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Abuso físico e psicológico, abuso infantil (relatos), Bullying, Noncon,

Dubcon, Humilhação pública, Intoxicação e Sequestro de crianças


Oh My God — HELLYEAH

Heathens — CORVYX

Something in the Way — AT SEA

How Far Does the Dark Go? — ANYA MARINA

Kvrt in Space — Franhofer Diffraction

King Night — Salem

A Conversation with God — KING 810

Amen — ∆aimon

Música Tema

Scorpio — Pour Vous


Eu dou seta e viro para a rua principal de Redwater. Meu SUV de uma
década chacoalha toda vez que eu entro em um buraco na estrada. Eu teria
que comprar um novo em breve, este carro surrado fazia parte da minha
personalidade como Zachary Rutherford, um garoto de uma casa de baixa
renda que tentava melhorar de vida com se próprio suor, trabalhava em dois
empregos enquanto estudava licenciatura e não conseguia ficar mais feliz com
o salário humilde que Saint Amós paga aos professores do primeiro ano.

Se eu fosse sacar todos os meus ativos, provavelmente poderia comprar


Saint Amos. E em algumas semanas, minha riqueza triplicará.

Outro chacoalho. Desta vez, é interno e acontece quando chego a outra


rota. Provavelmente os amortecedores. As estradas por aqui os comem.

É arriscado sair hoje. Quando deixei meus irmãos, a atmosfera estava


tensa como a corda de um arco. Se eu demorar muito, eles podem cair sobre
Trinity como uma matilha de lobos. Eu teria ficado, mas sempre vou para a
cidade no sábado. Pareceria estranho eu ficar na escola, especialmente tão
perto do intervalo.

Eu bufo com o pensamento.

Esta é a primeira vez que considero sair do script.

Tudo por causa de uma garota. Uma garota que eu não consigo tirar da
minha mente desde o dia em que ela apareceu na minha aula. Ainda mais
depois de nosso tempo no chuveiro. Depois de tê-la presa e indefesa em nosso
ninho. Ela acha que estamos brincando com ela. Deixando que ela decida de
que lado da linha de batalha ela quer ficar.

Meus lábios se contraem, mas eu os aliso antes que eles possam se torcer
em uma careta.

Com Trinity na cena, tudo mudou. Agora não estou mais dirigindo até a
cidade para comprar uma câmera nova para Apollo, alguns pacotes de cigarros
e esvaziar minha caixa de correio.

Originalmente, tínhamos planejado sequestrar Gabriel. Apollo


encontrou uma cabana de lenhador abandonada na floresta, um lugar saído
diretamente do século XVI. Íamos fazer o que fosse necessário para recuperar
os nomes de cada fantasma que Gabriel controlasse e descobrir a quem ele se
reportava. Porque sabemos que o Guardião tinha um superior.

E então o mataríamos.

Teríamos feito isso durante as férias de verão, enquanto Saint Amos


estava fechada para reparos. Ninguém teria sentido falta dele e, quando a
polícia fosse notificada, já estaríamos fora em nossa matança.

O momento era perfeito.

Tudo tinha sido perfeito... até que Trinity chegou e mudou tudo. Isso é o
que eu pensei, de qualquer maneira. Acontece que esse desenvolvimento
inesperado pode funcionar a nosso favor.

Sempre houve uma chance de Gabriel não nos dar a informação ou de


que, sob tortura, ele nos contasse qualquer besteira apenas para fazer a dor
parar.

Mas já que Trinity é tão inflexível, que Gabriel é um verdadeiro homem


de Deus, nós a faremos provar isso. E ao fazer isso, ela inadvertidamente nos
dará tudo o que precisamos.

Estaciono do lado de fora de uma loja de fotografia, me abaixando para


olhar pela janela. Então tiro um pedaço de papel do bolso e olho para a
caligrafia horrível de Apollo. Não consigo nem lembrar quantas câmeras
comprei para ele ao longo dos anos. Ele é tão desajeitado quanto introvertido.
A corrida às compras de hoje vai ser cara, mas valerá a pena. Porque uma coisa
é certa. Assim que tivermos as informações de que precisamos, Gabriel se
tornará dispensável.

Meus irmãos e eu concordamos plenamente que infligir até mesmo uma


fração da dor e do sofrimento que ele orquestrou ao longo dos anos é o mínimo
que ele merece.

Isso nós merecemos.

E a Trinity?

Vou deixar meus irmãos decidirem o que querem fazer com seu novo
brinquedo, ficar com ela ou descartá-la.
Uma sacudida áspera, acompanhada por uma ainda mais áspera, Ei! me
tira de um sonho deliciosamente confuso. Eu afasto a mão de Jasper e me
sento, segurando meu cobertor no meu peito como se ele estivesse tentando
tocar.

Mas isso tinha sido Cassius. E um sonho.

— O que? — Eu olho para ele com os olhos ásperos. — O que é?

— Onde você estava ontem à noite? — Ele ainda está de pé, me forçando
a esticar minha cabeça para trás para olhar para ele.

Eu viro minhas costas para ele.

— Não é da sua conta, — murmuro.

Ele agarra meu ombro novamente.

— Você não pode fazer merdas assim.

— Merda como o quê, Jasper? — Eu grito, virando-me para encará-lo. Eu


chuto meus cobertores, olhando para ele com tanta força que ele realmente dá
um passo para trás e cai na beira da cama.

— O que você acha que eu fiz de tão errado?

Ele se inquieta, alisando o cabelo com a palma da mão.

— Se o monitor do corredor te pega do lado de fora do seu quarto à noite,


você leva chicotadas. E eu vou levá-las também.
Eu brevemente considero dizer a ele que eu estive com o monitor do
corredor. Mas então me lembro dos olhos verde-musgo de Zachary e do jeito
que ele me encarou no chuveiro como se eu fosse um sundae de sorvete e ele
fosse um diabético autodestrutivo com desejo por cerejas.

— Sim? — Eu inclino minha cabeça para o lado. — Elas doem, essas


chicotadas imaginárias que você continua recebendo em meu nome?

Eu não deveria estar provocando-o assim, mas querido Senhor, eu estava


curtindo aquele sonho, e o sono feliz que veio com ele.

Apollo e Cassius me trouxeram de volta aqui pouco antes do amanhecer.


Fiz questão de não acordar Jasper, observando-o como um falcão enquanto
colocava meu pijama e escorregava para a cama. E a menos que ele tivesse
acordado logo depois que eu fui tomar banho, de que outra forma ele saberia
que eu tinha ido embora?

— Eles machucam...? — Ele corta com um som zangado e aponta um dedo


em minha direção. — Você sabe o que? Foda-se você. Faça o que você quiser.
Mas eu juro, se eu for punido de novo quando você estragar tudo, então...

Eu zombo dele.

— Quando você foi...?

Jasper se levanta, se vira para o lado e puxa sua boxer. Hematomas cor
de mostarda estragam sua pele.

Meu estômago revira antes que a lógica possa tomar conta.

— Você está mentindo, — digo a ele, levantando-me para pegar minhas


roupas, então tenho uma desculpa para dar o fora do nosso quarto. — Essas
parecem velhas, de qualquer maneira.

— Eu os recebi no primeiro dia em que você chegou porque você foi para
a aula sem o uniforme da escola.

— Eu não tinha um! — Eu me viro para encará-lo, tirando um dos


vestidos que milagrosamente apareceu no meu armário um dia depois que
Ruth tirou minhas medidas.
Enquanto Apollo assistia.

Minhas bochechas pegam fogo. Espero que Jasper entenda isso como
raiva e não... outra coisa.

— Acha que isso importa? — ele murmura.

— Você quer saber o que eu penso? Acho que você fez alguma coisa, —
digo, aproximando-me até que ele se incline para trás para se afastar de mim.
— Algo ruim o suficiente para fazer você ficar preso a um colega de quarto. E
agora você está tentando me culpar por isso.

Isso o cala, mas pelo mau humor em sua boca, não vai demorar muito.

Eu bufo e paro por um momento para esfregar minhas têmporas. Ainda


há uma leve dor de cabeça à espreita de toda a erva e álcool que consumi.

— Onde eu pego analgésicos?

Ele sorri para mim.

— Vá se foder.

— Idiota. — Eu saio correndo, indo para o banheiro. Eu o ouço chamando


atrás de mim, mas eu ignoro. Provavelmente apenas tentando me culpar por
mais merda. Que cara de pau.

Encontro o banheiro mais próximo e me troco na cabine. Depois de lavar


o rosto na pia, passo alguns minutos tentando arrumar o cabelo.

Sem sorte, vai precisar de outra lavagem antes que as pessoas parem de
me confundir com um palhaço. Meu olhar segue para a pequena janela ao lado
do banheiro.

Que horas são?

Eu coloco meu pijama contra meu estômago. O único cesto de roupa suja
que conheço é o dos chuveiros, mas tenho certeza de que não vou lá. Tenho
certeza de que está cheio de meninos nus. E os únicos meninos nus que quero
ver são alguns poucos selecionados que tenho certeza que não seriam pegos
fazendo algo naquele lugar novamente.
Ainda estou corando com esse pensamento quando volto para o meu
quarto e coloco minhas roupas sujas debaixo da cama.

— Idiota, — Jasper murmura de sua cama. Ele está deitado de costas,


uma cópia amassada de Metamorfose apoiada na barriga.

— Idiota, — eu respondo. Eu puxo a bainha do meu vestido da escola e


saio correndo do quarto.

Meu estômago fica alternando entre um buraco faminto e um turbilhão


de bile e ácido estomacal. Apollo tinha murmurado algo sobre café para mim
quando eles estavam me levando de volta para dentro, enrolada em um
cobertor com nada além de roupa íntima por baixo. Se não fosse por eles, eu
teria me urinado com a ideia de ter que voltar para o meu quarto sem que
ninguém me visse.

Então, café. Possivelmente café da manhã.

Oh senhor. Eu tenho mais mingau me esperando?

Eu paro no corredor, uma mão na minha barriga. Tenho que parar de


pensar nisso ou vou vomitar.

Estou acostumada com os corredores vazios por aqui. Parece que o único
momento em que há muitas atividades é pela manhã, quando todos os
meninos correm para tomar banho antes de orar...

Espera. Eu perdi a oração?

Eu espio pelo corredor e vejo um garoto vindo em minha direção, o


cabelo molhado e uma toalha pendurada em seus ombros.

— Desculpe? — Eu grito, entrando no corredor.

Ele me observa com a testa franzida.

— Sim?

— Houve orações esta manhã?

— É sábado, — ele diz, franzindo a testa enquanto passa por mim.

Eu dou de mãos indo embora.


****

Arrisco uma espiada lá fora. Não há nenhuma nuvem no céu e, a julgar


pela posição do sol, é cedo. Eu deveria ter verificado minha programação. As
atividades do fim de semana ainda estavam lá?

Abrindo mais a porta, eu saio para pegar um pouco de sol no meu rosto
antes de ir para o refeitório.

Não sou a última a chegar, ainda há um punhado de bandejas na mesa.


Incluindo a minha, um post it rosa brilhante ainda intacto.

TRINITY MALONE

Eu faço careta antes que eu perceba, há um pequeno coração acima de


cada um dos i’s em meu nome e então uma borboleta começa a se agitar em
meu estômago. Pego minha bandeja e me viro para procurar um lugar vazio.

Na hora, as risadinhas começam. Vejo alguns lugares vagos, mas sempre


que me aproximo, elas se fecham milagrosamente.

Nem todos os milagres são divinos.

Idiotas.

Há algo diferente sobre os meninos hoje, mas estou muito ocupada


tentando ignorar suas risadas horríveis para descobrir o que é.

O movimento atrai minha atenção. Apollo está acenando para mim pela
janela da porta da cozinha.

Uma segunda borboleta se junta à primeira.

Zach disse que mandaria me chamar para discutir o que eles queriam que
eu fizesse a seguir. É por isso que Apollo está me chamando? Eu não pensei
que seria tão cedo. Eu esperava colocar minha cabeça em ordem até então.
Eu engulo e atravesso a sala de jantar.

Não tive a chance de processar nas últimas vinte e quatro horas. Nunca
me senti tão conflituosa em minha vida. Eu quero odiar esses caras, inferno, é
claro que os odeio, mas depois de ouvir suas histórias... é de se admirar que
eles estejam tão fodidos?

Mas e o padre Gabriel? As coisas que me contaram sobre ele? Não


consigo nem começar a processar isso.

Zach me disse que o padre Gabriel estaria de volta amanhã.

Apollo empurra a porta quando eu chego perto e me chama para entrar


com um sorriso torto e encantador.

— Oi, — eu digo, atrapalhando-me com minha bandeja enquanto coloco


um cacho perdido atrás da minha orelha.

Ele inclina a cabeça e me leva a uma porta de aço. A luz do dia entra
quando ele a abre. Entro em um pátio que cheira a tijolos úmidos. Há uma
mesa de concreto e quatro bancos no centro.

Há uma porra de planta de maconha em um canto e outra porta de aço


em frente. Alguém deixou suas botas ao lado daquela porta.

— Para onde isso vai? — Eu pergunto, cavando a borda da bandeja em


meu estômago e tentando não parecer uma completa idiota.

— Você não tem que usar seu uniforme nos fins de semana, — Apollo diz,
de costas para mim enquanto pega um maço de cigarros e acende um. Eu olho
para mim mesma, fecho meus olhos e praguejo internamente.

Isso era o que havia de diferente nos meninos. Eles estavam vestindo
roupas normais, não o seu marrom monótono de costume.

É isso que Jasper estava tentando me dizer?

Eu sou um idiota.

— Ainda tenho que me acostumar com as coisas por aqui, — murmuro,


indo para a mesa para que possa colocar minha bandeja.
— Por que se importar? Não é como se você fosse ficar aqui por muito
mais tempo.

Minha bandeja bate na mesa. Eu me viro para Apollo com a boca aberta.

— O que você quer dizer?

Ele aponta para um dos bancos.

— Sente. Coma.

— Não. — Eu cruzo meus braços sobre meu peito. — Diga-me o que isso
significa.

Em vez disso, ele fuma seu cigarro e me encara por uma fresta em seu
cabelo loiro. Ele o lavou? Aposto que ele tem seu próprio banheiro.

— Sente.

Eu afundo, estremecendo quando o concreto gelado toca a parte de trás


das minhas coxas.

— Coma.

Olhar para ele não funciona, então deixo escapar um grande suspiro e
rasgo o filme plástico da minha bandeja.

Alguém cortou minha torrada no formato de um coração. Eu olho para


Apollo, impassível.

Ele sorri com um lado da boca, soprando a fumaça do cigarro na minha


direção enquanto tira o cabelo do rosto.

— Pela merda de comida que fiz ontem, — diz ele.

Pego uma torrada e começo a mordiscá-la.

— Por favor, me diga o que você quis dizer. — Talvez as boas maneiras
me ajudem a chegar até esse cara, porque ser rude com certeza não ajuda.

Ele coloca o pé no banquinho em frente ao meu, a mesa agora entre nós.


Dando outra tragada em seu cigarro, ele apoia os cotovelos no joelho
levantado, me estudando por alguns segundos antes de falar.

Ele levanta dois dedos.


— Temos dois cenários aqui.

Eu franzo a testa para ele.

— Primeiro... estamos certos, você está errada. — Ele encolhe os ombros.


— Quando tudo vier à tona, a merda vai a baixo. Grande momento. Este lugar,
— ele levanta os dedos, observando Saint Amos elevando-se acima de nós por
todos os lados, — provavelmente será fechado. Os federais iriam vasculhar.
Todo mundo é preso. Etc, etc.

Um arrepio percorre minha espinha. Estou tão convencida de que estão


errados sobre o padre Gabriel que nem sequer pensei no que aconteceria se,
por algum acaso, eles estivessem certos. Eu não poderia ficar aqui. Eu estaria
de volta em um orfanato até... quando? Eu terminar a escola? Então o que?

Senhor, mas é difícil manter contato visual com Apollo. Emparelhado


com Zach, Reuben e Cassius, ele parecia quase esquecível. Mas com o cabelo
fora do rosto, as maçãs do rosto salientes e pontiagudas são mais nítidas. E
sua boca? É impossível não ficar olhando para ele toda vez que ele dá uma
tragada no cigarro.

Olhos, Trinity. Olhos!

Meu olhar se volta para seus olhos. A ruga no canto de cada um me diz
que ele sabe exatamente o que estou pensando.

Minhas bochechas ficam quentes.

— E se eu estiver certa? — Eu deixo escapar antes de morder outro


bocado de torrada.

Apollo inclina a cabeça e seu cabelo desliza para trás em seu rosto. —
Mesmo que não seja Gabriel, Gabriel sabe quem é. — Ele dá de ombros, dá
uma tragada no cigarro e dá a volta na mesa até mim. — E você provavelmente
iria abrir sua boca se achar que o machucaríamos, então... teríamos que ter
certeza de que você não faria nada assim.

Estou tão chocada com o que ele está insinuando. Eu não me movo
quando ele passa a ponta dos dedos pelo meu queixo.

— Eu não faria isso, — eu sussurro.


— Nós não confiamos exatamente em estranhos. Nada pessoal, coisa
bonita.

Nós.

Todos aqueles anos que passaram juntos naquele porão. Eu nem consigo
imaginar o vínculo que criou entre eles. Acho que vai muito além de traçar um
plano de vingança. Eles não são apenas amigos, eles são irmãos.

— Por favor, você tem que acreditar em mim. — Eu arregalo meus olhos
enquanto me viro para encará-lo.

Há incerteza em seus olhos. Mas há algo mais lá também. Não posso ter
certeza, mas espero contra todas as esperanças que ele queira acreditar em
mim.

— Não sou eu que você precisa convencer, — ele diz, seus lábios se
curvando em um sorriso enquanto ele dá outra tragada no cigarro.

Seus dedos percorrem minha garganta. Ele traça o contorno da minha


clavícula, enviando uma onda de arrepios por mim. Brincando com o botão de
cima do meu vestido, seu sorriso aumenta.

— Hora do almoço, em um dia como este? — Ele inclina a cabeça para


trás e olha para o pedaço de céu. — Todo mundo vai fazer um piquenique no
campo. — Ele se levanta e vai matar o cigarro na planta de maconha. —
Ninguém vai sentir sua falta até esta noite. — Ele caminha até a porta da
cozinha, parando com a mão espalmada no aço.

— Vamos buscá-la em uma hora. Vista algo bonito, — diz ele com um
sorriso malicioso.

— Espera! — Eu grito antes que ele possa desaparecer.

Ele dá um passo para trás, esperando.

Eu reúno toda a coragem para perguntar.

— Vocês têm um banheiro privado?


Se alguém quisesse realizar um estudo sobre os efeitos do rubor, eu seria
a candidata perfeita. Na última meia hora, acho que não parei de corar nem
uma vez.

Estou em um quarto na ala leste. Não é nada parecido com o que tenho
para compartilhar com Jasper. É três vezes maior e tem seu próprio banheiro
privado, onde atualmente estou totalmente nua e com medo de que alguém vá
entrar.

Reuben, para ser mais precisa. Por ser o quarto dele, ele me acompanhou
até aqui. Acho que ele está na pequena área de estudo com sala de jantar de
seu apartamento, mas seus tapetes são grossos demais para que eu saiba se ele
se moveu.

O vapor enche o box do chuveiro, deixando o vidro branco fosco. Eu


deslizo para dentro daquela nuvem celestial, e a água tira um suspiro profundo
de mim enquanto cai em cascata pelo meu corpo.

De jeito nenhum eu almoçaria com os meninos de Zac enquanto ainda


tivesse vestígios de álcool pegajoso sobre meus seios e cabelo bagunçado.
Então eu trouxe minhas roupas aqui e entrei no quarto de Reuben enquanto
Cassius observava o corredor para ter certeza de que ninguém me visse.

Aparentemente, eu poderia ter muitos problemas por estar neste andar.


Mais ainda se eu for descoberta dentro do quarto de alguém.
Espumando xampu com aroma de alecrim no cabelo, tento espremer até
a última gota de indulgência do momento mais feliz que tive no mês que
passou.

Por alguns minutos, não há nada além de mim, a água quente e aquele
perfume delicioso. Deve cheirar como Reuben, mas em mim cheira diferente.

Estou feliz por usar o banheiro dele. Eu teria recusado se fosse de Cass, e
seria muito estranho usar o de Apollo. Estranhamente, apesar de quão grande
e assustador ele é, Reuben me faz sentir... segura.

Deve ser incrível ter alguém assim em sua vida. Alguém que pode
arrancar os dentes de qualquer um que se atreva a olhar para você de forma
engraçada. Eu nunca teria medo de novo. Não envolta em seus braços fortes.

Minha mão desliza pelo meu quadril e eu hesito, mordendo meu lábio
inferior por um segundo. Eu espreito atrás de mim, mas não consigo ver a
porta do banheiro através do vidro e vapor.

Deslizando mais para baixo, meus dedos roçam meu clitóris. A emoção
passa por mim quando meus olhos se fecham. Deveria ter sido os olhos negros
de Reuben que apareceram, mas em vez disso, tudo que posso ver é Zachary.
Sua expressão solene, aquela ruga quase permanente entre as sobrancelhas.

Considerei severidade, mas agora sei que é algum tipo de raiva. A raiva
que se transformou em diamante com o tempo. Mas os diamantes não são
bonitos quando saem do solo. Eles têm aparência áspera e turva. Para brilhar,
eles precisam ser polidos.

Duvido que Zachary deixe alguém chegar perto o suficiente para que isso
aconteça. Ele ou qualquer um de seus irmãos.

Uma onda de adrenalina pecaminosa passa por mim. Não faço isso há
anos, e o prazer culpado disso me faz morder o lábio com ainda mais força. O
que eles fazem naquele covil deles? Beber e fumar como se fossem donos do
lugar. Algum deles já deslizou por trás daquela cortina para fazer o que estou
fazendo?

Sozinha.
Juntos?

Porra.

Um pequeno gemido escapa dos meus lábios. Estou tão perto que quase
posso...

Alguém bate na porta do banheiro.

— Trinity?

Eu suspiro e recuo para longe do meu clitóris latejante. A voz profunda


de Reuben envia um tremor através de mim que se concentra no fundo da
minha barriga.

— Terminei! — Eu grito com uma voz rachada. — Saio em um segundo.

Ele não diz nada, mas posso imaginá-lo franzindo a testa para a porta,
talvez pensando em entrar para ter certeza de que estou bem.

Não seria a pior coisa do mundo. Eu nunca considerei que tipo de cara
eu gostaria, honestamente, eu nunca conheci o suficiente para que isso tenha
sido uma consideração, mas de todos os irmãos de Zach, Reuben me parece o
mais são. Claro, ele é um pouco quente e pesado com sua Bíblia, mas nele esse
tipo de fervor zeloso parece puro e correto.

Talvez porque esse seja o único tipo de loucura que eu entendo.

Eu enxáguo, fecho a torneira e saio correndo do chuveiro para pegar uma


toalha e enrolo em volta de mim.

Depois de me secar e colocar o rosário de Reuben em volta do pescoço,


coloco um dos meus vestidos. Mamãe teria jogado este fora há muito tempo,
mas eu o guardei porque era a coisa mais bonita que ela já havia comprado
para mim.

Papai nem sempre foi padre. Casaram-se jovens e tentaram durante anos
ter um filho. Meu pai acabou se voltando para a religião, esperando respostas
de Deus sobre porque mamãe continuava abortando. Acho que eles finalmente
encontraram a resposta, porque um ou dois anos depois que meu pai entrou
para o clero, minha mãe engravidou de mim e cheguei ao termo1.

Ela comprou isso no meu aniversário de dezesseis anos, mas nunca pude
usá-lo. No momento em que meu pai viu isso em mim, ele me mandou de volta
ao meu quarto para me trocar.

Eles tiveram uma grande briga naquela noite, e papai foi embora sem se
preocupar em ficar por perto para comer um bolo.

O vestido creme tem renda no busto e na bainha e, como ela sempre


comprava tudo pelo menos um tamanho maior do que o normal, comecei a
usá-lo pela última vez. Eu colocava quando eles estavam dormindo e girava na
frente do espelho, fingindo que era igual a todas as outras garotas que via na
igreja, ou andando na rua. Garotas cujos pais as deixam usar maquiagem, joias
e salto alto.

Não tenho salto, mas este vestido não precisa deles. Ele vem no meio da
coxa e se agarra a mim como uma segunda pele. Saio do banheiro
casualmente, fingindo me concentrar em desembaraçar meu cabelo como se
eu usasse coisas assim todos os dias, mesmo quando meu coração parece que
vai bater para fora do meu peito.

Reuben está ocupado enviando mensagens de texto em seu telefone. Ele


ergue os olhos para mim enquanto atravesso a sala. Meu estômago dá uma
cambalhota com sua surpresa.

— Pronta? — ele pergunta. Eu aceno, mantendo meus olhos longe dele


na tentativa de esfriar minhas bochechas.

Não adianta, é claro, mas não tenho o direito de reclamar. Eu sei que este
vestido é um problema, é por isso que o escolhi.

Enquanto eu estava vasculhando meu armário me perguntando que


roupa mais combinava com um encontro com o diabo, ou quatro deles, neste
caso, eu percebi uma coisa.

1 Quando um bebê nasce no tempo certo aproximado.


Eles estão me controlando como uma marionete. Eles queriam que eu
fosse embora, então me intimidaram. E se eu tivesse escolha, teria ido embora.
Eles querem me virar contra o padre Gabriel e esperam que eu prove que ele
não é um pedófilo.

Eu acho que o álcool faz você ficar corajosa, porque cansei de ser a boneca
marionete deles.

Estou usando este vestido porque isso significa que os irmãos de Zach, e
com sorte o próprio Zachary, ficarão tão distraídos que, pela primeira vez,
terei a vantagem.

Não é o melhor plano, mas é um plano.

O que poderia dar errado?


Quando a Irmandade me convidou, eu esperava encontrá-los em algum
lugar dentro dos dormitórios. Eu entendo que eles não podem ser vistos juntos
ou isso destruiria seu disfarce, mas eu não sabia que estaríamos voltando para
sua Man Cave.

Estou sentada na cadeira de madeira de Zachary. É duro e muito alto,


meus pés balançam, a menos que eu estique e toque o carpete com os dedos
dos pés. Os caras estão sentados no grande sofá me olhando como se não
pudessem decidir se me matam ou me fodem.

Apollo apenas faz Reuben parecer ainda mais musculoso em


comparação, especialmente porque os bíceps de Reuben estão quase saltando
para fora de sua camiseta.

— Onde está Cass? — Eu pergunto, me mexendo na minha cadeira.

— Ele estará aqui em breve.

— E Zachary?

— Foi para a cidade, — diz Reuben. Apollo imediatamente lhe dá uma


cotovelada na lateral do corpo.

— Cale a boca!

— O que?

— Ela não precisa saber disso.

— Por que não?


Apollo franze a testa para ele em resposta antes que eles voltem seus
olhares para mim. Eu lambo meus lábios e me movo desconfortavelmente.

— Quer uma bebida? — Reuben pergunta, antes de eu ter a chance de


responder. Ele serve um para cada um de nós e os distribui antes de se sentar
novamente.

Meu nariz enruga quando sinto o cheiro da bebida de dar água nos olhos
em meu copo.

— O que é isso? — Eu pergunto, girando ao redor.

— Uísque, — Apollo responde. — Não é o melhor, mas tão longe da


civilização é isso ou Moonshine2.

— O que é Moonshine?

Reuben ri ironicamente. Apollo dá uma risadinha. Em seguida, seus


rostos ficam em branco.

— Porra, você está falando sério, — murmura Apollo. Ele balança a


cabeça enquanto leva o copo aos lábios. — Deus nos ajude.

Eu franzo a testa para ele, prestes a perguntar o que diabos isso deveria
significar quando há um estalo de tecido atrás de mim. Eu me viro em meu
assento, de frente para Cass enquanto ele invade o covil.

— Temos companhia, — ele diz, e então seus olhos caem sobre mim. Um
sorriso presunçoso substitui sua carranca. — Bem-vinda de volta, minha
putinha. — Seus olhos vagaram sobre mim como um toque físico. — Droga.
Você parece boa o suficiente para comer.

Eu deixo cair meus olhos e tento me esconder atrás do meu copo


enquanto ele caminha mais fundo na área de estar. Estou começando a me
arrepender de usar o vestido.

— Adivinhe quem voltou? — ele diz, apunhalando o polegar por cima do


ombro.

2É qualquer tipo de álcool, geralmente uísque ou rum, feito em segredo para evitar altos impostos
ou a proibição total de bebidas alcoólicas
— Não é Zachary, — diz Reuben. — Não, a menos que ele tenha saído
mais cedo.

— Não, não Zachary, — Cass diz, aprofundando sua voz como se estivesse
tentando imitar Reuben. — Aqueles outros dois fodidos.

— Novamente? — Apollo se inclina para frente com pressa, tirando o


cabelo do rosto. — Cristo, você pensaria que eles teriam coisas melhores para
fazer.

— Você vai impedi-los? — Reuben pergunta, colocando seu copo vazio no


chão.

— Eles já estão descendo aqui. — Cass agarra seus quadris, girando para
me encarar. — Devíamos amordaçá-la.

Reuben já está de pé. Eu jogo minhas mãos, milagrosamente ainda


segurando meu copo.

— Não. Sem mordaça. Eu vou ficar quieta.

— Não posso me arriscar, — Cass diz, balançando a cabeça enquanto vai


até a estante e vasculha uma pilha de roupas. Ele saca uma bandana e a torce
em uma corda grossa como se tivesse feito isso mil vezes antes.

Estou de pé um segundo depois, meu copo caindo da minha mão e caindo


silenciosamente no tapete.

— Não, por favor, Cass.

— Agarre-a, — diz ele por entre os dentes.

Corro para a saída, mas um braço grosso envolve minha garganta e me


arrasta de volta.

— Eles não vão demorar, — diz Reuben, quase gentilmente, enquanto me


vira para Cass. — Mas eles não podem ouvir você.

— Eu não ia…

Cass enfia a bandana entre meus lábios e amarra atrás da minha cabeça.
Em seguida, ele dá um tapinha na minha bochecha e me puxa para fora das
garras de Reuben.
Eu estava disposta a ouvi-los.

Mas isso?

É óbvio que eles nunca vão confiar em mim, então de que adianta tentar
mudar nossa dinâmica fodida? Eu me enredei em seus planos, e a única saída
é pelo caminho que escolheram para mim. Eu os odeio por não me deixarem
escolher. Mas por que eu esperava algo diferente do grande mundo mau sobre
o qual meus pais sempre me alertavam?

— Coloque-a lá. — Cass aponta para o quarto. Apollo agarra meus pulsos
e começa a me arrastar pela sala.

Eu balanço minha cabeça e cravo meus calcanhares.

— Relaxe, Trin, — Cass diz.

Estou cem por cento focada em Apollo, mas posso praticamente ouvir
Cassius revirando os olhos para mim.

— Sua virgindade está segura. — Ele solta uma risada sombria. — Por
enquanto.

Meu grito enfurecido sai como um gemido maníaco.

— Shh, — Apollo diz, me puxando pelo resto do caminho. Reuben segura


a cortina enquanto Apollo puxa e Cass empurra. Eu acabo tropeçando no
último metro e caindo de joelhos dentro de seu fosso macio e escuro para
dormir. Eu me levanto com pressa, meus dedos puxando a mordaça.

A mão de Reuben se fecha sobre a minha. Ele é apenas uma forma no


escuro, embora uma forma maciça, mas sua presença me acalma. Ele não
tenta me calar, nem me arrasta, nem faz nada. Ele apenas guia gentilmente
minhas mãos para longe do nó na parte de trás da minha cabeça até que elas
estejam no meu colo.

Mais duas sombras deslizam para dentro e se fundem com a escuridão.

Apesar do sangue cantando em minhas veias, posso ouvi-los respirando.


E então o som abafado de tecido farfalhando. Sento-me mais ereta e as
mãos de Reuben apertam as minhas. Isso deveria ter me acalmado, mas agora
posso sentir seu pulso e está acelerado.

Quem diabos está vindo?

****

— Aqui?

— Mais para trás.

— Mas é aqui que nós

— Quer que alguém nos encontre novamente como da última vez?

Sento-me ereta, meus lábios frouxos em torno da mordaça. O que diabos


Jasper e Perry estão fazendo aqui? Eles seguiram Reuben e eu quando
entramos na cripta? Eles suspeitam de algo?

É só quando Reuben começa a acariciar minha junta com a ponta do


polegar que percebo que estou agarrando-o com toda a força que posso. Tento
relaxar, mas meus dedos se recusam.

Se eles me descobrirem aqui embaixo, isso vai acabar com tudo. É por
isso que Cass me amordaçou? Ele não pode honestamente pensar que eu faria
barulho e atrairia a atenção deles, eu poderia ter feito isso a qualquer
momento nas últimas horas em que estive sozinha no dormitório. Mas, como
já passei do ponto de reclamar do tratamento, sento e aguento.

Pelo menos até que essa maldita mordaça se solte. Então eles vão comer
um bocado.

Um baque sacode uma estante de livros a alguns metros de distância, na


área de estar. Merda, o que foi isso? Eles estão lutando? O tecido farfalha,
desta vez não tão abafado quanto antes.

Se meus olhos se arregalassem mais, eu juro que eles sairiam da minha


cabeça.
Eles não podem estar fazendo o que eu acho que estão fazendo.

Eles podem?

Reuben abre meu punho e entrelaça seus dedos nos meus. Algo roça
minha perna e eu viro meu olhar aflito para Apollo, que conseguiu se mover
bem ao meu lado sem fazer barulho. Então, novamente, eu não estava me
concentrando neles, estava? Apollo pega minha outra mão, imitando Reuben.

Eles acham que vou tentar arranhar o meu caminho para sair daqui ou
algo assim? Eu me mexo nas camadas de cobertores e colchões embaixo de
mim e olho para a escuridão, procurando por Cassius.

Talvez ele ache que Apollo e Reuben cuidaram de mim, porque não
consigo localizá-lo nas sombras, embora meus olhos tenham se adaptado à
escuridão.

Lá fora, Jasper e Perry começam a se beijar. A partir daqueles sons


desesperados, parece que o encontro deles está muito atrasado.

Mais farfalhar.

Um gemido abafado.

Mãe de Deus, não aguento mais. Meu cérebro parece muito ansioso para
preencher as lacunas do que está acontecendo. Na minha cabeça, aqueles dois
meninos estão fazendo coisas muito, muito perversas um com o outro.

Eu mudo de novo e congelo.

Não, isso não pode estar acontecendo.

Esses sons estão me excitando? Não pode ser. É mais provável o fato de
que os irmãos de Zach têm minhas mãos como crianças no primeiro encontro.

O primeiro encontro mais estranho que se possa imaginar.

Mas definitivamente algo está acontecendo entre minhas pernas. Estou


começando a me sentir escorregadia e formigando. Até minha calcinha está
ficando úmida.

Ouve-se outro baque, uma respiração profunda e profunda e, em seguida,


um gemido profundo.
Acho que Jasper e Perry não se importam em ficar calados, eles acham
que estão sozinhos na biblioteca abandonada.

Oh meu Deus! Jasper e eu passamos por uma aula inteira com ele
sabendo que ele tinha feito exatamente isso a apenas alguns metros de
distância? O pervertido! É por isso que ele não conseguia se concentrar?

Eu recuo quando uma mão desliza ao redor da minha garganta.

Caramba. Quando Cass se moveu atrás de mim?

Fora do covil, Jasper e Perry entram em um ritmo furioso e grunhindo.


Não consigo distinguir se eles estão com dor ou êxtase. Provavelmente um
pouco de ambos.

A outra mão de Cass procura meu joelho e subindo pela parte interna da
minha coxa. Eu torço meus ombros, tentando me afastar dele. Reuben e
Apollo apertam minhas mãos com mais força.

Eu congelo.

Não.

Bastardos!

Eles não estavam segurando minhas mãos porque eram muito doces
comigo. Eles estão me mantendo imóvel para Cass.

Eu resmungo para eles através da mordaça. Definitivamente, não alto o


suficiente para Jasper e Perry ouvirem, embora eu duvide que eles notariam
uma bomba explodindo, mas eu ainda acabo com as pontas dos dedos de Cass
cavando em minha garganta.

Sua mão começa a se mover novamente, avançando em direção ao meu


centro.

Lá fora, os livros chacoalham na prateleira enquanto as batidas dos


meninos ficam mais lentas, porém mais fortes. Eu ouço um abafado, Foda-se!
mas não tenho ideia de quem disse isso, porque agora tenho meus próprios
problemas.
As pontas dos dedos de Cass deslizam sob meu vestido e patinam sobre
meu quadril. Ele enganchou um dedo sobre o elástico da minha calcinha e
puxou para baixo alguns centímetros. A mão em volta da minha garganta viaja
até que ele está segurando meu queixo. Ele inclina a cabeça para trás até que
estou olhando para a silhueta de sua cabeça e ombros.

— Levante sua bunda fofa para que eu possa tirar isso, — Cass murmura
em meu ouvido.

Que porra é essa?

Começo a lutar, mas isso de alguma forma se traduz em concordar que


ele pode arrancar minha calcinha e deixá-la enrolada em meus joelhos. Eu
recuo, e é quando Reuben e Apollo agarram meus quadris e me empurram de
volta para o chão.

Ofegando na minha mordaça, eu jogo o cabelo para longe dos meus olhos
e tento pensar no meu próximo movimento, ignorando o fato de que meu
corpo pensa que tudo isso está correto.

Os lábios roçam minha bochecha enquanto Cassius chove beijinhos


suaves no meu rosto e pescoço. Há um puxão na minha calcinha antes que ele
geme em meu ouvido.

— Você está lutando muito duro para alguém que já está molhada, — diz
ele.

O calor lava meu rosto e afunda em minhas bochechas. Acho que nunca
fui tão humilhada em minha vida.

Lá fora, há um último baque e um gemido que rivaliza com o que Cassius


acabou de soltar no meu ouvido.

Outro prolongado, Fodaaaa, e tenho certeza de que está vindo de Perry.

Movimento frenético, pele com pele.

Um suspiro profundo.

Minha mente está pirando. Quanto mais tento mantê-la em branco, mais
ela se enche de imagens gráficas do que eles estão fazendo lá fora.
— Sim. Foda-se, — Jasper grunhe.

Arrepios saem da minha pele, e eu não tenho ideia se foi aquela explosão,
ou os dentes de Cass arranhando minha nuca.

Outra pancada.

Em seguida, um ofegante, Temos que ir, de Jasper.

— Ainda não, — diz Perry, e meu peito aperta o quão frenético ele parece.
— Por favor, Jay. Só mais cinco minutos.

Eles começam a se beijar novamente. A mão de Cass está a menos de um


centímetro da bagunça quente e latejante entre minhas pernas.

— Eu vou te foder primeiro, — Cass sussurra em meu ouvido. — Então


Apollo, então Rube. Esperançosamente, você estará preparada o suficiente
para ele até então.

Meu corpo estremece e Cass ri baixo e profundamente em sua garganta.

— Claro que você deveria estar com medo. Eu não acho que você pode
lidar com ele, minha linda vagabunda. Não que você tenha escolha, é claro.
Não se ele acabar dividindo você bem no meio, porra.

Ouve-se um rosnado baixo e zangado de Reuben.

— Espera! — A voz de Perry me deixa tensa de surpresa. — Você ouviu


isso?

— Vamos! — Jasper sussurra furiosamente. O metal tilinta contra o


farfalhar do metal e do tecido. — Rápido, antes...

Um apito perfura o ar.

Eu suspiro atrás da minha mordaça. Os irmãos de Zach recuam, me


liberando.

A voz de Zachary corta o ar como um chicote.

— Vocês dois!

— Merda! — Jasper sibila bem acima do pânico de Perry, — Oh, porra!

— O que diabos vocês estão fazendo? — Zachary grita.


Novamente, estamos todos prendendo a respiração. Esperando o que
possa acontecer.

Jasper grita.

— Venha aqui! — Zachary grita

De um lado, mais longe do que antes, Perry começa a chorar.

— Por favor, irmão, estávamos...

— Eu sei exatamente o que vocês dois estavam fazendo.

Meu sangue gelou ao som da voz de Zachary. Antes que eu possa me


conter, estou abraçando meus braços sobre o peito. Não quero ouvi-lo falando
comigo com tanta raiva.

— Irmã? É Zachary. Estou enviando Jasper e Perry para você. — Sua voz
se afasta. — Vinte cada. Não, infelizmente tenho outros assuntos a tratar. E
nenhum jantar para nenhum deles.

Eu quase engulo minha língua quando ouço o som da cortina escondendo


a entrada do covil sendo retirada. Reuben e Apollo estão de pé um segundo
depois. Uma luz laranja floresce nas bordas da cortina que protege este lado
da sala e, em seguida, corta uma fatia na escuridão quando Zachary a joga de
volta.

— Que porra é essa? — ele exige em um grunhido profundo que faz minha
irritação crescer.

— Eu posso explicar... — Cass começa.

Zachary aponta de volta para a sala de estar. Cass corta e entra na sala de
estar sem olhar para trás.

Em seguida, ele aponta para Reuben e Apollo. Eles seguem Cass.

Zachary me encara com o rosto ilegível.

Sem tirar os olhos de mim, ele inclina a cabeça para o lado e grita.

— Vá pegar minhas coisas.


Quando eu avanço, Trinity se inclina para trás como se eu estivesse
segurando um machado manchado de sangue. Eu estendo uma mão, depois a
outra, mostrando a ela que estou de fato desarmado.

Fodidos selvagens.

Eu sabia que isso poderia acontecer. O que me torna um idiota maior do


que eles. Felizmente, aquelas duas bichas estavam tão ocupadas fodendo que
provavelmente não teriam notado se o Armagedom aparecesse e fosse
embora. É triste ter que perpetuar o cânone da escola sobre
homossexualidade, mas, assim como o carro fodido que sou forçado a dirigir,
algumas coisas são uma parte intrínseca da minha personalidade. Eu não
posso sair do personagem ainda.

Exceto aqui, em nosso ninho.

Decidi encurtar minha viagem afinal. É uma bênção disfarçada que


Jasper e Perry tenham concordado em sodomizar um ao outro aqui, Miriam
ficará tão envolvida em dar-lhes chicotadas que tenho certeza de que ela não
notará que estou de volta uma hora antes.

Eles a amordaçaram novamente. Não estou surpreso. Na verdade, eu


honestamente esperava que ela já estivesse amarrada e deflorada.

Assim que a mordaça é retirada, ela faz uma careta para mim.

— O que é tão engraçado?

Eu brevemente fecho meus olhos e deixo escapar a risada que eu estava


suprimindo.
— Você deveria estar me agradecendo, — digo a ela.

Tento ajudá-la a se levantar, mas ela solta minha mão com uma maldição
murmurada. Ela se levanta e, em seguida, puxa rapidamente algo em torno de
seus joelhos.

A calcinha dela?

Jesus H. Cristo.3

Eu estendo minha mão.

— Dê.

Ela parece que vai desobedecer, mas então seus ombros caem e ela
entrega a calcinha. Eu a examino enquanto desembaraço o tecido. Pela
primeira vez, ela está usando algo que se encaixa, mas aquele vestido claro e
colante é como uma bandeira vermelha para um touro.

— Bonito vestido.

Ela não olha para mim enquanto passo por ela para sair.

— O quê, essa coisa velha? — ela murmura.

A roupa íntima finalmente desembaraçada, vou dobrá-la e paro.

Está encharcada.

Eu me viro um pouco, franzindo a testa enquanto ela desaparece na sala


de estar.

Ora, eu acredito que nossa pequena Trinity tem uma queda por nós.

****

Ela está sentada rígida como uma tábua na minha cadeira, as mãos
colocadas em seu colo e os olhos baixos. Mas posso vê-la me observando

3 Jesus H Cristo é uma interjeição expletiva que se refere à figura religiosa cristã de Jesus Cristo. É
tipicamente pronunciado com raiva, surpresa ou frustração
através dos cílios enquanto vou colocar sua calcinha em uma das minhas latas.
Eu não tinha intenção de mantê-la, mas vai deixá-la louca sabendo que ela
deixou evidências de sua presença aqui.

Cass se foi. Provavelmente esperando que eu me acalmasse antes que ele


voltasse com as coisas que comprei na cidade.

— Vinte? — Apollo diz. — Isso é um pouco duro, não é?

— Segunda ofensa, — Reuben diz antes que eu possa abrir minha boca.
— Deveriam ter conseguido trinta.

— Ninguém aguenta trinta, — Apollo diz, parecendo horrorizado. Ele


balança a cabeça, tirando o cabelo do rosto enquanto olha na minha direção.
— Essa Miriam tem um braço bom.

— O que ela está fazendo aqui? — Eu pergunto a eles.

Trinity responde.

— Estou aqui para conversar.

Eu me viro, minhas sobrancelhas arqueando antes que eu possa


controlá-las.

— Você desceu aqui depois que eu disse expressamente que não...?

— Nós a buscamos, — Apollo diz, parecendo entediado. Tenho certeza de


que sem sua câmera, ele está prestes a morrer. — Garanti que ninguém visse.
Certo, Rube?

— Certo. — Reuben se levanta. — Bebida?

— Dupla. — Meus olhos ainda estão em Trinity. — E para ela também.

— Eu não quero...

Ela corta quando eu balanço minha cabeça, e deixa seu olhar cair de volta
em seu colo.

Uma coisa tão bonita. É por isso que Gabriel a trouxe aqui? Eu estive
pensando sobre tudo na noite passada. Mudar Trinity para Saint Amos foi uma
jogada arriscada para o Guardião. Tão arriscado que ainda estou tentando
descobrir por que ele faria isso.

Se ele era de fato um amigo íntimo da família, então há uma forte


possibilidade de ela o ter visto interagindo com um fantasma de sua igreja.

Não temos cem por cento de certeza de como ele escolhe os fantasmas
com quem trabalha. Presumimos que sejam todos membros do clero, mas de
uma diocese diferente ou todos da mesma? Eu esperava que não houvesse
nada os unindo, exceto Gabriel, e que ele mantivesse distância.

Trazer um resquício de sua vida anterior aqui, para São Amós, não é
manter sua distância. Talvez ele pense que está seguro agora, depois de todos
esses anos. Mas ele nunca foi imprudente.

Até agora.

Até Trinity.

Mas por que arriscar tudo... por ela?

A menos que seus planos para ela sejam de curto prazo.

Porque a única razão pela qual posso pensar que Gabriel traria Trinity
aqui é porque ele sabia que ela não ficaria. Então, para onde vai a pobre órfã?

Meus pensamentos vão para a pior conclusão possível.

Trinity não está aqui para terminar seu último ano. Ela está aqui para
conhecer alguém muito especial. Talvez algumas pessoas.

Meu instinto me diz que Gabriel está planejando apresentá-la a seus


próprios fantasmas.
Sento-me na poltrona de Apollo, e ele se senta ao lado de Reuben. Trinity
mal tocou em sua bebida, mas toda vez que faço questão de olhar em sua
direção, ela pelo menos toma outro gole.

Gabriel está de volta amanhã. Não há nada que possamos fazer, exceto
arrombar a porta, para acelerar esse processo. E se isso fosse uma
possibilidade, já o teríamos feito.

Há tempo para matar. Eu deveria ser grato pela diversão que Trinity nos
oferece.

Cass chega com minhas coisas e coloca as sacolas ao lado da parede de


trás da biblioteca.

— Duas câmeras? — ele pergunta um momento depois.

— Não consegui distinguir sua caligrafia, — digo, direcionando minha


voz para Cass, mas olhando para Apollo.

Mas ele está tão ocupado pulando do sofá, acho que nem percebe. Eu
abaixo meus olhos e deixo escapar uma risada suave enquanto tomo meu
uísque.

Levamos anos, mas finalmente começamos a encontrar alegria nas


pequenas coisas.

— Este é o certo, — diz ele, arrebatando a caixa ofensivamente das mãos


de Cass. — Mas vou manter esse como reserva. — Ele enfia as duas caixas
embaixo do braço e parece prestes a sair.
— Sente-se, — digo a ele, estendendo meu copo para Reuben.

Ele vem e pega, mas em vez de voltar a encher, ele para ao lado da cadeira
de Trinity, de costas para mim.

— Termine, — ele diz baixinho, batendo uma unha contra o copo dela.

Ela se estica para olhar para ele e lentamente engole o resto de seu copo.

Bem, esse é um mistério resolvido então. Eu não deveria estar surpreso


por ser ele quem ela mais gosta. Quando Reuben olha para você, é como se
você fosse a única pessoa no mundo.

Acho que é o que seu Fantasma mais gostava nele. Uma coisa é controlar
uma criança que não consegue revidar, mas controlar alguém como Reuben?
Ele sempre foi mais forte e maior do que o resto de nós. Nossa rocha.

No entanto, essa é a coisa engraçada sobre a erosão. Ela resiste às


montanhas. O Fantasma de Reuben o transformou em pó ao longo dos anos.
Se não tivéssemos escapado quando o fizemos, não teria sobrado nada dele,
apenas uma concha vazia.

Mas o que Trinity fará quando Reuben perceber que não precisa mais
salvá-la? Porque é nessa época que ele perde o interesse pelas pessoas.

— Isso é tudo que você conseguiu? — Cass pergunta.

Não preciso olhar para saber do que ele está falando. Minhas viagens
para a cidade são como o Natal por aqui, porque eu sempre volto trazendo
presentes. O de Cass vem em algumas bolsas de dez centavos que custam
muito mais do que dez centavos hoje em dia.

Ele abre o lacre em um e dá uma fungada funda.

— Jaysus, — ele murmura, fazendo uma careta. — Você disse a ele que
ele tem que curar suas coisas por mais tempo do que a porra de um dia?

— Não estou entrando em um debate com seu traficante, Cass.

Trinity olha de Cass para mim, de Reuben para Apollo, seus olhos
piscando ao redor como uma libélula nervosa.

— Você sabia que Jasper era gay? — Eu pergunto a ela.


Eu sorrio quando ela recua ao som da minha voz e vira seus grandes olhos
âmbar para mim. Rube me traz minha bebida e depois a dela. Desta vez, ela
pega sem olhar para ele.

— Não. — Ela levanta um ombro, bebendo distraidamente seu copo. —


Mas algumas coisas fazem sentido agora.

— Como o quê?

Ela toma um pequeno gole de sua bebida. — Perry me disse que Jasper
odiava garotas.

Cass bufa enquanto se move para o sofá. Ele afunda, empurrando Apollo
para o lado com o cotovelo. Apollo está tão ocupado ligando sua nova câmera
de vídeo e verificando as configurações que ele nem parece notar.

Pego um novo cigarro do maço e o acendo, me agachando para entregá-


lo a Reuben. Enquanto isso, Trinity me rastreia com aquele olhar de libélula.

O corpete rendado de seu vestido continua chamando minha atenção.


Não por causa dos seios empinados que eles mal cobrem, mas porque fico me
perguntando por que ela os usava. Para alguém que não parece confortável em
sua própria pele, expor tanto deve ter exigido coragem. Coragem que eu não
pensei que ela tivesse.

Ela acha que vamos começar a salivar por causa dela a ponto de deixar
escapar algo importante?

Desvio o olhar quando Reuben devolve meu cigarro.

Minha paranoia não conhece limites. E embora eu esteja totalmente


ciente de como minha mente está fodida, não posso parar esses pensamentos
intrusivos mais do que posso parar de respirar.

Outra coisa que eu estava considerando ontem à noite enquanto estava


deitado sem dormir na cama. E se Gabriel a trouxesse aqui porque sabia que
seu tempo era curto? E se ele suspeitar, ou souber, quem realmente somos? E
se, durante todo esse tempo, ele estiver nos rastreando com tanto cuidado
quanto nós o rastreamos?
Não há nada neste nosso ninho que revelaria nossas verdadeiras
identidades, mas o mero fato de que nos conhecemos, que mantivemos
contato...

Paranoia.

Quase não nos parecemos com as crianças que éramos. Há uma caixa de
tintura de cabelo em uma das sacolas. Lentes coloridas em outra. Os
fantasmas de Cass amavam seu cabelo comprido, então foi a primeira coisa
que ele fez quando escapamos, raspar sua cabeça. Não somos mais meninos
sujos, desnutridos e pálidos, cheios de hematomas e feridas.

Mesmo assim, desde o dia em que cheguei aqui e apertei a mão de


Gabriel, não consegui me livrar da sensação de que ele me encarou por um
segundo a mais.

Como se ele tivesse me reconhecido.

Ela poderia estar dizendo a verdade.

Ou ela poderia ser uma espiã. Ele poderia tê-la trazido aqui para se
infiltrar em nós, espalhar divergência, descobrir o quanto sabemos.

Minha mente fodida está decidida sobre o último.


O álcool parece muito bom para acalmar meus nervos. Eu estava
tremendo quando Zachary chegou, mas não estou mais. Eu acho que também
é porque eu só tenho a atenção de Zachary e Reuben em mim no momento.
Cassius está enrolando mais maconha e Apollo ainda não tirou os olhos da
câmera.

Zachary não fala de novo até que Cass termine e a erva tenha passado
algumas vezes. Eu não me preocupo em recusar. Eu nunca fumei antes,
maconha ou cigarros, mas posso entender por que as pessoas fazem isso. Uma
vez que meus pulmões se acostumam com a fumaça quente, a sensação é
absolutamente deliciosa.

— Isso tem um gosto diferente, — eu digo, e imediatamente desejo ter


mantido minha boca fechada.

Você não está aqui para fazer amigos, Trinity. Você está aqui para
descobrir como diabos você vai sair dessa bagunça.

— Isso é porque é uma merda absoluta, — Cass diz. Ele rapidamente


levanta a mão, a palma voltada para Zachary. — Não que eu esteja reclamando.
Eu pegaria erva selvagem4em vez de nenhuma maconha em qualquer dia.

— Certamente você vai, — murmura Zachary, parecendo mais brincalhão


do que sério.

4 Cannabis selvagem nativa, essas plantas geralmente têm baixo teor de THC. São mais “leves.”
Sua poltrona está em um ângulo em relação à minha, então tenho que
virar minha cabeça para olhar para ele. Eu arrisco uma espiada rápida agora,
tentando ver sua expressão.

Ele está olhando para mim.

Eu rapidamente me viro para frente, corando.

— Devolva meu assento, — diz ele com um suspiro. Eu pulo de seu


assento, parando ociosa no meio de sua má variedade de cadeiras e sofás como
se estivesse exibindo uma nova linha de moda, antes que meu cérebro comece
a trabalhar novamente. Afundo na poltrona em que ele estava sentado,
contorcendo-me no couro quente. Zachary pega minha cadeira e a gira em
uma perna, montando nela e colocando os braços nas costas antes de apoiar o
queixo.

É o mais relaxado que eu já vi, mas ele ainda parece pronto para atacar.

— Você daria um jogador de pôquer de merda, — diz Cass.

— Não, eu não daria, —respondo, desviando rapidamente o olhar de


Zachary.

— Sim, você daria. — Cass se senta para frente, abaixando a cabeça como
se estivesse tentando imprimir sua declaração em mim.

— Seu rosto é um livro aberto. Edição impressa grande.

Isso faz Apollo e Reuben rir e coloca uma carranca no meu rosto. O que
eu rapidamente disfarço.

Merda. Acho que ser evasiva não está no menu até que eu esteja sóbria
novamente.

Idiota.

Eu não deveria ter fumado ou deixado Reuben me intimidar para engolir


minha bebida. Por que sinto que tenho algo a provar para esses caras?

A atenção de todos está em mim novamente. Então, tento afastá-la.

— Você nunca me contou sua história, — digo a Zachary.


Apenas seus olhos se movem.

— Minha história?

— Você e Reuben. — Eu aceno uma mão mole. — O porão? Como você


acabou lá?

Todo mundo para de se mover. Até Apollo, que eu pensei que não estava
ouvindo.

Cass se recosta e cruza os braços sobre o peito enquanto solta um assobio


baixo.

— Vadia presunçosa, não é?

Minhas bochechas esquentam novamente, mas me forço a não olhar para


ele. Eu mantenho meus olhos em Zachary enquanto ele me encara
inexpressivamente. Ele respira fundo e solta o ar como um suspiro suave antes
de se afastar e se endireitar em sua cadeira.

— Nossa história, — ele repete baixinho, olhando para baixo enquanto


alisa o jeans sobre as pernas. — Nossa história não é da sua conta garotinha,
porra.

Meu peito se fecha, apertando meu coração como um punho.

— Eu só...

— Gabriel estará de volta amanhã, — ele interrompe. — Que tal você


começar a se concentrar nisso, em vez de enfiar aquele lindo nariz onde não
pertence? — Ele fica parado sem esperar pela minha resposta.

Eu abaixo minha cabeça, desejando desaparecer na poltrona. Eu não


queria ser intrometida. Só quero entender com o que estou lidando. Eu
entendo que é provavelmente um assunto horrível para eles, mas Apollo e Cass
tinham me contado o deles sem arrancar minha cabeça.

Talvez seja por isso que falaram ontem, e não Reuben e Zachary.

Puta merda... pelo que Zachary e Reuben passaram?


Eu me abraço e me arrisco a espiar Reuben por entre meus cílios. Ele tem
uma mão espalmada em seu peito, seus olhos fixos em mim. Desvio o olhar
apressadamente e, por instinto, pego o rosário em volta do pescoço.

Então eu congelo e olho para ele.

Seu rosário. Eu tive esse tempo todo. Eu devo-?

— Fique. Comprei outro para ele, — diz Zachary.

Eu pulo ao som de sua voz.

Querido senhor. Qualquer que seja o nervosismo que eu tive, eles foram
baleados novamente. Manter a calma perto desses caras é impossível. É como
ficar de olho em quatro alvos móveis. Vou ter que me acostumar com o fato de
que eles sempre terão uma vantagem sobre mim.

Força em números, eu acho.

Eu largo o rosário que estava prestes a puxar na minha cabeça.

Zachary entrega um estojo fino para Reuben, que o encara por alguns
segundos antes de abri-lo. Ele pega um rosário preto opaco e o coloca na
cabeça. Em seguida, ele o enfia sob a camiseta.

Eles estão todos com roupas casuais hoje.

Zachary está vestindo uma camisa de botões, azul claro, e jeans que
parece que ele os comprou em um brechó. Na verdade, todos os caras parecem
ter recebido suas roupas do Exército de Salvação.5

Presumo que seja de propósito, visto que Zachary acabou de comprar um


laptop novo. Depois, há as duas câmeras de vídeo...

Ou ele é rico ou tem um monte de dívidas de cartão de crédito. Eu acho


que se você está planejando matar alguém, você realmente não se importaria
com suas finanças.

— Faça isso mais tarde. Eu preciso que você configure isso. — Zachary se
inclina e entrega o laptop a Apollo.

5 Rede de brechós dos EUA.


Apollo tira o cabelo dos olhos enquanto olha para Zachary, e então dá um
aceno sombrio.

Zachary pega uma caixa muito menor e volta para seu assento. Ele brinca
com ela enquanto observa Apollo remover a embalagem do laptop e ligá-lo.

Eu inclino meu copo contra meus lábios e olho para baixo com surpresa.
Está vazio. Eu rapidamente envolvo meus dedos em torno dele, tentando
esconder o fato, mas sou muito lenta.

Reuben se levanta.

— Daqui a pouco, — diz Zachary, como se estivesse lendo a mente de


Reuben. — Precisamos que ela se concentre.

Minha garganta se move enquanto eu engulo. Com Zachary entregando


coisas para os caras, havia um ar quase festivo dentro deste estranho covil. Por
um momento, esqueci onde estava. Com quem eu estava.

Essas não são pessoas normais, Trinity. Sua vida é a coisa mais distante
do normal agora.

Eu abaixo minha cabeça e bufo baixinho para mim mesma. Como se eu


já tivesse reivindicado ser normal.

— Gabriel tem um laptop, — diz Reuben.

Eu começo a mexer no meu copo.

— OK.

— Está escondido em algum lugar do quarto dele.

Eu aceno e olho para os outros meninos. Cass está fumando o que sobrou
da erva, apoiando o cotovelo na poltrona e se curvando como se estivesse
esperando o início da sessão de fotos. Ele está vestindo uma camiseta branca
feita de tecido fino que cobre seu corpo como seda. Se não fosse pelo buraco,
eu teria pensado que era uma peça de designer cara. Mas o buraco é grande e
feio, definitivamente não foi feita assim.

Apollo ainda está ocupado com o laptop. Seus longos dedos voam sobre
o teclado, os ombros curvados e o cabelo escondendo o rosto.
Zachary brinca com a caixa enquanto seus olhos me procuram.

— Então você quer que eu roube? — Eu pergunto, quando parece que


Reuben acabou de falar.

— Claro que não, — Zachary disse com um suspiro impaciente. —


Precisamos de você para clonar o disco rígido.

Eu franzo a testa para ele.

— Eu não sei como...

— É fácil, — Apollo diz sem olhar para cima. — Zach vai te dar a direção.
Basta conectá-lo em uma unidade USB e ele fará o resto.

Eu aceno, meus olhos indo para a caixa que Zachary tem. Não vou
perguntar o que é uma unidade USB, espero que seja um daqueles tipos de
coisas autoexplicativas.

— Como vou enfiar isso no quarto dele? — Mas então eu levanto a mão,
fechando os olhos brevemente. — Como é que eu vou entrar no quarto dele?

Zachary me dá um meio sorriso. — Você é uma garota brilhante, — ele


diz, seu sorriso se tornando sarcástico. — Tenho certeza de que você vai
descobrir alguma coisa.

Eu aperto minha mandíbula enquanto bato um dedo contra meu copo.

— Por que você precisa de mim? Um de vocês não poderia


simplesmente...?

— Você está tão convencida de que ele é um santo, — diz Zachary. — É


hora de provar. — Ele joga a caixa para mim.

Eu me atrapalho antes de abri-la e tirar um dispositivo fino, pouco maior


que meu polegar.

— Então, eu apenas plugo isso, — eu murmuro, virando-o em minhas


mãos. — Depois que eu entrar furtivamente em seu quarto e rastrear seu
laptop escondido.

— Você tem até quarta-feira.


Eu olho para Zachary.

— Por que quarta-feira?

Seu sorriso é tudo menos alegre.

— Porque a essa altura, eu já terei perdido a paciência com você.


Trinity se levanta para sair. Eu examino seu corpo enquanto ela o faz, e
ela se dobra sobre si mesma como um cisne de origami.

— Onde você pensa que está indo? — Eu pergunto levemente, sacudindo


outro cigarro.

— Eu tenho a coisa, — ela diz, segurando o pen drive. — Eu sei o que fazer.
Certamente eu posso... — Ela para antes de olhar para a saída.

— Sair? — Eu termino por ela, me levantando lentamente enquanto trago


o cigarro. — Agora, por que deixaríamos você fazer isso?

Sua boca se abre, mas ela não diz nada. Em vez disso, ela agarra o
crucifixo vermelho sangue em volta do pescoço.

Reuben teria preferido ter seu rosário de volta, mas ele precisa aprender
a deixar as coisas irem. O crucifixo é um começo. Um bom começo. Eu nunca
poderia fazer com que ele o abandonasse. Mas bastou uma alma desesperada
e ele a entregou como se não fosse nada.

Embora eu suponha que ele esperava recuperá-lo.

Todos nós temos que aprender algumas lições difíceis se quisermos


juntar os restos de nós mesmos. Reuben precisa entender que seu passado não
está encerrado naquela bugiganga barata.

Nós somos seu passado.

Trinity estremece quando agarro seu pulso.


Eu arrasto meus olhos para baixo em seu corpo novamente. Ela olha para
cima e encontra meus olhos, mas há inquietação naquelas írises âmbar.

— Acho que você deveria dançar para nós, — digo a ela.

— O quê? — ela balbuciou, sua boca se erguendo em um sorriso


incrédulo. — Não.

— Uma ideia fantástica pra caralho, — Cass diz.

— Eu não sei dançar, — ela diz entre uma risada. — E mesmo se eu


soubesse... — Seus olhos correm ao redor antes que ela coloque as mãos nos
quadris e tente parecer casual. — Não há música.

— Você não precisa de música, — eu digo, puxando-a para mais perto.

Ela dá um passo para trás apressadamente, puxando o pulso e soltando


um bufo.

— Eu não vou dançar. — Seus olhos cintilam sobre meus irmãos. Então
eles voltam para mim e se estreitam. — Não, a menos que eu receba algo em
troca.

Cass assobia por entre os dentes. Apollo até para de mexer no laptop por
tempo suficiente para olhar para ela com os olhos arregalados e a boca aberta.
Reuben bufa e esfrega o queixo como se estivesse tentando esconder o sorriso
fraco.

Eu inclino minha cabeça para ela.

— Você realmente acha que está em posição de barganhar conosco?

— Espera aí, — diz Cassius com uma risada. — Vamos ouvi-la. Qual é a
sua oferta, Trin?

Ela responde sem tirar os olhos de mim.

— Quero saber como você influencia tudo isso, — diz ela. Um aceno
ausente de sua mão atinge meus irmãos, depois os pacotes contra a parede. —
Você é mais velho do que eles. E um professor, o que significa que você estudou
na faculdade, certo? — Ela se aproxima, até que a madeira com aroma de rosas
de seu rosário faz cócegas em meu nariz. — E você é rico. Então, como você foi
parar naquele porão? Como você se tornou parte disso?

Meus olhos se estreitam. Ela engasga quando eu agarro sua mandíbula e


aperto covinhas em sua carne macia. Esse som ondula através de mim como
uma pedra jogada em um lago. Meu pau começa a prestar atenção pela
primeira vez hoje. Eu quero forçá-la a ficar de joelhos e fazê-la engolir cada
centímetro duro de mim até que ela desmaie por falta de oxigênio.

Em vez disso, recorro a agarrar seu cabelo, mantendo a cabeça no lugar.


O medo transforma seus olhos âmbar em um bronze sombrio.

— Para uma dança de alguém que nem sabe dançar? — Eu zombo dela.
— Acho que não.

Há um silêncio absoluto de meus irmãos. Eles estão prendendo a


respiração como ela?

Eu forço um sorriso.

— Que tal você dançar, e considerarei não lhe dar cinco chibatadas por
ser uma vagabunda tão presunçosa?

Cass ri com o fato de que estou usando suas palavras, mas eu o ignoro.
Trinity é tudo que me interessa agora.

Ela estaria se mijando se soubesse o quão mortal era atrair toda a minha
atenção.

Seu rosto empalidece.

— Chicotadas? Só por perguntar...?

— Seis.

Seus lábios começaram a tremer.

Eu encolho os ombros, inclinando sua cabeça para trás mais alguns


centímetros enquanto encurto a distância entre nós.

— Nós poderíamos exigir coisas piores de você, — murmuro. Minha


ereção pressiona em seu estômago, e seus olhos se arregalam. Ela tenta
arquear para longe de mim, mas eu solto sua mandíbula e pressiono minha
mão em suas costas. — Coisas sujas e doentias. — Eu esfrego nela ainda mais
forte.

Ela estremece contra mim.

— Tudo bem, — diz ela entre os dentes. — Uma dança.

Meus olhos caem em seus lábios. Quando ela os lambe, quase a beijo
apenas para sentir o gosto de sua boca.

Em vez disso, eu a empurro e trago meu cigarro enquanto afundo de volta


na minha cadeira. Então eu estalo meus dedos para ela e novamente no ponto
entre nós.

— Vá em frente, então.

Ela se move para o centro da sala e hesita antes de olhar para Reuben.

— Posso ter outra bebida?

Reuben não se incomoda em confirmar comigo primeiro. Agora que


nosso negócio acabou, não sou mais chefe de ninguém.

Concordamos há muito tempo que não poderíamos todos liderar o


ataque e tiramos partido para determinar nossa hierarquia.

Só porque tirei o menor palito 6 não significa que os domino vinte e


quatro horas por dia, sete dias por semana. Agora eu sei quando dar um passo
para trás e deixá-los se divertir.

Nossos abençoados Protetores também sabiam disso.

Era responsabilidade deles nos alimentar, nos abrigar, nos manter


escondidos. E, o mais importante, para ter certeza de que não escapamos.

Manter-nos amarrados o tempo todo danificou nossos corpos jovens.

Os hematomas viraram vergões.

Vergões se transformaram em feridas.

6 Jogo que define de quem é a vez. Palitos de vários tamanhos quem pegar o menor é quem perde.
Ainda tenho dobras em ambos os tornozelos, onde a ligadura constante
de uma corda muito apertada alterou minha estrutura óssea.

Eles também foram instruídos a manter nosso ânimo. A maioria de


nossos fantasmas gostavam quando nós revidávamos. Mas você para de lutar
quando perde a esperança e nossos Protetores finalmente descobrem isso.

Então, eles se certificaram de que sempre houvesse um fio de esperança.


Apenas o suficiente para nos agarrarmos até a próxima visita de nossos
fantasmas.

Uma vez por dia, enquanto comíamos, eles nos libertavam de nossas
amarras. Naquela hora, vasculharíamos cada centímetro de nossa gaiola,
apenas para o caso de um fantasma ter deixado cair alguma coisa, ou se
tivéssemos perdido algo nas milhares de vezes que vasculhamos.

Apollo encontrou um rosário um dia. Reuben o reconheceu como o que


seu Fantasma usaria. Tiramos o palitinho para ver quem ficaria com ele.

Rube perdeu.

Trinity cruza as mãos à sua frente enquanto espera, fazendo um esforço


óbvio para não olhar para nenhum de nós. O que provavelmente é uma coisa
boa, porque até mesmo Apollo guarda seus brinquedos para assistir. E se ela
não consegue sentir o olhar faminto de Cass já arrancando aquela fina camada
de tecido...

Ela pega o copo de Reuben e o bebe com pressa. Seu rosto se contrai
enquanto ela luta para não tossir. Ela acena para ele e devolve o copo.

— Sem música, — ela diz baixinho, como se fosse para si mesma.

— Você está nos entediando, — eu digo a ela, minha cadeira rangendo


enquanto eu mudo meu peso.

Ela me lança um olhar de pânico e rapidamente começa a balançar os


quadris.

— Mais devagar, garotinha.


Eu amo a maneira como seus olhos brilham quando eu a chamo assim.
Mas como se percebesse o fato, ela suaviza a expressão e, em vez disso, fecha
os olhos.

Um minuto depois, eu grito.

— Chega.

Ela para seus olhos se abrem, enquanto ela se vira para me encarar.

— O que?

— Você é terrível, — digo a ela, balançando a cabeça. — Cass, me dê seu


cinto.

Seus olhos se arregalam. Ela levanta os braços, uma palma voltada para
mim e a outra para Cass enquanto ele se levanta e começa a tirar o cinto.

— Não. Não! Eu posso fazer melhor. Eu só tenho que...

— Aqui, vou te mostrar, — diz Reuben.

Meus lábios se curvam. Deus, ele certamente demorou o suficiente. Ele é


um filho da puta inteligente, mas é tão cauteloso que você pensaria que ele era
débil.

Eu acendo outro cigarro. Cass acende um baseado. Nós os passamos um


para o outro enquanto Rube se levanta. Trinity dá um passo apressado para
trás quando ele se aproxima dela, mas então ele agarra sua nuca e a puxa de
volta.

Ele desliza a mão por seu ombro, braço e até seu quadril. Então ele a
segura pela cintura com as duas mãos e gira seus quadris em forma de oito.

— Solte-se, — ele resmunga em sua voz profunda.

— Estou tentando, — ela murmura de volta, olhando para ele como se ela
estivesse se perguntando quando ele planeja quebrar seu pescoço.

— Feche os olhos, se isso ajudar, — ele sugere calmamente. — Finja que


sou um daqueles idiotas de boy band por quem vocês estão sempre
apaixonadas.
Estou sorrindo abertamente agora, e não tem nada a ver com a mistura
de uísque e erva que está causando estragos em meu cérebro.

Reuben e Cass foram os únicos dois de nós que tiveram algo parecido
com uma infância normal depois que escapamos da Casa Fantasma. Eu lutei
para nos manter juntos, mas éramos todos de estados diferentes. Rube e Cass
foram para lares adotivos na Virgínia Ocidental e na Geórgia, Apollo de volta
à Carolina do Norte e eu fiquei na Virgínia.

Levei anos para encontrá-los novamente.

Reuben acabou em um lar adotivo com três outras meninas, o que nunca
vamos deixá-lo viver em paz, especialmente visto que ele nunca fodeu
nenhuma delas. Embora eu duvide que isso tenha passado por sua mente. Ele
se tornou seu irmão mais velho, e essa é a pessoa que ele manteve. E ele fez
um trabalho tão bom, que a família adotiva quase acabou adotando-o.

Estava praticamente fechado, até que algo desencadeou um episódio de


psicose. Ele destruiu a casa daquela família e feriu gravemente duas de suas
irmãs adotivas antes que a polícia chegasse para detê-lo. Ele ficou no
reformatório por um ano antes de ser cuspido de volta ao sistema de adoção.
Meses se passaram antes que eu pudesse localizá-lo. Muito dinheiro trocou de
mãos antes de finalmente transferi-lo para Saint Amos.

Em tempos como aquele, eu sinceramente gostaria de ter pais a quem


recorrer. Ter tutores legais para assinar uma papelada legítima teria sido
muito mais fácil do que toda a propina que gastei. Mas meus pais morreram
há muito tempo e, depois que escapamos da Casa Fantasma, não confiei mais
em ninguém, exceto em meus irmãos.

Felizmente, o dinheiro pode comprar quase tudo.

— Bom, — diz Reuben. — Agora seus ombros. Você tem que dançar com
todo o seu corpo.

— É muito difícil sem música.

— Você não precisa de música, — diz Rube.

Na deixa, bato meu polegar contra o encosto do assento.


Baque.

Baque.

Baque.

Rube olha para mim e me dá um sorriso fantasmagórico. — Tudo que


você precisa é de um ritmo.

Cass e Apollo pegam a batida, Apollo com um de seus anéis contra o copo,
Cass batendo na parte de trás da lata onde mantém sua erva.

E Trinity começa a dançar.

Seus quadris balançam e seus ombros ondulam ao ritmo lento e


constante que criamos.

— É isso aí, — murmura Rube. Sua cabeça baixa, seus lábios roçando o
topo de sua cabeça. — Você sente isso?

Espero que Cass faça um comentário sarcástico, ele tem um senso de


humor de quinto ano, mas quando olho para eles tudo o que vejo é uma fome
muito familiar.

É assim que nossos fantasmas olhariam para nós, uma voz sinistra
sibila.

Minha mandíbula aperta.

Não. Isso não é o mesmo. Era uma luxúria doentia e contaminada. Isso é
puro e natural.

Isso é o que ele disse sobre nós. É isso que éramos.

Puros. Inocentes. Éramos a cura para as perversões de nossos


Fantasmas. Nosso destino na vida era aliviar seu sofrimento, uma oferta de
sacrifício para apaziguar seu hedonismo depravado.

E eles nos aceitaram uma e outras vezes.

Eu vacilo na batida, mas Cass e Apollo nem percebem. Levando meu


cigarro comigo, vou para o quarto.

Lá a escuridão me engole, me protege, me conforta.


Mas minha pausa é breve e agridoce.

É isso que ela é. Pura. Inocente. Ela é nossa cura?

Tento bloquear a voz, mas tapar os ouvidos com as mãos não adianta.

Você sabe o que tem que fazer, não é? Para ela, para eles.

Vou para o fundo da sala e levanto a ponta de um colchão.

Matar Gabriel não fará com que a dor desapareça, Mason.

Nem para você, nem para eles, nem para ela.

Quando não encontro o que procuro, prendo os lábios sobre o filtro do


cigarro e coloco as duas mãos naquela escuridão fria enquanto a fumaça
queima meus olhos.

— Procurando por algo? — Cass pergunta, sinuoso como a porra de uma


serpente.

Eu balanço meus calcanhares e pego meu cigarro entre os lábios secos.

— Cadê? — Eu ralo para fora.

— Se eu não posso dar o meu tapa, então você não pode ter o seu...

Eu me viro e o agarro pela garganta, pressionando-o contra a parede


sólida. Ele engasga e ri na minha cara.

— Essa merda é anti-higiênica pra caralho, — diz ele com voz rouca.

— Onde. Está?

— Você não me assusta, chefe. Nunca o fez, nunca irá.

Quase não consigo ver nada no escuro, mas há um vislumbre de luz onde
seus olhos estão.

Eu trago meu cigarro, instantaneamente hipnotizado pelo brilho


vermelho em suas córneas molhadas. Ele pisca, mas não fecha os olhos.

— Ela está mexendo com todas as nossas cabeças, — sussurra Cass. —


Vamos tirá-la daqui. Nós não precisamos dela.
— Vocês precisam, — eu contraponho, trazendo aquela brasa brilhante
para perto de seu olho. Sua bochecha se ilumina levemente, mas ele nem
mesmo pisca a porra de uma pálpebra.

— Precisamos? — Ele encolhe os ombros e pousa a mão casualmente


sobre o braço rígido, prendendo-se contra a parede. — Achei que não
precisávamos de ninguém.

— Apenas me diga onde está, — eu digo entre os dentes. Odeio como


minha voz treme, mas já passei do ponto de ser capaz de controlá-lo.

— Essa merda é como colocar a porra de um band-aid da Hello Kitty em


um ferimento à bala, — diz ele. Sua voz baixa. — Vamos, Zach.

Ele está certo, e isso me faz sentir ainda mais patético por me permitir
ser pego entre a vergonha e a culpa e o desespero total. — Eu apenas preciso...

— Eu sei do que você precisa, — Cass corta baixinho. — E eu te disse


antes, tudo que você precisa fazer é pedir.

Sua mão escorrega do meu braço. Sussurros de tecido. Então ele segura
a mão que segura meu cigarro aceso.

— Só não o rosto, mano. Esse é o meu ganhador de dinheiro.

Eu reprimo uma risada quase histérica enquanto o deixo guiar minha


mão para baixo.

— Devíamos tentar um rosto sorridente. Estilo Nirvana. O que você


disse? — Sua voz é firme, leve e firme.

Eu não sei como diabos ele aceita tão facilmente meus colapsos.

— Foda-se, — eu grito, fechando meus olhos com força para que eu não
possa ver aquela cinza brilhante tentadora. — Cass, não.

— Vamos, seu boceta. Já tive pior.

— Foda-se.

— Jesus, a tensão está me matando, — ele diz com um sorriso que posso
ouvir, mas não vejo.
Tão fácil pra caralho para ele. Para eles. Eu nunca deveria ter tirado o
palito curto. Rube teria sido um líder melhor do que eu qualquer dia. Qualquer
um deles teria. Mas fui eu. Então eu tive que ser um homem e liderá-los, porra.

— Você sabe que é a pior parte, certo? A espera? Você sabe disso, porra,
Zach. Então apenas faça isso, seu boceta.

Ele guia minha mão para baixo e mais perto, até que meus nós dos dedos
roçam sua pele nua onde ele está levantando sua camisa. Eu trago sua pele
com a ponta do meu polegar. Meu peito está tão apertado que mal posso
respirar, e o pouco de ar que entra parece que estou sugando de uma porra de
chaminé.

Quente. Cheio de cinzas.

— Foda-se, — eu digo novamente, tentando ignorar a ereção lutando


contra meu jeans. Dor e prazer, nunca tive um sem o outro.

— Cass...

— Apenas faça isso, porra, — ele ralha.

Meu polegar desliza sobre uma marca de queimadura enrugada. Então


outra. Outra.

— Lá. — Ele parece tão sem fôlego quanto eu. — Ali.

— Cristo.

Meus pulmões se enchem de enxofre em pó enquanto pressiono a ponta


do cigarro em sua carne.

Ele enrijece, deixando escapar um suspiro curto e suave. Então ele me


empurra com tanta força que caio para trás e caio de bunda. Estou
antecipando que a bota vai para o meu estômago, mas isso só torna o impacto
dez vezes pior.

Minha respiração sai em um grunhido de dor que não posso ficar quieto.
Eu rolo para o meu lado, me enrolando enquanto ele me chuta novamente.
Então ele se foi, uma luz laranja florescendo contra a parte de trás das minhas
pálpebras antes que o quarto escurecesse novamente.
Abro os dedos e deixo o cigarro amassado cair. Então eu trago minha mão
para perto e lambo a faixa de cinza espalhada na palma da minha mão.

A dor quase constante em meus pulsos e tornozelos desaparece enquanto


eu fico lá ouvindo Apollo batendo uma batida para Trinity enquanto ela dança
para Reuben.

Tocar. Tocar. Tocar.

Parece o cano vazando no fundo do porão, não é, Mason?

A dor torna mais fácil afastar a voz.

E sempre foi assim, mesmo naquela época.

Tocar.

Tocar.

Tocar.
Tem que ser a maconha. Ou a bebida. Algo está fazendo coisas estranhas,
estranhas no meu cérebro. Aquela parte de um filme da Disney em que uma
luz mágica ilumina a heroína e a levanta? Essa sou eu agora. Parece que estou
suspensa a centímetros do chão, uma aura brilhante girando ao meu redor.

Em meus sonhos mais loucos, eu nunca teria imaginado que algo pudesse
ser tão bom. Tão... certo.

Reuben está com uma das mãos em volta do meu pescoço, a outra na
parte inferior das minhas costas. Usando as mãos e o corpo, ele me guia.

Momentos depois, ruídos fracos no fundo clamam por minha atenção,


mas eles parecem errados e violentos, então eu os empurro para fora da minha
mente.

Isso... isso é o oposto completo.

— Vê? — Reuben murmura em meu ouvido. — E você pensou que não


conseguiria.

Eu não ia contar a ele que tinha dançado antes. Muito. Meu espelho tinha
sido meu único público e meu pior crítico. Por tudo que eu sei, eu
provavelmente parecia uma idiota na época, enquanto balançava ao meu
próprio cantarolar baixinho.

Eu realmente esperava usar meus artifícios femininos para fazer um


acordo com esses homens, mas acho que ainda tenho muito que aprender
sobre a arte da sedução.
Além disso, dançar para um público real é muito mais difícil do que se
olhar no espelho. Tanto é verdade, eu nem sabia por onde começar.

Reuben me salvou.

Todo esse tempo eu tinha minhas mãos ao meu lado, movendo-me


frouxamente junto com meus braços. Mas assim que a respiração de Reuben
roça minha pele, eu respiro e me forço a estender a mão e tocá-lo.

Meus dedos traçam os contornos de seus músculos perfeitamente


esculpidos. Eu inclino minha cabeça para trás e abro meus olhos. Eles
tremulam e depois se arregalam de surpresa.

Reuben está olhando para mim.

Ele para de se mover e agarra meus pulsos juntos em uma mão carnuda.

— O que você está fazendo? — ele exige em voz baixa.

— Eu só estava... pensei que estávamos...

O movimento desvia meu olhar.

Cass sai furioso da área com cortinas da sala, uma mão em seu estômago
como se ele estivesse doente. O rosnado em seu rosto envia um calafrio por
mim, mas assim que ele olha para cima e me vê, ele desaparece.

Minha boca se abre para perguntar o que há de errado, mas então tudo
está se movendo muito rápido.

— Chega dessas preliminares de merda, — ele rala, tirando a mão de seu


estômago. Ele aponta diretamente para mim e avança tão rápido que eu me
afasto dele com um grito abafado.

Ele agarra meu braço antes que eu tenha a chance de fugir e me joga na
poltrona em que eu estava sentada.

Eu suspiro, mais em choque com o quão forte ele é do que com a dor real.
Então ele está em cima de mim, montando minha cintura e puxando meu
vestido pelas minhas pernas.
O ar frio acaricia minhas coxas enquanto ele sobe minha saia pelos meus
quadris. Já que minha calcinha ainda está na caixa de lata de Zachary, não há
nada para me proteger da luxúria escura brilhando em seus olhos.

— Pare! — Eu grito. Eu começo a bater nele com meus punhos, mas ele
bate em meus braços com um movimento de sua mão, a outra indo para seu
cinto.

— Continue cantando essa linda canção, pequena blackbird7.

Os pelos dos meus braços estão arrepiados. Sua voz é baixa, áspera e tem
sotaque britânico, como se ele estivesse imitando alguém.

Que porra?

O botão de sua calça jeans se abre com um toque de sua mão.

Eu grito, meus punhos se transformando em garras. Ele faz uma careta,


agora se esforçando para conter meu ataque enquanto trabalha em sua
braguilha. Eu empurro meus quadris para tentar me livrar dele, mas isso só o
faz rir.

Por que ninguém o está impedindo?

Mãe de Deus, eles vão apenas assistir?

Obviamente, eu lutei demais. Cass agarra meu cabelo, puxa minha


cabeça para trás e me dá um tapa.

Uma onda de choque ressoa em meu crânio. Minha visão se enche de


lágrimas. Meu rosto fica dormente. Eu pisco com força, enviando aquelas
lágrimas pelo meu rosto.

Eu assisto em silêncio estupefata enquanto Reuben arranca Cass do meu


colo e o joga contra a parede como se ele não pesasse nada. Zachary aparece
perto da cortina, mas sua cabeça está baixa, e há uma expressão estranha em
sua boca.

Meu filme da Disney acaba de se transformar em um show de terror.

7 Pássaro Melro-preto comum na América do Norte.


Reuben tem Cass contra a parede, seu braço pressionado contra sua
garganta. O rosto de Cass fica vermelho, mas ele não revida.

Ele está sorrindo para Reuben.

Os músculos de Reuben se projetam sob sua camisa enquanto ele usa o


braço para empurrar Cass alguns centímetros acima da parede.

Mas não há golpes trocados. Ele está apenas o restringindo. Zachary se


aproxima e tenta puxar Reuben. Reuben nem mesmo muda.

Uma mão fria desliza em volta do meu pulso e puxa. Meu pescoço está
rígido quando me viro para olhar para Apollo. Estou vagamente ciente de que
estou exposta, mas minha mão está tremendo muito para que eu possa puxar
com sucesso a barra do meu vestido.

— Vamos para outro lugar, certo? — Apollo diz, sorrindo tão calmamente
que você poderia jurar que ele não percebeu que alguém estava prestes a ser
assassinado. — Vamos. Eu quero te mostrar uma coisa.

Quando eu não me movo, ele abaixa a cabeça um pouco e, em seguida,


pressiona um beijo rápido na minha bochecha manchada de tapa.

— Aqui está. Melhorou agora.

Mais uma vez, ele puxa meu pulso.

De alguma forma eu levanto.

Ele me leva para fora do covil no momento em que ouço o baque de carne
contra carne e ouço Cass gemer de dor.

Que.Porra.É. Essa?

****

Raios de sol forte batem no meu rosto quando saímos da cripta. Apollo
fica parado na porta, seu cabelo se mexendo enquanto ele verifica a esquerda
e a direita.
Não há ninguém à vista, mas ele ainda parece hesitante em deixar as
sombras e entrar na luz.

Vampiro.

Eu rio com o pensamento ridículo, e Apollo lança um olhar preocupado


para mim por cima do ombro enquanto caminha em direção ao dormitório.

— Tudo bem aí, coisa bonita?

Eu rio para ele.

— Desculpe...ficou um pouco difícil lá, — diz ele. Estamos caminhando


em um ritmo acelerado, seus dedos algemados em volta do meu pulso. — Eles
vão se acalmar. Alguns socos e sempre se acalmam. Gosta do Clube da Luta,
certo? E merda, como foi essa cinematografia? Você sabia que Cronenweth
deliberadamente sub expôs os rostos dos atores para forçar o público a prestar
mais atenção em cada cena?

Eu não digo nada, em vez disso, desejo que o mundo pare de subir e
descer tão freneticamente. Eu não poderia ter bebido mais do que ontem, mas
ontem eu tirei uma boa e longa soneca antes de tentar andar para qualquer
lugar.

Agora eu sinto que tudo que consumi hoje acabou de fazer efeito. Sinto
como se estivesse andando em uma cama elástica a alguns centímetros do
chão. E cada vez que eu mudo meus olhos, mesmo que seja um pouco, o
mundo fica borrado.

— Estou bêbada, — anuncio.

— Esse é o espírito, — responde Apollo sem diminuir o ritmo. — Ótimo


dia para isso também.

Finalmente encontro forças para recuar.

— Não. Quer dizer... muito bêbada. — Eu balanço assim que paramos, e


ele dá um passo à frente para me firmar colocando um braço em volta da
minha cintura.
— Calma aí, —ele diz e então começa a andar novamente. — Não tem
nada a ver com isso, entende? Você apenas mantém seus olhos em algo que
não está se movendo. Como a torre do sino. Você pode vê-la?

Minha cabeça se inclina para trás.

Porra, é um prédio grande.

— Sim.

— Bom. Continue olhando para isso. Vou me certificar de que você não
pise em nenhuma cobra.

— Cobras? — Minha cabeça balança para frente e eu tropeço enquanto o


mundo dá uma lenta cambalhota. — Porra.

— Desculpe, piada de mau gosto. Sem cobras. Buracos. É por isso que
vou ficar de olho. Apenas buracos.

— Buracos, — eu concordo, inclinando minha cabeça para trás


novamente. — Quem toca a campainha?

— Não é um corcunda, isso é certo.

Eu rio como uma porra de idiota com isso. Sombras frias substituem o
sol e eu fico aliviada.

— Consegui.

— Ainda não, coisa bonita. Devo carregar você?

Eu bufo.

— Você não pode me carregar.

— Muito vadia?

O mundo gira ao meu redor. Estou olhando para o rosto de Apollo, seu
sorriso vitorioso parcialmente escondido atrás de algumas mechas de cabelo.

— Você acabou de me chama de vadia? — Eu exijo.

— Fale baixo, — diz ele. — E sim. Porque você está sendo uma.

Eu bufo novamente.
— Você é um... você é um idiota. Vocês todos são.

— Quieta, — ele avisa em voz baixa, seu cabelo se movendo enquanto ele
olha para a esquerda e para a direita. Meus dentes batem quando ele começa
a subir a escada. — Ou eu vou te levar de volta para o seu quarto.

Hesito, minha cabeça balançando contra a curva do braço de Apollo


enquanto ele sobe apressado as escadas comigo. Meu quarto? Jasper pode
estar lá? Eu faço uma careta. Estou bêbada demais para lidar com ele. Ou não
bêbada o suficiente.

— Aqui, — Apollo diz. Ele me coloca no chão e me apoia contra a parede


como uma vassoura enquanto ele procura em seus bolsos. Ele pega um molho
de chaves. O chaveiro costumava ser uma cara de gato peludo. Agora está sujo
pra caralho. Enquanto ele procura a chave certa, começo a deslizar pela
parede. Ele me apoia de volta com um puxão ausente no ombro do meu vestido
e, em seguida, me conduz para dentro do quarto.

— Ei! Já estive aqui antes! — Eu vou para a cadeira mais próxima.

— Claro que sim.

Quando me sento, vejo que ele está saindo.

— Ei onde você está indo?

Ele para na porta, virando-se para mim. Mas então ele fecha a porta sem
responder.

E trava.

Sento-me um pouco mais reta e fico consciente, lembro que estou bêbada
demais para me importar e desmaio no sofá.
Minha mandíbula pulsa, o calor que emana de dentro um contraste
gritante com a bolsa de gelo pressionada contra minha carne machucada.

— Merda, cara. Não podemos deixar ninguém ver você assim, — diz
Apollo.

— Não me diga, porra, — eu estalo, apertando os olhos para ele. Eu estalo


meus dedos no copo que ele deveria estar enchendo para mim, e ele hesita
apenas um segundo antes de enchê-lo com uísque.

— Isso vai bagunçar o plano?

— Eu não sei, Apollo, — eu digo a ele com os dentes cerrados. — Que tal
você perguntar a Cass na próxima vez que o vir?

— Cara, você não pode culpá-lo por isso.

Eu bato meu punho no braço da minha cadeira de madeira.

— Uma Porra, se eu não posso.

— Aqui. — Apollo se apressa com meu copo. Eu engulo e devolvo.

— Apenas me dê a porra da garrafa.

— Sim, certo, — ele ri, pulando para trás e pegando a garrafa como se ele
honestamente pensasse que eu estava em qualquer estado de atacá-lo por isso.

Além dos dois chutes sólidos que Cass deu mais cedo, ele me deu um soco
na mandíbula, na virilha e na porra dos meus rins. Em dobro. Porque a essa
altura, Reuben se apressou para verificar se Trinity estava bem, não dando a
mínima para quem sobreviveu à luta.

Cass sempre foi como um maldito rato encurralado. Você não pensaria
que ele era capaz de dar um soco, e então você está deitado de costas se
perguntando por que as estrelas surgiram no meio da porra do dia.

Tudo porque eu me segurei.

Porque eu pensei que Trinity ainda estava na sala.

Assistindo. Julgando.

Eu bato na madeira novamente, desejando que o braço quebrasse e


rosnando quando isso não acontece.

— Ela acabou. — Eu balanço minha cabeça e aponto para Apollo


enquanto respiro em uma onda de dor. — Muitos problemas de merda.
Amanhã, você pega meu carro, você a joga no porta-malas e você porra...

— O quê, Zach? — Apollo interrompe com um bufo, balançando a cabeça


para mim. — Nós contamos a Gabriel que sua filha vagou pela floresta e foi
pega por ursos? — Seus lábios se contraem e ele passa os dedos sobre a boca
como se pudesse lavar suas palavras.

Um sorriso sombrio se espalha lentamente pelo meu rosto.

— Eu sabia que você não era apenas um rosto bonito.


Eu acordo com o som de vozes abafadas e náuseas intensas. Apoiando-
me nos cotovelos, examino meu ambiente escuro para tentar descobrir onde
estou. Este não pode ser meu quarto. Existem poucas protuberâncias no
colchão. Os lençóis são muito macios. E cheira a Reuben, não a naftalina.

Reuben.

Merda, estou nO lugar dele. Em seu quarto.

E eu preciso vomitar.

Eu deslizo para fora da cama sobre as pernas bambas. O quarto está tão
escuro que eu bato meu joelho contra a lateral da cama enquanto me dirijo
para o contorno brilhante da porta.

Ela abre antes que eu possa alcançá-la. A silhueta de Reuben bloqueia


quase toda a luz.

— Banheiro, — eu digo com uma voz firme.

Ele agarra meu ombro e me puxa para fora do quarto. Tudo é um borrão
até eu chegar ao banheiro, onde tudo que consigo me concentrar é no vaso.

Graças a Deus ele abre a tampa para mim, porque eu mal me curvo antes
de vomitar.

Os dedos roçam minhas têmporas, afastando meu cabelo do rosto. Uma


mão grande e fria acaricia minha nuca enquanto eu vomito minhas entranhas,
estômago e um pulmão.
Eu finalmente balanço sobre meus calcanhares. Reuben está estendendo
uma toalha para mim.

Deliciosamente quente.

Limpo meu rosto com ela e fico com as pernas trêmulas. Ele aponta para
a bacia. Há uma garrafa de enxaguante bucal ali, a pia já se enchendo com
mais água morna.

— Estaremos lá fora, — diz ele, virando-se para a porta.

Apollo se afasta enquanto Reuben se aproxima.

Eu me limpo e limpo o banheiro o melhor que posso e tento ignorar o


fato de que ainda me sinto tonta. Quando entro na sala de estar do quarto de
Reuben, o cheiro de café atinge meu nariz.

Ainda não consigo acreditar que os alunos do último ano consigam uma
acomodação como essa se suas notas forem boas o suficiente. Acho que o
padre Gabriel realmente quer que eu trabalhe de baixo para cima.

Apollo me traz uma xícara.

— Creme e dois açúcares.

Eu não posso deixar de sorrir. É lindo que ele ainda se lembre de como
eu tomo, embora no dia em que ele me viu colocando açúcar eu tivesse me
dado uma dose dupla.

Inferno, provavelmente ainda preciso de energia. Talvez esta se torne


minha dose regular de agora em diante.

— Que horas são? — Eu pergunto, olhando ao redor. As luzes estão acesas


e as cortinas fechadas, mas ainda não parece que é noite.

— Cinco, — diz Reuben. Ele está sentado em um dos dois sofás que
compõem sua área de estar. — Venha sentar.

Seu comando silencioso faz minha raiva crescer. Eu olho para Apollo com
as sobrancelhas levantadas, mas ele apenas me dá seu sorriso torto de
costume.
— Precisamos conversar, — diz ele. Então ele vai buscar outras duas
xícaras de café, entregando uma a Reuben antes de se sentar ao lado dele.

Graças a Deus. Não tenho certeza se ousaria sentar ao lado de algum


deles depois do que aconteceu na biblioteca. Meu peito aperta só de pensar no
que Cass tentou fazer.

De repente, o café não tem um gosto tão bom.

Sento-me no sofá de tecido e rapidamente puxo meu vestido para baixo


quando ele sobe pela minha perna.

— Com frio? — Reuben pergunta, já se levantando antes que eu possa


responder. Ele desaparece em seu quarto e volta com um cobertor de lã que
me entrega sem dizer uma palavra.

Eu jogo no meu colo e dou a ele um aceno agradecido.

— Zach quer se livrar de você, — diz Apollo.

Meu gole de café desce do jeito errado. Eu tusso e quase viro o copo
inteiro sobre mim. Felizmente, ele apenas derrama no cobertor, senão teria
queimado meu vestido. Eu rapidamente coloco a caneca na mesa de café.

— Desculpe?

— Você está causando perturbações, — diz Reuben.

— Perturbação? — Ótimo, agora me transformei em um papagaio.

Apollo acena com a mão.

— Não se preocupe, nós o dissuadimos. Mas a merda ainda está um


pouco tensa agora.

Sério? Achei que Cass tentando me foder na poltrona fosse um dia


normal para esses caras.

Pego meu café novamente. É instantâneo, mas é quente e doce e preciso


de tudo isso agora.

— Você deve ficar fora do caminho dele até que você clone aquele disco
rígido, — Apollo diz antes de dar um gole barulhento de sua xícara.
— Zachary é meu professor de psicologia, —digo secamente. — Eu tenho
uma aula com ele.

— Então faça isso amanhã.

Sento-me para frente, franzindo a testa fortemente para Apollo.

— Como no inferno...?

— É para sua própria segurança, Trinity, — diz Reuben. — Se Zachary


disser que você tem que desaparecer, então...

— Então vocês três farão o que ele disser como bons soldadinhos que
vocês são, certo? — Claro que me arrependo das palavras no momento em que
saem de meus lábios, mas culpo a dor de cabeça e o gosto persistente de bile
em minha boca.

Ah, e não se esqueça das marcas de arranhões que Cass deixou na parte
interna das minhas coxas. Não preciso espiar por baixo da saia para saber que
estão lá. Posso senti-los latejando ao mesmo tempo que minha dor de cabeça.

Reuben abaixa a cabeça e solta um suspiro pesado. Uma risada sem


humor bufa de Apollo, perturbando a superfície de seu café enquanto ele o
levanta para outro gole.

— Como vocês irão fazer isso, hein? Picar-me em carne de hambúrguer?


Bater na minha cabeça e me enterrar em uma cova rasa lá no cemitério?

Apollo franze os lábios.

— Não tinha pensado nisso. — Ele balança o dedo para mim. — Essa é
boa.

Eu olho para ele. — Você não pode se livrar de mim. Gabriel descobrirá e
começará a procurar. Ele vai encontrar você, todos vocês, e então...

Não sei o que acontece então, mas sei que eles vêm tentando evitar isso
há anos, então é uma ameaça tão boa quanto qualquer outra.

Apollo se levanta e se dirige para a cozinha. Tem um micro-ondas, uma


chaleira e algumas bugigangas no balcão. Ele traz de volta o dispositivo com
que Zachary estava brincando antes e o mostra para mim.
— Faça isso amanhã, assim que Gabriel estiver de volta.

— Sim, vou apenas me convidar para o quarto dele, perguntar a ele onde
está seu computador supersecreto e copiar tudo enquanto ele me serve uma
bebida ou algo assim, — murmuro amargamente enquanto pego a caixa de
Apollo. — Ótimo plano, pessoal.

— Vai demorar cerca de cinco minutos para copiar. Essa merda é de alta
tecnologia, — Apollo diz enquanto afunda de volta no assento ao lado de
Reuben. — E nós vamos te ajudar.

— Como? — Bebo meu café enquanto ele e Reuben trocam um olhar.

— Vamos criar um desvio, — diz Apollo. — Você vai para o quarto de


Gabriel, nós faremos o resto.

Abro a caixa e tiro o aparelho antes de pesá-lo na palma da mão.

— Como é que eu vou esconder isso?

Reuben solta um longo suspiro de sofrimento e se levanta, largando a


caneca enquanto passa a mesa de centro a caminho de mim.

— Dê, — diz ele, estendendo a mão.

Eu entrego o dispositivo.

— Sente-se à frente.

Eu faço o que ele diz, mas com uma carranca para Apollo. Ele apenas dá
de ombros, erguendo uma sobrancelha para mim como se não tivesse ideia do
que Reuben está fazendo.

Reuben se agacha na minha frente, um de seus joelhos estalando. Ele


puxa para baixo o corpete do meu vestido e desliza o dispositivo entre meus
seios. Em seguida, ele usa o polegar para alisar o tecido sobre meu esterno.

Eu olho para baixo E então para cima dele.

— Se ele for o padre santo que você diz que é, ele não ficará olhando
fixamente para seus seios para notar, — diz Reuben.
— Não posso usar este vestido com o padre Gabriel. — Apenas o
pensamento faz minhas bochechas esquentarem. O que é estranho, porque o
toque de Reuben não o fez.

— Ele não vai encontrar. — Reuben se levanta, colocando sua virilha


diretamente no nível dos olhos. Eu me sento apressadamente e enterro meu
rosto na minha caneca enquanto tomo um gole.

— Por que vocês estão me ajudando? — Eu pergunto baixinho, olhando


entre eles. — Por que não se livrar de mim como Zachary quer?

Com isso, eles compartilham outro olhar. Apollo abaixa a cabeça,


evitando contato visual. Reuben não diz nada.

— Por quê? — Eu pergunto. — Diga-me.

— Porque já saímos do planejado, — diz Reuben.

— E por mais que Zachary goste de pensar que se livrar de você vai
ajudar, não vai, — acrescenta Apollo.

— Só uma coisa vai, — diz Reuben.

— O que?

— Achar nossos fantasmas, — eles dizem juntos, rostos impassíveis.

****

Apollo vai embora primeiro para verificar se há alguém no corredor.


Enquanto espero Apollo voltar, espio Reuben parado na porta. Ele está
apoiando o ombro no batente, o braço bloqueando meu caminho como se ele
estivesse preocupado que eu fugisse antes que a barra estivesse limpa.

— Obrigado por me ajudar, — eu digo.

Ele olha para mim e então fica surpreso. Eu endureço quando ele estende
a mão para mim, mas é apenas para deslizar o cobertor dos meus ombros.
— Eles fariam perguntas, — diz ele com um encolher de ombros
Apollogético. — Senão, eu deixaria você ficar com ele.

Eu não sei o que aconteceu comigo. Talvez seja o álcool que ainda está
fluindo em minhas veias ou sobrevivendo ao ataque de Cass com minha
virgindade intacta.

Mais provavelmente, é o simples fato de que Reuben sempre foi gentil


comigo. Levando em consideração como seus amigos me tratam, estou
começando a achar que é algo que não deveria deixar de apreciar.

Dou um passo à frente, fico na ponta dos pés e imediatamente percebo


meu erro quando franzo os lábios a uns bons cinco centímetros de sua
mandíbula.

Eu esqueci como ele era alto. Além de beijar o lado do pescoço, não há
outra maneira de expressar minha gratidão.

Minhas bochechas pegam fogo. Eu afundo em meus calcanhares,


deixando cair meu olhar enquanto oro para que a terra me engula.

Uma mão desliza em volta da minha cintura. Antes que eu tenha a chance
de protestar, Reuben me pressiona contra a parede ao lado da porta.

Eu levanto minhas pernas e as envolvo em torno de sua cintura, só para


não cair no chão se ele decidir me soltar.

Mas ele não me deixa cair.

Ele me prende à parede com seu corpo e usa as mãos para tirar meus
cachos dos olhos.

— Eu queria que você não fizesse parte disso. Você é muito inocente para
se envolver nessa merda. Mas então eu não teria conhecido você, — ele
murmura.

Meu coração se contorce quando ele chega perto o suficiente para eu


sentir sua respiração em meus lábios.

— E eu não posso imaginar não ter conhecido você.

Seus lábios esmagam os meus.


Tenho tempo para um suspiro, mas sou arrastada para baixo. Seus lábios
comandantes lutam contra os meus, me incentivando a abrir e deixá-lo entrar,
mas estou com tanto medo de estar fazendo isso errado, de sentir um gosto
nojento, de que ele pare...

Ele faz um som no fundo da garganta. De alguma forma, meu corpo


entende isso como um sinal. A resistência foge. Meus lábios se abrem para
deixá-lo entrar e é como entrar no meio de um rio caudaloso. Em um instante,
sou varrida.

Eletricidade percorre meus lábios conforme nosso beijo diminui.

Segundos, séculos, depois ele se afasta, agarra minha bunda com as duas
mãos e lentamente me abaixa no chão.

Eu caio como uma senhora de espartilho do século XVIII prestes a


sucumbir a um desmaio, e me inclino contra a parede antes que minhas pernas
possam dobrar.

— Vocês dois terminaram? Porque temos que ir. — Apollo está parado a
cerca de um metro de distância, uma carranca profunda vincando sua testa.

Ele viu tudo?

Eu pressiono as costas das minhas mãos contra minhas bochechas


quentes.

— Desculpe, — murmuro, puxando a barra do meu vestido pelas minhas


pernas e deixando cair minha cabeça enquanto corro para fora da porta.

Atrás de mim, Reuben solta uma risada gutural que faz coisas
pecaminosas em meu interior.

****

Eu respiro um suspiro de alívio quando Apollo e eu chegamos ao meu


andar e vejo que o corredor está vazio. A última coisa que preciso é outro
encontro com Cass.
— Obrigado por caminhar comigo, — eu digo.

— Você vai me beijar também? — Apollo pergunta secamente.

Eu paro para franzir a testa para ele, mas ele continua andando. Ele está
com ciúmes porque eu fui legal com a única pessoa que me tratou como um
ser humano?

Eu empurro meus ombros para trás e corro atrás dele, pegando a manga
de sua camisa.

— Você faz parecer que eu saio beijando garotos aleatoriamente.

— Você não faz?

— Reuben tem sido muito legal...

— Muito legal? — Ele olha para mim, seu rosto sem expressão. — Eu
posso ser muito legal também, você sabe.

Eu paro de andar novamente, minha boca trabalhando enquanto tento


encontrar as palavras.

— Muito ciumento? — Eu grito atrás dele.

Ele se vira, os olhos correndo para um lado e para o outro antes de se


estreitar e se fixar em mim.

— Você poderia manter o tom baixo? — Ele diz, balançando a cabeça. —


Estamos tentando ser cautelosos.

Eu lambo meus lábios.

— Desculpe.

— Sim, foda-se, eu também. — Ele acena para a minha porta fechada e,


em seguida, franze a testa duramente para mim enquanto passa por mim
novamente, voltando por onde veio. — O jantar é em uma hora. — Olhos
desaprovadores me examinam. — Eu sugiro que você use algo menos
chamativo.
Ao som da campainha do jantar, engulo um grito de surpresa. Estou no
banheiro lavando meu rosto depois de colocar jeans e um suéter. Não por
causa do que Apollo tinha dito, mas porque toda vez que aquele vestido se
movia contra minha pele, eu pensava em Cass ou Reuben. E isso faria minha
pele arrepiar ou me assustava. E nem sempre em uma ordem lógica.

Devo ter sofrido um colapso de proporções épicas se não conseguisse


manter em linha o que deveria ser bom e o que definitivamente deveria ser
ruim.

Eu saio do banheiro e imediatamente fico para trás enquanto os alunos


correm para o corredor de seus quartos.

Quando a maior parte deles desaparece escada abaixo, eu me misturo


com os poucos restantes em direção ao refeitório, fazendo o meu melhor para
ignorar como eles continuam olhando para mim como se eu fosse uma criatura
que todos pensaram que foi extinta como o dodô8.

A extinção está começando a parecer muito boa.

****

8É uma espécie extinta de ave da família dos pombos que era endêmica de Maurício, uma ilha no
Oceano Índico a leste de Madagascar.
Pela primeira vez desde que cheguei a Saint Amos, há fila para entrar no
refeitório. Eu me inclino para ver além dos meninos em vez de cair na fila.

Meu erro.

— Me siga.

Eu vacilo com a voz de Apollo. Ele está indo na direção oposta da sala de
jantar. Com um olhar casual para trás em minha direção, ele acena para que
eu o siga com um movimento de sua cabeça.

Minha escolha é segui-lo ou ficar em uma longa fila enquanto todos


olham para mim.

Apollo me leva para fora do prédio e depois para os fundos. Acabamos na


porta dos fundos da lavanderia. Ele pega um molho de chaves e destranca a
porta, conduzindo-me para dentro com a mão na parte inferior das minhas
costas.

Em seguida, ele destranca uma porta de metal situada na lateral da sala


ao lado de uma das enormes bacias de aço e me leva para o pequeno pátio em
que eu estava hoje cedo.

Parece que foi há um século.

Ele fecha a porta atrás de nós.

— Veja, eu também posso ser legal, — ele diz bem no meu ouvido.

Um aglomerado de velas ilumina a mesa de concreto e as duas cúpulas


de prata em cima dela. Uma jarra e dois copos estão de um lado das travessas,
gotas de água condensando-se do lado.

— Não poderia arriscar trazer vinho, — ele continua agarrando meu pulso
enquanto passa, me puxando atrás dele. Em seguida, ele tira algo de trás do
cinto. — Mas eu tenho algo para nos manter aquecidos.

Ele me mostra um frasco prateado, toma um gole e o entrega.

Eu aceno para longe.

— Você fez isso por mim?


— As velas denunciam isso? — Ele diz com um sorriso brincalhão.

Eu sorrio, mas então imediatamente transforma minha expressão em


desinteresse. Aposto que ele espera um beijo por tanto esforço.

Bem... é meio romântico, com as velas e tudo. Afasto o pensamento,


ignorando o calor rastejando em minhas bochechas.

Eu realmente sou uma vagabunda blasfema.

— Vamos? O que você acha?

— É lindo, obrigada.

Há um brilho malicioso em seus olhos. Ele está planejando algo ou é


apenas a luz de velas?

Apollo me oferece o cantil novamente. Desta vez, não digo não.

****

Apesar de não ter me convidado, Eu estou aqui para o que presumo ser
algum tipo de encontro, Apollo não diz mais nada até que nossos pratos
estejam vazios. O jantar é acompanhado por grilos cantando nos cantos
escuros do pátio, enquanto os talheres arranham a louça.

Apollo sorri para mim enquanto recolhe nossos pratos vazios e afasta o
cabelo dos olhos com um aceno de cabeça.

— Eu já volto, — diz ele antes de desaparecer na cozinha.

Eu inclino o frasco contra meus lábios, limpando minha garganta depois


que o líquido ardente queima seu caminho em meu estômago enquanto eu
considero meu próximo movimento. Eu poderia usar esse tempo sozinha com
Apollo a meu favor. Ele deve saber como Zachary e Reuben acabaram no
porão. Posso persuadi-lo a me contar?

Apollo volta com duas tigelas e coloca uma ao meu lado. Eu agarro sua
calça jeans antes que ele possa se afastar. Ele os usa largos, mas felizmente
eles não estão caindo no meio de sua bunda como alguns dos meninos que eu
vi no shopping.

— Por que você não vem sentar aqui? — Dou um tapinha no banco de
pedra mais próximo de mim. Ele hesita e, em seguida, coloca sua tigela ao lado
da minha antes de se sentar.

Ele me estuda com uma pequena carranca.

Não tenho experiência em sedução, mas acho que há uma primeira vez
para tudo. Eu cavo minha colher na minha musse de chocolate e levo-a aos
lábios.

Ele apenas continua olhando para mim.

Minhas bochechas ficam mais quentes quanto mais ele me deixa


pendurada. No momento em que ele se move, sinto que estou derretendo.
Mas, felizmente, ele finalmente se abaixa e limpa minha colher.

— Rube não é um cara legal, — ele diz enquanto se inclina para trás e tira
o cabelo do rosto.

— Eu não disse nada sobre...

— As pessoas presumem muito. — Ele aponta para mim. — Pessoas como


você. — Ele aponta para a tigela de mousse e abre a boca para outra porção.

Eu resisto à vontade de enfiar a colher em sua garganta.

— Me desculpe, eu sou tão transparente. E você está certo. Acho que


Reuben é realmente um cara legal.

Ele ri de mim.

— Isso é porque ele está praticando ser bom há anos.

— Bem, ele definitivamente pegou o jeito, — eu digo, outra colher cheia


acompanhando a declaração. Meu coração bate um pouco mais forte. — Como
é que ele acabou aí? Ele também foi sequestrado?

— Ele não saiu exatamente vagando pelas ruas, não é?

Eu franzo a testa, mas não tenho a chance de falar.


— Escute, coisa bonita. Há algo que você precisa entender sobre nós. Não
somos apenas um 'bando de amigos'. — Suas aspas no ar estão repletas de
condescendência. — Algo aconteceu conosco naquele porão. — Ele
rapidamente levanta a mão, como se esperasse que eu o interrompesse. —
Além e acima de um bando de pedófilos repetidamente enfiando seus paus em
nós.

Minha pele fica fria com suas palavras insensíveis.

— Eles nos quebraram, Trin. — Sua voz fica grossa e áspera. — Nos
quebraram em um milhão de pedaços de merda. Mas nós nos escolhemos, um
ao outro.

Sua tristeza corta os nervos da minha mão e minha colher tilinta quando
atinge a lateral da tigela. Apollo pega a colher sem perder o ritmo.

— Acho que misturamos algumas dessas peças quando as pegamos. —


Ele pega uma colher de musse. Eu meio que esperava que ele comesse, mas
em vez disso ele o traz aos meus lábios.

Ficamos assim por um instante, ele olhando nos meus olhos enquanto
sou sugada de volta para os seus.

Olhos tão profundos, escuros e sombrios como o fundo de um poço.

Eu como a musse. Ele continua falando.

— Então, quando juntamos as peças, também conseguimos um pouco um


do outro. — Ele franze a testa com força quando a musse começa a derreter na
minha boca. — Isso faz sentido?

Eu aceno, porque sim.

Faz tanto sentido que me assusta.

Isso explica por que eles estão tão próximos. Os horrores que
experimentaram, eles compartilhavam, os tecia juntos como um tapete. Esses
fios, fortes por si próprios, tornaram-se ainda mais fortes.

Ele pega mais mousse e traz para perto, mas não perto o suficiente.

Eu me inclino um pouco.
— Nós não somos amigos. Somos irmãos. Uma irmandade. E a única
maneira de você entrar furtivamente é se permitirmos. — Apollo passa a
musse na minha boca com um movimento de sua mão.

Seus olhos caem para meus lábios.

Estendo a mão instintivamente para limpá-lo, mas ele agarra meu pulso
e o puxa para seu colo. Então ele se inclina para frente e chupa a musse dos
meus lábios.

O calor inunda meu corpo.

Tento me inclinar para o que acho que é um beijo, mas ele deixa cair a
boca no meu queixo, depois no lado do meu queixo, depois na minha orelha.

— Há outra coisa que você deveria saber, linda.

Eu congelo com o tom sinistro em sua voz. Ele move minha mão mais
profundamente em seu colo, até que eu escovo contra algo longo e duro.

Ele belisca minha orelha.

— Nunca teremos ciúmes um do outro, porque sempre compartilhamos


nossos brinquedos.
Estou olhando para o teto mais tarde naquela noite, brincando com meus
cachos enquanto tento dar sentido ao dia, quando Jasper entra em nosso
quarto.

Passei muito tempo acordada nas últimas semanas, enquanto todo


mundo estava dormindo com os pensamentos girando em volta da minha
cabeça como água descendo pelo ralo.

Nunca fica menos frustrante, especialmente quando sei que o sono pode
me levar ao esquecimento pacífico por algumas horas.

— Ei, — eu o cumprimento, apoiando-me nos cotovelos.

Jasper caminha rigidamente até sua cama, se ajoelha no colchão e se


abaixa de costas para mim.

— Tudo certo? — Eu pergunto. Fingir não saber o que aconteceu com ele
é tão difícil quanto mentir sem rodeios.

— Ótimo pra caralho, — ele murmura de volta.

Eu estremeço em simpatia e então fico feliz que esteja escuro e ele não
esteja me olhando, porque provavelmente eu teria me denunciado.

Minha pomada ainda está na minha gaveta de cima. Devo omitir e torcer
para que ele perceba ou Miriam deu a ele seu próprio frasco?

Vinte chicotadas.

Deveria ter trinta.


Ninguém pode sobreviver a trinta.

Porra.

— Eu sei que você tem chicotadas, — Jasper diz.

Eu me sento reta.

— O que, por que você acha isso?

— Pelo o desenho, — ele diz sem se virar para mim.

Meu coração de repente está batendo muito rápido.

— Que desenho?

Jasper manobra ao redor até que ele esteja de frente para mim. Se não
fosse pelo luar que entra pela nossa janela minúscula, eu não o teria visto
revirando os olhos para mim.

— Aquele de Rutherford transando com você.

Eu não digo nada enquanto minhas bochechas começam a esquentar.

Eu tinha esquecido da brincadeira de Cass.

— Sim. E daí?

— Ele gosta, você sabe.

— O quê, o desenho?

— Bater nas pessoas, — Jasper diz através de um suspiro de cansaço do


mundo. — Ele gosta disso.

Ele... o quê? Já ouvi coisas estranhas antes, mas isso? Não faz sentido. E
Zachary pode ser frio e calculista, mas... um sádico?

— Eu não acho que ele...

— Ele adora bater nas pessoas tanto quanto odeia gays. — O branco dos
olhos de Jasper brilham no brilho prateado da lua. — Se você não acredita em
mim, tente dizer a ele que você é lésbica. Você não vai ficar sentada por uma
semana.

Jasper se vira novamente.


Mesmo se eu pudesse falar, o que diabos eu deveria dizer sobre isso?

Eu preciso de ar.

Já estou de pijama, calça de ioga e um top, então pego meu roupão


enrolado no pé da cama, onde mantém meus pés aquecidos nesta caixa de gelo
de um quarto, enfio meus pés nas botas forradas de plush que uso como
chinelos e saio arrastando os pés pela porta.

Por um tempo, depois do jantar, houve bastante tráfego no corredor.


Meninos indo e vindo rindo e brigando. Mas agora todas as portas estão
fechadas e a passagem está silenciosa.

Cass apareceu cerca de meia hora depois que eu fui para a cama. Foi a
primeira vez que o ouvi chamar de 'luzes apagadas' desde que cheguei. Eu
quase me urinei com o pensamento de que ele iria entrar no meu quarto, mas
acho que ele não arriscaria no caso de Jasper estar lá.

Eu uso o banheiro antes de voltar para o meu quarto.

Sinto pena de Jasper. É uma pena que ele e Perry tenham acabado em
um lugar como este, onde o relacionamento deles é considerado um pecado
capital. Eu gostaria de poder dizer a ele que Zachary não se sente assim.

Talvez Jasper e Perry possam ser abertos sobre quem eles são quando
deixarem Saint Amos. Nunca tive problemas com a sexualidade de outras
pessoas. Se você ama alguém, realmente ama alguém, coisas como gênero não
deveriam importar.

Essa é a única coisa que admiro em meus pais. Você poderia dizer que
eles eram totalmente dedicados um ao outro. Eles não eram amantes
apaixonados ou algo parecido, eu só os ouvi fazendo amor uma vez, e durou
apenas alguns minutos. Mas eles passaram todos os momentos que podiam
juntos. Acho que os abortos de minha mãe os aproximaram. Aconteceram
muito antes de eu nascer, mas tenho certeza de que prejudicaram o
casamento. Felizmente, eles tentaram uma última vez antes que ela fizesse
uma histerectomia, senão eu não estaria aqui.
Ouvi-los contar sobre isso, Deus foi quem os viu durante aqueles tempos
sombrios.

Acho que foi amor. Um amor tão forte que poderia sobreviver a qualquer
coisa. Eu acho que não deveria estar surpresa que eles escolheram um ao
outro, e Deus, em vez de mim na noite do acidente. Nunca fui incluída nesse
triângulo amoroso, porque nunca fui tão dedicada à fé deles como eles.

Não foi por falta de tentar. Mas não importa o que eu fizesse, nunca
parecia certo.

O padre Gabriel sempre tentava me envolver em conversas sobre Deus


quando ele vinha me visitar. Ele foi sutil sobre isso, e eu dou crédito a ele por
isso. Mas mesmo ele nunca poderia me convencer.

Eu ainda ia à igreja, é claro. Eu ainda orava quando todo mundo o fazia.

Gabriel volta amanhã.

O pensamento fez meu pulso bater um pouco mais rápido.

O que eu faço se descobrir que tudo o que a Irmandade está me dizendo


é besteira? Gabriel ainda me tomaria sob sua proteção depois que eu
duvidasse dele? Ou ele agiria como fez todas aquelas vezes que eu saí e disse a
ele que não acreditava?

Eu não aguento ver aquela decepção em seus olhos novamente.

Agora não. Não depois de tudo.

Eu passo pela porta do meu quarto sem parar.

Não sei se posso arriscar machucar meu único amigo. Preciso me decidir
sobre Zachary e seus irmãos antes que Gabriel volte.

Só posso pensar de uma maneira para fazer isso.

Eu empurro meus ombros para trás, respiro fundo e começo a descer as


escadas.
Perdi o controle hoje.

É a garota.

Trinity tem o talento de derrubar as paredes que construí


meticulosamente em volta do meu coração sombrio. Quando ela está por
perto, não consigo esquecer o quão fodido estou.

Por causa dela, perdi o controle. Agora a escuridão não me acalma como
deveria, nem o baseado que acabei de fumar me envolve em sua névoa
entorpecente de costume.

Sinto-me mal, mas não fisicamente. Em tempos como este, é como se a


doença em minha mente fosse um câncer de verdade, se espalhando
lentamente pelos meus neurônios.

Infectando. Enfraquecendo. Matando.

O que vai acontecer quando minha sanidade acabar? Quando não há


mais nada em que se agarrar? Quando não consigo desacelerar o relógio?

As coisas que fiz hoje deveriam me dar mais tempo. Mas em vez de zerar
aquela contagem regressiva fatídica marcando os minutos até meu próximo
colapso, tudo o que fiz hoje acelerou.

Machucando Cassius.

Nossa briga.

Punindo Jasper.
Estou particularmente chateado com esse último. Deveria ter sido
Miriam, aquela comissária do arrependimento justo, distribuindo sua
punição. Mas eu pensei que isso iria domar o demônio que estava arranhando
seu caminho do inferno através do meu corpo, então eu fiz em vez dela.

Eu bati nele uma e outra vez, punindo-o por algo que não considero um
crime.

Ouve-se um leve ruído de fora.

Algum dos meus irmãos voltou para o nosso ninho? Eles sabem que não
devem me incomodar quando eu estou nas trevas.

Algo pode ter acontecido. Alguma coisa importante.

Ou talvez eles precisem tanto de solidão quanto eu agora. Rube vem aqui
para o sossego às vezes. Apenas se senta no sofá e encara o nada enquanto
esfrega o polegar sobre o rosário.

Não é mais dele.

Mas isso muda alguma coisa?

Tenho que me levantar e enfrentar o que quer que seja, seja quem for,
mas ainda não confio em mim mesmo.

Talvez eu nunca vá.

A luz laranja de uma das lâmpadas do outro lado da divisória se espalha.

Algo está errado.

Meus irmãos sabem que a escuridão me acalma. Eles podem se atrever a


chegar perto, mas eles não correm o risco de me provocar.

Eu me recomponho, chamando de volta os tentáculos da minha mente


dos lugares distantes para onde eles derivam quando eu não os mantenho
contidos. Requer esforço e tempo.

A essa altura, posso ouvir ruídos suaves quando o invasor começa a caçar.
As latas chocalham. As roupas farfalham.
Eu me sento e coloco minha cabeça entre os joelhos por um momento. O
ar frio desliza contra minhas costas nuas enquanto respiro fundo e tento me
concentrar antes de me levantar.

Eu sigo para a borda da cortina, o chão acolchoado mascarando meus


passos, e me aproximo ao som de uma lata batendo. Deslizando um dedo atrás
da cortina, eu a separo o suficiente para ver um pedaço da sala além.

Meu peito aperta dolorosamente.

De repente, estou muito ciente do lento baque-baque do meu coração.

Ela não deveria estar aqui.

Eu não deveria ir lá fora.

Ela é uma rajada de ar quente para as brasas brilhantes da minha mente,


e tudo ao nosso redor é mero estilhaço.

Mas acho que gosto das chamas, porque saio da escuridão de qualquer
maneira.

Sempre gostei das chamas.


Não há nada aqui. Achei que eles teriam escondido coisas entre suas
roupas e revistas pornôs e bebidas e cigarros.

Mas não há nada. Nada!

Tudo aqui tem um propósito. Nem um único objeto é decorativo ou


sentimental.

É assustador pra caralho.

Acho que foi estúpido da minha parte pensar que eles deixariam algo
incriminador por aí.

Estou prestes a sair quando vejo a ponta de um livro sob uma pilha de
roupas.

Minha bíblia.

Eu o puxo para fora, correndo minha palma sobre a capa enquanto traço
as letras em relevo com meus dedos.

Estou prestes a abri-lo e tirar a foto do meu pai que espero que ainda
esteja lá dentro quando os cabelos na minha nuca se arrepiam.

— Encontrou algo interessante? — Zachary pergunta, sua voz a


centímetros do meu ouvido.

Eu me viro com um suspiro estrangulado, segurando a bíblia grossa


contra o meu peito como um escudo. Mas cai dos dedos nervosos quando vejo
seu rosto.
Ele a pega distraidamente antes que caia no chão e o coloca na prateleira
atrás de mim.

Olhos mortos da cor de algas de lago me olham por longos momentos


antes de ele se inclinar para frente e apoiar as palmas das mãos na prateleira.
Primeiro uma mão, depois a outra, me encaixando.

É estranho vê-lo sem camisa em um par de jeans. Parece errado. Um tipo


de erro pecaminoso. Mas quando tento desviar o olhar, minha visão vai para
a tatuagem em seu peitoral antes que eu possa me forçar a encará-lo. A
combinação daquela tatuagem sinistra e seus olhos mortos é arrepiante.

— Eu estava...

— Perdida? — Ele grasna enquanto estreita os olhos. — Só olhando?


Espionando? Diga-me se estou esquentando.

Estou tremendo por dentro. Sua proximidade, sua intensidade... é


demais. Eu mal consigo respirar. Mas em vez de inclinar minha cabeça e
implorar por perdão, eu empurro meu nariz no ar e olho para ele.

— Estou acreditando na sua palavra sobre tudo isso, — eu digo. Eu


levanto um dedo. — Você não poderia me dar um resquício de prova. Mas
estou disposta a dar uma chance a vocês, de qualquer maneira.

— Mentirosa. — Ele solta um longo suspiro que muda mechas de cabelo


contra meu rosto. Ele se abaixa, inclinando-se até que seu nariz está quase
roçando o meu. — Se você acreditasse em nós, estaria confortável em sua
pequena cama agora, não vagando por aí enfiando o nariz onde não pertence.

Tenho que arrancar minha língua do céu da boca antes de poder falar.

— Foda-se! Eu pertenço aqui.

Nós franzimos a testa um para o outro.

— Quer dizer, tenho todo o direito de estar aqui. Tenho todo o direito de
fazer perguntas. Você não pode esperar uma fé cega de mim.
Ele joga a cabeça para trás e ri. Quando ele olha para mim novamente,
meu corpo fica frio. Aquela risada maluca não adicionou um único grau de
calor a seus olhos mortos.

— Você honestamente acha que vivemos em um mundo onde você tem


direitos? — Ele se arqueia contra mim, pressionando-me contra o cume da
prateleira. Eu estremeço, mas rapidamente aliso meu rosto.

Não demonstre o que está sentindo, Trinity. Cass disse que eles podem
me ler como um livro? Bem, é hora de fechar a maldita capa.

— Claro que tenho...

— Errado, — ele corta, agarrando meu queixo. — Este é o mundo real. E


no mundo real, você não é especial, Trinity. — Seus olhos ficam semicerrados.
— Nenhum de nós é.

Eu agarro seu pulso. Ele é muito forte para eu puxá-lo, mas pelo menos
assim posso sentir seu pulso.

Deveria estar batendo forte, como o meu.

Mas é uma calma mortal.

O medo penetra profundamente em mim e começa a se contorcer em


meus intestinos como uma cobra gorda.

Eu esperava que ninguém estivesse aqui. Eu poderia jurar que eles


disseram que era arriscado ficar aqui. Que todos voltaram para os dormitórios
à noite. Mas eu acho que ele não poderia voltar cheirando a maconha e bebida
como ele faz. Ou com aquele hematoma arroxeado na mandíbula. Ele não está
em condições de ser visto fora dessas paredes.

E não estou segura aqui com ele.

— Eu deveria ir, — eu digo.

— Você nunca deveria ter vindo. — Ele se abaixa, seu brilho me


prendendo como uma borboleta em um quadro de cortiça. — Diga-me,
garotinha, por que você veio?
Ele veria através de mim se eu mentisse. E, honestamente, quanto pior
eu poderia fazer isso?

— Porque eu não confio em você. Qualquer um de vocês. — Eu engulo em


seco e reúno toda a coragem que me resta. — Mas você pode mudar isso. Diga-
me. Conte-me tudo.

Seus lábios se curvaram em um sorriso sombrio.

— Tudo? — Ele murmura.

Ele coloca um cacho atrás da minha orelha antes de arrastar os dedos


pelo meu queixo. Não deveria, mas aquele toque envia um arrepio pela minha
espinha.

Pode ser o medo disfarçado de outra coisa, mas tenho a sensação de que
não é. Estou presa na cova do leão e, em vez de procurar uma saída, estou
cutucando a porra do leão.

Sei que o padre Gabriel não é capaz de machucar ninguém. Mas isso não
importa para a Irmandade, importa? Fui atraída para a guerra deles, apesar
dos meus protestos.

Não tenho escolha a não ser lutar, mas primeiro vou me certificar de que
estou do lado certo da linha de batalha.

— Você não aguentaria ouvir o que aconteceu conosco em um dia, não


importa os anos que passamos lá, — diz Zachary.

— Nós? Sempre somos nós. — Eu o cutuco bem entre as presas gotejantes


de sua tatuagem de cobra. — Eu quero saber sobre você. Eu quero saber que
tipo de pessoa você é. De que outra forma posso confiar em você?

Ele ri.

— Você quer saber que tipo de pessoa eu sou, Trinity?

O único aviso que tenho é a escuridão sombreando seus olhos enquanto


ele examina meu corpo.

Zachary me agarra, me gira, me empurra.

Duro.
Eu caio sobre o braço do sofá, mal me impedindo de pular no chão.
Esperando que ele me atacasse, talvez até tente o que Cass tentou, eu me sento.
Mas ele apenas fica parado me olhando, com o peito arfando como se tivesse
feito três rounds com o campeão mundial.

— Eu costumava pensar que era uma boa pessoa, quando era criança. —
Suas mãos se fecham em punhos e se abrem novamente quando ele se
aproxima. — Pensei em me tornar algo grande. Astronauta, doutor. As merdas
usuais que as crianças fantasiam.

Em minhas fantasias, eu era uma bailarina. Mas meus pais deixaram


claro que a única carreira que aprovavam era eu me tornar esposa e,
eventualmente, mãe de alguém.

Isso não me incomodou muito. Eu provavelmente era muito baixa para


ser uma bailarina de qualquer maneira.

Zachary se move para a frente do sofá. E fico exatamente onde estou,


porque pela primeira vez desde que o pressiono por informações sobre seu
passado, estou realmente conseguindo o que quero.

Então, em vez de fugir, eu puxo minhas pernas em meu peito, me


abraçando enquanto ele fica na minha frente.

Ele gosta de elevar-se sobre as pessoas? Meu pescoço já está doendo de


esticar para olhar para ele.

— Então o que aconteceu? O que mudou?

Havia um leve sorriso em sua boca. Ele desaparece conforme suas mãos
se desenrolam lentamente novamente.

— Você realmente quer saber?

Eu concordo.

Ele inala profundamente e deixa escapar tudo como um longo suspiro


pelo nariz.

— Há algo que eu também quero.

Seu sorriso retorna.


Eu gostaria que não tivesse.

Isso faz meu estômago embrulhar.

— Mas você não vai gostar.


Ninguém jamais demonstrou tanto interesse pelo meu passado. Meus
irmãos já sabem de tudo, e não somos exatamente o tipo de pessoa que fica
sentado em volta de uma fogueira trocando histórias. Não qualquer uma que
mencione o porão, de qualquer maneira.

Então, qual é o motivo oculto dela? Por que ela ainda está aqui?

— Combinado? — O fato que eu daria a ela uma chance de desistir me diz


muito.

Ela acena com a cabeça.

É possível que Trinity não compreenda totalmente o que ela concordou.


Não porque ela seja burra, longe disso, mas porque ela é literalmente ingênua.

— Levante-se.

Ela se levanta, seus olhos não ficam nos meus por mais de um segundo
antes de piscar para longe.

Ela deve estar nervosa.

Eu me movo para trás do sofá e dou um tapinha no encosto de cabeça.


Ela se endurece visivelmente, levantando o queixo e empurrando o peito antes
de seguir.

Quando ela está perto o suficiente, eu agarro seus quadris e a empurro


para o encosto do sofá. Meu pau endurece com seu suspiro de surpresa. Ainda
está muito longe de ser duro, mas apenas o pensamento do que estou prestes
a fazer com sua doce e inocente bunda faz meu corpo se preparar.
— Se segure firme.

Ela hesita e depois abre os braços, cravando os dedos na almofada do


encosto de cabeça.

— Como isso...?

Pego seu roupão e o tiro de seus ombros, deixando-o cair aos seus pés.
Quando pego o cós de sua calça de ioga, ela tenta se afastar, mas um empurrão
nas costas a mantém no lugar.

— Eles têm que sair? — eEa pergunta com uma voz firme.

— Obviamente. — Eu puxo para baixo suas calças, expondo sua calcinha.


Meus dedos coçam para mergulhar dentro de sua calcinha, para tocá-la..., mas
não foi isso que combinamos.

Eu poderia ter deixado as calças dela em volta dos joelhos, mas em vez
disso, as puxo para baixo até os pés. Eu tiro suas botas e tiro suas calças,
jogando-as sobre o encosto do sofá.

Quando toco o elástico de sua calcinha, ela fica rígida.

— Por favor, — ela murmura. — Deixe-me ficar com elas.

Eu deveria ter roubado, mas luto contra o desejo. Essa fina película de
tecido é irrelevante. Se eu quiser admirar minha obra, poderei fazer isso
quando terminarmos.

— Abra suas pernas.

Quando ela não obedece, eu as chuto abrindo para ela. Eu corro a mão
sobre a curva de sua bunda e, em seguida, subo sua bochecha rechonchuda,
massageando a carne abaixo.

Ela muda novamente.

— O que você está fazendo?

Não estou prestes a educar essa garota sobre os meandros da surra.

— Essa é a sua primeira pergunta?

Ela estremece sob minha mão enquanto balança a cabeça violentamente.


Meu pau endurece ainda mais.

Eu tiro meu cinto, desejando me mover lentamente para que eu possa


aquecer sua carne fria e trazer sangue suficiente para a superfície.

É surpreendentemente difícil não se apressar nessa parte. A expectativa


de machucá-la está me fazendo salivar.

Eu dobro meu cinto ao meio e depois de novo. Eu me aproximo dela, meu


pau agora tenso roçando a curva de sua bunda enquanto eu alcanço e abro sua
mandíbula com meus dedos.

— Morda.

— Não posso fazer minha pergunta primeiro?

Eu bato em sua bunda com a palma da minha mão.

Ela solta um grito indignado e me encara por cima do ombro. Eu levanto


minha mão, mostrando a ela minha palma avermelhada, e sua carranca
desaparece um pouco. Ela abre a boca e aceita o cinto quando eu o coloco entre
seus lábios rosados.

— Olhe para a frente.

Normalmente, eu não ficaria incomodado se ela estivesse fazendo


contato visual ou não, mas não posso fingir que ela é uma submissa se ela
continuar me olhando assim.

— Isso, então sua pergunta.

Quando ela não diz nada, bato em sua bunda novamente.

— Eu preciso de um sim, garotinha.

Seus ombros enrijecem, mas ela não protesta contra o xingamento.


Talvez ela esteja finalmente começando a aceitar o negócio fodido que fez
comigo.

Em breve, ela vai me implorar para parar, e tudo isso vai acabar.
Perguntas sem resposta, vou mandá-la de volta para seu dormitório, um medo
recém-descoberto embutido dentro dela.
Bem no fundo dela.
Em que diabos eu me meti? Trocando tapas por informações? Você
poderia jurar que eu caí de cabeça quando era criança. Do terceiro andar.

Minha bunda já está latejando das duas palmadas que Zachary deu. Eu
não sei como a porra devo sobreviver mais.

Mas não é isso que mais me incomoda. Se eu não soubesse melhor,


juraria que isso estava me excitando.

O que é ridículo, claro. O que diabos é sexy em ter um cinto enfiado na


minha boca? Ou a maneira como estou babando no couro? Ou o fato de que
estou parada aqui de calcinha, esperando que ele comece a me espancar?

Mas se isso é o que necessário para obter as respostas de que preciso...

Meus dentes afundam no cinto de Zachary quando um tapa forte atinge


minha bunda. Estou tão surpresa que nem grito.

Virando minha cabeça, eu o encaro com olhos chocados. Estendo a mão


para tirar o cinto da boca para poder dizer que ele está me batendo com muita
força, mas não vou muito longe.

Eu pego um vislumbre da luxúria escura em seus olhos semicerrados


antes que ele agarre minha nuca e me empurre para baixo novamente.

Na próxima vez que sua mão se conecta com a minha bunda, eu grito.

Quando eu começo a me contorcer, ele aperta meu pescoço com força.

Tapa. Tapa. Tapa!


Eu grito sem palavras e agarro seu pulso, tentando puxar sua mão do meu
pescoço para que eu possa me endireitar.

Ele dá um passo para trás e eu me levanto cambaleando.

Pego minhas calças de ioga do encosto do sofá. Ele não me impede.


Minha respiração engata enquanto tento ignorar as picadas nas minhas
nádegas.

— Porra!

— Tudo bem aí, garotinha?

Eu faço uma careta para ele.

— Isso foi cinco, — eu digo a ele sem fôlego. Bem, tecnicamente foram
sete, mas tenho a sensação de que os dois primeiros não contaram.

— Então faça sua pergunta.

Eu lambo meus lábios.

— Como você acabou no porão?

Uma enorme ereção se projeta atrás de sua calça jeans.

Como alguém pode gostar de machucar outra pessoa? Mesmo que eu


tenha dito sim, isso é... é uma merda.

Eu acho que Jasper estava certo. Zachary é um sádico.

Ele inclina um pouco a cabeça.

— Muito vago.

Eu franzo a testa para ele enquanto deslizo a mão fria por trás da minha
calcinha. Minha pele fica quente ao toque e pica quando a toco. Quanto vai
doer colocar minhas calças de volta? Por enquanto, eu as mantenho agrupadas
contra meu estômago.

— Quem te levou lá, para o porão? Como eles te pegaram?

— São duas perguntas.

Eu cerro meus dentes.


— Quem o levou para o porão?

Um olhar afetuoso cruza seu rosto.

— Meus pais.

— O quê?

— Essa é a sua próxima pergunta?

— N-Não. Mas... você tem que explicar. Quero dizer... seus pais?

Ele avança, agarra meus quadris e me vira. Eu agarro seus braços


enquanto ele tenta me prender, mas de alguma forma, ele segura meus pulsos
e os segura contra minhas costas.

Quando ele abre minhas pernas de novo com um chute, meu estômago
embrulha.

— Não, espere!

— Tantas perguntas, garotinha, — ele diz, sua voz mal alterada pelo
esforço de me manter no lugar. — Parece que vamos ficar aqui a noite toda.

Não há cinto na minha boca quando ele me dá um tapa. Meus dentes


apertam por instinto, e eu mordo o interior do meu lábio inferior. Um filete de
sangue escorre em minha boca.

Soltei um grito ao estilo de Hollywood que é parte raiva, parte agonia.

— Jesus fodido Cristo, — ele murmura, se afastando de mim.

Eu me viro apressadamente, pronta para afastá-lo se ele tentar me


prender novamente.

— Dê o fora daqui, — ele rosna enquanto se inclina para pegar o cinto do


chão. Ele o passa por cima de sua calça jeans e o afivela antes de apontar para
a saída, uma sobrancelha erguendo-se em um comando silencioso.

Minha boca funciona por um segundo antes de encontrar as palavras.

— Não, mas...

— Você obviamente não tem estômago para essa merda, — diz ele, dando
um passo tão perto que sua ereção roça minha barriga. — Dê. O. Fora. Porra.
Eu mantenho minha posição, mas por pouco. Cada molécula do meu
corpo quer que eu fuja, mas minha mente continua girando nessas duas
palavras. Não vou conseguir dormir até saber mais.

Os pais dele.

Seus pais?

Eu engulo em seco e forço meu queixo.

— Nós tínhamos um acordo.

Ele bufa melancolicamente pelo nariz.

— Há uma linha tênue entre bravura e estupidez.

— Não estou sendo corajosa ou estúpida, — respondo. Sem tirar meus


olhos dele, e enquanto tento ignorar o fato de que minhas mãos estão
tremendo, eu agarro a frente de seu cinto e começo a desafivelá-lo.

Ele baixa os olhos, observando meus dedos trabalharem. Então ele me


estuda através de cílios escuros e grossos.

— Que porra você está fazendo?

— Nós tínhamos um acordo.

— Não com um cinto. Você está longe de estar pronta para esse tipo de
punição.

Por alguma razão insondável, minhas entranhas pulsam com a maneira


como ele diz essa palavra.

Punição.

Eu não tinha certeza antes, mas agora tenho. Essa coisa que ele está
fazendo comigo? Isso está me excitando. Não entendo, nem acho que seja
possível, mas nada mais pode explicar a forma como estou formigando lá
embaixo. Quando me movo, posso sentir como estou ficando molhada.

— É para que eu não grite, — digo baixinho depois de outro engolir em


seco. — A menos que você queira usar minha calcinha de novo?

Suas sobrancelhas se juntam.


— Tentador, mas não.

Antes que eu possa me afastar, ele agarra meu lábio inferior e o puxa para
baixo.

— Algo para morder funciona melhor.

Eu aceno com a cabeça como se já soubesse disso e puxo seu cinto livre
de suas calças. Eu o dobro como ele fez e o seguro a uma polegada de meus
lábios.

— Pronta quando estiver.

Ele levanta a cabeça enquanto fecha a distância entre nós, seu pau agora
pressionando com força na minha carne macia. Tento ignorar, mas isso só
atiça o fogo que já está crescendo em meu núcleo.

Suas mãos deslizam pelas minhas costas e descem até a minha bunda.
Eu estremeço quando ele começa a massagear minha pele. Então meus olhos
se fecham.

A pressão calmante alivia a picada e envia ondas deliciosas pelo meu


corpo.

Quando sua respiração aquece meu rosto, eu olho para ele. Ele está me
observando.

Com fome.

Nervoso.

Mas triste.

Tão triste.

E preciso saber por quê.

Eu coloco seu cinto entre meus dentes e lentamente me viro em seus


braços.

Suas mãos percorrem minhas curvas. Ele enganchou um dedo atrás do


elástico da minha calcinha e puxou para baixo até o vinco onde minha bunda
encontra minhas pernas. Em seguida, ele dá um passo para trás, deixando o
ar fresco circular sobre minha pele exposta.

Eu me apoio no encosto do sofá e mordo o cinto.

Tapa.

O ar sibila pelos meus dentes enquanto eu respiro dolorosamente. A


picada que se segue ao tapa é imediata e brutal.

Tapa. Tapa. Tapa. Tapa.

Lágrimas picam em minhas pálpebras bem fechadas e eu franzo o rosto


com o esforço de não gritar ou deixar as lágrimas caírem.

Dedos roçam meu queixo. Eu relutantemente abro minha boca e deixo


Zachary tirar o cinto de entre meus dentes.

— Sua pergunta.

Tento me concentrar em qualquer coisa, menos na dor, mas parece


impossível de ignorar.

— Espere, — murmuro, minha respiração acelerando.

— Agora, garotinha. — ele acaricia minha bunda, enviando lambidas


ardentes de dor sobre minha pele. Eu assobio e tento me afastar, mas não há
nenhum lugar para ir comigo imprensada entre seu corpo e as costas do sofá.
— Agora.

— Seus pais, — eu digo entre os dentes enquanto meus dedos cavam no


sofá. — Por que eles mandariam você para o porão?

É a primeira coisa que consigo pensar. O primeiro pensamento lógico dos


milhares flutuando sem rumo por uma mente que está se desfazendo dessa
dor extraordinária.

A mão de Zachary faz uma pausa. Ele me aperta e eu fico na ponta dos
pés enquanto suspiro de dor.

Eu não entendo isso. Eu tive dez chicotadas, mas elas não eram nada
assim. Eles doem mais, mas isso... esse é um tipo diferente de dor. Tem todas
essas camadas que eu não entendo. Tenho vontade de chorar, mas não porque
dói, mas porque...

Porque Zachary está sofrendo, e posso sentir isso.

Eu posso sentir sua dor.

— Boa pergunta. — Zachary começa a massagear minha bunda


novamente. — E não sei se tenho a resposta certa para você.

— O quê? Isso não é... — Eu cortei quando seus dedos pararam a alguns
centímetros da minha entrada. Até agora ele estava se mantendo bem longe
da bagunça quente e formigante entre minhas pernas.

— Não tenho certeza se é a resposta certa, porque não consigo olhar


dentro de suas cabeças, — diz ele.

Ele me aperta e eu mal consigo conter um gemido de dor.

— Não estou pedindo que você os analise psiquiatricamente, — digo,


tendo que forçar as palavras através da dor.

Ele faz um ruído suave no fundo da garganta que poderia ter sido uma
risada abafada.

— Não está?

— Você teria perguntado a eles. Eles teriam lhe dado algum tipo de
resposta. O que eles disseram quando te levaram lá? Que razão eles deram?

Ele solta uma risada que transforma minhas entranhas em uma massa
congelada.

— Foi a minha punição, — diz ele. — Veja, eu era um menino muito


travesso. — Ele se mexe atrás de mim e seu jeans roça minha pele. O tecido
áspero envia uma onda de arrepios quentes através de mim momentos antes
de seu pau duro pressionar minha fenda, forçando minhas bochechas a se
separarem.

Minha respiração fica presa.

Se ele ainda não estivesse usando jeans, ele estaria a centímetros de...
Pegar o que não pertence a ele.

O que ele poderia ter feito se quisesse. Ele está se segurando ou apenas
brincando comigo?

— O que você fez?

Outra risada. Felizmente, esta não é tão assustadora quanto a anterior.

— Tem certeza de que pode lidar com outra pergunta? — Ele acaricia
minha pele nua com a ponta dos dedos. Ele traça oito linhas na minha bunda
e, em seguida, convergem a menos de uma polegada do meu sexo.

Meu rosto esquenta quando ele lentamente me abre. Meus lábios se


abrem com relutância, ensopados pelo desejo distorcido que está correndo por
mim o tempo todo que ele me prendeu contra o sofá.

— Eu disse, você tem certeza de que pode lidar com outra pergunta,
garotinha?

— Sim, — eu deixo escapar, imediatamente fechando meus olhos. —


Quero dizer... se você não me bater com tanta força. Pode ser. — Porra, meu
coração parece prestes a explodir no meu peito.

Ele ri baixinho enquanto se dobra sobre mim.

— É doce que você pense que eu sou capaz de misericórdia. — Ele agarra
meu pulso, levando o cinto dobrado à minha boca. — Abra.

E, contra toda razão, é exatamente o que eu faço.


Mal estou tocando o chão e cada respiração que respiro é hélio. Se Trinity
olhasse ao redor e visse meu rosto, ela estaria gritando enquanto corria para
fora daqui.

É por isso que eu deslizo minha mão sobre sua nuca e a seguro no lugar.
Assim, ela não consegue ver a luxúria doentia em meu rosto.

Eu deslizo um dedo por trás da bainha de sua calcinha, onde ela está
dobrada logo abaixo da curva de sua bunda. Desta vez, ela não me implora
para mantê-la. Eu a puxo até os joelhos, expondo suas pernas macias e bem
torneadas. Eu levo alguns segundos para admirar as marcas de mãos
vermelhas borradas em sua bunda antes de começar a aquecer sua carne
novamente.

Ela se mexe como se estivesse pensando em juntar as pernas, então eu


aperto o aperto em seu pescoço enquanto a chuto para abri-las ainda mais.
Isso estica sua calcinha bem apertada entre os joelhos, e é quando eu noto a
mancha quase translúcida no tecido.

Meu pau endurece dolorosamente atrás do meu jeans.

Eu poderia abrir o zíper da minha braguilha e estar dentro dela em


segundos, enterrando minhas bolas bem no fundo de sua pequena boceta
apertada.

Exceto que essa não era a porra do negócio.


Meus dedos descem, quase a tocando. Seu corpo enrijece, mas ela fica
parada. Mantém as pernas abertas.

Eu mordo o interior do meu lábio enquanto dou uma última varredura


em seu corpo. Então eu coloco minha palma em sua bunda com todas as
minhas forças.

O som de seu grito chocado reverbera dentro de mim.

Estou em agonia, suspenso no gelo, me afogando no fogo. Sem


pensamento consciente, eu abro minha braguilha e tiro meu pau. Eu me
acaricio, mantendo minha mão na parte de trás de seu pescoço enquanto
aproximo meu pau mais perto de sua boceta molhada.

Ela deve sentir o calor saindo do meu corpo, porque ela se enrijece
novamente, como se esperasse outro golpe.

Cristo.

Seu calor cobre a coroa do meu pau enquanto eu bato meu punho em seu
comprimento. A dor me deixa mais duro. Me faz querer transar com ela ainda
mais. Para abri-la e me encharcar em seus sucos.

Ela faz um som atrás do meu cinto. Parece um apelo.

Demoro longos segundos para eu perceber que ela está tremendo. Que
ela não está mais pressionando minha mão, resistindo a mim. Ela está mole,
pendurada nas costas do sofá como se não tivesse mais força para se manter
de pé.

E então eu a ouço fungando. O soluço abafado.

Enfio meu pau de volta na calça jeans e me movo para o lado. Seus olhos
estão bem fechados, suas bochechas de um vermelho brilhante.

— Que porra é essa agora? — Eu pergunto asperamente, arrancando meu


cinto de sua boca. — Finalmente decidiu que você teve o suficiente?

Assim que o cinto é retirado, ela se afasta de mim, com as mãos tremendo
enquanto puxa a calcinha. Ela solta uma série de palavras mutiladas.

— Desculpe... não... acontecendo...não deveria parar.


Eu a observo enquanto ela tenta colocar suas calças de ioga. Quando eles
estão no meio das pernas, ela se afasta de mim, secretamente enxugando a
parte interna de sua coxa enquanto outro soluço sai de sua boca.

— Ei. — Eu agarro seu cotovelo, mas ela torce seu braço para fora do meu
aperto. Eu franzo a testa e, desta vez, agarro sua cintura e a arrasto contra
mim. — O que está acontecendo?

— Sinto muito, — diz ela, com os lábios tremendo. — Não sei por que isso
aconteceu.

Eu coloco minha mão entre suas pernas, enxugando a umidade


escorregadia em suas coxas.

— Isto? — Eu pergunto asperamente. — Você está envergonhada com


isso?

Ela cobre o rosto com as mãos, encolhendo-se como uma flor murcha.
Eu faço um barulho de raiva no fundo da minha garganta.

— Você pediu por isso, — digo a ela enquanto puxo suas calças de ioga
para cima o resto do caminho. — Não banque a tímida agora.

Ela arranca as mãos e se debate em meus braços, mas me recuso a deixá-


la ir. — Era para doer, — ela diz. — Não era para... por que... o que diabos há
de errado comigo?

O último é um grito. Ela me encara antes de seu rosto se contorcer e sua


boca começar a tremer novamente.

— O que há de errado comigo? — Ela sussurra.

— Nada, minha garota. — Eu enxugo suas lágrimas com meus polegares


enquanto seguro seu rosto em minhas mãos. — Absolutamente nada.

Eu fico olhando nos olhos âmbar que exigem mais de mim. Mas que
porra devo dizer?

Ela queria respostas, eu queria liberação. Fizemos um acordo. Como


diabos poderíamos saber que ia acabar assim?
Mas agora, olhando em seus olhos, acho que entendi errado o tempo
todo.

Isso não era sobre ela. Não era sobre mim. Era sobre nós. Todos nós. A
Irmandade. Os fantasmas. Os guardiões.

Era sobre o porão.

Ela não pode acreditar no que aconteceu conosco.

Ninguém pode ser tão cruel.

Tão pervertido.

Tão doente.

Não pode ser verdade.

Mas isso é.

Trinity Malone não conseguia aceitar a verdade, então tentou me pegar


mentindo.

Uma dor lenta e forte começa em meus tornozelos antes de se espalhar


para meus pulsos.

Eu traço a parte inferior de seu lábio com meu polegar.

— Eu desobedeci a eles, — digo a ela em voz baixa.

Ela pisca, prendendo uma lágrima em seus cílios.

— O quê?

— Você queria saber por que meus pais estavam me punindo.

Seus olhos se arregalam levemente.

— Eu fui a algum lugar que não deveria. Vi algo que não deveria.

Meu peito se fecha. Respiro fundo, mas mal enche meus pulmões.

Ela não diz nada. Não me pressiona por mais. Talvez ela pense que vou
dizer a ela para ir embora, se ela o fizer.

Aqueles olhos âmbar brilhantes apenas observam. Não perversamente


curioso, como os policiais que tomaram nossos depoimentos depois que
finalmente escapamos. Não é lamentável, como tantos pais nos lares adotivos
em que acabamos.

Apenas assistindo.

Esperando.

Consigo respirar novamente, está ainda mais superficial que a anterior.


Minha ereção desapareceu completamente e minha pele formigou quente e
fria. Eu movo minhas mãos para seus ombros, e ela fica tensa sob minhas
mãos quando eu a aperto com força.

Seus lábios se movem como se ela estivesse mordendo o interior da


bochecha.

Eu quero beijá-la, o que é mais estranho do que fodido porque eu nunca


quero beijar ninguém.

— O porão ficava na minha casa.

Seus lábios se movem, mas nenhum som sai.

— Meus pais eram os Guardiões. — Tento engolir, mas não consigo.


Tento ficar quieto, mas é como se ela estivesse puxando as palavras de mim.
— Gabriel os pagou para cuidar dos meninos. Os fantasmas combinariam
horários com eles. Eles mantiveram tudo em segredo, mas comecei a notar as
coisas quando fiquei mais velho. Trilhas na garagem. Cheiros estranhos.

Trinity examina meu rosto e pressiona as mãos contra meu peito nu,
como se quisesse sentir meu coração batendo.

Ela não vai, no entanto.

— Eu roubei as chaves deles um dia. Disse que estava indo para uma festa
do pijama. Eles me levaram até a casa do meu amigo, mas voltei e esperei até
escurecer. Até eles adormecerem.

— Eles me encontraram lá embaixo no porão. Um alarme silencioso


disparou. Eu deveria ter fugido, mas não poderia simplesmente deixá-los lá.
— Minha voz some, engrossando. Duvido que ela me ouça quando acrescento:
— Eu não poderia deixar meus irmãos lá.
As pontas dos dedos dela marcam minha carne. Ainda procurando por
aquele batimento cardíaco indescritível?

Não, Trinity. Não há nada para você sentir.

Meu coração negro parou de bater há muito, muito tempo.


Já estou acordada quando toca a campainha para o culto de domingo,
mas fico ali deitada por alguns segundos antes de me levantar. Amanhã fará
uma semana desde que cheguei a Saint Amos. Depois de quase dezoito anos
vivendo uma vida onde nada nunca aconteceu, essas últimas semanas são
ridículas em comparação.

Gosto de pensar que teria preferido viver uma vida chata, mas então não
teria conhecido a Irmandade. Eles são as pessoas mais interessantes que já
conheci, mas também são as pessoas mais fodidas que já conheci.

Eu reprimo um bocejo.

Acho que terei que aceitar o bem com o mal.

Jasper se senta e pressiona as palmas das mãos nas órbitas dos olhos.

Quando ele se levanta, eu fico olhando para ele com espanto.

— Você vai à missa?

— Por que não? Você está indo. Rutherford está indo. Todo mundo está
indo.

Porque sua bunda provavelmente dói mais do que a minha e aqueles


bancos são duros pra caralho?

Eu franzo a testa enquanto ele pega suas roupas e sai do quarto. Estou
começando a achar que ele está ficando meio obcecado por Zachary. Eu fico
chateada com ele, mas isso?
Dane-se.

Minha mente está muito fodida para descobrir o que Jasper está fazendo.

Pego um dos dois vestidos que costumava usar para ir à igreja aos
domingos e vou ao banheiro para lavar o rosto.

Jasper está sentado na beira da cama amarrando os sapatos quando eu


volto. Acho que ele não se incomodou em tomar banho novamente. Não posso
culpá-lo, também não gostaria que as outras crianças vissem minha bunda
machucada.

Dei uma olhada rápida na minha bunda no espelho do banheiro depois


de me certificar de que não havia mais ninguém em uma das cabines.
Surpreendentemente, não está tão machucado quanto parece. Foi porque
Zachary continuou massageando-o enquanto...?

Oh não, Trinity. De jeito nenhum. Seus pensamentos permanecerão


puros como neve recém caída hoje.

— Quer ir junto comigo? — Jasper pergunta.

— Uh... claro, — eu digo enquanto luto contra meu choque. Querido


Senhor, acho que não aguento mais surpresas hoje. Já sinto que estou
caminhando no fio da navalha.

Jasper se levanta, estremecendo levemente, e então estende a mão.

— O quê?

Ele me encara.

Eu me encolho quando ele avança e tenta agarrar minha mão.

— O que você está fazendo?

— Não vou estuprar você, — ele diz, revirando os olhos. — Apenas... me


dê a porra da sua mão.

Assim que eu dou a ele, ele me puxa da cama.

No meio do corredor, finalmente encontro minha voz.


— O que foi, Jasper? — Tento parecer casual, mas não tenho ideia se ele
cai nessa.

— Cale a boca e pareça que está apaixonada por mim ou algo assim.

Eu mal reprimo um bufo. Todo mundo em Saint Amos está na porra do


espectro. Deve ser o ar abafado neste lugar.

A palma da mão de Jasper suam contra a minha, e ele continua mudando


seu aperto como se não tivesse certeza se está segurando minha mão direito.
Nós atraímos mais do que alguns olhos em nosso caminho até a igreja, e não
é de admirar. Ele está usando um brilho de mil metros que pode incinerar
qualquer um que cruze seu ponto de vista, e estou alternando entre tentar me
tornar invisível e ficar de olho em Jasper para ter certeza de que ele não está
prestes a pular de uma janela, comigo a reboque.

No momento em que chegamos à capela, há um pequeno grupo de


meninos nos seguindo.

Você poderia pensar que não poderia ser mais estranho do que isso, mas
então Perry entra em cena.

Jasper para de repente. Eu olho para ele e imediatamente me viro para


ver o que ele está olhando com um rosto que de repente se transformou em
pedra.

Não o quê. Quem.

Perry está parado sob uma das árvores que pontuam o gramado entre
Saint Amós e a capela. Ele estava vindo em nossa direção, mas enquanto
observo, ele diminui a velocidade. Um segundo depois, ele para nos
observando com olhos de coruja enquanto Jasper se dirige para a capela
novamente.

— Você não vai...?

— Não seja idiota, — ele murmura, me puxando atrás dele. Dou um aceno
tímido para Perry, mas ele não me vê ou decide não chamar mais atenção para
si mesmo porque não acena de volta.
Eu não poderia estar mais feliz quando entramos nas sombras frias da
capela. Eu aponto para o banco mais próximo da porta, mas Jasper aperta seu
aperto e me arrasta pelo corredor como se este fosse nosso próprio casamento
forçado.

Acho que as orações matinais não são obrigatórias para os funcionários,


mas a missa de domingo é porque hoje os bancos estão lotados.

Eu localizo todos os quatro membros da Irmandade enquanto Jasper me


puxa pelo corredor. Apollo está do outro lado da igreja na segunda fileira,
aninhado entre um bando de homens que presumo que todos trabalhem na
cozinha. Cass e Rube estão sentados com os alunos.

A julgar pela maneira como eles estão olhando para mim, o fato de que
meu colega de quarto está segurando minha mão não parece bom.

Eu provavelmente deveria mencionar a Jasper que segurar minha mão


não vai fazer ninguém acreditar que de repente ele gosta de garotas. O que vai
fazer é colocá-lo em uma tonelada de merda por me arrastar como se ele
tivesse acabado de me comprar em um leilão de escravos.

Sentamos na segunda fila atrás dos professores, com Zachary a menos de


um metro à esquerda. Parece que ele é o único em toda a igreja que não tem
me observado desde que entrei.

De alguma forma, isso me deixa mais nervosa do que se ele estivesse


olhando como seus irmãos.

O hematoma em sua mandíbula quase não se nota agora. Tenho certeza


de que se ainda estivesse visível, ele não teria ousado mostrar o rosto esta
manhã.

Eu estremeço quando minha bunda atinge o banco. Embora a surra de


Zachary não tenha machucado minha pele tanto quanto eu pensei que faria,
ainda dói como o inferno. Especialmente nesses assentos duros.

Jasper deve estar em agonia.


Eu olho de lado para ele e, em seguida, apressadamente olho para a
frente. Ele está olhando tão ferozmente para Zachary que estou surpresa que
o cabelo do meu professor de Psicologia não tenha pegado fogo.

Embora pareça que Zachary não esteja prestando atenção nele, tenho
certeza de que ele está ciente de nós.

De Ambos.

Obrigado, Jasper. Tudo que eu queria esta manhã era permanecer


invisível.

Eu estava exausta quando voltei para o meu quarto ontem à noite. Minha
bunda doía, minha cabeça doía... meu coração doía.

Sim, eu estava procurando por respostas, mas não esperava desenterrar


um cadáver em decomposição.

Mais algumas crianças entram e rapidamente encontram seus assentos.


Um silêncio reverente enche os tetos abobadados da capela. Cronometrando
sua entrada perfeitamente, o padre Gabriel caminha em um mero segundo
depois que o primeiro sussurro entediado me atinge dos alunos sentados atrás
de nós.

Meus pulmões se transformam em concreto.

Gabriel está exatamente como sempre, mas agora aquele sorriso familiar
enfeitando sua boca larga parece falso como margarina. Seus olhos não são
mais penetrantes e curiosos, eles são astutos e ardilosos.

É como uma ilusão de ótica. Depois de ver o coelho, você não consegue
mais ver o pato.

Assim que ele me avista, o olhar de Gabriel me deixa nua.

É apenas sua imaginação.


Não há razão para ele suspeitar que algo está diferente sobre Trinity
Malone, filha de Keith e Monica, devotos paroquianos da igreja Redford
Missions of Love9.

Estou começando a suar.

Os olhos de Gabriel me libertam quando ele observa o resto da multidão,


e eu caio na cadeira.

— Bom dia, crianças.

Ainda não há provas para as reivindicações da Fraternidade, mas a lógica


não reina mais em minha mente.

É porque você quer que eles te fodam? É por isso que você não precisa
mais de provas, sua vadia blasfema?

Minha boca fica azeda.

O padre Gabriel começa com um sermão que soa como tantos outros que
ouvi ao longo dos anos. Eu me pego estudando o lado do rosto de Zachary até
que pego Gabriel olhando para mim.

A adrenalina sobe através de mim, me deixando formigando e em pânico


enquanto recuo. Pelo resto do sermão, eu mantenho meus olhos fixos em
Gabriel, mas ele nunca mais olhou na minha direção novamente.

Seu sermão parece durar horas. Passei horas debatendo minha posição
nesta batalha invisível travada entre a Irmandade e o Padre Gabriel.

Finalmente, terminamos com a Oração do Pai e iniciamos a comunhão.


Em Redford, apenas um punhado de pessoas iria subir, aqueles que queriam
participar.

Eu acho que eles fazem as coisas de forma diferente aqui. Aqui, todos
participam. E, à medida que mais e mais pessoas saem de seus bancos, tenho
a sensação de que é obrigatório.

9 Missões de Amor.
Gabriel e Zachary fazem o contato visual certo. A troca deles parece tão
normal quanto a anterior e a posterior. Gabriel ergue os olhos de sua patena
de pão e cruza os olhos comigo.

Ele não diz nada enquanto segura o corpo de Cristo. Eu me inclino para
frente, abro a boca e o deixo colocar o pão na minha língua.

— É bom ver você de novo, minha filha.

Eu fico em silêncio, com muito medo de que minha voz vá tremer se eu


retornar a saudação.

Pode ser o jogo de luz em seu rosto, mas eu juro que ele franze a testa
para mim antes de suavizar sua expressão.

O gole de vinho que ele me dá do cálice tem gosto de cinza.

****

— Você vem? — Jasper pergunta quando eu não pego sua mão.

— Ainda não.

Ele faz uma careta para mim, lança um olhar fulminante para Zachary e
sai da capela como se Satanás estivesse beliscando seus calcanhares.

Eu fico na minha cadeira, observando Gabriel através dos meus cílios.


Em vez de sair imediatamente do palco, como faz depois das orações matinais,
ele passa por entre os alunos e funcionários que andam por ali, dando tapinhas
no ombro aqui, murmurando, Criança isso, criança aquilo.

Quando fica óbvio que ele está me ignorando, eu me levanto e faço meu
caminho para o corredor. Estou vagamente ciente de Zachary do meu ponto
de vista periférico. Ele ainda está sentado, a cabeça inclinada sobre uma bíblia
padrão, como se estivesse contemplando a palavra de Deus antes de sair para
o café da manhã.

Gabriel está conversando com a irmã Miriam quando chego por trás dele.
Miriam me vê e franze a testa, mas eu mantenho minha posição. Gabriel se
vira com uma pequena carranca entre suas sobrancelhas grossas e escuras.
Quando ele me vê, seu rosto se ilumina.

Então ele se volta para Miriam.

— Se você nos der licença, irmã.

Miriam acena com a cabeça, mas da maneira como ela ajusta o hábito ao
sair, fica claro o que ela pensa sobre eu interromper a conversa deles.

— Você está bem? — Gabriel pergunta, estendendo a mão para mim.

Eu evito sua mão antes que eu possa me segurar, e imediatamente me


arrependo quando seu sorriso desaparece e sua carranca retorna mais
profunda do que antes.

— Há algo errado, criança?

— Claro que não, não, — eu deixo escapar. Não consigo parar de torcer
minhas mãos. — Mas, se você não estiver ocupado, eu gostaria, quero dizer,
podemos conversar?

— Certamente. — Ele pega meu cotovelo como se fosse me conduzir a


algum lugar privado, mas eu recuo novamente.

— Jantar. Hum... podemos jantar de novo?

Sua carranca se aprofunda.

— Tem certeza de que está tudo bem?

Estou louca para fugir de seus olhos de raio-x. Nunca fui capaz de mentir
para ele e não acho que isso vá mudar.

— Esta noite?

— Receio que já tenha planos com... — Ele acena para longe o que quer
que ele diria. Um largo sorriso substitui sua carranca, e odeio o fato de que
isso me faz sentir quente por dentro.

— Eu não adoraria mais nada.

— Obrigado Padre.
Ele me observa com o mesmo sorriso enigmático enquanto eu me inflo
com ar e saio com as pernas rígidas.

Não ouso olhar para cima até que a luz do sol atinja meu rosto. O alívio
que eu esperava não chega. Eu poderia estar olhando para a lateral de um
penhasco.

Por que parece que acabei de marcar um encontro com o Diabo?


Batidas no tecido. Cass desliza para o covil, suas sobrancelhas se
contraindo quando ele me vê na minha cadeira, fumando um cigarro. Eu acho
que ele esperava que eu estivesse de mau humor no escuro, lutando contra
meus demônios.

— Não teve o suficiente de mim ontem? — Ele pergunta, o rosto contraído


enquanto ele passa e enfia a cabeça no quarto. Certificando-se de que estamos
sozinhos? — E aqui eu pensei que estávamos tentando ser cautelosos.

— Nós montamos este lugar por um motivo. Ninguém pensaria em


olhar...

— É melhor instalar uma porra de uma porta giratória nesse ritmo. — Ele
volta em minha direção e arranca o cigarro dos meus lábios antes que eu possa
dar outra tragada.

Cinzas se espalham em sua calça jeans enquanto ele desmaia no sofá,


colocando-se sobre as almofadas como se estivesse desesperado para me
mostrar o quão pouco se fodendo ele está.

Eu estalo meus dedos, exigindo que ele devolva meu cigarro. Ele vira a
cabeça para me estudar enquanto arrasta com força, e então o devolve.

Antes de eu pegá-lo, ele afasta a mão.

— Isso é sobre a garota?

Eu retraio minha mão, inclino-me para trás em minha cadeira e solto um


novo cigarro para mim.
— Você tem que consertar as coisas.

Ele se vira para me encarar e se deita com a cabeça apoiada no braço.

— Que porra eu faço? — Ele levanta a perna e cruza o tornozelo sobre o


joelho para brincar com a bainha da calça jeans skinny com a mesma mão que
segura o cigarro.

Parei de comprar roupas novas para eles há meses. Mas não importa o
que Cass coloque, sempre parece bom. Mesmo merdas velhas como aqueles
jeans.

Quem sabe... talvez quando essa merda acabasse, ele deixaria seu cabelo
crescer e tiraria alguns headshots10. Ele seria facilmente um modelo, e se exibir
na frente de uma câmera seria o alimento perfeito para seu narcisismo voraz.

Desde que nunca lhe pedissem para tirar a camisa, é claro.

— Você assustou a merda fora dela, — eu afirmo, impassível enquanto


puxo meu cigarro.

Sopros de fumaça saem da boca de Cass enquanto ele ri.

— Achei que fosse esse o plano.

Eu bato meu punho no braço da minha cadeira.

— Seu idiota de merda.

Cass estremece, mas se recupera em um flash. Ele me considera por um


segundo antes de se inclinar para jogar o cigarro no copo no chão perto do
braço do sofá.

— Eu sou o idiota?

— Em quem você acha que ela confia mais? Um bando de estranhos do


outro lado da fronteira, ou o amigo da família que está em sua vida desde que
ela usava fraldas?

O rosto de Cass endurece com isso. Ele despreza quando eu menciono o


fato de que nós quatro estamos mais do que um pouco quebrados. Ele abre a

10 Headshot é um retrato moderno em que o foco está na pessoa.


boca, mas eu o interrompo sem esperar para ouvir o que ele vai dizer desta
vez.

— Não estamos mais tentando fazer com que ela vá embora, ou você se
esqueceu? Precisamos dela do nosso lado.

— Nós não precisamos dela, — ele diz. — Nós não precisamos de


nenhuma...

— Você tem razão. Nós não precisamos.

Cass me encara com desconfiança.

— Nós não precisamos dela, — eu repito enquanto me inclino para frente


e descanso meus cotovelos nos joelhos. — Poderíamos voltar ao plano original.
— Eu agito meu pulso e franzo os lábios. — Ter esperança deste lugar esvaziar.
Ter esperança de que possamos agarrar Gabriel antes que ele dê o fora, e então
ter esperança de que possamos quebrá-lo. — Eu abro minhas mãos. — Claro
que existe uma grande esperança nesse plano, mas é o melhor que
conseguimos bolar, lembra?

Pontos de raiva surgem no rosto pálido de Cass.

— Ela vai estragar tudo.

— Ela vai. — Eu concordo.

Ele balança a cabeça, rindo por meio de outra expiração.

— A menos que eu rasteje pelo perdão dela, certo?

Suas palavras amargas enviam uma onda de calor por mim, mas eu não
chamo sua atenção por causa delas. É como eu sei que estou conseguindo falar
com ele. Quanto mais ele luta, mais perto ele está de ceder.

Como um rato encurralado.

É como ele lida. Ao contrário de nós três, Cass nunca conseguia desligar
sua mente. Ele é muito inteligente para isso. Seria como tentar represar o rio
Amazonas com um punhado de palitos de fósforo.

Então ele luta.


Com unhas e dentes, porra.

Ele lutou tanto que seus fantasmas eram feridos tentando chegar até ele.
E isso nos deixou felizes. Começamos a torcer por ele, silenciosamente, é claro.
Mesmo naquela época, sabíamos que tínhamos que manter nossa Irmandade
em segredo. Mesmo quando crianças, sabíamos que esse segredo nos manteria
seguros.

Então Cass lutou. Às vezes ele venceria, às vezes eles o dominavam. Isso
durou semanas, até que um deles enfiou uma seringa cheia de heroína em seu
braço.

— Ela vai foder com tudo, — eu digo novamente. — Mas só se ela não
estiver cem por cento do nosso lado.

— Isso vai demorar mais do que um pedido de desculpas pela metade


para...

— É por isso que você vai fazer valer a pena.

A carranca de Cass me fixa. — Ela não me deixa chegar perto dela, você
sabe disso.

— Também sei como você pode ser persuasivo.

Eu quis dizer isso como um elogio, mas por algum motivo isso só faz mais
manchas de raiva surgirem em suas bochechas.

Ficamos sentados por alguns segundos fumando nossos cigarros, em


silêncio, pensativos, esperando um ao outro.

— O que há de tão especial sobre ela, afinal? — Ele pergunta.

Eu ouvi direito?

Eu me levanto e me agacho ao lado dele para apagar meu cigarro no copo


ao lado de seu sofá. Quando eu olho para cima, seus olhos azuis iridescentes
me grudam no local.

Eu não estava apenas soprando ar quente em sua bunda. Quando ele


quer algo, realmente, realmente deseja algo, é como se o Universo se alinhasse
para dar a ele.
Mesmo que seja apenas uma resposta a uma pergunta que prefiro não
dar.

— Eu nunca disse que ela era.

— Você não precisou.

— Você está delirando. — Eu começo a me levantar, mas Cass agarra meu


braço, e não suavemente também. Suas unhas mordem minha carne enquanto
ele me puxa para mais perto.

— O que acontece quando você tem que escolher entre ela ou nós?

Uma carranca dura enruga minha testa.

— Isso nunca vai acontecer.

A expressão de Cass fica mais clara. Ele me solta.

— Sim, espero que não, — diz ele ao se levantar. Eu também me levanto


e ele passa por mim para chegar à porta. — Porque parece que você já fez sua
escolha.

— Cass.

Ele desliza para fora da cortina.

— Cass!

Eu poderia ter ido atrás dele, mas então parecia desesperado. Caindo no
sofá, sento acariciando o polegar sobre as marcas de suas unhas deixadas em
meu braço enquanto deixo o calor latente de seu corpo penetrar no meu.

Ele está falando merda, mas isso não é novidade. De nós três, suas
paredes são as mais altas e mais fortes. Ninguém nunca as quebrou. Ele não
baixa a guarda por ninguém, nem mesmo seus irmãos. Mas isso não era um
requisito para entrar nesta guerra. Toda guerra precisa de soldados, e esses
soldados precisam de munição.

Raiva.

Odio.

Vingança.
Neste caso, cada um de nós teve que trazer o seu. Mas eu, Rube e Apollo?
Somos velas fracas e bruxuleantes em comparação com Cass.

Ele é o filho da puta do sol.


Depois do café da manhã, passo algumas horas na escrivaninha
minúscula em nosso quarto, pondo em dia meu dever de casa. Jasper fica lá
por um tempo, lendo um livro, e então ele desaparece sem dizer uma palavra.
Decido fechar a porta do quarto atrás dele, apenas no caso de alguém, Cass,
decidir aparecer para uma visita não anunciada.

Desejo mais e mais a cada dia ter uma maldita chave.

Poucos minutos antes do sino do almoço tocar, ouço um som suave perto
da porta. Eu viro minha cabeça para olhar para o papel dobrado que alguém
empurrou por baixo da porta.

Os cabelos da minha nuca se arrepiam enquanto espero, mas felizmente


a porta permanece fechada.

Quando meu batimento cardíaco volta ao normal, eu me levanto e pego


a nota.

BANHO?

Todas as palavras estão em maiúsculas, rígidas e quadradas.

Reuben.

Ele está me deixando usar seu banheiro novamente. O que é tão fofo,
especialmente com o jantar de hoje à noite em mente. Acho que agora seria o
momento perfeito para ir, todos os outros estariam no refeitório, comendo. Se
eu me apressasse, ainda poderia almoçar depois de terminar, mas ficaria feliz
em trocar uma refeição por um banho privado.
Além disso, eu veria Reuben novamente.

A perspectiva faz coisas estranhas na minha barriga e eu tenho que


afastar o pensamento para que eu possa descobrir o que estarei usando para o
jantar esta noite.

****

Eu bato baixinho na porta de Reuben. Por que ninguém, exceto o padre


Gabriel, atende suas portas neste lugar? Depois de uma terceira batida, tento
a maçaneta, ansiosa para sair do corredor antes que alguém me veja.

A maçaneta gira.

A porta se abre.

Solto um suspiro de alívio quando ela abre e rapidamente deslizo para


dentro. O apartamento não é enorme, mas a decoração minimalista faz com
que pareça bem espaçoso. Como os alunos conseguem apartamentos como
esses? Como é o quarto de Cass? Zachary? Apollo?

— Olá?

Sem resposta.

Vou para o banheiro e hesito. É estranho que Reuben não esteja aqui?
Talvez ele esteja dormindo. Ou estudando com fones de ouvido.

— Olá? — Eu empurro a porta do quarto e entro, mordendo o interior do


meu lábio. Eu deveria estar no banho já, mas droga, eu sou muito intrometida.
Sei tão pouco sobre Reuben que não posso deixar de dar uma olhada.

Afinal, é óbvio que a Irmandade não mantém nada em seu covil.

Eu examino o armário de Reuben e não encontro nada além de roupas.


Apenas alguns livros e um abajur em sua mesa. Cadernos dentro das gavetas,
todos cheios de trabalhos escolares. Algo começa a me incomodar, mas estou
ocupada demais bisbilhotando para pensar nisso. Ele pode voltar a qualquer
minuto. Pelo que sei, ele apenas saiu para fazer uma ligação ou fumar um
cigarro.

Meus olhos se movem ao redor da sala até que se fixem na Bíblia na mesa
de cabeceira de Reuben. Quando se abre em minhas mãos, um forte arrepio
percorre meu corpo.

Frases em cada frase de cada verso em cada página foram destacadas.

Eu folheio, indo cada vez mais rápido até que não consigo ver nada além
de um borrão laranja, mas ainda assim a frase estranha salta para mim.

Sujeito aos seus mestres

Vende a filha dele

Deita-se com ele

Grande epidemia

Lago ardente

Procure a morte

Saiba que eu sou deus

Ouve-se um ruído da sala de estar.

Fecho a Bíblia e rapidamente coloco de volta na mesa de cabeceira,


tentando ajustá-la do jeito que eu tinha encontrado. Então pego minhas
roupas e saio correndo do quarto de Reuben, esperando que ele esteja ali.

Mas graças a Deus, ele não está.

Eu solto um suspiro ruidoso, pressiono a mão no meu coração


martelando e entro no banheiro. Depois de me despir e dobrar minhas roupas
sujas em uma pilha organizada, coloquei o rosário vermelho sangue de
Reuben em cima de tudo. Não tenho certeza de quantas vezes a madeira pode
ficar molhada antes de começar a entortar ou algo assim, mas prefiro não
arriscar danificá-la. Além disso, tenho certeza de que a água acabará lavando
seu cheiro glorioso.
A água quente é pecaminosamente boa. Eu começo a ensaboar meu
cabelo, os olhos bem fechados para não cair shampoo neles. Estou quase
começando a enxaguar quando uma mão desliza sobre meus ombros.

Reuben.

Eu mordo o interior do meu lábio, meio mortificada, meio pulando para


fora da minha pele de excitação.

Eu começo a me virar, mas então suas mãos afundam no meu cabelo e


começam a enxaguar o shampoo. Dói quando seus dedos se enredam no meu
cabelo molhado, mas meu corpo ainda ganha vida, a pele formigando, os
lábios tremendo, o núcleo se contraindo.

— Mmm, isso é bom, — murmuro, inclinando-me em seu toque.

Depois que meu cabelo é enxaguado, suas mãos deslizam pela minha
nuca, retornando aos meus ombros. Polegares fortes afundam profundamente
em minha carne, aplicando pressão bem no precipício entre o prazer e a dor.

Eu gemo como é magnífico. Em como este momento é certo. É como se


uma eletricidade selvagem faiscasse entre nós. Se eu não estivesse encharcada,
tenho certeza de que os pelos do meu braço estariam em pé.

— Obrigado por me deixar usar seu chuveiro. Eu realmente precisava...


— Minhas palavras vão embora enquanto suas mãos se movem mais para
baixo. Ele usa a palma das mãos para me empurrar suavemente para frente.
Por instinto, estendo minhas mãos, me apoiando contra a parede.

Seus nós dos dedos cravam na carne ao lado da minha espinha enquanto
ele começa a trabalhar seu caminho para baixo na minha pele molhada.

Uma mão fica na parte inferior das minhas costas, trabalhando os


músculos acima dos meus quadris, a outra desliza para baixo na minha bunda.

Sobre os hematomas que Zachary me deu.

Minha respiração fica presa com o latejar fraco de dor que ele traz à tona
enquanto acaricia minha pele. Zachary contou a Reuben sobre nosso acordo
na noite passada? Apollo diz que eles contam tudo um ao outro.
Ele aperta minha bunda.

Eu não posso deixar de gemer com o prazer profundo que a dor força em
meu núcleo.

Ele deixa escapar um som estranho, como se estivesse segurando um


gemido próprio.

Há um respingo abafado conforme ele se aproxima. Agora ambas as


mãos estão na minha bunda. Meu coração gagueja enquanto seus dedos
afundam mais e mais.

— Espera.

Ele para.

— Não estou... acho que não estou pronta para... para isso. — Minhas
bochechas esquentam com a admissão. Ele deve pensar que sou algum tipo de
provocadora de pau, deixando-o me tocar e, em seguida, afastando-o
quando...

Seus dedos envolvem profundamente meu cabelo e ele usa esse aperto
para inclinar minha cabeça para trás. A água escorre pelo meu rosto, parte
subindo pelo nariz. Eu gaguejo, começando a lutar, e então sua boca se fecha
sobre a minha.

De repente, o fato de que eu poderia me afogar não importa mais. Olhos


fechados, coração batendo forte, eu derreto contra ele.

Ele tem gosto de pasta de dente e algo doce, refrigerante? e seus lábios
massageiam os meus com tanta habilidade que eu mal noto quando ele me
puxa contra ele novamente.

Até eu sentir sua ereção, é claro. Eu suspiro em sua boca, meus olhos
piscando abertos. Água jorra neles, forçando-os a se fecharem novamente.

Isto é ridículo. Ele vai me afogar.

— Vamos sair, — eu sussurro em meio a seus beijos, respirando como um


peixe na metade do tempo.
Em resposta, ele passa por mim e fecha a torneira. Não todo o caminho,
a água ainda bate em meu rosto, mas agora é mais uma garoa suave do que
uma enxurrada.

Sua boca está na minha antes que eu possa piscar para tirar a água dos
meus olhos.

Lábios tão quentes.

Escorregadios.

Exigentes.

Santo inferno, como algo pode ser tão bom?

Eu me perco nele. Meus lábios se abrem na deixa quando sua língua


desliza sobre eles, permitindo que ele entre mais profundamente. Ele geme
contra meus lábios, e meu núcleo aperta dolorosamente com aquele som
urgente.

Suas mãos descem pela frente do meu corpo. Ele aperta meus seios e rola
meus mamilos entre os polegares e indicadores com força suficiente para me
fazer estremecer.

Em seguida, ele desliza os dedos pela minha barriga. Seu beijo fica mais
lento e, com ele, seus movimentos.

Ele pressiona com mais força contra mim, até que eu começo a doer
profundamente, bem no fundo. Suas mãos convergem acima do meu osso
púbico, descansando lá por uma eternidade enquanto ele puxa cada grama de
resistência de mim com um beijo duro e lânguido.

Meus braços estavam pendurados ao meu lado. Quando eu estendo a


mão para tocá-lo, ele agarra um dos meus pulsos e, em vez disso, coloca minha
mão nas minhas costas, entre nós, perto de seu pau.

Então a outra mão.

Eu agarro suas coxas. Ele quer que eu o toque? Como é que eu?
Ele agarra meu pulso novamente, desliza sua mão nas costas da minha e
entrelaça nossos dedos. Então ele arrasta minha mão por sua coxa, seu calção
e sua barriga.

Os dedos da outra mão ainda estão acima do meu centro dolorido. Mas
quando ele pressiona minha mão para baixo em seu estômago e por trás de
sua cueca, aqueles dedos afundam também.

Eu toco seu pau no mesmo momento que ele toca meu clitóris.

Eu tenho convulsões, estremecendo incontrolavelmente quando uma


chicotada de calor e eletricidade surge através de mim. Eu me afasto de seu
beijo, minha cabeça cavando em seu ombro enquanto eu arqueio para longe
de seu corpo.

Mas ele se recusa a me deixar ir. Ele começa a massagear meu clitóris,
duro e dolorosamente lento, enquanto ele enrola meus dedos em torno de seu
pau.

Ele chove beijos contra a concha da minha orelha, usando seus dentes
para brincar com o lóbulo da minha orelha enquanto ele começa a bombear
seu pau com a minha mão, seus dedos envolvendo os meus com força.

— Porra, — eu sussurro, arqueando novamente enquanto seus dedos


pressionam ainda mais forte contra o meu clitóris.

O que diabos estou fazendo? Eu mal conheço esse cara, e aqui estamos
nós, provavelmente a segundos de distância de foder? Não pensei que minha
primeira vez seria no chuveiro. Mas, Deus, isso parece tão certo.

Ele move minha mão para cima e para baixo em seu pau duro e macio,
acelerando enquanto seus dedos começam a dedilhar meu clitóris mais rápido
do que antes.

Minha boca se abre, mas então engasgo com um jato de água. Ele
abandona meu clitóris apenas o tempo suficiente para desligar a água e, em
seguida, mergulha de volta entre as minhas pernas. Mas desta vez sua mão
afunda mais baixo do que antes. Suas pontas dos dedos afundam entre meus
lábios e ele acaricia todos os quatro dedos sobre a minha entrada.
Eu estremeço forte, um suspiro quebrado derramando da minha boca
aberta.

Ele geme, baixo e profundo, e então eu não sinto sua cueca roçando
minha mão em qualquer lugar.

Merda.

Está acontecendo.

Porra!

Estou apavorada, mas em êxtase ao mesmo tempo. Se isso é tão bom pra
caralho, eu não consigo imaginar...

Seus lábios tocam os meus, exigindo outro beijo. Eu viro minha cabeça,
e ele devora meus lábios e língua como se fosse o dono deles no segundo que
ele me viu.

Meus olhos piscam na iminência de abrir quando ele aplica uma forte
pressão no meu clitóris e começa a esfregar a palma da mão contra aquele nó
de nervos.

— Porra. — Eu gemo forte contra sua boca e movo seu pau para baixo
com minha mão. Ainda estou masturbando-o, mas agora sua coroa não pode
estar mais do que alguns centímetros da minha entrada. Mas eu sou muito
baixa. Não tenho ideia de como isso funcionaria se eu quisesse...

— Precisamos de um banquinho para isso, gostosa, — diz ele.

Meu coração despenca no meu estômago quando meus olhos se abrem e


vejo o rosto de Cass a uma polegada do meu.

Abro a boca para um grito, mas ele é muito rápido. Em um segundo, ele
me virou e me prendeu na parede de azulejos, uma mão sobre minha boca e a
outra na minha garganta.

Meus dentes não podem alcançá-lo porque ele mantém a mão em


concha. Minhas unhas não parecem deixar marcas em sua pele nua e molhada.

Foi uma armadilha.


Aquilo era o que estava me incomodando antes. Eu folheei página após
página da caligrafia de Reuben, mas fui idiota demais para ligar os pontos.

— Quer se acalmar, porra? — Cass diz, inclinando a cabeça e franzindo a


testa como se eu estivesse trabalhando em seu último nervo.

Então é mais fácil para ele me estuprar? Solto um grito enfurecido,


embora abafado, e tento dar uma joelhada na virilha dele. Ele se afasta como
se tudo isso fosse uma segunda natureza. Então ele está contra mim com a
parede de seu corpo, me pressionando contra os ladrilhos molhados.

— O quê, de repente meu pau não é mais bom o suficiente para você? —
Ele rosna. — E aqui eu pensei que faria algo bom para você.

O espanto transforma meus ossos em geleia.

Ele me estuda por um segundo e, em seguida, retira lentamente os dedos


da minha boca.

— Jesus, eu estaria puto com você se você tivesse acertado minhas bolas,
— ele murmura.

— Algo bom? — Eu digo, minha voz forte como corda de violino. — Algo
bom?

Ele bate a mão na minha boca novamente.

— Mantenha. A. Voz. Baixa, — ele rosna por entre os dentes.

Quase tento dar uma joelhada nele de novo, mas tenho a sensação de que
essa seria a pior maneira de lidar com essa situação fodida.

Ele retira a mão novamente e dá um passo para trás. Eu torço minhas


pernas e coloco um braço sobre meus seios em uma tentativa idiota de
modéstia enquanto começo a tremer. Não que isso realmente importe. Suas
mãos estavam em cima de mim. Quase dentro de mim. E eu, eu estava, eu
toquei seu...

Seus olhos deslizam pela minha pele molhada.

— Você está com frio?


— Claro. Vamos com isso. — Eu o circulo com cautela enquanto me movo
para as portas de vidro fosco.

Não posso acreditar que o deixei me tocar. Eu não posso acreditar que
quase deixei ele me foder.

Subo no tapete do lado de fora e pego cegamente uma toalha. Cass se


mexe como se quisesse sair também, mas levanto meu queixo e arregalo os
olhos para ele.

— Não se atreva, — eu sussurro furiosamente. — Não se atreva, porra.

Ele passa as unhas sobre o corte curto, estreitando os olhos. Em seguida,


ele levanta a mão e lambe cada uma das pontas dos dedos, tirando-os da boca
um de cada vez com um som de plock.

— Me odeie o quanto quiser, sua boceta está a fim de mim com força.

— Fora.

Ele encolhe os ombros e sai lentamente do chuveiro. Espontaneamente,


meus olhos disparam sobre seu corpo enquanto minha boca se forma em uma
linha furiosa e trêmula.

Filho da puta.

Então eu vejo as marcas de queimadura espalhadas por seus músculos.


Eu pensei ter sentido algo quando meus dedos roçaram seu abdômen, mas eu
estava muito perdida em seu beijo.

Cass pega a outra toalha e a pendura na cintura.

— Então você quer foder no quarto ou no sofá? — Ele pergunta enquanto


um sorriso perverso desliza em sua boca.

— Fora! — Eu apunhalo um dedo na porta.

Ele ri enquanto sai do banheiro, mas o som é cortado assim que eu chuto
a porta fechando atrás dele com um grito estrangulado.

Eu deveria estar chocada. Até apavorada. Mas estou com muita raiva.

Como ele ousa?


Como ele se atreve?

A pior parte é que meu corpo ainda não se recuperou. Eu ainda estou
doendo por dentro, e quanto mais eu me movo tentando colocar meu juízo
sobre mim, pior fica. Eu sinto que vou implodir.

Porra.

Eu olho para o teto, mordo meu lábio, aperto meus olhos e coloco a mão
entre minhas pernas.

Mas eu a arranco antes de me tocar, a vergonha percorrendo cada


centímetro de mim.

Eu mereço essa frustração por ser tão idiota. Os padres permanecem


celibatários o tempo todo. Nada para isso.

Eu me seco e me visto, e quando estou saindo do banheiro, ouço a porta


do apartamento de Reuben se abrindo.

Graças a Deus. Pelo menos eu não tenho que enfrentá-lo. Minha mão está
na maçaneta da porta quando ouço vozes.

— O que você está fazendo aqui? — Reuben pergunta.

Eu congelo, tentando ouvir através da porta.

— Lady Malone precisava de um banho. Eu sou a escolta dela.

— Seu cabelo está molhado.

— E?

— Por que seu cabelo está molhado?

— Eu também tomei banho.

Meu peito aperta com tanta força que mal consigo respirar.

— Sozinho?

— Isso seria desperdiçar água, — Cass diz entre uma risada. — Foi ideia
dela.

Eu saio correndo do banheiro.


— Ele está mentindo!

Reuben vira sua carranca para mim. Ele está vestindo jeans e um suéter
justo. Ficando um ao lado do outro assim, é ridículo pensar que confundi Cass
com Reuben. Eles têm quase a altura, mas Reuben tem quase o dobro de seu
tamanho.

Oh, você sabia, sua vadia blasfema.

A parte imoral, pecaminosa e hedonista de mim que sempre suprimo


descobri imediatamente, mas a cadela ficou em silêncio até que fosse tarde
demais. Até que eu estava tão presa em...

— Então vocês não tomaram banho juntos? — Reuben pergunta, olhando


de volta para Cass.

— Não. Quer dizer, nós tomamos, mas...

Reuben abaixa o olhar.

— Você deveria ir embora. Estou ocupado com uma tarefa.

— Não foi ideia minha. Ele me enganou!

Mas ele entra em seu quarto sem olhar para trás. De alguma forma, é pior
ele fechar a porta silenciosamente e não bater. A decepção sempre dói muito
mais do que a raiva.

— Devemos ir? — Ele pergunta, erguendo uma sobrancelha para mim.


Ele está com um sorriso presunçoso, os braços cruzados sobre o peito
enquanto ele se inclina para trás em um pé. A epítome de alguém se divertindo
muito.

— Idiota! — Eu jogo o dedo para ele, olhando para ele enquanto corro
para a porta e saio.

Todo mundo por aqui é louco.

Enquanto eu caminho de volta para o meu quarto, minhas roupas sujas


agrupadas contra meu peito, Alice no País das Maravilhas repete em minha
cabeça.

Estamos todos loucos aqui.


Estamos todos loucos aqui.

Estamos todos loucos aqui.


— Entre.

Meu coração bate inquieto ao comando de Gabriel. Eu puxo a cintura do


meu vestido antes de entrar. O vestido escuro de mangas compridas, uma
criação que teria sido mais adequada para Wednesday, da família Adams, fica
mais apertado do que eu gostaria. Cheguei a pensar em abrir alguns dos botões
que ficam na frente, mas tive medo de acabar parecendo uma prostituta do
século XVIII. Mamãe comprou o vestido para mim há cerca de dois anos e
acho que tenho enchido desde então.

O cheiro de cigarros e fumaça de madeira toma conta de mim quando


abro a segunda porta que leva à sala de estar de Gabriel.

Ele está vestindo uma camisa de botão esta noite, as mangas arregaçadas
até o meio do braço e um par de calças escuras.

— Boa noite, — Ele diz, afastando-se do fogo para me cumprimentar.

Eu sorrio e levanto minha mão para acenar.

Ele se aproxima, abre os braços e me puxa para um abraço. Quando eu


não o abraço de volta, ele rapidamente dá um passo para trás e me solta.

— Está tudo bem?

O concreto úmido se derrama em meu estômago.

— Sim, claro, — eu consigo, embora minha voz esteja tudo menos estável.
— Só estou um pouco cansada. Não tenho dormido bem.
— Quando você gostaria de comer? Irmã Miriam mencionou que você
não estava almoçando hoje, então estou supondo...

Ele está me vigiando?

Ele interrompe como se eu tivesse feito a pergunta em voz alta.

Acho que se alguém vai perceber que estou faltando, será Miriam. E sou
muito mais fácil de localizar do que uma das centenas de meninos neste lugar.

Você está pulando nas sombras, Trinity.

— Estou bem. — Eu me forço a me aproximar, fingindo me aquecer no


fogo. Já estou começando a suar, mas se mantiver distância, ele pode
suspeitar. Não posso permitir que ele se pergunte se tenho um motivo oculto
para estar aqui esta noite.

Alguém enfiou outro bilhete por baixo da minha porta há pouco menos
de uma hora. Não era a letra de Cass, graças a Deus. Presumo que seja o de
Zachary.

Mantenha-o ocupado até as oito.

Você terá 15 minutos sozinha.

Boa sorte.

São sete e meia. Eu deveria ter pedido o jantar apenas para passar o
tempo, mas não posso comer quando estou tão nervosa.

O drive está escondido atrás do elástico da minha calcinha. O tecido do


vestido é grosso demais para se destacar, mas para mim parece uma enorme
bomba-relógio que você tem que estar cego para não perceber.

— Como foi sua viagem? — Eu arrisco. É uma pergunta tão boa quanto
qualquer outra, certo? Não tenho ideia de onde Gabriel esteve nos últimos
dias, então...

Verificando as crianças que ele escondeu em um porão em algum lugar,


é claro, crianças como Zachary e Reuben e Apollo e Cass. Talvez os
Protetores em seu mais novo esconderijo tenham fodido e ele teve que
resolver alguma merda. Ou talvez ele tenha trazido alguns fantasmas novos
para um tour pelas instalações.

Estes são os beliches em que dormem nossos pequenos escravos sexuais.


Aqui estão suas correntes. É aqui que os alimentamos, mas apenas se forem
bons meninos.

Foda-se Jesus, Trinity. Que diabos está errado com você? Você está aqui
para provar que Gabriel é inocente, ou você esqueceu?

Ainda assim, eu me ouço soltando.

— Aonde você foi?

Gabriel solta uma risada suave.

— Em nenhum lugar interessante. Tive uma reunião de última hora com


a construtora consertando este antigo lugar. — Um sorriso triste toca sua boca.
— Eu realmente espero que a estimativa deles esteja correta. Não posso
permitir que eles destruam as finanças da escola.

Reparar estimativas e finanças? Sem sentido. Eu tenho que fazê-lo falar


sobre algo pessoal. Então eu pergunto a ele a primeira coisa que vem à minha
cabeça.

— Meus pais eram boas pessoas? — Eu pergunto.

Ele franze a testa para mim e, em seguida, afunda lentamente em sua


cadeira. Seus olhos nunca me deixam enquanto ele morde a ponta de um
cigarro de sua caixa e o tira com os dentes para acendê-lo.

— Sente-se, criança.

Eu obedeço sem pensar. Ainda bem que já tem uma cadeira perto da
minha bunda senão eu teria acabado no chão porque obedeço sem pensar.

— Gostaria de uma bebida?

Eu concordo. Gabriel se inclina para a frente em sua poltrona, vira-se


para o lado e serve duas taças de vinho. Um é pouco mais que um respingo no
copo, o outro está perto da borda.
A mariquinha dentro de mim quer recusar sua oferta, mas afasto Trinity,
a banana, no momento em que ela começa a gritar sobre como isso é errado.

— Por que você não compareceu à sessão de aconselhamento do padre


Quinn? — Gabriel pergunta.

Eu tinha acabado de levar o copo aos lábios, mas o pego de novo.

— Ele te contou?

O padre Quinn substituiu Gabriel quando ele deixou Redmond. Eu nunca


gostei dele, ele fedia a doces Fisherman’s Friend11 porquê de alguma forma
achava que isso cobriria sua halitose.

Não me lembro muito da semana após a morte de meus pais. Eu me


lembro de ouvir palavras como choque e terapia espalhadas por todo lugar
que eu fosse.

Eu também tinha esquecido que ele havia oferecido aconselhamento.


Mais de uma vez.

— Eu não consegui falar com ele, — eu digo a verdade.

— Você pode conversar comigo?

Eu olho para cima. Ele está me olhando com um olhar muito familiar em
seus olhos castanhos e calorosos.

Paciência.

Simpatia.

E com a convicção de que quaisquer pecados que eu tenha cometido,


podemos vencê-los juntos.

Como diabos um homem como esse pode estar envolvido com Fantasmas
e Protetores?

Quase quero contar tudo a ele, só para que possamos dar uma boa risada
e o mundo voltar ao normal.

11 É uma marca de pastilhas de mentol forte.


Mas eu sei que minha vida nunca mais será a mesma, então importa em
que grau de merda eu caio?

Estamos todos loucos aqui.

Não, estamos todos fodidamente malucos aqui.

— Trinity?

Meus olhos voltam ao foco. Tomo um pequeno gole de vinho e depois


outro porque mal provei o primeiro. Não é tão brutalmente azedo como o que
a Fraternidade derramou para mim.

— Eu não sei o quanto você pode ajudar, — eu digo hesitante antes de


tomar outro gole. — Você não estava lá no final.

Gabriel olha para baixo e as sombras escurecem seus olhos. Por um


momento de cortar o coração, acho que já estraguei meu disfarce e o irritei.
Eu realmente espero que ele me jogue para fora de seu quarto. Em vez disso,
ele acende outro cigarro.

— Você não fuma, não é? — ele pergunta.

— Não.

— Você está certa em parecer enojada, — diz ele com uma risada fraca. —
É um hábito nojento. — Uma espessa nuvem de fumaça sai de seus lábios. Ele
bebe de seu copo e depois se recosta em sua cadeira, com os olhos no fogo.

— Muitas vezes me pergunto se eles ainda estariam vivos se eu tivesse


ficado em Redmond, — diz Gabriel.

A taça de vinho estala contra meus dentes quando me viro para encará-
lo. Eu apressadamente coloco no meu colo.

— Por que você diria isso?

— O mesmo motivo pelo qual você se pergunta se estaria morta se


estivesse no carro com eles. — Ele dá uma tragada forte no cigarro, sua voz
tensa enquanto fala sem expelir mais fumaça. — Um dos muitos jogos de
Satanás, que nos mantém fixados no passado. — Finalmente, ele esvazia os
pulmões e toma outro gole de vinho. — Tão fácil para ele entrar sem você
perceber quando está tão ocupada repetindo os eventos indefinidamente para
ver se algum dia teria ocorrido um resultado diferente. Como uma aranha
rastejando por baixo da porta. — Quanto mais ele fala, mais apertado meu
peito fica. Nunca o ouvi falar assim. Seus sermões são secos, toda repetição e
anedotas vagamente conectadas tiradas do contexto, mas isso?

Se é assim que as conversas dele com meus pais são, então não é à toa
que eles ficariam no andar de baixo por horas depois de eu ser mandada para
a cama. Nossa casa tinha portas grossas. Mesmo com meu ouvido pressionado
na madeira, tudo que ouvi foi o murmúrio de vozes baixas.

— Seus pais estão mortos, Trinity. Isso não é algo que você pode mudar
ou controlar. O que você pode controlar é como você se sente a respeito.

— Estou com raiva, — digo, sem esperar que ele pergunte.

— Com eles ou com você?

Eu me contorço em meu assento.

— Ambos. — Então eu balanço minha cabeça. — Não. Apenas eu.

— Por que você não foi com eles à igreja?

Eu concordo.

— E por que isto? Por que você ficou em casa naquela noite?

Eu corro meu dedo ao redor da borda do meu copo. Está praticamente


vazio, mas não havia muito para começar. Não me atrevo a pedir mais. Eu
preciso que Gabriel me veja como a mesma garota que eu era quando ele
deixou Redmond, doce, inocente e ingênua. Definitivamente não era a espiã
disfarçada em que me transformei.

— Tivemos uma briga. Eles partiram sem mim.

— Sobre o que você brigou?

Minhas bochechas esquentam, e eu sei que não é por causa do calor do


fogo, ou do gole de vinho.

— Algo estúpido. Algo muito, muito estúpido.


O silêncio se instala entre nós. O fogo estoura, lançando uma faísca na
lareira. Ele pulsa como um coração moribundo antes de se transformar em
nada.

Ouve-se um estrondo distante. Está começando a chover?

— Ninguém vivo é uma boa pessoa, Trinity.

Meus olhos se voltam para ele.

Ele sorri fracamente, mas sem olhar para mim.

— Você perguntou se seus pais eram boas pessoas.

De repente, não quero saber a resposta. Em vez disso, eu distraidamente


sorvo meu vinho antes de lembrar que ele está vazio.

Gabriel estende a mão. Eu entrego a ele o copo. Desta vez, ele preencheu.
Mas quando ele passa adiante, ele não o deixa ir imediatamente.

Nós olhamos para aquele vinho proibido, e posso ver sua hesitação pela
maneira como ele franze a testa para mim.

— Provavelmente é melhor se eu não... — Eu começo, liberando o copo.

— Eles não deveriam ter te tratado assim, — diz Gabriel. Seus olhos
castanhos quentes estão frios agora, um músculo em sua mandíbula está
latejando.

Meu coração sobe pela minha garganta.

Oh meu Deus.

Ele sabe.

Ele sabe, porra.

****

Eu só percebo eu engoli um gole de vinho quando ele queima minha


garganta. Eu deixo escapar um rouco
— Como...?

Mas Gabriel não me deixa terminar.

— A maneira como eles confinaram você? — Ele desvia o olhar enquanto


balança a cabeça. — Manter você longe do mundo como se fosse um pecado?

O que diabos ele está falando?

Seu olhar me toca novamente, quente e lívido, antes de pular de volta


para o fogo.

— Eu nunca quis isso para você, criança. Eu disse a eles uma e outra vez
que você tinha todo o direito de levar sua própria vida, mas eles se recusaram
a ouvir.

— Meus pais?

— Um sistema imunológico deve ser exposto a bactérias e vírus para


construir uma resistência contra eles. — Ele acena com a mão em minha
direção, mas sem tirar os olhos das chamas. — Eles a deixaram indefesa.

Por que ele está tão chateado? Educar meus pais atingiu um nervo? Eu
sei que ele estava perto deles, mas...

— Se ninguém é bom, isso significa que todos são ruins? — Eu pergunto.

Ele se vira para mim, piscando enquanto focaliza meu rosto.

— Todos nós nascemos no pecado. Somente através da confissão e


penitência podemos limpar nossas almas.

— Faz muito tempo que não me confesso.

— Não desde seu décimo terceiro aniversário.

Eu engulo em seco e gostaria de poder desviar o olhar. Mamãe me


obrigou a fazer isso. Ela me fez entrar naquele cubículo e confessar meus
pecados ao padre Gabriel.

— Não deixe essas coisas bobas te atormentarem, — ele murmura, a


sombra de um sorriso voltando à boca. — Existem coisas piores no mundo.
Pior do que admitir que foi descoberta se tocando? Pior do que sentir
uma vergonha tão avassaladora por seu corpo mudar que jurou nunca mais
olhar para baixo? E você manteve essa promessa desde então.

Tão pior, talvez, mas não para mim. Não naquela época.

Exceto, muito possivelmente, neste momento. Porque toda aquela


vergonha voltou como a porra de um tsunami.

— Eu deveria ir, — eu murmuro, vinho espirrando pela lateral do copo


enquanto eu fico de pé. — Você está ocupado, e...

Ele está de pé em seguida. Ele agarra meu pulso e gentilmente tira meu
vinho.

— Nunca estarei muito ocupado para você, Trinity. Por favor. Sente.

Mas parece que meu corpo foi construído de metal enferrujado.

Ele me faz descer, mas em vez de se sentar novamente, ele vai ficar em
frente ao fogo. Seu corpo bloqueia o calor, e por isso sou grato. Mas também
bloqueia a luz quente. Eu me sinto perdida em sua sombra.

— Há algo que você deveria saber, criança, — Gabriel murmura. — Algo


que eu queria te dizer desde que você chegou aqui. Eu provavelmente deveria
ter te contado há muito tempo.

Gabriel se vira para me encarar. Com seu rosto na sombra, não consigo
ver nada em seus olhos. Mas sua voz é baixa e profunda quando ele fala
novamente, cheio de... o quê? Arrependimento? Vergonha?

— É sobre seu pai. Eu...

Um celular toca. Eu grito com o som inesperado, e Gabriel solta uma


risada suave que parece forçada.

— Desculpe querida. Deixe-me atender isso.

Que porra? Não!

Eu viro minha cabeça para encará-lo enquanto ele se afasta, já colocando


o celular no ouvido.
Meus olhos trancam no grande relógio de parede pendurado ao lado de
sua janela.

Oito horas.

Em cheio bem na hora.


— Estou começando a achar que você não gosta mais de mim. — O brilho
malicioso nos olhos de Cass desmente o tom questionador de sua voz.

— O que te deu a dica? — Eu puxo bem a corda e dou um puxão para


garantir.

Cass engasga teatralmente antes de tirar o laço de sua cabeça.

— Eu diria que forçar a fingir meu próprio suicídio, mas nós dois sabemos
que remonta mais do que isso.

Nós rimos. É triste que parecemos genuinamente imperturbáveis.

Enviei Reuben e Apollo para vigiar o corredor de Gabriel. Eles vão me


enviar uma mensagem assim que ele sair do quarto. Então, eles ficarão de olho
nas duas escadarias para garantir que Trinity não seja surpreendida no meio
de sua caça ao tesouro.

— Preparado?

— Para morrer? Sim, eu acho. Quer dizer, eu esperava por mais alguns
anos ou mais, mas foda-se. — Cass envia um sorriso largo na minha direção e
sobe na cadeira. — Diga a mamãe que amo ela e papai que ele é um boceta.

Escolhemos encenar esse show de merda em sua aula de inglês. Ele odeia
a irmã Sharon de qualquer maneira, e eu não concordo com seus métodos
disciplinares, então é uma vitória para nós dois. Tem sido difícil fazer tudo
isso com nada mais do que o brilho da tela de um telefone celular para
trabalhar, mas não queríamos que ninguém olhasse pela janela e visse uma
lâmpada fluorescente brilhando em uma sala de aula que só deveria ter almas
nele amanhã de manhã.

— Posso afirmar novamente, para registro, que havia maneiras mais


fáceis e menos letais de criar uma diversão?

— Cass...

— Quero dizer, poderíamos ter acionado o alarme de incêndio

— Os dormitórios não tem um, — eu interrompi.

— Ou inundar o banheiro...

— Então eu teria que ligar para Miriam, não para o reitor. Continue, Cass.
É isso ou quebrar. Por que diabos mais eu estaria ligando para ele, e não para
um dos outros funcionários?

— Eu poderia quebrar meu pescoço, você sabe.

Eu bufo para ele.

— Eu duvido. Mas apenas no caso... — Eu estendo minha mão, e ele me


encara antes de segurá-la. — Não posso dizer que foi um prazer conhecê-lo,
mas pelo menos nós dois sabemos que você será mais feliz no inferno.

— Com certeza eu vou, — diz ele, mostrando-me os dentes enquanto


segura a corda e balança a cadeira sobre as pernas. — Lúcifer me pegou com a
succubus12.

Eu verifico a hora no meu celular.

— Trinta segundos.

— Jesus, apenas faça a ligação, — ele resmunga enquanto desliza o laço


em volta do pescoço novamente. — Vou demorar um século para o velhote
chegar aqui, e isso se ele não quebrar o quadril no caminho.

12 Súcubo é uma personagem referenciada pela cultura popular e mitologias como um demônio
com aparência feminina que invade o sonho dos homens a fim de ter uma relação sexual com eles
para lhes roubar a energia vital.
Eu pulo em uma mesa próxima e espio por uma das pequenas janelas no
topo da parede.

— A porra da tempestade está transformando o gramado em uma piscina.

— Espero que o idiota possa nadar.

— Fazendo a ligação, — eu digo, ignorando a voz entediada de Cass atrás


de mim.

Eu cronometro sua resposta com meus pés pousando no chão.

— Gabriel! P-Padre. Por favor, Apresse-se!

— Zachary? O que é...?

Cass começa a fazer barulho de engasgo. Eu me viro, acenando para ele


parar.

— É o Santos! — Eu grito. — Ele disse que vai, merda, Padre, ele diz que
vai se matar!

Cass começa a sufocar novamente. Desta vez, ele imita chupar um pau
gigante para acompanhar os sons sugestivos de engasgo.

Eu aceno para ele e corro para fora da porta antes que Gabriel possa
ouvir.

— Ele te disse onde ele estava?

— Inglês. A aula de Sharon. Uh, sala 2C.

— Você está por perto? — A voz de Gabriel sobe várias oitavas. Eu ouço
uma porta bater e sua voz fica embargada, como se ele tivesse começado a
correr. — Você pode ver ele?

— Não! Estou na garagem. Acabei de receber sua mensagem. Padre, eu


não vou conseguir! — Eu reprimo um desejo quase histérico de começar a rir.
Nunca fiz uma brincadeira antes, mas entendo por que as crianças fazem isso.
A adrenalina é insana. Meu coração está batendo tão forte que parece que está
machucando minhas costelas.
— Ligue para o irmão Timothy! Diga a ele o que aconteceu. Estou a
caminho. — Eu ouço seus pés batendo no chão, e parece que ele está pisando
no meu peito.

Encerro a ligação com o polegar trêmulo.

É agora ou nunca, Trinity.

Agora ou nunca.
Eu vejo de boca aberta enquanto Gabriel desaparece virando a esquina.
Chamei-o algumas vezes, mas poderia muito bem ter ficado muda.

Oito horas.

15 minutos.

Boa sorte.

Merda. O que diabos aconteceu? Eu mal conseguia distinguir qualquer


coisa apenas de ouvir o lado de Gabriel da chamada. Mas sei que foi Zachary
quem telefonou. O pensamento fez meu cabelo ficar em pé.

Não há tempo para essa merda. Comece a procurar, Trinity.

Eu rapidamente fecho a porta e corro de volta para o apartamento de


Gabriel. Não me preocupo com a cozinha ou área de estudo. Se este laptop
estiver cheio de tantas evidências incriminatórias quanto a Irmandade diz, ele
o esconderia em algum lugar que uma busca rápida não localizaria.

Caramba.

Abro seu armário e folheio suas roupas. Eu procuro seus sapatos no


fundo e, em seguida, vou para suas prateleiras. O cheiro de seu amaciante de
roupas enche meu nariz enquanto eu passo meus dedos por trás de seus
suéteres.

Nada.
Eu subo nas prateleiras e enterro meus braços entre suas malas. Eu
engasgo com o fedor de naftalina saindo deles.

Nada.

O relógio na sala de estar parece ter dobrado de tamanho. Tudo o que


ouço é o ponteiro do relógio retinindo a cada segundo como uma sentença de
morte.

O armário é um fracasso.

Abro a gaveta de sua mesa de cabeceira. Uma bíblia, um caderno com


espiral, loção para as mãos, preservativos

Eu congelo.

Preservativos.

Preservativos?

Que porra...?

Não há tempo, Trinity!

Eu fecho a gaveta e tento tirar a visão daquela embalagem preta e


dourada da minha mente. Enfio minhas mãos sob seu colchão e me arrasto ao
redor da borda, grunhindo com o quão pesado é.

Nada.

Enfio a cabeça embaixo da cama e rastejo para baixo quando percebo que
está escuro demais para eu ver.

Tento não imaginar que já haja alguém aqui embaixo, lá atrás, me


alcançando como estou tentando alcançá-lo.

Preservativos?

Foda-se, concentre-se!

Nada. A cama é um fracasso.

Estou prestes a rastejar para fora novamente quando minha mão esbarra
em algo.
Mil aranhas se enterram em meu cabelo. Soltei um grito estrangulado e
tive que me esforçar para não sair disparada de debaixo da cama, gritando.

É apenas uma bolsa, Trinity.

Uma mochila escondida debaixo de sua cama.

BINGO!

Eu implacavelmente suprimo a parte de mim que quer se mijar e pego


um punhado da bolsa de pano, arrastando-a comigo enquanto rastejo para
trás.

Quanto mais perto chego de sair, mais me convenço de que Gabriel já


está parado na sala, esperando por mim.

Meu coração está a segundos de explodir. Limpo os últimos centímetros


e me jogo de costas, segurando a bolsa contra o peito como um escudo, caso o
padre Gabriel decida me atacar.

A sala está vazia.

Sem aranhas no meu cabelo.

Apenas preservativos na gaveta.

Afasto o pensamento enquanto rolo de joelhos e abro a bolsa.

Luvas. Um chapéu macio. Uma caixa de cigarros. Um diário de pele de


toupeira. Cabos enrolados. Um laptop.

Um laptop.

Eu o arranco e abro. Não parece novo, mas como eu só usei os velhos e


desajeitados computadores desktop da biblioteca antes, não apostaria nada no
meu conhecimento dessa merda. Mas compará-lo com a máquina preta e
lustrosa que Apollo estava configurando ontem? Sim, essa coisa é antiga.

A tela está em branco. Eu procuro ao redor da máquina, dedo levantado,


até encontrar o botão liga / desliga.

Eu aperto bruscamente.

A máquina permanece morta.


Tique taque, Trinity.

Arrasto meus dedos pelo rosto e aperto o botão novamente.

Nada.

Papai também tinha um laptop. Nunca usei, mas o ouvi xingando o


tempo todo.

Bateria sem carga.

A bateria acabou.

Tenho que ligá-lo.

Cabos.

Os cabos!

Minhas mãos estão tremendo tanto que eu deixo cair o feixe de cabos
duas vezes enquanto subo no chão para a mesa de cabeceira.

Há uma lâmpada nele, deve haver uma tomada elétrica próxima.

Tique Taque. Porra.

Arranco a mesinha de cabeceira da parede, arranco o plugue da lâmpada


e coloco o carregador do laptop.

Que horas são? Quanto tempo isso tudo demorou?

Não olhe para o tempo, só vai te atrapalhar. Eles sempre erram nos
filmes. Sempre olhando para trás para ver o quão longe eles correram, então,
BAM! Morto.

Não morra, Trinity.

Eu me atrapalho com a outra extremidade do carregador, mas não


consigo colocar aquele minúsculo plug naquele pequeno orifício.

Pare.

Respirar.

Acalma.

Agora tente novamente porra.


Ele se encaixa no lugar.

— Aleluia do caralho. — Minha voz parece rouca e quebrada.

Eu aperto o botão de energia. A tela muda de preto para cinza.

— Oh Deus, por favor. Por favor. — Eu subo a lateral do meu vestido e


tateio minha calcinha para o pendrive.

Não está lá.

Eu me viro, meus olhos se arregalando. Não, não! Eu deixei cair? Caiu


enquanto eu me contorcia embaixo da cama?

PING lá se vai o laptop.

Meu coração está prestes a desabar, mas então meus dedos tocam a
tampa de plástico. Ele se moveu, mas ainda está lá.

O laptop está zumbindo, mas nada mais está acontecendo. Quão lenta é
essa coisa?

Eu não consigo me conter.

Eu me viro e olho para o relógio.

São oito e cinco.

Eu esvazio como um balão, meus ombros cedendo enquanto solto um


suspiro de alívio.

Que porra essas camisinhas estão fazendo na gaveta?

Eu aperto meus olhos fechados. O que Apollo disse sobre este


dispositivo? O computador precisava estar logado ou apenas ligado? Ele disse
que eu não precisava fazer nada, apenas conectá-lo, mas quando?

Eu acho que não importa. Mais cedo ou mais tarde, certo?

Meus dedos se transformaram em salsichas de trinta centímetros. Eu


deixo cair a tampa e gasto vários bilhões de tique taques do caralho, tentando
obter a porra do pendrive estúpido na porra do slot estúpido.

Quando ele finalmente desliza para o lugar como um porco untado, eu o


encaro.
Não é à toa que as pessoas jogam computadores e merdas contra a
parede. Estou fedendo a suor, não importa a porra dessas bolas de naftalina.

A tela começa a cuspir letras.

Merda.

Merda!

Isso era um vírus ou algo assim? Esse era o plano da Irmandade o tempo
todo? Mas então eu realmente leio as mensagens e me acalmo um pouco. Os
computadores da biblioteca também despejariam essas merdas. Verificando
isso, alocando aquilo.

Normal. Tudo normal.

Meu olhar é inexoravelmente atraído de volta para o relógio.

Sete minutos depois das oito.

Porra.

Eu tamborilando meus dedos contra a moldura de plástico do laptop. O


logotipo do Windows aparece, acompanhado por um conjunto de sinos muito
alto que tenho certeza que Jasper ouviu em nosso quarto.

Cristo, estou tendo urticária.

Oito e dez.

Isto é ridículo. Não há como um computador demorar tanto...

Uma área de trabalho azul brilhante se abre. Vinte ou mais pastas e


arquivos clamam por minha atenção.

Não tenho ideia se o drive está funcionando, mas não posso ser
incomodada com isso agora. Tenho cerca de três minutos antes de precisar
colocar essa coisa de volta em sua bolsa.

Três minutos para provar que o padre Gabriel é um bom sujeito.

Três malditos minutos.


Meus cálculos estavam errados. Em vez dos cinco a sete minutos que
pensei que levaria Gabriel para fazer o seu caminho até a sala de aula. Ele
chega aqui em três minutos.

Três malditos minutos.

Ele correu ou alguma merda?

Acho que estou ouvindo coisas quando seus sapatos sobem as escadas.
Eu mal chego ao outro lado do corredor antes que ele saia da escada. Meu
coração bate tão alto no meu peito que estou chocada que Gabriel não parou
primeiro para investigar o som.

Ele corre pela passagem, uma forma escura contra as sombras. Deixei as
luzes apagadas para fazer parecer que ninguém esteve aqui ainda, exceto Cass.

Com sorte, Cass o ouviu chegando.

Vozes abafadas me alcançam. Desço as escadas, corro pelo corredor do


andar de baixo e subo pelo outro lado por onde Gabriel entrou.

Quando paro do lado de fora da classe 2C, estou ofegante.

Eu acendo a luz, inundando a sala de aula de branco.

Gabriel está no chão. A cadeira em que Cass estava de pé está deitada de


costas a cerca de um metro de distância.

— Padre?
Gabriel muda ao som da minha voz, mas ele não olha para cima. Meu
peito está tão apertado que mal consigo respirar. Gosto de pensar que sou
inteligente e cauteloso, mas acabei de perceber que sou um maldito idiota
impulsivo.

Cass não está se movendo.

Com as luzes acesas, as marcas de ligadura em torno de seu pescoço são


muito brilhantes, muito vermelhas, muito reais.

— Você ligou para Timothy?

Claro que não. Cass deveria tombar a cadeira quando Gabriel entrasse.
Ele ficaria pendurado por alguns segundos antes de Gabriel o derrubar.

A menos que ele escorregou.

A menos que ele realmente quebrou a porra do pescoço.

A menos que o doente o deixou sufocar até a morte enquanto assistia,


porque ele sempre soube sobre nós, sabia que estávamos assistindo, e ele
estava esperando pelo momento certo, a oportunidade perfeita para...

— Irmão Zachary!

Eu recuo, tirando meus olhos do rosto frouxo de Cass.

— Ligue para Timothy. — Gabriel não grita. Na verdade, ele parece calmo
pra caralho.

Meus dedos estão dormentes enquanto tiro meu telefone do bolso. Eu


faço a ligação e falo as palavras, mas é como se tudo estivesse acontecendo
com outra pessoa.

Gabriel deita Cass no chão e começa a fazer ressuscitação


cardiopulmonar. Quando ele pressiona sua boca na de Cass, algo dentro de
mim estala.

— Não! — Eu rosno, caindo de joelhos ao lado do corpo inerte de Cass.


Empurro Gabriel para longe, vagamente ciente de que estou fazendo tudo
errado, muito errado, mas não consigo parar.

Isso não deveria acontecer.


Eu fecho minha boca sobre a de Cass e respiro dentro dele, sentindo seu
peito subir sob a minha palma.

Uma vez. Em dobro.

Comece as compressões.

Dez.

Vinte.

Trinta.

Gabriel se senta sobre os calcanhares. Seu telefone está fora do ar. Ele
está falando com alguém, mas sabe quem é.

Está tudo acabado.

Ele sabe.

E eu não dou a mínima porque estou perdendo Cass.

Já o perdi.

Porra.

Porra!

— Fique comigo, — eu grito antes de respirar em sua boca novamente.


Uma vez duas vezes. — Fica comigo, porra!

Meus ouvidos zumbem como uma serra elétrica. O peito de Cass parece
muito esponjoso sob minhas palmas empilhadas, como se eu estivesse
empurrando um colchão e não o peito do meu irmão. Vou usar a força de cada
empurrão para puxar o ar de volta para seus pulmões, massagear seu coração,
fazer o que quer que seja que a RCP deve fazer.

— Respira! — Eu grito.

A mão de Gabriel aparece. Por um momento nauseante, acho que ele vai
me puxar para longe, para me dizer que tenho que parar, que Cass já está
morto. Mas, em vez disso, ele simplesmente agarra a ponta da camiseta de
Cass e a puxa para baixo em seu estômago.

Cobrindo as incontáveis queimaduras de cigarro espalhadas por sua pele.


Marcas que fiz.

Dor que eu infligi.

Minhas bochechas estão molhadas e eu sei que não deveria estar


chorando por algum aluno aleatório na frente de Gabriel, mas só a porra sabe
como devo parar.

Eu sinto muito.

Eu sinto muito, porra.

Eu gostaria de poder retirar cada palavra desagradável que já disse a


você, cada pensamento fodido, tudo.

Tudo porra.

— Zachary.

Estou olhando para meus dedos entrelaçados enquanto empurro as


costelas de Cass. Vinte e cinco, vinte e seis, vinte e sete...

— Zachary!

Eu olho para cima Gabriel, meu rosto contorcido de raiva, de dor, de


derrota. Seus olhos se estreitam e sua boca se estreita em uma linha severa.

— Pare.

— Foda-se, — eu rosno.

Os olhos de Gabriel vão até a linha do cabelo.

— Irmão Zachary... — ele diz, estendendo a mão para mim.

— Porra, pare, — alguém grasna. Uma mão dá um tapa fraco no meu


pulso. — Pare!

Eu me sento e acabo caindo os últimos centímetros na minha bunda.


Cass rola para o lado, ofegando e engasgando como se eu tivesse enfiado os
dedos em sua garganta. Ele coloca a mão no peito onde eu estava fazendo as
compressões e geme como um porco estripado.

— Eu ouvi algo ceder, — Gabriel diz calmamente. — Você pode ter


quebrado uma costela.
Jesus, porra, Cristo.

Eu me levanto, passando minhas mãos pelo cabelo. A pele do meu rosto


está fria, formigando, dois tamanhos menores.

— Sinto muito, — ouço alguém dizer. — Eu sinto muito, porra.

— Vá esperar lá fora, criança, — diz Gabriel.

O sangue geme enquanto corre em minhas veias.

— Cass, Cassius, sinto muito.

— Zachary!

Meus olhos voltam para Gabriel. Seu rosto está pálido, sua boca uma
linha dura e trêmula. Ele aponta para a porta.

— Você já fez o suficiente. Vá e espere lá fora.

Parece que estou arrastando minhas pernas pelo concreto para chegar
até a porta.

Eu mal saio um momento antes de ouvir pés correndo. O irmão Timothy


me empurra para o lado quando eu não me mexo e cai ao lado de Cass, uma
bolsa de paramédico caindo no chão perto de seus joelhos.

— Cassius, você pode me ouvir? — Timothy exige, agarrando os ombros


de Cass e sacudindo-o.

— Sim, foda-se. Pare com isso, sim? Isso dói. Deus.

Eu recuo mais e mais, até que não consigo ouvir a voz de Cass.

Eu o quebrei.

Eu o trouxe de volta, mas então o quebrei.

O que há de errado comigo?

Minhas mãos trêmulas se fecham em punhos enquanto me viro e me


forço a ir embora. Não há mais nada para eu fazer aqui.

Como disse Gabriel, já fiz o suficiente.

Eu fiz o suficiente.
Uma luz verde começa a piscar no dispositivo. Eu deveria retirá-lo e
desligar o laptop para colocá-lo de volta debaixo da cama, mas não posso.
Estou paralisada, diante de um e-mail que meu cérebro parece não ser capaz
de processar.

QUERIDO GABE,

Gostaria que você nunca tivesse saído de Redmond.

Sei que já se passaram meses desde a última vez que conversamos e


parece que só entro em contato quando preciso de algo, mas realmente
espero que você entenda meus motivos.

Eu sei que você está ocupado na escola, e você deixou bem claro que eu
não deveria entrar em contato com você novamente..., mas Keith precisa de
sua ajuda.

Nós precisamos da sua ajuda.

As coisas progrediram para um estágio em que não tenho certeza se


posso manter este casamento por mais tempo.

Minha intenção não é força-lo a responder. Eu entendo que você talvez


nem veja este e-mail. Mas eu espero que você o faça.

Você já salvou meu casamento inúmeras vezes antes. Hesito em


perguntar, mas você pode salvá-lo novamente?
Você pode nos trazer de volta à gloriosa luz de Deus?

Precisamos de você, Gabe.

Acima de tudo, Keith.

Por favor.

Monica.

O fogo estoura, me tirando do transe. Eu me viro para olhar o relógio.


Oito e quinze.

Eu pressiono o botão liga / desliga do laptop. Ele começa a desligar


quando eu tiro o pendrive e subo minha saia para colocá-lo atrás da minha
calcinha novamente.

Um barulho me alcança da passagem fora do quarto de Gabriel. Tão


fraco, pode ter sido minha imaginação, mas não vou arriscar. Se o drive teve
tempo suficiente para copiar tudo de que precisava, não sei.

Eu fecho a tampa e retiro o cabo, empurrando o laptop de volta na bolsa


antes de enrolar o cabo enquanto o rastreio de volta à tomada.

Foi uma porta se abrindo?

Meu coração bate contra meu peito. Estou a segundos de vomitar de


nervosismo.

Eu quebro a ponta da minha unha ao puxar o cabo de alimentação. Eu


chuto a lateral da mesa de cabeceira, empurrando-a de volta contra a parede
com meu pé.

Jogando tudo na bolsa, fecho o zíper e rastejo para debaixo da cama.

Não suporto ir até o fundo.

Você está demorando muito!

Porra. Eu rastejo para fora novamente, pulo e giro para encarar a porta
do outro lado do apartamento.

Então me lembro de respirar e soltar um suspiro enorme de ar viciado.


Arranco meu vestido enquanto corro de volta para a lareira, olhando por
cima do ombro para me certificar de que o quarto está nas mesmas condições
que eu o encontrei.

Eu assobio de dor quando minha bunda bate na cadeira. Apesar do


amortecimento, senti aquele impacto por todo o meu corpo. Eu estremeço
enquanto tento ignorar a dor e suavemente mudo para uma posição mais
confortável.

O que você estava fazendo enquanto eu estava fora, Trinity? Quem eu?
Fiquei sentada aqui o tempo todo. Sentada aqui, observando o fogo.

Deus, meu coração está batendo forte. Eu limpo as costas da minha mão
na minha testa e, em seguida, uso as duas mãos para limpar o suor do meu
couro cabeludo.

Crackle, pop, chiados.

Presa entre um fogo ávido e uma tempestade violenta.

Merda, está quente aqui.

Eu me levanto novamente, examinando o quarto novamente quando


passo. Querido Deus, espero não ter estragado tudo. Abro a janela e coloco
minha cabeça no ar úmido e frio.

Melhor.

Um raio corta o céu e, alguns segundos depois, um estalo abafado ressoa


em torno de Saint Amos.

Eu verifico o relógio.

Oito e vinte.

Caramba! Eu ainda poderia estar lendo seus e-mails. Levei apenas um


minuto para encontrar o que minha mãe enviou. Padre Gabriel, Gabe? É super
organizado. Seus e-mails foram todos classificados em pastas. Contas,
Pessoal, Redmond, Bispo, Tarefas, Não classificado, Spam, Enviado, Excluído.

A carta da mamãe era a décima na pasta pessoal. Acho que diz muito que
a pasta inteira continha apenas um pouco mais de trinta e-mails. Mas embora
Gabriel goste de fingir que não tem uma vida pessoal, a julgar pelo e-mail de
minha mãe, ele está metido nos assuntos de nossa família há muito tempo.

Sua orientação?

Se ela soubesse de que merda a Irmandade estava acusando Gabriel.

Oh espere. Ela nunca vai saber. Ela está morta.

Não há nenhum aviso. Em um minuto, estou olhando para a tempestade


negra, no próximo, tudo fica embaçado com lágrimas de raiva.

Eu me afasto do parapeito da janela e volto para o fogo. Trinity, a Banana,


está gritando para eu parar, mas eu a empurro em um armário mental e tranco
a porra da porta.

O vinho respinga na borda do copo quando o arranco da mesa lateral. Eu


inclino minha cabeça para trás e engulo tudo de uma vez. Então eu me sirvo
de outro da garrafa.

Eu até fico olhando para o maço de cigarros de Gabriel por um momento,


me perguntando se eles ajudariam a suprimir a onda repentina de fúria
imutável rugindo por mim, mas eu rejeito o pensamento.

Erva. Isso é o que eu preciso.

Eu esvazio meu copo e pressiono minha mão no fundo da minha boca


enquanto faço uma pausa, esperando que tudo volte à tona novamente. É
vinho tinto, que merda de bagunça isso vai fazer neste lindo tapete.

Em vez disso, uma risada amarga explode de mim. Penso em beber direto
da garrafa, mas então me lembro que não sou um maldito animal, então me
sirvo de outro copo.

— Isso é o suficiente, criança.

Eu suspiro em estado de choque, derramando vinho na minha mão e,


sim! arruinando a porra do tapete bonito. Girando, eu fico olhando para
Gabriel com a boca frouxa enquanto ele se aproxima.
Ele pega o copo da minha mão e me leva para a cadeira antes de se sentar
no braço. Sua cabeça baixa enquanto ele massageia a parte de trás das
pálpebras e solta um longo suspiro.

— O que há de errado? — Eu pisco para ele, minha mão se estende para


ele antes que eu possa pegá-la novamente.

Isso não passa despercebido. Os olhos de Gabriel trancam na minha mão,


onde a mantenho pressionada em um punho no meu colo. As sombras em seu
rosto parecem se aprofundar.

— Vou ter que remarcar o jantar de hoje à noite.

Por um segundo, não tenho ideia do que diabos ele está falando.

— Oh, isso? — Eu aceno, lambendo meus lábios. — Sim, claro. — Parece


que minha língua está ficando mais grossa dentro da minha boca. Começando
a me arrepender do vinho agora, mesmo que tenha apagado o fogo que ardia
dentro de mim.

Você pode mergulhar a merda em álcool, mas no final das contas isso
apenas prepara o terreno para uma explosão de classe mundial.

— Eu sei que permiti, criança, mas você não deve beber em excesso. Ou
na sua idade.

Irritação pisca dentro de mim, ameaçando inflamar minha raiva


anterior.

Sim, e um padre celibatário não deveria ter preservativos na porra da


gaveta, mas aqui estamos.

Acho que vou vomitar.

Eu me levanto, fazendo contato com Gabriel no meu caminho para cima.


Em um esforço para me desviar dele, tropeço em meus próprios pés. Se ele
não tivesse me pegado, provavelmente eu teria caído na lareira.

Sua mão está no meu quadril. Dedos fortes cavam em minha carne.
No caminho escondido atrás da minha calcinha. Ele franze a testa e move
o polegar sobre o dispositivo. Eu me afasto dele, piscando furiosamente
enquanto tento ficar sóbria.

— Eu tenho que ir, — eu declaro, levantando um dedo. — Mas posso,


posso? Eu usar seu banheiro primeiro?

Ele franze a testa com força e alcança meu quadril novamente enquanto
se levanta.

— O que é aquilo? — Ele pergunta.

— Banheiro! — Eu grito e corro para longe dele. Eu vi outra porta saindo


de seu quarto, ou é um closet para as mais de cem vestes clericais de que ele
precisa, ou é o banheiro.

Acontece que é um banheiro.

Bato a porta atrás de mim e, por causa disso, não consigo ir ao banheiro.
Em vez disso, eu vomito na pia.

Este é um novo recorde para mim. O máximo que eu já vomitei foi


daquela vez que a Sra. Brady cozinhou mal os cachorros-quentes na festa da
igreja para deficientes físicos quando eu tinha dezesseis anos.

Eu meio que espero que Gabriel venha para dentro e segure meu cabelo
como Reuben fez.

Mas ele não vem.

Passo alguns minutos certificando-me de que não há mais nada para sair,
e então mais um minuto jogando água fria no meu rosto.

Infelizmente, o expurgo não fez nada para me deixar sóbria. Eu tropeço


para fora do banheiro e tenho que me segurar na parede enquanto estudo a
nuca de Gabriel.

Ele está na janela, olhando para a escuridão.

Ele vira um pouco a cabeça, mas se endireita novamente.

— Você precisa de mim para ajudá-la a voltar para o seu quarto?


Minha espinha se enrijece.

Nós precisamos da sua ajuda.

— Não, — eu digo friamente, cruzando meus braços sobre o peito, apesar


de como isso me faz balançar. — Estou perfeitamente bem.

Além da tagarelice, é claro.

— Gosto de pensar que não tenho culpa, criança.

Demoro um segundo para me concentrar nele.

— O que?

Ele suspira, fecha a janela e se vira para me encarar. Tem um cigarro em


sua mão e ele o traga até o carvão ficar vermelho como os chifres de Satanás.

— Você perguntou se seus pais eram boas pessoas. E eles são, Trinity.
Verdadeiramente... eles eram.

Ele se aproxima de mim com um sorriso triste no rosto.

— Mas eles não eram inocentes e nem eu.

Sua mão está no meu ombro. Não gosto de lá, mas não quero que ele pare
de falar.

— O que você está dizendo?

Ele dá outra longa tragada no cigarro. Embora ele abaixe a cabeça para
soprar a fumaça, ela se acumula entre nós e ainda atinge meu nariz.

— Por que você mexeu nas minhas coisas?

Meus olhos se arregalam.

— Eu não fiz. Eu prometo.

Ele olha para o lado, atraindo meu olhar com o dele.

A bolsa que enfiei debaixo da cama está em cima do colchão, com o


conteúdo derramado. O laptop está aberto. Mesmo daqui, posso ver que o
programa de e-mail está aberto.

Não desligou corretamente.


Ele sabe que li o e-mail.

Mas isso é tudo que ele sabe?

— Eu sinto muito. — Eu pressiono minhas mãos no meu rosto, tentando


me esconder atrás dos meus dedos.

— Shh, — ele murmura.

Um braço desliza em volta do meu ombro e me puxa para perto.

Eu estremeço contra ele, minhas mãos ainda cobrindo meu rosto.

— Eu sinto muito.

— Eu entendo. Saí antes de responder às suas perguntas.

Ele acaricia minha cabeça e por algum motivo isso é tudo o que preciso
para me render. Isso e a meia garrafa de vinho que eu bebi antes de ele voltar.

Por um momento ridiculamente doce, nada mudou. Tenho dezesseis


anos e acabei de admitir que não acredito em Deus. Pelo menos, não da mesma
forma que meus pais fazem. E Gabriel está me segurando, assim, me deixando
chorar em seu ombro.

Mas o momento é apenas isso, um único momento. Frágil como uma taça
de vinho. E se quebra assim que ele fala.

— Eu pediria a você para não me julgar, mas... — seus lábios se curvam


em um sorriso que é caloroso, mas muito triste. — Você é uma pessoa melhor
do que eu, então você teria todo o direito.

Eu me inclino para trás, meus dedos deslizando pelo meu rosto. Ele
segura meu rosto com uma mão, a outra ao seu lado, um cigarro semiacabado
pendurado em seus dedos. Seu toque faz com que minhas pernas percam a
força. Eu jogo meus braços sobre os ombros de Gabriel, segurando-o para me
manter de pé.

— Eu bebi demais, — digo a ele.

— Eu sei, mas isso não pode esperar mais. Se você não se lembrar de
manhã, eu contarei de novo. Vou continuar dizendo a você, até que você
encontre em seu coração para dar sentido a isso.
Suas palavras estão começando a correr juntas.

Merda! Ele está prestes a lançar uma merda pesada sobre mim, mas o
quê. Se. Eu não. Lembrar?

— Diga-me. — Eu agarro a frente de sua camisa, puxando-o. — Diga-me


o que você fez.

Fale-me sobre Zachary. Sobre Reuben. Apollo.

Diga-me o que diabos você fez com Cass.

Conte-me tudo, seu doente, pervertido...

— Trinity. Criança. Olhe para mim. — Ele usa a mão para levantar minha
cabeça. Então ele agarra meu queixo e aperta. A breve pressão me traz de volta
de um devaneio violento induzido pela bebida, onde ele é crucificado na
fogueira como Jesus, e a Irmandade é quem o está perfurando com lanças.

— Eu tive um caso com seu pai.


Estou de joelhos. Tecnicamente, cotovelos e joelhos. Eu cambaleei para
fora do quarto de Gabriel o que parece séculos atrás, apesar dele me implorar
para ficar e conversar. Eu poderia ter dito a ele que estava muito bêbada,
muito chateada, muito por causa de sua merda para ficar.

Eu não sei. Só espero não ter xingado muito. Parece errado, xingar um
padre.

Aquilo não é importante. Isso é importante. Eu seguro o pendrive e o


estudo com os olhos estreitos. Tenho que devolver isso.

Mas não cabe embaixo da porta.

Meu plano falhou porque essa coisa estúpida é muito grande.

Eu estreito meus olhos e me concentro em travar o estreito caminho sob


a porta.

— O que você está fazendo?

Eu olho para cima e então me sento de cócoras na frente de Reuben como


um cachorrinho implorando por guloseimas. Como ele sabia que eu estaria
aqui? Coincidência... ou ele estava me seguindo?

Eu seguro o pendrive.

— Devolvendo isso.

Reuben me observa por um segundo e então passa por mim para


destrancar a porta. Agarrando meu cotovelo, ele me puxa para cima e me
arrasta para dentro de seu quarto. A porta se fecha silenciosamente atrás de
nós.

Abro minha mão, o drive na palma da minha mão.

— Aqui.

Reuben mal me toca quando o pega e, em seguida, se afasta


imediatamente.

— O que, não, obrigada? — Eu chamo atrás dele.

Eu franzo a testa e olho ao redor de seu apartamento enquanto ele


desaparece em seu quarto com o drive.

Começo a bisbilhotar de novo, mas não há muito para ver. A única gaveta
ao lado da estação de café contém sachês e colheres de café solúvel. O micro-
ondas está vazio. Há um celular carregando ao lado da chaleira, mas quando
tento ligá-lo, ele pede uma senha. Tento alguns números aleatórios antes de
uma mão enorme me envolver, tirar o telefone dos meus dedos e, em seguida,
envolver minha mão.

— Você bebeu, — diz Reuben.

— E?

Eu flexiono meus dedos dentro de seu punho, maravilhada com o quão


grande ele é. Ele poderia esmagar minha mão sem colocar nenhum esforço
real nisso.

Espero que não. Eu gosto da minha mão.

— Por que você está bêbada perto dele? Ou você esqueceu como ele é
perigoso?

Eu rio e arqueio para Reuben.

— Segure-me, — eu digo, e então tento manobrar seu outro braço em


volta da minha cintura. Mas é muito pesado e difícil de manejar,
especialmente porque ele não está ajudando.

— Diga-me o que aconteceu.


— Nós falamos. Ele saiu. — Levanto um dedo e olho para Reuben por
cima do ombro. — Eram vocês, certo? Você fez alguma coisa? Ele deu o fora
dali. Tive tempo mais do que suficiente para copiar tudo.

Não tenho ideia se isso é verdade, mas não tenho certeza de quanto
tempo Reuben vai me deixar ficar por aqui se achar que sou um fracasso. Ele
pode até me mandar de volta para Gabriel.

Eu estremeço com o pensamento.

Nunca. Eu nunca voltarei lá. Nunca falarei com ele novamente.

Ele teve um caso com meu pai.

— Você está tremendo.

— Está frio, — eu digo, e tento me fazer parar. Então eu me viro,


terminando de frente para ele com o braço em volta da minha cintura, ainda
segurando minha mão. — Mas você pode me manter aquecida.

Seus olhos caem para minha boca, então minha garganta, então meus
seios. Cada lugar que param, a pele começa a pulsar.

— Você não pode estar aqui, — ele diz, me liberando e dando um passo
para trás.

Eu deveria ir embora. Eu sei disso. Mas não quero ficar sozinha agora.
Estar sozinha significaria que eu teria que repetir toda a merda que acabou de
acontecer, e no meu estado atual, não sei o que fazer com essa informação.

Então, novamente, eu realmente estaria melhor aqui? Eu me sinto segura


perto de Reuben, mas e se Cass ou Zachary vierem? Eu já sei que mal posso
me defender de um deles... se eles se unissem contra mim...

— Você está certo, — eu deixo escapar, empurrando meus cachos para


fora do meu rosto enquanto uma onda de arrepios de frio passa por mim.

Este é o último lugar que eu deveria estar.

Não há mais lugar seguro em Saint Amos.

Talvez nunca tenha existido.


Eu tenho que sair.

Reuben se vira para me observar quando passo por ele.

— Você quer saber o que há no drive?

Eu paro no meio do caminho e olho para ele por cima do ombro.

— Você? — Eu aponto para seu quarto. — Você encontrou algo?

Ele balança a cabeça.

— Só saberemos amanhã. Mas você quer saber o que encontramos, se


encontrarmos algo?

Parece uma pergunta carregada e algo que definitivamente não estou


preparada para responder agora. Portanto, eu peço cautela.

— Certo. Quero dizer, é claro. — Eu aceno e volto para a porta.

Eu abro.

Uma mão bate ao lado da minha cabeça, fechando-a novamente. Minha


coluna endurece como se alguém tivesse enfiado uma vara no meu corpo.

— O que... o que você está fazendo?

De repente, não me sinto mais tão bêbada. Talvez seja a adrenalina


passando por mim.

— Eu não sabia que você gostava de Cass, — diz Reuben.

— Eu…

Eu não...

Por algum motivo, não posso dizer isso.

Mas eu não sabia!

Ainda assim, você gosta do que ele faz com você. A maneira como isso
te faz sentir. Você sempre amou a ideia de ser uma pecadora, não é?

— Não estou chateado, — diz ele no mesmo tom monótono de antes.

Sempre tão calmo, tão centrado. Me faz pensar como é quando ele perde
o controle.
Como você fez com Cass.

Cale-se!

— Eu deveria ir, — eu digo novamente. — Provavelmente ninguém pode


me ver aqui.

— Você ainda gosta de mim?

— Sim.

Porra. Porra!

Eu tremo quando Reuben toca a lateral do meu pescoço, mas é apenas


para afastar um cacho da minha orelha.

— Então você pode gostar de mais de um cara ao mesmo tempo?

Não.

sim.

Pode ser?

Pergunta capciosa! Eu só gosto de Reuben.

Eu não?

E quanto a Zach?

Porra.

Nós vamos? O que tem ele?

— Eu tenho? — Murmuro, tentando encontrar uma saída fácil.

— Sim. — Os dedos de Reuben descem e acariciam minha clavícula. Esse


leve toque envia um arrepio por mim.

— Por que?

— Somos muito próximos. Já faz muito tempo.

— Se você realmente pensasse isso, não teria me beijado.

Ele me vira e gentilmente segura meu queixo.


— Beijos não significam nada. — Há um engate estranho em sua voz que
desmente as palavras. Porque ele gosta de mim, ou porque alguém lhe disse
isso há muito tempo e ele ainda acredita? — Eu gosto de beijar garotas.

Meus olhos se arregalam.

— Oh, — eu murmuro, o calor lentamente subindo pelo meu rosto.

Posso ficar mais envergonhada? Achei que Reuben realmente gostava de


mim. Mas se for apenas algo de que ele se empolga...?

Foda-se, ele gosta de mim.

Eu vou provar isso.

— Então me beije, — eu digo. — Beije-me e diga que não significa nada.

Ele inclina a cabeça um pouco para o lado, como se estivesse intrigado


com a minha sugestão. Então ele se abaixa, me pega em seus braços e me
pressiona contra a porta. Assim como da última vez, minhas pernas o
envolvem como se eu tivesse feito isso mil vezes antes.

Pequena vagabunda blasfemadora.

De repente, estou muito ciente de quão perto meu núcleo está de seu
corpo. Pressionado contra o estômago logo acima do cinto, eu só posso
imaginar como seria se ele levantasse minha saia para que o tecido áspero de
seu jeans pudesse esfregar contra mim.

Droga, sou uma vagabunda. É porque Cass me deixou tão quente e


incomodada antes? Ou é porque quando me sinto assim, não consigo pensar
em outras coisas? Coisas horríveis e confusas.

Talvez um pouco de ambos.

— Tem certeza? — ele pergunta.

— Que eu quero que você me beije? — Eu franzo a testa para ele. — Sim.

— Quero dizer, você tem certeza que quer me testar?

Minha carranca se aprofunda.


Ele muda seu aperto, me pressionando com mais força contra a porta.
Mesmo através da minha saia, esse atrito é suficiente para enviar uma série de
sinais urgentes pelo meu corpo.

Agora cada parte de mim está prestando atenção, dos meus lábios aos
meus mamilos, ao meu centro, à porra dos meus dedos dos pés.

— Você não deve tratar isso como um jogo, Trinity. — Os olhos negros de
Reuben endurecem com a mesma determinação intensa que ele tinha no dia
em que nos conhecemos. Ele traça o contorno de um dos meus botões e
começa a abri-los.

— Você deveria estar me beijando, — eu sussurro.

— Eu estou, — ele concorda calmamente. — Mas você nunca disse onde.

Bom Deus, agora estou imaginando-o beijando meus seios, puxando


meus mamilos em sua boca e provocando cada botão apertado com os dentes.
Eu começo a tremer internamente. Quando eu agarro seus ombros, ele faz
uma pausa em seu trabalho metódico, seus dedos alinhados com meus
mamilos.

— Você está bem?

— Sim, — eu digo sem fôlego.

Ele deixa escapar um suave

— Hmm, — como se não estivesse cem por cento satisfeito com a minha
resposta.

Deus, isso é uma tortura. Estou tentada a pedir a ele para se apressar.

O último botão se abre. Ele desliza a mão por trás do meu corpete e
separa as duas metades do meu vestido.

Mas não de todo. Apenas o suficiente para que eu possa ver a ponta do
meu sutiã quando eu olho para baixo.

Então ele muda seu aperto e me segura com um braço, um braço?


enquanto ele procura em seu bolso por alguma coisa. O que ele está
procurando, uma camisinha?
Eu sei onde encontrar algumas.

Gabriel dormiu com meu pai? Bem, ele teria que, provavelmente,
considerar isso um caso.

Querido Senhor, não consigo lidar com essa merda.

Eu me inclino para frente, meus olhos tremulando fechados, com total


intenção de beijar Reuben apenas para colocar um fim aos pensamentos
amargos que enchem minha cabeça.

Mas ele move a cabeça para o lado, então acabo beijando a porra da
orelha dele.

Eu bufo impacientemente e pressiono a parte de trás da minha cabeça


contra a porta, olhando para ele enquanto ele continua vasculhando seu bolso.

Eu cruzo meus braços sobre meu peito, movendo minha boca para o lado.

— O que você está procurando?

— Isto.

Ele levanta um rosário vermelho. Minhas mãos voam para o meu peito,
mas eu toco a pele nua.

— Como você...?

— Você deixou aqui.

Minha mente corre de volta para o banho que tomei hoje cedo.

— Não, eu não deixei.

Ele não diz nada.

— Devia ter colocado de volta.

Nada ainda.

— Eu coloquei em cima das minhas roupas. Teria sido a primeira coisa


que vi.

Ele levanta uma sobrancelha para mim.


— Deve ter caído. — Eu continuo escovando minha pele e, em seguida,
estendo minha mão com a palma para cima. — Qualquer que seja. Devolva.

Seus dedos se fecham sobre as contas vermelhas.

— É meu.

— Você me deu.

— Mas você não acredita. Qual é o ponto?

Meu coração gagueja com isso. Seu olhar de comando me obriga a baixar
o olhar. O que diabos eu devo dizer sobre isso?

O cheiro de rosas atinge meu nariz. Ele está esfregando o crucifixo com
o polegar, intensificando o cheiro.

Eu mordo meu lábio. Eu sou uma idiota. Obviamente, significa muito


para ele, e estou exigindo que ele devolva.

Ele fica tenso quando coloco minha mão sobre a dele. Eu lentamente
fecho seus dedos sobre o colar.

— Você tem razão. Não há sentido. É seu, de qualquer maneira.

Mas então, enquanto o estou segurando, olhando para aqueles olhos


negros como breu, um verme da dúvida começa a se mover em minha mente.

— Espere... — Eu viro minha cabeça, observando-o com cautela com o


canto do meu olho. — Eu sei que eu coloquei nas minhas roupas. Não... não
estava lá quando eu saí.

Ele me observa com a paciência de uma pedra.

Meus olhos se arregalam.

— Você pegou.

Há uma pequena centelha em seus olhos.

— Oh meu Deus! — Eu bato a mão em seu peito e começo a me contorcer


contra ele para que ele me deixe ir. — Você estava nos observando!

Ele solta um grunhido suave, agarra minha bunda e me bate de volta na


porta com força suficiente para sacudi-la.
O choque me mergulha no gelo.

Minhas mãos estão em seu peito, dedos cavando em seus músculos, mas
eu lentamente os retraio e me abraço.

Ele solta um longo suspiro pelo nariz e então lentamente examina meu
rosto como se estivesse procurando por algo.

Não sei se ele encontra, mas um momento depois ele desliza seu rosário
sobre minha cabeça e o enfia atrás das metades abertas do meu vestido. Então
ele lentamente começa a me abotoar novamente.

— Por quê? — A palavra berra antes que eu possa detê-la.

— Por que eu assisti ou por que não o parei?

— Ambos! — A raiva está voltando, mas me forço a engoli-la.

— Eu assisti porque gosto de você. Porque você estava gostando. Porque


eu queria ver como você fica quando goza.

Eu deveria estar inundado de horror ou nojo. Em vez disso, fico olhando


para Reuben com uma fascinação mórbida.

Achei que fosse ele. Essa é a única razão que eu permiti...

— E eu não o impedi, porque estava fingindo que era eu lá, não ele.

Suas palavras penetram em mim como uma faca cega.

— O que? — Eu grito, batendo em seu peito com meu punho. — Isso não
faz sentido!

Ele resmunga baixinho enquanto dá um passo para trás e me deixa


escorregar para o chão. Estou respirando tão forte que você poderia jurar que
corri uma porra de uma maratona.

— Isso não faz sentido, Reuben! — Eu grito, batendo meu outro punho
nele.

Ele pega meu pulso antes que eu possa dar outro golpe e, em seguida,
fecha os braços sobre mim, me esmagando contra seu peito enorme. Soltei um
grito estrangulado, mas lutar contra ele é inútil.
— Posso te beijar agora? — ele pergunta.

Essa faca se torce, raspando meus ossos e destroçando meu coração. É


preciso cada grama de autocontrole que ainda tenho, mas consigo um rouco,
— Não. Nunca. — Eu limpo minha garganta e forço a força em minhas
palavras. — Nunca, nunca mais.

Então eu o empurro com todas as minhas forças.

E ele me solta.

Não olho para trás quando saio, mas consigo não bater a porta. Dou dois
passos antes que o cheiro de seu rosário chegue ao meu nariz novamente.

Deixo pendurado na maçaneta da porta, piscando para conter as


lágrimas enquanto volto para o meu quarto.
Meu coração quase explode no meu peito quando vejo Cass sentado no
sofá. Eu não tinha certeza se ele estaria aqui. Uma parte de mim deseja que ele
não esteja. Uma parte de mim não pode estar mais aliviada em vê-lo.

Cass levanta os olhos da última edição de Pussy Pounder 13 enquanto eu


deslizo em nosso covil através da abertura estreita nas estantes. Mal posso
esperar pelo dia em que teremos um espaço nosso com uma porra de uma
porta adequada. Não, foda-se. Sem portas. Apenas um arco.

Eu sei exatamente para onde iremos quando essa merda estiver


resolvida.

Sempre que vou à cidade nos fins de semana, passo cerca de uma hora
no café local. O café do filtro deles tem gosto de merda que você tira da sarjeta,
mas não é por isso que vou lá.

Seu Wi-Fi, embora irregular, abre um novo mundo. Por uma hora, posso
escapar dessa escola de merda e do caminho de décadas que meus irmãos e eu
temos trilhado.

Por aqueles poucos minutos preciosos, vou à procura de uma casa. Tudo
começou como uma coceira mental que eu tive. Temos um jogo que jogamos.
Não consigo me lembrar da última vez que o fizemos, mas como nossas
respostas são sempre as mesmas, tenho essa merda gravada na memória.

13 Tradução literal : Batedor de bocetas.


Chama-se: o que você faria, se pudesse fazer qualquer coisa?

Não muito original, mas para um bando de crianças presas em um porão


escuro que nunca tinha praticado esportes ou ido ao shopping ou mesmo
convidado uma garota para o baile... isso preencheu um vazio.

Jogamos uma ou duas vezes depois de escapar, mas ficou dolorosamente


óbvio que seríamos adultos quando tivéssemos nossa vingança.

O que importava, então, quais sonhos tínhamos quando crianças?

Mas essas coisas ficaram comigo.

Apollo adora o oceano, embora nunca tenha posto os pés na costa. Antes
de ser levado, ele assistia a campeonatos de surfe na televisão e imaginava que
era ele cortando aquelas ondas em alguma praia de Malibu. Honestamente,
acho que ele secretamente queria tirar fotos de garotas de biquíni. Mas quem
diabos sou eu para julgar, certo?

Um dia, fui para a cidade em uma corrida de suprimentos, com a porra


de ressaca depois de uma noite de drinques e uísque, e decido comprar um
prato de algo gorduroso no café. Só para descobrir que eles têm wi-fi.

Neste lugar?

Chocante.

Eu tinha um dos laptops antigos de Apollo comigo. Ele queria que eu


levasse, porque jurou que a placa de vídeo on-board estava com defeito. Parei
de ouvir depois da quinta vez que ele mencionou o drive e me entregou mesmo
assim.

Eles sempre esquecem que não precisam consertar merda. Sempre. Se


quebrar, comprarei um novo para eles. Dinheiro significa foda-se tudo para
mim.

Então, de ressaca pra caralho, decido tirar o laptop de Apollo do carro e


ficar online enquanto espero minha comida.

Estou supondo que o laptop não desligou corretamente porque, assim


que inicializa, o navegador se abre e carrega o último site que o Apollo acessou.
Um vídeo do Youtube de alguma competição de surf.

Minutos depois, eu estava caçando propriedades costeiras na Califórnia,


onde estou supondo, provavelmente incorretamente, que um cara pode pegar
as melhores ondas.

Então eu encontrei.

Seis quartos, cinco com suíte. Uma piscina infinita com vista para o
oceano. Uma garagem grande o suficiente para uma coleção de carros
clássicos tão grande quanto Reuben deseja. Uma sala de jogos para Cass,
repleta de uma porra de mesa de bilhar. Bilhar, não sinuca, porque ele é
esnobe assim.

Há até mesmo uma porra de estúdio de dança com espelhos nas paredes,
perfeito para Cass se admirar.

Não contei a eles sobre a propriedade.

Também não disse a eles que fiz uma oferta pelo lugar no sábado. Eu sei
que vou receber essa ligação em algum momento desta semana, minha oferta
estava dez mil acima do que pediram.

Está me comendo vivo, mas tenho que ter certeza de que está
acontecendo antes de estourar o champanhe.

E sim, comprei champanhe. Quatro garrafas da marca mais cara que a


loja de bebidas tinha em estoque.

— Amei o novo visual, — digo a ele, apontando para o meu pescoço. — Só


me avise se você estiver prestes a começar a recitar poesia ruim.

Ele está vestindo uma camisa preta com gola alta e jeans escuros. Cores
sombrias que combinam com as manchas sob seus olhos.

— Eu poderia ter morrido, — ele diz, a voz tão morta quanto seus olhos.

— Eu acho que você estava morto por alguns segundos. — Queria que
houvesse uma tomada elétrica aqui para que eu pudesse preparar um café. A
única outra alternativa é o álcool ou maconha.
Escolho o uísque, virando as costas para servir uma dose. Foda-se o fato
de que são seis e quinze da manhã.

— Mas, felizmente, você sempre foi um filho da puta teimoso. — Eu olho


para ele por cima do ombro quando não ouço a risada triste que eu esperava.

— Funcionou, — eu digo.

Cass se mexe um pouco e passa as palmas pelas pernas.

— Sim?

— Ela foi até Rube ontem à noite.

— Então por que eles não estão aqui? Por que eles não estão passando
por sua merda?

— Você sabe que Apollo tem que estar na cozinha antes do café da
manhã...

— Você acha que eu dou a mínima? — Cass grita.

Eu coloco a garrafa de uísque na mesa e me viro para encará-lo. Ele está


de pé, as mãos fechadas em punhos ao lado do corpo. Mas ele está olhando
para o chão, não para mim, como se não suportasse fazer contato visual.

— Cass…

— Arrisquei a porra da minha vida por essa merda, — diz ele, finalmente
olhando para cima. Olhos cor de gelo sujo me penetram. — Eu não me importo
se você tiver que arrastar aquela bocetinha para fora da cozinha por seu saco
de bolas de merda, você vai e...

— Cristo, Cass, estou aqui, — Apollo diz.

Nós dois nos voltamos para ele enquanto ele se esgueira pela abertura de
nosso covil. Ele está vestindo um suéter xadrez largo com um colarinho
desfiado, calças de moletom que já viram décadas melhores e um par de botas
de chuva listrados de tigre. A julgar por seu cabelo de cauda de rato e as
manchas úmidas em sua parte superior, começou a chover novamente.

Ele tira uma mochila do ombro e desaba no sofá, então olha para mim e
geme ao ver a garrafa na minha mão.
— Ainda não temos café aqui?

— Sem energia, lembra? É isso ou cerveja quente, — eu digo.

— Foda-se, — ele resmunga, levantando o suéter enquanto enfia a mão


sob o tecido para coçar as costelas. — Vou buscar um café mais tarde. Vamos
acabar com isso.

Eu sento no meu lugar de costume e eu e Cass assistimos Apollo


enquanto ele desliza o drive para seu novo laptop.

— Então, que merda você inventou para Gabriel? — Apollo pergunta


enquanto começa a tocar no touchpad do laptop. — Ele saiu correndo de lá
como se alguém tivesse posto fogo em sua avó.

Meus olhos vão para Cass, mas ele mantém a cabeça baixa, usando a
unha do polegar para empurrar para trás suas cutículas.

— Isso importa? Funcionou.

— Sim, funcionou, — diz Apollo com um sorriso sem olhar para cima. —
Parecia muito assustado pra caralho. Isso é...

Ele corta e começa a balançar a cabeça.

— O que é? — Eu sento para frente. — Apollo?

— Merda, — ele murmura, seus olhos piscando enquanto ele examina a


tela. — Não há nada aqui.

— O que você quer dizer com não há nada? — Cass rosna. Ele pega o
laptop de Apollo, apertando o botão para baixo enquanto um brilho se
aprofunda lentamente em seu rosto. — Há toneladas de merda aqui.

— Sim, mas nada útil. — Apollo pega o laptop de volta, faz uma careta
para Cass, e então se levanta e vai se sentar na poltrona à nossa frente. — Só
um monte de merda.

— Você não poderia ter passado por tudo tão rápido, — eu digo,
estremecendo com meu primeiro gole de uísque.

Apollo solta um suspiro de cansaço do mundo.


— Estou usando palavras-chave e sequencias de pesquisa. Ou ele deu o
nome de código à merda de tudo ou ele criptografou as coisas importantes. —
Apollo coça a cabeça e, em seguida, puxa o cabelo do rosto para trás. — Vou
continuar procurando, mas tenho a sensação de que ele não está guardando
nada importante aqui.

— Uma sensação? — Cass se recosta em sua cadeira, cruzando os braços


sobre o peito. — Que tal você realmente verificar primeiro?

— A porra subiu na sua bunda? — Apollo murmura, enviando uma


carranca questionadora para mim antes de se concentrar em Cass. — Já fiz
isso centenas de vezes. Eu posso dizer se alguém está tentando esconder
alguma merda.

— Eu me sentiria melhor se você desse uma boa olhada.

Apollo levanta os polegares do teclado, lançando-me um olhar


exasperado.

— Zach...?

— Faça uma busca manual, — eu digo. — É o mais próximo que chegamos


dele. Talvez haja algo que você está perdendo.

— Oh, está faltando alguma coisa, certo. Ela só conseguiu oitenta por
cento da direção. Acho que ela saiu mais cedo. — Ele ergue os olhos com um
sorriso tímido que nenhum de nós devolve, e então resmunga algo baixinho
enquanto volta para o laptop. — E ele nem se preocupou em limpar o histórico
do navegador em... — Apollo levanta um dedo enquanto encara a tela. — Para
sempre. Literalmente, desde o amanhecer da porra do tempo.

— Ou ele poderia ter excluído apenas a merda que não queria que você
visse, deixar todo o resto, então parece que ele não excluiu nada, — Cass diz,
levantando as sobrancelhas para Apollo.

— Então, ou ele é realmente inocente, ou é realmente culpado. — Apollo


fareja. — Vai saber.
— Apollo, leve o laptop com você. Passe por isso hoje e certifique-se.
Verifique cada merda de cluster 14nesse disco rígido.

Ele murmura algo sarcástico sobre clusters e fecha o laptop com má


vontade.

— Claro, capitão. — Ele se levanta enquanto joga a mochila no ombro


novamente. — Mas na chance de eu estar certo... — um olhar furioso para Cass
—...o que diabos nós fazemos? Se não estiver aqui, ele o manterá em outro
lugar.

Eu o estudo por um segundo e depois dou de ombros. Mas antes que eu


possa abrir minha boca, Cass interrompe.

— Nós dizemos a ela que não copiou nada. Diga a ela que ela tem que
fazer isso de novo.

— Eu não sei se ela pode, — eu digo.

Cass volta seu olhar para mim.

— Parece que estou me importando?

— Cara, sério, qual é o seu problema? — Apollo exige, sua mão apertando
a alça da mochila. — Você tem outro sonho molhado com Zach e acorda com
o traseiro dolorido?

Cass se levanta tão rápido que já estou tentando impedi-lo de ir atrás de


Apollo. Mas ele não o apressa, ele apenas fica ali parado, com o queixo erguido
e os ombros para trás, como se esperasse que Apollo desse o primeiro soco.

Então ele agarra a gola de seu suéter e o puxa para baixo.

Eu aperto meus olhos fechados. É instinto, algo que sempre fiz quando
de repente me deparo com uma visão que não posso, ou não vou, processar.

Mas então eu forço meus olhos a abrirem. Obrigo-me a ver.

Eu me forço a ser uma testemunha.

14 conjunto de setores que constitui a menor unidade de alocação capaz de ser endereçada num
disco magnético.
Vai ser nós contra eles, se eu conseguir o que quero. Meus irmãos se
sentem diferentes, é claro. Eles não querem que nenhuma dessas merdas vá a
julgamento. Sua definição de justiça é bíblica.

Olho por olho. uma vida por uma vida.

E eles estão convencidos de que todo e qualquer Fantasma tirou uma


vida.

As marcas ao redor do pescoço de Cass estão inchadas e machucadas.


Mas ele sempre se machucava facilmente. Os fantasmas gostavam disso nele.

Danificado facilmente, mas impossível de quebrar.

Apollo olha boquiaberto para o pescoço de Cass, a pergunta não dita bem
grande em seus olhos arregalados.

— Ela está voltando e pegando o que precisamos, — Cass diz entre os


dentes. — E desta vez, não haverá a porra de uma corda em volta do meu
pescoço.

— Eu ouvi você, cara, — Apollo diz, estendendo a mão enquanto ele


imediatamente muda para o modo de resolução de conflito. — Mas você não
acha que estamos colocando um monte de merda nos ombros dela? E se ela
não puder fazer isso?

— Ela é uma garota esperta, não é? Tenho certeza que ela vai descobrir.
Ela só precisa da motivação certa.

Há um momento de silêncio antes de Cass passar por mim. Apollo o


observa sair e depois volta os olhos zangados para mim.

— O que diabos aconteceu?

Eu seguro minha língua. Eu estava prestes a jorrar um monólogo inteiro


sobre como a merda ficou fodida e não deveria ter acontecido como aconteceu.
Mas nada disso importa mais, não é?

— Eu estraguei tudo. — Eu me sento novamente. Eu estudo o copo na


minha mão e, em seguida, jogo tudo no fundo da minha garganta. — Eu
estraguei tudo e Cass se machucou.
— Sim, sem brincadeira. — Apollo afunda na beirada da poltrona. — Ele
está bem, entretanto? Tipo, mentalmente?

— Não sei. Não tivemos a chance de conversar.

Eu tinha ido para o quarto dele ontem à noite. Ele não estava lá. Eu
finalmente o localizei na enfermaria, onde um Timothy de rosto sombrio
estava enchendo um frasco de laranja para ele.

Quando tentei alcançar Cass no corredor, ele me empurrou para fora do


caminho sem dizer uma palavra. Eu sei quando não sou desejado. Não tentei
ir até ele novamente. Eu esperava que ele já tivesse se acalmado. Acho que
estava errado.

Tenho errado muito ultimamente.

— Reuben sabe? — Apollo pergunta baixinho.

— Não.

— Vou ter que dizer a ele.

— Obviamente.

Apollo solta um suspiro.

— Ele vai ficar puto.

— Você não está?

— Sim claro. Mas o que está feito está feito, certo? Não pode mudar nada.
Não há razão para começar a gritar e essa merda.

Aproximo-me para encher meu copo.

— Você não tem aula? — Apollo pergunta.

Eu coloquei a garrafa na mesa novamente.

— Sim. Porra.

— Fume um baseado, — Apollo diz, vindo atrás de mim. Ele coloca a mão
no meu ombro e aperta meu músculo. — Vai ajudar mais do que o uísque. Quer
que eu role...?
— Você não tem nada para fazer? — Eu estalo. — Reuben, os dados, café
da manhã? Parece uma merda de uma manhã ocupada.

Apollo retira sua mão. O suspiro que ele solta ao sair me traz de volta.

Porra, isso me traz de volta.

Estou perdendo minha cabeça de novo, e ele sabe disso. Cass


provavelmente sabia disso antes de qualquer um, mas ele adora brincar com
fogo tanto quanto o resto de nós.

Mas ninguém, ninguém gosta de se queimar.


Em vez de fazer as orações matinais, me escondo em um banheiro,
olhando para a porta recém-pintada. Pelas marcas fracas brilhando sob a tinta
branca, parece que alguém tinha ido à cidade com uma caneta permanente.
Gostaria de saber o que eles escreveram.

Meu apetite não voltou desde que vomitei na noite passada, então não
me incomodo em ir ao refeitório quando o sinal do café da manhã toca. Em
vez disso, volto para o meu quarto e tento dormir uma hora.

O próximo sino me toca de um sono mortal no qual não me lembro de ter


caído.

Hora da aula.

Felizmente, só tenho cálculo e sociologia antes do almoço. Dá-me metade


do dia para criar coragem e encontrar uma maneira de me dispensar da
psicologia com o irmão Rutherford.

Apesar do meu cochilo, a exaustão pesa em meus membros e embaça


minha mente.

Tive um caso com seu pai.

Eu. Não posso. Nem...

Achei que queria respostas de Gabriel, mas mudei de ideia.

Agora que o choque passou, tudo o que resta é uma mistura estranha de
nojo e raiva. Não nojo pelo fato de serem dois caras, mas porque papai traiu
minha mãe. E com a porra do nosso padre, de todas as pessoas.
Mas não é isso que está me comendo viva.

Se Gabriel é capaz de ter um caso, então do que mais ele é capaz? E já que
ele admitiu abertamente que faz sexo com homens...

Cubro meu rosto com as mãos e me inclino para a frente na cama. A aula
começa em alguns minutos e ainda estou vestida com as roupas da noite
anterior.

Vim para Saint Amos para ficar com o homem que considerava um
amigo.

Mas eu estava errada. Não há nada aqui para mim. Sem amigos. Sem
suporte.

No fim de semana, quando todos os outros alunos serão transferidos para


as Sisters of Merci para as férias de primavera...

Eu vou com eles.

****

Quando eu entro no refeitório na hora do almoço, finalmente faminta


pela primeira vez hoje, eu imediatamente me arrependo da minha decisão
quando vejo minha bandeja com seu post-it rosa.

TRIN

Há um coração sobre os i’s novamente. Felizmente, a comida real dentro


se parece com a de todo mundo. Se algo tivesse sido cortado na forma de um
coração, eu teria fugido.

Jasper tenta chamar minha atenção, mas eu o ignoro e vou para o fundo
da sala. Quando passo pelas portas da cozinha, vejo Apollo pela janela.

Eu também o ignoro, mesmo quando ele me acena com um movimento


de sua mão.
A Irmandade tem o que quer. Tenho certeza de que o computador de
Gabriel estava cheio de todos os tipos de evidências incriminatórias. É hora de
eles perceberem que não sou mais útil e me deixarem em paz.

Apollo não sai da cozinha nem tenta chamar minha atenção novamente.
Sento-me e como meu sanduíche, fingindo não notar a maneira como os
meninos ao meu redor me olham como se esperassem que eu começasse a dar
cambalhotas.

Então a irmã Miriam vem até mim, parando bem ao lado do meu banco
durante suas rondas habituais.

Eu paro no meio da mastigação e olho para ela enquanto meu sanduíche


de queijo e tomate se dissolve na minha língua.

Meu estômago revira quando ela me entrega uma nota dobrada.

— O que é isso?

— É um recado, Srta. Malone. — A voz de Miriam poderia ter resolvido


nosso pequeno problema com o derretimento das calotas polares.

— Obrigada?

Mas ela já se foi. Os meninos ao redor me transformaram em corujas


pintadas. Estou ansiosa para abrir o bilhete e descobrir o que ele diz, mas
então qualquer pessoa na mesa poderia lê-lo.

Parece exatamente com os bilhetes que a Irmandade desliza por baixo da


minha porta. Mesmo papel, mesma dobra. Provavelmente apenas uma
coincidência.

Mais provavelmente, é um bilhete do padre Gabriel.

Gabe.

Eu torço minha boca para o lado e coloco o bilhete no bolso. O vestido


que a irmã Ruth fez para mim parece mais macio depois de passar pela
lavanderia algumas vezes. Estou grata pelo tecido grosso agora. Tem chovido
praticamente sem parar desde a noite passada, então a temperatura dentro
dos dormitórios caiu vertiginosamente.
Deixo a outra metade do meu sanduíche intocado e levo minha bandeja
para a prateleira cheia de pratos vazios. Vejo Apollo na janela novamente, mas
finjo que não o vejo me acenando.

Eles encontraram algo naquele dispositivo? É por isso...?

Não, foda-se.

A curiosidade matou o gato, pendurou o macaco e afogou Trinity Malone.

Eu cansei de procurar respostas.


Eu chego até a sala de oração no final do corredor do refeitório. Olhando
ao redor, eu me enfio atrás dos pilares que protegem a porta da alcova e puxo
o bilhete do meu bolso.

Peço desculpas sinceramente pelo meu comportamento na noite


passada. Eu estava indisposto e não deveria ter lidado com um assunto tão
delicado como fiz.

Por favor, junte-se a mim para jantar esta noite.

Tenho certeza que você tem muitas perguntas.

Eu gostaria de responder a elas.

Gabriel.

Meu coração está trovejando como uma cachoeira quando chego ao fim.
Miriam leu isso? Não haveria como ela decifrar uma carta tão vaga, mas ainda
estou convencida de que ela sabe de tudo.

Eu tive um caso com...

Porra!

Amasso a carta e a atiro para longe de mim, as lágrimas turvando minha


visão. Eu me afasto tão rápido quanto minhas saias chicoteadas permitem,
enxugando meus olhos furiosamente enquanto mais lágrimas se acumulam.

Por que não posso ser normal?


Uma garota normal, com uma família normal, frequentando uma escola
normal, com amigos normais.

É pedir muito, Universo?

A chuva bate em meu rosto. Eu olho para as nuvens sombrias que se


estendem de horizonte a horizonte. Em sua luz fraca, Saint Amos parece mais
com o castelo do Drácula do que nunca.

Eu me viro e mostro o dedo para Saint Amos. Então eu ando pelo


gramado em direção ao bloco da sala de aula. Estou adiantada para minha
próxima aula, mas se uma caminhada rápida através da chuva forte não
consegue limpar minha cabeça, nada pode.

Eu ia pular a aula de Zachary. Tenho certeza de que ele não teria me


denunciado. Mas não posso suportar a ideia de ficar sozinha com meus
pensamentos nem mais um segundo.

No meio da ligeira inclinação, meu sapato atinge um pedaço de grama


rala e eu escorrego na lama.

Sento-me por um momento assim, a água da chuva ensopando meu


vestido, antes de me levantar e continuar caminhando.

Foda-se, Universo. Eu já tive pior.

Você não tem suas anotações, Trinity. O livro ainda está no seu quarto.

E daí? Deixe Zachary me inscrever para detenção.

A chuva deveria estar evaporando da minha pele, é por isso que estou
brava. Mas tudo o que ela faz é bater no chão, molhado e implacável, até que
finalmente fico sob a cobertura do beiral. Eu empurro a porta e entro, indo
para a aula de Zachary.

Respirando com dificuldade de subir as escadas, eu paro um segundo


fora de sua porta antes de entrar.

Eu paro assim que entro.


Ele está em sua mesa, a mão segurando o queixo enquanto ele olha para
o nada. Quando ele olha para mim, a carranca pesada em seu rosto desaparece
em um instante.

Ele se levanta, me olhando com expectativa.

— O que? — Eu estalo. — Você também esqueceu como agradecer a


alguém? — Minhas saias balançam em torno das minhas pernas enquanto eu
corro para ele. — É fácil. Você diz 'obrigado', e então eu digo para você ir se
foder, porque não foi um prazer.

Sua carranca está de volta.

— O que?

— Os arquivos. — Eu aceno minha mão. — As coisas que copiei. Você


conseguiu de volta, não é?

— Sim, mas... — ele começa, contornando a mesa.

— Mas nada. O mínimo que você me deve é um obrigado, e ainda estou


esperando, porra. — Eu agarro meus quadris e começo a bater meu pé. —
Vamos?

— Bem, nada. — Ele corre para frente, agarrando a lateral do meu vestido
antes que eu possa sair de seu alcance. — Você pelo menos encontrou o laptop
dele?

— O quê? — Eu gaguejo.

— Como isso se desenrolou em sua cabeça, hmm? — Ele me arrasta com


ele enquanto se dirige para a porta.

E então ele trava.

Eu fico rígida por um momento antes de o pânico me atingir.

— Solte! — Eu puxo sua mão, mas ele está segurando tão forte que
provavelmente eu rasgo o tecido antes de poder arrancar seus dedos.

Em vez de me soltar, ele me bate na parede ao lado da porta. Mesmo que


alguém olhasse pelo vidro fosco, não veria nenhum de nós.
Abro a boca para gritar, mas ele coloca a mão nos meus lábios antes que
eu possa emitir um som.

Porra.

Eu tento dar uma joelhada nele.

Ele abre minhas pernas com um chute e se enfia entre minhas coxas,
inadvertidamente subindo meu vestido a uma altura bastante inadequada.
Quando eu vou para seus olhos com os dedos em garras, ele agarra meus
pulsos e os bate na parede acima da minha cabeça.

Porra!

— Ouça com atenção, Srta. Malone, porque só vou dizer isso uma vez, —
ele sibila em meu ouvido. — Não havia nada naquele drive.

Grito contra sua mão, mas é claro que ele não consegue me entender. E
todo o meu protesto me ganha é ele batendo seu corpo contra o meu e
expulsando o ar dos meus pulmões.

Eu desabo contra ele, ofegante.

— Você não está ouvindo.

Tento dizer sinto muito por meio de sua mão. Parte disso deve passar
porque ele afrouxa um pouco os meus pulsos e puxa para trás para não me
esmagar contra a parede.

Por alguma razão, meu corpo responde com desespero à repentina perda
de pressão. Como se eu de alguma forma gostasse do fato de que ele estava me
sufocando.

Ele coloca a boca no meu ouvido novamente.

— Você parece pensar que pode simplesmente fazer o que diabos você
quiser. Deixe-me assegurar-lhe, garotinha, isso está longe de ser exato.

Meus olhos estão fechados com força, mas ele fica quieto por tanto tempo
que me atrevo a abrir um só para espiá-lo.

Ele está me olhando como um gato selvagem.


— Precisamos desses dados. — Ele aperta meus pulsos, rangendo os
ossos. Eu choraminguei contra sua mão, balançando a cabeça furiosamente
para transmitir o quão pronta estou para ouvir e obedecer.

— Você vai voltar para ele esta noite. Você entende?

Outra furiosa rajada de acenos de cabeça.

A fúria em seu rosto diminui um pouco. Ele me estuda novamente, seu


olhar traçando cada contorno do meu rosto.

— E você vai trazê-lo para nós no momento em que o tiver, nem um


minuto depois. Você entende?

Eu aceno e empurro um sim veemente por entre os dedos.

Seus lábios se curvam em um sorriso que é tão frio quanto o brilho


implacável em seus olhos.

— Boa menina.

Não deveria, mas mesmo seu elogio indireto envia uma onda sensual
através de mim. Talvez seja apenas alívio que ele decidiu não cortar minha
garganta.

Eu me contorço um pouco, tentando transmitir a ele que ficaria feliz em


obedecer ainda mais se ele parasse de me prender na parede como um
maníaco.

Seus olhos ficam semicerrados. Lentamente, ele desliza os dedos dos


meus lábios. Eles se acomodam em volta da minha garganta, o que não é muito
melhor para minha saúde, mas pelo menos agora posso falar.

O que significa que posso tentar persuadi-lo de que estou do lado dele.

Do lado deles

Não precisa ser verdade. Foda-se, definitivamente não é verdade. Mas


gosto de acreditar que estou ficando melhor em mentir. Ou, pelo menos,
distorcendo a verdade a meu favor.

Mas, primeiro, preciso descobrir por que ele parece decidido ao fato de
que não fiz meu trabalho.
— Eu fiz o que você disse. — Eu mantenho minha voz suave e baixa, não
querendo provocar a besta que só agora começa a recuar. — Não sei por que
não...

— Acha que nos importamos com suas desculpas? — ele raspa. Meus
olhos se fecham quando ele começa a apertar minha garganta. — Nós não!

— Mas eu fiz tudo o que você disse. — Apesar de meus melhores esforços,
a frustração aumenta conforme eu forço minha voz a permanecer calma. —
Encontrei o laptop debaixo da cama e coloquei o drive no...

— Eu não quero ouvir isso, garotinha.

Uma raiva fervente se derrama em mim. Eu já tive o suficiente de todos


na minha vida me dizendo o que diabos fazer. Como diabos se sentir. O que
posso e não posso controlar. Qual versão da verdade eles acham que podem
escapar impunes.

Meu pai e eu nunca estivemos nos melhores termos, isso é um fato. Ele
governava nossa casa com punho de ferro, e sempre me ressenti dele por isso.
Mas eu obedeci, porque é o que meus pais esperavam de mim. Porque a bíblia
disse isso.

Honrar seus pais de alguma forma tornou-se uma abreviatura para


obedecer cegamente a todas as regras. Por deixá-los dizer a você em que
acreditar e como se comportar.

Eles não deveriam ter tratado você assim.

Não, padre Gabriel, fodido Gabe, eles não deveriam. Mas eles trataram.

Todo mundo fez.

Todo mundo ainda faz.

Isso nunca vai acabar?

Ou só durou tanto porque eu deixei? Porque eu me submeti aonde um


ser humano normal e são, há muito tempo teria me livrado de suas algemas e
invadido a plantação?
Minhas veias latejam de raiva sombria enquanto Zachary continua
falando, sua boca a uma polegada de minha orelha.

— Eu não me importo como você faz isso, mas você vai nos conseguir
esses dados, e você vai...

Meus olhos se abrem.

— Não! — Eu grito. — Se você quer tanto, pegue você mesmo!

Seus dedos apertam ainda mais enquanto ele esfrega seus quadris em
mim.

— Você acabou de gritar comigo?

Eu congelo quando sua ereção pressiona em minha barriga.

Oh meu Deus. Ele está gostando disso!

Quase rio com o pensamento. Claro que ele está gostando disso, seu pau
tinha o dobro do tamanho quando ele estava me espancando, que porra eu
estou esperando? Ele goza com a dor dos outros, então acho que humilhá-los,
torturá-los, é tudo a mesma coisa.

— Gabriel está ocupado. — Eu engulo e tento não deixar a sensação de


seu pau me distrair. — Ele me disse isso ontem à noite. Ele estará ocupado esta
semana inteira.

Ele passa o olhar pelo meu corpo e, em seguida, olha para o lado. A
curiosidade, é claro, leva o melhor de mim.

É uma e dez.

A aula dele começa uma e meia.

Nós dois olhamos para trás ao mesmo tempo. Ele se move contra mim
novamente, e desta vez é óbvio que ele quer que eu sinta sua ereção. Meu
coração dá espasmos de pânico enquanto minhas coxas se contraem com a
necessidade urgente de fechar e negar o acesso a ele.

Querido Deus, tudo o que ele precisa fazer é abaixar um pouco, e ele pode
estar dentro de mim. Se nós dois estivéssemos nus, é claro. Mas ele está de
calça comprida, e eu estou com esse vestido monstruoso, então...
— Eu sei o que você está pensando, — ele murmura. Sua boca se contorce,
e então ele está mordendo o lábio inferior, puxando aquela carne tenra por
entre os dentes. — Mas por mais que eu não queira nada mais do que foder
você contra esta parede, nós dois sabemos que não é assim que acontece.

Uma onda de calor cai sobre mim. Eu solto um destroçado.

— O quê?

Ele libera minha garganta, arrastando a mão sobre meu peito. Ele aperta
com tanta força que eu grito de dor e, em seguida, pega seu lábio novamente
com os dentes.

— Estive pensando sobre isso, — ele murmura, me esmagando com seu


corpo novamente. Sua mão desce pela minha barriga, e eu o sinto mover sua
ereção de lado para que possa roçar os dedos entre nós.

— Foder você.

Ele passa os dedos pelas dobras do meu vestido. Eu tremo quando ele faz
contato com minha pele nua alguns centímetros acima da minha calcinha.

Se ele não estivesse pressionando meus pulsos contra a parede, eu


poderia ter acabado no chão. Quanto mais baixo seus dedos se movem, mais
força sai do meu corpo.

— Você sabe onde isso vai acontecer, não é? — Sua voz baixa. Áspera,
gutural. Ele mal soa como ele mesmo. — Em nosso lugar especial, lá embaixo
no escuro.

Sua boca toca a lateral do meu pescoço e, apesar de tudo, um arrepio


dança em meus ossos. Ele desliza seus lábios sobre minha pele e, em seguida,
roça meu queixo com os dentes. Eu torço minha cabeça, apavorada com o quão
forte meu coração está batendo.

Seus lábios seguem, e ele morde minha mandíbula novamente. Um


gemido escapa de mim antes que eu possa detê-lo e, em resposta, ele geme e
se abaixa.

— Aquele lugar onde ninguém pode te encontrar. Onde ninguém pode


ouvir você gritar.
Eu suspiro e pulo na ponta dos pés quando a coroa de seu pau pressiona
contra minha calcinha. Uma pulsação forte e dolorida me empurra, quase
como se ele já tivesse quebrado aquela barreira frágil. Ele agarra meu queixo
e puxa minha cabeça para trás para encará-lo.

— E acredite em mim, garota, nós faremos você gritar, — ele sussurra,


uma luz maliciosa dançando em seus olhos. — Porque sempre dói pra caralho
na primeira vez.

Ele me devora.

Quando fecho minha boca, ele a força a abrir com a língua. Quando tento
me afastar de seu pau, ele desliza a mão sobre a minha entrada e me aperta
com tanta força que eu choramingo em seu beijo.

— Cristo, vamos gostar de fazer você sangrar.

O choque finalmente luta contra o borrão confuso de emoções que agitam


dentro de mim. Eu mordo seu lábio e bato meus quadris contra ele o mais forte
que posso.

Sinto o gosto de sangue na boca um segundo antes de ele cair para longe
de mim. Cambaleando para o lado, mal encontro meus pés antes de sua mão
estar em volta da minha garganta novamente.

Luzes dançam em minha visão enquanto ele me bate contra a parede.

— Eu gosto quando você luta. Brincar com coisas mortas não é divertido.

Ele ri de mim.

E então ele me beija.

Sangue e saliva com doce de menta se misturam na minha boca. Ele enfia
a mão no meu vestido. Antes que eu possa fechar minhas pernas, ele acaricia
minha calcinha com os nós dos dedos.

Aquela carícia leve como uma pena está tão em desacordo com seu beijo
que por um longo momento estou perdida.

Seu beijo fica mais lento, mas fica mais difícil. De alguma forma, mais
urgente. Ele me acaricia novamente, enviando uma dor profunda por mim.
Em vez de afastá-lo, coloco meus dedos em seu peito.

Sua respiração engata.

Ele passa as unhas contra a parte interna da minha coxa, deixando um


rastro de fogo para trás. Eu suspiro e me afasto, e o que quer que tenha me
mantido à distância estala.

Zach dá um passo para trás, arrastando a mão sobre a boca. Há um corte


no lábio inferior, manchas de sangue ao redor da boca, mas não parece que ele
está sangrando mais. Ele me dá uma varredura rápida e condescendente com
seus olhos verde-floresta e, em seguida, aponta para a porta da sala de aula.

— Limpe-se antes que alguém veja você, — ele resmunga.

E eu me movo para obedecer sem pensar. Com minhas costas viradas, eu


paro.

— Não. — Eu não volto. Eu não olho para ele. Se eu o vir, vou vacilar. —
Não sou mais sua marionete. Eu não estou mais com medo. — Ouço um
movimento atrás de mim, mas simplesmente fecho minhas mãos em punhos
e me recuso a deixar o medo criar raízes.

— As coisas mudaram. Eu não posso voltar lá novamente. Não essa noite.


Nunca. E se você entrar em contato comigo de novo... se você me ameaçar de
novo...

Eu engulo em seco e me forço a me virar.

Zachary está me olhando com a cabeça inclinada, o rosto ilegível e o


corpo flácido. Como se sua mente se desconectasse de seu corpo. É a visão
mais assustadora que já vi, mas de alguma forma, eu consigo.

— Se você ou algum de seus irmãos chegarem perto de mim de novo, vou


chamar a polícia. Ou a igreja, ou algo assim. Alguém.

Foda-se, Trinity, fique forte.

— Fique longe de mim. E fique longe de Gabriel.


O último é uma surpresa tanto para mim quanto para Zachary. Ele
endireita a cabeça com um estalo, os olhos fixos em mim como uma força
física.

— Ou direi tudo a ele.

Eu deveria ter liderado com isso. O rosto de Zachary empalidece


lentamente, mas sei que não é de medo.

É raiva, ou fúria, ou uma bomba suja das duas. Eu recuo e tateio atrás de
mim procurando a porta.

Eu giro a fechadura.

Então a maçaneta.

Eu mantenho meus olhos nele como faria com um animal selvagem,


apenas no caso de ele decidir me atacar antes que eu esteja livre.

A última coisa que vejo antes de fechar a porta é o rosto de Zachary.

Parece que ele viu um fantasma... e está planejando matá-lo.

Eu mal chego ao banheiro do andar de baixo. Eu vomito na bacia, meu


estômago se contrai tão dolorosamente que estou chocada por não haver
pedaços de sangue na pia quando enxáguo.

Demoro alguns segundos antes que eu possa me convencer a me olhar no


espelho.

Meu cabelo está despenteado e meu vestido não fica bem. Mas é o sangue
no meu queixo e ao redor da boca que me faz engolir com ânsia de vômito.

Confie em mim, garota, nós faremos você gritar.

Eu tenho que dar o fora desta escola.


Reuben não se incomoda em bater. Não é que ele não respeite minha
privacidade ou qualquer uma dessas merdas. Nós quatro nunca precisamos de
permissão para falar um com o outro, ou mesmo apenas para estar na mesma
sala. Se tivéssemos que aturar gentilezas como essas no porão, todos nós
teríamos ficado totalmente loucos.

— Eu vim assim que... — ele começa.

— Senta.

Ele pega o pé da cama, empoleirando-se todo certinho como sempre.


Espinha reta, peito para fora, queixo para cima.

Eu o observo por um segundo e, em seguida, alcanço a minha gaveta e


pego um baseado que enrolei apenas para esta ocasião.

— Estamos no meio do dia, — diz Reuben. — Alguém poderia...

— O que? — Eu estalo. — Me dedurar? — Eu olho para ele da cama, onde


estou esparramado de costas.

Como parte do meu disfarce piedoso, peguei um quarto mais adequado


para um aluno do primeiro ano do que para um professor. Esse é o maldito
Zachary Rutherford para você. Suposto padre rastejante que não conseguia
matar uma mosca.

Eu não tenho medo de você.

Mas ela com certeza parecia temer. Tremendo como um potro recém-
nascido. Levou todo átomo de autocontrole que eu ainda possuía para não a
prender na minha mesa exatamente como no desenho de Cass, e fodê-la até a
submissão.

Monstros geram monstros.

Rube balança a cabeça quando passo o baseado para ele depois de


acendê-lo.

— Eu insisto, — eu digo, empurrando as palavras entre meus dentes.

Ele poderia ter discutido. Ele pode ter vencido. Em vez disso, ele pega o
baseado, estuda e traga como um campeão.

É isso que adoro em Rube. Ele sabe quando dizer sim e quando dizer não.

É assim que ele ficou são com seu Fantasma. Aquele filho da puta
malvado o quebrou uma e outra vez. Eventualmente, Rube parou de lutar.
Todo não virou um sim. Ele aprendeu sozinho a se submeter.

Todos nós estaríamos muito melhor se não tivéssemos lutado tanto. Mas
então todos, exceto Cass, estariam tão quebrados quanto ele. Em dias como
hoje, não sei como Reuben aguenta se olhar no espelho.

Ele devolve o baseado sem fazer contato visual.

— Ela não vai fazer isso, — digo a ele antes de dar uma tragada.

— Por quê?

— Porque em algum momento das últimas vinte e quatro horas, ela


decidiu que estamos cheios de merda e que Gabriel é um santo de merda.

— Ela disse isso?

— Basicamente. — Eu estudo a ponta do baseado e, em seguida, movo


meu foco para o rosto de Rube. Ele está olhando para o nada de novo, de forma
mais convincente. — Ele entrou na cabeça dela.

Rube solta um suspiro suave pelo nariz antes de se inclinar para trás para
procurar em seu bolso.

Ele troca um pedaço de papel amassado e seu rosário vermelho pelo


baseado.
Eu leio a nota e brinco com o rosário enquanto Rube se serve do resto do
baseado.

Ela estava mentindo para mim. Não apenas Gabriel não está ocupado,
ele pediu para vê-la esta noite. Não tenho certeza se gosto dessa versão do
Trinity. É necessário um conjunto de habilidades especiais para manipular
pessoas com espinha dorsal. Acho que não tenho energia para jogar esse jogo.

— Acho que deveríamos ter previsto isso, — eu digo.

— Então, estamos de volta ao Plano A? — Rube exala uma nuvem de


fumaça.

— Ainda não.

Ele olha para mim, franzindo a testa.

— Então o que?

Eu contorço meus ombros sob mim, pressionando minha cabeça no meu


travesseiro.

— Eu irei.

— Para ver Gabriel? — Reuben parece inquieto.

— Ela me disse onde ele escondeu o laptop.

— Como você vai entrar?

— Vou descobrir uma maneira. — Eu aceno minha mão para ele. — Deixe
isso para Beaver.

— Cass deveria ir ao invés. — Rube deveria ter interpretado meu olhar


como um aviso, mas ele simplesmente continua. — Ele tem um motivo para
falar com Gabriel.

— Eu também.

— Sim mas...

— Ele já se sacrificou o suficiente. — Rube fica quieto, mas posso sentir


que ele quer dizer algo.

— O que?
— Cass. Ele estava...

— O quê, Rube?

Mas Reuben balança a cabeça.

— Não importa. Você está certo, você deve ir.

Eu franzo a testa para ele.

— O que você ia dizer?

Ele se vira para mim com um leve sorriso na boca.

— Estamos chegando perto. Pode sentir isso?

É a maconha ou ele está sendo estranho de propósito?

— Perto de quê?

Seu sorriso aumenta, mas não fica mais quente.

— Do fim.

Eu enfio minhas mãos sob meu pescoço e massageio aqueles músculos


tensos de repente.

— Você está animado ou algo assim?

Ele leva um momento para considerar.

— Ansioso.

— Por vingança?

Seus olhos escuros fixam-se nos meus.

— Você sabe o que terá que fazer?

Eu pisco, emocionado com sua mudança repentina de direção.

— O quê, esta noite?

Ele concorda.

Sim, eu sei porra. Vou ter que fazer o que for preciso. Assim como Cass.

— Como você disse, estamos chegando perto. Não podemos foder com
tudo agora, podemos?
Ele agarra meu tornozelo e aperta. Eu estremeço, mas a dor que sinto é
efêmera. Ele mantém o polegar lá, cavando no ponto sensível atrás do meu
tendão de Aquiles. Não parece intencional, mas aprendi há muito tempo que
Reuben faz tudo por um motivo. Ele coloca outros psicopatas em posição de
vergonha.

— Então faça o que for preciso, irmão, e vamos terminar isso.

****

A porta de Gabriel está aberta. Eu fico no corredor por um momento,


meu rosto flácido e meu corpo não responde, não importa o quanto eu tente
forçá-lo a seguir em frente.

Ele sabe que você está vindo. Não há necessidade de adiar o inevitável.

Eu envolvo minhas mãos sobre meu peito, agarrando meus cotovelos


enquanto entro. Não adianta entrar como um guerreiro em um ataque de
batalha, devo ser a epítome do irmão Zachary calmo pra caralho. Não posso
deixar minha máscara escorregar nem por um segundo.

Não como aconteceu ontem à noite com Cass.

Eu o quebrei.

Mas ele ainda está vivo.

Por nada.

Nós não sabemos disso.

Cale a boca!

A discussão em minha cabeça cessa. Por enquanto.

Vamos acabar com isso.

Eu me anuncio com um fraco, — Padre? — enquanto eu passo pela


antecâmara e entro em seu apartamento propriamente dito.
Eu só estive aqui uma vez antes, e então muito brevemente para me
lembrar de muita coisa. O fogo está aceso, mas fumegando fortemente, como
se as toras que ele colocou estivessem úmidas.

O laptop não está embaixo da cama como Trinity disse que estaria. Está
bem na frente do padre Gabriel na mesa de jantar de quatro lugares.

Uma luz branca banha seu rosto e se reflete em um par de óculos que eu
nunca o vi usar. Eu sei que não fiz nenhum som ao chegar aqui, mas como se
ele sentisse minha presença, ele ergueu os olhos da tela.

O choque que ele dá quando me vê não pode ter sido fingido e de repente
estou questionando cada merda que me levou a este ponto.

— Filho, — ele diz, tirando os óculos apressadamente e se levantando


enquanto fecha a tampa do laptop. — Sinto muito, não ouvi você entrar.

Filho?

Eu suprimo um rosnado de nojo antes que alcance meus lábios.

— Estava aberto. — E então acrescento um atrasado: — Desculpe, eu


deveria ter batido.

— Não, não. — Gabriel se move ao redor da mesa, levantando as mãos. —


Está perfeitamente bem. Eu estava apenas... — Ele olha para o fogo. — Está
muito quente? Achei que com a chuva seria mais frio esta noite.

Ele está vestindo uma camiseta e jeans. Sem os óculos, ele poderia ter
trinta e tantos anos.

Mantém-se forte para um padre. Muito em vão, padre?

Meus olhos se estreitam enquanto estudo suas costas. Que porra de jogo
ele está jogando, fingindo ser um padre santo que precisa de óculos para ler e
se envolve tão facilmente em seu trabalho que não perceberia a faca
mergulhando em seu pescoço até que fosse tarde demais?

Agora estou desejando ter uma faca comigo. Desejando ter rastejado por
trás dele e usado.
Mas eu nunca poderia me perdoar por fazer uma coisa tão egoísta. Meus
irmãos merecem tirar a vida dele tanto quanto eu.

Fizemos um pacto.

A vingança deles é minha. O meu é deles.

Se não conseguirmos encontrar os fantasmas, se não conseguirmos fazer


Gabriel confessar e revelar seus nomes, concordamos em matá-lo juntos.

A voz de Gabriel me puxa de volta ao presente.

— Estou feliz que você veio me ver.

— É sobre Saint... — eu começo, ansioso para colocar esse show de merda


na estrada.

— Sim. — Ele acena com a mão para uma das poltronas. — Por favor
sente-se.

Minha pele arrepia com o pensamento de estar mais perto dele.

Covarde.

Pego o assento que ele oferece e arrisco outro olhar ao redor de seu
quarto. De costas para ele, não consigo ver muito, mas pelo menos tenho uma
boa visão da área do quarto daqui. Sua cama parece mal feita. Ele apenas
puxou os lençóis e afofou os travesseiros?

Ele estava dormindo antes de decidir ligar o laptop? Ou ele não arrumou
desde que acordou esta manhã?

Talvez ele nunca tenha dormido.

Adoraria saber o que aconteceu aqui ontem à noite. Sobre o que ele e
Trinity falaram. O que ele disse para transformá-la contra nós.

Ou tínhamos feito isso nós mesmos?

— Eu sei que isso teria sido discutido longamente durante seu


treinamento inicial, mas depois de ontem à noite, sinto que você pode precisar
de uma atualização.

Eu franzo a testa para Gabriel.


— Sobre o que? — Em seguida, adiciono um relutante — Padre.

— Celibato.

Eu olho para longe, meus lábios se contorcendo em uma tentativa de


sorrir. Transformo minha perplexidade em confusão para que, quando ele se
vire para me encarar, não veja nada de suspeito.

— Eu não sigo.

O rosto de Gabriel é tudo menos caloroso e gentil. Há uma dureza em sua


boca, um calafrio em seus olhos.

Lá está ele.

Nosso Guardião está saindo para jogar?

Eu deslizo minhas mãos ao longo dos braços da cadeira e afundo meus


dedos na almofada.

Nós nos encaramos até que ele quebrasse o silêncio gelado.

— Quando você e Cassius se conheceram?

Meus cílios tremem antes que eu possa arregalar os olhos de surpresa.


Eu nem preciso fingir.

— Quando ele se inscreveu? — Eu faço uma careta interiormente quando


ouço minhas palavras saírem como uma pergunta e não como uma declaração.

A boca de Gabriel se curva nas bordas.

— Este é um lugar seguro, criança.

Um lugar seguro?

Meus dedos cavam mais fundo e eu os deixo. É isso ou eles vão estar
cavando a porra da garganta dele.

— O que é isso que você está insinuando...?

Ele solta uma leve bufada de risada, um sorriso triste tocando sua boca.

— Deus vê tudo. — Ele levanta as mãos gesticulando o mundo como se


estivesse pregando um sermão. — Eu vejo tudo.
Um choque frio passa por mim. Estou de pé, com os punhos cerrados.
Gabriel não parece surpreso com a veemência repentina em minha voz quando
digo:

— E o que é isso que você vê, padre?

Ele se aproxima, até que mal haja um pé entre nós.

— Vejo um jovem solitário que recorreu a um amigo em busca de consolo.

Sua mão pousa no meu ombro, mas eu me afasto dele e tropeço para trás.
Minha mandíbula se aperta com tanta força que não acho que conseguiria
falar se tentasse.

— É algo que vi centenas de vezes, senão mais. E embora seja


perfeitamente compreensível, ainda é um pecado.

Ele está falando sobre o porão? Naquela época, só tínhamos um ao outro.


Onde mais poderíamos ter encontrado conforto, a não ser nos braços um do
outro? Não havia nada de errado com ele.

Não há nada de errado com isso.

Nada.

Gabriel me segue, rosto neutro, mas seu molde com sombras profundas.

Astuto, perspicaz, cauteloso.

Cuidado para não revelar nada.

— Eu te conheço, Zachary.

E aí está, nu em pelo. Ele me conhece. Gabriel sempre soube sobre nós.

— Então você sabe que eu te conheço há muito tempo também, — eu


rosno, não me preocupando mais em disfarçar qualquer elemento do meu
verdadeiro eu. — Então, por que continuamos jogando esses jogos infantis?

De repente, há hesitação nos olhos de Gabriel. E quando eu chego mais


perto, é a vez dele dar um passo para trás.

Dançando um com o outro.

Desvia. Ataca.
Como se tivéssemos praticado alternar em nossas mentes por anos.

Eu sei que tenho. Por que ele não iria?

Dizem que o estrangulamento é um ato de paixão. Eu não posso


concordar mais. Estou apaixonado pela ideia de extinguir a vida do Guardião
com a porra das minhas próprias mãos. Tanto que meus dedos coçam para
estar em volta de sua garganta.

Ele levanta o queixo, seu olhar oscilando antes de sua boca formar uma
linha dura.

— Você não sabe de nada, criança. Você está lidando com forças
malévolas que você nem consegue entender.

Muito rápido, ele me agarra. Estamos um contra o outro, mas com corpos
eriçados, repelindo-se um ao outro como ímãs do mesmo polo.

— Eu sei exatamente com o que estou lidando, — eu digo enquanto


procuro a verdade em seus olhos. Por seu eu genuíno. Mas antes que eu possa
encontrar qualquer coisa, ele agarra minha nuca e enfia os dedos em minha
carne.

Um arrepio percorre meu corpo, e eu me odeio naquele momento mais


do que nunca.

Eu costumava pensar que era um sadomasoquista. Que eu gostava de


infligir e receber dor.

Mas não é esse o caso.

Eu simplesmente suporto a dor em troca dos outros, me permitam que


eu a inflija a eles.

Seu aperto forte desperta uma tensão sexual em mim, não porque eu
goste da dor que ele inflige, mas porque eu sei que logo, muito mais cedo do
que eu pensava, ele estará à minha mercê.

Uma misericórdia que seus fantasmas erradicaram de mim anos atrás.

— Não aja como se você me odiasse, — murmura Gabriel. — Eu sou você.


E você sou eu.
— Não sou como você! — Eu grito. Eu seguro sua camiseta em minhas
mãos. — Eu nunca vou ser como você!

Ele me ataca enquanto examina meu rosto, um sorriso afetuoso


esticando sua boca.

— Vou te contar um segredinho, criança. — Ele lambe os lábios e, por


instinto, lambo os meus. — Você só pode se odiar por um certo tempo. Então
não há mais nada a fazer a não ser perdoar.

Eu deveria ter previsto, mas estou tão envolvido em meus próprios


pensamentos odiosos que sua boca está contra a minha antes que eu possa
afastá-lo.

Embora esse contato seja breve, a indignação de seu toque não solicitado
rasga através de mim como uma explosão eletromagnética.

— Que porra? — Eu cambaleio para trás dele, limpando minha boca com
as costas de uma mão trêmula. Meu desgosto está refletido em seu rosto.

Ele inclina a cabeça para o lado e pisca lentamente para mim.

— Então você pode foder um homem, mas não aguenta beijar um?

Ele se aproxima de mim. Eu recuo com um grunhido de advertência que


ele ignora.

— Pode parecer menos pecado, mas acredite em mim, filho, não é.

Minhas costas batem na parede.

Gabriel para a alguns metros de distância, deslizando as mãos atrás das


costas.

— Deus já nos condenou ao inferno.


Eu deveria estar na lavanderia fazendo algumas tarefas, mas com quatro
dias restantes para o final do semestre, eu duvido que alguém vá estabelecer a
lei em uma tarde chuvosa de segunda-feira.

Então, em vez disso, estou no meu quarto, pensando em entrar


furtivamente no banheiro.

Eu me sinto suja depois do que Zachary fez comigo.

Como ele me fez sentir.

E embora não haja nada que eu possa fazer sobre minha mente suja, o
mínimo que posso fazer é lavar a sensação dele do meu corpo.

Depois do que aconteceu ontem com Cass no chuveiro, no entanto...

Aquele aperto e formigamento deliciosos permaneceram comigo por


quase uma hora, talvez um pouco mais.

Hoje? Já se passaram três horas desde que Zachary me tocou, e ainda


posso senti-lo acariciando minha calcinha.

Nada disso faz sentido, é claro. Eu deveria estar horrorizada, enojada


mesmo, com o que ele fez.

Me assustando assim.

Forçando-se a mim.

Achei que meu coração estivesse batendo de pânico..., mas agora estou
me perguntando se não foi emoção em vez disso.
Talvez se sua vida for tão chata quanto a minha, qualquer coisa seja
excitante.

É muito confuso pensar que meu corpo é capaz de confundir medo com
luxúria ou dor com prazer.

Deus, quando eu me transformei em uma desviante sexual?

Eu percebo que estou acariciando o osso do meu quadril através do meu


vestido e rapidamente arranco minha mão.

Não vai acontecer, Trinity.

Eu não seria capaz de suportar a culpa. A vergonha.

Não deixe essas coisas idiotas te atormentarem.

Ah, eu sabia!

Minha mente continua voltando para Gabriel ou Zachary.

Gabriel sente necessidade de responder às minhas perguntas. Sobre


como meu pai era gay, ou o fato de que ele traiu minha mãe?

A Irmandade vai me machucar da pior maneira se eu não encontrar os


dados que procuram. Posso ter ganhado algum tempo hoje com Zachary, mas
quanto?

Houve um anúncio sobre o fim do período de oração hoje, Jasper me


disse. Os ônibus chegarão na quinta-feira de manhã para levar todos até as
Sisters Of Mercy.

Posso me esconder de ambos os lados desta guerra até então?

Pego meu travesseiro e o coloco na cabeça, abafando um grito de


frustração.

— Precisa de uma mão? — Jasper pergunta da porta. — Eu ficaria mais


do que feliz em atender.

Eu tiro o travesseiro e olho para ele.

— Foda-se, — eu estalo.

Ele se afasta da porta com o ombro.


— Nossa, o que tem irritado você?

— Nada. — Eu vejo enquanto ele vasculha seu lado do armário e tira


roupas casuais. — Encontro quente?

Talvez ele esteja encontrando-se com Perry. Só espero que ele não volte
à biblioteca.

— Que nojento, — diz Jasper.

— Por que nojento?

— Porque eu vou ver o padre Gabriel, sua maluca.

— Como eu deveria saber? — Eu grito atrás dele quando ele sai do nosso
quarto.

Encolho os ombros no colchão, estremecendo quando um dos muitos


caroços cava nas minhas costas. Por que ele vai ver o Gabriel? Talvez ele vá
confessar que gosta de Perry. Sobre as coisas que eles fizeram.

Excelente. Agora estou revivendo aquele interlúdio picante na minha


cabeça.

É assim que se sente com tesão?

Talvez sejam hormônios ou algo assim. Meu ciclo deve começar a


qualquer momento... Eu sempre fico um pouco irritada antes. Exceto que
desta vez estou desejando os peitorais de Reuben, a boca de Cass e os dedos
de Zachary, não pizza de pepperoni.

Oh senhor. Ainda estou com calor e incomodada. Eu jogo meu braço


sobre meus olhos, deixando escapar um bufo de aborrecimento.

Pelo amor de Deus.

A pior parte é que sei exatamente o que vai ajudar. Mas, desde que
mamãe me fez confessar, é impossível para mim me livrar. Logo eu estava
afastando o desejo no momento em que ele chegou.

Não é o que eu consideraria saudável, mas aí está.

Estou esfregando meu osso do quadril novamente.


Caramba.

Eu pulo e fecho a porta, olhando para o corredor primeiro para me


certificar de que não há ninguém por perto.

O que eu não faria por uma fechadura nesta porta.

Eu me jogo de volta na cama e deslizo meus dedos sobre o meu vestido


até que estou pairando uma polegada ou mais acima do meu clitóris.

Então espero que a vergonha me leve de volta como sempre faz.

Exceto que... isso não acontece.

Meus dedos se aproximam. Meu núcleo se contrai em antecipação


quanto mais perto eu chego do meu clitóris, como se mais e mais terminações
nervosas entrassem em ação.

Eu faço um barulho suave no fundo da minha garganta quando eu


finalmente me toco através do tecido grosso. É tão sutil que mal posso sentir
a pressão, mas foda-se se a antecipação não é oitenta por cento da emoção.

Rapidamente levanto meus joelhos, deixando meu vestido escorregar


pelas minhas coxas e formar uma poça na minha cintura.

Eu agarro a bainha da minha saia e puxo para cima no meu estômago...

— Estou interrompendo?

Você está brincando comigo?

Sento-me com pressa, as bochechas brilhando enquanto coloco minha


saia no colo para cobrir minha calcinha.

Sou só eu ou o sorriso de Apollo se alarga ainda mais quando eu o encaro?

— O que diabos você está fazendo aqui?

Ele fica ao lado, um braço segurando a porta aberta, o outro acenando


para mim com um movimento de seus dedos.

— Venha comigo. Eu quero te mostrar algo.

****
— Espera. Espera! — Eu empurro as palavras entre arfando
pesadamente. — Você está indo rápido demais.

— Você tem que trabalhar em sua resistência, Trin, — Apollo diz. Não
preciso olhar para ele para saber que está com um sorriso largo. — Ainda
temos um caminho pela frente.

— Eu pareço uma atleta? — Eu pergunto, me endireitando com um


estremecimento e me forçando a subir as escadas atrás dele.

Ele ri enquanto desaparece na curva do patamar. Chego alguns


momentos depois, respirando como um cavalo de corrida. Ok, talvez não seja
tão ruim, mas eu definitivamente tenho um ponto. Acho que não tive que
correr atrás dele quando ele subiu o primeiro lance de escada, mas ele me
deixou tão curiosa que não pude evitar.

Ele não respondeu a nenhuma das minhas perguntas. Não me disse para
onde vamos. Mas eu percebi na metade do caminho subindo as escadas em
caracol que devíamos estar indo para uma das torres que pontilhavam os
quatro cantos do dormitório. Isso, ou a torre do sino.

Eu estava meio apavorada ao subir as escadas. Embora eu não vá tão


longe a ponto de dizer que Saint Amos é aconchegante e convidativo, os
dormitórios são muito mais aconchegantes do que esta escada. Aqui, não há
nada para revestir a áspera parede de tijolos, e a única luz natural vem de
pequenas janelas quadradas com vidros grossos. Claro, com o céu nublado, já
é praticamente noite lá fora. Isso deixa o trabalho de iluminação para o
punhado de lâmpadas nuas projetando-se das paredes a cada poucos metros.
Elas estão tão distantes que eu tenho que passar pelas sombras profundas para
alcançar a próxima.

Alguém pode quebrar o pescoço.

— Você conseguiu, — diz Apollo, parecendo genuinamente surpreso.

— Dane-se, — murmuro, e então paro de falar para que eu possa me


concentrar em colocar o ar de volta em meus pulmões.
Estamos parados ao lado de uma porta de madeira grossa que Apollo
destranca com uma chave do bolso.

Eu meio que espero ouvir morcegos levantando voo quando a porta se


abre para dentro.

A torre do sino.

É muito maior do que eu pensava. O sino está pendurado a alguns metros


de onde estamos. Uma ampla saliência o circunda, abrindo para varandas.

— É…

— Você deveria ver durante o dia. A vista, quero dizer. O sino não é nada
especial.

Apollo se move para dentro. Quando eu não o sigo imediatamente, ele


agarra meu pulso e me puxa atrás dele. — Vamos. Não queremos estar aqui
quando o sino tocar. É muito alto pra caralho.

Ele me leva além da campainha para uma porta muito menor afastada de
um lado. A porta de metal faz com que pareça uma espécie de área de
manutenção.

A porta se abre para o nada negro.

Em seguida, Apollo acende a luz, revelando uma pequena sala com nada
mais do que uma mesa e uma cadeira de escritório de aparência frágil, o tecido
se desfazendo em um canto da almofada.

Não haveria espaço suficiente aqui para balançar um gato. Possivelmente


nem mesmo um pequeno porquinho da índia. Não, a menos que a decapitação
estivesse em sua lista de desejos.

A menos de um metro de mim está uma parede em branco.

Bem, costumava ficar em branco. Agora está coberto com folhas de


papelão coladas para formar uma tela enorme.

Dou um passo à frente no automático.

Estou vagamente ciente de que Apollo ainda está segurando meu pulso,
mas em vez de me soltar, ele vem atrás de mim e fecha a porta.
— Isso é tudo, — diz ele.

Ele não está brincando. A parede está coberta de fotos, artigos de notícias
e post its rosa. Caminhos de barbante azul unem objetos aparentemente
aleatórios, formando o tipo de teia que apenas uma aranha com LSD poderia
fazer.

— Há tantas... coisas, — murmuro enquanto dou um passo para o lado


para tentar encontrar um ponto de partida.

Apollo usa o aperto em meu pulso para levantar minha mão. Ele
cuidadosamente forma meus dedos até que eu esteja apontando e, em seguida,
move a ponta do meu dedo sobre a colagem.

Ele para a cerca de trinta centímetros. Estou apontando para uma


fotografia antiga, colorida, mas beirando a sépia e um pouco fora de foco. É
uma foto escolar que mostra uma pequena turma de cerca de vinte meninas e
meninos vestidos com uniformes escolares alinhados em bancos de esportes
com dois adultos.

Atrás deles, erguem-se as majestosas torres de Saint Amós.

Casa de Crianças Amigos da Fé

CLASSE DE 1991

Meu coração afunda como uma pedra lançada em um poço profundo.


Ainda não atingiu o fundo preto quando Apollo diz.

— Reconhece? — E arrasto meu dedo para um dos rostos do menino.

— Eu reconheço.

Mas não é o único rosto que reconheço. Eu engulo em seco e olho para
Apollo. Ele está olhando para mim, não para a parede.

— Por que você está me mostrando isso?


— Eles me disseram que você não queria mais ajudar, — diz ele. — Mas
eu acho que você deveria.

Eu arranco minha mão da dele.

— Zachary disse para você me trazer aqui? — Minha voz está tensa,
minhas mãos se fechando em punhos.

— Não. — Apollo balança a cabeça. — Ele, eles... — Ele solta um longo


suspiro e aperta a ponta do nariz antes de olhar para trás, para a matriz
histérica de evidências espalhada pela parede. — Eles me matariam se
soubessem que isso estava aqui.

— Matar você? Um pouco dramático, não é?

— Não diga a eles. Por favor. — Ele se vira para mim, agarrando seus
cotovelos. — Não devemos manter coisas assim por perto.

— Então, por que você quer? Por que isso está aqui?

— Tive que juntar tudo para saber que fazia sentido. — Ele acena com a
mão para as fotos e recortes, balançando a cabeça. — Quer dizer, é fácil para
eles. Eles são todos muito espertos. Eles apenas mantêm essa merda em suas
cabeças. Você pergunta a qualquer um deles em que ano o incêndio começou
em Rhode Island, quantos órfãos aparentemente morreram nele, eles
poderiam dizer a você na hora.

Incêndio? Órfãos? Sobre o que diabos ele está tagarelando?

— Eu? Eu fico todo confuso. Então eu fiz isso. Isso me ajuda a manter o
controle. Ajuda tudo a fazer sentido.

Encontro o recorte de que ele está falando.

14 MORTOS DE INCÊNDIO

MEUS OLHOS GIRAM de volta para ele.


— E tudo leva aqui? — Eu pergunto, apontando para a fotografia
novamente.

— Sim, de uma forma ou de outra. — Ele corre as palmas das mãos


cuidadosamente pela parede, alisando tudo em seu caminho. — Eu pensei, se
você visse isso, você saberia que não são apenas quatro caras falando merda.
É real, Trin. — Ele cautelosamente se aproxima. — Você pode ver como isso é
real?

— Onde você tirou a foto? — Eu me forço a não olhar para ele, embora
esteja louca para arrancá-la da parede e queimá-la.

— Anuário do ensino médio. Localizei em uma biblioteca há alguns anos.

— Quantos anos tem ele? — Minha voz está rouca agora. Eu mal estou
me segurando... o quê? Raiva? Medo?

Apollo está certo. Isso muda tudo. Esta fotografia?

Isto. Muda. Tudo.

— Então você vai fazer isso? — ele pergunta. — Você vai voltar e tentar de
novo?

— Não sei. — Eu tenho que esticar minha cabeça para olhar para ele
quando ele se aproxima ainda mais. — Eu precisaria de mais tempo, eu acho.
Ou talvez eu tenha feito errado. Zachary disse...

— Ele mentiu. — Os olhos de Apollo se estreitam. — Ele queria que você


pensasse que tinha fodido tudo, então você tentaria de novo.

Minha boca se abre.

— Isso é...

— Porque eu trouxe você aqui. — Ele aperta meu braço. — Mas, por favor,
não diga nada. Para ninguém. Entende? Ninguém pode ver isso.

Eu aceno em silêncio, desejando que minha pele parasse de formigar


onde ele me tocou. Talvez fosse nossa proximidade, ou meu cérebro tentando
lidar com a merda de nível superior que acabara de ser tratada..., mas de
repente não quero nada mais do que beijá-lo.
Ele deve ver algo nos meus olhos porque seu olhar cai para os meus lábios
um segundo antes de se abaixar e pressionar sua boca contra a minha.

Querer e fazer são duas coisas muito diferentes, é claro. Não importa o
que eu queira, não devo deixá-lo me beijar. Quer dizer, o que isso diz sobre
mim?

Blasfema

Você sabe o que? Foda-se.

Eu arqueio para ele, emaranhando meus dedos em seus cabelos. Se isso


vai acontecer, então pela primeira vez eu vou ser a responsável por isso
acontecer. Chega de ser intimidada. Chega de dedos indesejados no meu
yoohoo.

Apollo solta uma risada enquanto cambaleamos com a força do meu


beijo. Mas, em vez de me afastar ou rir ainda mais das minhas tentativas
patéticas de sedução, ele passa o braço em volta da minha cintura, me levanta
e me joga na mesa atrás dele.

O metal frio começa a escorrer pelo meu vestido.

Mas o frio é a última coisa em minha mente.

Estou totalmente focado na boca de Apollo. Mas, também, como seu


cabelo é sedoso enquanto o enrolo entre meus dedos. Em seguida, há seu gosto
inebriante e a maneira como ele puxa meus quadris para mais perto dele com
as duas mãos na parte inferior das minhas costas.

Ok, foda-se, minha mente está indo em cinquenta direções diferentes.


Mas, assim como aquela teia em seu tabuleiro, tudo leva de volta a ele.

Seu beijo fica mais profundo. Ele desliza sua língua em minha boca,
cautelosamente curioso, até que eu lhe dê acesso irrestrito.

Então ele me beija com tanta força que meu núcleo começa a doer, e não
posso deixar de gemer contra seus lábios.
— Porra, você tem um gosto bom, — ele murmura, uma rajada de
suspiros quentes roçando minha pele enquanto ele se afasta. — Eu pensei que
eles estavam inventando essa merda.

Espere o que?

Eu o empurro para longe. Olho fixamente de boca aberta.

Ele sorri, arranca o cabelo dos olhos e atira-se em mim novamente sem
uma palavra de aviso.

Eles disseram a ele que gosto eu tinha?

Eu bato o punho em seu peito, mas ele apenas agarra meu pulso e o move
para o lado sem interromper o beijo.

É ridículo atacá-lo, especialmente porque ainda estou beijando-o de


volta. Foda-se... beijá-lo de volta? Eu mal estou segurando minha posição. Ele
está tão apaixonado, tão entusiasmado que meu coração começa a palpitar no
meu peito como uma mariposa presa na banheira.

Mas ainda tento bater nele com meu outro punho.

E então ele arrebata aquele também. Agora estão ambos na parte inferior
das minhas costas, e ele usa as duas mãos para mantê-los lá enquanto me
impele para frente, mais perto da borda da mesa.

Ele inclina a cabeça para a frente, encostando a testa na minha. Estamos


ambos ofegantes e, desta vez, não tem nada a ver com subir escadas.

— Eu poderia te beijar o dia todo, — ele respira, e então escova seus lábios
sobre meu nariz, minha bochecha, minha orelha. — Mas esse sino vai tocar em
um minuto.

E então as palavras mais loucas saem da minha boca.

— Podemos voltar para o seu quarto?

Hormônios.

Essa é a minha história, e vou continuar com ela.

Ele sorri contra a minha boca, e um bufo feliz acariciando meus lábios.
— Eu adoraria, mas não posso. Da próxima vez?

Eu aceno, mordendo o interior do meu lábio com força suficiente para


ficar surpresa por não sentir o gosto de sangue.

Ele me levanta, girando-me uma vez antes de me deixar deslizar para o


chão, beijando-me no caminho para baixo.

Em seguida, ele me conduz para fora da pequena sala, permitindo-me


um segundo precioso para olhar para seu mural de mídia antes de fechar a
porta e trancá-la.

Quando ele se vira, eu forço um largo sorriso no rosto e espero


desesperadamente que ele não consiga ver através dele.

Essa foto vai me assombrar. Esses rostos...

Eu empurro o pensamento para fora da minha mente. É inútil tentar


entender, especialmente quando a resposta está a apenas uma pergunta de
distância.

Gabriel quer me ver? Bem, adivinhe…?

Eu tenho perguntas para ele.


Passo uma boa meia hora mexendo em meu cabelo enquanto olho meu
reflexo no espelho do banheiro.

Paralisando.

Tento me convencer de que ir ver Gabriel é para um bem maior, mesmo


que eu não tenha certeza se realmente quero que ele responda às minhas
perguntas.

Eventualmente, não há mais nada a fazer a não ser começar a subir as


escadas.

Estou tão imersa em pensamentos que não noto que a porta dele está
aberta até que estou prestes a entrar.

Eu faço uma pausa.

Devo me anunciar ou apenas entrar? Ele me convidou e eu duvido que


ele deixaria a porta aberta se ele não quisesse que eu entrasse.

A porta da antecâmara está parcialmente fechada. Eu me aproximo e


toco minha mão na madeira gasta antes de ouvir suas vozes.

Graças a Deus paro para ouvir.

— Eu não sou como você! Eu nunca vou ser como você!

Eu recuo e puxo minha mão de volta. O que Zachary está fazendo aqui?
Eu recuo, com a intenção de virar o rabo e dar o fora daqui, mas então ouço a
voz de Gabriel.
Comparado com a explosão de Zachary, sua resposta suave é quase
inaudível. Aproximo-me da porta e coloco meu ouvido bem na fresta.

—... somente ódio... por tanto...

Fale mais alto, droga.

Eu me aproximo e empurro suavemente a porta para que ela se abra um


pouco mais. Zachary está no meio da sala, recortado pela lareira.

Tem uma mão na nuca dele.

—... nada mais a fazer senão perdoar.

Eu coloco a mão na minha boca quando Zachary se vira com uma careta
no rosto. Gabriel tinha acabado de tentar beijá-lo? Eu cambaleio para trás,
mas não consigo desviar os olhos deles.

— Então você pode foder um homem, mas não aguenta beijar um? —
Gabriel se aproxima, mas Zachary recua até que suas costas estejam rentes à
parede.

— Pode parecer menos pecado, mas acredite em mim, Deus já condenou


você ao inferno.

Que porra é essa?

Meu coração está na minha garganta enquanto eles se encaram. A tensão


de qualquer discussão que eles estavam tendo antes de eu chegar pressiona
como a gravidade com esteroides.

Eu meio que esperava que eles começassem uma briga, e o pensamento


deixou meu peito tão apertado que eu não consigo respirar.

Meu cérebro trabalha horas extras enquanto tento juntar as peças do que
pode ter acontecido.

É porque eu disse a Zachary que não voltaria aqui? Ele decidiu obter os
dados sozinho? Eu me viro, examinando a sala pela fresta da porta. A cama
parece amarrotada e meu estômago afunda.

Eles fizeram…?
Oh meu Deus.

Mas então vejo o laptop na mesa de jantar, com a tampa fechada e


conectado. Coloquei a mão no bolso do vestido. Apollo me devolveu o pendrive
antes de seguirmos nossos caminhos separados. Ele disse que eu fiz tudo certo,
mas que a cópia não estava completa. Felizmente, ele não começaria do zero,
o dispositivo verificaria quais arquivos já foram copiados.

Cinco minutos, Apollo disse.

Cinco minutos devem bastar.

Eu volto para Zachary e Gabriel. Os dois estão tão tensos que é impossível
dizer quem está com raiva de quem. Vendo-os lado a lado, não posso dizer
qual deles ganharia uma luta. Gabriel tem uns bons quinze anos a mais que
Zachary, mas é muito mais musculoso do que o homem mais jovem. Eu sei
que Zachary é forte, mas ele é forte o suficiente?

Se eles começassem a brigar... eu poderia entrar e copiar os arquivos


enquanto eles estavam distraídos? Eu poderia me esconder sob a toalha da
mesa, ela quase atinge o chão.

Esse é um grande SE.

Especialmente porque agora os dois parecem estar relaxando um pouco.


Pesando um ao outro.

Não consigo imaginar o que está se passando pela mente de Zachary,


enfrentando seu nêmesis assim.

Eu ficaria apavorada.

Não sei se me movi no momento certo, mas algo faz Zachary olhar
diretamente para mim pela fresta da porta.

Seus olhos piscam, mas essa é literalmente a única razão que tenho para
pensar que ele me viu.

— Você está certo, — ele diz, se afastando da parede. Gabriel se mantém


firme enquanto se aproxima. Meus pulmões estão prestes a explodir, pois
estou prendendo a respiração. — Eu sou um pecador, Gabriel. Assim como
você.

Oh Deus. O que ele está fazendo?

Zachary agarra o ombro de Gabriel. Gabriel nem mesmo recua.

— Acho que nem mesmo a penitência poderia mudar isso.

Zachary faz menção de passar por Gabriel, sua mão escorregando do


ombro de Gabriel. O padre se vira para segui-lo.

Colocando-se de costas para mim.

Porcaria!

Zachary deve ter chegado à mesma conclusão que eu. Mas agora estou
com muito medo de me mover.

Faça isso, Trinity. Faça!

Apenas alguns metros e você estará sob a toalha da mesa. Gabriel não vai
te ver, ele está completamente obcecado por...

Os olhos de Zachary passam por Gabriel e seus lábios se contraem com o


que passei a reconhecer como raiva reprimida.

Querendo saber por que não estou me movendo. Por que estou covarde
como a patética covarde que sou.

Apesar do que Apollo pensa, o que eu o fiz pensar, eu não vim aqui para
roubar os arquivos privados de Gabriel. Vim confrontá-lo sobre aquela foto,
aquela que tem me atormentado desde que coloquei os olhos nela.

Mas agora parece que roubar os arquivos é a única razão de estar aqui.
Como se isso estivesse predestinado desde o momento em que coloquei os pés
em Saint Amos.

Gabriel deve ter visto o olhar de Zachary mudar. Ele se vira para olhar
por trás do ombro.

Zachary rosna.
Meu estômago dobra sobre si mesmo como uma tentativa pobre de um
respirar.

Não, não! Não!

Zachary agarra a mandíbula de Gabriel e puxa a cabeça do homem mais


velho para trás para encará-los.

E o beija.

Minha pele fica gelada, mas o choque de adrenalina em pânico que me


atinge é o suficiente para me mover.

Abro a porta, entro e paro apenas o tempo suficiente para fechá-la


novamente. Então estou correndo silenciosamente sobre o tapete. Eu corro
para baixo da toalha da mesa e quase bato minha cabeça contra uma das
pernas da mesa na minha pressa para me esconder.

Eu me agacho lá por um momento, tentando abafar minha respiração


muito rápida.

Eu não deveria ter me incomodado.

Ouve-se um som suave a alguns metros de distância. Algo batendo contra


o couro, talvez.

Eu aperto meus olhos fechados.

O que diabos eu vou ver quando sair desta toalha de mesa?

Afasto o pensamento antes que me debilite. Eu tiro o drive do bolso e


destampo, então me preparo com uma respiração instável.

Um.

Dois.

Eu lentamente espreito por baixo da toalha de mesa. Estou perto da


parede. Zachary e Gabriel estavam pelo menos um metro ou mais atrás de
mim, à direita. Eu espio ao lado da toalha de mesa tentando não a balançar.

Eu vejo suas pernas e rapidamente me retiro para a segurança da toalha


de mesa.
Merda. Eles estão muito perto.

Mas não posso esperar mais. Se eu conseguir entrar sem ser vista,
provavelmente poderei simplesmente ir embora. Talvez Zachary possa retirá-
lo quando...

Ele acabar de foder com Gabriel?

Eu aperto meus olhos fechados.

Foda-se, Trinity. Foco.

Quando ele terminar.

Inspire. Expire.

Muito melhor.

Eu saio de debaixo da toalha de mesa, deixando-a envolver meus ombros


enquanto fico de joelhos. A cadeira que Gabriel estava usando está no meu
caminho, então tenho que me virar desajeitadamente para chegar ao laptop.

Funcionaria com a tampa fechada? Terá de ser, porque não consigo abri-
la. Isso é algo que Gabriel definitivamente notaria.

Eu espio por cima da mesa e quase imediatamente trago os olhos com


Zachary.

Oh. Meu. Deus.

Meus lábios se abrem quando um choque silencioso passa por mim como
o vento atravessa um jornal descartado.

Gabriel cai de joelhos na frente de Zachary, que está encostado nas costas
de uma das poltronas do outro lado da sala, de costas para o fogo.

Ouve-se o tilintar de uma fivela quando Zachary abre o cinto.

Mas seus olhos não estão no padre à sua frente.

Eles estão em mim.

Quente e lívido.

Olha o que você me fez fazer, Trinity. Olha o que você me fez fazer,
porra.
A culpa me destrói. Minha mão treme incontrolavelmente enquanto
tento empurrar a unidade na entrada da lateral do laptop.

Gabriel arranca a braguilha de Zachary. Eu forço meus olhos a


permanecerem no laptop, mas aqueles dois corpos estão presos na minha
visão periférica. Mesmo borrado, ainda sei o que está acontecendo. O que eles
estão fazendo.

A unidade gira, caindo no chão. Quase não pego o soluço de frustração


que sobe pela minha garganta. Eu caio no chão, lágrimas de pânico enchendo
meus olhos.

Zachary geme.

Até isso soa com raiva.

Olha o que você me fez fazer.

Eu pego o drive e me endireito, não me preocupando mais em abaixar a


cabeça. Gabriel está de costas para mim e está tão focado em cuidar do pau de
Zachary que duvido que ele notaria se o arrebatamento acontecesse.

Apesar dos meus dedos trêmulos, eu forço a unidade em sua entrada.

O próximo gemido de Zachary atrai meu olhar de volta para ele.

Desta vez, não consigo desviar o olhar.

Sua cabeça se move para trás, a boca aberta. Seu pomo de adão balança
enquanto ele engole. Então ele agarra a cabeça de Gabriel, seus dedos
afundando profundamente no cabelo escuro do homem.

Ele grunhe enquanto força Gabriel a se mover mais rápido sobre seu
pênis.

Todo o tempo olhando para mim do outro lado da sala, lábios


entreabertos, todo o seu corpo se movendo com cada respiração furiosa.

Seus olhos de jade brilham de ódio. Mas nada disso está focado no
homem que que o está chupando.

Cada grama de raiva, de repulsa... de nojo...


Olha o que você me fez fazer, garotinha.

Seus olhos tremulam enquanto ele solta um gemido profundo. Como se


aquele som desencadeasse a memória, sua promessa enche minha cabeça.

Cristo, vamos gostar de fazer você sangrar.

****

Não me atrevo a ficar mais tempo no quarto de Gabriel, então eu me


esgueiro enquanto eles estão ocupados. Só espero que Zachary consiga tirar o
pen drive sem que Gabriel perceba.

Não deveria ter sido possível, mas de alguma forma, apesar de tudo,
consigo dormir alguns minutos depois de voltar para o meu quarto.

E não só durmo... sonho.

No meu sonho, Zachary está me perseguindo pelos corredores de Saint


Amos.

Sei que é ele porque, quando viro a cabeça rápido o suficiente, vejo um
vislumbre antes que ele se esconda atrás de uma coluna ou de uma porta
aberta.

Quando tento fugir dele, rapidamente percebo que minha velocidade


máxima atinge o máximo em uma caminhada rápida.

O que significa que é apenas uma questão de tempo antes que ele me
alcance.

Quando me viro para frente novamente, Gabriel está esperando por mim
no final do corredor. Eu paro, mas o corredor continua se movendo como se
eu estivesse em uma esteira rolante.

Quer eu goste ou não, estou indo direto para ele. Ele abre os braços, um
Jesus bonito, carismático e moderno, com seu cabelo curto e olhos escuros.
Suas roupas tremem, túnicas de sacerdote, jeans, calças, e então ele está
apenas vestindo uma tanga.
Seu corpo brilha. Suor? Óleo?

Uma coroa de espinhos aparece em sua cabeça.

Eles perfuram profundamente. Tiram sangue.

Um hálito quente aquece minha nuca. Eu me viro. Agora o corredor corre


para trás e é Zachary que vejo. Mas estou correndo para longe dele, e ele está
me alcançando.

Sou um pecador.

Eu ouço sua voz, embora sua boca não se mova. Em um piscar de olhos,
seu rosto se contorce no de um maníaco, boca retorcida em uma risada sádica,
olhos selvagens, antes de se suavizar na máscara de um santo.

Assim como você, garotinha.

Aterrorizada, giro e começo a fugir. O corredor passa zunindo em um


borrão.

Gabriel corre em minha direção. Sangue escuro e úmido mascara todo o


seu rosto, o branco dos olhos muito puro em contraste.

Ele cuida de seu rebanho como um pastor. Ele reúne os cordeiros em


seus braços e os carrega perto de seu coração...

Tento gritar, mas o som permanece alojado em meu peito, queimando.

Queimando.

A pele de Gabriel pega fogo. Ele não parece notar. A única coisa com que
ele se preocupa é me segurar.

Me confortando.

Trazendo-me para a luz. Mas se eu tocar nele, serei consumida pelas


chamas.

Zachary respira na minha nuca.

Eu giro ao redor, meu corpo convulsionando de horror.


Ele estende a mão para mim, o rosto oscilando de santo para pecador
demoníaco mil vezes por segundo, até que não seja nada além de uma imagem
borrada.

Uma mão aperta minha boca e abafa meu grito de pavor.

Meus olhos se abrem.

Uma figura escura se abaixa e lentamente se transforma em Apollo.

— Shh, — ele murmura, colocando um dedo sobre a boca. — Sou só eu,


coisa linda.

Eu o observo com meu coração batendo forte em meu peito.

Ele se agacha ao lado da minha cama e coloca a cabeça perto da minha,


acariciando o lado da minha garganta.

Mas não consigo afastar a sensação do hálito quente de Zachary na minha


nuca, e isso me deixa paralisada.

— Sobre aquela próxima vez? — Apollo sussurra em meu ouvido.


Talvez eu ainda esteja sonhando. Deve ser, porque Trinity, a Banana,
nunca seguiria Apollo a qualquer lugar no meio da noite.

Nunca em um milhão de anos.

Certo?

Porque eu racional sabe que ele é um problema, apesar do sorriso


atrevido que ele continua enviando para mim, apesar de como ele parece que
está explodindo para me dizer algo suculento.

Então estou sonhando. O que torna tudo isso muito mais fácil de
processar. Como quando ele diz que ouve alguém chegando e de repente me
pressiona contra a parede como se estivéssemos em um filme de espionagem
e isso é apenas uma desculpa para ele me beijar?

Bem, não pense que não sei o que ele está tentando fazer. Seus lábios mal
tocam os meus antes de eu me convencer de que tudo isso é um ardil
elaborado.

Mas aí eu não me importo mais, porque ele está me beijando, e foda-se a


minha vida, ele beija bem.

Estamos parcialmente escondidos em uma das alcovas no andar térreo.


Acho que ele estava me levando para o pátio da cozinha, embora eu tenha
certeza de que estaria muito frio para estar ao ar livre a esta hora da noite.
Ele mal me deu tempo para pegar minhas botas quentinhas que uso como
chinelo, e tudo o que tenho é um suéter fino e uma calça de ioga que começou
a se desgastar na bainha, como já pisei nelas inúmeras vezes antes.

— Eu não ouvi nada, — murmuro em vez de um protesto quando ele


começa a beijar meu pescoço. — Tem certeza de que há alguém...?

Ele pressiona dois dedos contra meus lábios, me silenciando enquanto


sorri para mim.

— Nah. Só queria te beijar.

Minha barriga vira com isso. Eu mordo o interior do meu lábio, e ele deve
interpretar isso como um sinal, porque ele abaixa novamente e captura minha
boca com a sua.

Quando ele me beija, é como se tivéssemos apenas alguns segundos de


vida.

Suas mãos deslizam pelos meus quadris, acariciando minha bunda


através das minhas calças finas. Mas ele nunca aperta, nunca tateia, nunca
empurra nada em qualquer lugar. É como se ele estivesse explorando uma
nova terra estrangeira da qual só ouviu falar nos contos de fadas e está
determinado a absorver tudo isso.

Mas apesar do fato de que tudo o que estamos fazendo é nos beijar,
apesar de eu ter certeza de que é tudo o que ele quer, meu corpo responde a
ele como se ele tivesse anunciado que vai estourar minha cereja.

Quando suas mãos deslizam pela minha cintura e começam a explorar


meus seios, meus mamilos instantaneamente endurecem em botões
apertados.

Ele para de me beijar e se inclina para trás, olhando para meus seios
como se nunca tivesse visto um par em sua vida.

Certo, e ele nunca folheou nenhuma daquelas revistas pornográficas no


covil da Irmandade. Até parece.
Seu hálito quente persegue arrepios pelo meu corpo enquanto ele desliza
sua mão sob meu suéter e segura meus seios em suas mãos, pesando-os em
suas palmas.

Minha cabeça cai para trás. Eu suspiro enquanto ele acaricia minha pele
e gemo quando ele abaixa a cabeça e chupa um dos meus mamilos em sua
boca. Mas assim que desaparece em sua boca quente e faminta, ele se afasta e
olha para o corredor como um agente duplo certo de que foi pego em flagrante.

— Aqui, — ele sussurra, e me arrasta para a pequena sala de oração onde


conheci Reuben.

Tenho certeza de que Reuben contou a eles o que tinha acontecido, eles
contam tudo um ao outro, afinal de contas, e minha suspeita é confirmada
quando Apollo para em seu caminho e olha para mim com um sorriso tímido
no rosto.

— Isso está bom?

Eu não sei o que aconteceu comigo. Talvez seja o fato de que esses quatro
meninos estão brincando comigo desde o dia em que cheguei. Talvez seja toda
a merda que está circulando na minha cabeça nos últimos dias.

Não faz sentido, mas de repente não quero nada mais do que Apollo
descer sobre mim como uma ave de rapina sobre um coelho desavisado.

Eu pulo para frente, pego seu rosto em minhas mãos e o beijo tão forte
quanto posso.

Em resposta, ele circula minha cintura com os braços e me gira e gira até
que batemos no altar.

Ele me levanta. Minha bunda bate na madeira um segundo depois. Eu


estremeço em nosso beijo e ele deve suspeitar que me machucou, porque ele
corre quase um metro para trás e estende as mãos, com as palmas para fora,
como se estivesse tentando se defender de uma prisão.

— Eu sinto muito. Merda. Isso foi tão estúpido da minha parte. Eu...

Estou quase ofegante, e ele tem coragem de fugir? Eu me aproximo da


borda do altar e abro deliberadamente minhas pernas.
Ele apenas fica lá, parecendo estar realmente tentando se lembrar se
deixou o fogão ligado.

Então eu aceno para ele como ele acenou para mim tantas vezes antes.

Isso funciona.

Ele avança, sorrindo para o nosso beijo. Mas então ele aprofunda o beijo
e me faz recuar. Espero sentir um piso de madeira duro embaixo de mim, mas
ele agarra um dos travesseiros reservados para joelhos e o enfia embaixo de
mim.

Meu coração quer se abrir com aquele gesto simples. Quando parece que
todo mundo só quer trepar com você ou foder você, alguém te dando um
travesseiro parece a gentileza do século.

Ele deita em cima de mim, leve e rijo em comparação com seus irmãos,
mas ele mais do que compensa com paixão. Seus lábios percorrem os meus,
sua língua ansiosa, exigente e gentil, tudo ao mesmo tempo.

Quando eu começo a ofegar contra sua boca, meu corpo trabalhando sem
parar para tentar processar as deliciosas sensações que ele está torcendo por
mim, seus lábios patinam sobre minha bochecha e roçam minha orelha, o lado
do meu pescoço, minhas clavículas.

— Porra, — murmuro enquanto minhas mãos desaparecem em seu


cabelo.

Esqueci como era sedoso.

Ele roça um dos meus mamilos através do meu suéter, e eu arqueio o


travesseiro. O tecido já está úmido de sua boca e, quando ele se move para o
meu outro mamilo, fica frio com o ar fresco da minúscula capela.

Então eu deslizo minhas mãos sobre seus ombros, tentando mantê-lo


perto para que possa absorver o calor em cascata de seu corpo.

Que é quando eu sinto sua ereção pressionando minha perna.

E pela primeira vez, esse sentimento não me apavora pra caralho. Em vez
disso, fico pasma.
Como posso fazer isso com ele? Ele realmente me acha tão sexy, tão
quente, tão... fodível?

Eu me contorço sob ele, desejando que ele me toque em algum lugar


diferente dos meus seios. Meus mamilos já estão tão tensos ao máximo, o
prazer se transforma em quase dor.

Quando ele não se move, quando continua mordiscando meus mamilos


como fizemos a noite toda e ele tem feito sem dormir por séculos... bem, acho
que sinto que tenho que assumir o controle de uma vez.

Eu pego sua mão e entrelaço nossos dedos.

De alguma forma, ele entende isso como um sinal para começar a beijar
minha boca novamente. Ele pressiona nossas mãos entrelaçadas acima da
minha cabeça, me prendendo enquanto força sua língua entre meus lábios e
rouba meu fôlego.

O que está tudo bem e ok, mas seus beijos estão apenas agravando a
pulsação agora pesada que emana entre minhas pernas. Eu aperto minhas
coxas juntas, mas isso não ajuda.

Então eu abro minhas pernas novamente e as coloco em volta de sua


cintura.

Isso, finalmente, chama sua atenção.

Apollo para de me beijar. Ele levanta em suas mãos como se estivesse


fazendo flexões e me encara com uma expressão semelhante ao pânico em seu
rosto.

— Não, merda, Trinity...

— O que? — Uau, por que minha voz está tão rouca? — O que é?

— Não podemos fazer isso, linda.

— O-o quê? — Minha cabeça está girando com seus beijos, e leva um
segundo para eu perceber o que ele está dizendo. — Você não quer... você não
quer fazer sexo comigo?

— Não.
E então é como se ele estivesse pisando na porra da minha caixa torácica.

Minhas pernas caem de seu corpo, meus pés batendo no chão de madeira
do altar. Eu me afasto dele e imediatamente começo a me contorcer debaixo
de seu corpo, minhas bochechas em chamas.

Acho que nunca fiquei tão envergonhada em toda a porra da minha vida.
E eu tive que dizer ao padre Gabriel que minha mãe me pegou me
masturbando na banheira, então a barra está muito alta.

— Ei, espere agora, eu não quis dizer isso.

— Não, realmente, está tudo bem, — eu murmuro. Eu tropeço em meus


pés, empurrando-o para fora do caminho quando ele pula e tenta me impedir
de sair.

— Você não entende, — ele grita. — Eu não posso!

Eu paro, de cabeça baixa e protegida por meus cachos desgrenhados.

— Não pode ou não quer?

E então eu espero por qualquer desculpa vaga e idiota que ele espera que
eu aceite. Porque é assim com a Irmandade. Eles estão tão presos em suas
próprias merdas que não percebem que as pessoas ao seu redor têm o direito
de saber o que realmente está acontecendo em suas cabeças.

Mesmo que seja trágico. Ou horrível. Ou totalmente psicótico.

Você não pode confiar em um estranho. E eles sempre seriam estranhos


para mim até que realmente começassem a me dizer o...

— É... meio complicado.

E aí está.

— Sim, bem, eu tive complicações suficientes para durar uma vida


inteira, obrigada, — eu grito atrás de mim sem me virar. Eu corro para a porta
da pequena sala de oração, procurando por aquele lugar especial...

Apollo agarra meu ombro e me vira.


— Mas se você tiver um minuto, — ele diz baixinho, — Posso tentar
explicar.

****

Demora mais de um minuto, mas porra ele explica muito.

Eu bebo meu chocolate quente enquanto espreito Apollo por baixo dos
meus cílios. Ele me levou até a torre do sino depois de preparar a bebida para
que pudéssemos conversar. Ele está vestindo uma bomber jacket fofa e estou
aninhada em um cobertor.

Uma das coisas que ele me disse foi que não tinha permissão para me
foder.

Meninas, sexo, dinheiro, roupas, festas, esportes, filmes, jogos, tudo isso
eram distrações.

A Irmandade fez um juramento entre si. E nada, nada, era tão importante
quanto aquele juramento.

— Então... nenhum de vocês realmente namorou alguém?

Estou mais do que um pouco cansada. É exaustivo apenas beijar Apollo,


tê-lo explicando as complexidades do relacionamento entre quatro amigos que
se conheceram em uma masmorra de sexo quando eram crianças...

Estou com muito medo de inclinar minha cabeça para o lado no caso de
toda essa informação vazar pelos meus ouvidos.

Pelo menos ele me fez chocolate quente. E é delicioso pra caralho. E pelo
menos, esta noite, podemos ver a vista. O que é espetacular pra caralho.

Mas a vida pessoal da Irmandade?

Eu. Não. Aguento

— Eu acho. — Ele puxa o cigarro e exala uma nuvem de fumaça na noite


escura. — Embora, uma vez, Cass trouxe para casa essa garota...
— Casa? Onde?

Ele tira a cinza do cigarro.

— Virgínia. Zach nos alugou uma casa. Ficamos apenas seis meses ou
mais, — Ele dá outra tragada. — Mas estava em casa enquanto durou.

— Quantos anos você tinha?

Ele levanta a mão que segura o cigarro e aperta os olhos enquanto coça a
cabeça.

— Merda. Eu não sei. Dezesseis? Dezessete? Zach já devia ter dezenove


anos. Mas de qualquer maneira, Cass ainda estava se ferrando naquela época,
e quando ele saiu para dar uma trepada, ele pegou essa garota aleatória. Acho
que ela estava ferrada com heroína também, não me lembro. De qualquer
forma, ele a trouxe para casa, para nós.

Meu corpo fica rígido. Não tenho certeza se quero ouvir o que aconteceu
com a garota fodida. E Cass usou drogas? É como se eu precisasse de uma
enciclopédia para acompanhar esses caras.

—... e então ela ficou tipo, você não tem que me pagar, eu só levo a droga...

— Mas Cass tentou me foder, — eu interrompi. — Mais de uma vez. — Eu


me viro para olhar para Apollo. — Por que você o deixa escapar impune?

Apollo se encolhe, talvez porque eu pareça tão amarga pra caralho, mas
o quê? Devo ser legal sobre o fato de que Cass pode me agredir quando seus
irmãos não têm permissão para me tocar?

— Ele não consegue se conter, — diz Apollo.

Eu ri.

— Você está falando sério?

— Ele tem problemas de impulso.

Eu franzo a testa para ele.

— O que isso deveria significar?


— Você faz psicologia, não é? — Apollo encolhe os ombros. — Todos nós
temos nossos problemas. Cass não pode se manter em suas calças. É como se
ele desmaiasse ou algo assim. — Ele acena com a mão, fumaça saindo
erraticamente por trás do cigarro. — Zach pode explicar melhor do que eu.

— Então é isso? Ele tem problemas, então pode fazer o que quiser?

— Sim, não, — murmura Apollo. — Nesse ponto, você está muito errada.
— Ele se levanta. — De qualquer forma, você tem aula amanhã. Você deveria
voltar para a cama.

Eu me levanto e rapidamente tomo o resto do meu chocolate quente.

— Apenas deixe lá, — ele diz, acenando na direção geral do copo enquanto
passa por mim. — Vou buscá-lo de volta amanhã.

Meus olhos passam por ele. A porta pela qual ele me levou ontem está
escondida atrás do enorme sino de bronze. Se eu tivesse visão de raios-X, teria
sido capaz de ver aquela foto incriminadora através do sino e da parede.

Eu me apresso para alcançar Apollo.

— Você encontrou algo?

— Hmm? — Ele joga a ponta do cigarro na varanda e olha para mim um


segundo antes de deslizar o braço por cima do meu ombro e me abraçar mais
perto. — Oh sim. Porra. Eu esqueci totalmente de te dizer

Eu paro de andar.

Ele se vira, franzindo a testa com curiosidade enquanto me encara.

— E agora? — ele pergunta através de uma risada.

— O que você achou?

— Você parece surpresa. Você achou que não iríamos?

— Apollo!

Ele encolhe os ombros.


— Encontramos o que procurávamos, Trin. — Quando eu faço uma
carranca para ele, ele usa o polegar para alisar minhas sobrancelhas. —
Desculpe, mas não é minha função dizer a você.

— Então de quem é?

Outro encolher de ombros.

— Fale com Reuben. Talvez ele lhe diga.

— E se ele não quiser?

Apollo bate no meu nariz com os nós dos dedos.

— Então, acho que você terá que continuar perguntando até encontrar o
que está procurando.
Reuben não está nas orações matinais. Eu devoro meu café da manhã e
procuro pelo campus por ele, mas sem ser capaz de perguntar a ninguém onde
ele está, não é nenhuma surpresa quando eu apareço de mãos vazias.

Gabriel disse que era do mesmo ano que eu, mas não o vi em nenhuma
das minhas aulas. Posso ver se ele está frequentando uma das outras esta
manhã. Então eu saio cedo para o bloco da sala de aula e espreito os corredores
como uma versão bem pequena e cor de cocô da Morte.

Mas ou ele tem um período livre esta manhã ou está matando aula,
porque não o vejo em lugar nenhum.

Cass olha para cima quando eu entro na aula de inglês cinco minutos
atrasada, e envia o tipo de sorriso de lobo que eu esperava dele para mim.

Como estou atrasada, Sharon me dá uma batida nos nós dos dedos que
doeu durante o resto da aula. É impossível não perceber o quanto Cass gosta
da minha punição, eu ficaria chocado se ele não tivesse uma ereção.

Após alguns minutos de aula, uma professora vem falar com a irmã
Sharon. Ela nos instrui a ler nossos livros enquanto ela está fora, antes de sair
da sala de aula.

— Bom dia, vagabunda, — Cass sussurra em meu ouvido antes que a


porta termine de se fechar. — Ouvi dizer que você tem enfiado o nariz onde
não pertence de novo.
Sento-me para frente, cruzando os braços sobre o peito e fingindo ignorá-
lo.

Se não consigo encontrar Reuben, a alternativa é perguntar a Zachary ou


Cass. Mas dane-se, de jeito nenhum vou perguntar nada a Cass.

Vou encontrar Reuben, mesmo que passe o dia todo procurando.

****

Obrigada Deus, isso não me leva o dia inteiro. Poucos minutos antes do
almoço, passo pela pequena sala de oração. O corredor está vazio, então, por
impulso, decido entrar e verificar se Reuben está lá.

Ele está ajoelhado em uma das almofadas, cabeça baixa e mãos


entrelaçadas em oração.

— Ei, — eu grito, e então dou uma segunda olhada.

É o mesmo travesseiro?

Não. Tire esse pensamento da mente, Trinity.

Aproximando-me, eu escovo minhas clavículas. É estranho eu sentir falta


de seu rosário? Eu adquiri o hábito de brincar com ele, em vez disso, tive que
voltar a brincar com meu cabelo.

Eu fico por um minuto ou mais atrás dele, mas ele não reconhece minha
presença. Se meu negócio com ele não fosse tão urgente, eu teria entendido a
dica e ido embora.

Mas preciso saber o que eles encontraram. Se eles tiverem evidências


reais contra Gabriel...

Vou me ajoelhar ao lado dele, pegando outra almofada para meus


joelhos. Eu olho para ele e imito sua pose.

E consigo ficar assim por dez segundos inteiros antes que minha
paciência se esgote.
— Sinto muito interrompê-lo...

— Então não faça isso, — diz Reuben.

Uau. Muito irritadiço? Eu me mexo na almofada, olhando para ele


novamente.

Seu rosário vermelho está emaranhado em seus dedos, o crucifixo


pendurado entre seus pulsos.

Eu tenho que fazer ele falar comigo. Se não for ele, quem será? Zachary?
Cass?

Prefiro enfiar um garfo no olho.

— Sinto muito sobre... a outra noite.

— Qual delas?

No começo eu acho que ele está jogando bem. Ele teria que estar fingindo
que minha rejeição não o afetou.

Mas e se realmente não o fizesse? E se ele seguiu em frente? Apollo disse


que todos eles tinham relacionamentos complicados com, bem,
relacionamentos em geral. Sexo era ainda mais complicado.

— Eu estava chateada, ok?

Reuben permanece em silêncio.

— Depois do que Cass fez...

— O que isso tem a ver com ele? — Reuben pergunta, finalmente se


endireitando e se virando para olhar para mim.

— B-bem, ele me enganou. — Eu franzo a testa para Reuben. Mesmo com


nós dois de joelhos, ele é trinta centímetros mais alto do que eu.

Apenas diga a ele, Trinity. Qual o pior que pode acontecer?

— Eu pensei que ele era você, — eu deixei escapar.

Reuben franze a testa.

— O que você está falando?


— O banho? — Minhas bochechas começam a esquentar, mas sigo em
frente antes que perca a coragem. — Eu só o deixei me tocar porque pensei que
ele era você.

Reuben me observa, sem expressão, em silêncio.

— Meus olhos estavam fechados.

Nada.

— Por causa do sabão.

Você poderia jurar que ele era uma estátua de mármore, não um homem
vivo que respira. Embora eu esteja apenas supondo que ele está respirando
agora, porque definitivamente não é aparente.

— Eu só... você tem que ver da minha perspectiva, certo? Vocês... vocês
contam tudo um para o outro. Compartilham tudo. É... meio estranho para
mim, ok? Parece que vocês estão atacando dando uma de gangue em mim.

E então eu paro, porque honestamente estou sem palavras.

Ele inclina um pouco a cabeça.

— Os bons amigos não contam tudo uns aos outros?

— Não assim, — eu digo através de uma risada, mas eu cortei o som


prematuramente.

Como diabos eu saberia? Meu melhor amigo costumava ser Gabriel.

O pensamento envia uma onda de calor vergonhoso percorrendo meu


corpo.

Percebo agora que fui a única de nós que pensou isso. Para ele, eu era
filha de seu amante. Um membro de seu rebanho, nada mais. Aposto que a
única razão pela qual ele falou comigo foi a pedido dos meus pais. Eles
provavelmente imploraram a ele para me envolver mais na igreja.

Em Deus.

Reuben agarra meu queixo e levanta minha cabeça, me forçando a olhar


para ele.
— Não estou zangado com você, Trinity.

Por algum motivo fodido, essa admissão faz meu coração disparar.

— Oh. Você apenas parecia...

— Mas eu não gostaria de expor você a nada que a deixasse


desconfortável.

Ele me solta, e eu gostaria que ele não tivesse feito isso.

— Sei que é pedir muito, provavelmente muito, para você nos aceitar
como somos.

Algo em seu tom faz meu peito apertar.

— Você quer dizer…?

Ele espera que eu termine, mas primeiro tenho que engolir o nó na


garganta.

— Você quer dizer... você quer sair comigo?

As bordas de sua boca se curvam.

Ele balança a cabeça e agarra um dos meus cachos. Seus olhos mudam
para seus dedos enquanto ele os enrola.

— Não é tão simples assim.

Tento soltar meu cabelo, mas ele está bem e torcido.

Soltei uma risada confusa.

— Mas... então eu não...

Ele me puxa para mais perto.

— E mesmo se eu perguntasse, você nunca diria sim.

— Claro que sim. — Minhas sobrancelhas se contraem em uma carranca


rápida. — Isso é o que... quero dizer, eu acabei de dizer...

Ele ri, mas sem humor.

— Tem certeza?
Eu aceno, e então estremeço quando o movimento puxa meu couro
cabeludo.

— Não recue, — avisa, aproximando-se ainda mais.

Meu coração está batendo mais rápido quanto mais perto ele chega.

— Por que eu iria querer?

— Porque, — ele murmura, seus lábios roçando os meus.

Meus olhos se fecham e minha boca se abre, esperando totalmente um


beijo.

— Por que o que?

— Não tenho certeza se você pode lidar com isso.

— Só há uma maneira de descobrir.

— Eu acho.

Oh meu Deus, ele nunca vai me beijar?

— Então faça. — Descubra, me beije, seja lá o que for. Apenas faça.

— E quanto a eles?

— Quem? — Meus pensamentos já estão evaporando como névoa.

— Os meus irmãos?

— Fodam-se eles. — Eu murmuro.

— É exatamente isso, Trinity.

Apesar de puxar meu couro cabeludo novamente, eu me afasto para


poder olhar em seus olhos. Não gosto do tom de sua voz. E quando travamos
os olhos, gosto ainda menos do brilho estranho dele.

— Isso é o que? Pare de andar em círculos. Eu sei que é complicado. —


De repente, minha boca não parece mais ter o botão de desligar. — Apollo me
contou. Sexo, garotas, qualquer coisa, muito perturbador. Sem
relacionamentos. Mas vocês são todos meninos grandes agora, tenho certeza
que podem ser multitarefa. — Eu me inclino novamente. — Agora você vai me
beijar ou o quê?
Ele ri e desliza a mão em volta do meu pescoço. Mas ele ainda não fecha
a distância.

— Então ele contou tudo a você, não é?

— Sim.

— Hmm. Então eu acho que você realmente tem certeza, — diz ele. —
Trinity Malone... você vai sair com a gente?

Sim!

— Sim!

Porra, finalmente.

Seus olhos se iluminam com um sorriso. Ele pressiona seus lábios nos
meus, mas mal nos tocamos antes de minha mente finalmente me alcançar.

Você vai sair com a gente.

Nós.

— Espere... — eu me afasto dele e levanto um dedo. — Calma. Você


disse...?

— Achei que Apollo tivesse explicado isso? — Agora ele parece... não
chateado, mas talvez um pouco impaciente. Ou frustrado. Talvez ele realmente
queira me beijar tanto quanto eu quero beijá-lo.

— Eu acho que, talvez, ele pode ter deixado algumas coisas de fora, — eu
digo baixinho, meus ombros cedendo.

Reuben concorda.

— Somos um pacote, Trinity.

Meu cérebro rejeita instantaneamente o pensamento.

— Mas...

Ele coloca um dedo em meus lábios.

— É por isso que eu não te parei quando você saiu. É sempre muito
complicado. As meninas gostam de coisas simples. — Seus olhos escuros
brilham. — Nós não somos.
O eufemismo da porra do século.

Ele se levanta e se prepara para sair, colocando o rosário no pescoço,


abotoando a camisa novamente.

Bem, foda-se isso. Não vou sair de mãos vazias.

— Apollo disse que você encontrou algo nos arquivos de Gabriel.

Reuben faz uma pausa como se estivesse considerando minha


declaração, e então acena com a cabeça apenas uma vez.

— Você pode me dizer o que é?

Ele fica agachado na minha frente e me observa por um momento como


se estivesse tentando descobrir o quão sincera estou sendo.

— Esse é o nosso problema, Trinity. Ou você está conosco ou está contra


nós. — Ele sorri, sem grosseria, e traça meu lábio inferior com o polegar. —
Não há meio-termo.
Meu último aluno sai da porta segundos antes de Reuben entrar na
minha classe. Acontece que eu olho para cima e fico surpreso quando o vejo.

— O que diabos você está fazendo aqui? — Eu arregalo meus olhos para
ele enquanto corro para forçar a porta fechada mais rápido do que o sistema
hidráulico normalmente permite. — Alguém viu você?

Reuben não tem aula comigo e fiz questão de não me associar a ele nos
dormitórios. Cass sendo o monitor do corredor nos dá um pouco mais de
liberdade, mas isso...?

— Você não estava checando seu telefone, — diz ele, nem mesmo
parecendo se desculpar por violar nossas rígidas diretrizes. — É importante.

— Então o que é? — Eu pergunto, e depois abaixo minha cabeça quando


nada muda em seu rosto de pedra. — Vamos?

— Trinity veio me ver. Quer saber o que encontramos.

— E? — Eu cruzo meus braços sobre meu peito. — O que você disse?

— O que você me disse para fazer. — Ele encolhe os ombros. — Mas já se


passaram horas. Eu não acho que funcionou.

— Claro que sim, — digo a ele, empurrando as palavras entre os dentes


enquanto volto para a minha mesa. Esta foi minha última aula do dia, eu
estava indo fazer as malas e voltar para o meu quarto. Enfio meu manual na
gaveta e tiro o celular. Há um punhado de notificações na tela, tantas que a
maioria delas fica lotada. Os últimos são de Reuben. — Então, o que é tão
urgente que não podia esperar?

— Estamos ficando sem tempo para seus jogos. Por que não podemos
simplesmente contar a ela sobre...?

— Por que você está arriscando tudo vindo aqui para discutir sobre algo
que já discutimos? — Enfio o telefone no bolso e sigo para a porta. — A decisão
foi tomada. Agora saia antes que alguém veja você.

Eu me viro, minha mão na maçaneta da porta, para ver se ele tem alguma
última palavra antes de sairmos da sala de aula. Seus olhos se estreitam, mas
essa é a extensão da irritação que ele sempre mostra.

Reuben é como um iceberg, porém, o que você vê na superfície é apenas


um décimo do que está escondido abaixo. Se ele parece tão irritado, está perto
de um colapso.

— Temos até sexta-feira, — digo a ele, minhas palavras saindo com um


suspiro. — Trinity voltará então.

— Mas se apenas contássemos a ela...

Minha mão aperta a maçaneta, mas eu forço minha voz a permanecer no


mesmo nível.

— Então o que, Reuben? Ela vai confiar em nós? A confiança requer


prova, a crença não. Você quer que ela confie em nós? Eu quero que ela tenha
fé em nós como ela deveria ter tido desde o início.

— Fé cega? — ele pergunta.

— O melhor tipo que existe.

Ele abre a boca, possivelmente para continuar discutindo, mas corta


quando a porta se abre sob minha mão. Dou um passo apressado para trás
para não bater em mim, meu coração fazendo acrobacias com o pensamento
de quem estava prestes a atacar Reuben e eu.

A cabeça loira de Apollo espia pela porta, seus olhos se arregalando


quando ele me vê, e então ainda mais arregalados quando ele vê Rube.
— Obrigado, porra, eu encontrei vocês, — ele diz.

— O que diabos você está fazendo aqui? — Eu sussurro furiosamente.

— É importante, e você não estava respondendo a sua...

Eu o agarro pela camisa e o arrasto para dentro, fechando e trancando a


porta atrás dele.

— Cristo, o que diabos deu em vocês dois? — Eu os chamo, mas não digo
uma palavra.

Apollo raramente fala sério, mas agora ele pode estar concorrendo à
porra da presidência.

— O que? — Eu lati para fora.

— Comecei a pesquisar manualmente em tudo o que o Trinity copiava.


Acabei de encontrar um monte de e-mails, — diz ele, a voz dura. Sua boca se
contorce quando ele começa a mordiscar o interior de sua bochecha. Seus
olhos piscam para Reuben. — Você não vai acreditar nisso.
A igreja fica em silêncio quando o padre Gabriel sobe no altar. Estou
sentada bem perto da porta da capela, esperando ser a primeira a sair daqui
no final das orações da manhã.

Ainda não tenho ideia do que vou fazer. Por mais que eu queira, preciso,
saber o que a Irmandade encontrou, as palavras de Reuben continuam
passando pela minha cabeça.

Ou você está conosco ou contra nós.

Mas só posso decidir de que lado estou depois que me contarem o que
acham do padre Gabriel. Eles podem estar blefando. Tentando me colocar do
lado deles para que possam me usar para seus próprios propósitos nefastos.

E há outra coisa que Reuben disse. Como eles são um pacote.

Ele não estava falando sobre a guerra deles, ou seus juramentos, ou


qualquer uma dessas merdas.

Ele estava falando sobre mim e ele. Ou... eu acho... eu e eles.

Definitivamente não é o tipo de coisa que eu deveria estar pensando em


uma casa de adoração. Posso pegar fogo e duvidar que qualquer quantidade
de água benta possa me apagar.

O salão fica silencioso assim que o padre Gabriel entra no palco. Eu o


estudo tão circunspectamente quanto possível enquanto ele nos conduz
através de uma oração. Normalmente passamos por anúncios e lemos um
versículo da Bíblia antes de terminar com a Oração do Pai e sermos
dispensados. Mas esta manhã, parece que tudo está demorando mil vezes
mais.

Então, como sempre, eu viajo em meus pensamentos.

E eu sou apenas puxada de volta para o aqui e agora quando todos dentro
do corredor começam a gritar.

Meu coração bate em resposta ao barulho inesperado enquanto eu


rapidamente examino o corredor para descobrir o que eu perdi. Alguns alunos
até têm a ousadia de se levantar, mas eles se sentam apressadamente quando
Gabriel levanta as mãos para silenciar a multidão.

— Os ônibus chegam amanhã às sete da manhã. Certifique-se de que está


pronto para partir, para que não haja atrasos.

Sento-me para trás, os ombros caídos de alívio. A última coisa que eu


ouvi foi que os ônibus que nos levavam para as Sisters Of Mercy deveriam
chegar no sábado, agora eles estariam aqui amanhã. Três dias antes.

Mas esse alívio se evapora um segundo depois.

O que eu vou fazer?

Eu preciso descobrir o que a Irmandade sabe. Achei que ainda teria


alguns dias, mas agora...?

Minha mente está decidida sobre as Sisters Of Mercy. Eu não pertenço


aqui de qualquer maneira, posso terminar meu último ano lá. Pelo menos
posso fazer alguns amigos lá.

Mas não posso sair sem saber.

Acho que vou ter que enfrentar isso. Por mais que não quisesse, terei que
rastrear Zachary e falar com ele. Provavelmente terei que trocar algumas
palmadas pela informação, mas sobrevivi às últimas...

— ...nity Malone, por favor, venha me ver após a assembleia.

O choque passa por mim. Gabriel acabou de chamar meu nome?

Alguns dos meninos sentados no banco à minha frente olham para trás
em minha direção.
Merda. O que Gabriel quer comigo?

Oh, certo.

Ele quer conversar.

Eu cruzo meus braços sobre o peito e me abraço com força, minha mente
como um formigueiro chutado enquanto Gabriel repassa os últimos anúncios.

Não me uno à oração do pai, e isso me atrai mais do que alguns olhares
escandalizados dos meninos ao meu redor.

Deixe-os olhar.

Gabriel sabe que não acredito. Não o surpreenderia nem um pouco ouvir
que deixei de lado esse aqui.

Quando as crianças passam por mim quando saem de casa após o


término da assembleia, considero por um minuto quais seriam as
repercussões se eu simplesmente fosse embora, mas estaria apenas atrasando
o inevitável. Além disso, Gabriel nunca me deixaria subir em um ônibus
amanhã sem falar comigo.

Eu espero que a maioria dos meninos saia, e então faço meu caminho
para a frente do corredor, esperando que Gabriel esteja esperando na pequena
sala ao lado do palco.

Ele não está.

Então eu vou para o único outro lugar que ele poderia estar.

****

Eu tenho batido em muitas portas ultimamente. Seria uma excelente


prática se algum dia eu decidisse me tornar um missionário como meu pai.

Há um sorriso sombrio no meu rosto quando a porta se abre.


Eu fico lá por um segundo, sem palavras, antes de abaixar minha mão.
Se Gabriel estivesse aqui, eu teria esperado que ele me pedisse para entrar,
não para atender a porta ele mesmo.

— Eu não tinha certeza se você viria, — diz ele. Seus olhos passam por
mim, e então ele acena para mim dentro de seu apartamento. — Vamos
conversar lá dentro, criança.

Eu reúno toda a coragem que ainda me resta depois de sua aparição


milagrosa.

— Não.

Ele franze a testa.

— Eu não vou falar com você no corredor, — ele diz, suas sobrancelhas se
juntando. — Isto é pessoal...

— Você está certo, você não vai falar comigo. — Eu empurro meus ombros
para trás e ergo meu queixo. Ele é muito mais alto do que eu, mas de alguma
forma isso ajuda. — Honestamente, acho que você já disse o suficiente.

Ele inclina um pouco a cabeça, os olhos piscando como se eu tivesse


causado uma dor real. Meu peito aperta com isso, mas foda-se. Não sou eu que
estou errada aqui. Nem um pouco.

— Eu vim porque você é o reitor, e provavelmente seria repreendida ou


algo assim se não o fizesse. Mas não estou aqui para falar e não vou ouvir nada
do que você tem a dizer.

Tum, Tum, Tum vai meu coração no silêncio repentino após minha
declaração.

Por um momento, acho que ele vai ignorar tudo o que eu disse e apenas
me arrastar para dentro de qualquer maneira. Mas então seus olhos caem e
ele solta a maçaneta da porta.

— Sinto muito por você se sentir assim. — Seus olhos se fixam em mim
novamente, me estudando por um segundo como se se perguntando o quanto
tempo mais ele pode me prender a esta conversa. — Mas eu não queria te
machucar, Trinity.
Eu levanto meu queixo um pouco mais alto.

— Dormindo com ele ou me contando sobre isso?

— Eu sei que o que eu fiz foi errado. Eu deveria ter parado. Não, eu nunca
deveria ter deixado isso acontecer em primeiro lugar. — Mais uma vez, seu
olhar cai. — Mas seu pai é um homem muito persuasivo.

Eu vou de um olhar imperioso para uma carranca confusa.

— O que você quer dizer?

— Eu... — A boca de Gabriel aperta, e então ele dá um passo para trás. —


Por favor. Pelo menos me deixe fechar a porta.

Eu não deveria mostrar nada a ele, mas por alguma razão eu mostro. Por
algum motivo fodido, dou um passo à frente e o deixo fechar a porta atrás de
mim. Ficamos parados na pequena antecâmara, rígidos e desconfortáveis,
olhando para longe um do outro.

— Eu deveria ter interrompido o caso antes de começar, mas eu estava...


fraco. E toda vez que eu terminava, bastava um e-mail de Keith e eu voltava.

Eu aperto meus olhos fechados enquanto minhas bochechas começam a


aquecer.

— Por favor pare. Eu não quero saber.

Mas ele não quer. Ele continua me dizendo coisas que eu não quero ouvir.

— Eu disse a sua mãe que tínhamos que contar a você, mas ela disse que
não era da sua conta. E isso me magoou, Trinity, porque acredito que você
tinha todo o direito de saber.

Meus olhos piscam para ele, minha boca ficando seca.

— Mamãe... sabia?

Ele concorda.

— Sim. Foi... ela... — Gabriel limpa a garganta. — Tem certeza de que


não...?— Ele se vira para agarrar a maçaneta da porta que leva ao seu quarto.
— Não. Você disse um minuto. — Eu abraço meu peito e tento me forçar
a sair. Acho que é uma fascinação mórbida me manter aqui.

— Foi sugestão dela, — diz ele.

Uma risada incrédula me atravessa.

— Oh meu Deus, você honestamente espera que eu acredite...

— Em um esforço para manter o casamento intacto, ela sugeriu que...

— Não!— Eu grito, levantando as duas mãos para afastá-lo. — Porra, não.


Você não está tentando me convencer de que minha mãe tem algo a ver com
isso!— Há riso em minha voz, mas está longe de ser agradável. Eu dou um
passo mais perto, apunhalando um dedo em direção a ele. — E porque ambos
estão mortos, eu nunca vou ser capaz de confirmar ou negar qualquer merda
que você me diga, de qualquer maneira. Então, por que não colocar a culpa de
tudo nela, certo? Faça como se meu pai fosse quem...

Eu cortei com um som de nojo.

— Você não está enganando ninguém, — eu sussurro enquanto meus


olhos começam a se encher de lágrimas. Dou um passo para trás, tateando
atrás de mim em busca da maçaneta sem tirar os olhos de Gabriel. Eu pego,
abro com um puxão e volto.

— Especialmente eu. — Eu limpo minhas bochechas molhadas,


balançando minha cabeça enquanto eu faço uma carranca para ele.

Ele não se moveu, não tentou dizer outra palavra. E graças a Deus por
isso, porque eu poderia tê-lo atacado fisicamente se ele tentasse.

Eu aponto para ele novamente.

— Eles estavam certos o tempo todo. — O mundo se confunde, mas pisco


com força para arrancar as lágrimas quentes dos meus olhos.

— Quem? — Gabriel exige uniformemente enquanto dá um passo à


frente. Sua expressão é neutra, mas há raiva naqueles olhos castanhos.
Eu entro no corredor, meus lábios torcendo com tanta força que quase
não consigo pronunciar as palavras. Mas quando o faço, eles ecoam pelo
corredor.

—Queime no inferno, Gabriel! Você queime no inferno!


A maconha e a fumaça do cigarro contaminam o ar. Eu não deveria estar
aqui, mas não consegui me manter longe por mais tempo. Minha curiosidade
é mais forte do que meu medo, e foi o que me obrigou a sair da cama assim
que Jasper adormeceu.

É o que me fez descer as escadas, atravessar o gramado e atravessar a


cripta.

É o que está me mantendo aqui agora.

Eu teria vindo antes, mas disse a mim mesma que esperaria. A cada hora
que passava, a certeza de que eu tinha que vir aqui, que eu tinha que fazer isso,
crescia e crescia até que eu não conseguia pensar em mais nada.

Eu quero saber o que eles encontraram.

Quero saber o que Reuben quis dizer.

Eu quero saber... como é.

E estou esperando, querido Senhor, estou esperando que isso faça a dor
em meu coração ir embora. Porque depois que gritei com Gabriel assim, é
como se alguém tivesse passado o resto do dia abrindo um buraco no meu
peito com um atiçador em brasa.

Cavando e cavando.

Foda-se sabe o que está procurando, mas se for simpatia ou perdão...


alerta de spoiler, eles não encontrarão nenhum.
Meus dedos roçam a cortina que disfarça a entrada para o covil da
Irmandade. Está quieto aqui, tão quieto que estou começando a me perguntar
se vou entrar em uma sala vazia como da última vez.

Como da última vez? Você quer dizer quando Zachary estava aqui e ele
bateu em você até que você quase teve um orgasmo?

Sim, foda-se, como da última vez.

Eu não queria vagar aqui de pijama, então coloquei um dos meus vestidos
de igreja antes de subir na cama. Mas agora estou me arrependendo, porque
o mais modesto dos dois vestidos ainda não voltou da lavanderia, e este acaba
nos meus joelhos.

Eu me sinto nua.

Quando afasto a cortina, uma luz laranja entra em cascata na biblioteca


mal iluminada. Se alguém estiver dentro e de frente para a saída,
provavelmente poderá ver minha mão se projetando. Mas ninguém anuncia
minha chegada.

Ainda não decidi se quero que eles estejam aqui ou se quero que o lugar
esteja vazio. Nunca terei coragem de voltar. Mas terei coragem de ficar se eles
estiverem aqui?

Quando passo por aquela abertura e saio do outro lado, a decisão é tirada
de mim.

A Irmandade está aqui. E pela expressão em seus rostos, eles estavam me


esperando há uma hora.

Zachary está em sua cadeira de madeira, Apollo descansando na poltrona


com fita isolante. Cass e Reuben dividem o sofá como sempre fizeram a cada
vez que estive aqui. Um baseado está circulando. Desta vez, todos dão uma
tragada antes de passá-la adiante. Quando chega a Apollo, ele se levanta e vem
até mim com ele, segurando-o.

Eu pego. Estudo-o. Fumo.

É forte o suficiente para me fazer tossir, e Apollo parece estar segurando


um sorriso. Quando tento devolvê-lo, ele balança a cabeça e os olhos voltam
para ele, depois para a minha boca. Um comando silencioso para eu dar outro
golpe.

Eu só estaria me enganando se achasse que tinha escolha no assunto,


então dou outra tragada e devolvo. Desta vez, ele pega, entregando no caminho
para Zachary.

Ele dá uma última tragada e depois apaga a ponta ardente entre os dedos.

Então, há silêncio.

Apenas quatro homens assistindo.

Esperando que eu fale.

Eu me aproximo, me abraçando. Está mais frio aqui do que eu me


lembrava. Provavelmente porque já passa da meia-noite. Não há aquecimento
aqui, a sala é fresca, apesar do calor do corpo deles.

— Eu quero saber o que vocês encontraram, — eu digo, olhando para cada


um deles, mas pousando por último em Zachary e segurando seu olhar. —
Tenho o direito de saber.

Zachary ri.

Só uma vez.

Aproximadamente.

E sem nenhum traço de humor.

De repente, a sala ficou muito mais fria.

— Não posso contestar isso, — diz ele, e se levanta lentamente. — Na


verdade, acho que é totalmente indelicado da parte de nós mantermos
qualquer coisa de você, certo rapazes?

Há um mudo, certo dos outros.

Indelicado?

Eu sinto o perigo no ar, e não tem nada a ver com a maneira como
Zachary está se aproximando de mim como se tivesse o dia todo para atacar.

Aconteceu alguma coisa.


Algo mudou.

Mas o que?

— Então vá em frente. — Meu abraço se intensifica, até que começo a


perder a sensibilidade nas pontas dos dedos. — Diga-me.

Zachary me reprova.

— Em primeiro lugar, sinto que lhe devemos um pedido de desculpas,


Srta. Malone.

Não gosto da maneira como ele diz meu nome.

Eu não gosto nem um pouco.

— Pelo que? — Quando eu franzo a testa para ele, um leve sorriso toca
sua boca.

— Por te tratar tão mal. Por reter informações. Retendo... nosso afeto.

Meus olhos vão para Apollo, mas ele desvia o olhar. Quando me viro para
Reuben, seu rosto endurece.

O que diabos está acontecendo?

Talvez eu seja tarde demais, uma garrafa de uísque e vários baseados


tarde demais. A malevolência vazando desses homens parece que é tudo
dirigido a mim.

Apenas sua imaginação.

Apenas a sua...

— Então, acho que é hora de corrigir alguns desses erros, não é?

Eu balanço minha cabeça.

— Pare com os jogos. Apenas me diga o que você encontrou e então eu


irei embora.

Zachary agarra meu pulso, movendo-se tão rápido que não tenho tempo
de recuar.

— Não, veja, Srta. Malone... nós insistimos.


O pulso de Trinity vibra como o coração de um beija-flor sob meu
polegar. Ela não está apavorada, mas definitivamente enervada. Acho que foi
bom eu ter ido em frente e fumei tanto quanto Apollo disse que eu deveria. A
última coisa que quero é quebrar acidentalmente essa coisinha bonita.

Não quando ainda há tanta dor para arrancar dela.

E prazer, claro, mas isso sempre foi secundário.

— Cass, — eu grito. — Prepare-se.

Os olhos âmbar de Trinity se abrem um pouco mais. Ela tenta espiar ao


meu redor, mas eu me movo para o lado e bloqueio sua visão. — Não vamos
estragar a surpresa.

Atrás de mim, vem o som do cinto de alguém sendo removido. O tilintar


metálico da fivela envia uma onda de sangue ao meu pau. Ela não tem ideia
do que está por vir..., mas posso ver que ela já se convenceu de que sabe
exatamente o que vai acontecer a seguir. Enquanto isso, estou ficando sem
graça só de pensar no que temos reservado para ela.

Eu seguro seu rosto em minhas mãos.

— Fizemos um acordo há alguns dias, lembra?

Seu rosto fica um pouco mais pálido. Quando dou um passo para trás,
incitando-a a seguir em frente, ela cava com os calcanhares. — Não, — ela
murmura, balançando a cabeça.

— Você não se lembra?


— Não, Zachary, por favor. Eu... — Sua testa franze, e ela se lança para o
lado para ver além de mim novamente.

Com outro passo suave, bloqueio sua visão. Eu agarro seu queixo,
jogando sua cabeça para trás e forçando-a a olhar para mim.

— Não é assim que funciona, garotinha. Você quer algo, e nós também.

Ela estremece com o apelido carinhoso.

— Eu mudei de ideia. Eu não...

Eu cavo meus dedos em seu queixo, sentindo sua mandíbula se mover


enquanto ela fecha a boca.

— Claro que você sim. Pare de negar.

Estou segurando-a com força demais para que ela acene, mas considero
o arregalar de seus olhos uma concordância.

— Bom. Não adianta desperdiçar nossa energia lutando. — Eu viro minha


cabeça um pouco. — Pronto, Cass?

— Sim. — Ele parece muito sério. Sinistro, quase.

Arrepios explodem em meus braços nus, e não tem nada a ver com o ar
frio aqui embaixo.

Estamos acostumados com o frio, meus irmãos e eu. Aquele porão era
frio, úmido e nojento, então não é de admirar. O vestidinho de Trinity não
parece mantê-la aquecida, levando em consideração seus lábios trêmulos e sua
pele fria.

Mas também pode ser medo.

Porque quando alguém atrás de mim puxa um cinto, aqueles olhos


brilhantes e âmbar opacos, o medo substituindo sua inquietação. Ela até para
de tremer por um segundo enquanto vira aqueles olhos aterrorizados para
mim.

Sim, mantenha seus olhos em mim, garotinha. Porque se você olhar para
baixo, terá uma ideia do quanto estou gostando disso.
O que é exatamente o que ela faz. Ela arranca o rosto dos meus dedos,
deixando marcas vermelhas para trás, e tenta arrancar meus dedos de seu
pulso.

— Deixe-me ir — ela murmura. — Por favor, Zach, me deixe ir.

— Então agora é o Zach? — Eu a puxo para mim, agarro a parte inferior


de suas costas e aperto meu pau em seu estômago. — E quando exatamente
nos tornamos tão bons amigos?

Algo semelhante a um gemido escapa de seus lábios. Ela começa a lutar


contra mim, outro sem fôlego, — Não! — Escorregando de seus lábios
trêmulos.

— Jesus, isso está acontecendo ou não? — Cass exige atrás de mim.

Acho que às vezes saio do meu caminho para ser cruel, mesmo com
aqueles que não merecem.

Eu agarro os braços de Trinity, atrapalhando-me com ela quando ela


tenta se libertar, e a viro para encarar meus irmãos. Ela tenta dar um passo
para trás, mas eu a mantenho no lugar com meu corpo.

Não temos o tipo de adereços e equipamentos aqui embaixo que


tínhamos no porão. Não há camas de arame com alças práticas. Sem trilhos
suspensos e ganchos de açougueiro.

Mas temos Reuben.

Ele está sentado no sofá, os pés firmemente plantados. Cass está


ajoelhado no chão na frente dele, completamente nú.

Quando Trinity fica rígida em meus braços, Cass olha para Reuben e dá
a ele um aceno quase imperceptível.

Reuben rompe o contato visual e seu rosto geralmente sem emoção se


transforma em pedra. Ele agarra os braços de Cass e o puxa para frente.

Esta noite, Rube será nosso suporte e nossas alças.

Cass se dobra sobre o colo de Rube, enterrando a cabeça no sofá ao lado


do quadril de Reuben, expondo sua bunda já machucada para Trinity.
— Quem fez isso com você? — Ela engasga.

Ah, foda-se. Ela não é a mais fofa?

Trinity se apressa no instante em que a solto. Enquanto ela cai de joelhos


ao lado de Cass para todo o mundo como uma porra de uma galinha mãe, eu
passo por Apollo para buscar o cinto que ele está segurando para mim.

— Eu fiz, — eu digo.

Cass solta um grunhido suave quando meu cinto bate contra sua carne.

Trin grita de surpresa e cai para trás, mostrando-me sua calcinha branca
e uma expressão horrorizada enquanto ela se afasta.

Espero que ela comece a chorar.

Talvez até correr.

Em vez disso, ela se levanta e me empurra com força suficiente para me


fazer dar um passo para trás.

— Pare! — Ela grita, colocando-se entre Cass e eu. — Pare de bater nele!

— Ouviu isso, Cass? — Eu pergunto, distraidamente tirando o cinto


enquanto Trinity me mostra seus dentes. — Ela quer que eu pare.

— Jesus, foda-se, — Cass geme, o que é surpreendentemente articulado


para ele em um momento como este.

Tento manter meus olhos em Trinity, mas é impossível com Cass


ocupado tendo uma porra de apoplexia 15atrás dela.

Ela não tem a mínima ideia. Nenhuma maldita pista.

Ela o está machucando mais do que meu cinto jamais poderia.

— Abaixe isso, — ela diz, estendendo a mão. — Apenas... abaixe.

Deve ser a erva, porque eu realmente quero agradá-la, só para ver o quão
longe isso vai antes que ela perceba o que diabos está acontecendo.

Eu posso ver por que Rube gosta tanto dela.

15 O mesmo que derramamento de sangue cerebral ou AVC (acidente vascular cerebral).


Ela é, fodidamente adorável.

Eu não encontrei algo tão inocente desde que meus pais jogaram Cass
pelas escadas do porão, quase quebrando o pescoço do pobre garoto. Isso não
aconteceu de novo, é claro, não depois que seu primeiro fantasma viu o
arranhão que ele tinha feito na porra de seu rosto bonito.

Ah não.

Depois disso, nada tocou seu rosto.

Ou de Rube.

Ou de Apollo.

Eu não estava lá porque era bonito, então eles sentiram que podiam me
bater onde quer que quisessem. Um deles até quebrou meu nariz.

Felizmente, não deixo cicatrizes tão facilmente quanto Cass.

Felizmente, o meu não foi o primeiro nariz que os fantasmas quebraram


naquele porão, e quando eles quebraram o meu, Rube tinha experiência em
consertar pontes16 quebradas.

— Você acha que eu quero que você me veja acertá-lo? — Eu pergunto a


Trinity, genuinamente intrigado.

— Eu não me importo com o que você quer, — ela diz. — Apenas dê aqui,
ok? — Ela estala os dedos, mas não olha para o cinto. Mantém os olhos em
mim. Como se eu fosse um animal selvagem destinado a atacar assim que ela
quebrasse o contato visual.

Acho que sim.

Seus olhos piscam quando lhe entrego o cinto.

— Ok, — ela murmura. Então ela olha para Rube. — Agora, que tal você
deixá-lo ir? Por favor?

16Os ossos nasais são dois pequenos ossos finos que variam significativamente de tamanho e
forma conforme a origem da pessoa e sua idade. Eles estão dispostos lado a lado (geminados) na
porção média e superior da face, e formam, através de sua união, "a ponte" do nariz.
— Por que você está defendendo-o? — Apollo pergunta enquanto cai em
seu sofá, um baseado recém-enrolado pendurado em seus lábios. — Achava
que você estava chateada com ele?

— Eu não disse isso, — diz ela, franzindo a testa brevemente para Apollo
antes de olhar para mim novamente. — Reuben pode deixá-lo ir?

Eu inclino meu peso para trás em um pé.

— Nós não terminamos aqui ainda.

— Por favor, Zachary. O que quer que ele tenha feito... ele não merece
isso.

O sorriso desaparece do meu rosto.

Ela balança a cabeça, aqueles olhos âmbar brilhando com ingenuidade.

— Não importa o que ele tenha feito, você pode perdoá-lo. Vocês são
amigos, não são?

Uma risada suave sai de mim.

— Você acha que ele merece perdão?

— Sim. — Ela acena com firmeza. — Definitivamente.

— Está bem. Nós o perdoaremos. Mas com uma condição...

Seus olhos ficam cautelosos, procurando meu rosto como se ela pudesse
tentar descobrir para onde estou indo. Mas se ela ainda não percebeu, não vai
acontecer.

— O quê? — Ela pergunta com relutância.

Apollo acende o baseado. Uma névoa de fumaça de maconha preenche o


espaço entre eles.

Eu sorrio para ela enquanto me inclino para frente. Ela estremece


quando toco o cinto em suas mãos, mas como não tento tirá-lo, ela não luta
contra mim.

— Você toma o lugar dele.


Estou prestes a fazer xixi. De todas as possibilidades que eu sonhei,
Zachary acertando Cass enquanto Reuben o segurava e Apollo assistia...

Sim, isso nunca foi mencionado.

Eu estremeço quando Zachary aperta seu aperto.

Eu não quero que ele bata em Cass, mas... Eu não quero que ele me bata
também.

Pelo menos não com a porra de um cinto.

Não sei onde invoco coragem, mas talvez seja porque consegui me
convencer de que este é o menor de dois males.

Eu movo o cinto para o lado.

— Você pode usar sua mão.

Surpresa ou irritação pisca nos olhos de Zachary. Ele arranca o cinto da


minha mão e agarra a frente da minha garganta.

— Você fica com o cinto, ou Cass fica com o cinto. É simples pra caralho.

Ele não está me sufocando, senão eu teria lutado com ele. Talvez eu ainda
possa argumentar com ele.

— O que ele fez pra você? — Murmuro, tentando manter minha voz
apenas para os ouvidos de Zachary. — Por que você tem que machucá-lo?

Mas este lugar é muito pequeno, porque Cass me ouve.

— O que eu fiz? — Cass diz.


Relutante, meus olhos caem para onde ele ainda está ajoelhado a alguns
metros ao meu lado. E não importa o quanto eu tente, não consigo desviar o
olhar.

Não é apenas que ele é lindo. E eu quero dizer, puta merda, ele é o tipo
de beleza que se você o visse em um filme ou em uma revista, você passaria
alguns minutos pensando sobre ele. Como era sua vida, onde morava, se tinha
cachorro, quanto ganhava e se isso era muito dinheiro para alguém como ele.

Mesmo nu, machucado e com um sorriso condescendente, meu


estômago vira com o pensamento de que alguém tão lindo como ele está
falando comigo.

Eu.

Trinity Malone.

Uma porra de um ninguém.

De alguma forma, eu mantenho seu olhar. Inferno, eu até consigo estudá-


lo um pouco.

Incontáveis cicatrizes circulares marcam o que teria sido um abdômen


perfeito. Cicatrizes pálidas, quase invisíveis ao longo de suas costelas e coxas.
Mais marcas de queimadura ali. A maioria tão velha e desbotada, não é de
admirar que eu não os tenha notado naquele dia no chuveiro quando eles...

— Eu pequei, — ele diz e se senta sobre as pernas, esticando os braços


como um gato se levantando de uma soneca.

Felizmente, ele não se levanta, senão eu teria sido capaz de ver tudo. Em
vez disso, seu pau está escondido nas sombras em seu colo.

— Pecou como? — Eu pergunto.

— Eu toquei em você sem sua permissão. Mais de uma vez. — O sorriso


malicioso de Cass se transforma em um sorriso que é tudo menos
arrependimento. — Aparentemente, eu deveria ser punido por merdas como
essa.
Minha pele de repente parece dois tamanhos menor. Não consigo virar a
cabeça, então, em vez disso, giro os olhos para olhar para Apollo.

— Você contou a eles?

Ele encolhe os ombros enquanto dá outra tragada no baseado. A fumaça


sai de sua boca, revelando um sorriso parecido com o do Coringa.

— Contamos tudo um ao outro.

— Eu não quis...

— Foda-se, — rosna Zachary. — A oferta acabou de expirar.

Ele arranca o cinto da minha mão e me empurra para o lado. Agarrando


a nuca de Cass, ele empurra a metade superior de seu corpo no colo de Reuben.

Eu tropeço para trás antes que eu possa recuperar o equilíbrio. Não sei
quem ganharia uma luta entre Cass e Zachary e nunca quero descobrir. Mas
deve haver algum acordo tácito entre eles, porque embora os músculos de Cass
fiquem tensos como se ele estivesse resistindo a Zachary, ele acaba exatamente
onde Zachary o quer.

Que é quando Reuben o agarra novamente, mantendo-o imóvel.

— Não, Zachary, por favor! — Pego Zachary, mas estou com muito medo
de agarrá-lo caso ele gire o cinto contra mim.

— Você teve sua chance, — sussurra Zachary.

Cass fica tenso quando o cinto assobia no ar. O estalo dele em sua carne
é muito alto. Muito violento.

Meu coração se parte quando todo o corpo de Cass se agita de dor. Ele
está rangendo os dentes, saliva pontilhando seus lábios enquanto ele grunhe
com o golpe...

Thawck

E a próxima.

— Zachary!

E a próxima.
— Pare! — Eu agarro o cotovelo de Zachary, mas ele me sacode com um
rosnado.

Thawck

— Suficiente! — Eu grito.

Meu cérebro está obviamente falhando, porque então eu faço a coisa


mais idiota do mundo. Eu escorrego entre Zachary e Cass, virando meus
braços para cima para que o cinto caia em meus antebraços e não no meu
rosto.

Zachary congela, braço erguido, um rosnado selvagem em seu rosto.

— Mova-se, — ele diz.

— Não! É o bastante!

Quando Zachary não se move, quando ninguém tenta me tirar do


caminho, começo a balbuciar em legítima defesa.

— Fui eu que disse que ele tinha que pagar, certo? Bem, é o suficiente. Eu
o perdoo. Por tudo. Ok? Então... chega. É o suficiente.

Zachary abaixa lentamente o cinto.

— Você não pode decidir a sentença.

— Claro que eu posso. — Eu me endireito, deixando cair meus braços


relutantemente. — Fui eu quem o acusou.

— Esta não é uma porra de um tribunal, garota.

— Eu não me importo.

Olhos verdes encapuzados me estudam por um longo momento.

— Ainda faltam duas chicotadas. — Sua voz é áspera, mas seu rosto é uma
máscara de madeira. — Saia do caminho ou você os receberá em nome dele.

Eu olho por cima do ombro para um Cass trêmulo.

Marcas de lágrimas brilham úmidas em suas bochechas. Sua pele está


vermelho vivo, vermelha e roxa agora. Pequenos pontos de sangue vieram à
superfície onde o cinto de Zachary tocou.
Ele não vai durar mais duas chicotadas. Ele vai começar a sangrar e será
tudo por minha causa.

Volto-me para Zachary, engulo em seco e forço minha voz a não tremer.

— Então eu farei isso, — eu digo, estendendo minha mão. Ele treme um


pouco, mas quando me concentro, ele para. — Dê-me o cinto.

Zachary ri.

— O quê, para que você possa fazer cócegas na bunda dele? Isso é
punição, menina, não porra de preliminares.

— Eu vou bater nele tão forte quanto eu puder. Eu juro.

Cass nunca duraria mais duas chicotadas do braço musculoso de


Zachary, mas o meu é como espaguete em comparação.

Menor de dois males, certo?

Eu estreito meus olhos um pouco.

— Reuben disse que estou com vocês ou contra vocês. Não há meio-
termo. Certo?

— Isso mesmo, — diz Reuben.

— Bem, estou com você, Zachary. — Meus olhos se voltam para Apollo.
— Apollo. — Eu olho para trás. — Reuben. Cassius. — Eu volto para Zachary.
— Estou com vocês.

Eu me inclino para frente e envolvo meus dedos ao redor do cinto.

— Agora me dê o maldito cinto.


Eu não sei quem está mais chocado de nós cinco. Trinity pede o cinto e
eu o entrego a ela. Eu fodidamente dou a ela. Eu a esperava implorar, talvez
finalmente algumas lágrimas, talvez até ela ficando de joelhos e me chupando
em troca da pele de Cass.

Estou contigo.

E porra, por um segundo aí, eu acreditei nela.

Dou um passo para trás para não me lançar sobre ela.

Quase esqueci porque permitimos essa garota aqui. Porque estamos


agradando-a.

Por que é tão fácil esquecer que ela é a inimiga? Não é como se fosse
notícia, desde o momento em que coloquei os olhos nela, soube que ela era
uma espécie de encrenca.

Só não percebi o quão profundamente enredada em tudo isso ela está.

Mas tudo isso muda esta noite.

Quando terminarmos com ela, ela estará tão quebrada quanto nós. Sem
utilidade.

Trinity dobra o cinto ao meio e se prepara.

Ela acha que pode acabar com a gente? Eu sei que ela vai pegar leve com
ele e vamos puni-la por isso.

Isso e tudo o mais que ela fez para nós.


Atrair Reuben com promessas de romance e amor e toda aquela besteira.
Agindo toda surpresa quando Apollo recusou sua buceta.

Admito, éramos idiotas por não perceber sua falsidade.

Mas estamos mais sábios agora.

Pegamos seus joguinhos. Seus pequenos truques.

Ela está em nosso território agora. Até decidirmos que ela pode deixar
este lugar, ela nos pertence.

E eu, por exemplo, planejo usá-la até que ela me implore para parar.

Mas não vou. Não importa o quanto ela implore.

Porque eles nunca fizeram.

Nossos fantasmas nunca permitem que nossas maldições ou súplicas


toquem seus corações cruéis. Achamos que era porque eles eram imunes à
nossa dor.

Até que ficou óbvio que eles não tinham coração.

Acho que eles os negociaram com o Diabo em troca de realizar seus


desejos doentios.

Assim como cada um de nós se entregou ao Diabo também.

Por uma chance de retribuição.

Por vingança.

Esta noite selamos esse pacto.

Esta noite, Trinity se torna nosso cordeiro sacrificial.

Eu sorrio quando ela levanta o braço, uma mistura de simpatia e


relutância absoluta em seu rosto.

Oh, ela desempenha seu papel tão bem. Mas eu vejo através dela.

Trinity range os dentes.

O cinto apita para baixo.

Cass grunhe e se contorce contra o aperto de Reuben.


Uma nuvem de fumaça de maconha se arrasta ao meu redor como uma
névoa nefasta. Atrás de mim, Apollo murmura — Foda-me, — com o maior
respeito.

Minha admiração é passageira e me faz sentir um vazio por dentro.

Eu assisto impassível enquanto ela desfere o golpe final, apenas


levemente surpreso por não fazer Cass gozar ou sangrar.

Então ela arremessa o cinto para longe dela como se fosse uma víbora e
gira sobre os calcanhares.

Suas bochechas estão vermelhas. Seus olhos brilhantes, zelosos.

— Pronto, — diz ela, empurrando a palavra entre os dentes. — Está feito.


Agora me diga o que você encontrou.

Trinity Malone não é a garotinha inocente que todos imaginamos que


fosse.

Isso significa que não vamos gostar de quebrá-la?

De jeito nenhum.

Significa apenas que não precisamos nos conter.


É óbvio que Cass está com dor, mas ele não está agindo como alguém que
acabou de ser punido. Na verdade, quanto mais ele fica como está, respirando
com dificuldade e segurando a cintura de Reuben como se fosse cair se ele se
soltasse... mais estou começando a me perguntar sobre tudo isso.

Eu sei que eles estavam esperando por mim, mas por quê? Só para que
eles pudessem me mostrar que as palavras têm consequências?

E mesmo depois de tudo isso... tenho a sensação de que Zachary ainda


não vai me dizer o que preciso saber.

— Zacha...

Ele levanta a mão, os primeiros dois dedos levantados, para todo o


mundo como um padre prestes a conceder uma bênção.

— Havia um arquivo, — diz ele. Seus lábios se abrem, mas ele hesita. —
Apollo, diga você a ela.

— Ele o escondeu no diretório do sistema, — diz Apollo.

O gelo sopra sobre minha pele e se instala profundamente em meus


ossos. Estou vagamente ciente de Cass se movendo atrás de mim, fazendo sons
suaves de dor enquanto se veste. Não consigo imaginar quanta dor ele está
sentindo, só recebi um punhado de chicotadas de Miriam e mal pude suportar
a agonia.
Há quanto tempo Zachary está batendo nele? Por que Reuben e Apollo
permitem que isso aconteça? Eles sempre assistem como esta noite? Reuben
sempre o segura?

De repente, não quero mais estar aqui. Não cercado por esses quatro
homens retorcidos.

Achei que gostasse de Reuben. Inferno, pensei que poderia aprender a


amá-lo, até, mas não se ele deixasse Zachary pressioná-lo assim. Mas posso
culpá-lo? Eu também não gostaria de estar no lado ruim de Zachary.

E essa não é a única razão pela qual quero ir embora. Por mais que a
Irmandade me apavore... é também o olhar nos olhos de Apollo.

Simpatia. Pena. Não tenho certeza.

Ele sente pena de mim e não sei por quê.

— Inteligente, mas não o suficiente. Ele o criptografou, renomeou e


escondeu em torno de um monte de outros arquivos de sistema para que se
misturasse perfeitamente.

Apollo desliza para fora do sofá e fica de pé em toda a sua altura. Quando
ele se aproxima, tenho que esticar a cabeça para trás para manter seu olhar.

— Veja, ele disfarçou tão bem que quase desisti. Mas eu tenho um palpite.
Fiz uma verificação do sistema. Substituí todos os arquivos padrão. Todos,
exceto por um punhado, não foram substituídos. Aquele arquivo dele era um
deles. Um dos outliers17, os que não se encaixavam.

— Isso soa familiar, minha putinha?

Quase pulo da porra da minha pele quando uma mão pousa no meu
ombro. A voz de Cass está bem perto do meu ouvido. Eu quero dar um tapa na
mão dele, mas... foi por minha causa que ele foi punido. E mais brutalmente
do que eu jamais teria considerado necessário. Eu podia pelo menos ouvi-lo.

Ouvi-los.

17Os outliers são dados que se diferenciam drasticamente de todos os outros, são pontos fora da
curva normal
Mesmo que eu só queira sair correndo daqui com as mãos nos ouvidos.

Porque mesmo agora, depois de gritar com Gabriel e dizer a ele que
acreditava na Irmandade... não quero estar do lado deles. Eu quero estar do
meu lado. Eu quero viver em uma utopia onde não existam pedófilos e tráfico
sexual e homens com problemas psicológicos causados pelo tipo de trauma
que as pessoas normais não conseguem nem entender.

Acho que isso deixou de ser uma opção depois que Lúcifer foi expulso do
céu. Não que alguma vez tenha eu acreditado em Deus e no Diabo. Parece uma
história usada para estimular o bom senso em um mundo onde, de alguma
forma, não é óbvio que você deva amar o próximo.

Mas depois de conhecer a Irmandade?

Não sei se posso deixar de acreditar.

— O que havia dentro? O que...? — Eu engulo em seco para desalojar o


nó da minha garganta. — O que ele estava escondendo?

— Não sabemos, — diz Reuben.

Sua mão está no meu ombro também, agora. Quente e grande em


comparação com a mão menor e mais fria de Cass. Mas ambos me seguram
com a mesma força. Ambos me seguram firmemente no lugar.

— É necessária uma senha, — diz Zachary. Meus olhos piscam para ele
quando ele se aproxima.

Agora que estou cercado por três dos quatro irmãos, a sala não é mais tão
fria. Apollo está um pouco parado, observando.

— Estou executando um programa de descriptografia nele, mas a menos


que eu coloque minhas mãos em um server farm18 ou algo assim, pode levar
meses para quebrar.

18 É um grupo de computadores servidores, normalmente mantidos por uma empresa ou


universidade para executar tarefas que vão além da capacidade de uma só máquina corrente, como
alternativa, geralmente mais económica, a um supercomputador.
— Então você não sabe, — eu digo, e as palavras saem com uma risada de
alívio. — Pode ser qualquer coisa.

As mãos nos meus ombros se contraem. Cass começa a acariciar o lado


do meu pescoço com o dedo mínimo.

Zachary pega meu queixo, mas quase suavemente desta vez, inclinando
minha cabeça para cima.

— Não precisamos saber o que diz para saber o que queremos. O que
estamos procurando.

Eu agarro seu pulso e lentamente, com cuidado, afasto sua mão do meu
rosto.

— Gabriel não é perfeito. — Eu aceno um pouco, olhando para cada um


deles, mesmo os dois parados atrás de mim. — Mas nenhum de nós também.
Somos todos pecadores, certo? — Eu enfrento Zachary novamente. — E se
estiver tudo na sua cabeça? Talvez seja hora de você parar de procurar
fantasmas nas sombras.

No momento em que as palavras saem da minha boca, sei que foi a coisa
errada a dizer.

Zachary torce a mão, agarrando meu pulso e puxando-o para baixo.

Antes que eu possa me afastar, ele está me forçando a agarrar seu pau
duro através de sua calça jeans, seus dedos dobrando sobre os meus. Ele me
faz apertá-lo, e isso só o faz endurecer ainda mais.

— Isso parece real para você? — Ele diz.

Tento me afastar, mas ele apenas me agarra com mais força. Posso senti-
lo pulsando sob minha mão.

— Pare, — eu sussurro.

— Nunca, — ele diz, seus lábios se abrindo em um rosnado. — Nós nunca


vamos parar. Nem para você, nem para Gabriel. Ninguém pode nos impedir,
Trinity.
Ele se pressiona contra mim, me imprensando entre ele e os homens
atrás de mim. Apollo se aproxima, pela primeira vez sem parecer que acha
nada remotamente engraçado nessa situação.

— Nem mesmo seu Padre.

****

Eu não posso lutar contra um deles. Definitivamente, não contra quatro.


Implorar provou ser inútil. Então, em vez disso, eu grito.

Mas isso só os faz rir.

E então tudo vai para a merda.

A mão de Reuben desliza em volta da minha garganta. A outra, em volta


da minha cintura. Ele me arrasta pelo chão e se senta no sofá, me puxando
para seu colo.

Quando tento chutar suas canelas, ele envolve suas pernas em volta das
minhas, prendendo-as no sofá.

E então as separa.

Minha saia mergulha naquele espaço, felizmente mantendo um pouco da


minha modéstia, mas isso não me dá um pingo de alívio.

Não quando estou diante de três homens que parecem prontos para
rasgar até o último ponto de meu tecido com a porra dos dentes.

Quando Apollo se lança para frente, solto outro grito inútil. Um grito que
ele silencia com um beijo enquanto se ajoelha ao lado de Reuben

Agora eu mal posso respirar, muito menos encher meus pulmões para
outro grito. Eu afasto meus lábios de Apollo, mas Zachary dá um passo à frente
e agarra meu queixo com seu aperto forte e implacável.

— Não é assim que funciona, garotinha. Se ele quiser beijar você, então
você vai deixá-lo beijar você, porra.
Só percebo que ele está segurando um cinto nas mãos quando o bate
contra a coxa. Eu me empurro com o som e me contorço no colo de Reuben
em um esforço para escapar.

De novo, fútil, mas de jeito nenhum vou ficar sentada aqui e aceitar isso.

Zachary disse que nunca vai parar?

Nem eu.

Mas você queria isso, Trinity, uma voz sinistra sussurra dentro da
minha cabeça. Você disse que queria saber como é...? Bem, você está prestes
a descobrir.

Não, assim não! Eu queria...

Flores, romance e encontros para jantar?

Normal.

Eu queria normal.

Zachary vira meu rosto de volta para Apollo e me solta. Os lábios de


Apollo capturam os meus, seu beijo vai de hesitante a violento em questão de
segundos.

Meu vestido, de mangas longas e corpete que chega até a clavícula, abre
com zíper nas costas. Então, quando Apollo tenta deslizar a mão por trás do
tecido, é muito apertado para ele obter acesso. Ele faz um som mal-humorado
e enfia a mão entre Reuben e eu, caçando.

Eu sinto cada centímetro desse zíper descendo. E quando eu bato meus


braços sobre meu peito para manter meu vestido no lugar, Cass agarra meus
pulsos e me abre novamente.

Então eu mordo o lábio de Apollo. Não é forte, quer dizer, eu nem sinto
o gosto de sangue, mas...

— Porra! — Ele pula para trás, pressionando as costas da mão contra a


boca. — Ela me mordeu!

Eu sinto tanto quanto ouço Reuben rindo.


— Acho que não fomos claros, — diz Zachary.

Meus olhos são atraídos com relutância para ele quando ele arrasta sua
cadeira na minha frente. Ele usa sua bota para abrir as pernas de Reuben, por
sua vez, me abrindo ainda mais. Então ele se senta, com as pernas entre as
minhas e as de Reuben, e se inclina para perto.

— Ninguém te arrastou aqui, garotinha. — Ele coloca as mãos nas minhas


coxas e aperta com força. — Você veio por conta própria. Você provavelmente
gostaria que acreditássemos que foi por curiosidade, mas sabemos que seria
uma mentira.

— O que você está falando? — Não é mais minha imaginação. Há algo que
eles não estão me dizendo.

Algo que eles encontraram?

Minha mente volta instantaneamente para o e-mail que li. Aquele que
minha mãe enviou a Gabriel. Eles descobriram que Gabriel estava tendo um
caso com meu pai?

Não há como impedir que minhas bochechas fiquem quentes, assim


como não há como impedir que Zachary perceba minha repentina
humilhação.

Seus lábios se curvam em um sorriso hostil e unilateral.

— Aí está ela, — ele sibila. — Demorou o suficiente.

— Eu posso explicar, — eu tagarelei, imediatamente me contradizendo


em pânico, — Eu não sabia!

Isso faz a Irmandade rir.

Cass se senta ao lado de Reuben e eu, estremecendo quando sua bunda


toca a almofada. Ele enfia a mão por baixo da minha saia e passa os dedos pela
parte interna da minha perna.

— Realmente espera que acreditemos nisso? — Ele solta uma risada


bufante e, em seguida, passa o dedo na minha calcinha. Eu me contorço contra
Reuben, tentando fugir de seu toque.
Que é quando eu percebo algo que está me incomodando por um tempo.

Reuben está de pau duro. E cada vez que me movo, ele fica mais duro.

Porra.

— Eu não sabia! — Minha voz vacila. — Por favor, você tem que acreditar
em mim. Eu acabei de descobrir.

— E você não pensou em nos contar? — Zachary diz. Seus dedos cavam
em minhas coxas enquanto ele se inclina o suficiente para me beijar. — Não
achamos que deveríamos saber?

— Isso importa? — Eu grito. — Isso muda alguma coisa?

Com isso, eles ficam em silêncio. Zachary até recua um pouco. Eu me


contorço de novo, mas paro rapidamente quando percebo que é um
movimento ruim.

Zachary baixa o olhar para o meu colo. E então eu não posso deixar de
mudar porque é como se eu estivesse completamente nua.

Ele olha para mim sem levantar o rosto, olhando para mim através dos
cílios grossos.

— Isso muda tudo, garotinha.


Trinity não gostou da minha declaração. Oh, ela não gosta nem um
pouco. Mas não há porra nenhuma que ela possa fazer sobre isso, não é?

Foda-se tudo o que ela pode fazer sobre qualquer coisa agora. Se alguma
vez houve uma boa hora para parar com isso... bem, ela passou por ela há cerca
de dez minutos.

Meus irmãos são lobos vorazes e ela é a coelhinha que acionou a


armadilha. Eu? Eu sou o caçador que armou a armadilha, e isso com apenas
um propósito em mente, pegar algo em que eles possam cravar os dentes
enquanto eu assisto.

Apollo rasga a frente de seu vestido, expondo seus seios empinados para
fora. Para aqueles lobos raivosos.

E eles caem sobre ela como um predador na presa.

Meus dedos escorregam de suas coxas enquanto me recosto na cadeira e


pego meus cigarros. Eu pego um fora da caixa e acendo enquanto Cass e Apollo
abaixam suas cabeças e consomem seus mamilos com lábios famintos e
línguas ferozes.

Uma fumaça espessa e quente enche meus pulmões. Observando-os,


uma onda de sangue endurece meu pau atrás do meu jeans.

Trinity solta um gemido de protesto e tenta se afastar de suas bocas, mas


não há nenhum lugar para ela ir.
— Pare! — Seus gritos não caem exatamente em ouvidos surdos. Na
verdade, Cass e Apollo olham um para o outro quando a ouvem. Com um
timing perfeito, eles agarram as laterais do vestido e puxam para baixo até os
quadris.

É quando ela realmente começa a se debater.

Mas com Reuben segurando sua garganta, o outro braço musculoso


prendendo sua cintura, ela só consegue se contorcer como um peixe no anzol.

Entre os três, eles puxam seu vestido para fora de seus quadris e para
baixo em suas pernas.

Eu me inclino para frente e o agarro, lentamente arrastando o tecido


sobre seus joelhos. É aí que fica preso, com as pernas de Reuben enroscadas
nas dela, não consigo tirá-las.

Sorte minha, tenho uma faca.

Quando eu abro, ela congela. Seu estômago pálido treme enquanto ela
prende a respiração.

— Você não está enganando ninguém, — digo a ela.

Eu me inclino para frente, passando a ponta afiada da faca sobre um osso


do quadril, depois o próximo.

Cass geme baixinho na base da garganta e se mexe como se a ereção presa


atrás de sua calça jeans estivesse lhe dando tristeza. Isso ou sua bunda
machucada. Provavelmente uma combinação dos dois, porque ele gosta da dor
tanto quanto eu gosto de infligir.

Com o vestido emaranhado em torno dos joelhos separados, apenas com


a calcinha, ela parece uma boneca sentada no colo de Reuben. Suas coxas
grossas têm o dobro do tamanho das dela. Esse braço parece capaz de parti-la
ao meio se ela respirar errado.

É impossível perder o pau de Reuben também. Ainda preso atrás de sua


calça jeans, aquele cume enorme parece que está tentando se aninhar em sua
fenda na bunda. De jeito nenhum ela não pode sentir isso. De jeito nenhum
ela não consegue perceber onde aquele pau está destinado a se enterrar assim
que terminarmos de brincar com nosso jantar.

Meu pau quer estourar tentando sair da minha calça jeans com o
pensamento.

E esta noite, ele também não pode desistir.

Temos duas cerejas para estourar.

Minha faca fica presa na bainha de sua calcinha e desce direto entre suas
pernas. De onde estou sentado, tenho uma visão perfeita de sua boceta, se ela
não estivesse usando essa calcinha.

Trinity está sentada absolutamente imóvel, lábios entreabertos, olhos


semicerrados como se em resignação. Eu paro logo acima de seu clitóris, nada
além de uma película de tecido entre ela e a faca. Segurando a ponta lá, eu
sorrio para ela e lentamente pego meu cigarro.

— Você continua nos dizendo para parar, mas essa boceta molhada está
cantando uma melodia diferente.

Seus seios tremem quando ela ousa respirar.

— Por favor, Zachary. Não faça isso.

— Você mudou de ideia?

Ela engole e se atreve a mudar. Acho que Reuben está ficando mais duro
a cada segundo. Aquele colo confortável não é mais tão confortável.

— Sim. Eu... queria isso, mas não mais. Então, por favor, me deixe ir.

— Você é uma boa mentirosa, — digo a ela. — Uma das melhores que
conheci. — Eu olho para Cass, então para Apollo. — Vão em frente, meninos.
— Eu inclino minha cabeça para sua boceta. — Verifiquem por si mesmos o
quanto Trinity não quer isso.

Cass não perde tempo, e Apollo está apenas uma batida atrás dele. Eles
arrastam seus dedos sobre suas coxas enquanto ela começa a se agitar tanto
quanto ela ousa com a ponta da minha faca tão perto de seu clitóris.
Seus dedos traçam a bainha lisa de sua calcinha antes de cada um
afundar a mão atrás do tecido transparente. Os dois estão olhando para ela,
como se a desafiassem a olhar para eles, mas ela está olhando diretamente
para mim.

Ela mantém a compostura por mais um segundo, e então seus lábios


começam a tremer novamente.

— Não, não, não, por favor, pare, pare!

Mas eles continuam indo.

Seus dedos levantam inadvertidamente o tecido à medida que passam,


enviando a ponta da faca através dele.

Seu suspiro escandalizado poderia ser pela lâmina nua agora provocando
a penugem acima de seu clitóris, ou aqueles dedos deslizando sobre suas
dobras molhadas.

Porque, de onde estou sentado, posso ver que ela está totalmente
encharcada.

Traída por sua própria depravação.

Assim como nós.


Estou tonta. Confusa. Assustada pra caralho. Nua, exceto por minha
roupa íntima inútil, nunca me senti tão exposta.

Ou tão excitada.

Assim que Cass me tocou mais cedo, foi como se ele tivesse ligado um
interruptor no meu cérebro. Não a parte que pensa, ah, se fosse apenas isso,
mas a parte que controla meu corpo.

Agora está no automático.

Não consigo controlar a maneira como me aperto por dentro quando


Cass e Apollo me tocam. Ou como arrepios passam por mim quando Zachary
passa aquela faca na minha calcinha.

E agora?

Eu tenho seus dedos lambuzando minha boceta com sucos que vazaram
de mim porque de alguma forma, de alguma forma, parece que estou
realmente gostando disso.

Eu gemo em protesto, tentando me desviar de seus dedos. Mas isso só


cava o pau de Reuben mais fundo na minha bunda.

— Não, por favor, Deus. — Meus gemidos se transformam em


choramingos quando Cass e Apollo abaixam suas cabeças e começam a
provocar meus mamilos com os dentes. Enquanto seus dedos ainda estão
acariciando minha boceta molhada.
— Porra! — Eu grito quando Cass morde forte o suficiente para deixar
marcas fracas no meu peito.

Um hálito quente e doce atinge o cabelo perto da minha orelha.

Se Zachary não tivesse afastado a faca no momento certo, eu a teria


enfiado a um centímetro da porra do meu estômago agora, porque, sem
qualquer aviso, Reuben se endireita.

O aperto em volta da minha garganta diminui, mas apenas um pouco, e


então eu percebo o porquê.

Ele está abrindo o zíper das calças.

— Reuben, não. Por favor. Por favor! — Eu me contorço furiosamente


agora que nenhuma faca pressiona na porra do meu clitóris para me impedir.

Zachary solta uma risada abafada em torno do cigarro. Metal frio


pressiona contra minha coxa.

Snick, snick.

O calor passa pela minha pele quando Cass e Apollo arrancam minha
calcinha.

Agora não há nada me protegendo de seus olhos. Ou o pau quente e duro


que Reuben liberado de suas calças um segundo depois.

— P-por favor, — murmuro, chorando como uma garotinha quando


começo a lutar.

— Ssh, — ele murmura em meu ouvido. E então beija o lóbulo da minha


orelha. O lado da minha mandíbula. Ele passa o braço em volta da minha
garganta e me arrasta contra ele enquanto afunda de volta no sofá.

Ele junta as pernas e, por um segundo, estou convencida de que eles vão
me deixar fechar as pernas.

Talvez até me deixe ir.

Quero dizer, porra, eles não podem realmente fazer isso, podem?

Mas você quer que eles façam isso, não é? Mais do que tudo no mundo.
Eu empurro o pensamento traidor da minha cabeça. Eu disse não uma
dúzia de vezes. Eu gritei, eu gritei, eu implorei. Por que diabos...?

Porque você ama isso.

Você está amando cada fodido segundo disso.

— Não, — eu sussurro furiosamente.

Apollo e Cass arrastam a calça jeans de Reuben por suas pernas e me


seguram enquanto ele tira a camisa.

Agora é apenas carne contra carne.

Enquanto Zachary desembaraça meu vestido e o puxa dos tornozelos, me


contorço no colo nu de Reuben.

E é então que percebo como estou molhada, porque posso sentir isso.

E acho que Reuben também pode.

Ele solta um estrondo baixo no fundo da garganta que sinto tanto quanto
ouço. Zachary apenas puxa a calça jeans de Reuben quando eu começo a
chutar. Quase distraidamente, Zachary segura meu tornozelo e enfia minha
perna atrás da perna de Reuben.

E assim, estou presa novamente.

O cigarro de Zachary acabou, só a porra, sabe o que aconteceu com ele.


Cass e Apollo estão lutando para tirar suas camisas.

Minha respiração engata. Eu começo a ofegar, suave e superficial.

Zachary agarra meu queixo e puxa minha cabeça para o lado. Forçando-
me a olhar diretamente nos olhos negros de Reuben.

Seu hálito quente persegue um arrepio através de mim um segundo antes


de ele me beijar.

Está tudo fodido, eu sei.

Não faz sentido nenhum.

Mas eu o beijo de volta de qualquer maneira.


Talvez seja uma forma de fuga. Porque quando meus olhos se fecham,
não consigo mais ver os outros. E, neste momento, ninguém mais está me
tocando. Quase consigo me convencer de que somos apenas Reuben e eu.

Nossa primeira noite juntos.

Apenas um cara e uma garota...

Até que as mãos de Zachary pousem em meus joelhos. Eu sei que é ele,
porque ele é o único que me agarraria com força suficiente para machucar.

Ele incentiva minhas pernas a se abrirem, por um momento lutando não


só comigo, mas também com Reuben.

Acho que Reuben não vai deixá-lo vencer, mas estou sempre errada
quando se trata da Irmandade e desta vez não é exceção.

Relutantemente, Reuben abre as pernas, por sua vez, abrindo as minhas


também.

O ar frio lambe minha boceta molhada e estremeço com a sensação. O


beijo de Reuben se aprofunda, seus lábios fortes machucando os meus. Eu
gemo contra sua boca, cavando meus dedos em seu braço enquanto tento
puxá-lo para longe da minha garganta.

Cass e Apollo descem em meus seios novamente. Desta vez, eles usam os
lábios e os dentes. Beijar, chupar, beliscar, morder. Eu começo a me contorcer
no colo de Reuben e, se suas pernas não estivessem abertas, provavelmente eu
o teria sujado com meus sucos. Mas estou suspensa sobre o espaço entre suas
pernas.

E quando sinto o calor do corpo de Zachary aquecendo meus joelhos e


quando forço meus olhos a abrirem, percebo o porquê.

Zachary sorri para mim por um segundo e então alcança entre minhas
pernas. — Você vai ter que abrir muito mais, garota, — ele diz.

As costas de sua mão roçam minha boceta enquanto ele passa por mim.
Eu suspiro e me movo contra Reuben, quebrando nosso beijo.
Ele solta um grunhido um segundo antes de eu sentir a ponta de seu pau
roçar minha boceta.

Eu fico rígida, franzindo a testa enquanto tento olhar para baixo para
descobrir tudo isso.

Zachary segura o pênis de Reuben com uma das mãos. E quando eu olho
para ele em choque total, seu sorriso desaparece.

Sem largar o pau de Reuben, Zachary fica de joelhos na nossa frente.

Reuben geme de novo e se mexe embaixo de mim. De repente, seu pau


está bem contra a minha entrada.

Meu corpo se acende. Eu suspiro, minhas unhas afundando no braço de


Reuben enquanto tento sair do caminho, mas Cass e Apollo agarram minhas
coxas, me mantendo exatamente onde estou.

Zachary usa a outra mão para agarrar o pulso de Reuben, pressionando


os dedos do homem entre minhas pernas.

Uma pulsação furiosa começa dentro de mim quando Zachary mostra a


Reuben onde me tocar. Como espalhar meus sucos sobre minha boceta até
ficar encharcada e pingando.

Em seguida, ele guia o pau de Reuben de volta à minha entrada. Juntos,


eles me separam. O dedo de alguém, porra sabe quem, desliza dentro de mim.

Eu suspiro quando meu corpo fica rígido.

Cass e Apollo acariciam minha parte interna das coxas, criando uma
fricção quente e louca sobre minha pele. Eu ouço zíperes sendo puxados para
baixo.

Para minha própria maldita sanidade, eu sei que não deveria..., mas eu
faço. Eu olho.

Eles tiram seus pênis e começam a acariciá-los com mãos e dedos


experientes.

Eu sufoco um soluço.

— Por favor…
Mas desta vez, eu não sei se estou implorando para eles pararem... ou
apenas para acabar com a porra da minha miséria.

A dor dentro de mim é implacável. Eu continuo apertando mais forte e


ficando mais úmida até que estou encharcando o pau de Reuben e os dedos de
Zachary.

Reuben se aninha na lateral do meu pescoço, morde o lóbulo da minha


orelha e murmura.

— Beije-me.

E eu viro. E eu fodidamente o beijo.

Porque, obviamente, eu perdi a porra da minha cabeça.

Zachary esfrega o pau de Reuben em minhas dobras cada vez mais


rápido, seu polegar mergulhando dentro de mim a cada passagem. Me
provocando até parecer que já estou desfeita.

Mãos agarram meus pulsos. Cass e Apollo arrancam minhas unhas dos
músculos de Reuben. E eu deixei, porque o beijo de Reuben está derretendo
até o último resquício de resistência.

Meus dedos roçam uma pele mais macia e quente. Hesito, quase recuo,
mas então sinto uma boca na parte interna da minha coxa.

Oh merda.

Não.

O que?

Meus olhos se abrem e me atrevo a espiar enquanto a língua de Reuben


desliza em minha boca.

A camisa de Zachary está tirada. Possivelmente a calça dele também,


meus olhos estão embaçados com luxúria e paixão e qualquer feitiço louco que
eles me colocaram.

Zachary beija o topo do meu joelho. Minha coxa interna. Quando ele se
inclina mais perto, o calor de seu corpo envia uma onda elétrica por mim.
Eu suspiro na boca de Reuben enquanto Zachary roça a carne sensível da
parte interna da minha coxa com os dentes.

Trabalhando para subir.

Mais próximo.

Em direção à minha boceta exposta. Meu clitóris exposto. O tempo todo


me acariciando com a coroa molhada do pênis de Reuben.

Então, quando Apollo e Cass me insistem para agarrar seus paus...

Eles gemem em conjunto quando envolvo meus dedos em torno deles.

Duro. Fodidamente duro.

E assim como Zachary guia o pau de Reuben sobre minha boceta, eles me
mostram como tocá-los. Quão rápido para acariciá-los.

Estou doendo, latejando e ofegando como a porra de um animal antes


que a boca de Zachary chegue perto da minha boceta.

Quando ele segura o pau de Reuben fora do caminho e passa sua língua
por toda a extensão da minha boceta, eu empurro contra sua boca como uma
mulher possuída.

Sim, porra, devo ter o diabo dentro de mim agora.

O que mais há para explicar por que, quando Zachary alcança o topo da
minha boceta e sacode sua língua quente e úmida contra meu clitóris, eu me
forço contra sua boca com força suficiente para me fazer gozar?

Estou tão perdida em meu próprio clímax que mal percebo que estou
segurando Cass e Apollo com força suficiente para fazer um me amaldiçoar e
o outro gozar.

O esperma quente escorre pelas costas da minha mão quando meus olhos
se abrem um segundo depois.

Cass tira meus dedos de seu pau, murmurando algo sobre me manter
bem longe dele. Apollo, por outro lado, se inclina para frente e rouba minha
boca de Reuben. Então ele faz minha mão se mover mais forte, mais rápido.
— Foda-se, — ele murmura, interrompendo nosso beijo.

E então ele se afasta de mim, um sorriso perverso deslizando de seu rosto


enquanto ele incentiva meus movimentos a desacelerar. Seu olhar vai para
Zachary e depois para minha boceta.

Outro comando silencioso.

Eu entendo quando Zachary se abaixa e suga meu clitóris em sua boca.

Eu suspiro quando uma agonia feliz atira através de mim. Enfio a mão
no cabelo de Zachary, só percebendo um segundo depois que ainda está
coberto com o esperma de Cass. Mas então nada mais importa, porque estou
empurrando a boca de Zachary com mais força contra meu clitóris enquanto
me empurro para encontrá-lo.

Enquanto Apollo usa minha mão para seu próprio prazer. Seu gemido
vem segundos antes dele, e então aquela mão é revestida com seu esperma
também.

Zachary me belisca com os dentes e outro clímax vem em minha direção.


Um suspiro passa por mim enquanto eu arqueio minhas costas, esperando
totalmente outro orgasmo espetacular rasgar através de mim.

Em vez disso, ele afasta a boca e enfia um dedo dentro de mim.

— Ela está pronta, — ele diz.

Ele olha para mim e, possivelmente pela primeira vez, um sorriso


genuíno se espalha por seus lábios.

— Isso vai doer mais do que qualquer coisa que você já sentiu, — diz ele.
— Mas você vai suportar, porque ele te ama. Me ouviu porra?

Meu coração dispara.

Reuben relaxa o braço que ele colocou em volta da minha garganta na


eternidade passada e, em vez disso, agarra um seio, apertando-o
impiedosamente em sua mão forte. Eu choramingo, virando olhos confusos
para ele.
— Sinto muito, — ele murmura, e então esfrega o rosto no meu cabelo. —
Eu deveria ter dito algo.

— Você…?

Eu não posso nem.

Não faz sentido.

Nós apenas... gostamos de...

Eu fico mole.

Eu não posso lutar mais contra isso. Levaria mais três de mim para
sequer tentar. Eu simplesmente não tenho isso em mim.

— Hmm, — murmura Zachary e depois volta a ficar de joelhos. — Eu


gostava mais quando você estava lutando.

Em seguida, ele dá um tapa na parte interna da minha coxa com a mão.


Eu suspiro, mas mal recuo.

— Você goza uma vez e depois está inútil? — Ele diz. — Isso não é bom o
suficiente, Trin.

Ele se abaixa, raspando os dentes na minha pele com força suficiente


para deixar sulcos. Eu me contorço, mas é só para isso que tenho energia.

— Onde está sua luta. Onde está essa coragem19?

— Em toda a porra das minhas mãos, — eu digo, segurando-as para cima.


— E em seu cabelo.

Há um momento, esse silêncio cristalizado, em que poderia ter


acontecido de qualquer maneira.

Não sei se teria preferido que todos nós ríssemos disso.

Eu não tive escolha.

Zachary rosna para mim.

19 Nota de Tradução. A palavra em inglês (spunk) significa coragem...porém é gíria para esperma.
Por isso a resposta de Trinity quando Zack pergunta onde está a coragem dela.
— Quer que eu tenha pena de você, vagabunda?

Um arrepio percorre meu corpo.

— Não, eu...

Ele agarra meu rosto com força suficiente para machucar e, em seguida,
puxa o cinto.

— Zachary, — vem a voz de Reuben atrás de mim.

— Você vai me agradecer mais tarde, — Zachary diz a Reuben enquanto


seu cinto bate no chão.

— Zach...

— Você pode querer morder alguma coisa, garotinha, — Zachary diz, seus
olhos em mim. Mas então ele olha através para Reuben. — Segure-a para que
eu possa abrir essa boceta para você.
Meu grito não faz nada para detê-los. Apollo agarra minhas mãos e me
segura para que eu não possa lutar. E Reuben apenas abre as pernas, expondo
minha boceta para o pau de Zachary.

Meus olhos embaçam com lágrimas de medo, mas eu pisco para longe
antes que caiam. Zachary coloca os joelhos entre as pernas de Reuben e se
inclina para mais perto, uma mão deslizando por nós para agarrar a almofada
ao lado da cabeça de Reuben.

A respiração de Zachary agita os cabelos finos ao lado das minhas orelhas


quando ele se inclina e eu me afasto. Mas então dedos fortes me fazem encará-
lo novamente.

Reuben. A porra do traidor.

Os olhos de Zachary descem para os meus lábios.

— Quer que eu te beije da mesma forma como te amo também? — Ele


murmura.

Ele se abaixa, seus lábios roçando os meus. Não mais do que uma leve
provocação.

Se eu pudesse ter me virado, o teria feito, mas Reuben está me mantendo


no lugar de todas as maneiras possíveis, queixo, corpo, pernas.

Eu sinto as almofadas do sofá afundarem um pouco quando Cass retorna


de onde quer que tenha ido. Seus dedos percorrem minhas coxas. Um segundo
depois, também o de Apollo.
Reuben se mexe embaixo de mim e, de repente, seu pau está
pressionando contra mim novamente. Ele geme baixinho enquanto agarra seu
pau e passa pela minha boceta, novamente se cobrindo. A ponta do polegar
desliza para dentro de mim e, em seguida, seu pau está empurrando contra a
minha entrada.

Não sei se Zachary de alguma forma sabe o que está acontecendo lá


embaixo, ou se todos eles estão psiquicamente ligados, mas quando suspiro
quando Reuben me empurra, Zachary me beija.

Duro.

Apaixonadamente.

E sim, como se ele me amasse. Mas em seu próprio jeito distorcido e


fodido.

Não é nada como ele me beijou antes. Parece errado, mas o tipo de errado
que me faz pensar por que eu estava tentando impedi-lo em primeiro lugar.

Qualquer um deles.

Os dedos de Cass e Apollo acariciam cada lado da minha boceta e, em


seguida, me abrem ainda mais. Eu me empurro para o beijo de Zachary, sem
fôlego enquanto tento beijá-lo de volta com tanta força quanto ele está me
beijando.

Ele faz um som de surpresa no fundo de sua garganta um segundo antes


de sua língua forçar seu caminho em minha boca.

E então seu pau roça meu clitóris. Ele mergulha, molhando-se na minha
excitação, e depois volta, massageando-me com a ponta do seu pau enquanto
ele fode a minha boca com a língua.

Reuben solta minha mandíbula e, em vez disso, agarra um dos meus


seios, me apertando com tanta força que choramingo contra a boca de
Zachary.

— Jesus, foda-se, — sussurra Zachary, interrompendo brevemente o


nosso beijo. — Se você tivesse alguma ideia do quanto eu quero te machucar.
Meus olhos se abrem.

— Então faça isso, — eu digo.

Não sei de onde vem a bravata repentina que me invade.

Talvez seja o breve lampejo de admiração que pisca fundo nos olhos
verde-musgo de Zachary. Talvez seja o fato de que, mesmo por um segundo,
parece que tenho todos esses quatro homens à minha disposição.

Reuben acaricia seu pau sobre minha boceta e testa minha entrada
novamente. E enquanto estou olhando nos olhos de Zachary, ofegando por
causa do nosso beijo violento, entendo o que ele quis dizer. Porque ele queria
me foder primeiro.

Porque quando Reuben empurra o primeiro centímetro de seu pau na


minha boceta, eu deixo escapar um gemido agonizante.

Ele imediatamente puxa para fora, acariciando-me enquanto acaricia o


lado do meu pescoço. Tudo isso enquanto olho para Zachary como se fosse
desafiá-lo, apenas para perceber que não funciona assim.

Por mais que Reuben queira fazer amor comigo, ele não pode, porque
isso me machucaria. E ele não pode me machucar.

Zachary sabe disso.

Se eu quiser foder Reuben, eu teria que foder um deles primeiro. Eu


mordo meu lábio inferior enquanto pensamentos selvagens assolam minha
cabeça.

Vagabunda.

Prostituta.

Pecadora.

Mas eu empurro tudo de lado.

Eu continuo esquecendo, não sou normal.

Eu sou especial.
Os olhos de Zachary caem para minha boca. Eu mordo meu lábio com
mais força e solto um pequeno gemido.

— Cristo, — ele murmura. Mas em vez de me beijar, ele belisca meu


queixo. — Não basta dar para mim, garotinha. — Ele me beija uma vez, forte,
e se inclina para trás enquanto começa a acariciar seu pau. — Eu quero pegar.

Então eu dou a ele o que ele quer.

Quando ele abaixa os quadris e toca seu pau contra minha boceta, eu
começo a lutar.

Isso vem com bastante facilidade, porque estou apavorada pra caralho.

Não apenas dele.

Não sei o que será da minha vida, mesmo que milagrosamente não
prossiga com isso.

Então eu luto com ele.

Quando seu ombro chega perto o suficiente, eu afundo meus dentes nele.
E eu recebo um tapa na minha boceta por isso, o que me faz choramingar de
dor.

E isso o torna ainda mais difícil.

Então ele me deu um tapa novamente, gemendo enquanto eu resistia.

— Toque-a, — ele responde, seus olhos apenas brevemente se lançando


para Reuben.

Dois dedos grossos provocam minha abertura. E então Reuben os enfia


em mim.

Eu arqueio para fora dele, um suspiro chocalhando na minha garganta


que Cass se inclina para frente e agarra com um beijo.

Foda-se minha vida.

Eu gemo em sua boca enquanto Reuben lentamente começa a me tocar.

Uma boca quente pressiona meu osso púbico. Estou convencida de que é
a de Zachary, mas quando uma língua lambe meu clitóris, percebo que não é.
Apollo.

Meu corpo derrete contra Reuben sob sua atenção. Reuben me fodendo
com seus dedos, Apollo massageando meu clitóris com seus lábios e língua e
boca. Cass roubando minha respiração com um beijo.

Meus olhos se abrem no segundo que Cass se afasta.

Zachary está sentado em sua cadeira, acariciando-se enquanto me


observa sendo devorada, uma expressão de total contentamento em seu rosto.

Mas o feitiço se quebra quando um clímax troveja em minha direção. Eu


agarro meus dedos no cabelo de Apollo, forçando-o com mais força contra
meu clitóris, mas Zachary agarra seu ombro e o puxa para longe.

— Pare.

Os dedos de Reuben puxam para fora da minha boceta apertada e


pingando. Zachary desliza entre minhas pernas, arrasta os dedos pela minha
fenda e lambe meus sucos de seus dedos.

— Você está molhada o suficiente, — diz ele enquanto se inclina mais


perto. Ele coloca a boca no meu ouvido.

Ele empurra minha cabeça para o lado com a dele, e os lábios de Reuben
pegam os meus em um beijo lento e gentil que posso sentir até os dedos dos
pés.

O pau de Zachary toca meu clitóris e se arrasta para baixo.

Ele para contra a minha entrada e se alivia na primeira polegada


enquanto sua respiração pinta chicotadas quentes contra o lado do meu
pescoço.

— Jesus, você está encharcada, — diz ele.

Eu solto um miado em resposta.

Então ele entra mais um centímetro. Eu suspiro na boca de Reuben, e ele


começa a beijar o canto da minha boca em vez disso.

— Não se contenha. Eu quero saber o quanto estou machucando você.


A respiração passa pela minha garganta enquanto ele se acomoda mais
um centímetro. Eu agarro seus ombros e, em seguida, afundo minhas unhas
em sua carne.

Ele sibila por entre os dentes.

E então bate em mim.

Eu grito, porque foda-se dói.

E aí eu luto, porque quero ele fora.

Mas ele me segura lá, presa em seu pênis, e arqueja contra o lado do meu
pescoço.

— Tão fodidamente apertado, — ele sussurra. — Jesus.

Um soluço me sufoca. Tento me mover, mas estou presa entre ele e


Reuben.

— P-por favor, — eu tento.

— Isso dói?

— Sim! — Eu assobio.

— Eu não estou nem mesmo em todo o caminho, — diz ele. E então ele
força mais um centímetro dentro de mim.

Lágrimas escorrem pelo meu rosto enquanto suspiro de dor. Dedos


deslizam entre nós e tocam meu clitóris e, em seguida, o prazer luta contra
essa dor.

Reuben começa a massagear meu clitóris enquanto beija o lado do meu


pescoço.

Presa entre eles, eu lentamente começo a me desfazer.

Zachary não se afasta mais do que um centímetro e, em seguida, empurra


em mim com força suficiente para arrancar um grito rouco de mim.

Os dedos de Reuben aceleram.


Estou agarrada com tanta força ao pau de Zachary que estou surpresa
por ele conseguir se mover. Mas ele faz. Assim que ele me encheu com cada
centímetro de pau, ele começa a me foder forte e profundamente.

Cada impulso arranca um novo grito de mim. Potente no início, mas


depois rouco e quebrado.

Reuben me massageia ainda mais forte.

Estou uivando agora, arranhando o peito de Zachary como um animal


enjaulado.

Porque isso é exatamente o que eu sou.

Presa entre eles, não tenho para onde ir. Nenhuma maneira de impedi-
lo de me foder, me machucar, me fazer sangrar.

E conforme ele ganha velocidade, conforme seu ritmo suaviza, Reuben


morde o lado do meu pescoço e Zachary captura meus lábios para outro beijo,
eu gozo.

Eu gozo com tanta força que nem consigo gritar.

E Zachary me fode durante meu clímax e além. Eu ainda estou descendo


daquela altura impossível quando ele agarra meus quadris e empurra em mim
o mais forte que ele já fez.

Seu pau pulsa enquanto ele se esvazia dentro de mim, machucando meus
quadris com a ponta dos dedos.

Eu nem tenho tempo para respirar. Zachary sai de mim com um suspiro
irregular, o último jorro de seu esperma aquecendo minha pele quando ele
goza sobre meu clitóris.

— Foda ela, — diz ele, nem mesmo se preocupando em olhar para mim.
— Vá lá e foda-a enquanto ela ainda está sangrando.

Reuben se mexe embaixo de mim. Eu tenho tempo para um Não! de


protesto, e então eu estou sendo aberta novamente.
Zachary agarra meu cabelo em um punho e me puxa para frente para um
beijo violento enquanto Reuben enterra suas bolas profundamente em minha
boceta dolorida e sangrando.

Eu posso ter morrido. É perfeitamente possível. Porque me lembro de


beijar Zachary e, de repente, sinto como se tivesse ido para o céu.

Nunca senti tanto prazer entorpecente. Mas a dor é muito intensa para
que eu possa apreciá-la.

Pelo menos é o que penso.

Mas então alguém dedilha meu clitóris novamente e...

— Eu vou gozar! — Eu sussurro contra a boca de Zachary.

Ele dá um passo à frente, seu pau saltando com raiva, já ereto novamente
quando ele dá um passo para o lado para Cass.

— O que…?

Cass fica de joelhos. Senta-se para frente. E fecha a boca sobre meu
clitóris.

Eu jogo minha cabeça para trás e suspiro.

— Estou te machucando? — Reuben sussurra em meu ouvido.

De alguma forma, consegui dizer — Sim — choramingando.

— Devo parar?

— Não!

— Bom, — ele rosna. — Porque eu não posso. Sinto você tão bem. Tão
bom pra caralho, meu amor.

Algo invisível aperta meu coração.

— Foda-me mais forte.

— Mas eu não...

— Foda ela com mais força! — Zachary late.


Reuben rosna no fundo da garganta, mas ele obedece. Agarrando meus
quadris, ele se desloca para frente até que está bem na beira do colchão. Cass
tropeça para trás enquanto ele limpa a boca com as costas da mão. No
momento em que Reuben termina de me arrumar e eu olho para cima, Cass
está acariciando seu pau e parecendo que vai gozar novamente.

Reuben abre minhas pernas, passa por mim e agarra a cabeça de Cass.
Ele empurra o homem para frente, forçando sua boca sobre o meu clitóris.

— Foda a boca dele, — Rube comanda baixinho no meu ouvido. E então


ele coloca as mãos em meus quadris e me move contra os lábios de Cass.

Porra, mas é demais.

Eu começo a enlouquecer.

Reuben passa a mão sobre minha boceta, me abre com os dedos e enfia
seu pau em mim. Eu salto para frente, mas ele agarra meu cabelo e me puxa
de volta. Mantendo-me presa entre seu pau e a boca de Cass, ele começa a me
foder lenta e profundamente.

Isso dói pra caralho, e então não dói mais. Mas ainda estou
choramingando e choramingando porque o prazer é tão agonizante quanto a
dor.

Quando eu gozo, é com um grito rouco. Reuben agarra minha bunda e


me puxa contra ele, dirigindo seu pau tão profundamente dentro de mim
quanto pode ir. Cass nos segue, sua língua lambendo meu clitóris.

Eu estremeço quando meu clímax termina, minhas unhas deixando luas


crescentes nas coxas de Reuben. Ele me enche com seu esperma, e vaza da
minha boceta quando ele começa a puxar para fora.

Eu agarro sua nuca e viro minha cabeça para beijá-lo.

— Fique dentro, — eu sussurro pouco antes de nossos lábios se tocarem.

Ele faz isso.

Ele fica lá dentro, me enchendo mesmo quando começa a amolecer,


enquanto Cass continua me lambendo e me lambendo e me lambendo.
Ainda estamos nos beijando, ambos ainda ofegantes, quando me sinto
prestes a gozar novamente.

Mas Reuben não captura meus gritos desta vez. A boca no meu clitóris
desaparece e, em vez disso, estou olhando para os olhos mais azuis que já vi.

Enquanto Apollo me dilacera com sua língua no meu clitóris, Cass tira
meu fôlego com um beijo.
Eu deveria me sentir diferente. Por que não me sinto diferente? Claro,
ainda há uma leve dor dentro de mim, mas mentalmente, pensei que sentiria...

Como uma mulher?

Eu encolho os ombros e respiro fundo. Estou aninhada contra o peito e


estômago de Reuben, seu braço envolto em minha cintura. Estamos usando o
colo de Apollo como almofada enquanto ele está apoiado em uma pilha de
travesseiros. Cass e Zach também estão em algum lugar próximo, mas no
escuro não posso ter certeza de onde.

Eles me trouxeram aqui depois que terminaram comigo na noite


passada. Depois que eu não conseguia mais sentir prazer ou dor.

Meus olhos estão granulados e meu corpo está dolorido. Não sei se dormi
horas ou minutos.

Não ouso acordar a Irmandade, mas preciso dar o fora daqui e descobrir
as coisas.

Além disso, preciso fazer xixi.

Eu cuidadosamente deslizo para fora do braço de Reuben e me arrasto


nua para a área de estar de seu covil. Lá eu encontro meu vestido e o coloco o
mais silenciosamente que posso. Graças a Deus Zachary não decidiu cortá-la
junto com minha calcinha.

Eu procuro por meus sapatos. Um deles acabou embaixo do sofá.


Ter que ir ao banheiro quase se torna um problema quando me levanto e
vejo Zachary encostado em uma estante próxima, me observando.

— Cristo, — eu sussurro, colocando a mão no meu coração acelerado. —


Você me assustou.

— Já está indo embora? — Ele diz, e vai até um maço de cigarros jogado
em uma das prateleiras vazias. Ouve-se um clique metálico. Uma nuvem de
fumaça. Ele ainda está de costas para mim.

— Eu preciso ir ao banheiro, — digo a ele. Então eu hesito. — Volto


depois.

O tabaco se inflama com um leve estalo quando Zachary inala.

— O que te faz pensar que queremos você de volta?

Meu coração dispara.

— O que você disse?

— Todos vocês se divertiram. — Ele se vira, exalando uma nuvem de


fumaça pálida. — É hora de você ir se foder. — Ele se aproxima enquanto ainda
estou tentando processar suas palavras e agarra meu queixo. Esse toque dói
mais do que deveria, eles me machucaram na noite passada.

— Quando o primeiro ônibus para Mercy partir esta manhã, você estará
nele.

Eu começo a balançar minha cabeça.

— Por que...?

Zachary empurra seu corpo contra o meu, me empurrando para trás.

Um suspiro de dor sai de mim quando bato na estante, mas meus


pulmões paralisam um segundo depois, quando algo frio, afiado e familiar
demais pica a lateral do meu queixo.

— Balance a cabeça de novo, e isso vai direto para a porra da sua


bochecha, — diz ele.
Meu corpo fica rígido. Eu engulo em seco, minha mente cambaleando
enquanto tento pensar em algo para dizer.

Achei que já tivesse visto Zachary com raiva antes, mas a raiva
queimando em seus olhos não tinha nada a ver com isso.

A faca desliza pela frente da minha garganta, pela frente do meu vestido.
Eu aperto meus olhos fechados quando sua mão sobe por baixo do meu
vestido.

— Olhe para mim, Malone.

Meus olhos tremulam enquanto eu relutantemente os forço a abrir. A


ponta da faca raspa a parte interna da minha coxa enquanto ele levanta a
mão... e para cima... e para cima. Em seguida, ele está tocando a parte mais
sensível de mim, um fôlego longe de me cortar.

Em pânico absoluto, olho para a cortina que separa esta sala da próxima.
Se eu gritasse, eles...?

— Eu sei o que você está pensando, — diz Zachary. — Mas eu estou no


comando, não eles. Se eu disser que você vai embora, eles concordarão.

Minha pele tenta escapar do meu corpo enquanto eu lentamente puxo


meu olhar de volta para Zachary. Olhos frios e mortos me observam por um
segundo.

— Por quê? — Murmuro, incapaz de parar as lágrimas brotando em meus


olhos. — Por que você está fazendo isso?

— Porque você e aquele maldito padre nos consideram tolos, — sussurra


Zachary. A faca pica minha pele, mas não rompe a superfície.

Não precisa, eu sei que Zachary não hesitaria em me cortar. Eu posso ver
em seus olhos.

— Eu não entendo, — eu digo.

Eu vi o que Zachary fez ontem à noite. Ele deve ser bissexual até certo
ponto para ter feito o que fez na noite passada. Então, por que o
relacionamento de meu pai e Gabriel é tão difícil para ele?
Eu procuro seu rosto, tentando encontrar significado em suas palavras.

— Você não pode me culpar pelo que meu pai fez. Foi sua escolha. Eu não
tive nada a ver com isso.

Os olhos de Zachary se estreitam em fendas.

— Naquela época, talvez. Mas agora? Você espera que eu acredite que
tudo isso é uma coincidência? Você está chegando aqui um pouco antes de
estarmos prontos para atacar?

Eu franzo a testa com força para ele.

— O que isso tem a ver com...?

Ele se inclina para mim, rosnando.

— Eu sei quem você é. Nada do que você diga vai mudar minha mente,
garotinha.

Quem eu sou? Ele sempre soube...

— Se você não estiver naquele ônibus quando ele partir, vou procurá-la
e vou fazer você sangrar.

Ele sorri.

Coloca a mão na minha boca.

E arrasta a ponta da lâmina pela parte interna da minha coxa enquanto


eu gemo em pânico repentino.

— Só que desta vez usarei minha faca.


Mal tenho força suficiente nas pernas para me arrastar escada acima,
mas de alguma forma consigo chegar ao quarto andar do Saint Amos. Ainda é
cedo, o sol ainda nem nasceu, mas já ouço o som distante de portas se abrindo.

Saint Amós está voltando à vida.

Mas estou morrendo.

Não tem nada a ver com o corte raso na minha coxa. Foi o medo que veio
depois. Esvaziou meu espírito a ponto de me perguntar se viverei para ver a
luz do sol novamente.

Eu poderia ter ido para o meu quarto. Subir na cama. E adormecer...


possivelmente para sempre. Mas, em vez disso, vim aqui. Voltei para Gabriel.

Eu sei que ele vai me aceitar de volta porque é isso que ele faz. É seu
trabalho perdoar as pessoas.

Às vezes, ele até faz isso em nome de Deus.

Talvez eu deva confessar. Servir penitência. Talvez então minha vida não
seja mais tão fodida.

Faz sentido. Foi tudo culpa minha. Eu fui lá. Eu dormi com eles. O que
eu esperava? Que eu acordaria para o café da manhã na cama?

Não, eu não esperava isso. Eu tive esperança.

Mas Zachary me fez perceber algo que eu deveria ter percebido há muito
tempo.
Os homens lá embaixo naquela biblioteca? Eles são mentalmente
instáveis. Eu também estaria se tivesse sofrido como eles. Eu não os culpo por
isso.

Mas eles precisam de ajuda.

Eu paro do lado de fora da porta de Gabriel, levanto o punho e bato na


madeira. Então eu me encosto na parede ao lado dela enquanto o mundo dá
uma lenta queda.

Estou em choque? Se Zachary tivesse empurrado a faca menos de um


centímetro para cima, ele teria...

— Trinity, o que você...? — Gabriel interrompe com um som zangado. —


Quem fez isto para você?

Oh.

Certo.

Os hematomas no meu rosto.

As manchas de esperma no meu vestido.

O sangue escorrendo pela minha perna.

Ele está vestindo calça de moletom e uma camiseta. Óculos descansando


no topo de sua cabeça. Ele se parece com meu pai às vezes nas manhãs de
sábado, quando ele dormia e descia as escadas às dez da manhã para sua
primeira xícara de café.

Gabriel e meu pai tinham muito em comum, pensando bem.

Eu me endireito, me abraço. Olho para Gabriel.

— Há algo…

Ele estende a mão. Quer que eu entre. Eu olho para além dele, para a
pequena antecâmara mal iluminada. Depois disso, para seu quarto.

Sem fogo esta manhã.

Uma mala feita.

Pronto para partir.


Mas eu pensei que ele fosse ficar? É sobre isso que todo o plano da
Irmandade se articula.

— Por favor, criança. Entre. Eu vou fazer para você...

— Há algo que eu preciso mostrar a você, — eu digo.

O olhar de Gabriel procura meu rosto.

— O que é? — Sua voz é baixa.

Eu engulo em seco e gostaria de poder desviar o olhar. Mas seus olhos


castanhos têm os meus presos, seu rosto em branco.

— Seu…

Sua voz é cortada quando ele diz

— Fale, criança.

— Está na torre do sino, padre.


Meu coração está batendo forte como um bongô. O padre Gabriel estende
um grande molho de chaves que tirou de uma gaveta em seu apartamento e
me olha por cima do ombro.

Ele não diz nada. Ele apenas franze a testa e coloca a chave na fechadura.
Mas quando ele gira a chave, nada acontece.

Porque já estava desbloqueado.

Ele abre a porta. Uma barra de luz pinta a parede vazia do lado de dentro.
Gabriel entra, se vira, levanta as mãos.

— O que você quer me mostrar? — ele pergunta.

Corro para a pequena sala e bato as mãos na parede nua.

— Foi bem aqui. Imagens, fotos, artigos. — Eu me viro e apunhalo um


dedo em seu peito. — Sobre você. Tudo. Tudo leva de volta para você!

Ele agarra meu pulso e torce minha mão. Eu grito de dor, meu corpo se
movendo para o lado por instinto.

Assim que grito, Gabriel solta minha mão e dá um passo apressado para
trás, a mesa de metal chacoalhando quando ele volta para ela. Sua expressão
feroz se dissolve em choque.

— Eu não queria te machucar.

Eu me afasto dele, minhas costas batendo na parede.

Isso não pode estar acontecendo. Onde diabos foi tudo isso?
Eles me matariam se soubessem.

Merda... A Irmandade descobriu sobre esta sala e derrubou tudo?

— Por que você me trouxe aqui? — Gabriel está com a mão no coração,
mas não a arranha como se estivesse tendo um ataque cardíaco ou algo assim.
Apenas... plano. Como se ele estivesse contando seus próprios batimentos
cardíacos.

— Ele se foi, — murmuro. — Eles pegaram.

— Quem? O que? — Ele olha em volta. — Trinity, fale comigo. Diga-me o


que aconteceu. — Ele se aproxima, estendendo a mão para mim, seus olhos
correndo para minhas pernas, para o sangue. — Diga-me quem fez isso com
você.

Mas eu não consigo. Quer dizer... o que diabos eu devo dizer? Sim, então,
há um bando de caras, eles dizem que você é um gênio do crime. E eles têm
evidências, que estavam todas aqui, mas agora sumiram.

Eu soaria como uma lunática.

— Você pode confiar em mim, Trinity.

Sua mão se conecta ao meu ombro. Depois o outro. Ele aperta meus
músculos, abaixando-se para que nossos olhos fiquem no mesmo nível.

— Você pode me dizer qualquer coisa.

— Que outros pecados você cometeu? — Eu pergunto baixinho. — Além


de foder meu pai, obviamente.

O rosto de Gabriel endurece.

— Isso é entre Deus e eu, criança.

— Você disse que eu posso confiar em você, mas não vou. Não até que
você me diga tudo.

Ele me solta, dá um passo para trás. Seus olhos se estreitam enquanto ele
me estuda. Então ele entra na sala novamente, virando-se enquanto cruza os
braços sobre o peito.
— Não sei por que pensei que as coisas seriam diferentes, — diz ele, tão
silenciosamente que me aproximo por instinto de ouvi-lo melhor.

— Que coisas? Você está falando sobre você e meu pai?

— Achei que pudesse... explicar.

— Ele traiu minha mãe com você e você espera que eu confie em você?

Gabriel passa a mão sobre a mesa de metal empoeirada, e meu olhar


segue as trilhas que ele deixa para trás até as marcas que minha bunda fez
quando Apollo me colocou na beirada.

Gabriel delineia aquela mancha em forma de coração na poeira como se


pudesse ver o passado.

Uma mão invisível agarra minha garganta, e não tão gentilmente como
Zach ou Reuben já fizeram.

— Querida criança... — ele murmura. — Há tanta coisa que você ainda


não sabe. Muito eu tenho que te contar.

E então ele abre uma das gavetas.

O guincho que isso faz arrasta unhas ásperas pelas minhas costas.

Diga-me? que diabos isso significa? Isso é... é sobre a Irmandade?

Não. Ele nunca me diria se ele era culpado. Ninguém em sã consciência


o faria.

— Então me diga, — eu digo.

Eu me aproximo.

Gabriel enfia a mão na gaveta e sai segurando um envelope. Ele me olha


com o canto do olho, ainda de costas e franze a testa.

— É isso que você veio aqui para me mostrar?

Ele levanta o envelope.

TRIN
Há um coração sobre os — i’s —.

Lágrimas embaçam minha visão.

De repente, não quero que Gabriel veja nada. Eu quero que ele continue
falando. Mas quando me inclino para pegar o envelope, ele o move para fora
de alcance.

Seus olhos castanhos disparam sobre meu rosto, caçando.

— O que é? — ele pergunta.

Não tenho como saber, mas no segundo que ele faz essa pergunta, é como
se eu pudesse ver através da porra do envelope.

— Uma foto. — Eu lambo meus lábios. — É uma foto sua.

Ele inclina um pouco a cabeça. Há até uma sugestão de sorriso em sua


boca. — De mim? — Esse sorriso se estende. — Espero que eles tenham meu
lado bom.

Eu rio, mas parece que estou a segundos de perder minha mente.

Ou talvez já tenha.

Gabriel levanta um pouco o envelope.

— Posso?

Minha cabeça balança, mas é como se outra pessoa estivesse fazendo isso
por mim. Meus olhos se movem, mas não porque eu ordenei.

Eu observo, congelada no lugar, enquanto Gabriel abre o envelope.

Tira a foto.

O sorriso tímido que ele estava usando derrete. Por um segundo, seu
rosto poderia pertencer a um cadáver.

Em seguida, seu olhar pisca até o meu.

— Tão jovem, — ele murmura.


Ele levanta o queixo, olhando para a foto por mais um segundo. Quando
seus olhos encontram os meus novamente, meu corpo fica gelado.

— Quem deixou isso aqui? — ele pergunta.

Não consigo me mover, muito menos falar.

Gabriel se aproxima, olhando entre mim e a foto, os olhos se estreitando


lentamente. Eu sufoco um suspiro quando ele agarra meu queixo, inclinando
minha cabeça para trás para que ele possa me olhar no ângulo certo.

Seus olhos se arregalam um pouco.

— Tanto da sua mãe em você, não é?

Meu estômago embrulha.

— E pensar, — diz Gabriel, sua boca se abrindo em um sorriso afetuoso,


— ela jurou a Keith e a mim que nunca teria filhos.

Ele vira a foto para mim, atraindo meus olhos.

Fila do meio, dois da esquerda. Um jovem Gabriel Blake, mãos atrás das
costas, expressão severa no rosto.

— Mas então ela engravidou. Um menino, você sabia disso?

Linha do meio, quatro da esquerda. Um jovem Keith Malone. Solene,


sombrio. Mas todas as crianças naquela foto também.

Meus olhos voam de volta para Gabriel.

— Mas ela não ficou com aquele bebê. Ou o próximo. Mas ela manteve
você, Trinity. — Os olhos de Gabriel voltam para a foto e meu olhar segue.

— Ela manteve você, porque você era especial.

Linha do meio.

Três da esquerda.

Alguns centímetros mais baixa que o menino à sua esquerda e o menino


à sua direita.

Uma jovem e bonita Monica Stevens.


Minha mãe.

Tão pequena olhando ali entre Gabriel e Keith.

— Você sabe por que você era especial, Trinity?

Uma lágrima se solta quando meus olhos mudam para que eu possa olhar
para Gabriel. Mais uma vez, a premonição me enche de um pavor frio e gélido.

Não diga isso.

Não diga isso.

NÃO DIGA ISSO!

Mas ele faz.

— Porque você é minha, — ele sussurra. Seu aperto em minha mandíbula


fica mais forte. — E eu não a deixaria.

Continua…

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