

quando pousou sua palma contra a minha, o calor da pele


transpassando, e sorriu, como se estivesse recebendo um grande

presente, meu coração se acelerou, não por saber que estava a

poucos minutos de tê-la em meu quarto, mas por razões adversas.

— Obrigada, Yazuv — disse ao pegar a pequena bolsa de


mão que levava.

Não respondi nada, apenas fitei aqueles olhos incrivelmente

azuis e ergui a mão dela, levando-a aos meus lábios. A beijei, sem

me importar com quem poderia estar assistindo, nem se eu iria ser

manchete na manhã seguinte de um tabloide qualquer. Apesar que,

em um hotel de luxo como aquele, o mínimo que a gerência deveria


garantir era a privacidade dos hóspedes. Mas tudo que me
interessava era a expressão dela. Ela. Ainda mais quando percebi o
desejo refletido nas suas pupilas.

— Vamos? — Minha voz soou rouca.

Sem esperar uma resposta, envolvi a cintura fina com o meu

braço e a puxei de encontro a mim, possessivo, e jogando a chave

para o manobrista que se aproximava, caminhei para dentro do

prédio, ouvindo o leve arfar dela quando entramos no lobby


moderno, seus saltos fazendo barulho contra o chão de vidro.

Enquanto nos identificávamos na recepção, nos fazendo perder um

tempo precioso, eu não parava de encará-la, percebendo que ela

observava cada mínimo detalhe do local, parecendo atônita.

Quando me fitou dentro do elevador, que infelizmente dividíamos

com outras pessoas, o que me impediu de beijar aqueles lábios

convidativos que estava louco para que cobrissem os meus


novamente, apenas dei de ombros arrogantemente e ela não teceu

nenhum comentário. Eu agradeci por isso, porque não queria voltar

ao ponto das nossas diferenças sociais que tanto a deixaram

retraída. Elas não me importavam, e nunca deixaria que se

interpusessem e me impedissem de ter o que desejava.

Assim que a porta da caixa de metal se abriu, fiz uma leve


vênia para que ela fosse na frente, arrancando dela mais um sorriso
que fez com que um calor estranho tomasse o meu peito, mas o

reprimi, focando a minha atenção na bunda arrebitada modelada


pelo vestido. Dei um sorriso lento quando me imaginei apalpando-a,

apertando a carne macia enquanto ela rebolava em mim, me


recebendo cada vez mais fundo em seu interior, me cravando nela,

marcando-a como minha. Tanri[11], eu teria aquela mulher de


diferentes formas. Com a antecipação e a excitação banhando

minhas veias, senti meu fluxo sanguíneo fluir diretamente no meu


pau que reagiu aos meus pensamentos e ao quadril que se movia

lenta e sensualmente. Güzel[12].

— Nossa — arfou, dando um passo para trás, colidindo no


meu peitoral, quando adentramos a suíte regencial —, tinha ouvido
falar desse hotel, mas…

Não deixei que ela continuasse, pois sabia que iria comentar
sobre o quão caro deveria ser uma suíte como aquela. Girando

nossos corpos, prensei-a contra a superfície de madeira fazendo


com que ela soltasse um gritinho de surpresa enquanto pousava

uma mão no meu ombro buscando se equilibrar. Combateria todas


as inseguranças dela demonstrando todo o desejo que sentia por
ela. Auxiliando-a, envolvi sua cintura, firmando-a, e levei a outra

mão ao seu pescoço, fazendo com me encarasse, já que sua


atenção estava direcionada para os luxuosos sofás brancos e toda a

decoração da sala. Controlador, não queria compartilhar o foco dela


com um punhado de móveis e a suntuosidade do local, algo que não

teria me incomodado antes, mas não com relação a essa mulher.


Instintivamente, esfreguei minha ereção nela, não resistia quando

aquele corpo pequeno, sexy e maravilhoso estava colado ao meu.


— Yazuv...? — Sussurrou meu nome.
Estremeceu quando o meu polegar roçou seus lábios, que se

abriram com a pequena carícia, e eu me deleitei com sua reação, os


olhos azuis ardendo de desejo e antecipação, principalmente

quando as mãos dela deslizaram dos meus ombros em direção às


minhas costas.
— Quem é você? — Voltou àquele assunto, e eu apenas

balancei a cabeça em negativa, reprimindo a minha frustração.


Poderia dizer que eu era um maldito milionário, mas não sei por que

hesitava tanto em revelar a minha identidade naquela noite, ainda


mais quando tinha toda a intenção de prendê-la na minha cama.

— Não importa, değerli.


Antes que ela pudesse protestar, apertando a cintura dela
com mais pressão, abaixei a minha mão e substituí meu dedo pelos

meus lábios, movendo-os devagar sobre os dela . Contrariando a


urgência que corria pelo meu corpo, eu apenas desfrutava daquele
beijo lento, que não passava de bocas encontrando uma à outra em
meio a suspiros. E eu capturava todos eles, guardando-os em algum

canto de mim. Uma loucura para um homem como eu se deixar


levar, mas, mesmo assim, eu não hesitava, dizendo a mim mesmo

que minha reação era devido ao fato de que há meses me

encontrava sozinho e que ela era deliciosa demais. Aptal[13].


Gemendo baixinho, esfregando-se em mim, pedindo que eu
aprofundasse o contato, a envolvi com minha língua, mas continuei

a imprimir um ritmo moroso, conquistando-a, enquanto a mão que


estava na cintura acariciava a região. A outra mão, levei a nuca

dela, desejoso por mergulhar meus dedos nos cabelos negros,


descobrindo se eram tão macios quanto aparentavam. Ignorando

que estava trêmulo enquanto tirava os grampos que prendiam o


coque no lugar, mordisquei os lábios dela, aumentando a
intensidade com a qual a beijava, sufocando a sensação absurda de

tremer perante a Valdete. Mas não consegui me conter quando,


dando um passo à frente, levei-a comigo enquanto a prendia ao

beijo, e a massa volumosa se soltou caindo em cascata pelas


costas. Interrompi o contato, arrancando um protesto dela. Como se
tivesse vida própria, sem deixar de fitar os fios longos, meus dedos
tocaram uma mecha e os senti completamente suaves, tanto, que
passei a tocá-los como se fosse uma gema preciosa, sentindo-a,
esquecendo por instantes o quão doido estava para fazê-la chegar

ao ponto de se contorcer e implorar por mim.


— Yazuv? — O tom dela era extremamente rouco.

Tirou-me do transe em que estava ao tocar o meu rosto e eu


encarei seus olhos por longos segundos, até que, surpreendendo-
me, lambeu os meus lábios de uma forma completamente erótica. E

eu cedi àquela mulher, deixando que ela explorasse minha boca, ao

passo que, infiltrando suas mãos por entre o meu blazer e camisa,
começou a remover a peça. Contorcendo-me, sem conseguir me

afastar do beijo, ajudei a tirá-la, deixando que caísse ao chão, e não

resisti mais, enrolando os fios nas minhas mãos, grunhindo contra

os lábios dela, e assumi lentamente o controle. Saqueando a boca


macia, não contive mais o desejo que me incinerava, e a tomei com

fúria, recebendo sua obediência, o que aumentou ainda mais a

ânsia que tinha por ela.


Com a respiração entrecortada, gemendo em meio ao

encontro de bocas, Valdete começou a remover desajeitadamente

minha gravata, para começar a abrir a minha camisa social, minha


mão livre começou a passear pelo seu corpo, delineando as curvas
dela. Mapeando com as pontas dos dedos, calmamente, mesmo

que não sentisse sua pele nua, os lugares que fazia ela gemer, se
arquear e estremecer; gravando as expressões dela, o brilho dos

seus olhos.

— Güzel[14] — disse em meio a um grunhido e um arfar.

Deslizando minha boca da dela, deixando beijinhos e


mordidas no maxilar quando senti a palma quente e pequena contra

o meu peitoral; um arrepio percorrendo toda a minha coluna, e eu a

prensei contra a parede, esmagando-a com o meu corpo. O som


que ela emitiu em resposta, deu-me a certeza de que tomaria todo o

meu tempo com preliminares, explorando, acariciando e beijando

todo o seu corpo. Tocá-la, prová-la, me dava um prazer indescritível,

e não me privaria dessa sensação intrigante e poderosa.


Comecei a roçar nossos corpos, imitando o vai e vem da

penetração, e gememos em uníssono em meio aos movimentos.

Puxando ar para os pulmões, plantei um beijo no queixo e percorri a


extensão da garganta, apreciando o sabor da fina camada de suor

que cobria a pele dela, deixando um beijinho na base, e ela me

brindou com um chiado baixinho de prazer. Minha barba arranhava,

mas isso parecia apenas intensificar o desejo dela, que não parava
de gemer, se aconchegando ainda mais para que nenhum pedaço
ficasse sem a minha atenção. Sua pelve encontrava a minha com

fúria mais uma vez, nosso atrito fazendo com que um enlevo

aparecesse nas feições de Valdete, seu corpo reagindo a carícia


simples com uma fome desmedida.

E como o homem arrogante que era sorri, exultante, ao

pensar o quanto aqueles que despertaram seu interesse eram

idiotas por não valorizar uma mulher çok ateşli[15] como ela.

Eu era um maldito de sorte por tê-la e faria de tudo para


retribuir tal dádiva, não uma, mas várias vezes. Seria um excelente

passatempo e uma forma fodidamente gostosa de desestressar do

trabalho, um luxo que eu não me dava, mas que com a değerli eu


me permitiria.

Satisfeito, principalmente quando ela estremeceu assim que

soprei a pele úmida, refiz o caminho, provocando-a, deixando outra

mordida no maxilar e um selinho nos lábios entreabertos, que


tentaram aprofundar o contato e eu neguei, apenas para trilhar uma

série de beijos no rosto dela, aumentando a sua expectativa,

enquanto minhas mãos roçavam na lateral dos mamilos.


Acariciando-a suavemente, desfrutando da palma que continuava

presa ao meu peitoral, mas sem dar o beijo que ela queria, o que a

fez choramingar, voltei a deslizar a minha boca pela pele cremosa,


sugando, beijando, lambendo e traçando círculos lentos pelo

pescoço.
Soltando um arfar e sons baixinhos, senti que no momento

em que mordisquei o lóbulo da orelha dela, brincando com a região,

a benim değerli enterrou as unhas no meu peito e deslizou a mão


até meu abdômen, me arranhando, deixando vergões que ardiam

levemente, mas que foi a minha completa devastação. O prazer do

ato, do fato dela marcar minha pele, foi como um combustível para

minha excitação. Val fazia com que eu conhecesse uma nova faceta
de mim mesmo, uma que gostou e muito daquela dor proporcionada

pelo prazer dela.

Eu fiquei por um fio de gozar com aquela carícia ousada,


tamanha minha excitação, mas consegui me controlar a tempo de

não passar aquela vergonha. Ela não precisava de um menino, mas

do homem que eu poderia ser, do amante que a colocaria em

primeiro lugar, não a si próprio.


Novamente encontrei sua boca, esmagando-a com a minha

em um beijo voraz, minha língua explorando cada canto dela,

grunhindo quando ela retribuiu com a mesma intensidade, se


abrindo, enquanto suas mãos alcançaram o cós da minha calça,

apalpando-me, e eu gemi em meio ao beijo, principalmente quando


senti os dedos dela trabalhando para abrir o botão. Mas um raio de

consciência me atravessou e dei um pequeno passo para trás,

mesmo meu corpo protestando contra isso, e segurei a mão dela.

Se ela continuasse, não iria conduzir a noite da forma que queria.


Ficamos nos encarando por um bom tempo, nossas respirações

aceleradas, o desejo insatisfeito tensionando o ambiente, então eu a

soltei. Levei as mãos ao punho da minha camisa a fim de removê-la,


e enquanto trabalhava, era assistido por Valdete, e eu gostei muito

disso. Jogando a peça para o lado, não contive um gemido quando

novamente ela me tocou, os dedos finos contando os gominhos do

abdômen que se contraiam diante do calor dela. Meu inferno.


— Não, Val — disse com a minha voz quebrada de desejo.

Segurei-a pelos punhos, impedindo sua exploração fodidamente

deliciosa. Me custava muito a interromper, ainda mais quando a


minha ereção reagia a ela.

— Gosto de te tocar — sussurrou e colou nossos corpos,

roçando nossos sexos, fazendo-me estremecer.

— E eu amo o seu toque.


— Humm...

Tentou desprender as mãos, mas eu apliquei um pouco mais

de força, mantendo-a minha cativa.


— Então por que…? — perguntou, batendo a cabeça na

parede levemente no momento que meus dentes rasparam a pele


dela, deixando-a perdida.

— Alguém está vestida demais para o meu gosto, değerli...

Mordisquei-a e ela estremeceu em meus braços, ficando

ainda mais mole. E minha própria fala fez com que uma ideia me
invadisse. Quanto mais eu pensava sobre, mais ela se tornava real

e me deixava afoito, tornando-se parte da minha fantasia. Sim, e eu

a realizaria ali e agora. Dando um beijo na parte exposta pelo


decote, com um sorriso lascivo, soltei-a e me afastei, percebendo

sua expressão confusa e contrariada, firmando-se na porta tentando

não cair. Com passos lentos, felinos, exercendo todo o meu


autocontrole, fui até o sofá, removendo os sapatos pelo caminho, e

sentei-me esparramado nele, apreciando a visão da mulher que eu

tinha deixado completamente excitada.

— Yazuv? — questionou com a voz esganiçada.


Parecendo reagir depois de longos minutos, caminhou na

minha direção. Meu olhar percorreu-a de cima a baixo, devorando-a,

sentindo-me novamente à beira do colapso. Ela era gostosa demais!


— Sim?
Ela estacou a poucos passos de mim e percebi que a
atenção dela estava no meu pênis. Um grunhido escapou da minha

garganta quando ela mordeu os lábios, em um gesto extremamente

sexy.
— Não quer… — Engoliu em seco, não conseguindo

continuar.

Eu rugi de irritação e toquei meu pau, levantando uma


sobrancelha para ela, desafiando-a a continuar.

— Tire o vestido — ordenei, cansado do próprio jogo que

tinha começado.

— O quê? — Deu um gritinho de incredulidade.


— Quero que você se dispa para mim.
Minha pulsação se acelerou e demorou alguns segundos
para que meu cérebro embotado pelo desejo, por ele não me deixar

o tocar da forma que queria, assimilasse sua fala. Ou melhor,

ordem. O tom empregado por ele, o sorriso lascivo e o brilho nos


olhos negros não deixavam nenhuma dúvida de que ele não pedia e

que me persuadiria a fazer o que queria.

Umedeci meus lábios sentindo a minha boca secar, um

calafrio me percorrendo em meio a vergonha. Não sou virgem, a

questão não era essa, apenas preferia fazer as coisas no escuro


para esconder as eventuais imperfeições. Nessa noite estava sendo

uma mulher ousada, mas não aquele ponto, embora quisesse fazer

de tudo para agradá-lo. Balancei a cabeça em negativa e dei um


passo para trás, e ele inspirou fundo.

— Não posso — minha voz soou falha e irreconhecível.

— Venha aqui, tatlim. — Ainda que sua expressão fosse

ardente, tinha um quê de ternura em sua voz que me impeliu a ele

mesmo que eu hesitasse.

Quando me aproximei dele, ele envolveu minha cintura

trazendo-me para si, e encostou o queixo na minha barriga, fitando-


me com os olhos negros agora gentis. Instintivamente, curvei-me
para ele, levando a mão aos cabelos revoltosos e massageei os
fios.

— Não pode ou não quer?

Acariciou meus quadris suavemente, plantando um beijo no

meu abdômen, o calor se espalhando pelo meu ventre, e meu sexo

pulsou com o desejo.

— Eu quero — respondi em um sussurro, não conseguindo


esconder essa verdade dele. — Mas eu não nunca fiz isso.

— Para tudo se tem uma vez. — Sorriu.

Com agilidade, segurando-me com mais força, fez com que

eu sentasse em seu colo e eu envolvi o seu pescoço pela surpresa,

soltando um som de prazer ao sentir sua ereção contra mim. Sua

barba roçando a minha pele me arrepiou.

— Sei que sim — forcei-me a dizer ao esfregar meu sexo no


dele.

— Mas...?

Apertou-me mais contra si e por um momento me senti como

nos filmes, quando a personagem principal ficava nos braços do

mocinho. E me pareceu muito natural ficar com ele assim, embora

soubesse que era mais uma idiotice da minha mente romântica, pois
provavelmente nunca mais o veria depois dessa noite.
— Tatlilik[16]...

Esperou pacientemente por uma resposta e arfei ao rebolar

contra ele. Porém, antes que me movimentasse mais, segurou


minha cintura impedindo-me, me trazendo de volta a realidade do

seu pedido.
— Não tenho autoconfiança para isso.
Me contorci quando plantou um beijo no meu pescoço e sua

mão subiu pela lateral do meu corpo até alcançar um mamilo,


segurando-o em concha, deixando o bico rígido por debaixo do

tecido, ao roçar o polegar nele. E eu vibrei com a tensão que se


acumulava em meu interior, principalmente quando deu atenção ao

outro. Ele precisava fazer muito pouco para me deixar acesa.


— Val?
— Hum? — Gemi em meio ao estímulo que Yazuv me

proporcionava, principalmente quando ele me soltou e deixou que


eu me movesse contra sua pelve. Os sons que escapavam pelos

lábios dele eram combustível para o meu prazer.


— Posso não a ter visto nua ainda — arfei quando apertou
meu mamilo com força —, mas tenho certeza que você é perfeita e

muita mulher até mesmo para um homem como eu. E eu te


mostrarei isso, değerli.
Embora não acreditasse completamente em suas palavras,

elas me adulavam. Mas não tive muito tempo para pensar, pois,
roubando um beijo lento, sedento, me ajustando melhor em seu

colo, fazendo-me segurar seu pescoço, ergueu-me e com passos


largos, caminhou em direção ao cômodo onde ficava a cama. E eu

aproveitei para deixar uma série de mordidas e lambidas na pele


exposta, recebendo os sons roucos dele como retribuição, seus
dedos cravando em mim com força. Pousou-me no chão com

delicadeza, próximo ao colchão, aproveitando para roçar seu pênis


no meu sexo excitado, que reagiu ao estímulo. Ergueu o meu rosto

pelo meu pescoço, voltando a me beijar, sua língua deslizando pelos


meus lábios, antes de forçar passagem por eles, me convidando
para aquela dança de bocas.

Girou os nossos corpos, e tocando o peitoral definido e


quente, empurrei-o suavemente fazendo-o cair na cama. Surpreso,

ele me encarava em uma mistura de desejo, antecipação e


frustração. Sabendo que tinha toda a sua atenção, dei pequenos

passos para trás. Se ajeitando melhor na cama, deixando as pernas


abertas, aguardando, me passou confiança através do olhar, tanto
que eu deixaria para ser a Val recatada no dia seguinte.
Fechando os olhos por poucos segundos e abrindo-os
novamente, percebendo o quanto seu pau me queria, removi os
meus saltos altos, e levei a mão ao zíper lateral do meu vestido.

Suspirando, com lentidão, comecei a baixá-lo. Os grunhidos dele, as


duas ônix brilhantes, e o fato dele apertar o lençol entre os dedos,

sorrindo lascivamente enquanto levava a mão ao próprio pau, me


diziam que ele gostava e muito do que via. Me tornando ousada,
sentindo-me poderosa, comecei a passar um braço pela manga,

lentamente, expondo um mamilo para ele, tocando suavemente a


carne, sentindo o bico duro sob meu tato, e fiz o mesmo com o outro

lado, apreciando as reações dele, até que, rebolando suavemente, o


vestido deslizou pelos meus quadris deixando-me apenas com a

calcinha rendada.
Deixei que meu amante me contemplasse, embora tudo em
mim quisesse se cobrir, como se fosse a primeira vez que eu

estivesse ficando nua na frente de um homem. Mas o olhar dele me


impedia. Não aguentando mais o clima que pairava no ar, e me

aproximando dele, inclinei-me, levando meus dedos trêmulos a sua


calça. Yazuv entendeu o recado, deixando que eu a removesse e
baixasse junto a cueca, deixando-o nu. Um líquido já saía pela
glande, e percebi que ele não poderia continuar nos torturando por
muito mais tempo. Ele me queria com intensidade, e eu a ele.
Toquei a fenda, massageando o local com a ponta do dedo, e

ele arfou. Aquilo foi o suficiente para me deixar ainda mais molhada.
Eu precisava e muito ser preenchida pelo turco que me fazia

quebrar pudores e deixava-me completamente consciente de que eu


era, de fato, sexy, não fria como pensava. E eu me ergui, ficando em
pé na sua frente, obrigando-o a reagir, passando os dedos pela

renda lateral da calcinha.

— Göklerin[17] — gemeu ao esfregar o dedo no meu monte.

Ele repetiu o processo várias vezes, observando a minha reação.


Mas para minha surpresa, uma sombra pairou nos seus olhos

enquanto voltava a fitar a calcinha provocante e vi um sentimento

estranho cruzar suas feições conflitando com o desejo e posse.

Ciúmes? Eu estava indo longe demais na minha imaginação.


Isso era um completo absurdo.

Puxando os fios negros, ergui o rosto dele para que me

fitasse, ao passo que continuava a me estimular. Não gostei nada


da reação dele, embora me contorcer-se contra o seu dedo.

— Yazuv?
— Você se vestiu para ele? — Seu tom era severo e eu

engasguei com a sua pergunta ridícula. Mas encarando-o, vi que ele


não estava brincando. Uma euforia estranha me percorreu e

consegui conter uma gargalhada que brotou dentro de mim, mas o

riso morreu em meus lábios, quando a língua dele brincou com o


meu umbigo. Meu sexo se contraiu quando sua barba me arranhou,

deixando a sensação ainda mais deliciosa. A tensão estava ficando

insuportável.

— Responda — ordenou suavemente, mordiscando a minha


pele.

— Possessivo, hein? — Sussurrei.

— Val… — Seus olhos tinham um brilho perigoso.


E mesmo que eu pudesse o deixar na incerteza, a pequena

cena de ciúme de outro homem era um grande afrodisíaco para o

meu desejo, mas sabia que era melhor não continuar brincando com
ele dessa maneira. Além do mais, ele não era nada meu para que

isso me desse alguma espécie de prazer.

— Não, apenas para mim mesma.

— Hum…
Gemeu contra a minha barriga e eu segurei seus cabelos

com mais força, pedindo silenciosamente que ele continuasse sua


exploração e ele não me negou. Sua boca deslizando pela minha

pele fazia com que eu me arqueasse contra Yazuv, desejando que

seus lábios percorressem cada centímetro de mim, mas, no fundo,


sabia que não teria paciência para tal tortura deliciosa. Necessitava

ter ele me estocando logo, meus músculos internos se contraíam

com a ansiedade. Determinada a tê-lo, inclinei a cabeça dele para

trás e me inclinei sobre o turco, meu rosto ficando a uma pequena


distância do seu.

— E agora é para você — sussurrei no ouvido dele.

Não contive um sorriso quando ele estremeceu contra mim.


— Somente para você. — Tentei amaciar o ego dele, em um

ato que pareceu bastante tolo, mas o brilho que ardeu nos seus

olhos em meio à fome me fez sentir ainda mais poderosa.

— Aman tanrim[18] — murmurou com a voz rouca, voltando a

deixar um rastro úmido pela minha pele. Eu fechei os olhos,


aproveitando cada uma das sensações despertadas por ele. Yazuv

me provocava, incendiava, sem precisar estimular meu clitóris, para

me deixar completamente atordoada. Ele era muito bom no que


fazia.

— Gosta? — Acarinhei os cabelos dele.


— Sim — lambeu o meu umbigo e eu me contorci contra a

carícia dele —, mas prefiro que você fique completamente nua.


Pegando-me desprevenida, deitou-me no centro da cama,

mas sem me prensar com seu corpo musculoso como eu gostaria.

Excitada, foi-me um grande alívio quando, lentamente, segurando


as laterais da minha calcinha, ele começou a tirá-la.

Dobrou meus joelhos para tirá-la por completo, expondo meu

sexo para ele. Não tive tempo para ver o que ele fez com o objeto,

pois logo o seu corpo forte cobriu o meu, pressionando-me de


encontro ao colchão. Sentir nossas peles suadas uma contra a

outra, arrancou de mim um gemido e eu segurei seus braços fortes,

sentindo toda a tensão que havia nele. Ficamos nos encarando por
longos segundos, até que, suavemente, seus lábios capturaram os

meus em um beijo delicado que me fez suspirar. A língua me

lambia, degustando a minha boca com calma, e embora nossos

corpos parecessem com urgência um pelo outro, apenas apreciei


aquele encontro, deixando que a ternura do momento me invadisse,

mesmo ciente que estava sendo aquela boba sonhadora. Um calor

me invadiu quando a mão forte acariciou o meu rosto e eu me


aninhei nele, enquanto, retribuindo, eu deslizava as pontas dos

dedos pelos seus braços, costas, alcançando sua bunda.


Sua boca deslizava pela minha face, deixando beijinhos por

onde passava, e eu fechei os olhos, sentindo-o pousar os lábios nas

minhas pálpebras. E eu soube que precisava da união dos nossos

corpos, não pelo orgasmo, mas por outras coisas que não queria
pensar tamanha a insensatez.

— Por favor — sussurrei, levantando meus quadris para

encontrar os dele, enquanto ele continuava a me tocar com ternura.


Erguendo um pouco o rosto, me fitou, beijando-me, e

precisando dele o envolvi com as minhas pernas, cruzando-as em

suas costas, minha mão adentrando os fios negros e macios, em um

pedido silencioso. Em um primeiro momento, não deu aquilo que


meu corpo implorava, retribuindo o beijo lento e sôfrego, fazendo-

me contorcer embaixo dele. Roçava nossos sexos, dominada pelo

calor pulsante que me consumia, sua boca sedosa e macia


deslizando contra a minha suscitava um anseio estranho.

Abafando o grunhido dele com meus lábios, cravei minha

unha em suas costas com força, quando ele, sem aviso, me

penetrou de uma vez em um tranco. Deslizava pelo meu interior


molhado com facilidade, arrancando de mim um gemido de prazer

por finalmente estarmos unidos. Era tão gostoso ter ele assim, pele

contra pele, pulsando dentro de mim. Meus músculos se contraíam


com a sua presença, enquanto seus lábios me beijavam com

ternura e doçura e ele me encarava com tamanho desejo e querer.


Movimentando-me, busquei encaixá-lo ainda mais fundo no meu

interior, e não contive um som oco quando a posição o fez roçar no

meu ponto de prazer.

Tocando minhas bochechas com os lábios, retirou-se


lentamente de dentro de mim, apenas para voltar a me estocar, e

ergui meus quadris de encontro a ele. Estava totalmente perdida

nas sensações embriagantes, querendo alcançar o êxtase. O


peitoral dele roçava nos meus seios o que estimulava os meus

bicos, parecendo-os deixar cada vez mais sensíveis, principalmente

quando os nós dos dedos roçaram meu mamilo.


Entrando e saindo no meu canal, capturando os meus

gemidos com seus lábios que voltaram a atacar os meus, eu

acariciava seus fios, incentivando-o a continuar. Suas mãos

deslizando pelo meu corpo em uma carícia terna que me fazia


choramingar de prazer. Ao mesmo tempo que deixava um rastro de

fogo, seu toque me deixava completamente emocionada, e se ele

continuasse assim, me amando com toda a calma e paciência,


parecendo desfrutar daquilo tanto quanto eu, demonstrando-me o
que era fazer amor de verdade, eu sabia que o turco me estragaria
para qualquer outro.

Estocando-me com mais força, mordicando minha boca,

voltando a me beijar, um brilho cruzou seus olhos negros,


indecifráveis, e eu apenas fechei os olhos, desfrutando das

sensações. Sem forças para lutar contra as emoções

avassaladoras, eu apenas o recebia em meu interior, agarrando-o


com cada vez mais pressão, prendendo-o, ansiando que ele

chegasse mais fundo e me engolfasse. Tudo pareceu se intensificar,

o som que saía dos nossos lábios em meio ao beijo, o barulho das

nossas respirações e do chocar de pélvis, o calor dos corpos, o


cheiro pungente do nosso encontro e até mesmo a força que ele

fazia para ir devagar, prolongando sensações.

Com os quadris, fazia com que ele aumentasse o ritmo em


que me penetrava lentamente e o turco passou a me acompanhar,

nossa urgência crescendo cada vez mais. Senti meu corpo tremular
de encontro ao dele quando afundou seu pau ainda mais fundo
dentro de mim e seu beijo tornou-se faminto. E sem pudores,

passamos a nos tocar com uma ânsia furiosa, querendo sentir mais
e mais um do outro. O simples fato de nossos sexos estarem unidos
naquele bailar não pareciam o suficiente para aplacar as chamas
que nos consumiam. Desejávamos mais, por mais perigoso que
fosse, podia sentir isso no seu toque. Ansiávamos por fundir um no
outro, marcarmos de alguma forma um ao outro. Gemíamos alto a

cada estocada, nosso sexo calmo tornando-se cada vez mais


selvagem. Abrindo os olhos, vi o meu desejo refletido nos dele.
Quando seu pau roçou no meu clitóris em mais uma estocada, eu

me deixei levar por um torpor, que estilhaçáva-me me deixando sem


forças. Então ele levou as mãos aos meus quadris que tinham
parado de se movimentar, segurando-os com força, erguendo-me

para ele, fazendo-me recebê-lo mais fundo, até que meus músculos
internos apertassem seu pênis, levando-o ao orgasmo, e senti o
líquido quente me preenchendo.

Ainda se movimentando, usando todo o restante do seu


domínio e força, dizendo palavras em turco, prolongou o nosso
êxtase, para passar a emitir sons roucos que eu capturava com

meus lábios, parecendo aumentar ainda mais o meu prazer. E,


novamente, uma pequena onda nunca sentida pareceu romper o

meu torpor, e eu estremeci, arqueando-me contra ele em um


espasmo, querendo aquele contato, embora o cansaço me
dominasse. Continuei a acompanhá-lo, até que ele deixou-se cair

em cima de mim, seu peso me amassando contra o colchão macio,


sussurrando coisas inteligíveis em meu ouvido, que me pareceram a
coisa mais doce que tinha escutado.
E acariciando seus cabelos molhados pelo suor, vez ou outra

ainda sentia pequenos espasmos. Com minha mão deslizando por


cada pedaço das costas definidas, eu soube ali que tinha que deixá-

lo para não me machucar quando ele jogasse na minha cara no dia


seguinte que tudo não tinha passado de sexo para ele. Uma única
noite de prazer.
Ignorei o toque do meu celular. Não fazia a mínima questão
de atender, mesmo sabendo que provavelmente era para tratar de

algum negócio urgente.

De olhos fechados, ainda sonolento, inspirei fundo e senti o

cheiro pungente de sexo que impregnava o quarto, e não contive o

sorriso convencido de satisfação. Não me recordava de algum dia


ter transado e ficado tão cansado, ao ponto de cair rapidamente no

sono, como aconteceu com a benim değerli. Mas eu queria mais.

Muito mais.

Mesmo depois de ter feito aquele corpo pequeno e escultural

estremecer debaixo do meu, convulsionar ao me cavalgar, e render-

se uma última vez em um sexo calmo, lento, eu a queria de novo.

Para minha surpresa, tomar meu tempo para provocá-la e prolongar


nossa aflição não era menos gostoso, pelo contrário, foi a melhor

experiência que tive até hoje. A ausência de pressa tinha me

deixado consciente de todas as sensações que envolviam o ato,

tanto que tive que repetir. Dei importância ao beijo, ao toque, e o

prazer que eles suscitavam fizeram com que o sexo fosse ainda

melhor.
Além de que, através do contato moroso, tornava-a minha
refém através do desejo. Quis me impregnar nela lentamente,

explorando cada nuance dela, para a conhecer, conquistando-a para

mim. E o brilho nos olhos dela, para minha satisfação, indicava que

tinha sido bem-sucedido nisso, por mais que Val buscasse

esconder.

Então, não, não podia ter me arrependido de ter adotado


outra estratégia com ela, não quando o fato me deixava

completamente satisfeito.

Sorrindo ainda mais, o pensamento dela mole e entregue as

sensações que eu proporcionava fez com que o desejo avassalador

de fazer sexo com ela me invadisse. Dessa vez, iria fazê-la gozar

contra os meus lábios. Esse pensamento me despertou por

completo. Com o pênis rígido e a excitação pela antecipação


correndo pelas minhas veias, tateei a cama em busca do corpo

delicioso, querendo puxá-la para mim e beijar novamente aqueles

lábios saborosos, porém nada encontrei. Abrindo as pálpebras,

irritado com a luz do sol que se infiltrava pela porta panorâmica,

atingindo diretamente meus olhos, pisquei algumas vezes e girei

para o lado, dando de cara com o colchão vazio.


Suspirei contrariado por ela não estar ali para me recepcionar

com o calor do seu corpo e um beijo de bom dia e, embora dissesse


para mim mesmo que aquilo era um capricho ridículo para um

homem bruto e frio como eu. Suprimindo a decepção, ergui-me de


um salto, e sem me importar com a minha nudez, caminhei
rapidamente até o banheiro da suíte presidencial para ver se a

encontrava. Emiti um som de frustração quando vi que o cômodo


estava vazio.

Me recusava a acreditar que depois daquela noite intensa


que tivemos que ela tinha me deixado ali sozinho. Com o meu pênis

latejando pela insatisfação, trinquei os dentes e fui procurá-la. Rugi


quando não vi nem rastro dela em nenhum lugar.
Com meu humor ainda mais azedo do que de costume, tinha

certeza que minha expressão, que normalmente já colocava medo


nos meus funcionários, estava ainda mais severa do que nunca.

Por causa dela, da mulher que eu ainda desejava com fúria,


por mais que eu já a tivesse tido a madrugada inteira. Estava mais

do que certo de que a tinha conquistado para mim, fazendo ela me


querer com a mesma intensidade que eu a queria, e que a teria na
minha cama pelo tempo que eu estivesse em Chicago, mas me

enganei.
A morena baixinha, embriagante e fogosa tinha conseguido

quebrar a minha arrogância, com certeza, e me deixando com o ego


ferido, o que era pior. Não a perdoaria por isso.

Joguei-me na cama com força e ri amargamente ao pensar


que nunca ninguém tinha me deixado assim; um som assustador até

mesmo para os meus ouvidos. E eu gargalhei ainda mais quando


deslizei a mão pelo meu abdômen e senti como ele se retesou ao
meu toque. Tudo em mim estava em alerta e sensível pelo prazer

despertado pela minha değerli.


Não estava me reconhecendo. Eu não era aquele homem

movido pela luxúria.


Respirei fundo, afastando minha mão do meu corpo, cerrando
os dentes quando a risada morreu dentro de mim.

Sik[19].

Eu que costumava ter um sono leve e dormir muito pouco,


esgotado por ela, nem percebi o momento que ela tinha me deixado,

perdendo a oportunidade de convencê-la a ficar comigo. A raiva que


sentia dela foi transferido para mim mesmo por não estar atento aos

seus movimentos. Comecei a tremer de fúria.


Quando o meu celular tocou novamente, querendo descontar
a raiva em alguém, não hesitei em esticar o meu braço e pegar o
aparelho, e atender sem nem mesmo identificar quem era.
— Sim? — Meu tom foi rude, mas não me importei. Estava
irritado e excitado demais para ligar para isso.

— Yazuv?
Bufei ao ouvir a voz fria do espanhol do outro da linha, e a

minha exasperação o fez rir, o que aumentou ainda mais minha


fúria. Ele gargalhou alto, embora, comumente, não fosse dado
àqueles arroubos. Franzi o cenho. Provavelmente deveria ter

acabado de fechar um contrato milionário, somente aquilo o deixaria


de bom humor ao ponto de tamanho descontrole. Naquele aspecto

éramos muito parecidos, pois nada nos dava mais prazer do que
ganhar mais dinheiro e poder. Por termos uma filosofia de trabalho

parecida, nossa parceria de negócios tornou-se bastante lucrativa,


nos tornando ainda mais ricos. Éramos viciados em números e nada
além disso nos importava. Talvez por conta dessa afinidade, além

da parceria, nos tornamos amigos, e passamos a compartilhar


coisas das nossas vidas pessoais, incluindo frustrações.

Fraquezas.
No mesmo momento em que pensei nisso, imagens de
Valdete nua, invadiram a minha mente, fazendo meu pau reagir

ainda mais, parecendo estar zombando de mim.


Menos de uma hora atrás, estava mais do que disposto a
abandonar tudo para fazer sexo vagarosamente com ela outra vez,
apreciando as sensações que ela me despertava, algo que

ultrapassava a mera luxúria. Uma grande tolice. Tinha sido apenas


sexo, nada além disso.

Um muito gostoso, um que me deixou com vontade de mais,


muito mais, uma vozinha ecoou na minha cabeça, mas tratei de
ignorá-la. Precisava focar naquilo que o homem queria.

— Javier — minha voz saiu mais controlada e me parabenizei

por isso, embora a pontada de raiva ainda se fazia evidente. — Qual


o motivo da ligação?

Meu sócio parou de rir, voltando a sua habitual postura séria,

o que não amenizou muito a minha irritação por ter sido alvo da

risada dele.
— Se você não se lembra, mi amigo, tínhamos uma reunião

marcada com um dos nossos clientes em potencial uma hora atrás

— seu tom foi frio, revelando o seu descontentamento com minha


ausência, contrariando o pequeno lapso de humor de há pouco. Ele

voltava a ser o empresário frio.

— Bok — não contive uma série de impropérios e o imaginei


arqueando a sobrancelha escura.
Como se fosse possível, me senti ainda mais furioso. Passei

a mão pelos cabelos, em um gesto que fazia quando não conseguia


mais me controlar. Me xingava mentalmente, incluindo aí aquela

mulher que além de roubar meu autocontrole, abandonando-me

depois, fez com que eu negligenciasse meus compromissos. E olhar


para a minha pelve, constatando que eu ainda estava ereto, não me

ajudou em nada.

— Pela sua risada, acredito que no fim, a reunião foi

satisfatória. — Apesar de tudo, não iria pedir desculpas pelo meu


erro. Isso não bastaria para mim, e conhecendo-o, para ele também

não.

— Sí, felizmente. — Fez uma pequena pausa. — Marquei


uma outra reunião para amanhã para acertarmos os últimos

detalhes.

— Certo, estarei lá. — Afirmei com ferocidade, dominado pela


raiva.

— Conto com isso, amigo.

Ficamos uns instantes em silêncio, cada um preso nos seus

próprios pensamentos. Passei novamente a mão pelos meus


cabelos, tentando me controlar, porém nada parecia aliviar a minha
tensão. Talvez o corpo e a boca daquela feiticeira conseguiriam

diminuir a raiva que sentia por ela... e por mim.

Rosnei com tal pensamento.


— Aconteceu alguma coisa, Yazuv? — seu tom soou

levemente tenso, mas quem não o conhecesse bem, talvez não

percebesse. Era algo bastante sutil, algo que ele demonstrava a

poucas pessoas que podia contar nos dedos, mas eu conhecia o


meu melhor amigo.

Se eu era conhecido pelo apelido de “severo” pelo modo

rígido como conduzia tudo, administrando meu conglomerado com


mão de ferro, Javier era tido como o “demônio de gelo”, um homem

incapaz de demonstrar qualquer sentimento, passando por cima de

ética para obter o que queria. Esse era outro aspecto que nos

aproximava.
— Não é do seu feitio ser relapso nas transações comerciais.

— De fato. — Respirei fundo, e sentindo o cheiro de sexo no

ambiente, não contive um grunhido de raiva.


— E muito menos não conseguir controlar sua raiva —

insistiu, irritando-me. Estava completamente instável. — Quantos

milhões você perdeu, companheiro? Alguém está travando as

negociações da venda da empresa?


— Antes fosse isso.

Balancei a cabeça em negativa mesmo que ele não pudesse


ver. Fechei os olhos, e novamente as imagens da minha benim

değerli impregnaram a minha mente, alimentando a minha ânsia por

ela. E sem que me desse conta, a verdade escapou pelos meus


lábios:

— Foi uma mulher que roubou completamente a minha

capacidade de raciocínio e autocontrole. — Respirei fundo, e fechei

os olhos com a intensidade com que Val assomou os meus


pensamentos, e acabei revelando mais do que eu gostaria: — Eu

cedi ao desejo, esquecendo os motivos pelos quais eu tinha ido

aquela festa de ontem a noite, da transação comercial que


precisava finalizar.

Ele não disse nada. Não precisava que meu melhor amigo

me julgasse por ter deixado de lado tudo que era importante para

mim por conta do prazer. Nem eu conseguia entender. Me senti


completamente atraído por uma desconhecida ao ponto de não me

importar com nada além de seduzi-la e levá-la para minha cama,

esquecendo de tudo.
— Tive uma das melhores noites da minha vida, Javier, e eu

quero mais. Mesmo queimando de raiva e irritação como estou


agora, eu ainda a desejo furiosamente.

— E o que aconteceu? — Sua voz era séria, e pude imaginar

o motivo.

Filho bastardo, foi traído por todas as mulheres da sua vida,


incluídas na lista mãe, avó e por último a sua noiva que o trocou por

um ex-sócio, casando-se com ele. Com isso, o homem que já era

fechado por natureza, se trancou ainda mais dentro de si, sendo


chamado muitas vezes de demônio. Diferentemente do que pensei

que faria, Javier Castillo, tratou tal deslealdade com uma indiferença

tamanha que nem mesmo tentou se vingar do casal de pombinhos,

e muito menos fez nada para abafar o escândalo na mídia, deixando


que eles acreditassem no que quisessem. Mas em uma conversa

informal, se abriu comigo e jurou nunca mais se envolver com

nenhuma outra mulher, tornando-se um celibatário. Definitivamente,


ele realmente parecia não precisar de ninguém, somente do seu

próprio império, construído a duras penas sem o apoio da matriarca

dos Castillo, a avó que prometeu odiar com todas as suas forças por

tratá-lo com severidade, deixando marcas pelo seu corpo e mente.


Imaginava o quão desconfortável era para ele ouvir esse meu

desabafo.
Porém surpreendia-me que não queria que ele pensasse mal

de Valdete. Ela inegavelmente tinha me tocado. Mas era tarde


demais, sabia o que ele pensaria. Senti que de alguma forma estava

sendo desleal a aquela mulher, por mais que ela tivesse jogado

baixo comigo.

— Ela me deixou — rosnei baixinho, jogando os fios que


tinham caído sob meus olhos para trás, acomodando-me melhor na

cama.

Dizer aquilo em voz alta fez com que um sentimento


mitigasse a fúria, embora um amargor surgisse na minha boca

juntamente com uma pontinha de dor no peito. E não precisei de

muito para identificá-lo como perda. E toda cólera retornou com


força no meu interior, ao ponto de fazer minhas mãos tremerem.

Demonstrando que eu era um maldito volátil como os homens da

minha família, e isso foi o estopim. Cerrei as mãos com força e

fechei a cara.
Cautelosamente, descobriria quem era a değerli, mandando

meus investigadores particulares levantar o máximo de informações

possíveis sobre ela. Até aqui só sabia que era fogosa trabalhava
como assistente administrativa na Motors. Queria saber de tudo da
minha presa, antes de fazer aquela mulher me pagar por ter me
abandonado. Me rejeitado.

Valdete me pagaria, mas com o seu corpo, com a sua boca,

seus gemidos e suor.


Sorri em meio a expressão severa, ignorando meu corpo que

se retesou com as possibilidades de tê-la, fervendo de antecipação.

Por mais que não me deixasse dominar por impulso e que eu iria
agir de uma maneira odiável, sabendo que o melhor que faria era

esquecê-la, não dando importância a noite que tivemos, me vingaria

dela obtendo o prazer que ela me negou. Inflaria o meu ego

despedaçado por ela, sendo o homem dela pelo tempo que eu


quisesse.

Ela seria minha de corpo e alma. Ela não tinha escapatória.

Mas diferentemente dos babacas que passaram na vida dela,


não a machucaria. Prometi isso a mim mesmo. A veneraria como

merecia.
Tal pensamento possessivo me fez rir, dessa vez, com a
euforia e excitação que me percorria de fazê-la minha mulher. Tanri,

estava ficando completamente doido, mesmo assim não voltaria


atrás. Conseguiria conciliar tudo o que precisava fazer enquanto
permitia-me uma única vez ser dominado pela luxúria.
— Entendo, amigo — a voz tensa do outro lado da linha, dita
lentamente, como se buscasse ocultar seu ressentimento que posso
tê-lo feito reviver, tirou-me do torpor dos meus pensamentos. Por um

momento, tinha me esquecido completamente que estava


conversando com ele. — Traiçoeira…

— Belki[20]... — sussurrei.
Novamente, o instinto protetor se aflorou dentro de mim e,

mesmo conhecendo muito pouco sobre a mulher, a vulnerabilidade


que tinha visto nela, as inseguranças que demonstrou, fez com que
não tivesse tanta certeza se ela era tão traiçoeira quanto achava

Javier. Balancei a cabeça em negativa. Não importava. Eu ainda a


teria independente do preço que eu pagaria para tal.
— Preciso que você assine alguns documentos do nosso

novo investimento — mudou de assunto bruscamente, não tendo


mais nada para acrescentar sobre a minha raiva.
Franzi o cenho quando o desconforto dele se dissolveu de

imediato enquanto falava sobre a aplicação que fizemos no ramo do


petróleo, empregando o tom frio e modulado, sem nenhuma flexão.

Dei de ombros e foquei toda a minha atenção naquilo que dizia.


Depois de vários minutos discutindo sobre a empresa que
gerenciávamos juntos, os pontos que teríamos que abordar com o
nosso cliente no dia seguinte e também o principal motivo da sua
ligação, que eram alguns erros inadmissíveis que ele tinha
constatado nos relatórios enviados pelo departamento financeiro

que resultaria em demissão imediata de funcionários, pois nenhum


de nós aceitava tal coisa, desliguei a ligação me sentindo mais

seguro sobre o governo de mim mesmo. Apesar de que, vez ou


outra, os beijos da mulher, seu sabor e seus toques, vinham povoar
a minha mente, deixando-me em alerta, por mais que lutasse contra

isso. Não poderia deixar que a küçük büyücü[21] me dominasse ainda

mais.
Determinado a começar o dia sem pensar em mais nada que
não fosse ganhar dinheiro e resolver os problemas da empresa que

tinha tomado para mim, resolvi tomar banho. Ergui-me da cama,


passando a mão na barba, e estaquei, quando, com um canto do
olho, vi entre os lençóis um objeto que ruiu toda a minha resolução.

Enquanto voltava para cama, como se fosse um autômato,


senti que meu pênis enrijecia, dolorosamente. Minha respiração
ficou acelerada e a boca seca. O desejo suprimido, esquecido por

ter me concentrado no trabalho, voltou a queimar lentamente dentro


de mim. Inflamado por aquelas sensações, afundei meus joelhos no

colchão, peguei a calcinha entre os dedos, peça que me encheu de


ciúmes ao mesmo tempo que me fez querer que ela a usasse outras
vezes.

Se antes estava decidido a fazer um jogo perigoso, olhando


para a renda frágil não havia dúvidas: Eu teria a minha vingança,
mesmo que eu me perdesse no meio do caminho.
— Bom dia, filha. — Sorri ao ouvir a voz da minha mãe do
outro lado da linha. Espreguiçando-me na cama, tentava afastar o

restante da sonolência que me dominava. — Como foi o voo de

volta?

— Com algumas turbulências, mas ótimo. Só não te liguei

quando cheguei, porque estava muito tarde.


— Você sabe que nunca me importo de receber notícias —

repreendeu-me pela minha fala e eu me senti mal por não o ter feito.

Poderia ser adulta, mas ela sempre seria minha mãe e sempre se
preocuparia comigo. — Estou morrendo de saudades. Parece que

faz meses que não a vejo, não apenas duas semanas.

— Eu também, meu amor. — Senti uma pontinha de culpa


assomar o peito por não ter ido visitar meus pais no Wyoming nesta

semana e acabei externando isso: — Deveria ter ido vê-los.

— Bobagem, menina — pude imaginar o sorriso amplo que

ela me dava, terno, mas com um pouco de repreensão —, não é

todo dia que se ganha uma viagem para Barbados.


— Verdade — sussurrei. — Embora ainda ache estranha

essa minha sorte.

Franzi levemente o cenho recordando-me do arrepio que

percorreu o meu corpo quando, dois dias depois da grande festa da


Motors, o chefe do departamento em que trabalhava entregou-me
um envelope branco contendo as passagens. Me disse que o

escritório estava me dando uma semana de férias remuneradas em

uma praia caribenha pelos bons serviços prestados a empresa.

Tentei protestar, achando que era um absurdo esse gasto quando

sabia que a empresa estava indo de mal a pior. Também não

entendi o porquê de ter sido eu a escolhida para ganhar um prêmio,


mas não me foi explicado. Fui coagida por ele, o que tornou a

situação ainda mais estranha. Ele deu a entender que seria uma

desfeita com a diretoria e que quando houvesse os cortes de

funcionários isso pesaria contra mim, então acabei aceitando. Sabia

que em breve iria perder o meu emprego, mas não queria daquela

maneira.

Pensar na comemoração do aniversário da empresa fez com


que flashes da noite que me permiti nos braços do estrangeiro

voltassem a minha mente, e um calor gostoso se espalhou pelo meu

corpo, transformando-se em mais puro desejo, que fazia de tudo

para sufocar. Por mais que eu tentasse, ainda podia sentir o seu

corpo forte e musculoso mergulhando lentamente no meu, o olhar

negro ardendo de desejo enquanto me penetrava, o gosto dos seus


beijos que pareciam impregnados na minha boca, o modo como ele
me tocava, me fazendo sentir preciosa, bem como os sentimentos

que tinha despertado e que me fizeram deixá-lo sem me despedir,


pois sabia que não conseguiria lidar com eles. Detestaria que ele

me tratasse como mero sexo casual, por mais que não tivesse me
prometido nada, sendo completamente honesto naquilo que queria.
Tinha me envolvido mais do que gostaria. Era uma tola

romântica que nem conseguia separar as coisas. Ele não era o meu
príncipe encantado, minha alma gêmea, a metade que eu sonhava.

Era apenas um desconhecido carinhoso. E a prova do quão boba eu


era é que a todo momento me pegava recordando dele,

principalmente do seu sorriso, seu estado relaxado. Na forma que,


depois de ter feito amor lentamente comigo, envolveu-me em seus
braços, aninhando-me, algo que meu ex nunca fez, até que o calor

dele me levasse a dormir em seu abraço. Me custou muito deixá-lo,


mesmo sabendo que era o melhor para nós. Ele não iria gostar de

uma mulher como eu, que confundia uma noite com uma vida.
— Besteira. — A voz da minha mãe me tirou do transe,

principalmente quando citou uma das suas expressões brasileiras


que custava a entender seu significado — Cavalo dado não se olha
os dentes. Adoraria ter ido no seu lugar — riu e completou,
maliciosa, fazendo-me gargalhar também: — com seu pai, é claro.

Parece um lugar muito romântico.


— Muito.

Emiti um suspiro longo e profundo, enquanto buscava afastar


a imagem criada pela minha mente de Yazuv removendo o meu

biquíni com suas mãos fortes, me acendendo com uma simples


carícia, e me amando nas areias claras de uma praia deserta.
Tola.

— Não tinha nenhum homem interessante… — comentou,


esperançosa.

— Não, mamãe — interrompi-a, impedindo de continuasse a


divagar, por mais que ela só quisesse a minha felicidade. Não podia
negar que ela era tão sonhadora quanto eu, e sabia que uma ilha

paradisíaca seria palco das suas fantasias românticas. — Se tivesse


também, acredito que não teria me dado conta.

— Entendo — foi a vez dela suspirar.


Minha confidente desde sempre, não pude esconder da

minha mãe o quão imprudentemente me joguei nos braços do turco


e o quanto ele tinha mexido comigo. Nunca poderia omitir tal coisa
dela. Para minha surpresa, não me julgou, apenas disse que eu era

uma mulher jovem, bonita e saudável, que isso era natural. Que eu
deveria me permitir mais. Ela mesmo teve sua quota de namorados
antes de conhecer o meu pai, reforçou. Ficou feliz quando contei
que o estrangeiro tinha sido carinhoso comigo, mesmo que eu

estivesse colocando sentimentos demais no encontro. Uma onda de


tristeza pela minha tolice me assolou.

— Mas foi bom? — Não insistiu no assunto e fui grata. Tinha


certeza que acabaria cedendo as lágrimas e odiaria ter que ir
trabalhar com os olhos inchados.

— Não tenho palavras para descrever o quanto — voltei a


sorrir —, poderia viver lá para sempre. Contemplar a areia branca,

senti-la sob meus pés, mergulhar sempre que eu quisesse na água


cristalina. Me esparramar em uma cadeira e pegar aquele bronze,

enquanto me delicio com uma bela água de coco… — ela gargalhou


— Me senti uma verdadeira princesa, embora um pouco mal por
saber que a empresa pagou esse pequeno luxo, quando está

prestes a falir. Fiquei pensando quantos salários poderiam ser


pagos com esse dinheiro. Inclusive o meu.

— Você não pode mudar o mundo, Val, e nem as coisas.


— Infelizmente não, mamãe. — Lamentei, prendendo o
celular entre minha orelha e meus ombros, para ir ao banheiro.

Lancei um olhar para o relógio, sabendo que tinha poucos minutos


para começar a me arrumar para sair. Não gostava de chegar
atrasada.
— Vai dar certo, minha filha, você vai ver — pareceu

animada, esperançosa, e eu não disse nada que pudesse estragar


esse sentimento. Duvidava que a Motors iria continuar a sobreviver

por muito tempo, não enquanto continuasse a desperdiçar tantos


recursos e gastar com coisas fúteis, mesmo que ainda distribuísse
suas peças automotivas por todos os Estados Unidos. O que uma

má gestão não fazia!

— Espero que sim, mamãe. — Fiz uma pausa e mudei de


assunto: — E como estão você e o papai?

— Ótimos. Seu pai que ainda não tirou da cabeça a ideia de

trocar nosso carro por uma caminhonete velha. — Pude imaginar

ela revirando os olhos enquanto dizia aquilo. — Ele está me pondo


louca com isso. — Suspirou. — Mas acho que vou acabar cedendo

para ele. O que a gente não faz por amor e para não destruir um

sonho de alguém que ama, não é mesmo?


Sorri, com meu coração batendo feliz pelos dois. Mesmo

depois de vinte e cinco anos de casados, de terem enfrentado várias

barreiras e tido pequenas brigas, eles ainda se amavam com uma


intensidade que roubava meu fôlego. E, mesmo sabendo que pelo
jeito isso não era para mim, desejava que alguém me amasse com o

mesmo ardor desmedido como meus pais se amavam.


— Verdade — sussurrei, emocionada. — Ele ficará muito

feliz.

— Ele que vá achando que não vai me compensar por isso.


— Deu uma risadinha, revelando-me o quão a vida sexual deles

ainda era ativa. Sexo nunca foi um tema tabu com a minha mãe,

então ouvi-la fazendo essa insinuação não me incomodava de

maneira alguma.
— E não duvido nada que ele vai adorar te recompensar —

fui maliciosa, fazendo-nos rir ainda mais, ao ponto de pequenas

lágrimas escaparem pelos meus olhos.


— É — pareceu subitamente envergonhada.

Ficamos em um silêncio confortável, e eu não resisti, caindo

outra vez na risada. Era engraçado vê-la encabulada.


— Mas agora vá se arrumar, menina — ralhou comigo,

desviando a minha atenção do seu embaraço —, antes que se

atrase. Só liguei para saber se você tinha chegado bem.

— Muito bem. Nos falamos mais tarde e com mais calma,


ainda tenho muito o que contar.

— Ficarei aguardando, Val.


— Te amo.

— Também te amo, filha. Muito. — A voz era completamente

carinhosa, maternal, e eu me senti acarinhada por ela, mesmo que


estivéssemos a várias milhas de distância. Fiquei imaginando se

meus filhos, se é que um dia eu os teria, se sentiriam assim

também, amados incondicionalmente. Balancei a cabeça em

negativa, não podia me deixar levar por tal pensamento que me


levaria a ânsia de formar uma família com um homem que

provavelmente nem existia.

— Eu também. — Uma lágrima teimosa escapou pelos meus


olhos, e a limpei com o dorso da mão.

Antes que eu pudesse desligar, voltei a ouvi-la:

— Val?

— Sim, mamãe?
— Depois me envie uma foto do seu bronzeado, quero morrer

de inveja de você, como várias mulheres ficarão — seu tom foi

matreiro e imaginei que ela deveria estar com uma expressão


ardilosa, deixando implícito que os homens é que adorariam.

— Mamãe! — dei um gritinho.

— Ai que saudades do meu Rio de Janeiro.


Era quase certo que ela abanava a mão e, novamente, nós

duas caímos na risada.


— Agora vá — disse em meio ao riso —, depois você me

conta quantos homens babaram por você!

Antes que pudesse protestar diante do exagero da minha


mãe, ela desligou a ligação e eu pousei meu celular na pia do

banheiro, soltando um suspiro, novamente balançando a cabeça.

Sabia que ela fazia isso para elevar minha autoestima, mas

não me sentia tão irresistível assim, embora não pudesse negar que
ter passado muito tempo no sol dava a minha pele um lindo tom de

dourado.

Não importava quantos colegas de trabalho me admirassem,


não alimentaria meu ego. Isso me fez lembrar do babaca do Mark,

que também trabalha na empresa. Não queria nada vindo dele, tal

pensamento me enojava. Enquanto eu removia a minha roupa para

tomar um banho rápido, eu sabia que o único homem que eu queria


que me desejasse, me olhasse em apreciação, repleto de luxúria, e

me despisse, nunca mais pousaria seus olhos negros e ardentes

sobre mim. E só poderia culpar a mim mesma por isso.


— Val?

Desviei meu olhar da nota fiscal que estava conferindo para

mandar para o setor de expedição de peças, e olhei para o diretor


responsável do departamento que eu trabalhava, que graças a Deus

não era Mark, percebendo que ele estava mais empertigado do que

de costume. Compreensivo, já que, assim que pisei na empresa,


todos os funcionários não falavam de outra coisa que não fosse a

venda da Motors por milhares de dólares a um empresário

misterioso, numa transação sigilosa, que envolveu apenas o CEO


da empresa. Nem mesmo os executivos e diretores tinham sido

chamados para participar das negociações. Poderia passar de um

mero boato, pois ainda nada foi comunicado oficialmente, mas a


tensão no ambiente, o nervosismo de todos, me faziam duvidar

disso. Era mais do que evidente que alguma coisa estava

acontecendo, e todos estavam com medo de verem suas cabeças

rolando. E, inconscientemente, deixei-me levar também por aquela

ansiedade e tensão, sofrendo por antecipação por mim mesma e


por outras milhares de pessoas. Ao que parecia, a esperança da

minha mãe de que tudo daria certo durou nem um dia.

— Em que posso ajudar, senhor? — Fui formal.


E estranhamente, enquanto encarava o homem e esperava
ele responder, senti que minha tensão ficava ainda maior, sem razão

alguma aparente. Mas, quando notei um ar de desaprovação em

sua expressão, eu engoli em seco com o calafrio que percorreu

minha espinha.

— Estão te esperando na sala de reunião do último andar. —

Sua voz foi suave, contrariando suas feições e eu o fitei, atônita.


Nunca tinha ido naquele piso onde ficavam os escritórios de todos

os diretores da Motors e o do presidente, então não entendia por

que pediam a minha presença ali. E o homem à minha frente sabia

disso. Eu não era ninguém naquela empresa, eu era completamente

substituível. Não havia nada que pudessem dizer sobre a

administração da companhia que dizia respeito a uma funcionária

como eu. — Pediram que eu te acompanhasse.


— Por quê? — questionei em um fio de voz, insegura, e ele

pareceu mais rígido. Deu de ombros, mas seu gesto não conseguia

transmitir a leveza que queria dar. A tensão dele aumentou a minha,

fazendo-me suar frio.

— O presidente assim exigiu — demonstrou sua

incredulidade com isso e eu devo ter deixado a minha evidente


também. — Vamos, não podemos deixar todo mundo esperando. Só
falta você para começarem. Está nos atrasando e todos estão

impacientes.
Encarei-o por alguns segundos, reprimindo uma resposta

mordaz sobre como poderia estar atrasada para um compromisso


que não sabia que existia e que ninguém tinha me avisado. Salvei o
arquivo no meu computador e o desliguei. Ergui-me nos meus

saltos, mesmo não me sentindo completamente firme, pegando meu


caderno e uma caneta, e o segui sem mais demora. Não consegui

controlar meu coração que batia acelerado. Algo estava muito


errado.

Enquanto caminhava atrás do diretor, sentia um pouco de


vergonha por ser alvo do escrutínio de todos os meus outros
colegas de trabalho, que me fitavam com especulação. Para distrair

meu nervosismo tolo, desfiz com as pontas dos dedos uma pequena
prega que tinha se formado na minha saia quando entramos no

elevador. Evitando olhar para o diretor, procurei respirar


pausadamente, me sentindo mais calma quando pisei no andar que

era proibido para mim, vestindo uma máscara fria de


profissionalismo. Não ganharia nada por deixar-me levar pelo medo
como todos pareciam estar. Eu era uma boa profissional, e agiria

como tal. Poderia perder o meu emprego hoje, o que era uma coisa
que já esperava, mas não iria demonstrar fragilidade e insegurança

no meu ainda local de trabalho. Munida de coragem, ignorando o


suor frio e os calafrios que me percorriam, ouvindo meus saltos

batendo contra o assoalho de madeira, adentrei a sala de reunião


completamente silenciosa, mas procurei não deixar que o

nervosismo de todos me afetasse. Escondi o quanto o olhar deles


de questionamento sobre a minha presença ali me incomodava.
Não me importava, eram eles que tinham muito mais a perder

do que eu.
Sentando-me no lugar indicado, deixei que meu olhar

percorresse a sala, que diferentemente do que eu pensava, tinha


um estilo clássico, luxuosamente mobiliado, em tons de vermelho
vivo com dourado. Elegante, porém bastante extravagante.

Observava cada detalhe, mas contive a surpresa por ver que a


cadeira presidencial estava desocupada, e que o CEO, que só

conhecia de vista, estava sentado ao lado dela. Ele parecia


completamente sereno, feliz até, e não parecia nenhum pouco

incomodado por ocupar aquele lugar. Não havia dúvidas de que algo
muito estranho estava acontecendo.
Porém logo a minha atenção foi desviada do baixinho para o

homem que se encontrava de pé próximo a janela, de costas para


todos. Sua postura altiva emanava força e poder, mostrando que era
mais do que um mero subordinado. O terno bem cortado e caro
ajustava-se perfeitamente as costas largas, moldando cada músculo

rígido, e, quanto mais eu o analisava, percorrendo cada centímetro


dele, uma sensação estranha surgia no meu ventre, como se meu

corpo o reconhecesse, principalmente quando encarei os cabelos


negros e revoltos. Uma grande tolice, já que com certeza nunca o
tinha visto antes.

Mesmo assim, me custava muito manter a minha expressão


impassível e indiferente. Minha pele toda formigava, reagindo à

presença dele, por mais que eu lutasse contra. O calor que somente
um homem tinha conseguido despertar em mim se espalhava pelo

meu interior.
Pelo jeito, ultimamente estava tão desesperada por afeto e
atenção, que qualquer homem me deixava naquele estado.

Desviei o olhar, odiando aquilo que estava me tornando, uma


lasciva que não parecia conseguir se controlar no ambiente de

trabalho.
Patético.
Mas as sensações que borbulhavam em mim diminuíram um

pouco, não por completo, quando percebi Mark sentado do outro


lado da mesa, me fitando intensamente. Confesso que tão cedo
queria ficar no mesmo lugar que ele ou encontrá-lo pelos
corredores, não depois de ter feito papel de tola, sonhando

acordada com ele.


Mas sabia que um dia isso iria acontecer, e era óbvio que ele

estaria em uma reunião como essa. Ele era um dos principais


diretores da companhia e um dos conselheiros. Contudo um prazer
perverso me invadiu, um que nem sabia que poderia nutrir, quando

percebi a tensão crispada em seu rosto e ombros. O medo que

cintilava nos seus olhos, de perder o seu precioso cargo que lhe
rendia milhares de dólares ao mês, me fez sorrir em contentamento

e me sentir completamente vingada, mesmo que nada acontecesse

a ele.

Mais confiante do que nunca, minha atenção voltou-se ao


homem misterioso que parecia ter um imã que me impelia a ele, e

deixei que, discretamente, meu olhar absorvesse toda a força e

poder que dele emanava, embora ao olhá-lo, fizesse com que meu
coração batesse acelerado e os pelinhos da minha nuca se

arrepiassem. Uma espiral de sensações incontroláveis e

injustificadas me invadiam. Imprópria. Irracional.


— Podemos começar? — uma voz feminina, ressoou no

ambiente carregado de tensão, demonstrando todo receio que tinha,


bem como a desaprovação pela minha presença e eu senti náusea

por saber que ela era a amante de Mark e que também ria de mim

pelas minhas costas. — Tenho uma viagem para Nova York em


poucas horas.

Me contive para não me encolher, mantendo-me firme

perante a mulher. Estranhamente consciente do homem

desconhecido, percebi que, quase imperceptivelmente, ele pareceu


ficar tenso, como se uma fúria silenciosa o tomasse, uma força que

fez me manter impassível e sorrir para a senhora Jenkins.

— Não sei por que fomos chamados até aqui — continuou,


prepotente, sem perceber que estava brincando com o

desconhecido.

— Ela já está aqui, senhor Ibrahim — o CEO da empresa


falou, e senti um arrepio percorrer a minha coluna quando meu

cérebro assimilou que estavam falando de mim. E a tensão que

tinha se dissolvido cresceu novamente em meu interior, formando

um bolo na boca do meu estômago. Não restava mais nenhuma


dúvida que foi aquele homem poderoso e parecendo furioso que
exigiu a minha presença. O motivo, não tinha a mínima ideia. Não o

conhecia, com certeza.

E todas as sensações que o homem me despertava somente


com a sua presença arrefeceram, substituídas por um frio gelado,

pois pelo jeito era eu quem estava ferrada.

O homem assentiu com a cabeça em concordância, como se

desse o consentimento para que a reunião fosse iniciada, e eu abri


minha agenda, pegando a minha caneta, tentando me distrair e me

manter calma. Tinha por hábito anotar tudo que me chamava

atenção ou que poderia ser importante, mesmo que eu não fosse


fazer nenhum uso da informação. E aquilo tinha que bastar para me

manter equilibrada.

— Obrigada a todos pela presença. — O tom empregado

pelo CEO da empresa era calmo, parecendo que aquela seria uma
conversa casual, como se não fosse necessário que todos os

diretores e executivos ficassem apreensivos, embora não

escondesse um quê de repreensão para a mulher, provavelmente


buscando apaziguar o homem que não se dignava a mostrar-se

para ninguém. — Todos sabem que nos últimos tempos a Motors

Company tem passado por inúmeras dificuldades e que tem se


tornado cada dia mais difícil manter as operações, principalmente da

fábrica em Illinois, e com isso os milhares de empregos.


Alguém pigarreou, e eu segurei a caneta com mais força,

com a onda de raiva que me assolou, ao passo que meu peito se

afundava no peito. Tinham convidado uma funcionária do baixo


escalão só para comunicar que muitas pessoas, inclusive ela,

ficariam sem emprego? Poderia questionar várias atitudes tomadas

pelo presidente, mas imaginei que ele tivesse um pouco mais de

honra e respeito.
— Podemos dar férias coletivas e ir demitindo gradualmente

— o chefe do departamento de recursos humanos disse

tranquilamente, como se aquilo fosse uma coisa corriqueira, e eu


tive que me segurar para não olhar torto para ele e não emitir

nenhum som de exasperação.

Definitivamente, não sabia o que estava fazendo ali, ouvindo

aqueles absurdos. Por instinto, meus olhos pousaram no homem


que continuava de pé perto da janela, que contrastava com todos os

outros, e pude perceber que ele abriu e fechou a mão rapidamente,

um gesto quase imperceptível.


— Isso cortaria bastantes os custos e poderíamos manter as

nossas operações para atender a todos os nossos clientes, já que


temos pouca demanda no momento. Não precisamos de tantos

funcionários assim — Mark soou arrogante, como se essa fosse a

única solução possível para o problema.

Não consegui suprimir uma careta e nem um pequeno som


de exasperação, o que chamou a atenção dele para mim, bem como

a dos outros. Minha aversão a ele aumentou ainda mais.

Como eu poderia ter o achado tão atraente? Um cavalheiro?


Um homem tão metido, egoísta e egocêntrico que só pensava em si

mesmo. Me senti ainda mais tola por ter estado a um passo de me

envolver com ele, acreditando que era o cara certo. Realmente era

uma grande bobona.


Brindou-me com uma careta de escárnio, tentando colocar-

me no meu lugar, como se dissesse que eu não era ninguém, mas

eu ergui meu queixo. Antes que pudesse retrucar, expondo as


minhas ideias para contornar a situação delicada, mesmo que não

tivesse sido chamada para o assunto, o presidente falou,

calmamente, cruzando as mãos sobre a mesa:

— Não será necessário adotar tais medidas. — Fitei-o,


alarmada.

— Como não? — resmungou Mark. — Isso seria apenas

temporário.
Ignorou-o, e se fez um silêncio agonizante na sala.

Novamente voltei a encarar a figura de pé, mais do que nunca


consciente de que ele era a razão para a Motors não precisar tomar

nenhuma ação precipitada. Seria ele um novo investidor? Torci para

que sim, e que ele pudesse colocar a administração da companhia

em ordem.
— Convidei a todos para participarem dessa reunião de

emergência para comunicar oficialmente que, depois de muito

ponderar, ontem à noite, finalizamos o processo de venda da


empresa e a partir de hoje me desligo da presidência

irrevogavelmente. Não tenho mais nenhum poder de decisão — fez

uma pausa e o silêncio de repente tornou-se uma série de falas


confusas, com palavras de protestos, e a voz de Mark era um

guinchar em meus ouvidos. O nervosismo de todos explodiu com a

notícia enquanto eu parecia congelada no lugar, sem acreditar.

Minha mente ponderava as possíveis consequências disso. Ele fez


um gesto com a mão, e todos silenciaram, a contragosto. — A

companhia não será mais regida por um. Tudo será controlado por

uma única pessoa, que comprou cem por cento da empresa e


deterá todo o comando. Por opção do novo dono, nenhum diretor ou
chefe de departamento terá completa autonomia nas suas
atividades.

— Isso é um absurdo. — Ouvi a voz de Mark chiar baixinho.

Voltando minha atenção para ele, novamente aquela sensação de


prazer pela sua derrota surgiu dentro de mim.

Sua expressão não era mais marcada pela prepotência,

apenas por um grande terror, como se tivesse medo de ser pego no


flagra em alguma coisa. Deleitei-me, mesmo que naquela situação

fosse absurdo que estivesse me sentindo daquela maneira. Sabia o

quanto essa venda poderia impactar ainda mais a Motors, e

consequentemente em todos nós, em mim.


— Quem é o tal comprador? — sussurrou a tal mulher, que

agora também se escondia atrás da máscara de humildade.

— Eu, senhora. — Meu coração deu um salto no peito e


minha respiração ficou descompassada ao ouvir o timbre grosso, o

sotaque estrangeiro, muito familiar, embora agora estivesse


completamente gelada e modulada. Ele então se virou e se
aproximou da mesa.

E não consegui ouvir mais nada do que era dito, embora uma
série de vozes falassem ao mesmo tempo. As duas pequenas
palavras impregnavam os meus ouvidos. Fechei os olhos quando
pensei que minha mente estava me pregando alguma peça. Estava
tão desejosa por ver o turco que tinha sussurrado palavras cujos
significados eu desconhecia enquanto me tocava, beijava,

mergulhava no meu corpo, que minha mente estava me pregando


uma peça.
Não podia ser.

Aquele homem não se tornaria o CEO da Motors.


Era apenas uma ilusão.
Mas a tensão que sentia no meu ventre desde que o vi ao

entrar na sala, o reconhecimento do corpo, as séries de arrepios


que provocavam a minha pele pela presença dele, não me
deixavam enganar. E, sabendo que não tinha escapatória, mesmo

temerosa, abri meus olhos e o encarei. Percebi que embora várias


pessoas buscassem sua atenção, seus olhos, com uma expressão
severa, ainda mais rude do que aquela que ostentava na festa,

estavam fixos em mim, atentos a qualquer movimento que eu fazia.


Um brilho selvagem ardia nas duas ônix e instintivamente eu

estremeci sob o peso do seu escrutínio. Se era de medo ou de


desejo, eu mesma não conseguia definir. Os arrepios se
intensificaram quando ele pareceu apreciar a minha reação.
Engoli em seco. Puxei o ar para os meus pulmões e umedeci
os lábios, tentando retomar o controle após tê-lo reconhecido, mas
as lembranças dele se movendo lentamente para me dar um prazer

indescritível vieram com força a minha mente, não me ajudando em


nada a me acalmar. E pela forma como me olhava, ele parecia

também não ter esquecido. E eu me senti completamente nervosa


com a possibilidade.
— Muitas coisas irão mudar por aqui — disse de um modo

geral em um tom rude, que fez com que alguns dos diretores
perdessem o ar confiante e emitissem sons de lamento e temor,
mas não consegui prestar atenção em ninguém que não fosse no

turco.
Sua expressão era uma máscara severa. O sorriso diabólico
que se abriu lentamente enquanto me encarava fez com que eu

soubesse que sua fala tinha um duplo significado: ia além da troca


de direção na empresa, me indicava que ele também recordava que
eu o tinha deixado.

Feri o seu ego, algo que ele não deixaria passar em branco.
Sentando com a graça de um felino na cadeira destinada ao
presidente, não deixou de me fitar um só instante, como se temesse

que eu fosse desaparecer da sua frente novamente. Engoli em seco

e desviei o olhar, como uma menininha assustada, que era de fato


como estava me sentindo. Um frio descomunal me varreu por achar

que ele me demitiria como punição e que faria isso na frente de

todos. Isso fez meu coração se apertar ainda mais com a decepção.
O homem que tinha me venerado com a sua boca e mãos, por

quem alimentei sentimentos que eu sabia serem completamente

tolos de se nutrir por um desconhecido que só buscava prazer,


sempre seria inacessível para mim. Eu tive a certeza que ele era

alguém de posses quando me levou para um dos hotéis mais caros

de Chicago, mas com sua ternura descomunal, com o desejo que

demonstrou por mim, o estrangeiro me fez esquecer completamente

daquilo.

Agora, confirmar que ia muito além do que ser rico, que ele

tinha poder e dinheiro suficiente para comprar uma empresa que


valia milhões, me deixava com uma sensação de vazio. Ele poderia

ter tudo o que queria em um estalar de dedos. E mesmo me

desejando aquela noite, me fazendo sentir única, como se quisesse


mais do que apenas prazer físico, sabia que esses homens eram
bastante volúveis e que quase nunca se entregavam a alguém.

E se já me sentia uma completa idiota por Mark ter me feito

suspirar com palavras doces enquanto transava com todas do

escritório, um gosto amargo surgiu na minha boca ao pensar que

tinha ido muito além com aquele homem que iria me dispensar de

maneira ainda pior do que eu fiz ao deixá-lo sozinho naquele quarto


de hotel. Ele conhecia algumas das minhas vulnerabilidades, minha

fraqueza perante a ele e seu magnetismo. Fechei os olhos, emitindo

um suspiro baixinho, ignorando todas aquelas pessoas poderosas

que falavam ao mesmo tempo, preocupadas com si mesmas,

amaldiçoando-me por ser tão patética, tão carente e tão sonhadora.

Não me importava com mais nada, só desejava que ele me desse

logo o golpe de misericórdia, destroçando-me de uma vez.


Porém o rosnado baixo e furioso fez com que sentisse outro

arrepio, intenso. Um silêncio ensurdecedor tomou a sala de reuniões

obrigando-me abrir os olhos e encarar aqueles olhos negros focados

em mim, que cintilavam perigosamente, como se pudessem ler

meus pensamentos e me desafiassem a continuar a tê-los. Era

como se me dissessem que eu não sabia quem ele era e que não
deveria julgar as suas intenções. Meu pulso se acelerou, e por um
momento ouvi somente o som da minha própria respiração rápida e

os batimentos do meu coração.


— Senhorita Johnson — chamou-me com a voz grave e

soturna, atraindo a atenção de todos para mim. Contive a vontade


de estremecer e chorar com o que turco estava prestes a fazer.
Erguendo o queixo, tentei transparecer uma calma que não sentia,

evidenciando todo o meu profissionalismo, e percebi que seus olhos


cintilaram em aprovação. Um prazer ridículo, dadas as

circunstâncias, formigou em meu interior.


Escutei alguém pigarrear, provavelmente a Senhora Jenkins,

porém não dei atenção a ela. Mas a voz de Mark, num tom
desaprovador, tirou-me do transe e com o canto do olho percebi que
ele estava confuso:

— Senhor, eu...
— Não estou falando com o senhor. — O tom foi cortante,

deixando claro o quão furioso ficou com sua intromissão, e ele


engoliu em seco, parecendo arrependido. Provavelmente ficou com

medo de ser o primeiro a sentir a fúria do turco. Novamente, por


mais que deveria temer uma provável humilhação, eu sorri com o
seu desconforto, e virei-me para o homem poderoso, vendo a

comissura dos lábios de Yazuv se ergueram suavemente, tornando


sua aparência ainda mais diabólica. E, estranhamente, uma

sensação de que partilhávamos algo, uma cumplicidade, me


invadiu.

Suspirei. Quão idiota ainda tinha que ser?


— Sim, senhor Ibrahim? — Forcei-me a dizer, recordando

que o senhor Alfred o tinha chamado assim.


Congratulei-me pelo meu tom profissional e por não ter dito o
primeiro nome dele, que estava na ponta da minha língua, o que

seria um descuido imperdoável. Para quem estava na forca, estava


relaxada demais. Teria sido vexatório se tivesse cometido esse erro

e despertaria ainda mais a atenção das pessoas que claramente


não entendiam o motivo de estar ali, devido ao cargo que eu
ocupava dentro da Motors. Observei sua expressão fechada de

descontentamento, e me perguntei se em algum momento ele se


permitia relaxar. Minha mente me deu a resposta ao recordar o quão

ele parecia calmo e relaxado, quando me puxou para os seus


braços após esgotar a suas forças, sua boca deixando pequenos

beijinhos na minha pele enquanto acariciava e cheirava meus


cabelos. Sim, ele se permitia. Mas agora era eu quem estava tensa
com a lembrança suscitada, e minhas terminações nervosas

voltaram ao seu estado de alerta. Eu o queria.


— Em que posso ajudá-lo? — voltei a questionar em uma voz
suave, reprimindo o estremecer de excitação, pegando a caneta
disposta a anotar o que ele pedisse, mesmo que não fosse a minha

função.
— Sente-se aqui, senhorita Johnson — ordenou, apontando

para a cadeira ao seu lado, que antes estava ocupada pelo antigo
dono e que nem tinha visto ir embora, e eu arfei com a surpresa, e
não fui a única. Pisquei várias vezes, sem acreditar. Nas reuniões

que participei do meu setor, costumava haver certa etiqueta


hierárquica, as pessoas com cargos mais altos eram as que se

sentavam próximas ao diretor, então por que ele queria uma


assistente administrativa ali, bem no seu lado direito?

Engoli em seco, virando o rosto, não suportando seu


escrutínio. Parecia que eu não conseguia enxergar nada e nem
ninguém.

Isso era outra forma que ele inventou para no fim me


humilhar ainda mais? Demitir-me na frente daquelas pessoas já não

era o suficiente? Senti-me despedaçada pela sua crueldade. Mas o


que realmente sabia daquele homem além da sua capacidade de
me tocar como nenhum outro pôde?
— Não entendi, senhor. — Minha voz saiu baixinha, me
traindo, revelando a dor que sentia fincar o meu peito, ao passo que
me encolhia na cadeira. Demonstrava uma fraqueza sem tamanho,

sem me importar com as zombarias que sofreria dos meus colegas


de trabalho que estavam ali. Senti raiva de mim mesma por tanto

melodrama, por tanta fragilidade.


— Quero que fique ao meu lado — sua voz soou tão suave
quanto uma carícia, lembrando a forma com que seus dedos tinham

roçado na minha pele nua, e novamente o fitei, percebendo uma

ternura em seus olhos negros que fez algo se desmanchar dentro


de mim. — Por favor, senhorita — não havia arrogância em sua

ordem e eu assenti com a cabeça.

Não tinha por que adiar mais o inevitável. Sabendo que me

sentiria ainda pior se continuasse com aquela cena, que


provavelmente seria comentada por todos mais tarde, e deixaria

uma amargura maior em meu interior, peguei minhas coisas e fui até

o local indicado. Para minha surpresa, ergueu-se e, em um gesto


cavalheiresco, puxou a cadeira para que eu me sentasse, sem se

importar com o que todos pensassem da sua atitude. Tudo em mim

estava consciente do calor do seu corpo, do cheiro que emanava


dele, do olhar penetrante que me dava. Inesperadamente, sua
proximidade me transmitiu segurança, que tinha se estilhaçado em

mim assim que o reconheci, tanto que eu não fugi dos olhares
atentos de todos, nem mesmo da zombaria presente nas feições de

Mark, enquanto Yazuv voltava a se acomodar na cadeira principal.

— O que acontecerá agora, senhor Ibrahim? — a mulher


disse impacientemente.

Com o canto do olho, percebi que o turco voltava a sua

expressão habitual e tinha seus olhos pousados sobre ela, a

sobrancelha negra arqueada em arrogância.


— A primeira mudança, senhora, será que cada diretor ou

chefe de departamento sempre se reportará a mim por meio de

relatórios detalhados, que deverão ser encaminhados todos os dias


para o meu e-mail. — Seu tom era inflexível. — Diferentemente do

antigo dono, quero saber tudo o que está acontecendo na minha

empresa, desde números até o que acontece com meus


funcionários e meus clientes.

— Entendo — uma outra pessoa sussurrou e vi que se

remexia na cadeira, desconfortável.

— De hoje em diante não haverá mais viagens corporativas,


como essa à Nova York que alguém aqui disse que faria, festas e

eventos promovidos pela companhia que não sejam extremamente


necessários. — Fez uma pausa e encarou a todos severamente.

Embora não tivesse acesso aos dados, podia imaginar os milhares

de dólares gastos nesse tipo de coisa.


— Mas precisamos delas, senhor, para atrair clientes em

potencial — a mulher falou, mas bem menos confiante.

Balançou a cabeça em negativa.

— Segundo as informações que obtive, elas não dão o


retorno financeiro esperado, e precisamos encontrar outras formas

de atraí-los.

Continuou a discorrer sobre outras mudanças que ocorreriam


na gestão, e quanto mais ele falava, discordando dos diretores, mais

surpresa eu ficava pelas medidas austeras que estava disposto a

implementar, mas injetando recursos em áreas como a de pesquisa,

tecnologia e produção, medidas que, ao longo prazo, se executadas


corretamente, poderiam dar um bom lucro e tornar a empresa mais

competitiva no mercado mundial, e isso sem sacrificar aqueles que

mais precisavam do emprego. Ao contrário do esperado, estava


disposto a adotar uma política que daria muito mais benefícios do

que muitas outras companhias por aí. Enquanto o fitava, era

impossível conter a minha admiração por aquele homem exigente,

porém justo.
— Portanto, qualquer problema que tiverem de grande

magnitude, ou urgente, antes de resolverem, reportem a mim ou,


caso eu esteja indisponível, a senhorita Johnson, minha assistente

pessoal — falou aveludadamente e eu o encarei, assustada.

Meu coração, que tinha se acalmado, voltou a ribombar com


toda a força, ao ponto de quase sair pela boca. Incrédula, fiquei

muda, não conseguindo pronunciar nem mesmo um som, enquanto

contemplava sua face impassível, como se não tivesse acabado de

dizer nada demais, sendo ignorada por ele. Atordoada, minha mente
demorou a processar sua fala, em conseguir interpretar seu

significado.

Não seria demitida por ter ido embora sem me despedir? Ele
não se vingaria de mim, como eu pensava, humilhando-me na frente

de todas aquelas pessoas? Pelo contrário, eu estava recebendo

uma promoção? Eu não conseguia raciocinar direito, meu cérebro

tinha virado uma grande geleia. Olhei para todos os outros


executivos da sala, inclusive para Mark, e eles pareciam tão

chocados quanto eu, mas sob o olhar de Yazuv nenhum deles teve

coragem para questionar a sua decisão, por mais desagrado que


sentissem. Temiam por seus empregos.
— Um de nós dois estará disponível para auxiliá-los na

resolução do problema, seja por e-mail ou telefone. — Fez um gesto

com a mão, que poderia soar displicente, mas que foi

completamente calculado. — Por agora, espero o relatório de hoje


até o final do dia. Estão dispensados.

— Mas e a minha viagem, senhor? — a mulher disse em um

sussurro.
— Você pode escolher viajar ou manter o seu emprego,

senhora Jenkins. — Sua fala era desprovida de emoção. A mulher

apenas assentiu com a cabeça em concordância, optando pela

segunda opção. Não restava dúvida de que ele não hesitaria em


despedi-la. Sem dizer nada, pegou seu tablet e bolsa, deixando a

sala, seguida dos outros executivos, inclusive um Mark estupefato,

que me encarava com contrariedade.


Quando a porta se fechou com um baque surdo, soltei um

suspiro, me recusando a encará-lo, sabendo que estava a sós com

o turco. Buscava me acalmar e entender o que estava acontecendo,

bem como controlar meus nervos em frangalhos, que eram


excitados pela presença dele. Mas, quando ouvi o barulho de Yazuv

a trancando, para que ninguém nos interrompesse, soube que


minhas tentativas de recuperar o equilíbrio seriam completamente

inúteis.
De costas para ela, pousei minhas mãos contra a superfície
de madeira, sentindo a aspereza contra a minha palma, controlando

a minha respiração para não deixar ainda mais evidente para a

pequena mulher o quanto a desejava com uma intensidade furiosa,


renovada pela sua presença, pelo seu cheiro.

Meu corpo todo estava consciente do dela, não querendo


perder nenhum movimento que dava. A antecipação da minha

vingança sensual banhava as minhas veias, impedindo-me de focar

inteiramente naquilo que precisava. Poderia imaginar Javier me


repreendendo sarcasticamente, dizendo que eu estava sendo idiota,

que aquilo poderia ser a minha ruína e gerar inúmeros prejuízos, e

com razão, mesmo assim, a possibilidade de perder alguns milhões


frente as sensações que minha değerli tinha me proporcionado, que

desconhecidas para mim, era um preço baixo para um homem como

eu.

Só poderia estar ficando louco por me deixar desgovernar

dessa forma por uma mulher que só conhecia através de relatórios,

embora cada detalhe do seu corpo estivesse gravado nas minhas

lembranças, tanto, que não tinha conseguido desviar o meu olhar da


minha presa, deliciosamente bronzeada pelo sol de Barbados.
Fiquei imaginando se, por debaixo da roupa formal, sua pele estava
dourada com marcas do pequeno biquíni que deveria ter usado.

Mas se continuasse a pensar nisso, dando rédeas soltas à

imaginação, me deixaria com uma enorme ereção. E me sentiria

muito tentado a mandar a precaução ao léu, deitando-a na enorme

mesa de reuniões enquanto minhas mãos trabalhariam para

descobrir as marquinhas deixadas pelo sol, saciando a luxúria,


fazendo todas as coisas que passei madrugadas ansiando.

Abafei um impropério com o quão ridículo estava sendo,

balançando a cabeça em negativa.

Fitá-la como se não houvesse mais ninguém na sala com

certeza foi um grande erro, expondo-me para todos os executivos e

a ela também. Por mais aterrorizados que os diretores estivessem, e

com razão, já que eu pretendia instaurar um inquérito para averiguar


cada departamento, porque suspeitava que havia um grande

esquema de corrupção ali dentro, eles não eram tolos para não

perceber o meu interesse por aquela mulher, não quando eu a fiz

sentar ao meu lado em uma clara demonstração de que estava

dando poder a ela. Fiquei furioso com os olhares de escárnio e

reprovação, ainda mais com a tristeza e vulnerabilidade que vi nela.


Deixei meu interesse ainda mais evidente, quando demonstrei
minha confiança nela ao lhe dar autoridade para resolução de

problemas, uma decisão que não foi tomada levianamente, mas sim,
depois de refletir horas a fio na noite anterior sobre o relatório

detalhado que tinha recebido sobre ela e outros funcionários da


Motors. Precisava ter alguém de confiança ali, pois, por mais
implacável que fosse no controle de todas as minhas empresas, eu

era apenas um homem e não daria conta de tudo sozinho. E, ao que


tudo indicava, a mulher que eu teria novamente em minha cama era

a mais confiável dentre todos, além de competente.


Tinha sido uma grande surpresa ao ler que tinha sido Valdete,

e não os responsáveis pelo departamento de expedição da Motors,


que tinha solucionado um problema que tiveram com o porto de
Chicago por conta de uma série de erros cometidos. Se não fosse

por ela, os containers com as peças que precisava para a minha


montadora não teriam chegado a tempo, e eu perderia meus prazos,

e com isso muito dinheiro.


As excelentes notas dela na faculdade de economia na

Universidade de Chicago, os testes que foram feitos na sua


admissão, e o seu desempenho como assistente administrativa,
principalmente sua proatividade, indicavam que ela estava sendo

desperdiçada no cargo que ocupava atualmente.


E eu uniria o útil ao prazer, por mais antiético que fosse.

Não havia nenhuma dúvida de que formaríamos uma boa


dupla não só na cama, mas também fora dela. Iria precisar mesmo

de alguém para o cargo, já que acabei promovendo o meu antigo


secretário a vice-presidente de uma das minhas empresas no ramo

de alimentos na Turquia, algo mais do que merecido depois de anos


me assessorando. E, por que não, para atender um pequeno
capricho meu. Queria tê-la trabalhando junto a mim, o que nos

aproximaria, e passaria mais tempo com ela, já que ter momentos


fora do trabalho era algo escasso na minha vida.

Se antes eu sentia meu corpo arder lentamente de desejo por


aquela mulher, diante da inteligência e do seu profissionalismo, me
senti completamente excitado. Minha mente passou a criar inúmeros

fetiches envolvendo aquela argúcia, principalmente o prazer que eu


teria ao conversar com ela sobre números e transações comerciais

depois de vários orgasmos. Poderia pedir a opinião dela e


compartilhar coisas que nunca havia dito a ninguém, muito menos a

uma mulher. Essa perspectiva rompeu as comportas do meu


autocontrole e eu soube que aquela pequena tentativa de acalmar
minha respiração e corpo seria em vão. De qualquer modo, quando

estivesse enterrado no seu interior quente e úmido, ela perceberia o


quão era cativo dela, principalmente quando beijasse seus lábios
lentamente, roubando seus suspiros, e me movesse lentamente
dentro dela.

Contive a vontade de socar a superfície de madeira com a


onda de desejo que me percorreu, bem como a fúria que senti de

mim mesmo por não conseguir controlar os meus próprios impulsos.


Não era dado a arroubos violentos, apesar que não podia negar que
meu pai e avô testavam-me muito, e não começaria por conta de

uma mulher. Cerrei os dentes, aprumando o meu corpo, e lembrei


que em pouco menos de uma hora eu teria uma reunião sobre meus

outros negócios, nem teria tempo para almoçar. Não procurei me


enganar por não a encarar, sabendo que durante aqueles longos

minutos em que fiquei de costas para ela, isso de nada adiantou,


pelo contrário, minha ânsia pela benim değerli somente aumentou
quando deixei-me levar por fantasias.

Irritado, com raiva do quão ainda a queria depois de tudo,


sem me importar em esconder meu desassossego e ira, virei-me e

deixei que meu olhar percorresse o seu rosto delicado emoldurado


por uma mecha que tinha escapado do coque, tornando-a ainda
mais linda aos meus olhos, focando naqueles lábios pintados com

um tom marrom, não menos provocativos para minha libido.


Conhecia muito bem o gosto deles para que não me tentassem e
estava faminto por eles. Mas foram os olhos azuis que me
encaravam com desejo que fez meu coração bater mais forte no

peito, deixando-me excitado como se eu fosse um menino, não um


homem que era capaz de trancar suas emoções dentro de si nas

transações comerciais.
E eu iria negociar o prazer daquela mulher para vingar o seu
abandono.

Porém quando notei que a ânsia dela transformou-se em

medo e receio, parecendo temer ficar a sós comigo, eu soltei um


rosnado irritado, e Val se encolheu ainda mais na cadeira. Deveria

agradecê-la por refrear meu desejo por ela, impedindo meu pau de

ficar ereto só por fitá-la, mas a contragosto senti como se ela

estivesse me traindo.
Não a forçaria a nada agora, iria esperar, a minha represália

seria deliciosa para nós dois.

Fiquei por instantes ali a encarando, perdendo um tempo


precioso que deveria estar utilizando para uma reunião particular

com ela, que por enquanto nada tinha a ver com a necessidade que

sentia de ter carne contra carne mais uma vez. Observei que, pouco
a pouco, ela parecia estar recuperando o domínio sobre suas
emoções, sua expressão se transformando em uma máscara de

profissionalismo. E isso me deixou mais furioso por ver que a mulher


conseguia se controlar enquanto eu ainda lutava contra mim

mesmo.

Xinguei baixinho em turco. Forcei um sorriso, que


provavelmente transformou meu rosto em uma careta, e com

passos lentos aproximei-me da minha cadeira, mas sem deixar de

encará-la. Jogaria o jogo dela, mas a pegaria desprevenida em

algum momento, desfazendo seu profissionalismo, e


consequentemente o meu, com um beijo furioso. Deixaria que ela

acreditasse por hora que seria apenas minha funcionária, não a

minha amante. Que eu me importei com a sua rejeição. Embora


odiasse jogar sujo com ela somente para ter as sensações que ela

tinha me despertado com a sua entrega, era o que faria.

Aproveitaria esse momento a sós para a colocar a par das


suas novas funções e sobre como eu precisaria dela para realizar

uma investigação minuciosa em alguns departamentos para

descobrir qual a fonte de corrupção da empresa, antes que eu

atribuísse tal tarefa a investigadores particulares. Isso exigiria várias


horas extras para ela, mantendo-a próxima. Sem dúvidas haveria
jantares e conversas, entre outras coisas, para relaxar em meio a

relatórios e dados...

Mal podia esperar por isso e estava contando os segundos.


— Senhor Ibrahim? — A voz suave ecoou por toda a sala de

reunião, reverberando em meu interior.

Eu apenas me sentei na minha cadeira, girando em sua

direção, não resistindo em inspirar o perfume suave, discreto, bem


diferente daquele que ela tinha usado na festa, mas não menos

delicioso. Pelo contrário, era ainda mais viciante, estranhamente

combinando com ela. Sem me importar com o que Val poderia


pensar, estiquei meu braço e virei seu assento na minha direção, e

percebi sua expressão surpresa quando ficamos frente a frente.

Estava a ponto de puxá-la para o meu colo e beijá-la da forma como

eu gostaria, quando me chamou.


— Senhor? — insistiu.

— Yazuv — disse, a voz mais rouca do que gostaria,

enquanto fitava seus olhos azuis, mas me esforcei para que ela
soasse mais normal. — Como vamos trabalhar juntos e passaremos

muito tempo um com o outro, não há necessidade de me chamar de

senhor ou de Ibrahim quando estivermos as sós, değerli.


Arqueou levemente a sobrancelha bem definida e acabou

assentindo em concordância.
— Sobre isso, Yazuv… — remexeu-se na cadeira, inquieta,

desviando o olhar para o próprio colo e eu fechei a cara,

incomodado com a reação dela. Parecia insegura ao ponto de não


conseguir me encarar. — Por que eu? Com toda a certeza existem

várias outras pessoas capacitadas que poderiam ser a sua

assistente pessoal e, inclusive umas que já trabalhem para você.

Tenho pouca experiência nesse tipo de coisa.


— Não, değerli — fui firme e ela me encarou assustada por

eu ter demonstrado tanta veemência —, não há mais nenhuma

outra tão qualificada quanto você.


Ficou em silêncio e eu continuei:

— Só você poderá substituir o meu antigo secretário, que

assumirá a vice-presidência de uma das minhas empresas na

Turquia. Ele mais do que merecia, e, já que a vaga estava aberta, o


promovi.

— Entendo — sussurrou, o medo tornando-se surpresa.

Não podia negar que dificilmente um assistente pessoal


chegaria a ocupar tal posto de comando, pois a maioria era invisível

para seus próprios empregadores. E, por mais frio que eu fosse,


costumava recompensar meus funcionários pela sua excelência.

Sorri para ela, suavizando minha expressão, quando percebi a

comissura dos seus lábios se erguendo.

— Só você poderá fazer aquilo que eu preciso — disse em


um tom calmo, embora não escondesse a duplicidade do sentido,

pois afirmava que eu queria somente ela.

Era prazeroso provocá-la, mesmo que isso se voltasse contra


mim.

Vi um brilho cintilar em seus olhos azuis que era capaz de

inflamar todas as minhas terminações nervosas, meu corpo

reagindo ao da mulher só de pensar que ela poderia estar


imaginando quais coisas eu desejava que ela fizesse. Meu sorriso

morreu em meio ao desejo. Adoraria que ela percebesse, que

removesse a calcinha e viesse se sentar no meu colo, me


enterrando dentro de si.

Suspirei fundo, sentindo uma camada de suor me cobrir com

a perspectiva, controlando-me quando vi o lampejo de ânsia se

apagar nas suas feições, e ela voltar a assumir sua fachada de


profissionalismo. Virando-se, pegou a sua agenda e caneta, e

tornou a me encarar, em expectativa.


— Quando irei assumir? — perguntou, proativa. — Preciso de

um tempo para me inteirar de tudo e me adaptar.


— Marquei uma reunião com meu assistente daqui a pouco

para que ele possa te passar tudo o que precisa saber, como

minhas agendas, planilhas e arquivos. — Fiz uma pequena pausa,

preso no olhar dela, e, mesmo sabendo que estava sendo antiético,


sussurrei com a voz rouca: — Outros detalhes da minha vida

pessoal também estarão em suas mãos.

— Certo.
Rabiscou algo no papel, mas percebi que ela estremeceu

levemente, engolindo em seco, com certeza compreendendo os

significados ocultos em minha fala. Como minha assistente, ela teria


que coordenar quase todos os aspectos do meu cotidiano, que iam

além das reuniões e eventos, menos aqueles que eu me

programaria para surpreendê-la, como viagens, jantares, almoços e

as noites que passaria com ela, sentindo suas unhas fincarem em


mim enquanto nos movemos como um só. Ah, eu faria questão de

surpreendê-la.

— Nada com que você deva se preocupar, benim değerlim.


Não inclui cuidar de possíveis amantes.
Dei de ombros. Quis dar a ela a certeza de que dentre suas
funções não incluía comprar presentes para mulheres, muito menos

ser responsável por marcar e desmarcar encontros, deixando nas

entrelinhas o quão ela era única para mim. Não iria machucá-la
fazendo-a acreditar que era daqueles que substituem pessoas com

facilidade. Reforçaria para ela que era diferente do tal ex-namorado

dela e do Mark, que descobri ser um homem presunçoso e que eu


faria questão de, mais tarde, colocar em seu lugar. Se antes não

gostava do homem, ver o modo como ele tratou Valdete na reunião

me deixou ainda mais furioso. Teria a cabeça dele em uma bandeja,

junto com a da mulher irritante.


— Como já tinha lhe dito, não sou igual aos outros homens

que são comandados pela cabeça de baixo — continuei.

Suprimi a vozinha na minha mente que dizia que, perante


aquela mulher, aquela lógica não poderia ser mais equivocada.

Atualmente, parecia que não havia nada mais importante do que me


saciar dela. Nem mesmo a empolgação de ganhar milhões num
futuro próximo me soava tão gostoso quanto aquilo. Tentei deixar de

lado o pensamento de que não estava sendo muito diferente dos


outros homens, afinal, movido pelo desejo, eu faria de tudo para tê-
la, sem garantias.
Foquei minha atenção nela, ignorando o quão sujo estava
sendo e o quão aquilo não combinava comigo, e fiquei observando a
sua expressão, me deleitando quando percebi uma pontada de

alívio em seus olhos indicando-me que Val não era indiferente a


mim, por mais que tentasse parecer profissional. Uma onda de
prazer percorreu o meu corpo por saber que aquela mulher poderia

sentir ciúmes de mim, e fechei os olhos. Seria algo que deveria me


incomodar, temendo que ela fosse pegajosa, mas me pareceu
bastante estimulante ao ponto de alimentar ainda mais o meu ego.

Era eu quem a possuiria por completo.


Como seria pertencer àquela mulher?
Imagens altamente eróticas daquela pequena morena

roubando o meu prazer me invadiram. Me vi sendo dominado, com


ela envolvendo meu pau ereto nos seus dedos finos e o levando em
direção a boca carnuda, lambendo, chupando, sugando, o

enterrando mais fundo na cavidade morna, em busca do orgasmo


que sabia que me daria. Adoraria ser dela na cama de novo. Melhor,

seria.
Remexi-me na cadeira, inquieto, tentando controlar meu
corpo. Aqueles pensamentos me deixaram queimando, já que não

precisava muito para aquela büyücü[22] me excitar. Embora fosse


tentador querer que ela visse o efeito que produzia em mim e ver o
que ela faria com o meu “problema”. Não contive um gemido. Olhei
para ela, dando-me conta que Valdete mordia os lábios e fitava

fixamente o papel. Suas pernas estavam firmemente fechadas e


imaginei, perversamente, que fosse de excitação, mesmo que não

pudesse afirmar com certeza.


Bok! Estava brincando com fogo naquela situação.
— Não haverá, portanto, a tarefa desagradável de lidar com

mulheres — minha voz soou rouca de desejo. Não conseguia


desviar meu olhar dela, e acabei pousando os olhos sobre os seios
que eu sabia serem macios, deliciosos, embora pequenos, do

tamanho das minhas mãos.


Ela tossiu e ergueu seu rosto do caderno com o semblante
neutro.

— Se for necessário, o farei — o tom dela a traiu, revelando o


seu desconforto por ter que se prestar a esse papel, mas fiquei
furioso quando completou: — não é da minha conta, afinal.

Fechei ainda mais a cara, contendo uma série de


impropérios, e ela deu um saltinho na sua cadeira antes de voltar a

se recompor. Quis retrucar, gritando que era, sim, ainda mais


quando era ela que ocuparia minha cama. Arrancaria dela essa
máscara de indiferença, porém, de última hora, me segurei. Decidi
que em seu tempo mostraria a ela quem eu queria. Respirei fundo,

mais no domínio de mim mesmo, e resolvi que não mais abordaria


aquele assunto perigoso por enquanto. Eu estava indo longe demais
naquele primeiro momento, expondo-me ainda mais do que deveria.

Idiota.
— Gostaria que você começasse ainda hoje, familiarizando-

se com minha rotina de trabalho. — Fui suave, contrapondo minha


expressão fria, e ela pareceu atônita, absorvendo minha fala. —
Algum problema, değerli?

— Não, Yazuv. — Sorri por ela ter me chamado pelo primeiro


nome, como se aquilo fosse algo demais, mas a mulher pareceu
alheia a minha pequena vitória sobre ela. — Só pensei que teria

alguns dias para finalizar todas as tarefas que tenho pendentes no


meu departamento.
— Outra pessoa pode terminá-las por você. — Arqueei minha

sobrancelha quando ela pareceu não concordar, desafiando-a a me


contradizer.
— Não me agrada muito deixar coisas inacabadas ou

desorganizadas.
Suspirou baixinho e foi inevitável não pensar novamente que

ela não pareceu se importar em me deixar, sem nem mesmo


anunciar sua partida, colocando, assim, um ponto final na noite que
tivemos. Sei que eu não estaria disposto a aceitar tal coisa sem

tentar persuadi-la a ficar com beijos e toques, com o meu corpo e


calor. Com certeza, ela não teria se negado a ficar. Estávamos longe
do fim, apenas no início.

— Não quando podem jogar a culpa pelo trabalho malfeito


sobre as minhas costas, então prefiro concluí-las eu mesmo.

— Isso não acontecerá, değerli. — Abri um pequeno sorriso


de admiração, estava esperando por aquilo e ela não me
decepcionou, provando que tinha a mesma linha de trabalho que eu.

—Exigirei que seu substituto recomece do zero para que ele nem
pense em fazer isso, e revisarei pessoalmente todo seu trabalho.
— Não será… — Fiz um gesto com a mão interrompendo-a e

ela não continuou, ficando em silêncio.


— Preciso de você, değerli — murmurei em um tom que era
aberto a várias interpretações, e encarei as duas safiras

emolduradas por cílios compridos.


Seus olhos cintilaram com prazer, sua respiração se
acelerou, seus lábios convidativos entreabrindo-se com a surpresa.
Aquela visão me agitou. Naquele momento, não éramos funcionária
e patrão, mas, sim, duas pessoas que se queriam, que tinham se
conhecido intimamente e transado lenta e deliciosamente. Não

resistindo a tentação que a mulher representava, empurrei sua


cadeira para mais próximo, nossos joelhos se tocando, peguei uma
das suas mãos trêmulas e levei a minha boca. Beijando suavemente

o dorso, percebi os pelinhos do braço dela se arrepiando, ao passo


que calafrios me varriam, meu fluxo sanguíneo se acumulando no
meu pênis excitado. Sem deixar de observar o seu rosto, percorri

com a boca cada pedacinho de pele, respirando ofegante. Prestes a


puxá-la para o meu colo, dando vazão ao que eu queria, baixei a
mão dela, pousando-a sobre a coxa que estava louco para acariciar.

Queria que fosse ela quem implorasse por mim.


— Preciso de você mais do que imagina.

Com uma delicadeza que me contradizia, inclinei-me sobre a


değerli e beijei a testa dela. Ela me encarou surpresa. Não a
culpava, já que nem eu mesmo compreendia as minhas atitudes.

Por que estava sendo delicado? Será que queria lhe dar falsas
ilusões de que eu era um homem terno e carinhoso, coisa que não
era? Era apenas sexo que eu queria dela, não era? Claro que era. E
tinha que parar de enganá-la desse modo, ou não seria melhor do
que os outros.

— Yazuv… — Sussurrou, e o brilho que havia nos seus


olhos, de esperança, ou de desejo, se apagou.
Empurrando a cadeira para trás, ergueu-se em um salto e,

balançando a cabeça em negativa, se abraçou. Parecia vulnerável,


como se não acreditasse em minhas palavras que ecoavam por
toda a sala, que poderiam ser interpretadas como havendo muito

mais do que o meramente profissional. Provavelmente devo ter


deixado evidente a minha confusão na minha expressão.
Ficamos nos encarando por alguns segundos em silêncio, até

que ela o quebrou, parecendo bem mais firme do que eu:


— Claro, eu me esforçarei para corresponder a todas as suas
expectativas como sua assistente — deu um sorriso que não

chegou aos olhos —, e começarei agora se me permitir. Só passarei


no setor onde trabalhava para buscar minhas coisas e resolver

alguns assuntos antes da reunião com seu atual secretário.


— Valdete… — Antes que pudesse dizer qualquer coisa,
argumentar que ainda tínhamos coisas a serem discutidas, meu

celular começou a tocar, o que me impediu. Tirando o telefone do


bolso da calça, olhei o visor constatando que era Javier. Franzindo o
cenho, não o atendi, mesmo sabendo que ele não me ligaria à toa.

— Atenda — sussurrou, depois que o meu melhor amigo


voltou a ligar. — Pode ser importante, senhor Ibrahim.

Grunhi, irritado com a volta da formalidade. Passei a mão


livre pelos meus cabelos, e tive que me controlar quando a vi pegar
as coisas dela e caminhar em direção a porta, sem o meu

consentimento.
— Mais tarde continuamos essa conversa — ela estacou ao
ouvir meu tom frio, e eu aproveitei para olhar sua bunda bem-feita,

modelada pela saia justa. — Temos muitas coisas para acertar


ainda.
— Okay, senhor.

Balançou a cabeça em concordância, e girando a maçaneta,


abriu a porta e saiu, abandonando-me pela segunda vez. Fugindo.
Um vazio esquisito me preencheu.

Com um suspiro, ignorando o que quer que seja aquele


sentimento, joguei-me na minha cadeira e atendi a ligação de Javier,

buscando esconder minha irritação dele por meio do tom ríspido e


frio.
Jurei pela milésima vez que aquilo não ficaria assim.
Era pouco mais de sete horas da noite, quando olhei outra

vez para a agenda digital à minha frente, conferindo quais


compromissos Yazuv teria pela manhã. O alívio que senti pelo meu
mais novo chefe ter estado ocupado com uma série de reuniões

durante a tarde, sem pedir que eu providenciasse seu almoço, e


nem mais ter me dirigido a palavra seja por telefone ou e-mail,
transformou-se em um estômago embrulhado de nervosismo.

Respirei fundo, anotando alguma coisa no meu papel,

apontando como urgente, mas sabia que só estava querendo adiar


o fato de que eu teria que ficar frente a frente com ele novamente, e
à sós, para continuar conversando sobre as minhas obrigações.

Fechei os olhos quando senti uma pontada apertar o meu


coração com a dor da ilusão que fez com que por um momento eu
acreditasse que eu era importante para ele por outras razões que

não meramente a profissional. Queria que precisasse de mim como


mulher, mesmo que eu fosse uma desconhecida para ele, que eu
não tenha passado de uma noite de diversão, por mais que no fundo

eu tenha consciência que tinha sido apenas sexo e nada mais. Por
breves segundos, depois que ele tinha beijado minha mão e testa

com tanta ternura, seus olhos brilhantes dizendo que queria algo
mais, me permiti viver aquele pequeno momento de conto de fadas,
tolamente massacrado pela máscara fria que que logo tomou sua

expressão, jogando-me de volta para a realidade: uma que não


inclui um milionário se apaixonando por uma desconhecida que se
torna sua assistente. Essas coisas só acontecem nos filmes de

comédia romântica e nas novelas que minha mãe tanto gostava de


assistir. Tinha me custado muito, todas as minhas forças, manter a
minha compostura e atitude profissional, não cedendo ao mais

caricato dos choros, aumentando ainda mais a figura patética que


estava fazendo. Gemi ao me lembrar que minha imagem
profissional tinha sido esmagada quando na primeira oportunidade

que me apareceu fugi dele e do seu magnetismo, parecendo um


cervo assustado perante um leão. Me comportei de um modo

questionável e, para mim, passível de demissão por justa causa.


Eu tinha corrido para um banheiro mais próximo, que por
sorte estava vazio, tentando me recompor antes de encarar meus

antigos colegas de trabalho e buscar minhas coisas. Sabia que


quando pisasse no departamento, todos já teriam conhecimento do
que aconteceu na reunião, que o milionário tinha me privilegiado ao

me fazer sentar ao seu lado e dizer aos executivos que, junto com
ele, eu tomaria as decisões finais, sobrepondo-me aos diretores,
algo que não foi visto com bons olhos por ninguém, pude perceber

pelos olhares atravessados e especulativos. Mas não tive muito


tempo para refletir sobre isso, já que mergulhei no trabalho,
finalizando a nota fiscal que estava revisando e indo me encontrar

com o ex-secretário de Yazuv, que pareceu contente, ao mesmo


tempo aliviado, com a oportunidade que estava tendo. E não
poderia criticá-lo, já que, ao que tudo indicava, organizar a vida

pessoal e profissional do turco parecia não só exigir uma grande


demanda de fôlego, para atender todas as ligações e responder os
e-mails, mas também pela flexibilidade de horário e capacidade para

lidar com a enorme quantidade de documentos eletrônicos que


exigem a atenção dele. Nem queria imaginar quando começasse a
chegar os físicos também.

Acionista majoritário de várias empresas multinacionais, além


de diversificar seus investimentos em outros segmentos, inclusive

aplicando grandes somas em bolsas de valores espalhadas por todo


o mundo, não tinha certeza de como ele conseguia encontrar tempo
até mesmo para dormir. Era trabalho demais para uma única pessoa

e, isso, de algum modo, refletia nele, evidenciado na tensão dos


seus ombros e músculos, e na sua expressão sempre séria e rígida,
bem diferente daquela que pude contemplar quando estava em seus
braços. Naquela noite, era como se não houvesse todo aquele peso

sob seus ombros, apenas um homem relaxado, sem as linhas de


expressão vincando o rosto másculo e bem-feito. Um ser humano,

não uma máquina eficiente que nem mesmo parava para descansar
e se alimentar. Novamente, o pensamento de que ele deveria se
permitir descansar mais vezes, como se permitiu por uns instantes

na festa da Motors, cuidar de si mesmo, alimentando-se bem,


infiltrou-se em minha mente e eu balancei a cabeça em negativa.
Abrindo as pálpebras, não consegui conter um som de exasperação.

Levei minhas mãos à cabeça e, sem que me desse conta, desfiz


meu penteado, deixando que as mechas caíssem soltas pelas
minhas costas como se fosse uma cascata. Mais um ponto para

minha total falta de profissionalismo.


Estava furiosa comigo mesma por me preocupar com ele, por
pensar nos aspectos pessoais da vida dele que nada me diziam

respeito, já que nem sabia da sua rotina, apesar que a agenda dele
dizia muito. E, principalmente, por ser a parva que era, por ficar
relembrando a noite que tivemos juntos e que nada significou para o

turco, por mais que não podia negar a cobiça que ainda via em seus
olhos luxuriosos. Por sonhar acordada com um homem que nunca

foi e nunca será meu.


Não estava em um maldito livro de romances, droga!
Mesmo assim, meu coração se acelerou e o nervosismo
voltou a me dominar quando o som do ramal exclusivo do meu

chefe tocou. Pigarreando, buscando o domínio de mim mesma, com


meus dedos trêmulos, puxei o fone do gancho.

— Boa noite, em que posso ajudá-lo, senhor Ibrahim? — Dei


um pequeno sorriso de vitória quando minha voz saiu calma, bem

diferente do turbilhão que sentia dentro de mim, e, sem que eu


quisesse, tornou-se ainda maior quando ouvi o som de
descontentamento que emitiu, irritado pela minha formalidade.
— Yazuv — sussurrou com a voz aveludada, perigosa, o que,
contraditoriamente, aqueceu a minha pele, espalhando-se pelo meu
baixo ventre, mostrando o quanto eu era uma carente suscetível aos

homens. Meu sorriso morreu em meus lábios diante disso. — Quero


que você venha até a minha sala, kıymetli. Precisamos resolver
algumas pendências.
— Claro, senhor. — Antes mesmo de desligar, comecei a
pegar minhas coisas e o tablet para anotar tudo que ele precisaria,

quando o ouvi dizer:


— Principalmente alguns equívocos que ficaram entre nós
dois.
Engoli em seco ao escutar sua última frase dita com
seriedade, minha mente procurando desesperadamente um
significado para ela, uma explicação que parecia bastante longe da

minha compreensão.
— Não entendi...? — acabei externando em voz alta.
— Não demore, değerli — disse roucamente —, estou
bastante ansioso.
Não me respondeu, deixando-me na expectativa. Desligando
na minha cara, me deixando atônita, com a respiração

descompassada, consciente do poder que dele emanava, da


sensualidade que havia no seu tom, prendendo-me em sua teia,
provavelmente brincando comigo por eu ser fácil demais.
Provavelmente sabia que, com seus carinhos, o lado terno, o me
teria no lugar que ele queria. Dominando-me ainda mais através das
sensações que me despertava, me faria apaixonar por ele por meio

do sexo, algo que para ele seria algo sem significado.


Um vazio me dominou, e por alguns momentos, com certeza
vários minutos, eu fiquei fitando o nada, o que me levou a uma
espécie de torpor. Me ergui, arrumando os meus cabelos
minimamente e passando as mãos suavemente na minha saia para

desfazer uma prega. Com a indiferença oprimindo todos os meus


sentimentos, como se fosse um autômato, peguei minhas coisas e,
com passos lentos, caminhei até a enorme porta de madeira maciça
que fechava o seu escritório e bati.
— Senhor Ibrahim? — Mal consegui reconhecer a minha
própria voz, que parecia desprovida de qualquer sentimento.

Estava na defensiva. Como podia me sentir tão ferida por um


estranho? Alguém que não deveria ter esse poder sobre mim, mas
que eu tinha concedido ao entregar-me a ele. Como a mulher boba
que todos os homens que me aproximei usaram e que eu mesma
achava que era.
— Entre — a voz soou abafada pela superfície de madeira,

mas meu corpo não reagiu a ele dessa vez.


Girando a maçaneta, adentrei no ambiente, mal reparando na
decoração austera, que com certeza combinava com a
personalidade rígida do turco, focando no homem sentado atrás da
mesa, que embora não fosse tão grande, ainda era imponente,
passava uma imagem de poder. Diferentemente de quando fugi da

sala de reuniões, não me escondi do seu olhar intenso, que


percorria todo o meu corpo e parecia apreciar o fato dos meus
cabelos estarem soltos. Um sorriso pairava em seus lábios,
maliciosos.
Contudo não senti o regozijo, que sempre me dominava
quando ele me encarava com tanto desejo, nem o calor que se

espalhava pelo meu corpo que me fazia estremecer. E ele percebeu,


já que sua expressão se tornou uma máscara fria e arrogante, que
poderia colocar medo em todos, mas descobri que eu não o temia.
Mas os olhos dele o traíam, revelando seu desconcerto,
contrariedade, até mesmo rejeição. O que vi me fez estacar no meio

do caminho e a indiferença que sentia quando entrei naquela sala


se evaporou, e me fez voltar a ser aquela mulher sensível, frágil.
Suscetível. Me odiei por ser capaz de causar tal fragilidade nele,
não suportando o fato de que eu poderia ser cruel, mesmo que ele
não tenha agido como o mais nobre dos cavalheiros. Me senti outra
vez como uma boba, pois os sentimentos dele, se é que não me

enganei, foram rapidamente mascarados pela frieza gélida nas duas


ônix e pela fria cortesia, me mostrando, mais uma vez, que não
tinha poder nenhum de feri-lo. Eu era insignificante em sua vida. Tal
pensamento fez com que eu corrigisse a minha postura sob o
escrutínio dele e me aproximasse de onde ele estava, fingindo uma
indiferença que não sentia.

— Sente-se, benim değerli — disse gravemente —, temos


muito o que resolver, embora seja tarde.
Não disse nada sobre o horário, não cabia a mim questioná-
lo. Sabia que muita coisa mudaria na minha rotina com o meu novo
cargo e estava pronta para me afundar no trabalho, algo que seria
bem-vindo depois das decepções, mesmo que meu chefe fosse a

causa de algumas delas. Apenas concordei com a cabeça, fazendo


com que algumas mechas do meu cabelo roçassem no meu braço,
e vislumbrei um brilho de apreciação quebrando sua rigidez. Não
querendo me deixar levar por isso, puxei uma cadeira de couro em
frente a mesa e me sentei, colocando minhas coisas em cima da
mesa, sem pedir permissão.

— O que gostaria de jantar? — A voz foi aveludada, e eu não


escondi a minha confusão ao vê-lo mexendo no telefone. Ele ergueu
um pouco o rosto, dando-me um sorriso que fez meu coração se
acelerar em resposta, destruindo o restante das minhas barreiras,
mostrando a minha fraqueza, principalmente quando ele estava

disposto a ser gentil. — Você deve estar com fome. — Fez uma
pausa, adotando na sua próxima fala um duplo sentido que me
arrepiou contra a minha vontade: — Confesso que estou faminto.
Ficamos nos encarando por longos minutos em silêncio, que
somente era quebrado pelo som das nossas respirações
entrecortadas, acompanhando a tensão que parecia fluir entre nós
dois. Umedeci meus lábios ao senti-los ressecados, gesto que foi
acompanhado por ele, e buscando um pouco de controle, desviei
minha atenção para a imensa janela panorâmica, que deixava ver
ao longe a silhueta escura do rio Chicago, iluminado pelo brilho das
estrelas. Deus, por que perante aquele homem eu me comportava
sempre como uma boba? Como se não fosse capaz de controlar

meus impulsos.
Estava mesmo disposta a transar com o turco novamente e
quebrar meu coração, já que parecia inevitável não me apaixonar
por ele? Um homem que, como meu ex, só iria me machucar?
Sendo justa, em momento nenhum ele me fez qualquer promessa.
— E então, Val? — o tom descompassado dele fez com que

eu o encarasse novamente, acordando dos meus pensamentos.


— O quê, senhor? — Mexi desconfortavelmente na cadeira e
puxei o ar devagarinho, tentando acalmar as sensações
desencadeadas por ele.
— O que quer para o jantar? Estou pedindo um sonoma, uma

espécie de ravioli de queijo de cabra para mim com caldo, no Ocean


Prime.
— Não é necessário pedir nada para mim. — Dei um sorriso
com a sua gentileza, evitando me sentir culpada por ele estar
fazendo o meu trabalho, e peguei o tablet para começar a trabalhar,
era bem melhor me ocupar do que me deixar levar por aquele

homem e sua aura magnética, por aquela breve demonstração de


preocupação com o meu bem-estar. Uma funcionária, disse para
mim mesmo, eu era só sua funcionária. — Estou bem assim.
Ele arqueou a sobrancelha escura, demonstrando claramente
seu descontentamento, atenuado por um rilhar de dentes.
— Isso está fora de questão, değerli — falou de um modo

que não permitia que eu o contradissesse, mostrando que não


gostava que o contrariasse e que era um homem que conseguia o
que queria, não descansando enquanto não tivesse sucesso.
— Comi… — Fez um gesto com a mão para que eu parasse
e, pegando-me desprevenida, esticou o braço, pousou a palma
sobre a minha mão que estava sobre a mesa, e a acariciou. O calor

de pele contra pele, a sedução do seu toque, foi o modo como ele
encontrou para me submeter. E eu não consegui conter um suspiro
baixinho pela carícia inesperada, principalmente quando ele
começou a traçar com as pontas dos dedos pequenos círculos,
arrepiando-me. Desse jeito, ele roubava a minha força de vontade

de resistir.
— Desejo que você jante comigo hoje. — Seu tom foi rouco.
— Não me negue esse pequeno prazer.
— Eu… — Não tinha forças para dizer não, principalmente
quando ele me fitava com seus olhos escuros sedutores. A

expressão dele se tornou suave, bem parecida com o homem que


tinha me beijado e feito amor comigo carinhosamente.
Eu estava completamente ferrada e não tinha ideia de como
sobreviveria trabalhar com ele, ainda mais se ele continuasse a agir
com tamanha ternura, me fazendo sentir especial, embora tivesse
certeza que sua intenção fosse apenas me seduzir para me levar

para cama de novo.


— Diga que sim, kıymetli.
Inclinando-se na mesa, levantou a minha mão e a levou em
direção aos lábios, beijando-a novamente. Sentir o calor dele, os
pelinhos da barba contra a minha pele, sufocou qualquer chance
que tinha de negar. Estava hipnotizada pelo seu olhar pidão, pela

maciez dos lábios contra a minha pele, deixando um rastro úmido


por onde passava, pelos sons que ele emitia, como se isso desse a
ele também prazer. O turco parecia gostar muito de beijar meus
dedos, o porquê, eu não fazia ideia. Embora fosse delicioso, uma
carícia simples e envolvente, que me fazia sentir enlevada, algo
dentro de mim preferia que ele me beijasse nos lábios, esmagando

a minha boca com a sua, sua língua enroscando na minha, até que
perdêssemos o ar. Só de imaginar fez com que minha respiração
acelerasse ainda mais com o desejo e um calor líquido banhasse as
minhas veias.
— Tudo bem — falei baixinho, mole. Tentei ignorar o fato de
que estava sendo manipulada por ele, enquanto tentava convencer

a mim mesma que não passaria de um jantar informal para tratar de


assuntos de trabalho. Não era um encontro romântico, e estava
longe de ser, por mais que o toque de Yazuv embriagasse meus
sentidos, fazendo-me imaginar coisas que não existiriam mais entre
nós dois.

Bastou lembrar da sua expressão de mais cedo, cética, para


que aquela magia criada pelo toque, pelo olhar, e a voz aveludada,
se dissolvesse instantaneamente, o frio tomando lugar do calor.
Senti uma pontada de dor no peito pela realidade e eu afastei a
minha mão, pousando-a sobre o meu colo, mesmo que sentisse
amargamente a perda do contato. Ele emitiu um chiado de

desagrado, as sobrancelhas se franzindo, sua boca repuxando em


uma careta, mas voltou a se acomodar na cadeira.
— O que você vai querer, benim değerli? — A voz soou
cortante, demonstrando o seu descontentamento, descontando em
mim sua frustração, mas não me importei.

Conviver com o temperamento dele seria o menor dos meus


problemas. Estava acostumada a personalidade explosiva do antigo
diretor e dos subchefes do departamento que eu trabalhava,
homens ignorantes que, além de muitas vezes exigirem que os
funcionários fizessem seu trabalho, e quando algo saía errado, eles
costumavam jogar neles a culpa pelos seus próprios erros. Então

lidar profissionalmente com Yazuv não seria tão difícil, e além do


mais eu seria muito bem paga para isso, recebendo um salário que
nunca imaginei ganhar na vida, nem mesmo quando eu alcançasse
o auge da minha carreira. Sabia que nenhuma secretária executiva
ganhava tão bem assim, mas ao mesmo tempo evitei pensar na

possibilidade de que aquele homem estivesse me recompensando


pela noite que tivemos juntos, pois só me traria dor, mesmo que a
ideia fosse tola. Não imaginava aquele homem pagando por sexo.
A parte mais difícil, não havia dúvidas, seria sufocar os
sentimentos que ele suscitava e a avalanche de decepções que ele
ainda me traria, que apenas tinha começado. Talvez a pior fosse
lutar contra mim mesma, com a minha infantilidade e esperança de
viver um dia um conto de fadas.
Eu não era uma plebeia que se transformava em princesa, e
ele muito menos o príncipe encantado e apaixonado.
— Valdete? — inquiriu grosseiramente, e eu saí do transe

que estava.
— Sim, senhor? — Fitei-o. — Desculpe-me.
— O que quer para o jantar? — Demonstrou impaciência. —
Estamos perdendo tempo.
— Uma salada qualquer está de bom tamanho para mim —
disse ao dar um sorriso que provavelmente não chegou aos meus

olhos.
Não queria nos dar o trabalho de ter que olhar o cardápio,
atrasando ainda mais o pedido, já que não tinha ideia do que era
servido naquele lugar, apesar de intuir que custaria mais do que
pretendia pagar. E além do mais não estava com fome.

Ele bufou de exasperação e percebi que seus olhos


percorreram lentamente o que dava do meu corpo.
— Não imaginei que você fosse dessas. — Seu tom soou
grave, desaprovador, ao mesmo tempo que o olhar faminto o
contradizia.
Ele estava tentando me enlouquecer?

— Dessas? — Franzi o cenho em confusão, e sem que eu


percebesse, passei o dedo na borda da mesa.
— Dessas mulheres que vivem de dieta.
— Ah!

— Seu corpo é delicioso assim, güzel[23] — a voz rouca e


sensual me excitou de maneiras inimagináveis, tanto que tive que
roçar as pernas uma na outra por conta da pulsação em meu sexo.

Nunca ninguém foi capaz de despertar tal ânsia em mim apenas


com um elogio. Embora não me lembrasse que alguém tivesse me
elogiado de uma forma que ia para além do profissional. Fechei os
olhos e inspirei fundo, tentando lutar contra o desejo insano que me
consumia, principalmente quando fui bombardeada por imagens do
quanto ele me fez sentir deliciosa, a mulher mais irresistível mesmo

com todas as imperfeições que eu sabia que era dona, mas que o
turco foi capaz de passar por cima.
— Para mim você está perfeita. Mais do que você pode
imaginar…
Ficamos em silêncio por vários minutos, e escutava apenas o

ribombar do meu coração que batia acelerado. Ele estava me


provocando, aumentando a minha tensão, mesmo assim, pelo seu
olhar, percebi que suas palavras pareciam virar contra ele. Mas eu
tinha que colocar um fim naquilo antes que eu me arrependesse e
enredasse ainda mais naquele caso que terminaria com um final

infeliz. Para mim.


— Admiro quem consegue seguir uma dieta, mas não é para
mim — voltei a um assunto mais seguro ao abrir os olhos, embora
meu timbre me delatasse.
— Então um prato com ravioli para você também, pode ser?
— Foi gentil.

Para minha surpresa, abriu um sorriso, parecendo bem mais


composto do que eu, como se momentos atrás ele não tivesse sido
arrastado pela tensão sexual por ele criada. Quis bufar com
irritação, mas apenas joguei uma mecha do meu cabelo para trás.
— E suponho que uma salada também? — zombou em uma
rara demonstração de relaxamento ao pegar novamente o celular.

Não contive uma gargalhada. Aquele homem ficava ainda mais


bonito quando se permitia sorrir, brincar.
— Acho que não combina muito — disse suavemente —,
mas vai que fica bom. — Fiz uma careta e ele riu, o som rouco
reverberando por todo o meu corpo.

— Podemos tentar — seus olhos cintilaram. — Vinho?


— Não no trabalho e quando preciso dirigir para voltar para
casa. Mas se quiser, pode ficar à vontade.
— Não costumo beber. Não que eu siga a religião
muçulmana piamente, mas costumo me abster de bebidas
alcóolicas. Só abro uma exceção para o raki.
— Raki? — perguntei, curiosa.

— Um licor feito com uvas e figos, temperado com anis


estrelado. É uma bebida bem popular na Turquia.
— Parece bom.
— Se você gostar de bebidas fortes — deu de ombros,
gargalhando baixinho, quando fiz uma expressão não muito

amigável, já que não curtia muito. Terminou de mexer no celular,


jogando-o em cima da mesa displicentemente.
— Depois você me fala quanto ficou a minha parte, eu acerto
com você — ofereci, pois sempre que tínhamos reunião de trabalho
e comíamos fora, costumávamos dividir a conta, mas soube que
tinha cometido um erro quando o encarei.

O pequeno estado de relaxamento dele deu lugar aquela


máscara fria, a breve camaradagem sumindo na expressão austera.
— Não é necessário.
— Eu posso pagar — insisti, mas não tão mais segura assim
diante do olhar que me lançou.

— E eu também — soou arrogante, embora seus olhos


tenham ficado mais suaves, bem como sua expressão —, você me
insulta fazendo isso. É minha convidada.
— Tudo bem, não quis ofendê-lo.
— Você me deve um jantar, sevegli — continuou como se
não tivesse me escutado, dizendo tão baixinho, como se fosse mais

para si mesmo, mas sem deixar de me encarar fixamente. Temi não


ter escutado direito. — Na verdade, um café da manhã.
Traguei em seco quando minha pulsação aumentou quando
percebi pela sua fala que ele queria ter acordado comigo em seus
braços, tomado o café talvez na sacada do hotel luxuoso, como se

fôssemos um casal que ansiava pela companhia um do outro. A


ideia era simplesmente ridícula demais só para considerar, ainda
mais quando isso parecia tão íntimo, como aqueles breves
momentos em que tínhamos rido de uma coisa boba. Com o silêncio
novamente caindo pesado sobre nós dois, forcei-me a dizer algo ao
mesmo tempo que abria o meu caderno com minhas anotações e

ligava o tablet:
— Não tínhamos alguns assuntos pendentes sobre a minha
nova função?
Os olhos escuros dele cintilaram perigosamente, como se
não houvesse gostado de que eu o lembrasse do motivo de ter sido

chamada ali. Mas eu precisava mais do que tudo daquele terreno


seguro, que me impedia de trilhar ainda mais por aquele caminho
perigoso para mim, o da fantasia.
— Seu ex-secretário me deu acesso a sua caixa de e-mail,
aos documentos que preciso organizar e a sua agenda — continuei.
— Ótimo. — Emitiu um suspiro cansado e se jogou na

cadeira displicentemente. — Ele te colocou a par de todas as suas


funções como a minha secretária?
Assenti com a cabeça, concordando.
— Comecei a me familiarizar com tudo, principalmente com
os detalhes da sua rotina — afundei-me no trabalho, enumerando

meu progresso, fitando a lista que tinha redigido. — Amanhã cedo,


começo a organizar os documentos recebidos hoje por ordem de
prioridade no e-mail enquanto os físicos não são enviados. Não sei
se deveria, mas tomei a iniciativa de abrir a caixa de entrada quando
tive um tempinho a tarde e sinalizei alguns e-mails que me
pareceram importantes e que exigem sua atenção.
— Darei uma olhada neles pela manhã.
— Pedirei que alguém busque suas roupas e as leve para a
lavanderia — continuei —, e também confirmei com a empresa
encarregada da limpeza do seu apartamento para depois de
amanhã. Você tem preferência por alguma equipe? Eles me pediram
para informar se você tinha, bem como dos materiais a serem

utilizados. Alguma fragrância em específico? Lavanda? Pinho?


— Não, não entendo nada disso, mas se você tiver alguma
preferência — sorriu lentamente para mim, o predador nele voltando
com tudo —, eu confio plenamente em você e no seu gosto.
— Okay. — Mordisquei meus lábios quando senti meus
pelinhos se arrepiarem com as suas implicações, e ele pareceu

apreciar e muito minha reação.


— Gosto do seu cheiro, değerli. — Seu olhar fez com que
minhas pernas virassem gelatina. — Do seu perfume. Você me
embriaga…
Não respondi, apenas respirei fundo, buscando não emitir

nenhum gemido de prazer, tentando não sucumbir a ele e a vontade


que me acometeu de sentir a barba dele roçando na minha nuca
enquanto inspirava a fragrância diretamente da minha pele, seus
lábios macios bem próximos de mim novamente. Sabia que o
perfume que tinha passado mais cedo deveria ter, nessa hora,
evaporado. Provavelmente eu precisava mesmo era de um banho
depois de um longo expediente, um grande choque de realidade.

Ele apenas brincava com palavras, precisava lembrar disso.


Pigarreei.
— Não foi para ouvir a sua agenda que você me chamou,
não é mesmo, senhor? — Minha voz foi controlada, o mais
profissional possível, o que exigiu toda a minha força de vontade.

Peguei a caneta, e fiquei rabiscando algo na folha de papel.


— Não, e, pelo jeito, você não irá relaxar enquanto eu não
disser o motivo, certo? — Seu sorriso se transformou em amargor e
ele não conteve o som de exasperação.
Para um homem frio, ele parecia demonstrar e muito o seu
descontentamento.

— Acho que ficou bastante claro que confio no seu


profissionalismo para tomar decisões e solucionar problemas dentro
da Motors, principalmente quando eu não estiver presente, e desejo
que você não hesite em adotar nenhuma medida que for necessária
para que consigamos alcançar novamente a excelência e sermos a

referência no mercado de peças automotivas.


— Sim, e eu agradeço a confiança no meu trabalho.
Um calorzinho gostoso por ele me dar tal responsabilidade,
mesmo que ele conhecesse muito pouco sobre mim neste aspecto,
embora tenha certeza que ele deve ter checado minhas referências.
Poderia pensar que era porque tinha ido para cama com ele, mas
sabia que aquele homem poderoso não era leviano e descuidado a

esse ponto. Mas, raciocinando claramente, a verdade era que não


importava muito a razão pela qual ele me deu essa oportunidade
dentre várias outras pessoas, sabia que eu faria o melhor para não
o decepcionar e desperdiçar essa chance, mesmo que tivesse que
viver e respirar pela Motors. Ele não tinha ideia o quão aquilo era

importante para mim e eu iria agarrar aquela chance de crescer com


unhas e dentes. Viraria uma máquina se preciso fosse, suprimindo
todos os meus sentimentos pelo turco no processo.
Mas, ainda assim, tinha uma questão que tinha ficado em
aberto para mim:
— Sobre os diretores, por que tirar a autonomia deles?

— Eu não posso confiar plenamente neles — voltou a ser o


homem rígido, completamente focado nos negócios que tinha a sua
frente —, acredito que, com base em algumas informações que
analisei previamente, que um deles, ou mais pessoas, tem utilizado
do seu poder para comandar um esquema de desvio de dinheiro
que foi completamente ignorado pelo antigo dono por má gestão e

descuido.
Pensei por alguns minutos sobre o assunto, que no meu caso
tinha ficado muitas vezes no campo das hipóteses, já que não era
da minha alçada, e assenti, admirada pela astúcia de Yazuv. Não
adiantava injetar mais capital se o esquema continuasse.
— É uma ideia plausível, senhor Ibrahim. Todos sabem que a

Motors vinha passando por uma administração questionável nas


mãos do antigo presidente, que se preocupava bem mais com si
mesmo, do que com os nossos clientes, produtos, e relações
comerciais, perdendo uma significativa fatia do mercado para as
concorrentes. Mesmo assim, não sabia se era algo suficiente para

tal derrocada, não ao ponto de falência.


— Não descarto a possibilidade de Alfred estar envolvido
também, não seria a primeira vez que um CEO dilapida uma
empresa dessa forma. — Franziu o cenho. — Instaurarei uma
investigação sigilosa para tentar descobrir quem ou quais pessoas
estão envolvidas com o esquema, para tomar as devidas

providências o mais rápido possível.


— Entendo. — Um calafrio me varreu quando minha mente
começou a pensar em várias possibilidades. — Mas como eu me
relacionaria com tudo isso?
— Como você é a única em quem eu confio, quero que me
ajude a analisar cada documento e os dados disponibilizados, antes

que eu passe aos investigadores particulares que irão mais fundo.


Não há ninguém mais que possa me auxiliar nesse processo e que
entenda minimamente o funcionamento da Motors, como os valores
das peças e o que é gasto com matéria prima.
Fez uma pausa e meu coração saltou no peito, demorando a
assimilar seu pedido. Deveria me sentir exultante por aquela

oportunidade tão grandiosa de me tornar, literalmente, o braço


direito dele, mas sabia que estava correndo um grande perigo,
mesmo que não tivesse escolha para recusar a oferta. Seus olhos
deixavam mais do que claro que não aceitaria uma negativa.
Se antes eu imaginava que ele iria me punir por tê-lo deixado

com a demissão, agora tinha certeza que o turco se vingaria me


fazendo ficar ainda mais próximo a ele.
Esse temor se confirmou com as suas próximas palavras,
sussurradas lenta e sensualmente:
— O que significa que passaremos muito tempo juntos,
benim değerli. — Deu um sorriso diabólico, que ao mesmo tempo

que me fez ficar receosa, aqueceu-me com os prazeres nele


contido. — Inclusive finais de semanas e feriados. E mal posso
esperar por isso.
Sabia que meu sorriso deveria estar cada vez maior pelo
contentamento que sentia ao saber que meu plano de forçá-la ficar

mais próximo a mim estava em andamento e que ela não perderia

essa grande oportunidade para a sua carreira.

Val era uma mulher inteligente, e pelo que tinha visto no

relatório sobre ela, intui que não desperdiçaria a chance de colocar


em prática os seus conhecimentos. Ela merecia muito mais do que

lidar com tarefas que não estimulassem o seu potencial.

E além do mais, não havia dado nenhuma escolha para

minha değerli.

Definitivamente, não deixaria que ela recusasse a minha

proposta, o que destruiria o meu plano de sedução, me impedindo

de conhecê-la melhor. E estava disposto a usar toda a minha


persuasão para fazê-la ceder. Colocaria o trabalho que tanto amava

contra ela para que aceitasse. Nunca a perspectiva de trabalhar

com uma mulher me pareceu tão deliciosa, principalmente quando a

fizesse gemer e gozar em meio aos relatórios. Sabia que seria

extenuante para apenas duas pessoas iniciarem a investigação,

mas era parte da minha estratégia, pois já poderia delegar aos


investigadores, então ambos precisaríamos de uma válvula de
escape. E todo o meu ser sabia que ela não resistiria a mim. A
tensão entre nós era palpável, e eu teria minha vingança contra ela

beijando cada pedaço do seu corpo, proporcionando um prazer que

a tornaria ainda mais minha.

Arrogante, ignorei por completo a expressão apática de

quando ela adentrou o meu escritório, bem como a pequena

rejeição ao meu toque, aos meus beijos. Não admitiria que ela tinha
quebrado mais uma vez o meu ego, mexendo com uma parte

indefinível de mim que não queria encarar, temendo descobrir por

que a sua recusa me incomodava, principalmente quando ela

parecia ansiar por aquilo tanto quanto eu.

Afastando esses pensamentos da mente, sabendo que nada

de bom poderia vir deles, fitei o rosto delicado, sentindo uma

opressão estranha apertar meu peito quando percebi que, embora


ela estivesse pendendo a aceitar, como previa, algo a fazia recuar.

Mostrava uma vulnerabilidade que fez com que um gosto amargo

surgisse em minha boca, ainda mais quando ela se abraçou, e seus

olhos azuis sempre brilhantes, tornando-se opacos. Eu soube nesse

instante que ela temia aquela nossa proximidade, de se entregar

mais uma vez as sensações produzidas por nossos corpos. Desviei


o olhar, não conseguindo encarar tal fragilidade nela, isso me

incomodava.
Droga!

Provavelmente Valdete entendeu que aquela tinha sido a


forma que encontrei para puni-la por ter me deixado sozinho
naquela cama. Que estava forçando o contato, manipulando o

desejo que ela nutria por mim, sabendo que, embora ela tentasse
resistir, ela iria para minha cama outra vez, que iria usá-la para

meus próprios fins. Mas me parecia que ia muito além do que


apenas saciar uma necessidade física incontrolável por ela. Eu me

negava a aceitar isso, embora esteja me deixando guiar por esse


desconhecido sentimento.
Cerrei os punhos com força e trinquei os dentes quando a

ideia de que eu estava agindo igual ao meu pai e avô, como um


grande canalha egoísta, me passou pela mente, porém lutei para

afastar tal pensamento. Eu não era como eles. Eu daria todo meu
respeito e devoção a essa mulher, sendo um amante carinhoso,

coisa que aqueles porcos nunca deram a ninguém. Iria tratá-la como
uma igual não apenas no sexo, mas fora dele, e aquela
oportunidade de ser meu braço direito era prova disso. Além de que

nunca iria machucá-la, como os homens da minha família o faziam


com todas que tinham o azar de cruzar seus caminhos. Prometi a

mim mesmo que não a faria sofrer, que seria sincero, e ainda hoje
deixaria isso claro entre nós dois, não queria mais nenhum mal-

entendido se arrastando entre nós.


— Certo — disse em um tom de voz firme, como se

novamente estivesse no controle de si mesma.


Voltei a fitar a mulher à minha frente, percebendo que ela
tinha escondido sua dor e ressalvas sob a máscara profissional.

Seus olhos voltaram a arder, não de desejo como gostaria, mas de


satisfação profissional.

Não podia negar que Valdete parecia conseguir maquiar seus


sentimentos melhor do que eu. Era como se a vulnerabilidade dela
não tivesse existido, sendo apenas fruto da minha imaginação.

Apesar de admirá-la por isso, pois considerava uma característica


importante no mundo corporativo, o fato dela se esconder de mim

sob uma camada de indiferença desgostava-me e muito. Não queria


aquela mulher fria, ainda mais por conhecer o fogo apaixonante que

havia nela. Tinha que admitir que não me importaria se ela tratasse
todos os outros homens com essa forma gélida, desde que ela
guardasse toda a sua volúpia e desejo para mim. Descobri que era
possessivo com relação a ela, ciumento. Queria tudo dela para mim.
Só para mim.
Traguei o ar com força, tentando desfazer o bolo que se

formou na minha garganta, bem como conter minha irritação.


Focaria primeiramente nos negócios, para depois ver como ficaria

nossa vida pessoal. Relaxaríamos primeiro com um bom jantar.


— Quando começamos a investigação, senhor Ibrahim? —
seu tom sério fez com que eu remexesse na cadeira, inquieto, e

voltasse minha atenção para ela, mas que tive que conter a vontade
de rilhar os dentes pela sua formalidade. Queria que seus lábios

convidativos sussurrassem o meu nome do mesmo modo que ela


tinha feito quando esteve nua debaixo de mim. — Creio que você

gostaria de descobrir os culpados o mais rápido possível. Como


dizem, tempo é dinheiro.
— Amanhã, se você estiver disponível.

— Claro, senhor.
Reprimindo a minha vontade de me levantar e acabar de uma

vez com aquela aparência composta, comecei a explicar o que


precisava que ela fizesse e como procederíamos. Ela ouviu
atentamente, fazendo uma série de anotações, pontuando algumas

coisas que achava importante. E, sem perceber, cativo e estimulado


pelo seu profissionalismo e opiniões relevantes, não escondendo a
minha admiração pela mulher que parecia interessada em cada
palavra que eu pronunciava, comecei a expor minhas preocupações

com a empresa e nossos colaboradores, comentando uma série de


detalhes financeiros que, diferentemente dos meus conterrâneos

que gostavam de falar sobre suas finanças, eu não expunha a


ninguém, nem mesmo para Javier. Depositava assim naquela
mulher uma confiança que sabia não ser prudente. Mas meus

instintos, assomado a lembrança dela dizendo com veemência que

não era interesseira, me diziam que ela não me trairia, embora nada
pudesse me dar tal certeza a não ser o tempo.

Naqueles poucos minutos, mergulhei de cabeça, não

pensando nas consequências, precisando daquela mulher não só de

maneira sexual, como pensei nas minhas fantasias. Me peguei


ansiando pela sua opinião, pelos seus olhares de compreensão e

cumplicidade, pelos pequenos sorrisos que de maneira

inimagináveis faziam meu coração se acelerar.


Nunca tinha experimentado essa espécie de companheirismo

com alguma mulher, e não podia negar que estava gostando e

muito, principalmente por compartilhar um pouco do peso que eu


carregava sobre os meus ombros com alguém que não me julgava,
pelo contrário, parecia me compreender um pouco, mesmo que

nossos mundos fossem diferentes. E eu também a escutei,


deixando que ela me revelasse suas preocupações. Mesmo que

fosse apenas uma funcionária do baixo escalão, não tendo voz na

empresa, principalmente por algumas políticas adotadas pela


Motors que acabavam deixando muitos ainda mais inseguros nesse

clima de instabilidade, tentou apontar algumas falhas. Me despertou

a atenção em especial quando ela sugeriu algumas ações para

mitigar os danos que provavelmente surgiriam quando no dia


seguinte fossem publicadas na mídia matérias sobre a venda da

companhia para um comprador estrangeiro, algo que iria discutir

com o departamento de marketing.


Estava tão envolvido pelo som da sua voz, pela conversa,

que até mesmo esqueci da fome que sentia, e tomei um pequeno

susto quando o toque do meu ramal me tirou daquela bolha


poderosa que ela tinha me envolvido.

— Deve ser a nossa comida — disse em um tom suave, com

um leve sorriso pairando em seus lábios. Eu me perdi por alguns

segundos em contemplá-la. Como se fosse possível, ela me


pareceu ainda mais bonita e sedutora, com seus cabelos longos

negros emoldurando o rosto delicado, destacando ainda mais a pele


bronzeada, os olhos azuis assumindo uma tonalidade mais clara

com a simples felicidade de fazer e conversar sobre o que gosta.

Não contive meu próprio sorriso para ela, sentindo-me bem mais
leve, e um desejo desconhecido, diferente de tudo que já senti, me

tomou. E eu temi essa força avassaladora que parecia forte demais

para mim, porque não entendia o que era.

— Posso ir lá embaixo pegar. — Colocou uma mecha de


cabelo atrás da orelha, subitamente tímida sob o meu escrutínio,

parecendo alheia ao turbilhão que alvoroçava o meu interior. — Sei

que há uma ordem para não deixarem ninguém entrar no prédio


nesse horário. Ou pelo menos, havia.

Sua fala fez com que eu me erguesse da cadeira. Precisava

colocar uma pequena distância entre nós para lidar com aquelas

águas turbulentas que se agitavam no meu interior e ameaçavam


me afogar. Tinha que recuperar um pouco do controle tênue que

ainda havia dentro de mim, antes que eu caísse no meu próprio

jogo, tornando-me ainda mais vulnerável a ela do que já me


encontrava. No automático, nem me preocupei em atender o ramal

que voltou a soar. Peguei o meu celular e minha carteira, colocando-

os no bolso da calça, dei a volta na mesa, parando bem próximo a


Val, que agora parecia hesitar, consciente do meu estado de

espírito.
— Está tudo bem? — Questionou-me em uma voz

preocupada, o clima descontraído, tinha dado lugar a uma tensão

difícil de ignorar.
Quando girei sua cadeira em minha direção, ergueu a mão

para me tocar quando me inclinei sobre ela, porém não o fez, o que

de algum modo só alimentou a sensação agonizante que me

agitava.
Meu rosto pairou a centímetros da sua boca que passei o dia

todo querendo tocar, nossas respirações se mesclando uma à outra.

— Eu vou buscar — sussurrei. Estava por um fio —, você


pode pegar talheres, copos e pratos no armário da copa e colocar

aqui na mesa de centro?

Ela umedeceu os lábios como se estivesse nervosa, e por um

momento um brilho de desejo ardeu nas duas safiras.


— Não iremos utilizar a mesa de refeições da copa?

— Não, sevgili.

Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa e eu pudesse


refletir as razões pelas quais precisava e muito que nossos corpos

se tocassem, cobri os lábios dela com os meus em um selinho, o


pequeno contato eletrizando-me ainda mais, reconhecendo aquela

suavidade. Emitindo um pequeno gemido, a mulher tentou

intensificar o contato, movendo-se em minha direção, querendo

aquilo tanto quanto eu, mas eu me afastei. Ela piscou os olhos,


parecendo subitamente confusa, os lábios entreabertos em um

convite.

— Preciso ir — disse com a voz entrecortada.


Toquei o rosto dela, acariciando-a, enquanto fitava os olhos

azuis que me revelavam tudo o que eu precisava saber.

Controlando-me para não a beijar outra vez, dessa vez, dando

vazão aquilo que me queimava, endireitei o corpo.


— Verdade — sussurrou e abriu um sorriso enorme capaz de

me desarmar de vez. Novamente tive a sensação de que só de fitá-

la eu ficava mais leve. — Confesso que acabei ficando com fome.


Arqueei a sobrancelha para ela, como se eu dissesse “eu

falei”, balançando a cabeça em negativa. Mas não contive uma

gargalhada quando o meu próprio estômago roncou.

— Eu não demoro, değerli — dei um beijo suave em seus


lábios de novo, mas não menos abrasador.

E sem esperar uma resposta, fui em direção a porta, não

contendo outra gargalhada quando a voz feminina me provocou,


zombeteira:

— Conto com isso.


Enquanto ia até a portaria, fui pensando no desejo violento
que tinha me dominado ao beijá-la, algo que ia além do prazer

físico. Esse breve afastamento era mais do que necessário para me

ajudar a me conter, por isso não mandei que deixassem o


entregador subir.

Ainda a desejava e muito, precisava do seu corpo nu sob o


meu, mas não ao ponto de não conseguir me dominar. Minha

confiança natural foi retomando, que sussurrava a mim mesmo que

não deveria me deixar levar por essa insanidade.

Mas sabia que estava mentindo para mim mesmo, pois como

um homem faminto, ou como um grande estúpido, eu sabia que

mergulharia novamente naquele mar de sensações sem me

importar com o que elas significavam e suas repercussões.


Estava contrariando minha personalidade, que sempre

calculava os riscos. Sabia que na próxima oportunidade, o temor

não iria me paralisaria, e iria apreciar cada segundo da experiência.

Não deixaria que nada me impedisse de desfrutar um belo

jantar com aquela mulher. Quando cheguei na portaria, encontrei o

entregador conversando com o segurança.


— Senhor? — Sua voz não escondia sua surpresa. — Eu
teria levado a encomenda para o senhor se soubesse que não tinha

ninguém para vir buscar.

— Não se preocupe. — Peguei minha carteira, tirei duas

notas de cem dólares, entregando uma ao segurança que estava na

portaria, que ficou ainda mais estarrecido, e a outra ao entregador,

que me encarou, com os olhos arregalados.


— O-obri-ga-do — gaguejou. — Deixa que eu levo para o

senhor.

— Não será necessário.

Virei as costas, concentrado em pegar as sacolas que

estavam em cima do balcão de mármore, equilibrando-as, tomando

cuidado para não as tombar, e fui em direção ao elevador. Além do

ravioli com bastante caldo e salada, acabei decidindo pedir outras


coisas, inclusive uma pequena surpresa para benim değerli, em um

pequeno capricho. Sabia que não era o jantar que ela merecia, que

deveria ser num restaurante luxuoso, a luz de velas e ao som de

uma boa música, onde todos poderiam nos ver, mas tive medo de

convidá-la e ser rechaçado, incerto se ela gostaria de tal exposição.

Enquanto entrava no elevador, apertando o botão


desajeitadamente, fui dominado por uma ansiedade esquisita. Me
deu uma vontade enorme de remover a gravata que parecia apertar

a minha garganta. Um suor frio me tomou, tornando um pouco mais


difícil segurar as alças das sacolas. Era como se tudo em mim

precisasse da aprovação dela nessa minha pequena tentativa de


termos um momento a sós que não envolvesse trabalho. Algo
íntimo. De fato, não tinha mentido quando sem querer disse em voz

alta que queria a continuação daquilo que teríamos feito se ela não
tivesse escapulido no meio da madrugada. Não necessariamente na

ordem que eu tinha em mente naquele dia, já que eu pretendia ter


feito mais sexo primeiro, para depois passar ao café. Mas sabia que

eu queria terminar aquela noite beijando-a da forma que tinha me


negado minutos atrás.
Valdete seria minha essa noite e me certificaria de que, dessa

vez, quando a levasse para o meu apartamento, ela iria acordar na


minha cama.

Na caixa de metal, vendo os andares passando mais


lentamente do que o normal, algo que pediria para a equipe de

manutenção checar, ansiei por retomarmos a cumplicidade que


tivemos quando discutimos a situação da Motors. Praguejei baixinho
em turco perante a esse desejo sem sentido. Se eu não me

conhecesse bem o suficiente, até mesmo acreditaria que eu estava


ansiando por algo que iria muito além do que mero prazer. Bufei em

exasperação. Não podia estar querendo um relacionamento sério


com ela, algo que só traria mágoas, ressentimento e estresse para

ambas as partes. Tudo se resumiria a cobranças e brigas, até que o


ressentimento acabasse com a paixão que existia. E também os

meus negócios não comportariam tal coisa. Não tinha tempo para
me dedicar a ninguém. Sabia que estava sendo hipócrita, já que
pretendia passar muito tempo me perdendo nas curvas suaves do

corpo delgado.
Fechei a cara, na habitual expressão severa, torcendo os

lábios.
Então porque eu estava desejando coisas que pareciam
pertencer ao pacote “relacionamento sério” e não ao do “sexo

casual”?
Era patético.

Nem queria imaginar o que Javier diria de mim caso


soubesse o rumo dos meus pensamentos. Minha vingança sexual

parecia estar se transformando em ânsia de conversar, de passar


momentos que nada tinham a ver com apenas corpos nus sedentos
pelo ápice. Ele riria alto, embora não achasse graça. E eu fiquei com

o humor ainda mais azedo, só podendo xingar a mim mesmo. Mas


não tive muito mais tempo para me martirizar, pois as portas se
abriram no último andar, e mesmo irritado, aquela ânsia de fazer
uma refeição a sós com ela, de estar próximo dela, retornou com

toda a sua força. Com o passo acelerado, tomando cuidado para


que as sacolas não escapassem dos meus dedos suados, passei

pela recepção que tinha mandado reformar pensando no conforto da


mulher, pedindo que a equipe de arquitetos acrescentasse
pequenos elementos decorativos que pudessem ser mais a cara

dela, embora não conhecesse nada do seu gosto. Val poderia trocar
se quisesse.

Mas toda a minha frustração comigo mesmo e com meus


desvaneios sobre o que eu desejava se dissolveu em um sorriso,

meu coração batendo rápido no peito enquanto minha boca secava,


quando entrei no meu escritório e a encontrei de joelhos próxima a
mesa de centro, concentrada em algo, os cabelos negros e

volumosos caindo sobre a lateral do corpo. Se durante toda a nossa


conversa, eu estava doido para passar meus dedos pelos fios que

eu sabia serem macios, agora muito mais. A luz dourada do spot era
como um halo sobre ela, tornando-a ainda mais angelical, melhor,
sedutora. O desejo foi como lava quente em minhas veias, minha

pelve reagindo dolorosamente a imagem dela, fazendo até que eu


me esquecesse da minha fome por comida. Meu apetite agora era
por ela.
Era desconcertante como aquela mulher era capaz de me

levar aquele estado de excitação somente com a sua presença,


testando os meus limites e meu autocontrole.

E aquele sentimento desconhecido voltou a se acender em


mim, brando, mas existente, capaz de me deixar eufórico.
Devo ter feito algum som, pois ela se virou para mim com um

sorriso radiante nos lábios que pareciam chegar aos olhos, fazendo

com que eu segurasse com ainda mais força as alças, pois, agora,
temia que realmente caíssem da minha mão.

— Precisa de ajuda? — ofereceu suavemente.

Levantou-se e jogou os cabelos para trás, ajeitando-os, talvez

buscando retomar um pouco do ar de profissional que ela tinha


antes. Passou as mãos pela saia, acho que tentando desamassar o

tecido, como se precisasse estar impecável e eu fosse exigir dela

isso depois de várias horas de trabalho. Sendo honesto, achava que


ela ficava incrivelmente sexy desalinhada, com os cabelos soltos,

desordenados, e o desejo que eles me suscitaram era a prova viva

disso. Tive que conter minha vontade de demonstrar a minha


irritação por Val voltar sempre a se controlar, claramente tentando
colocar barreiras e muros entre nós, uma tentativa inútil, porque iria

derrubá-los um a um. Teria que tirar a gravata, ela voltou a me


asfixiar.

Aquela pergunta, um pequeno gesto de buscar uma ordem

em si, foi o suficiente para que eu saísse do torpor paralisante e


começasse a se movimentar novamente.

— Não é necessário — minha voz saiu áspera e percebi que

ela franziu o cenho, dando de ombros, assistindo a minha cautela e

meu malabarismo com as sacolas.


— Tudo bem. — Fez uma pausa, e meu olhar pousou nas

mãos entrelaçadas à frente do corpo, como se temesse ter feito algo

errado e eu resmunguei, aborrecido, fazendo com que ela desse um


pulinho para trás antes de falar: — Acho que peguei tudo que pediu

na copa. Não trouxe a garrafa de água, porque não sabia se

gostaria de beber algo durante a refeição.


Balancei a cabeça em negativa e cuidadosamente pousei os

invólucros em cima da mesinha.

— Pedi um suco de uva integral, espero que goste, tatlım —

modulei meu tom para um mais suave, tentando romper a tensão


que eu mesmo tinha criado.
Bok[24], não queria me comportar como um ogro, acabando
com a camaradagem entre nós dois, com a minha noite de sedução,

fazendo com que ela colocasse ainda mais barreiras entre nós dois,

dessa vez solidificadas pelo ressentimento.


— Só não tenho muita certeza se combina com o sonoma.

Dei um sorriso singelo, fitando os olhos azuis que brilharam,

e meu corpo todo tremeu de desejo quando ouvi a risada baixa e

sedosa ecoar pelo cômodo. Vi que Val não estava mais tão retraída,
pelo contrário, parecia radiante.

— Nada pode ficar ruim com suco de uva — seu tom foi

travesso, agindo como um afrodisíaco para a minha excitação,


tanto, que nem consegui esconder a minha ereção. Por sorte, ou

azar, considerando o ponto de vista, que ela não estava fitando

aquele lugar em específico. — É uma das minhas bebidas favoritas.

Como soube, senhor? — provocou-me e me encarou por alguns


segundos, como se a resposta estivesse estampada na minha face.

Felizmente seu sorriso não havia morrido, embora seu tom tivesse

uma mistura de diversão e censura. Era algo que ninguém ousava


fazer, exceto meus parentes. Mas o fato não me irritou como pensei

que aconteceria, talvez por ser ela e pela alegria que cintilava em
seu rosto. — Não sabia que esse tipo de informação constava em

relatórios.
— O quê? — Não escondi a minha surpresa e parei com a

mão na gravata que iria remover no automático.

Ela arqueou a sobrancelha.


— Imagino que antes de me dar uma promoção e depositar

sua confiança em mim, deve ter feito um bom levantamento sobre

minha vida pregressa — repreendeu-me suavemente e caiu na

risada, provavelmente minha expressão, que formou uma careta de


desgosto, me denunciou —, não se preocupe, não esperava outra

coisa do senhor.

— Entendo — soei estrangulado e comecei a desfazer o nó


da minha gravata. Vi que uma rápida centelha de desejo cruzou

seus olhos, mas foi rapidamente sufocada. Ótimo, odiava sua

indiferença, e ver que me apreciava, alimentava o ego que foi

fragilizado por ela.


— E então? — perguntou quando eu puxei o tecido de seda

em um tranco, que deixei cair no chão, sem me importar. Tinha

dezenas em meu armário.


— O quê? — Comecei a remover a abotoadura de ouro.

— O relatório sobre mim…


— Tinha somente coisas a respeito da sua formação

acadêmica e sobre o seu desempenho dentro da empresa, nada

mais — dei de ombros, erguendo a mão em um gesto de paz e sorri,

ao qual ela retribuiu. — A bebida foi apenas uma escolha acertada.


Não deveria expor a ela o meu anseio em saber mais sobre

ela, das pequenas coisas que acabaria descobrindo se tivéssemos

uma relação, mesmo assim revelei nas entrelinhas meu pesar por
não saber esses detalhes como gostos e o que ela reprovava, que

se estendia por não saber quais eram seus sonhos, ou seu

passado, sua vida.

Algo que não me dizia respeito, sabia disso. Mas,


inevitavelmente, acabaria descobrindo uns pequenos detalhes sobre

ela como seu amante, embora aquele sentimento desconhecido que

tinha brotado em mim ansiasse por um nível mais pessoal. Sonhos


e passado eram muito pessoais e significavam se envolver

emocionalmente, o que eu não queria e não precisava.

Ela já tinha poder demais sobre mim ao fazer-me desejá-la

com uma força avassaladora. Engoli em seco, ignorando aquela


sensação estranha. Não valia a pena estragar a noite por isso.

— Para mim, mais do que acertada. — Seu tom foi suave e a

vi, ainda de pé, se inclinar sobre os pacotes; novamente os cabelos


sobre si como um manto sedoso. Meu pau reagindo a ela, meus

dedos ansiosos para tocá-la. — Só espero que não esteja quente.


— Tenho certeza que eles não fariam tal coisa — disse de

forma corriqueira.

Vi ela arquear a sobrancelha levemente, mas não disse nada.

Provavelmente intuía que minha reclamação com a gerência do


restaurante não seria nada cortês. Um silêncio pesou sobre a gente,

quebrado apenas pelo som dela removendo os invólucros da sacola.

Enquanto isso, removi o blazer do meu terno, colocando-o sobre


uma poltrona próxima, e o Rolex, e estava prestes a começar a

desabotoar os botões da minha camisa social quando ela ergueu o

rosto e me fitou, seu olhar pousado na minha mão. Por sorte,


percebi que o pacote com a sobremesa não tinha sido aberto por ela

ainda.

— Senhor? — A voz era levemente rouca, e percebi que o

peito dela subia e descia mais rapidamente debaixo da blusa,


demonstrando que ela estava ficando excitada também. — O que

está fazendo?

— Me colocando mais confortável — disse enquanto removia


um botão da casa —, não posso negar que às vezes é bom ficar
sem essa sua segunda pele. Me faz sentir que não sou somente o
CEO, mas um humano com alguma vida também.

— Posso compreender. Imagino o quão difícil é para você ter

que manter sempre a aparência impecável de poder — franzi o


cenho para a sua fala, mas seu sorriso me impediu de falar qualquer

coisa. — Confesso que esse salto está me matando.

— Então faça as honras, değerli — apontei para o sapato de


bico fino que a tornava ainda mais atraente, alongando as pernas

dela —, não precisa ficar com eles, nós estamos sozinhos.

Ela me encarou surpresa.

— Posso ser rigoroso com muitas coisas, Val, mas não posso
exigir que você esteja alinhada depois de mais de oito horas de

jornada de trabalho.

— Entendo.
— Você não deixará de ser profissional pela sua aparência

não estar o tempo todo perfeita — disse o que pensava,


escondendo o fato de que ela seria sempre maravilhosa aos meus
olhos. — No decorrer dos anos, descobri que isso realmente não

importa, pois, muitas vezes, os meus piores funcionários usam


ternos impecáveis, inclusive quem está roubando a Motors também
deve usar trajes invejáveis.
— Isso é verdade — para o meu deleite, moveu os cabelos,
fazendo um cacho cair pelos braços, roubando meu fôlego —, não
se pode medir o caráter de alguém pelo seu aspecto físico.

Como se fosse um gesto natural para ela, dobrou um pouco a


perna, e com destreza, removeu um sapato, movendo os dedos
pintados de vermelho ao pousá-los sobre o carpete, fazendo logo o

mesmo com o outro, e o pequeno suspiro de deleite dela por se ver


livre do calçado que a incomodava me aqueceu.
— Nossa, muito melhor assim. — Jogou a mecha que caia

para trás. — Vamos comer? A comida vai acabar esfriando, e


realmente não menti quando disse que estava com fome.
— Claro. — Dei uma gargalhada com a sua impaciência.

— O cheiro está ótimo. Espero que o gosto também esteja.


Imagino o escândalo que o senhor CEO fará se não estiver.
— Hey — protestei, deliciado por arrancar dela uma risada de

contentamento. A felicidade e leveza que sentia quando a tinha


deixado para buscar a comida voltava em sua plenitude;

espalhando-se pelo meu corpo, provocando sensações deliciosas.


Enquanto ela se sentava no sofá em frente à mesa de centro
de vidro, removi outro botão da casa e dobrei as mangas da minha

camisa social até os antebraços, e me acomodei ao seu lado, de


modo a forçar que ficássemos mais próximos, para que nossas
coxas e braços roçassem quando nos movimentássemos. Eu não
resisti em inspirar fundo, sentindo o cheiro que desprendia dela,

mesmo que o aroma da comida estivesse enchendo o lugar, e


coloquei a sacola com a sobremesa em uma poltrona que ficava

atrás dela, meu corpo encostando no braço macio, o calor com o


contato breve incendiando a minha virilha. Quis mandar às favas a
comida, matando a minha vontade dela, mas me contive.

Pensei que ela iria protestar, desconfortável pela minha


atitude, mas ela apenas me encarou por alguns segundos,
umedecendo os lábios, não conseguindo esconder sua própria

paixão, mas se virou e começou a remover as tampas dos


recipientes. Me forcei a pegar a garrafa com suco, enchendo nossos
copos, aproveitando cada contato, degustando da tensão sexual

que fluía entre nós dois, que nos fazia cada vez mais conscientes de
cada gesto um do outro. Não via a hora em que finalmente ela seria
minha outra vez.

Em silêncio, Valdete me serviu de um pouco de salada, seu


braço encostando no meu, e eu disfarcei minha reação.

— Está bom assim? — Virou seu rosto na minha direção, e


sua boca curvada em relaxamento ficou a poucos centímetros da
minha, a respiração suave de encontro a minha pele.
Por um momento, não consegui responder, preso naqueles

olhos azuis que não conseguiam esconder nada de mim.


— Um pouco mais — sussurrei com a voz rouca,
choramingando em protesto quando ela virou o rosto e colocou um

pouco mais de legumes no meu prato.


Fez o mesmo com o prato dela, eu não contive minha

apreciação pela minha mulher se servir de uma quantidade normal.


— Quer um pouco do sonoma? — perguntou em tom
divertido, quebrando aquela tensão, ao colocar um pouco no prato,

tomando cuidado para não derramar muito caldo. Iria experimentar


aquela mistura estranha.
— Por que não? — Novamente dei de ombros, sentindo os

meus músculos relaxados. Para ser sincero, não gostava de


misturar diferentes comidas, mas não queria que ela me achasse
fresco, por isso estava disposto a tentar provar.

Colocando um pouco no canto para que não misturasse com


a salada, como se previsse que iria odiar, pegou um talher e provou
um pouco da salada e do ravioli. Assisti, fascinado, ela levar a

porção à boca e mastigar devagar, um pequeno gemido escapando


pelos lábios dela.
— Muito bom— disse baixinho, pegando um pouco mais e

devorando.
— Sério? — Arqueei a sobrancelha, olhando para o meu
prato.

— Não vai comer? — Com o canto do olho, vi que ela me


encarava.
Assenti com a cabeça e pegando uma colher, coloquei um

pouco de tudo nela e levei a boca, fazendo uma careta ao mastigar


aquela mistura e sentir aquele sabor quase intragável. A risada dela

voltou a ecoar no ambiente.


— Nem é tão ruim assim, seu chato — brincou
Deu um soquinho no meu braço e eu girei na sua direção,

espantado, mas não de um modo ruim, simplesmente pela


espontaneidade, por não esperar tal reação dela. Não me recordava
de ter visto alguma mulher turca fazer tal tipo de brincadeira, pelo

menos não no meu ciclo social, que era muito conservador, em que
as mulheres ainda cobriam o rosto ou até mesmo todo o corpo para
reservar sua beleza para marido. Tradição machista e passível de

questionamento, mas que ainda era adotada por parte da


população. Eu que não me curvava a elas.
Mas a verdade era que, na minha posição, nascido na
riqueza, nem mesmo um homem tinha me tocado com tal
camaradagem. Meus amigos odiavam esse tipo de contato, e

também não me recordava se alguma criança com quem brinquei na


infância tinha feito algo assim.
Val pareceu envergonhada pelo seu ato inapropriado, bem

como por ter me chamado de chato, algo que muitos pensavam,


mas não tinham coragem de dizer, embora soubesse que era
apenas uma brincadeira. Virou a face, não conseguindo olhar nos

meus olhos e voltou a prestar atenção na sua comida. Tomou um


pouco de suco de uva, mas parecia ter perdido todo o seu encanto.
Suspirando fundo, eu me forcei a comer também, mas cada item

separadamente, porém, nada parecia ter sabor. O constrangimento


dela agitou o meu interior.

— Fale-me sobre você — disse baixinho depois de vários


minutos sufocantes onde só se ouvia o som de talheres e de nós
dois mastigando. Mesmo com nossos braços encostando um no

outro com os nossos movimentos, que irradiavam pequenos


choques pelo meu corpo, isso não foi capaz de mitigar aquele
desconforto.
Eu precisava ter de volta a doce mulher que ria, brincava, e
parecia relaxada, não queria esse afastamento. E com essa

pergunta também daria vazão à minha vontade de descobrir mais


sobre ela, mesmo que não devesse.
Ela parou a colher cheia de ravioli próximo a boca e me olhou

com uma expressão estranha.


— O que quer saber? — pareceu se recuperar, fitando a
comida, e terminou de levar o talher à boca, emitindo um suspiro,

dando um sorriso que chegou a minha alma.


Finalmente voltei a apreciar a comida da forma que eu queria
quando a vi sorrir, tirando a bigorna que nem sabia que pesava

sobre os meus ombros.


— O que você gosta de fazer no seu tempo livre, coisas
assim — sussurrei, sem deixar de olhá-la. Peguei um pouco do

tomate marinado e gorgonzola, sentindo a nuance picante do queijo


em contraste com o do fruto. Saboreando tudo separado, sentia

melhor o gosto do alimento, era muito bom.


— Ah — falou, parecendo sem jeito, e bebeu um gole do
suco, mas seu corpo voltou a encostar no meu ao se virar para me

fitar, um leve sorriso formando em seus lábios. — Para ser sincera,


eu adoro passar meus finais de semana dormindo, lendo romances
ou vendo algum filme de comédia romântica no streaming. Nada
muito glorioso, radical ou interessante. — Foi servir um pouco mais

de sonoma para si e para mim também, no automático. — Uma


pessoa normal, eu acho.

— Huum — levei um ravioli aos lábios, mastigando-o —, não


me parece desinteressante para você.
— Não mesmo, embora minha mãe ache que eu deveria sair

mais — foi displicente, e voltou a comer —, mas confesso que não


há nada melhor do que ficar na cama.
— Tenho certeza que não — soei malicioso, roçando nossos

braços ao esticar para pegar o recipiente com a bebida para encher


nossos copos, não conseguindo pensar em mais nada que fosse
mais gostoso do que ficar um dia inteiro em cima de um colchão

com ela.
— Bom… — não soube o que dizer, mas vi as duas safiras
escurecerem com o desejo, e ela se moveu, como se quisesse

esconder sua excitação de mim, mas sua voz a traiu: — E você?


Regozijei-me com a pergunta, e os pelinhos da minha nuca

se arrepiaram. A ereção que tinha sido extinta pelo desconforto,


retornou, dolorosa. Trinquei os dentes para não emitir um gemido.
— Ler relatórios? — respondi, para depois voltar a mastigar.

— Investir? — acrescentei.
Ela gargalhou e, sem perceber, tocou o meu braço. O calor
da palma contra a minha pele roubou o meu ar por alguns

momentos, mas o contato durou pouco, pois logo ela afastou a mão,
deixando em mim um rastro de fogo que me queimava, o fluxo

sanguíneo incidindo na minha pélvis. Com o canto do olho, vi o seu


peito subir e descer, denunciando a sua respiração mais acelerada.
— Você só pode estar brincando. — Arfou, fazendo uma

careta.
Vi que ela segurou o copo com certa força, como se isso a
impedisse de me tocar novamente, e o molho do ravioli pareceu

tornar amargo quando engolia. Como aquela mulher tinha a


capacidade de mexer tanto com o meu humor, ao ponto de modificar
o gosto das coisas, deixando aquela sensação de perda só por

parar de me tocar?
— Infelizmente não.
Larguei o prato sobre a mesa e virei-me para ela, que

também me encarava. E a diversão que vi nas suas feições fez com


que um alívio percorresse cada grama do meu corpo, meus lábios
se curvando para cima.
— É tão difícil assim de acreditar, değerli?
Franzi o cenho e instintivamente minha mão procurou a dela,
pousando minha palma sobre a pele quente, acariciando-a. Dessa

vez, não fui rejeitado por ela. Pelo contrário, ela virou a mão e
entrelaçou nossos dedos, apertando-os. Seus olhos buscavam a
verdade nos meus, como se precisasse da certeza, ainda

desconfiada.
Não a culpava por novamente me julgar de acordo com o
comportamento dos outros homens, que costumavam ir a festas e

trocar de mulher todas as noites, tendo como hobbie usar e


descartar pessoas. Entendia a sua descrença, ainda mais por não

ter dado a ela nenhuma certeza também. Não foram poucas as


vezes que tive reuniões bastante desagradáveis com CEOs que se
gabavam de dormir com várias, até participando de orgias. Isso

exigia que eu me escondesse por trás de uma máscara fria e não


mostrasse minha contrariedade, mas eu sempre saía nauseado.
— Um pouco, Yazuv — disse depois de vários minutos e

dando um último aperto na minha mão, voltou a comer —, você


realmente não costuma relaxar no seu horário de descanso, fazendo
algo que não envolva seus negócios? — Não havia repreensão no
seu timbre, apenas compreensão e uma preocupação genuína pelo
meu estilo de vida.

E eu fechei os olhos brevemente, quando uma pontinha de


dor cruzou o meu peito, talvez por nunca ter percebido tal interesse
genuíno de alguém por mim. Era um sentimento estranho, que não

sabia definir se era bom ou ruim. E eu não queria senti-lo, temia me


entregar a ele, pois sabia que poderia ser a minha ruína e do meu
estilo de vida, que tanto apreciava e que me propiciava uma grande

satisfação. Já estava agindo muito fora dos meus padrões,


deixando-me envolver pela minha vontade insana de sexo com a
benim değerli, uma estranha. Então sua compaixão, como se se

importasse com o ser humano que eu era, só me levaria por


caminhos perigosos. Lembrei a mim mesmo que sentimentos não

faziam parte do pacote, que aquilo não era algo para um homem
como eu. Mas eu já tinha dado mais a ela do que a qualquer outra
pessoa.

Estava ficando vulnerável.


— Desculpe — a vi engolir a comida com dificuldade, como
se tivesse entalado em sua garganta —, não é da minha conta o

que você faz.


Respirei fundo, e abrindo os olhos, levei a minha mão ao

rosto dela, que estava virado para o lado, e trouxe-o para mim.
Como aquele jantar que planejei ser algo sensual estava se
tornando um arremedo de sentimentalismos da minha parte e da

dela?
— Quase nunca tenho tempo para mim mesmo, değerli —
beijei a sua testa, demonstrando uma ternura que não deveria.

Minha voz estava calma, e fitando os olhos azuis, completei: —, os


negócios exigem muito de mim. E, tenho que confessar, que eu
gosto que seja assim. Adoro dedicar cada segundo do meu tempo

ao meu trabalho, a obter mais poder, mais dinheiro. Sou viciado em


controlar meus negócios, em expandi-los.
— Entendo.

— Não sou chamado de “severo” sem nenhuma razão. Sou


inflexível e rigoroso quanto a tudo, tanto que confio em poucas

pessoas para gerenciar meus negócios, algo que não dou


levianamente, pelo contrário, só confio depois de muito refletir e

analisar. Esse sou eu, bir tanem[25] e eu me sinto orgulhoso de ser


esse homem, por mais vazio e frio que possa parecer para outras

pessoas.
Ela não disse nada e apenas assentiu com a cabeça em

concordância.
— Mas isso não quer dizer que eu também não me permito a

alguns momentos só para mim.


Passei os dedos pelos seus lábios, gravando-os com as
pontas dos dedos mesmo que eles já estivessem impregnados em

minha mente. Ela estremeceu levemente.


— São raros — continuei —, mas eu sou uma pessoa de
carne e osso também. Não vejo filmes, séries, essas coisas, mas

gosto de comer bem, nunca apressando as refeições — fiz uma


pausa dramática —, e gosto de ler sobre política internacional.
Os olhos dela voltaram a arder de diversão e deu uma risada

baixa.
— Por que não me surpreendo? — zombou. — Posso
apostar algumas centenas de dólares que busca estar inteirado de

tudo, pensando nos investimentos e no lado econômico.


— Touché.
Dei um selinho nos seus lábios, roubando a sua risada, e a

soltei. A seriedade do momento se dissolveu com as suas


brincadeiras e provocações sobre a minha obsessão por questões

econômicas. Mas não me importei, pois preferia Val assim. Assim


como eu, ela também era versada no cenário internacional, sempre
buscando se atualizar, mesmo que isso não fosse exigido no seu
antigo cargo.

E enquanto nossos corpos se roçavam, o calor dos nossos


corpos passando um para o outro, eu também brinquei com ela,

falando dos seus filmes água com açúcar e dos romances que lia.
Quando perguntei a ela o enredo do último livro que ela tinha lido,

uma história piegas de uma solteirona que tinha uma espécie de


agência de casamentos e de um homem misterioso coberto de
cicatrizes, não segurei o riso.
E eu estava amando cada minuto daquela conversa
despretensiosa, principalmente quando falamos um pouco mais
sobre nós mesmos, embora eu estivesse descobrindo ser uma das

pessoas mais desinteressantes que existia na face da terra, um


homem maçante. Era de surpreender que ela não se sentisse
entediada ao ouvir minha história. Evitei pensar que uma mulher
alegre, linda e inteligente como ela jamais se interessaria por mim.
— Obrigada pelo jantar, Yazuv, a comida estava deliciosa —

pousou o garfo sobre o prato quando terminou de comer— acho que


nunca comi tão bem em minha vida. — Fez uma cara ao se virar
para mim. — Minha mãe me mataria se me ouvisse dizendo isso.
Bom que ela não está aqui. Amo de paixão tudo o que ela prepara,
mas o ravioli estava divino.
Gargalhei e pisquei para ela.

— Posso guardar esse segredo.


— Hummm, bom mesmo, senão estou ferrada — riu também
e olhou para o restante da comida. — Vai querer mais?
— Não.
— Okay.
Começou a juntar todas as coisas em uma única pilha e

quando ia se levantar, debrucei sobre a mesa e a impedi, segurando


o braço dela. A ansiedade de a agradar retornou com tudo,
deixando um frio esquisito na minha barriga.
— Tenho uma surpresa para você, Val.
Girou seu rosto para mim, arqueando a sobrancelha bem
delineada.

— Surpresa? — O tom era hesitante.


— Espero que você goste de chocolate e morangos — falei
com a voz rouca. Infelizmente, não consegui esconder meu
nervosismo. Era uma sobremesa comum, e embora soubesse que
eles usavam os produtos mais selecionados naquele restaurante,

não achava nada a altura do que ela merecia. Apesar de que, em


algum lugar da minha mente, lembro de alguém, acho que uma
acompanhante de um dos meus parceiros de negócios, comentando
com uma outra em um jantar o quão romântico achava um casal
compartilhando aquela sobremesa numa mesa ao lado.
Agora que a encarava, não tinha certeza se aquilo era um

agrado tão bom e tão sedutor assim. Nunca tinha passado por
aquela experiência de servir alguém com as minhas próprias mãos,
tinha empregados para tudo, nem mesmo uma criança, e aquele
gesto me pareceu íntimo demais.
Mas o sorriso que abriu em seus lábios e o cintilar dos seus
olhos em apreciação, era tudo o que eu precisava para que minha

confiança retornasse. Estiquei o meu braço para pegar a sacola que


estava na poltrona e removi todo o invólucro que mantinha o
chocolate na temperatura ideal. Como eles conseguiam, não tinha
ideia, mas só sei que era caro o suficiente para que cumprisse sua
função.
— Para quem não tem um relatório meu com informações

pessoais, até que você sabe demais — provocou-me outra vez, e vi


a unha dela contornar a borda da mesa —, melhor, é muito bom nos
palpites.
— Fico feliz em te agradar — não contive a malícia no meu
tom, e pegando uma fruta, passei-o na calda de chocolate.

Quando Valdete ia apanhar um morango para fazer o mesmo,


a impedi com a minha mão livre, segurando o seu punho com
pressão.
— O que houve?
Não respondi, a excitação corroendo as minhas veias, e a

soltei. Percebi que ela arregalou os olhos quando aproximei a fruta


dos seus lábios, para colocar o doce em sua boca. Ficamos imóveis
por segundos que pareceram intermináveis, nos encarando, e
emitindo um suspiro baixinho, ela mordiscou a fruta, gemendo ao
sentir o sabor do chocolate. Nunca um som me pareceu tão erótico
na vida. Não contive um grunhido, quando a língua deslizou pelos

lábios, limpando o chocolate que os sujava, e se antes estava


excitado, agora estava prestes a explodir, principalmente quando ela
me olhou daquela maneira, com fome. Comi o restante, sentindo o
adocicado da fruta contra o amargo do chocolate, que não era tão
gostoso quanto aquela boca. Forcei-me a continuar o processo de
levar o morango a tigela, passar na calda, e servi-la, apreciando

seus gemidos de prazer em meio a respiração entrecortada, seus


olhos fechando enquanto mastigava, apenas para voltar a me olhar
com uma ânsia crua. Ficar sem tocá-la era um completo tormento,
que parecia intensificar todas as sensações que me transpassavam,
como se a espera fizesse com que, no final, o prazer fosse ainda
mais poderoso. Uma loucura.

Estava completamente consciente dela. Os movimentos


feitos pela língua, lambendo o chocolate, às vezes roçando nas
pontas dos meus dedos, fazia com que meu pau pressionasse
minha calça social, ansiando para que eu deixasse aquele jogo
masoquista que só me atormentava e passasse a um que resultasse
em corpos nus, carne contra carne, suor e satisfação.

— Bok — sussurrei, não aguentando mais aquela tortura.


Precisava beijá-la, ter aquela mulher, sentir seu gosto que era
melhor do que de qualquer chocolate.
Tombando o meu corpo sobre o dela, puxei seu rosto de
encontro ao meu, e colei nossas bocas, o contato arrepiando-me,

dando-me pequenos choques que me enlevavam. Movimentava-me


lentamente contra os lábios macios, conquistando-a, enquanto meus
dedos embrenhavam no cabelo dela, querendo nos fundir. Eu não
tinha pressa na minha redescoberta que ansiava desde que ela me
deixou. Quando disse a ela que eu tirava momentos raros para me
dar prazer, escondi dela que isso a envolvia. Que pelo seu corpo, eu
estava disposto a deixar de lado o que tanto amava.
Aumentando a pressão dos meus lábios sobre os dela,
acariciando os fios macios, aprofundei o contato, roubando o
gemido rouco que escapou pela sua garganta. Apreciei quando suas
unhas fincaram nos meus ombros, o seu descontrole, sua

impaciência em meio ao beijo. A sua avidez alimentou a minha, e


com um grunhido, percorri com a ponta da língua os lábios macios
com gosto de chocolate, provocando-a, até que ela os entreabriu
para me receber. Suspiros de contentamento ecoaram pelo
escritório quando nossas línguas se encontraram e se enroscaram
uma na outra, querendo mais um do outro, em busca de dominar. E

eu me deixei ser conquistado por aquela boca viciante, deixando


que ela me provasse com fúria, saboreando a minha própria
rendição. Pertencendo e possuindo ao mesmo tempo, seu gosto
natural misturado ao morango e chocolate, tudo fazia com que cada
vez mais eu me perdesse no calor do beijo, e enrosquei os cabelos

macios em uma mão.


Aquele beijo tinha sido diferente de todos os outros, era
desejo temperado pela ausência, pela semana longe um do outro.
Era um beijo intenso que não queríamos interromper, como se
temêssemos a separação.

Quando ela tomou o meu lábio superior entre os dentes,


sugando-o, puxei seus cabelos com mais força, tomando o domínio
do contato, minha língua percorrendo a cavidade morna, antes de
encontrar a sua.
Mordiscava e provocava, gemendo alto sem me importar com
o pudor, cada vez mais embriagado, e inclinando contra ela, mesmo

no espaço pequeno, a deitei no tapete, espalhando seus cabelos no


chão, sem deixar de beijá-la. Chiei de desejo quando a cobri com o
meu corpo, sentindo minha ereção roçar na sua pelve, buscando o
encaixe que nossas roupas não deixavam.
Nossas bocas se devoravam e nossos quadris começaram a
se chocar um com outro, roçando, aumentando o nosso prazer. Mas

quando, erguendo-me um pouco, perdido de desejo, levei minha


mão à saia, subindo o tecido pelas coxas macias, ela estacou,
interrompendo o beijo. Empurrou-me suavemente e, completamente
confuso, sem entender o que acontecia, eu saí de cima dela e me
sentei. A ardência que me dominava transformou-se em gelo.

— Değerli? — Minha voz saiu áspera.


— Não podemos, Yazuv — sussurrou, jogando os cabelos
para trás, e eu não compreendi a expressão que vi em seus olhos
azuis.
— Por que não, Val?

Respirei fundo e continuei a encarando, tentando conter


aquela onda de abandono, a sensação amarga que se infiltrou na
minha veia. Ela ficou em silêncio e se ergueu, buscando os sapatos
e calçando-os.
— Não vai me dizer que não pode se relacionar com alguém
do trabalho, porque sei que é mentira — disse, sem me importar de

feri-la ou não. Me levantei, passando os dedos pelo meu cabelo. —


E tenho certeza que já passamos da fase da discussão tola sobre a
nossa diferença social. — Ri, amargurado. — Eu não me importo a
mínima com ela.
— Não é isso. — Se abraçou e eu me aproximei dela,
segurando o seu rosto, fazendo com que ela olhasse nos meus

olhos e me dissesse a verdade.


— Então qual é o problema, sevgili? — Toquei suavemente
seus lábios com os meus. — Você me deseja tanto quanto eu.
— Por favor… — Tentou se soltar, mas eu não a deixei ir,
roubando outro beijo dela, que, por poucos segundos, ela retribuiu.
— Valdete? — Pressionei-a.

E quando ela se movimentou, me empurrando fracamente, eu


a soltei. Nunca a forçaria a nada. Mas aquilo deu a oportunidade
para ela se afastar de mim, aumentando ainda mais a sensação de
solidão dentro do meu peito, que eu tentava desesperadamente lidar
e a vi pegar suas coisas em cima da mesa.
— Eu não sou aquela mulher da festa — voltou a se

aproximar de mim, e percebi que, combinado ao seu tom quebrado,


uma lágrima tinha caído pelo rosto dela—, por isso eu não posso.
— Val.
Ergui a mão para tocá-la novamente, mas ela apenas
balançou a cabeça em negativa, emitindo um soluço. Girando em

seus saltos, assisti aquela mulher com a aparência derrotada deixar


a sala em passos lentos, fechando a porta atrás de si.
Estava me abandonando pela segunda vez! Confuso e com
um sentimento cortante no peito que nada tinha a ver com o meu
desejo insatisfeito ou com o meu ego ferido, me lembrei quando
acordei sem ela na cama. Mas isso não me importava agora, nem o

meu plano de seduzi-la por vingança. Caminhei até um aparador de


canto onde ficavam as bebidas e me servi de uma dose generosa
de raki, bebendo-a de um gole só, sentindo meus olhos
lacrimejarem com o ardor.
Não me preocupava com nada que dizia respeito a mim, mas,

sim, com ela.


Tinha jurado a mim mesmo que nunca iria machucá-la. No
fundo da minha consciência, talvez eu sempre soubesse que aquela
mulher não era dada a relacionamentos amorosos sem
envolvimento sentimental. Não era por esse motivo que ela não
tinha se entregado ao tal de Mark e ficado tão decepcionada com

ele? Ela queria algo sério, não um caso de alguns dias.


Tolo, deveria ter percebido que, mesmo que ela tivesse sido
minha uma noite, aquilo não mais aconteceria. Era por isso que ela
tinha me deixado. Estava mais do que claro quando eu mergulhava
no corpo dela, em busca daquelas sensações avassaladoras que

somente Val me proporcionava, que elas estavam relacionadas ao


fato de que ela se entregava. Que fazia amor.
A questão era, eu estava disposto a me doar para ter
novamente aquelas sensações? Ou era um preço alto demais que
talvez não estivesse pronto para pagar?
Quando aceitei a chance de trabalhar na investigação sobre a
possível corrupção na Motors, eu sabia que iria ser bastante

cansativo e que iria exigir o máximo de mim. Mas não imaginei que

a pior parte não era o trabalho excessivo, principalmente depois da


tarefa exaustiva que era organizar a agenda do turco, encaixar as

várias solicitações pedindo uma reunião, e criar uma ordem de

prioridade dos documentos que exigiam a atenção dele. Era um


ritmo completamente frenético e extenuante, embora fosse muito

bem remunerada pela função, principalmente pelo trabalho extra,

pago antecipadamente, um valor que era muito mais do que aquele


que recebi nos meus dois anos no cargo anterior, e que ele

prometeu dobrar quando tudo terminasse. Aceitei sem titubear,

embora acreditasse que não teria escolha, o tom de voz empregado

por Yasuv bem como a sua expressão deixavam aquilo bastante

claro.

Quem realmente não gostou disso tudo foi minha mãe. Como

se eu fosse uma criança pequena, na verdade, acreditava que, na


sua visão, eu sempre seria a sua menininha, ela ralhou comigo,

brigando que estava chegando em casa tarde demais, que eu não

estava dormindo às oito horas diárias necessárias, não estava me

cuidando, e por aí vai. Podia imaginar a careta que ela tinha feito do
outro lado da linha quando disse que trabalharia nos finais de
semana também. Apesar de tudo, sentia que traía a nossa amizade

de mãe e filha, ao colocar somente culpa no cansaço, escondendo

aquilo que se passava em meu coração, embora mamãe me

conhecesse bem o suficiente para saber que não era apenas

excesso de tarefas.

Não contive um suspiro profundo, com um pouco de tristeza,


pois as várias ligações e trocas de e-mail que fiz durante o dia, os

diferentes relatórios e as planilhas que exigiam atenção, que até

agora não indicavam nenhum possível desvio, acrescido dos

diversos problemas que sempre pareciam cair nas minhas mãos

com a minha nova função - estranhamente não tinha visto meu

chefe durante a semana - não eram nada perante o fato de ter que

trabalhar com Yazuv.


Ficar tão próximo a ele e sujeitar-me aos toques acidentais,

quando ficávamos lado a lado na mesa dele, eram a pior parte. Era

muito melhor me afundar nos dados. Eles eram muito menos

perigosos do que encarar aqueles olhos negros sempre atentos a

cada gesto meu. Foram várias as vezes que o peguei me

observando, me devorando, fazendo com que pequenos arrepios


percorressem a minha pele, minha feminilidade totalmente

consciente da masculinidade dele.


As refeições que compartilhávamos durante a noite eram um

delicioso martírio, principalmente que, com elas, vinham as


conversas, onde acabávamos perguntando como foi o dia um do
outro, apesar de conhecermos muito bem todas as tarefas que

tínhamos. Mas era como se precisássemos saber como o outro


estava. A preocupação do turco com o meu bem-estar fazia o meu

coração sangrar por dentro, pois era uma coisa que meu ex-
namorado não fazia questão de me perguntar, deixando ainda mais

claro e evidente o quão pouco valor ele tinha me dado, mas era algo
que o homem que queria apenas me levar para cama me oferecia.
Ao mesmo tempo que me enternecia por isso, sentia uma grande

tristeza por eu ter sempre o menos, por me deixar levar por um


carinho que era uma mera ilusão. Yazuv não tinha me prometido

nada, mesmo assim, me presenteava com essas pequenas


gentilezas que não faziam parte do papel de chefe, mas, sim, de um

companheiro, o que ele não era.


Era inevitável não apreciar cada segundo que passávamos
juntos, em que acabámos revelando parte de nós mesmos,

pequenos anseios, coisas do passado, e o quão nossa infância foi


diferente, mais por questões culturais do que financeiras. E não sei

se agradecia, ou me sentia mais para baixo, por ele não mencionar


o ocorrido na noite em que o deixei sozinho em sua sala, quando

disse que não poderia ir para cama dele novamente por eu não ser
mais aquela mulher que conseguia se envolver apenas fisicamente

e deixar de lado o emocional. Que eu seria daquele tipo que


provavelmente acabaria se apaixonando por um homem que não
queria nada além de sexo.

Evitávamos tacitamente aquele assunto, e algo dentro de


mim se ressentia por ele não o mencionar, por não ter voltado a

tentar me beijar, pela ausência de carícias que buscavam me


persuadir, e até mesmo por não receber mais os pequenos beijos
que ele deixava na minha mão e testa.

Mesmo assim, eu mergulhava nessa fantasia, naquele


companheirismo, mesmo que me machucasse. Ficaria arrasada

quando aquela gentileza acabasse, pois sabia que ela chegaria ao


fim quando ele desistisse de mim e partisse para um alvo mais fácil,

assim como Mark fez.


Tornaria aquela doçura em fel.
Mas o que de fato mexia comigo, tornando ainda mais difícil

aquela proximidade dos últimos dias, era o fato do turco deixar


pequenos agrados em cima da minha mesa, como bombons da
minha chocolataria favorita, o café que mais amava tomar,
juntamente com uma única rosa vermelha que sempre arrancava

um sorriso bobo dos meus lábios e fazia meu coração bater


acelerado.

Sem perceber, meus dedos buscaram a enorme rosa em


cima da minha mesa e eu toquei as pétalas, sentindo a suavidade
contra a ponta dos meus dedos, emitindo um suspiro que era uma

mistura de deleite e dor. Sabia que elas nada significavam, mas meu
coração insistia em conferir a elas uma importância que me

massacrava e que me fazia questionar o que eu estava fazendo


sonhando acordada com meu chefe.

Não sabia se era mais tola por me iludir ou por continuar a


ser essa mulher que sabia que queria sexo com ele, mas que lutava
todas as noites contra o desejo despertado pela presença dele, pela

sua áurea, terminando dormindo pouco, mas que, mesmo assim,


não se permitia por um medo irracional. Era um pavor que eu não

deveria ter na minha idade, então por que eu continuava resistindo,


lutando contra aquela atração inevitável?
Se cedesse, acabaria de vez com aquelas chamas que me

consumiam, aliviando também aquela inquietação que via nos olhos


negros. A tensão era perceptível nos ombros delineados pela
camisa social sob medida, que nem todo autocontrole dele era
capaz de esconder, nem mesmo a expressão comumente austera.

Eu o fazia sofrer também, mesmo que não fosse minha


intenção.

Suspirei fundo, sentindo os músculos doerem pelo cansaço, e


permaneci alheia ao trabalho, presa naquela torrente de
pensamentos. Sabia que não seria pega em flagrante pelo meu

chefe, porque ele estava em Nova York e tinha previsão de voltar

apenas mais tarde, então continuei a brincar com a pétala de rosa,


mesmo ciente que eu deveria estar organizando a pilha de

documentos que o serviço de entrega internacional tinha entregado

há algumas horas, o que eu considerava um gasto desnecessário

de papel, já que muita coisa poderia ser resolvida eletronicamente.


Pelo menos, eram padronizados na língua inglesa. Eu não

conseguiria deixar aquele trabalho acumulado para a segunda-feira,

o que iria contra a minha lógica de trabalho, mas sabia que tinha
tempo de sobra para colocar em ordem, já que Yazuv chegaria às

oito da viagem e tinha falado que o esperasse porque, assim que

pousasse, viria diretamente para cá. Inclusive solicitou que eu


pedisse o nosso jantar, o que ele sempre fazia, nunca me deixando

pagar a minha parte.


Inconscientemente, levei a rosa ao nariz e cheirei o perfume,

abrindo um leve sorriso. Mesmo com o desejo que via nele, percebia

que não perdia o foco e ansiava para descobrir o mais rápido


possível os responsáveis pela derrocada da Motors, ainda mais que

eles ainda se encontravam ali, já que o turco decidiu não demitir

ninguém sem provas. Imaginava que perder o cargo seria o menor

dos problemas dos culpados quando fossem descobertos, pois


podia ver nos olhos e na sua expressão séria quando analisava

cada número o quão implacável ele poderia ser. Com isso, foi

inevitável não pensar que, se ele quisesse, poderia ter impingido a


mim uma punição muito mais severa por ter ido embora do que me

manter próximo a ele, dar-me um alto salário e depositar uma

enorme confiança em mim. Ele me valorizava, me ouvia, era como


se meus conselhos fossem inestimáveis. Ele até mesmo comentava

abertamente sobre outros negócios que fugiam do meu escopo,

principalmente sobre a fábrica de automóveis que ele era dono.

Mas, no momento, seu objetivo era reerguer a empresa e produzir


peças de alta tecnologia, vencendo seus concorrentes.
E para isso, na maioria das vezes, eu o deixava no escritório

às dez da noite ainda debruçado sobre o notebook, averiguando os

seus outros negócios, dando todos os sinais de que estava cansado


que, talvez, para outra pessoa, passasse despercebido. E, hoje, não

seria diferente, viraríamos à madrugada, já que não trabalharia mais

aos finais de semana, somente em emergências. Mas, assim como

a minha mãe, que se preocupa muito comigo, eu fico inquieta por


saber que Yazuv, todos os dias, mesmo esgotado, sai tarde do

escritório, mesmo ciente que a vida dele, o que ele fazia, e sua

saúde e bem-estar não me diziam respeito. Várias foram as vezes


que tive que me impedir de questioná-lo sobre isso, sugerindo que

também fosse para casa, agindo como se fosse uma “esposa” ou

“namorada”, algo que não era. Era uma intromissão que não lhe era

bem-vinda, e que eu fazia de tudo para mascarar embora temesse


que estivesse falhando miseravelmente. Ele provavelmente percebia

minha preocupação, embora não o comentasse.

Pousando a flor em cima da mesa, tocando as pétalas uma


última vez, balancei a cabeça em negativa. Estava me deixando

levar demais pela minha própria mente cansada, pelos meus

sentimentos por um homem que eu mesma tinha rejeitado, levando-

me a uma melancolia desnecessária, quando havia tanto a ser feito.


Ri de mim mesma, com escárnio.

Era mesmo uma boba.


Determinada a esquecer esse assunto, depois de checar a

caixa de e-mail e enviado um arquivo em nome do chefe que foi

solicitado, constatei que no meu pessoal não havia nenhuma


mensagem nova, então peguei uma pasta grossa, removendo os

documentos de dentro dela e me pus a trabalhar, organizando os

papéis de acordo com a ordem de prioridade, sabendo que alguns

deveriam ser lidos e assinados ainda neste final de semana para


que na segunda-feira à tarde fossem despachados. Estava

terminando de organizar tudo quando o meu celular começou a

vibrar sobre a mesa, roubando a minha concentração. Eu gemi,


movendo o pescoço dolorido por permanecer inclinada por muito

tempo, torcendo para que não fosse um problema de última hora.

Peguei o aparelho e atendi no automático, formal, mesmo que

pudesse ser meus pais ou algum amigo, já que cometi a burrice de


não ter um número separado.

— Boa tarde, Valdete falando, em que posso ajudar? — Olhei

as horas no relógio do computador, constatando que já passava das


seis e meia e que eu ainda precisava pedir nosso jantar.

— Değerli.
Só de ouvir a voz rouca de Yazuv, falando uma palavra em

turco que não ousei perguntar o que significava, senti pequenos

arrepios tocarem a minha pele, o calor do desejo se espalhando

pelo meu ventre, meu coração batendo mais acelerado no peito.


Por que o tom de voz dele tinha que parecer uma carícia aos

meus ouvidos? Me levava sempre a o imaginar pousando seus

lábios novamente em meu pescoço enquanto suas mãos


acariciavam meus seios por cima da minha blusa e…

— Yazuv… — Forcei minha voz a sair mais firme, tentando

não dar rédeas soltas a minha imaginação erótica mais do que

imprópria naquelas circunstâncias. Ainda mais que era eu quem


tinha nos negado aquilo. — Deseja alguma coisa?

Ficou alguns segundos em silêncio, como se pensasse, e eu

pude ler nas entrelinhas aquilo que ele queria, agindo como um
combustível a ânsia desencadeada pela sua voz.

Era somente sexo o que ele queria, não podia esquecer

disso.

Essa lembrança foi como um balde de água gelada na minha


libido, aquilo que precisava para me agarrar ao fio fino do meu

profissionalismo. Evitei que os meus conflitos internos de mais cedo

voltassem. Tinha que parar de me machucar daquela maneira.


— Você ainda está no escritório? — perguntou depois de um

silêncio carregado com coisas que não precisávamos naquele


momento e eu franzi o cenho, mesmo que ele não pudesse ver.

— Estou terminando de organizar os documentos e daqui a

pouco começarei a trabalhar nos contratos fechados de compra de

matéria prima dos últimos três anos.


Segurei o celular entre a orelha e os ombros, pegando minha

agenda e caneta para anotar qualquer coisa que ele precisasse.

— Alguma urgência? — insisti.


— Houve um imprevisto e a reunião demorará mais do que

imaginei.

Emitiu um bufar que revelava toda a sua impaciência e logo


pude imaginar que a cara dele não deveria estar das melhores,

embora raramente estivesse. E uma pontinha de decepção me

invadiu por não o ver hoje. Uma grande tolice da minha parte.

— Só conseguirei voltar a Chicago de madrugada, já mandei


uma mensagem para o meu piloto avisando e ele fará um novo

plano de voo — fez uma pausa e ouvi um ruído, como se estivesse

removendo o blazer do terno enquanto falava comigo —,


infelizmente, terei que ir jantar com os outros investidores, e esse
compromisso provavelmente se estenderá por várias horas, değerli
— justificou.

Pisquei e deixei a caneta cair dos meus dedos agora

trêmulos, surpresa por ele estar me dando satisfação. Ele não


precisava fazer isso, eu sou apenas a secretária. Nunca poderia

esperar que um homem como ele fizesse tal coisa, se justificar, nem

mesmo para alguém íntimo. Mas o fato dele ter se preocupado em


me avisar fez com que um sentimento até então desconhecido se

espalhasse pelo meu peito.

Posse.

O maior absurdo.
Mesmo assim, não consegui me conter, nem mesmo de me

deixar levar pelas fantasias momentâneas dele sendo meu. Meu

homem. Meu namorado. Meu príncipe dos contos de fadas.


Mas ele só estava disposto a ser meu amante.

Meus ombros caíram, derrotados.


— Vou direto de lá para o aeroporto — completou.
— Não tem problema, Yazuz — escondi meus sentimentos

em um tom neutro e ele bufou, contrariado, fazendo com que um


sorriso idiota brotasse nos meus lábios —, continuarei aqui
trabalhando.
— Não, sevgili, você está cansada, vá descansar — sua voz
soou suave embora soubesse que suas palavras escondiam uma
ordem. Mas o tom terno, protetor, fez com que uma onda de carinho

por aquele homem me assolasse ainda mais, e instintivamente


toquei novamente a rosa que ele tinha me dado. Ao passo que,
movida por esse sentimento, tive que segurar a vontade de dizer a

ele que ele também estava cansado, que ele precisava relaxar tanto
quanto eu.
— Posso ficar mais algumas horas… — Toquei as pétalas da

rosa novamente, que contrastava fortemente com a textura do corpo


rijo dele.
— Não, quero que você esteja descansada para amanhã,

değerli — disse, não escondendo a malícia e a duplicidade em seu


tom. E prazeres indescritíveis povoaram minha mente…
— Amanhã? — Estranhei minha voz rouca, eu começava a

ficar mole de desejo.


— Vamos trabalhar no meu apartamento, passarei no

escritório para buscar tudo o que vamos precisar — fez outra pausa
e terminou: — te passarei meu endereço por mensagem. Espero
você, ansiosamente, às dez.
Arfei, o torpor que me comandava evaporando, as palavras
dele sendo assimiladas.
— O quê? — Minha voz saiu alta, esganiçada.

Droga, estava gritando com o meu chefe.


Mas, para minha surpresa, o homem apenas riu roucamente,

perversamente, como se fosse alguém completamente certo da sua


vitória sobre mim.
— Você me deve uma visita, se lembra, güzel?

Não escondeu o predador dentro de si ao me lembrar do


quão tola eu tinha sido em minha inocência ao achar que ele nunca
seria homem de levar uma amante para dentro da sua casa. E eu

tremi, como a presa que eu era. Minha respiração acelerada com


certeza era ouvida do outro lado da linha. Podia imaginar o sorriso
lascivo que ele dava.

— E está mais do que na hora de você ver se a decoração


está ao seu contento…
Imediatamente pensei em um móvel específico, o qual

busquei afastar o mais rápido possível dos meus pensamentos, e


antes que pudesse dizer qualquer coisa, ele se despediu em turco e

desligou, deixando-me completamente atônita, temorosa e desejosa


na mesma proporção.
Literalmente eu estava ferrada.
Como eu iria sobreviver a Yazuv, ou melhor, a mim mesma?
Enrolando os meus cabelos em um coque, adentrei na
banheira. Tinha colocado algumas pétalas de rosas e sais de banho,

e lamentei que ela não fosse grande o suficiente para que pudesse

me esticar.

Dei um suspiro baixinho ao sentir a água morna em contato

com a minha pele, encostei a minha cabeça na borda e fechei os


olhos. Precisava e muito do torpor proporcionado pelo banho, que

sempre ajudava a aliviar o meu cansaço físico e mental, um

pequeno capricho que gostava de me dar, embora não fosse tão


luxuoso assim.

Sabia que era uma ilusão pensar que dessa vez aquele ritual

me ajudaria em algo, mesmo assim, deixei-me ficar ali por longos

minutos. Meus músculos cansados depois de uma semana intensa


estavam mais relaxados, porém minha mente estava agitada,

inquieta.

Eu tentava me enganar dizendo que fazia sentido trabalhar

no fim de semana em um lugar mais confortável do que o escritório,

mesmo que essa fosse a casa do turco, tentando colocar na minha

cabeça que eu não era um cervo que adentrava de bom grado na


toca do leão, nenhuma virgem a ser sacrificada em algum ritual
antigo, mas o pulsar no meu sexo, que queria ser novamente
preenchido por ele, indicava que o que mais desejava era ser a sua

caça, mesmo que isso significasse sacrificar o meu coração.

Gemi, consternada, quando flashes da noite que tive com

Yasuv retornaram com tudo, do seu corpo nu sobre o meu, a boca

exigente tomando-me em um beijo faminto, e me afundei na

banheira, sem me importar de molhar os cabelos, tentando aplacar


as sensações avassaladoras do desejo, mas minha mente não

parava de fantasiar com o turco, dele me colocando sobre uma

mesa, abrindo minhas pernas e se ajoelhando entre elas, sua barba

arranhando a minha pele quando com a língua começa a brincar

com meu sexo.

Arfei. Abri os olhos e fechei as pernas com força, sentindo

meu corpo todo latejar. Segurei as bordas da banheira, tentando não


ceder o impulso de me tocar pensando nele, algo que nunca fiz

pensando em nenhum homem, somente para me autoconhecer.

Droga!

Me xingava por insistir em não ceder a algo que eu queria

fazer, por ser uma estúpida romântica que sonhava com um príncipe

encantado inexistente.
Estava me achando cada vez mais ridícula e patética.
Ri amargamente por não conseguir ser profissional e ficar ali

imaginando que só porque ele brincou comigo que estava devendo


uma “visita” que algo iria acontecer, me deixando levar pela minha

imaginação fértil
Irritada, sem me preocupar de espirrar água no piso aquecido
do banheiro, me ergui e puxei a tampa que esvaziaria a banheira,

pondo um fim naquele banho que nada me ajudou, pelo contrário,


só me deixou ainda mais excitada. Ligando o chuveiro, tomei uma

ducha rápida, lavando os cabelos, aplicando um pouco mais de


força do que o necessário ao massagear o meu couro cabeludo, ao

ponto de me perguntar o que eu estava fazendo comigo mesma,


obrigando-me a ser mais carinhosa em meus gestos, embora a
confusão de sentimentos ainda persistisse dentro de mim, revirando

tudo como um vendaval.


Me sequei, vestindo um roupão felpudo, e saí do cômodo

enxugando os cabelos. Perdida em meus pensamentos, caminhei a


esmo pelo meu pequeno apartamento procurando me acalmar.

Parei em frente a porta de vidro que dava para uma sacada


minúscula, espalmando minha mão nela, encarando as luzes e
edifícios de Chicago sem realmente vê-los. Não sei quanto tempo

fiquei ali, imersa naquele estado caótico que me encontrava, até que
senti uma lágrima teimosa escorrer pela minha face, a qual limpei

com força.
Não iria chorar por aquilo, mas não contive a dor leve que me

invadia sem um motivo plausível. Eu tinha tudo o que alguém


poderia querer: pais que me amavam, casa própria, e agora um

emprego que me garantiria uma vida mais do que confortável se eu


conseguisse mantê-lo. Então não tinha direito a estar assim.
Joguei-me no meu sofá de couro, caro, porém confortável,

pago em várias prestações como uma boa assalariada, e me


encolhi.

Eu não costumava ter tantas crises de humor assim. Estava


oscilando entre o medo e o desejo, indo da excitação à raiva, da
irritação ao vazio que agora eu sentia, que me levava às lágrimas

indesejadas. Não sentia fome e o cansaço, embora pesasse sobre


os meus ombros, não impedia da minha mente estar em um

turbilhão. Meu coração batia apertado. Deus, o que estava


acontecendo comigo?

E tudo o que eu ansiava agora era de um abraço que não


podia ter. Teria que me contentar com a doce voz da mulher que
sempre me amaria, aconselharia, e que se ela não morasse tão

longe, a mais de mil milhas de distância, me apertaria em seus


braços e me cobriria de beijos, e seria imitada pelo meu pai.
Esticando-me, peguei meu celular que tinha largado na mesa de
centro e fitei a imagem dos dois na minha agenda telefônica. Sorri

ao ver a nova foto que eles tinham tirado, junto com a tal
caminhonete velha. Realmente não acreditava que meu pai tinha

feito aquilo.
Precisando ouvir a voz dela, disquei seu número, mas
acabou chamando até cair. Não insisti, sabia que ela veria o registro

e não demoraria muito a me ligar de volta. Enquanto isso, peguei


meu e-reader e busquei por uma leitura qualquer para me distrair,

mas as letras pareciam estar embaralhadas, e minha mente voltou a


me jogar nos braços do turco, o que me arrancou suspiros de dor e

tristeza.
Perdida no tempo e no espaço, já iria passar para a segunda
página da comédia romântica, que tinha o poder de nos fazer

fantasiar com homens que não existiam na vida real, quando meu
celular tocou. Sabendo que só poderia ser a minha mãe, pois os

diretores da empresa só me ligariam uma hora dessas numa ultra


emergência, e não havia a mínima possibilidade de eu ouvir
novamente aquela voz grave e rouca hoje, atendi, acomodando-me

melhor no sofá.
— Mãe — cumprimentei-a, fingindo uma animação que não
sentia.
— Filha, não estava esperando sua ligação. — A voz dela era

doce e eu confirmei ali que ela conhecia cada nuance minha para se
deixar enganar. — Aconteceu alguma coisa? Estava fazendo a janta

para o seu pai.


— Não, mãe, meu chefe me deu uma noite de folga do
trabalho extra, então resolvi te ligar para matar a saudade.

— Folga mais do que merecida — ouvi ela fazer um barulho

de reprovação e novamente me repreender — você está


trabalhando demais, menina!

— É por uma boa causa e estou amando cada minuto da

minha nova função — disse a verdade, embora cada minuto dele

também tenha sido um martírio. E a tortura pior seria amanhã.


— Mas tem algo acontecendo, não tem? — Fez uma pausa,

e percebi que ela buscava as palavras para introduzir o assunto, e

eu odiei que tivesse colocado aquela reserva nela, uma barreira que
nunca existiu na nossa relação. — Eu conheço o seu tom de voz,

minha filha. Sei que embora você esteja cansada, está feliz com o

seu novo emprego, mas algo vem te incomodando já não é de hoje.


Tem a ver com o seu novo chefe, não tem?
— Sim. — Emiti um suspiro longo e doloroso.

— Não tenha medo de se abrir comigo, querida. Seu pai não


está do meu lado e eu não sou fofoqueira.

Pude imaginar ela piscando um olho para mim, e dei uma

gargalhada, algo que tanto precisava.


— Literalmente fui trocada por uma caminhonete velha.

Desde que ela entrou na garagem, seu pai nem me deu um único

beijo. — Soltou um bufar, apenas para rir em seguida. — Homens!

Ele que me aguarde.


Balancei a cabeça, gargalhando ainda mais, sem um pingo

de pena por papai. Ele merecia a vingança dela.

— Depois me conte como foi a sua represália — comentei e


rimos até que ela voltasse a ficar séria outra vez.

— Você deseja mais do que apenas aquela noite, não é,

minha filha? — questionou naquele tom de voz que ela empregava


quando queria parecer mais amiga do que mãe. Apenas uma mulher

conversando com outra.

— Muito, mamãe.

— E ele não quer você outra vez? — sussurrou com


compaixão e me encolhi ainda mais no sofá.
— Não é isso, eu sei que ele me deseja e muito. Ele sempre

me despe com os olhos, me devora. E quase que nós transamos

outra vez lá no escritório. — Não tive vergonha de admitir isso para


ela, as palavras pareciam fluir de mim.

— Humm — pareceu pensar por longos segundos. — Então

qual o problema, Val? Por que não fizeram se os dois queriam?

— Ele só quer sexo, mãe — externei, e minha voz saiu mais


baixa e ferida do que gostaria.

Comecei a contar para ela sobre os jantares, que me

pareciam íntimos demais, as conversas, a preocupação dele com o


meu bem-estar, o modo como ele valorizava a minha opinião, sem

esquecer dos pequenos presentes e as rosas que ele colocava na

minha mesa.

— Eu temo misturar as coisas, mamãe — confessei. — Você


sabe como eu sou, uma completa boba que sonha com o seu final

feliz. Tenho medo de imaginar sentimentos que não existem, ainda

mais quando sei que ele não quer nenhum relacionamento sério.
Posso ver isso nos olhos dele e ele mesmo já me deu a entender

isso. Eu não quero me apaixonar pela gentileza dele, pelo carinho

que ele demonstra, que pode ser somente para me levar para cama

de novo, e acabar com o coração quebrado. Não quero que Yazuv


me machuque quando tudo terminar, como meu ex, que seguiu em

frente, me trocando por outra quando se cansou. Ao mesmo tempo,


não tenho mais forças para resistir a ele, a esse desejo que me

queima.

— Ah, filha — sussurrou depois que eu terminei meu


desabafo. — Mas sem saber, quando você nega esse envolvimento,

que sei que é efêmero, você já está machucando a si mesma.

Posso perceber no seu tom de voz, eu te conheço.

Fiquei em silêncio e engoli em seco, pensando que de fato


ela estava certa. Eu sabia que estava nadando contra a corrente,

pois tudo me impelia a ele, mas, mesmo assim, evitá-lo, parecia a

melhor escolha.
— E sobre se apaixonar, acontece, querida. Você bem sabe

que não escolhemos essas coisas. Ir ou não para a cama dele não

impedirá que você goste desse homem ou que você não acabe

sofrendo, ainda mais quando você continuará trabalhando para ele,


que continuará te cobrindo de mimos e atenção. — Emitiu um bufar.

— Deus sabe que esse turco não está facilitando as coisas para

você…
Senti uma lágrima escorrer pelo meu rosto enquanto dava

uma risada sem humor com a verdade que ela jogou na minha cara.
Eu sabia que tinha deixado uma pontinha do meu coração com ele

quando o deixei no quarto de hotel naquela noite, e a proximidade

forçada por ele me fazia enxergá-lo por outro ângulo. Ceder ou não

ceder, isso não mudava o fato de que eu admirava aquele homem,


que apreciava sua conversa, sua companhia e seus olhares, e que,

a cada noite, eu via uma outra faceta dele, a do homem que ele era,

a do empresário irascível, a do menino que ele foi, e estranhamente,


aquele lado que ele parecia esconder até de si mesmo. E nada

poderia impedir que, sem querer, eu pudesse a vir a amar cada uma

dessas partes que ele me permitiu ver.

— Você é jovem, Val, vai se apaixonar e quebrar a cara


várias vezes ainda, infelizmente, E tem todo o direito de fazer

escolhas ruins para homens. Fiz as minhas antes de conhecer o seu

pai e hoje o valorizo ainda mais o que eu tenho com ele, mesmo
tendo os seus altos e baixos — seu tom ficou mais suave —, mas

somente você poderá pesar na balança os riscos e se valerá a pena

escolher ou não pegar aquilo que ele está te oferecendo, e que é

algo que você quer tanto. Meu único conselho é que não se paralise
pelo medo por algo que não está nas suas mãos, mas sim no seu

coração.

— E se der errado, mamãe?


— Eu e seu pai estaremos aqui para te abraçar, confortar,

apoiar e, principalmente, amar. — Dei um sorriso em meio ao choro


pelo amor que minha mãe sentia por mim.

— Eu amo você, mãe. Muito.

— Você é minha vida, filha — sussurrou, emocionada —, e

eu tenho certeza que nada nesse mundo, nem mesmo um homem


sedutor, impedirá você de se reerguer. Você é uma mulher

fantástica, somente tolos não veem isso.

— Fala isso porque é minha mãe…


Ouvi um som de desagrado, mas ela não respondeu a minha

provocação.

— Tenho certeza que tomará a decisão certa — disse depois


de um longo silêncio e mudou de assunto. — Seu pai está vindo,

agora está na hora do meu plano.

Gargalhei alto e maneei a cabeça.

— Ele é todo seu. — Não escondi minha diversão.


— Sabia que você iria compreender — pareceu encabulada.

— Você ficará bem?

— Nada que uma pizza não resolva.


— Humph. — Não acreditou em minhas palavras.

— Vai lá, mãe, um beijo.


— Beijos, te ligo mais tarde — disse.
Antes de desligar, ouvi ela dar um gritinho, provavelmente

meu pai a tinha pegado no colo como tinha por hábito fazer. E eu dei

uma risada, sabendo que os planos dela estavam fadados ao


fracasso. No fundo, invejava os dois por tal cumplicidade e

felicidade.

A gargalhada morreu assim que abri meu aplicativo de


mensagem e vi duas enviadas por Yazuv. Uma era com o endereço

do apartamento, que ficava na Avenida Michigan, um dos locais

mais caros de Chicago, e a outra solicitando que eu não usasse

roupas formais, querendo, melhor, exigindo, que eu ficasse à


vontade, já que trabalharíamos até tarde.

Agora, além de ter que escolher algo que ainda fosse

apropriado no meu guarda-roupa limitado para estar com o meu


chefe trabalhando no seu apartamento, tinha que me decidir se

ouvia o conselho da minha mãe ou se continuaria a me machucar.


Na verdade, a nos machucar, já que ao negar o que realmente
queria, presa por um medo sem sentido, o feria também por tabela.
Pagando o taxista, que me abriu um sorriso quando lhe disse
para ficar com o troco, desci do veículo em frente ao arranha-céu

histórico em estilo neogótico, composto de peças em formato de

arcos no topo contendo pináculos que apontavam para o céu, e com


detalhes na arcada da porta, que tinha sido transformado em um

condomínio de luxo.

Eu parecia congelada na calçada, apertando a bolsa com

força entre os meus dedos e sentindo meu estômago revirando, em

um nervosismo ridículo.

Suspirando fundo, obriguei-me a caminhar em direção a

entrada. Cumprimentei os dois seguranças, estacados na porta, que

me olharam de cima a baixo, talvez reprovando meus trajes, me

indicando para me dirigir ao atendente e me identificar. Não contive


um som de surpresa ao adentrar na recepção luxuosa com teto

abobadado, piso e balcão de mármore e elementos arquitetônicos

cheios de detalhes que davam um toque romântico a tudo. E junto

com a agitação, por saber que estava prestes a entrar na “toca” do

meu chefe, atormentada pelas reflexões que me deram mais uma

outra noite insone, veio a insegurança das nossas diferenças


sociais, por mais que ele diga que não se importa com isso. Era
mais um aspecto que me dava a certeza de que seria apenas sexo,
isso se ele ainda me quisesse. Eu não era sofisticada, e nunca

seria, não no padrão daquele homem. E, naquela confusão de

sentimentos, por saber que nunca me encaixaria naquilo, na vida

dele, uma tristeza me tomou.

Balancei a cabeça, dizendo a mim mesma que não era para

aquilo que estava ali, mas sim para fazer o meu trabalho. Mesmo
repetindo isso como um mantra, não me ofereceu nenhum conforto.

Aproximei-me do porteiro elegantemente vestido, o barulho dos

meus sapatos ecoando nos meus ouvidos em meio aquele silêncio

ensurdecedor.

— Bom dia. — Meus lábios se curvaram em um sorriso, meio

constrangido, que o senhor retribuiu com gentileza.

— Bom dia, senhora. Em que posso ajudá-la?


— O senhor Ibrahim está me aguardando. — Coloquei uma

mecha do meu cabelo atrás da orelha, sem jeito. — Apartamento

251.

— Tudo bem, senhora. — Seus olhos brilharam, curiosos,

mas os anos de experiência, provavelmente, o ensinaram a ter

discrição. — Eu vou informar o senhor Ibrahim da sua chegada. Por


favor, preciso de um documento de identificação.
— Okay.

Abri minha bolsa com meus dedos trêmulos, retirei da carteira


minha habilitação e a entreguei ao homem. Após anotar alguns

dados, me devolveu o documento e pegou o telefone para ligar para


Yazuv. Sabia que não seria barrada a minha entrada, mas essa
espera me deixou nervosa, ainda mais quando vi o senhor

conversar calmamente com o turco. Meu coração batia acelerado no


peito, e enquanto aguardava a autorização, relanceei o meu olhar

pela minha própria aparência, focando na sapatilha. Parecia pouco


profissional. Quando me olhei no espelho antes de sair de casa,

contemplando a maquiagem leve e meus cabelos caindo em onda


sobre meus ombros, tinha me sentido linda, bem comigo mesma,
principalmente confortável com aquele vestido estampado e um

casaco. Fazia tanto tempo que não usava uma roupa tão causal,
que quase não me reconheci. Mas, ali, naquele ambiente, me

arrependia de não ter colocado uma calça e uma blusa social com
meus saltos altos, contrariando o que ele tinha pedido.

— Senhora Johnson? — O porteiro me tirou do transe e eu


ergui meu rosto, fitando a expressão gentil. — O senhor Ibrahim
autorizou-a a subir. O apartamento fica no vigésimo quinto andar, os

elevadores ficam à direita — sorriu. — Tenha um bom dia, senhora.


— Obrigada.

Mesmo insegura, me forcei a caminhar em direção a caixa de


metal e vidro, inspirando e expirando lentamente, ainda

embasbacada pelos detalhes que compunham a decoração, cada


arcada, cada coluna. Assim que entrei, fechei os olhos, tentando

vestir uma máscara que escondesse o quão nervosa e insegura me


sentia, mas falhei, e tive essa certeza quando foi anunciado que
tinha chegado ao andar. Senti minha bolsa escorregando dos dedos,

e meu coração estava batendo tão rápido, que parecia que ia sair
pela boca. Perdi completamente o fôlego quando as portas se

abriram e vi a decoração de uma espécie de terraço que tinha uma


vista de quase 360º da vizinhança. Não resisti em aproximar-me de
um dos vãos abertos para contemplar toda a Chicago por alguns

minutos mesmo sabendo que era esperada. Logo em seguida


encontrei a enorme porta de madeira com o número do apartamento

de Yazuv.
Não tive tempo de tentar me aprumar, pois, como se previsse

que eu tinha chegado, o turco abriu a porta. Eu engoli em seco,


dando um passo para trás, enquanto segurava minha bolsa com
mais força. Uma comichão fez o meu sexo se contrair com o desejo

insatisfeito que retomou com toda a sua fúria ao encarar a pele


morena, os ombros largos poderosos, o peitoral definido desnudo,
que subia e descia com a respiração acelerada dele. Não consegui
me conter e abaixei os olhos, admirando aquele abdômen trincado,

alcançando o cós da calça de moletom, que não deixava nada para


imaginação, até chegar nos pés descalços e refazer o caminho de

volta. E quanto mais o olhava, mais a minha respiração ficava


descompassada. Não conseguia parar de fitar a pele desnuda,
devorando-o, mesmo surpresa.

Definitivamente, não esperava que ele estivesse tão à


vontade assim! Mas tudo em mim gostou de vê-lo relaxado, sem

roupas formais que pareciam ser sua segunda pele. O que não
gostei foi notar que havia uma pontinha de cansaço em suas

feições, o que me enterneceu e fez com que a preocupação que eu


tinha por ele se misturasse ao desejo.
Sabendo que era analisado e parecendo satisfeito com isso,

encostou no batente em uma pose casual, flexionando os músculos


do braço, o que atraiu mais minha atenção e minha vontade de tocá-

lo, desejo que me fez virar o rosto. Mas sabia que eu era analisada
com igual intensidade. Senti seus olhos negros percorrendo
lentamente todo o meu corpo e, quando voltou a me encarar, pude

perceber a apreciação, isso confirmado pelo sorriso lascivo e


predatório que se abriu lentamente em seu rosto. Nossa ânsia era
mútua.
— Bom dia, Yazuv. — Empertigando-me, forcei-me a dizer

quando o escrutínio dele me levou a caminhos em que queria que


deixássemos de lado o trabalho que tínhamos a fazer e fôssemos

nos entregar aquela luxúria descontrolada, movidos pelas fantasias


que tinha tido durante o meu banho. E fitando-o, sentindo aquele
desejo me consumindo, eu soube que por mais que me doesse,

tornar-me sua amante temporária parecia mais do que inevitável.

Mas antes tínhamos trabalho a fazer.


Descolando-se da porta, ignorou o meu cumprimento, e

balançou a cabeça em negativa demonstrando a sua contrariedade

pela minha tentativa de manter-me mais sobre controle. O brilho dos

olhos negros era uma mistura de irritação e ânsia. Se aproximando


de mim, inclinou-se na minha direção e sua boca pairou a

centímetros da minha, sua respiração quente contra a minha pele

como uma carícia que criava pequenas fagulhas em mim. Nos


encarávamos como se não houvesse nada além de nós dois no

mundo.

Tive que me esforçar para não deixar a minha bolsa cair e


espalmar as minhas mãos no peitoral, deslizando as pontas dos
meus dedos pelos ombros, músculos dos braços, contando os

gominhos do abdômen, até alcançar seu quadril. Não era porque ele
estava desnudo que aquilo era um convite para tocá-lo, embora seu

olhar deixasse mais do que claro de que não se importaria o mínimo

se eu o fizesse.
Yazuv me desafiava a tocá-lo, mas apenas fiquei ali o

encarando, querendo que ele destruísse a distância entre nós dois e

me beijasse com toda a sua fome e paixão, que me pegasse de

uma maneira que destruísse todas as minhas barreiras. Para a


minha decepção, ela apenas ergueu uma mão e colocou uma

mecha do meu cabelo atrás da orelha, tocando o meu rosto

suavemente, antes de dar um beijo terno na minha testa, o que


arrancou de mim um suspiro de deleite, ainda mais quando ganhei

um outro na ponta do nariz.

— Bom dia, değerli. — Curvando-se ainda mais, sussurrou


próximo a minha orelha em um tom suave, fazendo meus pelinhos

da nuca se arrepiarem com a intimidade do gesto. — Conseguiu

descansar?

Contive um choramingar e a vontade de abraçar a mim


mesma quando ele deu um passo largo para trás, se afastando de
mim, o que apertou o meu peito com força e uma onda de tristeza

me assolou.

— Não muito — fui sincera com ele, embora não fosse


revelar as razões, —, mas estou preparada para trabalhar. E você?

Fez uma boa viagem de volta? Deu tudo certo ontem com os

negócios?

Ele sorriu com as várias perguntas feitas uma seguida da


outra.

— Cansado — deu de ombros, como se não se importasse

com o fato, e meu olhar acompanhou o movimento dos seus


músculos, apenas para voltar a encarar os olhos negros e a

expressão que não escondia o sono —, infelizmente a discussão

demorou mais tempo do que eu imaginava e cheguei faz apenas

algumas horas.
— Entendo…

Senti uma ternura por aquele homem, e a preocupação que

nutria por ele cresceu, por saber que ele trabalhava demais e se
considerava indestrutível. Sem que me desse conta, deixei minha

bolsa cair e me aproximei dele. Ergui a minha mão e toquei sua

barba espessa, acariciando-o, e Yasuv fechou os olhos,


murmurando baixinho alguma coisa em turco que deixava mais do

que claro sua exaustão.


— Porque você não…

Não pude dizer mais nada, pois logo ouvi um barulho de

alguma coisa arranhando o piso de mármore do hall, mas não tive


tempo de reagir, pois algo se colocou entre nós, dando uma patada

forte nas minhas coxas, fazendo com que eu me esborrachasse no

chão com o ataque inesperado.

— Oh!
— Aylla. — Ouvi a voz de Yazuv soar grave.

O vi tentar tirar o animal grande e creme de cima de mim,

mas sem muito sucesso. O bichano começou a balançar a cauda


amigavelmente para mim e a cheirar a minha barriga,

insistentemente.

— Não, menina, vem aqui. Desculpe por isso — pareceu

aflito ao falar, ainda tentando tirar a insistente cadela de cima de


mim —, ela costuma ter medo das pessoas, não as atacar. Não sei

o que está acontecendo com ela hoje.

Desviei meu olhar do animal para ele, percebendo pela


primeira vez um certo desconforto em sua expressão.

— Não tem problema, Yazuv — respondi suavemente.


Dando atenção a cachorrinha que ainda me cheirava,

abanando o rabo, toquei o pelo macio dela e o acariciei, recebendo

pequenas lambidas no rosto, nos dedos e até mesmo no abdômen.

— Gosto de cachorros, mas, infelizmente, faz tempo que não


tenho um. Costumo brincar com os dos meus pais quando vou

visitá-los no rancho.

— Fico feliz.
Voltei a olhá-lo perante suas palavras cheias de alívio, como

se aquilo fosse importante para ele, e o turco agora me pareceu

mais do que perfeito pelo tamanho apreço que vi nele pelo seu

animal de estimação. Meu coração voltou a bater acelerado. Como


não amar um homem que gostava tanto de cachorros?

— Acho que ela gostou de você, o que não acontece muito —

completou —, Aylla costuma só ter olhos para mim, é uma cachorra


bastante ciumenta e odeia compartilhar. — Bufou e eu não contive a

risada pela pequena demonstração de ciúmes dele.

— Será que ela puxou o temperamento do papai? — brinquei

com Yazuv, mas me arrependi na hora.


Quem era eu para falar tal coisa? Na verdade, ele parecia

autoconfiante demais para ter tais sentimentos como nós, meros

mortais. Mas como eu me sentiria se eu o visse com outra pessoa?


Suspirei fundo, não queria me machucar ainda mais pensando

nisso.
— Talvez — seu tom foi misterioso e seu olhar cintilou,

embora fosse insondável, antes de me percorrer por inteiro. Aquele

calafrio bem conhecido me invadiu, fazendo com que um friozinho

se formasse na minha barriga. O desejo voltou a pulsar entre nós


dois, intenso.

— O que significa o nome dela? — Voltei a olhar a cadela.

Era bem mais seguro mudar de assunto. — É turco?


— Sim, a tradução é “Luz da Lua”.

— Que nome lindo, querida, tão linda quanto você —

murmurei, acarinhando atrás da orelha caída, fazendo o mesmo


com a parte traseira, e a cadela emitiu sons baixinhos que pareciam

me indicar que estava gostando. — É bom não é mesmo, mocinha?

Ri quando ela latiu em resposta e não resisti em plantar um

beijo no focinho molhado, ganhando uma lambida. Continuei a


brincar com a cadelinha. Ela era tão doce que foi impossível não me

apaixonar por ela à primeira vista. Estava tão absorta, que não

reparei que já não estávamos mais sozinhos no hall, e uma


gargalhada me trouxe de volta a realidade, me tirando daquela

pequena felicidade que estava envolta no momento. Virei-me para o


lado e vi duas mulheres caminhando em direção ao terraço em suas
roupas elegantes, sendo impossível não me sentir rígida por estar

ainda sentada no chão, principalmente quando percebi os olhares

percorrerem o corpo de Yazuv com apreciação, e com desdém para


mim, as pequenas risadas colocando-me em meu lugar. Eu não

pertencia e nunca caberia nesse mundo. A deselegância do meu ato

era a maior prova viva disso. Dando um beijo topo na cabeça de


Aylla em um último chamego, já que a cadela era pura demais para

compreender o que se passava, acabei sendo alvo de ainda mais

risos. Ergui-me e, sem me preocupar com o estado das minhas

roupas, usei uma máscara de indiferença, escondendo o incômodo


que me causavam, e sorri para elas.

— Bom dia — cumprimentei-as em um tom suave.

As ouvi resmungarem alguma coisa, mas não entendi o que


era, porque, pegando-me de surpresa, Yazuv envolveu a minha

cintura com força, o que fez com que minhas palmas encontrassem
aquele peitoral delicioso, e tomou meus lábios em um beijo duro,
sua língua pedindo passagem pelos meus lábios, e eu concedi,

mergulhando naquela selvageria que o consumia, que escondia a


sua fúria, não por mim, mas por aqueles seres abomináveis que
provavelmente eram suas vizinhas. E pelo menos por aqueles
poucos segundos, a sensação de que eu era imprópria não mais
existiu, pois aquele homem me fazia sentir que nada importava além
de pertencer a ele. Mas o beijo acabou rápido demais, e seu aperto

afrouxou quando Aylla enfiou o focinho entre nossos corpos.

— Vamos entrar, aşkım[26] — disse em voz alta contra os


meus lábios, os olhos brilhando perigosamente enquanto acariciava
meu rosto levemente com o dorso da mão. — Senti a sua falta.

— Eu também — murmurei, mesmo sabendo que ele


representava para a plateia, provavelmente as mulheres tinham
sentado nas poltronas instaladas que davam vista para a cidade,

lugar que parecia um grande anexo de sala de estar das residências


e ainda nos observavam.
— Fico feliz com isso.

Pegou minhas duas mãos e as levou aos lábios, como se


agradecesse o sentimento, fitando-me com tal intensidade que eu
soube que estava mais do que perdida, ainda mais quando, como

um perfeito cavalheiro, curvou-se para pegar a minha bolsa e fez


uma vênia para que eu entrasse primeiro, como se eu fosse a sua

dama, mas Aylla, antes que eu pudesse reagir, saiu trotando na


minha frente, o que arrancou de mim um sorriso.
Muitas vezes eu conseguia ocultar a raiva que sentia
adotando uma expressão indiferente, controlando a minha fúria até

que ela arrefecesse sem ninguém a perceber. Mas quando aquela

mulher estava envolvida, eu perdia toda a minha capacidade de


raciocinar.

E aquele beijo tinha sido movido pela irracionalidade e pelo


cansaço que as três horas de sono não foram capazes de diminuir.

Eu estava desejando fazer isso há vários dias, mas não daquela

forma. Ansiava por um beijo calmo, lento, persuasivo. Mesmo assim,


o impulso por ver Valdete vulnerável, se sentindo diminuída pela

atitude daquelas mulheres, que conseguiram apagar a alegria e o

calor dos olhos da minha preciosa que interagia com a minha


menininha, fez com que eu agisse mesmo não precisando provar

nada para ninguém, nem mesmo para a benim değerli, minha

convidada.

Algo que vinha planejando desde a minha decisão de recrutá-

la para me ajudar na investigação da corrupção na Motors, que foi a

desculpa perfeita para tê-la ali, mesmo que meus planos de

vingança tivessem mudado. Desejava saber sua opinião sobre a


decoração do meu apartamento, dos móveis, da vista, de tudo. E
também, algo que não mais negava a mim mesmo, se ela se sentiria
confortável ali, como se estivesse em sua casa. Tinha um desejo

secreto de que ela passasse mais tempo aqui do que no próprio

apartamento. Comigo. Na minha cama.

Mas era Valdete quem determinaria como ficaríamos e se

daríamos vazão àquilo que nos consumia. Minha ânsia por aquela

mulher fazia eu pagar o preço por ela estipulado.


Movido por esses sentimentos, não poderia admitir que ela

fosse vítima da zombaria pelos seus gestos. E, em um ato que

provavelmente nunca faria com outra pessoa, já que não era de

demonstração de afeto em público, fui impelido a mostrar que

Valdete era a minha mulher. Não a esconderia como alguns homens

da minha classe o faziam com suas amantes, não era um moleque e

eu não ocultava as consequências dos meus atos.


Fechando a porta suavemente, um grande contraponto com o

que sentia, e que provavelmente estava visível na grande carranca

em minhas feições, coloquei a bolsa em cima do móvel de entrada,

e inspirei fundo várias vezes, soltando o ar devagar, fechando e

abrindo a mão com força, buscando dominar minha raiva.

Mas tudo que eu precisava para minha fúria me abandonar


era olhar a mulher, que estava estacada no centro do hall enquanto
Aylla esfregava a cabeça na mão e nas coxas de Val, balançando o

rabo freneticamente, implorando por carinho enquanto a benim


değerli parecia contemplar a parede de pequenos azulejos coloridos

que formavam uma espécie de mosaico, imitando as decorações


dos antigos palácios otomanos. Um sorriso surgiu em meus lábios
com a cena.

A cadela era muito importante para mim, tanto que a levava


sempre comigo para onde me mudasse, e saber que a mulher que

eu desejava não via o animal com repulsa por ter a derrubado,


produzia algo estranho em meu interior, uma satisfação absurda,

tornando-a ainda mais linda aos meus olhos. Sabia que poderia
parecer algo sem sentido, mas que para mim tinha muita
importância. Em muitos lares turcos animais não eram permitidos

dentro de casa por questão de higiene, mais um costume que nunca


adotaria.

Por mais que gostasse de Val e estivesse disposto a ceder


em muitas coisas, Aylla era livre para perambular por onde

quisesse, e não iria prendê-la por conta de sua visita. Então gostei
muito da interação das duas, e principalmente pela cachorra não a
temer, sendo mais que cordial. Poderia ser uma amizade que se
fortaleceria ao longo do tempo, e meu sorriso ficou ainda maior

pensando nessa possibilidade.


Me sentindo mais leve, embora meu coração batesse

acelerado, caminhei até onde as duas estavam, mas pareciam


alheias a mim. Como se fosse algo natural, parei atrás de Valdete e

deslizei um braço pela sua cintura, abraçando-a por trás, sentindo


seu corpo ficar tenso, por mais que ela tenha tentado esconder.
Encaixei meu rosto em seus ombros ao passo que sentia Aylla

voltar toda a sua atenção para mim, cheirando a minha calça, mas
surpreendentemente, não tentou nos afastar em um gesto de

ciúmes, que costumava ter. Boa menina!


Respirei fundo, embriagando-me com o perfume suave que
emanava dos seus cabelos, ainda mais contente por Val não ter

repelido meu abraço, pelo contrário, ela se ajustou ainda mais nele,
como se ali fosse o seu lugar. Sua bunda esfregou suavemente na

minha pelve, despertando o meu corpo, que sempre estava pronto


para o dela, mas pareceu não se importar com a ereção. Sua mão

começou a deslizar pela minha pele desnuda em uma carícia lenta.


E eu apenas fiquei ali, aproveitando aquele momento bom
por tê-la em meus braços, tentando enxergar o meu luxuoso espaço

pelos seus olhos. Tinha a certeza que poderia ficar assim por longos
minutos, sentindo seu calor, seu cheiro e os toques que tinha me
privado nos últimos dias. Aquela torrente de emoções
desconhecidas produziam um grande vendaval dentro de mim

sempre que estava próximo dela, mas não havia mais aquela fúria
descomunal de necessidade, apenas uma sensação de completude,

que preenchia espaços que não sabia estarem vazios. Entretanto,


como sempre, não busquei compreender o que era aquilo, sabendo
que talvez fosse melhor assim.

— Gostou da decoração? — sussurrei minutos depois,


mesmo tendo ciência que ela não tinha visto nada do meu

apartamento ainda.
Ela não respondeu de imediato, apenas girou no meu aperto,

espalmando as mãos pequenas no meu peitoral, erguendo um


pouco o rosto para poder me encarar, com seus enormes olhos
azuis repletos de uma emoção indecifrável, porém poderosa o

suficiente para trazê-la mais para mim, colando nossas pélvis,


embora o casaco dela estivesse nos limitando.

Tanri, o mistério que havia em sua expressão me seduzia e


me instigava a beijá-la novamente.
— É lindo, Yazuv — a voz era suave e ela contemplou o

enorme lustre de cristal acima das nossas cabeças —, um


verdadeiro palácio.
— Talvez porque foi inspirado em um. — Sorri para ela, que
retribuiu.

— Não esperava que você fosse tão excêntrico — brincou,


arqueando a sobrancelha, arrancando de mim uma risada.

— Ainda não viu nada, değerli. — Não resisti e cobri os lábios


dela com um selinho, mesmo que isso deixasse minha boca
implorando por um beijo mais longo, com direito a gemidos e

entregas.

— Hmm…
Seus olhos brilharam em um convite que estava prestes a

aceitar, porém Aylla, que até então estava comportada até demais,

enfiou o focinho entre nossos corpos e aquilo foi o suficiente para

que Valdete saísse dos meus braços, dando um passo para trás,
acariciando a cadela, que pareceu se alegrar com o fato de que ela

tinha sua atenção. Não contive o meu típico som de exasperação e

a risada da mulher ecoou no cômodo de teto alto e abobadado.


— Vamos trabalhar? — Aprumou o corpo. — É para isso que

vim até aqui, não é mesmo?

Fiz uma careta de desagrado para ela, prestes a retrucar,


argumentando que não era somente para examinar planilhas que eu
a convidei, mas me contive por uma razão que não sabia explicar.

Talvez porque, no fundo, secretamente, eu desejasse que ela


tivesse vindo por mim. Um pensamento despropositado, mas que

me fez estacar, sem a certeza se conseguiria lidar com esse

sentimento.
— Preciso tirar os sapatos? — Tirou-me dos meus devaneios

e apontou para os meus pés.

— Ah, confesso que esse costume me foi incutido pela minha

mãe e avó. — Fiz uma pausa e acariciei a cadela, que pedia pelos
meus carinhos me dando patadas na minha calça. — Várias vezes

ganhei algumas palmadas por esquecer de tirá-los. É cultural.

— Sinto muito. — Sem precisar de um convite, caminhou em


direção ao banco que ficava logo na entrada e se sentou,

começando a remover a sapatilha delicada que usava.

— Não por isso — minha boca secou com o desejo que senti
ao vê-la apenas de meia calça, e engoli em seco. Minha voz saiu

mais rouca do que desejava: — acho que também não é necessário

manter o casaco.

— Cultural também? — brincou comigo, os lábios dela se


erguendo em um sorriso malicioso, e meu corpo todo vibrou por ela.
Meu pênis esticou o tecido da calça, já que não usava nada

além da peça, um grande erro sem dúvida, e ficou ainda mais

evidente quando, erguendo-se, levou a mão ao cinto para


desafivelar o casaco e começou a remover os grandes botões das

casas. Meu coração pareceu parar de bater por alguns segundos

quando tirou a peça quente, ficando apenas com um vestido

estampado floral com alças finas, que moldava perfeitamente o


corpo pequeno, o decote evidenciando ainda mais as curvas bem-

feitas dos seios pequenos, embora o comprimento alcançasse os

joelhos. Se ela tinha ficado sexy em um vestido de festa e ficava


ainda mais em suas roupas de trabalho, com os cabelos soltos e

aquela roupa, que era a cara do verão de um país tropical, que

expunha a pele dourada pelo sol de Barbados e as marcas deixadas

pelo biquíni, contrapondo com a meia calça, ela estava ainda mais
poderosa, uma Tanriça. E não consegui deixar de comer aquela

mulher com os olhos, minha fome por ela aumentando ao ponto de

que corria o risco de me envergonhar e molhar o moletom. Quando


ela se virou para pendurar o casaco no gancho, dando-me a visão

das suas costas e da sua bunda empinada, emiti um som estranho

que fez com que ela me encarasse, e depois relançasse um olhar

para si mesma.
— Sei que estou inadequada. — A voz saiu fraca e ela

envolveu a cintura fina com os braços e abaixou a cabeça. Não


precisava que dissesse mais nada para que eu compreendesse que

estava insegura por não estar usando uma roupa profissional.

Alcancei-a, prendendo-a contra o meu peitoral novamente.


Com a mão livre, toquei seu queixo, erguendo o seu rosto para mim.

— Você está errada, Valdete — minha voz soou áspera

enquanto eu respirava fundo, inalando a fragrância dela—, está

mais do que adequada.


Não disse nada.

— Está vendo? — Esfreguei minha ereção nela, para que

sentisse o quanto estava excitado.


— Yazuv… — Gemeu o meu nome, seu corpo parecendo

querendo dançar com o meu em um ritmo voltado para o prazer,

mas ela se conteve.

— Anseio, e muito, que você deseje passar muito tempo aqui


comigo, que se sinta como fosse a sua casa — mordisquei a orelha

dela, sabendo que eu estava brincando com fogo, e Val estremeceu

em meu abraço —, está entendendo, benim değerli?


— Sim — arfou a resposta.
— Então que tal um pequeno tour no meu palácio excêntrico

antes de começarmos a trabalhar? — Cedi a esse ponto, sabendo

que ocupá-la com o trabalho que tinha proposto a relaxaria, porque

nesse quesito ela parecia muito comigo. — Tenho certeza que Aylla
vai adorar mostrar as caminhas dela e te entreter com a sua coleção

de brinquedos.

Como se soubesse que estava falando dela, a cadela latiu,


batendo com força o rabo no chão, atraindo nossa atenção.

— Seria ótimo.

Um sorriso enorme surgiu nos lábios dela, mexendo tanto

comigo que a soltei, mas fui logo a puxando para sair do hall,
arrastando-a pelas mãos como se fosse uma criança, com uma

cadela animada logo atrás.


Movimentei-me na poltrona, sentindo o meu corpo protestar
por estar a um pouco mais de uma hora naquela posição, e desviei

o olhar rapidamente para Yazuv, que conversava no telefone com

uma voz ríspida, provavelmente na sua língua natal.

Fiquei observando seu semblante tomado de frustração

enquanto resolvia um outro assunto que nada tinha a ver com a


nossa investigação. Ele estava a um bom tempo fazendo uma série

de ligações, digitando furiosamente no teclado do seu notebook, e

tudo em mim gritava que me levantasse e fosse massagear os


músculos tensos e rígidos, embora não soubesse se ele iria aceitar

tão bem tal carinho, já que quando perguntei se poderia ajudar em

algo, ele havia dito que não, então só cabia a mim trabalhar nas
informações sobre a compra e venda de matérias primas.

Mas, vez ou outra, meus pensamentos me levavam para os

pequenos momentos do dia de hoje, desde a animação do turco em

me mostrar a profusão de detalhes que tornavam de fato o

apartamento dele num lindo palácio, com uma profusão de cores

fortes, tapetes, arcos, móveis e objetos que remetiam ao design

turco, uma grande surpresa para um homem tão austero como ele.
Enquanto percorria os cômodos principais tinha sido impossível não
imaginar como seria viver naquele lugar que parecia proveniente de
um conto de fadas oriental, o que fez com que uma pontinha de dor

tivesse me acertado por saber que aquilo nunca iria acontecer.

Imagens da deliciosa brincadeira com Aylla, que agora descansava

nos meus pés e que parecia realmente estar encantada com a

minha presença, e os pequenos toques que Yazuv me dava no

processo, até o almoço íntimo, na sala de jantar privativa dele,


regado a conversas que fugiam daquilo que nos unia, o trabalho,

voltaram a minha mente. Essas lembranças me fizeram emitir um

suspiro baixinho de deleite enquanto o encarava, principalmente a

dele me fitando e dizendo que “queria que eu passasse muito tempo

ali”.

Eu não era tola, sabia que aquilo significava um arranjo

temporário, mas não tinha forças mais para resistir. Quando estava
acariciando a barriga de Aylla com os pés, fazendo a cadela rolar no

chão, emitindo sons caninos, ele me encarou, brindando-me com

um sorriso suave que chegava aos olhos, revelando novamente o

seu lado capaz de sentir emoções como qualquer mortal, como

cansaço, frustração, desejo e carinho, e tudo ao mesmo tempo.

Olhando para ele, isso me deu a convicção de que mamãe


estava certa, que eu estava me machucando de todas as formas ao
negar-me aquela felicidade, mesmo que efêmera, nos braços de um

homem carinhoso, terno e que me queria com todo o seu ser,


mesmo que fosse por um curto prazo.

Encarei-o tempo o suficiente para que meu coração se


enchesse novamente de preocupação por ele, e uma vontade
enorme de poder remover aquele peso dos seus ombros, fazendo-o

esquecer todo o trabalho que o cercava, me tomou.


Balancei a cabeça quase que imperceptivelmente, mas logo

prendi o ar nos meus pulmões.


Amor.

Embora eu lutasse contra e tentasse negar, tinha certeza que


havia uma parte de mim com ele, mesmo que não quisesse. E
quanto mais o olhava, mais certeza tinha que que estava me

apaixonando por ele, pelo lado sensível, humano, que ele escondia
de todos, mas não de mim, e o sentimento de proteção não me

deixava negar.
Meu coração se apertou, se quebrando em mil estilhaços por

saber que nunca seria correspondida, por mais amável que ele
fosse.
Mas eu aceitaria qualquer migalha que me desse. O meu

coração seria o preço que pagaria para tê-lo.


Essa constatação dolorosa fez com que eu voltasse minha

atenção para o trabalho à minha frente e afundasse nas planilhas,


naquilo que eu era paga para fazer. Deixaria para lamber as minhas

feridas e tentar juntar os meus cacos quando estivesse sozinha, ele


não precisava de uma cena de uma amante apaixonada, não

quando parecia ter vários problemas para resolver. Seria injusto com
ele.
Deixando que Aylla cheirasse minha mão livre, quanto mais

analisava e comparava os valores gastos com as matérias primas


para a fabricação das diferentes peças automotivas, mais alguma

coisa eu sabia que estava errada. Não sabia se era uma suspeita
que teria fundamento, mas percebia uma pequena discrepância no
aumento de centavos no preço de cada unidade que utilizávamos

para produzir as peças, acréscimo que se tornava maior a cada mês


nos últimos dois anos, que, no fim, gerava um montante mais do

que razoável. Um valor que chegava a casa dos milhões, que


acrescido a uma má gestão durante esse tempo, fez com que

perdêssemos muitos clientes, poderia muito bem ter levado a


empresa a ruína …
Estava tão imersa nessas reflexões, em cálculos, tentando

descobrir aquilo que estava errado, que nem percebi que Aylla tinha
saído, provavelmente para deitar em uma das suas muitas
caminhas, e nem a aproximação de Yazuv por trás de mim.
Somente notei quando ele espalmou a mão forte sobre o meu

ombro, contato que fez com que um calor gostoso me percorresse.


Como seria receber uma massagem daquele homem?

Não precisei imaginar, pois logo as duas mãos dele estavam


massageando a região, desfazendo os nós de tensão que nem
sabia que tinha. Fechei os olhos, tombando a cabeça para trás,

emitindo suspiros baixinhos por suas mãos estarem fazendo


maravilhas em mim, meu corpo todo ganhando vida com o seu

toque. Soltei um lamúrio quando ele interrompeu a fricção, e ouvi a


risada baixa dele no meu ouvido. Estremeci ao sentir seus lábios

mornos beijando o meu ombro, os pelos da barba me arranhando. E


eu desejei que ele abaixasse a alça fina do meu vestido e deixasse
aquela trilha de beijos provocantes até alcançar o meu pescoço,

enquanto suas mãos segurariam meus mamilos e os acariciariam.


Mas isso não aconteceu.

— Tudo bem, değerli? — Se afastou de mim, apenas para se


abaixar na minha frente, se firmando sobre os calcanhares, me
prendendo no seu olhar. Parecia preocupado. — Sua expressão

está estranha.
Balancei a cabeça como se dissesse que estava tudo bem.
— Eu que deveria estar te perguntando isso. — Acariciei a
barba dele, demonstrando a ternura que sentia por ele, e um leve

sorriso formou em meus lábios quando ele ronronou. — Conseguiu


resolver o problema?

— Felizmente, sim — suspirou de cansaço — mas não era


isso que eu tinha em mente para a tarde.
Um pequeno calafrio me percorreu com a sensualidade do

seu tom, e uma leve suspeita de que ele nunca teve a intenção de

passar o dia trabalhando, fomentada pelo desejo que sentia por ele,
me invadiu.

Uma tolice.

— Entendo, mas imprevistos acontecem — resolvi jogar o

mesmo jogo dele —, ainda temos algumas horas.


Os olhos dele cintilaram, com fogo e fome, e eu soube que

tinha perdido aquela batalha contra ele.

— Humm…
Ficamos nos encarando em silêncio, as promessas, a

atração, a antecipação e a luxúria queimando entre nós dois, até

que eu resolvi quebrar o contato, então me levantei da poltrona com


o meu notebook e fui até a mesa dele. Finalmente descobri por que
aqueles pequenos centavos de diferença no preço me

incomodavam. Ouvi os passos dele atrás de mim.


— Yazuv? — disse quando ele se sentou esparramado na

cadeira presidencial.

Suas mãos pousadas sobre o abdômen atraíram minha


atenção para os músculos retesados, e meu olhar acabou

deslizando pelo seu corpo, pousando no cós da sua calça, e percebi

a ereção estufando o tecido. Minha boca secou só de pensar que

ele não precisava de muito para ficar aceso, somente a visão do


meu corpo já era o suficiente, pelo jeito.

Ele era tão fácil assim de excitar?

Engoli o amargor com essa ideia, e voltei a fitar o rosto dele,


e vi as duas ônix que eram pura volúpia, e preferi me iludir achando

que era apenas eu que causava tal coisa nele. Tinha que acreditar

nele quando me dizia que ele não era igual aos outros homens.
— Sim? — perguntou, e eu voltei para aquilo que importava.

— Você se lembra do dia em que me disse que tinha como

hobbie ler sobre política internacional?

— Sim, e daí? — Deu de ombros, movendo-se na cadeira.


— Isso abrange questões econômicas também, não é

mesmo?
— Bem — pareceu curioso —, você deve saber que sim. Por

que pergunta?

— Não tenho muita certeza, mas me recordo que nos últimos


tempos o valor das matérias primas que usamos para a fabricação

dos nossos produtos vinha tendo uma queda no preço ou se

mantendo, com a alta do dólar em alguns países.

Assentiu em concordância, e mais confiante, peguei o


notebook e me aproximei dele para mostrar a ele as minhas

suspeitas, apontando para os números e valores, e alguns cálculos

que já tinha feito, destacando algumas diferenças. A expressão dele


foi cada vez mais grave. Ficamos imersos por um bom tempo no

trabalho, discutindo os dados que destaquei, comigo inclinada sobre

a mesa, em pé ao seu lado. A proximidade dos nossos rostos

quando falávamos e a troca de olhares nos tornava mais cúmplices.


Nunca me senti tão valorizada profissionalmente quanto agora,

quando ele respeitava as minhas opiniões, confiava naquilo que

mostrava. Saber que um homem como ele me reconhecia e me


tratava como uma igual era um grande presente que me dava sem

saber. Minha admiração por ele aumentou ainda mais, bem como o

carinho e a paixão que já sentia por ele.


— Chega de trabalho por hoje — seu tom era rouco, e me

encarou com devassidão, empurrando a cadeira para trás.


Olhei para o relógio do computador, constatando que era

pouco mais de sete da noite, não tão tarde assim.

— Eu… — Colocou um dedo sobre os meus lábios.


— Posso ver que está cansada.

Arqueei a sobrancelha para ele.

— Não mais do que você, senhor Ibrahim — provoquei-o,

sussurrando na orelha dele. Ele bufou e se ajeitou na cadeira, como


se aquilo o ajudasse a conter a excitação, o que arrancou de mim

uma gargalhada.

— Estou acostumado com esse ritmo frenético. — A voz dele


mostrava o quanto ele buscava se controlar quando.

— Eu sei…

— Acho que uma equipe de investigadores particulares

poderá ir mais à fundo nessas informações que você descobriu,


apesar de que iremos acompanhar de perto todo o inquérito.

— Entendo. — Fiz uma pausa quando um pensamento me

invadiu. — Essa investigação... Ela foi apenas para me seduzir?


— Não de todo, değerli. — Foi honesto, e estranhamente não

me senti mal pela sua resposta, afinal, ele havia jogado seu charme
de diferentes maneiras e eu sucumbi ao turco muito antes disso. —

Não mentia quando disse que precisava de alguém de confiança.

Que precisava de você.

— Humm... — Mordisquei a orelha dele, puxando o lóbulo


suavemente entre meus dentes.

Ficamos em silêncio, enquanto eu continuava a minha

exploração. Deixei um beijo na bochecha barbada, e o som que ele


emitiu ao receber minha carícia me deu coragem para continuar.

Sabendo que estava brincando com fogo, girei o assento de couro e

o fiz parar na de frente para mim, observando o peito dele subir e

descer, com a respiração acelerada. Correndo o risco de me


quebrar ainda mais, mas não conseguindo mais lidar com o fogo

que me consumia, e sabendo que ele não iria me rejeitar, apoiei

uma mão no ombro forte, toque que foi recebido como uma
descarga elétrica no meu corpo, e com alguma hesitação, dobrei um

joelho, pousando-o próximo a sua coxa.

Não precisei fazer mais nada, meus gestos já diziam tudo o

que queria. Ele então envolveu a minha cintura e terminou de me


sentar no seu colo, encaixando-me em sua ereção, o que me

obrigou a enlaçar seu pescoço. Ele me abraçou de volta, apertado,

sua mão acariciando minhas costas, sua boca deixando uma série
de beijinhos no meu rosto. E, por mais machucada que saísse

quando tudo terminasse, soube que não havia nenhum outro lugar
em que eu queria mais estar.
— Değerli? — sussurrei.

Coloquei uma mecha do cabelo sedoso atrás da orelha e

encarei a mulher no meu colo, sentindo meu corpo todo retesar


debaixo dela, controlando o impulso de erguer minha pelve e me

esfregar contra ela, aliviando a tensão do meu pau. Pois nada me

importava além do fato dela ter tomado a iniciativa e ter sentado no


meu colo. Ter seu corpo tão próximo ao meu e poder tocá-la mais

uma vez com minhas mãos e lábios me fazia esquecer o cansaço

que sentia por não ter dormido, o peso dos problemas que ainda
tinha que resolver, a frustração e raiva por saber de onde vinha a

corrupção, e me concentrar somente no calor do seu corpo, nos

toques, naquele abraço, nela.


Não era um tolo. Eu desfrutaria daquele fogo que me

consumia, daquelas chamas desconhecidas que surgiam sempre

que estava com ela, que tinha ciência de que só cresceria, me

preenchendo de maneiras que não sabia que necessitava, fazendo-

me reconhecer que havia vazios em mim cuja causa não iria


averiguar, não agora, porque meus pensamentos estavam ocupados

por ela.

Apenas iria tomar aquilo que inflamava meu ego e queria

muito possuir outra vez.


Mas, antes, por mais certeza que eu visse em seus olhos
azuis, precisava ouvir dos seus lábios que ela queria aquilo tanto

quanto eu, com suas consequências e tudo que disso pudesse

advir, que iria se entregar, não porque de algum modo a persuadi,

mas por vontade própria. Não queria que ela não tivesse medo, se

arrependesse e fugisse de novo.

Se ela realmente me quisesse, seria um presente que não


hesitaria em aceitar.

Ela segurou o meu rosto com pressão, dando-me um selinho

que me deixou ansiando por mais, não sendo suficiente para

aplacar a necessidade que me consumia. Estava mais do que afoito

para beijar aqueles lábios, mas queria um beijo de verdade, que

roubasse o meu fôlego, minha capacidade de raciocínio, que fosse

pura entrega. Mas me obriguei a apenas continuar deslizando minha


mão pelas suas costas, um gesto gostoso, embora amaldiçoasse

por ela não estar despida para que eu pudesse sentir a pele dela

contra os meus dedos, pois poderia ficar muito tempo apenas a

tocando.

— Sim, Yazuv? — murmurou, seus lábios me tocando de

leve, e meu pau reagiu aquele roçar de bocas, pulsando contra o


sexo dela.
Ela se esfregou no meu volume, arrancando de nós um

gemido, e tive que segurar com força a cintura dela para que não
continuasse, sabendo que se ela prosseguisse com seus

movimentos, iria dar vazão à luxúria e eu queria e muito ir com


calma. Minha vingança poderia ter morrido, mas não a minha
vontade de fazer amor lentamente com ela.

— Você tem certeza de que quer isso, değerli?


Vi uma série de emoções cruzar sua expressão, que iam da

ânsia à insegurança. Mas foi algo que vi no fundo de seus olhos,


que não consegui decifrar, que me fez hesitar. Senti um aperto no

peito e na garganta enquanto esperava uma resposta, como se


minha vida dependesse dela.
— Vou entender caso você não queira, sevgili — mal

reconheci a minha própria voz embargada, e pousando meus lábios


na sua testa em um gesto de ternura, fechei meus olhos, preso na

sensação que me oprimia, e os abri quando ouvi a voz dela


chamando o meu nome:

— Yazuv…
— Eu te desejo. Muito. Mais do que você pode imaginar —
deixei outro beijo na sua fronte, arfando —, mas te respeito ainda

mais para aceitar sua decisão. Nunca poderia me impor a você, e


odiaria que você se entregasse a mim novamente e se

arrependesse depois.
— Não vou me arrepender — sussurrou e acariciou o meu

queixo. — Eu quero você e não tenho mais forças para lutar contra
o que sinto.

Engoli em seco com sua confissão e pensei vislumbrar algo


que nunca tinha visto em nenhuma outra mulher: amor por mim.
Besteira, eu não era capaz de suscitar isso em ninguém. Era

apenas desejo reprimido.


Mesmo assim, sentindo meu coração bater descompassado,

obriguei-me a dizer, entrelaçando os nossos dedos de uma mão, um


gesto que me pareceu íntimo demais:
— Eu prometo não te machucar e ser fiel ao que tivermos.

Ela balançou a cabeça suavemente em concordância, mas os


olhos dela a traíram, e percebi que não acreditou nem por um

minuto que isso fosse verdade. Ao invés de sentir-me irritado por


sua desconfiança, a determinação em demonstrar a ela que eu

falava a verdade por meio de gestos e ações foi ainda maior.


Lutaria para mostrar a ela que eu era diferente dos outros
homens que conheceu todos os dias até que ela acreditasse em

mim. Por que faria isso? Não fazia ideia, apenas sabia que o faria.
Não queria mais pensar, muito menos analisar razões.
Dando um último aperto, soltei seus dedos, e levando uma
mão aos cabelos dela, os enrolei no meu punho, sentindo a maciez

dos fios, e trouxe seu rosto para o meu. Encostei meus lábios nos
dela, moldando-os suavemente, num beijo carregado com a ânsia

dos últimos dias, fazendo ela me retribuir com a mesma intensidade.


Um suspiro escapou pela minha garganta em meio ao contato,
revelando o quanto estava envolvido, nossa fome um pelo outro

crescendo, ao ponto de que entreabríssemos nossos lábios


automaticamente, precisando sentir o gosto um do outro.

Puxei seus cabelos suavemente, enquanto minha outra mão


segurava os quadris com força, impedindo-a de se esfregar em mim.

A fiz inclinar a cabeça para mim, aprofundando ainda mais o beijo,


tocando cada recanto da cavidade macia, antes de voltar a
encontrar sua língua. O gemido rouco que ecoou no escritório, as

palmas dela deslizando pelos meus ombros nus, pelos braços e


peitoral, as unhas me arranhando, eram um deleite a parte,

potencializando tudo aquilo que ela desencadeava em mim,


principalmente quando fechei meus olhos, gravando os toques em
minha memória.
Não sei quanto tempo ficamos aproveitando aquele beijo, só
sei que quando encostamos a testa uma na outra, em busca de ar,
ao encarar aqueles lindos olhos azuis, vendo o leve sorriso em seus

lábios, sentindo os seios dela roçando no meu peitoral, nossos


corações batendo acelerados e em uníssonos, eu tive a certeza que

não foi o suficiente, precisava de mais.


Segurei o seu queixo e a trouxe novamente para mim,
tomando-a com fúria. Meus lábios se movimentavam sobre os dela

com fome, minha língua saqueava sua boca, tentando aplacar

aquele desejo insano que me corroía e me levava a combustão. Os


pequenos sons que escapavam dela, seus dedos enterrando no

meu cabelo, eram o consentimento que eu precisava para continuar

beijando-a, enquanto com minha mão livre, tocava a pele nua do

pescoço e dos ombros. Explorando-a, levei a mão ao seio,


percebesse que ela não usava sutiã. Não contive o meu gemido

com a descoberta.

Ela era uma deliciosa caixinha de surpresas, e eu era o


sortudo eleito por ela. O homem que ela queria que a tocasse e

beijasse.

Um desejo primitivo banhou minhas veias por ser o homem


dela.
Deslizei minha boca pela dela com mais ânsia, minha língua

enroscando com a sua com mais ferocidade, e ela retribuiu na


mesma medida, deixando ser explorada, o que fez meu coração

bater forte ao ponto de ecoar nos meus ouvidos junto aos gemidos.

Mas quando Val mordiscou meus lábios, duelando comigo pelo


controle, não deixei, não dessa vez. A envolvi com mais força em

meus braços, fazendo-a se esfregar na minha ereção, colando-a o

máximo possível ao meu peitoral, mas isso não me era suficiente.

— Güzel — arfei ao deslizar minha boca pelo seu rosto. Ela


iniciou a se movimentar suavemente no meu colo, nos atiçando

ainda mais.

Continuei minha exploração, deixando uma trilha de beijinhos


pelo pescoço dela, alternando com sucção, o que a obrigou a apoiar

as duas mãos nos meus ombros, cravando suas unhas na minha

carne. Ela tombou a cabeça e o tronco para trás, dando-me mais


acesso, seus cabelos caindo como uma densa cortina sobre suas

costas. E por uns momentos apenas admirei a vista que ela me

oferecia, os lábios entreabertos e inchados, os seios subindo e

descendo pelo pequeno decote, e o ombro desnudo, com a delicada


marca deixada pelo biquíni, era um contraste delicioso.

Completamente desalinhada, ela era a própria imagem do prazer.


Uma verdadeira deusa que exigia toda a minha devoção. E eu me

colocaria de joelhos perante a ela, demonstrando todo o meu fervor,

o que exigiria que eu me controlasse e a colocasse em primeiro


lugar. Um sacrifício que eu faria com muito prazer.

— Yazuv? — perguntou, curiosa.

Não respondi, apenas segurei-a com mais força, e enterrei

minha face nos seus ombros e deixei um beijo no local, minha


língua traçando um círculo lento pela pele dela, dando atenção a

marquinha que tanto tinha me fascinado e sido objeto das minhas

fantasias nas noites insones. Grunhindo minha ânsia por ela,


raspando minha barba nela, a deixei ainda mais trêmula em meus

braços.

Eu não tinha nenhuma pressa, pelo contrário, eu queria

continuar a devorá-la com minha boca lentamente.


Com as pontas dos meus dedos, acariciava seus braços,

sentindo os pelinhos dela se arrepiarem ao meu contato, uma

reação mais do que especial para mim e que me marcaria. Era


impossível não ficar imerso na pele e nas respostas que Valdete

dava a mim, com seus arrepios e sussurros me fazendo até mesmo

esquecer da minha vontade de me enterrar dela, pois obtinha um


regozijo de uma outra forma, uma inesperada, desconhecida, mas

que estava disposto a explorar.


Mordiscando o ombro dourado, beijando-o, deslizei

lentamente a alcinha do vestido, removendo-o, aproveitando para

acariciá-la no processo, vê-la estremecendo era um prazer à parte.


E, suavemente, a peça caiu, parando na sua cintura,

revelando-me os mamilos pequenos e firmes, os bicos já excitados

sem precisar de nenhuma carícia. Güzel. Instintivamente me

esfreguei mais nela, e senti suas unhas cravando com força na


minha pele, numa dor prazerosa. Minha boca voltou a explorá-la, e

alternei beijos, mordidas e lambidas, ao mesmo tempo que minhas

mãos seguravam os seios em concha, com meus polegares


acariciando as auréolas, fazendo-a gemer ainda mais.

E ela rebolou no meu colo, se esfregando com mais ânsia,

enquanto a puxava mais para cima, colocando os mamilos na altura

da minha boca. Enterrei meu rosto no vale entre os seios, lambendo


a pequena gotinha de suor que escorria entre eles, e tomei um em

minha boca, traçando com a ponta da língua a pequena

protuberância, excitando-a ainda mais. Brinquei com os dentes,


antes de começar a sugá-lo, adotando um ritmo lento, apenas

aumentando a sucção quando seu aperto ficou ainda mais forte.


Minha mão massageava o outro peito, também carente da minha

atenção.

Ela era pura selvageria, presa nas sensações que eu

despertava, minando o meu controle, alimentando a minha urgência.


Estava há duas semanas querendo tê-la e lutar contra Valdete se

esfregando em mim, sentindo seu sabor, que impregnava a minha

boca enquanto continuava a sorvê-la, seu cheiro, estava sendo


muito mais difícil do que imaginava. Era a muito custo que me

controlava, me impedindo de tomá-la com rapidez. Somente a

recordação de que minutos atrás eu queria ir com calma, para

degustar seu corpo inteiro, fez com que me obrigasse a ir devagar.


Deslizei minha boca pelo seu peito, deixando um rastro úmido e

vermelho pela pele que arranhava com minha barba, que ela

parecia não se importar, pelo contrário, levava a se oferecer ainda


mais para mim, e tomei o outro mamilo entre meus dentes, iniciando

o processo outra vez, deixando que meus dedos a percorressem,

para senti-la em sua totalidade.

Bok, poderia ficar vários minutos assim, provocando-a,


estimulando-a, mas ela não concordava comigo. Interrompeu minha

exploração, segurando meus cabelos com força, fazendo com que

eu encarasse seus olhos, que pediam silenciosamente para que eu


desse a ela o que mais queria. Continuando a movimentar-se no

meu colo, friccionando nossos sexos um no outro em uma tortura


deliciosa, o que arrancava de nós gemidos cada vez mais altos, ela

segurou a barra da saia e começou a erguê-la. E eu fiquei ali

assistindo, engolindo em seco, ao vê-la lentamente desnudando-se

para mim, revelando a pele macia escondida pelo vestido recatado,


e me fez perder completamente o controle quando expôs a renda da

meia calça preta. Era um verdadeiro contraste entre a mulher séria,

profissional, e aquela que escondia toda sua sensualidade de todos.


Foi impossível não levar meus dedos à faixa delicada, brincando

com a rendinha. Fiquei fascinado por ela.

— Göklerin[27] — falei em meio a um ofegar quando, sabendo

que era observada, levou uma mão ao seio ao soltar o vestido no


chão, e acariciou o próprio mamilo, seu ventre se contorcendo com

o toque.

E por alguns momentos, apenas a assisti acariciando o bico

úmido pela minha boca, massageando o globo que preenchia a mão


pequena, enquanto a outra mão percorria a barriga lisa, subindo e

descendo, até infiltrar-se pelo tecido, se tocando no meu colo. Para

mim.
Nem nos meus sonhos mais eróticos com ela, nem nas vezes
que me pegava fantasiando com ela enquanto me masturbava,

momentos que foram muitos, podia imaginar que Valdete me

proporcionaria tal show, deixando-me completamente em brasas por


ela. Segurando-a com força pela cintura, comecei a investir contra

ela com mais afinco.

Eu não poderia a interromper se dando prazer, porque aquilo


alimentava o meu. Não estava sendo generoso com ela, mas, sim,

egoísta. Precisava vê-la chegando ao orgasmo só com suas

próprias carícias, alimentando-me da cena mais erótica que tinha

vivido, por mais que mudasse completamente os meus planos e a


posição que estava me impedisse de ver os dedos dela trabalhando

em seu interior. E esse desejo fez com que eu ignorasse a minha

vontade de fazer eu mesmo esse trabalho, de poder sentir o líquido


dela entre os meus dedos, as contrações dos seus músculos

enquanto a acariciava, reconhecendo suas texturas, fazendo-a


atingir o ápice.
Enquanto ela se movimentava contra a sua mão, em

abandono, com os olhos fechados, emitindo sons mudos em meio a


respiração acelerada, segurando o mamilo com mais força, sentia
que poderia esvair nas minhas calças tamanho desejo e ânsia que
ela me fazia sentir.
Éramos duas pessoas completamente entregues aquelas

sensações avassaladoras, e a experiência de não precisar estar


dentro dela, para me levar cada vez mais próximo ao abismo do
êxtase, me consumia. Aquele fogo indomável, que só conhecia com

Valdete, me tragava. Ao continuar a impulsionar meus quadris,


roçando nela, sentindo-me cada vez mais rígido, fazia uma ânsia
que transcendia ao sexual brotar no meu peito, e soube que queria

que ela me fitasse enquanto se explorava. Queria ver cada uma das
sensações cruzando o seu olhar. Queria que estivéssemos
conectados, não de corpo, mas por algo mais profundo. E só

conseguiria aquilo com ela me encarando, vendo o estrago que ela


fazia em mim.
— Abra os olhos, değerli — com o coração descompassado,

ordenei. Com a voz áspera, repeti o comando, mas ela parecia não
me escutar. Apertei seus quadris, roçando meu pau nela com mais

força, sentindo que gotas do meu líquido já melavam o meu pau: —


Olha pra mim.
Arfando, mordendo os lábios em meio a um pequeno

espasmo, ela o fez, mas continuou massageando o mamilo. Não


mais prestei atenção nos seus movimentos sensuais, meu olhar
estava fixo em seus olhos azuis desfocados, repletos de desejo. E
eu me deixei ser refém deles, preso naquela espiral enquanto

estremecia e arfava. Eu precisava dela, do seu beijo, do seu


contato.

Mesmo sabendo que poderia estragar o momento, enrolei


novamente seus cabelos no meu punho, mas ela continuou a se
tocar, suas pernas flexionando para subir e descer, como se agora

tivesse encontrado o próprio ritmo. Então trouxe seus lábios para os


meus e a beijei, moldando nossas bocas, roubando os gemidos
dela, intensificando todas as sensações que percorriam minhas

veias com a dança que contrariava a urgência dos nossos corpos,


que agora pareciam encontrar o mesmo ritmo frenético, afoito, cada
vez mais perto do ápice.

Um arrepio percorreu toda a minha coluna com o contato, o


suor escorrendo pelas minhas costas fazendo minha pele grudar no
couro que revestia a cadeira com o esforço de me controlar perante

a conexão que nos prendia um ao outro, uma sensação poderosa


que irradiava por todo o meu corpo, fazendo com que aquele

momento se tornasse mais do que apenas sexo, pelo menos para


mim. Estar ali com ela, ver sua entrega sem pudores, parecia
modificar tudo dentro de mim, e me entreguei.

Sugando seus lábios, deslizando minha língua por eles,


marcando-a como minha, aproveitei o pequeno gritinho que ela deu
para adentrar a cavidade morna, envolvendo-a em um beijo que era

consoante com aquilo que sentia ao fitar os olhos dela. Um beijo


que pareceu nos estilhaçar na medida que nossos corpos

dançavam, se fundiam, mesmo sem penetração, que nossas línguas


duelavam, fazendo com que tremêssemos ao sentir que o outro
tinha se jogado no abismo. Sem interromper aquele contato

delicioso, esvaí na minha calça com um dos orgasmos mais


poderosos que tinha sentido, mas não me importei pelo meu
descontrole, principalmente ao perceber que para ela também não

foi menos intenso. Val estava completamente mole e usou a mão


para se apoiar em mim. E, culminando aquele prazer, sem deixar de
beijá-la, a abracei com força, colando meu peito nos seios macios,

algo delicioso, meu suor misturando-se ao dela, nosso roçar de


bocas e entrelaçar de línguas, agora mais calmos, fazendo com que
prolongasse ainda mais o êxtase.

Envolvidos naquele torpor, interrompi o beijo, deixando


alguns toques breves no rosto dela, enquanto ela se acomodava
melhor no meu colo, pousando a cabeça no meu peito, como se

apreciasse ouvir o som do meu coração. Sua unha deslizava


suavemente pela minha pele, enquanto eu acariciava suas costas,
trazendo-a mais para mim, tendo a certeza de que, acontecesse o

que acontecesse, hoje eu não a deixaria escapar.


Suspirando baixinho, lânguida, aproveitei o calor do corpo

dele contra o meu, o abraço forte, enterrando-me ainda mais no seu


peitoral, quando uma onda de vergonha me invadiu, embora meu

centro ainda latejasse e contraísse querendo ser preenchida por ele.


Removi os dedos, que ainda estavam no meu interior, mortificada.

Mal podia acreditar que tinha me tocado sem nenhuma

ressalva na frente dele, ou melhor, em cima dele, instigada pelo


olhar faminto e reações do seu corpo. Embora ambos tivéssemos

gostado, pude ver pelo seu estado de relaxamento e pela calça dele
estar molhada com seu gozo, não tinha certeza de como lidar com a

situação. E muito menos com o amor que brotou dentro do meu

peito quando, antes da minha ousadia, ele me tocou com tanta


devoção, como se eu fosse preciosa para ele. Uma grande ilusão

que eu deveria fazer de tudo para suprimir, mas que, com Yazuv
alisando minhas costas, deixando beijinhos no topo da minha

cabeça, não seria nada fácil.

Eu tinha selado meu destino e aproveitaria cada segundo


dele antes de encarar as suas consequências. Não havia espaço

para arrependimento, não quando isso acabaria maculando aquele

momento de ternura, que pareceu sobrepujar o prazer físico. Não


havia dúvidas que eu guardaria aquela lembrança para sempre

depois que tudo terminasse. E sendo assolada por uma onda de

carinho por aquele homem, não importando que fosse unilateral,


deixei uma série de beijinhos no peitoral suado, subindo pelo

pescoço, seus chiados baixinhos me incentivando a continuar, até


que, me aprumando do modo que dava em meio ao abraço, já que

ele não me soltou, nossos rostos ficaram próximos um ao outro, e

novamente nos conectamos através do olhar. Quando ele ergueu a

mão e acariciou o meu rosto com o dorso, não contive um sorriso, a

felicidade me preenchendo por completo. Yazuv deixou um selinho

em meus lábios, que despertou minha fome e meu amor por ele.
— Yazuv — choraminguei o nome dele quando não deu

passagem para minha língua encontrar a dele, e a gargalhada rouca


alimentou ainda mais a minha frustração.
Bufei quando ele me deu outro selinho, claramente me

provocando. Então comecei a brincar com ele também. Tomei o

lóbulo da sua orelha entre os dentes e puxei, remexendo no seu

colo para excitá-lo. Não precisei de muito para senti-lo duro, e rocei

o volume no meu sexo, e não segurei o riso quando ele rosnou

baixinho, arqueando contra mim.


— Alguém já te disse que é muito fogosa, güzel? — O tom

rouco fez meu corpo vibrar de antecipação, reverberando em meu

centro.

Já ia responder a ele que não, quando a frase morreu em

meus lábios, tornando-se um gritinho, quando adentrou a saia do

meu vestido com suas mãos e segurou minhas nádegas com

pressão, trazendo-me mais de encontro a pelve excitada. Seus


dedos massageando a minha polpa, brincando com a borda da

calcinha, fez com que eu gemesse de prazer. Enlacei seu pescoço,

em busca de apoio.

— E que é incrivelmente deliciosa?

Mordiscou o meu pescoço, a barba dele em contato com a

minha pele provocando uma grande comichão.


— Responda.
Sugou onde podia sentir minha pulsação acelerada, e fiquei

ainda mais mole.


— Você sabe que não — minha voz saiu baixinha em meio a

um chiado, principalmente quando fez com que eu me esfregasse


nele.
— Tolos.

Arfou e tomou minha boca em um beijo faminto, enterrando


seus dedos na minha bunda, exigindo a minha entrega. E eu dei

toda a paixão que sentia, nunca conseguiria negar isso a ele.


Fechando os olhos, segurei o seu queixo, mergulhando minha

língua na boca dele, o que nos fez gemer. Eu me intoxicava no seu


beijo, e quanto mais sua boca escorregava pela minha, mais eu
perdia minha capacidade de raciocínio, e o tocava em uma busca

cega por mais, perdendo completamente o fôlego. Quando senti que


ele se erguia da cadeira, içando meu corpo para cima, sua palma

segurando minhas nádegas com mais firmeza, entrelacei minhas


pernas no seu torso, com medo de cair, e abri os olhos. Fiquei

surpresa com sua força, me carregava como se eu fosse algo leve,


me fazendo sentir delicada, como se fosse uma daquelas mocinhas
de romances eróticos que costumava ler. Imaginava que despida da

cintura para cima, descabelada, com o batom borrado, deveria estar


completamente ridícula, mas seu olhar cheio de desejo era tudo o

que precisava para ter certeza que poderia estar horrível, mas que
ele ainda me queria. Muito.

— Yazuv? Pra onde está me levando?


Ele parou quando ouviu minha pergunta, e arqueou a

sobrancelha.
— Tem um cômodo que não te mostrei ainda e gostaria muito
que você conhecesse — sussurrou ao curvar-se em direção ao meu

ouvido, e um calafrio me percorreu sabendo que ele falava do


próprio quarto, um lugar que gentilmente ele não havia me mostrado

por, talvez, não querer me pressionar —, principalmente um móvel


em específico.
— Tá. — Sentindo-me mais segura nos braços dele, acariciei

seu pescoço com as pontas do dedo, traçando círculos lentos,


sorrindo com a antecipação.

Começou a andar novamente, saindo por um corredor, e para


minha surpresa, enquanto ele percorria o caminho, não havia

nenhum sinal da cadela.


— E a Aylla?
— Dei um osso para ela brincar, minha pequena não irá

incomodar — a voz foi suave ao falar da cachorrinha, mas vi o rosto


dele fazer uma careta —, infelizmente os petiscos levam vantagem
sobre mim. Fazer o quê, não é mesmo?
Vi os ombros dele se movimentarem e gargalhei, riso

aumentando ainda mais quando o bufar dele ecoou nos meus


ouvidos. Tive que segurar com mais força, quando ganhei um tapa

leve na bunda como repreensão. Arqueei a sobrancelha para ele no


momento em que me encarou, e vi um sorriso safado pairando em
seus lábios. A felicidade que senti me fez rir de novo.

— Você é terrível, sabia? — disse quando ele me trouxe


ainda mais contra o seu tronco, nossos corpos roçando um no outro

Era incrivelmente como nossa anatomia se encaixava bem!


— Tenho certeza que gosta, kıymetli. — A voz era

convencida, mostrando toda a sua arrogância. Não podia negar que


ele era autoconfiante demais.
— Posso me acostumar. — Fingi indiferença, mas, na

verdade, eu poderia com certeza me apaixonar por cada ação dele.


Será que já não estava?

— Estou contando com isso.


Ouvindo a risada rouca no meu ouvido, me fez arrepiar
inteira. Ele abriu a porta com o pé, e mais rápido que gostaria, ele

tinha chegado ao quarto. Acendeu as luzes e deslizou o meu corpo


no dele para me colocar de pé no centro da suíte. Um muxoxo
escapando de mim no momento que meus pés atingiram o chão. Eu
seria uma completa mentirosa se negasse que não tinha gostado de

ser carregada por ele. Eu virei no seu abraço, e vi a cama king size,
com um abajur dourado de cada lado e um grande espelho em

formato de uma janela árabe com detalhes no mesmo tom.


— O que foi, não gostou? — O tom era estranhamente
apreensivo e senti minha pulsação se acelerar com esperança,

principalmente quando ele me abraçou por trás.

Eu apenas apreciei o calor do peitoral contra as minhas


costas. Ele colocou meus cabelos para um lado, e enquanto beijava

e mordiscava o meu pescoço, cobriu um dos meus seios com a

mão.

Inspirando baixinho de deleite, antes de responder,


contemplei todo o quarto. As paredes eram marrons escuras, em

contraste com o teto branco, emolduradas por sancas douradas,

tinha um belo tapete turco com desenhos geométricos ricamente


trabalhados, e uma profusão de cores nos objetos e arte, que não

sabia se eram somente inspiradas na arte otomana. Mas o que

roubou minha atenção foi a grande porta de vidro panorâmica que


dava para um terraço privativo que seguia o mesmo estilo do

ambiente comum do condomínio de luxo.


— Não precisa mentir — sussurrou e eu me virei nos braços

dele quando disse, parecendo decepcionado: — posso mandar

alterar algo caso você não goste da decoração.


— Por que faria isso? — Fitei sua expressão séria e acariciei

a barba dele, novamente sendo arrebatada por uma esperança tola.

— Acho que nunca estive em uma suíte tão bonita.

— Fico feliz. — Não respondeu a minha pergunta, e ficou me


encarando com seus insondáveis.

— E, além do mais, é a sua casa, não minha — pressionei-o.

Ele emitiu um som baixinho e balançou a cabeça, primeiro

num gesto de sim, depois de não, me deixando confusa.

— Yazuv?
Novamente não respondeu meu questionamento. Ao invés

disso, segurou a saia do meu vestido e lentamente o ergueu, o

tecido subindo como uma carícia pelo meu corpo. O olhar de

apreciação que me dava ao me despir deixava minha pele aquecida


e todo o meu corpo reagia, e o desejo de ser preenchida por ele me

invadiu. Ergui meus braços e ele removeu a peça, deixando-me


apenas com as meias e a calcinha fio dental preta e transparente,

que não podia negar que era muito desconfortável. Mas o olhar

ardente e de surpresa, bem como ver seu pênis avolumando na


calça, foi compensação suficiente por ter passado por todo o

incômodo de vesti-la.

— É a minha vez de perguntar se gostou. — Abri um sorriso

para ele, não havendo dúvidas em mim que ele tinha adorado. Não
precisava de uma resposta, tanto que o abracei, colando os nossos

corpos. Fiquei nas pontas dos pés e sussurrei no ouvido dele,

provocando-o: — É só para você.


Com os olhos negros brilhando com ainda mais intensidade

enquanto maliciosamente olhava para o meu sexo, Yazuv,

surpreendendo-me novamente, ergueu-me no colo e me levou para

cama, me pousando no centro dela, meus cabelos esparramando


contra os lençóis. Meu corpo todo vibrou quando senti o peso dele

me cobrindo, prensando-me contra o colchão. Segurando meu rosto

com possessividade, enquanto a outra mão passeava pelas minhas


curvas, beijou-me furiosamente, sua boca esmagando a minha, sua

língua me explorando com urgência, envolvendo a minha em uma

dança frenética, e eu me rendi aquela selvageria furiosa.


Aquele beijo apenas tinha despertado toda a minha vontade

por ele e minha pelve passou a procurar pela dele, embora meus
movimentos fossem limitados pelo seu peso. Com a ponta dos

dedos, acariciei as suas costas suadas, sentindo toda a tensão dos

seus músculos. Arfei quando, erguendo-se um pouco, sua mão ficou


entre os nossos corpos, deslizando pelo meu ventre em uma carícia

lenta que fazia meu sexo contrair com o desejo.

— Bok — murmurou contra os meus lábios ao alcançar a

minha calcinha, sentindo a umidade que impregnava o tecido, antes


de roubar-me outra vez o fôlego com a sua boca sedenta e

exigente, que me fazia sentir amada, desejada e afoita.

Arqueei-me contra o dedo dele quando, por cima da renda,


ele encontrou o meu clitóris, esfregando-o suavemente, e eu fechei

os olhos, ao passo que minhas mãos deslizavam pela linha da sua

coluna até alcançar a lombar, puxando-o mais de encontro a mim,

seu pau roçando no meu ventre. Perdidos no beijo voraz, éramos


um emaranhado de braços, pernas e toques. Nossos corpos eram

movidos pela pressa, tanto que, com um puxão, ele rasgou a renda

fina, o que me excitou ainda mais. Eu desconhecia completamente


esse meu lado que curtia algo mais bruto, mas o desejo que sentia

pelo turco era algo visceral, e tudo em mim queria ser possuída por
ele, eu não mais podia esperar. Eu gostava do homem terno e

carinhoso, mas adorava ainda mais sentir o homem que parecia

perder o controle sobre tudo, até de si mesmo, desgovernado pelas

sensações que eu provocava nele.


Acariciando os meus grandes lábios, deixando-me ainda mais

ansiosa, penetrou-me com dois dedos, e eu gemi, meus músculos

contraindo contra ele, ronronando ainda mais quando senti seus


dedos roçarem diretamente a minha carne, estimulando-a com vigor,

fazendo com que eu sentisse que novamente estava prestes

estilhaçar. Mas eu estava consciente o suficiente para saber que ele

estava vestido demais e, subitamente irritada por isso, levei a mão


ao elástico da calça dele e comecei a deslizá-la pelos seus quadris.

Me largou por alguns segundos, o que pareceu tempo demais, fez

um malabarismo e removeu a peça. Saber que ele não estava


usando cueca por baixo fez com que eu me sentisse ainda mais

afoita, porém, ficar nu parece que refreou a pressa dele, isso

refletindo no beijo agora suave, no toque gentil que deixava uma

trilha morna pela minha pele, e no estímulo lento no meu ponto de


prazer, me deixando lânguida, mas o ritmo não era mais suficiente

para mim, para a mulher que escondia e que só se mostrava a ele.

Tentava forçar um ritmo mais acelerado, mas ele não me dava


aquilo que eu queria, embora a carne cada vez mais rígida, os

músculos tensos sobre o meu tato e o suor que escorria por sua
coluna indicassem estar chegando ao seu limite.

Sabendo que eu tinha que tomar a iniciativa naquele amor

lento, ajustando-me melhor debaixo dele, coloquei a mão entre nós

dois, alcancei o pênis rígido e o rodeei. Bombeando-o lentamente,


arranquei dele um grasnar, o que me fez sentir poderosa. Estava

levando-o para minha entrada quando senti sua mão segurar a

minha com força, impedindo-me de continuar, então apoiou um


cotovelo no colchão.

— Değerli? — Sua voz saiu áspera pela respiração

entrecortada.
— Não posso esperar mais, Yazuv — sussurrei e por mais

que ele limitasse meus, movimentos, consegui encaixar a glande na

entrada do meu sexo.

Ficamos por um tempo apenas nos encarando, nossas


respirações mesclando-se, cada um lutando por uma coisa

diferente, até que, soltando meus dedos que seguravam seu pau,

mergulhou lentamente dentro de mim, e meus músculos todos se


esticaram com a invasão deliciosa. Parou de se mover quando

alcançou o fundo do meu canal, e novamente me surpreendeu,


deitando seu corpo contra o meu, puxando meu rosto para um
beijo.

No momento que nossas línguas se encontraram, começou a

se retirar vagarosamente, apenas para se enterrar novamente no


meu interior. Minha urgência se dissolveu na necessidade dele de

fazer sexo calmamente, e retribuindo os beijos e toques, meus

quadris acompanharam os seus. Cada estocar era como um


presente, e em algum momento em meio ao beijo, no encontro dos

corpos, nossas mãos entrelaçaram, o que tornou tudo mais perfeito.

Era um sonho etéreo em que pela primeira vez sentia que um

homem realmente fazia amor comigo. Retirava e deslizava


novamente, aumentando gradativamente a intensidade com que me

estocava e me beijava.

Eu guardaria esse momento que me fazia sentir


completamente especial para sempre.

Levando os meus dedos aos cabelos negros, entrelaçando-


os aos fios molhados, arfei quando seus lábios deslizaram pela
minha bochecha para alcançarem o meu pescoço, lambendo,

mordendo, se impregnando em mim enquanto sentia que ele


começava a perder o controle. Preso na espiral do próprio desejo,
mergulhava com força no meu corpo, que passou a recebê-lo com
avidez, contraindo-se ainda mais. Dei um gritinho, quando senti
seus dentes raspando a minha pele e seu pau enterrando fundo no
meu canal, e foi inevitável não abrir mais as pernas para abraçá-lo

quando outra estocada reverberou em mim, fazendo com que me


sentisse engolfar pelo turbilhão de emoções que ele me
proporcionava.

Puxando-o pelos cabelos, trouxe-o novamente para mais um


beijo, despejando nele toda minha ânsia, tomando seus lábios entre
os dentes, apenas para em seguida envolver sua língua com fúria,

acompanhando o ritmo dos meus quadris, desencadeando nele a


selvageria que eu tanto queria.
Não havia mais morosidade, mas dois corpos que se

buscavam avidamente, chocando-se enquanto tomavam um ao


outro, som que passou a ecoar por todo o quarto misturado ao
barulho dos nossos gemidos. Cada estocada me levava cada vez

mais a beira do precipício, e sentia nos seus músculos toda a


tensão, que me indicava que ele se segurava para não gozar antes

de mim, uma generosidade que me foi bastante preciosa. Fechei os


olhos quando ele me invadiu novamente, apertando seus dedos
com mais força com o impacto do corpo dele no meu. Adorava a

fricção de carne contra carne, embora fosse uma imprudência,


mesmo que eu tomasse pílula. Mas não iria me preocupar com isso
agora, não quando me sentia gloriosa nos braços dele.
Quando um dedo se juntou ao pênis, estimulando meu

clitóris, e ele aumentou o ritmo da investida e da fricção, senti que


quebrava ao meio. Não havia mais nada além daquela avalanche de

sensações poderosas que percorria cada pedaço do meu corpo e


me fazia convulsionar, gemidos escapando pelos meus lábios, que
eram engolidos por Yazuv em um beijo selvagem. Alheia a tudo que

não fosse aquele orgasmo intenso, continuei a erguer meus quadris


para ele, comprimindo-o com força, minha mão livre cravando nas
costas dele, arranhando-o, até que ouvi um uivar, seguido do líquido

quente dele preenchendo meu interior.


Embora estivéssemos cansados pelo torpor do êxtase,
segurando os meus quadris, ele continuou a me penetrar,

bombeando com vigor, usando o restante da energia que ainda


tinha. Inserindo dois dedos, massageando meu clítoris, fez com que
eu perdesse a capacidade de raciocinar e novamente explodisse,

caindo sem forças no colchão, tremendo. Não contive o sorriso de


satisfação, principalmente quando o corpo dele caiu todo sobre mim,

prensando meu corpo, mas mantendo nossas mãos entrelaçadas.


Seus lábios interromperam o beijo, apenas para mover-se pelo meu
rosto, deixando um rastro úmido por todo o lugar. E me pareceu
mais do que maravilhoso o tocar nesse momento em que nossos

corações pareciam bater no mesmo ritmo, então deslizei minha mão


pelas suas costas, sentindo os músculos relaxados. Ficamos assim
por muito tempo, até que respirar se tornou um pouco difícil pelo seu

peso dele, por isso dei uma empurrada nele de leve.


Compreendendo o que queria, apoiou-se nos dois cotovelos e me

encarou, mas o sorriso que havia na sua expressão despreocupada,


morreu, dando lugar a preocupação quando notou que lágrimas
escorriam por meu rosto.

— Sevgili? — Com uma mão, removeu uma mecha do meu


cabelo que grudou na minha testa com o suor, e secou minhas
lágrimas com beijos, sua voz saindo grossa. — Por que está

chorando? Eu te machuquei? — Fez uma pausa, soando desolado.


— Se arrependeu?
— Não, claro que não — enlacei o seu pescoço e toquei seus

lábios com os meus, beijando-o suavemente —, eu só estou… feliz.


Muito.
— Feliz? — Franziu o cenho, confuso.

— É. — Fiquei envergonhada.
— Entendi — disse depois de um tempo em silêncio, e secou

os últimos rastros de choro.


Ainda parecendo desorientado pelas minhas lágrimas, rolou
de cima de mim e me puxou para os seus braços, aninhando-me

entre eles. E me deixei ficar ali, embalada no calor do seu corpo,


pousando a cabeça no braço dele, e uma sonolência me invadiu.
Sem dúvida o esforço físico e a noite insone cobravam agora o seu

preço.
— Estranho — sussurrou ao beijar o topo da minha cabeça.

— Hm… — Trilhei o peitoral com as pontas dos dedos. —


Nunca me aconteceu isso antes.
— Acredito em você.

Enrolou uma mecha do meu cabelo nas mãos e ficou


brincando com ela.
— Foi bom? — soou inseguro, fazendo uma careta.

Dei uma risada rouca de deleite quando pediu a confirmação,


e plantei um beijo no bíceps dele. Tudo nele era desejável, até
mesmo quando estava de cara fechada.

— Você ainda tem alguma dúvida? — devolvi, sem conter o


sorriso. Pisquei os olhos, sentindo minhas pálpebras pesarem.
— Vai que estou errado. — Envolveu minha cintura e me
puxou mais contra ele em um abraço gentil. Suspirou fundo, a
respiração dele movendo alguns fios do meu cabelo.

Não respondi. Enquanto pensava em uma resposta que não


o deixasse ainda mais arrogante, deixei-me levar pelo torpor do
sono, dormindo em seus braços, o que não tinha me permitido na

primeira vez.
Inspirei fundo, aspirando o leve aroma que desprendia da pele da
Val, e abri um sorriso, ao sentir seu corpo quente aconchegado ao meu e
ouvir o leve ressonar.
Abri os olhos lentamente, sentindo-me completamente revigorado,
e olhei as horas no relógio na cabeceira, constatando que era mais de

uma da manhã. Encarei a mulher que dormia em cima do meu braço, que

estava levemente dormente. Ela me fez relaxar ao ponto de cair no sono


rapidamente. A benim değerli parecia ter a capacidade de fazer isso,

levava-me a um torpor físico e mental que não poderia reclamar. Era bom
imergir naquele nível de relaxamento, ao ponto de me fazer esquecer

temporariamente de tudo. Contendo a vontade de acarinhar a bochecha


dela, apenas velei o seu sono enquanto era refém de um sentimento
estranho que fazia meu coração se acelerar, e não era apenas por ter o

corpo nu e perfeito tão próximo ao meu. Sou arrogante demais para saber
que bastava acordá-la para que começássemos novamente a busca

desenfreada pelo prazer. Mas não, não era pela possibilidade de sexo

com ela, mas apenas o deleite de poder observar o seu rosto, admirar os
cílios longos, o nariz pequeno, se movendo incomodado quando uma

mecha caiu sobre ele, observar seu peito subindo e descendo


calmamente.

Não sei quanto tempo fiquei ali observando-a, movido por uma

onda de ternura completamente estranha para mim, sentindo-me satisfeito


e em paz, até que, percebendo o quanto os fios de cabelo a estavam

incomodavam, tentei removê-los, porém meu toque fez com que ela
remexesse no meu braço e abrisse lentamente os olhos.

— Yazuv? — A voz era sonolenta e eu beijei os lábios dela,


acariciando a curva do seu maxilar bem-feito.
— Desculpe te acordar, değerli.
Sedento por ela, mas não com conotação sexual, deixei um rastro

úmido pelo seu rosto, beijando as pálpebras, a testa, o nariz, o queixo,


não queria deixar de tocá-la.
— Que horas são? — Suas mãos acariciaram a lateral do meu

corpo, e um gemido escapou pelos meus lábios.


— Pouco mais de uma hora da manhã.
— Hm…
Parecendo um pouco mais alerta, ela ergueu-se, apoiando-se em

um cotovelo, saindo do meu abraço.


— Você não vai fugir assim de mim. — Demonstrei meu
descontentamento quando ela rolou para longe, o que a fez gargalhar.
Segurei o braço dela e puxei-a para mim novamente, prendendo-a

em um abraço, minhas pernas entrelaçando as dela para que não


escapasse. Mas era eu quem não podia escapulir quando era refém dela.
Sua palma pequena espalmou contra o meu peitoral, e aqueles olhos

azuis me fitaram com desejo. Seus lábios generosos, vermelhos pelos


meus beijos, me presentearam com um sorriso. Por um momento, não
houve nada além dela e as sensações que me fazia sentir.

— Preciso ir ao banheiro — disse com a voz rouca e arqueei a


sobrancelha.
— Claro — não contive minha expressão de muxoxo e ela me

brindou com um selinho.


Ela assentiu com a cabeça quando, a contragosto, desfiz meu
abraço. Foi instintivo para mim acomodar-me de lado na cama de modo
que pudesse vê-la sentar na beirada, ficando de costas para mim. Senti

meu pênis ficar rígido com o vislumbre das nádegas macias, o desejo
retomando com toda a sua fúria.
— Tem toalhas limpas dentro do armário, se quiser tomar um

banho. — Meu tom saiu áspero com a ânsia que me inflamou quando
Valdete se ergueu, dando-me uma visão completa da bunda arrebitada —,
e tem xampu no suporte, se quiser lavar os cabelos.

Virou-se para mim e meu olhar percorreu lentamente os seios


marcados pelo bronzeado, coroados pelas auréolas marrons, deslizando

pelo ventre liso, até alcançar o sexo coberto por pelos negros, o que fez
com que eu sorrisse lascivamente, que aumentou vi as meias que, em
algum momento, tinham abaixado. Voltei a subir os olhos, fixando minha
vista na vagina, minha boca enchendo d’água com a vontade de prová-la,
fazendo-a gozar em meus lábios. Inconsciente, levei a minha mão ao meu
pênis, acariciando-o suavemente.

— O xampu é seu? — O tom inseguro fez com que eu soltasse


meu pau e voltasse a encarar o seu rosto.
Odiei ver a vulnerabilidade dela outra vez.
— Sim, değerli. — Emiti um suspiro cansado quando os ombros
dela pareceram relaxar — De quem você imaginou que fosse?
Deu de ombros e não respondeu, caminhando pelo quarto e
pegando o vestido do chão. Eu bufei. Levantei da cama e, com passos

largos, aproximei-me dela. Segurei seu braço gentilmente, fazendo com


que me encarasse ao tocar o seu queixo.

— Por que você não confia em mim, aşk31? — Estava sério, e nem
prestei atenção na palavra que eu tinha usado. — Por que não acredita
quando digo que não sou esse tipo de homem, que dorme com uma
mulher diferente a cada dia?
Ficou em silêncio e eu a abracei, deslizando meus dedos pelas
costas nuas.
— Por que prefere acreditar que sou ruim o suficiente para oferecer
um produto que pertence a outra mulher? Que sou esse tipo de canalha?
— Fiz uma pausa e minha voz saiu baixinha, machucada: — Que sou

comparável ao meu pai e meu avô, que só machucam suas esposas?


— O quê? — me olhou, parecendo confusa.
— Não importa.
Beijei sua testa, e vi os olhos azuis dela cintilando, como se me
entendesse sem eu precisar dizer mais nada. Do quanto as atitudes dos
homens da minha família me magoaram, e continuavam me ferindo

mesmo agora com meus trinta e quatro anos de idade, algo que escondia
de todos.
— Só confie em mim, Valdete — pedi. Precisava disso. — Por
favor.
— Não quis te ofender, Yazuv — pegou a minha mão e levou aos
lábios —, me desculpe por sempre estragar tudo.
— Não fez nada de errado. — Minha expressão se suavizou. — Eu

compreendo todas as suas inseguranças, mas não precisa ficar assim


comigo. Com o tempo, vai ver que pode confiar em mim.
— Obrigada — foi uma resposta curta, como se não soubesse o
que dizer.
Sorri para ela e, envolvendo seus cabelos entre os dedos, puxei
seu rosto e não precisei dizer nada, seus lábios já estavam entreabertos
para receber os meus, e enquanto movíamos nossas bocas, em um beijo
delicioso, o que se passou minutos atrás não mais me importou.
— Banho. — Interrompeu o beijo e eu protestei.

Trazendo-a de novo para minha boca, mergulhei novamente nela,


enroscando minha língua na dela, embriagado, o que me fez estremecer
da cabeça aos pés com sua intensidade.
— Yazuv — me empurrou para me afastar e me dei um último
selinho —, vamos acabar na cama outra vez.
— Gosto muito dessa ideia — fui malicioso, minha mão indo em
direção a sua bunda, agarrando as nádegas fartas.

Balançou a cabeça em negativa e eu fiz uma careta quando ela


voltou a andar em direção a porta que levava ao banheiro da suíte, anexo
ao meu closet, e eu admirei o ondular dos quadris, as nádegas se
movimentando com cada passo. Hipnotizado pelo corpo dela, a segui,
encostando meu peitoral nas suas costas quando ela estacou no meio do
cômodo, fazendo ela dar um pulinho, assustada.
— Yazuv? O que está fazendo? — perguntou com a voz rouca

quando minha mão percorreu o abdômen dela, alcançando o monte e


brincando com os pelos.
Mordi seus ombros, fazendo-a arquear a bunda contra a minha
pelve, meu pênis roçando no seu buraco enrugado. Queria muito penetrá-
la por trás, algo que não me apetecia tanto, nunca fui um homem
fascinado por bunda, mas aquela mulher fazia com que eu não negasse
nenhuma parte do seu corpo, desejando tudo com fúria.
— Não vai me convidar para o seu banho? — Beijei a orelha dela e
ela jogou os braços para trás, segurando os meus cabelos quando tomei o
lóbulo entre os meus dentes, meus dedos deslizando pelos grandes

lábios, a lubrificação natural dela já me envolvendo. — Eu também preciso


de um.
— Claro — respondeu em meio a um arfar.
Esfregando-se, rebolando em mim, completamente mole,
choramingou de prazer quando rocei o seu clitóris sensível, estimulando-
a, e deu um gritinho de protesto quando eu parei. Minha risada ecoou por
todo o cômodo.
Dei um tapa de leve na bunda dela para que fosse em direção ao
box, e Valdete caminhou com passos vacilantes até lá, como se suas
pernas não conseguissem sustentar o seu peso. Fechando a porta de

vidro atrás de mim, liguei os jatos do chuveiro com hidromassagem, a


água morna nos envolvendo. Peguei o sabonete do suporte, deslizando-o
lentamente pelo seu corpo, mas deixei-o cair quando vi Valdete fechando
as pernas com força, tentando aplacar o fogo que a consumia, e inseri um
dedo no seu canal. Pelo visto, tomar banho seria a última coisa que
faríamos ali.
Encarei as costas largas e vi alguns arranhões deixados por
mim em meio ao calor do sexo. Seus músculos se moviam conforme

ele mexia na frigideira, mas se afastou do fogão por instantes para


verificar os legumes que estavam em uma chapa.

Fiquei ali sentada no balcão apreciando-o cozinhar, ouvindo


os sons do chiado do quer que fosse que ele estava fritando na

panela, sentindo o cheiro bom que estava exalando por toda a


cozinha. Não contive um sorriso, ao levar minha taça de vinho aos

lábios, que conforme ele disse, tinha sido comprado especialmente

para mim, por saber que o grande CEO, o homem que tinha todo o
mundo aos seus pés, estava cozinhando para nós. O observava da
banqueta alta vestindo apenas uma das camisas sociais dele,

realizando um capricho do homem que quis me ver usando uma das


suas roupas. Estava sem calcinha, já que ele havia destruído a

minha e não havia colocado uma reserva na minha bolsa, para o

meu infortúnio. Fiquei ali por bons minutos, acariciando a cabeça de


Aylla, que parecia completamente desperta e animada para aquele

horário.

Confesso que quando Yazuv me disse que iria preparar um


prato típico da Turquia para mim, não escondi a minha

incredulidade. Contou que gostava de cozinhar, algo que só não

fazia com mais frequência por não ter tempo, o que, segundo ele,
não contava como um hobbie. Mas o relaxamento dos seus

movimentos, o modo como ele trabalhava calmamente, como se


estivesse muito seguro do que fazia, era hipnótico. Deveria ter

imaginado, já que ele sempre tinha confiança em tudo o que se

propunha a fazer.

Yazuv era poderoso demais, arrogante demais, sua

autoconfiança era notável. Contudo, ali, eu só conseguia admirar o

homem que ele era, não só suas qualidades, mas algo mais.
E eu daria tudo para ter o prazer de vê-lo cozinhando outras

vezes, porque isso me dava a chance de comê-lo com meus olhos,


de contemplar sem pudor aquele corpo magnífico. Mas a grande
verdade que eu tentava ocultar, era que havia uma certa

domesticidade na cena, uma sensação de intimidade, algo que eu

tinha visto quando meu pai, nos fins de tarde, sentava no balcão e

observava cada gesto da minha mãe preparando o jantar, como se

não quisesse perder nenhum segundo da pessoa que amava. Uma

coisa corriqueira, mas que, mesmo assim, construía o cotidiano de


um casal, que não era somente regado de sexo, mas também por

momentos simples como aqueles. Minha mãe sempre me dizia que

era no dia a dia, nas pequenas coisas, que conhecíamos alguém,

que a relação se fortalecia. E eu acreditava em suas palavras. Na

verdade, no meu único relacionamento mais sério, nunca tive esses

momentos para realmente perceber o homem horrível com quem

tinha me envolvido.
Forcei-me a afastar meus pensamentos do ex, era passado e

só macularia o presente. Focaria nas lembranças dos meus pais,

essas eram mais carinhosas. O fato de estar ali com Yazuv, com

uma cadela amável que gostava muito de mim, que fazia de tudo

pela minha atenção, deixava essa sensação gostosa.

Bebi o restante do vinho em um gole, enterrando meus dedos


no pelo macio da cadela, lutando para novamente não me jogar
para o terreno das ilusões, que me fazia ansiar por mais. A minha

relação com Yazuv era muito diferente da que meus pais tinham, e
que só cabia a mim aproveitar aqueles pequenos momentos antes

que acabassem.
Não estávamos vivendo uma vida dois, nem ele buscava uma
rotina fora do trabalho.

Era a isso que tinha que me apegar.


Como se soubesse que era devorado, ele virou-se para mim

com aquele sorriso lascivo e eu gargalhei ao ver o avental que ele


usava, que tinha uma foto de Aylla dormindo. Arqueou a

sobrancelha, soltando a colher em cima do balcão e cruzando os


braços. Minha boca secou ao ver os músculos contraídos.
— Qual a graça, senhorita Johnson? — brincou comigo.

— Nada, senhor Ibrahim. — Suprimi a risada.


Nunca iria admitir que estava rindo dele, mas não precisava

dizer, ele sabia. Emitiu um bufar.


Mais do que surpresa por ele cozinhar, era o fato de ele trajar

tal coisa e com um orgulho sem tamanho, como se fosse um


daqueles pais babões usando uma camiseta estampada com a foto
do filho. Achava brega, mas, olhando para o homem à minha frente,

não pude deixar de achar completamente fofo. E fiquei imaginando


se quando ele fosse pai - supunha que homens ricos como ele

precisavam ter herdeiros para continuar o seu legado -, ele usaria


uma camisa, não tão mais ridícula assim aos meus olhos, com a

foto dos filhos.


Mas, assim como o pensamento sobre meu ex, afastei isso

também da minha mente, não queria pensar na mulher que


engravidaria dele e que lhe daria uma camiseta dessas de Dia dos
Pais. Era doloroso demais para meu coração bobo, que estava se

deixando envolver por um homem que não conhecia profundamente


e que só passou a descobrir algumas nuances dele nessa semana.

Embora quisesse conhecê-lo ainda mais.


— Quer mais vinho?
— Claro — disse displicentemente, e acabei recebendo uma

lambida de Aylla.
Aproximou-se da bancada e pegou a garrafa, servindo-me de

mais uma dose, para depois pegar a sua taça com água, bebendo
um gole.

— Parecia triste— sussurrou, seus olhos eram


questionadores.
— Só um pensamento fora de hora — passei o dedo pela

borda da taça, brincando com ela.


Sua expressão me mostrou que não estava convencido com
a resposta, mas não insistiu. Senti-me uma tola por estar sempre
deixando que as minhocas que tinha na minha cabeça me

dominassem. Talvez eu merecesse a rejeição do meu ex e de Mark,


era uma mulher ridícula, agindo sempre de modo imaturo.

— Está ficando pronto? — mudei de assunto. — Estou


morrendo de fome.
— Só mais alguns minutos — virou-se em direção a um

armário e pegou uma tigela colorida, voltando a se aproximar do


fogão —, só preciso tirar a pele do pimentão e temperar os legumes.

— O cheiro está ótimo.

Sorri para ele e para Aylla, quando a cachorra, erguendo-se


nas patas traseiras, pousou as patinhas nas minhas coxas, e
percebi que a camisa tinha subido.

— Espero que o gosto também — disse suave e apontou


para o armário que tinha mexido anteriormente — você pode pegar

os pratos?
— Claro — dei um último gole no meu vinho e me coloquei
de pé, fazendo a cadela latir em protesto —, mas tenho certeza que

o sabor estará excelente.


— Se eu fosse você não tinha tanta certeza disso. — Deu
uma risada. — Faz muito tempo que não cozinho, posso ter me
esquecido da receita.

— Você só diz isso para que eu fale algo que alimente ainda
mais seu ego — provoquei. Caminhei até o armário, com Aylla

trotando atrás de mim. Ao pegar os pratos, notei que pareciam ter


sido pintados à mão, em um desenho intrincado com motivos de
flores em um tom terroso contrastando com um azul e vermelho

vivo. — Você sabe que é bom em quase tudo o que faz.

— Quase? — Ofegou e a cadela voltou a latir, como se em


defesa do seu dono.

— É. — Dei de ombros.

Senti-me leve ao ouvir seus impropérios e continuei a

examinar as peças de cerâmica, absorvendo cada detalhe,


fascinada pela riqueza das pinturas, com os desenhos de flores,

mandalas e figuras geométricas, e pelas cores.

— Minha mãe adoraria ter um conjunto desses — disse para


mim mesma e senti, mais do que ouvi, a aproximação dele,

confirmada quando tocou meus ombros. — São da Turquia? — Fiz

uma pergunta boba, pois era mais do que óbvio.


— Sim, de uns artesãos de Iznik, que foi um grande centro de

produção de cerâmica no império otomano, mas que perdeu seu


destaque quando se passou a produzir peças de alta qualidade em

Istambul.

Demonstrou seu orgulho por possuir tais peças proveniente


do seu país. Mas quem era eu para julgá-lo, já que meus

conterrâneos eram movidos pelo mesmo sentimento de patriotismo.

— Muitos colecionam, mas gosto de usá-los. Cada um deles


carrega uma parte da cultura turca nos seus elementos e me faz

recordar da minha avó, que sempre dizia que um verdadeiro jantar

turco não seria a mesma coisa sem a profusão de cores das louças.

— São verdadeiras obras de arte.

Peguei dois pratos da pilha e me virei para ele, sentindo-me


cada vez mais derretida pelo seu sorriso apaixonante.

— Me lembra de onde vim, do meu lar.

— Entendo.

Sorri, percebendo a suavidade com que falava do seu país.


Tinha ciência que a Turquia era um local conservador, austero

principalmente para as mulheres, apesar dos Estados Unidos


também terem a sua quota de machismo. Mas havia coisas lindas e

belas para serem contempladas, e a casa de Yazuv era a prova viva

disso.
— Gostaria de presentear minha mãe com uma louça dessa,

ela vai amar, principalmente os que têm desenhos de flores,

parecendo uma espécie de crochê.

— Posso providenciar isso para você.


Piscou e me deu um selinho. Pegou as cerâmicas das

minhas mãos trêmulas e as levou para a mesa, deixando-me

parada, sem reação com a sua fala. Fui tirada do transe quando
recebi uma patada de Aylla. Acariciei a cachorra e fui até o balcão

para pegar nossas taças, e as levei até a mesa delicada instalada

no terraço, iluminado por arandelas com luminárias de mosaico.

Sentei em uma cadeira, esperando ele servir nossos pratos,


acariciando a cadela que me parecia estranhamente chegada a

mim, e não cansava de me cheirar. Tinha pedido a Yasuv para

comermos ali, embora o vento frio soprasse pela madrugada. O


local era lindo demais para que não o aproveitasse, com todas as

suas curvas e arcos, as plantas em grandes vasos e os pequenos

pontos de luz formados pela cidade. Ele ia e voltava, trazendo os

pratos que preparou e meu vinho, até que sentou-se à minha frente,
sem o seu avental. Roubou o meu ar quando sorriu, o rosto

iluminado pela meia luz, os olhos me fitando suavemente. Foi


impossível não suspirar, deixar-me levar por pensamento tolos e

românticos. Estávamos sozinhos, à meia-luz, fazendo uma bela

refeição. Ele esticou o braço para entrelaçar nossos dedos, e os


apertou suavemente.

— Espero que goste do kebab de cordeiro que preparei. Vai,

come. Não estava com fome? — ordenou suavemente e o vi pegar

os talheres para se servir.


Pela primeira vez olhei para o prato colorido à minha frente e

minha fome voltou com tudo. Cortando um pedaço, levei a boca

sentindo uma explosão de sabores na minha língua. Era bastante


forte, impossível de definir quais especiarias tinham, diferente de

tudo que havia comido até hoje.

— Então? — perguntou, depois de beber um pouco de água,

parecendo ansioso por uma resposta.


— Maravilhoso. — Fiz um som baixinho quando levei mais

um pedaço à boca.

— Não é muito forte para você?


— Um pouco, mas é delicioso. — Comi mais uma garfada. —

O que tem nele?


— Cominho, noz moscada, cravo, cardamomo, pimenta preta

— começou a enumerar todos os condimentos —, aprendi com a

minha avó a preparar o Baharat. Mas existem várias versões do

tempero.
— Humm… — emiti outro suspiro e aproveitei para sondá-lo,

querendo descobrir um pouco mais dele. — Fala da sua avó com

muito carinho. Posso ver que gosta muito dela.


Ele ficou em silêncio por alguns segundos e acabou

assentindo. Pensei que não iria dizer nada, mas para minha

surpresa, depois de beber um longo gole da sua água, parecendo

ganhar tempo, falou:


— Eu a amo. Mesmo com toda a rigidez com que foi criada,

mesmo tendo sempre vivido em meio ao luxo, com o sofrimento que

passou e ainda vive, ela é uma mulher espirituosa, vivaz e animada.

Deu um sorriso triste e pude perceber a dor ao falar da

tristeza da avó. Instintivamente minha mão livre procurou a dele,

acariciando o dorso. Me surpreendendo, encarou-me e virou a


palma, entrelaçando nossos dedos, como se procurasse o meu

conforto. E aquele pequeno gesto fez com que o carinho que sentia

por ele, aumentasse ainda mais.


Não dissemos nada por um bom tempo, apenas aproveitando

o toque de conforto um do outro, e, mais uma vez, pensei que não


iria continuar a contar sobre sua avó, sobre a sua família. Mas,

como se estivesse impelido por algo, enquanto acariciava os pelos

de Aylla que parecia saber que seu “papai” precisava dela, começou

a falar sobre as duas mulheres da sua vida, a comida esquecida em


seu prato. Disse que as amava e que faria de tudo por elas, de

como fizeram sua infância feliz. Contou o quanto elas sofriam em

seus casamentos infelizes, cheios de traições, que poderiam ter


solicitado o divórcio quando o governo da Turquia assinou um

decreto garantindo direitos às mulheres, principalmente para

aquelas que sofriam violência doméstica, mas, devido a criação que


tiveram, jamais fariam isso. Lembrava-me vagamente de ter lido

algo, meses atrás, sobre o país ter deixado de promulgar a

Convenção de Istambul que protegia minimamente as mulheres e os

protestos reprimidos severamente pela polícia turca.


E meu coração sangrou por aquelas mulheres, pela mãe e

avó de Yazuv, ao mesmo tempo que reconhecia a força delas em

manterem-se em uniões que só as fazia infelizes. Ao passo que


ficava feliz pelo homem à minha frente que, contrariando toda a

casta de conservadores, doava grandes somas de dinheiro para


associações que prestavam assistência a mulheres em situação
vulnerável, o que era mal-visto por alguns, principalmente pelo pai,

que não se importava com isso. Me disse ainda que se sentiria um

péssimo homem se somente ficasse assistindo a luta delas de


braços cruzados. Mas, no fundo, sem que Yazuv tivesse me dito,

sabia que ele era movido pela frustração de não poder ajudar quem

realmente amava.
Mudei de assunto quando percebi o desconforto em seus

olhos por temer ter se revelado demais, voltando a conversa para

mim e meus pais e o quanto fui uma criança terrível, terminando de

comer a comida que já tinha esfriado.


E, muito tempo depois, sentada no colo dele em uma

poltrona, observando o sol nascer por entre o grande arco ogival do

terraço privativo, enquanto ele acariciava os meus cabelos deixando


beijinhos em meu rosto, refleti sobre tudo o que Yazuv tinha me

contado, e percebi quão diferente ele era do meu ex e de Mark. O


tom carinhoso e protetor que tinha falado da mãe e avó e a raiva
que não conseguiu conter ao falar dos homens da sua família, me

indicavam muito sobre quem ele realmente era, talvez mais do que
ele teria gostado de demonstrar.
E isso me deu a certeza de que ainda que tivesse a
capacidade de quebrar o meu coração, Yazuv nunca iria me
machucar deliberadamente como eu acreditava.

Removendo os sapatos de salto alto e bico fino, que


pareciam dois instrumentos de tortura que apertavam meus pés,
joguei a chave de casa em cima do móvel de entrada, e inspirei

fundo, sentindo o cheiro de tinta proveniente de um apartamento


vizinho, que me enjoou ao ponto de sentir a bile subir pelo meu
esôfago.
Nos últimos dias, qualquer odor mais forte me fazia ter

náuseas, até mesmo a aparência de alguns alimentos, mas


consegui esconder isso de Yazuv, que embora me fitasse em alguns

momentos com preocupação quando torcia o nariz para alguns


pratos, aceitava que eu estava bem quando eu afirmava que não
havia nada para se afligir. Contei a ele que uma vez tive uma crise

assim por algo que tinha comido, e que nem tinha dito nada a minha
mãe para não a preocupar. Sabia que ela brigaria e muito comigo
por eu não ter procurado um médico. Mamãe era muito neurótica

quanto a saúde.
Porém, hoje, tudo parecia pior. Estava com uma dor de
cabeça irritante que nem mesmo os analgésicos foram capazes de

mitigar. Sentia um cansaço extremo, e o ataque de mau humor que,


estranhamente, tinha me dominado naquele dia cansativo de
trabalho, a qual culpei por ter ficado frente a frente com Mark

novamente, embora ele estivesse acompanhado por um outro


diretor, o que foi um certo alívio. Yazuv precisou viajar com urgência

para a Turquia para resolver um problema familiar, algo que envolvia


o pai e a mãe dele, mas que a avó não entrou em detalhes por
telefone, portanto eu estava à frente da empresa.

— Descarado — bufei, irritada com Mark, levando a mão a


têmpora, massageando-a. — Canalha.
Minha repulsa pelo diretor não conhecia limites, ainda mais

quando ele me fitou com aquele sorriso sedutor barato, que antes
eu tinha caído direitinho, e tentou tocar a minha mão enquanto

conversávamos, como se nada tivesse acontecido e que eu ainda


fosse completamente suscetível a ele. Era tão seguro de si que
tomava como impossível os boatos maldosos que corriam na

Motors, do motivo da minha promoção, serem verdadeiros. Não que


o fosse, pelo menos Yazuv me fazia sentir que não.
Tinha me custado muito me manter atenta a solicitação deles

sobre a compra urgente de algumas matérias primas que a fábrica


precisava adquirir, algo que eles não estavam mais autorizados a
fazer sem consultar Yazuv ou a mim. Foi difícil conter a ânsia de

vômito que o diretor financeiro me causava com seu cheiro enjoativo


e o olhar lascivo, algo que não havia percebido antes nele. Era
como se o fato de eu ocupar agora um cargo de maior destaque o

impelisse a ser mais agressivo na investida.


O que ele ganharia com aquilo? Não tinha ideia.
Só sei que desejei com todas as minhas forças a presença

reconfortante do turco ao meu lado, para que ele me protegesse


daquela atenção indesejada, que ele me salvasse, como tinha feito
na festa. Mas estava a minha própria sorte e tentei lidar com a

situação o melhor possível, conferindo todas as informações, várias


vezes, antes de assinar digitalmente a nota de orçamento,
autorizando a compra, embora tivesse estranhado o fato de ser

eletronicamente, algo que fugia do padrão, mas foi-me explicado


que era um novo procedimento. Então, apenas o fiz, não sem antes

perceber que os valores apresentados na planilha eram


significativamente menores do que aquelas que eu e Yazuv
tínhamos analisado. Algo bem suspeito, mas não disse nada,

apenas exigi uma cópia do documento para que eu pudesse


apresentar para o turco depois.
Em meio ao desejo desenfreado que sentíamos um pelo

outro, a fome pelos toques e beijos, fazia com que deixássemos


cada vez mais de lado o trabalho, saindo do escritório mais cedo,
indo para casa dele ou meu apartamento quando a urgência nos

tomava, já que apesar dos toques e beijos roubados no escritório,


nunca fomos muito além disso, respeitando o ambiente de trabalho,
excetuando aquela noite em que estive prestes a deixar que ele me
tomasse sobre o tapete da sua sala. Mas sabia que um dia acabaria
realizando a fantasia que passei a ter com ele. Não havia nenhuma
dúvida de que Yazuv a realizaria sem pensar duas vezes, afinal o

turco era dono de tudo aquilo.


Lembrar dele fez com que junto a náusea, viesse uma
dorzinha no peito.

Havia o incentivado a passar mais tempo na Turquia, para


cuidar das suas empresas no país, e marquei uma série de reuniões
com os seus investidores e diretores, e ele pareceu aprovar,

solicitando que eu também agendasse alguns encontros com outras


pessoas com quem fazia negócios em outras partes da Europa e
Ásia. Mas me arrependia completamente de ter dado essa

sugestão, embora fosse tolo da minha parte, já que Yazuv precisava


trabalhar e cuidar dos seus outros negócios, e ele estava fora

apenas um dia. Mas o sentimento que minha mãe denominava


como “saudade”, palavra que só existia em português para exprimir
que sentíamos falta de algo ou alguém, me embargava e me

consumia por dentro. Estava ficando mais do que acostumada a


dormir e acordar na cama dele e em seus braços, amando os
momentos que passávamos juntos.
Ele tinha me prometido que me ligaria assim que pudesse, e
já tinha me enviado algumas mensagens, dizendo que tinha

chegado bem ao país e que estava indo diretamente para cidade em


que morava. Mas essa viagem me dava uma amostra de como seria
quando tudo acabasse entre nós, o que me fez querer cair em

lágrimas, pensando em como seria quando o turco deixasse de vez


Chicago para cuidar da vida dele.
Respirando fundo, tentando sufocar esse sentimento e não

deixar que o choro corresse por algo tão tolo, senti-me mais
enjoada. Cambaleante, sentindo muito cansaço, caminhei até a
cozinha e tomei um copo de água com gelo, um truque que mamãe

tinha me ensinado para essas situações, aproveitando para tomar


outro analgésico, esperando que isso me ajudasse a melhorar. Me
joguei no sofá e fechei os olhos tentando descansar um pouco. Mas

o rebuliço se tornou ainda maior à medida que eu inspirava o cheiro


forte de tinta, e erguendo-me em um salto, ajeitando meus cabelos

em um coque desajeitado, corri em direção ao banheiro, quase não


chegando a tempo, e colocando para fora tudo que eu havia comido,
sentindo a bile queimar com a intensidade.

Não sei quanto tempo fiquei ali, sentada em frente a privada,


sentindo um mal-estar estranho, que nem mesmo o vômito pareceu
aliviar, até que me ergui lentamente e, depois de escovar os dentes
para remover o gosto ruim da boca, fui para o meu quarto. Meus

olhos caíram na mesinha de cabeceira, e vi a caixinha onde


guardava meu anticoncepcional separado por dia, aquilo me

chamou atenção. Dei um passo para trás quando percebi que minha
menstruação, que era até regular por conta do medicamento, ainda
não havia vindo, e estava pouco mais de uma semana atrasada, e já

era para eu ter recomeçado a tomar as pílulas. Um calafrio me


percorreu e, se fosse possível, fiquei ainda mais doente.
Trêmula, sentindo meu coração bater mais forte e a sensação

ruim aumentar, peguei o invólucro e comecei a abrir os


compartimentos, dando-me conta que havia esquecido de tomar
algumas pílulas.

— Não pode ser… — Me abracei e deixei que as lágrimas


escorrerem quentes pelo meu rosto.
Confesso que nunca me preocupei muito com

anticoncepcionais, já que com o meu ex transávamos sempre


usando camisinha. Usava outro método contraceptivo para garantir,

mas confesso que pela baixa assiduidade de fazermos sexo, não


me preocupava muito, e nem mesmo sabia as chances que tinha de
engravidar por ter-me esquecido de tomar o remédio alguns dias.
Uma onda de culpa me invadiu ao pensar que eu poderia

estar grávida, pois sabia que a responsabilidade era completamente


minha, e meu estômago embrulhou com força. Novamente tive que
correr para o banheiro, antes que eu sufocasse com a preocupação

e com a bile.
Deixei-me ficar ali no chão do banheiro, sem forças para

levantar, em meio ao choro convulsivo. Aquela possibilidade


revirava as minhas entranhas enquanto abraçava meus joelhos,
desesperada, mas um fio de esperança de que não estava grávida

surgiu e me apeguei a ele com todas as forças.


Era uma esperança frágil, mas que precisava me agarrar a
ela com todas as forças.

— É só um alarme falso, Val, nada mais — sussurrei para


mim mesma, dando-me coragem para lavar o rosto e tentar me
acalmar. — Depois você vai rir de tudo isso, desse seu medo

infundado.
Como se fosse um autômato, suando frio, joguei a minha
carteira dentro da bolsa e, ignorando o celular que estava tocando,

deixei o apartamento, trancando a porta em um último ato de


consciência.
A farmácia mais próxima ficava no shopping, a duas quadras
do meu apartamento, e fui correndo até lá. Tudo passou como um
grande borrão, eu só me recordava de ter entrado, pegado umas

caixinhas de exame rápido e ido até o caixa.


Fui para o banheiro do centro comercial e fiz os testes ali
mesmo, tinha comprado três para garantir. Eu encarava as fitas do

teste em cima da bancada da pia, aguardando nervosa o resultado.


Eram os cinco minutos mais angustiantes da minha vida, e rezava
fervorosamente para que eu estivesse errada. Nem percebia que

algumas mulheres que adentravam o banheiro me fitavam com


curiosidade.

Torcia para que eu não tenha engravidado do meu chefe.


Mas quando, um depois do outro, os exames foram
mostrando duas fitas rosas, eu cedi ao desespero. Não queria

acreditar! Fui acudida por uma gentil funcionária da limpeza.


— Está tudo bem, moça? — Me perguntou, mas não tive
forças para responder, cedendo às lágrimas.

Como se estivesse em mundo paralelo, escutei algumas


pessoas falando comigo, mas as palavras não eram absorvidas pela
minha mente, que rodopiava, presa ao pânico.
Quanto mais olhava os resultados, mais desesperada ficava,
e o enjoo retornou com força, obrigando-me a ir a privada outra vez.

Alguém me auxiliou para que meus cabelos não se sujassem, mas


não sei quem foi.
Quando voltei a fitar os resultados, solucei.

Não havia dúvidas, eu estava grávida do CEO.


E eu não tinha a mínima ideia de como contaria isso a ele.
— Filha! — Minha mãe exclamou em um grito de surpresa e
felicidade assim que me viu abrir a porta do táxi.

Caminhando com passos largos na minha direção, seus


cabelos negros brilhavam no sol. Os três cachorros, que foram

alertados pela euforia da minha mamãe, animados pela correria

dela, dispararam na frente, recepcionando-me primeiro, dando


cabeçadas e patadas, apenas para depois choramingar, como se

soubessem meu estado de espírito. Meus dedos acariciaram-nos

inconscientemente, estava alheia.


— Que surpresa boa! — gritou.

Queria muito compartilhar daquela alegria de nos vermos,

ainda mais por estarmos tanto tempo afastadas uma da outra, mas
tudo o que sentia era um torpor melancólico. Precisava

desesperadamente do abraço dela, de consolo, do calor do corpo

materno, do seu cafuné.

Depois de deixar o shopping, fui para a emergência de um

hospital qualquer. Relatei os sintomas para o médico, que passou


um exame de sangue para confirmar a gravidez. Confirmada, para

meu desespero. Me deu então um encaminhamento para uma

obstetra, e me passou uns remédios para controlar o enjoo. Após

voltar para casa, eu comprei uma passagem de avião para o


Wyoming em um ato de desespero. Encontrei algum alento no fato
de que, na noite insone, não havia recebido nenhuma ligação e nem

mensagens de Yazuv, e o que teria sido encarado antes com

angústia, virou um bálsamo. Sentia vergonha demais pelo ocorrido e

sabia que precisava colocar a minha cabeça no lugar antes de

encará-lo, e só o conseguiria ali, com a minha mãe. Sairia mais

forte, sem dúvidas.


Por sorte, as quatro horas de voo passaram muito rápido.

Estava tão imersa em meus pensamentos, que mal fui consciente

delas, e senti alívio pelo remédio para enjoo ter feito algum efeito, o

que tornaria o deslocamento um pesadelo se vomitasse o tempo

todo. Tudo o que me lembrava da viagem era que, em algum

momento, tinha tocado a minha barriga, em um gesto instintivo, e

fiquei triste pelo fato de não sentir aquela felicidade explosiva e


colorida que eu imaginava ter quando descobrisse estar grávida.

Talvez o choque e o medo da reação do Yazuv quando eu contasse

a novidade, já sabia que não conseguiria esconder tal segredo dele,

me impedisse de sentir aquela enorme alegria. No fundo, não tinha

nada a ver com ele ou com a possibilidade dele ficar furioso ou

indiferente, algo me dizia que sua reação não seria tão negativa e
que ele não fugiria da sua responsabilidade, mas o que me impedia
de sentir-me radiante era o próprio peso da culpa que eu carregava

por ter cometido tal falha. Se as circunstâncias fossem outras,


provavelmente estaria dando pulinhos de felicidade. Talvez os desse

quando me livrasse daquela bigorna pesada que comprimia meus


ombros.
Senti lágrimas se assomando em meus olhos com a confusão

que me embalava, que ficaram ainda mais grossas quando minha


mãe me envolveu em um abraço apertado. Deixei-me ser envolvida,

sentindo o cheiro suave dos seus cabelos, e fiquei ali chorando em


seus ombros, e o os cachorros ficaram mais em alerta.

— Filha, o que foi?


Deu um beijo nos meus cabelos e afastou-me um pouco do
seu contato, para me encarar. Olhei por meio das lágrimas para ela,

percebendo que suas feições estavam tomadas por preocupação.


— Essa não é apenas uma visita casual para matar a

saudade, não é mesmo? — perguntou em voz baixa, enxugando


minhas lágrimas com as pontas dos dedos.

Eu apenas assenti em concordância, soluçando, e mamãe


me abraçou ainda com mais força, sussurrando palavras doces em
português, que tinham o poder de me acalentar, acariciando meus

cabelos, minhas costas, e eu segurei a blusa dela entre meus


dedos, até que depois de longos minutos, algo dentro de mim

pareceu se acalmar.
— Eu fiz uma burrada, mamãe — confessei quando ela

ergueu meu rosto, sentindo que estava preparada para falar,


enquanto me acariciava o rosto. Percebi que estávamos sozinhas

na frente da casa, minha mala deixada no chão de terra batida. Eu


nem percebi que o motorista tinha arrancado o carro e partido.
— Tenho certeza que não é algo tão grave que não pode ser

consertado, meu amor. — Beijou a minha testa, apartando aquele


abraço para abaixar e para pegar a bagagem que trouxe, só com

algumas mudas de roupas. Entramos e fomos nos sentar na sala.


Me fitava com seriedade, algo que era esperado pela sua posição
como mãe, e com a compaixão de amiga. — Você não costuma

fazer nada imprudente.


— Temo que dessa vez eu fui longe demais, mãe.

Contive a vontade de me abraçar e senti um gosto amargo


tomar a minha boca quando descobri que, como se fosse aquela

menininha que aprontava todas e tinha acabado de fazer uma


travessura, tive medo da reação dela, do modo como o meu pai iria
encarar a minha gravidez, mesmo que eu tivesse idade suficiente

para ser mãe, não era uma adolescente, e já era adulta o suficiente
para arcar pelos meus atos. Tudo bem que eu era nova ainda, nem
tinha chegado aos vinte e cinco e havia muitas coisas que queria
fazer antes de ter filhos, principalmente progredir na minha carreira,

mas aconteceu, e eu teria que encarar de frente a gestação. Tinha


certeza que, passado o baque, me apaixonaria completamente pelo

bebê que eu carregava. Nunca pensaria em tirar uma criança,


embora não julgasse as mulheres que optavam pelo aborto. Não
condenaria uma mulher por isso, já que nem sempre as

circunstâncias delas permitiam uma gravidez saudável ou de poder


cuidar de uma criança. Por sorte, não era o meu caso.

Mas, olhando para minha mãe, me senti ainda pior por estar
na defensiva e, com isso, recear que eles poderiam se decepcionar

comigo, algo que nunca aconteceu nem mesmo nas minhas piores
traquinagens. Tive medo de não poder contar com o apoio deles,
que eu necessitava nesse momento tão delicado, pensamento que

me fez tragar em seco.


Senti nojo de mim mesma por tal ingratidão e pensar em algo

tão injustificável, criado por um medo tolo, porque eles nunca me


deram razão para tal. No fundo do meu coração tinha certeza que
eles me apoiaram no que quer que fosse.
— O papai está em casa? — questionei, só então me dando
conta da ausência dele.
Como minha mãe, ele iria sair correndo para me receber,

principalmente quando ela tinha anunciado minha presença aos


gritos.

— Foi na oficina do Jack para levar aquela lata velha que


começou a engasgar e soltar uma tonelada de fumaça — bufou,
revirando os olhos. Mesmo presa pelo torpor, não contive uma

risada baixinha.

Após alguns segundos de assimilação, senti algum conforto


por saber que eu teria ainda mais tempo para me preparar para

contar para o meu pai. Novas lágrimas rolaram pela minha face,

molhando a minha blusa.

Deus, o que estava acontecendo comigo para me comportar


como uma ratinha assustada, tendo pensamentos ruins sobre as

pessoas que eu mais amava?

— Onde estava com a cabeça quando deixei o seu pai


comprar essa caminhonete? — Balançou a cabeça em negativa,

gracejando, buscando arrancar um sorriso do meu rosto.

— Pelo menos você foi bem recompensada. — Tentei soar


maliciosa, brincando com ela como sempre fazia, mas soube que
não conseguiria quando minha voz saiu completamente estranha,

atrapalhada pelo choro.


Os olhos escuros da minha mãe brilharam com compaixão e

preocupação. Gentilmente segurou a minha mão, apertando-a.

Sabia que ela tinha uma resposta mordaz sobre o assunto, uma
troça, mas se conteve. Sabia que meu estado de espírito não iria

permitir alcançar aquele estado leve que permeia boa parte da

nossa relação, onde ríamos uma da outra por coisas bobas. E me

senti mais culpada ainda. Todos tínhamos nossos momentos ruins e


de tristeza, e infelizmente, aquele era um deles, mesmo que eu

devesse estar superfeliz pela descoberta.

— Vou até a cozinha, Val — sua voz era suave e seus dedos
pressionaram os meus com mais força, transmitindo-me calor e

confiança —, te preparar um chá de erva doce. Enquanto isso, você

toma um longo banho quente, e se prepara emocionalmente para


me contar o quer que seja que esteja te agoniando. Mas saiba, filha,

que apesar do medo que está sentindo, eu estou aqui para te

apoiar, aconselhar e consolar. Estarei sempre disponível para ouvir

seus desabafos, seus problemas, seus temores. Sempre.


Fez uma pausa e emitiu um suspiro baixinho, não por me

condenar pelo fato de eu estar receosa, mas sim, pela minha


tristeza. O que fez com que me sentisse um pouco melhor, apesar

do pranto ainda cair.

— Talvez seja bom que seu pai esteja na oficina, para que
tenhamos um papo de mulher para mulher, apesar que tenho

certeza que seu temor é completamente infundado — completou.

Fiquei em choque pela sua última fala, demorando a

processá-la, e meus olhos se arregalaram.


— Conheço-a bem demais, minha filha, para saber que tem

medo de ser julgada por mim e pelo seu pai — deu um beijo na

minha testa —, mas nunca o faremos. Você é o nosso maior orgulho


e tenho certeza que o seu erro, se é que posso chamar assim, não

prejudicou outras pessoas, por mais grave que seja. Você nunca

faria algo que afetasse alguém, não intencionalmente, e se fosse o

caso, pediria desculpas ou tentaria arrumar tudo para diminuir os


danos.

Senti um soco na boca do estômago. Não tinha certeza se

meus atos não iriam “prejudicar” Yazuv, um homem que estava


muito bem solteiro e, pelo que pude entender, sem filhos além da

doce Aylla. Sabia que eu mudaria a vida dele quando contasse da

gravidez, de um modo ou de outro, mesmo que o nosso caso

acabasse assim que as palavras saíssem da minha boca ao contar


a ele. Talvez não mudaria tão drasticamente como a minha, mas

certamente algo se modificaria.


Enquanto refletia sobre a fala de minha mãe, pensar que uma

criança, um ser tão puro e inocente, poderia afetar a vida de

alguém, como se fosse um problema a ser solucionado, fez com que


sentisse raiva das minhas próprias ideias, e um sentimento

avassalador me impeliu a querer proteger meu bebê. Nunca mais

iria pensar no meu filho nesses termos, como um problema, não

importando o tamanho da culpa que sentia, e impediria que qualquer


um se referisse a ele assim, até mesmo Yazuv.

E quando essa ondulação conflituosa de culpa, raiva e

tristeza se transformou em determinação e ternura, quebrando


qualquer medo e ressalva, meu coração começou a bater mais forte,

e soube nesse instante que tinha acabado de descobrir um novo

tipo de amor, um visceral, que me deixou trêmula com a força que

preenchia cada recanto do meu ser, que me daria forças para


enfrentar o que quer que fosse.

Esse pensamento fez com que a explosão de felicidade

colorida, que não tinha sentido quando vi que os testes deram


positivo, irrompesse em toda a sua fúria. Uma alegria se espalhou
por cada grama do meu corpo, o choro agora sendo por outra razão.

Eu já amava o meu bebê, mais do que a minha própria

vida. E faria tudo por ele.


Absorta nesse sentimento, levei as mãos a minha barriga

ainda lisa, acariciando o ventre como se assim pudesse tocar meu

bebê. Podia ouvir alguns latidos e barulhos caninos, mas estava


alheia a tudo isso. Finalmente estava podendo experimentar aquela

conexão com o serzinho que crescia dentro de mim. Tinha me

esquecido da presença da minha mãe até que as mãos calosas

tocaram o meu dorso e sua voz rouca, emocionada, fez com que eu
encarasse seu rosto que não mais tinha preocupação, apenas uma

felicidade genuína em meio às lágrimas:

— Filha?
— Estou grávida, mamãe. — Continuei a acariciar a minha

barriga e, pela primeira vez desde que descobri, eu sorri.

— Tem certeza? — perguntou, hesitante, como se tivesse

medo de que fosse um sonho, e meu sorriso ficou ainda maior


quando ela deu um tapinha na minha mão para que pudesse tocar

meu ventre também.


— É o que dizem os três testes de farmácia e o exame de

sangue — não havia mais tristeza em meu tom, somente


entusiasmo.

— Três? — disse abismada, me fitando com olhos

arregalados.

Assenti com a cabeça, voltando a chorar feito boba.


— Oh, meu Deus — se levantou do sofá e começou a pular,

como se fosse uma criança, e a gritar: — Eu vou ser vovó! Eu vou

ser vovó!
Uma gargalhada brotou da minha garganta ao assisti-la

comemorar e quando ela me deu as mãos, me puxando para ficar

em pé, fiz o mesmo. Pulamos e choramos, festejando o meu bebê


com muito amor, mesmo que ele fosse ainda uma sementinha

dentro de mim. Os cachorros, antes amuados, começaram a bater a

cauda com vigor, latindo forte, ficando sob as patinhas traseiras para

pular na gente. Sentia-me de repente tão feliz, que me vi de joelhos,


brincando com eles, ganhando lambidas por todo o meu rosto e

mãos.

— Parabéns, filha. — Afastou os cachorros, que me


impediam de levantar, com um gesto da mão, e me envolveu em um

abraço forte por vários minutos, depois beijou a minha bochecha,


voltando a tocar a minha barriga. — Eu não poderia me sentir mais
feliz com essa notícia.

— Agora eu também não — sussurrei, pensando no meu

bebê.
Ela tinha ciência de que meia hora atrás eu estava presa à

culpa, não tinha por que esconder isso. Ainda mais porque esse

sentimento ainda existia, em menor intensidade, sobreposto pelo


amor.

— Eu sei. E é natural ficar temerosa. — Sorriu. — Seria

estranho que não tivesse ficado com receio. A vida de uma mulher

pode mudar muito depois de ter um bebê, e será difícil conciliar


tudo.

— Verdade.

Voltei a deslizar a mão pelo ventre, em um gesto natural de


proteção e carinho. Com certeza pegaria aquela mania. Mal podia

ver a hora de acariciar a barriga redonda.


— A sociedade cobra demais das mulheres, principalmente
no que diz respeito à maternidade. Nem toda etapa da gestação é

um mar de rosas — piscou para mim e me recordei dela me


contando o quanto ficou inchada quando eu estava na barriga dela e
os desejos insanos de comer coisas estranhas —, principalmente as
crises de humor.
Gargalhei alto, quando ela deu uma risadinha, e os cachorros

latiram.
— Não passará por isso sozinha, filha. — Beijou minha testa,
colocando uma mecha atrás da minha orelha.

— Obrigada, mãe.
Tinha certeza que não seria um período solitário, e por mais
que eu temesse a reação inicial de Yazuv, novamente pensando

mais racionalmente, tinha a convicção de que ele me daria todo o


aporte durante a gravidez e cuidaria do bebê junto comigo. Poderia
ser uma tolice, mas realmente acreditava que ele era diferente dos

outros homens. Ele tinha me provado isso com gestos e com suas
falas, embora, na minha situação, não houvesse nenhuma garantia.

— Tenho certeza que seu pai ficará nas nuvens com a notícia
que vai ser vovô. Ele sempre quis ter mais filhos — comentou,

risonha. Por alguns momentos, sonhei acordada em vê-lo com o seu


neto ou neta no colo, mostrando-me o quanto eu era tola ao pensar
que sua reação seria negativa.

— Papai sempre amou crianças.


Assentiu.
— E, não tenho dúvidas que amará seu bebê desde que
descobrir a existência desse serzinho, assim como eu. — Fez uma

pausa e voltou a pegar a mala, fechando a cara, ordenando em um


tom que usava quando eu era menor e acabava de chegar toda suja

das minhas traquinagens: — Agora, mocinha, para o banho, já. Vou


deixar sua mala no seu quarto.
— Sim, senhora — respondi, entrelaçando meu braço no

dela, me sentindo bem mais leve por dentro. Ainda havia muita
coisa para contar, pensei, vendo os cachorrinhos trotarem na nossa
frente para entrar no meu antigo quarto. Não havia dúvidas que

minha mãe iria queria saber todos os detalhes de como eu acabei


grávida.
— Foi acidental? — perguntou ao pegar um dos biscoitos,
lançando-me um breve olhar, antes de enfiá-lo na boca, sendo

observada pelos cães que pediam com seus olhos grandes um

pedaço da iguaria.

Acomodando-me melhor no sofá, dobrando as pernas sob o

corpo, senti o calor da xícara nos meus dedos e o cheiro


reconfortante da erva doce se infiltrando nas minhas narinas,

enquanto com a mão livre não parava de acariciar meu abdômen.

Estava cada vez mais fascinada pela gravidez, que só aumentava


ao ver a felicidade da minha mãe por saber que seria avó.

Relaxada, a noite passada insone somada ao banho morno e

a sensação causada pelo chá, fazia com que o cansaço pesasse


sobre minhas pálpebras. Estava com tanto sono, que a pergunta

não tinha sido assimilada pela minha mente.

— Foi? — insistiu. — Você não estava se cuidando, não?

Suspirei fundo. Ela não precisava perguntar quem era o pai

do meu bebê, já que tinha confessado que tinha decidido ser


amante do turco, mesmo com todas as consequências para o meu

coração. Mas nunca tínhamos conversado sobre métodos

contraceptivos, já que eu achava que era bem grandinha e sabia me

cuidar.
— Em partes, sim, mãe — confessei, levando a bebida aos
lábios, sentindo-me reconfortada quando o líquido quente deslizou

pela minha garganta, me dando a chance de esconder a vergonha

que sentia.

Ela arqueou a sobrancelha, claramente pedindo uma

explicação.

— Não usamos camisinha.


— Filha! — Exclamou alto, fazendo com que os cachorros

latissem e se alvoroçassem, assustados.

— Eu sei, mãe. — Abaixando a cabeça, escondi parte do

rosto sob os cabelos que caíram sobre minha face. — Pensei que

estava segura apenas com a pílula e eu sei que estava errada em

não pensar nas doenças.

— Isso é verdade — brigou com razão.


— Você sabe que sempre usei camisinha com meu ex, eu te

contei.

— Aquele babaca — resmungou uma série de palavrões em

português e eu ri, compreendo alguns deles. Quando disse mais uns

tantos, minha mãe caiu na gargalhada. Pegou uns biscoitos e foi

dando aos cães, que balançaram o rabo em agrado, e se


acalmaram.
— Sei que foi uma bobagem acreditar que seria o suficiente

— continuei. — A primeira vez com Yazuv não foi planejada, então


não estávamos preparados — pousei a caneca na mesa e fiz um

gesto com a mão —, mas das outras vezes, poderia ter me


prevenido.
Ela não disse nada e apenas assentiu.

— Deveria ter imaginado que acabaria esquecendo de tomar


as pílulas. — Dei uma pausa, respirando lentamente. — Com a

correria da rotina nova no trabalho, chegava tão cansada em casa


que só queria me jogar na cama e dormir, e realmente não conferia

se havia tomado naquele dia — confessei, meio envergonhada. —


Acho que como tinha terminado o namoro com aquele idiota, acabei
relaxando e Deus, nem pensei que eu acabaria...

— Infelizmente é o que mais acontece — não havia


julgamento em sua fala.

— Sim.
Ficamos em um silêncio desconfortável, cada uma presa aos

seus próprios pensamentos. Bocejei, mostrando todo meu cansaço,


mas minha mãe ainda tinha uma pergunta:
— Você vai contar para ele, não vai? — franziu o cenho e

percebi que se minha resposta fosse negativa, ela iria me infernizar


até me convencer que eu estava errada. — Não seria justo com

esse homem, além do mais, nem tem como esconder por muito
tempo, não quando você vai continuar trabalhando para ele.

— Sei que não, mamãe — voltei a acariciar a minha barriga,


piscando as pálpebras cada vez mais pesadas —, seria mesmo

injusto com ele. E comigo. Vou contar, mas pessoalmente, assim


que ele voltar de viagem. Não quero dar uma notícia dessas por
telefone. Não é algo tão simples, não é?

— Não — fitou-me com atenção e vi as lágrimas formando


em seus olhos. — Está com medo da reação dele, filha? Que ele te

abandone por estar grávida? Sei que você o conhece há pouco


tempo, mas…
Fiz que não com cabeça, mas não tive tempo de dizer mais

nada, pois ouvimos o barulho de um motor de carro se aproximando


e minha mãe bufou, dando indícios de que era papai e sua

caminhonete. Logo escutei o barulho de unhas arranhando o piso de


cerâmica e latidos eufóricos. Ri bastante, sentindo meu coração se

aquecendo, quando minha mãe se levantou como se tivesse uma


mola no corpo, arrumando o vestido e ajeitando os cabelos para ir
receber o seu amado na porta. Um pequeno ritual que sempre

encheu os meus olhos por achar romântico demais da parte deles.


Não podia negar que sentia um pouco de inveja daquele carinho
todo que tinham um pelo outro e que não tinham vergonha de
demonstrar. Tinha esperança de que um dia pudesse fazer a mesma

coisa, de poder compartilhar com alguém aqueles pequenos


momentos.

Assistir aquela cena fez com que o sono me deixasse por


alguns instantes, a euforia se espalhando dentro de mim.
Meu pai parecia alheio a tudo que não fosse a mulher que

amava, nem reparando na minha presença, muito menos nos


cachorros que queriam a sua atenção. Eu sorri ainda mais quando

meu pai enlaçou a cintura da minha mãe com força, colando seus
corpos, puxando-a para lhe dar um beijo digno daqueles de cinema.

As carícias do meu pai foram ficando mais bobas, o chapéu de


cowboy que usava caindo no chão, até que minha mãe o
empurrou.

— Valmira, o que foi? — A voz dele soou rouca quando


tentou segurá-la novamente.

— A menina, John — falou esganiçado quando a mão dele foi


parar na sua bunda.
— Ah.
Fez um muxoxo, mas logo abriu um sorriso quando se virou
na direção do sofá e me viu. Apesar dos pequenos pés de galinha
que se formavam em seu rosto, entregando a sua idade, o que eu

considerava charmoso nele, ele era um homem ainda bastante


atraente, com seus olhos azuis iguais aos meus, cabelos loiros e

corpo enxuto. Era mais do que evidente a razão pela qual minha
mãe ficava totalmente em polvorosa quando o via, ainda mais
sabendo que um homem daqueles a amava loucamente. Até eu me

comportaria assim.

Ou melhor, não podia negar que já o fazia, pois todo o meu


corpo incendiava e formigava sempre que Yazuv se aproximava.

O meu amante. O homem que eu teria apenas o corpo, não o

coração, diferente da minha mãe.

O pai do meu bebê.


— Oi, papai. — Acenei para ele, me erguendo do sofá,

evitando dar vazão àqueles pensamentos que poderiam me levar às

lágrimas, me fazendo mergulhar na tristeza.


Pegando o chapéu no chão e colocando-o num gancho perto

da porta, não demorou muito para que eu recebesse um abraço

apertado dele.
— Oi, minha princesinha. — Beijou minha bochecha com um

estalo, me fazendo gargalhar por ele sempre me tratar como se eu


fosse uma menininha de cinco anos que amava o colo do papai. —

Estava morrendo de saudades suas.

— Eu também, pai.
— Te amo tanto, princesinha. — Sua voz era suave ao

acariciar o meu rosto com o polegar, e fitou-me atentamente, os

olhos azuis me perscrutando.

Uma bola se formou em minha garganta por ter sequer


pensado que o homem à minha frente me condenaria por estar

grávida, meu coração voltando a se apertar pela minha injustiça.

— Você estava chorando, princesinha? — Deu um beijo na


minha testa, continuando a fazer carinho em mim, a preocupação

em sua voz. Nada escapava a ele. — Seus olhos estão vermelhos e

sua cara parece inchada.


Fiz que sim com a cabeça, e as lágrimas voltaram a escorrer

pelo meu rosto.

E como se eu fosse mesmo uma menininha, meu pai me

puxou para o sofá e sentou-se ao meu lado, fazendo com que eu


pousasse minha cabeça nos seus ombros largos. Percebi que ele
buscava com o olhar a minha mãe, como se perguntasse o que

estava acontecendo.

— Conte para o papai o que aconteceu — sussurrou,


afagando os meus cabelos, e eu ri baixinho pelo modo como ele

falou, me fazendo lembrar dos meus tempos de criança. — Foi

aquele homem que te machucou? Se for, ele vai aprender a não

magoar a minha princesinha.


— Crendeuspai, homem — minha mãe faltou em português

uma das suas expressões favoritas, fazendo um sinal da cruz, e não

consegui conter a risada.


— Não é isso, pai — falei e enxuguei o rosto.

— Então o que foi? — Parecia tenso.

Ergui-me do sofá, sorrindo, já esquecida das lágrimas.

Peguei a mão dele e a coloquei na minha barriga.


— Estou grávida.

Deu um grito que feriu as minhas orelhas, o que assustou

todo mundo, até os cachorros. Para minha surpresa, pulando do


sofá, me ergueu nos braços, girando comigo pela sala, rindo,

falando alto que seria avô e que iria ganhar um neto. Os bichinhos,

novamente, iniciaram sua festa, latindo desesperadamente. Mamãe


se juntou a gargalhada e gritos do meu pai, vindo nos abraçar

quando papai me pousou no chão.


— Que notícia maravilhosa, princesinha — beijou a minha

testa. Seu sorriso era tão largo que parecia que a qualquer

momento sairia do rosto —, você sabe que sempre fui louco para ter
crianças me visitando e me chamando de vovô.

— Não está bravo? — perguntei, acanhada.

— Pelo amor de Deus, filha, de onde tirou essa ideia maluca?

— Bufou, fazendo uma carranca desgostosa que logo se


transformou em alegria. — Você já é adulta, dona do seu nariz. Eu

não poderia estar mais feliz.

— Que bom! — Coloquei uma mecha atrás da orelha,


enrubescendo com a vergonha.

— Onde está seu namorado, princesinha? — questionou,

depois de vários minutos gritando enlouquecidamente de felicidade.

Ele sabia de todos os aspectos da minha vida, não tão


detalhadamente, afinal, eu era sua menininha e papai não gostaria

de saber de minúcias das minhas relações como minha mãe.

— Quero abraçá-lo também — completou, coçando a cabeça,


fazendo pose de ciumento: — apesar de que eu deveria estar é

tirando satisfação por engravidar minha menininha.


Os dois riram do tom jocoso, mas não os acompanhei dessa

vez.

Senti um frio me invadindo com a pergunta, porém o suprimi,

pois a felicidade era maior, ao ver os dois dando pulinhos pela sala,
acompanhados pelos cachorros. Meu pai, apesar de tudo, era quase

como um daqueles cowboys à moda antiga do Wyoming, e não

sabia bem como explicar a ele que eu e Yazuv não tínhamos um


relacionamento sério. Poderia até tentar, mas, para papai, éramos

um casal e ponto final, o que estava longe da realidade. Com o

tempo, quem sabe colocaria na cabeça dele que o mundo tinha

mudado muito, que ter casos era normal, e que criaríamos nosso
filho sem ser um par romântico.

— Ele está viajando — dei um sorriso fraco, que ele não viu,

já que tinha se virado para abraçar a minha mãe que chorava de


alegria.

— Ah, uma pena — fez uma careta —, queria conhecê-lo, ou

melhor, esganá-lo — piscou.

— Quem sabe da próxima vez ele venha comigo — menti.


Uma dorzinha surgiu no meu peito por achar que eles só se

encontrariam em situações bastante específicas, como eu também

só teria contato com a mãe e a avó de Yazuv, mulheres que ele


falava com tanto carinho, apenas em datas especiais, isso se

tivesse, afinal não iríamos formar uma família.


Tentei afastar tal pensamento entristecedor, não era hora e

muito menos o momento para sofrer com tanta antecipação. Não

podia prever o que iria acontecer.

Senti certa preocupação por lembrar naquele momento que


Yazuv havia viajado por causa de um problema familiar, algo que

egoistamente não tinha pensado nas últimas horas. Será que estava

tudo bem? Fiz uma pequena prece silenciosamente para que sim.
Seria horrível descobrir que não estava tudo bem com a avó ou com

a bisavó paterna do meu bebê.

Mas não tive tempo de me afundar muito nesse sentimento,


pois meu pai estava gritando outra vez que seria vovô, o que me

tirou dos meus pensamentos. Ele estava dançando com os

cachorros! Tive que rir. Literalmente, ele estava mais empolgado

com a minha gravidez do que a minha mãe.


— Traga o whisky, mulher, temos que comemorar direito. —

Sem fôlego depois da algazarra, os cachorros começaram a perder

o interesse nele, se deitando no chão, e meu pai se esparramou no


sofá. Percebi que estava chorando, provavelmente a ficha tinha

caído. — Nós temos que brindar a isso.


— Ela não pode beber nada alcoólico estando grávida,
homem. — Minha mãe bufou, mas logo foi se sentar no braço do

sofá, abraçando-o, fazendo com que ele pousasse a cabeça no seu

colo. Resolvi me sentar ao lado dele, e segurei sua mão com força.
— Eu estou tão feliz — sua voz soou baixinha.

— Eu também, meu amor — minha mãe comentou

suavemente.
Ficamos ali juntinhos, abraçados, compartilhando aquela

alegria, até que minha mãe se ergueu para pegar três taças com

água para finalmente brindarmos.

Instintivamente, toquei meu abdômen, torcendo para que


Yazuv recebesse aquela notícia tão bem quanto meus pais. E que,

assim como eles, também amasse aquela criança.


— Está se sentindo melhor, anne[28]?

Tirei uma mecha de cabelo escuro do seu rosto, algo que


raramente via por estar sempre coberto por um véu, e beijei a testa

da minha mãe. Usava todo meu controle para esconder a raiva que
sentia do meu pai, o causador desse sofrimento, ao olhar o rosto

pálido e magro dela, tomado pelas lágrimas.


Sabia que ela não iria falar livremente o que estava
acontecendo, então tive que insistir.

Dentre todos os problemas que imaginei, isso nunca me


passaria pela cabeça, que o meu pai pediria o divórcio pronunciando
três vezes a palavra "talaq" na presença dela, depois de trinta e

cinco anos de casamento, ainda mais que o triplo talaq[29] tinha sido

proibido em vários locais de tradição muçulmana. E fez isso para


poder se casar com outra mulher em um país pouco influenciado
pela religião. Foi um grande baque para minha mãe, que apesar de

tudo, o amava muito. Ela tinha fé que Allah o faria mudar de ideia.
Minha mãe não dependia dele financeiramente e não
necessitava seguir fielmente as regras conservadoras infligidas ao

sexo feminino do meu país, porque eu a protegeria. Essa seria a


chance de pôr um fim nas constantes humilhações, com meu pai a
traindo e não fazendo questão de esconder isso de ninguém. Eu

queimava de raiva ao saber que a annemler[30]mesmo sabendo que


seria o melhor para ela, sofria pelo constrangimento do seu
casamento não ter dado certo, por ter sido trocada por outra, isso ao

ponto de passar mal.


A saúde dela era mais importante do que qualquer coisa no

momento. Por sorte, tinha sido apenas um susto.

— Sim, oğul[31], não foi nada, só um pequeno mal-estar. —


Sua voz melodiosa, com seu sotaque cipriota, era sempre delicioso
de ouvir, mas não quando estava repleta de tristeza. — Não

precisava ter vindo de tão longe só por causa disso — completou.


Bufei em exasperação.
— Eu te amo, mãe — sussurrei ao levar a mão dela aos

lábios, plantando um beijo no dorso carinhosamente, para depois


enxugar as lágrimas dela com o polegar — eu me preocupo com
você.

— Eu também amo você, Yazuv. — Acariciou a minha barba


suavemente.
— Quando minha avó ligou, confesso que tive medo de

perder você. — Não precisava esconder da mulher que tanto me


amava, que suportou tanta coisa por mim, aquilo que sentia.
— Me desculpe por isso, sevgili.
Continuou a me afagar, como se me consolasse, sendo que

era ela quem precisava do meu conforto. Ver seus olhos vermelhos
e as olheiras dava um nó enorme no meu estômago e aumentava a
minha fúria. Ela sempre foi sorridente e alegre, mas agora estava de

coração partido, sofrendo por um homem que não a merecia. Ali,


olhando para ela e vendo seu estado lastimável, jurei que nunca

faria isso com uma mulher. Nunca.


— Não por isso.
Não dissemos mais nada um para o outro. Fiquei segurando

sua mão, observando-a em silêncio. Ela havia nos assustado ao ter


que ser levada para o hospital, quando foi encontrada desacordada
no banheiro de sua suíte. Estava de volta em casa, mas vendo-a ali,

tão frágil, sentia meu coração apertar com força por ela. Segurei
minhas próprias lágrimas, não iria desabar na frente dela.

— Você não deveria estar trabalhando, çocuk[32]? — O tom


suave ecoou pelo quarto, em uma mistura de repreensão e carinho

maternal, e eu sorri pela mulher tentar usar o meu vício em trabalho


contra mim. — Tenho certeza que há muitos relatórios que exigem a
sua atenção.
— Sempre há, anne — respondi, traçando círculos lentos

com os polegares na mão que segurava entre as minhas.


— Pode cuidar dos seus negócios, oğul — murmurou —,
ficarei bem.

Arqueei a sobrancelha por alguns segundos, quando percebi


que ela emitiu um soluço baixo, e voltava a chorar.
— Não há pressa — apertei seus dedos —, o trabalho pode

esperar.
— Você deve estar cansado depois de tantas horas de

viagem — insistiu. — Não precisava ter vindo direto para cá. Acho
que gostaria de tomar um banho, não é?
— Dormi no voo e o banho pode ficar para depois. — Disse

que tinha descansado, para não a deixar preocupada comigo.


Passei o voo todo afundado em relatórios e planilhas, tentando
aquietar a minha mente.

— Te conheço bem demais para saber quando está


mentindo.
Pude ver por trás da mulher fragilizada, mesmo com o rosto

abatido pelo choro, uma força inata naqueles olhos escuros. Ela
poderia ser muitas vezes submissa, por conta da criação que teve,
mas havia determinação em suas feições.
— Por favor, Yazuv — pediu em um tom que era frágil, mas,
ao mesmo tempo, não aceitava uma negativa —, quero ficar
sozinha.

Voltei a encará-la, sentindo meu peito se apertar novamente,


mas acabei assentindo em concordância. Sabia que que ela não
verbalizaria a sua dor mais do que já tinha feito. E na minha criação,

foi-me ensinado a sempre respeitar o desejo dos mais velhos,


principalmente da minha mãe. Abria uma exceção a essa regra
quando se tratava dos homens da minha família. Não tinha respeito

nenhum por eles.


— Tem certeza, annemler? — questionei ao erguer-me da
beirada da cama, hesitando.

— Feche a porta assim que sair e peça que nenhum


empregado me perturbe.

— No final, tudo dará certo — sussurrei antes de deixar outro


beijo na testa dela em demonstração de respeito.
Ela não respondeu, e sabia que não o faria, pois tinha certeza

que, no momento, ela não conseguia enxergar nada além da própria


dor e humilhação.
Fui com passos lentos até a porta, não querendo deixá-la.

Parando na porta, dei um último olhar, observando-a se encolhendo


nos lençóis, mas como um filho obediente, fiz o que ela pediu.
Fechando a tela do notebook, consciente de que por mais
que tivesse tentado trabalhar, não conseguia prestar atenção nos

relatórios enviados pelos diretores da Motors, e nem mesmo dar a

devida atenção para os documentos referentes aos meus outros


negócios que exigiam a minha assinatura, muito menos rever os

cálculos para checar a rentabilidade de um outro negócio que surgiu

nos últimos dias, apesar de que confiava e muito na pessoa que os


tinha feito.

Precisava daquele refúgio proporcionado pelos negócios,


mas eu não conseguia parar de pensar na mulher frágil que deixei

chorando e sofrendo, nem na preocupação que vi nos olhos da

minha avó depois que deixei o quarto da annemden. Ódio, tristeza,


cansaço, frustração e impotência se misturavam dentro de mim por

não poder fazer nada. Melhor, poderia tentar fazer algo, sim, poderia

tentar convencer o meu pai a voltar atrás, mas sabia que isso não

seria bem-vindo para a minha mãe, que se sentiria ainda mais

humilhada.
Suspirei, passando a mão pelos meus cabelos com fúria,

puxando-os com força, como se desse modo pudesse aliviar aquilo

que sentia. Imaginei que ficar uns momentos a sós com os meus

pensamentos faria com que eu lidasse melhor com tudo o que


estava acontecendo. Nem ao menos tive coragem ainda de mandar
uma mensagem para a benim değerli, avisando que tinha chegado

bem, o que tinha prometido fazer, e ela deveria estar preocupada

pela falta de notícias. Mas Val sabia o quanto minha mãe e avó

eram importantes para mim, então me compreenderia, e teria até

alguma palavra de conforto ou mesmo um conselho para me dar.

Algo me dizia que só de ouvir sua voz, eu teria algum alento para
aquele turbilhão.

Ao mesmo tempo em que necessitava dela, eu temia a

dependência que estava criando, não somente pela luxúria, mas

emocional. Nessas duas últimas semanas, algo estava mudando

vertiginosamente na nossa relação, pelo menos para mim, e não

estava sabendo lidar com isso. A satisfação física não me era mais

suficiente e aquilo era um terreno perigoso. O pior é que não sabia


quando tudo tinha saído do meu controle.

E, agora, vítima dos pensamentos e dos sentimentos

angustiantes, tudo o que sabia era que precisava de Valdete.

Ansiava por sentir o calor do corpo dela contra o meu, o conforto

que isso me trazia. Seu toque carinhoso me fazia esquecer de tudo,

menos dela. O olhar doce e o sorriso franco dando-me a certeza de


que ficaria tudo bem
Queria poder vê-la. Senti-la.

Mas cinco mil milhas me separavam dela, um distanciamento


que não tinha data para terminar. Não poderia deixar minha anne

sozinha naquele estado, nem minha avó.


Sentindo o meu peito queimar, ergui-me da cadeira e
aproximei-me do decantador e me servi uma dose generosa de raki

, necessitando de um pouco de álcool para aplacar aquelas


sensações. Com o copo nas mãos, abri a porta de vidro e caminhei

descalço pela sacada do meu quarto, sendo recebido pela brisa


fresca que soprava e pelas estrelas que cintilavam no céu, alheias a

toda dor e tristeza que havia na Terra. Não sei por que me lembrei
agora daqueles lindos olhos azuis ardendo quando recebia minhas
carícias.

Arfei, sacudindo a cabeça tentando afastar aquele


pensamento fora de hora. Apoiei meus antebraços no balaústre,

tentando focar naquilo que era mais importante no momento, que


era lidar com a raiva e frustração que sentia. Fechei os olhos e

tomei o restante do raki em um só gole, sentindo lágrimas se


formarem com o ardor advindo da bebida forte, mas a sensação em
meu peito não diminuía. Os soluços baixinhos da minha mãe, suas
lágrimas silenciosas, voltavam na minha mente em uma repetição

brutal.
E, por mais que não queria aceitar a dependência que sentia,

abri os olhos e levei minha mão ao bolso da calça, pegando meu


aparelho celular. Não poderia sentir, cheirar, abraçar, mas poderia

ouvir a voz suave e doce da mulher que não saía dos meus
pensamentos. Algo que tinha certeza que aliviaria as minhas dores
só pelo fato dela me escutar.

Precisava dela.
Por alguns momentos apenas contemplei a foto do contato.

Meu coração disparou com a mera lembrança do seu sorriso, uma


emoção se espalhando pelo meu corpo, acalmando um pouco
aquele caos que havia em mim. Um homem tido como severo,

implacável, exigente, rude, se rendendo a sentimentos que


desconhecia. Coloquei a culpa no cansaço que pesava sobre os

meus ombros, um que não era físico, mas mental, na impotência de


não poder agir, algo que não estava acostumado, já que o meu

dinheiro sempre garantiu que eu pudesse fazer tudo o que quisesse


e resolvesse todos os meus problemas com um estalar de dedos.
Mas nem todo o meu ouro e bens curariam o coração partido

da minha mãe.
Impelido pela onda de raiva que me assolou ao pensar nisso,
uma vontade louca de esmurrar a cara do meu pai me tomou. Era
uma violência que daria vazão com prazer se ele estivesse na

minha frente. Respirei fundo e disquei o número de Valdete, sem


nem me ater ao fuso-horário. Cada vez que ouvia o toque e ela não

me atendia, mais me sentia irritado comigo mesmo por estar tão


sedento por ouvir a voz dela. Esmurrando a parte de cima do
guarda-corpo, murmurando uma série de palavrões, estava quase

desistindo quando ela finalmente atendeu. Por segundos, fiquei


bambo de alívio, soltando o ar que nem sabia que prendia, e dei

passos para trás até jogar o meu corpo sobre uma poltrona.
— Yazuv? — O tom dela era sonolento.

E a recordação dos cabelos negros espalhados pelos meus


lençóis com um leve sorriso nos lábios, totalmente satisfeita, deitada
nos meus braços, me atingiu como um raio. Olhei novamente as

estrelas que cintilavam no céu, como se nelas eu visse o brilho dos


seus olhos, e deixei-me levar por aquele breve alento suscitado

pelas lembranças doces dela.


— Değerli… — sussurrei, porém não consegui frear um
gemido baixinho de cansaço, e fechei os olhos. — Eu te acordei?
Senti uma culpa estranha por pensar que eu tinha
atrapalhado o sono dela. Não fazia ideia de que horas eram, mas
não estava conseguindo lidar com aquele caos emocional sozinho.

Nunca me senti tão frágil e isso era assustador, mais ainda quando
percebi que precisava desesperadamente de alguém. Daquela

mulher.
— Não se preocupe, Yazuv, estava acordada.
Dei um grunhido em resposta.

— Aconteceu alguma coisa? — Percebi que ela ficou mais

alerta, sua voz não tinha mais aquela sonolência. Val parecia
genuinamente preocupada, o que aliviou um pouco a dor que me

sobrecarregava. — Está tudo bem?

Balancei a cabeça em negativa, mesmo que ela não pudesse

ver.

— Não, infelizmente não, bu aşk[33] — disse com a voz


quebrada.

— Yazuv… — Chamou-me baixinho, como se a minha dor

tivesse se transformado na dela. E a sua preocupação, o carinho


presente no seu tom, foi o meu estopim.

Senti as lágrimas surgirem nos meus olhos, e elas deslizaram

queimando pela minha face. Toquei-as com as pontas dos dedos,


como se descobrisse algo novo.

Não me recordava da última vez que tinha chorado, acho que


desde que era um menino não fazia mais isso. Lembro uma vez,

quando tinha ralado com força meus joelhos, que ganhei uma bela

repreensão do meu pai e avô pela minha demonstração de


fraqueza. A dor que senti naquele dia com as palmadas que levei

pareciam cravadas na minha alma e tinha aprendido a minha lição.

Mas, por mais que tivesse sido moldado pela cultura rígida do meu

país, sabia que homens choravam. Se fosse considerado uma


fraqueza, que seja.

Extravasei tudo que sentia através das lágrimas, sem me

importar como eu parecia aos olhos do mundo. Dela.


Mas meio ao pranto, ouvia suas palavras de conforto

sussurradas do outro da linha, aquilo que tanto precisava. A minha

impotência era real, e isso doía. Assistir alguém que amava


sofrendo sem poder fazer nada era dilacerante.

— O que aconteceu, Yazuv? — perguntou com a voz

embargada, depois de vários minutos em silêncio. Respirei fundo e

parei de chorar, limpando meu rosto com o dorso da mão.


Aquela bigorna que sentia sobre os meus ombros e peito

pareceu tornar-se mais leve, apesar de ainda existir. Era como se,
junto com as lágrimas, o peso tivesse diminuído. Mas a verdade era

que o simples fato de compartilhar com ela minha dor, mesmo sem

dizer uma palavra, que fez com que aquilo fosse possível.
— Não me deixe no escuro — sua voz era urgente, agitada,

me tirando dos meus pensamentos. — Está tudo bem com a sua

mãe? Pelo que você me disse antes de viajar, algo ocorreu com ela.

— Meu pai pediu o divórcio para se casar com outra mulher


— não escondi minha raiva ao falar isso.

Sabia que Val não iria me julgar por sentir ódio pelo que ele

tinha feito. Instintivamente fechei a mão em punho, batendo no


banco de madeira. Escutei um chiado baixinho vindo do outro da

linha e foi impossível não perceber que Val sofria junto comigo. Por

minha anne, por ela mesma que já teve o coração quebrado pelo

maldito do seu ex.


— A dor da humilhação e tristeza foi tão grande que ela

acabou desmaiando e precisou ir para o hospital para ser medicada.

— Um coração partido — sussurrou dolorosamente. Engoli


em seco, e fiquei olhando a silhueta da fonte no centro do enorme

jardim.

— Sim. — Admitir isso em voz alta era equivalente a ser

rasgado ao meio por uma iatagã[34], e eu traguei saliva com mais


força.

— Sinto muito, Yazuv. — Ela parecia estar chorando, um


gesto de compaixão que se viesse de outra pessoa não iria tomá-la

como boa coisa.

Aquele gesto me fez sentir tocado na alma, confortado. A


mulher conseguiu se infiltrar de vez dentro das barreiras que tinha

erigido com tanto custo. Não havia volta.

— Por ela — completou. — Mas também por você.

Puxei o ar com força e soltei-o lentamente, deixando que


essa verdade se infiltrasse dentro de mim. Não havia como

esconder dela que me sentia ferido, não pelo divórcio em si, mas

pela dor que sempre existiu, e que foi crescendo exponencialmente,


mas que só enxerguei quando tive idade suficiente para

compreender a relação homem-mulher e vi o quanto meu pai

machucava minha mãe, alguém que o amava, com seus atos, por

não ter conseguido protegê-la, mesmo que não houvesse nada que
eu pudesse fazer.

— Eu o odeio, değerli — cuspi, socando novamente o banco

—, odeio por toda a dor que ele causou a ela e que ainda irá causar.
Pela vergonha que ele trará para nossa família, pela humilhação

que a fez passar.


Ficou em silêncio, compartilhando da minha impotência.

— Por reduzir minha mãe a um poço de tristeza, asfixiando a

mulher alegre que existia dentro dela — limpei uma lágrima que caiu

com fúria, e meu tom ficou mais seco, revelando minha frustração —
por ele a fazer chorar, fazer sentir vergonha de si mesma por algo

que não tem culpa. Por ela ter que sofrer sozinha, em silêncio.

— Yazuv…
— Eu sinto vergonha por ser filho de um homem como esse.

— Grunhi, desgostoso. — Nojo por ter o mesmo sangue que o dele

e do meu avô correndo pelas minhas veias.

— Você não é igual a eles. — Sua voz soou mais estridente,


em uma defesa apaixonada.

Para quem me conhecia há pouco tempo, ela disse isso com

muita firmeza, algo que fez com que a minha raiva arrefecesse, e
um leve torpor me invadiu.

— Não posso imaginar você machucando alguém assim

deliberadamente, Yazuv.

Balancei a cabeça em negativa e inspirei fundo, não tendo


essa certeza, porque algo dentro de mim me dizia que eu poderia,

sim, embora não me imaginasse machucando emocionalmente uma

mulher e tivesse jurado a mim que nunca o faria. Mas não havia
garantias. Eu nada sabia sobre relacionamentos além daquilo que

contemplava de longe. Sem querer, machucávamos as pessoas ao


tomar uma atitude que nos parecia correta naquele momento.

— Não seria tão cruel, brincando com sentimentos de uma

pessoa assim. — Disse, e eu ouvi um barulho, como se ela limpasse

as próprias lágrimas. — Fico feliz que esteja com a sua mãe nesse
momento, Yazuv. Imagino o quão difícil será o divórcio para ela,

doloroso, mesmo que não tenha ideia do que é vivenciar isso numa

cultura tão diferente da minha. Ela precisa de você, do seu apoio e


do seu abraço, mesmo que ela não peça com palavras.

— Eu sei disso — minha voz saiu áspera —, mas é tão

doloroso. Tenho tanto medo de perdê-la, que faça uma besteira...


Comecei a chorar novamente, voltando a ser um menininho

perdido em busca de consolo. Pensei na angústia que senti durante

o voo, que parecia interminável, e no medo que senti quando soube

que estava no hospital devido a uma crise de pressão. Valdete ficou


ali me consolando, dizendo que minha mãe ficaria bem, que ela

sobreviveria à dor causada pelo meu pai, mesmo que demorasse

um tempo. Suas palavras doces, que chegavam ao meu coração e


aliviavam meu sofrimento, me abraçavam mesmo que ela não

estivesse ao meu lado.


Encerrei a ligação, após prometer que daria notícias. Ergui-
me do banco e voltei ao meu quarto, jogando-me na cama com um

baque, lembrando da sua voz doce, sentindo aquela energia que ela

transmitia, até que o cansaço me venceu. Me sentia ainda mais


próximo daquela mulher que tinha entrado na minha vida e a

mudava drasticamente. E eu ainda não sabia o faria com aquilo que

ela me despertava.
Desviando a minha atenção do monitor à minha frente,
deslizei a mão pela minha barriga e sorri ao fitar a caixa de

bombons já vazia. Mesmo distante, Yazuv pagava alguém para

deixar mimos todas as manhãs, juntamente com a rosa.

Alisei a quase imperceptível protuberância que já havia se

formado e suspirei baixinho, sentindo a culpa me invadindo. Havia


mais de três semanas que estava escondendo esse segredo de

Yazuv, e não podia negar que estava se tornando cada vez mais

difícil conter o impulso de contar a ele sobre a minha gravidez no


meio de uma das várias ligações e videochamadas que fazíamos,

principalmente durante aquelas tarde da noite, em que

conversávamos sobre assuntos pessoais, como sobre a evolução


da mãe dele, que parecia ter recebido uma injeção de ânimo para

continuar com a sua vida, por mais difícil que fosse, ainda tendo que

lidar com o julgamento de vizinhos e alguns familiares, de assuntos

corriqueiros, e perguntávamos como tinha sido o dia um do outro.

Parecia errado não contar logo a ele que seria pai.

Me sentia quase uma criminosa por esconder algo assim,

ainda mais por ele não estar presente na minha primeira consulta e
no ultrassom, que aconteceria amanhã, um momento importante na
vida de qualquer pai, e que eu estava negando a ele poder ir. Pelo
menos para mim, era algo mágico, embora não tivesse muita

certeza se para Yazuv seria. Nesse tempo, tinha imaginado várias

vezes como seria a reação dele, se ele gostaria ou não da notícia,

se ele e me abraçaria e me rodopiaria no ar de felicidade, se

choraria de emoção, ou se ficaria chocado, bravo ou irritado,

perspectiva que fazia o meu coração doer pelo pequenino ou


pequenina que crescia dentro de mim.

— Papai vai adorar te conhecer — sussurrei ao acariciar o

meu ventre, mesmo sabendo que meu bebê não reagiria à minha

voz e que demoraria para isso acontecer.

Não suportava a ideia de Yazuv não amar essa criança, que

não tinha nenhuma culpa de vir ao mundo. Preferia acreditar que o

homem tão protetor e amoroso com as duas mulheres da sua vida,


e também com Aylla, não posso deixá-la de fora, estenderia esse

carinho e amor ao filho. O medo de uma possível rejeição fez com

que lágrimas surgissem em meus olhos e escorressem pelo meu

rosto, mas logo tratei de enxugá-la com o dorso da mão. Mesmo

estando sozinha no andar, não queria correr o risco de alguém

entrar de repente e me pegar chorando, muito menos que me visse


alisando o abdômen. Não queria que descobrissem antes dele,

apesar que duvidava que adivinhariam quem seria o pai.


Poucos acreditavam que eu era amante do meu chefe,

embora isso tivesse sido ventilado quando fui promovida a sua


assistente pessoal. O novo dono da empresa, que fazia todos
pisarem em ovos, principalmente os diretores, com sua expressão

sempre fechada, não dava margens para nenhuma especulação


desse tipo. Mal sabiam que eles que era o homem que a cada dia

que passava estava aprendendo a amar mais e mais, e de quem


sentia uma saudade sem tamanho. Do cheiro dele, dos sorrisos, de

estar em seus braços, da sua voz murmurando palavras que não


entendia no meu ouvido, do seu corpo. Do amor que a gente fazia,
mesmo que para ele fosse apenas sexo. Aqueles dias distantes

estavam me sendo uma grande tortura. Deus, o que eu não daria


para sentir novamente sua boca faminta sobre a minha, com suas

mãos possessivas me apertando, me excitando.


Nunca imaginei que ficaria tão dependente do prazer que ele

tinha me proporcionado, ao ponto de quase sugerir que fizéssemos


sexo por videochamada, tamanho era o fogo que me consumia, uma
ideia completamente erótica. Isso seria algo bem ousado, que tinha

vergonha de pedir, principalmente quando em momento algum


durante nossas conversas ele tivesse insinuado que também

ansiava pelo meu corpo. Isso me deixava frustrada e me fazia


perguntar se a distância fez com que o desejo dele por mim se

arrefecesse e que quando ele voltasse, tudo estaria acabado entre


nós. Evitava pensar que naquele exato momento o turco poderia

estar com outra pessoa, mesmo que tivesse dito que seria fiel
naquela relação frágil que tínhamos. Mas um homem que estava
sofrendo tanto pela dor da mãe por conta da infidelidade e do

divórcio, não me machucaria assim, machucaria? No fim, nunca iria


saber. Tinha que para de pensar nisso, não me levaria a nada nesse

momento.
— Mamãe é tão boba, não é, meu bebê? — minha voz era
repleta de ternura e amor.

Nunca imaginei que me tornar mãe me deixaria


completamente nas nuvens, mesmo tendo sido uma gravidez

acidental. Foi um erro meu e em partes de Yazuv, mas jamais me


arrependeria. Meu filho, mesmo antes de nascer, já era a melhor

coisa que tinha acontecido na minha vida.


Sorrindo, amando aquele serzinho com uma intensidade que
só crescia, não resisti em tocar meu ventre outra vez, mas logo

tratei de voltar a atenção para o trabalho. Tinha um contrato com um


novo cliente da Motors que precisava redigir e despachar ainda hoje
para o departamento jurídico, para que verificassem se todas as
cláusulas estavam todas corretas. Absorta no trabalho, interrompido

vez ou outra por um e-mail ou uma ligação, fui tirada do transe


quando o barulho do elevador ressoou e meu coração começou a

bater descompassado, com a possibilidade de ser Yazuv, pois o


acesso à esse andar passou a ser restrito, e só era permitido depois
que me eu autorizasse. Meu corpo estremeceu com o desejo, afoito

pelo seu abraço e beijo. Como se tivesse uma mola que me


impulsionava, ansiosa, ergui-me em um salto, minha cadeira

arranhando o piso, e inconscientemente deslizei a mão pela minha


saia lápis, jogando meus cabelos para trás, ajeitando-os, desejando

ter um pouco mais de tempo para conferir a maquiagem, e contornei


a mesa para recebê-lo. Porém o sorriso morreu em meus lábios e a
decepção me dominou quando avistei Mark caminhar

arrogantemente em minha direção, o cheiro forte do seu perfume


adentrando as minhas narinas, fazendo com que me sentisse

instantaneamente enjoada. Não contive uma careta de repulsa,


pensando no que ele estaria fazendo ali, mas logo disfarcei sob a
fachada de profissionalismo.
— Posso te ajudar em alguma coisa, senhor Kyle? — Minha
voz saiu fria quando ele ficou a centímetros de mim, e me
parabenizei por isso, por aparentar estar no controle.

Ele arqueou levemente a sobrancelha, como se não


esperasse aquela recepção, mas logo lançou-me um sorriso

charmoso, que tempos atrás fariam borboletas rodopiarem no meu


estômago, não bile subir pelo meu esôfago. E olhando para o seu
charme barato, me senti uma completa idiota por meu coração ter

palpitado algum dia por aquele homem e por não ter visto o

cafajeste que era.


Depois de ter conhecido um homem de verdade, Mark me

parecia um rato. Minto, os ratos eram melhores do que ele.

— Queria vê-la, Val — pronunciou meu apelido

arrastadamente, como se aquilo fosse sedutor, e deu um passo para


frente, me devorando com os olhos de um jeito repulsivo. — Senti

sua falta. Muita. Você está isolada demais nesse andar, mesmo que

merecesse e muito o novo cargo. Mas não tem mais tempo para
conversar com os amigos. — Piscou, como se falasse de si mesmo

e seu cheiro me embrulhou ainda mais.

— Se já viu, pode ir embora. Não estou aqui para isso. — Fui


cortante, e lhe dei as costas, mas ele pareceu me ignorar.
— Você está tão linda. — Senti que ele se aproximou mais, o

que me deixou completamente desconfortável, mas não mostraria


isso a ele. — Ou melhor, está sempre deslumbrante.

Bufei ao ouvir aquilo. Ele segurou o meu braço, girando-me

em sua direção, de modo que eu ficasse de costas para a porta.


Tentei me livrar dele, mas como era mais forte, não consegui.

— Não sentiu minha falta? — sussurrou ao se inclinar para

mim, sua boca ficando perto da minha.

Reagindo, ergui minha mão livre e dei um tapa estalado em


seu rosto, e com tanta força que ele me soltou, atordoado, como se

não acreditasse na minha reação. Sorri, irônica, ao ver a marca

vermelha dos meus dedos em contraste contra a pele branca, que


ficaria estampada ali por um bom tempo.

— Vá falar isso para a senhora Jenkins— rosnei, cuspindo o

acontecimento da festa —, seu canalha!


— Ah — soou arrogante —, então é isso.

Voltou a se aproximar de mim, dessa vez segurando os meus

dois braços, a expressão atônita se transformando em outro sorriso

nauseante, e eu me segurei para não vomitar em cima dele.


— Não precisa ficar com ciúmes, Val — disse, e eu virei o

rosto, enojada —, fomos juntos porque o marido dela não poderia ir


à festa. Nada demais.

Continuei tentando me soltar.

— É você quem eu desejo, Val. Eu quero um relacionamento


sério com você, minha linda.

— Me quer tanto, mas se enterra em outra mulher? — tentei

empurrá-lo, mas o aperto dele ficou mais forte com a minha frase. —

Eu vi vocês dois, Mark.


Não respondeu, talvez surpreso com minha indiscrição.

— Agora me larga.

— Posso explicar…
— O que está acontecendo aqui? — Escutei aquela voz atrás

de mim e meu corpo todo tremeu de alívio. — Solte a minha mulher

— rosnou.

— O quê?
Seu tom indicava posse, mas não me importei, pois o meu

coração batia com força no peito só por ouvir sua voz me chamando

de “sua mulher”.
Antes que Mark pudesse reagir, Yazuv segurou-o pelo terno

com força, fazendo com que me soltasse, virando-o em sua direção

e desferiu um soco no rosto do homem, o impacto fazendo com que


Mark caísse esparramado no chão, e fitasse o turco com

incredulidade.
— Senhor Ibrahim? — sussurrou.

Yazuv lançou um olhar na minha direção e pude ver que o

rosto másculo estava rígido, com uma carranca assustadora.


Aproximou-se de mim e enlaçou a minha cintura com

possessividade, deixando um beijo suave na minha testa que

contrastava com seu estado de espírito, me oferecendo conforto. E

eu enterrei meu rosto no seu peito, apreciando o calor do seu corpo.


Os braços fortes envolveram-me com ternura e nunca um abraço

me pareceu tão bom.

— Ele te machucou, aşkımın[35]? — perguntou suavemente.

Fiz que não. Embora meus braços estivessem um pouco


doloridos, sabia que era melhor não dizer nada que piorasse a

situação. Assentiu, e sem importar se era observado por Mark,

deixou uma série de beijos pelo meu rosto, até que os lábios mornos

pousaram sobre os meus. Minha boca se entreabriu para ele,


sedenta. Fechei os olhos, quando um gemido escapou da minha

garganta, estremecendo com a saudade que sentia dele.

— Val? — Ouvi a voz chocada de Mark me chamando. —


Agora entendi tudo — o diretor falou mais alto, finalmente
conseguindo a minha atenção.

Interrompi o beijo e Yazuv apertou a minha cintura,

visivelmente irritado.

— Me acusa de ter um caso — seu tom era de desdém —,


mas está trepando com o CEO durante esse tempo todo, e colhendo

benefícios disso, não é? Imaginei que quando vi você nos braços de

alguém tinha sido apenas algo criado pela bebida — Balançou a


cabeça, com uma expressão de decepção que sabia ser fingida,

como se ele fosse a vítima da história, A náusea voltou a me atacar.

— Pensei que fosse melhor que isso, Val. — Inspirou lentamente,

levando a mão ao coração. — Que você não se rebaixaria a tanto,


só para subir de cargo.

Contive minha vontade de rir perante a atuação

melodramática. Pensei em retrucar, mas não dei essa satisfação a


ele, deixei que acreditasse no que quisesse. No fundo, a opinião

dele não me importava, não mais. Mas isso não impediu Yazuv de

reagir:

— Orospu çocuğu[36]— disse em uma voz perigosamente


baixa, que arrepiou os pelinhos da minha nuca, e caminhou na

direção do outro homem, que recuou.


Observei Yazuv trincar os dentes e cerrar as mãos em punho

com força, seu semblante ficando ainda mais agressivo. Não


gostaria de violência quando me sentia completamente feliz pela

sua presença, que fazia com que meu coração dançasse no peito, e

ainda mais, porque finalmente, contaria a ele a novidade de que

seria papai.
Então me aproximei dele e entrelacei os nossos dedos, o que

chamou sua atenção. Os olhos negros ainda ardiam de fúria e ele

me indagou com o olhar, e fiz um gesto de negativa com a cabeça.


Respirando fundo, parecendo relutante, apertou meus dedos

com força, e eu não neguei a ele um sorriso, como se dissesse que

estava tudo bem. Ele então se virou novamente para Mark.


— Está demitido — falou num tom inexpressivo, que era bem

enganoso, pois sentia que ele borbulhava de raiva e só estava se

controlando por minha causa. — Pegue suas coisas e deixe esse

prédio imediatamente.
— Você não pode fazer isso — protestou.

Yazuv arqueou a sobrancelha e o homem engoliu em seco,

ficando completamente pálido.


— Tem dez minutos para sair. Pedirei que os seguranças o

acompanhem — pegou o celular do bolso da calça e enviou uma


mensagem.
Mark fez como que iria dizer mais alguma coisa, fitando-nos

com ódio, mas desistiu. Caminhou em direção ao elevador, mas

antes, virou-se para mim e falou em tom ameaçador:


— Isso não ficará assim, Val — cuspiu a frase, e eu senti um

calafrio me invadir. Yazuv, que me abraçava pela cintura, que

apertou com mais força.


Ouvi um rosnado baixo, seguido de, deduzo, alguns

impropérios ditos na língua turca, e eu me aninhei nos braços do

homem que tanto me oferecia conforto, precisando do seu calor,

minha cabeça pousando no peitoral dele que subia e descia com


rapidez.

— Isso que veremos, bok — disse com desdém e novamente

eu estremeci.
Soltei um suspiro de alívio quando ouvi o barulho das portas

do elevador se fechando. Yazuv me fez virar em sua direção e me


abraçou, seus dedos passando a me acariciar, e eu me deixei
abraçar, até que, mais calmo, selamos nossa saudade com outro

beijo.
A raiva ainda se espalhava pelo meu interior, mas isso não
impediu minha boca de deslizar pela dela em um beijo intenso.

Estava furioso com a audácia daquele homem em tentar


tomar o que era meu, e o sentimento me deixava enxergando tudo

em vermelho. Um único soco e demiti-lo não era suficiente para

aplacar minha ira, e se antes eu queria acabar com ele, agora só


descansarei quando o destruir por completo.

Mas não perdi muito tempo refletindo sobre minha vingança.


Era um pecado pensar em outra coisa a não ser naquele beijo.

Suguei os lábios generosos antes da minha língua encontrar o

caminho em direção a língua dela, enquanto minha mão tateava seu

corpo, redescobrindo suas formas, identificando que havia algo de

diferente nela, porém, minha ira ainda me impedia de raciocinar


direito.

— Senti sua falta, Yazuv — disse em meio a um arfar, sua

unha cravando em meu peito, e meu ego todo inflou pela sua reação

desejosa.

Sim, ela era minha mulher. Somente minha.

Colei nossas testas uma na outra, nossas respirações se


mesclando, e fitei aquela imensidão azul que brilhava de alegria e
algo que não soube definir. Ela tocou a minha mão.
— Machucou? — perguntou, preocupada, acariciando a

região suavemente, e a aflição dela por mim fez com que um leve

sorriso se formasse.

— Não, değerli — dei um selinho nos lábios entreabertos e

coloquei uma mecha do cabelo dela atrás da orelha — Tomarei

ações cabíveis pelo assédio que sofreu dentro da minha empresa.


— Okay, não se preocupe com isso agora. — Algo na sua

expressão me incomodou, era como se tivesse ficado subitamente

nervosa.

— Tem certeza que ele não te machucou? — rosnei, a raiva

voltando com força. — Se ele te… — me impediu de continuar,

colocando um dedo sobre meus lábios.

— Estou bem — deu um sorriso para mim, tentando


claramente me acalmar, e enlaçou meu pescoço com os dois braços

—, só não quero pensar mais nisso.

— Humm… — Minha mão deslizou pelas suas costas, até

alcançar as nádegas, trazendo-a de encontro a mim, ao mesmo

tempo que minha boca pairou sobre os seus lábios. Finalmente

identifiquei qual mudança que havia no corpo dela, a barriga antes


plana tinha uma leve ondulação, provavelmente tinha engordado

uns quilinhos.
Tanri, ela sempre seria mulher demais para mim, mesmo que

apresentasse várias das coisas que as pessoas chamam de


defeitos. O fato de ter ficado distante tanto tempo só pareceu
evidenciar ainda mais a beleza dela. E estava mais do que afoito

para apreciar toda aquela “maravilha” completamente nua, de


preferência sobre a minha mesa.

— Não estava esperando por você — umedeceu os lábios,


chamando a minha atenção para eles.

As pontas dos dedos acariciando meus ombros sobre o


paletó deixava um rastro quente mesmo com a presença do tecido.
E me perguntei se algum dia eu iria me cansar de ser tocado por

ela, um pensamento atordoante que provava ainda mais a minha


dependência, como se fosse uma droga a qual estava viciado.

— Não me pediu para planejar seu voo — sussurrou.


Percebi um brilho diferente em seus olhos, algo que não

consegui decifrar, o que me incomodou, e acabei não falando nada.


Buscando livrar-me da sensação, colei nossos lábios, descontando
em sua boca meus sentimentos confusos. Enquanto minha língua

rodopiava contra a dela, minhas mãos deslizavam possessivamente


por todo seu corpo, minha ereção roçando nos quadris deliciosos

arrancando gemidos dela. O modo como a benim değerli respondia,


agarrando-se a mim, era tudo o que precisava para começar a

despi-la, sem me importar com o fato de estarmos na recepção da


presidência. Porém, quando meus dedos começaram a subir com a

saia para cima, ela me impediu.


— Não — sussurrou com a voz entrecortada.
Empurrou-me suavemente, fazendo eu dar um passo para

trás, o que me deixou atônito. Percebi que o desejo que antes


nublava os seus olhos azuis desapareceu, e não gostei nenhum

pouco disso. Estiquei a mão, tocando uma mecha do cabelo,


sentindo a maciez entre meus dedos e voltei a me aproximar dela.
Dessa vez, ela não me rejeitou.

— Podemos ir para minha casa — inclinei-me sussurrando na


sua orelha, brincando com o lóbulo macio e o tremor que a

percorreu me fez sorrir.


Provavelmente a hesitação era por não se sentir confortável

para transarmos na minha sala, em horário de expediente, onde


podemos ser interrompidos.
— Ou para a sua casa — continuei a provocá-la,

mordiscando sua orelha. — Estou desesperado para ter você,


sevgili.
A respiração dela ficou mais acelerada, seus quadris roçaram
nos meus em uma dança instintiva, alimentando o meu desejo e a

certeza de como terminaríamos, seja em uma cama, ou contra a


primeira parede que encontrássemos.

— Masturbar-me pensando em você e no seu corpo não foi o


suficiente para mim, güzel — completei, sentindo uma onda lasciva
me percorrer ao ouvir o arfar dela. Como se fosse possível, fiquei

ainda mais excitado.


Dando um beijinho na garganta dela, movimentei o meu rosto

para fitar seus olhos e vi o desejo estampado neles, mas também


senti que ela resistia, o que me deixou confuso, estranhando sua

reação.
Um sinal de alerta soou como um sino na minha cabeça e
meus pensamentos começaram a me bombardear, buscando uma

resposta para essa reação dela, refletindo se eu fiz alguma coisa


que a desagradou. E, com isso, o ciúme começou a me corroer por

dentro quando minha única explicação plausível foi a demissão do


diretor.
Usaria todas as minhas táticas para mostrar a ela que era

minha e de mais ninguém, me apegando a necessidade que via nela


e em seu corpo.
— E eu sei que você me quer.
Dei um beijo na bochecha dela, deixando que minha

respiração tocasse sua pele, e ela gemeu. Ganhando coragem,


minha boca deslizou pelo seu rosto até encontrar os lábios

entreabertos. Tentou aprofundar o contato, mas não deixei,


provocando-a, fazendo um jogo delicioso que me fazia esquecer de
tudo.

— Não podemos, Yazuv — disse baixinho, a racionalidade

dela ganhando a queda de braço.


Um enorme vazio me encheu, obrigando-me a remover

minhas mãos dela e dar dois passos para trás. Não havia mais

ciúmes, fúria, apenas certa decepção, porque imaginei que nossa

conexão tinha se aprofundado durante o período que estive fora.


Mas nunca iria forçá-la a fazer aquilo que não queria.

— Tudo bem, değerli — falei suavemente.

Peguei a mão dela e deixei um beijo no dorso, como se


dando a ela a confirmação de que realmente estava tudo bem.

Estranhamente, o conforto dela me era mais importante do que o

meu próprio.
— Precisamos conversar primeiro… — disse com certa

hesitação ao fitar meu rosto, com a voz trêmula, ao passo que


erguia um pouco o queixo como se buscasse nisso certa confiança.

Um calafrio percorreu a base da minha coluna ao ouvir essas

três palavras que costumavam pressagiar algo ruim. Senti uma


camada de suor frio cobrir a minha pele, e meu coração começou a

bater acelerado. Nunca senti tanto medo em minha vida, na

verdade, pânico, por pensar que, mesmo me desejando, ela

colocaria um fim em tudo.


O tempo parecia suspenso enquanto nos fitávamos, cada um

preso nos seus próprios pensamentos, nossas respirações ficando

aceleradas. A senti se desvencilhando dos meus dedos e baixando


a mão, o que roubou minha atenção. Acompanhei seus movimentos,

sentindo a perda do contato, e a vi tocar o ventre, protetoramente.

Demorei a processar o significado do seu gesto, até que meu


coração pareceu que iria saltar pela boca. Uma emoção estranha,

desconhecida, percorreu o meu corpo, me deixando letárgico,

eufórico e igualmente confuso.

Quando Val percebeu o que estava fazendo, rapidamente


removeu a mão, como se tivesse feito algo de errado, e eu olhei

novamente para o seu rosto, fixando meus olhos nos dela. Encontrei
a verdade no embaraço presente em seu olhar, uma confirmação

que me jogou ainda mais para o mar de sensações e sentimentos

contraditórios.
— Você está...

Balançou a cabeça em concordância, fazendo com que

alguns cachos balançassem.

Estaquei.
Ela estava grávida. E eu era o pai.

Era arrogante demais para duvidar sequer por um momento

de que o filho não seria meu.


— De quantas semanas? — Minha voz soou trêmula, meu

corpo estremecendo.

— O exame de sangue diz que engravidei naquela noite da

festa.
— Por Allah!

Fui tomado pela alegria da descoberta e pela incredulidade

por não saber como havia acontecido, já que, depois do reencontro


dos nossos corpos, em meio ao banho, ela tinha me dito que estava

tomando pílulas. Estava processando ainda essa avalanche de

sentimentos quando notei o pânico nos olhos dela, como se tivesse


medo de mim, e a vi sair correndo, fugindo de mim. Pela terceira

vez.
Fui atrás dela, dando passos largos com minhas pernas
completamente moles, sentindo o ar queimar os meus pulmões à

medida que respirava sofregamente, buscando lidar com o turbilhão

de emoções que me revirava por dentro.

A ideia de que em menos de nove meses eu poderia segurar

meu filho no colo, ganhava ainda mais vida dentro de mim, e eu


estaquei no corredor, percebendo que meus dedos estavam

trêmulos de emoção. Quem me visse agora duvidaria e muito que

eu fosse o “Sr Severo”, estava mais para “Sr Gelatina”.

Por alguns instantes apenas deixei-me cair naquele precipício

emocional, fazendo-me sentir coisas que jamais imaginei ser

possível. Se antes eu já me considerava um homem protetor, agora

eu estava descobrindo que esse sentimento era ainda mais voraz


dentro de mim. Eu vou ser pai!

Oğlum[37].

Eu daria o mundo por essa criança que sabia da existência

há apenas alguns minutos. Começaria dando uma família. Não o

criaria fora do casamento, isso estava fora de questão para mim e

para minha honra.


Valdete estava muito errada se temia que eu fosse canalha o
suficiente para não estar presente na vida do meu bebê, era o que

podia deduzir com aquela fuga. Quero, sim, participar do seu

cotidiano, abraçá-lo todos os dias, principalmente, ensinando que,

diferentemente da cultura muçulmana na qual eu havia crescido, ela

ou ele seria livre para fazer o que quisesse, inclusive expor todos os

seus sentimentos. Eu garantiria isso.


Não iria perdoar minha karı se estivesse certo na minha

suposição, e ela ter fugido por duvidar do meu caráter.

Tal pensamento fez com que instantaneamente meu sorriso

morresse e eu fechasse a cara, forçando-me a caminhar

novamente. Tinha que concordar com a mulher, havia muitas coisas

que precisávamos conversar, e até deixar tudo muito às claras. Vi

que ela tinha ido para o banheiro de visitantes, então, munido de


determinação, fui até lá. Todos os meus pensamentos de acertar

contas foram esquecidos assim que girei a maçaneta e a vi de

joelhos em frente ao vaso sanitário. Me aproximei rapidamente dela,

segurando gentilmente as mechas que queriam cair dentro da

privada enquanto ela vomitava.

— Değerli? — sussurrei, externando minha preocupação


quando ela não reagiu a minha presença. Fiquei acariciando os fios,
sem saber o que fazer para ajudá-la. Só sabia que eu tinha que

estar ali, dando aquele mínimo de conforto a ela.


— Não precisa fazer isso. — A voz saiu fraca. Tentou me

afastar, mas permaneci perto dela.


— Eu estou bem.
Suavemente toquei seu rosto, que tinha uma expressão

abatida. Vê-la assim me incomodou mais do que imaginava.


— Por favor, me deixe sozinha, a náusea não demorará a

passar. — Fez uma pausa para puxar ar nos pulmões.


Arqueei a sobrancelha.

— É algo normal na gravidez, certo? — perguntei com a voz


suave, não me movendo nem um centímetro, querendo ter certeza.
Nunca tive contato com uma mulher grávida antes, embora

algumas primas já tivessem seus filhos, então não tinha muita


informação sobre o assunto. Nem esperava que um dia iria precisar

desse tipo de conhecimento. Se fosse honesto, nunca esteve em


meus planos ser pai. Um filho não cabia na minha ambição de

figurar na lista dos homens mais ricos do mundo. Eu e Javier


tínhamos uma pequena competição para ver quem alcançava
primeiro o primeiro bilhão, valendo uma das nossas empresas do
ramo de alimentos. Não que o perdedor iria ficar com um grande

prejuízo, mas ambos éramos competitivos.


Agora que sabia que teria um filho, estava disposto a

descobrir tudo sobre a gestação. Não negligenciaria a minha


responsabilidade e iria auxiliar a mãe do meu bebê em todo o

processo. Enquanto pensava nisso, mais a euforia pela paternidade


me dominava. Outra vez, me peguei sorrindo.
— Infelizmente eu fui premiada com enjoos. — Deu um riso

forçado, voltando o rosto para privada. Pediu outra vez em uma voz
falha: — por favor, me deixe sozinha, Yazuv. Vá para o escritório, ou

qualquer outro lugar.


Rosnei, irritado, vendo-a tentar controlar outra onda de enjoo.
Voltei a pegar seus cabelos.

— Se eu sou o pai — provoquei-a, soando arrogante —,


tenho todo o direito de estar aqui. E vou ficar.

Não respondeu, porque vomitou outra vez, e comecei


sussurrar palavras de conforto, odiando a ver passando tanto mal.

Parecendo se sentir um pouco melhor, soltei seus cabelos quando


fez menção de se levantar, apenas para agarrar o seu braço e firmá-
la.
Ela fez que não com a cabeça, desvencilhando do meu
aperto, e ela foi cambaleante em direção a pia.
Bochechou um pouco de água, e nossos olhos se

encontraram através do espelho. Em conflito comigo mesmo, não


consegui decifrar no olhar dela o que passava por sua mente.

Porém, no momento que ela voltou a tocar a barriga, meu corpo


todo reagiu a essa imagem. Se antes eu a achava uma mulher
maravilhosa, fitando-a assim, com a mão acariciando suavemente o

ventre, com os cabelos desalinhados, soube que ela era gloriosa.


Encarando minha imagem, pude ver um brilho estranho nos meus

olhos, mas voltei a minha atenção para ela.


Fiquei surpreso por me sentir tão contente por ela estar

grávida.
Definitivamente, a paternidade parecia estar subindo a minha
cabeça mais rápido do que imaginava.

Não resisti e estiquei minha mão para tocar seu ventre,


sentindo como se eu tivesse recebido um choque ao acariciá-la.

Não esperava uma reação tão poderosa somente por tocar o local
em que meu bebê crescia. Fitei minha mão deslizando pela barriga
quase lisa dela e prendi o ar, sentindo meu coração bombardear

dentro do peito.
Deixei-me ficar assim por uns instantes, porém senti certa
decepção ao perceber que seus olhos estavam fechados, como se
sentisse algum incômodo.

E como um raio, a preocupação pelo bem-estar dela me


invadiu. Mesmo um pouco contrariado, afastei a mão da barriga

dela, sabendo que o momento havia se quebrado. Teria outros, tinha


certeza.
— Se sente melhor, aşk?

Val abriu os olhos, fitando-me pelo espelho. Com hesitação

que era algo ridículo para mim, um homem sempre seguro, tirei uma
mecha do cabelo dela que colava ao rosto, e dei um beijo na

bochecha.

— Um pouco — murmurou —, mas preciso tomar o remédio

para o enjoo.
— Claro.

Ela deslizou para o lado para sair do banheiro, mas vendo-a

tão frágil, ergui-a em meus braços. Soltou um gritinho


desconcertado, enlaçando meu pescoço com força, como se eu

fosse a deixar cair. Reprimi o bufar enquanto caminhava com ela,

abrindo a porta com um chute.


— Posso andar com meus próprios pés. Estou bem.
— Confie em mim, değerli — sussurrei, ignorando a fala dela

— nunca deixaria você e meu bebê caírem.


— Eu sei disso — falou suavemente, afrouxando o aperto.

— Então me deixe cuidar de você e do nosso bebê que já

amo só por existir — pedi e ela ficou em silêncio, não me


confrontando, apenas aninhando sua cabeça contra o meu peito.

Quando senti as lágrimas dela molharem a minha camisa,

meu coração se apertou.


— Desculpe por isso.

Passei a mão pelo meu rosto limpando o choro e dei um

sorriso fraco quando ele gentilmente me sentou no sofá do


escritório.

— São os hormônios — completei com uma meia-verdade.

Dentre todas as reações que imaginei que ele pudesse ter,


nem nas minhas fantasias mais doces poderia ter imaginado que o

turco fosse carinhoso, cuidando de mim, logo depois de eu ter

confirmado a gravidez.
Quando ele segurou os meus cabelos com cuidado para não

os sujar enquanto eu colocava tudo para fora, pensei que

desmoronaria. Mas foi o olhar repleto de amor que ele tinha lançado
para a minha barriga enquanto a acariciava e depois sua fala

completamente protetora que me levou às lágrimas. De felicidade,

de amor, por saber que o meu bebê já parecia ser muito amado pelo

papai. De tristeza por mim mesma, achando que o sentimento não

estendia a mim, embora houvesse gentileza no fato dele me


carregar e se preocupar comigo.

Deus, o que eu estava esperando? Que ele me amaria só

pelo fato de descobrir que eu estava esperando um filho dele?


Deveria estar nas nuvens pelo simples fato dele amar essa criança
tanto quanto eu, disposto a tudo para protegê-lo.

— Quer que eu pegue sua bolsa? — Disse tão próximo a

mim, inclinando-se na minha direção, que eu pude sentir o hálito

dele tocando a minha pele, o leve cheiro de menta era delicioso.

E, por um momento, ressenti-me do meu estado deplorável

que me impedia de puxá-lo para um beijo. Estava mais do que louca


por um banho, mesmo que não tivesse nada respingado em mim,

contudo sabia que não poderia sair sem termos uma conversa.

Nossas vidas estavam ainda mais entrelaçadas uma na outra, de

modo irrevogável.

— Sim, está na primeira gaveta da minha mesa. Pode pegar

um copo de água também, por favor? — tinha me esquecido

momentaneamente do remédio.
Percebi que ele não gostou muito do meu tom e não contive

um sorriso ao ver a carranca dele, algo que estava morrendo de

saudades de contemplar. Sim, estava apaixonada pelos sorrisos

dele, mas também pelo modo como suas feições se fechavam

quando desgostava de algo. E a ternura que sentia por ele fez com

que eu levasse minha mão a barba bem aparada. O grunhido


baixinho que ele me brindou, bem como o olhar intenso, repleto de
desejo, fez meu corpo formigar, um calor se acumulando em meu

ventre. Não podia negar que queria muito fazer sexo com ele.
— Certo — pegou a minha mão gentilmente, pousando um

beijo nela, antes de se levantar fazendo o que pedi.


Não demorou muito, ele me entregou o que pedi e tomei o
meu remédio.

— É muito recorrente, bebek? — me perguntou suavemente,


nossos olhos se encontrando quando ele agachou.

— O quê?
— O enjoo.

Fiz que sim com a cabeça.


— Começou há duas semanas — confessei.
Vi um brilho cintilar nas duas ônix, fazendo com que uma

onda de terror se apoderasse de mim novamente. De algum modo,


ele parecia furioso, pelo menos achei que sim. Subitamente ele se

ergueu, virando as costas para mim. Meu coração se apertou pela


reação dele e um silêncio pesado caiu sobre nós. Não contive as

lágrimas.
— Há quanto tempo você descobriu a gravidez? — Sua voz
não escondeu a dor que sentia, o que foi uma grande surpresa.

— Um dia depois que você viajou. — Encolhi-me no assento.


— Por que não me contou? — Virou-se para mim e encarou a

minha barriga, que por instinto eu acariciei. — Por que escondeu


isso de mim? Seria algo que teria aliviado a dor que eu sentia.

— Achei que seria menos impessoal contar frente a frente —


me desculpei, sentindo o arrependimento me invadir —, falar por

telefone que eu estava grávida, me pareceu tão frio. E eu também


tive medo, no início, da sua reação.
Como se fosse possível, o rosto dele se tornou uma máscara

fria, me mostrando porque ele era conhecido como “Sr Severo”. Fui
uma idiota em confessar a ele o que senti.

— Medo? — disse, seu tom aumentando vários decibéis: —


Que merda de homem você pensa que sou, aşk? Pensei que você
me conhecia.

Engoli em seco.
— Que você confiasse em mim — sussurrou.

Não tive forças para responder suas acusações, por mais que
estivessem erradas. Eu confiava nele. Muito.

— Não importa.
Soltou uma risada sombria, que me fez tremer, mas que me
deu coragem para fazer o que era correto. Erguendo-me devagar,

sentindo minhas pernas mal sustentando o meu peso, me aproximei


dele, pousando minha mão sobre seus ombros. Pensei que ele iria
me rejeitar, porém não o fez.
— Desculpe, Yazuv — segurei seu rosto para que ele

sustentasse meu olhar —, eu tomei uma decisão errada, você tinha


o direito de saber assim que descobri. Não foi minha intenção

magoar você. Me desculpe… — Pisquei, e mais lágrimas


escorreram pelo meu rosto.
Ele só balançou a cabeça em concordância, e tocou a minha

barriga, a acariciando. O gesto pareceu transformar seu semblante,


tornando-o mais suave, e mais uma vez vi os olhos dele

transbordarem com amor pelo pequeno ou pequena, intensos. Meu


coração se acelerou por ver aquele sentimento lindo nele e meus

dedos buscaram os seus que se movimentavam com cuidado.


— Eu teria voltado na mesma hora — disse tão baixinho, que
imaginei que não era intenção dele que eu escutasse.

— Sua mãe precisava de você.


— Ela teria entendido que meu lugar é com o meu filho —

disse com um tom que soava como se não tivesse nenhuma dúvida.
Não foi a certeza da sua afirmação que me atingiu como um
tiro à queima roupa, mas sim o fato dele frisar as palavras lugar e

filho, meu cérebro compreendendo de vez que não havia espaço


para mim em sua vida, só para o bebê. A dor que apertou o meu
peito foi intensa demais, mesmo assim não conseguia impedi-lo de
tocar a minha barriga. Eu devia isso a ele, como um pedido de

desculpas. Ele era o pai do meu bebê.


Porém, depois de vários minutos em que um silêncio

perturbador pairava entre nós, não imaginava que o meu coração


sangraria ainda mais ao ouvir sua próxima fala, que nada tinha a ver
com o meu erro, mas parecia uma forma de punição. Foi uma

sentença que massacraria meus sonhos românticos, pois não era

um pedido, mas, sim, uma ordem, e em um tom confiante de quem


tinha tudo o que desejava, com a arrogância de quem nunca aceita

não como resposta:

— Nós vamos nos casar!


— Casar? — Disse a palavra com a voz tão esganiçada que
ela pareceu soar aos meus ouvidos como um guincho de um animal

ferido, e observei os olhos insondáveis através dos meus úmidos,

vendo a expressão desprovida de emoção. Novamente a bile subiu


pelo meu esôfago, mas dessa vez a contive, inspirando fundo.

Afastei do toque que parecia queimar a minha barriga, depois


de ficar paralisada por um tempo, dando vários passos para trás,

precisando colocar uma distância entre nós dois e sua proposta

dolorosa. Passando um braço na minha cintura, envolvi a mim


mesma em um abraço, demonstrando a vulnerabilidade que sentia.

Contudo, o homem que eu amava e me olhava como se fosse um

dos seus negócios, não concordava comigo que o afastamento


fosse uma solução, caminhando em minha direção, parando a

milímetros do meu corpo. Erguendo a mão, segurou o meu rosto

pelo queixo, inclinando a minha cabeça de modo que eu não

conseguisse desviar os olhos dos seus.

— Sim, sevgili — soou áspero e eu estremeci, não porque eu


me sentia intimidada pela presença máscula e poderosa, que

poderia fazer qualquer um curvar aos seus desejos, mas pela frieza.

Para quem havia recebido o carinho dele, aquele tratamento

gélido era doloroso.


— Você se tornará minha esposa — falou e eu fechei os
olhos ao ser rasgada ao meio pelas suas palavras.

Como eu desejei ouvir aquilo, como ansiei por cada

promessa que viria com elas, a de felicidade, companheirismo e

amor.

Mas não havia nada da alegria conjugal na frase de Yazuv,

somente a indiferença de alguém que pegava o que queria. A


arrogância de quem achava que sairia vencedor, mesmo que com

um casamento infeliz.

— Daremos uma família ao nosso bebê — completou, me

tirando do pequeno transe, e a dor se intensificou ainda mais.

Uma família. Outra fantasia que tinha secretamente ansiado e

que esse homem destruía pela frieza com que pronunciava a minha

sentença.
Não, eu não iria aceitar a condenação. Nem a dele. O amava

demais para castigá-lo a um casamento de conveniência, como

tinha sido os dos próprios pais.

Eu precisava ser forte por mim, por ele, e principalmente pelo

meu bebê.

Não sujeitaria meu pequeno a infelicidade de crescer em um


ambiente sem amor, em que com o tempo só restaria ressentimento.
Abracei-me ainda com mais força, como se protegesse meu

filho dessa proposta, e empreguei a voz mais firme que tinha, mas
não sem antes afastar-me do seu toque:

— Não!
— Não? — rosnou. — Nós vamos nos casar, karı, quer você
queira ou não — sentenciou, mas não respondi.

Passou a mão pelos cabelos em um gesto que fazia quando


buscava um pouco mais de controle, e o silêncio, quebrado apenas

pelas nossas respirações entrecortadas, caiu sobre nós. Pigarreou,


empregando um tom mais ameno, aveludado, como se mudasse de

tática:
— Não criarei meu filho fora do matrimônio como muitos
vermes fazem. — Puxou o ar com força. — Meu bebê terá o meu

sobrenome.
Balancei a cabeça em negativa. Como a minha gravidez,

algo que deveria ser comemorado com muito amor e alegria, se


transformou em uma discussão amarga?

Nunca poderia me casar com alguém que não me amasse,


vivendo um casamento vazio, infeliz.
— Não sei como funciona na Turquia, Yazuv, mas nos

Estados Unidos não precisamos nos casar para registrá-lo. Acredito


que não teremos problema em solicitar a dupla cidadania, se é isso

que o preocupa.
— Você não pode me impedir de assistir o crescimento do

meu filho — ignorou minha fala e continuou: — e o casamento é a


única forma de garantir isso.

— Nunca o impediria de conviver com o nosso bebê. —


Minha voz soou triste.
Abracei a minha barriga. Doía e muito pensar que ele

acreditava que eu seria capaz de proibi-lo de participar do dia a dia


da criança. Não era esse monstro cruel que negaria ao meu filho o

convívio com o pai por mero capricho, como forma de retaliação só


porque ele nunca poderá retribuir meus sentimentos.
Yazuv não podia imaginar o sacrifício que eu faria ao ter que

conviver ele, o homem que eu amava, pelo meu filho, assistindo-o


seguir sua vida. Deus, não queria nem pensar na tristeza que

sentiria ao vê-lo com outra pessoa no futuro.


— Quero participar do cotidiano dele, benim değerli — disse

com um tom melancólico ao se aproximar novamente de mim, suas


mãos pousando sobre os meus ombros —, quero trocar fraldas, ter
minhas quotas de noites insones, e isso não será possível se não

estivermos casados, morando na mesma casa.


Senti minha garganta se apertar e eu chorei ainda mais
quando a imagem dele sorrindo, relaxado, dando banho no nosso
bebê tornou-se real na minha mente.

— Não me negue isso, Val — pediu roucamente, acariciando-

me com uma gentileza que me quebrava. — Lütfen, aşk[38].


Não compreendi sua última frase, mas não precisava, pois já

imaginava o que poderia ser, e quis dizer sim ao ver que ele
implorava com os olhos para que eu aceitasse sua proposta, dando
uma família para o nosso filho. Contudo não poderia ceder. Por nós.

— Não, Yazuv. — Quase não me escutei.


Senti o bolo em minha garganta se tornar ainda maior por

rejeitá-lo e olhar em seus olhos, pude ver o momento em que a raiva


dele veio à tona, a expressão novamente se tornando fria e severa.

— Não estou te dando uma escolha. Está decidido. Nosso


filho terá os dois pais juntos.
— A que preço? — Minha voz saiu esganiçada e eu virei o

rosto, não conseguindo fitá-la.


— Preço? — repetiu, áspero.

Maneei minha cabeça em negativa.


— Não posso condenar você a um casamento vazio.
Pegando-me desprevenida, enlaçou minha cintura e colou
nossos corpos, esfregando a pelve na minha, e mesmo irritado,
senti o pênis dele endurecer instantaneamente ao roçar em mim. Foi

impossível conter um gemido. Era como se eu não tivesse vida


própria e minha força de vontade para resistir não existisse. O

desejo que queimava nas duas ônix roubava o meu fôlego.


— Não me parece vazio — disse arrogante, dando um sorriso
lascivo, vencedor, ao olhar para os meus seios que subiam e

desciam com minha respiração acelerada — você me deseja e a

recíproca é verdadeira. Nosso sexo é muito bom.


Soltou-me, dando passos para trás, e eu senti a perda do

calor dele instantaneamente, o desejo insatisfeito banhando as

minhas veias, e eu choraminguei.

— Muito, muito bom — senti minha boca secar quando o


turco fitou meus lábios, devorando-os com o olhar. Porém recebi sua

próxima fala como se fosse um balde de água fria pela crueldade, e

abaixei a cabeça: — E você quer muito meu pau dentro de você,


está mais que evidente. Podemos unir o útil ao agradável, não é?

Sexo. Nosso relacionamento se resumia a isso. Me afastei

ainda mais dele.


— Não, não podemos — ergui meu rosto e fitei seus olhos

gelados, com uma coragem que não sabia que havia dentro de mim
—, paixão não sustenta uma relação a longo prazo, Yazuv. — Fez

como se fosse falar, mas o interrompi com um gesto de mão. —

Você não pode me garantir isso. Não poderá me dar a certeza de


que continuará me desejando na manhã seguinte.

Sua expressão foi tomada pela incerteza, como se

ponderasse sobre minhas palavras, e senti minha determinação ruir.

Aquela discussão sobre casamento estava minando cada vez mais


minhas forças. Todo o cansaço que diziam que uma grávida poderia

sentir durante a gestação, parecia se acumular naquele momento.

— Casar comigo só porque me deseja e quer dar um lar para


nosso bebê será o maior erro que você irá cometer, Yazuv —

sussurrei —, e eu não posso permitir que você se condene como os

seus pais e avós fizeram.


— Valdete… — disse o meu nome baixinho, e eu vi a tristeza

em seus olhos quando toquei na sua ferida.

Não havia mais raiva e fúria, apenas mágoa por eu ter jogado

na cara dele aquilo que o feria. Mas precisava fazê-lo compreender


que, por mais honrada que fosse a proposta dele, que isso só nos

traria dor.
— Não podemos — repeti. — Por nós. Encontraremos uma

solução que não envolva uma união infeliz.

Mesmo destruída por dentro pelo silêncio dele ser quase que
uma confirmação de que não havia nada além de desejo e do amor

que parecia já ter pela criança, forcei-me a reunir forças para sair

daquele escritório. Pegaria minhas coisas e iria embora. Tanto eu

como ele precisávamos de tempo para pensar. Outra torrente de


lágrimas desceu quente pela minha face e eu balancei a cabeça em

negativa enquanto pegava minha bolsa. Quando fitei a caixa de

bombom vazia e a rosa, meu coração doeu ainda mais. Estava


caminhando para o elevador quando sua voz me fez parar.

— O que está fazendo, değerli? — A voz grossa ecoou por

toda a recepção. Virei-me para ele, fitando-o através dos meus

olhos nublados, vendo-o parado com os braços cruzados, a


expressão ilegível.

— Indo embora — disse.

— Não terminamos nossa conversa ainda.


Fiz que não com a cabeça, sabendo que ele estava certo,

havia muitas coisas a serem ditas, porém não quando estávamos

machucados demais para sermos racionais.

— Sei que não.


— Seria tão ruim assim ser minha esposa? — insistiu, e eu

quis desaparecer quando ele deu uns passos para frente. — Eu


prometo que o nosso casamento não será igual ao dos meus pais.

Eu jamais te machucaria. Nunca te trairia. Não faltará nada para

você e nem ao nosso bebê.


Inspirei fundo, mal sabia ele que já havia me machucado ao

propor um casamento sem amor e por continuar insistindo nisso.

— Tenho certeza de que você será tudo o que uma mulher

poderia querer de um homem, Yavuz — falei baixinho, evitando falar


no aspecto monetário — mas isso não é o suficiente para mim.

Ele respirou fundo. Era impressão minha ou tinha um leve

tremor nas mãos dele? Consciente de que a vulnerabilidade dele


poderia me fazer recuar, caminhei com passos hesitantes até a

saída.

— Por quê? — perguntou em um fio de voz e eu me virei

novamente para ele.


E a imagem dele devastado deixou-me com um gosto

amargo na boca, meu coração apertando ainda mais.

— Eu não posso me casar com o homem que eu aprendi a


amar, sabendo que ele não me ama de volta — confessei, mesmo

sabendo o quão tola estaria sendo ao abrir meu coração dessa


forma, e ele pareceu estacar ao ouvir minhas palavras, não

conseguindo disfarçar a surpresa.

Balancei a cabeça, com pena de mim mesma, e ao entrar no

elevador, nem sabia como tinha conseguido chegar lá, disse:


— Tenho meu primeiro ultrassom amanhã, está convidado

para ir comigo. Te mando o endereço da clínica — sussurrei, e

deixei as portas se fecharem, não havendo dúvidas que tinha sido a


decisão mais difícil que tinha tomado na vida.
Paralisado, fiquei observando as portas de metal se
fecharem, levando a mãe do meu bebê para longe de mim. Fiquei

sem reação para impedi-la, exigindo mais explicações.

Permaneci longos minutos ali, parado, olhando para o nada,

sentindo como se um par de garras estivessem espremendo meu

peito, causando uma dor ainda mais intensa do que aquela que me
invadiu quando descobri que ela havia escondido a gravidez de

mim, quando eu estava mal, precisando de alento. Aquela notícia

teria me dado um sopro de felicidade.

Apesar de ela ter pedido desculpas, de eu ter percebido nos

olhos azuis e na sua expressão o arrependimento, eu me apeguei

ao fato dela não ter me contado, aumentando a proporção, como se

fosse um erro gravíssimo, não um simples mal-entendido.


Mas, no fundo, tinha sido a simples palavra “medo” saindo

dos seus lábios o que mais me feriu e fez com que eu tratasse tudo

de modo frio e prático.

Ela teve medo de contar para mim. Medo da minha reação.

Medo! Aquelas quatro letras ecoavam na minha cabeça, zombando

de mim.
O sentimento de traição tinha me atingido como uma
punhalada. É isso, me senti traído na confiança que tinha

depositado nela. Tinha me aberto para aquela mulher, expondo

minha fragilidade, compartilhando com ela todo o peso que sentia,

sobre minha família, coisa que nunca havia feito antes.

E tudo se tornou mais potente quando ela recusou minha

proposta de casamento à queima roupa, não tinha conseguido


conter a raiva que cresceu em meu interior. Irritado, ferido, tinha sido

inadmissível para mim, para o meu ego, que a mãe do meu bebê

não quisesse se tornar minha esposa. Que ela não agarraria a

oportunidade de ter uma vida luxuosa e confortável que eu poderia

lhe proporcionar. Que egoísta! Ela negaria ao nosso filho o direito de

crescer em um lar repleto de amor, tendo os dois pais com ele! Não

queria agora ponderar as consequências do casamento para nós


dois, queria só focar no meu filho.

Encarei meus dedos trêmulos enquanto o ar queimava meus

pulmões a cada inalação por vários minutos até que pude ver que o

que tinha acontecido era somente minha culpa.

Tinha feito aquilo que jurei não fazer quando via minha mãe

sofrendo, eu magoei a değerli. Estava mais do que transparente no


olhar dela, nos gestos, que eu a magoara por tratar um casamento
como um mero contrato de negócios. E ela me deixou pela quarta

vez. Se essa rejeição fez meu coração bater apertado, saber que
machuquei a mulher que, por mais que eu tentasse mentir para mim

mesmo, estava aprendendo a amar, me cortava ainda mais a alma.


E eu me odiei por causar tanta dor a mãe do meu bebê, por
ter transformado aquele momento de alegria em amargor. Havia

lutado muito para não ser como meu pai e avô, me tornar um
homem diferente deles, mas em uma única tarde tinha destruído

tudo, descendo ao mesmo nível deles.


Não me perdoaria tão cedo por isso. Tinha estragado tudo

com a minha arrogância, e magoei uma das poucas pessoas que


me importava e isso fez com que a raiva retornasse com toda a sua
força, só que dessa vez a ira era dirigida a mim mesmo, à minha

estupidez.
Mas logo a dor tornou-se ainda maior no meu peito, quando a

frase dela “Eu não posso me casar com o homem que eu aprendi a
amar, sabendo que ele não me ama de volta” começou a ecoar na

minha mente, mostrando-me o quão cruel eu tinha sido não apenas


por querer condená-la a apenas uma união de conveniência regada
a sexo, por parecer brincar com seus sentimentos. Tinha ignorado,

inúmeras vezes, todas as pequenas advertências que ela tinha me


dado de que não se doava pela metade, e a prova viva disso era o

fato de que Val havia se entregado incondicionalmente ao oferecer-


me um ombro amigo e palavras de ternura em um momento difícil,

em que me sentia perdido.


Foi somente ali, quando tive a consciência que ela não teria

se entregado para mim apenas por diversão, o coração partido dela


na noite da festa era um forte indício disso, que me dei conta que
ela não entregou a mim somente seu corpo. Ela deveria ter

enxergado o homem que nem sabia que existia dentro de mim, um


que era muito mais do que apenas um ser que tinha obsessão por

riqueza e compulsão por poder. Era por isso que o sexo tinha sido
diferente com ela, me feito ansiar por muito mais, mais do que
apenas satisfação física. Ela tinha feito amor comigo várias vezes e,

sem saber, eu fiz amor com a değerli também.


Mas eu a afastei com a proposta de casamento fria. Fui

arrogante, pensando que estava fazendo a coisa certa para nós,


pensando no bem do bebê, mas talvez devesse ter falado que

precisava do seu amor, algo que até então não sabia que
necessitava.
— Aptal — gritei.
Amaldiçoei-me várias vezes, xingando-me em diversas
línguas. Saindo daquele torpor, caminhei em direção ao meu
escritório, mas parei próximo a mesa dela e toquei a caixa de

bombom e a rosa, que tinha mandado entregar a ela naquela


manhã. Como um tolo apaixonado, eu gostava de mimá-la e

imaginar os sorrisos que ela dava ao receber os pequenos


presentes.
Entrei na minha sala e fui direto para o aparador, me servindo

de uma dose de whisky que mantinha ali, mesmo que os meus


preceitos não permitissem aquele hábito. Levei o copo aos lábios.

— Bok — xinguei-me novamente. Traguei o líquido amargo


de um só gole, e me servi de mais uma dose dupla.

Girando o líquido dourado no copo, caminhei até a minha


cadeira e joguei-me nela, atormentado, bebericando o destilado
devagar. Imerso em pensamentos e na raiva de mim mesmo, peguei

meu celular e meus dedos automaticamente buscaram uma


fotografia dela na minha galeria, uma selfie que ela tinha me

enviado alguns dias atrás.


Toquei com a ponta do dedo a imagem como se assim eu
pudesse conjurá-la na minha frente e fazer tudo diferente.

— Özür dilerim, değerli[39].


Não sabia quanto tempo havia se passado. Somente quando
o toque estridente do meu celular ecoou é que saí do transe. Por um

momento meu coração se acelerou pensando que poderia ser

Valdete, porém, quando vi que era um dos acionistas de uma das


minhas empresas, apenas desliguei a ligação, pousando o aparelho

em cima da mesa, com raiva. Não estava com cabeça para lidar

com negócios agora. Outra pessoa que resolvesse.

Não aguentando mais a solidão e os pensamentos que me

atormentavam, soube que eu precisava conversar com alguém.


Não poderia telefonar para minha mãe, que já tinha sua quota

de problemas sentimentais para lidar. Me sentiria ainda pior,

fazendo-a feliz ao contar que seria vovó, apenas para depois admitir
que tinha pedido a mulher que gostava em casamento de maneira

fria, dizendo que era apenas pela minha honra, como se meu filho

fosse minha obrigação, não um serzinho pela qual já estava

apaixonado. Isso seria assumir que eu era igual ao meu pai, sem

sentimentos, só dever.
A única pessoa que poderia me abrir era meu melhor amigo,

mesmo que fosse me arrepender depois por expor a minha

fragilidade por conta de uma mulher. Peguei o meu celular e disquei


o número de Javier, incerto se ele atenderia, não tinha ideia de que
horas eram aqui, muito menos na Espanha.

— Amigo… — Ouvir a voz fria soar do outro lado da linha fez

com que uma onda de alívio me invadisse pelo homem estar

acordado.

Eu deveria estar pior do que imaginava por me sentir dessa

maneira, como se o espanhol fosse me oferecer uma solução que


eu não conseguia enxergar, o que era improvável. Mas me sentia

completamente desesperado, agarrando qualquer fio de esperança

que alguém poderia me dar.

— Te acordei? — Mexi na minha cadeira, desconfortável,

contendo a vontade de pedir desculpas e encerrar a chamada.

— Não, Yazuv...

Deu um suspiro longo em uma mistura de bufar, que me fez


franzir o cenho pois não era típico do homem emitir sons que

demonstrasse que ele era humano, contrariando a fachada de

mármore que construiu para si.

— Tenho que refazer alguns cálculos, que um dos meus

antigos funcionários de maior confiança fez errado, e finalizar a

proposta que precisava ter encaminhado horas atrás para os meus


investidores — completou com algo em espanhol, que presumi ser
um palavrão, pois sabia que, como eu, ele não gostava de

incompetência, ainda mais quando isso significasse perder a


credibilidade e uma grande soma de dinheiro.

— Terá uma madrugada longa então — comentei baixinho,


não tendo dúvidas de que a minha noite e o restante dela seria pior
do que a dele.

— Sí — disse com um suspiro —, mas não será a primeira


vez e muito menos a última que isso acontecerá. Não me ligou para

me perguntar sobre o meu bem-estar, não é mesmo, amigo? — Me


tirou do fluxo de pensamentos ao fazer a pergunta arrogante e

direta, amenizada pelo tom suave e preocupado que raramente


empregava.
Não respondi, pois um bolo tinha se formado em minha

garganta.
— Creio que também não seja para discutir negócios. —

Emitiu um som cansado outra vez. — Está tudo bem?


— Não, Javier… — Balancei a cabeça em negativa. — Nunca

estive pior.
— Sua mãe? — Falou com a voz tensa.
— Mamãe ainda se sente bastante envergonhada e triste

pelo processo de divórcio, acha que todos estão a julgando pelo


casamento fracassado, o que, infelizmente, pode ser verdade —

confessei. — Mas tenho certeza que minha anne ficará bem com o
tempo — completei — mesmo que nunca venha a aceitar que não

seja culpa dela. Ela é mais forte do que imagina.


— Gracias a Dios ela está bem — sussurrou, parecendo

momentaneamente aliviado.
Por alguma razão, ele tinha uma preocupação excessiva com
o bem-estar da anne. Talvez fosse pelo fato de não ter podido

conviver com a própria mãe, nem mesmo quando adulto, e tivesse


transferido, devido a amizade e comigo, o carinho por ela.

Não dissemos nada um ao outro, cada um preso em seus


próprios pensamentos, até que ele quebrou o silêncio novamente:
— Tem a ver com a mulher pela qual está se apaixonando?

Demorei a compreender o significado das suas palavras,


levando um soco na boca do estômago quando as assimilei.

— Como? — falei alto, não escondendo a surpresa e


incredulidade em minha fala.

Não havia como negar que todas as vezes em que


conversávamos sempre escapava pelos meus lábios algo sobre a
mulher que tanto me encantava e admirava por sua inteligência e

sagacidade. Sim, tinha falado muito sobre ela.


— Uma vez eu estive no seu lugar, compañero. Então
reconheço alguns sinais —, fez uma pequena pausa, respirando
fundo, como se estivesse desconfortável.

Foi inevitável não sentir compaixão por ele ao imaginar que,


embora tivesse tentado manter-se frio e indiferente com relação à

sua ex-noiva, escondendo de todos o que sentia, o espanhol parecia


ter nutrido um afeto genuíno por ela. Tanto que depois de tanto
tempo o assunto parecia ainda incomodá-lo.

Sob essa perspectiva, ao contrário do que eu achava, Javier


poderia compreender a dor e o vazio que eu estava sentindo melhor

do que eu, mesmo que nossos casos divergissem.


Ajeitei-me na cadeira, incomodado.

— E então? — perguntou em um tom neutro, parecendo


recompor-se rapidamente do seu estado melancólico.
— Eu vou ser pai, Javier — disse de supetão, sabendo que o

meu melhor amigo não descansaria até arrancar de mim o que me


atormentava.

Não podia imaginar que atitude eu tomaria se ele sugerisse


que Valdete fosse uma golpista. Afastei esse pensamento da minha
mente e esperei uma resposta.

— Eu vou ter um filho — repeti.


— Isso é uma coisa boa, não é? — disse após um silêncio
sepulcral. — Você está feliz por isso, não está? Você quer essa
criança? Ou vai mandar que ela o tire? — Me bombardeou com

tantas perguntas, que até fiquei tonto.


— Eu já amo meu bebê, Javier. Eu quero muito esse filho —

fui rude, batendo o punho na mesa com força, não contendo a ira
que me consumiu ao ouvir a pergunta que sugeria que eu poderia
“pedir” a Valdete para tirar a criança.

Retirar meu bebê para mim era algo inconcebível, e me

deixava furioso pensar que meu amigo achava que eu seria capaz
de fazer algo tão sujo como pressionar uma mulher a fazer um

aborto.

O pequeno som de alívio que ele emitiu em resposta fez com

que a raiva que senti diminuísse ao compreender que suas


perguntas eram movidas mais pelo sentimento de proteção ao bebê,

do que qualquer outra coisa. Instinto talvez aflorado por ele mesmo

ter sido indesejado pelos pais.


Bok.

— Minhas felicitações, amigo, realmente fico muito feliz por

você — disse em um tom estranho, que parecia contradizer suas


palavras.
Era como se ele estivesse sentindo uma pitada de…

Inveja?
As doses de whisky que eu havia tomado, ao contrário do

que eu achava, deveriam estar fazendo algum efeito no meu

discernimento.
O Javier que eu conhecia dificilmente iria querer ter uma

criança em sua vida e nem teria tempo e disposição para cuidar de

um bebê.

— Um filho é um grande presente. Pena que nem todos


entendam o quanto um niño é precioso — completou em um tom

baixo, e eu fiquei surpreso e confuso pela sua fala. Mas cortou o

momento, retomando o motivo pela qual eu tinha ligado: — O que


não entendo é porque está se sentindo péssimo, compañero. Você

será papai de um pequeño e está apaixonado pela mãe dele. O que

deu errado?
— Eu a pedi em casamento — confessei, sentindo meu peito

se apertar ao ouvir as próprias palavras —, e ela me rejeitou.

— Ah, já entendi — a voz soou tensa e abafada.

E eu soube que ele estava comparando a rejeição da ex-


noiva com a da minha değerli, como se as duas fossem a mesma

espécie de serpente ardilosa e traiçoeira.


— Elas sempre nos prendem em sua teia, brincam com a

gente, arrancam tudo de nós, apenas para nos descartar depois —

antes que pudesse defendê-la, Javier completou: — Somos


marionetes em suas mãos.

— Não, Javier — respirei fundo, balançando a cabeça em

negativa, com a raiva de mim mesmo pelo que fiz, voltando: — eu a

pedi em casamento pelos motivos errados, e ela percebeu. Pela


minha honra, pelo meu senso de que era correto, não porque eu a

queria, porque eu gosto dela. Praticamente ordenei que ela se

tornasse minha esposa, porque, para mim, não existe outra forma
de criar um bebê que não fosse dentro do casamento.

— Compreendo, amigo — disse, depois de uns instantes em

silêncio.

— Valdete me recusou porque não suporta a ideia de viver


um casamento com um homem que nunca poderia amá-la de volta,

foi isso o que ela me disse, com todas as letras. Eu feri a mulher

que me ama, a mãe do meu bebê, simplesmente por não conseguir


admitir que o que sinto por ela é muito mais do que desejo carnal.

Eu destruí tudo por medo, medo de confessar que a quero, que

estava me apaixonando. — Fiz uma pausa. — E agora ela me

deixou e só me resta o vazio, a culpa.


— E o bebê? — Não escondeu a sua tensão. — Você pode…

— A benim değerli disse que não me afastará do meu filho —


o interrompi antes que ele concluísse sua sugestão de que, assim

que meu bebê nascesse, eu pegasse a guarda dele para mim.

Sabia que tinha muito mais recursos para ter a guarda


daquela criança, mas nunca poderia tirar nosso filho dela, pois sabia

que Val já amava aquele pequeno ser que carregava em seu ventre,

e eu não seria cruel em trazer tanto sofrimento a ela. Mesmo que

isso significasse que eu iria abrir mão de acompanhar o dia a dia do


meu bebê, já que não moraríamos juntos, eu preferia me machucar

do que infringir a ela essa dor. Seria traição demais.

— Ela deixará que eu participe de tudo, mas eu quero uma


família, Javier — disse —, com ela, o nosso bebê e Aylla. Eu desejo

um lar amoroso, algo que nem sabia que um dia poderia ansiar.

— Tem certeza que tudo está perdido, companheiro? — O

tom foi suave, cheio de compaixão e ternura, e pude vislumbrar uma


outra face do meu melhor amigo que ele escondia de todos.

Mas não me ative àquele lado dele por muito tempo, pois sua

pergunta encheu-me de uma esperança que até então não me


permitia sentir, me fazendo vislumbrar eu, meu bebê e Val formando

uma família, imagem que fez meu coração bater acelerado.


— Ela deve estar magoada com você, o que é

compreensível, compañero — ele continuou, emitiu um suspiro

cansado —, no lugar dela, tenho certeza que faríamos coisa pior.

Iríamos querer vingança.


Franzi o cenho. Sabia que eu era capaz de retaliar alguém

que me machucasse e de maneira deturpada Javier também. Não

era eu que queria Valdete na minha cama como forma de punição


por quebrar o meu ego?

— Provavelmente — murmurei, guardando meus

pensamentos para mim.

— Mas isso não vem ao caso agora, não é mesmo, Yazuv?

— Yok[40].
Estalou a língua e eu não contive um bufar de impaciência. A

esperança que por um momento ele havia despertado em mim se

dissolveu gradualmente, e a risada seca e desprovida de humor


dele aumentou a minha irritação.

— Foi um erro te ligar, Javier. — Traguei o ar com força pela

boca, sentindo o desânimo substituir todos os outros sentimentos.


— Não sei onde eu estava com a cabeça…

— Amigo, nunca fui alguém para quem as pessoas ligam

buscando conselhos para a vida amorosa — a voz séria me


interpelou. — Como muitos dizem, eu sou um homem frio, incapaz

de amar e ser amado.


— Javier… — Não soube o que dizer.

— Mas se você tem certeza que ela o ama — disse,

ignorando a minha compaixão por ele —, talvez tudo o que você

precise fazer é ser sincero com ela, e consigo mesmo, revelando


que está se apaixonando pela mulher que ela é.

Não consegui dizer nada, pois senti meus lábios secarem e

meu corpo tremer quando meu cérebro absorveu a resposta que


estava na minha frente o tempo todo.

— Reconquiste-a pela razão certa, hermano. Diga a ela como

se sente e não tenha medo — fez uma pausa. — O amor é algo


valioso e raro e nem todos têm a sorte de encontrá-lo.

Sabia que o espanhol falava sobre si mesmo.

— Pode demorar um tempo para as feridas dela se fecharem

— continuou em uma voz suave, mostrando uma sabedoria


surpreendente, e que me dava coragem —, mas prove a essa

mulher que virou a sua cabeça, que te mudou tanto, que você não

quer um casamento frio e vazio, mas um de verdade. Que não a


deseja apenas porque ela será a mãe do seu filho, mas porque ela é

a mulher que você não sabia que precisava tanto.


— Eu lutarei por ela — sussurrei, sentindo uma determinação
me invadir ao passo que um sorriso surgia em meus lábios —, por

nós dois. Mesmo que eu passe a vida inteira implorando para que

ela me perdoe, eu não vou desistir.


— Não esperava outra coisa de você, amigo — e completou

em um tom de deboche: — talvez implorar de joelhos ajude em algo.

Dizem por aí que é romântico.


Não contive uma risada, estava disposto a fazer isso se fosse

preciso. Ela também riu, mas, ficando logo sério, voltou a ser o

Javier de sempre, o momento conselheiro se extinguindo:

— Se for apenas isso, tenho muitas coisas que requerem a


minha atenção e tenho certeza que de você também.

— Claro, Javier — sabia que havia tomado um tempo que ele

considerava mais do que precioso —, obrigado.


— Saiba que você está em dívida comigo e eu cobrarei —

seu tom não deixava margem a erro, ele falava sério.


— E eu pagarei, com prazer.
— Conto com isso, compañero.

Já ia desligar, quando ouvi a voz do espanhol me chamando:


— Yazuv?
— Sim?
— Parabéns pelo bebê, não há nada mais especial do que
um hijo — sussurrou com uma entonação distante, antes de
encerrar a ligação sem esperar uma resposta.

E mais uma vez tive a impressão de que havia algo estranho


em seu tom, como se nutrisse uma espécie de inveja pela minha
paternidade, o que no início da conversa me pareceu absurdo, mas

agora nem tanto. Ele escondia tantas coisas dentro de si que não
me surpreenderia que o espanhol escondesse o desejo de ter um
filho algum dia. Mas era algo que, provavelmente, nunca saberia.

Dei de ombros, sabendo que não havia nada que pudesse


fazer para ajudar meu amigo nesse sentido. Como ele mesmo disse,
quem sabe o tempo fechasse as feridas internas que existiam

dentro dele e se permitiria outra vez, realizando seus anseios, o que


parecia incluir um bebê.
Enquanto pensava, meus dedos buscaram no aplicativo de

mensagens o contato da Val, e quando encontrei, senti meu coração


bater descompassado quando vi que havia duas mensagens dela

para mim. Abri a conversa rapidamente, constatando que na


primeira havia um endereço de uma clínica médica com um horário,
mas foi a segunda que fez minha respiração acelerar:
Mesmo que não estejamos mais juntos, o amor que sinto por
você nunca deixaria que eu o impedisse de acompanhar essa
gravidez. Amanhã será um dos momentos mais importantes das

nossas vidas e creio que você não gostaria de perdê-lo. Eu não me


perdoaria, da mesma forma que não estou me perdoando por não

ter te contado antes.


Te espero amanhã, em frente a clínica. O endereço está
acima.

Hoje, tinha sido por duas vezes um grande tolo: por esconder
meus sentimentos e por não ter corrido atrás da mulher que eu

desejava assim que as portas do elevador se fecharam, levando


com ele a minha paixão e deixando em seu lugar, somente a solidão
e o arrependimento.

E eu não seria um idiota pela terceira vez.


Não deixaria para amanhã, o que eu poderia fazer e dizer
hoje.
As lágrimas derramadas faziam meus olhos arderem, meu
corpo estava tomado pelo cansaço causado pela gestação e pelas

emoções do dia, mesmo assim, eu virava de um lado para o outro

na cama, não conseguindo dormir.

Depois de ter mandado uma mensagem para minha mãe com

uma pequena mentira de que eu estava bem, avisando que


precisava descansar um pouco, evitando a ligação em que eu

provavelmente acabaria chorando muito ao ponto de preocupá-la, e

uma outra para Yazuv, que não tinha certeza se deveria ter enviado,
motivada pela vontade de mais uma vez demonstrar como eu me

sentia em relação a ele e nosso bebê, havia decidido me deitar após

um banho quente, que não conseguiu oferecer nenhum conforto.


Porém, minha mente, contrariando o meu corpo, estava

completamente alerta, repassando cada momento do dia, desde a

intervenção de Yazuv ao assédio de Mark, do turco segurando meus

cabelos enquanto eu colocava tudo para fora, o amor que vi nos

olhos dele quando tocou a minha barriga, e a nossa briga pelo


pedido de casamento dele movido somente pelo senso de honra.

Era doloroso pensar que apesar do tempo que passamos

juntos nesse último mês, compartilhando confidências, conversando,

nos amando, não tinha sido especial para o turco quanto havia sido
para mim. Provavelmente, tinha significado apenas sexo e prazer,
mas, como uma menininha romântica, que parecia gostar de

quebrar a própria cara e não tinha aprendido nenhuma das suas

lições, havia fantasiado que ele poderia vir a me amar um dia,

confundindo o carinho e atenção que ele me dispensava como

amante, com algo a mais. E eu sabia que iria pagar caro pelo meu

erro, por ter me entregado de corpo, alma e coração a ele. Não


havia dúvidas de que a convivência com ele pelo nosso filho seria o

maior sacrifício que faria pelo fruto que crescia dentro de mim.

Saber que o turco nunca iria retribuir meus sentimentos doía muito.

— Por que machuca tanto, meu bebê? — sussurrei ao sentir

novamente as lágrimas rolando pelas minhas bochechas e deixei

que caíssem, desejando que elas levassem consigo um pouco do

amor que eu nutria por Yazuv e oprimia meu peito.


— Por que a mamãe não aprende nunca?

Chorando, levei a minha mão à barriga, acariciando-a

suavemente por cima da camisola de algodão, buscando o consolo

e a força que precisava para seguir em frente no bebezinho que eu

tanto amava e já faria de tudo por ele. E sabia que necessitaria de

todo o ânimo e motivação para sobreviver ao dia de amanhã, que


seria marcado por um sentimento agridoce. Não era a minha
primeira consulta com o meu obstetra, mas o doutor Érike tinha me

dito para aguardar um pouco mais para fazer um ultrassom


transvaginal para que pudesse ver algo além do saco gestacional.

Embora com certeza seria difícil me concentrar pela presença


impactante de Yazuv, eu contava os segundos para ver a imagem
do meu bebê, mesmo que ele fosse do tamanho de uma

sementinha, e quem sabe conseguiria ouvir o coraçãozinho dele no


primeiro ultrassom. Pelas nossas contas, eu deveria estar com

quase sete semanas, mas nem sempre nesse período era possível
escutar os batimentos, mas torcia e muito para que sim. Seria um

momento mágico, e mesmo que não fôssemos um casal, eu queria


o pai do meu bebê junto comigo, que compartilhássemos aquela
alegria.

— Não tenho dúvidas que o papai também se emocionará —


comentei com a voz embargada, meu coração pulsando apertado

pela dor de não ter meu amor correspondido, enquanto deslizava


gentilmente a mão pelo abdômen.

Piscando meus olhos cansados e sonolentos, continuei a


conversar com a criança que crescia em meu ventre, sussurrando
palavras que buscavam me convencer que o amor do turco pelo

nosso filho era o suficiente, ao passo que o arrependimento de ter


rejeitado o homem que amava por uma razão tão imatura quanto o

amor, começava criar suas raízes cruéis em meu peito. Um marido


que te respeita, carinhoso, fiel e fogoso na cama não era mais do

que muitas tinham por aí? Por que não me contentava com isso?
Chiei baixinho, xingando a minha própria tolice, por não agarrar

aquilo que era dado a mim e ao meu bebê pelos meus sonhos
ingênuos, que pareciam cada vez mais distante de serem
alcançados.

Chorando convulsivamente, o sono finalmente me invadiu,


mas enviando-me para um sonho conturbado, onde Mark era o

principal vilão ao tentar atingir minha barriga, bastante volumosa,


com uma faca, para tirar a vida daquilo que eu mais amava. Quando
depois de tentar lutar várias vezes para me defender no meu

pesadelo, vi que Yazuv estava presente e virava as costas para mim


e o nosso filho, deixando-nos a mercê daquele homem que parecia

mais sádico. Quando Mark estava prestes a me esfaquear, acordei


assustada ao ouvir o meu próprio grito.

Abri os olhos, e como se tivesse uma mola no meu corpo,


sentei-me depressa. Abracei meus joelhos, protegendo minha
barriga instintivamente, e senti que uma fina camada de suor cobria

a minha pele, meu coração batia freneticamente quase saindo pela


minha boca, e meu corpo inteiro tremia de medo enquanto lutava
para manter a calma. Ainda assustada e sonolenta, dei um pulo na
cama quando ouvi um barulho alto e demorei a perceber que era

alguém batendo com força na porta, ignorando por completo a


campainha. Trêmula, pensando que poderia ser um vizinho gentil

que escutou o meu grito e veio me acudir, saí da cama, calcei meus
chinelos, e fui acendendo as luzes pelo caminho, a claridade
irritando meus olhos. Felizmente, ou infelizmente, meu apartamento

era pequeno e demorei menos de trinta segundos nos meus passos


vacilantes para alcançar a porta.

— Değerli…
Estaquei com a mão na chave ao ouvir a palavra turca tão

conhecida, dita em um tom desesperado. E meu coração não mais


batia forte por medo do pesadelo, mas sim por saber que uma fina
superfície de madeira o separava de mim. Mesmo magoada pelo

pedido frio de casamento dele, meu corpo todo reagiu a voz grave e
rouca, traindo-me. Odiei-me por sentir tanto desejo por ele.

Balancei a cabeça atônita com o rumo dos meus


pensamentos.
— Eu ouvi seu grito — nunca tinha ouvido ele falar naquele

tom, com tanta súplica que meu peito se apertou —, por favor abra a
porta para mim.
Ele não precisou dizer mais nada para que eu reagisse e
girando a chave na fechadura, segurei a maçaneta com a minha

mão suada, e abri a porta dando um pequeno passo para trás,


envolvendo a minha barriga em um gesto de proteção. Criando

coragem, fitei o homem à minha frente que parecia bem diferente


daquele que eu costumava ver no escritório, sem o terno, com a
camisa amarrotada, seus cabelos desarrumados, a pele pálida, mas

foi o medo em seu semblante que me tirou do chão.

— Yazuv — murmurei o nome dele, arrancando dos seus


lábios um suspiro e, depois de relancear meu olhar por ele, vi que

havia um buquê de rosas brancas no chão.

Desajeitadamente, inclinou-se para pegar o ramalhete e fez

uma careta quando viu que algumas rosas estavam estragadas.


Balançando a cabeça, parecendo inconformado, emitiu um som de

exasperação, que fez com que eu não conseguisse conter um

sorriso. Era apaixonada demais por ele para não reagir a sua
personalidade ranzinza.

Permaneceu em silêncio no corredor, como se esperasse um

convite, e eu jurei que mesmo que tivesse uma distância nos


separando, eu podia sentir o calor que emanava dele. Não um que
alimentava a minha libido, mas, sim, um calor que me transmitia

conforto. E não pude evitar desejar com todas as minhas forças que
ele me abraçasse apertado, afastando de vez qualquer medo que

poderia existir em mim.

— Eu… — Pareceu hesitar, sua boca abrindo e fechando,


enquanto erguia a mão para tocar meu rosto, parando no meio do

caminho, para a minha decepção.

— Ele está te incomodando, Val? — Uma voz anasalada

soou, seguida de um pigarrear, e percebi que não estávamos


sozinhos. Ficando na ponta dos pés, percebi que o meu vizinho, um

rapaz um pouco mais novo do que eu, com o corpo magro e o rosto

repleto de espinha, que vez ou outra trocava amenidades comigo no


elevador, estava lá parado com cara de poucos amigos, em uma

postura defensiva. — Posso chamar o porteiro se for necessário, ou

eu mesmo posso acompanhar esse senhor até lá embaixo.


Estufou o peito, como se o gesto o tornasse maior, mais forte.

Ouvi um rosnar baixinho de Yazuv que se virou para o

menino, o olhando de cima abaixo, contrariado. Antes que o turco

pudesse fazer ou falar qualquer coisa, dei um passo à frente e


balancei a cabeça.
— Não é necessário, obrigada, Brad. — Dei um sorriso para

ele, que retribuiu, galanteador, parecendo encarnar o papel de

cavalheiro da armadura brilhante.


— Tem certeza? Escutei seu grito e vim o mais rápido que

pude — insistiu.

Com o canto do olho vi que Yazuv fechou a mão livre com

força, seu controle parecendo estar por um fio.


— Foi só um pesadelo — justifiquei em um tom suave,

inconscientemente acariciando minha barriga protetoramente

quando um arrepio percorreu a minha coluna ao relembrar do meu


sonho ruim. Procurei me apegar a presença de Yazuv como se

fosse uma corda de segurança que me indicava que ele nunca iria

virar as costas para mim e o bebê. — Não precisa se preocupar.

Pode ir, está tudo bem.


— Ah — sua boca formou um biquinho de muxoxo,

parecendo decepcionado —, pensei que esse homem estava te

incomodando, por isso gritou. — Fez uma pausa. — Então se está


bem, boa noite.

Sem dizer mais nada, curvando os ombros como se estivesse

admitindo uma derrota, o observei caminhar desengonçadamente

em direção ao seu apartamento, dando-me conta que outros


vizinhos estavam observando da sua porta. Dei um suspiro de

resignação, parecia que eu estava fadada a sempre fazer um show


para os outros moradores quando estava com Yazuv, dessa vez no

meu prédio, antes foi Aylla me derrubando na frente das vizinhas

antipáticas dele. Mas qualquer ressentimento que eu poderia ter


disso se dissolveu quando senti o peitoral firme e quente colar-se às

minhas costas, a mão livre deslizando pela minha cintura até tocar a

minha que estava sobre o meu abdômen, enquanto a outra colocava

o buquê a minha frente, em um pedido silencioso de que eu o


pegasse. E eu o fiz, inalando o perfume das rosas.

Por um momento, não havia mais nada além de nós dois

naquele hall. Quando seus dedos tocaram com ternura minha


barriga, o gesto fez com que eu me aconchegasse mais a ele. Um

som baixinho escapou dos meus lábios, bem como uma lágrima,

constatando que eu era uma fraca que não conseguia resistir a ele,

agarrando as migalhas que me dava. Amaldiçoava meu coração


traiçoeiro que desejava mais que tudo ser correspondido.

Esse pensamento fez com que algo dentro de mim se

quebrasse, jogando-me para a realidade do nosso relacionamento,


que nunca foi um, e mesmo com o meu corpo todo protestando,

desvencilhei-me do seu toque. Nesse momento, uma série de


perguntas surgiu em minha mente. Girando-me, fitei o homem, que

ainda estava próximo demais para o meu bom senso, fitando seus

olhos negros, buscando encontrar neles as respostas para o que

queria.
Mesmo que a aparência dele pudesse não significar nada,

uma esperança sem sentido brotou em meu interior, e por mais que

tentasse, não conseguia sufocá-la. As rosas que segurava


ganharam um novo significado na minha mente, dando um sentido

romântico. Nunca houve em nenhum dos presentes deixados por

ele em cima da minha mesa algo assim.

Um calafrio percorreu a minha coluna e eu estremeci. Estava


me comportando como uma idiota outra vez.

Eu não conseguia ser menos patética? Tinha mesmo que me

humilhar na frente de Yazuv, não bastando a dor que ele havia


deixado em mim?

Senti lágrimas se formarem nos meus olhos, mas jurei a mim

mesma que não as deixaria cair, tornando-me ainda mais ridícula.

— Podemos conversar, değerli? — perguntou com a voz


trêmula.

E pude perceber na sua expressão que ele temia que eu

dissesse não. Apertei as flores mais contra mim, o perfume gostoso


adentrando as minhas narinas. Por bom-senso e autopreservação,

eu deveria dizer que não, porém era insensata demais para negar
algo a ele. Então apenas assenti, concordando.

— Vamos entrar — sussurrei, apontando para a porta com o

queixo. — Acho que nenhum de nós quer ter uma conversa no meio

de um hall com todos os vizinhos testemunhando.


Ele olhou-me por alguns segundos, compreendendo minha

pequena alfinetada, antes de fazer que sim com a cabeça e se virar,

passando pelo batente. Suspirando, forcei-me a entrar também,


trancando a porta atrás de mim, mas não sem antes perceber o

quanto a presença dele, máscula e poderosa, parecia preencher

toda a sala, tornando-a menor do que ela era, algo que sempre
acontecia quando ia ali.

Colei-me a superfície de madeira quando uma certa

insegurança me invadiu, pois nossos padrões de vidas eram

completamente opostos e não queria que o turco pensasse que o


tamanho da minha casa e a simplicidade dela, bem diferente do luxo

que ele vivia, era inadequado para criar nosso filho. Saber que tudo

que lutei para conquistar não seria, aos seus olhos, suficiente para o
meu bebê, me machucaria ainda mais.
Precisando fazer algo que diminuísse um pouco a minha
insegurança, caminhei em direção a cozinha. Buscando aparentar

uma indiferença que não sentia com a presença dele, coloquei o

buquê em cima do balcão, apenas para virar-me em direção a um


armário a fim de pegar um vaso e enchê-lo com água. Significando

algo ou não, amassadas ou não, elas eram lindas aos meus olhos e

queria preservá-las.
— Você quer tomar alguma coisa, Yazuv? — perguntei

quando o silêncio pareceu oprimir meu peito, encarando o homem

que passava a mão pelos seus cabelos negros em um gesto

nervoso.
A intensidade do seu olhar fez com que meu coração se

acelerasse, ao ponto de conseguir ouvir meus batimentos, e senti

minha pele formigar em resposta, principalmente quando ele


caminhou até onde eu estava.

— Não, obrigada. — A voz grave soou nos meus ouvidos e


estava tão perto que a respiração dele arrepiou os pelinhos da
minha nuca, enviando um pequeno choque por toda a minha

extremidade.
Meus lábios secaram e umedeci-os com a ponta da língua, e
obriguei-me a dizer qualquer coisa que disfarçasse minha tensão
pela sua proximidade:
— Como você conseguiu subir sem que o porteiro me
avisasse?

Não respondeu de imediato e pude perceber que ele havia


aproximado o nariz da curva do meu pescoço. Gentilmente colocou
meus cabelos para frente e as duas mãos grandes tocaram meus

ombros protegidos apenas pela fina alcinha da camisola,


massageando-os. Um som rouco escapou da minha garganta em
apreciação, e a pressão que ele aplicava desfazendo os nós de

tensão. O toque dele era muito bom e ele sabia disso.


— Tenho meus recursos, benim değerli, e já estive aqui antes
— sussurrou e não precisou dizer mais nada para que eu

entendesse que ele havia subornado o porteiro, fazendo-me


questionar a segurança de onde vivia. — E como eu estava muito
determinado em vê-la, dei um jeito. Não correria o risco de você não

me deixar subir.
— Por quê, Yazuv?

Retirei forças não sei de onde para me esquivar do seu


toque, que me fazia derreter, e me virei para ele. Encarei-o com
seriedade por longos segundos, sem esconder o quão ferida me
sentia, embora as palavras dele tenham me enchido de esperanças
mais uma vez.
— Por que você quer tanto me ver, quer tanto conversar

comigo ao ponto de não poder esperar até amanhã? — insisti,


adotando um modo defensivo.

Ele puxou o ar com força, voltando a passar as mãos pelos


cabelos, parecendo procurar as palavras.
— Se for para me pedir em casamento outra vez — disse em

um fio de voz, não contendo mais as minhas lágrimas ao retornar


àquele assunto doloroso—, usar o amor que sinto por você contra
mim, está perdendo seu tempo.

— Eu errei — falou baixo e o arrependimento que vi nele fez


com que uma dor pungente me atingisse.
Eu poderia ter recusado a sua proposta, porém saber que ele

lamentava tê-la feito era de uma crueldade sem tamanho. Fitei as


rosas brancas por entre meus olhos nublados, compreendendo que
elas significavam um pedido de desculpas, não um gesto de amor.

— Se é só isso que você queria falar, vá embora, por favor —


custou-me muito dizer tal sentença.

— Não, eu tenho muito mais a dizer, Valdete — o tom era


uma mistura de fúria e abatimento.
Sem forças para reagir, deixei que ele segurasse o meu
queixo e para que eu encarasse seus olhos.

— Eu errei, değerli — fez uma pausa, respirando fundo —, eu


não deveria ter pedido você em casamento…
— Deus… — o interrompi com um arfar, quando ele

confirmou minha teoria.


Porém, para minha surpresa, me silenciou ao pousar um

dedo sobre os meus lábios.


— ...pelos motivos errados, — continuou com o tom
embargado e eu apenas o fitei, não compreendendo. — Eu não

quero casar com você porque é a mãe do meu bebê, quero casar
com você porque é a mulher que eu desejo, que admiro e por quem
estou me apaixonando.

— Ya…
— Xiu. — Não deixou que eu falasse, roubando um selinho
que fez meu coração bater acelerado. — Eu tentei me enganar de

todas as formas possíveis, aşk. — Fez uma pequena pausa. —


Sabia que assim que te vi pela primeira vez, em meio aquele mar de
pessoas naquela festa, você roubou a minha concentração e fez

meu coração se acelerar?


Fiz que não com a cabeça, sentindo que agora eu chorava de

alegria, que agora preenchia cada poro do meu corpo, expulsando a


mágoa e a tristeza que sentia.
— Pois foi o que aconteceu, e como sempre acontece todas

as vezes que eu a vejo, que ouço a sua voz — pegou a minha mão
e levou ao próprio peito, fazendo-me sentir os batimentos
acelerados. — Eu tentei negar para mim mesmo, dizendo que era

apenas desejo. Poderia até ser no início, mas tudo mudou quando
fizemos amor pela primeira vez.

Fiquei em silêncio, deixando que ele continuasse, lutando


contra a vontade de abraçá-lo apertado, de beijar sua boca até
perder o fôlego.

— Quando você me deixou sozinho naquele quarto de hotel,


ansiando pelas sensações que você havia ateado em mim, achei
que a queria de novo só por vingança. E fiz de tudo para que

voltássemos a nos aproximar, forçando você a trabalhar comigo —


deu uma risada rouca, que reverberou em mim, fazendo com que eu
sorrisse para ele por saber que era verdade —, e tudo mudou. Eu

pude conhecer a mulher incrível, sexy, linda, inteligente e amiga que


você é. Mesmo assim, continuei mentindo para mim mesmo várias
vezes, dizendo que não era nada, só uma atração física forte. Tentei
sufocar a dependência que eu tinha do seu sorriso, do seu cheiro,
do seu corpo, do seu amor, por temor, acreditando que me tornaria
um fraco.

Ergueu minha mão e deu um beijo no dorso, sem deixar de


me fitar por entre as lágrimas.
— Mas descobri, amargamente, bebek, quando você me

deixou no escritório sozinho, dizendo que me amava, o quão idiota


eu fui em magoá-la, mesmo tendo jurado que nunca iria fazer isso.
E foi somente ali que eu percebi que todo o medo que sentia era

uma grande tolice, um absurdo, perante a dor e o vazio que me


invadiu quando caí em mim e vi que não teria mais os seus beijos,
seu calor, seu olhar e o seu toque. Que não teria mais ao meu lado

a mulher com quem eu estou aprendendo o que é o amor. Tudo


porque tinha receio de dizer a verdade para você e para mim

mesmo. E agora, meu maior pavor é perdê-la para sempre por conta
do que fiz.
Emocionada pelas palavras dele, pela sinceridade que via em

sua expressão abatida, sentindo uma onda avassaladora de amor


me engolfar, não disse nada, não saberia se conseguiria pronunciar
algum som, apenas enlacei o seu pescoço, deixando-me ser

envolvida pelos braços fortes, me abraçando de volta com


delicadeza, colando nossos corpos. Ficando nas pontas dos pés,
encarei-o brevemente antes de encostar minha boca na dele e o

envolver em um beijo lento, repleto de amor. Minha língua deslizava


suavemente pelos seus lábios, sentindo o sal deixado pelas
lágrimas, arrancando dele um som baixinho de prazer e de saudade.

Permanecemos nessa dança suave, até que, tomando o controle


para si, segurando os meus cabelos, aprofundou o contato, sua
língua mergulhando na minha boca, exigindo a entrega e se

entregando. Nenhum outro beijo me pareceu tão especial. Era como


se lançasse um novo marco na nossa relação, e de fato colocava.
Saber que meus sentimentos eram correspondidos deixou o contato

com um gosto inebriante e eu mergulhei na paixão que ele me


transmitia.
— Você me desculpa por ter te magoado, aşk? Por ter feito

você chorar e sofrer por minha causa? — murmurou contra a minha


boca. — Eu juro que passarei a vida inteira te mostrando o quanto

me arrependo de não ter dito com palavras o que sentia.


Antes que eu pudesse responder, ele continuou:
— Diga para mim que não é tarde demais. Que eu não te

perdi por conta de um erro estúpido que eu amargarei por muito


tempo — sua voz soou quebrada —, que meus sentimentos por
você são o suficiente para que possamos recomeçar de onde
paramos.

— Yazuv… — Emocionada, toquei o rosto dele, acariciando a


barba por fazer, fitando os olhos que amava.

Para minha surpresa, descolando nossos corpos, retirou uma


embalagem de veludo do bolso da calça, o que fez meu corpo
tremer, minhas pernas ficarem moles e meu coração acelerar.

Abrindo-a, revelou um anel de ouro branco com uma enorme safira


azul solitária.
— Você aceita ser a minha primeira namorada, benim

değerli? — Sussurrou o pedido e eu segurei-me em seus ombros,


com medo de não conseguir me manter em pé, enquanto ele erguia
minha mão direita. — Eu preciso do seu sorriso, do seu

companheirismo, da mulher que me ensinou tanta coisa e me


mudou tanto em tão pouco tempo. A única que conseguiu se infiltrar
e enraizar dentro de mim. A que me faz sorrir, transformando minha

expressão sempre severa em uma careta estranha. — Não contive


uma gargalhada em meio ao pranto ao ouvir ele falando assim de si

mesmo. — Eu preciso de você. E eu lutarei por você. Por nós. Até


que você compreenda que eu não quero um relacionamento vazio,
de conveniência. Quero que você se sinta preparada para se tornar
a minha esposa, e seremos nós, o nosso bebê e Aylla, uma família

completa. Embora eu já seja seu esposo, namorado, ou o que for,


de corpo, alma e coração.
— Sim, eu aceito — deixei um beijo na sua bochecha,

aproximando minha boca da sua orelha, percebendo os pelinhos


dele se arrepiarem —, eu quero ser a sua primeira namorada.

— Eu passarei a vida inteira se for necessário demonstrando


que sou digno do seu amor, aşk.
— Conto com isso, Yazuv — mordisquei o lóbulo dele,

provocando-o.
— Você sempre será muito mulher para mim, değerli. Nunca
duvide disso.

Tocada pela sua declaração que me fazia sentir única e


preciosa, algo que ninguém me fez experimentar antes, deixei um
beijo suave em seu rosto, fazendo-o gargalhar alto, como se

estivesse eufórico, o que arrancou de mim também uma risada.


Começou a dizer palavras em turco que não conseguia
compreender e colocou o anel no meu anelar, beijando a pedra que

cintilava. Fitando meus olhos, tocou cada um dos meus dedos com
os lábios, alcançando a palma, traçando um círculo lento,
provocante, apenas para envolver a minha cintura suavemente e
erguer-me, me rodopiando desajeitadamente no meio da cozinha,
fazendo com que eu me aferrasse a ele, segurando com força seu
pescoço, rindo. Como se lembrasse do meu enjoo mais cedo, parou

de me girar, deslizando-me pelo seu corpo, até que nossas testas


ficassem grudadas uma na outra, e sua mão tocou meu ventre,
acariciando-me ali. Seu toque era puro carinho.

— Eu cheguei a dizer que amo o nosso bebê e que estou


muito feliz com a sua gravidez? — sussurrou, emocionado.
— Não — respondi, tocando os seus ombros com as pontas

dos dedos.
— Farei de tudo para ser um bom pai e um bom namorado.

Nunca mais irei decepcioná-los.


— Eu tenho certeza que não.
Não dei chance para que respondesse, pois, inclinando o

rosto dele em direção ao meu, transmiti essa certeza com mais um


beijo, que selava promessas de uma felicidade plena.
— Que horas são? — perguntou em uma voz sonolenta, se
movimentando na cama que era bem menor que a minha, algo que

nunca imaginei que seria benéfico, rolando, até ficar de frente para

mim.

Havia pouco mais de meia hora que eu a observava

dormindo, controlando-me para não a tocar, querendo ver o seu


rosto e olhar a sua barriguinha linda, ainda pequenina, enquanto

pensava na minha sorte por ela ter me perdoado pelo meu erro, e

ter aceitado meu pedido de namoro. Mas sabia que eu precisaria de


tempo para demonstrar que meus sentimentos são fortes, que não

eram levianos, mais poderosos do que conseguiria dizer em

palavras. Para que ela acreditasse que não era apenas pelo nosso
bebê.

Eu não mentia quando disse que já me considerava

inteiramente dela, independente do rótulo que eu teria, de namorado

ou esposo. E não havia nenhuma dúvida de que eu passaria boa

parte do meu tempo junto a ela, como já fazia. Adorava a rotina de


dormir e acordar com ela na mesma cama, ouvindo o ressonar

baixinho, sentindo o cheiro dela misturado ao do nosso sexo. Isso

era o que mais senti falta quando estive longe na Turquia e que
agora podia perceber que era mais um indício de que me
comportava como um homem apaixonado.

Aptal…

— Não faço ideia, aşk — respondi com um sorriso, afastando

os pensamentos da minha mente, focando na visão que minha

preciosa era com seus cabelos desordenados, os lábios inchados

pelos meus beijos, a pele levemente avermelhada pela minha barba,


os seios nus um pouco mais cheios coroados pelos bicos eriçados

pelo frio, que me deixavam com água na boca para sorvê-los

novamente.

Nunca imaginei que a possibilidade de ver as mudanças e

transformações que ocorrerão no seu corpo em decorrência da

gravidez me fosse tão estimulante, aumentando ainda mais minha

ânsia pelo seu corpo, tanto que passei a noite e madrugada inteira a
tocando, conhecendo aquelas pequenas mudanças. E eu começaria

matando a minha vontade agora.

Grunhindo de desejo, levei as minhas mãos aos quadris dela

e puxei-a de encontro a mim, fazendo com que ela soltasse um

gritinho ao ser pressionada contra a minha ereção.

— Deve ser tarde — murmurou, olhando a luz do sol que


adentrava o quarto, indicando que havíamos dormido praticamente
boa parte da manhã.

Tentou se soltar do meu aperto para olhar as horas, dando


alguns tapinhas no meu peitoral, mas não deixei, prendendo-a ainda

mais em mim ao entrelaçar nossas pernas. Não contive um gemido


quando ela roçou sua pelve no meu pau ereto, deixando-me bem
próximo de penetrá-la; era só eu levantar a perna dela e me

encaixar… Bok, eu não iria estocar a minha mulher em seco,


gostava de tê-la bem preparada para gozarmos juntos, ou dar a ela

múltiplos orgasmos.
— Você não deveria estar trabalhando, senhor Ibrahim? —

perguntou, dando-se por derrotada quando não conseguiu se


libertar.
As unhas raspando suavemente a minha pele era delicioso e

meu corpo todo se retesava ao toque, tornando-se mais rígido. Eu


puxava ar com força para os meus pulmões, estando cada vez mais

agitado, enquanto acariciava os quadris dela, subindo com a mão,


até roçar a lateral do seio, subindo e descendo, devagar, sorrindo

quando ela se arqueou contra os meus dedos, pedindo


silenciosamente para que eu aumentasse as carícias.
— Hoje pretendo tirar o dia de folga, senhorita Johnson. —

Beijei a testa dela com carinho, deslizando minha boca pelas


pálpebras, as bochechas até alcançar o sorriso que havia em seus

lábios. — Acho que eu mereço depois do cansaço que você me deu


e ainda me dará.

Espalmei a mão no mamilo, apertando a carne macia que


enchia perfeitamente minha palma, como se tivesse sido criado para

mim, deliciando-me com o toque.


— Humm…
— Sim.

Tentei beijar os lábios macios dela enquanto, com a mão


livre, eu percorria seu corpo, tateando o abdômen, deslizando até

alcançar os pelos que cobriam seu monte, brincando com eles.


Porém, ela virou o rosto e eu bufei, descontente pela sua rejeição.
— Val?

— Tentador, Yazuv… — falou suavemente.


Tocou o meu rosto, acariciando a minha barba. Arrancou de

mim outro grunhido de exasperação quando aproveitando que meu


aperto tinha se afrouxado, ela desviou das minhas carícias. Assisti

com o canto do olho ela esticar o braço e pegar o celular, olhando


as horas, e deixando-o novamente em cima do móvel de cabeceira.
— Mas já ficamos demais na cama — suspirou baixinho,

girando na minha direção, deixando-me contemplar a bela vista que


era seu corpo —, em pouco mais de duas horas temos uma
consulta para ir.
— Temos tempo.

Sorri, maliciosamente, puxando-a de volta para mim, desta


vez, exigindo o beijo que tinha me negado. Minha boca deslizava

ferozmente pela dela, enquanto com a ponta da língua fazia seus


lábios se entreabrirem para mim. Eu fui voraz em minha exploração,
percorrendo cada canto da boca dela até encontrar a língua ávida e

habilidosa, que retribuiu meu beijo com fúria e descontrole. Porém,


quando nossos corpos começaram a responder um ao outro, ela me

empurrou suavemente e eu não a forcei, embora queimasse por


dentro com o desejo que não seria satisfeito por hora.

— Estou com fome, Yazuv — justificou-se.


Os olhos azuis brilhando com certa contrariedade alimentava
o meu ego por saber que não era o único que queria transar.

— Tudo bem, benim değerli — beijei a testa dela em um sinal


de respeito, acariciando seus ombros —, posso te levar para

almoçar fora, em um lugar próximo a clínica, para não nos


atrasarmos.
— Gosto da ideia. — Brindou-me com um selinho e me fitou

por alguns segundos, como se quisesse me perguntar algo.


— O que foi? — Coloquei uma mecha que havia caído sobre
os olhos dela atrás da orelha.
— O que significa essa expressão, Yazuv? — Questionou-

me, parecendo envergonhada. — Você sempre me chama por ela,


mas eu nunca perguntei seu significado e nem ao menos tentei

procurar na internet.
— Minha preciosa — sussurrei —, porque sempre soube que
você vale mais do que qualquer pedra e joia. Seu valor é

inestimável. E eu fui tolo o suficiente de quase perder uma das

coisas que me é mais cara.


Não me respondeu, mas vi uma lágrima escorrer pelo seu

rosto, a qual enxuguei com o polegar. E ela me puxou para um outro

beijo, dessa vez, lento, repleto de sentimentos e significados que me

fizeram vibrar. Entreguei-me sem comedimento, colocando tudo o


que sentia naquele beijo que fez com que um calor chegasse ao

meu coração.

— Sei que você não gosta muito, mas acho que temos tempo
para uma rapidinha no banho.

Piscou e eu senti minha boca secar, bem como a capacidade

de raciocinar, quando se ergueu na cama, deixando que eu a


comesse com os olhos, enquanto suas mãos deslizavam pelas suas

curvas, criando fantasias em minha mente de como tomá-la.


— Você não vem, Yazuv? — Chamou-me com os dedos,

antes de se virar, fazendo com que meu olhar fitasse as nádegas

redondas, pelas quais eu era louco.


Balançando os quadris, gargalhava em um tom sedutor,

consciente do seu poder sobre mim. Caminhou em direção ao

pequeno banheiro da suíte, me deixando completamente em transe

pelos seus movimentos.


Acordei daquele torpor e ergui-me em um salto, correndo

atrás da mulher que me provocava tanto, interceptando-a quando

entrava no box. Prensando-a contra a parede azulejada, obrigando-


a a se segurar em mim com seus braços e pernas, fiz amor com ela

ali mesmo, jurando que mais tarde ela me pagaria lenta e

deliciosamente por me apressar.


— Está nervoso? — perguntei suavemente ao sentir as mãos
dele suando frio.

Seus dedos entrelaçados aos meus estavam escorregadios e


virei-me em sua direção, desviando a atenção da tv que passava

uma notícia qualquer, observando o semblante agoniado, ao mesmo

tempo pensativo, enquanto ele acariciava a minha barriga, algo que


ele parecia apreciar fazer tanto quanto eu. Não podia negar que

meu corpo todo derretia pelo toque suave repleto de devoção e que

também criava uma conexão com o nosso bebê. Meu coração


inflava por saber que Yasuv já amava essa criança, que ele não se

ressentia pela gravidez acidental, como tive medo inicialmente de

que fizesse. Pelo contrário, o meu namorado parecia encantado


pela paternidade.

Emitiu um bufar baixinho, impaciente, desvencilhou-se de

mim e passou as mãos pelos cabelos, bagunçando-os, deixando-o

com a aparência mais selvagem, contrastando com a roupa bem

alinhada que tinha numa pequena mala que estava no seu carro,
como se previsse que passaria a noite comigo. Olhando-o, tive que

conter a vontade de gargalhar alto por ver o homem sempre

autoconfiante e arrogante estando prestes a sucumbir à ansiedade.


Apenas abri um sorriso quando ele me encarou, os olhos negros
brilhando com um amor, uma ternura que roubou o meu ar.

— Acho que nunca estive mais ansioso — suspirou —, nem

mesmo quando fechei o maior negócio da minha vida junto a Javier.

— Imagino. — Pousei a minha mão agora livre sobre a dele,

acarinhando-a. — Estou contando os segundos para o obstetra me

chamar.
— Nunca imaginei que me sentiria dessa maneira —

confessou baixinho. Tragou o ar com força, voltando a jogar os fios

para trás. — Por que esse médico demora tanto?

Não contive mais a gargalhada quando suas feições se

fecharam na carranca severa.

— Estamos bastante adiantados — disse em meio ao riso e

olhei meu relógio de pulso, constatando que ainda faltavam cerca de


cinco minutos para o horário agendado.

— Tanri — voltou a respirar fundo —, você é corajosa de

zombar de um homem na minha situação.

— Hum… — Dei de ombros.

Inclinando-me, pousei minha cabeça sobre os ombros fortes

cobertos pelo terno e ele me abraçou, não sem antes deixar um


beijo na minha testa, arrancando um suspiro longo de uma mulher

que estava na sala de espera.


— Não por isso — ouvi a voz do companheiro dela falando

baixinho e ele deixou um beijo estalado na bochecha dela, que deu


uma risadinha.
Com o canto do olho, vi Yazuv arquear a sobrancelha para o

casal, porém não disse nada, apenas puxou-me mais de encontro


ao seu corpo quente e reconfortante ao qual eu me aninhei ainda

mais, traçando círculos com a ponta do dedo pelo peitoral firme.


Permanecemos assim, até que ouvimos o barulho da porta sendo

aberta e uma mulher sair de lá com um envelope na mão. Não


demorou muito e o doutor Érike, um homem alto, loiro de olhos
castanhos, bastante atraente, mas não tanto quanto meu turco, que

emanava poder e sensualidade em cada poro, chamar a mulher que


estava na nossa frente e o casal entrar, sorrindo um para o outro.

— Que Allah me proteja — murmurou baixinho contra os


meus cabelos, inspirando fundo —, mas quem vai acabar

precisando de um médico sou eu.


— É normal a consulta atrasar um pouco, Yazuv — constatei
o óbvio, me sentando normalmente para encará-lo.
A expressão dele voltou a tornar-se uma careta de desagrado

e eu fiz esforço para não gracejar dele e sua impaciência, ainda


mais quando seus dedos voltaram a me acariciar.

— Não é algo que costuma acontecer comigo, değerli.


Arquei a sobrancelha com o tom arrogante, o que não era

uma surpresa. Era pouco provável que alguém tivesse coragem de


fazer um homem tão poderoso e rico esperar, mas hoje não era uma
reunião de negócios, nem um atendimento exclusivo. Não vou negar

que como sua secretária passei alguns pequenos maus bocados


com o turco e sua impaciência. Mas, no mundo real, no meu, era

mais do que normal ter que aguardar para ser atendido,


infelizmente. Às vezes passávamos horas para tal. Poderia mudar
de obstetra, mas senti uma enorme confiança no doutor Érike, e ele

era muito bem-recomendado. Então queria continuar fazendo o meu


pré-natal com ele e, se possível, queria que fosse ele quem fizesse

o meu parto.
Só precisava convencer o homem ao meu lado disso, o que

não seria nada fácil, pelo visto.


— Odeio falta de pontualidade, você sabe disso, aşk. Ainda
mais quando envolve o nosso bebê. Você disse que é nesse
primeiro ultrassom que se vê se está tudo bem com ele ou ela, não
é mesmo?
— Sim, meu amor, mas sinto que está tudo bem com o nosso

bebê — respondi suavemente, tocando a mão dele —, mas


infelizmente não é tudo como a gente quer.

— De fato — fez uma pausa longa e curvando-se em minha


direção, sussurrou sensualmente no meu ouvido, fazendo com que
os meus pelinhos se arrepiassem, uma tensão se acumulando em

meu baixo-ventre: — você sabe muito bem no que eu gastaria esses


minutos em que estamos esperando o maldito médico, güzel. Um

tempo muito precioso que me foi negado, e que cobrarei um preço


muito caro por isso.

— Yazuv — arfei.
Dei um tapinha no ombro dele, observando o sorriso lento em
seu rosto, lutando para não fechar as pernas com a intensidade do

desejo que me invadiu. Olhei para todos os lados, com medo de que
alguém pudesse ter ouvido aquelas palavras, mas, por sorte,

estávamos sozinhos na sala de espera e a recepcionista distante o


suficiente para não poder nos ouvir.
Poderia jurar que estava corando.
— Aqui não é lugar para isso — disse com um tom
entrecortado —, não eram vocês, turcos, que eram conservadores e
não falavam de sexo em público?

Seus ombros subiram e desceram, como se não se


importasse.

Yazuv me tornava uma grande devassa, transformando em


migalhas todo o meu pudor e reserva. Minha ânsia por ele, por tê-lo
dentro de mim, não conhecia limite? Acho que não.

— O que posso fazer se seu cheiro aguça os meus sentidos,

desperta a minha fome? — provocou-me, e eu tive que me controlar


para não saltar da cadeira, puxando-o para um lugar mais privativo.

— Desde o início você me fez quebrar todas as minhas regras,

değerli, e tenho certeza que romperei com várias outras. Então não

dou a mínima para onde estamos. Por você estou disposto a


cometer um crime de atentado ao pudor…

— Deus… — mal reconheci minha voz, ainda mais quando

ele pousou a mão sobre minha coxa, apertando-a com


possessividade.

— E isso me ajuda a distrair.

Soltou uma risada baixa, removendo a mão, e eu chiei em um


protesto pela perda do contato.
— Isso não ficará assim. — Voltei a fitar a televisão,

desviando meu olhar, não conseguindo fitar seus olhos intensos.


— Estou contando com isso — soou arrogante e antes que

eu pudesse responder seu desafio, segurou o meu queixo com

firmeza e puxou-me para o seu rosto, seus lábios colando aos meus
em um beijo a princípio suave que se tornou cada vez mais

exigente, como se ele demonstrasse sua vitória sobre mim naquela

batalha que travávamos. Sua língua provocava a minha, fazendo

com que eu tivesse o controle por poucos segundos do beijo, antes


de voltar a me dominar, roubando os meus gemidos.

Empurrei ele quando ouvi passos se aproximando e um

pigarrear. Fiquei envergonhada por ter-me deixado levar pela


provocação, então sentei-me ereta na minha cadeira, deslizando a

mão no meu vestido rodado.

— Da próxima vez — sussurrei na orelha dele depois de


vários minutos em que eu buscava controlar a minha respiração —,

procure uma distração nos seus jornais de política internacional,

senhor.

Ganhei um grunhido em resposta, o que me fez rir baixinho,


como uma adolescente apaixonada.
Ele voltou a entrelaçar nossos dedos, apertando-os

suavemente, e ficamos assim por um bom tempo, até que seu

celular começou a tocar. Franzindo levemente o cenho ao olhar o


visor, desligou o aparelho, voltando a colocá-lo no bolso da calça

social.

— Não era importante, Yazuv? — perguntei, preocupada com

sua expressão. — Não ligo se você tiver que trabalhar enquanto


espera.

— Não, değerli — falou, brincando com os meus dedos —,

não se preocupe. Hoje sou apenas seu e do nosso bebê.


— Okay.

Ficamos em um silêncio confortável, cada um preso nos seus

próprios pensamentos, na própria ansiedade para a realização do

exame, buscando no calor e no toque um no outro algum alento


para nossa espera. Demorou pouco mais de meia hora para que o

casal saísse com um enorme sorriso no rosto, comemorando a

descoberta do sexo do bebê deles, e pude sentir a tensão de Yazuv


no aperto da mão.

— Senhorita Johnson? — o médico apareceu na porta e me

chamou. Tanto eu quanto Yazuv emitimos um suspiro de alívio por

eu ser a próxima.
O nervosismo dele, de algum modo, havia aumentado o meu.

— Vamos, benim değerli? — perguntou com a voz


embargada ao se levantar, estendendo a mão para mim mesmo que

não houvesse nenhuma necessidade de me ajudar.

Entrelacei nossos dedos e pegando os meus exames na


cadeira, ergui-me. Em pé, pousou a mão no centro das minhas

costas, indicando que eu caminhasse na frente. Era um gesto

protetor que me derretia, deixando minhas pernas levemente

bambas. Entramos no consultório e sentamos na frente da mesa do


médico.

— Boa tarde — estendeu a mão para mim e eu a apertei

suavemente —, tudo bem com você, mamãe?


— Boa tarde, doutor. — Sorri para o homem loiro que me

retribuiu com um sorriso que chegou aos olhos. Não havia dúvidas

de que muitas mulheres se desmanchariam por ele. — Tive algumas

crises de enjoo e cansaço, mas fora isso, acho que estou bem.
— Bom, é natural que nos primeiros meses você seja

acometida por esses sintomas, como já conversamos — fez uma

pausa e virou-se para o turco, estendendo também a mão para ele


—, você é o que da gestante, senhor…?
— Ibrahim. Yazuv Ibrahim — a voz era agitada, não

escondendo o seu nervosismo, e apertou a mão dele com muito

mais força do que eu —, sou o namorado dela e o pai do bebê.

— Parabéns pela paternidade, papai — disse gentil.


— Obrigado.

— Fico contente que você veio a consulta hoje, Sr Ibrahim. —

Voltou a sorrir, mexendo no computador. — É muito importante a


presença paterna durante toda a gestação, mesmo que muitos

homens não o achem. No decurso desse período, uma mulher

poderá ficar mais sensível, irritada e com vários problemas de

autoestima por questões hormonais e transformações do corpo,


então apoio é fundamental.

— Tentarei fazer o meu melhor e buscarei sempre estar ao

lado da minha değerli, doutor — disse com a voz embargada,


pegando meus dedos e levando-os aos lábios. — Mesmo que não

seja comum no meu país homens acompanharem suas mulheres

nas consultas, por considerarem um ambiente predominantemente

feminino, faço questão de acompanhá-la em todas elas.


Ergui a sobrancelha pela informação, mas acabei sorrindo

por ele não seguir completamente a tradição conservadora.


— Não quero perder nenhuma. — Senti-me culpada de novo

por não ter contado a ele sobre a gravidez antes, mas evitei pensar
muito no assunto.

— É de que país? — o médico perguntou, curioso.

— Turquia — respondeu e fez uma pequena pausa,

completando em um tom sedutor que me fez ficar morta de


vergonha, até mesmo, chegando a ruborizar: — E tenho certeza que

ela ficará maravilhosa com as suas novas formas.

— Não esqueça de dizer isso sempre — piscou com um olho


para ele —, criará mais vínculos entre vocês dois.

— Não me esquecerei disso — voltou-se para mim com

aquele sorriso predatório que me fez esquentar, e tive que


pigarrear.

— Então vamos começar a consulta? — o doutor perguntou

em um tom animado, mudando de assunto. — Tenho certeza que

ambos devem estar ansiosos pelo primeiro ultrassom. Mas antes


deixe-me aferir sua pressão e quero ver o resultado dos exames

que solicitei. Você os trouxe?

— Sim, senhor. — Coloquei o envelope em cima da mesa.


Depois de aferir a minha pressão, constatando que ela estava

ótima, passou a analisar os resultados em silêncio e eu senti um


friozinho na barriga, com medo e antecipação. Yazuv apertou minha
mão com mais força, e percebi que se remexia inquieto na sua

cadeira.

— Interessante — disse doutor Érike depois de um silêncio


perturbador, em um tom neutro.

— O que, doutor? Está tudo bem com ela e o meu bebê? —

questionou Yazuv com a voz tensa, parecendo ainda mais nervoso.


— Aparentemente sim, papai. — Não olhou para o turco,

continuando a registrar as informações no computador, fazendo com

que o homem que eu amava soltasse o ar que parecia ter prendido

e eu apertei seus dedos com mais força. — Só os níveis do


hormônio HCG estão um pouco mais elevados do que eu esperava.

— Isso é preocupante, doutor Érike? — perguntei, sentindo a

aflição me invadir.
Não entendia muito dessas coisas.

— Não, fique tranquila, mãe — sorri, aliviada, tocando a


minha barriga com a mão livre —, só seria grave se a taxa estivesse
baixa, indicando uma possível gestação ectópica ou aborto

espontâneo — falou. — Mas precisamos fazer o ultrassom para


observar como está o desenvolvimento da gestação. Vamos ao
momento mais aguardado, papais?
— Claro! — Yazuv disse rapidamente em uma mistura de
euforia e nervosismo. Dei uma risada baixa quando o turco se
levantou rapidamente, como se fosse ele mesmo a fazer o exame,

quase que me puxando em direção a maca, afoito.


— Preciso colocar a camisola, meu amor — disse para ele,
me desvencilhando do seu toque, pegando uma pequena

embalagem que o doutor havia estendido para mim.


Deixando um Yazuv completamente atônito, me encarando
confuso, caminhei em direção ao banheiro para trocar de roupa.

— O exame é feito pelo canal vaginal, papai — ouvi o médico


dizer para Yasuv antes de fechar a porta atrás de mim, começando
a remover o sapato e o vestido.

Enquanto eu o fazia, um misto de expectativa e emoção já


começava a me dominar, deixando-me completamente bamba e
com o coração acelerado, ciente de que em poucos minutos eu teria

uma imagem confirmando que aquela experiência era real.


Trocando-me o mais rapidamente possível, respirando fundo,

buscando me acalmar, voltei para o consultório sendo recebida pelo


olhar intenso de Yazuv me esperando perto do batente, os olhos
eram brilhantes e pude perceber que eles estavam marejados. O

exame nem havia começado e o meu namorado parecia se


desmanchar perante suas próprias emoções, fazendo com que os
sentimentos que me percorriam se intensificassem. Novamente
entrelaçando nossos dedos, caminhamos juntos até a maca em que

seria realizado o ultrassom.


— Deite-se na maca, por favor, senhorita Johnson — pediu o

médico e fiz como solicitado, ajudada por Yazuv, que não me soltou
por nenhum momento. — É um procedimento que não irá doer.
— Okay. — Como se quisesse me passar segurança, Yazuv

gentilmente acariciou minha mão e plantou um beijo no topo da


minha cabeça.
O carinho que ele demonstrava encheu meus olhos d’água, e

como se fosse possível o amei ainda mais.


— Posso ficar, doutor? — perguntou em um tom baixo e
rouco.

— Claro, pai — colocando as luvas de látex, pegou o


transdutor do aparelho de ultrassom e o encapou com uma
camisinha, deslizando um pouco de gel pela extensão —, abra as

pernas, por favor, senhorita Johnson.


Mesmo envergonhada, algo que sempre acontecia quando eu

fazia algum exame ginecológico, separei minhas coxas, ficando na


posição. Olhei para o turco e percebi que ele não parecia
desconfortável por estar presente na realização do procedimento,
algo que tinha que confessar que esperava por ter sido criado em

um seio muito mais conservador; um pré-julgamento bobo o meu.


— Com licença, mãe — o obstetra pediu, se posicionando
para inserir o objeto no meu canal vaginal, adotando toda a ética

necessária.
Apertei os dedos de Yazuv com um pouco mais de força do

que a necessária ao sentir o transdutor me penetrando, um leve


incômodo me invadindo, tornando-se maior à medida que ele
avançava em meu interior.

Meus olhos focaram no monitor e vi a imagem do nosso bebê


preencher a tela, fazendo com que lágrimas de emoção rolassem
pelo meu rosto.

Meu bebê!
Não contive mais o pranto quando um som ecoou em todo o
consultório, o coraçãozinho daquele a quem mais amava no mundo

soando em meus ouvidos como a mais linda canção. Fechei os


olhos por alguns instantes, absorvendo aquela música, gravando-a
no meu coração.

Abrindo as pálpebras, fitei brevemente o meu namorado, o


pai do meu filho, quando senti que ele tremia. Nunca imaginei que a
reação dele seria tão intensa. Ele murmurava palavras em turco em

um tom completamente emocionado. Erguendo minha mão, sem


deixar de fitar o monitor, beijou a minha mão como se agradecesse
por dar a ele um filho. E voltei a encarar a imagem que não entendia

completamente, mas que representava a minha vida.


— Bem que o exame de HCG indicava — a voz do médico
entrelaçou-se ao batimento do meu bebê e tanto eu quanto Yazuv o

fitamos, sem compreender.


— O que, doutor? — O homem que amava perguntou

primeiro.
Prendi o ar em expectativa, me apegando ao fato dele ter dito
anteriormente de que não havia nenhum problema.

— Parabéns triplo, papais — disse em uma voz exultante.


— Triplo? — questionei, demorando a assimilar sua fala,
presa no torpor de ouvir o coraçãozinho.

— Você está esperando trigêmeos, mamãe!


— Deus — murmurei, incrédula, enquanto o médico mostrava
os três pequenos sacos gestacionais na imagem.

Quanto mais eu olhava, mais atônita eu ficava. Tanto, que


não consegui encarar Yazuv, que parecia em choque, mas não de
uma forma negativa. Senti um calafrio me percorrer e um temor me
invadir.
Eu seria mãe de três bebês de uma vez só!

Não tinha ideia de como faria para cuidar de todos eles e isso
me apavorou.
Porém, quando senti os lábios do homem que amava

pousando em minha cabeça, soube que por mais difícil que fosse,
eu teria o apoio incondicional dele, fazendo com que o medo que
sentia se dissolvesse, dando lugar uma alegria que não conhecia

limites.
O amor pelas três sementinhas que cresciam em meu interior
me preencheu de maneira instantânea.

Olhei para Yasuv e vi que sorria enormemente. Nesse


momento, virou sua atenção para mim, inclinando-se em direção ao

meu ouvido, fazendo meu coração disparar ainda mais quando


sussurrou:
— Obrigado pelos três presentes mais lindos que recebi,

amor.
Três bebês!

Meu coração ribombava com força no meu peito e eu sentia

minhas pernas completamente bambas enquanto mais uma vez era


dominado por uma sensação poderosa denominada amor. Ela se

espalhava por cada célula do meu corpo e me impedia de pensar

com racionalidade.
Apertei a mão da benim değerli com mais força ao fitar

novamente a imagem, tentando enxergar nos três pequenos

embriões as cabecinhas, mãozinhas e os pezinhos que começavam


a se desenvolver, bem como os olhinhos desproporcionais.

E quando consegui, mesmo que precariamente, levei sua

mão aos lábios enquanto me deixava levar pelo amor que sentia por
eles.

Embora meu sobrenome significasse “pai de muitos filhos”,

nunca imaginei que teria tantos bebês de uma única vez e a ideia

me fez querer rir, dominado por uma alegria sem tamanho.

Não importava nenhum pouco se eu parecia estar prestes a


cair de joelhos e comportar-me com um tolo.

Se antes eu era arrogante, agora não havia dúvida de que eu

seria ainda mais. Afinal, não eram todos os homens que

conseguiam fazer três de uma vez. E, por mais que fosse um


sentimento infantil, era impossível não me sentir exultante pelo fato.
Orgulhoso. Tanto que tinha vontade imensa de gritar ao mundo que

eu teria trigêmeos. Tinha certeza que meu melhor amigo iria cansar

de me ouvir cantando vantagem.

Estava tão imerso em meus pensamentos, naquelas

emoções intensas, que senti o meu coração gelar com a pergunta

da minha mulher, algo que não havia percebido até então e que me
fez sentir em completo pânico.

— Se são três bebês, porque escutamos o batimento de

apenas um, doutor? — Fitei Valdete, vendo o medo e a apreensão

na face antes tomada pela felicidade da descoberta, que intensificou

aquele aperto que me invadiu.

Precisei-me segurar na cadeira onde ela estava em busca de

apoio, eu estava prestes a cair.


Allah não me puniria dessa forma, tirando dois dos meus

filhos ainda no ventre da mulher que eu tanto queria bem e faria de

tudo para proteger, não é? Seria cruel demais e tal pensamento fez

com que a minha garganta se fechasse.

— Não se preocupe, mamãe — o doutor disse, dando um

sorriso que fez com que tanto eu quanto Val soltássemos o ar,
respirando novamente —, é normal que não consigamos identificar
o som do coraçãozinho dos sacos gestacionais, pois eles ainda

estão em desenvolvimento, como tinha dito anteriormente. Tenho


certeza que no máximo em quinze dias poderemos ouvir a “melodia”

completa.
— Graças a Deus — ela murmurou baixinho e eu fiz uma
prece silenciosa a Allah pedindo que continuasse a abençoar meus

bebês e que os três pudessem crescer com saúde e vir ao mundo


fortes e saudáveis.

— Cuidaremos muito bem deles e de você também para que


nada de ruim aconteça a nenhum de vocês quatro — foi gentil.

— E eu ajudarei no que for preciso — sussurrei com a voz


trêmula, jurando a mim mesmo que faria de tudo para cuidar deles e
da minha mulher.

Mesmo que isso significasse tornar-me ainda mais zeloso e


preguento, enchendo Valdete com meus mimos e cuidados. E, por

incrível que parecesse, estava ansioso por isso.


— É assim que se fala, pai. Agora vamos terminar esse

exame.
Voltou sua atenção para o monitor e eu fiz o mesmo,
observando a imagem e escutei o coraçãozinho do meu bebê

batendo, guardando novamente aquele som dentro de mim. E, por


um momento, pareceu que meu coração pulsava no mesmo ritmo

que o dele, transformando aquela experiência em algo ainda mais


especial, mais poderoso. Mas infelizmente, acabou rápido demais,

pois minutos depois o médico finalizou o exame.


— Pode se levantar, senhorita Johnson, e se trocar — disse.

Saí do meu transe momentâneo e ajudei a değerli a se


erguer, como se ela fosse um cristal raro. Fitou-me por alguns
segundos e vi a sobrancelha fina arquear-se, como se questionasse

se seria assim dali por diante. Sorri, dando de ombros, e ela soprou
uma mecha que havia caído sobre seus olhos com um bufar.

Eu não pude negar que aquela comunicação silenciosa entre


nós dois fez com que algo dentro de mim revirasse do avesso, uma
corrente elétrica percorrendo-me, tornando mais consciente dela.

Aquele mesmo turbilhão que me acometia sempre que estava com


ela, tornando-se ainda mais intenso. Somente um homem muito

idiota desprezaria aquilo que lhe tinha sido ofertado e eu me senti


um tolo por ter colocado quase tudo a perder.

Entrelaçando nossos dedos, deixei-me levar por essa


embriaguez. Caminhamos juntos até o banheiro e ao parar na porta,
sem me importar com o médico, inclinando um pouco o rosto dela,

toquei seus lábios com os meus em um beijo breve.


— Obrigado mais uma vez, aşk — murmurei contra a sua
boca, deixando um selinho antes de ela sorrir para mim, se mover e
fechar a porta.

Respirando fundo, com alguns passos, aproximei-me da


mesa onde o médico já estava e sentei-me para aguardar.

— O senhor gostaria de tirar alguma dúvida quando estamos


a sós? — perguntou, solicito e piscou para mim, camarada: —
muitos homens costumam ter dúvidas sobre sexo durante a

gestação. E você deve ter as suas, principalmente sua mulher


esperando trigêmeos.

Arqueei a sobrancelha por ele ser tão direto, embora tivesse


dado margem para o médico fazer isso ao insinuar que adoraria as

novas formas de Valdete, e remexi-me na cadeira. Apesar de


conversar sobre sexo com Javier, não era algo que costumava fazer
com outras pessoas. Porém, acabei assentindo. O desejo que sentia

por ela era violento, e eu não tinha dúvidas que a cada semana ele
só seria intensificado. A ânsia que ainda me incinerava me dava

essa certeza. Meu ego e meu instinto primitivo por saber que eu
tinha feito três bebês naquela mulher faria o restante, alimentando a
minha fome.
Mas se ficar sem sexo significasse proteger ela e meus
trigêmeos, por mais difícil que fosse, abraçaria o celibato com o
maior prazer. Era algo que antes não tinha problema nenhum,

contudo, perante aquela mulher que me despertava e era capaz de


me deixar ereto só por respirar, eu sabia que exigiria muito do meu

autocontrole, ainda mais se ela me tentasse.


E ela sabia como me provocar.
Engoli o ar com força.

Que Allah tivesse piedade de mim se esse for o caso.

— E então? — insistiu.
—Nós vamos poderemos continuar a ter relações, doutor? —

Minha voz saiu completamente estrangulada, tanto que me soou

irreconhecível.

— Sim, papai, podem, por enquanto não há nenhum


empecilho, só haverá no terceiro trimestre por conta das contrações

e por serem trigêmeos — disse com a voz séria, não parecendo

incomodado com o tema. Já deveria ter falado sobre o assunto


vezes demais para ter algum tipo de pudor. — Não queremos que

eles nasçam muitos prematuros, não é mesmo, embora por serem

trigêmeos, com certeza nasceram?


— Sim.
— Será saudável tanto para você quanto para ela. Poderá ser

ainda mais prazeroso por conta do fluxo sanguíneo acumulado na


pelve dela que tornam os músculos mais sensíveis. Sua parceira

conseguirá chegar mais rápido ao orgasmo.

— Entendo. — Não contive um sorriso ao pensar nesse


aspecto, levá-la ao ápice, tê-la mole e trêmula em meus braços iria

se tornar um dos principais hobbies e prazeres da minha vida.

Porém não contive outra pergunta, que era o que realmente me

preocupava: — Não machucarei meus bebês?


— Não, fique tranquilo quanto a esse aspecto. Eles estarão

bem protegidos.

Senti uma onda de alívio me engolfar por saber que pelo


menos por enquanto poderia dar vazão ao meu desejo, embora, no

fim da gestação ela teria que ficar de resguardo.

Um preço pequeno a se pagar pelo bem-estar não apenas


dela, mas também dos nossos filhos.

— Existem posições que vocês poderão praticar quando a

barriga dela ficar maior — prosseguiu — e você poderá continuar a

masturbar sua parceira, sem nenhum problema. Sexo oral também.


Assentindo, continuamos a conversar um pouco mais e não

demorou muito para que a benim değerli se aproximasse e se


sentasse ao meu lado.

— Tudo bem? — perguntei a ela, ao entrelaçar nossos

dedos.
— Sim — sussurrou.

O médico prosseguiu com a consulta, dando um

encaminhamento para uma nutricionista à minha mulher, passando

uma série de recomendações e alguns exames complementares,


além de solicitar uma outra consulta para daqui a quinze dias.

— Mais alguma dúvida, papais?

— Não — respondemos em uníssono e olhamos um para o


outro, sorrindo.

— Então espero vocês na próxima consulta — estendeu a

mão e eu a apertei —, parabéns pelos trigêmeos. Tenho certeza que

será uma linda gestação.


— Não tenho dúvidas — sussurrei, voltando a me emocionar

ao tocar a barriga dela, antes que eu ajudasse a levantar.

Pousando a mão nas costas dela, deixamos o consultório e


passamos na recepção, já agendando a próxima consulta. Uma

atendente emburrada, uma que tentou jogar seu charme para cima

de mim e que eu ignorei, a marcou.


Com os dedos entrelaçados, entramos no elevador para

chegar ao estacionamento subterrâneo. Destravando o alarme do


veículo, estava prestes a abrir a porta para ela, quando se virou em

minha direção, seu dedo traçando um círculo lento pela minha

camisa social:
— Acho que tenho que tomar cuidado — a voz soou séria e a

minha expressão ficou preocupada instantaneamente, o medo me

invadindo.

— Porque, aşk? — disse com um tom urgente. — Está tudo


bem? Se sente mal?

— Estou bem, Yazuv — sorriu, tocando o meu ombro.

— Então, cuidado por quê? — perguntei, sentindo a


ansiedade me corroer.

— Com a concorrência, ainda mais no meu estado — disse

zombeteira.

Bufei, exasperado, mas não levei a mal a pequena


brincadeira dela, deve ter percebido a cantada da atendente, mas

em sua expressão podia ver que ela não duvidava de mim, da

minha fidelidade. Envolvi a cintura dela, e a prendi suavemente


contra a lateral do carro, nossos corpos colados fez com que aquele
desejo insano voltasse a me dominar. Adorava tê-la assim, ainda

mais quando seus olhos azuis cintilavam, repletos de desejo.

— Está com ciúmes? — provoquei-a.

Fez que não com a cabeça e minha expressão se fechou em


uma careta.

— Você gosta de machucar meu ego, değerli — falei, fazendo

com que ela risse, deliciada. — Mas não me importa.


— Mesmo? — tentou se controlar.

— O que posso fazer se sou completamente seu e só quero

você? Que tenho somente olhos para você? — Fiz uma pausa. — E

que basta você me desejar para me tornar um maldito arrogante


outra vez? Tenho a mulher mais gostosa, sabia?

— Verdade, senhor Ibrahim?

— Sim… — sussurrei contra a orelha dela —, eu que deveria


tomar cuidado com a concorrência, ela é preciosa demais e eu um

homem ciumento demais.

Segurando-a suavemente pelo pescoço, sem me importar se

alguém pudesse nos ver, abaixei minha cabeça e capturei os seus


lábios entreabertos, abafando a risada dela. Minha boca engolindo o

suspiro que ela emitiu ao deslizar sua língua contra a minha,

tomando a dianteira, provocando, entrelaçando-nos em uma dança


lenta e sensual. Gemidos de necessidade escapando com a

cadência morosa que me despertava. Prensei-a ainda mais contra o


carro enquanto nossas bocas se moldavam e nossas mãos

passeavam pelo corpo um do outro, sedentas. Imprimindo ainda

mais intensidade à medida que aquele furacão que eu mantinha

bem controlado devastava-me.


Aquele beijo era para provar que, independentemente do que

acontecesse, meus sentimentos por ela eram incondicionais.

Quando minhas mãos começaram a erguer a saia do vestido, um


som de alarme voltou a ecoar no estacionamento, fazendo com que

ela me empurrasse, apartando aquele contato.

Bok!
Ficamos nos encarando por alguns segundos e tentei

recomeçar de onde havíamos parado, aproximando-me novamente,

porém ela acabou me repelindo.

— Vamos? — perguntou com a voz entrecortada, seus seios


subiam e desciam com rapidez.

— Claro — respondi a contragosto, dando alguns passos

para trás, percebendo que os lábios dela tinham dito uma coisa e
seu corpo dizia outra.
Eu falava sério que com ela eu cometeria um atentado ao
pudor, mas sabia que não era algo que a minha namorada

desejasse.

Abri a porta para ela, que me deu um selinho em


agradecimento antes de se sentar, sorrindo, colocando o cinto.

Fechando a porta do veículo, ajeitei a minha ereção na calça. Ela

precisava de muito pouco para me deixar duro. E enquanto enfiava


a chave na ignição, ligando o automóvel, fitei-a pelo canto de olho.

Ao perceber que ela tocava a barriga com um enorme carinho e

seus olhos estavam enlevados, o desejo insatisfeito tornou-se

puramente ternura.
Não sabia, mas acho que era um pouco daquilo que as

pessoas chamavam de amor.


Olhando-a pelo retrovisor, constatando que ela ainda tocava
a barriga, dirigi com uma única mão e pousei a livre sobre a coxa

macia. Ela nem havia percebido que em algum momento o vestido

dela tinha subido. O contato de pele contra pele pareceu tirá-la do


torpor que se encontrava envolvida. Virando seu rosto para mim,

sorriu-me e pousou a palma sobre a minha mão.

— Três — sua voz foi doce e ao mesmo tempo emocionada

—, ainda não consigo acreditar que são trigêmeos.

— Eu também nunca poderia imaginar, aşk. — Desviei meu


olhar para o trânsito quando uma buzina exigiu que eu voltasse a

minha atenção.

— Existe histórico de gêmeos na sua família? — perguntou,


sem esconder a curiosidade. — Na minha não houve nenhuma.

Tentei puxar na minha mente se alguma vez houve uma

gestação do tipo, recordando-me de algo que minha anne tinha me

contado uma vez:

— Acho que meus tetravós maternos chegaram a ter um


casal de gêmeos — fiz uma pausa, virando o volante —, mas não

três de uma vez.

Não contive uma risada eufórica ao pensar na minha grande

sorte, novamente me deixando levar por aquele sentimento infantil


de satisfação e orgulho, e o riso baixinho da mulher que eu estava
apaixonado se juntou a minha. Porém, logo se transformou em um

choro baixinho e pude perceber um certo temor. Senti um

desconforto por saber que algo a incomodava e a fazia chorar.

Parando o carro no acostamento da rodovia, removi o cinto e fiz o

mesmo com o dela, segurando o rosto molhado entre meus dedos,

fazendo com que ela me fitasse.


— Por que está chorando, benim değerli? — falei baixinho.

— Você não tem medo, Yazuv? — sussurrou e levou a mão à

barriga, acariciando-a suavemente.

— Do quê, aşk?

— Eu já amo os meus bebês, mas me apavora pensar em ter

três ao mesmo tempo. Fico me questionando se conseguirei cuidar

deles, oferecer o amor que eles precisam.


Fez uma pausa e uma nova onda de lágrimas escorreu pelo

rosto dela, a qual eu limpei com o polegar.

Entendia a insegurança que sentia, pois sabia que a

maternidade era algo muito mais pesado para a mãe, e não era

somente a gestação. Por uma fração de tempo compartilhei aquele

receio junto com ela, pois embora eu dispusesse de recursos, eu


não queria que meus filhos fossem criados por uma babá. Desejava
estar presente para vê-los crescer, educá-los e enchê-los de amor

paterno, algo que não sabia o que era.


Então foi impossível para mim não me questionar se eu daria

conta. Queria ser um bom pai para os meus três bebês, mas e se eu
não fosse?
— E se eu falhar com eles, Yazuv? — externou a minha

dúvida que se tornou a mesma que a dela. — Tenho medo de, na


minha inexperiência, me tornar uma péssima mãe.

Fitei-a por alguns segundos, engolindo em seco.


— Xiu — consolei-a.

Acariciei a face dela, mesmo que minha vontade fosse puxá-


la para o meu colo e aninhá-la em meus braços, sussurrando várias
palavras doces. E, enquanto a fitava, a minha própria incerteza

sobre a minha capacidade tornou-se uma confiança de que


conseguiremos, de um modo ou de outro.

— Não tenho dúvida de que você será a mãe mais amorosa


para os nossos bebês, você será maravilhosa.

Deixei um selinho nos lábios dela, deslizando minha boca


pelas pálpebras que se fecharam com o meu contato, ao passo que
minha mão procurava a dela, e entrelacei nossos dedos.
— Eu não tenho tanta certeza. — Fungou. — Parece tão

assustador.
— Você não estará sozinha, değerli — deixei um beijo na

ponta do nariz dela —, poderemos sempre contratar pessoas para


nos auxiliarem.

— Eu sei, querido.
— Além disso, acho que seus pais e a minha mãe irão querer
estar sempre presentes — disse suavemente —, não há dúvidas

que nos darão uma série de conselhos, embora possa haver


divergências por questões culturais.

— Verdade.
Soltou uma pequena gargalhada, me fazendo rir também.
Mas logo, tornei-me mais sério.

— Eu sou inexperiente igual a você, talvez até mais, mas


sempre irei te auxiliar em tudo o que nossos filhos precisarem — fiz

uma promessa que ia do fundo da minha alma —, dia e noite.


— Obrigada — sussurrou e levou minha mão aos lábios,

plantando um beijo nela. — Me conforta saber que você irá me


ajudar.
Dei de ombros, não iria retrucar que era mais do que a minha

obrigação.
— Se for necessário, podemos frequentar aqueles cursos
para pais de primeira viagem para que ganhemos mais confiança —
mudei de assunto.

Os olhos azuis dela cintilaram com a surpresa, seus lábios


desenhando um sorriso que era capaz de roubar o meu ar.

— Você realmente faria isso por mim? — perguntou com a


voz rouca, e começou a brincar com os pelos da minha barba. —
Não consigo imaginar você frequentando esse tipo de aula.

— Por nós dois, aşk, e pelos nossos trigêmeos — sorri para


ela —, para ser o melhor pai possível para eles.

— Obrigada, Yazuv. — Sua boca encontrou a minha em um


beijo breve, sua língua travessa provocando a minha, deixando-me

alucinado por aprofundá-lo, por tê-la. Por fazer amor com ela outra
vez.
Mas não ali.

— Acha mesmo que eu sentiria vergonha de fazer esse curso


com você? — perguntei ao segurar sua face com as duas mãos,

ofegante.
— Bom… — Pareceu sem graça, e eu arqueei a sobrancelha
para ela. — Só é difícil imaginar um CEO como você participando de

aulas para aprender a como cuidar de um bebê. — Fez uma pausa,


sua voz saindo trêmula: — Você é arrogante demais para fazer esse
tipo de coisa.
Bufei, exasperado, minha expressão se tornando uma

carranca enquanto ela caía na risada mais uma vez. Porém,


observar que a tensão havia desaparecido da sua expressão e que

ela não parecia mais tão presa ao medo, fez com que eu sorrisse
também.
— Estou disposto a aprender tudo o que for possível — dei

um selinho nos lábios dela, fitando-a com intensidade —, não quero

que chegue a hora e eu acabe com medo de segurar os meus


bebês nos braços, e nem saiba trocar uma fralda.

— Fico feliz em ouvir isso, Yazuv — acariciou os cabelos da

minha nuca —, mas…

Fiz que não com a cabeça, prevendo aonde ela queria chegar
com aquele mas.

— Faremos o melhor que conseguirmos para sermos bons

pais para os três, değerli — sussurrei com a voz embargada,


levando a mão dela aos meus lábios —, não será fácil,

provavelmente será bem difícil, mas cuidaremos deles juntos. Para

sempre.
— Yazuv — murmurou o meu nome, novas lágrimas se

formando nos olhos azuis, e puxou-me para outro beijo.


Seus lábios eram cálidos e convidativos, movimentando-se

suavemente contra os meus, sua língua traçando minha boca,

pedindo passagem em meio a um gemido. Nunca um beijo pareceu


tão doce, tão perfeito.

— É impossível não me apaixonar ainda mais por você,

sabia? — deixou uma série de selinhos em meus lábios.

— Vamos ver se daqui a algum tempo repetirá isso — fiz um


pequeno suspense: — você ficará doida para se livrar dos meus

cuidados excessivos e exageros.

Foi a vez dela arquear a sobrancelha perfeitamente


delineada, seu rosto se transformando em uma careta.

— Se acontecer, vou para a casa dos meus pais — ficou

calada por alguns segundos — Sozinha! —, brincou comigo, dando


uns tapinhas no meu rosto e eu rosnei, principalmente quando ela

se ajeitou no assento, recolocando o cinto.

— Só se for por cima do meu cadáver — ameacei com a voz

suave e ela gargalhou.


— Isso que veremos, papai possessivo — colocou a mão na

barriga e voltou a acariciá-la —, estou doida para chegar em casa e


ligar para minha mãe, contando as novidades. Fora que o sono está

começando a pesar sob minhas pálpebras.

— Tudo bem, aşk — inclinei-me sobre ela, dando mais um


beijo —, todos os seus desejos de grávida serão atendidos.

— Todos, é? — perguntou em um tom sonolento, enquanto

eu me acomodava no meu banco, voltando a colocar o cinto.

— Cada um deles.
— Gosto disso — emitiu um bocejo.

— E eu vou adorar mimá-la.

Não respondeu enquanto eu dava partida e voltava a dirigir,


indo em direção a minha casa, já que ela não tinha especificado

para qual lugar deveríamos ir e parecia completamente alheia à rota

que eu tomava. Não podia negar que queria que meu apartamento

no prédio histórico se tornasse nossa casa.


Nosso lar. Para mim. Para ela. Para Aylla. Para os nossos

trigêmeos.
Com uma ternura que fazia com que o meu coração batesse
acelerado, abri a porta tentando fazer o mínimo barulho possível,

receando acordá-la. Removendo o cinto de segurança, peguei a

bolsa dela, colocando-a sob os meus ombros. Com extremo


cuidado, deslizei a mão por entre o corpo dela e o banco e com o

braço livre envolvi suas pernas, erguendo-a em meu colo. Não me

preocupei em trancar o veículo, pagava muito bem o condomínio


para que não fosse roubado. Viria trancá-lo depois.

— Amor? — disse com os olhos fechados, sonolenta, quando


comecei a caminhar com ela.

— Durma, aşk. Eu cuido de você. — Pousei meus lábios sob

a testa dela.
— Okay. — Aninhou-se contra mim, seus braços circundando

o meu pescoço em um gesto instintivo, suspirando baixinho.

O simples fato de poder segurá-la no colo era algo que eu

apreciava e muito. Eu poderia ficar assim com ela para sempre. Ela

parecia tão pequena contra mim, frágil, fazendo com que o meu lado
protetor entrasse em atividade em toda a sua força.

Eu a protegeria com a minha vida se fosse necessário.

Ignorando aquele sentimento extremo e pedindo proteção a

Allah, fiz um malabarismo para chamar o elevador e apertar o


número do andar, embora a mulher em meus braços estivesse
semiacordada. Deixei o elevador, ajustando a minha mulher melhor

no meu colo, e não prestei atenção nos grandes arcos góticos que

decoravam o recinto. Depois de inserir minha digital para abrir a

porta, empurrei-a suavemente e quando estava na sala, tive que me

equilibrar para não deixar Valdete cair quando Aylla veio nos

recepcionar, trotando, suas unhas fazendo barulho contra o piso,


balançando a cauda.

— Não, Aylla — murmurei quando a cadela começou a

choramingar, trançando entre minhas pernas, desequilibrando-me.

— Acho que é melhor me colocar no chão, Yazuv — sua voz

rouca ecoou no meu ouvido e vi ela piscar algumas vezes,

buscando afastar o sono —, alguém deve estar com “saudades” do

papai.
Resignado, emitindo um bufar por não poder colocá-la na

cama, suavemente deslizei seu corpo contra o meu, ajudando-a a

ficar de pé. Porém, diferentemente do que pensávamos, minha

princesinha traidora começou a se enroscar na mulher, dando

cabeçadas nela, exigindo atenção. Fiz uma careta, cruzando meus

braços como se estivesse bravo por ter sido trocado, deixando de


me dar atenção mesmo depois de tantos dias fora, porém a cadela

nem se atentou a minha pequena cena.


Rindo baixinho da minha cara, minha mulher deixou que a

cachorra lambesse seus dedos e acariciou o topo da cabeça dela


com os movimentos ainda entorpecidos pelo sono. E eu apenas
assisti as minhas duas meninas interagindo uma com a outra, minha

expressão se suavizando em meio a um sorriso.


— Também senti falta de você, doçura.

Era impossível manter-me emburrado ao contemplá-las.


Saber que Valdete gostava dela e que o sentimento era

recíproco fazia meu coração saltitar. Aquela mulher me era um


grande presente dado por Allah, por mais que eu não merecesse.
Não imaginava que o fato de uma mulher gostar de cachorro

poderia vir a me atrair e muito.


Sentou no tapete do hall de entrada, para felicidade de Aylla,

que começou a cheirar sua barriga e lamber.


— Você consegue senti-los, não é? — disse com uma voz

embargada, limpando uma lágrima que escorreu pelo seu rosto.


A cadela latiu como se a respondesse, balançando o rabo
com maior vigor, e continuou lambendo o ventre dela.
— Terá três irmãozinhos, Aylla. — Beijou o focinho da cadela,

acariciando o pescoço dela, que retribuiu o carinho. — Você gosta


dessa notícia, menina?

Latiu ainda mais alto, várias vezes, parecendo mais do que


feliz com o fato.

Sorri, sentindo a emoção me tomar ao ver aquela cena, a fala


da mulher que estava apaixonado confirmando aquilo que eu
desejei assim que descobri que seria pai: nós seis formaríamos uma

família. Dominado por aquele sentimento, juntei-me a elas naquela


pequena comemoração, finalmente minha cadela dando-me um

pouco de atenção, mas que não durou muito tempo.


— Chega, doçura — deu uma risada baixinha, usando as
duas mãos para afastar a cachorra —, eu preciso descansar.

Como se para provar isso, deu outro bocejo. Entendendo o


pedido da nova dona, sentou em suas quatro patas, e ficou

aguardando. Ajudei Valdete a ficar de pé, apenas para voltar a


pegá-la no colo, fazendo com que ela soltasse um gritinho abafado.

— Yazuv! Eu posso andar sozinha. — Voltou a envolver o


meu pescoço e, contradizendo sua fala, pousou seu rosto contra o
meu peitoral.
— Irei cuidar de você hoje, değerli — dei um sorriso enquanto
caminhava em direção ao quarto e com o canto do olho, percebi que
Aylla me acompanhava —, ou melhor, todos os dias da sua vida.

— Hm… — deslizou um dedo pelo meu braço e murmurou:


— acho que você ficará terrível de tão controlador.

— Eu não tenho nenhuma dúvida disso. — Gargalhei.


Não disse nada e em algumas passadas, alcancei a nossa
suíte, pousando-a na beirada da cama. Seus olhos piscavam e ela

bocejava suavemente, porém sorriu quando Aylla parou próxima e


abaixou para acarinhá-la.

A euforia da descoberta se dissolveu em meio ao cansaço,


tanto que nem iria ligar para os pais para dar a notícia sobre nossos

trigêmeos. Mesmo que sexo estivesse liberado, sabia que teria que
conter um pouco meu desejo por ela, por mais que o médico tenha
dito que era saudável.

Não iria arriscar.


Teríamos muito tempo para nos deixar levar pela fome

desmedida que sentíamos.


— Você quer tomar um banho, bebek? — Comecei a remover
a sapatilha dela.

Fez que não com a cabeça.


— Mais tarde eu tomo.
— Okay.
Aylla latiu para ela e eu balancei a cabeça em negativa.

— O vestido está te incomodando? Posso removê-lo se


quiser — mesmo que eu tivesse tentado, foi impossível conter o tom

malicioso e ofegante impregnado em mim só em pensar em despi-


la.
Eu não tinha forças para lutar contra o desejo que me

acometia sempre que eu pensava nela nua, por mais que dessa vez

seria para algo completamente inocente.


Contenha-se, homem.

— Não, estou acostumada a dormir com roupas mais

pesadas.

Com um movimento, deitou-se na cama, seus cabelos


esparramando pela colcha como uma cascata negra, o vestido

subindo até as suas coxas, deixando a mostra parte da pele

deliciosa. Deitada ali com os lábios entreabertos, com a mão sobre


a barriga, ela era uma visão incrivelmente doce e sensual. Quando

estava prestes a me ajoelhar no colchão e ficar próximo a ela, Aylla

foi mais rápido do que eu, pulando em cima da cama e


aproximando-se da sua nova dona com curiosidade, soltando
pequenos sons, choramingando pela mamãe. No momento em que

Val a acariciou, a cadela deitou ao lado dela, seu focinho parando


próximo a barriga. Dando-me por vencido, não querendo me

intrometer naquela união feminina que parecia crescer a cada dia,

depois de ligar o ar-condicionado, comecei a retirar as abotoaduras,


colocando as peças de ouro em cima da mesinha. Olhando a

suavidade da cena que fazia com que uma outra onda de ternura

me engolfasse, desfiz o nó da gravata com um puxão, e removi o

blazer do terno, pendurando-o numa poltrona. Ficando bem mais à


vontade, arregaçando as mangas da minha camisa, sentei-me e

fiquei observando minhas duas meninas deitadas na cama.

Velando-as, não demorou muito para que visse as duas


dormirem profundamente. Não sei quanto tempo fiquei as

observando, gravando aquela cena doce na minha memória,

sorrindo para mim mesmo em contentamento, até que me recordei


da ligação que havia recebido mais cedo enquanto esperava o

ultrassom e que provavelmente significava problemas. Sabendo que

não mais poderia adiar os meus negócios, mesmo dizendo que eu

estava de folga, levantei-me e nas pontas dos pés e caminhei em


direção ao meu escritório. Mas não sem antes escorar no batente da

porta e lançar a elas um último olhar apaixonado.


— Amigo — ouvi a voz fria de Javier soar do outro lado da
linha —, temo que agora é um pouco tarde para me ligar, não?

— Não pude atender sua ligação antes, Javier, mas não faz
nem três horas que me ligou— não iria me desculpar mais do que

isso —, o que aconteceu?


— Recebi um relatório informando que uma das empresas

siderúrgicas que investimos no Brasil estava prestes a tomar uma

decisão que a desvalorizará na bolsa, mesmo o mercado estando


em alta — foi ácido e eu tive certeza de que ele estava bastante

irritado, sentimento que deve ter sido amplificado pelas noites mal
dormidas —, com certeza, perderíamos muito mais dinheiro se eu

não entrasse com a venda das ações por um valor bem abaixo

daquele que adquirimos vários meses atrás.


Digeri a notícia lentamente e em silêncio. Não me importava

por ele não ter esperado minha opinião ou ter agido em meu lugar,
confiava na astúcia dele e na experiência para tomar uma atitude o

mais rápido possível. Afinal, ele estava à frente de uma das maiores

financeiras da Espanha. E em poucas horas, o mercado financeiro


poderia ter vários giros e sabia que poderíamos ter um prejuízo

ainda maior, ainda mais quando os boatos se espalhassem.

Como o espanhol, eu não gostava de perder dinheiro, porém,


diante da felicidade ao descobrir que eu teria três bebês, o mal

investimento que fizemos não me deixava de péssimo humor. Na

verdade, meu lado coerente sabia que era inevitável lidar com as
perdas e com os ganhos, embora nunca fosse fácil. Se fosse outro

dia, provavelmente, eu não iria tomá-lo como algo leviano e estaria


espumando de raiva. Mas, sentindo meu coração bater de alegria

pelos meus filhos, disse para mim mesmo que não havia dúvidas de

que contornaríamos a situação e aplicaríamos em algo mais

lucrativo. Isso não era o fim do mundo. Afinal, aquele pequeno

investimento não era nada se comparado aos milhões que eu tinha

em outras ações, empresas e bens materiais.


Além disso, eu tinha algo muito mais precioso e que nem

todo o meu dinheiro poderia comprar: uma família. Nada além da


Val e meus bebês me importava nesse momento.
Nas últimas quarenta e oito horas, o fascínio exercido pelo

mundo dos negócios pareceram perder momentaneamente o seu

poder, embora soubesse que não me tornaria relapso nem

negligente, apesar de viesse a fazer concessões do meu tempo.

Estava saboreando e muito a paternidade e o fato de ser

amado por aquela mulher maravilhosa, sexy e generosa. Só queria


desfrutar ainda mais daquele momento glorioso.

— Sua parte da venda será compensada em alguns dias —

continuou, impaciente, quando não disse nada, tirando-me do transe

de pensamentos que me levaram a imaginar como tudo seria

quando meus bebês nascem, compartilhando um lar com a minha

mulher. Sim, pela primeira vez, eu parecia sonhar acordado com o

futuro. — Enviarei uma planilha detalhando nossos prejuízos mais


tarde.

— Agiu bem, Javier — fiz uma pausa e fingi o mínimo de

interesse no assunto: — qual o motivo da desvalorização?

— Demissão massiva de funcionários sem aviso prévio —

murmurou com uma voz aveludadamente perigosa e fez um som de

desgosto.
— Um convite para ações trabalhistas — recordei algo que

havia lido sobre a legislação brasileira.


— Sí, mierda — respirou fundo como se buscasse seu

autocontrole que deveria estar por um fio —, e com certeza esconde


problemas ainda maiores.
— Não tenho dúvidas disso — fui displicente.

Como se impelido pela própria frustração e cansaço, o


espanhol começou a discorrer sobre outros aspectos que

justificaram sua decisão, algo sobre números discrepantes


apresentados neste último relatório. Falou também sobre uma outra

oportunidade que havia surgido que resultaria bastante lucrativa a


longo prazo e que multiplicaria o valor investido nesse último
empreendimento desastroso, porém eu não conseguia focar

totalmente em suas palavras e prestar atenção nos valores que por


alto ele citava.

— Sinto que estoy falando sozinho, amigo — sua voz soou


especulativa, embora fosse bastante fria —, claramente você não

está prestando atenção naquilo que estou dizendo.


— Desculpe-me, prossiga — forcei-me a dizer, acho que
seria uma das poucas vezes que ele me escutaria dizendo essa

palavra.
— Acho melhor não, compañero — fez uma pausa longa,

parecendo ponderar a respeito do meu estado distraído —, e então?


— O quê? — Arqueei a sobrancelha.

— Foi atrás dela ontem mesmo, não foi? E do seu bebê. —


Não havia julgamento em sua fala, pelo contrário, para quem tinha

um pensamento muito negativo em relação às mulheres, seu tom


pareceu-me suave. Talvez fosse pelo fato dela ser a mãe dos meus
bebês e não ter me negado o direito de participar das vidas deles, o

que não deixava de ser estranho.


O pensamento de que a preocupação excessiva do espanhol

pelo assunto filho talvez escondesse um desejo secreto dele em se


tornar pai me invadiu novamente, embora ainda não estivesse
totalmente seguro. Mas se ele realmente quisesse ter um bebê,

nada o impediria de tê-lo. Ele tinha muitos recursos para não


realizar seus sonhos. Provavelmente, na minha felicidade recém-

descoberta com a paternidade e com a benim değerli, eu estivesse


desejando aquela alegria para ele, que ele amasse e fosse amado.

Que ele deixasse para trás todas as feridas emocionais que sabia
que existiam dentro de si, embora mascarasse-as muito bem.
E, mesmo que ele guardasse essa vontade sob a fachada de

gelo e frieza, o meu melhor amigo não me esconderia tal coisa.


Então, era um pensamento tolo. Talvez ele só estivesse no limite de
si mesmo, esgotado e frustrado com os problemas que chegavam
nele como um turbilhão. Apesar da tentativa de afastar essa ideia,

minha mente não conseguia abandonar essa linha de raciocínio,


mas procurei dar a resposta que esperava:

— Fui até a casa dela ontem mesmo e me abri com ela,


Javier — minha voz saiu rouca, sentindo um pequeno gosto amargo
quando flashes do dia anterior tomaram a minha mente —, disse

que me arrependia de tê-la pedido em casamento daquele jeito e


revelei que estava me apaixonando pela değerli.

— E então? — repetiu a pergunta e toda a tensão pareceu


convergir naquelas duas palavras.

— Não foi tarde demais, Javier — sussurrei e ele emitiu um


suspiro, como se estivesse aliviado, fazendo-me franzir o cenho
pela reação dele, mas logo meu semblante se suavizou.

Amigos se sentiam felizes um pelo outro e aliviados também,


tomando as dores e tristezas. Só enquanto sentia o abrandamento

na tensão dele por mim, que eu compreendi o quão valoroso era a


amizade de Javier. No nosso mundo, isso era uma coisa rara.
— Ela me perdoou, pelo menos acho que sim. — Senti

algumas lágrimas se formando em meus olhos e eu ri roucamente.


— A pedi em namoro da maneira mais romântica que pude imaginar
para um homem grosseiro como eu. Com anel e flores.
— Ajoelhou-se, amigo? — perguntou em um tom divertido,

que não escondia a pontinha de sarcasmo.


— Esqueci-me dessa parte.

— Uma pena, muitos dariam uma boa quantia para ver o


grande Ibrahim de joelhos implorando por algo. — Voltou a usar o
seu tom neutro.

— Inclusive você, creio.

Respondeu com um estalar de língua sarcástica e eu bufei


em exasperação, arrancando uma gargalhada que para muitos

parecia soar fria, falsa, mas que era a mais verdadeira que escutei

vindo dele.

— Quem sabe no pedido de casamento pelos motivos certos


eu o faça — joguei uma mecha do meu cabelo para trás e soei

malicioso: — apesar que consigo pensar em uma boa razão para

ficar de joelhos na frente dela, muito antes disso.


— Sí, compañero, aproveite enquanto você pode — voltou a

dar uma gargalhada, fazendo-me rir baixinho também.

— Mas chegará o dia em que o grande Javier Castillo se


curvará a alguém também — provoquei-o.
— Eu tenho certeza que não, mi amigo — a risada morreu

em seus lábios, sendo substituída por aquele tom frio.


E eu soube que tinha dito a coisa errada, estragando aquele

momento de desconcentração.

Bok.
— Nunca o fiz e nunca o farei — completou.

Engoli em seco com a sua fala e um silêncio esquisito

perdurou entre nós dois, cada um vítima dos seus próprios

pensamentos.
— Fico realmente feliz por você, Yazuv — disse em um tom

quase que irreconhecível vários minutos depois.

— Eu não tenho palavras para descrever o quanto sou grato


a Allah por ter me dado ela e meus bebês — falei com a voz

embargada, sentindo lágrimas se formarem em meus olhos —, algo

que eu nem sabia que precisava, mas que me preenche e me torna


mais completo.

— Bebês? — Não escondeu sua surpresa e pude imaginá-lo

arqueando a sobrancelha com incredulidade. — No plural?

— Sim, Javier — não escondi o meu orgulho —, fomos fazer


o primeiro ultrassom hoje e descobrimos que a benim değerli e eu

seremos papais de três bebezinhos.


— Dios, amigo — o espanhol começou a murmurar

rapidamente uma série de palavras em sua língua nativa, tornando

difícil compreendê-lo com o meu parco conhecimento.


Não consegui conter uma gargalhada, extravasando a

felicidade que rapidamente espalhou-se por todo o meu ser, a perda

financeira facilmente esquecida.

— É um homem de sorte, Yazuv — disse em um tom trêmulo,


sua respiração parecendo ofegante.

O senti com um ar distante, embora soubesse que estava

feliz por mim.


— Ser pai de trigêmeos é para poucos.

Fez uma pausa.

— Se uma única criança é uma grande dádiva, três ainda

mais. Você ganhou um dos presentes mais lindos que um homem


pode receber na vida. E reconheço no seu tom um sentimento

bastante forte por eles.

— Eu os amo e seria capaz de dar a minha vida por eles,


tudo o que sou, tudo o que tenho — repeti, recordando-me que já

havia dito algo assim para ele —, nunca pensei que esse

sentimento, o fato de me tornar pai, me transformaria de tal forma a

ponto de não me reconhecer. E eu não quero o meu eu antigo,


quero ser esse novo Yazuv. O amor parece ter impregnado em cada

pedaço do meu ser. Eu não consigo parar de pensar nos meus três
bebês, sonhando acordado em pegá-los no colo, brincar com os

dedinhos, trocar fraldas, ter o corpinho deles próximo ao meu.

Tanriçan, eu até mesmo quero fazer um curso para me tornar um


bom pai. Um super-herói para eles.

Ri da minha última fala, sabendo que era a mais pura

verdade.

— Entendo, amigo — sussurrou baixinho, parecendo


melancólico, emitindo um suspiro que me revelava mais do que

provavelmente gostaria, porém não entraria no assunto que o

espanhol buscava tanto esconder. — Deve ser indescritível tornar-


se pai.

— Você não faz ideia, Javier — passei o dorso da mão no

rosto —, quando eu vi os três grãozinhos do tamanho de um feijão

no ultrassom e ouvi o coraçãozinho de um deles, soube que era a


sensação mais fantástica do mundo.

Não respondeu, deixando que eu continuasse:

— Quem disse que esse momento marcava, estava coberto


de razão — fechei os olhos momentaneamente quando a

recordação me invadiu e me senti completamente trêmulo pela


lembrança doce —, eu gravarei o som e a imagem dentro da minha

alma e no coração.

— Tenho certeza que sim, amigo — foi econômico na sua

resposta.
Novamente o silêncio caiu sobre nós. Estranhamente,

imaginei que essa conversa seria completamente diferente, comigo

se gabando por ter sido “potente” e ter feito três em uma noite só,
mas não conseguia fazê-lo perante o estado de espírito melancólico

que notei na voz de Javier. Me sentiria péssimo, embora não tivesse

a certeza de que minha intuição estivesse certa.

— Você disse um coraçãozinho, amigo? — perguntou depois


de vários minutos, parecendo tenso e angustiado, em um delay.

Expliquei para Javier o que o médico tinha dito, comentando

o susto que tanto eu quanto a minha mulher tomamos ao constatar


que só conseguimos ouvir apenas um deles. Ele parecia aliviado,

ouvindo-me como se o assunto fosse de grande interesse. E,

movido pela curiosidade dele, acabei entabulando uma conversa

sobre meus parcos conhecimentos, que se tornariam maior quando


eu fizesse o curso para pais de primeira viagem. Nem vi o tempo

passar.
— Deve estar tarde em Madrid — olhei o relógio, constatando

que era quase sete da noite em Chicago e o espanhol parecia cada


vez mais exausto por mais que seus sentidos parecessem em alerta

—, para quem trabalhou a madrugada e o dia inteiro, você deveria ir

descansar.

Soltou um som de desdém e pude imaginar a sobrancelha


dele se erguendo, arrogantemente.

— Agora está virando uma mamá gallina, compañero? —

Apesar de não compreender o significado da sua expressão, não


passou despercebido o sarcasmo gelado dele, o Javier demônio

voltando em sua força, como se o melancólico nunca tivesse

existido e fosse uma ilusão criada pela minha mente.


— Não entendi. — Bufei.

— Posso cuidar de mim mesmo, Yazuv, não precisa se

preocupar com o meu bem-estar — disse em um tom mais ameno

—, e você mais do que ninguém sabe que não morreremos por falta
de sono. Ou se esqueceu que tinha o mesmo hábito do que o meu

até um mês atrás?

— Não, claro que não.


Por mais que eu tentasse negar, era a mais pura verdade.

Como ele, passava a madrugada afundado em relatórios, planilhas


e acompanhando as bolsas de valores de todo o mundo, sem me
importar com o cansaço que sentiria no dia seguinte. Me

transformaria em um grande hipócrita se eu o julgasse por isso.

Porém, não podia esconder que estava apreciando as mudanças


que estavam ocorrendo vertiginosamente em minha vida,

desordenando-a. A perspectiva de trabalhar freneticamente, desde

que comecei a me envolver profundamente com a değerli, não me


parecia tão atraente assim.

Agora que pensava, afundar-me no trabalho e ter como único

objetivo de vida ganhar dinheiro, era algo bastante solitário e

principalmente vazio, ideia que me trouxe uma pontinha de dor no


peito por ter passado tanto tempo sobrevivendo para essa meta,

perdendo coisas que hoje eu via que eram importantes; e também

por Javier, que se tornava cada vez mais solitário e recluso. Mais
uma vez agradeci o fato daquela mulher ter entrado na minha vida,

me salvando de mim mesmo.


— Preciso terminar de revisar e assinar uns documentos que
exigem a minha atenção — sussurrou.

— Não te atrapalharei mais, Javier — inspirei o ar com força


—, vou aproveitar para fazer o mesmo, deve ter muita coisa
acumulada hoje.
— Não foi um incômodo, amigo — ignorou o fato de que eu
havia ligado para saber os motivos da sua ligação —, mesmo que
não transpareça, realmente fico feliz em saber que você está

contente e satisfeito por formar com a sua mulher e seus três bebês
uma família.
— Eu sei que sim. — Sorri, mesmo que ele não pudesse ver.

— Pelo menos um de nós dois teve essa sorte — falou tão


baixinho que tive certeza que era um pensamento alto que não
deveria ter escapado dos seus lábios.

— Javier…
— Se eu fosse você, teria contado vantagem pelo fato de ter
trigêmeos. — Soltou uma gargalhada rouca, menosprezando a

minha compaixão.
Seus sentimentos, definitivamente, era algo que ele evitava
adentrar e eu respeitei isso.

— Vai achando que não irei, acho que contarei a todos sobre
o meu êxito, principalmente aos meus pares que costumam esfregar

as proezas dos seus filhos nas reuniões — soei orgulhoso e


arrogante, sentindo meu coração bater forte ao pensar nas três
sementinhas —, você ficará enojado com o tanto que eu ficarei

convencido, prepotente e arrogante.


— Temia que fosse assim — respondeu em um tom lânguido,
estalando a língua e eu caí na risada.
— Tenho certeza que quem aguentará a pior parte será

minha değerli, ela sim que terá que suportar a minha possessão e
meus cuidados exagerados. Sabe o homem terrível que eu sou.

— Sí, amigo — puxou a última palavra —, mas ela


sobreviverá ao seu mau gênio, ou não.
Bufei.

— Tenho certeza que sim — fui arrogante outra vez, embora


não pudesse afirmá-lo por completo.
— Tsc, tsc, tsc… — Fez um barulho irritante, arrancando de

mim outro rosnado e permanecemos em silêncio por alguns


segundos, até que ele disse em um tom afiado: — Mantenha-me
informado, essa novela está interessante de assistir.

Antes que eu pudesse responder ele desligou a ligação e eu


fitei o aparelho, incrédulo. Passei a mão pelo cabelo, consternado,
sabendo que o espanhol era dado a aqueles arroubos e, girando a

minha cadeira, fiquei fitando as luzes que iluminavam a cidade em


contraste com o céu repleto de estrelas. Embora não tivesse

mentido que tinha muito trabalho para fazer, me dei aqueles


minutos. Suspirei. Abri os botões da minha camisa social, expondo
meu tórax, e deixei meus pensamentos me levarem. Comecei a
refletir sobre tudo o que estava acontecendo comigo, mas a

conversa que acabei de ter com meu amigo me voltou a mente, e


me indaguei se estava certo na minha suposição que Javier tinha
vontade de ser pai, pois senti uma certa melancolia, talvez uma

ponta de inveja, pelo que eu estava vivendo, mas ele não se abre
comigo. Quantos mais segredos ele esconde de todos? O diabo de

gelo não mais me parece tão diabólico e frio assim. Pelo contrário, o
espanhol parecia muito mais complexo e… sentimental.
Permaneci um bom tempo assim imerso nas minhas

reflexões, até que o som de unhas arranhando o assoalho me


trouxe de volta a realidade e me virei em direção a porta,
observando Aylla rebolando em minha direção, marota, indiferente

ao fato de que mais cedo havia me trocado pela minha mulher,


seguida por Valdete, que tinha um sorriso nos lábios, os cabelos
molhados, vestindo uma camisa minha, que ia até as coxas dela,

como se fosse um vestido. Apesar de gostar e muito que ela usasse


minhas roupas, achava que ficava incrivelmente sexy com elas,
gostaria que tivesse trazido algumas peças suas e deixado no meu

guarda-roupa, mas vivia dizendo que era muito cedo para isso,
embora antes que eu viajasse para Turquia, ela passasse mais

tempo comigo aqui do que no apartamento dela.


Em breve, Yazuv, disse para mim mesmo ao fazer um
carinho na cabeça da cadela, que me deu uma rabada em resposta.

Quando a benim değerli se aproximou, estendi meus braços,


puxando-a suavemente pelos quadris para se sentasse em meu
colo.

— Yazuv — sussurrou meu nome, olhando-me fixamente,


arrancando um latido de Aylla, que não queria ser deixada de lado.

Porém, para o meu deleite, Val envolveu o meu pescoço com


um braço, acomodou-se sobre as minhas coxas e se aninhou contra
o meu peito. Ficar assim com ela me parecia bastante natural, e

novamente fui acometido pela sensação de que ela pertencia aos


meus braços. Apaixonado, inspirei fundo, sentindo o cheiro delicioso
dos seus cabelos e plantei um beijo na curva suave do pescoço,

sorrindo quando os pelinhos dela se arrepiaram em resposta.


— Conseguiu descansar? — Escutei um arfar baixinho.
Sem pudor, comecei a deixar uma série de beijinhos pela

pele sedosa enquanto minha mão, como se tivesse vida própria,


adentrou a camisa que ela vestia. Rocei o dorso nos pelos que
cobriam sua vagina, fazendo-a remexer no meu colo, uma leve
rebolada que já me excitou. Não me detive naquele lugar, subindo
com os dedos até encontrar a barriga que abrigava os nossos
bebês. Minha intenção não era fazer sexo com ela ali, apenas

desfrutar daquele momento repleto de sentimentos. Fora que não


daria para fazer nada com uma cachorra completamente alerta, que
não parava de nos cheirar.

— Um pouco — deu um sorriso, colocando a mão sobre a


minha —, o que me atrapalhou foi a vontade de fazer xixi. —
Gargalhou, me fazendo rir também, apertando-a ainda mais no meu

braço. — Não imagino como será no final da gestação. Acredito que


não sairei do banheiro.
— Espero que tudo seja bastante tranquilo, değerli — disse,

olhando para a barriga dela, pedindo a Allah que não houvesse


nenhuma complicação.

— É o que mais quero, amor. — Acomodou-se melhor de


modo que pudesse me fitar, e ficou acariciando minha barba. Senti
um leve tremor me percorrer por ela me chamar de amor. Ouvir

aquela pequena palavra saindo dos lábios generosos era


embriagante e se eu fosse chamado de tolo romântico por isso, que
seja. Me prestaria aquele papel por toda a minha vida.
— Mas acho que desejo ainda mais é que eles tenham um
bom desenvolvimento e que possam nascer fortes e saudáveis —

continuou. — Os enjoos, o inchaço e provavelmente a dor na coluna


será um preço muito baixo a se pagar por eles.
— Queria poder compartilhar esse sofrimento com você —

confessei, deixando outro beijo sobre a sua pele.


— Infelizmente não há muito que você possa fazer…
— Farei de tudo para suavizá-los.

— Sei que sim.


Puxou meu rosto e deu-me um beijo que roubou
momentaneamente minha capacidade de ter qualquer pensamento

coerente que não envolvesse o sabor daqueles lábios que se


moldavam aos meus, que pediam passagem para me provocar com
a língua, não escondendo seu desejo. Soltei um grunhido quando o

latido de Aylla, juntamente a uma patada na sua coxa, fez com que
Val interrompesse o beijo, e sua risada preencheu todo o cômodo

juntamente com o barulho ensurdecedor da cadela. Minha cara


emburrada dava mais combustível para ela gargalhar.
Sabendo que o clima de sedução tinha sido perdido, comecei

a acariciar a barriga dela, aproveitando aquilo que se tornaria cada


vez mais cotidiano em minha vida. Agora que eu sabia que somente
o fato de ter ela sentada no meu colo me dava um prazer
imensurável, não iria abrir mão daquele encanto.

— Você parecia pensativo, amor. Aconteceu alguma coisa?


— questionou com a voz suave, acariciando o meu queixo, seus

olhos brilhantes revelando que parte dela ainda se encontrava presa


naquele torpor de alegria. Aylla pareceu se acalmar, deitando nos
meus pés, mas implorando por algo. Provavelmente, deveria estar

na hora do seu jantar. — Algum problema? Sua mãe…?


— Não — balancei a cabeça em negativa e plantei um beijo
nos seus cabelos —, eu ainda não liguei para ela, já é tarde em

Istambul. Acho que você também precisa fazer uma ligação para os
seus pais, não?
— Sim, farei isso daqui a pouco — sussurrou. — E então, o

que aconteceu para você ter ficado tão distante nos seus
pensamentos.
— Algo que Javier me disse. — Trouxe-a ainda mais contra o

meu peitoral, e ela se aninhou mais em mim.


— Seu amigo espanhol?

Fiz que sim com a cabeça. Como meu melhor amigo sabia
dela, era justo que eu tivesse contato algo sobre ele a Val também,
porém não havia adentrado muito nas questões pessoais, como o
drama familiar e os traumas que haviam deixado marcas nele e que

ele não revelava a quase ninguém. Na verdade, nem tinha certeza


se eu sabia de todos. Javier sempre guardou demais seus
sentimentos para si a fim de manter a postura fria e arrogante.

— Apesar de tentarmos manter algumas coisas para nós


mesmos, ele parece ansiar por ter uma família. Por ter amor. Bom, é

o que acho.
— Mas o que o impede? — Franziu o cenho. — Sei que se
apaixonar não é algo que cai do céu, e também estou ciente de que

nem todos têm a sorte de serem correspondidos. Eu mesma achava


que nunca seria e estou aqui… — deu um sorriso repleto de amor e
eu a beijei suavemente —, então, não vejo razão para que um dia

ele não consiga realizar esse desejo.


— Ele é o seu próprio inimigo, benim değerli — murmurei,
sem dar uma explicação completa —, bem mais que eu fui para mim

mesmo. Javier se afunda cada vez mais no mundo de gelo que criou
para si.
— Entendo — disse em um tom repleto de compaixão, não

exigindo que esclarecesse as razões do espanhol —, sinto


verdadeiramente por ele.
— Hoje posso ver que eu também…
Ficamos em silêncio e eu beijei o topo da sua cabeça,
fazendo-a se aninhar ainda mais em mim. Ficamos em silêncio,
aproveitando o calor do abraço, as respirações cadenciadas no

mesmo ritmo, ao passo que nossos corações batiam em uníssono,


até que ela o quebrou:
— Yazuv?

— Sim, aşk?
— Eu estou ficando com fome, mas fome de um belo pedaço
de pizza com a borda alta, com bastante queijo e pepperoni — disse

com a voz suave, transformando o clima que pairava entre nós dois.
— Ou melhor, alguns pedaços.

Arqueei a sobrancelha. A pizza feita na Turquia era um pouco


diferente daquela que se comia nos Estados Unidos, que era uma
espécie de pão, porém, apesar de ser gostoso, não era o meu prato

favorito.
— É mesmo? — Entrei na sua brincadeira.
— Desejo de grávida. — Sua expressão era completamente

inocente, tornando-se maliciosa quando piscou um olho para mim.


— Não queremos que nossos bebês nasçam com cara de pizza,
não é mesmo?

Olhei-a, confuso.
— É uma expressão brasileira que a minha mãe usa — deu
uma risada baixinha, fazendo com que Aylla levantasse a cabeça,

curiosa, e voltasse a nos cheirar, dando patadas e enfiando o


focinho em nós —, ela diz que caso a grávida não coma aquilo que
deseja, o bebê vai nascer com a cara da comida. Achei muito

divertida.
— Hmmm… — fiz uma pausa, como se processasse a sua
fala —, odiaria que nossos bebês parecessem com uma pizza,

então não posso correr esse risco.


— Sabia que você iria concordar comigo, Yazuv — deu-me
um selinho e enquanto eu pegava o meu celular para procurar uma

pizzaria, acrescentou: — e um refrigerante bem gelado também.


— Seu desejo é uma ordem, karı — disse em um tom de

quem recebe um comando.


Pisquei para ela também e mais uma vez sua gargalhada
preencheu o escritório, fazendo com que eu me juntasse a ela. Era

um dia mais do que perfeito.


Terminando o relatório geral da Motors, olhei as horas no

canto da tela constatando que faltava um pouco mais de meia hora


para o final do expediente. Mais cedo, eu tinha recebido um SMS

dizendo que os resultados dos exames da sexagem fetal que tinha


feito estavam prontos e que nós poderíamos buscá-los.

Papais de primeira viagem, eu e Yazuv não estávamos mais

aguentando a ansiedade para saber o sexo dos nossos bebês. O


doutor Érike, sempre solicito, sugeriu que poderíamos fazer o

procedimento e que não era necessário esperar as dezesseis


semanas para a ecografia. Contudo, não esperava que o resultado

saísse tão rápido. Provavelmente, Yazuv tinha pagado para ter o

resultado mais urgente possível. Estava louca para correr para o


laboratório para pegar o resultado. Embora eu não fosse abrir o

envelope, eu queria tê-lo em mãos para quando Yasuv chegasse da


viagem que tinha feito para a Turquia para apoiar a mãe na

audiência do divórcio. Queria que o meu namorado fosse o primeiro

a saber o sexo dos nossos bebês.


Dei um suspiro longo e profundo, tentando conter minha

ansiedade, pois demoraria vários dias para que eu soubesse o

resultado, colocando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha,


fazendo planos para mais tarde.

O dia de trabalho estava sendo cansativo, e meu corpo todo

implorava por um banho quente e longo, aproveitando os vários


jatos de hidromassagem. Fiz um som de muxoxo ao saber que

aquele pequeno prazer iria me ser privado, pois a banheira da


minha casa não possuía tal luxo e mesmo que eu tenha a chave do

apartamento dele, não me parecia certo ir até lá só para tomar um

banho, embora eu fosse sua namorada e passasse boa parte das

minhas noites e fim de semanas lá, e sempre houvesse a desculpa

de ver a Aylla que parecia encantada, na sua percepção canina,

com a gravidez.
Balancei a cabeça em negativa, conformada, removendo o

sapato de bico fino que maltratava meus pés e pegava nos meus
calcanhares. Era um ato pouco profissional, mas como eu saía bem
mais tarde que boa parte dos funcionários, dei-me esse pequeno

luxo, ainda mais que eu sabia que meu chefe não iria me condenar

por isso, já que não era a primeira vez que o fazia. O alívio foi

instantâneo, bem como aquele que eu sentia pelo dia de trabalho

estar quase acabando.

Não que eu odiasse minha rotina, pelo contrário, estava


amando o meu novo cargo. Mas os problemas que poderiam ter

surgido ao longo de uma semana, apareceram todos nessa tarde e

as complicações eram agravadas pelo comportamento irascível dos

diretores e chefes de departamento, o que acabou por afetar um

pouco o meu humor, deixando-me irritada.

— Só o seu papai workaholic para aguentar esse ritmo

insano e lidar com tanto ego — comentei com meus bebês, sorrindo
para a minha barriga antes de desviar minha atenção para a caixa

de bombons que havia pedido na minha chocolataria predileta, para

desestressar, e que havia comido mais da metade sem mesmo dar-

me conta.

— O pai de vocês me matará se souber que eu hoje saí da

dieta passada pela nutricionista.


Gargalhando, escolhi um que eu ainda não havia

experimentado, em formato de coração, e dei de ombros.


— Que bom que ele não está aqui para me censurar com

aquela carranca severa — disse uma mentira, pois queria ele ali
comigo, e levei o chocolate aos lábios.
Dei uma mordida generosa no doce e degustei o chocolate,

sentindo a endorfina espalhar-se pelo meu corpo.


Para ficar completo só faltaram as mãos fortes e possessivas

do meu amado fazendo aquela massagem que somente ele


conseguia fazer, alternando uma pressão suave dos dedos com os

seus lábios mornos que deixavam minha pele em brasas.


Deus, só de pensar no calor dos beijos que ele deixava em
meu pescoço eu sentia meu corpo todo reagir a lembrança. Uma

vontade de tê-lo cresceu em meu âmago e senti meus dedos dos


pés se curvarem, mesmo sabendo da impropriedade de ter aqueles

pensamentos ali, embora o ambiente de trabalho não fosse mais


tabu. Não tinha sido eu quem o deixou me sentar naquela mesma

mesa, abaixar a minha calcinha e me fazer o sexo oral mais


delicioso que já havia recebido, me proporcionando um orgasmo
incrível?
Tateando até encontrar a caixa, peguei outro bombom e levei

aos lábios, buscando conter o fogo que me consumia e que não


seria satisfeito. Buscando afastar as lembranças do toque e do

corpo do homem que amava, desviei meus pensamentos, fazendo


várias conjecturas sobre os sexos dos nossos bebês. Não podia

negar que eu torcia secretamente para termos pelo menos uma


menininha, para que eu pudesse ter uma relação de cumplicidade,
como a que eu tinha com a minha mãe. Não que eu não fosse ter

com os meninos, caso tivesse algum, mas me parecia doce ter uma
menina. Imersa no sabor do doce e nas possibilidades, tomei um

susto quando ouvi o som do elevador e eu abri os olhos, sabendo


que estava mais do que decomposta.
Franzi o cenho, normalmente me ligavam antes para

perguntar se poderiam subir.


Sentei-me ereta na minha cadeira, pegando um lenço para

limpar minha mão suja de chocolate e tentei esconder meus pés


descalços. Com certeza minha postura relaxada daria ainda mais

razão para que fizessem muito mais comentários ao meu respeito,


dizendo que eu não trabalho, que eu era apenas um “brinquedo” do
CEO.
Fazendo uma careta com o meu pensamento depreciativo,
olhei mais uma vez às horas, torcendo para que não fosse nenhum
problema de última hora e que demandasse tempo para resolver.

Porém, para minha surpresa, não era também nenhum


homem de terno arrogante ou mulher bem-vestida, apenas um

senhor de meia-idade, usando uma camisa de malha e calça jeans.


Mas quando vi que segurava uma caixa pequena com uma enorme
fita dourada, meu coração começou a palpitar e não contive o

sorriso. Não havia nenhuma dúvida quem era o possível remetente.


Yasuv não se cansará de me mimar?, pensei, torcendo

fortemente que nunca o fizesse, pois estava adorando cada


surpresa que me fazia, e ficava cada vez mais louca por ele, me

sentindo realmente “preciosa”.


O apelido carinhoso em turco não era da boca para fora,
mostrava-se cada vez mais real.

Deus, o que seria de mim se ele desistisse de nós ou se os


seus sentimentos mudassem? Tentei ignorar essa ideia que me

machucava, completamente infundada. Não poderia prever o futuro,


apenas viver o presente, e o presente era repleto de felicidade. E,
no momento, a curiosidade para saber o que ele havia aprontado

era maior do que qualquer coisa.


— Senhorita Johnson? — Aproximou-se da minha mesa,
retribuindo o meu sorriso.
— Sim, sou eu.

— Me mandaram entregar essa encomenda, senhorita —


esticou o embrulho para mim, o qual peguei com delicadeza,

colocando sobre meu colo, fitando cada detalhe, curiosa com o peso
leve. — Você pode assinar o documento de recebimento?
— Claro. — Peguei minha caneta quando ele me deu a

prancheta, rubricando no lugar da assinatura, e a devolvi em

seguida. — Obrigada.
— Nada, senhorita, tenha uma boa noite.

— Você também.

Assentiu para mim e, enlevada, mal percebi os passos dele

se afastando, bem como o barulho do elevador. Toda a minha


atenção estava no presente.

Inspirando fundo, comecei a remover a fita, colocando-a

sobre a mesa, prendendo o ar ao remover a tampa. Quando retirei


parte do papel de seda, fitando meu presente, eu senti que eu

desmoronava em meio a um choro convulsivo, minha garganta

embargando.
De fato, nunca poderia imaginar que Yasuv tivesse tamanha

sensibilidade para planejar algo tão perfeito, dando-me a surpresa


mais linda, mesmo estando do outro lado do mundo. Como ele havia

conseguido, não fazia ideia. Mas era algo que me marcaria para

sempre.
Levei as mãos ao meu rosto, chorando ainda mais, sem

acreditar nos três pares de sapatinho de crochê que ele havia me

dado: dois na cor azul, um único par na cor rosa, revelando-me os

sexos dos meus bebês.


Eu seria mãe de dois menininhos e de uma menininha.

Aos prantos, descobri meus olhos com o objetivo de voltar a

fitar aqueles seis pedacinhos de tecido, porém percebi que eu não


estava mais sozinha, embora minha mente embotada de emoção

custasse a processar tudo. Erguendo minha face, encontrei o rosto

do homem que eu amava com um sorriso doce curvando seus


lábios.

— Yazuv? Como...? — perguntei com a voz rouca,

atrapalhada, tocando inconscientemente a lã dos sapatinhos.

Eu estava completamente bamba, as emoções me tomando


por ver que, ao contrário do que imaginava, ele estava ali na minha

frente, de carne e osso.


Não me respondeu, apenas deu a volta na minha mesa, se

aproximando de mim. Colocando aqueles objetos preciosos em

cima da mesa, levantei-me, embora minhas pernas parecessem ser


feitas de gelatina. Sorte que não estava de salto. Logo dois braços

fortes me envolveram em um abraço apertado, e eu o apertei de

volta, aconchegando-me no seu peito, e desfrutei daquele contato

que era muito mais do que um abraço. Permanecemos presos


naquele carinho, até que ele ergueu uma mão para segurar o meu

rosto com ternura, puxando-me para um beijo delicado, moldando

nossos lábios suavemente. Não havia provocação, apenas um


sentimento forte. Era uma comemoração silenciosa de duas almas,

pois palavras e sons não eram capazes de descrever a emoção

dividida.

— O que achou da surpresa, aşk? — Questionou ao colar


sua testa na minha, seus dedos acariciando suavemente meu rosto.

— Não sabia se você iria gostar.

— Eu amei, meu amor — outras lágrimas escorreram pela


minha bochecha —, acho que não houve uma revelação de sexo

mais linda.

Ele deu um sorriso que era uma mistura de alívio e amor.

Soltando-me, o observei pegar a caixinha.


Não sei por que aquele gesto fez com que minhas pernas

ficassem ainda mais bambas, meu coração batendo ainda mais


acelerado.

— Foi você quem comprou os sapatinhos pessoalmente? —

Minha voz soou um pouco aguda e eu me segurei no ombro dele


para me firmar.

— Sim, eu os comprei assim que tive o resultado em mãos —

sussurrou com a voz embargada.

— Você não deveria estar com a sua mãe? — fiz uma


pergunta retardatária, incoerente. Não era em si uma cobrança,

apenas uma curiosidade.

— Não, aşk, ela sabe que o meu lugar é junto a mulher que
amo e me expulsou de lá.

— Yazuv — murmurei o nome dele, fitando seus olhos

negros, e senti meu corpo tremer.

Eu não conseguia acreditar nos meus próprios ouvidos e


naquilo que eu via em sua expressão. Era como se eu estivesse

vivendo um sonho etéreo ou dentro de um conto de fadas. Mas não

o era, pois ele voltou a falar:


— Eu amo você, Valdete — se ajoelhou, seu rosto ficando

próximo a minha barriga —, eu não posso mais guardar esse


sentimento dentro de mim. Allah está de a prova o quanto eu te amo

e preciso de você.

— Meu Deus, Yazuv — levei a minha mão livre a boca,

chorando enquanto ele plantava um beijo na minha barriga, ainda


segurando a caixinha.

Eu sabia que, ao seu modo, ele me amava, e várias vezes

fantasiei, como uma tola romântica, com o momento em que


verbalizaria, mas ouvir a confirmação saindo pelos seus lábios, com

ele me fitando dessa maneira, havia sido muito mais especial do

que poderia imaginar. Já tinha ouvido essas palavras antes vindas

de outra pessoa, porém nunca foram verdadeiras. Não havia aquele


tom apaixonado, muito menos uma sinceridade na expressão.

Somente com Yazuv eu conheci o que era ser

verdadeiramente amada por um homem. Um amor igual ao dos


meus pais.

Estremeci e chorei ainda mais, ao mesmo tempo que era

presa pela euforia por saber que realizava todos os meus sonhos, o

de ter meu amor retribuído.


— Por favor, benim değerli, seja minha esposa, não por

conveniência, mas porque amo você — continuou, e eu senti meu

coração quase sair pela boca.


— Ya…Ya..Ya…zuv — repeti o nome dele, gaguejando,

parecendo uma boba.


Mas definitivamente, me sentia como uma, pois meu cérebro

já lento pela surpresa doce e pela declaração de amor, dominado

pela felicidade, não conseguia processar direito às suas palavras.

Pelo menos não tão rápido.


— Bok, isso não foi nada planejado e talvez seja bastante

precipitado, nem mesmo um anel de noivado eu tenho — disse,

gargalhando, e eu ri também, tentando absorver tudo —, você aceita


se casar comigo, değerli? Quer se tornar a esposa de um homem

que fará de tudo para te fazer feliz e que jura por tudo que é mais

sagrado nunca mais te magoar? Um homem que já é o seu esposo


de corpo e alma? Que será fiel e te venerará até o último suspiro?

Que daria a vida por você, pelos nossos bebês, pela nossa família?

Fez uma pausa, e me abraçou, encostando os lábios na

minha barriga. Emocionada, não consegui responder, apenas toquei


seus cabelos negros, acariciando os fios.

— Com um homem que te pede em casamento não com uma

aliança, mas com três pares de sapatinhos de bebê — ergueu o


rosto para me fitar e, pegando a minha mão, virando-a, colocou a

caixa sobre a minha palma —, com objetos que mais representam o


meu amor por você. Um homem carrancudo, complicado, que está
te dando os sapatinhos como a representação do seu coração, que

foi seu desde a primeira vez que ele te viu?

— Deus, Yazuv — sussurrei, fitando o conteúdo da caixinha


através da minha visão nublada pelas lágrimas.

O turco poderia não ser menos perfeito em suas palavras e

gestos. Mais uma vez, ele me proporcionava um momento mágico e


inesquecível, lindo em sua simplicidade. Eu não precisava de uma

aliança, de diamantes e nem do ouro que ele poderia me

presentear, quando ele tinha me dado seu coração através daquelas

peças. O amor dele era tudo o que eu necessitava.


— Você aceita ser a minha karı? — perguntou com a voz

trêmula, ainda de joelhos.

— Sim, meu amor — meu tom saiu fraco, embargado —, não


há nada mais nesse mundo que eu gostaria mais do que me tornar

sua esposa.
Não disse nada, apenas abraçou minhas pernas,
visivelmente emocionado.

— Obrigada, aşk — sussurrou depois de vários minutos,


beijando a minha barriga outra vez, fitando-me com os olhos
brilhantes, apaixonados —, por me dar a honra de compartilhar uma
vida com você, por me dar uma família. Por me ensinar a amar. Por
ser a minha esposa.
Senti minha garganta se fechando com a emoção.

— Levante-se, Yazuv. — Coloquei o estojo em cima da minha


mesa e apertei seu ombro.
— Değerli.

— Por favor — pedi.


Levantando-se, não sem antes deixar um último beijo no meu
ventre, seu corpo colou-se ao meu. Ficando nas pontas dos pés,

enlacei o seu pescoço e fitei os seus olhos, prendendo-os aos


meus.
— Eu que deveria agradecê-lo por ter-me feito a mulher mais

feliz em um único dia. Por realizar meu sonho de ser amada. Por ter
paciência com as minhas inseguranças. Por ser meu futuro esposo.
Mas principalmente por ter me dado três presentinhos lindos de uma

só vez. — Sorri.
— Eu amo você, aşk.

— Eu também amo você, Yazuv.


Quando eu disse isso, seus braços me envolveram com uma
ternura que não conhecia nenhum limite, e eu deixei-me aninhar

contra o corpo dele, ao passo que seus lábios pousavam no topo da


minha cabeça em uma carícia deliciosa, erguendo em seguida meu
rosto para deixar um beijo na testa, a principal forma que ele
utilizava para demonstrar amor e respeito

Logo nossas bocas se encontraram e eu suspirei com a


paixão e o amor naquela entrega presente no beijo de

comemoração do nosso noivado, que se tornou cada vez mais


voraz. Nossos lábios movimentando-se com aflição, nossas línguas
provando uma à outra, provocando, cedendo a saudade que

sentíamos por ter ficado longos dias distantes um do outro.


Gemendo em meio ao beijo, suas mãos passeavam pelo meu
corpo, acariciando a lateral dos seios, traçando a curva da minha

cintura e do ventre, querendo estar em todos os lugares, sua ereção


começando a despontar com o desejo que sentíamos um pelo outro.
Colei-me ainda mais a ele, roçando minha pelve contra a dele,

incitando-o, sorrindo contra os seus lábios quando Yazuv soltou um


rugido abafado pelos meus lábios. Tudo o que eu queria era que ele
me pegasse de jeito e me tomasse ali mesmo. Porém, segurando

meus quadris com pressão, ele não deixou que eu continuasse a me


esfregar nele, excitando-o ainda mais.

— Güzel — murmurou contra a minha boca, tomando meu


lábio superior entre seus dentes, e um arrepio delicioso percorreu
toda a minha espinha. — Ficar longe de você, do seu cheiro, do seu
corpo e do seu beijo é um verdadeiro martírio.

— Eu também acho — arfei uma resposta, levando meus


dedos aos seus cabelos, acariciando-os.
— Mas eu preciso ter você lentamente, a noite inteira, em

uma cama, não em um escritório, por mais que me pareça tentador.


Respondi com um gemido e o puxei para outro beijo faminto,

que me deixou ansiando por mais. De sentir o gosto da pele dele, do


sabor do seu pênis enquanto o envolvia com meus lábios, ouvindo
os gemidos de prazer que ele emitia enquanto ficava à minha

mercê, apenas para me submeter depois a sua exploração. E por


mais que eu apreciasse uma rapidinha, amava muito mais o jeito de
fazer amor dele lentamente, que só de pensar me deixava em

brasas. E hoje, eu queria comemorar com o meu noivo.


— Então me leve para casa, Yazuv — disse contra a sua
orelha, minha respiração o arrepiando, deixando-o ainda mais teso.

Segurou meus quadris com um pouco mais de firmeza, o feitiço


voltando-se contra o feiticeiro, pois uma comichão surgiu no meu
sexo, deixando-me molhada e pronta para ele.

— Com prazer, senhora Ibrahim. — Presenteou-me com um


sorriso lascivo, deixando um beijinho na minha testa.
— Ibrahim? — provoquei-o.

— Sim, como um bom turco, minha esposa terá o meu


sobrenome.
Arqueei a sobrancelha.

— Posso conviver com isso — brinquei ao deslizar um dedo


pelo seu peitoral e a expressão dele de lasciva fechou-se na
habitual carranca.

Quando ele bufou, eu não aguentei mais e, jogando minha


cabeça para trás, gargalhei alto, minha risada ecoando por todo o

ambiente, mas que acabou sendo sufocada pela pressão dos lábios
dele que me transformaram instantaneamente em uma grande
massa derretida, desejosa por ser modelada pelos seus toques.
Colocando uma dose generosa de hidratante na palma,
espalhei o líquido pela minha barriga bastante volumosa de vinte e

seis semanas, que começava a cobrar o seu preço em forma de dor

nas costas, fazendo-me imaginar como seria no final da gestação.

Balancei a cabeça, sorrindo e continuei a acariciar meu

ventre quando senti os chutes dos meus bebês, que sempre


reagiam quando eu tocava a região, sendo mais intenso quando era

Yazuv quem tocava ou quando ouviam a voz do papai, o fazendo

ficar mais convencido e babão do que já era. Embora sentir os


chutes fossem momentos marcantes, várias vezes tornavam-se um

pouco incômodos, principalmente à noite.

— Meus pequenos traidores — sussurrei ao pegar um pouco

mais de creme e passar nas minhas pernas, fazendo com que meus
nenéns reagissem e não contive um sorriso. — Mas mamãe ama

vocês mesmo assim.

Terminado de passar o hidratante, peguei o robe curto quase

transparente de renda vazada, vestindo-o sem nada por baixo, nem

mesmo uma calcinha, e me olhei no espelho de corpo inteiro da

suíte dele, que se tornou nossa, já que decidi finalmente morar com
ele, embora ainda não houvéssemos nos casado, curiosa para
saber como Yazuv me veria. Através do tecido, pude perceber os
meus mamilos inchados pela gestação, coroados pelos bicos já

excitados, bem como os pelos que cobriam o meu sexo. Realmente

não deixava nada para a imaginação e eu me senti provocante,

sexy, e nem precisava passar um batom vermelho para me sentir

poderosa.

No começo da nossa relação, eu não era muito confiante em


relação ao meu corpo, porém, com as transformações durante a

gestação, ao contrário de muitas mulheres, me senti mais segura,

embora tivesse ganhado muito peso. Talvez, isso se devesse mais

ao fato daquilo que o doutor Érike tinha dito, de que o meu parceiro

teria um papel fundamental para minha autoestima durante a

gravidez. O fato da libido de Yasuv não haver diminuído e a sua

fascinação pelo meu novo corpo, o modo como me tocava e beijava


cada pedaço com adoração, me deixava muito mais consciente de

mim mesma e do meu poder de sedução, dando-me coragem para

ser não apenas mais ousada, mas também realizar fantasias.

E eu usaria toda a minha ousadia naquela noite, ficando

quase nua para ele.

Embora fosse sábado, Yasuv estava desde cedo no escritório


resolvendo uma série de problemas das outras empresas dele, e
nas vezes que entrei para levar algo para ele comer e beber, o

homem estava completamente tenso, o que me encheu de vontade


de fazê-lo relaxar. E que forma melhor de o deixar relaxado do que

me insinuar para ele e fazermos sexo? Ainda mais quando o


cansaço por não conseguir dormir a noite e as dores suaves nas
costas havia nos impedido de termos algo nos últimos dias. Estava

completamente sedenta por fazer amor com ele. Além de que tinha
que aproveitar enquanto podia, já que pelo tamanho da minha

barriga, pelas dores nas costas que já sentia e pelo fato de estar
esperando trigêmeos, eu teria que ficar de repouso, evitando

maiores esforços físicos.


Jogando meus cabelos para trás, deixando que eles caíssem
em ondas pelas minhas costas, lançando meu olhar mais uma vez

pelo meu corpo, sorrindo, confiante, caminhei para fora do banheiro.


Tinha visto uns vídeos em que a mulher surpreendia seu namorado

ficando nua em frente a ele quando o rapaz estava trabalhando. Se


era armação ou não, não sabia dizer, mas tinha que confessar que

despertou minha curiosidade para saber a reação de Yazuv. Era


idiota, sabia, porém decidi que tiraria o meu robe e ficaria nua na
frente dele mesmo assim, mas claro que sem gravar.
Antes, fui conferir se havia comida e água no potinho do

quarto de brinquedo da Aylla, que me saudou com latidos e abanar


de rabos.

— Agora não, menina. Brincamos depois — disse quando ela


colocou a bolinha aos meus pés.

Quando viu que não iria pegar o objeto e jogar para ela,
voltou para a caminha e, dando voltas em si mesma, deitou,
emitindo um suspiro. Sorrindo, deixei a cachorrinha sapeca,

fechando o portãozinho que a impedia de andar pela casa, e


respirando fundo, senti meus passos vacilarem um pouco com

nervosismo e antecipação quando aproximei-me da entrada do


escritório, um friozinho na barriga, mas não voltaria atrás.
Sem bater na porta, entrei nas pontas dos pés e meu olhar foi

atraído imediatamente para o homem cuja atenção estava


completamente voltada para o computador e que não percebeu a

minha presença. Minha boca secou e meu coração começou a bater


forte no peito ao ver os cabelos revoltosos, a camisa com as

mangas dobradas até os cotovelos, deixando-me ver seus braços


fortes, e os botões do colarinho abertos de maneira sugestiva.
Com o desejo pulsando em meu interior ao passo de deixar

minhas pernas bambas, aproximei-me da enorme mesa de maneira


maciça, captando o momento em que os olhos desviaram da tela e
pousaram sobre mim, e deixei que ele visse todo o meu corpo,
percorrendo-me lentamente.

— Aşk? — Questionou-me em um tom rouco, fechando a


tampa do computador e um prazer imensurável por ser chamada de

amor me percorreu, fazendo-me sorrir.


Gostava muito de ser chamada de “minha preciosa”, mas ter
descoberto que já algum tempo ele me chamava de “amor” me

deixava nas nuvens.


Esperando o que eu iria fazer, acomodou-se contra o assento

de couro, como se o que visse o agradasse e muito e percebi que o


peitoral subia e descia com rapidez. O olhar dele brilhava ao devorar

cada pedaço de pele exposto pela renda, e sua expressão antes


concentrada, transformou-se em algo lascivo. Um sorriso malicioso
passou a brincar em seus lábios, contendo promessas silenciosas

que me esquentavam, a ânsia que sentia por ele tornando-se ainda


maior no meio das minhas pernas, e percebi que começava a ficar

úmida por ser o alvo do seu desejo. De fato, a reação dele não me
decepcionou nem um pouco, pelo contrário, foi muito mais intensa
do que imaginava.
Arfando, sem tirar os olhos dos dele, levei meus dedos
trêmulos a amarra da peça e lentamente a soltei, apreciando os
grunhidos que ele me dava em resposta e o fato dele não conseguir

se manter quieto na cadeira, suas mãos segurando com força os


braços do móvel.

Deslizei lentamente o robe pelos meus ombros, aproveitando


para me tocar, roçando suavemente a mão pelos meus seios,
sentindo um prazer imensurável com as carícias que eu mesmo

fazia, minhas pernas ficando ainda mais bambas. Deixando um

ombro desnudo, escorreguei meus dedos pela minha barriga


volumosa, sorrindo ao sentir um chute, descendo ainda mais até

encontrar o meu sexo, chamando a atenção dele para lá. Vi Yazuv

engolir em seco com a expectativa. Maliciosa, voltei a subir com a

mão, traçando círculos lentos pela minha pele, beliscando o mamilo


nu, que clamava pelos lábios do homem que me assistia. O gemido

alto que escapou pela garganta dele reverberou por todo o meu

corpo.
Passei o braço pela manga e, antes que a peça caísse no

chão, segurei-a e joguei em sua direção, que agarrou a peça no ar

com uma agilidade que me fez arquear a sobrancelha. Porém,


quando ele levou o robe aos lábios, tocando-o como se fosse minha
pele, mas sem tirar o olhar de mim, eu peguei fogo, desejando que

eu fosse aquela renda que ele segurava com tanta devoção, não
evitando um pequeno gemido que escapou da minha garganta. Ele

tinha virado o jogo para si, me fazendo a sua cativa apenas com

aquele ato simples que me pareceu completamente erótico.


Reunindo toda a ousadia que me fez entrar naquele escritório,

querendo tomar o controle de volta, com passos lentos, rebolando

meus quadris de forma provocativa, consciente de que ele

acompanhava cada um dos meus movimentos, aproximei-me dele.


Dando a volta na mesa, parei de frente a cadeira, que ele

havia girado em minha direção e passei a língua pelos lábios ao fitar

a ereção estufada dentro da calça, sentindo vontade de prová-lo.


Porém sabia que, nas minhas atuais condições, ele não me deixaria

ficar de joelhos, mesmo que isso desse a ele muito prazer. Se

preocupava com o meu bem-estar e dos nossos bebês durante as


nossas relações, sempre me colocando em primeiro lugar, o que era

completamente tocante e tornava o ato mais prazeroso. Mesmo que

eu argumentasse que eu ficaria bem, que não machucaria e nem

prejudicaria minha gestação, sabia que algumas coisas na cama


não o faziam se sentir confortável. Respeitávamos os limites e o

corpo um do outro, e eu me sentia feliz por algo tão recíproco.


— Değerli? — Soltando a peça, que ainda segurava, ergueu

a mão para tocar a lateral do meu corpo, mas não deixei, dando um

tapinha para afastá-la.


Um grunhido de irritação escapou pelos seus lábios, mas ele

voltou com a mão para a lateral da cadeira, aguardando o que eu

iria fazer.

— Conseguiu resolver todos os problemas, amor? — Inclinei-


me em sua direção, sussurrando em sua orelha, mordiscando-a,

apenas para me afastar em seguida.

Fez que não com a cabeça e surpreendendo-me, puxou-me


para o seu colo, sentando-me sobre a sua ereção, embora minha

barriga não permitisse estar tão próximo a ele como gostaria, mas

meus seios nus roçaram no tecido da camisa, estimulando os bicos

ainda mais. Sentindo a frustração dele, fincando meus joelhos no


assento, passei um braço pelo seu pescoço, acariciando os cabelos

da nuca, enquanto com a outra mão, abria desajeitadamente os

botões da sua camisa, deixando alguns beijinhos pelo seu rosto.


— Não — completou ao respirar fundo —, é um pouco mais

sério do que pensei, mas teremos que esperar até amanhã para

resolver. Já é muito tarde no local onde a empresa está sediada.


— Entendo. — Terminei de desabotoar, espalmando minha

palma contra o peitoral definido, minha unha deslizando pela sua


pele, encontrando o abdômen trincado, fazendo-o estremecer.

— Mas não quero falar sobre isso agora, değerli. — A mão

que estava sobre as minhas costas começou a traçar a linha da


minha coluna, até chegar às minhas nádegas, apertando a popa

suavemente.

— Não? — disse em um tom inocente, abrindo o cós da sua

calça, deslizando um dedo pelo elástico da sua cueca.


— Não — segurou a minha mão quando ia adentrar a peça, a

fim de tocar o pênis rígido —, confesso que estou mais interessado

nos motivos pelas quais você estava usando algo completamente


transparente e ficou nua no meio do meu escritório.

— Não gostou? — provoquei-o, tomando o lóbulo da orelha

dele entre os meus dentes, puxando suavemente.

Grunhiu.
— Você sabe que eu amei. — Apertou minha popa com mais

pressão e foi minha vez de gemer. Ia ao delírio quando ele usava

sua pegada forte em mim.


— Humm…
— E então? — Deu um leve tapa na minha bunda. — Não vai

me dizer?

— Tinha visto na internet uma brincadeira de uma mulher

com o parceiro e resolvi tentar — confessei, sentindo um pouco de


vergonha quando ele ergueu a sobrancelha negra.

Com ele me encarando daquele jeito, me pareceu uma

grande bobagem agora.


— Interessante — disse, seu dedo passando a brincar com a

minha fenda traseira. — E depois, o que acontece? Digo, nesse

vídeo?

Dei de ombros.
— Não faço a mínima ideia — dei um sorriso, completando

com malícia —, mas no nosso caso, tenho certeza de como irá

terminar.
Sem esperar uma resposta, segurando-o pelo queixo, trouxe

seus lábios entreabertos pela respiração ofegante em direção aos

meus, deixando pequenos selinhos neles, até que saqueei sua

boca, minha língua encontrando a dele em um beijo sôfrego. Os


pelinhos da barba arranhavam-me, mas tomei como um estímulo a

mais, querendo senti-los em várias partes do meu corpo.


Emiti um suspiro de prazer quando, embrenhando sua mão

em meu cabelo, ele assumiu o controle, seus lábios tomando os


meus com uma fúria deliciosa que fazia com que pequenos choques

de prazer me invadissem. Não me importei nenhum pouco com a

possessividade do seu beijo, pois precisava com desespero que ele

continuasse a me beijar. E ele continuou, mordiscando meus lábios,


roubando meus gemidos quando sua língua me possuía, imitando o

movimento de penetração que eu tanto desejava ao passo que

segurava em concha um dos meus mamilos, provocando o bico teso


com uma mão, enquanto a outra segurava meu quadril.

— Yazuv — murmurei o nome dele em meio a um gritinho

quando interrompeu o beijo, e se inclinou contra meu pescoço. Uma


comichão me percorreu de cima a baixo no momento que senti o ar

quente da sua respiração tocar minha pele, me fazendo arrepiar,

demonstrando minha excitação.

Fechando os olhos, joguei a cabeça para trás, expondo-me


ainda mais assim que ele pinçou com o indicador e polegar minha

auréola, beliscando-a suavemente, fazendo o mesmo com o outro

mamilo. Movimentando-me suavemente sobre ele, com sua ajuda,


eu choramingava com o prazer que banhava minhas veias, ouvindo

seus gemidos roucos como resposta.


Quando sua língua deslizou pela extensão da minha
garganta, a barba provocando-me arrepios, arfando e me

arqueando, adentrei minha mão na sua camisa e finquei minhas

unhas em seu ombro, provavelmente deixaria marcas, mas ele


também deixaria a deles sobre mim, e o gemido misturado a um

som selvagem que escapava pela sua garganta indicando que ele

não se importava com a dor, preso no seu próprio prazer. Mexi-me


no seu colo outra vez ao sentir um certo incômodo na minha coluna

pela falta de apoio, porém eu necessitava que ele continuasse com

as suas carícias que me deixavam cada vez mais mole, perdida em

sensações.
E ele não me decepcionou. Apertou o meu seio com mais

força, amassando-o contra a sua palma, fazendo com que meu sexo

se contraísse, enquanto sua boca deixava beijos, mordidas,


lambidas e sugadas pela minha pele. Arfei ao sentir uma

mordiscada no ponto de junção do meu pescoço e clavícula, a


língua úmida e hábil traçando círculos lentos no local e no momento
em que ele passou a alternar com pequenos sopros quentes, passei

a roçar minha vagina no pau ereto com mais intensidade, molhando


o tecido da calça dele com o meu líquido. Porém os meus
movimentos eram dificultados pelo volume da minha barriga,
impedindo-me de conseguir o estímulo no meu clitóris que eu tanto
ansiava e que me faria estilhaçar em mil pedaços.
Abri os olhos, e um protesto baixinho escapou dos meus

lábios pela frustração que sentia. Parando de me tocar com a boca,


para a minha decepção, ergueu o rosto e me encarou com os olhos
repletos de desejo por alguns instantes, curioso, enquanto eu

continuava na minha tentativa malograda de alcançar mais um


patamar na escalada do orgasmo.
Mas o homem que amava conhecia cada nuance do meu

corpo e não precisei pedir para que ele me ajudasse, pois,


beliscando o meu seio uma última vez, senti seus dedos deslizarem
pela minha barriga, acariciando-a, detendo-se um pouco no ventre

redondo, percebendo os chutes dos nossos bebês que estavam


agitados. O sorriso que ele sempre dava ao sentir nossos trigêmeos
fez com que uma onda de amor por Yazuv me engolfasse e eu parei

meus movimentos, apreciando aquele contato terno que me fazia


estremecer por outras razões.

Não tinha ideia de quanto tempo havia durado aquele


momento, porém logo senti seus dedos avançarem, encontrando os
pelos que cobriam o meu sexo, brincando com eles. Fitando-o,

cravei mais minhas unhas nele ao sentir seus dedos percorrendo


meus grandes lábios, testando minha umidade, aumentando a
tensão que me consumia. Enquanto me estimulava, eu arqueava a
minha pelve contra a mão dele, ansiando que ele aplacasse logo

aquele calor e tensão que voltava a me deixar completamente


sedenta, mas ele apenas continuou a tocar suavemente as bordas

da minha vagina, ao passo que erguia a mão que estava nos meus
quadris. Levando-a aos meus cabelos, enrolou várias mechas entre
seus dedos, possessivo, e me puxou para outro beijo que não

condizia com a minha urgência, pois os lábios deslizavam


lentamente contra os meus, deixando pequenos selinhos, voltando a
moldar nossas bocas, impregnando meus sentidos, fazendo-me

entreabrir meus lábios para ele, necessitando do seu beijo, tanto


quanto precisava de ser preenchida.
Segurando meus fios com mais firmeza, em uma pegada

mais forte, sua língua mergulhou na minha boca indo de encontro à


minha, convidando-a para aquela dança sensual e erótica,
abrasadora. E eu retribui com fome, envolvendo-o na minha teia de

desejo, sugando-o, fazendo os quadris dele se erguerem em um


espasmo. Presa ao gosto do seu beijo voraz, aos sons dos gemidos

que ele emitia e a voracidade que seus quadris procuravam os


meus, pegou-me desprevenida ao penetrar-me com o indicador e o
do meio em um tranco. Meus músculos retesaram com a invasão
deliciosa, tentando prendê-los, e eu fiquei mole em seu colo,

segurando seus ombros com mais força, choramingando com o


prazer e com o calor que irradiou pelo meu âmago.
Entrando e saindo do meu canal lentamente, sem tocar o

meu ponto que tanto ansiava, aumentou o ritmo com que me


invadia, inserindo mais um dedo, fazendo com que eu ondulasse

meu corpo contra a mão dele. Estava cada vez mais perdida, vendo
tudo desfocado, esquecendo-me completamente das dores nas
costas e até mesmo da minha barriga enorme que tornava

impossível me fundir a ele, embriagada pelo toque que ia mais


fundo do meu interior, pela sua língua sedenta que parecia devorar
cada canto da minha boca, mas principalmente pela tensão por se

controlar, pela sua generosidade com o meu prazer.


— Por favor, Yazuv — sussurrei com a voz entrecortada,
pedindo que ele me levasse ao ápice.

— Seu desejo é uma ordem, karı— respondeu ofegante,


voltando a tomar minha boca em outro beijo, roçando o polegar no
meu clítoris, fazendo com que eu estremecesse.

Friccionando a carne inchada, roubando meus gemidos cada


vez mais altos e agudos, engolindo-os através do beijo, continuou a
me provocar, deixando-me mais próxima de convulsionar.

Acelerando a fricção que fazia no meu clitóris, fez um gesto com


dois dedos, tocando no meu ponto G, roçando a parede rugosa,
estímulo que tínhamos descoberto que me dava um prazer

imensurável.
Completamente bamba, movimentando-me instintivamente
contra a mão dele, não precisou de muito para que eu me deixasse

levar pela onda de mais um orgasmo poderoso, estremecendo com


as sensações que se espalhavam daqueles pontos e percorriam

todas as minhas extremidades. Estremecendo, emitindo sons baixos


em meio ao beijo agora lento, carinhoso, eu não tinha forças para
continuar a me movimentar sobre ele, porém Yasuv continuou com

os seus estímulos, seus dedos trabalhando avidamente no meu


canal e no meu ponto de prazer já sensível pelas suas carícias,
fazendo com que minhas paredes vaginais se contraíssem ainda

mais, até que uma segunda onda me tragou outra vez.


Eu prensei seus dedos no meu sexo, mantendo-os dentro de
mim. Respirando com dificuldade, deixei um beijo no peito dele, e

abracei-o, minha barriga colada ao abdômen dele, como se ele


fosse uma tábua que impediria meu naufrágio, deixando que o
prazer do êxtase me consumisse. Tocando a minha barriga, voltou a
acariciá-la com ternura, fazendo-me sentir preciosa, amada e
completa, dando ao êxtase uma conotação que ia muito além do
mero prazer físico e carnal. Vez ou outra, movimentava-se em meu

interior, estimulando-me novamente, arrancando sons baixinhos,


enquanto deixava uma série de beijinhos doces pelo meu rosto
suado.

O toque dos seus lábios na minha testa e os seus


significados fazia meu coração bater mais acelerado, embora
lentamente aquele torpor delicioso do sexo passasse. Ficamos

assim por um bom tempo até que, erguendo um pouco meu corpo,
ele removeu a mão do meu interior, e eu sentei nele com força,
sentindo-o duro debaixo de mim com o desejo insatisfeito.

Sabendo que era fitado, levou cada um dos dedos


impregnados do meu líquido aos lábios, lambendo-os como se fosse

um mel, eu pensei que morreria pelas chamas que voltaram a me


consumir. Em uma carícia completamente erótica, levou o indicador
úmido aos meus lábios e eu envolvi o dedo dele com a minha boca,

sentindo o meu gosto, sorvendo-o da maneira que ele havia feito. O


modo como os olhos dele cintilavam, os sons que veio da sua
garganta e a forma que seu pênis inchado pareceu crescer ainda

mais debaixo de mim era uma recompensa. Ousada, continuei a


chupá-lo, insinuando-me, provocando-o da maneira que eu queria
sorver seu pau, e enquanto o instigava, mesmo cansada, eu sentia

uma nova tensão se formar em meu interior, dessa vez, com a


necessidade de ser preenchida pelo seu membro.
— E depois? — perguntou com a voz rouca ao remover seu

dedo dos meus lábios, deslizando-o pelo meu rosto.


Olhei-o, confusa, minha mão tocando a dele que deslizava
pelo meu ventre. Não tinha a mínima ideia do que ele estava

falando.
— O quê?
— Depois de você ficar nua para o seu homem,

interrompendo o trabalho dele — disse com posse, sem esconder o


orgulho de se denominar como o meu homem, constatação que me
deixou excitada. Poderia ter brincado várias vezes com Yazuv de

que ele era ciumento, mas não podia mentir que a recíproca era
verdadeira. Talvez fosse a convivência com ele que me fez tornar-

me possessiva, mas adorava pensar nele como sendo o meu


homem. Somente meu.
— E após eu ter dado prazer a benim değerli, deixando-a

satisfeita, o que acontece a seguir? — continuou a questionar.


— Humm…
Ergueu a sobrancelha para mim, querendo uma resposta
menos evasiva.

— E quem disse que eu estou satisfeita, adamım[41]? — puxei

a última palavra que havia procurado na internet e os olhos dele


brilharam com intensidade, mas logo a lasciva transformou-se em

uma careta.
— Que Allah me proteja dessa mulher insaciável —
sussurrou contra a minha orelha e eu estremeci.

— Como se você não gostasse. — Dei um tapinha no peitoral


dele e aproveitei para acariciá-lo, deslizando as pontas dos dedos
pela rigidez dele, contando os gominhos do abdômen.

— Na verdade, o meu problema é que eu a amo demais, se é


que me entende. — Beijou a ponta do meu nariz e eu senti várias
borboletas no meu estômago, ignorando o chute mais forte de um

dos meus bebês.


Nunca me cansaria de ouvi-lo dizer e repetir o quanto me
amava. Sempre era um grande deleite.

— Então você vai amá-la ainda mais quando souber o que


ela tem em mente — disse, provocando-o.

Sem esperar ele reagir, roubei um selinho e mesmo com as


minhas pernas moles, ergui-me, correndo nua pelo escritório, ciente
de que em seu estado excitado, Yasuv viria atrás de mim. Os

passos pesados dele ecoando pelo ambiente, em meio ao som da


respiração acelerada, eram apenas a confirmação disso e, antes
que eu pudesse alcançar a porta, senti braços me envolverem e,

com cuidado, passando um braço pelas minhas pernas enquanto


uma mão apoiava minhas costas, ergueu-me no colo, como se

meus quilos a mais não fizessem nenhuma diferença para ele.


Deus, aquele homem não conseguia ser menos
másculo? Porque seguro de si e arrogante eu sabia que era

impossível.
Gargalhei com o pensamento, fazendo-o erguer a
sobrancelha em questionamento, mas não disse nada, apenas, mais

uma vez, enlacei seu pescoço, movimentando minhas pernas


enquanto ele caminhava em direção ao nosso quarto.
— Você comanda dessa vez, güzel — disse em meio a

respiração ofegante ao me depositar no centro da cama com


cuidado, deitando-me de lado, apenas para se colocar atrás de mim,
tirando meus cabelos do caminho para beijar a minha nuca.

Foi impossível para mim não estremecer com o tom rouco


que era uma carícia, com seus lábios sobre a minha pele e com os
significados doque disse. Yazuv na cama, como fora dela,
costumava gostar de estar sempre no controle, algo que fazia parte
da sua personalidade, mas me surpreendia que várias vezes ele o
cedia para mim, deixando que eu fizesse o que queria com o seu

corpo, mesmo com as minhas atuais limitações. Sendo mais


experiente do que eu, apesar de que não quis saber sobre seu
passado com outras mulheres, ele sempre estava disposto a tentar

coisas novas comigo. Estávamos aprendendo coisas novas juntos, e


eu gostava muito dessa parte da nossa relação, do fato dele se
colocar em minhas mãos sem nenhuma ressalva.

Parei de raciocinar quando seus lábios voltaram a pousar


sobre o meu pescoço, deslizando pela linha da minha coluna, em

uma carícia gostosa que me deixava completamente arrepiada, pelo


contraste da umidade da sua boca e língua com o ar frio do ar-
condicionado. Gemendo, envolveu meu seio entre seus dedos,

massageando-os com ternura, enquanto sua outra mão deslizava


suavemente pela minha barriga, contornando todo o volume
abaulado, fazendo os trigêmeos reagirem a ele.

— Eles estão agitados hoje — murmurou, subindo com a


língua novamente até encontrar a minha orelha, brincando com o
lóbulo.
Presa nas sensações que ele me despertava, não respondi.
Apenas foi instintivo para mim roçar a minha bunda na sua pelve,

rebolando contra a ereção contida pelo tecido da calça, fazendo


com que ele rosnasse no meu ouvido e intensificasse suas carícias
no meu seio, eu ansiei por sentir seus lábios sugando a

protuberância. Pressionei-o ainda mais com minha bunda, jogando


meus braços para trás, alcançando seus cabelos e puxando-os com
força, quando seus dedos deslizaram em direção ao meu sexo,

deixando um rastro de expectativa e uma antecipação angustiante.


Porém, dessa vez, reunindo o resto de racionalidade que havia em
mim, mesmo com o meu corpo todo protestando, segurei sua mão,

impedindo que ele inserisse seus dedos em meu interior e me


estimulasse, fazendo com que eu perdesse o controle e a

capacidade de fazer aquilo que eu desejava.


— Aşk? — perguntou com a voz rouca depois de plantar um
último beijo em minhas costas e suavemente me virar de frente para

ele.
Apesar de ainda haver luxúria em seus olhos, também tinha
uma centelha de preocupação comigo que me enterneceu.

Erguendo a mão, toquei sua barba, acariciando-a suavemente,


sentindo cócegas na minha palma.
— Está tudo bem?

Fiz que sim com a cabeça, um sorriso brotando em meus


lábios. Aquele homem me desarmava facilmente somente com o
seu zelo e delicadeza.

— Não está mais disposta? — Colocou uma mecha do meu


cabelo que colava ao meu rosto atrás da orelha. — Eu entendo se
você não quiser continuar.

— Eu ainda quero você — sussurrei, inclinando-me para


deixar um beijo no seu pescoço, bem onde sua veia pulsava com
força.

— Então...? — perguntou, confuso, gemendo alto quando


meus dentes rasparam sua pele, minhas unhas deslizando pelo
peitoral firme.

Senti-me gloriosa quando ele retesou ao meu toque, o


abdômen se contraindo e sua pelve movimentou-se em um

espasmo, desejoso por me penetrar.


— Não era eu quem deveria estar no comando? — disse,
maliciosa, alcançando o seu pau, apertando-o suavemente sobre a

calça.
O som estrangulado que ecoou no quarto, em meio a um
bufar, me fez dar uma gargalhada de euforia e deu-me coragem
para continuar estimulando-o, friccionando o pênis, sentindo o tecido

cada vez mais úmido pelo pré-gozo dele, incitando-o sem dar aquilo
que queria.

— Tanri — murmurou entre dentes, sua mão encontrando a


minha.
Quando ele tentou guiar meus movimentos, para que

aumentasse o ritmo, pedindo em meio a gemidos que eu abrisse os


botões da calça e o tomasse em meus dedos, eu parei de tocá-lo,
arrancando outro som de insatisfação dos seus lábios. Tentou se

vingar de mim, roçando suavemente o dorso da mão na lateral do


meu seio, porém dei um tapinha nele, impedindo-o outra vez.
— Você é má — falou em meio a um arfar, seus olhos

brilhantes dizendo-me que ele adorava que eu fosse malvada com


ele.
— Ainda não viu nada — deixei um beijo no local onde seu

coração batia acelerado e o empurrei.


Sob seu olhar ardente, que fitava cada pedaço da minha
pele, movimentei-me no colchão e sentei-me apoiando na cabeceira

da cama, deixando minha coluna ereta. Tocando a minha barriga por


baixo, sentindo o peso dela e os pequenos movimentos dentro dela,

observei-o.
— Val? — Havia novamente confusão nele.
— Tire a roupa — ordenei em um tom imperioso, que
rivalizava com o dele, e ele arqueou a sobrancelha — quero que se

dispa para mim.


Fitou-me por vários segundos enquanto me brindava com um

sorriso lascivo que se tornava cada vez maior, como se fosse um


predador. Eu havia mexido com a fera e ele iria me devorar quando

minha brincadeira acabasse. O pensamento fez com que um ardor


surgisse na minha vagina, pulsando com o desejo de ser preenchida
por ele. Sim, queria e muito ser a presa dele, tanto que quase voltei
atrás no meu pedido. Quase.
Pensei que não iria fazer como o ordenado, porém levantou-
se da cama com movimentos lentos, ficou de frente para mim, e

como sentisse um prazer enorme por saber que era comido com os
olhos, começou a remover a camisa social. Os gestos deliberados,
calculados para me provocar, o sorriso maroto e as duas ônix
repletas de luxúria, deixavam o meu coração cada vez mais
descompassado. Jogando a camisa no chão, pude observar como

os músculos dele se contraíam e pareciam tensos, bem como as


marcas e vergões que eu havia deixado nele.
Quando começou a abrir o botão da calça, descendo o zíper,
mostrando a cueca preta babada pelo seu líquido, senti a minha
boca secar com desejo, tanto que precisei umedecê-los com a ponta

da língua, gesto que não passou despercebido para ele, que sorriu
ainda mais enquanto deslizava o tecido pelas suas pernas
lentamente, removendo-a e expondo as coxas firmes cobertas por
pequenos pelos que o deixavam ainda mais másculo.
— Gosta do que vê, değerli? — A voz grossa chegou-me com
uma carícia e eu gemi quando ele enfiou a mão dentro da cueca e

tirou o seu pau para fora, acariciando a extensão suavemente, que


pulsava ao seu toque.
Balancei a cabeça em concordância, me sentindo incapaz de
pronunciar uma palavra sequer em transe pelos seus movimentos
de vai e vem deliberados, que não tinha intenção nenhuma de se
liberar, apenas provocar a minha libido, deixando-me mais molhada

e excitada, fazendo-me provar do meu próprio veneno.


Afastou a mão do seu pênis para deslizar a boxer pelo seu
corpo com um puxão, como se fosse meu stripper particular.
Ficando completamente nu, seu pau parecendo crescer ainda mais
sob o meu olhar, voltou a se estimular, rodeando sua espessura,

bombeando-se com mais intensidade. Ele masturbava-se para mim,


emitindo sons baixinhos enquanto devorava o meu corpo. As
pequenas veias pareciam saltar na sua extensão, seu líquido
melando seus dedos.
— Responda — ordenou com a voz esganiçada, trincando os
dentes.

Engoli em seco, voltando a umedecer meus lábios.


— Sim. — Mal ouvi minha própria voz. Nunca três letras
foram tão difíceis de se dizer enquanto eu continuava a acompanhar
seus movimentos, sedenta.
Não havia dúvidas de que eu poderia alcançar o ápice
somente observando a cadência ritmada que se autoinfligia, ouvindo

os sons que ele emitia ao se dar prazer, sabendo que ele me fitava
com igual luxúria. Porém, eu realmente necessitava tê-lo dentro de
mim, de ser preenchida, daquela conexão prazerosa de ter os
nossos sexos unidos e de chegarmos juntos ao orgasmo. E eu
precisava agora.
— Pare — forcei-me a dizer.

Dando uma última bombeada, ele fez o que eu solicitei,


soltando um som rouco que demonstrava que ele estava no limite
de aguentar. Encarando-me com intensidade, esperando o meu
próximo comando, e eu estremeci perante o seu escrutínio que me
deixava em brasa. E eu soube que eu também estava por um fio.

— Fique meio de lado na cama — continuei.


— Seu desejo é uma ordem, aşk.
Com movimentos controlados, sedutores, se aproximou
novamente da cama, o peso dele afundando o colchão. Deitando-se
de lado próximo de onde eu estava, apoiou a cabeça em uma mão e

me encarou. Por alguns segundos apenas ficamos nos encarando,


sentindo a tensão sexual crepitar entre nós dois, até que, me
movimentando, aproximei-me do seu corpo nu. Um suspiro baixinho
escapou dos meus lábios quando a barriga me impediu de ficar
completamente colada a ele. Esticando um braço, acariciou meu
rosto, seu toque suave quanto o de uma pluma, e eu tive que lutar

para não fechar os olhos, ronronando como uma gatinha.


Sentindo um calor gostoso me invadir pelo toque gentil, que
me inflamava, tentei relembrar tudo que li sobre a posição
denominada “cruz”, embora houvesse várias variações.
— O que eu devo fazer agora? — perguntou com a voz
rouca, cheia de antecipação, quando eu passei um braço por

debaixo dele, segurando o seu ombro.


— Flexione as pernas e incline mais um pouco seu tronco na
minha direção. — Hesitei, incerta.
Foi impossível não me sentir um pouco insegura para
comandar aquela posição, ainda mais quando nunca havia feito

assim antes e não tinha ideia se ela funcionaria. As imagens que vi


não eram muito explicativas, além de que eu não tinha encontrado
nenhum vídeo que mostrasse a execução. Mas o sorriso que me
deu enquanto fazia aquilo que eu tinha pedido me passou confiança
para continuar.
— Assim? — questionou, se acomodando na posição que

pedi.
— Envolva meus quadris também.
Quando seu braço poderoso me envolveu, coloquei minhas
pernas sobre o corpo dele e flexionei-as de modo que meu sexo
tocasse sua pelve, minha coluna ficasse reta e minha barriga

apoiada no colchão.
Ter o seu pau tão próximo à minha entrada, pulsando, fez
com que eu soltasse um gemido baixinho e rouco, e rebolei contra
sua ereção, obtendo um grunhido em resposta, sua mão segurando
com mais força meus quadris. E não precisei dizer mais nada, pois,
como se guiado pelos próprios instintos e compreendesse o
mecanismo da posição sexual, com a mão livre, rodeou o seu pênis
e lentamente encaixou sua glande na minha entrada que estava
mais do que pronta para recebê-lo.
Prendendo-me ao seu olhar, com um impulsionar dos
quadris, penetrou-me em um tranco, deslizando facilmente pelo meu
interior, fazendo com que eu o segurasse com mais força,

enterrando meus dedos em sua pele. Um gritinho escapou pelos


meus lábios quando roçou no meu ponto de prazer. Ondulando-me
contra ele, meu corpo todo reagia à invasão prazerosa,
estremecendo, prendendo-o, meus músculos oferecendo resistência
aos seus movimentos, principalmente quando começou a se retirar
sem nenhuma pressa, contradizendo sua expressão dominada pela

tensão, os ruídos da sua respiração acelerada e o olhar faminto.


Parando no meio do caminho, voltou a se impulsionar para dentro
de mim, e eu senti minha visão nublar com o prazer indescritível que
era senti-lo se movimentando lentamente no meu interior,
embalando-me naquela dança suave, que exigia que eu me

movesse conforme o ritmo dele, movendo a minha pelve à medida


que era possível, buscando encaixá-lo ainda mais dentro de mim.
Choraminguei quando se retirou por completo, apenas para
perder-me nas ondas do desejo quando ele voltou a me penetrar
lentamente, a posição permitindo que ele chegasse ainda mais
fundo, roçando pontos que aumentavam o meu prazer, fazendo com

que a tensão que se acumulava dentro de mim crescesse, levando-


me ao ápice. Ainda segurando meu quadril, ajudou-me a me
movimentar, já que a posição exigia mais esforço e vigor da parte
dele do que da minha. Mas ele não parecia se importar, insaciável,
tomando o controle para si, entrou e saiu do meu canal várias
vezes, deslizando-se pela minha umidade. Cada vez mais presa ao

prazer e a tensão que ele fazia-me sentir, contraí meus músculos ao


redor do seu pênis, e nós dois gememos em uníssono, presos
naquelas sensações deliciosas proporcionadas pelo encontro dos
nossos corpos.
Ondulando de encontro a ele, soltando sons baixinhos,
passei a fazer movimentos pélvicos de contração, sentindo que o

ombro dele ficava mais tenso com o esforço que imprimia para
prolongar nosso sexo, algo que eu não queria, estando cada vez
mais próxima ao abismo.
— Por favor, Yazuv — implorei em um sussurro, levando a
minha mão livre aos seus cabelos molhados pelo suor, entrelaçando

meus dedos aos fios, enquanto ele continuava a me preencher


lentamente.
Necessitava que ele intensificasse o ritmo das suas
investidas, que perdesse o controle, que ele me fizesse chegar
cada vez mais alto, arrastando-me para outro orgasmo poderoso.
Como se meu pedido liberasse o animal faminto que havia

dentro de si, passou a me penetrar com mais vigor, arrematando-me


com mais força, ao passo que fazia com que eu desse pequenas
quicadas no seu pau. Ele não era mais comandado pela paciência,
mas, sim, pelo seu lado primitivo, que o tornava cego perante ao
desejo selvagem pela própria libertação.
Rosnando, sua respiração cada vez mais acelerada, seus

olhos mais escuros, indicando que o êxtase se aproximava, imprimiu


ainda mais velocidade aos seus impulsos, jogando-me na espiral
insana que me tragava com a sua força. Segurando a minha cintura
com mais pressão, começou a remover-se de dentro de mim,
apenas para fazer com que eu o recebesse antes de completar o
seu movimento de me preencher, meu grito agudo de prazer

ecoando por todo a suíte, mesclando aos sons que ele emitia.
Enquanto ele continuava a fazer todo o trabalho por nós dois,
aumentando ainda mais o ritmo de vai e vem, fechei os olhos e tudo
pareceu se intensificar, as sensações que banhavam as minhas
veias, os barulhos que escapavam das nossas bocas, o som dos
estalos provocados pelo chocar das pelves, o cheiro pungente de

suor.
Movidos pelos sentidos que estavam cada vez mais
aguçados, senti que meus músculos se contraíram com o orgasmo
quando ele me penetrou com intensidade uma última vez.
Completamente mole, presa ao torpor do êxtase, o rugido baixo de
satisfação que ele emitiu com a própria libertação parecia um som

distante, sendo indicativo que tinha chegado ao topo do prazer o


seu líquido quente me preenchendo. Continuando a me bombear
suavemente, usando o restante das suas forças, friccionando-se nas
minhas paredes que o agarravam, prolongou por mais alguns
instantes o nosso prazer até ceder ao cansaço. Com a respiração

entrecortada, continuamos a nos encarar em silêncio e lentamente


retirei minhas pernas de cima dele.
Como era típico de Yazuv, com uma ternura que fez
pequenas lágrimas se formarem em meus olhos, girou-me,
deixando-me de costas para ele e me abraçou, colando seu peitoral
nas minhas costas; fazendo-me sentir o calor gostoso que irradiava

do seu corpo. Coroava o nosso amor delicioso com pequenos


beijinhos pela minha pele nua e com suas mãos acariciando
gentilmente minha barriga.
— Não foi incômodo para você? — perguntou-me sobre a
posição.
— Não, Yazuv — sussurrei com a voz cansada, aninhando-

me mais contra ele —, foi muito gostoso, apesar de tudo.


— Apesar de tudo? — Sua voz saiu cheia de insegurança
mesclada a um tom de decepção e muxoxo, como se eu estivesse
criticando a sua performance.
Homens!
Soltei uma risada baixa, fazendo-o bufar, rindo ainda mais ao

imaginar a carranca que ele deveria estar fazendo.


Não entendia os motivos pelos quais o CEO todo poderoso,
arrogante, prepotente e autoconfiante muitas vezes acabava por
demonstrar uma insegurança descabida sobre seu desempenho na
cama. Ele era bem consciente de tudo aquilo que despertava em

mim e o fato de ficar completamente mole em seus braços, gemer e


me sentir convulsionar em meio ao sexo, deveria demonstrar a ele o
quão bom era.
— Você sabe que é muito bom de cama — respondi com a
voz fraca, sentindo-me cada vez mais sonolenta, sabendo que
alimentaria ainda mais o seu ego.
— Sei? — Soou arrogante e, jogando meus cabelos para
frente do corpo, deixou uma série de beijinhos na minha nuca
enquanto seus dedos deslizavam pela minha barriga. Não podia
negar que gostava do toque dele que sem nenhuma dúvida criava
uma conexão ainda mais forte com os nossos trigêmeos. — Hm,

continue.
— Besta — fingi ralhar com ele e rocei suavemente minhas
nádegas no seu pênis, fazendo com que ficasse rente a minha
fenda.
— Foi ruim? — insistiu naquela conversa absurda, e eu
pisquei os olhos, sentindo minhas pálpebras pesarem.

— Senti falta dos seus beijos em meio ao sexo, só isso —


minha voz saiu rouca.
— Isso eu posso resolver. — Foi ainda mais arrogante.
Porém não me importei nenhum pouco, ainda mais quando
se apoiando em um braço, inclinou-se na minha direção enquanto

erguia meu rosto para o dele, beijando os meus lábios com uma
ternura excessiva, moldando-os, provocando pequenos estalos.
Mordiscando-os suavemente, entreabriu minha boca com meiguice
antes de invadir com a língua, aprofundando o beijo, gemendo com
a própria intensidade que imprimia ao contato, ora adotando um
ritmo lento, ora devorando-me, como se fizesse amor comigo com a

boca. Sem forças, mas não querendo que ele interrompesse,


retribuí, acariciando o seu couro cabeludo com movimentos suaves,
sentindo-me completamente quente por razões diversas. O beijo
não só alimentava o desejo que sentia por ele, mas aquecia a minha
alma de diferentes maneiras. Ele mais uma vez impregnava meus
sentidos com o seu amor. Puxei seu rosto ainda mais de encontro

ao meu, tomando seus lábios entre os meus dentes, antes de voltar


a mergulhar minha língua em sua boca, degustando o sabor dele.
— Melhor assim, aşk? — perguntou com a voz entrecortada,
quando precisamos parar para respirar
Deixando um selinho nos meus lábios que formigavam, voltou
a se acomodar e a me abraçar por trás. Seu queixo apoiando sob

meus ombros, suas mãos quentes e possessivas espalmando sobre


minha barriga, num ato que tanto gostava.
— Sim — respondi em meio a um sorriso, emitindo um
bocejo, aninhando-me nos seus braços, que sempre pareceram ser
a minha casa.

— Da próxima tentaremos uma posição que permitam vários


beijos — falou algum tempo depois.
Não respondi, pois o sono acabou me invadindo, levando-me
a sonhar com Yazuv embalando duas crianças em seus braços,
enquanto fitava uma menininha que dormia calmamente em meu

colo.
— Isso é muito bom — a mulher que eu amava disse em um
tom baixinho.

— Que bom que gosta, aşk — disse em um tom malicioso.


Não contive o sorriso de orelha a orelha por cuidar da minha

mulher, algo que me enchia de prazer, tanto que costumava

abandonar o trabalho, os relatórios e até mesmo reuniões para


mimá-la, fazer as vontades mirabolantes como comer determinadas

coisas, ou fazer uma massagem relaxante, como agora.

Com os pés inchados em cima de várias almofadas, curvada


na poltrona do nosso quarto, comia morangos com chocolate

enquanto esperava a máscara de argila verde aplicada em seu rosto

fazer efeito — algo que passou a utilizar quando o excesso de


oleosidade em sua pele fez com que algumas espinhas surgissem

em sua face. Quando a vi com a cara enlameada pela primeira vez,

completamente verde, tive que me segurar para esconder o meu

espanto e depois a risada, principalmente quando colocou duas

rodelas de pepino sobre suas pálpebras. Colocando a fruta na boca,


gargalhou baixinho ao ganhar algumas carícias de Aylla que não

desgrudava da minha mulher, dando cabeçadas nas suas coxas,

latindo para ela. Assim, Valdete parecia uma verdadeira rainha.

Melhor, ela era a minha kraliçe e eu o seu súdito mais devoto. Eu


estava cada vez mais insano por aquela mulher, que sempre me
deixava em constante estado de alerta e excitação. Há um ditado na

Turquia que, embora dissesse a respeito da sorte financeira, poderia

muito bem se encaixar com relação ao amor: “um homem não

procura a sua sorte; é a sua sorte que o procura”. Por toda a minha

vida eu não havia procurado pelo amor. Na verdade, até tempos

atrás, achava que eu não precisava dele, porém, mesmo assim, o


sentimento havia me procurado de uma forma improvável, me

atingindo em toda a sua força, fazendo com que eu reconhecesse

novas faces de mim mesmo.

Valdete era a minha sorte.

Hoje eu não conseguia enxergar mais uma vida sem os seus

sorrisos e risadas, sem o seu cheiro e calor. Sem a nossa família.

Sem ela.
Sorrindo ainda mais, balançando a cabeça como se eu fosse

um homem perdido, mas que nunca se sentiu tão completo, apliquei

um pouco mais de pressão em seus ombros nus, deslizando com

facilidade meus dedos por conta do óleo de amêndoas, e inclinando-

me sobre ela, percebi que fechava os olhos, sonolenta. O último

trimestre de gestação havia cobrado seu preço e além do cansaço


natural, ela estava inchada, as dores nas costas tornaram-se ainda
maiores, sua respiração ficava ofegante ao fazer qualquer esforço

físico, fora as várias câimbras que a acometia. Não que ela


reclamasse, pois, apesar dos desconfortos, nada parecia mais

importante para a mulher do que ver que nossos bebês se


desenvolviam conforme o esperado para a vigésima nona semana.
Mas ainda assim, eu teria dado todo o meu dinheiro para tomar para

mim alguns daqueles sintomas que tanto a incomodavam e a


deixavam cada vez mais frágil.

Vendo-a tão relaxada, não resisti e acabei deixando um


beijinho na nuca dela, exposta pelo coque frouxo que ela tinha feito,

regozijando-me por deixá-la arrepiada. Desfazendo todos os nós de


tensão, vez ou outra, voltava a dar beijos nela, e quando pressionei
um ponto em que parecia mais distendido, emitiu um suspiro

baixinho que me pareceu o som mais sensual que tinha ouvido e


reverberou nas minhas vísceras. Todo o meu sangue pareceu

acumular no meu pênis, que se esticou dentro da minha cueca. Não


contive o meu próprio gemido quando a ereção latejou

dolorosamente, querendo-a.
Pensei que manter-me em abstinência no período de
resguardo da benim değerli seria uma tarefa mais fácil, mas não

poder fazer amor com ela vinha sendo um verdadeiro martírio, pois
não importava quantas vezes eu a tive antes desse período, eu

sempre queria mais dela, do seu corpo, do seu calor, dos seus
gemidos. A fascinação que sentia por cada mudança lenta que

transcorria durante a gestação, só aumentou com o decorrer dos


dias, tornando-se cada vez mais intensa. Só de pensar nas formas

dela, no ventre volumoso, fazia com que o desejo corresse mais


forte pelas minhas veias, meu pau pulsando com mais intensidade,
e eu senti minha boca salivar.

Com relação a ela, eu era um homem fraco. Imaginei que eu


seria mais forte, controlado, mas descobri que não era. Eu ansiava

por aquela mulher com fúria desmedida a ponto de sentir dor.


— Yazuv? — murmurou com a voz sonolenta, piscando os
olhos várias vezes, retirando-me do fluxo de pensamentos,

provavelmente eu havia gemido alto outra vez.


— Não é nada querida, apenas relaxe — plantei um outro

beijo na parte de trás da orelha e ela emitiu outro suspiro, que eu


interpretei como mais um som erótico, e eu tive que conter a minha

vontade de chiar baixinho com a fome que senti —, daqui a pouco


vou remover a máscara do seu rosto.
— Hm… você daria um ótimo profissional de estética.
— Só para você — sussurrei no ouvido dela e ela gemeu
outra vez.
Que Allah me desse forças para continuar me submetendo a

essa deliciosa agonia.


Suspirando fundo, peguei um pouco mais de óleo, colocando

sobre minha palma e continuei a massagear minha mulher, para


cinco minutos depois, correr até o banheiro, acompanhado de uma
Aylla animada, latindo alto, que achava que eu estava brincando

com ela, o riso da minha mulher chegando até o cômodo em que eu


estava. Lavando minhas mãos, voltei para tirar a máscara do seu

rosto com uma toalha limpa. Pus-me a trabalhar, com a cadela me


observando, sentada, a língua para fora. Estava quase terminando

de remover tudo, quando o meu telefone começou a tocar, mas eu o


ignorei. Nada me era mais importante do que me encarregar da
mulher que sorria docemente para mim, gostando do modo gentil

que eu deslizava a toalha pela sua face.


— Não vai atender? Pode ser importante — sussurrou

quando o toque ecoou mais uma vez.


— Tudo bem — soltei um bufar de desagrado, fazendo-a rir
baixinho.
Ela parecia gostar e muito de rir de mim sempre que eu
fechava a cara ou fazia algum som que revelava meu
descontentamento. Não contive um sorriso ao pensar que ela era a

única pessoa nesse mundo que poderia rir de mim sem sofrer as
consequências.

É, aquela mulher tinha muito poder sobre mim. E eu gostava


disso. Muito.
— Yazuv — disse, como se fosse uma mãe repreendendo o

seu filho desobediente.

Contrariado, soltei a toalha, que ela agarrou para terminar de


remover o creme, e com alguns passos, aproximei-me do móvel

onde havia jogado o meu aparelho. Pegando-o, fitei o visor por

alguns segundos, sentindo o meu sangue esfriar nas veias, minha

expressão se transformando em uma máscara séria. Fazia alguns


dias que eu estava esperando aquela ligação e agora finalmente

teria minhas respostas.

— Espero que me traga boas notícias, se é que posso


chamá-las assim — minha voz saiu grossa ao atender e me virando,

encarei a benim değerli que segurava a toalha no ar.

Enquanto ouvia o homem do outro lado da linha, vi os seus


lábios se moverem, perguntando o que estava acontecendo sem
emitir nenhum som e eu apenas fiz um gesto pedindo que ela se

tranquilizasse. De nenhuma maneira queria que a minha mulher se


estressasse naquela etapa da gravidez por um problema daqueles.

Nossos bebês eram mais importantes do que qualquer coisa e

odiaria que algo acontecesse a eles por conta de nervosismo.


Ouvindo em silêncio tudo o que ele tinha a me dizer, usei

todo o meu autocontrole para não ceder a raiva que me invadia com

a gravidade da situação. Sabia que o esquema de corrupção que

levou à Motors quase à falência era algo de grandes proporções,


mas nunca pude imaginar, ao comprar a empresa, que os desvios

de dinheiro tivessem raízes tão profundas.

Conversamos por quase uma hora e depois, mergulhei em


uma série de ligações, uma seguida da outra, passando os dedos

com força pelo meu cabelo. Antes que eu pudesse fazer mais uma

chamada, senti a mão suave de Valdete tocar o meu braço,


chamando a minha atenção. Preso a fúria desmedida e a urgência

de agir logo, havia me esquecido de fazer um breve resumo a

mulher visivelmente atormentada, mas que era ansiosa demais para

esperar.
Eu não era merecedor da benim değerli. Desde que a vi,

sempre soube que ela era mulher demais para mim, e ali tive
certeza de que eu teria que vir a nascer umas mil vezes para chegar

aos pés dela. Se antes não acreditava em alma gêmea, eu tinha que

admitir que Val era a minha metade. Minha companheira. Minha


amiga. Minha.

— Está tudo bem, Yazuv? — Questionou-me com uma voz

preocupada, tirando-me daquele pequeno torpor de pensamentos.

Com ternura, começou a deslizar as pontas dos dedos pela


minha pele, traçando pequenos círculos, em um gesto que teve o

poder de me acalmar. Uma paz momentânea me invadiu quando

seus braços enlaçaram a lateral do meu corpo. Instintivamente, a


aninhei contra o meu tórax, a cabeça dela se encaixando no meu

pescoço.

— Recebi o resultado das investigações da Motors —

sussurrei.
— E então? — Plantou um beijo no meu peito, que batia

acelerado com a raiva.

— Não há ninguém do alto escalão em que eu possa confiar


— confessei em um tom baixo.

Não era uma surpresa para mim saber que todos eles

estavam, de um modo ou de outro, desviando dinheiro, fraudando

números, enviando dinheiro para paraísos fiscais, e até mesmo


usando clientes para alterar valores a serem pagos nas notas.

Nunca havia confiado neles, e o fato de ter tirado o poder de


decisão das suas mãos e ter centralizado nas minhas e na da minha

mulher dificultou as coisas para eles.

Porém isso não me impedia de sentir-me furioso por não ter


seguido meus instintos e os destituído dos cargos nesses meses

que estava à frente da companhia.

— Entendo — sua voz soou séria, e inclinando-me para ela,

deixei um beijo na sua testa, inspirando o cheiro do xampu dos seus


cabelos, acalmando-me somente através do toque e da sua

proximidade —, e o que você irá fazer?

— Primeiro, vou convocar uma reunião comunicando a


dissolução da diretoria e rescisão de seus contratos. Depois, meus

advogados entrarão com um processo na justiça pelos prejuízos que

causaram à empresa, e farão uma denúncia de fraude fiscal.

Estarão entregues à Justiça Americana. — Fiz uma pausa. —


Comprei a empresa pelo seu potencial e fechei o capital. Irei

reestruturá-la, como deveria ter feito há muito tempo.

— Sinto muito. Posso ajudar você em alguma coisa?


— Não, aşk, apenas continue me abraçando — murmurei,

plantando outro beijo no topo da cabeça dela.


— Como diz certo alguém, isso eu posso fazer — soou

arrogante.

Fitei-a por alguns minutos, arqueando a sobrancelha,

observando o semblante travesso, e mesmo diante da minha


irritação, eu não contive uma gargalhada, fazendo Aylla latir.

Sim, eu era um maldito homem que a “sorte” procurou.


Convencer Yazuv a me deixar participar da reunião ao seu
lado no estado avançado da minha gravidez, havia sido um enorme

desafio, ainda mais quando o homem me tratava como uma boneca

de louça, que, a qualquer movimento, poderia se quebrar.

Não havia dúvida que muitas achariam que os cuidados dele

eram exagerados e sufocantes, porque as vezes o eram, mas eu


era romântica o suficiente para adorar isso. Além de que,

compartilhava com ele as mesmas preocupações com relação à

saúde e o conforto dos nossos bebês. O curso que havíamos feito


juntos pareceu nos dar um pouco mais de segurança para cuidar

dos trigêmeos, além das conversas com a minha mãe e a dele, que

estava nos fazendo uma visita, nada mudava o fato de que éramos
pais de primeira viagem e que temíamos dar passos em falsos que

os prejudicassem.

— Podemos começar? — Escutei a voz da Sra Jenkins

ecoando pela sala de reunião, que nem havia percebido que estava

entre nós, e eu saí do transe, captando o seu olhar irritado e repleto

de raiva sobre mim, não sem antes perceber que a mesa estava

completa. A diretora não escondia o seu julgamento ao olhar a


minha barriga enorme, provavelmente considerava-me uma grande
cadela interesseira.

Mesmo que os enjoos não me acometessem mais há muito

tempo, senti uma onda de náusea me assolar e segurei o vômito,

endireitando-me na cadeira de modo que minha coluna ficasse o

mais reta possível, já que minhas costas estavam me matando de

dor. Desviei minha atenção para Yazuv, que se continha para não
esmurrar alguém, e por debaixo da mesa, encontrei a mão dele,

entrelaçando nossos dedos.

O aperto suave que me deu em resposta foi-me bastante

reconfortante e eu não contive meu pequeno sorriso.

— E então, senhor Ibrahim? Qual o motivo dessa reunião de

emergência? — perguntou a senhora Jenkins e, olhando-a, pude

perceber que encarava a minha presença com certa hostilidade.


Provavelmente percebia que Yazuv não estava com um ar tão

amistoso assim.

— Como todos bem sabem, antes da Motors Company ter

sido comprada por mim, a empresa vinha passando por uma série

de problemas administrativos e financeiros. — Fez uma pausa e

percebi que os rostos dos diretores antes serenos se tornavam


tensos, algo sútil, mas que era quase que uma admissão das suas
próprias culpas. Muitos franziram o cenho, comprimindo os lábios,

alguns tamborilavam os dedos contra a mesa e evitavam contato


visual com ele. A confiança havia morrido. — E como o diretor-

presidente anterior não fez nenhum esforço no sentido de fazer uma


investigação minuciosa, buscando compreender a raiz do problema,
eu mesmo mandei averiguar o que ocorreu.

— Co-co- como assim? — Um homem gaguejou e eu vi que


ele parecia suar frio.

— Você não poderia ter feito isso sem consultar a diretoria —


a voz da Sra Jenkins saiu completamente esganiçada.

— O relatório final está dentro das pastas coloca na frente


dos senhores — Yazuv ignorou o protesto, dando de ombros e
apertou a minha mão com mais força, sabendo que o pior estaria

para começar. Não havia nada que impedisse que a investigação


fosse realizada. Ele era o único dono, portanto, soberano nas

decisões. — E a carta de demissão de vocês também.


A partir daquele momento, tudo se tornou uma verdadeira

confusão. Eram várias pessoas falando ao mesmo tempo, socos


dados na mesa com ira, gritos sufocados quando alguns olharam as
cartas de demissão e os valores a serem restituídos aos cofres da

empresa, que seriam cobrados judicialmente, já que Yazuv tinha


entrado em contato com os antigos acionistas. A confusão foi

agravada quando uma equipe de segurança da empresa adentrou


na sala de reuniões para acompanhá-los até a saída, já que muitos

se recusavam a aceitar a decisão. Acredito que a imagem da Sra


Jenkins descontrolada, que foi conduzida pelo agente para fora da

sala quando começou a gritar, proferindo ameaças direcionadas a


mim e aos meus filhos, como se eu fosse a grande culpada pelos
seus infortúnios, iria assombrar-me por um bom tempo.

Yazuv tinha razão de querer ter me poupado de tudo aquilo e


eu me senti uma completa tola por ter pedido para vir com ele.

Minha presença tinha sido completamente desnecessária e não


precisava ter passado por aquilo, ainda mais no estágio final da
gravidez. Apesar da minha bexiga começar a pesar com a pressão

da minha barriga, uma companheira da minha gestação, eu não


sentia nenhum mal-estar físico, mas não podia abusar.

Sempre ciente da minha linguagem corporal, Yazuv se


colocou atrás de mim, massageando os meus ombros, plantando

uma série de beijos no topo da minha cabeça, oferecendo aquele


conforto delicioso. E eu não me neguei aquele carinho, precisando
do seu toque, daquela proximidade que oferecia um alívio. Fechei
os olhos, deixando-me levar pelo carinho dele por longos minutos,
gemendo baixinho.
— Acabou, değerli — a voz cansada e preocupada dele tirou-

me do transe, fazendo com que eu abrisse meus olhos e


percebesse que estávamos sozinhos. Não era nenhuma surpresa

que ele soubesse que eu tinha estado com medo e que eu também
reconhecesse nele toda a tensão e raiva. — Temos agora que
pensar na reestruturação da empresa.

Um pequeno choque me percorreu quando senti seus lábios


mornos pousarem na minha nuca, um calor gostoso me

preenchendo.
— Eu sei disso — sussurrei lentamente, jogando minha

cabeça para trás para fitá-lo. Quando vi amor e zelo nos olhos
negros, ergui minha mão para acariciar sua barba. — Teremos muito
trabalho pela frente.

— Sim — disse em um tom baixo, antes de capturar minha


boca em um beijo rápido cheio de carinho, proteção e ternura, seus

dedos continuando a me massagear com aquela pressão deliciosa


que ele sabia aplicar.
— Eu amo você demais, aşk — murmurou contra os meus

lábios, deixando um beijinho na ponta do meu nariz.


— Também amo você, Yazuv.
— Gosto de ouvir você dizendo isso — sua voz saiu pastosa.
Deixou uma série de beijinhos enquanto suas mãos

deslizavam dos meus ombros em direção aos meus seios,


acariciando-os suavemente, sentindo o novo peso em suas palmas,

estimulando os bicos com os polegares.


— Não temos uma reunião com os novos diretores na outra
sala? — perguntei, arfando suavemente com a intensidade das

sensações que me percorriam apenas com o toque dele.

— Por que você sempre gosta de me lembrar dos meus


compromissos quando estou desfrutando do fato de te mimar? —

Arqueando a sobrancelha, fez aquela careta de sempre, mas seu

tom era brincalhão.

— É uma pequena amostra de como será o meu papel de


esposa — sorri para ele, entrando no seu jogo, agradecendo aquela

descontração —, afinal, temos três crianças e uma cadela para

sustentar.
— Hm… — deixou um selinho em meus lábios —, que bom

para a minha esposa que eu tenho adorado o fato de que ela mande

em mim. Principalmente em cima de uma cama.


— Yazuv — soltei o nome dele em meio a um gritinho.
A gargalhada rouca e sensual dele ecoou por toda a sala de

reunião e eu senti que ruborizava que nem uma adolescente. Fechei


os olhos, mortificada. Deus, para quem já havia até feito strip-tease

para ele e se masturbado enquanto o turco assistia, ruborizar por

conta de um comentário até comportado era patético.


— Gostosa demais — sussurrou contra o meu ouvido.

Sua língua brincou com o meu lóbulo, fazendo com que eu

emitisse um gemido, o desejo começando a crescer em meu interior.

Porém, abruptamente, ele parou, e eu choraminguei abrindo os


olhos novamente, vendo o brilho malicioso nas duas ônix.

— Vamos, değerli? — Sua voz foi suave, ao puxar a cadeira

para que eu me levantasse, estendendo-me a mão em ajuda. —


Temos uma reunião para ir.

— Vá na frente. — Passei as mãos na saia, e peguei a minha

bolsa que estava pendurada no assento. — Preciso ir ao banheiro.


— Posso ir com você, se quiser — sugeriu, quando cruzamos

a porta, sua mão firmemente apoiando a base da minha coluna em

um gesto protetor e possessivo.

Não contive a minha risada. Aquele homem era


inacreditável.
— Acho que não é necessário, Yazuv. Já sou grandinha para

ir sozinha.

Ele bufou.
— Mas…

— Tenho certeza que nada de muito grave poderá acontecer

enquanto eu estiver usando o banheiro — tentei tranquilizá-lo,

dando outro beijo suave na sua boca —, encontro você em alguns


minutos.

— Tudo bem — concordou a contragosto.

Desvencilhando-me do seu toque, comecei a caminhar


lentamente, já que minha capacidade de mobilidade havia diminuído

bastante por conta do meu ventre redondo e dos pés inchados

dentro da sapatilha, consciente que ele me acompanhou com os

olhos até que eu virasse para o corredor que levava aos sanitários
do andar.

Balancei a cabeça, não contendo um sorriso.

Aquele homem protetor não tinha jeito mesmo.


Cinco dias depois…

— Amor? — Ao ouvir a voz da mulher que amava, desviei


minha atenção do relatório que estava lendo, jogando-os em cima

da mesa e olhei rapidamente as horas no relógio, constatando que

era pouco mais de uma da manhã.


Olhando para a porta, capturei o momento em que a benim

değerli adentrou no meu escritório com passos lentos, com um

enorme sorriso para quem estava há poucas horas com uma


enxaqueca horrorosa, tendo uma Aylla bem atrás dela, latindo. Dei

de ombros. Mesmo que essa mudança de humor repentina me

fosse estranha, a alegria que emanava dela me contagiava


também.

Tanri, aqueles olhos azuis brilhantes eram a minha maior

perdição. Como eu os amava, ainda mais quando me fitavam

repletos de amor. Por aquele olhar, eu seria capaz de fazer tudo.

Melhor, por toda aquela mulher.


— Sim, değerli? — Sorri para ela.

Deslizando minha mão pelo meu peitoral nu enquanto

acomodava meu corpo em uma postura relaxada na cadeira, fiz um

convite silencioso para que ela sentasse no meu colo.


Ela balançou a cabeça em negativa.
— Acho que chegou a hora — disse baixinho, emitindo uma

gargalhada doce que reverberou por todo o ambiente.

Fitei-a, confuso, meu sorriso morrendo, não compreendendo

o que ela quis dizer com aquilo. Perdi algum tempo apreciando a

pele cremosa exposta pelo decote da camisola vermelha,

observando como a seda emoldurava a curva da sua barriga,


deixando-a extremamente sexy, gelando no momento que eu vi a

enorme mancha que cobria o tecido, o líquido que molhava suas

pernas e o chão, meu cérebro demorando a processar o que aquilo

significava, mas quando o fez, saltei da cadeira como se tivesse

tomado um choque, fazendo o móvel cair para trás. Achando que eu

estava brincando, Aylla latiu, correndo em minha direção, dando

uma patada nas minhas coxas.


— A bolsa — comentei o óbvio, sentindo meu coração

disparar, um pequeno tremor percorrendo meu corpo, enquanto

instintivamente, acariciei suavemente a cabecinha da cadela, alheio

a tudo que não fosse a mancha presente na camisola.

— Sim, mal consigo acreditar que em breve verei e pegarei

nos nossos bebês no colo — comentou emocionada e fitei os seus


olhos, vendo as lágrimas que deslizavam pela face em meio ao

sorriso.
— Que Allah me proteja.

Apesar de várias vezes ter imaginado o que sentiria quando


esse momento ocorresse, não estava preparado para as sensações
que me percorriam. Era como se alguém tivesse injetado em mim

uma dose alta de adrenalina.


— Tanri! — Exclamei, passando os dedos pelos meus

cabelos.
Caminhei com passos rápidos em sua direção, escutando o

barulho das unhas arranhando atrás de mim, indicando que eu era


seguido pela cadela.
— Temos que acordar todos, para irmos logo. — Toquei o seu

rosto.
— Você já está acordando a todos com seus gritos, Yazuv —

deu uma risada, fazendo-me franzir o cenho, pois nem me dei conta
do que estava fazendo.

Como que para confirmar as palavras dela, minha mãe


apareceu na porta.
— Oğul? Ouvi seus gritos. — A voz era sonolenta e o fato do

hijab[42] dela estar mal colocado indicava que ela tinha levantado às
pressas.

— Meus bebês vão nascer!


— Ah, meus netos — Valmira apareceu também no escritório

e correu para a filha, fazendo-me dar um passo para trás.


O movimento chamou a atenção da cadela que parecia

enlevada pela agitação, latindo, batendo o rabo, sua língua e o som


ofegante indicando o seu estado de excitação.
— Calma, mulher — John aproximou-se da esposa, tocando

os ombros dela —, você vai sufocar a menina.


— É que estou tão empolgada com o nascimento dos meus

primeiros netos — disse, soltando a Val, que parecia radiante,


embora fizesse outra careta de dor. — Já faz muito tempo que você
está sentindo as contrações?

Fitei a minha futura sogra. Tinha me esquecido


completamente que antes da bolsa estourar, vinham as contrações.

— Há pouco mais de uma hora e vem diminuindo cada vez


mais o intervalo — confessou em meio a um sorriso.

E eu não escondi a minha careta de dor, como se fosse eu


que estivesse em trabalho de parto.
— Por que não me avisou antes? — Passei a mão nos meus

cabelos, andando de um lado para o outro como se eu fosse um


animal enjaulado. Senti que estava começando a surtar.
— Eu estou bem, Yazuv — sussurrou.
— Tenho que ligar para o doutor Érike — disse alto, para mim

mesmo —, nem sei se ele está de plantão hoje. Mas se não estiver,
darei um jeito.

— Fique calmo, evlat[43] — senti a mão da minha mãe pousar

sobre os meus ombros —, ela não precisa do seu nervosismo. Não


fará nenhum bem para os cinco.
— Certo, anne — respirei fundo, procurando me acalmar,

observando o rosto contraído da minha mulher pela dor.


Ela não emitiu nenhum som, e eu soube que Valdete era

muito mais forte do que eu. Pelo que havia pesquisado, diziam que
a dor poderia ser bastante intensa. Tinha que confessar que quando

li, eu temi e muito pela minha mulher. Hoje eu via que tinha que
preocupar era comigo, que parecia prestes a surtar. Eu era uma
mistura de euforia, medo, alegria e amor. Uma verdadeira bomba-

relógio.
E em meio as contrações da mulher que amava, que se

tornava cada vez mais regular, a conversa com o médico e todos


trocarem de roupas, finalmente nos pomos a caminho do hospital.
Todo o percurso, sentado no banco do carona, já que estava
alterado para dirigir, dar entrada pela emergência e ir para o bloco
onde seria realizado o parto, foi um grande borrão. Por mais que eu
tivesse tentado, eu não conseguia controlar o meu nervosismo

perante o que estava prestes a acontecer. Não era no sentido


figurado que eu afirmava que eu me sentia prestes a desmaiar. Meu

coração batia acelerado, quase prestes a sair pela boca.


— Estamos bem, Yazuv — disse, deitada na maca cirúrgica,
enquanto a equipe e o obstetra preparavam tudo para a cesariana.

Fitou-me com seus lindos olhos azuis e eu podia jurar que nunca a

achei tão linda na vida com uma touca prendendo os cabelos fartos
e a camisola do hospital. Deu-me um sorriso em meio a uma

contração, que se tornavam cada vez menos espaçadas.

Deus, aquela mulher me conhecia muito bem, apesar que

não precisava ser um grande adivinho para reconhecer o meu


estado de espírito. Eu suava frio sob a roupa que haviam me dado e

tive que me esforçar para não levar a minha mão aos cabelos

cobertos pela touca. Acho que nunca na minha vida fiquei tão
nervoso como agora, apesar de que o nascimento dos meus seria o

momento mais lindo.

— Como disse antes, papai, é muito comum os trigêmeos


nasceram entre trinta e quatro e trinta e nove semanas. Está tudo
dentro do previsto — Fez uma pausa, e tentou me acalmar,

repetindo algo que eu tinha ouvido em uma das consultas: — Os


batimentos cardíacos, e a pressão arterial dela estão ótimas. Vamos

começar.

— Certo — murmurei, o som saindo abafado pela máscara.


— Pode se aproximar da maca e segurar a mão dela, Yazuv

— tratou-me com informalidade, algo que demorou muitas consultas

para acontecer.

— Po…posso? — perguntei com a voz rouca, fitando a minha


mulher, que piscou para mim.

Poder entrelaçar meus dedos aos dela naquele momento

tornaria o nascimento dos nossos filhos um momento ainda mais


especial.

— Sim, papai, se você aguentar assistir, claro.

— Obrigado.
— Nada. — Voltou sua atenção para os instrumentos

cirúrgicos e começou a orientar a equipe que estava ali para auxiliá-

lo.

Me aproximei da mulher que eu amava, e entrelacei os seus


dedos, sentindo os escorregadios contra os meus.
— Você também está nervosa?!— sussurrei uma pergunta,

que também era uma afirmação.

— Sim, impossível não ficar ansiosa — seu sorriso ficou


ainda maior, embora apertasse minha mão com força pela dor —,

estou contando os minutos para vê-los.

— Eu também. — Senti a emoção me tomar com o

pensamento de que em menos de uma hora isso ocorreria, ideia


que fez com que o amor que eu já sentia por eles se multiplicasse,

tornando-se infinito.

Ficamos assim por um bom tempo, fitando-nos, envolvidos na


nossa bolha, compartilhando o medo, a felicidade, a ansiedade e o

amor, até que uma voz feminina nos interpelou:

— Com licença, precisamos posicionar a senhorita para

aplicar a anestesia raquidiana.


— Claro.

Vi os enfermeiros movimentarem a minha mulher, tomando

cuidado com os fios do soro, deixando-a na posição correta, e voltei


a segurar sua mão quando eles aplicaram a anestesia, seus dedos

me apertando com mais força ao sentir o desconforto. E, mais uma

vez, eu quis ser eu quem estivesse em seu lugar, ou que eu

pudesse transferir a sua dor para mim.


Não demorou muito mais para que todo o procedimento

cirúrgico começasse, porém, no meu estado, eu preferi não olhar


quando realizaram o corte. Provavelmente eu desmaiaria. Apenas

fiquei encarando Valdete, observando o seu semblante emocionado,

prestando atenção nos bips emitidos pelas máquinas, rezando


baixinho à Allah para que meus dois menininhos e minha menininha

realmente viessem com saúde. Sabia que por serem prematuros,

eles teriam que ficar na UTI neonatal por um tempo para ganhar

peso, porém eu colocava todo o meu coração numa prece para que
não houvesse nenhuma complicação, como problemas

respiratórios.

Quanto tempo se passou, eu não saberia dizer, mas minhas


pernas que já estavam bambas, ficaram ainda mais quando um

choro ecoou por toda a sala cirúrgica, o som mais lindo do universo.

Até mesmo o aperto de Val ficou mais fraco, e encontrei nos olhos

dela o amor que resplandecia nos meus. Ela era pura emoção.
Eufórico, desviei minha atenção para o pequeno bebê, que era

carregado por uma enfermeira em direção ao local onde ele seria

avaliado e faria os exames. Senti meu coração palpitar ainda mais


quando depois de alguns minutos, outro som se assomou a esse.

Olhei o meu outro menininho que esperneava, completamente


fascinado, louco para pegá-lo no colo, deixar um beijinho em suas

pequenas mãozinhas. Desmoronei em meio a emoção, me sentindo

o homem mais completo do mundo, o mais sortudo, quando, logo

depois, minha pequena princesa veio ao mundo.


— O som é tão lindo — sussurrou, e eu voltei a fitar a benim

değerli, que ainda não tinha podido ver os nossos bebês, mas que

chorava silenciosamente em meio a um sorriso e apertava meus


dedos com força.

— Eles são muito mais, aşk — falei, levando minha mão livre

para acariciar o rosto suado, embora minha vontade fosse beijar

aquele sorriso, compartilhar aquela imensa alegria que fazia meu


coração cantar, mas era impedido pela máscara —, lindos como a

mãe deles.

Os olhos azuis dela brilharam, divertidos.


— Hum…

Não dissemos mais nada, e assim que o médico terminou de

dar os pontos, veio falar conosco.

— Quer vê-los antes deles irem para a incubadora? — doutor


Érike, muito humano, perguntou a Valdete.

— Sim, quero muito, obrigada — sorriu ainda mais, e eu

enxuguei as lágrimas dela com meus polegares.


— Eles estão bem, doutor? — perguntei, tinha escutado que

meus nenéns nasceram em média com um quilo e meio.


— Felizmente, sim, papai — respondeu —, apesar de serem

pequenos, não constatamos nenhum problema respiratório

aparente. Eles só ficarão mesmo na incubadora para ganharem

peso.
— Graças a Deus — murmurou Valdete, mas não teve tempo

de dizer mais nada, pois logo três enfermeiras se aproximaram

segurando nossos bebês, que estavam enrolados em uma manta


térmica para mantê-los aquecidos, e eu vi o exato momento em que

minha mulher voltou a chorar com intensidade.

Se ver os meus bebês tinha sido mágico, ver a expressão da


değerli olhando nossos filhos pela primeira vez fez com que uma

sensação inexplicável me dominasse, e eu estremeci, segurando na

maca para me apoiar. Eu já havia visto inúmeras vezes ela olhar

para a própria barriga com um amor que palavras não eram capazes
de descrever, porém, naquele momento, eu conheci a força do

sentimento que ela nutria pelos nossos bebês. Era algo raro, que

me roubou completamente o fôlego, que estaria para sempre


impregnado em minha memória.
O sorriso que ela abriu quando as enfermeiras colocaram os
bebês contra ela, acelerou o meu coração, e eu me deixei ser

arrebatado pelo amor e pela felicidade.

— Oi, meus amores — começou a conversar com eles


quando eles começaram a chorar —, bem-vindos. A mamãe e o

papai amam muito vocês.

Deixou um beijinho na cabecinha de cada um deles.


— Quer segurar sua menininha, pai? — A enfermeira me

abordou, e eu a encarei, sentindo um nó se formando na minha

garganta com a emoção.

— S…s..im — Pela primeira vez na vida, gaguejei.


Estendendo os braços, firmando-os, tentando controlar um

pouco as emoções que rodopiavam em meu interior, deixei que a

mulher colocasse o pacotinho tão leve em meus braços, ajeitando


minha princesa do modo como tinha aprendido no curso para pais.

Por uma breve fração de tempo, parecia que não havia mais
ninguém além de mim e a minha bebê.
Eu só tinha olhos para ela, minha pequena Nádia.

Não contive um sorriso ao ver seu rostinho, que se parecia


tanto com o da mulher que eu amava, bem como as pequenas
mãozinhas que se movimentavam no ar, abrindo e fechando.
Deus, ela era tão linda. Tão perfeita. E aquela boquinha... Eu
estava perdidamente apaixonado.
— Quero segurá-la também. — Ouvi a voz da Valdete, que

me tirou do transe, fazendo com minha atenção voltasse para ela,


que me fitava com ternura, espelhando meus sentimentos por ela.
— E acho que você vai querer segurar o Erol e o Onur, não é?

— Sim — respondi com a voz embargada.


Foi a minha vez de segurar os dois garotos de uma vez,
enquanto ela ficava com a nossa princesinha, aproveitando aquela

sensação de ter meus meninões em meus braços. Não demorou


muito, e prepararam a Val para amamentar os bebês, começando
pela minha menininha que berrava a plenos pulmões e que não

encontrou nenhuma dificuldade em encontrar a mama por si só.


— Eu amo você, aşk — murmurei enquanto observava nossa
pequena Nádia sugar o seio dela com afinco.

Estava completamente fascinado pelos movimentos da minha


bebê, pela conexão silenciosa que se estabelecia entre mãe e filha

no ato de amamentar, algo completamente poderoso que me fez


estremecer. Valdete parecia completamente presa ao momento,
alheia a tudo que não fosse a pequena em seus braços.
Não resistindo ao momento lindo e terno, como se tivesse um
imã que me atraía, toquei seus dedinhos, que fecharam sobre o
meu indicador, contato que me deixou bambo, e as lágrimas que

havia contido vieram com toda força, e eu as deixei cair.


Meus soluços devem ter a tirado do transe, e ergueu o rosto

para mim, dando-me um lindo sorriso.


— Amo você por ter-me feito o homem mais feliz do mundo
ao me fazer pai— continuei com a voz embargada, emocionado,

enquanto ainda brincava com os dedinhos da minha bebê.


— Eu também amo você, Yazuv — sussurrou, antes de voltar
sua atenção à pequena.

Sentindo aquelas palavras enraizando no meu peito, em meio


às lágrimas, apenas desfrutei daquele momento. Pegando minha
menininha no colo assim que terminou, sussurrei palavras doces em

turco, e observei Val pegava Onur, erguendo o mamilo para ajudá-lo


a encontrar a mama.
Sem nenhuma dúvida, aquele momento, observando os dois,

tendo o calor do corpinho da minha bebê contra o meu, ficaria


eternizado no meu coração.
Mesmo com olheiras, cansada pelas noites mal dormidas,
não contive um sorriso ao ver meu pequeno Erol, muito mais

gordinho depois de passados dez dias, sugar com força o bico do


meu seio.

Embora também utilizássemos chuquinhas já que era


impossível alimentar os trigêmeos só com o peito, amava esses

momentos. Não foram poucas as vezes que peguei-me admirando o

modo como Yazuv parecia extremamente emocionado todas as


vezes que ajudava-me alimentar os pequenos. Sorria, conversando

com eles, sentado na poltrona do quarto privativo do hospital, que


ele tinha providenciado para que nós dois pudéssemos ficar com os

nossos bebês enquanto permaneciam internados para ganhar peso.

Sabia que muitas maternidades não permitiriam a presença de


ambos os pais fora dos horários de visita, mas ele mexeu seus

pauzinhos. Confesso que não havia refletido muito sobre essa parte
operacional, em como seria, mas ele havia pensado em tudo e eu

agradecia por ter conseguido esse arranjo para que não

desgrudássemos deles, dando-nos privacidade e conforto, já que


praticamente estávamos morando naquele quarto.

Nós não deixávamos o hospital por nada, tudo o que

precisávamos era trago pelos meus pais, pela mãe dele ou por
algum funcionário. Yazuv trabalhava mais ali do que no escritório,

fazendo até algumas videoconferências no quarto. Se já era uma

bobona romântica, agora me sentia bem mais.


Suspirei, apaixonada, ao recordar-me do momento em que

chegamos no quarto todo equipado, e vi que Yazuv tinha colocado


pequenos nazar boncuk, mais conhecidos como olho grego ou

turco, próximos aos bercinhos dos nossos bebês. Segundo ele, era

uma tradição turca dar ao recém-nascido o amuleto para proteção e

evitar mau olhado.

Suspirei ainda mais com o fato dele vir demonstrando ser um

excelente pai, sempre atencioso a cada choro, compartilhando


responsabilidades e tarefas, até mesmo, se levantando de

madrugada para trazer nossos bebês para que eu pudesse


amamentá-los. O homem que eu amava era um verdadeiro sonho
como pai e companheiro.

Ele poderia se considerar alguém de sorte, mas eu sabia que

eu tinha muito mais por ele não ter desistido de mim.

Então, tudo que faltava para a minha completa felicidade era

que meu último bebê, o menorzinho de todos, ganhasse alta, o que

poderia acontecer em breve.


— Será que a pediatra dará alta para o seu irmãozinho hoje,

meu pequeno Erol? — sussurrei, sentindo um friozinho na minha

barriga.

— Espero que sim, estou louco para levá-los para casa —

Yazuv comentou da sua poltrona, colocando Onur para arrotar.

Encarei-o, sentindo meu coração bater descompassado ao

ver que ele dava uma chuquinha para Onur, com um sorriso no
rosto, como se fosse a melhor tarefa do mundo. Meu sorriso ficando

ainda maior, se era possível.

Felizmente nossa princesinha estava dormindo no pequeno

bercinho portátil que havíamos comprado para que ficasse mais

confortável. Quando os três ficavam com fome ao mesmo tempo,

era uma tremenda confusão.


— Estou doido para ver como Aylla irá recepcionar os

irmãozinhos dela. — Não escondeu o ar sonhador e eu emiti uma


risada baixa, que fez com que Erol largasse a minha mama e

começasse a chorar.
— Não, meu amor, você vai acordar sua irmãzinha —
erguendo-o, deixando em pé, comecei a fazer movimentos

circulares nas suas costas.


Não tivemos mais tempo para conversar, pois logo tudo se

tornou um pequeno caos, com três bebês chorando freneticamente.


Tentando tranquilizar o menininho no meu colo, vi Yazuv fazer um

grande malabarismo, segurando firmemente Onur, que havia


arrotado, para ir socorrer a nossa pequena princesa. Querendo
aproveitar esse período, não havíamos contratado ninguém para

nos auxiliar, o que talvez fosse um erro da nossa parte, mas sempre
haveria tempo quando realmente sentíssemos necessidade. E ainda

era cedo para o horário de visita — para o maior desgosto da minha


mãe, que demonstrou ser uma vovó bastante grudenta, gostando de

segurá-los e mimá-los, junto ao meu pai que também era outro. Já a


mãe de Yazuv era um pouco mais contida do que a minha.
Com os dois no colo, ele tentava acalmá-los, balançando-os,

enquanto um Erol mais calmo, pedia novamente pelo peito. Ver a


segurança dele ao segurar os dois ao mesmo tempo fazia um

calorzinho gostoso surgir no meu peito, uma onda de ternura me


assolando. Tinha que confessar que nem eu, mesmo eles estando

cada vez mais durinhos, tinha essa confiança para segurar os dois
enquanto estava de pé. Eles eram tão frágeis, pequeninos, que

tinha medo de deixá-los cair com os movimentos de mãozinhas e


perninhas.
Imersa nesse estado de caos e amor, só percebi a presença

da médica, Dra Banks, quando nos cumprimentou.


— Bom dia, papais. Pelo que vejo, temos uma confusão por

aqui — disse com uma voz contente.


— Bom dia — falamos praticamente em uníssono.
— Um pouco — Yazuv comentou —, mas estamos colocando

tudo sob controle, não é, meus bebês?


Nádia continuou a chorar em resposta ao papai, mas Onur

parecia bem mais calmo.


— Acho que ela deve estar com fome — falou mais para si

mesmo.
— Enquanto você cuida dela, por que não me dá esse
meninão que precisa ser examinado? Se ele atingiu dois quilos,

darei a alta dele. Não haverá mais motivos para segurá-lo aqui. — A
médica foi suave e eu senti que minha respiração ficava acelerada
em expectativa, rezando para que isso acontecesse.
— Claro — respondeu com voz alterada, indicando que

estava nervoso.
Com suavidade, contrariando seu estado, Yazuv passou a

criança para a médica que o pegou delicadamente em seus braços.


Apesar de ser algo corriqueiro para pediatras pegarem bebês no
colo, o modo carinhoso com que a doutora Banks segurava a

criança, embalando-a até colocá-la no local onde eram feitos os


check-ups e a pesagem, era de alguma forma tocante. Enquanto

aguardava em expectativa o resultado do exame do meu pequeno


Onur, troquei de bebê com Yazuv, que fazia Erol arrotar, ao passo

que eu levava meu outro seio em direção a boquinha da minha


menininha chorona, meu mamilo sendo rejeitado por ela.
Provavelmente era a fralda, diferentemente dos irmãos, ela não

aguentava ficar nem um minuto sequer suja.


Ocupada, não consegui prestar atenção naquilo que a

médica fazia, então foi com alívio que a escutei dizer:


— Excelente, meninão.
— E então? — Yazuv perguntou com a voz apreensiva.
— Boas notícias, pai, vocês poderão levá-lo para casa ainda
hoje — quando a médica disse isso, pareceu que o meu coração iria
explodir de alegria, não cabendo em meu peito.

Feliz, busquei Yazuv com o olhar e percebi que um sorriso


suave dominava sua expressão, mas era o modo intenso com que

me fitava que fez com que eu perdesse o ar momentaneamente,


apenas para sorrir de volta.
Compartilhávamos em silêncio a mesma sensação de que

finalmente poderíamos começar a nossa vida em família, não em

um hospital, mas, sim, na nossa casa. No nosso lar.


Eu, ele, nossos três bebês e a doce Aylla.
— Estamos chegando, meus bebês — a voz de Yazuv ecoou
baixinho pela caixa de metal, enquanto ele fitava os nossos dois

meninos que dormiam tranquilamente, ao passo que uma Nádia

bem acordada me encarava com seus olhos arregalados, movendo


suas mãozinhas e pezinhos, cobertos pelas luvinhas e sapatinhos

rosas que seu papai havia comprado em um momento de

empolgação.

Desviei o olhar, e vi que um dos nossos vizinhos, um senhor

de cerca de setenta anos, sorriu com a fala dele. Tínhamos nos


esbarrado algumas vezes no elevador e até mesmo no hall comum,

e o senhorzinho sempre havia sido muito simpático, conversador,

perguntando sobre a minha gestação. Quando ele viu os três


pacotinhos que carregávamos, ele ficou tão contente, como se meus

bebês fossem os netinhos dele, que me emocionou.

— Saudades de quando os meus meninos eram tão

pequeninos — comentou, emitindo um suspiro depois: — Pena que

eles crescem tão rápido.


— Minha mãe diz o mesmo — falei em um sussurro.

— Verdade, menina — fez uma pausa —, quando vocês

menos esperarem, eles serão adolescentes preocupados com as

namoradinhas e namoradinhos.
Ouvi o bufar exasperado de Yazuv, percebendo o rosto
sorridente se transformar numa carranca, e tive que me conter para

não rir alto da cara que fez.

Desde que a ficha dele havia caído que teria uma linda

menininha, ele vinha sofrendo por antecipação o momento em que,

segundo ele, teria que defendê-la dos “maus intencionados”, que

inclui todos do sexo masculino. Lembro da vez quando disse, já


enciumado, que se Nádia tivesse olhos azuis como os meus, ele

estaria completamente perdido, pois ela seria a menina mais linda

do mundo, do mesmo modo que eu era a mais bela, e outras coisas

mais. Nunca ri tanto na minha vida, eufórica, ainda mais quando ele

se tornou o Yazuv de sempre, severo e mal-humorado, ao mesmo

tempo que me senti completamente derretida pelo seu elogio.

— Não quero pensar nisso agora, Edgar — rosnou para o


senhorzinho e vi que ele também se continha para não gargalhar.

Porém, antes que pudesse atiçar ainda mais o brio de Yazuv,

o elevador parou no andar em que ficava o apartamento de Edgar, e

ele se preparou para sair:

— Novamente meus parabéns para vocês dois. Eles são

lindos — murmurou, impedindo a porta de se fechar com o corpo.


— Obrigada — sorri para ele quando deixou um beijo gentil

em minha mão livre. — Depois aparece lá em casa para tomar um


chá e visitá-los. Você sabe que será bem-vindo — convidei. Apesar

de Yasuv não ser um grande fã de interações sociais, ele não me


impedia de receber visitas, inclusive do doce velhinho, um dos
únicos que valia a pena naquele círculo de esnobes moldados pelo

dinheiro, e que no final da minha gestação foi uma excelente


companhia com suas histórias. Até mesmo a mãe de Yazuv

simpatizou imediatamente com ele, embora ela mantivesse certas


reservas impostas pela sua cultura.

— Com certeza irei. Até — disse, dando um passo para trás,


e antes das portas se fecharem, jogou um beijo para mim.
— Ele vai me deixar louco com essas insinuações —

sussurrou e se as mãos dele não estivessem ocupadas, eu sabia


que passaria os dedos nos seus cabelos.

— Você sobreviverá ao fato quando chegar a hora, papai.


Não conseguirá mantê-la debaixo das suas asas para sempre. —

Provoquei-o.
— Isso que veremos — ignorou a minha primeira frase,
respondendo a segunda naquele tom sedoso que não fazia a

mínima questão de esconder sua arrogância.


Arqueei a sobrancelha, mas não disse mais nada, deixando

um beijinho no rostinho da minha menininha, o que foi o meu maior


erro, pois o chorinho dela ecoou na caixa de metal.

— Não, meu amor — trouxe seu corpinho mais para o meu


—, desculpa a mamãe. Ela não quis te assustar.

Continuou a chorar até que deixássemos o elevador, o que


não demorou nem dez segundos, mas que foi o suficiente para
acordar os outros irmãozinhos no braço de Yazuv, que começou a

cantar uma música turca que havia aprendido com a sua anne, na
tentativa de que os choros diminuíssem. Porém, sem sucesso.

O som repercutia por todo o hall comum e não foi nenhuma


surpresa que antes mesmo que pudéssemos aproximar da porta do
apartamento, uma Aylla completamente excitada, latindo,

balançando o rabo como se fosse um espanador, nos alcançasse.


— Não, menina. — Yazuv falou quando a cadela, curiosa,

tentou deixar patadas nas suas coxas, continuando a emitir sons


caninos enquanto cheirava freneticamente o papai. — Calma. Daqui

a pouco você poderá ver os seus irmãozinhos.


Seu comentário dito em um tom tão doce, assomado com a
alegria da recepção calorosa da cadela, que parecia completamente

animada pelo fato de ter irmãozinhos, fez com que eu desse um


risinho de felicidade, embora Aylla ainda fizesse um grande
estardalhaço, tendo a sua atenção em Yazuv. Ela era tão insistente
quanto seu papai humano.

Sorte que não demorou muito para que minha mãe


aparecesse, tão alegre e efusiva como a cadela, e pegasse um dos

nossos bebês do colo de Yazuv, inspirando fundo o cheirinho da


cabeça de Erol, beijando a mãozinha dele. Ela adorava aquele
pequeno ritual.

— Você pode pegar as coisas dos trigêmeos no meu carro?


— ele pediu ao meu pai, pegando a chave do bolso.

— Claro, Yazuv. — Pegou o molho e caminhou em direção ao


elevador.

Sabendo que a cadela não iria desistir enquanto não


conseguisse satisfazer sua curiosidade canina, com todo o cuidado
do mundo, se pôs de joelhos com o pequeno Onur no colo. Sem

nenhum medo ou hesitação, já que havíamos consultado a pediatra


e ela nos disse que nossos bebês poderiam ter contato com a

cadela, deixou que Aylla cheirasse os pezinhos e mãozinhas do


nosso bebê, o que fez sem nenhuma cerimônia.
— Esse é o seu irmãozinho Onur, meu bem — disse com a

voz embargada, removendo o sapatinho do bebê.


E eu senti lágrimas se formarem em meus olhos no momento
em que ela lambeu o pezinho do neném, com uma ternura,
cheirando os dedinhos. Era uma interação linda entre bebê e

animal, que não me restava dúvidas de que a cachorrinha seria


inseparável com eles. O que foi confirmado quando Yazuv

apresentou a ela Nádia e Erol e, mais calma, apenas emitindo sons


baixinhos, ela aproveitou aquele breve contato controlado por nós.
Se eu estava completamente emocionada, o homem que eu amava

ainda mais, pois sabia o quanto a harmonia entre os quatro,

principalmente quando eles realmente pudessem brincar juntos, era


importante para ele.

Estava tão alheia ao momento familiar gostoso, que nem

havia percebido que meu pai tinha voltado e até mesmo a anne de

Yazuv tinha vindo assistir a cena.


— Eles parecem que gostaram da Aylla — mamãe murmurou

com a voz chorosa.

Ouvi minha mãe fungar e eu encarei o menininho no seu


colo, que estava bastante calmo, recebendo os carinhos da avó, que

deixava beijinhos no topo da cabeça dele. Como eu, ela era uma

grande manteiga derretida, talvez até mais. O fato de tornar-se avó


mexeu muito com ela, mais do que eu poderia imaginar. Ela tinha
me contado, assim que meus bebês nasceram, que ela sonhava em

ter netinhos, já que não pôde ter mais filhos porque teria colocado
tanto ela quanto o bebê em risco, o que me tocou muito. Não sabia

que ela guardava para si essa frustração de não poder ter tido mais

filhos. E vê-la com meus bebês, o amor que tinha por eles, me
sensibilizava muito.

Sabia que ela daria a vida dela por eles, assim como meu pai

e minha futura sogra.

— Sim, gostaram da irmã de quatro patas. — Limpei as


lágrimas com os dorsos da mão e me aproximei dela, enlaçando sua

cintura em um meio abraço enquanto observava a interação.

— Você conseguiu uma família linda, filha — sussurrou.


— É muito mais do que sonhei.

— Eu sei o quanto você sempre quis isso — fez uma pausa

—, e mais do que ninguém você merecia


Abracei sua cintura com mais força, não conseguindo segurar

mais uma onda de lágrimas pelas suas doces palavras. Ela não

dizia isso apenas por ser minha mãe e amiga, mas também como

mulher.
— Não tenho essa certeza, mas, felizmente, depois de tanto

procurar, acabei encontrando, de maneira torta, o meu “felizes para


sempre”, como você e papai.

— Sim, mas é só o início, minha princesa. — Ouvi a voz do

meu pai vindo atrás de mim, e senti seus braços abraçando tanto eu
quanto minha mãe.

— Assim eu espero — comentei, e deixei-me ficar abraçada

ao meu pai, curtindo aquele momento.

Permanecemos mais alguns minutos naquela doce alegria


em família, até que, sabendo que muito em breve eles voltariam a

chorar por querer mamar, ou até mesmo, por terem sujado a

fraldinha, levamos os bebês para o quarto, com uma Aylla animada


trotando atrás de nós, voltando ao seu comportamento habitual,

latindo, as unhas arranhando no piso a cada passo. Como a

primeira vez em que estive ali, Yasuv quis mostrar alguns cômodos

do nosso pequeno palácio aos seus amores, por mais que os bebês
não pudessem compreender aquilo. O que arrancou de nós uma

gargalhada e um puxão de orelha por parte da sua anne, a qual não

deu nenhuma importância.

— Posso dar banho neles pela primeira vez, kizi[44]? — minha


futura sogra perguntou, ansiosa, segurando uma Nádia que

começava a ficar irritada, provavelmente ou querendo mamar ou

dormir.
Estávamos no quarto que preparamos para os trigêmeos eu,

ela e minha mãe enquanto meu pai tinha ido fazer o almoço e
Yazuv, muito a contragosto, foi atender uma ligação de Javier, que

nunca telefonava sem uma boa razão. Os bufares dele de irritação

fez todos nós rirmos novamente.


— Claro, Samia.

Sorri para a mulher que me retribuiu com um sorriso caloroso

que chegava aos olhos.

— Obrigada, kizi.
Mesmo que ainda estivéssemos nos conhecendo, quebrando

reservas culturais uma com a outra, o que exigia certa flexibilidade

da minha parte, dei um beijo no rosto da mulher mais velha.


— Vai precisar de ajuda? — questionei.

— Nós damos conta, filha — minha mãe respondeu por ela

—, somos experts nisso. Agora me dê esse outro meninão aqui.

Sem esperar uma resposta, com uma praticidade, pegou


Onur do meu colo.

Balancei a cabeça em negativa, sorrindo. Só a minha mãe

mesmo.
— Volto daqui a pouco, então — comentei, dando de ombros,

deixando as duas sozinhas para cuidar dos meus trigêmeos.


Além de ser bom poder descansar um pouco, mesmo que por

poucos minutos, sabia que, quando elas fossem embora, eu teria

muito tempo para curtir meus nenéns. Por hora, deixaria que as

duas vovós corujas mimassem seus netinhos o quanto quisessem.


É, eu não poderia estar mais realizada por ter uma grande

família de nove membros.


— Você está linda, filha — ouvi a voz embargada do meu pai
vindo atrás de mim.

Fitei o espelho, encarando a minha imagem refletida na


superfície. Senti uma emoção enorme ao ver o vestido de noiva em

estilo princesa com decote em V, todo bordado com pequenas

pedrarias e renda, as luvas de sedas que alcançavam os cotovelos


e uma tiara de diamantes que prendia um véu longo, bem como

admirar meu pai usando um smoking bem-cortado, uma florzinha

vermelha decorando a lapela, com seus olhos azuis marejados de


emoção.

Senti um friozinho na barriga.

Finalmente tinha chegado o grande dia em que me casaria


com o homem que eu amava em uma grande cerimônia ao ar livre,

já que, por questões de diferenças culturais, não iríamos casar em

uma igreja em específico, apenas um juiz de paz celebraria a nossa

união. Nosso noivado havia sido longo, mais por opção minha do

que de Yazuv, que teria casado comigo logo após ter me pedido em
noivado. Eram coisas demais para lidar durante a gestação, e o

casamento dos meus sonhos seria uma tarefa que exigiria tempo e

atenção, por mais que tudo ficasse nas mãos dos cerimonialistas. E,

também, eu queria que nos casássemos depois que nossos bebês


nascessem, pois queria os frutos do nosso amor presentes
enquanto me unisse a ele.

Com o período de recuperação do parto, cuidar dos nossos

bebês, que se mostravam cada dia mais espertos, a correria do

trabalho de Yazuv, e a decisão de todos os detalhes da cerimônia,

acabou demorando bem mais do que o previsto, mas eu não

poderia estar mais feliz. Além de me tornar em breve a futura CEO


da Motors, que tinha entrado nos eixos com a reestruturação feita e

crescia a todo vapor, eu vivia cotidianamente o meu conto de fadas

com os meus “‘quatro” filhos, contando com Aylla, e com o homem

que amava, que se demonstrava cada dia mais apaixonado por mim

e pelos trigêmeos, um verdadeiro pai babão. Era mais do que

evidente que ele seria severo apenas com seus funcionários e

negócios, pois, em relação aos filhos, ele era tudo, menos rigoroso,
e eu tinha que ralhar com ele, dizendo que deixaria nossos bebês

mimados e também insuportáveis.

Nada me era mais importante do que essa deliciosa fantasia

que se transformou em vida real.

— Obrigada, papai — virei-me para ele, com cuidado para

não amassar o vestido, saindo do transe dos meus pensamentos —,


por que está chorando?
— Não é todo dia que se casa sua única filha —

choramingou. — Ainda mais quando ela é o seu bem mais precioso.


— Verdade — minha mãe endossou, ao aproximar-se do

homem que amava, chorando copiosamente também, a maquiagem


completamente borrada. Falei que poderia pedir meu maquiador
para retocá-la, porém ela não deixou, dizendo que seria desperdício,

já que ela choraria no minuto seguinte e borraria tudo de novo.


Sorri para os dois e abri os meus braços, em um gesto que

pedia que eles me envolvessem, o que eles não hesitaram em fazer,


ao passo que tentava controlar o meu choro. Não queria de jeito

nenhum ter que demorar ainda mais para refazer tudo.


— E os meus bebês? — Confesso que essas três horas
longe deles, arrumando-me para o dia, estava sendo um grande

martírio.
— Eles estão com a sua sogra. — Deu um passo para trás,

pegando o lenço do paletó, enxugando as próprias lágrimas.


Não tive tempo de perguntar nada mais, pois logo a

cerimonialista bateu na porta.


— Você está pronta, senhorita Johnson? — questionou. —
Estamos atrasados.
— Acho que sim. — Respondi depois que o maquiador

confirmou que eu ainda estava impecável.


— Então vamos? — Meu pai perguntou, voltando a chorar.

— Sim.
Meu pai deu o braço para mim, enquanto uma assistente do

cerimonial me entregava o enorme buquê de rosas brancas, e com


a minha mãe ajeitando a calda do meu véu, deixamos o quarto,
descendo as escadas do antigo casarão em direção ao jardim.

Quando estava fazendo a curva para entrar no local onde ocorreria


a cerimônia, escutando a marcha nupcial, senti meu coração

começar a bater acelerado, minhas mãos suarem na luva, o


friozinho na barriga se tornar ainda maior.
Porém, toda a minha determinação de me manter composta

ruiu quando, depois de olhar brevemente para a linda decoração,


encarei o homem trajado com o smoking que me esperava no altar,

tendo uma Aylla comportada aos seus pés. Caí em prantos com a
cena, embora tivesse reparado na ausência dos meus bebês, da

minha sogra e agora, da minha mãe. Assim que me viu, Yazuv abriu
um largo sorriso, parecendo orgulhoso. Enxergando em meio ao
embaçado, auxiliada pelo meu pai, o alcancei.
— Cuide bem dela, Yazuv — meu pai disse, ao entregar-me a
ele, dando um beijo na minha testa para depois pousar minha mão
enluvada na do meu noivo.

— Com a minha vida, para todo o sempre — sussurrou com a


voz embargada, e eu me emocionei mais ainda com suas palavras.

Todos emitiram uma gargalhada sonora quando a cadela


roubou a atenção, latindo, como se desse a confirmação.
— Podemos começar? — perguntou o juiz de paz e virei-me

para o homem.
— Sim — falamos em uníssono e, com o companheirismo

que nos unia, fitamo-nos, sorrindo.


— Estamos aqui hoje para celebrar… — começou a dizer

algumas palavras formais e padrões sobre o amor, algo genérico,


que não entrava muito nos aspectos da virtude do casamento.
Não conseguia prestar atenção em suas palavras, apenas no

ritmar insano do meu coração, completamente presa naquela


felicidade de me tornar a mulher de Yazuv no papel, já que de alma

e coração eu o era há muito tempo.


— As alianças, por favor, para trocarmos os votos — o
celebrante pediu e eu o olhei por alguns segundos confusa, pois não

sabia quem as traria.


Porém não tive tempo de raciocinar direito, pois uma música
romântica começou a tocar, bem suave, e um Oh coletivo tomou o
jardim. Voltei-me em direção aos meus convidados a tempo de ver

meus três bebês, sendo auxiliados pelos avós, caminhando pelo


tapete vermelho, enquanto eram jogadas algumas pétalas de rosas.

As lágrimas que já caíam dos meus olhos se intensificaram ainda


mais. Meu corpo todo estremeceu por vê-los dando pequenos
passos em direção a nós, minhas pernas ficando bambas, tanto

que, inconscientemente, me apoiei nos braços de Yasuv para não

cair. Não esperava aquela pequena surpresa de ver meus trigêmeos


entrarem como pajens, para que eles se tornassem participantes

ativos na cerimônia.

Algo que só poderia ser obra de Yazuv, que tinha levado ao

pé da letra o meu sonho de tê-los conosco. Se fosse possível, amei


aquele homem ainda mais por tamanho presente. Girando meu

rosto, fitei meu quase marido que sorria para mim. Seus olhos

cintilavam, brilhando de amor.


— Yazuv? — Minha voz soou trêmula.

Não respondeu, apenas ficou de joelhos, abraçando cada um

dos nossos bebês quando eles alcançaram o altar, tendo que lidar
com a confusão canina, já que Aylla era pura empolgação. O papai
beijou-os na testa e nas mãozinhas, pegando um saquinho que

estava preso ao vestidinho de Nádia, o entregando ao


cerimonialista, que retirou dali as nossas alianças. Sem reação que

não fosse chorar e sorrir ao mesmo tempo, abracei meus bebês

também, inspirando fundo para sentir o cheirinho deles, tocando


seus rostinhos e os cabelinhos, mal acreditando em vê-los vestidos

como noivinhos e noivinha.

Eles estavam extremamente fofos.

Tomada pela emoção, Yazuv ajudou-me a me erguer quando


os avós se sentaram com os trigêmeos nos bancos. Removendo a

luva que cobria meus braços, dando-a para uma auxiliar, o vi pegar

a aliança das mãos do juiz de paz, e meu coração bateu ainda mais
forte. Virou-se para mim, tocando o meu rosto com suavidade, antes

de abaixar a mão e segurar meus dedos trêmulos com os seus.

— Como você bem sabe, aşk, não sou um homem muito bom
com palavras. Sou um homem rude, que antes de conhecer você

não sabia o que era amor — começou com os seus votos, ditos em

um tom embargado, fazendo os convidados rirem, e novamente fui

tragada pela emoção, segurando o fôlego por alguns segundos —, e


mesmo que eu fosse um poeta, duvido muito que existam palavras

que possam traduzir o que eu sinto por você, aşk.


Começou a colocar o anel de ouro no meu dedo e me senti

ainda mais trêmula.

— Eu a amo com toda a minha alma, o que transcende


palavras e gestos. E juro com essa aliança e por tudo o que é mais

sagrado para mim, amar-te, respeitar-te, venerar-te e cuidar de você

até o último bater do meu coração. — Fez uma pausa. — Melhor,

por toda a eternidade. Pois você sempre será a minha ruh eşini[45].

Terminou de deslizar o anel, deixando um beijo no meu dedo


e outro na minha testa enquanto me fitava com extrema devoção.

Meu sorriso ficou ainda maior. Sem ter preparado um discurso

prévio, me sentindo nervosa, peguei a aliança dele com o


celebrante, e segurei sua mão.

— Com essa aliança, Yazuv, te recebo não apenas como o

meu marido, mas como o meu companheiro, a minha alma gêmea

— mal reconheci a minha voz e sorri tremulamente: — Deus, sou


pior do que você com palavras.

Nossos convidados voltaram a rir, ao passo que ouvi os

soluços da minha mãe no banco, e pude perceber um sorriso lento


se formar nos lábios de Yasuv com a minha fala.

— Prometo te amar por toda a minha vida, te respeitar e ser

fiel, te cuidar e venerar, na alegria e na tristeza, na saúde e na


doença.

Terminei de deslizar o anel no dedo dele.


— Porque o nosso amor sobreviverá para todo o sempre —

completou.

— Eu não tenho dúvida que sim — meu pai gritou, seguido


dos latidos da cadela e dos gritinhos que deram meus bebês,

atrapalhando a cerimônia e arrancando mais risadas de todos.

Yazuv arqueou a sobrancelha, começando a rir também, quando

minha mãe pediu para o marido ficar quieto.


Balancei a cabeça, me virando quando o celebrante assim

pediu.

— Se há alguém contra esse casamento, que fale agora ou


cale-se para sempre — o homem deu poucos segundos, o que

impedia qualquer um de protestar, o que duvidaria que aconteceria:

— Em nome da Justiça Americana, eu os declaro marido e mulher.

Antes que pudéssemos assinar os documentos legais, junto


com as testemunhas, Yazuv me puxou, tombando-me para trás,

fazendo-me enlaçar seu pescoço, tomando-me em um beijo faminto,

como se não me beijasse por anos, não por algumas horas. Uma
salva de palmas e gritos de incentivo ecoou por todo o local, em

meio aos latidos de Aylla.


O beijo tornou-se cada vez mais suave, selando as nossas

promessas um ao outro, mas que foi interrompido pelo choro dos

nossos bebês nos colos dos avós, que ficaram assustados com os

aplausos dos convidados.


— Eu amo você, Yazuv — sussurrei, antes de me

desvencilhar dele.

— Eu também amo você, senhora Ibrahim — soou


arrogante.

Balançando a cabeça em negativa, fazendo com que uma

mecha escapasse do meu penteado, gargalhei alto, eufórica,

ouvindo a risada rouca dele ecoar, antes que, como dois pais
babões, déssemos atenção aos nossos trigêmeos que precisavam

dos seus papais.

FIM
Sem nenhuma dúvida, terminar esse livro foi a coisa mais
difícil que tive que fazer na vida, não pela complexidade da história,

mas, sim, pela perda que sofri enquanto redigia os capítulos finais

desse texto.

Mãe, minha rainha, meu amor, meu porto seguro, meu norte,

minha beta e maior leitora, onde quer que você estiver hoje, terminei
esse livro por você que estava adorando cada palavra aqui redigida.

Meu processo criativo, minha escrita e minha carreira nunca serão a

mesma coisa, pois descobri da maneira mais amarga possível que


você era o pilar que me sustentava, que cada capítulo era escrito

pensando em sua reação, outra coisa que sentirei falta. E é por

você, pelo seu amor, que tento, arduamente, a cada dia, continuar e
seguir em frente. Mas é difícil, mãe…

Amanda, não tenho palavras para expressar o quanto amo

você. És a minha força, e eu sou eternamente grata por ter você em

minha vida, por sermos unidas, por você não ter soltado a minha

mão, por me amar de volta. Obrigada por me empurrar sempre que

preciso, por estar ao meu lado, incondicionalmente.

Ana Roen, obrigada, amiga. Agradeço de coração tudo o que


você fez por mim, pelo seu amor, pelas suas palavras e pelo seu
abraço quando eu mais precisava. Pelo primor da sua primeira
leitura e também pela revisão do meu trabalho. Você é parte

fundamental de cada livro que publiquei e você sabe disso.

Rosimeire e Jéssica Macedo, obrigada pelo seu apoio e

carinho pelo meu trabalho.

Um muito obrigada as minhas leitoras do grupo de WhatsApp

que me abraçaram, que ansiavam por cada spoiler, que


comemoraram e choraram comigo, e que são muito importantes

para mim. Um grande beijo a Adriana, Ana, Cris, Cris Mauch,

Danny, Danusa, Edi, Glei, Helenir, Thais, Joana, Lizzie, Nana, Thaty,

Leila, Beeh, Iandra, Valdete, Kaká, Lauryen, Cristina, Kleia, Babi,

Patrícia, Elisangela, Vanessa, Nedja, Karol, Cley, Patrícia, Paulinha,

Márcia, Nalu, Rosiane, Mari, Laís, Cláudia, Paula, Beatriz, Adolane,

Sirleni, Vânia, Sharylene, Ismênia, Regina, Juscelina, Camila,


Ariana, Eliane, Tatiane, Anne, Wilsa, Gisele, Aline, Helineh, Kelliane,

Natália, Denise, Selma, Roseane, Juh, Eliace, Maria, Ellen, Yasmin,

Thais, Ju, Duda, Caroline, Jeh, Edna, Gilssane, Luciana, Eryka,

Bruna, Amanda, Regina.

Às autoras do Desafio Mari Sales, obrigada por me aturarem,

por me aconselharem, especialmente você, Carol Furtado, que


sempre tem uma palavra amiga para me dar e torce por mim.
As minhas divulgadoras que fazem de cada lançamento um

sucesso, gratidão.
Mas é principalmente a você, leitor, que conheceu meio

trabalho agora por meio desse livro ou que já me acompanha de


outras obras, que dou o meu mais sincero agradecimento. Sem
você, não existiria Aline Damasceno escritora, muito menos essas

histórias.
Agradeço do fundo do meu coração sua existência, seu

tempo e sua leitura.


Beijos,

Aline
Mineira, se apaixonou por romances há alguns anos, quando
comprou e devorou um romance de banca que adquiriu em um

supermercado. Após aquela leitura, não parou mais de comprar

livros e ler. Encontrou no mundo da literatura um lugar de prazer e


refúgio. E agora se aventura em escrever suas próprias histórias.

Siga Aline Damasceno no Instagram:


https://www.instagram.com/autoraalinedamasceno/
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Um bebê por encomenda

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Sinopse: Solteirão convicto e CEO da maior companhia do
ramo de alimentos do país, Jefferson Richelme tinha apenas um

objetivo de vida: tornar-se ainda mais poderoso e rico; o que não

incluía formar uma família, para o desgosto do seu avô, Estebán.


Nascido em berço de ouro, o milionário sempre teve tudo o

que desejava. Depois de descobrir que o próprio pai desviava

dinheiro da empresa do avô, ele queria mais do que nunca que


Estebán tirasse o seu genitor da presidência, rebaixando-o de cargo

e assim, salvando o negócio da família. Mas convencer o velhinho a

fazê-lo não seria nada fácil, pois o avô só daria ao empresário o que
tanto almejava se ele lhe desse um outro herdeiro.

Um filho, definitivamente, não estava em seus planos.


Encurralado e não querendo se envolver com uma

desconhecida e ficar amarrado a ela para sempre, o magnata, se

sentia cada vez mais pressionado a ter um bebê. Mas um plano

surge em sua mente ao ouvir que a menina que viu crescer, a sua

melhor amiga de infância, desejava ser mãe. Não havia mulher mais

perfeita para gerar o seu filho, já que Sofia era adorada pelo avô.
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uma proposta indecente e uma gravidez! Uma comédia romântica


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Sinopse: Sentindo-se culpado pelo acidente de carro que


vitimou o seu melhor amigo, o milionário do ramo madeireiro,

Alexander Brooke, como forma de autopunição impôs-se a solidão,

afastando-se de todos que o amavam. Recluso e agora sombrio, ele


abandonou seus sonhos, inclusive de ser amado e formar uma

família.

Quando uma menina, tão quebrada quanto ele, fraca e

desnutrida, aparece em sua porta precisando de proteção, o CEO

não hesitou em cuidar dela, embora lutasse arduamente contra os


sentimentos despertados por aquela desconhecida, emoções que

não poderia mais permitir ter. E lutar contra a tentação que Mariana

representava tornou-se impossível para o homem poderoso, e


acabou tomando sua inocência e luz para si.

Mas aquela felicidade frágil ao lado da sua Pequena poderia


vir a ruir quando o milionário se vê obrigado a cuidar da filha do seu

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Sinopse: Sua secretária não resistiria a ele...

Depois de muito lutar contra o desejo que sentia, o CEO da


Jhonson's and Phillips's, uma grande multinacional do ramo

imobiliário, estava determinado a conquistar sua secretária

supereficiente e torná-la sua amante, sem se importar com as


consequências, e por tempo indeterminado. Porém os planos do

empresário vão por água abaixo quando um obstáculo se interpõe

no seu caminho.
Machucada e ferida por um relacionamento fracassado,

Madeline Jameson, secretária do CEO da J&P, não queria se

envolver tão cedo com outro homem. Mas o seu chefe, e amigo,
estava determinado a arrastá-la à uma ilha australiana a fim de

avaliar o estado físico do local e, principalmente, para seduzi-la.


Poderá a convivência entre os dois forjar algo além da

atração e do desejo?
A menina inocente do CEO

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Sinopse: Ele não confiaria em mais ninguém...
CEO multimilionário da Matiazzi Corporation, uma empresa

reconhecida mundialmente no ramo da construção, Fernando

Matiazzi era um homem amargurado, frio e cético, que controla tudo


e a todos ao seu redor. Não há nada, nem ninguém, que o dinheiro

não possa comprar.

Cínico e arrogante, cuidava da empresa e da sua vida com


mão de ferro, afastando todos que ousavam se aproximar. Ele

nunca se deixaria enganar, não mais...

Porém suas barreiras de gelo e de cinismo poderão começar


a ruir quando uma jovem, meiga, inocente e persistente, entra na

sua vida e começa a colocar em xeque tudo o que ele acreditava


que era e se tornou.

Será que a doçura dela conseguirá quebrar o coração de gelo

desse CEO calculista?


A virgem comprada do Magnata

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Sinopse: Bilionário conhecido por seu gênio controlador,
sua arrogância e foco nos negócios, o magnata Andrea Della Torre

sempre conseguia o que queria e não se importava de passar por

cima de tudo para alcançar os seus objetivos. E ele estava


determinado a ter em sua cama a única mulher que nos últimos

anos despertou o seu interesse e que tinha seu respeito: sua

secretária. Mesmo que para isso tivesse que comprá-la, pois todos
tinham o seu preço.

Adelle Beckett desde nova teve que assumir várias

responsabilidades, dentre elas a criação de seu irmão, após a morte


de sua mãe em decorrência de uma overdose. Conciliando o

trabalho e os estudos, ela faria de tudo pelo pequeno William,


inclusive se vender ao seu chefe para pagar a cirurgia de urgência

que a criança precisaria fazer. Era isso, ou pegar emprestado com

um agiota, e a mulher não hesitou em assinar o contrato que faria

dela a amante exclusiva por tempo indeterminado do poderoso

magnata.

Ele não queria se envolver emocionalmente, ainda mais com


uma mulher que achava que queria apenas o seu dinheiro, traindo-
o. Ela não desejava perder o seu coração e se apaixonar por ele,
um homem rico que não suportaria lidar com seus sentimentos.

Mas esse acordo selado por meio de cláusulas contratuais

poderia ser a ruína de ambos, principalmente a dele.

[1]
Eu me lembro do cheiro da sua pele.
Eu me lembro de tudo
Eu me lembro de todos os seus movimentos
Eu me lembro de você, sim
Eu me lembro da noite
Você sabe que eu ainda lembro.
[2]
Meu doce.
[3]
Minha deusa.
[4]
Minha querida.
[5]
Querida.
[6]
Preciosa.
[7]
Ao inferno .
[8]
Minha preciosa.
[9]
Preciosa.
[10]
Perfeita.
[11]
Deus.
[12]
Bela.
[13]
Idiota.
[14]
Gostosa.
[15]
Fogosa, quente ou sexy.
[16]
Doçura.
[17]
Céus.
[18]
Meu Deus .
[19]
Porra.
[20]
Talvez...
[21]
Pequena feiticeira.
[22]
Feiticeira.
[23]
Gostosa.
[24]
Droga.
[25]
Meu amor ou minha preciosa.
[26]
Meu amor .
[27]
Céus.
[28]
Mãe.
[29]
Divórcio imediato na tradição muçulmana.
[30]
Minha mãe.
[31]
Filho.
[32]
Menino.
[33]
Meu amor.
[34]
Espada curta usada no império otomano e na Armada Turca, sem guarda, cuja
lâmina se curva em formato côncavo e convexo, tornando-a mais letal.
[35]
Meu amor.
[36]
Filho da puta .
[37]
Meu filho.
[38]
Por favor, meu amor.
[39]
Desculpe-me, preciosa.
[40]
Não.
[41]
Meu homem .
[42]
Véu usado pela mulher mulçumana que esconde os cabelos, orelhas e
pescoço, deixando à mostra somente o contorno do rosto.
[43]
Meu menino ou filho.
[44]
Filha.
[45]
Alma gêmea.

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