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Resposta ao texto de Albert Einstein “Por que Socialismo?


Por Pietro Marco Maraveli.

Parágrafo 2: "A descoberta de leis gerais no campo da economia se torna difícil


pelo fato que os fenômenos econômicos analisados são frequentemente
afetados por diversos fatores muito difíceis de avaliar separadamente. Além
disso, a experiência acumulada desde o começo do chamado período civilizado
da história humana tem [...] sido largamente influenciada e limitada por causas
que não são exclusivamente econômicas por natureza."
Resposta: Os economistas são os que melhor sabem disso, sendo muito
cautelosos quanto a extrapolar as suas conclusões para fenômenos ou fatos não
econômicos. Eles também tendem a rejeitar abordagens economicistas em
quaisquer outras áreas pois reconhecem a limitação do escopo de seu campo.
Por outro lado, Karl Marx e seus seguidores fazem exatamente o oposto:
colocam a economia como a base fundamental de todas as relações sociais e
ideologias, ao que chamam de "materialismo histórico".

Parágrafo 4: "Os fatos econômicos observáveis pertencem àquela fase [fase


predatória] e até mesmo as leis que derivam deles não são aplicáveis a outras
fases. Como o real propósito do socialismo é precisamente superar e avançar a
fase predatória do desenvolvimento humano, a ciência econômica em seu
estado atual pode jogar pouca luz na sociedade socialista do futuro."
Resposta: Aqui aparece um mito sobre a ciência econômica, de que ela seria
uma ciência histórica encaixotada por intervalos temporais: a Economia
medieval não pode tratar da Economia industrial. Uma coisa é o fato e outra
coisa é o fenômeno, a diferença entre eles explica por que história não é ciência,
por exemplo. História é o estudo dos fatos, ciência é o estudo dos fenômenos -
que podem ser naturais ou sociais. Fatos estão em função dos fenômenos e por
eles são condicionados; por isso não se pode falar em modelo preditivo histórico.
Fatos estão cristalizados no tempo e não podem se repetir mas os fenômenos
que os condicionam podem estar presentes em quaisquer momentos. Por isso
as ciências que estudam esses fenômenos são generalistas. A Geofísica não
trata do terremoto que destruiu Lisboa em 1755 e do terremoto que atingiu a
Cidade do México em 1985, ela simplesmente estuda tectonismo de placas e
abalos sísmicos na crosta.
A ciência não deriva "leis" a partir de fatos, ela estuda os fenômenos, ou as
variáveis, que possibilitam que fatos ocorram. Assim, a ciência econômica não
olha, por exemplo, para o fato da URSS ter acabado e proclama a inevitabilidade
do fracasso socialista; ela estuda variáveis como eficiência alocativa, dispersão
da informação, investimento em capital, efeito de instituições e conclui que
planejamento econômico centralizado e a distribuição pública de bens não
públicos estão fadados a não funcionar, ceteris paribus. As categorias teóricas
da Economia são válidas para qualquer período e organização econômica,
apenas ficando mais claras nas economias comerciais.
Afirmar que vivemos em uma “fase predatória” não passa de juízo de valor e
como tal não tem cientificidade. Assim as suas conclusões, como o da ciência
feita nesse suposto período ser inválida para explicar um futuro paraíso
socialista, não têm significado fora da moralidade daquele que as proferiu.
Einstein está basicamente balbuciando o slogan “socialismo ou barbárie”.

Parágrafo 5: “Em segundo lugar, o socialismo objetiva um fim ético-social. A


ciência, no entanto, não pode criar fins e muito menos inculcá-los em seres
humanos; a ciência pode fornecer, no máximo, os meios para atingir certos fins.
Mas os fins são concebidos por personalidades com elevados ideais éticos [...].”
Resposta: Concordo, o socialismo é um conjunto de admoestações morais à
práticas econômicas não compreendidas. É um movimento político e não uma
teoria econômica, e a frase que melhor expressa a atitude socialista frente ao
conhecimento econômico é “não sei, não quero saber e tenho raiva de quem
sabe”.
Moralidade e ciência são coisas distintas e não intercambiáveis mas o ponto
sobre fins serem criados por pessoas eticamente elevadas não se sustenta em
pé porque tanto madre Tereza de Calcutá quanto Adolf Hitler se enxergavam
dessa forma. Inclusive ver a si mesmo como um arauto de um futuro glorioso a
ser alcançado a qualquer preço é um padrão compartilhado por grandes
facínoras da história como Robespierre, Lênin, Stálin, Mao e Pol Pot.

Parágrafo 6: “Por estas razões, temos de estar atentos para não superestimar
a ciência e os métodos científicos quando se trata de uma questão de problemas
humanos; nós não deveríamos presumir que os especialistas são os únicos que
têm o direito de se expressar em questões que afetam a organização da
sociedade.”
Resposta: A sociedade deve ter preservada a sua capacidade de resolução
moral e política, cabendo à ciência a tarefa de oferecer solidez para orientar ou
embasar tais decisões. Entretanto o que Einstein quer dizer aqui com “questões
humanas” é o mesmo que a intenção de Lula –do alto da sua ignorância em
economia monetária- de levar o presidente do Banco Centra, Roberto Campos
Neto, para um tour pelas cidades mais pobres do Brasil e mostrar-lhe as
condições em que vivem as pessoas afetadas pelas decisões da autarquia
quanto à taxa SELIC. Basicamente os dois velhos de cabelo branco
compartilham a ideia de que economistas vivem em uma realidade paralela e
contrária às necessidades das pessoas, especialmente as das mais humildes.
Parágrafo 13: “Em populações relativamente densas, como os bens que são
indispensáveis à continuidade de sua existência, uma divisão extrema do
trabalho e um aparato produtivo altamente centralizado são absolutamente
necessários. Foi-se o tempo [...] em que indivíduos ou pequenos grupos podiam
ser completamente autossuficientes. Há pouco exagero em dizer que a
humanidade se constitui em uma comunidade planetária de produção e
consumo.”
Comentário: Correto, a humanidade nunca se comportou tanto como uma
espécie gregária (tais como formigas, cupins e abelhas) como no final do século
XX, com ela trabalhando em um esforço global de cooperação em benefício do
coletivo e do indivíduo. As três perguntas fundamentais de uma economia –o
que, como e para quem produzir- eram respondidas por informações dispersas
e descentralizadas em um sistema de preços que coordenava longas cadeias
produtivas e de abastecimento, satisfazendo demandas que comunicavam a
escassez relativa de bens e serviços e refletiam as escolhas alocativas e
intertemporais dos agentes. Pela primeira vez na história a humanidade era uma
só.

Parágrafo 14: “Cheguei no ponto onde posso indicar brevemente o que para
mim constitui a essência da crise de nosso tempo. Tem a ver com a relação entre
o indivíduo e a sociedade. O indivíduo se tornou mais consciente do que nunca
de sua dependência em relação à sociedade, mas ele não vê esta dependência
como algo positivo, como um laço orgânico, uma força protetora, e sim como
uma ameaça a seus direitos naturais ou até mesmo à sua existência econômica.”
Resposta: O parágrafo é basicamente um achismo do Einstein baseado em seu
juízo de valor, e a sensação de ameaça que o indivíduo supostamente percebe
da sociedade (economia) contra si é fabricada e incentivada pelos próprios
socialistas, a quem Einstein está defendendo nesse texto. Se as pessoas não
veem a economia como um grande organismo do qual elas fazem parte e que a
todos beneficia –visão exposta no meu comentário anterior- é por que a veem
como um sistema de espoliação da classe trabalhadora pela burguesia,
exatamente como narrado por marxistas e como a fantasia projetiva de Einstein
não o permite ver que ele está defendendo a causa mesma do problema ao qual
ele está criticando.

Parágrafos 15 – 20: Nesse intervalo Einstein entra na cansativa verborragia


marxista, reduzindo o nível do seu texto de uma pessoa com zero conhecimento
econômico para alguém com conhecimento negativo (abaixo de zero), uma anti-
economia. Para poupar o leitor do tédio não vou transcrever as palavras do físico
e responderei resumidamente o que foi dito. Não existe uma “classe
trabalhadora”, essa noção é um resquício da época alquimista da Economia,
antes dela ser sistematizada no esteio da revolução marginalista (1871).
Trabalho é ação humana produtiva; que pode ser apertar um parafuso, elaborar
o projeto de uma máquina, desenvolver um site, negociar insumos, administrar
uma empresa ou decidir no que investir. Todos que trabalham são trabalhadores,
ponto.
Um funcionário não produz um bem, ele apenas exerce uma função para a
produção do bem. Quem determina o que produzir, como produzir e para quem
produzir é o organismo da firma subordinado a um ambiente concorrencial, não
uma única de suas células.
Marx afirma que as mercadorias possuem certa propriedade em seu corpo;
assim como massa, coeficiente térmico e condutividade elétrica. Esta
propriedade é o Valor (com V maiúsculo mesmo) e a empresa só paga uma
fração deste ao funcionário, embolsando o resto. Eis o roubo do capitalismo. Mas
isso é falso pois tal “Valor” não existe, é uma categoria fantasmagórica criada
pelo conterrâneo de Einstein, os preços são determinados pelo equilíbrio entre
a razão da utilidade marginal pela total e a razão entre os custos totais e
marginais. Os preços são subjetivos e voláteis, tanto dos produtos quanto da
mão-de-obra.

Parágrafo 21: “Estou convencido de que só há um modo de eliminar estes


males, o estabelecimento de uma economia socialista, acompanhada de um
sistema educacional orientado por objetivos sociais. Numa economia assim, os
meios de produção são de propriedade da sociedade e são utilizados de uma
forma planejada. Uma economia planejada que ajusta a produção às
necessidades da comunidade distribuiria o trabalho a ser feito entre os que são
hábeis para trabalhar e garantiria o sustento a todo homem, mulher e criança. A
educação do indivíduo, além de promover suas próprias habilidades natas, faria
com que se desenvolvesse nele um senso de responsabilidade por seus
semelhantes em vez da glorificação do poder e do sucesso da sociedade atual.”
Resposta: Essa história de eficiência socialista já foi amplamente debatida pelos
chamados economistas do bem-estar. Em 1920 Ludwig Von Mises aponta o
problema do cálculo econômico socialista: os cálculos econômicos no
capitalismo e no socialismo são do mesmo tipo, diferenciando-se apenas em
quem o realiza, se os produtores e consumidores em um ou o planejador central
em outro. O planejador precisa faze-los se deseja o bem-estar dos
consumidores. Entretanto esses cálculos envolvendo os bens de produção
precisam da informação trazida pelo sistema de preços, que reflete as condições
do lado da oferta e do lado da demanda. Como tais bens são propriedade
governamental não há sistema de preços, portanto não há cálculo econômico.
Isso supostamente foi resolvido em 1937 com a proposta do economista polonês
Oskar Lange de um socialismo de mercado, um sistema de planejamento central
que simula uma economia mercantil. O decisor central só precisaria observar os
preços dos bens de produção em economias comerciais para poder estimar a
taxa de substituição técnica de insumos no seu próprio país. No entanto isso
equivale a dizer que o planejamento econômico central só tem chance de quase
funcionar se for em uma ilha socialista cercada de capitalismo por todos os lados
–eliminando o sonho da revolução proletária mundial.
Por outro lado Paul Samuelson fala que o volume de informações seria
gigantesco e impossível de ser captado pelo planejador. Uma amostra disso é
que os planejadores soviéticos tiveram de lidar sozinhos com os preços de 12 a
24 milhões de produtos (SAES; SAES, 2012). Friedrich Hayek, em seu artigo O
Uso do Conhecimento na Sociedade (1945) mostra que ainda que fosse possível
acessar toda essa informação, ela é produzida e processada por milhões de
“computadores”, as pessoas que participam da economia, e não é desejável
atribuir essa tarefa a o esforço hercúleo de um só computador, o nosso querido
planejador, que nunca demostrou ser milhões de vezes mais capacitado para
essa tarefa que qualquer um dos outros.

Parágrafo 22: “É necessário lembrar que uma economia planejada ainda não é
socialismo. Uma economia planejada pode vir acompanhada pela completa
escravização do indivíduo. A conquista do socialismo requer a solução de alguns
problemas sócio-políticos extremamente difíceis: como é possível, tendo em
vista a abrangente centralização do poder político e econômico, impedir que a
burocracia se torne todo-poderosa e onipotente? Como os direitos do indivíduo
podem ser protegidos para garantir um contrapeso democrático ao poder da
burocracia?”
Resposta: O único momento lúcido do texto. Aqui Einstein usa a capacidade de
discernimento que o levou ao desenvolvimento da teoria da relatividade, pena
que só durou um parágrafo. O socialismo necessariamente tem que submeter o
indivíduo à servidão, se não o fizer não é socialismo. As respostas para as
perguntas feitas pelo alemão simplesmente não existem.
Em seu texto Que é Ser Socialista? Carvalho (1999) diz:
“O ideal socialista é, em essência, a atenuação ou eliminação das diferenças de poder
econômico por meio do poder político. Mas ninguém pode arbitrar eficazmente diferenças entre
o mais poderoso e o menos poderoso sem ser mais poderoso que ambos: o socialismo tem de
concentrar um poder capaz não apenas de se impor aos pobres, mas de enfrentar vitoriosamente
o conjunto dos ricos. Não lhe é possível, portanto, nivelar as diferenças de poder econômico sem
criar desníveis ainda maiores de poder político. E como a estrutura de poder político não se
sustenta no ar mas custa dinheiro, não se vê como o poder político poderia subjugar o poder
econômico sem absorvê-lo em si, tomando as riquezas dos ricos e administrando-as
diretamente. Daí que no socialismo [...] não haja diferença entre o poder político e o domínio
sobre as riquezas: quanto mais alta a posição de um indivíduo e de um grupo na hierarquia
política, mais riqueza estará à sua inteira e direta mercê: não haverá classe mais rica do que os
governantes.”

Se Einstein tivesse lido isso...

Parágrafo 1: “É aconselhável que alguém que não é um expert em assuntos


econômicos e sociais expresse suas visões sobre o socialismo?”.
Resposta: A resposta para a pergunta com que Einstein inicia o seu texto é um
sonoro não. Não se pode falar do que se não entende. Assim como nenhum
físico acataria os argumentos intransigentes da teoria da Terra plana, os
economistas não são obrigados a aceitar o terra-planismo econômico.
Referências

BRUE, Stanley. História do Pensamento Econômico. São Paulo: Pioneira Thomsom


Learning, 2005. 556 p. Luciana Penteado Miquelino.
CARVALHO, Olavo de. Que é ser socialista? 1999. Disponível em:
https://olavodecarvalho.org/que-e-ser-socialista/. Acesso em: 2 ago. 2018.
IAMARINO, Atila. O livre mercado é um computador. 2020. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=HR8OQqwppJY. Acesso em: 12 nov. 2020.
SAES, Flávio Azevedo Marques de; SAES, Alexandre Machione. História Econômica
Geral. São Paulo: Saraiva, 2013. 646 p.
VON HAYEK, Friedrich August. O Uso do Conhecimento na Sociedade. 1945.
Disponível em: https://mises.org.br/article/1665/o-uso-do-conhecimento-na-sociedade.
Acesso em: 21 ago. 2017.
VON MISES, Ludwig. O Cálculo Econômico sob o Socialismo. 1920. Disponível em:
https://mises.org.br/article/1141/o-calculo-economico-sob-o-
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Fortaleza/ 2024.

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