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Caso Resolvido (Integracao de Lacunas)
Caso Resolvido (Integracao de Lacunas)
Estipula o artigo 33.º do Decreto-Lei n.º X/1986, relativo ao contrato de agência, que “o
agente tem direito, após a cessação do contrato, a uma indemnização de clientela, desde que
tenha angariado novos clientes para a outra parte ou aumentado substancialmente o volume
de negócios com a clientela já existente, e desde que a outra parte tenha beneficiado
consideravelmente, após a cessação do contrato, da atividade prestada pelo agente”.
Quid juris?
Estamos, portanto, perante uma lacuna, na medida em que existe uma omissão de
regulamentação jurídica para o contrato de concessão comercial. Não se trata de lacuna
aparente, porquanto este caso não se resolve nem por via de interpretação extensiva ou
enunciativa, nem por via de regra remissiva. Efetivamente, inexiste qualquer regra que, por
via interpretativa, se aplique ao caso omisso. Ademais, por se tratar de contrato socialmente
típico, parece-nos existir uma necessidade de regulamentação jurídica, ou seja, tratar-se-á de
uma lacuna não intencional, e não uma solução remetida para as demais ordens normativas.
Não havendo, à partida, qualquer proibição de analogia no presente caso (e.g., normas
excecionais, normas penais incriminadoras, restrições a direitos, liberdades e garantias, casos
de tipicidade ou de taxatividade fechada, ou ainda normas criadoras de impostos), conclui-se
que existe uma lacuna que carece de ser integrada nos termos do artigo 10.º do CC.
Assim, e atendendo à proibição de non liquet prevista no artigo 8.º, n.º 1, do CC, dispõe
o artigo 10.º, n.º 1, do CC, que “os casos que a lei não preveja são regulados segundo a norma
aplicável aos casos análogos”. Neste sentido, teremos o contrato de concessão comercial
como “caso omisso” (i.e., lacuna) e o artigo 33.º do Decreto-Lei n.º X/1986, relativo ao
contrato de agência, como norma potencialmente aplicável, no que diz respeito ao
pagamento da denominada “indemnização de clientela”.
Para o efeito, estabelece o artigo 10.º, n.º 2, do CC, que “há analogia sempre que no
caso omisso procedam as razões justificativas da regulamentação do caso previsto na lei”. Ou
seja, deve-se averiguar a existência de uma identidade de razão entre o contrato de agência
(“caso previsto na lei”) e o contrato de concessão comercial (“caso omisso”), no que toca à
obrigação de pagamento da indemnização de clientela.