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MATERIAL DO PROFESSOR

Estudo das Virtudes

Material de Introdução do Programa

Desenvolvido por Katarine Jordão

Ilustrações por Lukas Jordão


Copyright © 2018 by Katarine Jordão.
Todos os direitos desta edição são reservados a
Katarine Jordão

Ilustrações: Lukas Jordão


Traduções: Katarine Jordão (exceto da história Senhora Holle, cuja versão foi gentilmente cedida pelo
tradutor William Campos da Cruz).
Agradecimentos a Valeriana Melo pelas observações enviadas para correção do texto.

A autorização para impressão deste material é concedida ao comprador para uso pessoal.
Para uso em grupos ou escolas, por favor entre em contato pelo email contato@educarcomsapiencia.com
Para conhecer outros materiais e artigos da autora, confira o site http://educarcomsapiencia.com
Sumário
Introdução ......................................................................................................................... 4

Orientações ao Professor .................................................................................................... 5

As Dezesseis Virtudes ......................................................................................................... 9

Lição 1 – Rei Alfredo e os bolinhos


História ................................................................................................................................................... 10

Plano de aula .......................................................................................................................................... 13

Lição 2 – Cinco ervilhas numa vagem


História ................................................................................................................................................... 16

Plano de aula .......................................................................................................................................... 21

Lição 3 – Senhora Holle


História ................................................................................................................................................... 24

Plano de aula .......................................................................................................................................... 28

Lição 4 – Os seis cisnes


História ................................................................................................................................................... 32

Plano de aula .......................................................................................................................................... 38


4

Introdução
Olá! Este guia que você tem em mãos é a edição ilustrada do Estudo das Virtudes, preparada
pensando nas famílias que desejam trabalhar a o caráter de seus filhos por meio do cultivo das
virtudes encontradas nas histórias clássicas.

O Estudo das Virtudes é a parte introdutória do Programa de Formação de Leitores “Valores e


Virtudes”. Os demais materiais são compostos por Guias de Leitura e Estudo das Virtudes baseados
em livros clássicos como “As aventuras de Pinóquio”, “O vento nos salgueiros”, “Heidi” e “O jovem
fazendeiro”.

Neste guia estão os quatro planos de aula necessários para a realização dessa primeira etapa do
programa, a apresentação das virtudes. Na primeira edição online nós fizemos as quatro lições em
uma semana, mas várias famílias sugeriram que o programa seja aplicado em quatro semanas –
uma para cada lição – de forma que seja possível desenvolver com mais tempo as atividades
sugeridas.

Sugiro que antes de começar a aplicação você assista aos vídeos disponíveis no módulo “Estudo
das Virtudes” que esclarecem melhor as questões da leitura em voz alta, do significado das virtudes
e também do trabalho com idades diferentes.

Espero que este material seja de grande proveito para vocês, e que sua família viva ótimos
momentos ao desfrutar juntos das histórias e conversas sobre as virtudes.

Qualquer dúvida, por favor escreva para o email contato@educarcomsapiencia.com.

Com carinho,

Katarine Jordão
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Orientações ao professor:
O Estudo das Virtudes é composto por quatro histórias e para cada uma há um plano de aula com
as sugestões para aplicação.

Cada aula é dividida em quatro momentos:

Antecipação da leitura: trabalho com o vocabulário e tema da lição, com o objetivo de despertar o
interesse pela história.

Hora da história: Leitura em voz alta do capítulo da semana, feita pelos pais.

Vícios e virtudes na história: trabalho no qual as crianças e adolescentes aprendem a identificar


as virtudes e vícios encontrados nas atitudes das personagens.

Na história da minha vida: perguntas para reflexão sobre as situações em que eles mesmos
colocaram aquelas virtudes ou vícios em prática.

Cada lição apresenta ainda uma seção chama “Aprofundando o conhecimento”, com ideias para
aqueles que desejarem utilizar os temas da história para trabalhar conhecimentos gerais com as
crianças.

SUGESTÃO DE DINÂMICA DAS AULAS:

PREPARAR:

 Ler previamente a história que será lida para as crianças e também o plano de ensino da
lição.
 Identificar, na história, os acontecimentos selecionados para o Estudo das Virtudes e
palavras do Vocabulário, verificando outras palavras e termos cujo sentido seja
desconhecido das crianças e que seria interessante explicar.
 Providenciar material para que as crianças façam o registro das palavras e virtudes
aprendidas, e anotação quanto às reflexões que eles fizeram – em forma escrita ou por meio
de desenhos (você pode separar um caderno especial só para esse momento ou utilizar o
Material do Aluno, disponibilizado junto com este material).
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NA AULA:

ANTECIPAÇÃO DA HISTÓRIA:

O trabalho com o vocabulário já é uma boa antecipação para os capítulos que virão, mas você
também pode trabalhar com alguns tópicos indicados, como atividades para localizar os países da
história no mapa, ou pesquisar um pouco sobre as personagens que aparecerão.

Vocabulário:

Ensinar o significado das palavras selecionadas e aproveitar para ajudá-las a tentar imaginar em
que momentos da história cada palavra aparecerá (essa já é uma forma de trabalhar a antecipação
da história).

Para esse momento é importante sempre lembrar às crianças que uma mesma palavra pode ter
diferentes significados, conforme o contexto. Algumas palavras do Vocabulário serão
apresentadas com dois ou mais significados, sendo necessário ensinar as crianças a verificar qual
das definições oferecidas se refere ao significado que a palavra apresenta no contexto da história.
Observe:

Explorar (verbo): 1. Tratar de descobrir, investigar; percorrer (estudando ou procurando).


2. Abusar, tirar proveito de alguém.

No exemplo acima, a palavra explorar é usada na história por uma das crianças que decide explorar
os arredores e a casa. Neste caso, os alunos deverão perceber, durante a leitura, que se trata da
primeira definição apresentada no Vocabulário.

Você pode usar o momento da antecipação da história para perguntar quem sabe dizer o que estas
palavras significam e então oferecer a definição, de forma que, ao ouvirem a palavra ou expressão,
durante a leitura da história, as crianças relacionem com o que acabaram de aprender. Também é
possível fazer cartões para ir acrescentando ao vocabulário das crianças, colocando-os em um
painel para revisar nas próximas lições e ver quem se lembra das palavras já aprendidas.

Caso prefira, você pode explicar o significado durante a leitura da história, apenas “traduzindo” a
palavra, assim que ela for lida, sem interromper o ritmo da narrativa. Como no exemplo abaixo, cuja
explicação foi inserida pelo professor de forma natural, sem precisar interromper a leitura:
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“Num dia muito chuvoso, a neblina cobria a montanha e continuamente se juntava, transformava-
se em gotas de chuva e desabava em cântaros [cântaros são potes, ou seja, chovia muito] sobre
os telhados da velha casa...”

HORA DA HISTÓRIA:

Leitura, em voz alta, da história selecionada. Caso as crianças já estejam em idade de leitura fluente,
eles também podem reler depois a história que se encontra no Material do Aluno.

Uma questão importante mencionada no Guia de Apresentação do Programa, é que a história


sempre fala por si mesma, visto que a narrativa tem esse poder de alcançar o coração por meio da
imaginação. Ou seja, o estudo das virtudes surge da própria história, e não o contrário. Por isso,
cada lição tem início com a narrativa de forma que possa ser lida pelo professor – tanto em seu
preparo como no momento da leitura em voz alta – e devidamente apreciada. Só depois, na
sequência do plano de aula, é que será apresentado o estudo das virtudes e vícios presentes no
texto.

VIRTUDES E VÍCIOS NA HISTÓRIA:

Conversar sobre o que as crianças gostaram ou não na história e o que mais lhes chamou a atenção
nas atitudes das personagens. Deixar que elas digam quais virtudes identificaram em cada
momento.

Caso elas não tenham encontrado, mencionar os trechos da história e as virtudes/ vícios indicados
no material da lição – ou aqueles que você mesmo perceber durante a leitura.

NA HISTÓRIA DA MINHA VIDA:

Utilize as questões para reflexão constantes no Plano de Aula deste Guia, ou outras questões que
considere pertinentes. Deixe que as crianças comentem, caso desejem, as situações em que
tiveram atitudes parecidas com aquelas da história lida. Solicite que as crianças anotem o que elas
pensaram sobre suas próprias atitudes durante a história lida.

No material do aluno há espaço para o registro das palavras e virtudes aprendidas em cada lição,
e também para anotações pessoais quanto à aplicação das virtudes em sua própria vida. É
importante ressaltar que esta é uma atividade muito importante, pois muitas vezes eles conversam
sobre o assunto pensando sobre a vida das outras pessoas, e o exercício da escrita tanto conduz à
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reflexão sobre as próprias atitudes, como possibilita que os pais ou professores verifiquem até que
ponto eles realmente compreenderam o significado das virtudes. No caso das crianças que ainda
não leem, a sugestão é pedir que eles digam com suas palavras para que você mesmo anote.

Este registro não é algo obrigatório, visto que a reflexão pode ser feita apenas oralmente, mas é
interessante incentivá-las a registrar, não apenas para o desenvolvimento da escrita em si, mas
também como um treino da habilidade de reflexão pessoal. Muitas vezes o exercício de escrever
sobras a própria vida permite que a pessoa compreenda suas motivações e atitudes com maior
clareza do que apenas pensando ou falando sobre elas. Além disso, esse registro permite que mais
tarde eles voltem e revejam suas próprias reflexões, observando seu amadurecimento nessas
questões com o passar do tempo.

APROFUNDANDO O CONHECIMENTO:

Este material foi desenvolvido a partir da perspectiva de que toda história, acontecimento ou
experiência pode ser usada para transmitir às crianças e adolescentes algum conhecimento sobre
tópicos relacionados, assim como incentivar a pesquisa mais ampla de cada conteúdo apresentado.

Por isso, no final de cada lição você encontrará algumas sugestões para aproveitar os temas que
surgem da história para aprofundar o conhecimento da criança, seja na área de Ciências Naturais,
Artes, Geografia, ou outros que se mostrem interessantes.

Naturalmente, você não precisa se prender às sugestões de temas e atividades apresentadas aqui,
porque seu próprio conhecimento e experiência permitirão que você tenha novas ideias para
trabalhar e adaptar os temas conforme a idade e nível de conhecimento prévio de cada criança.

Um grande abraço,

Katarine Jordão
08 de agosto de 2018
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As Dezesseis Virtudes
1. Prudência usar a sabedoria ao tomar decisões, considerando as
consequências de cada escolha.
suportar as dificuldades e problemas, mantendo-se firme até o
2. Fortaleza fim.
dar às pessoas o que elas merecem, com base nos princípios, não
3. Justiça nas preferências.
refrear seus próprios desejos e impulsos, resistindo às propostas
4. Autocontrole inadequadas.

5. Gratidão reconhecer as dádivas recebidas e expressar contentamento.


responder pelos próprios atos, assumindo as devidas
6. Responsabilidade consequências.
tratar as pessoas com a dignidade que lhes é devida, tanto em
7. Respeito palavras quanto em ações.

8. Bondade demonstrar atenção, cuidado e compaixão para com as pessoas.


ter uma visão correta sobre si mesmo, sem se considerar melhor
9. Humildade do que os outros.
abrir mão dos sentimentos de raiva e tristeza com relação a
10. Perdão alguém que lhe fez mal.
seguir sua consciência, sendo honesto e verdadeiro consigo
11. Integridade mesmo e com os outros.
empenhar-se com todas as forças para alcançar os resultados
12. Trabalho esperados.

13. Criatividade criar novos caminhos e descobrir soluções para os problemas.


fazer com zelo, dedicação e cuidado tudo o que estiver sob sua
14. Diligência responsabilidade.
trabalhar pelo bem de outro, oferecendo ajuda, ainda que não
15. Serviço tenha sido solicitada.
agir conforme as orientações dadas pelos pais ou demais
16. Obediência autoridades.
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Rei Alfredo e os bolos


Adaptado de James Baldwin

Muitos anos atrás, viveu na Inglaterra um rei sábio e bom cujo nome era Alfredo. Nenhum outro
homem havia feito tanto por seu país quanto aquele rei. Seus feitos foram tão grandes que até os
dias de hoje, ao redor do mundo, as pessoas falam sobre ele como Alfredo, o Grande.

Naqueles dias a vida de um rei não era fácil. Havia guerra quase todo o tempo e ninguém sabia
liderar um exército nas batalhas tão bem quanto o rei Alfredo. Por isso, entre reinar e lutar, ele
estava sempre muito ocupado.

Os dinamarqueses, um povo feroz e rude, vieram do outro lado do mar e estavam lutando contra os
ingleses. Havia tantos deles, e eles eram tão audaciosos e fortes, que por um longo tempo venceram
todas as batalhas. Se continuassem assim, em breve eles se tornariam os donos do país inteiro.

Um dia, depois de uma grande batalha, o exército inglês estava destruído e disperso. Cada homem
havia tentado salvar a si mesmo da melhor forma que podia. Perseguido pelos inimigos, Rei Alfredo
vestiu-se como se fosse um camponês e fugiu sozinho, correndo através dos bosques e pântanos.

O dia já chegava ao fim quando o rei chegou à cabana de um lenhador. Ele estava faminto e muito
cansado, e, batendo à porta, suplicou à esposa do lenhador que lhe desse algo para comer e um
lugar onde pudesse dormir na cabana.

A mulher estava assando alguns bolos sobre


a lareira e olhou com compaixão para aquele
pobre e esfarrapado homem que parecia tão
faminto. Ela nem imaginava que ele era o rei.

- Sim – disse ela –, eu lhe darei algo para


comer, mas só se você cuidar desses bolos
para mim. Eu preciso sair para tirar o leite da
vaca, e você deve cuidar para que eles não
se queimem enquanto eu estiver fora.

Rei Alfredo estava muito disposto a cuidar


dos bolos, mas ele tinha tantas coisas importantes com que se preocupar... Como ele poderia reunir
seu exército novamente? E como ele poderia expulsar os ferozes dinamarqueses de sua terra?
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Enquanto pensava nessas coisas, Rei Alfredo esqueceu sua fome, esqueceu os bolinhos, e
esqueceu que estava na cabana do lenhador. Sua mente encheu-se de tristeza e ele se sentiu
desanimado, pensando que jamais conseguiria derrotar aqueles inimigos.

Neste momento a mulher voltou. Ela parou na porta, espantada com o que viu: os bolos estavam
fumegando sobre a lareira, alguns já tão torrados que pareciam carvão. Ela ficou brava que começou
a ralhar com aquele homem que ela não sabia ser o rei!

- Mas que sujeito preguiçoso! – gritou a mulher. - Olha só o que você fez! Quer que lhe deem de
comer, mas não quer trabalhar para isso?

O rei assustou-se ao perceber o que estava acontecendo e, levantou-se correndo para tirar do forno
os bolos que ainda não estavam queimados.

Alguém poderia achar estranho que ele, sendo rei, fosse repreendido desta forma; mas o Rei Alfredo
não se importou com as palavras iradas da mulher, porque sabia que havia falhado
na tarefa que ela lhe deu.

E esse acontecimento foi tão marcante para o monarca, que no mesmo instante ele
pensou: É isso mesmo! Não se pode ser negligente quando alguém lhe confia uma
tarefa. E cuidar do meu reino é minha tarefa. Não desistirei até conseguir!

Eu não sei se ele chegou a comer naquela noite, ou se ele foi dormir sem seu jantar.
Mas sei que se passaram apenas alguns dias até que ele reuniu seu exército
novamente e venceu os dinamarqueses em uma grande batalha.

Tradução adaptada do conto King Alfred and the cakes, de James Baldwin, em Fifty Famous People
– The Project Gutenberg.
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Lição 1
Rei Alfredo e os bolos, de James Baldwin

Criatividade
Fortaleza
Humildade
Responsabilidade

Monarca: rei
Audaciosos: que possuem audácia; corajosos, atrevidos, sem medo.
Pântanos: área de vegetação com solo que permanece grande parte do tempo
inundado.
Iradas: ríspidas, grosseiras.
Ralhar: dar bronca, chamar a atenção por algo feito incorretamente.
Negligente: aquele que faz as coisas sem atenção nem cuidado; que age com desleixo.

O que é Inglaterra? O que é Dinamarca?

A Inglaterra é um país que fica na Europa. Houve um tempo em que muitos países vizinhos queriam
tomar para si as terras da Inglaterra e para isso faziam muitas guerras. Os reis precisavam lutar
bravamente para defender seus territórios. Caso contrário poderiam perder grande parte de suas
terras e até mesmo seu país inteiro.

Vocabulário: O que faz um monarca? O que é um camponês? O que faz um lenhador?


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Encontre os vícios ou virtudes nos seguintes acontecimentos:

1. Quando o Rei Alfredo precisou fugir dos inimigos que o perseguiam, ele teve a ideia de se vestir
como um camponês para não ser reconhecido. Qual o nome da virtude que leva a pessoa a ter
ideias para resolver problemas ou criar coisas novas? (Apresentar a CRIATIVIDADE). E qual o
vício oposto a esta virtude? (Comentar sobre o vício da PASSIVIDADE MENTAL/ FALTA DE
IMAGINAÇÃO).

2. Quando começou a pensar nos problemas que tinha pela frente, o Rei Alfredo se sentiu
desanimado e pensou que era o fim. Quando uma pessoa desiste de lutar nós dizemos que ela está
se sentindo fraca, porque seu ânimo se foi. Qual a virtude da pessoa que não desiste, mesmo
quando tudo está muito difícil? (Apresentar a FORTALEZA) E qual o vício oposto a esta virtude?
(Comentar sobre o vício da FRAQUEZA/ DESÂNIMO).

3. Quando a mulher brigou com o rei por ele ter deixado os bolos queimarem, ele não ficou bravo,
mas foi correndo tentar consertar o problema. Qual o nome da virtude de alguém que reconhece
seus erros prontamente, sem sentir raiva quando lhe chamam a atenção? (Apresentar a
HUMILDADE) E qual o vício oposto a esta virtude? (Comentar sobre o vício do ORGULHO).

4. Ao refletir sobre o que tinha acontecido, o rei Alfredo pensou na situação da guerra e decidiu que
não poderia deixar que seu reino fosse derrotado porque essa era a sua tarefa como rei. Qual o
nome da virtude de alguém que, quando assume uma tarefa, faz de tudo para cumpri-la e cuidar
bem de tudo o que está aos seus cuidados? (Apresentar a RESPONSABILIDADE) E qual o vício
oposto a esta virtude? (Comentar sobre o vício da IRRESPONSABILIDADE/ VITIMISMO).

 Você já usou sua criatividade tendo uma ideia muito boa para resolver um problema?
 Você já se sentiu como o Rei Alfredo, fraco e com vontade de desistir de alguma coisa
porque parecia muito difícil?
 Quando alguém mostra que você está errado, você assume prontamente o seu erro, de
forma humilde, assim como o Rei Alfredo?
 Quando alguém lhe dá uma tarefa, você costuma agir com responsabilidade, decidindo fazer
tudo o que for possível para que seja bem feito? Que situações exigem que você tenha a
virtude da responsabilidade?
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Geografia – Europa: localização, no mapa, dos países Inglaterra e Dinamarca.


Ciências Naturais: Formação dos pântanos
História: a civilização viking
Biografia: Alfredo de Wessex (849 – 899)

Desenho: ilustrar a história de acordo com sua imaginação.


Produção de textos: escrever um texto narrativo, imaginando como foi que o rei reuniu
novamente seu exército e venceu a guerra.
Livro de Biografias: montar um perfil biográfico com imagem de Alfredo de Wessex e
informações sobre sua vida e principais conquistas.
Maquete: construir um pântano com argila ou massinha.

Para as crianças menores de quatro anos, uma possibilidade é usar os elementos da história para
trabalhar em seu nível. Por exemplo, preparar várias figuras de bolos para trabalhar a noção de
quantidade (Quantos bolos queimaram? E quantos ele conseguiu salvar?) ou percepção visual
(Quais bolos estão queimados? Qual bolo é diferente?)

As crianças a partir de quatro ou cinco anos já podem trabalhar encontrando os dois países em
mapas simples. É possível recortar os dois países e deixar que tentem reconhecer, observando o
contorno, onde estes países estão no mapa da Europa.

As características dos pântanos também podem ser um tema interessante para estudo,
especialmente por sua característica mais visual.

O estudo da biografia de Alfredo de Wessex é uma ótima opção de estudo, que pode ser associada
à história dos Vikings e suas batalhas contra os ingleses.

Este rei é conhecido por seu grande investimento na educação do seu povo, incluindo um programa
de tradução, para o inglês, dos principais livros que ele julgava ser necessário um homem ler. Ele
mesmo participou desta empreitada traduzindo alguns dos chamados “livros de sabedoria”.
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Cinco ervilhas numa vagem


Conto de Hans Christian Andersen

Era uma vez cinco ervilhas em uma vagem. Elas eram verdes, a vagem estava verde e por isso elas
pensavam que o mundo inteiro também era verde, o que era uma conclusão muito natural. A vagem
cresceu e as ervilhas cresceram; acomodaram-se em seus lugares sentadas uma ao lado da outra.
O sol brilhou e aqueceu a vagem, e a chuva tornou-a clara e transparente. Tudo era suave e
agradável à luz do dia, e escuro à noite, como geralmente acontece. E as ervilhas, assim
assentadas, cresciam cada vez mais; e se tornavam a cada dia mais pensativas, porque
acreditavam que deveriam existir algo mais que elas pudessem fazer.

- Nós ficaremos aqui para sempre? – perguntou uma delas – Será que não endureceremos por
passar tanto tempo aqui sentadas? Eu penso que deve haver algo mais lá fora, estou certa que há!

Conforme as semanas passavam, as ervilhas se tornaram amarelas, e a vagem se tornou amarela


também.

- O mundo inteiro está ficando amarelo, eu suponho. – diziam elas. E talvez estivessem certas.

Até que um dia, de repente, elas sentiram um puxão na casca! Ela fora arrancada e presa em mãos
humanas, e então escorregou para o bolso de uma jaqueta na companhia de outras vagens cheias
de ervilha.

- Agora, em breve nós seremos abertas. – Disse uma delas. E era justamente o que todas elas
almejavam.

- Eu gostaria de saber qual de nós viajará mais longe. – disse a menor dentre as cinco – Nós
descobriremos em breve.

- O que tiver que ser, será – disse a ervilha maior.

Crack! – Fez a casca quando explodiu, e as cinco ervilhas rolaram sob a brilhante luz do sol. Lá,
foram parar nas mãos de uma criança. Um pequeno menino segurou-as com força e disse que elas
seriam ótimas para o seu atirador de ervilhas. E no mesmo instante, colocou uma delas lá dentro e
disparou.
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- Estou voando para o vasto mundo! – Disse ela. – Peguem-me se for capaz! – E no mesmo
momento ela se foi.

- Eu – disse a segunda – pretendo voar direto para o sol, que é uma grande vagem como pode ser
visto, e se encaixará perfeitamente ao meu tamanho. – E pelos ares se foi.

- Nós, dormiremos onde quer que nos encontrarmos – disseram as outras duas – e ainda
continuaremos rolando adiante. – E elas realmente caíram no chão, e até rolaram um pouco antes
de serem colocadas no atirador de ervilhas, mas foram parar lá do mesmo jeito. – Nós iremos mais
longe do que todas as outras – elas disseram.

- O que tiver de ser, será – exclamou a última quando foi disparada pelo atirador de ervilhas. E,
enquanto falava, ela voou e foi parar em uma velha tábua debaixo da janela de um sótão, onde caiu
em uma pequena fenda, quase cheia de musgo e terra macia. O musgo se fechou ao redor dela, e
ali se deitou. Esquecida, é verdade; mas não esquecida por Deus.

- O que tiver de ser, será – disse ela para si mesma.

Naquele pequeno sótão vivia uma pobre mulher que trabalhava fora limpando fogões, cortando
madeira em pequenos pedaços e realizando outros serviços pesados. Ela era forte e trabalhadora,
mas, ainda assim, continuava sempre pobre. Em casa, no pequeno sótão, vivia com sua única
filhinha que era muito delicada e fraca. Já há um ano a menina estava doente, e parecia oscilar
entre a vida e a morte.

- Ela vai para junto de sua irmãzinha – pensava a mulher –. Eu tive apenas essas duas crianças, e
não era algo fácil sustentar a ambas. Então o Bom Deus me ajudou em meu trabalho e tomou uma
delas para Si para que Ele mesmo cuidasse. Agora eu me alegraria em cuidar daquela que me
restou, mas creio que elas não podem ficar separadas e minha pequena doentinha em breve irá
para junto de sua irmã.

Mas a menina adoecida permanecia onde estava, quieta e pacientemente deitada durante o dia
todo, enquanto sua mãe estava fora de casa, trabalhando.

A primavera chegou, e em uma manhã, bem cedinho, a luz do sol brilhou através da janela e jogou
seus raios sobre o chão do quarto. No instante em que a mãe estava saindo para trabalhar, a menina
doente fixou seu olhar na parte mais baixa da moldura da janela.

- Mamãe! – Ela exclamou – O que seria aquela pequena coisinha verde que cresce na janela? Está
se movendo com o vento!

A mãe caminhou até a janela e abriu-a um pouco.


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- Oh! – disse ela – De fato há uma pequena


ervilha que criou raízes e está colocando
folhinhas verdes. Como ela poderia ter
vindo parar nesta fenda? Bem, temos aqui
um pequeno jardim com o qual você pode
se divertir.

Assim, a cama da menina doente foi


arrastada para perto da janela, de forma
que pudesse ver de perto a planta que
crescia, e a mãe foi para o seu trabalho.

- Mamãe, eu acho que vou melhorar –


disse, à noite, a menina doente. – O sol
iluminou aqui tão brilhantemente e
calorosamente, e a pequena ervilha
cresce tão bem! Também ficarei melhor e
poderei sair de casa para tomar sol.

- Deus conceda isso! – disse a mãe; mas


não acreditava que isso aconteceria. –
Mesmo assim, ela escorou o pequeno
galhinho que dera a sua filhinha tão agradável esperança de vida, de forma que não se quebrasse
ao vento, e amarrou um cordel no caixilho da janela até a parte superior, para que o raminho de
ervilha pudesse enrolar-se quando começasse a crescer. E ele cresceu! Na verdade quase podia
ser visto aumentando de tamanho dia após dia.

- Veja! Está vindo uma flor! – disse a velha mulher certa manhã.

Agora até mesmo ela começava a se sentir encorajada e esperançosa de que sua pequena
doentinha realmente poderia se recuperar. Ela lembrou que nos últimos dias a menina estava
falando mais alegremente, e havia até levantado da cama sozinha de manhã para observar, com
os olhos brilhando, seu pequeno jardim que continha apenas um único pezinho de ervilha. Uma
semana depois, a menina sentou-se, pela primeira vez, por uma hora inteira. Sentia-se muito feliz
diante da janela aberta ao calor do sol, enquanto lá fora a pequena planta crescia, agora com uma
florzinha rosa de ervilha completamente desabrochada. A pequena menina abaixou-se e
gentilmente beijou as delicadas folhas. Este dia foi, para ela, como um dia de grande festa!

- Nosso Pai do Céu plantou esta ervilha Ele mesmo, e a fez crescer e florescer, trazendo para você
alegria e para mim esperança, minha abençoada filhinha. – disse a alegre mãe; e sorriu para a flor,
como se fosse um anjo enviado por Deus.
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Mas, o que aconteceu às outras ervilhas? A primeira, que voou para o vasto mundo e disse “Pegue-
me se for capaz”, caiu na calha do telhado de uma casa e terminou suas viagens quando foi colhida
por um pombo. As duas ervilhas preguiçosas foram levadas para longe porque também foram
comidas por pombos, então elas ao menos tiveram alguma utilidade. Mas a quarta, que queria
alcançar o sol, caiu em um esgoto e lá ficou, mergulhada em água suja, por dias e semanas, até
que inchou, ficando enorme.

- Eu estou ficando lindamente gorda – disse a ervilha – espero chegar finalmente a explodir.
Nenhuma ervilha poderia fazer mais do que isso, eu acho. Eu sou a mais notável de todas as cinco
ervilhas da vagem.

E o esgoto confirmou sua opinião.

Mas a jovem donzela parada diante da janela aberta, com os olhos cintilantes
e bochechas rosadas e saudáveis, cruzou suas pequenas mãos sobre a flor da
ervilha e agradeceu a Deus pelo que Ele havia feito.

Enquanto isso, o esgoto dizia:

- De minha parte, ainda prefiro a minha ervilha.

Tradução: Katarine Jordão. Conto “Five peas from a pod”, de Hans Christian Andersen, disponível
no portal The Hans Christian Andersen Centre, Department for the Study of Culture, at the University
of Southern Denmark.
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Lição 2
Cinco ervilhas em uma vagem, de H.C. Andersen

Gratidão
Humildade
Trabalho
Fortaleza

Vasto: grande, amplo


Sótão: cômodo localizado junto ao telhado
Musgo: plantas com folhinhas muito pequenas, que crescem muito juntas em lugares
com sombra e umidade.
Cordel: corda fina
Calha: cano ou sulco por onde passa a água
Caixilho: moldura de madeira ou metal ao redor da janela

O que é ervilha?

E o que é uma vagem de ervilha?

Quem já viu uma ervilha brotando? E um grão de feijão?

O que aconteceria se pudéssemos saber o que acontece com os grãos e sementes enquanto eles
ainda não brotaram? E se as ervilhas falassem e pensassem como nós? Essa história vai contar o
que aconteceu com cinco ervilhas que moravam em uma mesma vagem.
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Encontre os vícios ou virtudes nos seguintes acontecimentos:

1. A mãe da menina se esforçava muito para conseguir sustentar sua pequena filha. Qual o nome
da virtude que leva a pessoa a realizar tarefas, sem preguiça, para conseguir os resultados que
espera? (Apresentar a virtude do TRABALHO) E qual o vício oposto a esta virtude? (Comentar
sobre o vício da PREGUIÇA).

2. Apesar de todas as dificuldades que já tinha passado e ainda passava, a mãe da menina
continuava lutando para poder cuidar de sua filhinha doente. Qual a virtude da pessoa que não
desiste, mesmo quando tudo está muito difícil? (Relembrar a virtude da FORTALEZA) E qual o
vício oposto a esta virtude? (Comentar sobre o vício da FRAQUEZA/ DESÂNIMO).

3. Tanto a mãe quanto a menina se sentiram muito felizes pela presença daquela pequena plantinha
que floresceu na janela. Qual o nome da virtude de alguém que reconhece as dádivas que recebe
e expressa sua alegria por isso? (Apresentar a virtude da GRATIDÃO) E qual o vício oposto a
esta virtude? (Comentar sobre o vício da INGRATIDÃO).

4. Enquanto a ervilha que floresceu vivia tranquila, sem se preocupar em ter um futuro brilhante, a
outra ervilha queria ir morar no sol e, mesmo tendo ido parar no esgoto, continuava se achando
mais importante que as demais. Qual o nome da virtude que leva alguém a ter uma visão correta de
si mesmo, sem se considerar melhor que os outros? (Relembrar a virtude da HUMILDADE) E qual
o vício oposto a esta virtude? (Comentar sobre o vício do ORGULHO).

 A mãe da menina trabalhava muito para conseguir sustentar sua filha. Você já precisou se
esforçar e trabalhar para conseguir algo que desejava ou precisava?
 Você se lembra de alguma situação difícil pela qual passou, em que você foi forte para
enfrentar o problema?
 A menina e sua mãe se sentiram gratas pela florzinha e pela esperança que ela trouxe.
Quando olha ao seu redor, quais coisas você percebe serem dádivas pelas quais você é
grato?
 Alguma vez você já se sentiu como a ervilha que quis ir para o sol, pensando que você era
mais importante do que as outras pessoas?
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Ciências Naturais: estudo da planta Pisum sativum (ervilha)

Desenho: ilustrar a história de acordo com sua imaginação; desenhar uma planta de ervilha.

Produção de textos: escrever um texto narrativo, imaginando o que aconteceu depois, com a
ervilha que floresceu e a menina.

Portfólio de plantas: montar uma pasta com imagens e informações da planta estudada: suas
características e classificação. Caso vocês tenham conseguido plantar uma ervilha, pode-se deixar
um espaço para colocar uma fotografia da plantinha quando ela estiver maior – ou até de seus
vários estágios.
Passeio: uma boa oportunidade para encontrar, nas proximidades, alguém que tenha uma horta
e que poderia explicar às crianças alguns cuidados necessários e específicos para cada tipo de
planta.

As crianças de todas as idades podem encontrar grande proveito ao realizar um projeto a partir da
planta principal desta história: a ervilha. Desde o plantio em um vasinho, para observar todas as
fases da germinação e crescimento da planta, até o estudo mais elaborado de todas as
características da planta: a vagem, a gavinha que se enrola nas estacas ou outras plantas enquanto
cresce e até mesmo a classificação científica (taxonomia), estudando o reino, classe, ordem, família,
entre outros. Caso a ervilha já seja bem conhecida, é possível estudar as características do musgo
também.

Outro tema interessante a ser explorado a partir desta história é a importância da vitamina D, que é
absorvida pelo organismo por meio da exposição ao sol. Nesta história, o sol também é uma
metáfora para a esperança – o que a torna muito sensível e bonita. Mas sabemos que a exposição
ao sol é importante para que o nosso corpo receba a quantidade adequada desta vitamina. Embora
o sol, em certos horários, seja agressivo à pele e à saúde, quando aproveitado nos momentos de
início da manhã e fim da tarde ele traz grandes benefícios. Além da produção de vitamina D, ele
também age sobre os hormônios que regulam o sono e produzem a sensação de bem-estar.

Também é uma oportunidade para planejar um “passeio de tomar sol”, que pode ser desde uma ida
ao parque para passar a manhã até uma simples caminhada ao redor de casa.
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Senhora Holle
Conto dos irmãos Grimm

Era uma vez uma viúva que tinha duas filhas. Uma delas era bonita e bem disposta; a outra, feia e
preguiçosa. Todavia, como a feia era sua filha legítima, estimava muito mais a esta, e a bonita tinha
de fazer todo o trabalho doméstico e era de fato a encarregada de todo o trabalho. Todos os dias
tinha de postar-se junto ao poço da estrada e fiar até que seus dedos estivessem feridos a ponto
de sangrar. Um dia, algumas gotas de sangue caíram no fuso, e ela mergulhou-o no poço a fim de
lavá-lo, mas, sem querer, deixou-o cair de suas mãos dentro do poço. Correu até a madrasta e
contou-lhe o que acontecera, mas esta a repreendeu severamente e, sem dó nem piedade, disse
furiosa:
– Ora, se derrubaste o fuso, tens de ir atrás dele, e não quero ver tua cara até que o traga contigo.
A pobre menina voltou ao poço e, sem saber o
que estava prestes a fazer, em desespero e
aflição, saltou no poço e desceu até o fundo.
Perdeu a consciência por algum tempo e,
quando voltou a si, estava numa campina
adorável, com o sol a brilhar-lhe sobre a
cabeça e com milhares de flores brotando a
seus pés. Levantou-se e ficou passeando por
aquele lugar encantado, até que se aproximou
de um forno cheio de pães, que gritavam
enquanto ela passava:
– Tira-nos daqui! Tira-nos daqui ou
queimaremos! Já estamos assados o
suficiente!
Ela rapidamente se voltou para o forno e tirou
todos os pães, um de cada vez.
Em seguida, um pouco adiante, a menina
aproximou-se de uma árvore carregada de
maçãs vermelhinhas e, enquanto passava, a
macieira gritou:
– Ó, por favor! Sacode-me! Sacode-me! Minhas maçãs já estão bem maduras.
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Fez o que lhe fora pedido e chacoalhou a árvore até que as maçãs caíssem como chuva e não
restasse mais nenhuma pendurada. Quando as juntou todas numa pilha, voltou a seguir seu
caminho e finalmente chegou a uma casinha, à porta da qual estava sentada uma velhinha. A velha
senhora tinha um dente tão grande que a menina teve medo e pensou em fugir, mas a velha
chamou-a:
– De que tens medo, queridinha? Fica comigo e sê minha criada. Se fizeres bem teu trabalho, serás
generosamente recompensada. Mas tens de ser muito zelosa ao fazer minha cama – deves sacudi-
la bem, até que voem as penas; então as pessoas verão neve no mundo, porque eu sou a Senhora
Holle.
Ela falou com tanta gentileza que tocou o coração da menina, e esta prontamente aceitou o serviço.
Fez o melhor que pôde para agradar à velha, e sacudia-lhe a cama com tanta vontade que as penas
voavam como flocos de neve. Levava uma vida tranquila, nunca era repreendida e vivia no bem
bom. Mas, depois de passar certo tempo com a Senhora Holle, começou a ficar triste e deprimida e
a princípio não entendia qual era o problema. Enfim se deu conta de que estava com saudades de
casa. Dirigiu-se à Senhora Holle e disse:
– Sei que vivo mil vezes melhor aqui do que jamais vivi em toda a minha vida, mas, apesar disso,
sinto muita saudade de casa, mesmo com toda a tua gentileza para comigo. Já não posso continuar
aqui. Tenho de voltar para a minha gente.
– Agrada-me teu desejo de ir para casa – disse a Senhora Holle – e, porque foste uma criada fiel,
mostrar-lhe-ei o caminho de volta.
A Senhora Holle tomou-a pela mão e levou-a até uma porta aberta e, enquanto a menina passava
por ali, choveu ouro sobre ela até que estivesse coberta da cabeça aos pés.
– Eis tua recompensa por ser tão boa criada – disse a Senhora Holle e deu-lhe também o fuso que
caíra no poço. Ela então fechou a porta, e a menina encontrou-se de novo em seu mundo, não muito
longe de casa. Quando chegou ao pátio da casa, o velho galo cantou:
– Cocoricó-cou! A menina de ouro voltou!
Em seguida, ela foi ter com sua madrasta e, como voltara coberta de ouro, foi bem-recebida em
casa.
Contou tudo que lhe acontecera e, quando ouviu como conseguira as riquezas, a mãe ficou ansiosa
para garantir a mesma sorte à filha feia e preguiçosa. Então, disse à filha que se sentasse à beira
do poço e fiasse. Para que o sangue sujasse o fuso, a menina colocou a mão num espinheiro e
espetou o dedo. Em seguida, jogou o fuso no poço e pulou atrás dele. Assim como a irmã, ela
chegou a uma linda campina e seguiu o mesmo caminho. Quando se aproximou do forno de padeiro,
os pães gritaram como da outra vez:
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– Tira-nos daqui! Tira-nos daqui ou queimaremos! Já estamos


assados o suficiente!
Mas a menina imprestável respondeu:
- Que piada! Como se eu tivesse de sujar as mãos por vossa causa!
E seguiu seu caminho. Logo chegou à macieira, que exclamava:
- Ó, por favor! Sacode-me! Sacode-me! Minhas maçãs já estão bem
maduras!
- Se fizer isso – respondeu –, cairão na minha cabeça.
E assim prosseguiu a jornada. Quando chegou à casa da Senhora Holle, não sentia o mais mínimo
medo, pois tinha sido advertida do dentão, e prontamente aceitou tornar-se a criada. No primeiro
dia, trabalhou duro e fez tudo que a ama lhe ordenara, pois pensava no ouro que receberia. No
segundo dia, no entanto, começou a esmorecer, e no terceiro nem sequer se levantou da cama de
manhã. Não arrumou a cama da Senhora Holle como tinha de fazer e nunca a sacudiu o suficiente
para fazer as penas voarem. Assim, a ama logo se aborreceu com ela e demitiu-a, para alegria
daquela criatura preguiçosa.
“A chuva de ouro deve ser agora”, pensou.
A Senhora Holle conduziu-a até a mesma porta, como fizera com a irmã, mas, quando passou por
ali, em vez de ouro, despejou-se sobre ela um tacho de piche.
– Eis a recompensa de teu trabalho – disse a Senhora Holle, fechando a porta.
A preguiçosa voltou para casa toda coberta de piche e, quando a viu de cima do muro, o velho galo
exclamou:
– Cocoricó-cou! A relaxada suja voltou!
O piche continuou grudado nela, e a moça nunca mais conseguiu livrar-se dele.

Tradução adaptada de William Campos da Cruz. Extraído de “O Fabuloso Livro Vermelho”, de


Andrew Lang. Porto Alegre: Editora Concreta, 2017. p. 367-370
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Lição 3
Senhora Holle, dos irmãos Grimm

Diligência
Justiça
Obediência
Perdão
Bondade

Fuso: ferramenta comprida e pontiaguda utilizada para torcer fios à mão.


Zelosa: caprichosa, aquela que faz tudo com grande cuidado.
Esmorecer: perder a força ou a intensidade; apagar.
Tacho: vasilha grande bem largo, onde se preparam certos alimentos.
Piche: substância também conhecida como breu ou betume. Quando derivado do
petróleo possui cor negra e aspecto viscoso e pegajoso.

O que é um fuso? Para que ele é usado?

Em muitas histórias antigas, como os contos de fada clássicos, aparece uma ferramenta
chamada fuso. Numa época em que não existiam fábricas, o algodão, a lã e outras fibras eram
torcidas até formar fios que seriam depois transformados em tecidos. O fuso é uma vareta de
madeira comprida e pontiaguda onde vai sendo enrolado o fio que é torcido à mão. Na Europa
antiga, ao invés de madeira, o fuso era feito de ferro. Sua ponta afiada se parecia com uma
agulha – o que explica o fato de que em algumas histórias, como essa, as moças ferissem a mão
ao tocar o fuso ou enquanto trabalhavam.

O que é piche? Para que serve?


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Encontre os vícios ou virtudes nos seguintes acontecimentos:

1. A história mostra como a primeira menina se esforçava para cumprir todas as tarefas
domésticas, enquanto a outra era preguiçosa e nada fazia. Qual o nome da virtude que leva a
pessoa a empenhar suas forças para alcançar os resultados que ela espera? E quando a pessoa
quer conseguir as coisas sem precisar se esforçar para isso? (Relembrar a virtude do
TRABALHO). E qual o vício oposto a esta virtude? (Comentar sobre o vício da PREGUIÇA).

2. Quando o fuso caiu no poço, a madrasta mandou que a menina fosse buscar e ela correu
para fazer isso. Qual o nome da virtude quando uma pessoa faz exatamente aquilo que uma
autoridade lhe disse para fazer, especialmente os pais? E quando uma pessoa não faz o que lhe
foi dito, ou faz o contrário do que era para fazer? (Apresentar a virtude da OBEDIÊNCIA). E qual
o vício oposto a esta virtude? (Comentar sobre o vício da DESOBEDIÊNCIA).

3. Quando passou pelos pães e pela macieira, a menina prontamente atendeu ao pedido de
ajuda que eles fizeram. Qual o nome da virtude quando alguém age pensando no bem do outro
ou atende ao seu pedido de ajuda? E qual a pessoa ignora o sofrimento do outro? (Apresentar
a virtude da BONDADE). E qual o vício oposto a esta virtude? (Comentar sobre o vício da
MALDADE/ EGOÍSMO).

4. Já na casa da Senhora Holle, a menina agiu de forma zelosa, fazendo direitinho cada uma das
tarefas que ela tinha. Qual o nome da virtude quando uma pessoa se esforça para fazer um
trabalho bonito e bem feito? (Apresentar a virtude da DILIGÊNCIA). E qual o vício oposto a esta
virtude? (Comentar sobre o vício da DISPLICÊNCIA/ PREGUIÇA).

5. Apesar da forma como era tratada por sua madrasta, a menina não deixou que seu coração
nutrisse sentimentos de tristeza ou raiva por ela, e com o tempo até sentiu saudades de estar
em casa. Qual o nome da virtude quando decidimos não nutrir sentimentos ruins com relação
a quem nos tratou mal? (Apresentar a virtude do PERDÃO). E qual o vício oposto a esta virtude?
(Comentar sobre o vício da AMARGURA/ RANCOR).

6. Nessa história, a Senhora Holle recompensa a menina diligente e bondosa com uma chuva
de ouro, mas a menina preguiçosa e egoísta recebeu um tacho de piche. Seria certo a segunda
menina receber também o ouro? Qual o nome da virtude das pessoas que buscam tratar os
outros como eles merecem? (Apresentar a virtude da JUSTIÇA). E qual o vício oposto a esta
virtude? (Comentar sobre o vício da INJUSTIÇA).
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 Com qual das duas meninas você se parece mais, quando pensa no quanto você ajuda na
limpeza e organização da casa?
 Você costuma obedecer prontamente quando seus pais ou alguém que seja autoridade lhe
dizem para fazer algo?
 Se estivesse no lugar da menina, você teria parado para ajudar a macieira ou aos pães?
 Quando você faz suas atividades e trabalhos, costuma ser diligente e se esforçar para deixar
tudo bem feito, ou age como a segunda menina, fazendo tudo de qualquer jeito?
 Você acha difícil perdoar alguém que lhe trata mal?
 Você costuma defender a justiça, desejando que as pessoas sejam recompensadas
conforme suas ações?

Artes Mecânicas: tecelagem – como o algodão e a lã são transformados em fio por meio do fuso e
da roca; hoje substituídos pelas máquinas. (Em alguns lugares ainda existem as fiandeiras que
preservam esta tradição).
Geologia: Diferentes tipos de poços para captação de água subterrânea; lençóis freáticos e as
regras para construção de poços visando questões de saúde.

Ciências Naturais: O petróleo e os seus diferentes usos.

Desenho: Reproduzir um fuso ou roca


Produção de textos: texto descritivo explicando o que é e como era usado o fuso.
Produção de textos: pesquisa sobre o petróleo.
Maquete: construção de um poço com argila: montar em um pote transparente, com água no
fundo, para que ao “perfurar o poço”, encontre a água dos lençóis freáticos.

Com os pequenos é possível usar os elementos mais concretos que aparecem na história – como
as maçãs e os pães – para atividades de contagem, trabalho com cores ou discriminação visual.
Você pode desenhar ou imprimir várias figuras de maçãs e pedir que a criança pinte, com lápis
de cor ou mesmo tinta para pintura a dedo, 10 maçãs de verde e 10 de vermelho. Depois de
recortar cada uma, você pode fazer algumas atividades como “Vamos colher maçãs?”. Para isso,
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espalhe as maçãs pelo cômodo ou pela casa, prendendo com fita adesiva em locais em que a
criança possa encontrar. Cada maçã encontrada vai para a sua “cesta”, que podem ser duas
vasilhas ou duas caixas (uma para as maçãs vermelhas e outra para as maçãs verdes. E a cada
maçã encontrada você vai contando, com a criança, quantas já foram colhidas de cada cor e
quantas faltam. Assim, em uma simples brincadeira, você pode trabalhar coordenação motora
(no momento da pintura), discriminação visual (verde e vermelho), noção de quantidade e
contagem, e também a perseverança de continuar até encontrar todas as maçãs.

As crianças maiores podem fazer pesquisas e atividades conforme as sugestões na caixa desta
lição, tanto na área de Geologia, como das Artes Mecânicas e Ciências Naturais.

Fazer pão juntos é uma ótima ideia também!

Uma reportagem interessante sobre as fiandeiras brasileiras pode ajudar a conhecer melhor
como funciona essa habilidade, além de refletir sobre a importância do trabalho e da tradição:

http://g1.globo.com/goias/jornal-do-campo/videos/v/fiandeiras-se-reunem-anualmente-
para-resgatar-a-cultura-de-fiar-em-jatai-go/5607824/
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Os Seis Cisnes
Conto dos irmãos Grimm.

Certa vez um rei estava caçando em uma grande floresta, e perseguia sua caça com tanto afinco que nenhum
de seus súditos conseguia segui-lo. Mas quando a noite se aproximou ele finalmente parou e, olhando ao seu
redor, percebeu que estava perdido. O rei procurou um caminho para sair da floresta, mas nenhum conseguiu
encontrar. Neste momento, ele viu uma mulher velha que balançava a cabeça, e ela veio ao seu encontro.

- Minha boa senhora – ele lhe disse -, poderias me indicar o caminho para sair da floresta?

- Oh, sim, senhor Rei – ela respondeu -. Posso fazer isso muito bem, mas apenas com uma condição. Se não
a cumprires, jamais sairás novamente da floresta, e morrerás de fome.

- Qual, então, é esta condição? – perguntou o Rei.

- Eu tenho uma filha – disse a velha mulher – que é tão bela como jamais poderias encontrar no mundo inteiro
e bem merece ser tua noiva. Agora, se desejas torná-la tua Rainha, eu lhe mostrarei o caminho para que saias
da floresta.

Na ansiedade de seu coração o Rei consentiu, e a velha conduziu-o até a cabana onde sua filha estava,
sentada junto ao fogo. A moça recebeu o Rei como se já o esperasse, e imediatamente ele viu que ela era
muito bonita, embora não o agradasse, pois ele não podia olhar para ela sem sentir um secreto tremor.
Apesar disso, ele puxou a donzela para seu cavalo. A velha mulher mostrou-lhe o caminho e o rei chegou
seguro em seu palácio, onde o casamento foi celebrado.

O Rei já havia sido casado anteriormente e tinha sete filhos de sua primeira esposa: seis filhos e uma filha, a
quem ele amava acima de qualquer coisa neste mundo. Logo, ele passou a temer que a madrasta pudesse
não tratar seus filhos muito bem, e pudesse até mesmo lhes fazer algum mal. Por isso, o rei levou-os para um
castelo que ficava no meio de uma grande floresta. O castelo estava tão inteiramente escondido, e o caminho
era tão difícil de descobrir, que ele mesmo não poderia encontrá-lo se uma sábia mulher não lhe tivesse dado
um novelo de algodão que tinha o poder mágico, quando ele o jogava adiante de si, de desenrolar-se sozinho
indicando-lhe o caminho.

No entanto, o Rei ia com tanta frequência visitar seus filhos, que a Rainha, notando sua ausência, ficou
intrigada e desejava saber o que ele ia procurar na floresta. Então ela deu aos seus servos uma grande quantia
de dinheiro e eles traíram o rei, revelando a ela o segredo, e também contando sobre o novelo de lã que
poderia indicar-lhe o caminho.
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Ela passou então a sentir-se inquieta, até que descobriu onde o novelo ficava guardado. Então ela fez seis
camisas de seda e, usando o que aprendera com sua mãe, costurou um encanto em cada uma delas.

Um dia, quando o Rei estava fora caçando, ela pegou as seis camisas e foi para a floresta, e o novelo indicava-
lhe o caminho. As crianças, vendo à distância que alguém se aproximava, pensaram que se tratava de seu
querido pai e saíram correndo ao seu encontro, cheias de alegria. Quando se aproximaram, a Rainha jogou
sobre cada um deles uma das camisas e conforme elas os tocavam, transformavam-nos em cisnes, que saíam
voando acima das árvores da floresta.

A Rainha foi para casa muito satisfeita, pensando que afinal se livrara de seus enteados. Mas a princesa não
tinha ido ao encontro dela junto com os irmãos, e a rainha não sabia de sua existência.

No dia seguinte, quando o Rei foi visitar seus filhos, encontrou apenas a princesa.

- Onde estão seus irmãos? – ele perguntou.

- Ah, querido pai – ela respondeu -, eles foram embora e me deixaram sozinha. E ela contou-lhe como havia
olhado pela janela e visto seus irmãos serem transformados em cisnes que voaram sobre as árvores da
floresta. Ela mostrou a seu pai as penas que eles haviam derrubado no pátio, as quais ela recolhera.

O Rei estava muito aflito, mas ele não pensava que sua esposa poderia ter feito algo tão perverso e, temendo
que também a princesa fosse raptada, levou-a consigo. Ela, no entanto, estava com muito medo de sua
madrasta e implorou ao pai que lhe permitisse passar uma última noite no castelo.

A pobre princesa pensava consigo: “Este não é mais o meu lugar; irei em busca dos meus irmãos.” E quando
a noite chegou, ela fugiu e embrenhou-se na floresta.

A Princesa caminhou durante toda a noite e por uma grande parte do dia seguinte até não ser mais capaz de
prosseguir, de tanto cansaço. Neste momento ela viu uma cabana de aparência rústica e, entrando lá,
encontrou um quarto com seis pequenas camas, mas não ousou deitar-se em nenhuma delas. Então arrastou-
se para baixo de uma das camas e deitou sobre a terra dura, preparada para passar a noite ali.

Mas, assim que o sol se pôs, ela ouviu um rumor e viu seis Cisnes brancos entrarem voando pela janela. Eles
pousaram no chão e sopraram as plumas uns dos outros até que suas penas de cisnes caíram como
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camisas. Então a Princesa reconheceu seus irmãos e alegremente


arrastou-se, saindo debaixo da cama. Os irmãos não ficaram menos
contentes ao ver sua irmã, mas sua alegria durou apenas um
instante.

- Aqui não podes ficar – eles lhe disseram –. Este é um esconderijo


de ladrões. Se eles voltarem e a encontrarem aqui a matarão.

- Não poderíeis proteger-me? – questionou a irmã.

- Não! – replicaram eles, pois só podemos deixar as penas de cisnes


por um quarto de hora a cada noite. Nesse horário nós recuperamos
nossa forma humana, mas depois nossa aparência é novamente
transformada.

Sua irmã então perguntou-lhes, em lágrimas:

- E não podeis vos libertar desse encanto?

- Oh, não – responderam eles. As condições são difíceis demais. Por seis longos anos tu deverias permanecer
sem pronunciar sequer uma palavra ou risada, e durante esse tempo precisarias coser seis camisas com
pétalas de margarida. E se uma só palavra escapasse de teus lábios durante esse tempo, todo o teu trabalho
teria sido em vão.

No exato momento em que os irmãos terminaram de falar, encerrou-se o quarto de hora e eles voaram pela
janela na forma de Cisnes outra vez.

A menina, no entanto, fez uma solene promessa: resgatar seus irmãos, ou morrer tentando. Ela deixou a
cabana e, embrenhando-se na floresta, passou a noite aninhada nos galhos de uma árvore.

Na manhã seguinte ela saiu para juntar flores para coser as caminhas. Ela não tinha com quem conversar e
de rir não sentia qualquer vontade, então sentou-se na árvore tendo como único propósito realizar o seu
trabalho. Passado algum tempo, aconteceu que, estando o Rei daquele país a caçar naquela floresta, seus
súditos vieram parar debaixo da árvore onde a Princesa estava. Eles a chamaram e perguntaram:

- Quem és tu? - Mas ela não deu qualquer resposta.

- Desça até nós. Não te faremos mal. - Mas ela simplesmente balançou a cabeça

Quando eles continuaram pressionando-a com muitas perguntas, ela jogou para eles seu colar de ouro, na
esperança de que isso os satisfizesse. Como, no entanto, eles não a deixassem, ela jogou dessa vez o seu
cinto, mas foi em vão. Afinal um dos homens subiu na árvore e trouxe a Princesa para baixo, levando-a para
o Rei.
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- Quem és tu? – Perguntou-lhe o rei. – O que fazias tu em cima daquela árvore? – Mas ela nada respondeu.

O Rei interrogou-a em todas as línguas que ele conhecia, mas ela permanecia muda como um peixe. Contudo,
como era muito bela, o coração do Rei foi tocado e ele afeiçoou-se fortemente a ela. Então ele colocou ao
redor dela o seu manto real e levou-a para o castelo. Lá ele ordenou que lhe fizessem ricos vestidos e, embora
sua beleza reluzisse como raios do sol, palavra alguma lhe escapou dos lábios. O Rei então colocou-a ao seu
lado na mesa e seu semblante era tão digno, e seus gestos conquistaram de tal forma o seu coração, que ele
disse:

- Com esta donzela eu me casarei; e com nenhuma outra no mundo. – E alguns dias depois eles se casaram.

Tinha o rei, no entanto, uma madrasta muito perversa que estava descontente com este casamento e falava
maldosamente sobre a jovem rainha.

- Quem saberá de onde veio tal rapariga? – dizia ela. – Se não pode falar não é digna de um Rei.

Um ano depois, quando a rainha deu à luz seu


primeiro filho, a velha mulher pegou o menino
e o levou embora, indo depois até o Rei e
dizendo que a jovem rainha era uma assassina
e que havia matado o próprio filho. O Rei,
contudo, não pode acreditar nisso e ordenou
que ninguém incomodasse sua esposa, que
permanecia sentada costurando as camisas
com pétalas e sem prestar atenção a nada
mais. Quando a segunda criança nasceu, a falsa
madrasta usou a mesma estratégia, mas o Rei
tão pouco lhe deu ouvidos, dizendo:

- Ela é piedosa e boa demais para ter agido de


tal forma. Pudesse ela falar, defenderia a si
mesma e sua inocência viria à luz.

Mas quando novamente a velha mulher


roubou a terceira criança e acusou a Rainha,
que não respondia sequer uma palavra contra
a acusação que recebia, o Rei nada pode fazer, senão entregá-la ao tribunal, onde foi condenada a ser
queimada na fogueira.

Quando chegou o tempo em que a sentença deveria ser executada, aconteceu de cumprirem-se os exatos
seis anos, quando seus queridos irmãos finalmente ficariam livres. As camisas estavam prontas, mas na última
delas ainda faltava a manga esquerda. Quando foi conduzida para o cadafalso, a Rainha levou em seus braços
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as seis camisas. E exatamente quando ela subiu e o fogo estava para ser aceso, olhando para o alto ela viu
seis Cisnes voando em sua direção.

Seu coração saltou de alegria quando percebeu que se aproximavam, e logo os cisnes, voando ao seu redor,
chegaram tão perto que ela conseguiu jogar sobre eles as camisas. A assim que ela o fez, suas penas caíram-
lhes e os irmãos apareceram em sua frente, vivos e robustos. O mais jovem, no entanto, ficou sem seu braço
esquerdo, e em seu lugar tinha uma asa de cisne.

Eles abraçaram e beijaram uns aos outros com alegria e a Rainha, indo até o Rei, que estava atônito, começou
a dizer:

- Agora eu posso falar, meu querido esposo, e provar-lhe que sou inocente e que fui falsamente acusada.

Ela contou-lhe então como a perversa mulher havia roubado e escondido seus três filhos. Quando ela
concluiu, o Rei se sentiu tomado de grande alegria. As crianças foram trazidas e a perversa madrasta foi
levada ao cadafalso, presa à estaca e queimada em cinzas.

Mas o Rei e a Rainha viveram, com seus seis irmãos, por muitos e muitos anos de paz e alegria.

Tradução da versão disponível em Grimm’s Fairy Stories, by Jacob and Wilhelm Grimm – The
Project Gutenberg.
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Lição 4
Os Seis Cisnes, dos irmãos Grimm

Autocontrole
Serviço
Prudência
Integridade
Bondade
Justiça

Núpcias: casamento.
Rústica: sem acabamento, feito de forma simples; campestre.
Digno: adjetivo de quem merece algo; honrado, correto, nobre.
Um quarto de hora: expressão equivalente ao período de quinze minutos
Bodas: festa de casamento
Cadafalso: tablado usado para execução dos sentenciados.
Atônito: espantado

Que tipo de animal é o cisne? Como ele se parece?

Os cisnes são aves aquáticas muito bonitas, que possuem um porte elegante e majestoso, tendo como
característica marcante o seu longo pescoço. Sua figura aparece em diversas histórias como “O patinho
feio”, de Hans Christian Andersen, e “O lago dos cisnes”, famosa peça de balé composta por Tchaikovsky.
Os cisnes são parte muito importante do belo conto desta lição.
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1. Quando, no início da história, o rei se animou tanto que se afastou de seu grupo, acabou se perdendo
na floresta. Qual o nome da virtude que nos leva a tomar decisões sábias, pensando nas consequências
antes de agir? (Apresentar a virtude da PRUDÊNCIA). E qual o vício oposto a esta virtude? (Comentar
sobre o vício da IMPRUDÊNCIA).

2. Ao aceitar dinheiro para, em troca disso, contar o segredo do rei, o criado passou a fingir ser leal ao
rei, quando na verdade era um traidor. Qual o nome da virtude que nos leva a sempre agir
honestamente, sendo exatamente aquilo que dizemos ser? (Apresentar a virtude da INTEGRIDADE). E
qual o vício oposto a esta virtude? (Comentar sobre o vício da CORRUPÇÃO/ DESONESTIDADE/
MENTIRA).

3. Tanto a rainha que transformou os meninos em cisnes, quanto a madrasta do rei com quem a moça
se casou, eram egoístas e faziam coisas para prejudicar intencionalmente os outros. Qual o nome da
virtude que nos leva a desejar e agir pelo bem dos outros? (Relembrar a virtude da BONDADE). E qual
o vício oposto a esta virtude? (Comentar sobre o vício da MALDADE).

4. Quando chegou na cabana, a princesa não ousou deitar-se nas caminhas, porque sabia que não lhe
pertenciam. Qual a virtude das pessoas que sempre agem demonstrando consideração pelas outras
pessoas e pelas coisas que pertencem a elas? (Apresentar a virtude do RESPEITO). E qual o vício oposto
a esta virtude? (Comentar sobre o vício do DESRESPEITO).

5. A princesa decidiu se sacrificar para que seus irmãos fossem salvos, mesmo que isso lhe custasse a
vida. Qual o nome da virtude daquele que se voluntaria para trabalhar pelo outro sem esperar nada em
troca? (Apresentar a virtude do SERVIÇO). E qual o vício oposto a esta virtude? (Comentar sobre o vício
do EGOÍSMO).

6. Por longos seis anos a princesa conseguiu ficar calada e sem rir, mesmo quando isso lhe custou seus
filhos e colocou a própria vida em risco. Qual o nome da virtude da pessoa que consegue controlar seus
impulsos quando necessário? (Apresentar a virtude do AUTOCONTROLE). E qual o vício oposto a esta
virtude? (Comentar sobre o vício do DESCONTROLE/ IMPUSIVIDADE).

7. No final, todo o sacrifício e serviço da princesa foram recompensados e a mulher má, teve o fim que
mereceu. Qual a virtude daqueles que tratam a cada um conforme suas ações? (Retomar a virtude da
JUSTIÇA). E qual o vício oposto a esta virtude? (Comentar sobre o vício da INJUSTIÇA).

 Você costuma ser prudente, pensando antes de agir? Você já se viu em uma situação difícil como a
do primeiro rei, por ter agido de forma imprudente?
 Se estivesse no lugar daquele servo, você teria aceitado dinheiro para contar o segredo do rei?
 Você já fez algo com a intenção de maltratar outra pessoa?
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 Você costuma tratar as outras pessoas e seus pertences com o respeito que lhes é devido, usando
palavras e ações que demonstrem que você tem consideração por elas?
 Se estivesse no lugar da princesa, você acha que teria conseguido ficar todo esse tempo sem falar
nem rir? Você costuma lutar para controlar a si mesmo?
 Você costuma defender a justiça, desejando que as pessoas sejam recompensadas conforme suas
ações?

Estudos Naturais – Botânica: diferentes espécies de plantas e suas características; classificação


dos seres vivos.
Matemática: Fração (um quarto de hora)
História da Arte/ Biografia: Claude Monet e o Impressionismo
Geografia: Pontos turísticos da cidade de Paris, rio Sena, comunidade de Giverny, onde está
localizada a casa de Monet.

Pintura: as crianças podem fazer reproduções da obra “Lago das Ninfeias” ou de outras pinturas
de Monet.
Produção de textos: escrever uma história após apreciação da obra de Monet..
Portfólio: fotografias, desenhos e anotações sobre as flores, folhas e pétalas estudadas.
Sugestão: Leitura do Livro “Linéia no Jardim de Monet”, de Christina Björk, uma escritora sueca,
traduzido para o português por Ana Maria Machado pela Editora Salamandra.

Nas atividades desta história, as crianças menores podem fazer atividades com flores, contar pétalas,
identificar as cores. Os maiores podem trabalhar conforme algumas das sugestões na caixa acima.

Na tradução desse conto, traduzi a flor usada pela princesa para costurar as camisas como a margarida
(Bellis Perennis, Bellis Sylvestris, Leucanthemum Vulgare, entre outras), um nome muito popular
utilizado no Brasil para denominar diversas espécies diferentes. Já em uma das versões do conto em
inglês, a planta utilizada é Star Flower, que aqui é conhecida como Borragem (Borago officinalis L.).

A sugestão para aprofundar o conhecimento a partir desta história é usar o motivo das flores para o
projeto “Conhecendo os Jardins de Monet”, a partir da apreciação do quadro “O lago das ninfeias”, de
Claude Monet, que você pode encontrar na internet. Após um tempo de observação da obra, permitir
que as crianças digam o que pensam sobre a obra e o que ela lhes transmite.
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Seria interessante mostrar fotos ou vídeos dos jardins de Monet, disponíveis na internet e em livros
específicos sobre o assunto e, caso seja possível, fazer um passeio a algum jardim público da cidade ou
a um jardim particular cujo proprietário se alegre em mostrar suas diferentes espécies de plantas e flores
para as crianças. O Jardim Botânico, na cidade de São Paulo, possui um lago de ninfeias que sempre
encanta seus visitantes.

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