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Guylherme Afonso Dos Santos Sanches, 12684340, 1º horário, guylherme@usp.

br, 80%;
Karinne Yoshie Asato Kanasiro, 9878090, 1º horário, karinne.kanasiro@usp.br, 90%.
Cleberson Victor Vieira Pinto, 14686287, 2 horário, clebersonvieira@usp.br, 80%.

Questão 1
De acordo com a proposta de Grice, serão analisadas as implicaturas e inferências do
que foi dito na situação descrita através do dispositivo de Máximas Conversacionais, que é
constituído a partir do Princípio da Cooperação, proposto pelo autor como um ideal de
comunicação racional, no qual a contribuição conversacional é adequada ao propósito ou
direção assumidos pela interação verbal em que se estão engajados os interlocutores. Essa
análise se dá segundo os seguintes passos:
1. Identificação do enunciado (considerando que o dizer é diferente do “querer dizer”):
“Está quente [o bolo], filho!”.
2. Proposição do “querer dizer”: ainda não se pode comer o bolo, pois enquanto
quente pode causar queimaduras na língua ou dor de barriga (de acordo com crenças
populares).
3. Análise da pergunta “o ouvinte inferiu o ‘querer dizer’?”: sim, por meio do sinal da
ação de resmungar e retornar ao quarto.
4. Análise da pergunta “o falante dá alguma pista de que ele implicou?”: sim, através
do sinal de resposta “é para o seu bem…”.
5. Avaliação do grau de “sucesso” (cooperação para atingir os objetivos comunicativos
da interação em foco): completo alcance de objetivo, evidente através do sinal de que o filho
não foi comer o bolo.
6. Explicação: ao informar a temperatura do bolo, indica-se a condição indesejável em
que ele se encontra, visto os danos que ele pode causar ao ser consumido. Considerando a
presunção do Princípio de Cooperação de Grice, em que todos os envolvidos na interação
verbal irão adequar seus enunciados às intenções comunicativas identificáveis a eles, a
declaração da mãe incita o ouvinte a identificar um “querer dizer” que não se expressa
integralmente em seu dizer. Na medida em que o ouvinte tem conhecimento do ideal de que o
bolo seja consumido frio, ele pode concluir que a mãe não queira que ele coma naquele
momento, respondendo, assim, sua pergunta. Explorando a Máxima da Quantidade, que
envolve a falta ou o excesso de informação no enunciado, a falante contribui à conversa de
forma menos informativa em sua fala, dando uma pista para o ouvinte de qual é sua resposta à
demanda dele.
Considerando a proposta de Searle, a implicatura da situação em questão se dá com a
geração de um ato de fala indireto, em que o ato ilocutório assertivo torna-se secundário,
enquanto o ato ilocutório diretivo torna-se primário. De acordo com o autor, um dos motivos
pelos quais a enunciadora opta pela realização do ato ilocutório em que explica a condição do
bolo para expressar o “sentido” de outro ato ilocutório que, no caso, é uma ordem, é a polidez.
Desse modo, expressa-se a tentativa da mãe de evitar ser demasiadamente impositiva sobre o
filho, visto que, se ela enunciasse a resposta ostensivamente como “não pode comer o bolo!”,
sem nenhuma explicação, o filho não apenas não entenderia o motivo, como também ficaria
ainda mais frustrado por não poder comer o bolo naquele momento.

Questão 4
a)Na medida que, em certas esferas, determinados atos de comunicação são repetidos com
certos padrões, estes vão ganhando contornos e se tornam gêneros, que nos auxiliam a
alcançar os objetivos de um discurso. O gênero testemunho tem como objetivo o ensinamento
por meio de exemplos (positivos ou negativos) empíricos e biográficos, podendo circular em
diversas esferas. Um pai pode dar um testemunho sobre sua experiência com drogas para
advertir seu filho (pois provavelmente um artigo científico sobre os riscos de tais substâncias
seria de difícil assimilação) ou uma mulher pode fazer um testemunho sobre sua experiência
profissional, para aconselhar outras mulheres. Pensando em esferas religiosas, o testemunho é
um gênero que serve bem para não-iniciados (visto que ensina a doutrina por meio de
experiências empíricas, facilmente compreensíveis a qualquer um, diferente de teses
teológicas mais metafísicas).
b) A sequência narrativa é utilizada quando há no discurso uma transformação de “A” para
“B”. Visto que o testemunho é um gênero no qual um acontecimento (mudança) ocorre, a
narrativa lhe é essencial. Nos dois textos a situação inicial é ruim, envolvendo perda
financeira e instabilidade no matrimônio. O contato com a igreja surge como nó
desencadeador para a melhora dessa situação, fazendo as pessoas reagirem levando seus
cônjuges para a mesma situação. O desenlace não envolve apenas readquirir o perdido, mas
também ter ainda mais prosperidade financeira. Isto resulta em uma situação final feliz e o
julgamento moral de que fazer parte da comunidade religiosa em questão leva à prosperidade.
c) A temática que predomina é a das religiões protestante, pois o assunto é Deus e
prosperidade. Mas também a elementos dos campos semânticos: financeiro, familiar e de bens
materiais.
d) O primeiro parágrafo traz uma caracterização (Pode ser da situação inicial, da situação
final ou até de ambas, o que vai ser indicado pelo tempo verbal) financeira e patrimonial das
pessoas do discurso (terceira do singular em ambos), sendo quase inteiramente sequências
descritivas. Depois disso segue-se uma narrativa na qual o tempo verbal preponderante é o
pretérito perfeito. Há também citações diretas de fim ilocutório expressivo, que destacam a
situação das pessoas que servem de testemunho.
e) O perfil concepcional é de distanciamento, pois, no quadro, o gênero se encaixa da seguinte
forma:
Grau de publicidade: 4
Grau de intimidade: 3
Grau de emocionalidade: 1
Grau de dependência do contexto situacional: 4
Ponto de referência: 4
Grau de presencialidade dos participantes: 4
Grau de cooperação: 4
Grau de dialogicidade: 4
Grau de espontaneidade: 4
Grau de fixação temática: 4
O meio é o escrito.

Questão 3
No primeiro parágrafo, a priori, são eventualmente utilizadas anáforas diretas para
embasar o teor de recursos linguísticos em: “Encontrar Jesus Cristo é a coisa mais comum
para Roberto…” – aqui, há uma retomada direta ao nome Jesus que, por sua vez, retrata uma
anáfora direta cossignificativa.
Simultaneamente, é apresentado um novo messias nada hegemônico e ligado a um
campo futurista e tecnológico. Isto é, Jesus descrito como um ser intergaláctico que se
comunica por humanos através de uma cosmonave. Para a sociedade brasileira, o texto é um
escárnio, heresia ou falácia, pois se trata de uma representação nada usual sobre a perspectiva
da identidade construída sobre a imagem ultra conservadora de Jesus Cristo.
No mesmo trecho, há uma anáfora direta recategorizante em: “Desde a primeira vez
que se viram, sentiram uma empatia.” – aqui Jesus não é mais sujeito, o que altera o
objeto-de-discurso.
Embora o texto manifeste esta figura insolúvel, ele em si não corrobora para tal
construção de imagem. No entanto, demonstra uma nova classificação para o
objeto-de-discurso, a fim de conceber o ideal proposto pelo locutor.

Questão 4
a) A expressão fórica em negrito “afirmações como esta” trata-se de uma estratégia de
referenciação retrospectiva, em que sua âncora textual se encontra no parágrafo anterior em “a
maioria deles é pura ficção científica”. Já a expressão sublinhada “explicação” é uma
referenciação prospectiva, sendo sua âncora textual “é óbvio que os cineastas americanos têm
acesso a documentos ultra-secretos da Nasa e recebem mensagens dos ETs” encontrada
adiante do fórico, na oração seguinte. “Os cineastas americanos” também trata-se de uma
referenciação retrospectiva, visto que sua âncora textual seja “filmes sobre o tema” que está
anterior ao fórico, na oração precedente a ele.
b) “Afirmações como esta”: rotulação encapsuladora retrospectivamente orientada, pois
transforma um evento (“a maioria deles [os relatos de abduções e avistamentos]” ser “pura
ficção científica”) em objeto-de-discurso (“afirmações como esta”) focalizando uma leitura do
conteúdo proposicional. Neste caso, o Sintagma Nominal “afirmações como esta” é utilizado
como um encapsulador retrospectivo que sinaliza uma perspectiva mais “neutra”, de modo
geral.
“Explicação”: rotulação metadiscursiva prospectivamente orientada, em que o enunciado “é
óbvio que os cineastas americanos têm acesso a documentos ultra-secretos da Nasa e recebem
mensagens dos ETs” é rotulado pelo Sintagma Nominal “explicação”, com base no ato
ilocutório que o jornalista julga ter sido realizado pelo advogado paulista (a força ilocutória
assertiva de explicação).
“Os cineastas americanos”: anáfora indireta/associativa, pois ocorre a ativação ancorada do
objeto-de-discurso “filmes sobre o tema”, através da introdução de uma “nova” entidade (“os
cineastas americanos”) com base na rede de conhecimentos do referente prévio, já que é
acompanhada por um artigo definido que determina tratar-se de uma informação presente no
conhecimento enciclopédico do leitor, uma vez que “filmes” são naturalmente associados a
“cineastas”.

Questão 5
a) Nesse caso, a expressão “fenômeno” trata-se de uma instância de encapsulamento, ou seja,
uma anáfora complexa sem um referente específico sobre o trecho. Embora o referente seja
abstrato, há uma retrospecção de eventos de vários núcleos na narrativa. Ademais, ao
mencionar o episódio de suicídio coletivo, é evidenciado uma ligação entre a ufologia e o
fanatismo.
b) No trecho, a autora expressa uma incompatibilidade oposta sobre as questões místicas e
ufológicas diante do contexto do texto anterior. Em "ET é um produto fácil de ser vendido:
não precisa entregar, basta dizer que ele existe" revela-se um posicionamento crítico. Então,
ao prosseguir, o pesquisador Claudeir Covo impõe sua insatisfação acerca do devaneio. Aliás,
denota uma ênfase negativa sobre o fanatismo exacerbado que ocorre.

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