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Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

DIREITOS REAIS

Vítor Palmela Fidalgo

I
Hipótese Prática

1. António, dono de vários prédios em Lisboa, tem-se deparado com múltiplas


questões jurídicas que necessitam de solução urgente, nomeadamente:
1) Tendo vendido recentemente um dos seus prédios em Lisboa – negócio esse
celebrado por documento particular autenticado - António ainda não procedeu à
entrega do mesmo. Uma vez que a sua mulher o convenceu a voltar atrás com o
negócio, António pretende saber se o facto de não ter entregado o prédio ainda o
mantém como proprietário do mesmo.

- Contrato de compra e venda de coisa imóvel: sujeito a documento particular


autenticado ou escritura pública (arts. 874º e 875º CC)
- Segundo o artigo 408º CC, a constituição ou transferência de direitos reais sobre coisa
determinada dá se por mero efeito do contrato, pelo que não é necessária a entrega do
prédio para existir a transferência do direito de propriedade.
- António já não é proprietário do prédio

2) Tendo constituído, em 2015, um usufruto a favor de Carlos, António pretende


agora saber se poderá vender o prédio, bem como o que sucederá ao contrato
celebrado entre ele e Carlos.

- Usufruto (art. 1439ºCC): direito de gozar temporária e plenamente uma coisa ou


direito alheio, sem alterar a sua forma ou substância.
- A venda afeta a propriedade e não o usufruto do bem, pelo que não constitui uma
causa de extinção do usufruto presente no artigo 1446ºCC

3) Uma vez que o seu prédio sito na Amadora foi ocupado, António questiona o
que poderá fazer para recuperar o mesmo.
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DIREITOS REAIS

Vítor Palmela Fidalgo

- Poderá intentar uma ação de reivindicação (art. 1311ºCC): ação através do qual o
proprietário pode exigir judicialmente o reconhecimento do seu direito de propriedade e
a consequente restituição do que lhe pertence.
- O direito de propriedade é absoluto e de oponibilidade erga omnes, o titular do
direito pode fazer valê-lo contra quem tem a coisa ilicitamente.

4) Estando na casa dos 70 anos e não tendo filhos, António pretende


demonstrar, uma vez mais, a sua atitude altruísta, ajudando os seus dois grandes
amigos, Bruno e Daniel, deixando-lhes um edifício em Lisboa. Acontece que Bruno
e Daniel não se dão nada bem, sendo que, por isso, António quer arranjar uma
forma de lhes atribuir uma propriedade separada, sobre o mesmo edifício, a cada
um deles. Como o poderá fazer?

2. Alberto, em janeiro de 2002, dado não ter terreno para os seus cavalos,
combinou com Bento a utilização do terreno deste para apascentar os seus animais.
O acordo entre Alberto e Bento foi selado através de um contrato revisto por um
advogado amigo de ambos. Em março de 2020, Bento chega a acordo com Carlos,
para a permuta deste seu terreno por um pequeno prédio T1 em Lisboa, tendo o
contrato sido celebrado por documento particular autenticado. Imediatamente
após o acordo, Carlos envia uma carta a Alberto, exigindo que o mesmo retire os
cavalos do terreno. Alberto rejeita, opondo o contrato celebrado com Bento.
Refira os problemas jurídico-reais envolvidos na hipótese, fundamentando a sua
resposta.

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