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Heathens — CORVYX
Amen — ∆aimon
Música Tema
Tudo por causa de uma garota. Uma garota que eu não consigo tirar da
minha mente desde o dia em que ela apareceu na minha aula. Ainda mais
depois de nosso tempo no chuveiro. Depois de tê-la presa e indefesa em nosso
ninho. Ela acha que estamos brincando com ela. Deixando que ela decida de
que lado da linha de batalha ela quer ficar.
Meus lábios se contraem, mas eu os aliso antes que eles possam se torcer
em uma careta.
Com Trinity na cena, tudo mudou. Agora não estou mais dirigindo até a
cidade para comprar uma câmera nova para Apollo, alguns pacotes de cigarros
e esvaziar minha caixa de correio.
E então o mataríamos.
Tudo tinha sido perfeito... até que Trinity chegou e mudou tudo. Isso é o
que eu pensei, de qualquer maneira. Acontece que esse desenvolvimento
inesperado pode funcionar a nosso favor.
E a Trinity?
Vou deixar meus irmãos decidirem o que querem fazer com seu novo
brinquedo, ficar com ela ou descartá-la.
Uma sacudida áspera, acompanhada por uma ainda mais áspera, Ei! me
tira de um sonho deliciosamente confuso. Eu afasto a mão de Jasper e me
sento, segurando meu cobertor no meu peito como se ele estivesse tentando
tocar.
— Onde você estava ontem à noite? — Ele ainda está de pé, me forçando
a esticar minha cabeça para trás para olhar para ele.
Eu zombo dele.
Jasper se levanta, se vira para o lado e puxa sua boxer. Hematomas cor
de mostarda estragam sua pele.
— Eu os recebi no primeiro dia em que você chegou porque você foi para
a aula sem o uniforme da escola.
Minhas bochechas pegam fogo. Espero que Jasper entenda isso como
raiva e não... outra coisa.
— Você quer saber o que eu penso? Acho que você fez alguma coisa, —
digo, aproximando-me até que ele se incline para trás para se afastar de mim.
— Algo ruim o suficiente para fazer você ficar preso a um colega de quarto. E
agora você está tentando me culpar por isso.
Isso o cala, mas pelo mau humor em sua boca, não vai demorar muito.
— Vá se foder.
Sem sorte, vai precisar de outra lavagem antes que as pessoas parem de
me confundir com um palhaço. Meu olhar segue para a pequena janela ao lado
do banheiro.
Eu coloco meu pijama contra meu estômago. O único cesto de roupa suja
que conheço é o dos chuveiros, mas tenho certeza de que não vou lá. Tenho
certeza de que está cheio de meninos nus. E os únicos meninos nus que quero
ver são alguns poucos selecionados que tenho certeza que não seriam pegos
fazendo algo naquele lugar novamente.
Ainda estou corando com esse pensamento quando volto para o meu
quarto e coloco minhas roupas sujas debaixo da cama.
Estou acostumada com os corredores vazios por aqui. Parece que o único
momento em que há muitas atividades é pela manhã, quando todos os
meninos correm para tomar banho antes de orar...
— Sim?
Abrindo mais a porta, eu saio para pegar um pouco de sol no meu rosto
antes de ir para o refeitório.
TRINITY MALONE
Idiotas.
O movimento atrai minha atenção. Apollo está acenando para mim pela
janela da porta da cozinha.
Zach disse que mandaria me chamar para discutir o que eles queriam que
eu fizesse a seguir. É por isso que Apollo está me chamando? Eu não pensei
que seria tão cedo. Eu esperava colocar minha cabeça em ordem até então.
Eu engulo e atravesso a sala de jantar.
Não tive a chance de processar nas últimas vinte e quatro horas. Nunca
me senti tão conflituosa em minha vida. Eu quero odiar esses caras, inferno, é
claro que os odeio, mas depois de ouvir suas histórias... é de se admirar que
eles estejam tão fodidos?
Ele inclina a cabeça e me leva a uma porta de aço. A luz do dia entra
quando ele a abre. Entro em um pátio que cheira a tijolos úmidos. Há uma
mesa de concreto e quatro bancos no centro.
— Você não tem que usar seu uniforme nos fins de semana, — Apollo diz,
de costas para mim enquanto pega um maço de cigarros e acende um. Eu olho
para mim mesma, fecho meus olhos e praguejo internamente.
Isso era o que havia de diferente nos meninos. Eles estavam vestindo
roupas normais, não o seu marrom monótono de costume.
Eu sou um idiota.
Minha bandeja bate na mesa. Eu me viro para Apollo com a boca aberta.
— Sente. Coma.
— Não. — Eu cruzo meus braços sobre meu peito. — Diga-me o que isso
significa.
Em vez disso, ele fuma seu cigarro e me encara por uma fresta em seu
cabelo loiro. Ele o lavou? Aposto que ele tem seu próprio banheiro.
— Sente.
— Coma.
Olhar para ele não funciona, então deixo escapar um grande suspiro e
rasgo o filme plástico da minha bandeja.
— Por favor, me diga o que você quis dizer. — Talvez as boas maneiras
me ajudem a chegar até esse cara, porque ser rude com certeza não ajuda.
Meu olhar se volta para seus olhos. A ruga no canto de cada um me diz
que ele sabe exatamente o que estou pensando.
Apollo inclina a cabeça e seu cabelo desliza para trás em seu rosto. —
Mesmo que não seja Gabriel, Gabriel sabe quem é. — Ele dá de ombros, dá
uma tragada no cigarro e dá a volta na mesa até mim. — E você provavelmente
iria abrir sua boca se achar que o machucaríamos, então... teríamos que ter
certeza de que você não faria nada assim.
Estou tão chocada com o que ele está insinuando. Eu não me movo
quando ele passa a ponta dos dedos pelo meu queixo.
Nós.
Todos aqueles anos que passaram juntos naquele porão. Eu nem consigo
imaginar o vínculo que criou entre eles. Acho que vai muito além de traçar um
plano de vingança. Eles não são apenas amigos, eles são irmãos.
— Por favor, você tem que acreditar em mim. — Eu arregalo meus olhos
enquanto me viro para encará-lo.
Há incerteza em seus olhos. Mas há algo mais lá também. Não posso ter
certeza, mas espero contra todas as esperanças que ele queira acreditar em
mim.
— Não sou eu que você precisa convencer, — ele diz, seus lábios se
curvando em um sorriso enquanto ele dá outra tragada no cigarro.
— Vamos buscá-la em uma hora. Vista algo bonito, — diz ele com um
sorriso malicioso.
Estou em um quarto na ala leste. Não é nada parecido com o que tenho
para compartilhar com Jasper. É três vezes maior e tem seu próprio banheiro
privado, onde atualmente estou totalmente nua e com medo de que alguém vá
entrar.
Reuben, para ser mais precisa. Por ser o quarto dele, ele me acompanhou
até aqui. Acho que ele está na pequena área de estudo com sala de jantar de
seu apartamento, mas seus tapetes são grossos demais para que eu saiba se ele
se moveu.
Por alguns minutos, não há nada além de mim, a água quente e aquele
perfume delicioso. Deve cheirar como Reuben, mas em mim cheira diferente.
Estou feliz por usar o banheiro dele. Eu teria recusado se fosse de Cass, e
seria muito estranho usar o de Apollo. Estranhamente, apesar de quão grande
e assustador ele é, Reuben me faz sentir... segura.
Deve ser incrível ter alguém assim em sua vida. Alguém que pode
arrancar os dentes de qualquer um que se atreva a olhar para você de forma
engraçada. Eu nunca teria medo de novo. Não envolta em seus braços fortes.
Minha mão desliza pelo meu quadril e eu hesito, mordendo meu lábio
inferior por um segundo. Eu espreito atrás de mim, mas não consigo ver a
porta do banheiro através do vidro e vapor.
Deslizando mais para baixo, meus dedos roçam meu clitóris. A emoção
passa por mim quando meus olhos se fecham. Deveria ter sido os olhos negros
de Reuben que apareceram, mas em vez disso, tudo que posso ver é Zachary.
Sua expressão solene, aquela ruga quase permanente entre as sobrancelhas.
Considerei severidade, mas agora sei que é algum tipo de raiva. A raiva
que se transformou em diamante com o tempo. Mas os diamantes não são
bonitos quando saem do solo. Eles têm aparência áspera e turva. Para brilhar,
eles precisam ser polidos.
Duvido que Zachary deixe alguém chegar perto o suficiente para que isso
aconteça. Ele ou qualquer um de seus irmãos.
Uma onda de adrenalina pecaminosa passa por mim. Não faço isso há
anos, e o prazer culpado disso me faz morder o lábio com ainda mais força. O
que eles fazem naquele covil deles? Beber e fumar como se fossem donos do
lugar. Algum deles já deslizou por trás daquela cortina para fazer o que estou
fazendo?
Sozinha.
Juntos?
Porra.
Um pequeno gemido escapa dos meus lábios. Estou tão perto que quase
posso...
— Trinity?
Ele não diz nada, mas posso imaginá-lo franzindo a testa para a porta,
talvez pensando em entrar para ter certeza de que estou bem.
Não seria a pior coisa do mundo. Eu nunca considerei que tipo de cara
eu gostaria, honestamente, eu nunca conheci o suficiente para que isso tenha
sido uma consideração, mas de todos os irmãos de Zach, Reuben me parece o
mais são. Claro, ele é um pouco quente e pesado com sua Bíblia, mas nele esse
tipo de fervor zeloso parece puro e correto.
Papai nem sempre foi padre. Casaram-se jovens e tentaram durante anos
ter um filho. Meu pai acabou se voltando para a religião, esperando respostas
de Deus sobre porque mamãe continuava abortando. Acho que eles finalmente
encontraram a resposta, porque um ou dois anos depois que meu pai entrou
para o clero, minha mãe engravidou de mim e cheguei ao termo1.
Ela comprou isso no meu aniversário de dezesseis anos, mas nunca pude
usá-lo. No momento em que meu pai viu isso em mim, ele me mandou de volta
ao meu quarto para me trocar.
Eles tiveram uma grande briga naquela noite, e papai foi embora sem se
preocupar em ficar por perto para comer um bolo.
Não tenho salto, mas este vestido não precisa deles. Ele vem no meio da
coxa e se agarra a mim como uma segunda pele. Saio do banheiro
casualmente, fingindo me concentrar em desembaraçar meu cabelo como se
eu usasse coisas assim todos os dias, mesmo quando meu coração parece que
vai bater para fora do meu peito.
Não adianta, é claro, mas não tenho o direito de reclamar. Eu sei que este
vestido é um problema, é por isso que o escolhi.
Eu acho que o álcool faz você ficar corajosa, porque cansei de ser a boneca
marionete deles.
Estou usando este vestido porque isso significa que os irmãos de Zach, e
com sorte o próprio Zachary, ficarão tão distraídos que, pela primeira vez,
terei a vantagem.
— E Zachary?
— Cale a boca!
— O que?
Meu nariz enruga quando sinto o cheiro da bebida de dar água nos olhos
em meu copo.
— O que é Moonshine?
Eu franzo a testa para ele, prestes a perguntar o que diabos isso deveria
significar quando há um estalo de tecido atrás de mim. Eu me viro em meu
assento, de frente para Cass enquanto ele invade o covil.
— Temos companhia, — ele diz, e então seus olhos caem sobre mim. Um
sorriso presunçoso substitui sua carranca. — Bem-vinda de volta, minha
putinha. — Seus olhos vagaram sobre mim como um toque físico. — Droga.
Você parece boa o suficiente para comer.
2É qualquer tipo de álcool, geralmente uísque ou rum, feito em segredo para evitar altos impostos
ou a proibição total de bebidas alcoólicas
— Não é Zachary, — diz Reuben. — Não, a menos que ele tenha saído
mais cedo.
— Não, não Zachary, — Cass diz, aprofundando sua voz como se estivesse
tentando imitar Reuben. — Aqueles outros dois fodidos.
— Eles já estão descendo aqui. — Cass agarra seus quadris, girando para
me encarar. — Devíamos amordaçá-la.
— Eu não ia…
Cass enfia a bandana entre meus lábios e amarra atrás da minha cabeça.
Em seguida, ele dá um tapinha na minha bochecha e me puxa para fora das
garras de Reuben.
Eu estava disposta a ouvi-los.
Mas isso?
É óbvio que eles nunca vão confiar em mim, então de que adianta tentar
mudar nossa dinâmica fodida? Eu me enredei em seus planos, e a única saída
é pelo caminho que escolheram para mim. Eu os odeio por não me deixarem
escolher. Mas por que eu esperava algo diferente do grande mundo mau sobre
o qual meus pais sempre me alertavam?
— Coloque-a lá. — Cass aponta para o quarto. Apollo agarra meus pulsos
e começa a me arrastar pela sala.
Estou cem por cento focada em Apollo, mas posso praticamente ouvir
Cassius revirando os olhos para mim.
— Sua virgindade está segura. — Ele solta uma risada sombria. — Por
enquanto.
****
— Aqui?
Se eles me descobrirem aqui embaixo, isso vai acabar com tudo. É por
isso que Cass me amordaçou? Ele não pode honestamente pensar que eu faria
barulho e atrairia a atenção deles, eu poderia ter feito isso a qualquer
momento nas últimas horas em que estive sozinha no dormitório. Mas, como
já passei do ponto de reclamar do tratamento, sento e aguento.
Pelo menos até que essa maldita mordaça se solte. Então eles vão comer
um bocado.
Eles podem?
Reuben abre meu punho e entrelaça seus dedos nos meus. Algo roça
minha perna e eu viro meu olhar aflito para Apollo, que conseguiu se mover
bem ao meu lado sem fazer barulho. Então, novamente, eu não estava me
concentrando neles, estava? Apollo pega minha outra mão, imitando Reuben.
Eles acham que vou tentar arranhar o meu caminho para sair daqui ou
algo assim? Eu me mexo nas camadas de cobertores e colchões embaixo de
mim e olho para a escuridão, procurando por Cassius.
Talvez ele ache que Apollo e Reuben cuidaram de mim, porque não
consigo localizá-lo nas sombras, embora meus olhos tenham se adaptado à
escuridão.
Mais farfalhar.
Um gemido abafado.
Mãe de Deus, não aguento mais. Meu cérebro parece muito ansioso para
preencher as lacunas do que está acontecendo. Na minha cabeça, aqueles dois
meninos estão fazendo coisas muito, muito perversas um com o outro.
Esses sons estão me excitando? Não pode ser. É mais provável o fato de
que os irmãos de Zach têm minhas mãos como crianças no primeiro encontro.
Oh meu Deus! Jasper e eu passamos por uma aula inteira com ele
sabendo que ele tinha feito exatamente isso a apenas alguns metros de
distância? O pervertido! É por isso que ele não conseguia se concentrar?
A outra mão de Cass procura meu joelho e subindo pela parte interna da
minha coxa. Eu torço meus ombros, tentando me afastar dele. Reuben e
Apollo apertam minhas mãos com mais força.
Eu congelo.
Não.
Bastardos!
Eles não estavam segurando minhas mãos porque eram muito doces
comigo. Eles estão me mantendo imóvel para Cass.
— Levante sua bunda fofa para que eu possa tirar isso, — Cass murmura
em meu ouvido.
Ofegando na minha mordaça, eu jogo o cabelo para longe dos meus olhos
e tento pensar no meu próximo movimento, ignorando o fato de que meu
corpo pensa que tudo isso está correto.
— Você está lutando muito duro para alguém que já está molhada, — diz
ele.
O calor lava meu rosto e afunda em minhas bochechas. Acho que nunca
fui tão humilhada em minha vida.
Um suspiro profundo.
Minha mente está pirando. Quanto mais tento mantê-la em branco, mais
ela se enche de imagens gráficas do que eles estão fazendo lá fora.
— Sim. Foda-se, — Jasper grunhe.
Arrepios saem da minha pele, e eu não tenho ideia se foi aquela explosão,
ou os dentes de Cass arranhando minha nuca.
Outra pancada.
— Ainda não, — diz Perry, e meu peito aperta o quão frenético ele parece.
— Por favor, Jay. Só mais cinco minutos.
— Claro que você deveria estar com medo. Eu não acho que você pode
lidar com ele, minha linda vagabunda. Não que você tenha escolha, é claro.
Não se ele acabar dividindo você bem no meio, porra.
— Vocês dois!
Jasper grita.
— Irmã? É Zachary. Estou enviando Jasper e Perry para você. — Sua voz
se afasta. — Vinte cada. Não, infelizmente tenho outros assuntos a tratar. E
nenhum jantar para nenhum deles.
— Que porra é essa? — ele exige em um grunhido profundo que faz minha
irritação crescer.
Zachary aponta de volta para a sala de estar. Cass corta e entra na sala de
estar sem olhar para trás.
Sem tirar os olhos de mim, ele inclina a cabeça para o lado e grita.
Fodidos selvagens.
Assim que a mordaça é retirada, ela faz uma careta para mim.
Tento ajudá-la a se levantar, mas ela solta minha mão com uma maldição
murmurada. Ela se levanta e, em seguida, puxa rapidamente algo em torno de
seus joelhos.
A calcinha dela?
Jesus H. Cristo.3
— Dê.
Ela parece que vai desobedecer, mas então seus ombros caem e ela
entrega a calcinha. Eu a examino enquanto desembaraço o tecido. Pela
primeira vez, ela está usando algo que se encaixa, mas aquele vestido claro e
colante é como uma bandeira vermelha para um touro.
— Bonito vestido.
Ela não olha para mim enquanto passo por ela para sair.
Está encharcada.
Ora, eu acredito que nossa pequena Trinity tem uma queda por nós.
****
Ela está sentada rígida como uma tábua na minha cadeira, as mãos
colocadas em seu colo e os olhos baixos. Mas posso vê-la me observando
3 Jesus H Cristo é uma interjeição expletiva que se refere à figura religiosa cristã de Jesus Cristo. É
tipicamente pronunciado com raiva, surpresa ou frustração
através dos cílios enquanto vou colocar sua calcinha em uma das minhas latas.
Eu não tinha intenção de mantê-la, mas vai deixá-la louca sabendo que ela
deixou evidências de sua presença aqui.
— Segunda ofensa, — Reuben diz antes que eu possa abrir minha boca.
— Deveriam ter conseguido trinta.
Trinity responde.
— Eu não quero...
Ela corta quando eu balanço minha cabeça, e deixa seu olhar cair de volta
em seu colo.
Uma coisa tão bonita. É por isso que Gabriel a trouxe aqui? Eu estive
pensando sobre tudo na noite passada. Mudar Trinity para Saint Amos foi uma
jogada arriscada para o Guardião. Tão arriscado que ainda estou tentando
descobrir por que ele faria isso.
Não temos cem por cento de certeza de como ele escolhe os fantasmas
com quem trabalha. Presumimos que sejam todos membros do clero, mas de
uma diocese diferente ou todos da mesma? Eu esperava que não houvesse
nada os unindo, exceto Gabriel, e que ele mantivesse distância.
Trazer um resquício de sua vida anterior aqui, para São Amós, não é
manter sua distância. Talvez ele pense que está seguro agora, depois de todos
esses anos. Mas ele nunca foi imprudente.
Até agora.
Até Trinity.
Porque a única razão pela qual posso pensar que Gabriel traria Trinity
aqui é porque ele sabia que ela não ficaria. Então, para onde vai a pobre órfã?
Trinity não está aqui para terminar seu último ano. Ela está aqui para
conhecer alguém muito especial. Talvez algumas pessoas.
Gabriel está de volta amanhã. Não há nada que possamos fazer, exceto
arrombar a porta, para acelerar esse processo. E se isso fosse uma
possibilidade, já o teríamos feito.
Há tempo para matar. Eu deveria ser grato pela diversão que Trinity nos
oferece.
Mas ele está tão ocupado pulando do sofá, acho que nem percebe. Eu
abaixo meus olhos e deixo escapar uma risada suave enquanto tomo meu
uísque.
Ele vem e pega, mas em vez de voltar a encher, ele para ao lado da cadeira
de Trinity, de costas para mim.
— Termine, — ele diz baixinho, batendo uma unha contra o copo dela.
Ela se estica para olhar para ele e lentamente engole o resto de seu copo.
Acho que é o que seu Fantasma mais gostava nele. Uma coisa é controlar
uma criança que não consegue revidar, mas controlar alguém como Reuben?
Ele sempre foi mais forte e maior do que o resto de nós. Nossa rocha.
Mas o que Trinity fará quando Reuben perceber que não precisa mais
salvá-la? Porque é nessa época que ele perde o interesse pelas pessoas.
Não preciso olhar para saber do que ele está falando. Minhas viagens
para a cidade são como o Natal por aqui, porque eu sempre volto trazendo
presentes. O de Cass vem em algumas bolsas de dez centavos que custam
muito mais do que dez centavos hoje em dia.
— Jaysus, — ele murmura, fazendo uma careta. — Você disse a ele que
ele tem que curar suas coisas por mais tempo do que a porra de um dia?
Trinity olha de Cass para mim, de Reuben para Apollo, seus olhos
piscando ao redor como uma libélula nervosa.
— Como o quê?
Ela toma um pequeno gole de sua bebida. — Perry me disse que Jasper
odiava garotas.
Cass bufa enquanto se move para o sofá. Ele afunda, empurrando Apollo
para o lado com o cotovelo. Apollo está tão ocupado ligando sua nova câmera
de vídeo e verificando as configurações que ele nem parece notar.
Ela acha que vamos começar a salivar por causa dela a ponto de deixar
escapar algo importante?
Paranoia.
Quase não nos parecemos com as crianças que éramos. Há uma caixa de
tintura de cabelo em uma das sacolas. Lentes coloridas em outra. Os
fantasmas de Cass amavam seu cabelo comprido, então foi a primeira coisa
que ele fez quando escapamos, raspar sua cabeça. Não somos mais meninos
sujos, desnutridos e pálidos, cheios de hematomas e feridas.
Ou ela poderia ser uma espiã. Ele poderia tê-la trazido aqui para se
infiltrar em nós, espalhar divergência, descobrir o quanto sabemos.
Zachary não fala de novo até que Cass termine e a erva tenha passado
algumas vezes. Eu não me preocupo em recusar. Eu nunca fumei antes,
maconha ou cigarros, mas posso entender por que as pessoas fazem isso. Uma
vez que meus pulmões se acostumam com a fumaça quente, a sensação é
absolutamente deliciosa.
Você não está aqui para fazer amigos, Trinity. Você está aqui para
descobrir como diabos você vai sair dessa bagunça.
4 Cannabis selvagem nativa, essas plantas geralmente têm baixo teor de THC. São mais “leves.”
Sua poltrona está em um ângulo em relação à minha, então tenho que
virar minha cabeça para olhar para ele. Eu arrisco uma espiada rápida agora,
tentando ver sua expressão.
É o mais relaxado que eu já vi, mas ele ainda parece pronto para atacar.
— Sim, você daria. — Cass se senta para frente, abaixando a cabeça como
se estivesse tentando imprimir sua declaração em mim.
Isso faz Apollo e Reuben rir e coloca uma carranca no meu rosto. O que
eu rapidamente disfarço.
Merda. Acho que ser evasiva não está no menu até que eu esteja sóbria
novamente.
Idiota.
— Minha história?
Todo mundo para de se mover. Até Apollo, que eu pensei que não estava
ouvindo.
— Eu só...
Talvez seja por isso que falaram ontem, e não Reuben e Zachary.
Querido senhor. Qualquer que seja o nervosismo que eu tive, eles foram
baleados novamente. Manter a calma perto desses caras é impossível. É como
ficar de olho em quatro alvos móveis. Vou ter que me acostumar com o fato de
que eles sempre terão uma vantagem sobre mim.
Zachary entrega um estojo fino para Reuben, que o encara por alguns
segundos antes de abri-lo. Ele pega um rosário preto opaco e o coloca na
cabeça. Em seguida, ele o enfia sob a camiseta.
Zachary está vestindo uma camisa de botões, azul claro, e jeans que
parece que ele os comprou em um brechó. Na verdade, todos os caras parecem
ter recebido suas roupas do Exército de Salvação.5
— Faça isso mais tarde. Eu preciso que você configure isso. — Zachary se
inclina e entrega o laptop a Apollo.
Zachary pega uma caixa muito menor e volta para seu assento. Ele brinca
com ela enquanto observa Apollo remover a embalagem do laptop e ligá-lo.
Eu inclino meu copo contra meus lábios e olho para baixo com surpresa.
Está vazio. Eu rapidamente envolvo meus dedos em torno dele, tentando
esconder o fato, mas sou muito lenta.
Reuben se levanta.
Essas não são pessoas normais, Trinity. Sua vida é a coisa mais distante
do normal agora.
— OK.
Eu aceno e olho para os outros meninos. Cass está fumando o que sobrou
da erva, apoiando o cotovelo na poltrona e se curvando como se estivesse
esperando o início da sessão de fotos. Ele está vestindo uma camiseta branca
feita de tecido fino que cobre seu corpo como seda. Se não fosse pelo buraco,
eu teria pensado que era uma peça de designer cara. Mas o buraco é grande e
feio, definitivamente não foi feita assim.
Apollo ainda está ocupado com o laptop. Seus longos dedos voam sobre
o teclado, os ombros curvados e o cabelo escondendo o rosto.
Zachary brinca com a caixa enquanto seus olhos me procuram.
— É fácil, — Apollo diz sem olhar para cima. — Zach vai te dar a direção.
Basta conectá-lo em uma unidade USB e ele fará o resto.
Eu aceno, meus olhos indo para a caixa que Zachary tem. Não vou
perguntar o que é uma unidade USB, espero que seja um daqueles tipos de
coisas autoexplicativas.
— Como vou enfiar isso no quarto dele? — Mas então eu levanto a mão,
fechando os olhos brevemente. — Como é que eu vou entrar no quarto dele?
— Eu tenho a coisa, — ela diz, segurando o pen drive. — Eu sei o que fazer.
Certamente eu posso... — Ela para antes de olhar para a saída.
Sua boca se abre, mas ela não diz nada. Em vez disso, ela agarra o
crucifixo vermelho sangue em volta do pescoço.
Reuben teria preferido ter seu rosário de volta, mas ele precisa aprender
a deixar as coisas irem. O crucifixo é um começo. Um bom começo. Eu nunca
poderia fazer com que ele o abandonasse. Mas bastou uma alma desesperada
e ele a entregou como se não fosse nada.
— Eu não vou dançar. — Seus olhos cintilam sobre meus irmãos. Então
eles voltam para mim e se estreitam. — Não, a menos que eu receba algo em
troca.
Cass assobia por entre os dentes. Apollo até para de mexer no laptop por
tempo suficiente para olhar para ela com os olhos arregalados e a boca aberta.
Reuben bufa e esfrega o queixo como se estivesse tentando esconder o sorriso
fraco.
— Espera aí, — diz Cassius com uma risada. — Vamos ouvi-la. Qual é a
sua oferta, Trin?
— Quero saber como você influencia tudo isso, — diz ela. Um aceno
ausente de sua mão atinge meus irmãos, depois os pacotes contra a parede. —
Você é mais velho do que eles. E um professor, o que significa que você estudou
na faculdade, certo? — Ela se aproxima, até que a madeira com aroma de rosas
de seu rosário faz cócegas em meu nariz. — E você é rico. Então, como você foi
parar naquele porão? Como você se tornou parte disso?
— Para uma dança de alguém que nem sabe dançar? — Eu zombo dela.
— Acho que não.
Eu forço um sorriso.
— Que tal você dançar, e considerarei não lhe dar cinco chibatadas por
ser uma vagabunda tão presunçosa?
Cass ri com o fato de que estou usando suas palavras, mas eu o ignoro.
Trinity é tudo que me interessa agora.
Ela estaria se mijando se soubesse o quão mortal era atrair toda a minha
atenção.
— Seis.
Meus olhos caem em seus lábios. Quando ela os lambe, quase a beijo
apenas para sentir o gosto de sua boca.
— Vá em frente, então.
Ela se move para o centro da sala e hesita antes de olhar para Reuben.
6 Jogo que define de quem é a vez. Palitos de vários tamanhos quem pegar o menor é quem perde.
Ainda tenho dobras em ambos os tornozelos, onde a ligadura constante
de uma corda muito apertada alterou minha estrutura óssea.
Uma vez por dia, enquanto comíamos, eles nos libertavam de nossas
amarras. Naquela hora, vasculharíamos cada centímetro de nossa gaiola,
apenas para o caso de um fantasma ter deixado cair alguma coisa, ou se
tivéssemos perdido algo nas milhares de vezes que vasculhamos.
Rube perdeu.
Ela pega o copo de Reuben e o bebe com pressa. Seu rosto se contrai
enquanto ela luta para não tossir. Ela acena para ele e devolve o copo.
— Chega.
Ela para seus olhos se abrem, enquanto ela se vira para me encarar.
— O que?
Seus olhos se arregalam. Ela levanta os braços, uma palma voltada para
mim e a outra para Cass enquanto ele se levanta e começa a tirar o cinto.
Ele desliza a mão por seu ombro, braço e até seu quadril. Então ele a
segura pela cintura com as duas mãos e gira seus quadris em forma de oito.
— Estou tentando, — ela murmura de volta, olhando para ele como se ela
estivesse se perguntando quando ele planeja quebrar seu pescoço.
Reuben e Cass foram os únicos dois de nós que tiveram algo parecido
com uma infância normal depois que escapamos da Casa Fantasma. Eu lutei
para nos manter juntos, mas éramos todos de estados diferentes. Rube e Cass
foram para lares adotivos na Virgínia Ocidental e na Geórgia, Apollo de volta
à Carolina do Norte e eu fiquei na Virgínia.
Reuben acabou em um lar adotivo com três outras meninas, o que nunca
vamos deixá-lo viver em paz, especialmente visto que ele nunca fodeu
nenhuma delas. Embora eu duvide que isso tenha passado por sua mente. Ele
se tornou seu irmão mais velho, e essa é a pessoa que ele manteve. E ele fez
um trabalho tão bom, que a família adotiva quase acabou adotando-o.
— Bom, — diz Reuben. — Agora seus ombros. Você tem que dançar com
todo o seu corpo.
Baque.
Baque.
Cass e Apollo pegam a batida, Apollo com um de seus anéis contra o copo,
Cass batendo na parte de trás da lata onde mantém sua erva.
— É isso aí, — murmura Rube. Sua cabeça baixa, seus lábios roçando o
topo de sua cabeça. — Você sente isso?
É assim que nossos fantasmas olhariam para nós, uma voz sinistra
sibila.
Não. Isso não é o mesmo. Era uma luxúria doentia e contaminada. Isso é
puro e natural.
Tento bloquear a voz, mas tapar os ouvidos com as mãos não adianta.
Você sabe o que tem que fazer, não é? Para ela, para eles.
— Se eu não posso dar o meu tapa, então você não pode ter o seu...
— Essa merda é anti-higiênica pra caralho, — diz ele com voz rouca.
— Onde. Está?
Quase não consigo ver nada no escuro, mas há um vislumbre de luz onde
seus olhos estão.
Ele está certo, e isso me faz sentir ainda mais patético por me permitir
ser pego entre a vergonha e a culpa e o desespero total. — Eu apenas preciso...
Sua mão escorrega do meu braço. Sussurros de tecido. Então ele segura
a mão que segura meu cigarro aceso.
Eu não sei como diabos ele aceita tão facilmente meus colapsos.
— Foda-se, — eu grito, fechando meus olhos com força para que eu não
possa ver aquela cinza brilhante tentadora. — Cass, não.
— Foda-se.
— Jesus, a tensão está me matando, — ele diz com um sorriso que posso
ouvir, mas não vejo.
Tão fácil pra caralho para ele. Para eles. Eu nunca deveria ter tirado o
palito curto. Rube teria sido um líder melhor do que eu qualquer dia. Qualquer
um deles teria. Mas fui eu. Então eu tive que ser um homem e liderá-los, porra.
— Você sabe que é a pior parte, certo? A espera? Você sabe disso, porra,
Zach. Então apenas faça isso, seu boceta.
Ele guia minha mão para baixo e mais perto, até que meus nós dos dedos
roçam sua pele nua onde ele está levantando sua camisa. Eu trago sua pele
com a ponta do meu polegar. Meu peito está tão apertado que mal posso
respirar, e o pouco de ar que entra parece que estou sugando de uma porra de
chaminé.
— Cass...
— Cristo.
Minha respiração sai em um grunhido de dor que não posso ficar quieto.
Eu rolo para o meu lado, me enrolando enquanto ele me chuta novamente.
Então ele se foi, uma luz laranja florescendo contra a parte de trás das minhas
pálpebras antes que o quarto escurecesse novamente.
Abro os dedos e deixo o cigarro amassado cair. Então eu trago minha mão
para perto e lambo a faixa de cinza espalhada na palma da minha mão.
Tocar.
Tocar.
Tocar.
Tem que ser a maconha. Ou a bebida. Algo está fazendo coisas estranhas,
estranhas no meu cérebro. Aquela parte de um filme da Disney em que uma
luz mágica ilumina a heroína e a levanta? Essa sou eu agora. Parece que estou
suspensa a centímetros do chão, uma aura brilhante girando ao meu redor.
Em meus sonhos mais loucos, eu nunca teria imaginado que algo pudesse
ser tão bom. Tão... certo.
Reuben está com uma das mãos em volta do meu pescoço, a outra na
parte inferior das minhas costas. Usando as mãos e o corpo, ele me guia.
Eu não ia contar a ele que tinha dançado antes. Muito. Meu espelho tinha
sido meu único público e meu pior crítico. Por tudo que eu sei, eu
provavelmente parecia uma idiota na época, enquanto balançava ao meu
próprio cantarolar baixinho.
Reuben me salvou.
Ele para de se mover e agarra meus pulsos juntos em uma mão carnuda.
Cass sai furioso da área com cortinas da sala, uma mão em seu estômago
como se ele estivesse doente. O rosnado em seu rosto envia um calafrio por
mim, mas assim que ele olha para cima e me vê, ele desaparece.
Minha boca se abre para perguntar o que há de errado, mas então tudo
está se movendo muito rápido.
Ele agarra meu braço antes que eu tenha a chance de fugir e me joga na
poltrona em que eu estava sentada.
Eu suspiro, mais em choque com o quão forte ele é do que com a dor real.
Então ele está em cima de mim, montando minha cintura e puxando meu
vestido pelas minhas pernas.
O ar frio acaricia minhas coxas enquanto ele sobe minha saia pelos meus
quadris. Já que minha calcinha ainda está na caixa de lata de Zachary, não há
nada para me proteger da luxúria escura brilhando em seus olhos.
— Pare! — Eu grito. Eu começo a bater nele com meus punhos, mas ele
bate em meus braços com um movimento de sua mão, a outra indo para seu
cinto.
Os pelos dos meus braços estão arrepiados. Sua voz é baixa, áspera e tem
sotaque britânico, como se ele estivesse imitando alguém.
Que porra?
Uma mão fria desliza em volta do meu pulso e puxa. Meu pescoço está
rígido quando me viro para olhar para Apollo. Estou vagamente ciente de que
estou exposta, mas minha mão está tremendo muito para que eu possa puxar
com sucesso a barra do meu vestido.
— Vamos para outro lugar, certo? — Apollo diz, sorrindo tão calmamente
que você poderia jurar que ele não percebeu que alguém estava prestes a ser
assassinado. — Vamos. Eu quero te mostrar uma coisa.
Ele me leva para fora do covil no momento em que ouço o baque de carne
contra carne e ouço Cass gemer de dor.
Que.Porra.É. Essa?
****
Raios de sol forte batem no meu rosto quando saímos da cripta. Apollo
fica parado na porta, seu cabelo se mexendo enquanto ele verifica a esquerda
e a direita.
Não há ninguém à vista, mas ele ainda parece hesitante em deixar as
sombras e entrar na luz.
Vampiro.
Eu não digo nada, em vez disso, desejo que o mundo pare de subir e
descer tão freneticamente. Eu não poderia ter bebido mais do que ontem, mas
ontem eu tirei uma boa e longa soneca antes de tentar andar para qualquer
lugar.
Agora eu sinto que tudo que consumi hoje acabou de fazer efeito. Sinto
como se estivesse andando em uma cama elástica a alguns centímetros do
chão. E cada vez que eu mudo meus olhos, mesmo que seja um pouco, o
mundo fica borrado.
— Sim.
— Bom. Continue olhando para isso. Vou me certificar de que você não
pise em nenhuma cobra.
— Desculpe, piada de mau gosto. Sem cobras. Buracos. É por isso que
vou ficar de olho. Apenas buracos.
Eu rio como uma porra de idiota com isso. Sombras frias substituem o
sol e eu fico aliviada.
— Consegui.
Eu bufo.
— Muito vadia?
O mundo gira ao meu redor. Estou olhando para o rosto de Apollo, seu
sorriso vitorioso parcialmente escondido atrás de algumas mechas de cabelo.
— Fale baixo, — diz ele. — E sim. Porque você está sendo uma.
Eu bufo novamente.
— Você é um... você é um idiota. Vocês todos são.
— Quieta, — ele avisa em voz baixa, seu cabelo se movendo enquanto ele
olha para a esquerda e para a direita. Meus dentes batem quando ele começa
a subir a escada. — Ou eu vou te levar de volta para o seu quarto.
Ele para na porta, virando-se para mim. Mas então ele fecha a porta sem
responder.
E trava.
Sento-me um pouco mais reta e fico consciente, lembro que estou bêbada
demais para me importar e desmaio no sofá.
Minha mandíbula pulsa, o calor que emana de dentro um contraste
gritante com a bolsa de gelo pressionada contra minha carne machucada.
— Merda, cara. Não podemos deixar ninguém ver você assim, — diz
Apollo.
— Eu não sei, Apollo, — eu digo a ele com os dentes cerrados. — Que tal
você perguntar a Cass na próxima vez que o vir?
— Sim, certo, — ele ri, pulando para trás e pegando a garrafa como se ele
honestamente pensasse que eu estava em qualquer estado de atacá-lo por isso.
Além dos dois chutes sólidos que Cass deu mais cedo, ele me deu um soco
na mandíbula, na virilha e na porra dos meus rins. Em dobro. Porque a essa
altura, Reuben se apressou para verificar se Trinity estava bem, não dando a
mínima para quem sobreviveu à luta.
Cass sempre foi como um maldito rato encurralado. Você não pensaria
que ele era capaz de dar um soco, e então você está deitado de costas se
perguntando por que as estrelas surgiram no meio da porra do dia.
Assistindo. Julgando.
Reuben.
E eu preciso vomitar.
Eu deslizo para fora da cama sobre as pernas bambas. O quarto está tão
escuro que eu bato meu joelho contra a lateral da cama enquanto me dirijo
para o contorno brilhante da porta.
Ele agarra meu ombro e me puxa para fora do quarto. Tudo é um borrão
até eu chegar ao banheiro, onde tudo que consigo me concentrar é no vaso.
Graças a Deus ele abre a tampa para mim, porque eu mal me curvo antes
de vomitar.
Deliciosamente quente.
Limpo meu rosto com ela e fico com as pernas trêmulas. Ele aponta para
a bacia. Há uma garrafa de enxaguante bucal ali, a pia já se enchendo com
mais água morna.
Ainda não consigo acreditar que os alunos do último ano consigam uma
acomodação como essa se suas notas forem boas o suficiente. Acho que o
padre Gabriel realmente quer que eu trabalhe de baixo para cima.
Eu não posso deixar de sorrir. É lindo que ele ainda se lembre de como
eu tomo, embora no dia em que ele me viu colocando açúcar eu tivesse me
dado uma dose dupla.
— Cinco, — diz Reuben. Ele está sentado em um dos dois sofás que
compõem sua área de estar. — Venha sentar.
Seu comando silencioso faz minha raiva crescer. Eu olho para Apollo com
as sobrancelhas levantadas, mas ele apenas me dá seu sorriso torto de
costume.
— Precisamos conversar, — diz ele. Então ele vai buscar outras duas
xícaras de café, entregando uma a Reuben antes de se sentar ao lado dele.
Meu gole de café desce do jeito errado. Eu tusso e quase viro o copo
inteiro sobre mim. Felizmente, ele apenas derrama no cobertor, senão teria
queimado meu vestido. Eu rapidamente coloco a caneca na mesa de café.
— Desculpe?
— Você deve ficar fora do caminho dele até que você clone aquele disco
rígido, — Apollo diz antes de dar um gole barulhento de sua xícara.
— Zachary é meu professor de psicologia, —digo secamente. — Eu tenho
uma aula com ele.
— Como no inferno...?
— Então vocês três farão o que ele disser como bons soldadinhos que
vocês são, certo? — Claro que me arrependo das palavras no momento em que
saem de meus lábios, mas culpo a dor de cabeça e o gosto persistente de bile
em minha boca.
Ah, e não se esqueça das marcas de arranhões que Cass deixou na parte
interna das minhas coxas. Não preciso espiar por baixo da saia para saber que
estão lá. Posso senti-los latejando ao mesmo tempo que minha dor de cabeça.
— Não tinha pensado nisso. — Ele balança o dedo para mim. — Essa é
boa.
Eu olho para ele. — Você não pode se livrar de mim. Gabriel descobrirá e
começará a procurar. Ele vai encontrar você, todos vocês, e então...
Não sei o que acontece então, mas sei que eles vêm tentando evitar isso
há anos, então é uma ameaça tão boa quanto qualquer outra.
— Sim, vou apenas me convidar para o quarto dele, perguntar a ele onde
está seu computador supersecreto e copiar tudo enquanto ele me serve uma
bebida ou algo assim, — murmuro amargamente enquanto pego a caixa de
Apollo. — Ótimo plano, pessoal.
— Vai demorar cerca de cinco minutos para copiar. Essa merda é de alta
tecnologia, — Apollo diz enquanto afunda de volta no assento ao lado de
Reuben. — E nós vamos te ajudar.
Eu entrego o dispositivo.
— Sente-se à frente.
Eu faço o que ele diz, mas com uma carranca para Apollo. Ele apenas dá
de ombros, erguendo uma sobrancelha para mim como se não tivesse ideia do
que Reuben está fazendo.
— Se ele for o padre santo que você diz que é, ele não ficará olhando
fixamente para seus seios para notar, — diz Reuben.
— Não posso usar este vestido com o padre Gabriel. — Apenas o
pensamento faz minhas bochechas esquentarem. O que é estranho, porque o
toque de Reuben não o fez.
— E por mais que Zachary goste de pensar que se livrar de você vai
ajudar, não vai, — acrescenta Apollo.
— O que?
****
Ele olha para mim e então fica surpreso. Eu endureço quando ele estende
a mão para mim, mas é apenas para deslizar o cobertor dos meus ombros.
— Eles fariam perguntas, — diz ele com um encolher de ombros
Apollogético. — Senão, eu deixaria você ficar com ele.
Eu não sei o que aconteceu comigo. Talvez seja o álcool que ainda está
fluindo em minhas veias ou sobrevivendo ao ataque de Cass com minha
virgindade intacta.
Eu esqueci como ele era alto. Além de beijar o lado do pescoço, não há
outra maneira de expressar minha gratidão.
Uma mão desliza em volta da minha cintura. Antes que eu tenha a chance
de protestar, Reuben me pressiona contra a parede ao lado da porta.
Ele me prende à parede com seu corpo e usa as mãos para tirar meus
cachos dos olhos.
— Eu queria que você não fizesse parte disso. Você é muito inocente para
se envolver nessa merda. Mas então eu não teria conhecido você, — ele
murmura.
Segundos, séculos, depois ele se afasta, agarra minha bunda com as duas
mãos e lentamente me abaixa no chão.
— Vocês dois terminaram? Porque temos que ir. — Apollo está parado a
cerca de um metro de distância, uma carranca profunda vincando sua testa.
Atrás de mim, Reuben solta uma risada gutural que faz coisas
pecaminosas em meu interior.
****
Eu paro para franzir a testa para ele, mas ele continua andando. Ele está
com ciúmes porque eu fui legal com a única pessoa que me tratou como um
ser humano?
Eu empurro meus ombros para trás e corro atrás dele, pegando a manga
de sua camisa.
— Muito legal? — Ele olha para mim, seu rosto sem expressão. — Eu
posso ser muito legal também, você sabe.
— Desculpe.
****
8É uma espécie extinta de ave da família dos pombos que era endêmica de Maurício, uma ilha no
Oceano Índico a leste de Madagascar.
Pela primeira vez desde que cheguei a Saint Amos, há fila para entrar no
refeitório. Eu me inclino para ver além dos meninos em vez de cair na fila.
Meu erro.
— Me siga.
Eu vacilo com a voz de Apollo. Ele está indo na direção oposta da sala de
jantar. Com um olhar casual para trás em minha direção, ele acena para que
eu o siga com um movimento de sua cabeça.
— Veja, eu também posso ser legal, — ele diz bem no meu ouvido.
— Não poderia arriscar trazer vinho, — ele continua agarrando meu pulso
enquanto passa, me puxando atrás dele. Em seguida, ele tira algo de trás do
cinto. — Mas eu tenho algo para nos manter aquecidos.
— É lindo, obrigada.
****
Apesar de não ter me convidado, Eu estou aqui para o que presumo ser
algum tipo de encontro, Apollo não diz mais nada até que nossos pratos
estejam vazios. O jantar é acompanhado por grilos cantando nos cantos
escuros do pátio, enquanto os talheres arranham a louça.
Apollo sorri para mim enquanto recolhe nossos pratos vazios e afasta o
cabelo dos olhos com um aceno de cabeça.
Apollo volta com duas tigelas e coloca uma ao meu lado. Eu agarro sua
calça jeans antes que ele possa se afastar. Ele os usa largos, mas felizmente
eles não estão caindo no meio de sua bunda como alguns dos meninos que eu
vi no shopping.
— Por que você não vem sentar aqui? — Dou um tapinha no banco de
pedra mais próximo de mim. Ele hesita e, em seguida, coloca sua tigela ao lado
da minha antes de se sentar.
Não tenho experiência em sedução, mas acho que há uma primeira vez
para tudo. Eu cavo minha colher na minha musse de chocolate e levo-a aos
lábios.
— Rube não é um cara legal, — ele diz enquanto se inclina para trás e tira
o cabelo do rosto.
Ele ri de mim.
— Eles nos quebraram, Trin. — Sua voz fica grossa e áspera. — Nos
quebraram em um milhão de pedaços de merda. Mas nós nos escolhemos, um
ao outro.
Sua tristeza corta os nervos da minha mão e minha colher tilinta quando
atinge a lateral da tigela. Apollo pega a colher sem perder o ritmo.
Ficamos assim por um instante, ele olhando nos meus olhos enquanto
sou sugada de volta para os seus.
Isso explica por que eles estão tão próximos. Os horrores que
experimentaram, eles compartilhavam, os tecia juntos como um tapete. Esses
fios, fortes por si próprios, tornaram-se ainda mais fortes.
Ele pega mais mousse e traz para perto, mas não perto o suficiente.
Eu me inclino um pouco.
— Nós não somos amigos. Somos irmãos. Uma irmandade. E a única
maneira de você entrar furtivamente é se permitirmos. — Apollo passa a
musse na minha boca com um movimento de sua mão.
Estendo a mão instintivamente para limpá-lo, mas ele agarra meu pulso
e o puxa para seu colo. Então ele se inclina para frente e chupa a musse dos
meus lábios.
Tento me inclinar para o que acho que é um beijo, mas ele deixa cair a
boca no meu queixo, depois no lado do meu queixo, depois na minha orelha.
Eu congelo com o tom sinistro em sua voz. Ele move minha mão mais
profundamente em seu colo, até que eu escovo contra algo longo e duro.
Nunca fica menos frustrante, especialmente quando sei que o sono pode
me levar ao esquecimento pacífico por algumas horas.
— Tudo certo? — Eu pergunto. Fingir não saber o que aconteceu com ele
é tão difícil quanto mentir sem rodeios.
Eu estremeço em simpatia e então fico feliz que esteja escuro e ele não
esteja me olhando, porque provavelmente eu teria me denunciado.
Minha pomada ainda está na minha gaveta de cima. Devo omitir e torcer
para que ele perceba ou Miriam deu a ele seu próprio frasco?
Vinte chicotadas.
Porra.
Eu me sento reta.
— Que desenho?
Jasper manobra ao redor até que ele esteja de frente para mim. Se não
fosse pelo luar que entra pela nossa janela minúscula, eu não o teria visto
revirando os olhos para mim.
— Sim. E daí?
— O quê, o desenho?
Ele... o quê? Já ouvi coisas estranhas antes, mas isso? Não faz sentido. E
Zachary pode ser frio e calculista, mas... um sádico?
— Ele adora bater nas pessoas tanto quanto odeia gays. — O branco dos
olhos de Jasper brilham no brilho prateado da lua. — Se você não acredita em
mim, tente dizer a ele que você é lésbica. Você não vai ficar sentada por uma
semana.
Eu preciso de ar.
Cass apareceu cerca de meia hora depois que eu fui para a cama. Foi a
primeira vez que o ouvi chamar de 'luzes apagadas' desde que cheguei. Eu
quase me urinei com o pensamento de que ele iria entrar no meu quarto, mas
acho que ele não arriscaria no caso de Jasper estar lá.
Sinto pena de Jasper. É uma pena que ele e Perry tenham acabado em
um lugar como este, onde o relacionamento deles é considerado um pecado
capital. Eu gostaria de poder dizer a ele que Zachary não se sente assim.
Talvez Jasper e Perry possam ser abertos sobre quem eles são quando
deixarem Saint Amos. Nunca tive problemas com a sexualidade de outras
pessoas. Se você ama alguém, realmente ama alguém, coisas como gênero não
deveriam importar.
Essa é a única coisa que admiro em meus pais. Você poderia dizer que
eles eram totalmente dedicados um ao outro. Eles não eram amantes
apaixonados ou algo parecido, eu só os ouvi fazendo amor uma vez, e durou
apenas alguns minutos. Mas eles passaram todos os momentos que podiam
juntos. Acho que os abortos de minha mãe os aproximaram. Aconteceram
muito antes de eu nascer, mas tenho certeza de que prejudicaram o
casamento. Felizmente, eles tentaram uma última vez antes que ela fizesse
uma histerectomia, senão eu não estaria aqui.
Ouvi-los contar sobre isso, Deus foi quem os viu durante aqueles tempos
sombrios.
Acho que foi amor. Um amor tão forte que poderia sobreviver a qualquer
coisa. Eu acho que não deveria estar surpresa que eles escolheram um ao
outro, e Deus, em vez de mim na noite do acidente. Nunca fui incluída nesse
triângulo amoroso, porque nunca fui tão dedicada à fé deles como eles.
Não foi por falta de tentar. Mas não importa o que eu fizesse, nunca
parecia certo.
Não sei se posso arriscar machucar meu único amigo. Preciso me decidir
sobre Zachary e seus irmãos antes que Gabriel volte.
É a garota.
Por causa dela, perdi o controle. Agora a escuridão não me acalma como
deveria, nem o baseado que acabei de fumar me envolve em sua névoa
entorpecente de costume.
As coisas que fiz hoje deveriam me dar mais tempo. Mas em vez de zerar
aquela contagem regressiva fatídica marcando os minutos até meu próximo
colapso, tudo o que fiz hoje acelerou.
Machucando Cassius.
Nossa briga.
Punindo Jasper.
Estou particularmente chateado com esse último. Deveria ter sido
Miriam, aquela comissária do arrependimento justo, distribuindo sua
punição. Mas eu pensei que isso iria domar o demônio que estava arranhando
seu caminho do inferno através do meu corpo, então eu fiz em vez dela.
Eu bati nele uma e outra vez, punindo-o por algo que não considero um
crime.
Algum dos meus irmãos voltou para o nosso ninho? Eles sabem que não
devem me incomodar quando eu estou nas trevas.
Ou talvez eles precisem tanto de solidão quanto eu agora. Rube vem aqui
para o sossego às vezes. Apenas se senta no sofá e encara o nada enquanto
esfrega o polegar sobre o rosário.
Tenho que me levantar e enfrentar o que quer que seja, seja quem for,
mas ainda não confio em mim mesmo.
A essa altura, posso ouvir ruídos suaves quando o invasor começa a caçar.
As latas chocalham. As roupas farfalham.
Eu me sento e coloco minha cabeça entre os joelhos por um momento. O
ar frio desliza contra minhas costas nuas enquanto respiro fundo e tento me
concentrar antes de me levantar.
Mas acho que gosto das chamas, porque saio da escuridão de qualquer
maneira.
Acho que foi estúpido da minha parte pensar que eles deixariam algo
incriminador por aí.
Estou prestes a sair quando vejo a ponta de um livro sob uma pilha de
roupas.
Minha bíblia.
Eu o puxo para fora, correndo minha palma sobre a capa enquanto traço
as letras em relevo com meus dedos.
Estou prestes a abri-lo e tirar a foto do meu pai que espero que ainda
esteja lá dentro quando os cabelos na minha nuca se arrepiam.
— Eu estava...
Tenho que arrancar minha língua do céu da boca antes de poder falar.
— Quer dizer, tenho todo o direito de estar aqui. Tenho todo o direito de
fazer perguntas. Você não pode esperar uma fé cega de mim.
Ele joga a cabeça para trás e ri. Quando ele olha para mim novamente,
meu corpo fica frio. Aquela risada maluca não adicionou um único grau de
calor a seus olhos mortos.
Não demonstre o que está sentindo, Trinity. Cass disse que eles podem
me ler como um livro? Bem, é hora de fechar a maldita capa.
Eu agarro seu pulso. Ele é muito forte para eu puxá-lo, mas pelo menos
assim posso sentir seu pulso.
Pode ser o medo disfarçado de outra coisa, mas tenho a sensação de que
não é. Estou presa na cova do leão e, em vez de procurar uma saída, estou
cutucando a porra do leão.
Sei que o padre Gabriel não é capaz de machucar ninguém. Mas isso não
importa para a Irmandade, importa? Fui atraída para a guerra deles, apesar
dos meus protestos.
Não tenho escolha a não ser lutar, mas primeiro vou me certificar de que
estou do lado certo da linha de batalha.
Ele ri.
Duro.
Eu caio sobre o braço do sofá, mal me impedindo de pular no chão.
Esperando que ele me atacasse, talvez até tente o que Cass tentou, eu me sento.
Mas ele apenas fica parado me olhando, com o peito arfando como se tivesse
feito três rounds com o campeão mundial.
— Eu costumava pensar que era uma boa pessoa, quando era criança. —
Suas mãos se fecham em punhos e se abrem novamente quando ele se
aproxima. — Pensei em me tornar algo grande. Astronauta, doutor. As merdas
usuais que as crianças fantasiam.
Havia um leve sorriso em sua boca. Ele desaparece conforme suas mãos
se desenrolam lentamente novamente.
Eu concordo.
Então, qual é o motivo oculto dela? Por que ela ainda está aqui?
— Levante-se.
Ela se levanta, seus olhos não ficam nos meus por mais de um segundo
antes de piscar para longe.
— Como isso...?
Pego seu roupão e o tiro de seus ombros, deixando-o cair aos seus pés.
Quando pego o cós de sua calça de ioga, ela tenta se afastar, mas um empurrão
nas costas a mantém no lugar.
— Eles têm que sair? — eEa pergunta com uma voz firme.
Eu poderia ter deixado as calças dela em volta dos joelhos, mas em vez
disso, as puxo para baixo até os pés. Eu tiro suas botas e tiro suas calças,
jogando-as sobre o encosto do sofá.
Eu deveria ter roubado, mas luto contra o desejo. Essa fina película de
tecido é irrelevante. Se eu quiser admirar minha obra, poderei fazer isso
quando terminarmos.
Quando ela não obedece, eu as chuto abrindo para ela. Eu corro a mão
sobre a curva de sua bunda e, em seguida, subo sua bochecha rechonchuda,
massageando a carne abaixo.
— Morda.
Em breve, ela vai me implorar para parar, e tudo isso vai acabar.
Perguntas sem resposta, vou mandá-la de volta para seu dormitório, um medo
recém-descoberto embutido dentro dela.
Bem no fundo dela.
Em que diabos eu me meti? Trocando tapas por informações? Você
poderia jurar que eu caí de cabeça quando era criança. Do terceiro andar.
Minha bunda já está latejando das duas palmadas que Zachary deu. Eu
não sei como a porra devo sobreviver mais.
Na próxima vez que sua mão se conecta com a minha bunda, eu grito.
— Porra!
— Isso foi cinco, — eu digo a ele sem fôlego. Bem, tecnicamente foram
sete, mas tenho a sensação de que os dois primeiros não contaram.
— Muito vago.
Eu franzo a testa para ele enquanto deslizo a mão fria por trás da minha
calcinha. Minha pele fica quente ao toque e pica quando a toco. Quanto vai
doer colocar minhas calças de volta? Por enquanto, eu as mantenho agrupadas
contra meu estômago.
— Meus pais.
— O quê?
— N-Não. Mas... você tem que explicar. Quero dizer... seus pais?
Quando ele abre minhas pernas de novo com um chute, meu estômago
embrulha.
— Não, espere!
— Tantas perguntas, garotinha, — ele diz, sua voz mal alterada pelo
esforço de me manter no lugar. — Parece que vamos ficar aqui a noite toda.
— Não, mas...
— Você obviamente não tem estômago para essa merda, — diz ele, dando
um passo tão perto que sua ereção roça minha barriga. — Dê. O. Fora. Porra.
Eu mantenho minha posição, mas por pouco. Cada molécula do meu
corpo quer que eu fuja, mas minha mente continua girando nessas duas
palavras. Não vou conseguir dormir até saber mais.
Os pais dele.
Seus pais?
— Não com um cinto. Você está longe de estar pronta para esse tipo de
punição.
Punição.
Eu não tinha certeza antes, mas agora tenho. Essa coisa que ele está
fazendo comigo? Isso está me excitando. Não entendo, nem acho que seja
possível, mas nada mais pode explicar a forma como estou formigando lá
embaixo. Quando me movo, posso sentir como estou ficando molhada.
Antes que eu possa me afastar, ele agarra meu lábio inferior e o puxa para
baixo.
Eu aceno com a cabeça como se já soubesse disso e puxo seu cinto livre
de suas calças. Eu o dobro como ele fez e o seguro a uma polegada de meus
lábios.
Ele levanta a cabeça enquanto fecha a distância entre nós, seu pau agora
pressionando com força na minha carne macia. Tento ignorar, mas isso só
atiça o fogo que já está crescendo em meu núcleo.
Suas mãos deslizam pelas minhas costas e descem até a minha bunda.
Eu estremeço quando ele começa a massagear minha pele. Então meus olhos
se fecham.
Quando sua respiração aquece meu rosto, eu olho para ele. Ele está me
observando.
Com fome.
Nervoso.
Mas triste.
Tão triste.
Tapa.
— Sua pergunta.
A mão de Zachary faz uma pausa. Ele me aperta e eu fico na ponta dos
pés enquanto suspiro de dor.
Eu não entendo isso. Eu tive dez chicotadas, mas elas não eram nada
assim. Eles doem mais, mas isso... esse é um tipo diferente de dor. Tem todas
essas camadas que eu não entendo. Tenho vontade de chorar, mas não porque
dói, mas porque...
— O quê? Isso não é... — Eu cortei quando seus dedos pararam a alguns
centímetros da minha entrada. Até agora ele estava se mantendo bem longe
da bagunça quente e formigante entre minhas pernas.
Ele faz um ruído suave no fundo da garganta que poderia ter sido uma
risada abafada.
— Não está?
— Você teria perguntado a eles. Eles teriam lhe dado algum tipo de
resposta. O que eles disseram quando te levaram lá? Que razão eles deram?
Ele solta uma risada que transforma minhas entranhas em uma massa
congelada.
Se ele ainda não estivesse usando jeans, ele estaria a centímetros de...
Pegar o que não pertence a ele.
O que ele poderia ter feito se quisesse. Ele está se segurando ou apenas
brincando comigo?
— Tem certeza de que pode lidar com outra pergunta? — Ele acaricia
minha pele nua com a ponta dos dedos. Ele traça oito linhas na minha bunda
e, em seguida, convergem a menos de uma polegada do meu sexo.
— Eu disse, você tem certeza de que pode lidar com outra pergunta,
garotinha?
— É doce que você pense que eu sou capaz de misericórdia. — Ele agarra
meu pulso, levando o cinto dobrado à minha boca. — Abra.
É por isso que eu deslizo minha mão sobre sua nuca e a seguro no lugar.
Assim, ela não consegue ver a luxúria doentia em meu rosto.
Eu deslizo um dedo por trás da bainha de sua calcinha, onde ela está
dobrada logo abaixo da curva de sua bunda. Desta vez, ela não me implora
para mantê-la. Eu a puxo até os joelhos, expondo suas pernas macias e bem
torneadas. Eu levo alguns segundos para admirar as marcas de mãos
vermelhas borradas em sua bunda antes de começar a aquecer sua carne
novamente.
Ela deve sentir o calor saindo do meu corpo, porque ela se enrijece
novamente, como se esperasse outro golpe.
Cristo.
Seu calor cobre a coroa do meu pau enquanto eu bato meu punho em seu
comprimento. A dor me deixa mais duro. Me faz querer transar com ela ainda
mais. Para abri-la e me encharcar em seus sucos.
Demoro longos segundos para eu perceber que ela está tremendo. Que
ela não está mais pressionando minha mão, resistindo a mim. Ela está mole,
pendurada nas costas do sofá como se não tivesse mais força para se manter
de pé.
Enfio meu pau de volta na calça jeans e me movo para o lado. Seus olhos
estão bem fechados, suas bochechas de um vermelho brilhante.
Assim que o cinto é retirado, ela se afasta de mim, com as mãos tremendo
enquanto puxa a calcinha. Ela solta uma série de palavras mutiladas.
— Ei. — Eu agarro seu cotovelo, mas ela torce seu braço para fora do meu
aperto. Eu franzo a testa e, desta vez, agarro sua cintura e a arrasto contra
mim. — O que está acontecendo?
— Sinto muito, — diz ela, com os lábios tremendo. — Não sei por que isso
aconteceu.
Ela cobre o rosto com as mãos, encolhendo-se como uma flor murcha.
Eu faço um barulho de raiva no fundo da minha garganta.
— Você pediu por isso, — digo a ela enquanto puxo suas calças de ioga
para cima o resto do caminho. — Não banque a tímida agora.
Eu fico olhando nos olhos âmbar que exigem mais de mim. Mas que
porra devo dizer?
Isso não era sobre ela. Não era sobre mim. Era sobre nós. Todos nós. A
Irmandade. Os fantasmas. Os guardiões.
Tão pervertido.
Tão doente.
Mas isso é.
— O quê?
— Eu fui a algum lugar que não deveria. Vi algo que não deveria.
Meu peito se fecha. Respiro fundo, mas mal enche meus pulmões.
Ela não diz nada. Não me pressiona por mais. Talvez ela pense que vou
dizer a ela para ir embora, se ela o fizer.
Apenas assistindo.
Esperando.
Trinity examina meu rosto e pressiona as mãos contra meu peito nu,
como se quisesse sentir meu coração batendo.
— Eu roubei as chaves deles um dia. Disse que estava indo para uma festa
do pijama. Eles me levaram até a casa do meu amigo, mas voltei e esperei até
escurecer. Até eles adormecerem.
Gosto de pensar que teria preferido viver uma vida chata, mas então não
teria conhecido a Irmandade. Eles são as pessoas mais interessantes que já
conheci, mas também são as pessoas mais fodidas que já conheci.
Eu reprimo um bocejo.
Jasper se senta e pressiona as palmas das mãos nas órbitas dos olhos.
— Por que não? Você está indo. Rutherford está indo. Todo mundo está
indo.
Eu franzo a testa enquanto ele pega suas roupas e sai do quarto. Estou
começando a achar que ele está ficando meio obcecado por Zachary. Eu fico
chateada com ele, mas isso?
Dane-se.
Minha mente está muito fodida para descobrir o que Jasper está fazendo.
Pego um dos dois vestidos que costumava usar para ir à igreja aos
domingos e vou ao banheiro para lavar o rosto.
— O quê?
Ele me encara.
— Cale a boca e pareça que está apaixonada por mim ou algo assim.
Você poderia pensar que não poderia ser mais estranho do que isso, mas
então Perry entra em cena.
Perry está parado sob uma das árvores que pontuam o gramado entre
Saint Amós e a capela. Ele estava vindo em nossa direção, mas enquanto
observo, ele diminui a velocidade. Um segundo depois, ele para nos
observando com olhos de coruja enquanto Jasper se dirige para a capela
novamente.
— Não seja idiota, — ele murmura, me puxando atrás dele. Dou um aceno
tímido para Perry, mas ele não me vê ou decide não chamar mais atenção para
si mesmo porque não acena de volta.
Eu não poderia estar mais feliz quando entramos nas sombras frias da
capela. Eu aponto para o banco mais próximo da porta, mas Jasper aperta seu
aperto e me arrasta pelo corredor como se este fosse nosso próprio casamento
forçado.
A julgar pela maneira como eles estão olhando para mim, o fato de que
meu colega de quarto está segurando minha mão não parece bom.
Embora pareça que Zachary não esteja prestando atenção nele, tenho
certeza de que ele está ciente de nós.
De Ambos.
Eu estava exausta quando voltei para o meu quarto ontem à noite. Minha
bunda doía, minha cabeça doía... meu coração doía.
Gabriel está exatamente como sempre, mas agora aquele sorriso familiar
enfeitando sua boca larga parece falso como margarina. Seus olhos não são
mais penetrantes e curiosos, eles são astutos e ardilosos.
É como uma ilusão de ótica. Depois de ver o coelho, você não consegue
mais ver o pato.
É porque você quer que eles te fodam? É por isso que você não precisa
mais de provas, sua vadia blasfema?
O padre Gabriel começa com um sermão que soa como tantos outros que
ouvi ao longo dos anos. Eu me pego estudando o lado do rosto de Zachary até
que pego Gabriel olhando para mim.
Seu sermão parece durar horas. Passei horas debatendo minha posição
nesta batalha invisível travada entre a Irmandade e o Padre Gabriel.
Eu acho que eles fazem as coisas de forma diferente aqui. Aqui, todos
participam. E, à medida que mais e mais pessoas saem de seus bancos, tenho
a sensação de que é obrigatório.
9 Missões de Amor.
Gabriel e Zachary fazem o contato visual certo. A troca deles parece tão
normal quanto a anterior e a posterior. Gabriel ergue os olhos de sua patena
de pão e cruza os olhos comigo.
Ele não diz nada enquanto segura o corpo de Cristo. Eu me inclino para
frente, abro a boca e o deixo colocar o pão na minha língua.
Pode ser o jogo de luz em seu rosto, mas eu juro que ele franze a testa
para mim antes de suavizar sua expressão.
****
— Ainda não.
Ele faz uma careta para mim, lança um olhar fulminante para Zachary e
sai da capela como se Satanás estivesse beliscando seus calcanhares.
Quando fica óbvio que ele está me ignorando, eu me levanto e faço meu
caminho para o corredor. Estou vagamente ciente de Zachary do meu ponto
de vista periférico. Ele ainda está sentado, a cabeça inclinada sobre uma bíblia
padrão, como se estivesse contemplando a palavra de Deus antes de sair para
o café da manhã.
Gabriel está conversando com a irmã Miriam quando chego por trás dele.
Miriam me vê e franze a testa, mas eu mantenho minha posição. Gabriel se
vira com uma pequena carranca entre suas sobrancelhas grossas e escuras.
Quando ele me vê, seu rosto se ilumina.
Miriam acena com a cabeça, mas da maneira como ela ajusta o hábito ao
sair, fica claro o que ela pensa sobre eu interromper a conversa deles.
— Claro que não, não, — eu deixo escapar. Não consigo parar de torcer
minhas mãos. — Mas, se você não estiver ocupado, eu gostaria, quero dizer,
podemos conversar?
Estou louca para fugir de seus olhos de raio-x. Nunca fui capaz de mentir
para ele e não acho que isso vá mudar.
— Esta noite?
— Receio que já tenha planos com... — Ele acena para longe o que quer
que ele diria. Um largo sorriso substitui sua carranca, e odeio o fato de que
isso me faz sentir quente por dentro.
— Obrigado Padre.
Ele me observa com o mesmo sorriso enigmático enquanto eu me inflo
com ar e saio com as pernas rígidas.
Não ouso olhar para cima até que a luz do sol atinja meu rosto. O alívio
que eu esperava não chega. Eu poderia estar olhando para a lateral de um
penhasco.
— É melhor instalar uma porra de uma porta giratória nesse ritmo. — Ele
volta em minha direção e arranca o cigarro dos meus lábios antes que eu possa
dar outra tragada.
Eu estalo meus dedos, exigindo que ele devolva meu cigarro. Ele vira a
cabeça para me estudar enquanto arrasta com força, e então o devolve.
Parei de comprar roupas novas para eles há meses. Mas não importa o
que Cass coloque, sempre parece bom. Mesmo merdas velhas como aqueles
jeans.
Quem sabe... talvez quando essa merda acabasse, ele deixaria seu cabelo
crescer e tiraria alguns headshots10. Ele seria facilmente um modelo, e se exibir
na frente de uma câmera seria o alimento perfeito para seu narcisismo voraz.
— Eu sou o idiota?
— Não estamos mais tentando fazer com que ela vá embora, ou você se
esqueceu? Precisamos dela do nosso lado.
Suas palavras amargas enviam uma onda de calor por mim, mas eu não
chamo sua atenção por causa delas. É como eu sei que estou conseguindo falar
com ele. Quanto mais ele luta, mais perto ele está de ceder.
É como ele lida. Ao contrário de nós três, Cass nunca conseguia desligar
sua mente. Ele é muito inteligente para isso. Seria como tentar represar o rio
Amazonas com um punhado de palitos de fósforo.
Ele lutou tanto que seus fantasmas eram feridos tentando chegar até ele.
E isso nos deixou felizes. Começamos a torcer por ele, silenciosamente, é claro.
Mesmo naquela época, sabíamos que tínhamos que manter nossa Irmandade
em segredo. Mesmo quando crianças, sabíamos que esse segredo nos manteria
seguros.
Então Cass lutou. Às vezes ele venceria, às vezes eles o dominavam. Isso
durou semanas, até que um deles enfiou uma seringa cheia de heroína em seu
braço.
— Ela vai foder com tudo, — eu digo novamente. — Mas só se ela não
estiver cem por cento do nosso lado.
A carranca de Cass me fixa. — Ela não me deixa chegar perto dela, você
sabe disso.
Eu quis dizer isso como um elogio, mas por algum motivo isso só faz mais
manchas de raiva surgirem em suas bochechas.
Eu ouvi direito?
— O que acontece quando você tem que escolher entre ela ou nós?
— Cass.
— Cass!
Eu poderia ter ido atrás dele, mas então parecia desesperado. Caindo no
sofá, sento acariciando o polegar sobre as marcas de suas unhas deixadas em
meu braço enquanto deixo o calor latente de seu corpo penetrar no meu.
Ele está falando merda, mas isso não é novidade. De nós três, suas
paredes são as mais altas e mais fortes. Ninguém nunca as quebrou. Ele não
baixa a guarda por ninguém, nem mesmo seus irmãos. Mas isso não era um
requisito para entrar nesta guerra. Toda guerra precisa de soldados, e esses
soldados precisam de munição.
Raiva.
Odio.
Vingança.
Neste caso, cada um de nós teve que trazer o seu. Mas eu, Rube e Apollo?
Somos velas fracas e bruxuleantes em comparação com Cass.
Poucos minutos antes do sino do almoço tocar, ouço um som suave perto
da porta. Eu viro minha cabeça para olhar para o papel dobrado que alguém
empurrou por baixo da porta.
BANHO?
Reuben.
Ele está me deixando usar seu banheiro novamente. O que é tão fofo,
especialmente com o jantar de hoje à noite em mente. Acho que agora seria o
momento perfeito para ir, todos os outros estariam no refeitório, comendo. Se
eu me apressasse, ainda poderia almoçar depois de terminar, mas ficaria feliz
em trocar uma refeição por um banho privado.
Além disso, eu veria Reuben novamente.
****
A maçaneta gira.
A porta se abre.
— Olá?
Sem resposta.
Vou para o banheiro e hesito. É estranho que Reuben não esteja aqui?
Talvez ele esteja dormindo. Ou estudando com fones de ouvido.
Meus olhos se movem ao redor da sala até que se fixem na Bíblia na mesa
de cabeceira de Reuben. Quando se abre em minhas mãos, um forte arrepio
percorre meu corpo.
Eu folheio, indo cada vez mais rápido até que não consigo ver nada além
de um borrão laranja, mas ainda assim a frase estranha salta para mim.
Grande epidemia
Lago ardente
Procure a morte
Reuben.
Depois que meu cabelo é enxaguado, suas mãos deslizam pela minha
nuca, retornando aos meus ombros. Polegares fortes afundam profundamente
em minha carne, aplicando pressão bem no precipício entre o prazer e a dor.
Seus nós dos dedos cravam na carne ao lado da minha espinha enquanto
ele começa a trabalhar seu caminho para baixo na minha pele molhada.
Minha respiração fica presa com o latejar fraco de dor que ele traz à tona
enquanto acaricia minha pele. Zachary contou a Reuben sobre nosso acordo
na noite passada? Apollo diz que eles contam tudo um ao outro.
Ele aperta minha bunda.
Eu não posso deixar de gemer com o prazer profundo que a dor força em
meu núcleo.
— Espera.
Ele para.
— Não estou... acho que não estou pronta para... para isso. — Minhas
bochechas esquentam com a admissão. Ele deve pensar que sou algum tipo de
provocadora de pau, deixando-o me tocar e, em seguida, afastando-o
quando...
Seus dedos envolvem profundamente meu cabelo e ele usa esse aperto
para inclinar minha cabeça para trás. A água escorre pelo meu rosto, parte
subindo pelo nariz. Eu gaguejo, começando a lutar, e então sua boca se fecha
sobre a minha.
Ele tem gosto de pasta de dente e algo doce, refrigerante? e seus lábios
massageiam os meus com tanta habilidade que eu mal noto quando ele me
puxa contra ele novamente.
Até eu sentir sua ereção, é claro. Eu suspiro em sua boca, meus olhos
piscando abertos. Água jorra neles, forçando-os a se fecharem novamente.
Sua boca está na minha antes que eu possa piscar para tirar a água dos
meus olhos.
Escorregadios.
Exigentes.
Suas mãos descem pela frente do meu corpo. Ele aperta meus seios e rola
meus mamilos entre os polegares e indicadores com força suficiente para me
fazer estremecer.
Em seguida, ele desliza os dedos pela minha barriga. Seu beijo fica mais
lento e, com ele, seus movimentos.
Ele pressiona com mais força contra mim, até que eu começo a doer
profundamente, bem no fundo. Suas mãos convergem acima do meu osso
púbico, descansando lá por uma eternidade enquanto ele puxa cada grama de
resistência de mim com um beijo duro e lânguido.
Eu agarro suas coxas. Ele quer que eu o toque? Como é que eu?
Ele agarra meu pulso novamente, desliza sua mão nas costas da minha e
entrelaça nossos dedos. Então ele arrasta minha mão por sua coxa, seu calção
e sua barriga.
Os dedos da outra mão ainda estão acima do meu centro dolorido. Mas
quando ele pressiona minha mão para baixo em seu estômago e por trás de
sua cueca, aqueles dedos afundam também.
Eu toco seu pau no mesmo momento que ele toca meu clitóris.
Mas ele se recusa a me deixar ir. Ele começa a massagear meu clitóris,
duro e dolorosamente lento, enquanto ele enrola meus dedos em torno de seu
pau.
Ele chove beijos contra a concha da minha orelha, usando seus dentes
para brincar com o lóbulo da minha orelha enquanto ele começa a bombear
seu pau com a minha mão, seus dedos envolvendo os meus com força.
O que diabos estou fazendo? Eu mal conheço esse cara, e aqui estamos
nós, provavelmente a segundos de distância de foder? Não pensei que minha
primeira vez seria no chuveiro. Mas, Deus, isso parece tão certo.
Ele move minha mão para cima e para baixo em seu pau duro e macio,
acelerando enquanto seus dedos começam a dedilhar meu clitóris mais rápido
do que antes.
Minha boca se abre, mas então engasgo com um jato de água. Ele
abandona meu clitóris apenas o tempo suficiente para desligar a água e, em
seguida, mergulha de volta entre as minhas pernas. Mas desta vez sua mão
afunda mais baixo do que antes. Suas pontas dos dedos afundam entre meus
lábios e ele acaricia todos os quatro dedos sobre a minha entrada.
Eu estremeço forte, um suspiro quebrado derramando da minha boca
aberta.
Ele geme, baixo e profundo, e então eu não sinto sua cueca roçando
minha mão em qualquer lugar.
Merda.
Está acontecendo.
Porra!
Estou apavorada, mas em êxtase ao mesmo tempo. Se isso é tão bom pra
caralho, eu não consigo imaginar...
Seus lábios tocam os meus, exigindo outro beijo. Eu viro minha cabeça,
e ele devora meus lábios e língua como se fosse o dono deles no segundo que
ele me viu.
Meus olhos piscam na iminência de abrir quando ele aplica uma forte
pressão no meu clitóris e começa a esfregar a palma da mão contra aquele nó
de nervos.
— Porra. — Eu gemo forte contra sua boca e movo seu pau para baixo
com minha mão. Ainda estou masturbando-o, mas agora sua coroa não pode
estar mais do que alguns centímetros da minha entrada. Mas eu sou muito
baixa. Não tenho ideia de como isso funcionaria se eu quisesse...
Abro a boca para um grito, mas ele é muito rápido. Em um segundo, ele
me virou e me prendeu na parede de azulejos, uma mão sobre minha boca e a
outra na minha garganta.
— O quê, de repente meu pau não é mais bom o suficiente para você? —
Ele rosna. — E aqui eu pensei que faria algo bom para você.
— Jesus, eu estaria puto com você se você tivesse acertado minhas bolas,
— ele murmura.
— Algo bom? — Eu digo, minha voz forte como corda de violino. — Algo
bom?
Quase tento dar uma joelhada nele de novo, mas tenho a sensação de que
essa seria a pior maneira de lidar com essa situação fodida.
Não posso acreditar que o deixei me tocar. Eu não posso acreditar que
quase deixei ele me foder.
— Me odeie o quanto quiser, sua boceta está a fim de mim com força.
— Fora.
Filho da puta.
Ele ri enquanto sai do banheiro, mas o som é cortado assim que eu chuto
a porta fechando atrás dele com um grito estrangulado.
Eu deveria estar chocada. Até apavorada. Mas estou com muita raiva.
A pior parte é que meu corpo ainda não se recuperou. Eu ainda estou
doendo por dentro, e quanto mais eu me movo tentando colocar meu juízo
sobre mim, pior fica. Eu sinto que vou implodir.
Porra.
Eu olho para o teto, mordo meu lábio, aperto meus olhos e coloco a mão
entre minhas pernas.
Graças a Deus. Pelo menos eu não tenho que enfrentá-lo. Minha mão está
na maçaneta da porta quando ouço vozes.
— E?
Meu peito aperta com tanta força que mal consigo respirar.
— Sozinho?
— Isso seria desperdiçar água, — Cass diz entre uma risada. — Foi ideia
dela.
Reuben vira sua carranca para mim. Ele está vestindo jeans e um suéter
justo. Ficando um ao lado do outro assim, é ridículo pensar que confundi Cass
com Reuben. Eles têm quase a altura, mas Reuben tem quase o dobro de seu
tamanho.
Mas ele entra em seu quarto sem olhar para trás. De alguma forma, é pior
ele fechar a porta silenciosamente e não bater. A decepção sempre dói muito
mais do que a raiva.
— Idiota! — Eu jogo o dedo para ele, olhando para ele enquanto corro
para a porta e saio.
Ele está vestindo uma camisa de botão esta noite, as mangas arregaçadas
até o meio do braço e um par de calças escuras.
— Sim, claro, — eu consigo, embora minha voz esteja tudo menos estável.
— Só estou um pouco cansada. Não tenho dormido bem.
— Quando você gostaria de comer? Irmã Miriam mencionou que você
não estava almoçando hoje, então estou supondo...
Acho que se alguém vai perceber que estou faltando, será Miriam. E sou
muito mais fácil de localizar do que uma das centenas de meninos neste lugar.
Alguém enfiou outro bilhete por baixo da minha porta há pouco menos
de uma hora. Não era a letra de Cass, graças a Deus. Presumo que seja o de
Zachary.
Boa sorte.
São sete e meia. Eu deveria ter pedido o jantar apenas para passar o
tempo, mas não posso comer quando estou tão nervosa.
— Como foi sua viagem? — Eu arrisco. É uma pergunta tão boa quanto
qualquer outra, certo? Não tenho ideia de onde Gabriel esteve nos últimos
dias, então...
Foda-se Jesus, Trinity. Que diabos está errado com você? Você está aqui
para provar que Gabriel é inocente, ou você esqueceu?
— Sente-se, criança.
Eu obedeço sem pensar. Ainda bem que já tem uma cadeira perto da
minha bunda senão eu teria acabado no chão porque obedeço sem pensar.
— Ele te contou?
Eu olho para cima. Ele está me olhando com um olhar muito familiar em
seus olhos castanhos e calorosos.
Paciência.
Simpatia.
Como diabos um homem como esse pode estar envolvido com Fantasmas
e Protetores?
Quase quero contar tudo a ele, só para que possamos dar uma boa risada
e o mundo voltar ao normal.
— Trinity?
— Não.
— Você está certa em parecer enojada, — diz ele com uma risada fraca. —
É um hábito nojento. — Uma espessa nuvem de fumaça sai de seus lábios. Ele
bebe de seu copo e depois se recosta em sua cadeira, com os olhos no fogo.
A taça de vinho estala contra meus dentes quando me viro para encará-
lo. Eu apressadamente coloco no meu colo.
Se é assim que as conversas dele com meus pais são, então não é à toa
que eles ficariam no andar de baixo por horas depois de eu ser mandada para
a cama. Nossa casa tinha portas grossas. Mesmo com meu ouvido pressionado
na madeira, tudo que ouvi foi o murmúrio de vozes baixas.
— Seus pais estão mortos, Trinity. Isso não é algo que você pode mudar
ou controlar. O que você pode controlar é como você se sente a respeito.
Eu concordo.
— E por que isto? Por que você ficou em casa naquela noite?
Gabriel estende a mão. Eu entrego a ele o copo. Desta vez, ele preencheu.
Mas quando ele passa adiante, ele não o deixa ir imediatamente.
Nós olhamos para aquele vinho proibido, e posso ver sua hesitação pela
maneira como ele franze a testa para mim.
— Eles não deveriam ter te tratado assim, — diz Gabriel. Seus olhos
castanhos quentes estão frios agora, um músculo em sua mandíbula está
latejando.
Oh meu Deus.
Ele sabe.
****
— Eu nunca quis isso para você, criança. Eu disse a eles uma e outra vez
que você tinha todo o direito de levar sua própria vida, mas eles se recusaram
a ouvir.
— Meus pais?
Por que ele está tão chateado? Educar meus pais atingiu um nervo? Eu
sei que ele estava perto deles, mas...
Tão pior, talvez, mas não para mim. Não naquela época.
Ele está de pé em seguida. Ele agarra meu pulso e gentilmente tira meu
vinho.
— Nunca estarei muito ocupado para você, Trinity. Por favor. Sente.
Ele me faz descer, mas em vez de se sentar novamente, ele vai ficar em
frente ao fogo. Seu corpo bloqueia o calor, e por isso sou grato. Mas também
bloqueia a luz quente. Eu me sinto perdida em sua sombra.
Gabriel se vira para me encarar. Com seu rosto na sombra, não consigo
ver nada em seus olhos. Mas sua voz é baixa e profunda quando ele fala
novamente, cheio de... o quê? Arrependimento? Vergonha?
Oito horas.
— Eu diria que forçar a fingir meu próprio suicídio, mas nós dois sabemos
que remonta mais do que isso.
— Preparado?
— Para morrer? Sim, eu acho. Quer dizer, eu esperava por mais alguns
anos ou mais, mas foda-se. — Cass envia um sorriso largo na minha direção e
sobe na cadeira. — Diga a mamãe que amo ela e papai que ele é um boceta.
Escolhemos encenar esse show de merda em sua aula de inglês. Ele odeia
a irmã Sharon de qualquer maneira, e eu não concordo com seus métodos
disciplinares, então é uma vitória para nós dois. Tem sido difícil fazer tudo
isso com nada mais do que o brilho da tela de um telefone celular para
trabalhar, mas não queríamos que ninguém olhasse pela janela e visse uma
lâmpada fluorescente brilhando em uma sala de aula que só deveria ter almas
nele amanhã de manhã.
— Cass...
— Ou inundar o banheiro...
— Então eu teria que ligar para Miriam, não para o reitor. Continue, Cass.
É isso ou quebrar. Por que diabos mais eu estaria ligando para ele, e não para
um dos outros funcionários?
— Trinta segundos.
12 Súcubo é uma personagem referenciada pela cultura popular e mitologias como um demônio
com aparência feminina que invade o sonho dos homens a fim de ter uma relação sexual com eles
para lhes roubar a energia vital.
Eu pulo em uma mesa próxima e espio por uma das pequenas janelas no
topo da parede.
— É o Santos! — Eu grito. — Ele disse que vai, merda, Padre, ele diz que
vai se matar!
Cass começa a sufocar novamente. Desta vez, ele imita chupar um pau
gigante para acompanhar os sons sugestivos de engasgo.
Eu aceno para ele e corro para fora da porta antes que Gabriel possa
ouvir.
— Você está por perto? — A voz de Gabriel sobe várias oitavas. Eu ouço
uma porta bater e sua voz fica embargada, como se ele tivesse começado a
correr. — Você pode ver ele?
Agora ou nunca.
Eu vejo de boca aberta enquanto Gabriel desaparece virando a esquina.
Chamei-o algumas vezes, mas poderia muito bem ter ficado muda.
Oito horas.
15 minutos.
Boa sorte.
Caramba.
Nada.
Eu subo nas prateleiras e enterro meus braços entre suas malas. Eu
engasgo com o fedor de naftalina saindo deles.
Nada.
O armário é um fracasso.
Eu congelo.
Preservativos.
Preservativos?
Que porra...?
Nada.
Enfio a cabeça embaixo da cama e rastejo para baixo quando percebo que
está escuro demais para eu ver.
Preservativos?
Foda-se, concentre-se!
Estou prestes a rastejar para fora novamente quando minha mão esbarra
em algo.
Mil aranhas se enterram em meu cabelo. Soltei um grito estrangulado e
tive que me esforçar para não sair disparada de debaixo da cama, gritando.
BINGO!
Um laptop.
Eu aperto bruscamente.
Nada.
A bateria acabou.
Cabos.
Os cabos!
Minhas mãos estão tremendo tanto que eu deixo cair o feixe de cabos
duas vezes enquanto subo no chão para a mesa de cabeceira.
Não olhe para o tempo, só vai te atrapalhar. Eles sempre erram nos
filmes. Sempre olhando para trás para ver o quão longe eles correram, então,
BAM! Morto.
Pare.
Respirar.
Acalma.
Meu coração está prestes a desabar, mas então meus dedos tocam a
tampa de plástico. Ele se moveu, mas ainda está lá.
O laptop está zumbindo, mas nada mais está acontecendo. Quão lenta é
essa coisa?
Merda.
Merda!
Isso era um vírus ou algo assim? Esse era o plano da Irmandade o tempo
todo? Mas então eu realmente leio as mensagens e me acalmo um pouco. Os
computadores da biblioteca também despejariam essas merdas. Verificando
isso, alocando aquilo.
Porra.
Oito e dez.
Não tenho ideia se o drive está funcionando, mas não posso ser
incomodada com isso agora. Tenho cerca de três minutos antes de precisar
colocar essa coisa de volta em sua bolsa.
Acho que estou ouvindo coisas quando seus sapatos sobem as escadas.
Eu mal chego ao outro lado do corredor antes que ele saia da escada. Meu
coração bate tão alto no meu peito que estou chocada que Gabriel não parou
primeiro para investigar o som.
Ele corre pela passagem, uma forma escura contra as sombras. Deixei as
luzes apagadas para fazer parecer que ninguém esteve aqui ainda, exceto Cass.
— Padre?
Gabriel muda ao som da minha voz, mas ele não olha para cima. Meu
peito está tão apertado que mal consigo respirar. Gosto de pensar que sou
inteligente e cauteloso, mas acabei de perceber que sou um maldito idiota
impulsivo.
Claro que não. Cass deveria tombar a cadeira quando Gabriel entrasse.
Ele ficaria pendurado por alguns segundos antes de Gabriel o derrubar.
— Irmão Zachary!
— Ligue para Timothy. — Gabriel não grita. Na verdade, ele parece calmo
pra caralho.
Comece as compressões.
Dez.
Vinte.
Trinta.
Gabriel se senta sobre os calcanhares. Seu telefone está fora do ar. Ele
está falando com alguém, mas sabe quem é.
Ele sabe.
Já o perdi.
Porra.
Porra!
Meus ouvidos zumbem como uma serra elétrica. O peito de Cass parece
muito esponjoso sob minhas palmas empilhadas, como se eu estivesse
empurrando um colchão e não o peito do meu irmão. Vou usar a força de cada
empurrão para puxar o ar de volta para seus pulmões, massagear seu coração,
fazer o que quer que seja que a RCP deve fazer.
— Respira! — Eu grito.
A mão de Gabriel aparece. Por um momento nauseante, acho que ele vai
me puxar para longe, para me dizer que tenho que parar, que Cass já está
morto. Mas, em vez disso, ele simplesmente agarra a ponta da camiseta de
Cass e a puxa para baixo em seu estômago.
Eu sinto muito.
Tudo porra.
— Zachary.
— Zachary!
— Pare.
— Foda-se, — eu rosno.
— Zachary!
Meus olhos voltam para Gabriel. Seu rosto está pálido, sua boca uma
linha dura e trêmula. Ele aponta para a porta.
Parece que estou arrastando minhas pernas pelo concreto para chegar
até a porta.
Eu recuo mais e mais, até que não consigo ouvir a voz de Cass.
Eu o quebrei.
Eu fiz o suficiente.
Uma luz verde começa a piscar no dispositivo. Eu deveria retirá-lo e
desligar o laptop para colocá-lo de volta debaixo da cama, mas não posso.
Estou paralisada, diante de um e-mail que meu cérebro parece não ser capaz
de processar.
QUERIDO GABE,
Eu sei que você está ocupado na escola, e você deixou bem claro que eu
não deveria entrar em contato com você novamente..., mas Keith precisa de
sua ajuda.
Por favor.
Monica.
Porra. Eu rastejo para fora novamente, pulo e giro para encarar a porta
do outro lado do apartamento.
O que você estava fazendo enquanto eu estava fora, Trinity? Quem eu?
Fiquei sentada aqui o tempo todo. Sentada aqui, observando o fogo.
Deus, meu coração está batendo forte. Eu limpo as costas da minha mão
na minha testa e, em seguida, uso as duas mãos para limpar o suor do meu
couro cabeludo.
Melhor.
Eu verifico o relógio.
Oito e vinte.
A carta da mamãe era a décima na pasta pessoal. Acho que diz muito que
a pasta inteira continha apenas um pouco mais de trinta e-mails. Mas embora
Gabriel goste de fingir que não tem uma vida pessoal, a julgar pelo e-mail de
minha mãe, ele está metido nos assuntos de nossa família há muito tempo.
Sua orientação?
Em vez disso, uma risada amarga explode de mim. Penso em beber direto
da garrafa, mas então me lembro que não sou um maldito animal, então me
sirvo de outro copo.
Por um segundo, não tenho ideia do que diabos ele está falando.
Você pode mergulhar a merda em álcool, mas no final das contas isso
apenas prepara o terreno para uma explosão de classe mundial.
— Eu sei que permiti, criança, mas você não deve beber em excesso. Ou
na sua idade.
Sua mão está no meu quadril. Dedos fortes cavam em minha carne.
No caminho escondido atrás da minha calcinha. Ele franze a testa e move
o polegar sobre o dispositivo. Eu me afasto dele, piscando furiosamente
enquanto tento ficar sóbria.
Ele franze a testa com força e alcança meu quadril novamente enquanto
se levanta.
Bato a porta atrás de mim e, por causa disso, não consigo ir ao banheiro.
Em vez disso, eu vomito na pia.
Eu meio que espero que Gabriel venha para dentro e segure meu cabelo
como Reuben fez.
Passo alguns minutos certificando-me de que não há mais nada para sair,
e então mais um minuto jogando água fria no meu rosto.
— O que?
— Você perguntou se seus pais eram boas pessoas. E eles são, Trinity.
Verdadeiramente... eles eram.
Sua mão está no meu ombro. Não gosto de lá, mas não quero que ele pare
de falar.
Ele dá outra longa tragada no cigarro. Embora ele abaixe a cabeça para
soprar a fumaça, ela se acumula entre nós e ainda atinge meu nariz.
— Eu sinto muito.
Ele acaricia minha cabeça e por algum motivo isso é tudo o que preciso
para me render. Isso e a meia garrafa de vinho que eu bebi antes de ele voltar.
Mas o momento é apenas isso, um único momento. Frágil como uma taça
de vinho. E se quebra assim que ele fala.
Eu me inclino para trás, meus dedos deslizando pelo meu rosto. Ele
segura meu rosto com uma mão, a outra ao seu lado, um cigarro semiacabado
pendurado em seus dedos. Seu toque faz com que minhas pernas percam a
força. Eu jogo meus braços sobre os ombros de Gabriel, segurando-o para me
manter de pé.
— Eu sei, mas isso não pode esperar mais. Se você não se lembrar de
manhã, eu contarei de novo. Vou continuar dizendo a você, até que você
encontre em seu coração para dar sentido a isso.
Suas palavras estão começando a correr juntas.
Merda! Ele está prestes a lançar uma merda pesada sobre mim, mas o
quê. Se. Eu não. Lembrar?
— Trinity. Criança. Olhe para mim. — Ele usa a mão para levantar minha
cabeça. Então ele agarra meu queixo e aperta. A breve pressão me traz de volta
de um devaneio violento induzido pela bebida, onde ele é crucificado na
fogueira como Jesus, e a Irmandade é quem o está perfurando com lanças.
Eu não sei. Só espero não ter xingado muito. Parece errado, xingar um
padre.
Eu seguro o pendrive.
— Devolvendo isso.
— Aqui.
Começo a bisbilhotar de novo, mas não há muito para ver. A única gaveta
ao lado da estação de café contém sachês e colheres de café solúvel. O micro-
ondas está vazio. Há um celular carregando ao lado da chaleira, mas quando
tento ligá-lo, ele pede uma senha. Tento alguns números aleatórios antes de
uma mão enorme me envolver, tirar o telefone dos meus dedos e, em seguida,
envolver minha mão.
— E?
— Por que você está bêbada perto dele? Ou você esqueceu como ele é
perigoso?
Não tenho ideia se isso é verdade, mas não tenho certeza de quanto
tempo Reuben vai me deixar ficar por aqui se achar que sou um fracasso. Ele
pode até me mandar de volta para Gabriel.
Seus olhos caem para minha boca, então minha garganta, então meus
seios. Cada lugar que param, a pele começa a pulsar.
— Você não pode estar aqui, — ele diz, me liberando e dando um passo
para trás.
Eu deveria ir embora. Eu sei disso. Mas não quero ficar sozinha agora.
Estar sozinha significaria que eu teria que repetir toda a merda que acabou de
acontecer, e no meu estado atual, não sei o que fazer com essa informação.
Eu abro.
— Eu…
Eu não...
Ainda assim, você gosta do que ele faz com você. A maneira como isso
te faz sentir. Você sempre amou a ideia de ser uma pecadora, não é?
Sempre tão calmo, tão centrado. Me faz pensar como é quando ele perde
o controle.
Como você fez com Cass.
Cale-se!
— Sim.
Porra. Porra!
Não.
sim.
Pode ser?
Eu não?
E quanto a Zach?
Porra.
— Por que?
De repente, estou muito ciente de quão perto meu núcleo está de seu
corpo. Pressionado contra o estômago logo acima do cinto, eu só posso
imaginar como seria se ele levantasse minha saia para que o tecido áspero de
seu jeans pudesse esfregar contra mim.
— Que eu quero que você me beije? — Eu franzo a testa para ele. — Sim.
Agora cada parte de mim está prestando atenção, dos meus lábios aos
meus mamilos, ao meu centro, à porra dos meus dedos dos pés.
— Você não deve tratar isso como um jogo, Trinity. — Os olhos negros de
Reuben endurecem com a mesma determinação intensa que ele tinha no dia
em que nos conhecemos. Ele traça o contorno de um dos meus botões e
começa a abri-los.
— Hmm, — como se não estivesse cem por cento satisfeito com a minha
resposta.
Deus, isso é uma tortura. Estou tentada a pedir a ele para se apressar.
O último botão se abre. Ele desliza a mão por trás do meu corpete e
separa as duas metades do meu vestido.
Mas não de todo. Apenas o suficiente para que eu possa ver a ponta do
meu sutiã quando eu olho para baixo.
Gabriel dormiu com meu pai? Bem, ele teria que, provavelmente,
considerar isso um caso.
Mas ele move a cabeça para o lado, então acabo beijando a porra da
orelha dele.
Eu cruzo meus braços sobre meu peito, movendo minha boca para o lado.
— Isto.
Ele levanta um rosário vermelho. Minhas mãos voam para o meu peito,
mas eu toco a pele nua.
— Como você...?
Minha mente corre de volta para o banho que tomei hoje cedo.
Nada ainda.
— É meu.
— Você me deu.
Meu coração gagueja com isso. Seu olhar de comando me obriga a baixar
o olhar. O que diabos eu devo dizer sobre isso?
O cheiro de rosas atinge meu nariz. Ele está esfregando o crucifixo com
o polegar, intensificando o cheiro.
Ele fica tenso quando coloco minha mão sobre a dele. Eu lentamente
fecho seus dedos sobre o colar.
— Você pegou.
Minhas mãos estão em seu peito, dedos cavando em seus músculos, mas
eu lentamente os retraio e me abraço.
Ele solta um longo suspiro pelo nariz e então lentamente examina meu
rosto como se estivesse procurando por algo.
Não sei se ele encontra, mas um momento depois ele desliza seu rosário
sobre minha cabeça e o enfia atrás das metades abertas do meu vestido. Então
ele lentamente começa a me abotoar novamente.
— E eu não o impedi, porque estava fingindo que era eu lá, não ele.
— O que? — Eu grito, batendo em seu peito com meu punho. — Isso não
faz sentido!
— Isso não faz sentido, Reuben! — Eu grito, batendo meu outro punho
nele.
Ele pega meu pulso antes que eu possa dar outro golpe e, em seguida,
fecha os braços sobre mim, me esmagando contra seu peito enorme. Soltei um
grito estrangulado, mas lutar contra ele é inútil.
— Posso te beijar agora? — ele pergunta.
E ele me solta.
Não olho para trás quando saio, mas consigo não bater a porta. Dou dois
passos antes que o cheiro de seu rosário chegue ao meu nariz novamente.
Sempre que vou à cidade nos fins de semana, passo cerca de uma hora
no café local. O café do filtro deles tem gosto de merda que você tira da sarjeta,
mas não é por isso que vou lá.
Seu Wi-Fi, embora irregular, abre um novo mundo. Por uma hora, posso
escapar dessa escola de merda e do caminho de décadas que meus irmãos e eu
temos trilhado.
Por aqueles poucos minutos preciosos, vou à procura de uma casa. Tudo
começou como uma coceira mental que eu tive. Temos um jogo que jogamos.
Não consigo me lembrar da última vez que o fizemos, mas como nossas
respostas são sempre as mesmas, tenho essa merda gravada na memória.
Apollo adora o oceano, embora nunca tenha posto os pés na costa. Antes
de ser levado, ele assistia a campeonatos de surfe na televisão e imaginava que
era ele cortando aquelas ondas em alguma praia de Malibu. Honestamente,
acho que ele secretamente queria tirar fotos de garotas de biquíni. Mas quem
diabos sou eu para julgar, certo?
Neste lugar?
Chocante.
Então eu encontrei.
Seis quartos, cinco com suíte. Uma piscina infinita com vista para o
oceano. Uma garagem grande o suficiente para uma coleção de carros
clássicos tão grande quanto Reuben deseja. Uma sala de jogos para Cass,
repleta de uma porra de mesa de bilhar. Bilhar, não sinuca, porque ele é
esnobe assim.
Há até mesmo uma porra de estúdio de dança com espelhos nas paredes,
perfeito para Cass se admirar.
Também não disse a eles que fiz uma oferta pelo lugar no sábado. Eu sei
que vou receber essa ligação em algum momento desta semana, minha oferta
estava dez mil acima do que pediram.
Está me comendo vivo, mas tenho que ter certeza de que está
acontecendo antes de estourar o champanhe.
Ele está vestindo uma camisa preta com gola alta e jeans escuros. Cores
sombrias que combinam com as manchas sob seus olhos.
— Eu poderia ter morrido, — ele diz, a voz tão morta quanto seus olhos.
— Eu acho que você estava morto por alguns segundos. — Queria que
houvesse uma tomada elétrica aqui para que eu pudesse preparar um café. A
única outra alternativa é o álcool ou maconha.
Escolho o uísque, virando as costas para servir uma dose. Foda-se o fato
de que são seis e quinze da manhã.
— Funcionou, — eu digo.
— Sim?
— Então por que eles não estão aqui? Por que eles não estão passando
por sua merda?
— Você sabe que Apollo tem que estar na cozinha antes do café da
manhã...
— Cass…
— Arrisquei a porra da minha vida por essa merda, — diz ele, finalmente
olhando para cima. Olhos cor de gelo sujo me penetram. — Eu não me importo
se você tiver que arrastar aquela bocetinha para fora da cozinha por seu saco
de bolas de merda, você vai e...
Nós dois nos voltamos para ele enquanto ele se esgueira pela abertura de
nosso covil. Ele está vestindo um suéter xadrez largo com um colarinho
desfiado, calças de moletom que já viram décadas melhores e um par de botas
de chuva listrados de tigre. A julgar por seu cabelo de cauda de rato e as
manchas úmidas em sua parte superior, começou a chover novamente.
Ele tira uma mochila do ombro e desaba no sofá, então olha para mim e
geme ao ver a garrafa na minha mão.
— Ainda não temos café aqui?
Meus olhos vão para Cass, mas ele mantém a cabeça baixa, usando a
unha do polegar para empurrar para trás suas cutículas.
— Sim, funcionou, — diz Apollo com um sorriso sem olhar para cima. —
Parecia muito assustado pra caralho. Isso é...
— O que você quer dizer com não há nada? — Cass rosna. Ele pega o
laptop de Apollo, apertando o botão para baixo enquanto um brilho se
aprofunda lentamente em seu rosto. — Há toneladas de merda aqui.
— Sim, mas nada útil. — Apollo pega o laptop de volta, faz uma careta
para Cass, e então se levanta e vai se sentar na poltrona à nossa frente. — Só
um monte de merda.
— Você não poderia ter passado por tudo tão rápido, — eu digo,
estremecendo com meu primeiro gole de uísque.
— Zach...?
— Oh, está faltando alguma coisa, certo. Ela só conseguiu oitenta por
cento da direção. Acho que ela saiu mais cedo. — Ele ergue os olhos com um
sorriso tímido que nenhum de nós devolve, e então resmunga algo baixinho
enquanto volta para o laptop. — E ele nem se preocupou em limpar o histórico
do navegador em... — Apollo levanta um dedo enquanto encara a tela. — Para
sempre. Literalmente, desde o amanhecer da porra do tempo.
— Ou ele poderia ter excluído apenas a merda que não queria que você
visse, deixar todo o resto, então parece que ele não excluiu nada, — Cass diz,
levantando as sobrancelhas para Apollo.
— Nós dizemos a ela que não copiou nada. Diga a ela que ela tem que
fazer isso de novo.
— Cara, sério, qual é o seu problema? — Apollo exige, sua mão apertando
a alça da mochila. — Você tem outro sonho molhado com Zach e acorda com
o traseiro dolorido?
Eu aperto meus olhos fechados. É instinto, algo que sempre fiz quando
de repente me deparo com uma visão que não posso, ou não vou, processar.
14 conjunto de setores que constitui a menor unidade de alocação capaz de ser endereçada num
disco magnético.
Vai ser nós contra eles, se eu conseguir o que quero. Meus irmãos se
sentem diferentes, é claro. Eles não querem que nenhuma dessas merdas vá a
julgamento. Sua definição de justiça é bíblica.
Apollo olha boquiaberto para o pescoço de Cass, a pergunta não dita bem
grande em seus olhos arregalados.
— Ela é uma garota esperta, não é? Tenho certeza que ela vai descobrir.
Ela só precisa da motivação certa.
Eu tinha ido para o quarto dele ontem à noite. Ele não estava lá. Eu
finalmente o localizei na enfermaria, onde um Timothy de rosto sombrio
estava enchendo um frasco de laranja para ele.
— Não.
— Obviamente.
— Sim claro. Mas o que está feito está feito, certo? Não pode mudar nada.
Não há razão para começar a gritar e essa merda.
— Sim. Porra.
— Fume um baseado, — Apollo diz, vindo atrás de mim. Ele coloca a mão
no meu ombro e aperta meu músculo. — Vai ajudar mais do que o uísque. Quer
que eu role...?
— Você não tem nada para fazer? — Eu estalo. — Reuben, os dados, café
da manhã? Parece uma merda de uma manhã ocupada.
Apollo retira sua mão. O suspiro que ele solta ao sair me traz de volta.
Meu apetite não voltou desde que vomitei na noite passada, então não
me incomodo em ir ao refeitório quando o sinal do café da manhã toca. Em
vez disso, volto para o meu quarto e tento dormir uma hora.
Hora da aula.
Agora que o choque passou, tudo o que resta é uma mistura estranha de
nojo e raiva. Não nojo pelo fato de serem dois caras, mas porque papai traiu
minha mãe. E com a porra do nosso padre, de todas as pessoas.
Mas não é isso que está me comendo viva.
Se Gabriel é capaz de ter um caso, então do que mais ele é capaz? E já que
ele admitiu abertamente que faz sexo com homens...
Cubro meu rosto com as mãos e me inclino para a frente na cama. A aula
começa em alguns minutos e ainda estou vestida com as roupas da noite
anterior.
Vim para Saint Amos para ficar com o homem que considerava um
amigo.
Mas eu estava errada. Não há nada aqui para mim. Sem amigos. Sem
suporte.
****
TRIN
Jasper tenta chamar minha atenção, mas eu o ignoro e vou para o fundo
da sala. Quando passo pelas portas da cozinha, vejo Apollo pela janela.
Apollo não sai da cozinha nem tenta chamar minha atenção novamente.
Sento-me e como meu sanduíche, fingindo não notar a maneira como os
meninos ao meu redor me olham como se esperassem que eu começasse a dar
cambalhotas.
Então a irmã Miriam vem até mim, parando bem ao lado do meu banco
durante suas rondas habituais.
— O que é isso?
— Obrigada?
Gabe.
Não, foda-se.
Gabriel.
Meu coração está trovejando como uma cachoeira quando chego ao fim.
Miriam leu isso? Não haveria como ela decifrar uma carta tão vaga, mas ainda
estou convencida de que ela sabe de tudo.
Porra!
Você não tem suas anotações, Trinity. O livro ainda está no seu quarto.
A chuva deveria estar evaporando da minha pele, é por isso que estou
brava. Mas tudo o que ela faz é bater no chão, molhado e implacável, até que
finalmente fico sob a cobertura do beiral. Eu empurro a porta e entro, indo
para a aula de Zachary.
— O que?
— Bem, nada. — Ele corre para frente, agarrando a lateral do meu vestido
antes que eu possa sair de seu alcance. — Você pelo menos encontrou o laptop
dele?
— O quê? — Eu gaguejo.
— Solte! — Eu puxo sua mão, mas ele está segurando tão forte que
provavelmente eu rasgo o tecido antes de poder arrancar seus dedos.
Porra.
Ele abre minhas pernas com um chute e se enfia entre minhas coxas,
inadvertidamente subindo meu vestido a uma altura bastante inadequada.
Quando eu vou para seus olhos com os dedos em garras, ele agarra meus
pulsos e os bate na parede acima da minha cabeça.
Porra!
— Ouça com atenção, Srta. Malone, porque só vou dizer isso uma vez, —
ele sibila em meu ouvido. — Não havia nada naquele drive.
Grito contra sua mão, mas é claro que ele não consegue me entender. E
todo o meu protesto me ganha é ele batendo seu corpo contra o meu e
expulsando o ar dos meus pulmões.
Tento dizer sinto muito por meio de sua mão. Parte disso deve passar
porque ele afrouxa um pouco os meus pulsos e puxa para trás para não me
esmagar contra a parede.
Por alguma razão, meu corpo responde com desespero à repentina perda
de pressão. Como se eu de alguma forma gostasse do fato de que ele estava me
sufocando.
— Você parece pensar que pode simplesmente fazer o que diabos você
quiser. Deixe-me assegurar-lhe, garotinha, isso está longe de ser exato.
Meus olhos estão fechados com força, mas ele fica quieto por tanto tempo
que me atrevo a abrir um só para espiá-lo.
— Boa menina.
Não deveria, mas mesmo seu elogio indireto envia uma onda sensual
através de mim. Talvez seja apenas alívio que ele decidiu não cortar minha
garganta.
O que significa que posso tentar persuadi-lo de que estou do lado dele.
Do lado deles
Mas, primeiro, preciso descobrir por que ele parece decidido ao fato de
que não fiz meu trabalho.
— Eu fiz o que você disse. — Eu mantenho minha voz suave e baixa, não
querendo provocar a besta que só agora começa a recuar. — Não sei por que
não...
— Acha que nos importamos com suas desculpas? — ele raspa. Meus
olhos se fecham quando ele começa a apertar minha garganta. — Nós não!
— Mas eu fiz tudo o que você disse. — Apesar de meus melhores esforços,
a frustração aumenta conforme eu forço minha voz a permanecer calma. —
Encontrei o laptop debaixo da cama e coloquei o drive no...
Meu pai e eu nunca estivemos nos melhores termos, isso é um fato. Ele
governava nossa casa com punho de ferro, e sempre me ressenti dele por isso.
Mas eu obedeci, porque é o que meus pais esperavam de mim. Porque a bíblia
disse isso.
Não, padre Gabriel, fodido Gabe, eles não deveriam. Mas eles trataram.
— Eu não me importo como você faz isso, mas você vai nos conseguir
esses dados, e você vai...
Seus dedos apertam ainda mais enquanto ele esfrega seus quadris em
mim.
Quase rio com o pensamento. Claro que ele está gostando disso, seu pau
tinha o dobro do tamanho quando ele estava me espancando, que porra eu
estou esperando? Ele goza com a dor dos outros, então acho que humilhá-los,
torturá-los, é tudo a mesma coisa.
Ele passa o olhar pelo meu corpo e, em seguida, olha para o lado. A
curiosidade, é claro, leva o melhor de mim.
É uma e dez.
Nós dois olhamos para trás ao mesmo tempo. Ele se move contra mim
novamente, e desta vez é óbvio que ele quer que eu sinta sua ereção. Meu
coração dá espasmos de pânico enquanto minhas coxas se contraem com a
necessidade urgente de fechar e negar o acesso a ele.
Querido Deus, tudo o que ele precisa fazer é abaixar um pouco, e ele pode
estar dentro de mim. Se nós dois estivéssemos nus, é claro. Mas ele está de
calça comprida, e eu estou com esse vestido monstruoso, então...
— Eu sei o que você está pensando, — ele murmura. Sua boca se contorce,
e então ele está mordendo o lábio inferior, puxando aquela carne tenra por
entre os dentes. — Mas por mais que eu não queira nada mais do que foder
você contra esta parede, nós dois sabemos que não é assim que acontece.
— O quê?
Ele libera minha garganta, arrastando a mão sobre meu peito. Ele aperta
com tanta força que eu grito de dor e, em seguida, pega seu lábio novamente
com os dentes.
— Foder você.
Ele passa os dedos pelas dobras do meu vestido. Eu tremo quando ele faz
contato com minha pele nua alguns centímetros acima da minha calcinha.
— Você sabe onde isso vai acontecer, não é? — Sua voz baixa. Áspera,
gutural. Ele mal soa como ele mesmo. — Em nosso lugar especial, lá embaixo
no escuro.
Ele me devora.
Quando fecho minha boca, ele a força a abrir com a língua. Quando tento
me afastar de seu pau, ele desliza a mão sobre a minha entrada e me aperta
com tanta força que eu choramingo em seu beijo.
Sinto o gosto de sangue na boca um segundo antes de ele cair para longe
de mim. Cambaleando para o lado, mal encontro meus pés antes de sua mão
estar em volta da minha garganta novamente.
— Eu gosto quando você luta. Brincar com coisas mortas não é divertido.
Ele ri de mim.
Sangue e saliva com doce de menta se misturam na minha boca. Ele enfia
a mão no meu vestido. Antes que eu possa fechar minhas pernas, ele acaricia
minha calcinha com os nós dos dedos.
Aquela carícia leve como uma pena está tão em desacordo com seu beijo
que por um longo momento estou perdida.
Seu beijo fica mais lento, mas fica mais difícil. De alguma forma, mais
urgente. Ele me acaricia novamente, enviando uma dor profunda por mim.
Em vez de afastá-lo, coloco meus dedos em seu peito.
— Não. — Eu não volto. Eu não olho para ele. Se eu o vir, vou vacilar. —
Não sou mais sua marionete. Eu não estou mais com medo. — Ouço um
movimento atrás de mim, mas simplesmente fecho minhas mãos em punhos
e me recuso a deixar o medo criar raízes.
É raiva, ou fúria, ou uma bomba suja das duas. Eu recuo e tateio atrás de
mim procurando a porta.
Eu giro a fechadura.
Então a maçaneta.
Meu cabelo está despenteado e meu vestido não fica bem. Mas é o sangue
no meu queixo e ao redor da boca que me faz engolir com ânsia de vômito.
— Senta.
Mas ela com certeza parecia temer. Tremendo como um potro recém-
nascido. Levou todo átomo de autocontrole que eu ainda possuía para não a
prender na minha mesa exatamente como no desenho de Cass, e fodê-la até a
submissão.
Ele poderia ter discutido. Ele pode ter vencido. Em vez disso, ele pega o
baseado, estuda e traga como um campeão.
É isso que adoro em Rube. Ele sabe quando dizer sim e quando dizer não.
É assim que ele ficou são com seu Fantasma. Aquele filho da puta
malvado o quebrou uma e outra vez. Eventualmente, Rube parou de lutar.
Todo não virou um sim. Ele aprendeu sozinho a se submeter.
Todos nós estaríamos muito melhor se não tivéssemos lutado tanto. Mas
então todos, exceto Cass, estariam tão quebrados quanto ele. Em dias como
hoje, não sei como Reuben aguenta se olhar no espelho.
— Ela não vai fazer isso, — digo a ele antes de dar uma tragada.
— Por quê?
Rube solta um suspiro suave pelo nariz antes de se inclinar para trás para
procurar em seu bolso.
Ela estava mentindo para mim. Não apenas Gabriel não está ocupado,
ele pediu para vê-la esta noite. Não tenho certeza se gosto dessa versão do
Trinity. É necessário um conjunto de habilidades especiais para manipular
pessoas com espinha dorsal. Acho que não tenho energia para jogar esse jogo.
— Ainda não.
— Então o que?
— Eu irei.
— Vou descobrir uma maneira. — Eu aceno minha mão para ele. — Deixe
isso para Beaver.
— Eu também.
— Sim mas...
— O que?
— Cass. Ele estava...
— O quê, Rube?
— Perto de quê?
— Do fim.
— Ansioso.
— Por vingança?
Ele concorda.
Sim, eu sei porra. Vou ter que fazer o que for preciso. Assim como Cass.
— Como você disse, estamos chegando perto. Não podemos foder com
tudo agora, podemos?
Ele agarra meu tornozelo e aperta. Eu estremeço, mas a dor que sinto é
efêmera. Ele mantém o polegar lá, cavando no ponto sensível atrás do meu
tendão de Aquiles. Não parece intencional, mas aprendi há muito tempo que
Reuben faz tudo por um motivo. Ele coloca outros psicopatas em posição de
vergonha.
****
Ele sabe que você está vindo. Não há necessidade de adiar o inevitável.
Eu o quebrei.
Por nada.
Cale a boca!
O laptop não está embaixo da cama como Trinity disse que estaria. Está
bem na frente do padre Gabriel na mesa de jantar de quatro lugares.
Uma luz branca banha seu rosto e se reflete em um par de óculos que eu
nunca o vi usar. Eu sei que não fiz nenhum som ao chegar aqui, mas como se
ele sentisse minha presença, ele ergueu os olhos da tela.
O choque que ele dá quando me vê não pode ter sido fingido e de repente
estou questionando cada merda que me levou a este ponto.
Filho?
Ele está vestindo uma camiseta e jeans. Sem os óculos, ele poderia ter
trinta e tantos anos.
Meus olhos se estreitam enquanto estudo suas costas. Que porra de jogo
ele está jogando, fingindo ser um padre santo que precisa de óculos para ler e
se envolve tão facilmente em seu trabalho que não perceberia a faca
mergulhando em seu pescoço até que fosse tarde demais?
Agora estou desejando ter uma faca comigo. Desejando ter rastejado por
trás dele e usado.
Mas eu nunca poderia me perdoar por fazer uma coisa tão egoísta. Meus
irmãos merecem tirar a vida dele tanto quanto eu.
Fizemos um pacto.
— Sim. — Ele acena com a mão para uma das poltronas. — Por favor
sente-se.
Covarde.
Pego o assento que ele oferece e arrisco outro olhar ao redor de seu
quarto. De costas para ele, não consigo ver muito, mas pelo menos tenho uma
boa visão da área do quarto daqui. Sua cama parece mal feita. Ele apenas
puxou os lençóis e afofou os travesseiros?
Ele estava dormindo antes de decidir ligar o laptop? Ou ele não arrumou
desde que acordou esta manhã?
Adoraria saber o que aconteceu aqui ontem à noite. Sobre o que ele e
Trinity falaram. O que ele disse para transformá-la contra nós.
— Celibato.
— Eu não sigo.
Lá está ele.
Um lugar seguro?
Meus dedos cavam mais fundo e eu os deixo. É isso ou eles vão estar
cavando a porra da garganta dele.
Ele solta uma leve bufada de risada, um sorriso triste tocando sua boca.
Sua mão pousa no meu ombro, mas eu me afasto dele e tropeço para trás.
Minha mandíbula se aperta com tanta força que não acho que conseguiria
falar se tentasse.
Nada.
Gabriel me segue, rosto neutro, mas seu molde com sombras profundas.
— Eu te conheço, Zachary.
Desvia. Ataca.
Como se tivéssemos praticado alternar em nossas mentes por anos.
Ele levanta o queixo, seu olhar oscilando antes de sua boca formar uma
linha dura.
— Você não sabe de nada, criança. Você está lidando com forças
malévolas que você nem consegue entender.
Muito rápido, ele me agarra. Estamos um contra o outro, mas com corpos
eriçados, repelindo-se um ao outro como ímãs do mesmo polo.
Seu aperto forte desperta uma tensão sexual em mim, não porque eu
goste da dor que ele inflige, mas porque eu sei que logo, muito mais cedo do
que eu pensava, ele estará à minha mercê.
Embora esse contato seja breve, a indignação de seu toque não solicitado
rasga através de mim como uma explosão eletromagnética.
— Que porra? — Eu cambaleio para trás dele, limpando minha boca com
as costas de uma mão trêmula. Meu desgosto está refletido em seu rosto.
— Então você pode foder um homem, mas não aguenta beijar um?
E embora não haja nada que eu possa fazer sobre minha mente suja, o
mínimo que posso fazer é lavar a sensação dele do meu corpo.
Me assustando assim.
Forçando-se a mim.
Achei que meu coração estivesse batendo de pânico..., mas agora estou
me perguntando se não foi emoção em vez disso.
Talvez se sua vida for tão chata quanto a minha, qualquer coisa seja
excitante.
É muito confuso pensar que meu corpo é capaz de confundir medo com
luxúria ou dor com prazer.
Ah, eu sabia!
— Foda-se, — eu estalo.
Talvez ele esteja encontrando-se com Perry. Só espero que ele não volte
à biblioteca.
— Como eu deveria saber? — Eu grito atrás dele quando ele sai do nosso
quarto.
A pior parte é que sei exatamente o que vai ajudar. Mas, desde que
mamãe me fez confessar, é impossível para mim me livrar. Logo eu estava
afastando o desejo no momento em que ele chegou.
— Estou interrompendo?
****
— Espera. Espera! — Eu empurro as palavras entre arfando
pesadamente. — Você está indo rápido demais.
— Você tem que trabalhar em sua resistência, Trin, — Apollo diz. Não
preciso olhar para ele para saber que está com um sorriso largo. — Ainda
temos um caminho pela frente.
Ele não respondeu a nenhuma das minhas perguntas. Não me disse para
onde vamos. Mas eu percebi na metade do caminho subindo as escadas em
caracol que devíamos estar indo para uma das torres que pontilhavam os
quatro cantos do dormitório. Isso, ou a torre do sino.
A torre do sino.
— É…
— Você deveria ver durante o dia. A vista, quero dizer. O sino não é nada
especial.
Ele me leva além da campainha para uma porta muito menor afastada de
um lado. A porta de metal faz com que pareça uma espécie de área de
manutenção.
Em seguida, Apollo acende a luz, revelando uma pequena sala com nada
mais do que uma mesa e uma cadeira de escritório de aparência frágil, o tecido
se desfazendo em um canto da almofada.
Estou vagamente ciente de que Apollo ainda está segurando meu pulso,
mas em vez de me soltar, ele vem atrás de mim e fecha a porta.
— Isso é tudo, — diz ele.
Ele não está brincando. A parede está coberta de fotos, artigos de notícias
e post its rosa. Caminhos de barbante azul unem objetos aparentemente
aleatórios, formando o tipo de teia que apenas uma aranha com LSD poderia
fazer.
Apollo usa o aperto em meu pulso para levantar minha mão. Ele
cuidadosamente forma meus dedos até que eu esteja apontando e, em seguida,
move a ponta do meu dedo sobre a colagem.
CLASSE DE 1991
— Eu reconheço.
Mas não é o único rosto que reconheço. Eu engulo em seco e olho para
Apollo. Ele está olhando para mim, não para a parede.
— Zachary disse para você me trazer aqui? — Minha voz está tensa,
minhas mãos se fechando em punhos.
— Não diga a eles. Por favor. — Ele se vira para mim, agarrando seus
cotovelos. — Não devemos manter coisas assim por perto.
— Então, por que você quer? Por que isso está aqui?
— Tive que juntar tudo para saber que fazia sentido. — Ele acena com a
mão para as fotos e recortes, balançando a cabeça. — Quer dizer, é fácil para
eles. Eles são todos muito espertos. Eles apenas mantêm essa merda em suas
cabeças. Você pergunta a qualquer um deles em que ano o incêndio começou
em Rhode Island, quantos órfãos aparentemente morreram nele, eles
poderiam dizer a você na hora.
— Eu? Eu fico todo confuso. Então eu fiz isso. Isso me ajuda a manter o
controle. Ajuda tudo a fazer sentido.
14 MORTOS DE INCÊNDIO
— Onde você tirou a foto? — Eu me forço a não olhar para ele, embora
esteja louca para arrancá-la da parede e queimá-la.
— Quantos anos tem ele? — Minha voz está rouca agora. Eu mal estou
me segurando... o quê? Raiva? Medo?
— Então você vai fazer isso? — ele pergunta. — Você vai voltar e tentar de
novo?
— Não sei. — Eu tenho que esticar minha cabeça para olhar para ele
quando ele se aproxima ainda mais. — Eu precisaria de mais tempo, eu acho.
Ou talvez eu tenha feito errado. Zachary disse...
— Isso é...
— Porque eu trouxe você aqui. — Ele aperta meu braço. — Mas, por favor,
não diga nada. Para ninguém. Entende? Ninguém pode ver isso.
Querer e fazer são duas coisas muito diferentes, é claro. Não importa o
que eu queira, não devo deixá-lo me beijar. Quer dizer, o que isso diz sobre
mim?
Blasfema
Seu beijo fica mais profundo. Ele desliza sua língua em minha boca,
cautelosamente curioso, até que eu lhe dê acesso irrestrito.
Então ele me beija com tanta força que meu núcleo começa a doer, e não
posso deixar de gemer contra seus lábios.
— Porra, você tem um gosto bom, — ele murmura, uma rajada de
suspiros quentes roçando minha pele enquanto ele se afasta. — Eu pensei que
eles estavam inventando essa merda.
Espere o que?
Ele sorri, arranca o cabelo dos olhos e atira-se em mim novamente sem
uma palavra de aviso.
Eu bato o punho em seu peito, mas ele apenas agarra meu pulso e o move
para o lado sem interromper o beijo.
E então ele arrebata aquele também. Agora estão ambos na parte inferior
das minhas costas, e ele usa as duas mãos para mantê-los lá enquanto me
impele para frente, mais perto da borda da mesa.
— Eu poderia te beijar o dia todo, — ele respira, e então escova seus lábios
sobre meu nariz, minha bochecha, minha orelha. — Mas esse sino vai tocar em
um minuto.
Hormônios.
Ele sorri contra a minha boca, e um bufo feliz acariciando meus lábios.
— Eu adoraria, mas não posso. Da próxima vez?
Paralisando.
Estou tão imersa em pensamentos que não noto que a porta dele está
aberta até que estou prestes a entrar.
Eu recuo e puxo minha mão de volta. O que Zachary está fazendo aqui?
Eu recuo, com a intenção de virar o rabo e dar o fora daqui, mas então ouço a
voz de Gabriel.
Comparado com a explosão de Zachary, sua resposta suave é quase
inaudível. Aproximo-me da porta e coloco meu ouvido bem na fresta.
Eu coloco a mão na minha boca quando Zachary se vira com uma careta
no rosto. Gabriel tinha acabado de tentar beijá-lo? Eu cambaleio para trás,
mas não consigo desviar os olhos deles.
— Então você pode foder um homem, mas não aguenta beijar um? —
Gabriel se aproxima, mas Zachary recua até que suas costas estejam rentes à
parede.
Meu cérebro trabalha horas extras enquanto tento juntar as peças do que
pode ter acontecido.
É porque eu disse a Zachary que não voltaria aqui? Ele decidiu obter os
dados sozinho? Eu me viro, examinando a sala pela fresta da porta. A cama
parece amarrotada e meu estômago afunda.
Eles fizeram…?
Oh meu Deus.
Eu volto para Zachary e Gabriel. Os dois estão tão tensos que é impossível
dizer quem está com raiva de quem. Vendo-os lado a lado, não posso dizer
qual deles ganharia uma luta. Gabriel tem uns bons quinze anos a mais que
Zachary, mas é muito mais musculoso do que o homem mais jovem. Eu sei
que Zachary é forte, mas ele é forte o suficiente?
Eu ficaria apavorada.
Não sei se me movi no momento certo, mas algo faz Zachary olhar
diretamente para mim pela fresta da porta.
Seus olhos piscam, mas essa é literalmente a única razão que tenho para
pensar que ele me viu.
Porcaria!
Zachary deve ter chegado à mesma conclusão que eu. Mas agora estou
com muito medo de me mover.
Apenas alguns metros e você estará sob a toalha da mesa. Gabriel não vai
te ver, ele está completamente obcecado por...
Querendo saber por que não estou me movendo. Por que estou covarde
como a patética covarde que sou.
Apesar do que Apollo pensa, o que eu o fiz pensar, eu não vim aqui para
roubar os arquivos privados de Gabriel. Vim confrontá-lo sobre aquela foto,
aquela que tem me atormentado desde que coloquei os olhos nela.
Mas agora parece que roubar os arquivos é a única razão de estar aqui.
Como se isso estivesse predestinado desde o momento em que coloquei os pés
em Saint Amos.
Gabriel deve ter visto o olhar de Zachary mudar. Ele se vira para olhar
por trás do ombro.
Zachary rosna.
Meu estômago dobra sobre si mesmo como uma tentativa pobre de um
respirar.
E o beija.
Um.
Dois.
Mas não posso esperar mais. Se eu conseguir entrar sem ser vista,
provavelmente poderei simplesmente ir embora. Talvez Zachary possa retirá-
lo quando...
Inspire. Expire.
Muito melhor.
Funcionaria com a tampa fechada? Terá de ser, porque não consigo abri-
la. Isso é algo que Gabriel definitivamente notaria.
Meus lábios se abrem quando um choque silencioso passa por mim como
o vento atravessa um jornal descartado.
Gabriel cai de joelhos na frente de Zachary, que está encostado nas costas
de uma das poltronas do outro lado da sala, de costas para o fogo.
Quente e lívido.
Olha o que você me fez fazer, Trinity. Olha o que você me fez fazer,
porra.
A culpa me destrói. Minha mão treme incontrolavelmente enquanto
tento empurrar a unidade na entrada da lateral do laptop.
Zachary geme.
Sua cabeça se move para trás, a boca aberta. Seu pomo de adão balança
enquanto ele engole. Então ele agarra a cabeça de Gabriel, seus dedos
afundando profundamente no cabelo escuro do homem.
Ele grunhe enquanto força Gabriel a se mover mais rápido sobre seu
pênis.
Seus olhos de jade brilham de ódio. Mas nada disso está focado no
homem que que o está chupando.
****
Não deveria ter sido possível, mas de alguma forma, apesar de tudo,
consigo dormir alguns minutos depois de voltar para o meu quarto.
Sei que é ele porque, quando viro a cabeça rápido o suficiente, vejo um
vislumbre antes que ele se esconda atrás de uma coluna ou de uma porta
aberta.
O que significa que é apenas uma questão de tempo antes que ele me
alcance.
Quando me viro para frente novamente, Gabriel está esperando por mim
no final do corredor. Eu paro, mas o corredor continua se movendo como se
eu estivesse em uma esteira rolante.
Quer eu goste ou não, estou indo direto para ele. Ele abre os braços, um
Jesus bonito, carismático e moderno, com seu cabelo curto e olhos escuros.
Suas roupas tremem, túnicas de sacerdote, jeans, calças, e então ele está
apenas vestindo uma tanga.
Seu corpo brilha. Suor? Óleo?
Sou um pecador.
Eu ouço sua voz, embora sua boca não se mova. Em um piscar de olhos,
seu rosto se contorce no de um maníaco, boca retorcida em uma risada sádica,
olhos selvagens, antes de se suavizar na máscara de um santo.
Queimando.
A pele de Gabriel pega fogo. Ele não parece notar. A única coisa com que
ele se preocupa é me segurar.
Me confortando.
Certo?
Então estou sonhando. O que torna tudo isso muito mais fácil de
processar. Como quando ele diz que ouve alguém chegando e de repente me
pressiona contra a parede como se estivéssemos em um filme de espionagem
e isso é apenas uma desculpa para ele me beijar?
Bem, não pense que não sei o que ele está tentando fazer. Seus lábios mal
tocam os meus antes de eu me convencer de que tudo isso é um ardil
elaborado.
Minha barriga vira com isso. Eu mordo o interior do meu lábio, e ele deve
interpretar isso como um sinal, porque ele abaixa novamente e captura minha
boca com a sua.
Mas apesar do fato de que tudo o que estamos fazendo é nos beijar,
apesar de eu ter certeza de que é tudo o que ele quer, meu corpo responde a
ele como se ele tivesse anunciado que vai estourar minha cereja.
Ele para de me beijar e se inclina para trás, olhando para meus seios
como se nunca tivesse visto um par em sua vida.
Minha cabeça cai para trás. Eu suspiro enquanto ele acaricia minha pele
e gemo quando ele abaixa a cabeça e chupa um dos meus mamilos em sua
boca. Mas assim que desaparece em sua boca quente e faminta, ele se afasta e
olha para o corredor como um agente duplo certo de que foi pego em flagrante.
Tenho certeza de que Reuben contou a eles o que tinha acontecido, eles
contam tudo um ao outro, afinal de contas, e minha suspeita é confirmada
quando Apollo para em seu caminho e olha para mim com um sorriso tímido
no rosto.
Eu não sei o que aconteceu comigo. Talvez seja o fato de que esses quatro
meninos estão brincando comigo desde o dia em que cheguei. Talvez seja toda
a merda que está circulando na minha cabeça nos últimos dias.
Não faz sentido, mas de repente não quero nada mais do que Apollo
descer sobre mim como uma ave de rapina sobre um coelho desavisado.
Eu pulo para frente, pego seu rosto em minhas mãos e o beijo tão forte
quanto posso.
Em resposta, ele circula minha cintura com os braços e me gira e gira até
que batemos no altar.
— Eu sinto muito. Merda. Isso foi tão estúpido da minha parte. Eu...
Então eu aceno para ele como ele acenou para mim tantas vezes antes.
Isso funciona.
Ele avança, sorrindo para o nosso beijo. Mas então ele aprofunda o beijo
e me faz recuar. Espero sentir um piso de madeira duro embaixo de mim, mas
ele agarra um dos travesseiros reservados para joelhos e o enfia embaixo de
mim.
Meu coração quer se abrir com aquele gesto simples. Quando parece que
todo mundo só quer trepar com você ou foder você, alguém te dando um
travesseiro parece a gentileza do século.
Ele deita em cima de mim, leve e rijo em comparação com seus irmãos,
mas ele mais do que compensa com paixão. Seus lábios percorrem os meus,
sua língua ansiosa, exigente e gentil, tudo ao mesmo tempo.
Quando eu começo a ofegar contra sua boca, meu corpo trabalhando sem
parar para tentar processar as deliciosas sensações que ele está torcendo por
mim, seus lábios patinam sobre minha bochecha e roçam minha orelha, o lado
do meu pescoço, minhas clavículas.
E pela primeira vez, esse sentimento não me apavora pra caralho. Em vez
disso, fico pasma.
Como posso fazer isso com ele? Ele realmente me acha tão sexy, tão
quente, tão... fodível?
De alguma forma, ele entende isso como um sinal para começar a beijar
minha boca novamente. Ele pressiona nossas mãos entrelaçadas acima da
minha cabeça, me prendendo enquanto força sua língua entre meus lábios e
rouba meu fôlego.
O que está tudo bem e ok, mas seus beijos estão apenas agravando a
pulsação agora pesada que emana entre minhas pernas. Eu aperto minhas
coxas juntas, mas isso não ajuda.
— O que? — Uau, por que minha voz está tão rouca? — O que é?
— O-o quê? — Minha cabeça está girando com seus beijos, e leva um
segundo para eu perceber o que ele está dizendo. — Você não quer... você não
quer fazer sexo comigo?
— Não.
E então é como se ele estivesse pisando na porra da minha caixa torácica.
Minhas pernas caem de seu corpo, meus pés batendo no chão de madeira
do altar. Eu me afasto dele e imediatamente começo a me contorcer debaixo
de seu corpo, minhas bochechas em chamas.
Acho que nunca fiquei tão envergonhada em toda a porra da minha vida.
E eu tive que dizer ao padre Gabriel que minha mãe me pegou me
masturbando na banheira, então a barra está muito alta.
E então eu espero por qualquer desculpa vaga e idiota que ele espera que
eu aceite. Porque é assim com a Irmandade. Eles estão tão presos em suas
próprias merdas que não percebem que as pessoas ao seu redor têm o direito
de saber o que realmente está acontecendo em suas cabeças.
E aí está.
****
Eu bebo meu chocolate quente enquanto espreito Apollo por baixo dos
meus cílios. Ele me levou até a torre do sino depois de preparar a bebida para
que pudéssemos conversar. Ele está vestindo uma bomber jacket fofa e estou
aninhada em um cobertor.
Uma das coisas que ele me disse foi que não tinha permissão para me
foder.
Meninas, sexo, dinheiro, roupas, festas, esportes, filmes, jogos, tudo isso
eram distrações.
A Irmandade fez um juramento entre si. E nada, nada, era tão importante
quanto aquele juramento.
Estou com muito medo de inclinar minha cabeça para o lado no caso de
toda essa informação vazar pelos meus ouvidos.
Pelo menos ele me fez chocolate quente. E é delicioso pra caralho. E pelo
menos, esta noite, podemos ver a vista. O que é espetacular pra caralho.
— Virgínia. Zach nos alugou uma casa. Ficamos apenas seis meses ou
mais, — Ele dá outra tragada. — Mas estava em casa enquanto durou.
Ele levanta a mão que segura o cigarro e aperta os olhos enquanto coça a
cabeça.
Meu corpo fica rígido. Não tenho certeza se quero ouvir o que aconteceu
com a garota fodida. E Cass usou drogas? É como se eu precisasse de uma
enciclopédia para acompanhar esses caras.
—... e então ela ficou tipo, você não tem que me pagar, eu só levo a droga...
Apollo se encolhe, talvez porque eu pareça tão amarga pra caralho, mas
o quê? Devo ser legal sobre o fato de que Cass pode me agredir quando seus
irmãos não têm permissão para me tocar?
Eu ri.
— Então é isso? Ele tem problemas, então pode fazer o que quiser?
— Sim, não, — murmura Apollo. — Nesse ponto, você está muito errada.
— Ele se levanta. — De qualquer forma, você tem aula amanhã. Você deveria
voltar para a cama.
— Apenas deixe lá, — ele diz, acenando na direção geral do copo enquanto
passa por mim. — Vou buscá-lo de volta amanhã.
Meus olhos passam por ele. A porta pela qual ele me levou ontem está
escondida atrás do enorme sino de bronze. Se eu tivesse visão de raios-X, teria
sido capaz de ver aquela foto incriminadora através do sino e da parede.
Eu paro de andar.
— Apollo!
— Então de quem é?
— Então, acho que você terá que continuar perguntando até encontrar o
que está procurando.
Reuben não está nas orações matinais. Eu devoro meu café da manhã e
procuro pelo campus por ele, mas sem ser capaz de perguntar a ninguém onde
ele está, não é nenhuma surpresa quando eu apareço de mãos vazias.
Gabriel disse que era do mesmo ano que eu, mas não o vi em nenhuma
das minhas aulas. Posso ver se ele está frequentando uma das outras esta
manhã. Então eu saio cedo para o bloco da sala de aula e espreito os corredores
como uma versão bem pequena e cor de cocô da Morte.
Mas ou ele tem um período livre esta manhã ou está matando aula,
porque não o vejo em lugar nenhum.
Cass olha para cima quando eu entro na aula de inglês cinco minutos
atrasada, e envia o tipo de sorriso de lobo que eu esperava dele para mim.
Como estou atrasada, Sharon me dá uma batida nos nós dos dedos que
doeu durante o resto da aula. É impossível não perceber o quanto Cass gosta
da minha punição, eu ficaria chocado se ele não tivesse uma ereção.
Após alguns minutos de aula, uma professora vem falar com a irmã
Sharon. Ela nos instrui a ler nossos livros enquanto ela está fora, antes de sair
da sala de aula.
****
Obrigada Deus, isso não me leva o dia inteiro. Poucos minutos antes do
almoço, passo pela pequena sala de oração. O corredor está vazio, então, por
impulso, decido entrar e verificar se Reuben está lá.
É o mesmo travesseiro?
Eu fico por um minuto ou mais atrás dele, mas ele não reconhece minha
presença. Se meu negócio com ele não fosse tão urgente, eu teria entendido a
dica e ido embora.
E consigo ficar assim por dez segundos inteiros antes que minha
paciência se esgote.
— Sinto muito interrompê-lo...
Eu tenho que fazer ele falar comigo. Se não for ele, quem será? Zachary?
Cass?
— Qual delas?
No começo eu acho que ele está jogando bem. Ele teria que estar fingindo
que minha rejeição não o afetou.
Nada.
Você poderia jurar que ele era uma estátua de mármore, não um homem
vivo que respira. Embora eu esteja apenas supondo que ele está respirando
agora, porque definitivamente não é aparente.
— Eu só... você tem que ver da minha perspectiva, certo? Vocês... vocês
contam tudo um para o outro. Compartilham tudo. É... meio estranho para
mim, ok? Parece que vocês estão atacando dando uma de gangue em mim.
Percebo agora que fui a única de nós que pensou isso. Para ele, eu era
filha de seu amante. Um membro de seu rebanho, nada mais. Aposto que a
única razão pela qual ele falou comigo foi a pedido dos meus pais. Eles
provavelmente imploraram a ele para me envolver mais na igreja.
Em Deus.
Por algum motivo fodido, essa admissão faz meu coração disparar.
— Sei que é pedir muito, provavelmente muito, para você nos aceitar
como somos.
Ele balança a cabeça e agarra um dos meus cachos. Seus olhos mudam
para seus dedos enquanto ele os enrola.
— Tem certeza?
Eu aceno, e então estremeço quando o movimento puxa meu couro
cabeludo.
Meu coração está batendo mais rápido quanto mais perto ele chega.
— Eu acho.
— E quanto a eles?
— Os meus irmãos?
— Sim.
— Hmm. Então eu acho que você realmente tem certeza, — diz ele. —
Trinity Malone... você vai sair com a gente?
Sim!
— Sim!
Porra, finalmente.
Seus olhos se iluminam com um sorriso. Ele pressiona seus lábios nos
meus, mas mal nos tocamos antes de minha mente finalmente me alcançar.
Nós.
— Achei que Apollo tivesse explicado isso? — Agora ele parece... não
chateado, mas talvez um pouco impaciente. Ou frustrado. Talvez ele realmente
queira me beijar tanto quanto eu quero beijá-lo.
— Eu acho que, talvez, ele pode ter deixado algumas coisas de fora, — eu
digo baixinho, meus ombros cedendo.
Reuben concorda.
— Mas...
— É por isso que eu não te parei quando você saiu. É sempre muito
complicado. As meninas gostam de coisas simples. — Seus olhos escuros
brilham. — Nós não somos.
O eufemismo da porra do século.
— O que diabos você está fazendo aqui? — Eu arregalo meus olhos para
ele enquanto corro para forçar a porta fechada mais rápido do que o sistema
hidráulico normalmente permite. — Alguém viu você?
Reuben não tem aula comigo e fiz questão de não me associar a ele nos
dormitórios. Cass sendo o monitor do corredor nos dá um pouco mais de
liberdade, mas isso...?
— Você não estava checando seu telefone, — diz ele, nem mesmo
parecendo se desculpar por violar nossas rígidas diretrizes. — É importante.
— Estamos ficando sem tempo para seus jogos. Por que não podemos
simplesmente contar a ela sobre...?
— Por que você está arriscando tudo vindo aqui para discutir sobre algo
que já discutimos? — Enfio o telefone no bolso e sigo para a porta. — A decisão
foi tomada. Agora saia antes que alguém veja você.
Eu me viro, minha mão na maçaneta da porta, para ver se ele tem alguma
última palavra antes de sairmos da sala de aula. Seus olhos se estreitam, mas
essa é a extensão da irritação que ele sempre mostra.
— Cristo, o que diabos deu em vocês dois? — Eu os chamo, mas não digo
uma palavra.
Apollo raramente fala sério, mas agora ele pode estar concorrendo à
porra da presidência.
Ainda não tenho ideia do que vou fazer. Por mais que eu queira, preciso,
saber o que a Irmandade encontrou, as palavras de Reuben continuam
passando pela minha cabeça.
Mas só posso decidir de que lado estou depois que me contarem o que
acham do padre Gabriel. Eles podem estar blefando. Tentando me colocar do
lado deles para que possam me usar para seus próprios propósitos nefastos.
E eu sou apenas puxada de volta para o aqui e agora quando todos dentro
do corredor começam a gritar.
Acho que vou ter que enfrentar isso. Por mais que não quisesse, terei que
rastrear Zachary e falar com ele. Provavelmente terei que trocar algumas
palmadas pela informação, mas sobrevivi às últimas...
Alguns dos meninos sentados no banco à minha frente olham para trás
em minha direção.
Merda. O que Gabriel quer comigo?
Oh, certo.
Eu cruzo meus braços sobre o peito e me abraço com força, minha mente
como um formigueiro chutado enquanto Gabriel repassa os últimos anúncios.
Não me uno à oração do pai, e isso me atrai mais do que alguns olhares
escandalizados dos meninos ao meu redor.
Deixe-os olhar.
Gabriel sabe que não acredito. Não o surpreenderia nem um pouco ouvir
que deixei de lado esse aqui.
Eu espero que a maioria dos meninos saia, e então faço meu caminho
para a frente do corredor, esperando que Gabriel esteja esperando na pequena
sala ao lado do palco.
Então eu vou para o único outro lugar que ele poderia estar.
****
— Eu não tinha certeza se você viria, — diz ele. Seus olhos passam por
mim, e então ele acena para mim dentro de seu apartamento. — Vamos
conversar lá dentro, criança.
— Não.
— Eu não vou falar com você no corredor, — ele diz, suas sobrancelhas se
juntando. — Isto é pessoal...
— Você está certo, você não vai falar comigo. — Eu empurro meus ombros
para trás e ergo meu queixo. Ele é muito mais alto do que eu, mas de alguma
forma isso ajuda. — Honestamente, acho que você já disse o suficiente.
Tum, Tum, Tum vai meu coração no silêncio repentino após minha
declaração.
Por um momento, acho que ele vai ignorar tudo o que eu disse e apenas
me arrastar para dentro de qualquer maneira. Mas então seus olhos caem e
ele solta a maçaneta da porta.
— Sinto muito por você se sentir assim. — Seus olhos se fixam em mim
novamente, me estudando por um segundo como se se perguntando o quanto
tempo mais ele pode me prender a esta conversa. — Mas eu não queria te
machucar, Trinity.
Eu levanto meu queixo um pouco mais alto.
— Eu sei que o que eu fiz foi errado. Eu deveria ter parado. Não, eu nunca
deveria ter deixado isso acontecer em primeiro lugar. — Mais uma vez, seu
olhar cai. — Mas seu pai é um homem muito persuasivo.
Eu não deveria mostrar nada a ele, mas por alguma razão eu mostro. Por
algum motivo fodido, dou um passo à frente e o deixo fechar a porta atrás de
mim. Ficamos parados na pequena antecâmara, rígidos e desconfortáveis,
olhando para longe um do outro.
Mas ele não quer. Ele continua me dizendo coisas que eu não quero ouvir.
— Eu disse a sua mãe que tínhamos que contar a você, mas ela disse que
não era da sua conta. E isso me magoou, Trinity, porque acredito que você
tinha todo o direito de saber.
— Mamãe... sabia?
Ele concorda.
Ele não se moveu, não tentou dizer outra palavra. E graças a Deus por
isso, porque eu poderia tê-lo atacado fisicamente se ele tentasse.
Eu teria vindo antes, mas disse a mim mesma que esperaria. A cada hora
que passava, a certeza de que eu tinha que vir aqui, que eu tinha que fazer isso,
crescia e crescia até que eu não conseguia pensar em mais nada.
E estou esperando, querido Senhor, estou esperando que isso faça a dor
em meu coração ir embora. Porque depois que gritei com Gabriel assim, é
como se alguém tivesse passado o resto do dia abrindo um buraco no meu
peito com um atiçador em brasa.
Cavando e cavando.
Como da última vez? Você quer dizer quando Zachary estava aqui e ele
bateu em você até que você quase teve um orgasmo?
Eu não queria vagar aqui de pijama, então coloquei um dos meus vestidos
de igreja antes de subir na cama. Mas agora estou me arrependendo, porque
o mais modesto dos dois vestidos ainda não voltou da lavanderia, e este acaba
nos meus joelhos.
Eu me sinto nua.
Ainda não decidi se quero que eles estejam aqui ou se quero que o lugar
esteja vazio. Nunca terei coragem de voltar. Mas terei coragem de ficar se eles
estiverem aqui?
Quando passo por aquela abertura e saio do outro lado, a decisão é tirada
de mim.
Ele dá uma última tragada e depois apaga a ponta ardente entre os dedos.
Então, há silêncio.
Zachary ri.
Só uma vez.
Aproximadamente.
Indelicado?
Eu sinto o perigo no ar, e não tem nada a ver com a maneira como
Zachary está se aproximando de mim como se tivesse o dia todo para atacar.
Mas o que?
Zachary me reprova.
— Pelo que? — Quando eu franzo a testa para ele, um leve sorriso toca
sua boca.
— Por te tratar tão mal. Por reter informações. Retendo... nosso afeto.
Meus olhos vão para Apollo, mas ele desvia o olhar. Quando me viro para
Reuben, seu rosto endurece.
Apenas a sua...
Zachary agarra meu pulso, movendo-se tão rápido que não tenho tempo
de recuar.
Seu rosto fica um pouco mais pálido. Quando dou um passo para trás,
incitando-a a seguir em frente, ela cava com os calcanhares. — Não, — ela
murmura, balançando a cabeça.
Com outro passo suave, bloqueio sua visão. Eu agarro seu queixo,
jogando sua cabeça para trás e forçando-a a olhar para mim.
— Não é assim que funciona, garotinha. Você quer algo, e nós também.
Estou segurando-a com força demais para que ela acene, mas considero
o arregalar de seus olhos uma concordância.
Arrepios explodem em meus braços nus, e não tem nada a ver com o ar
frio aqui embaixo.
Estamos acostumados com o frio, meus irmãos e eu. Aquele porão era
frio, úmido e nojento, então não é de admirar. O vestidinho de Trinity não
parece mantê-la aquecida, levando em consideração seus lábios trêmulos e sua
pele fria.
Sim, mantenha seus olhos em mim, garotinha. Porque se você olhar para
baixo, terá uma ideia do quanto estou gostando disso.
O que é exatamente o que ela faz. Ela arranca o rosto dos meus dedos,
deixando marcas vermelhas para trás, e tenta arrancar meus dedos de seu
pulso.
Acho que às vezes saio do meu caminho para ser cruel, mesmo com
aqueles que não merecem.
Quando Trinity fica rígida em meus braços, Cass olha para Reuben e dá
a ele um aceno quase imperceptível.
— Eu fiz, — eu digo.
Cass solta um grunhido suave quando meu cinto bate contra sua carne.
Trin grita de surpresa e cai para trás, mostrando-me sua calcinha branca
e uma expressão horrorizada enquanto ela se afasta.
— Pare! — Ela grita, colocando-se entre Cass e eu. — Pare de bater nele!
Deve ser a erva, porque eu realmente quero agradá-la, só para ver o quão
longe isso vai antes que ela perceba o que diabos está acontecendo.
Eu não encontrei algo tão inocente desde que meus pais jogaram Cass
pelas escadas do porão, quase quebrando o pescoço do pobre garoto. Isso não
aconteceu de novo, é claro, não depois que seu primeiro fantasma viu o
arranhão que ele tinha feito na porra de seu rosto bonito.
Ah não.
Ou de Rube.
Ou de Apollo.
Eu não estava lá porque era bonito, então eles sentiram que podiam me
bater onde quer que quisessem. Um deles até quebrou meu nariz.
— Eu não me importo com o que você quer, — ela diz. — Apenas dê aqui,
ok? — Ela estala os dedos, mas não olha para o cinto. Mantém os olhos em
mim. Como se eu fosse um animal selvagem destinado a atacar assim que ela
quebrasse o contato visual.
— Ok, — ela murmura. Então ela olha para Rube. — Agora, que tal você
deixá-lo ir? Por favor?
16Os ossos nasais são dois pequenos ossos finos que variam significativamente de tamanho e
forma conforme a origem da pessoa e sua idade. Eles estão dispostos lado a lado (geminados) na
porção média e superior da face, e formam, através de sua união, "a ponte" do nariz.
— Por que você está defendendo-o? — Apollo pergunta enquanto cai em
seu sofá, um baseado recém-enrolado pendurado em seus lábios. — Achava
que você estava chateada com ele?
— Eu não disse isso, — diz ela, franzindo a testa brevemente para Apollo
antes de olhar para mim novamente. — Reuben pode deixá-lo ir?
— Por favor, Zachary. O que quer que ele tenha feito... ele não merece
isso.
— Não importa o que ele tenha feito, você pode perdoá-lo. Vocês são
amigos, não são?
Seus olhos ficam cautelosos, procurando meu rosto como se ela pudesse
tentar descobrir para onde estou indo. Mas se ela ainda não percebeu, não vai
acontecer.
Eu não quero que ele bata em Cass, mas... Eu não quero que ele me bata
também.
Não sei onde invoco coragem, mas talvez seja porque consegui me
convencer de que este é o menor de dois males.
— Você fica com o cinto, ou Cass fica com o cinto. É simples pra caralho.
Ele não está me sufocando, senão eu teria lutado com ele. Talvez eu ainda
possa argumentar com ele.
— O que ele fez pra você? — Murmuro, tentando manter minha voz
apenas para os ouvidos de Zachary. — Por que você tem que machucá-lo?
Não é apenas que ele é lindo. E eu quero dizer, puta merda, ele é o tipo
de beleza que se você o visse em um filme ou em uma revista, você passaria
alguns minutos pensando sobre ele. Como era sua vida, onde morava, se tinha
cachorro, quanto ganhava e se isso era muito dinheiro para alguém como ele.
Eu.
Trinity Malone.
Felizmente, ele não se levanta, senão eu teria sido capaz de ver tudo. Em
vez disso, seu pau está escondido nas sombras em seu colo.
— Eu não quis...
Eu tropeço para trás antes que eu possa recuperar o equilíbrio. Não sei
quem ganharia uma luta entre Cass e Zachary e nunca quero descobrir. Mas
deve haver algum acordo tácito entre eles, porque embora os músculos de Cass
fiquem tensos como se ele estivesse resistindo a Zachary, ele acaba exatamente
onde Zachary o quer.
— Não, Zachary, por favor! — Pego Zachary, mas estou com muito medo
de agarrá-lo caso ele gire o cinto contra mim.
Cass fica tenso quando o cinto assobia no ar. O estalo dele em sua carne
é muito alto. Muito violento.
Meu coração se parte quando todo o corpo de Cass se agita de dor. Ele
está rangendo os dentes, saliva pontilhando seus lábios enquanto ele grunhe
com o golpe...
Thawck
E a próxima.
— Zachary!
E a próxima.
— Pare! — Eu agarro o cotovelo de Zachary, mas ele me sacode com um
rosnado.
Thawck
— Suficiente! — Eu grito.
— Não! É o bastante!
— Fui eu que disse que ele tinha que pagar, certo? Bem, é o suficiente. Eu
o perdoo. Por tudo. Ok? Então... chega. É o suficiente.
— Eu não me importo.
— Ainda faltam duas chicotadas. — Sua voz é áspera, mas seu rosto é uma
máscara de madeira. — Saia do caminho ou você os receberá em nome dele.
Volto-me para Zachary, engulo em seco e forço minha voz a não tremer.
Zachary ri.
— O quê, para que você possa fazer cócegas na bunda dele? Isso é
punição, menina, não porra de preliminares.
— Reuben disse que estou com vocês ou contra vocês. Não há meio-
termo. Certo?
— Bem, estou com você, Zachary. — Meus olhos se voltam para Apollo.
— Apollo. — Eu olho para trás. — Reuben. Cassius. — Eu volto para Zachary.
— Estou com vocês.
Estou contigo.
Por que é tão fácil esquecer que ela é a inimiga? Não é como se fosse
notícia, desde o momento em que coloquei os olhos nela, soube que ela era
uma espécie de encrenca.
Quando terminarmos com ela, ela estará tão quebrada quanto nós. Sem
utilidade.
Ela acha que pode acabar com a gente? Eu sei que ela vai pegar leve com
ele e vamos puni-la por isso.
Ela está em nosso território agora. Até decidirmos que ela pode deixar
este lugar, ela nos pertence.
E eu, por exemplo, planejo usá-la até que ela me implore para parar.
Por vingança.
Oh, ela desempenha seu papel tão bem. Mas eu vejo através dela.
Então ela arremessa o cinto para longe dela como se fosse uma víbora e
gira sobre os calcanhares.
De jeito nenhum.
Eu sei que eles estavam esperando por mim, mas por quê? Só para que
eles pudessem me mostrar que as palavras têm consequências?
— Zacha...
— Havia um arquivo, — diz ele. Seus lábios se abrem, mas ele hesita. —
Apollo, diga você a ela.
De repente, não quero mais estar aqui. Não cercado por esses quatro
homens retorcidos.
E essa não é a única razão pela qual quero ir embora. Por mais que a
Irmandade me apavore... é também o olhar nos olhos de Apollo.
Apollo desliza para fora do sofá e fica de pé em toda a sua altura. Quando
ele se aproxima, tenho que esticar a cabeça para trás para manter seu olhar.
— Veja, ele disfarçou tão bem que quase desisti. Mas eu tenho um palpite.
Fiz uma verificação do sistema. Substituí todos os arquivos padrão. Todos,
exceto por um punhado, não foram substituídos. Aquele arquivo dele era um
deles. Um dos outliers17, os que não se encaixavam.
Quase pulo da porra da minha pele quando uma mão pousa no meu
ombro. A voz de Cass está bem perto do meu ouvido. Eu quero dar um tapa na
mão dele, mas... foi por minha causa que ele foi punido. E mais brutalmente
do que eu jamais teria considerado necessário. Eu podia pelo menos ouvi-lo.
Ouvi-los.
17Os outliers são dados que se diferenciam drasticamente de todos os outros, são pontos fora da
curva normal
Mesmo que eu só queira sair correndo daqui com as mãos nos ouvidos.
Porque mesmo agora, depois de gritar com Gabriel e dizer a ele que
acreditava na Irmandade... não quero estar do lado deles. Eu quero estar do
meu lado. Eu quero viver em uma utopia onde não existam pedófilos e tráfico
sexual e homens com problemas psicológicos causados pelo tipo de trauma
que as pessoas normais não conseguem nem entender.
Acho que isso deixou de ser uma opção depois que Lúcifer foi expulso do
céu. Não que alguma vez tenha eu acreditado em Deus e no Diabo. Parece uma
história usada para estimular o bom senso em um mundo onde, de alguma
forma, não é óbvio que você deva amar o próximo.
— É necessária uma senha, — diz Zachary. Meus olhos piscam para ele
quando ele se aproxima.
Agora que estou cercado por três dos quatro irmãos, a sala não é mais tão
fria. Apollo está um pouco parado, observando.
Zachary pega meu queixo, mas quase suavemente desta vez, inclinando
minha cabeça para cima.
— Não precisamos saber o que diz para saber o que queremos. O que
estamos procurando.
Eu agarro seu pulso e lentamente, com cuidado, afasto sua mão do meu
rosto.
No momento em que as palavras saem da minha boca, sei que foi a coisa
errada a dizer.
Antes que eu possa me afastar, ele está me forçando a agarrar seu pau
duro através de sua calça jeans, seus dedos dobrando sobre os meus. Ele me
faz apertá-lo, e isso só o faz endurecer ainda mais.
Tento me afastar, mas ele apenas me agarra com mais força. Posso senti-
lo pulsando sob minha mão.
— Pare, — eu sussurro.
****
Quando tento chutar suas canelas, ele envolve suas pernas em volta das
minhas, prendendo-as no sofá.
E então as separa.
Não quando estou diante de três homens que parecem prontos para
rasgar até o último ponto de meu tecido com a porra dos dentes.
Quando Apollo se lança para frente, solto outro grito inútil. Um grito que
ele silencia com um beijo enquanto se ajoelha ao lado de Reuben
Agora eu mal posso respirar, muito menos encher meus pulmões para
outro grito. Eu afasto meus lábios de Apollo, mas Zachary dá um passo à frente
e agarra meu queixo com seu aperto forte e implacável.
— Não é assim que funciona, garotinha. Se ele quiser beijar você, então
você vai deixá-lo beijar você, porra.
Só percebo que ele está segurando um cinto nas mãos quando o bate
contra a coxa. Eu me empurro com o som e me contorço no colo de Reuben
em um esforço para escapar.
De novo, fútil, mas de jeito nenhum vou ficar sentada aqui e aceitar isso.
Nem eu.
Mas você queria isso, Trinity, uma voz sinistra sussurra dentro da
minha cabeça. Você disse que queria saber como é...? Bem, você está prestes
a descobrir.
Normal.
Eu queria normal.
Meu vestido, de mangas longas e corpete que chega até a clavícula, abre
com zíper nas costas. Então, quando Apollo tenta deslizar a mão por trás do
tecido, é muito apertado para ele obter acesso. Ele faz um som mal-humorado
e enfia a mão entre Reuben e eu, caçando.
Então eu mordo o lábio de Apollo. Não é forte, quer dizer, eu nem sinto
o gosto de sangue, mas...
Meus olhos são atraídos com relutância para ele quando ele arrasta sua
cadeira na minha frente. Ele usa sua bota para abrir as pernas de Reuben, por
sua vez, me abrindo ainda mais. Então ele se senta, com as pernas entre as
minhas e as de Reuben, e se inclina para perto.
— O que você está falando? — Não é mais minha imaginação. Há algo que
eles não estão me dizendo.
Minha mente volta instantaneamente para o e-mail que li. Aquele que
minha mãe enviou a Gabriel. Eles descobriram que Gabriel estava tendo um
caso com meu pai?
Reuben está de pau duro. E cada vez que me movo, ele fica mais duro.
Porra.
— Eu não sabia! — Minha voz vacila. — Por favor, você tem que acreditar
em mim. Eu acabei de descobrir.
— E você não pensou em nos contar? — Zachary diz. Seus dedos cavam
em minhas coxas enquanto ele se inclina o suficiente para me beijar. — Não
achamos que deveríamos saber?
Zachary baixa o olhar para o meu colo. E então eu não posso deixar de
mudar porque é como se eu estivesse completamente nua.
Ele olha para mim sem levantar o rosto, olhando para mim através dos
cílios grossos.
Foda-se tudo o que ela pode fazer sobre qualquer coisa agora. Se alguma
vez houve uma boa hora para parar com isso... bem, ela passou por ela há cerca
de dez minutos.
Apollo rasga a frente de seu vestido, expondo seus seios empinados para
fora. Para aqueles lobos raivosos.
Entre os três, eles puxam seu vestido para fora de seus quadris e para
baixo em suas pernas.
Quando eu abro, ela congela. Seu estômago pálido treme enquanto ela
prende a respiração.
Meu pau quer estourar tentando sair da minha calça jeans com o
pensamento.
Minha faca fica presa na bainha de sua calcinha e desce direto entre suas
pernas. De onde estou sentado, tenho uma visão perfeita de sua boceta, se ela
não estivesse usando essa calcinha.
— Você continua nos dizendo para parar, mas essa boceta molhada está
cantando uma melodia diferente.
Ela engole e se atreve a mudar. Acho que Reuben está ficando mais duro
a cada segundo. Aquele colo confortável não é mais tão confortável.
— Sim. Eu... queria isso, mas não mais. Então, por favor, me deixe ir.
— Você é uma boa mentirosa, — digo a ela. — Uma das melhores que
conheci. — Eu olho para Cass, então para Apollo. — Vão em frente, meninos.
— Eu inclino minha cabeça para sua boceta. — Verifiquem por si mesmos o
quanto Trinity não quer isso.
Cass não perde tempo, e Apollo está apenas uma batida atrás dele. Eles
arrastam seus dedos sobre suas coxas enquanto ela começa a se agitar tanto
quanto ela ousa com a ponta da minha faca tão perto de seu clitóris.
Seus dedos traçam a bainha lisa de sua calcinha antes de cada um
afundar a mão atrás do tecido transparente. Os dois estão olhando para ela,
como se a desafiassem a olhar para eles, mas ela está olhando diretamente
para mim.
Seu suspiro escandalizado poderia ser pela lâmina nua agora provocando
a penugem acima de seu clitóris, ou aqueles dedos deslizando sobre suas
dobras molhadas.
Porque, de onde estou sentado, posso ver que ela está totalmente
encharcada.
Ou tão excitada.
Assim que Cass me tocou mais cedo, foi como se ele tivesse ligado um
interruptor no meu cérebro. Não a parte que pensa, ah, se fosse apenas isso,
mas a parte que controla meu corpo.
E agora?
Eu tenho seus dedos lambuzando minha boceta com sucos que vazaram
de mim porque de alguma forma, de alguma forma, parece que estou
realmente gostando disso.
Snick, snick.
O calor passa pela minha pele quando Cass e Apollo arrancam minha
calcinha.
Ele junta as pernas e, por um segundo, estou convencida de que eles vão
me deixar fechar as pernas.
Quero dizer, porra, eles não podem realmente fazer isso, podem?
Mas você quer que eles façam isso, não é? Mais do que tudo no mundo.
Eu empurro o pensamento traidor da minha cabeça. Eu disse não uma
dúzia de vezes. Eu gritei, eu gritei, eu implorei. Por que diabos...?
E é então que percebo como estou molhada, porque posso sentir isso.
Ele solta um estrondo baixo no fundo da garganta que sinto tanto quanto
ouço. Zachary apenas puxa a calça jeans de Reuben quando eu começo a
chutar. Quase distraidamente, Zachary segura meu tornozelo e enfia minha
perna atrás da perna de Reuben.
Zachary agarra meu queixo e puxa minha cabeça para o lado. Forçando-
me a olhar diretamente nos olhos negros de Reuben.
Até que as mãos de Zachary pousem em meus joelhos. Eu sei que é ele,
porque ele é o único que me agarraria com força suficiente para machucar.
Acho que Reuben não vai deixá-lo vencer, mas estou sempre errada
quando se trata da Irmandade e desta vez não é exceção.
Cass e Apollo descem em meus seios novamente. Desta vez, eles usam os
lábios e os dentes. Beijar, chupar, beliscar, morder. Eu começo a me contorcer
no colo de Reuben e, se suas pernas não estivessem abertas, provavelmente eu
o teria sujado com meus sucos. Mas estou suspensa sobre o espaço entre suas
pernas.
Zachary sorri para mim por um segundo e então alcança entre minhas
pernas. — Você vai ter que abrir muito mais, garota, — ele diz.
As costas de sua mão roçam minha boceta enquanto ele passa por mim.
Eu suspiro e me movo contra Reuben, quebrando nosso beijo.
Ele solta um grunhido um segundo antes de eu sentir a ponta de seu pau
roçar minha boceta.
Eu fico rígida, franzindo a testa enquanto tento olhar para baixo para
descobrir tudo isso.
Zachary segura o pênis de Reuben com uma das mãos. E quando eu olho
para ele em choque total, seu sorriso desaparece.
Cass e Apollo acariciam minha parte interna das coxas, criando uma
fricção quente e louca sobre minha pele. Eu ouço zíperes sendo puxados para
baixo.
Para minha própria maldita sanidade, eu sei que não deveria..., mas eu
faço. Eu olho.
Eu sufoco um soluço.
— Por favor…
Mas desta vez, eu não sei se estou implorando para eles pararem... ou
apenas para acabar com a porra da minha miséria.
— Beije-me.
Mãos agarram meus pulsos. Cass e Apollo arrancam minhas unhas dos
músculos de Reuben. E eu deixei, porque o beijo de Reuben está derretendo
até o último resquício de resistência.
Meus dedos roçam uma pele mais macia e quente. Hesito, quase recuo,
mas então sinto uma boca na parte interna da minha coxa.
Oh merda.
Não.
O que?
Zachary beija o topo do meu joelho. Minha coxa interna. Quando ele se
inclina mais perto, o calor de seu corpo envia uma onda elétrica por mim.
Eu suspiro na boca de Reuben enquanto Zachary roça a carne sensível da
parte interna da minha coxa com os dentes.
Mais próximo.
E assim como Zachary guia o pau de Reuben sobre minha boceta, eles me
mostram como tocá-los. Quão rápido para acariciá-los.
Quando ele segura o pau de Reuben fora do caminho e passa sua língua
por toda a extensão da minha boceta, eu empurro contra sua boca como uma
mulher possuída.
O que mais há para explicar por que, quando Zachary alcança o topo da
minha boceta e sacode sua língua quente e úmida contra meu clitóris, eu me
forço contra sua boca com força suficiente para me fazer gozar?
Estou tão perdida em meu próprio clímax que mal percebo que estou
segurando Cass e Apollo com força suficiente para fazer um me amaldiçoar e
o outro gozar.
O esperma quente escorre pelas costas da minha mão quando meus olhos
se abrem um segundo depois.
Cass tira meus dedos de seu pau, murmurando algo sobre me manter
bem longe dele. Apollo, por outro lado, se inclina para frente e rouba minha
boca de Reuben. Então ele faz minha mão se mover mais forte, mais rápido.
— Foda-se, — ele murmura, interrompendo nosso beijo.
Eu suspiro quando uma agonia feliz atira através de mim. Enfio a mão
no cabelo de Zachary, só percebendo um segundo depois que ainda está
coberto com o esperma de Cass. Mas então nada mais importa, porque estou
empurrando a boca de Zachary com mais força contra meu clitóris enquanto
me empurro para encontrá-lo.
Enquanto Apollo usa minha mão para seu próprio prazer. Seu gemido
vem segundos antes dele, e então aquela mão é revestida com seu esperma
também.
— Isso vai doer mais do que qualquer coisa que você já sentiu, — diz ele.
— Mas você vai suportar, porque ele te ama. Me ouviu porra?
— Você…?
Eu fico mole.
Eu não posso lutar mais contra isso. Levaria mais três de mim para
sequer tentar. Eu simplesmente não tenho isso em mim.
— Você goza uma vez e depois está inútil? — Ele diz. — Isso não é bom o
suficiente, Trin.
19 Nota de Tradução. A palavra em inglês (spunk) significa coragem...porém é gíria para esperma.
Por isso a resposta de Trinity quando Zack pergunta onde está a coragem dela.
— Quer que eu tenha pena de você, vagabunda?
— Não, eu...
Ele agarra meu rosto com força suficiente para machucar e, em seguida,
puxa o cinto.
— Zach...
— Você pode querer morder alguma coisa, garotinha, — Zachary diz, seus
olhos em mim. Mas então ele olha através para Reuben. — Segure-a para que
eu possa abrir essa boceta para você.
Meu grito não faz nada para detê-los. Apollo agarra minhas mãos e me
segura para que eu não possa lutar. E Reuben apenas abre as pernas, expondo
minha boceta para o pau de Zachary.
Meus olhos embaçam com lágrimas de medo, mas eu pisco para longe
antes que caiam. Zachary coloca os joelhos entre as pernas de Reuben e se
inclina para mais perto, uma mão deslizando por nós para agarrar a almofada
ao lado da cabeça de Reuben.
Ele se abaixa, seus lábios roçando os meus. Não mais do que uma leve
provocação.
Duro.
Apaixonadamente.
Não é nada como ele me beijou antes. Parece errado, mas o tipo de errado
que me faz pensar por que eu estava tentando impedi-lo em primeiro lugar.
Qualquer um deles.
E então seu pau roça meu clitóris. Ele mergulha, molhando-se na minha
excitação, e depois volta, massageando-me com a ponta do seu pau enquanto
ele fode a minha boca com a língua.
Talvez seja o breve lampejo de admiração que pisca fundo nos olhos
verde-musgo de Zachary. Talvez seja o fato de que, mesmo por um segundo,
parece que tenho todos esses quatro homens à minha disposição.
Reuben acaricia seu pau sobre minha boceta e testa minha entrada
novamente. E enquanto estou olhando nos olhos de Zachary, ofegando por
causa do nosso beijo violento, entendo o que ele quis dizer. Porque ele queria
me foder primeiro.
Por mais que Reuben queira fazer amor comigo, ele não pode, porque
isso me machucaria. E ele não pode me machucar.
Vagabunda.
Prostituta.
Pecadora.
Eu sou especial.
Os olhos de Zachary caem para minha boca. Eu mordo meu lábio com
mais força e solto um pequeno gemido.
Quando ele abaixa os quadris e toca seu pau contra minha boceta, eu
começo a lutar.
Isso vem com bastante facilidade, porque estou apavorada pra caralho.
Não sei o que será da minha vida, mesmo que milagrosamente não
prossiga com isso.
Quando seu ombro chega perto o suficiente, eu afundo meus dentes nele.
E eu recebo um tapa na minha boceta por isso, o que me faz choramingar de
dor.
Uma boca quente pressiona meu osso púbico. Estou convencida de que é
a de Zachary, mas quando uma língua lambe meu clitóris, percebo que não é.
Apollo.
Meu corpo derrete contra Reuben sob sua atenção. Reuben me fodendo
com seus dedos, Apollo massageando meu clitóris com seus lábios e língua e
boca. Cass roubando minha respiração com um beijo.
— Pare.
Ele empurra minha cabeça para o lado com a dele, e os lábios de Reuben
pegam os meus em um beijo lento e gentil que posso sentir até os dedos dos
pés.
Mas ele me segura lá, presa em seu pênis, e arqueja contra o lado do meu
pescoço.
— Isso dói?
— Sim! — Eu assobio.
— Eu não estou nem mesmo em todo o caminho, — diz ele. E então ele
força mais um centímetro dentro de mim.
Presa entre eles, não tenho para onde ir. Nenhuma maneira de impedi-
lo de me foder, me machucar, me fazer sangrar.
Seu pau pulsa enquanto ele se esvazia dentro de mim, machucando meus
quadris com a ponta dos dedos.
Eu nem tenho tempo para respirar. Zachary sai de mim com um suspiro
irregular, o último jorro de seu esperma aquecendo minha pele quando ele
goza sobre meu clitóris.
— Foda ela, — diz ele, nem mesmo se preocupando em olhar para mim.
— Vá lá e foda-a enquanto ela ainda está sangrando.
Nunca senti tanto prazer entorpecente. Mas a dor é muito intensa para
que eu possa apreciá-la.
Ele dá um passo à frente, seu pau saltando com raiva, já ereto novamente
quando ele dá um passo para o lado para Cass.
— O que…?
Cass fica de joelhos. Senta-se para frente. E fecha a boca sobre meu
clitóris.
— Devo parar?
— Não!
— Bom, — ele rosna. — Porque eu não posso. Sinto você tão bem. Tão
bom pra caralho, meu amor.
— Mas eu não...
Reuben abre minhas pernas, passa por mim e agarra a cabeça de Cass.
Ele empurra o homem para frente, forçando sua boca sobre o meu clitóris.
Eu começo a enlouquecer.
Reuben passa a mão sobre minha boceta, me abre com os dedos e enfia
seu pau em mim. Eu salto para frente, mas ele agarra meu cabelo e me puxa
de volta. Mantendo-me presa entre seu pau e a boca de Cass, ele começa a me
foder lenta e profundamente.
Isso dói pra caralho, e então não dói mais. Mas ainda estou
choramingando e choramingando porque o prazer é tão agonizante quanto a
dor.
Mas Reuben não captura meus gritos desta vez. A boca no meu clitóris
desaparece e, em vez disso, estou olhando para os olhos mais azuis que já vi.
Enquanto Apollo me dilacera com sua língua no meu clitóris, Cass tira
meu fôlego com um beijo.
Eu deveria me sentir diferente. Por que não me sinto diferente? Claro,
ainda há uma leve dor dentro de mim, mas mentalmente, pensei que sentiria...
Meus olhos estão granulados e meu corpo está dolorido. Não sei se dormi
horas ou minutos.
Não ouso acordar a Irmandade, mas preciso dar o fora daqui e descobrir
as coisas.
— Já está indo embora? — Ele diz, e vai até um maço de cigarros jogado
em uma das prateleiras vazias. Ouve-se um clique metálico. Uma nuvem de
fumaça. Ele ainda está de costas para mim.
— Quando o primeiro ônibus para Mercy partir esta manhã, você estará
nele.
— Por que...?
Achei que já tivesse visto Zachary com raiva antes, mas a raiva
queimando em seus olhos não tinha nada a ver com isso.
A faca desliza pela frente da minha garganta, pela frente do meu vestido.
Eu aperto meus olhos fechados quando sua mão sobe por baixo do meu
vestido.
Em pânico absoluto, olho para a cortina que separa esta sala da próxima.
Se eu gritasse, eles...?
Não precisa, eu sei que Zachary não hesitaria em me cortar. Eu posso ver
em seus olhos.
Eu vi o que Zachary fez ontem à noite. Ele deve ser bissexual até certo
ponto para ter feito o que fez na noite passada. Então, por que o
relacionamento de meu pai e Gabriel é tão difícil para ele?
Eu procuro seu rosto, tentando encontrar significado em suas palavras.
— Você não pode me culpar pelo que meu pai fez. Foi sua escolha. Eu não
tive nada a ver com isso.
— Naquela época, talvez. Mas agora? Você espera que eu acredite que
tudo isso é uma coincidência? Você está chegando aqui um pouco antes de
estarmos prontos para atacar?
— Eu sei quem você é. Nada do que você diga vai mudar minha mente,
garotinha.
— Se você não estiver naquele ônibus quando ele partir, vou procurá-la
e vou fazer você sangrar.
Ele sorri.
Não tem nada a ver com o corte raso na minha coxa. Foi o medo que veio
depois. Esvaziou meu espírito a ponto de me perguntar se viverei para ver a
luz do sol novamente.
Eu sei que ele vai me aceitar de volta porque é isso que ele faz. É seu
trabalho perdoar as pessoas.
Talvez eu deva confessar. Servir penitência. Talvez então minha vida não
seja mais tão fodida.
Faz sentido. Foi tudo culpa minha. Eu fui lá. Eu dormi com eles. O que
eu esperava? Que eu acordaria para o café da manhã na cama?
Mas Zachary me fez perceber algo que eu deveria ter percebido há muito
tempo.
Os homens lá embaixo naquela biblioteca? Eles são mentalmente
instáveis. Eu também estaria se tivesse sofrido como eles. Eu não os culpo por
isso.
Oh.
Certo.
— Há algo…
Ele estende a mão. Quer que eu entre. Eu olho para além dele, para a
pequena antecâmara mal iluminada. Depois disso, para seu quarto.
— Seu…
— Fale, criança.
Ele não diz nada. Ele apenas franze a testa e coloca a chave na fechadura.
Mas quando ele gira a chave, nada acontece.
Ele abre a porta. Uma barra de luz pinta a parede vazia do lado de dentro.
Gabriel entra, se vira, levanta as mãos.
Ele agarra meu pulso e torce minha mão. Eu grito de dor, meu corpo se
movendo para o lado por instinto.
Assim que grito, Gabriel solta minha mão e dá um passo apressado para
trás, a mesa de metal chacoalhando quando ele volta para ela. Sua expressão
feroz se dissolve em choque.
Isso não pode estar acontecendo. Onde diabos foi tudo isso?
Eles me matariam se soubessem.
— Por que você me trouxe aqui? — Gabriel está com a mão no coração,
mas não a arranha como se estivesse tendo um ataque cardíaco ou algo assim.
Apenas... plano. Como se ele estivesse contando seus próprios batimentos
cardíacos.
Mas eu não consigo. Quer dizer... o que diabos eu devo dizer? Sim, então,
há um bando de caras, eles dizem que você é um gênio do crime. E eles têm
evidências, que estavam todas aqui, mas agora sumiram.
Sua mão se conecta ao meu ombro. Depois o outro. Ele aperta meus
músculos, abaixando-se para que nossos olhos fiquem no mesmo nível.
— Você disse que eu posso confiar em você, mas não vou. Não até que
você me diga tudo.
Ele me solta, dá um passo para trás. Seus olhos se estreitam enquanto ele
me estuda. Então ele entra na sala novamente, virando-se enquanto cruza os
braços sobre o peito.
— Não sei por que pensei que as coisas seriam diferentes, — diz ele, tão
silenciosamente que me aproximo por instinto de ouvi-lo melhor.
— Ele traiu minha mãe com você e você espera que eu confie em você?
Uma mão invisível agarra minha garganta, e não tão gentilmente como
Zach ou Reuben já fizeram.
O guincho que isso faz arrasta unhas ásperas pelas minhas costas.
Eu me aproximo.
TRIN
Há um coração sobre os — i’s —.
De repente, não quero que Gabriel veja nada. Eu quero que ele continue
falando. Mas quando me inclino para pegar o envelope, ele o move para fora
de alcance.
Não tenho como saber, mas no segundo que ele faz essa pergunta, é como
se eu pudesse ver através da porra do envelope.
Ou talvez já tenha.
— Posso?
Minha cabeça balança, mas é como se outra pessoa estivesse fazendo isso
por mim. Meus olhos se movem, mas não porque eu ordenei.
Tira a foto.
O sorriso tímido que ele estava usando derrete. Por um segundo, seu
rosto poderia pertencer a um cadáver.
Fila do meio, dois da esquerda. Um jovem Gabriel Blake, mãos atrás das
costas, expressão severa no rosto.
— Mas ela não ficou com aquele bebê. Ou o próximo. Mas ela manteve
você, Trinity. — Os olhos de Gabriel voltam para a foto e meu olhar segue.
Linha do meio.
Três da esquerda.
Uma lágrima se solta quando meus olhos mudam para que eu possa olhar
para Gabriel. Mais uma vez, a premonição me enche de um pavor frio e gélido.
Continua…