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Nota: O que está escrito a vermelho dentro dos diferentes temas remete de alguma maneira

para o tema da descolonização/colonialismo

“O continente africano é o mais flagelado pelos ventos da história”


Conferência de Berlim [1884]

▪ A brutalidade de um continente decidir o


destino de outro
▪ Regulamentar a ocupação e a liberdade
do comércio no continente africano.
▪ Direito de Ocupação Efetiva – as
potências coloniais empreenderam
conquistas e subjugações em massa
destes territórios através de ação militar e
de envio de populações

Dois territórios independentes – 1. Etiópia e 2. Libéria

▪ 1. Sistema de língua e escrita próprios totalmente desenvolvidos – essencial à manutenção da


independência.
▪ 2. Colonizada por escravos libertos dos EUA
o Hierarquia entre os escravos emigrantes (mais alto) e a população nativa
o Processo de Recuperação Cultural simbólico porque as pessoas que voltavam não
possuíam conhecimento vasto da sua cultura, nem sabiam de que territórios
provinham.

Genocídio dos herero e Nama

▪ Considerado o primeiro genocídio do século XX, interpretado como uma primeira experiência da
parte da Alemanha [inclusive campos de concentração]
▪ Reparações só foram dadas em 2021.

WW2

▪ África como Palco dos interesses de outros continentes.


▪ Meados dos anos 50 – Descolonização – Princípio da Autodeterminação – 1945 - clima anti-
colonial a nível mundial
o 1960: o ano africano - 17 colónias alcançam a independência, sobretudo da França
o 60’s - A grande maioria dos países africanos torna-se independente

Portugal

▪ Salazar: Para Angola Rapidamente e em força” – não considerou qualquer meio de ação pacífico
– considerava os angolanos rebeldes e terroristas.
▪ Não podemos partir da ideia de que os monárquicos eram mais colonialistas do que os
republicanos, a ideia do império e da grandeza de Portugal existia e era perseguida pelos dois
grupos.
▪ Têm havido programas na área do pré-escolar nos PALOP, que são por vezes problemáticos
devido à imposição do português como língua.

Identidade dos Africanos


▪ Preponderância da identidade étnica sobre a identidade nacional
o A identidade nacional é produto do colonialismo. O estado nação é produto das
lutas pela independência logo ainda não tem uma tradução nas pessoas.
▪ Consequência – guerras étnicas no pós-independência.
▪ While national identities worked for the liberation struggle, they often
depended on supressing ethnic and gender differences. Similarly,
religious beliefs will be constructed more around their ethnic groups”
(Dube, 128, 2012)

Estatísticas:
Esperança Média de Vida
▪ 1800 - Países estavam em mais pé de igualdade na baixa expectativa de vida
✓ Progressão Desigual - Fatores: sistema de saúde, especialmente zonas rurais onde
doenças banais matam
Índice de Desenvolvimento Humano – Aula da Raja Litwinoff
Nota: Desenvolvimento é um conceito discutível

▪ Mede riqueza, alfabetização, educação, expectativa de vida, natalidade


▪ Panorama Geral exclui a vida e perspetiva individual de cada habitante.
o Seria interessante observar, por exemplo, o índice de felicidade dos povos. – As
pessoas têm os seus laços, projetos, quotidiano, seria precipitado avaliar o grau de
satisfação que cada um tem com a sua vida pessoal. Quando todo o meio que me
rodeia é pobre, eu poderei sofrer menos com a pobreza do que numa situação de
pobreza industrial em que o contraste com a riqueza está presente.
▪ A riqueza é uma medida comparativa, só podemos ser ricos em relação a outra pessoa – e os
países industrializados recusam-se admitir que a maioria do mundo adotou um regime
económico que beneficia de manter os países pobres, pobres – Neocolonialismo.
▪ Economistas africanos avaliam a vida por estas estatísticas – internalização de ideias
redutoras problemáticas - africanos pobres, incapazes.
▪ Os percursos possíveis de vida variam consoante o contexto, contudo, fora dele, somos todos
iguais, e devemos ver o mundo através dos olhos pós-coloniais, não nos reger por estatísticas
e crer que certas vidas valem mais que outras.

Conceito de Desenvolvimento- logica de continuação colonial


▪ Reflexão Filosófica e política
o Quem define o que é desenvolvimento? Quem determina índices? Como se
sentem as populações a ser avaliados por índices que só remetem para uma noção
de desenvolvimento?
o O Desenvolvimento decorre de uma progressão/evolução natural, ou pode ser
recusado
▪ Ilustrações de Desenvolvimento – Duas mãos, dois continentes, iguais, ligados.
o Não há uma perceção de cooperação, mas sim de ajuda – O Norte a ajudar o Sul
o O desenvolvimento de metade do mundo está associado ao subdesenvolvimento
da outra metade.
o Sociólogos africanos têm pedido para os deixarem a eles descobrir outras vias,
resolver as suas dependências. – Não impor regimes económicos alheios à sua
realidade
▪ Grandes empresas mandam nas culturas agrícolas – ocupam os terrenos, impõe técnicas
– as organizações de desenvolvimento mundial têm de se posicionar do lado do povo que
protege a sua cultura - as suas propostas muitas vezes cortam modos de desenvolvimento
naturais.
▪ As populações dos países em guerra fazem manifestações para que as forças
internacionais de ajuda saiam – As próprias populações estão fartas de não serem
protegidas nem ajudadas financeiramente [apenas 50% do investimento chega a áfrica]
▪ Situação atual – criação de cidades hiperdesenvolvidas e modernas – enquanto as aldeias
circundantes permanecem iguais.
▪ É preciso uma ajuda financeira que seja aplicada em mudanças estruturais e não pontuais, bem
como retirar barreiras. Ex: Cebolas do Mali. Subsídio em troca de entrada dos produtos no
mercado. Produtos nativos não conseguem competir em preço com o produto importado.
▪ ninguém no Norte quer fazer algo para ajudar a outra metade se tiver de prescindir do seu luxo,
facilidades, privilégios.

1. Oralidade
A escrita nunca irá representar a naturalidade da filosofia africana
▪ A oralidade não existe apenas na literatura africana, a literatura oral existe em todas as
culturas. Contudo, mantém nesta maior preponderância.
▪ A Europa fez um esforço para preservar o seu património material e imaterial na escrita.
Para as sociedades africanas, a oralidade é um modo de sobrevivência porque é fonte de
conhecimento filosófico e social.
▪ Filosofia africana: Oralidade + Literatura + Religião
o Oralidade – não se reduz à vocalidade - associação da palavra dita ao gesto –
▪ “envolves performance which includes interaction with an audience
through dance, movement and gest”
o Literatura Oral – ausência do conceito de autoria e plágio – é produto do povo,
da comunidade.
▪ “To reach its full actualization, [oral literature] must be performed]
▪ Circula na memória – persistência, antiguidade [impossível de localizar
os relatos]
▪ Moralização, construção do ser –juízos de valor – entender o significado
de tudo, – permite aos indivíduos reapropriarem-se da totalidade da
existência humana.
▪ Não obstante a perda da vitalidade do meio [atualmente a oralidade não
é um produto de todo o território africano, há territórios urbanizados
onde a escrita é totalmente favorecida] grande parte do conhecimento
que as sociedades africanas têm ainda deriva da literatura oral
▪ A literatura tradicional e oral angolana desempenha uma função social,
e com finalidades educativas, recreativas e filosóficas.
▪ Manutenção da Tradição - transmissão, ensino, de valores morais, artísticos, sociais,
culturais – meio pelo qual as pessoas adquirem informações sobre si própria/
identidade.
o The ethics and values of relationships are taught and maintained through role
models, proverbs, myths, taboos, laws, songs, ceremonies and rituals
▪ Criação de espaços de convívio
Aumento da relevância da escrita através da imposição de línguas europeias em africa – em termos
geracionais – leva a uma perca da herança material e imaterial.
Provérbios
▪ “in oral cultures without a written legal code, proverbs serve as the repository of the
cultural norms, ethical framework and legal wisdom of African societies.”
▪ “we can consider African proverbs as sacred texts in praxis”
▪ “Among the Ibo the art of conversation is regarded very highly and proverbs are the palm-
oil with which words are eaten” – Things Fall Apart

Oralidade nas religiões africanas


▪ “African religion is not only oral in its orientation: it is essentially performative and
communal”
▪ “Religion is embedded and pervasive in a way that it no longer is in the west after the
Enlightenment (…) In other words, religion is not a separate category, but is found
diffused through the songs, narratives, proverbs, riddles”
▪ Dificuldade no seu estudo - Não há escrituras - a religião está escrita nas mentes, história
oral, rituais e personagens religiosos. (padres, fazedores de chuva). Necessário
estudar não só as crenças relativas a Deus e aos espíritos, mas também a viagem religiosa
do individuo desde antes do nascimento até depois da morte física, e as pessoas
responsáveis por rituais e cerimónias formais.
o Há outros elementos que não as escrituras
▪ Esculturas
▪ Locais sagrados [“oral performances are located in particular places at
particular times”]. As canções carregam o aspeto religioso oral destes
locais.
▪ Música e Dança – “praise songs to the living and to the living dead”
• Oral performances are directly linked to the maintenance of the
ancestor’s presence through the continuity of physical
reproduction”
Durante o Colonialismo
▪ “Textuality was a distinguishing factor between western missionaries and colonialists
and many local African peoples. Usurpation of control over land was often based on the
local African ruler’s misunderstanding of the written contract”
▪ “This disdain for orality (…) led them to neglect oral resources in African societies that
could have helped them to appreciate the cultural wealth of the indigenous peoples. Oral
performances and rituals dismissed as indices of the backwardness of the natives in the
march from dark past toward civilization.
Descolonização de Mentes
▪ “Avoid the kind of western romanticization of African oral religion – with its implicit
evolutionist overtones, as possessing some kind of lost primal innocence. […] The “great
divide” between oral and literal cultures […] cannot be sustained] African cultures have
interacted with the literate cultures of the Mediterranean, as well as those of the near
and far east for thousands of years”
Excertos do “Things Fall Apart”
▪ “The land of the living was not far removed from the domain of his ancestors. There was
coming and going between them”
▪ “A man’s life from birth to death was a series of transition rites which brought him
nearer and nearer to his ancestors”
▪ Relativamente à música “[The drum’s] sound was no longer a separate thing from the
living village. It was like the pulsation of its heart”.
2. Religião
2.1 Cristianismo em África
História
▪ África Subsariana dominada pelo Cristianismo
▪ O Cristianismo chega à África antes do colonialismo
mediante o contacto com o Egipto, séc. II [tornou-se
depois minoritário no Norte de África].
▪ Chegada também através de exploradores,
missionários.
o Estratégia: Conversão de Reis Africanos –
ligação entre política e religião
(conversações entre os reinos)
o As religiões são impostas por razões
estratégicas.
o Ex: Quando o Rei Ezana declara
Cristianismo a religião oficial da Etiópia,
reescreve o mito fundacional para ter
origem no Antigo Testamento.
o Colonialismo – Imposição do Cristianismo

Era das AIC’s “African Initiated Churches” – 1960-1990’s.


Características
▪ Inspiradas em igrejas pentecostais – importância de profetas carismáticos
▪ Fundadas em África, por africanos, sem influência de missionários
▪ Resistência contra o cristianismo missionário colonial – cortar laços coloniais com igrejas
oficiais europeias sem perder a religião que já tinha sido difundida.
o Interpretam o cristianismo em interligação com a cosmovisão espiritual africana
▪ Presença do Espírito Santo em África (rituais de cura e de exorcismo)
▪ Articulam/ promovem determinados posicionamentos políticos:
o Lutam contra ditaduras (Engelbert Mveng e Jean-Marc nos Camarões
o Contra o Apartheid (Desmond Tutu, Allan Boesak e Manas Buthelexi na A. Do
sul)
o Contra o sistema patriarcal e HIV/AIDS (Musa Dube em Botsuana)
▪ -espíritos falam através dos mesmos
o A natureza destas igrejas adequa-se à espiritualidade ampla das religiões
africanas (possibilidade de comunicação com espíritos passados, com a natureza,
com locais)
▪ explica no mapa a mistura entre indigenous beliefs and christianity
▪ Muitos africanos praticam o cristianismo e a religião local africana –
vivem as duas culturas sem contradições.
▪ The praise poem for ancestors has been taken up extensively in AIG’s both in
honouring god and appropriating and re-composing the Bible in Oral performance”
▪ Dominance of women leadership – (Dube, 136, 2012)
Exemplos:
▪ Redeemed Christian Church of God
o Igreja expansionista
o Igreja pentecostal (importância do espírito santo, igreja carismática.
o Holy Ghost Service
o Um negócio, há um fundador que a gere como uma empresa – empreende
outras funções para além da religiosa (constrói infantários, provém serviços
sociais).
▪ As AIC muitas vezes preenchem lacunas do estado
Análise imagem - 13 de Maio em Fátima face à igreja gigante na Nigéria
▪ A massa de pessoas cristãs será provavelmente mais silenciosa e exteriorizará uma
menor exaltação
o Solenidade do catolicismo vs exaltação e fervor das igrejas pentecostais
o Penitência e sofrimento do cristianismo foi adequado à oralidade e fervor das
AIC’s.

2.1 Religiões Indígenas Africanas


Características:
▪ Não Têm:
o Textos Sagrados
o Imagens de Deidades
o Tendências Missionárias
o Templos Heróis Fundadores
o Oralidade
▪ Resistem à construção de Igrejas
▪ Antepassados são intermediários entre os vivos e as divindades
▪ “Ancestors as mediators between humanity and the High God (…) the reality of the
dead-among-the-living attracts so much religious devotion that in many African
societies the ancestors occupy more devotional attention than God/Supreme being”
Religião, Cultura e comunidade
▪ Não há uma divisão entre o secular e o sagrado
o “There are no choices about deciding to believe or not believe. There is just life, creation, people,
and the Living Dead (Ancestors); and God/Deity is in all of them all the time. One is born into
African Indigenous Religions by being born into African communities. The divine is everywhere
and in everything.
▪ O termo religião não existe como no ocidente. Trata-se de sistemas de convivência dos
vivos e mortos vivos. – “The Term African Indigenous Religions is, therefore, best
understood as a category imposed from the outsider” (Dube, 129, 2012)

o Community in creation, the Living Dead, and God


▪ The scriptures and ethics of living are found within community values and cultures.
▪ The community is the body of the divine [Things Fall Apart – num sentido literal pelos
egwugwu]
Estudos das religiões Indígenas
▪ Impregnados pela antropologia colonial, eurocêntrica – preconceitos racistas – objetivo
de comprovar a superioridade europeia
▪ Muitos africanos foram educados pelos padrões ocidentais.
▪ O cristianismo é erroneamente interpretado como uma forma de libertação das mulheres
das tradições africanas opressivas.
o O colonialismo reforçou estruturas patriarcais e agora quer ser interpretado como
libertador.

Pós-colonialismo
▪ Cruzamento das religiões africanas com aquelas que já existiam.
▪ Antes do processo do colonialismo, a religião, o seu conceito, já existia em africa nos
seus primórdios, já se manifestava através da palavra falada.
o as religiões africanas continuam a operar no modo oral, apesar da introdução da
alfabetização e das formas missionárias do cristianismo e do islamismo. [Pág.
99]
▪ Apesar da forma escrita ter invadido as práticas religiosas africanas, assistimos a um
hibridismo religioso africano- elementos tradicionais e europeus ocidentais.
▪ Os cristãos africanos são frutos de uma miscigenação religiosa.
o “in African Christianity, the combination of music and movement in oral
religious performance makes revival and experience of the Spirit”
▪ “The continued function of oral tradition does not depend on ignorance of writing, and
it does not die out with the transcription of oral tradition”.
▪ “Even when African Christians sit with printed bibles on their laps today, their
interaction in sermon song, dance and testimony is oral”. [In the New AIG’s, with their
emphasis on inspired prophets and prophecy, orally composed prophecies (…) may be
written down, re-performed and incorporated in new texts” – religião fluida, muda
impercetivelmente.
▪ “Oral traditions found continuity particularly in the AIG’S that broke away from
missionary control in the late 19th and early 20th centuries”
▪ “These oral performaces of creation and control over sacred space must be understood
as ritual reversal of displacement in the context of apartheid and colonialism. Oral
performance becomes ritual of land acquisition through a filial bond with the spiritual
guardians of the land – the ancestral spirits.”
Excertos do “Things Fall Apart”
▪ Cap.1 “(…) prayed to their ancestors for life and health and for protections against their
enemies”
▪ “Okonkwo kept the wooden symbols of his personal god and his ancestral spirits”
▪ “We live in peace with our fellows to honour our great goddess of the earth” (Deusa Ani)
2.3 Islão em África
História
▪ Chega o mais tarde ao norte de África que o Cristianismo, mas é lá que se concentra e
cementa. (Egito torna-se islâmico em 641)
▪ Missão expansionista (tal como o cristianismo e ao contrário das religiões africanas, que
não são missionárias)
▪ Dominância do árabe, introduzido pelo islão, como língua no Norte de África (apesar de
as línguas autóctones continuarem a existir)
▪ Conversões de reis, e por vezes, novas reconversões ao cristianismo (por razões políticos)
▪ Divisão entre sunitas e xiitas
o Pequenas diferenças religiosas: lutas motivadas mais por motivos políticos do
que religiosos.
▪ Atualmente, no Norte, o Islão é muito dominante e as religiões nativas não têm tanta
força, enquanto em países mais centrais, como Nigéria, há uma mistura entre os dois
▪ “Islam also spread because of the nature of African Traditional Religion’s non-mission
orientation which allows multiplicity of religions” “The simples and generous gesture
expressed by Africans towards others in offering unlimited hospitality to strangers was
abused and taken advantage of: foreigners enforced their beliefs upon Africans and
considered Africans’ simplicity as a sign of weakness”
Características/Atratividade
▪ Regras simples
▪ Conjunto claro de valores morais
▪ Sentido de justiça
▪ Tradição mística
▪ Aceita a poligamia – compatível com a cultura africana.
▪ “Islam is an indigenous religion in Africa and observers think it has good prospects there.
First, its practices are conducive to the social and family life of Africans, who do not feel
alienated from their community when they become muslims.” – grain of salt
Educação:
▪ Escolas islâmicas: tradicionalmente só ensinavam conteúdos religiosos
▪ Desvantagem durante o colonialismo – não preparavam as populações para uma
profissão. Consequentemente, a maioria dos cargos políticos são exercidos por cristão,
pela formação formal
▪ “Muslims became second class citizens and were jobless when foreign European
languages became the lingua Franca in many African countries”
▪ “The idea that Africans blindly follow Islam without education and that the majority do
not knoe about islam or that they are illiterate has no basis at all. Unfortunately, some
people do think that one who cannot speak any of the European languages is an illiterate”
Exemplo de Islamização: Fulas/Fulânis
▪ Grande grupo étnico, islamizado entre finais do século XVII e inicio do XIX.
▪ Várias guerras locais, jihads, organizadas por pequenos estados dos fulas. – contra
cristãos e outros grupos etnolinguísticos
▪ Aprox. 40 milhoes de pessoas (crescimento rápido)
▪ Praticam a endogamia - Enlace matrimonial entre pessoas que pertencem ao mesmo
grupo familiar, social, étnico, religioso
▪ Atualidade: Conflitos no Norte da Nigéria entre fulas (muçulmanos e etnias cristãs).
Massacre de Ogossagou.
A posição das mulheres no Islão
✓ Na arábia pré-islâmica: invisíveis, pessoas de segunda categoria, sem acesso a posições
publicas, sem direito à herança
✓ Maomé melhorou a posição das mulheres, no entanto, as mulheres foram perdendo os
seus direitos e ficaram sem acesso à educação formal
✓ Imposição de um sistema patriarcal.
✓ Notar que em todos estes países há movimentos e ativistas pelos direitos das mulheres,
só que ainda não estão no mesmo ponto que estão em Portugal, por exemplo.
✓ “In Africa, even among non muslims, women are the backbone of the community in
farming, control and management of the markets and domestic trading, yet little credit is
given to them by the patriarchy of African society. Both men and women were taught
basic knowledge about Islam, yet only men received advanced knowledge”

Nota: A intenção não é diabolizar os muçulmanos e glorificar os cristãos. Mas nos tempos de hoje
o islão é abusado, ele não apregoa a guerra e, no entanto, usam no em nome dela. Apesar de ser
impossível não referir o fundamentalismo:
▪ Há várias formas de ser muçulmano [single story]
▪ A história do Cristianismo em África também é violenta – apenas não há grupos
terroristas atuais.
▪ Há momentos históricos em que uma religião parece mais agressiva que outra, contudo
estamos perante duas religiões missionárias que pretendem levar a sua religião a
diferentes povos, e esta missão nem sempre é pacifica.
3. Relação das culturas africanas com o meio ambiente

Primeiro, “Dispose of the rather incoherent supposition that Africa constitutes one environment,
natural or otherwise”
Antropoceno – [period of time during which human activities have impacted the environment
enough to constitute a distinct geological change] – cientistas defendem que já não nos encontramos
no holoceno

Caso do Continente Africano


▪ The environmental crisis is immediate and threatens life […] concretely in particular and
local communities in Africa]. – mulheres e crianças especialmente
▪ - Os problemas ambientais mundiais atingem maior gravidade no continente africano
devido a contingências decorrentes dos regimes económicos e políticos
o Setores ambientais mal geridos. Ex: projetos de preservação de bosques são
preteridos em favor de outros interesses; plantação holandesa Raja.
o Menos meios para reagir aos problemas ambientais - colonialismo e presença de
regimes curtos e ditatoriais.
o Menos capacidades adaptativas – tecnologia, instituições e recursos financeiros.
o O Ocidente, que causou o Antropoceno, possui as infraestruturas para reagir e
ser menos afetado pelas alterações climáticas
Setores ambientais mal geridos:
▪ Falta de água potável
▪ Lixo e poluição – Nota: Lixo reciclado por mão de obra má paga e por crianças.
▪ Desflorestação
▪ Desertificação
▪ Secas
▪ Inundações
▪ Perda da biodiversidade
▪ Urbanização rápida, não planeada, falta de saneamento.
As atitudes africanas de respeito e proteção de algumas partes da natureza fazem uma modesta
contribuição para a busca de formas de mitigar aspetos da crise ecológica.

Filosofia Africana e oAmbiente


▪ O homem africano reconhece-se como parte integrante do meio ambiente
▪ Estabelece relação com a natureza através de rituais.
▪ O Homem é parte total da unidade da natureza e do cosmos. - A vida é a colaboração do
homem com todas as forças da natureza
▪ Reconciliando-se com a natureza, reconcilia-se consigo mesmo, com a sua história,
antepassados, linhagem, comunidade.
Esta perceção aplicava-se à maioria das culturas mundiais na fase pré-industrial. Contudo, a
cultura africana mantém uma ligação espiritual com a natureza, baseiam-se nela, porventura por
motivos religiosos, ao contrário da religião cristã.
Ecologia Africana
▪ Muitas práticas ecológicas africanas decorrem da perceção da natureza como algo
sagrado, inviolável. Ex: Sacred Forests in Africa capture Carbon and keep soil healthy
o A natureza é habitada por espíritos e indissociável da história da comunidade,
tradição oral, mitos que determinam a comunidade e os lugares-santos.
▪ “Some trees belong to lineages and sublineages of their first cultivators. This means that
respect for the trees entails respect for the way in which the village is organized”
▪ Respeito recíproco, complementaridade – equilíbrio entre Homem e Universo - a natureza
tem o direito de ser cuidada pelo ser humano e este pode retirar dela as suas necessidades.
Quando ela não está saudável, ele também não, até mesmo a um nível de alimentação.
o Médiuns espirituais e outras autoridades da aldeia serviam para “policiar” e
monitorar o uso dos recursos naturais. ““At the heart of the prohibition to cut down
precious trees was a religious view of the world in which the requirements and expectations of
ancestral spirits were decisive”
o A propriedade comunitária de árvores preciosas e outros recursos naturais é
efetuada através da mediação de espíritos “[certain trees] are sacred because
they are inhabited byt he spirits. As such they do not belong to any one person
but to the whole community”
o A ideia de propriedade é muito capitalista e ocidental – uma árvore por estar no
terreno de alguém não pertence ao proprietário
2. Outro exemplo para a preservação de árvores indígenas é “trees stand as symbols of indigenous
resistance to state agricultural policies that encouraged their felling” – Pág. 246”
Não se privilegia o científico (ocidental) – rituais têm efeitos sociais, espirituais.
▪ Rituais de Chuva
o Ritual chamada dos espíritos ancestrais, pedido de intervenção a favor da terra,
dos animais, e das pessoas.
o Significado imediato – acabar com as secas. Mais alargado: ritual de purificação
social, cura de relacionamentos rompidos, reparação da natureza profanada.
o O ritual não tem efeito? Coesão, alívio da angústia, dor, conforto – laço mais
forte de solidariedade. – o povo que faz o ritual sente que reparou os laços com a
natureza.

▪ Bosques Sagrados
o “Spiritual ecology, natural ecology, social or human ecology.
o Locais de realização de rituais
▪ Cerimónias de iniciação
▪ Circuncisão feminina e masculina
o Repósitos de Medicina Tradicional
o Os bosques são de todos - proteger e usufruir dessa riqueza de uma forma
adequada, sem abusos.
o Ecologia – sumidouros de carbono, biodiversidade.
▪ O acesso ao divino requer lugares especialmente marcados. A razão pela qual os locais
montanhosos e altos são utilizados para suscitarem uma sensação de proximidade de
Deus.
▪ “Symbolic significance as places where ancestral spirits reside to being, on the other
hand, sites of in situ conservation as well as being sources of food and medicine”
Medicina Tradicional
▪ Uso de arvores sagradas - conversar com a arvore, pedir autorização ao seu espírito
para usar a madeira.
▪ A recuperação médica não tem só a ver com razões químicas e biológicas, por isso
elas usam os curandeiros e os médicos mais convencionais.
▪ “In most rural communities throughout africa, traditional folk medicine remains a
primary source of health care as most modern medical services are innacessible”
Soluções para a Crise do Ambiente decorrentes da “Philosophy of the environment
Africana”
▪ “This philosophy is rooted in an open and collaborative spirit in which the ecological
insights and practices of the other are seen and accepted as important contributions for
saving the earth”
▪ A noção de urgência ambiental que vemos agora na crise mundial é já muito comum
praticas religiosas africanas. Ex: ritual de chuva só é realizado em situações de urgência
▪ “The anthropocentric paradigms around which African conceptions of reality revolve
are of strategic importance for understanding the approaches to the environment” –
“connections between peoples and the national surroundings which provide the context
for livelihoods”
▪ “The logic of this connection between community participation and and sustainability is
consistent with African understandings of the dialectical relationship between nature and
humans and the United Nations recognition that humans are central to both the creation
and the resolution of your environmental crises and privations”

Contacto entre Culturas


▪ In a Post- Enlightenment world [commonly alleged to be secular] – in which
environmental policies are defined by scientists, the sacred will be dismissed as a
supersticious relic”. – contudo se o entendermos como de um valor que transcende
as decisões humanas, e neste caso, que determina as relações, a filosofia ecologica
Africana apresenta-se como uma solução.
“An authentic individual human being is part of a larger and more significant relational, communal,
societal, environmental, and spiritual world. I am what I am because of who we all are. My humanity is
bound up in yours.

4. Ubuntu
Etimologia
▪ Raiz: “-ntu” - pessoa
Prefixo para substantivos abstratos: bu-
▪ Personhood, humanness: bu-ntu
▪ Humanidade, humanismo, caridade
Definição Geral:

• Conceito Pan-Africano – considerado uma verdade Universal e essencial ao ser humano


o [the relevance of ubuntu as a universal African conception of life should not be
blurred in unstated attempts to sacrifice a continental ideal for some form of ethnic
philosophy]
o “despite Africa's cultural diversity, threads of underlying affinity do run through the
beliefs, customs, value systems, and sociopolitical institutions and practices of the
various African societies.”
• Forma de pensar e estar, especialmente em comunidade, humanidade para com o outro.
• Sistema de Valores que rege comunidades africanas:
o Respeito por: todos os seres humanos dignidade humana, vida
o Partilha coletiva;
o Obediência;
o Solidariedade;
o Hospitalidade; [mostrar boa disposição]
o Humildade;
o Interdependência [entre o individuo e o grupo]
o Comunalismo;
Transmissão

• “proverbs constitute one of the media through which the virtues of ubuntu were
transferred from one generation to another” – [conectar Oralidade]
• transmitted from one generation to another by means of oral genres
• not innate but are rather acquired in society
1. Comunalismo/comunitarismo
▪ Valor que circula nas sociedades africanas, ainda que nem sempre seja respeitado.
o “as a result of contacts with Western cultures, communalism is perhaps not as much
practised in urban Africa as it is in rural Africa.”
▪ Interesse do individuo subordinado ao interesse do grupo
▪ Foco das atividades individuais não é o proveito próprio mas sim o melhoramento da
comunidade.
▪ Visão Comunocrática da sociedade – as capacidades do individuo são limitadas –
ninguém se basta a si próprio.
o nobody is an isolated individual (…) he is several people's relative and several
people's contemporary (…) this is the basis of his sense of moral responsibility and
social obligation”.
o “communalism is a strong and binding network of relationships”
▪ O bem-estar do grupo determina o bem-estar do individuo.
o Ex: Crianças estão sob a autoridade de toda a comunidade de adultos
▪ Tratamento por irmãos – perda de relevância do núcleo familiar imediato
como elemento estruturante da sociedade.
• members of a household are bound for life in cycles of expectations
and obligations to each other and to their extended families,
friends, tribes, and clans.
▪ Responsabilidade para com grupo, família – emigrantes enviam dinheiro
à família alargada.
▪ Falta de sistemas de segurança social/reforma, mas o sustento dos idosos
é assegurado pelos mais novos.
▪ “Colhido por um, comido por muitos”
2. Interdependência
▪ O grupo só prospera se cada individuo contribuir para o seu bem-estar – o individuo colhe
identidade e segurança do grupo.
▪ “an individual owes his or her existence to the existence of others.” – um ser humano
aprende a ser humano com os outros.
Viés Negativo

▪ “Vai-te embora quando todos forem. Se ficares, ficarás para sempre.”


▪ Sensação de prisão e abandono
▪ Limitativo em casos concretos
▪ restrições sociais, culturais e uma certa letargia/ falta de investimento pessoal.
▪ does not necessarily imply negation of individualism – só exprime as suas limitações
▪ Idealização - ubuntu (i.e. humanism) is an ideal whose virtues are perhaps too numerous and of too
high a standard for any human being or community, whether in Africa or in the West – entender mais
como um principio estruturante e guia – não absoluto.

Prioridades diferentes
▪ Individualismo das sociedades ocidentais.
o Apesar de muitos valores do Ubuntu serem comuns à matriz cristã, no ocidente,
há nele um ritmo de vida mais rápido, uma noção de que os outros nos fazem
perder tempo.
▪ High Context [interdependência e comunalismo] (África, Ásia)
▪ Low Context cultures [independência e individualismo] (EUA, Europa) - relevância do
contexto social - relationships (…) are looser and less binding
▪ Um comportamento erróneo ou correto na nossa sociedade de matriz cristão responde
valores diferentes dos das comunidades africanas. Ex: paciência, sociabilidade, lealdade
▪ Importância de troca de experiência – caso contrário, fonte de incompreensão. Ex: lar de
idosos
▪ “Altogether, emotional and hierarchical human relations seem to me to be the norm in
this society, as opposed to today, when the general pattern seems to be on one hand
unemotional and hierarchical (for the relations of production) and on the other hand
emotional and egalitarian (at least as an ideal) for the relations of production. [Posição da
mulher]
▪ Caso da África do Sul: - “a society where ubuntu has been eroded as a result of apartheid, what is needed,
is revival rather than commercialization of the virtues of ubuntu”
5. A adivinhação
Informações Gerais:

✓ Interpretações de algo que realizar-se-á no futuro: Profecias, palpites, previsões,


pressentimentos.
✓ Têm por base fé/religiosidade – impossível de assegurar a veracidade das previsões
✓ Não são exclusivas a África.
Funções:

▪ Tal como os rituais da chuva – irracional para o ocidente – relevante em termos sociais e
espirituais.
▪ Curar doenças espirituais: distúrbios, problemas psicológicos, vícios
▪ Resolução de problemas sociais ou ambientais, de acordo com as crenças da
comunidade. [Agricultura, desastres naturais, riqueza ou pobreza de uma família, questões sociais]
▪ “Side by side to the recent neo-pentecostal devotion to the revelations of the Holy Spirit, divination […] helps
people, exposed to overwhelming alterity or otherness to articulate their search towards reinforcing their identity
and sense of security and fulfilment. Subjects experience alteriry as all the more unsettling when they are exposed
to alien civilizations and new techniques (of production, healing iniciation), which may add to existence’s
fundamental indeterminacy). [Religião]

Processo/ Crenças:

▪ Mensageiros [xamãs, curandeiros] realizam o ritual.


o Poder conferido por espíritos ou antepassados
o Ponto de ligação entre divino e terrestre
o Predestinação - Dom manifesta-se por perturbações psicológicas – mas passam
por um “ardous process of initiation”
o Diviners […] are perceived by their communities as mediums of spiritual forces
[who] dawn through their repeatable dramatic force-effects on the diviner’s body
and senses, dreams and state of trance.
▪ Oralidade
o Verbalizações dos adivinhos organizam o mundo – mecanismos que comandam
as relações – hierarquia do sagrado e profano
o Divination is a process involving complex – bodily, affect laden, sensory,
mediumnic, artistic – folds and skills of human consciouness
Adivinhação como expressão/consequência da filosofia africana:

▪ [it] embraces some unguessed fate in the transgenerational and interworld connectivity
▪ Divination […] rests on the widely shared assumption of an inter-connectedness between
worlds”
▪ […] in today’s context of intrusive inter-civilizational contact, ancestors and deities do
remain part of people’s existence. Ancestors and spirits form the horizon of the subject’s
experience of, and meaning-making, regarding insisting dreams, possession, affliction.
▪ […]an otherwise unnatainable but authoritative, culture-specific comprehending of
some Transworld inter-subjective and inter-corporeal design or propensity regarding
both life-threatening illness , misfortune, adversity or existencial uncertainty, and the
concerned subject’s resistance, redress or recovery.
Descolonização de Mentes:

• “Prejudicial denigration of divination in the 20th century was the work of reformist
modernity in the west and its colonial mind set. […] divination has been ethnocentrically
characterized as an animistic system of beliefs and irrational search of meaning being
deeply, albeit mistakenly, entrenched in some collective imaginary of vindictive spirits,
ancestors.
• These practitioners forcefully invite us to rethink our western-centric and by definition
limited and biassing modes of understanding energy and matter, reality and
representation (…)
• [divination] remains in the margins of public attention in today’s neo-colonial contexts
of identity struggle and materialist objectives. [it] it can hardly flourish in lifeworlds
predominanly geared towards objectification, measurement, radical individualism, and
hedonist consumerism.
Diferentes métodos:
▪ África Oriental - Geomância - método de adivinhação onde se atira uma mão cheia de objetos do solo, rochas ou
areia, e interpretam-se os padrões e as marcas daí resultantes. Às vezes a interpretação é combinada com a astrologia
▪ Nigéria - Ifá - é um dos oráculos africanos mais importantes e complexos. Associado a uma força espiritual, Orumila
(um orixá), a força espiritual mais alta da adivinhação. - Mitologia iorubá
▪ República dos Camarões - nggám - um caranguejo ou uma aranha é colocada sobre uma superfície com objetos e,
à medida que se movimenta, o adivinho/curandeiro interpreta as mensagens.
▪ Moçambique - Tinholo - método de adivinhação em que são lançadas búzios, ossículos e outros objetos para se
receberem mensagens do divino.

6. Estruturas da Economia Africana:


Informações Gerais:
✓ Peso populacional – ¼ da população mundial
✓ Urbanização Crescente (45%)
✓ crescimento económico superior a 5% - contudo, economias fracas
▪ Economia muito rudimentar relativamente à industrialização
▪ Historicamente associado a um imaginário de riqueza – incentivou a colonização
Economia Africana Pré-colonização

• “Os sistemas económicos tinham por base assegurar a subsistência dos indivíduos e
organizavam a produção e a circulação dos bens principalmente com base no vínculo
social. A economia estava encaixada na sociedade” – (o modo de viver e de relacionar
[família como unidade de produção] encaixava no modo de produzir] [DOC. Pág. 51 e
52]
• Agricultura como base da economia africana nos tempos pré-coloniais – geografia
complexa e diversidade de paisagens.
o Sistemas agrícolas flexíveis.
Colonialismo
1. Tráfico Transatlântico
a. Do século XVI ao fim do século XIX – a percentagem de população africana na
população mundial passou de 20% para 9%
▪ Desestruturação das sociedades e economias
▪ Distorções institucionais
▪ Estupro cultural
Pós-Independência
o Penetração económica das antigas metrópoles
o Dependência das metrópoles
o Identidade institucional com as antigas potências coloniais
o Contratos desequilibrados de exploração de recursos naturais (ex: extrativismo)
o Recolonização económica (Costa de Marfim, Senegal, Gabão)
o Má governação
▪ juízo de curto prazo, medidas com impacto imediato – não
estabeleceram fundamentos sólidos
▪ venda de recursos naturais a multinacionais que prometem transferência
de tecnologia e valorização destes recursos.
▪ Aceitam mecanismos de repartição das riquezas do subsolo desiguais.
o Independências formais foram construídas tao somente a fim de perpetuar o
controlo sobre os recursos do continente africano.
▪ Penetração chinesa do continente africano: obras de infraestrutura em troca da pilhagem
de recursos naturais e da colonização das terras: algumas obras de infraestrutura em
troca de pilhagem dos recursos naturais e da colonização de suas terras.
[desenvolvimento]
▪ As multinacionais estrangeiras, com a cumplicidade dos Estados, lançaram-se a um
açambarcamento dessas terras em antecipação às futuras necessidades de produção
agrícola em escala mundial. [desenvolvimento]
▪ Problemas
▪ Indústria
▪ Debilidade, voltada ao comércio externo
▪ Pouco diversificadas
▪ Vulnerabilidade aos preços internacionais
o Economias extrativistas – petróleo ou minérios – criam crescimento económico
mas não o distribuem À população [nem são sustentáveis a longo prazo]
o Voltadas ao comércio externo – dependente dos preços internacionais –
vulnerabilidade
o Pouco diversificadas
o Riqueza acumulada em poucas empresas e em familiares políticos que as gerem.
Discurso do Aimé Cesaire
✓ “Eu falo de economias naturais, de economias harmoniosas e viáveis, de economias
adaptadas à condição do homem indígena desorganizadas, de culturas de subsistência
destruídas, de subalimentação instalada, de desenvolvimento agrícola orientado
unicamente para benefício das metrópoles”
✓ “Eram sociedades não só pré-capitalistas, mas também anti-capitalistas. Eram sociedades
cooperativas, sociedades fraternais”
✓ “Sofreram a introdução de técnicas mal-adaptadas, as corveias, as cargas pesadas, o
trabalho forçado, a escravatura, a transplantação dos trabalhadores de uma região para a
outra, mudanças súbitas do meio biológico”

Histerese e Resiliência
▪ Histerese = grau de persistência dos efeitos de um choque (o choque do tráfico
transatlântico e do colonialismo)
Resiliência - capacidade de reagir e superar contrariedades ou situações de crise
▪ ruturas com os modelos de produção e acumulação herdados do colonialismo
▪ O encerramento de economias que não geram um desenvolvimento integrado dos países,
que criam problemas ambientais e sociais e sustentam a corrupção
▪ Gestão dos recursos naturais por instituições independentes do ciclo eleitoral e dos
regimes em curso
▪ Segurança alimentar
▪ Incrementar os investimentos em capital humano (educação, saúde) e em infraestruturas
económicas de base.
▪ Inovação tecnológica
Nota: O Título Afrotopia remete para a noção de Utopia - é necessário ter em conta estas
medidas, mesmo se o seu completo sucesso não for completamente possível

Economias africanas e o seu Substrato Cultural


O ato económico é antes de mais nada, uma relação social. O imaginário e o simbólico determinam sua
produção. Os fatores culturais influenciam, portanto, o desempenho económico.

Economia Informal

O sistema económico formal desde o pós-independência é exógeno – não resulta de produção


interna. Daí resulta a coexistência de uma economia formal e uma economia informal
Economia informal:
▪ Assegura a subsistência à maioria das populações
▪ 54,2% do PIB na África subsaariana
▪ Estruturado pela cultura dos africanos
✓ Sociedades africanas tradicionais
o Economia inserida num sistema social mais amplo – não só finalidades
económicas, mas também sociais, culturais, civilizacionais.
o Nas suas sociedades contemporâneas a ordem económica rege todas as
dimensões da existência humana. É necessário pensar o lugar a ser atribuído À
oordem económica dentro da dinâmica social africana.
A ética social das económicas das sociedades tradicionais africanas.

✓ Garantir a subsistência de todos


✓ Direito de cada membro da comunidade receber ajuda
✓ Divisão do trabalho – integração de todos os indivíduos.
✓ Economia a serviço da comunidade, bem-estar coletivo
A cultura tem um impacto sobre
o Perceções, atitudes
o Hábitos de consumo, de investimento, de poupança
o Escolhas individuais e coletivas
o A matriz cultural, modela os nossos desejos/ necessidades e quais são as
circunstâncias da sua satisfação. Ex: na nossa sociedade atual dispositivos
eletrónicos são um desejo, também necessidades para um funcionamento bem-
sucedido em comunidade.
o o pensamento económico dominante veicula uma cultura, uma visão específica
do mundo e do homem. O valor, o preço é uma construção social. Na lei da oferta
e da procura, a última traduz um desejo cultural.
o Eficiência de um sistema económico – adequação ao seu contexto cultural
Ancorar as economias africanas no seu contexto cultural – Exemplos:
▪ Iorubás – Nigéria: desperdício de alimentos entre o fim da estação seca o início da
invernada – valorização do consumo dispendioso ligado a rituais, ostentação, prestígio.
▪ Talensis – comem menos na época do maior trabalho físico nos campos.
▪ Ibgos, Nigéria: bens simbólicos (para fins religiosos) mais importantes que bens
materiais. – o preço de certos bens depende do valor que uma comunidade lhe dá
▪ Há vários regimes de cultura: elite, popular, urbana. Quais os traços estáveis?
o – Despesas de prestígio (dinheiro gasto em ostentação e acumulação de capital
simbólico);
o investimento em bens simbólicos;
o exigência da generosidade;
▪ dever de assistência – Mobilização de forças de trabalho gratuita para trabalhos de
interesse comunitário. – Senegal, Mourides
o tudo nos remete para as ideias de ubuntu.
Economia relacional [Dúvida]
✓ Precede a economia material
✓ Existe em algumas partes da África
✓ Não apenas as trocas materiais, mas também as relações interpessoais e intercomunitárias
são de grande importância.
✓ Produção e troca de relações autênticas, laços voluntários entre indivíduos e grupos
✓ Representa um valor em si mesma, não é só medida pelo lucro que gera, mas pela
intensidade e diversidade das relações humanas.
Os valores tradicionais africanos poderiam gerar uma económica bem sucedida?
✓ Quando um país do Sul tenta instalar um sistema económico diferente (não
necessariamente socialista, mas por exemplo, relacional), os países capitalistas encontram
maneira de influenciar a política desse país de modo a evitá-lo. É um jogo internacional,
os países não são realmente livres.
✓ Contudo, a uma escala pequena e particularmente no setor informal estes valores
económico-sociais verificam-se e são bem-sucedidos.
Ajustar a perspetiva de modo a haver um foque naquilo que africa pode oferecer, a nível
de estruturas económicas e sociais – e não medir o sucesso mediante o quanto ela se
consegue adaptar às práticas económicas ocidentais.
Princípios subvertidos pela económica capitalista, voltada ao lucro do individuo
▪ Solução: definir um padrão ético mínimo, compartilhado por todos e definir também os
objetivos dessa economia
▪ O privilégio do crescimento económico, surge apenas na Revolução Industrial Europeia
–imperativo para impedir o colapso das sociedades capitalistas – ditadura do sistema.
▪ Não se falava nessa época nem de crescimento económico nem de balança comercial. A
história era vista como cíclica ou trágica, com apogeus e declínios. […] O crescimento
económico como noção a guiar e refletir a evolução das sociedades é recente na história
da humanidade [a possibilidade de um progresso contínuo]
▪ The driving force behind the change from natural economy in a kinship network to a
money economy based on paid work was the colonial’s power’s desire for exploitation
and profit. A natural economy, just producing for people’s needs, cannot be exploited”

Descolonização de mentes:

• Quando se tratava de compreender os determinantes do crescimento económico dos


países africanos, perguntava-se sobre as causas de sua ausência e sobretudo de sua
diferença de nível em relação aos dos países ditos desenvolvidos.

Exemplo de sucesso: os mourides, no Senegal

▪ - confraria sufi, resistência cultural pacífica contra a colonização


▪ - valores do islão reinterpretados pelas culturas africanas
▪ - cultura do trabalho e do esforço, do engajamento, da doação de si, da obediência ao
▪ guia espiritual
▪ - mobilização de uma força de trabalho gratuita para trabalhos de interesse
▪ comunitário
▪ - sistema de transferência de fundos, evitando o sistema bancário clássico
▪ - estabelecimento de redes económicas e de solidariedade
▪ - disponibilização de capital sem custo para início de atividade económica
▪ - “exemplo de uma economia material florescente, cujo principal determinante é a
▪ economia relacional”
7. Posições sociais de mulheres nas culturas africanas
Conceitos Teóricos:
▪ Género - construção social à volta do corpo. – Varia de cultura para cultura e de época
em época.
▪ Naturalização - Consolidação de determinadas ideias/estereótipos como algo
decorrente da natureza – o que inviabiliza todos os ingredientes que são na verdade
construções sociais.
▪ Interseccionalidade – vários mecanismos de opressão ao mesmo tempo
Conceções de Género Africanas
1. Cultura iorubá pré-colonial: os termos obínrin e okúnrin vs homem e mulher – Na
língua europeia temos um binómio que privilegia o homem, duas palavras com uma
relação hierárquica entre elas - uso do masculino como a forma universal
▪ Os termos iorubá expressam uma igualdade, não uma oposição hierárquica – pessoas
que são anatomicamente homens ou mulheres têm funções diferentes de importância
igual.
2. Cultura igbo (Nigéria): identidade de género fluída – outras categorias sociais
(linhagem, senioridade)
a. As filhas de uma linhagem (umuada) e as mulheres que entram na linhagem através de casamentos (inyemedi) fazem parte de
categorias sociais diferentes. A relação social entre elas é a mesma que entre marido e mulher. As inyemedi encontram-se
subordinadas tanto aos filhos quanto às filhas da linhagem. No entanto, continuam a desempenhar a função de umuada na sua
família de origem, mudando assim entre uma e outra identidade. O termo dji, muitas vezes traduzido erroneamente como
“marido”, efetivamente designa todos os membros da família (independentemente do género), na qual uma mulher entra através
do casamento.
b. Os títulos de honra podem ser alcançados por homens e mulheres
c. Um casamento com uma mulher pode dar outra forma de apoio, não em termos
de casamento ocidental, sexual ,mas sim como um modo de organização de
sociedade.

Género – Categoria Gramatical


▪ Falta de género como categoria gramatical em muitas línguas bantu
▪ Os nomes das divindades são neutros em termos de género
▪ As divindades não são caracterizadas através de atributos que denotem um género.
▪ Na África Ocidental, algumas línguas têm género, mas mesmo assim há divindades
neutras
▪ As traduções da Bíblia para línguas africanas reinterpretaram estas divindades como
masculinas
▪ Patriarquização da religiosidade africana - necessidade de descolonização
Antepassadxs
▪ - também não têm género –
▪ Sacerdócio: - costumava ser inclusivo nos povos bantu - nas etnias nguni e shona, os
médiuns (sangoma, wosana) costumavam ser sobretudo mulheres - os homens que
atuavam como médium tinham de vestir-se e comportar-se como as mulheres
Condição da Mulher na África Pré-colonial
o Relacionamento Hierárquico entre esposo e esposa – obedecer
incondicionalmente
o Os filhos pertencem à família do homem
o morte do marido — kutchinga: ritual de purificação e casamento da mulher com
um cunhado – por um lado evita a marginalização, por outro falta de liberdade.
o Distribuição de tarefas:
▪ Mulheres: agricultura, cuidado das crianças, cozinha
▪ Homem: caça, construção de casas, decisões políticas, combatente em
guerra.
o “the dominance of women in priesthood attests that women were held to be much
closer to the divine than men”
o “Men and women were different, linked in complementary interdependence, but
not to be measured with the same rod”

Impacto do colonialismo
▪ A diferente organização das sociedades africanas mostra que o sentimento europeu de
género é cultural e não natural
▪ Os colonizadores brancos, portugueses, não tinham o hábito de dialogar com as mulheres,
ou seja, o colonialismo fez as mulheres perder o poder de liderança que possuíam nestas
culturas. - Marginalização
▪ Nas culturas africanas, o poder masculino não era claro porque o sistema de género
mudava ao longo dos tempos – sistema de género dual e flexível. O colonialismo e o
cristianismo decidiram esta luta a favor do poder masculino
▪ Muitas destas formas de organização estão a desaparecer
▪ A falta de representações imagéticas de divindades, contudo com predominância de
símbolos matriarcais nos mitos, bem como a veneração de Deusas [Deusa Ani – Things
Fall Apart]– vs Cristianismo Pai, filho e espirito Santo como entidades masculinas
▪ Mitos matriarcais vs o pecado original – cristianismo.
▪ It looks as if with modernization and promoted by political ideology and the new family
law, ideology becomes nicer to women, whereas reality becomes harsher
o Aime Cesaire – “Elas eram um facto, não tinham a mínima pretensão de ser uma
ideia” – ver página 27 do discurso
▪ A marginalização das mulheres do espaço divino através da inserção do modelo
androcentrico cristão legitimou a sua marginalização social

Feminismos Africanos
▪ Conotação negativa da palavra feminista
▪ Conceito visto como não africano
▪ Redimensionar o conceito de feminismo -. – Também liberta o homem da opressão de
um papel forte.
▪ Reconhecimento de que esta causa é também sua, e não só da agenda ocidental.
▪ Alguns temas das lutas feministas em África são contra a mutilação genital feminina, a
poligamia, o casamento prematuro

3. Poligamia

1. Casamento Africano
a. Não é considerado um assunto entre duas pessoas, mas entre duas famílias ou
comunidades alargadas. Julgar a poligamia africana a partir da perspetiva do
conceito ocidental (e recente) do amor romântico leva inevitavelmente a mal-
entendidos.
b. Muitas vezes a mulher deixa a sua família de origem e muda-se para a do homem,
processo doloroso. (virilocalidade)
2. Lobolo
a. A leitura ocidental de que se trata de uma compra da mulher e portanto da
transformação da mulher em moeda de troca é errada. O lobolo deve ser
entendido como:
i. Compensação pela perda de mão de obra
ii. Sinal da nova e intensificada relação entre os dois grupos de famílias [responsabilidade
de interajuda]
iii. Reconhecimento positivo do valor da mulher para a continuidade da família “lobolo can
be seen as a tribute to women, as a recognition of their value and importance”
b. [Contudo, muitas vezes restringe a mulher, cuja família o tem de pagar] – Ex: Things Fall Apart –
Marido que batia na mulher]

c. Pré-colonialismo

i. “Western and Christian point of view, such kinship relations are chains
and fetters, limiting the freedom of the individual person. From a
different point of view, these are the strings of a network that keeps
people alive. [Ubuntu]
ii. “Lobolo has to do with the structures of kinship: which other family
groups you are related to by marriage and how these relationships work.
d. Pós-colonialismo
i. “Modernization is that the social structure based on extended kinship
relations and intricate lobolo-debt links is broken up”
ii. “Lobolo has stopped having this ceremonial character of respect, of
indication of commitment of the young man to the girl. It has turned into
a commercial process”
iii. Nos últimos anos subiu exponencialmente de preço.

Termos importantes:
▪ Poligamia: matrimónio entre mais de duas pessoas
▪ Pologinia: um homem casa-se com mais de uma mulher
▪ Poliandria: uma mulher casa-se com mais de um homem
▪ Virilocalidade/patrilocalidade: os cônjuges e as crianças moram na aldeia de origem do
homem
▪ Uxoricalidade/matrilocalidade: os cônjuges e as crianças moram na aldeia de
▪ origem da mulher

Legislação
▪ A poligamia amplamente difundida na África, independentemente da religião, mas
embora não sempre aceite pela lei dos Estados modernos.
▪ sistema legislativo de base cristão: a poligamia não tem uma base legal
▪ Sistema legislativo de base islâmica: em alguns países, a poligamia é permitida pela lei,
seguindo a sharia
Contexto
A poligamia é mais comum em:
▪ culturas patrilineares (as crianças pertencem ao clã/ à linhagem do pai)
o menos risco de uma mulher ser infértil, mais descentendes
▪ em sociedades rurais
▪ com agricultura de subsistência e moralidade infantil elevada
o a procriação garante a sobrevivência da comunidade
Função económica da poligamia

• “Polygamy has to do with everyday life: how family life is organized, how work is
divided, how the days are spent. And basically, it has to do with production.”
• As coesposas trabalham principalmente na produção agrícola e assim criam uma base
de sobrevivência para a família

Benefícios
▪ Aumenta a probabilidade de sobrevivência de crianças
▪ Aumento da produção agrícola pela colaboração das esposas
▪ Colaboração das mulheres no cuidado das crianças
▪ Companheirismo das mulheres em caso de ausência do marido, morte de uma das
coesposas. – “levirate marriages are a way for the widow to remain a member of the
family group to which her children belong”
▪ Entreajuda entre duas famílias/comunidades alargadas
▪ Aumento do poder e da influência das famílias
Desvantagens:
▪ - relação hierárquica entre o homem e as mulheres
▪ - ciúmes
▪ - abusos
Proteção das mulheres:
▪ - o homem tem que ser próspero
▪ - direito de veto da primeira esposa, subordinação a ela
▪ - direito da primeira esposa de sugerir uma segunda esposa
▪ - o homem tem que dormir rotativamente com as mulheres, passar o mesmo tempo na
casa de cada mulher
A degradação do funcionamento tradicional da poligamia:
▪ Desvalorização colonial
o Concrete Victory for patriarchy was inaugurated by the coming of colonialism and its androcentric
Christian religion, and by education and its attempt to move the workplace from the home and to
devalue the private space as well as women’s work.”
▪ Desvalorização pós-colonial das tradições
▪ Comercialização do lobolo - aumento do “preço”
▪ Individualização do casamento
▪ Trabalho assalariado dos homens – “an alley had been open for young men to escape
kinship, hierarchy and order”
▪ Aumento do poder masculino
o With modernization extended families break up, and nuclear families little by little become the
norm: just one husband, just one wife, individualized relations. The structure of gender relations
has changed from relations of gender groups to relations between individuals. And, at the same
time, promoted by the changes introduced with paid work and greatly supported by the patriarchal
ideologies of the Chrstian missions, male dominance has increased.
▪ - “amantismo” em contextos urbanos
▪ - Extensão do lobolo para as culturas matrilineares

A par deste sistema poligâmico patrilinear, em várias regiões da África existem (ou
existiam) culturas matrilineares
Matricentralidade
▪ Centralidade das mulheres
o Na segmentação social (divisão da comunidade em unidades mais pequenas
o Classificação social (definição de estatutos sociais, transmissão de poderes e
direitos)
▪ Matrilinearidade – a maternidade é segura
o A filiação, a herança e a sucessão fazem-se pela descendência das mulheres
o A autoridade sobre as crianças é exercida pelos familiares masculinos da mãe
[imperfeito, mas a mulher continua a ter mais importância]
▪ Matrilocalidade
o Onde vive a família
o Onde ocorre o casamento
Nos povos Matrilineares/matriarcais, as mulheres são consideradas
▪ Depositárias da civilização
▪ Guardiãs dos segredos da sociedade
▪ Mães de Deuses
▪ Manifestação do princípio feinino: o Universo, a Terra =útero para a expressão da
vontade divina -Mãe África.
Grande cintura matrilinear da África Central. Contudo o fenómeno existe em outras
culturas. Ex: América Latina.
Nota: Embora as mulheres estejam no centro da organização da família e da continuação da
linhagem, inclusivamente nas culturas matrilineares os homens exercem a autoridade política nos
clãs
Mudar estruturas de subalternidade – relações de poder. Ex; apicultura no Níger, os homens, ao
contrário das mulheres não investem o dinheiro na família, logo, na comunidade.

Things Fall Apart – 1958


“ausência de uma verdadeira preocupação pela questão das mulheres nos romances históricos de
Achebe”
▪ Para Okonkwo a importância das esposas não se mede pelas suas caraterísticas
individuais e seu amor por elas, mas pela sua função nesta rede social que consiste em
aumentar o prestígio do homem ganhando títulos.
▪ No entanto, se por um lado Okonkwo respeita as regras poligâmicas tradicionais (como
a «escala conjugal»), por outro excede-se em violência. Bate nas mulheres,
▪ A sociedade patrilinear, patriarcal e poligâmica dos igbo é caraterizada neste romance
como uma comunidade que não mostra preocupação pelo sofrimento das mulheres.
▪ o patriarca lamenta repetidas vezes que a filha corajosa (Ezinma) da sua segunda mulher
não seja menino. Devido às suas ambições sociais, não consegue simplesmente amar a
filha na sua condição de mulher
▪ Neste romance, a poligamia não é posta em causa. O sistema familiar de produção e
reprodução ainda está a funcionar bem porque as estruturas socias pré-coloniais apenas
se encontram na aurora do colonialismo que levará a profundas transformações e conflitos
culturais.
▪ as mulheres igbo estavam organizadas em associações e controlavam certas esferas
da vida pública, sobretudo os cultos e oráculos, como é o caso da sacerdotisa do
oráculo da terra no romance. Mas também podiam chegar a uma posição elevada
através do comércio, da agricultura e da produção de tecidos, e, em certas zonas, mulheres
prósperas até podiam casar com outras mulheres, sendo aparentemente o critério da
prosperidade mais importante do que o critério do género. Contudo, no romance, as
mulheres estão excluídas da vida pública e política
▪ Cap. 8 – “I have heard that in some tribes a man’s children belong to his wife and her
family”
8. Colonialismo
Impacto Cultural
✓ Alienação – não se sentir identificado com o próprio corpo pois este corpo é
constantemente desclassificado como bárbaro e inferior
✓ Histerese = o grau de persistência dos efeitos de um choque (o choque do trafico
transatlantico – queda do crescimento populacional; e do colonialismo – desestruturação
de todas as instituições e economias africanas)
✓ estupro cultural” – desestruturação da cultura africana
✓ Estudiosos criticam o facto de que nos países africanos os princípios da justiça são
europeus, racionalistas, e cegos, em vez de terem em conta outras dimensões [duvida]
✓ A própria ideia de ajuda do Norte ao Sul tem um subtexto colonial. São aplicados modelos
e abordagens, e não apenas ajuda financeira para desenvolvimento.
✓ Para evitar tensões entre continentes procederam a várias mudanças - a poligamia é
exemplo disso. Mas as pessoas não abdicaram das suas tradições, a partir dos anos 90,
depois da Guerra Civil [moçambique], e fizeram com que elas permanecessem.

Impacto Económico e Político


▪ Há uma dependência de África face aos seus ex-colonizadores
o Tentativas de isolamento da dependência de influências dominantes resultaram
já várias vezes em assassinatos.
▪ A aparente pobreza está relacionada com uma falta de gestão política após a
independência, e não com uma falta de abundância de recursos naturais, dado que estes
são sistematicamente explorados pelos outros continentes.
▪ Cidade caniço vs cidade de cimento – rua areia- rua alcatrão – divisão típica das cidades
coloniais – a cidade construída pelos colonizadores e aquela onde vive a população
africana.
▪ Mudanças dificultadas por um sistema global que interfere a nível quotidiano nas
economias locais.. Ex: Mudanças no Sul costumam fracassar por bloqueios por parte do
bloco ocidental capitalista. Ex: O UK e os EUA apoiam o regime do apartheid do National
Party por ser anticomunista
▪ Dirigentes dos países do Sul colados ao poder do Norte.
▪ Distorções institucionais [Dúvida, exemplo]

✓ Termo Terceiro Mundo – já não é politicamente correto devido à posição subalterna – o


termo é nocivo a nível cultural, identitário, hierarquiza os países e os seres humanos. .

▪ As narrativas coloniais influenciam a perceção da europa como um lugar seguro das


catástrofes, pelo domínio da tecnociência.
▪ “De-othering” - O próprio “We “ é uma construção simbólico, socio-cultural materializa-
se quando estamos sobre ameaça, clima, terrorismo, guerra. It is in times like those that
the we is made into a consolidated imagined community - when homogenous narratives
and policies on migration, the war on terror and environmental catastrophes are deployed
to structure how the “We” under scrutiny Incorporates diverse political Dynamics, social,
processes and geographies from Europe, as well as those from translatic ties – responds
to a threat.
Descolonização de mentes:
The problem of stereotypes is not that they are untrue but that they are incomplete.
Colonizados
▪ Atitude linguística pejorativa contra a língua nativa, que não tem tanto prestígio ou não é
tao pratica.
▪ o colonialismo foi de tal forma profundo que os próprios colonizados se convenceram da
sua inferioridade Descolonização do ensino, e de certas praticas de guerra (ex: abuso
sexual)
Perceções dos Países Dominantes
▪ A tendência de estereotipar ocorre a todos os membros de uma sociedade face a outra
sociedade, independentemente das experiências/classe.
▪ Atender à multiplicidade de realidades – one story. – Práticas redutoras na preconceção
de determinadas culturas. Ex: Muçulmana
▪ Naturalização de Características
▪ Estes preconceitos circulam de uma forma subtil – uma única visão é utilizada para completar
algo que é muito complexo. Ex: Índices e Estatísticas usadas para avaliar a vida em África
consoante padrões ocidentais

Como o fazer?
▪ Democratização dos lugares de fala
▪ Descolonizar os estudos das religiões indígenas [Ver. Pág ]
▪ Perceber o Sul também pode oferecer- troca de experiências – melhorar choques
culturais´
o Exemplo: Abandono dos gémeos e seu resgate pelos cristãos. - Falta de
questionamento das práticas tradicionais –como o contacto entre culturas pode
quebrar essa inércia
▪ Não privilegiar noticias negativas, catástrofes em África - encontrar um equilíbrio entre
realidades positivas e negativas.
▪ Representações:
o limitação da capacidade de imaginação e identificação de uma criança através da
ausência de modelos da sua própria cor, cultura e condição social.
o Paralelos com outros grupos oprimidos – a imitação de modelos Ocidentais, por
não possuírem tradição escrita prévia, leva a que a literatura tenha de ser
reinventada para uma expressão cultural própria.
▪ Literatura latino-americana
▪ Literatura Feminista
▪ A africa ensina-nos como o que nós vivemos não é natural- há muitas formas de
organização
▪ Refletir sobre a cultura ocidental. Ex: limitações da democracia, em termos de imposição
da vontade da maioria, bem como a lentidão burocrática de funcionamento e aplicação
de medidas.
▪ “De-othering” - O “We” ocidental é uma construção simbólica, socio-cultural
o Materializa-se quando estamos sob ameaça, clima, terrorismo, guerra. Consolida-
se uma comunidade imaginária - when homogenous narratives and policies on
migration, the war on terror and environmental catastrophes are deployed to
structure how the “We”.
▪ Patriarquização da religiosidade africana - necessidade de descolonização
Things Fall Apart - imposição dos missionários - de denigrem as divindades africanas –
não há um diálogo entre iguais. A ideia da missão não é essa, é apenas espalhar a fé.
o Imposição enganosa porque realmente traz melhorias, estradas, por exemplo, mas
que começa a exacerbar-se até não deixar saída as pessoas (também se pode
interpretar assim o suicídio de Okonkwo.
o Cria necessidades e não dá capacidade de resposta

“Discurso sobre o colonialismo”, por Aimé Césaire (1955)


▪ Páginas 17-22:
▪ Cap.1
o Problema do proletariado e colonial.
o Enumeração das justificações dos colonizadores: - evangelização, filantropia,
civilização, extensão do direito – mas sim exploração.
o Valoriza o intercâmbio cultural num contexto não colonial (pág.15).
▪ Cap.2
o A colonização modifica, desciviliza o colonizador – ação ricochete
o A partir do momento que se justificam as atrocidades coloniais, opera-se uma
degradação, regressão universal na cultura opressora “ninguém coloniza impunemente,
que uma nação que coloniza, que uma civilização que justifica a colonização – portanto a força –
é já uma civilização doente, que irresistivelmente, de consequência em consequência, de negação
em negação, chama o seu Hitler”
o O nazismo foi encarado como uma barbárie sem precedentes, mas a população
europeia já tinha sido cúmplice neles no colonialismo, só se importou quando a
violência foi exercida sob o homem branco. [desconstrói o grau de argumentos
até chegar a Hitler]
o Páginas 23-29: características do colonialismo.
o Colonização = coisificação – objetificação
o Destruição do colonialismo – estupro cultural – complexo de inferioridade
o Supressão da possibilidade das culturas indígenas
o Reconhece os abusos que ocorriam nas sociedades indígenas, mas afirma que
outros piores lhe foram sobrepostos. [Como em Things Fall Apart] “A europa
colonizadora enxertou o abuso moderno na antiga injustiça, o odioso racismo
na velha desigualdade”
o Através do exemplo do Japão, prova que os progressos técnicos e materais
trazidos pelos europeias poderiam ter se dado de outro modo que não pela
ocupação europeia.
▪ Páginas 33-37: o racismo da antropologia ocidental.
o Os africanos como biologicamente subdesenvolvidos “uma verdadeira distância
– e muito grande – etnológica.; “só por em destaque os maxilares e que as
evocações que nos vêm ao espírito nos aproximam mais da floresta equatorial”
o Não só a política os inferiorizava, como também pela ciência que tentou provar
a diferença entre pessoas de outra raça. “A ideia do negro bárbaro é uma
invenção europeia”
o Noção de que o desejo não é agora, replicar a velha cultura, é superá-la, injetar
de novo vida nela, torna-la dinâmica e readapta la aos temos (explorado também
por Fanon)
▪ Páginas 45-51: Octave Mannoni e Madagáscar.
o Complexo de dependência – infantilização dos africanos “psicologicamente
formados para ser dependentes, que têm necessidade da dependência” “estes
pretos não imaginam sequer o que é a liberdade. Não a desejam, não a
reinvindicam”.
o Falam da brutalidade das culturas indígenas e falham em reconhecer a sua.
o Naturalização das características, e da nação “As bases da nação são biológica”
– o corpo “outro”, colonizado, mestiço, é entendido como uma ameaça à nação
[ver mais na secção da descolonização de mentes]
▪ Páginas 56-61: Roger Caillois perante a viragem da antropologia.
o Ideia de que só a Europa criou a ciência, só a Europa é capaz de ter um
pensamento lógico. [relacionar com a senhora da palestra refugiados] [dá alguns
exemplos de ciência com origem africana]
o Roger Caillois perceciona “A inaudita traição da etnografia ocidental que, há
algum tempo, com uma deterioração deplorável do sentido das suas
responsabilidades, se engenha a pôr em dúvida a superioridade omnilateral da
civilização ocidental sobre as civilizações exóticas”
o Hipocrisia europeia, que clama o encarnar o respeito pela dignidade humana, a
sua superioridade cientifica, moral, religiosa e no entanto mutilou as civilizações
extra-europeias. E ainda afirma que essa missão “civilizadora” constituiu um
fardo “estes têm maiores capacidades que, aliás, não lhes conferem mais direitos,
tão só mais deveres”
9. Racismo
Movimentos Negros

Características:

▪ Afirmação do vínculo indelével com a terra-mãe


▪ Denuncia da dominação cultural, da opressão colonialista
▪ Contrapõe-se à política assimilacionista das potencias europeias (ideia da maior
aceitação dos negros conforme mais se adaptem aos valores ocidentais)
▪ Liberdade criadora das pessoas negras
▪ Forte influência da teoria marxista – reinterpretação da teoria colocando os negros, ao
invés dos operários europeus, no local dos oprimidos. [se bem que não há uma
correspondência total]
▪ Solidariedade entre pessoas de cor.
▪ Orgulho na afirmação de ser negro

Movimentis:

1. Black Renaissance / Harlem Renaissance


a. Auge – 1920/30
b. Objetivo – direitos civis iguais
c. Caracterizado por uma importante expressão cultural, sobretudo na música mas
também na literatura – jazz ganha prestigio internacional
d. Literatura de consciencialização negra
Em África há uma vontade de se irmanar com este movimento, mostrar uma solidariedade entre
todas as pessoas do continente e das diásporas negras.

2. Negrismo
a. Caraíbas, sobretudo Cuba
b. Movimento contemporâneo da Black Renaissance e influenciado pela mesma
c. Guillén – muito lido em África – poesia
d. Fernanrdo Ortiz (etnólogo)
3. Négritude
a. Nasce na diáspora negra francófona – Paris, anos 30
b. Revista Présence Africaine (1947)
c. Frantz Fanon – grande pensador anti-colonial dos anos 40/50 – obras
fundamentais para os movimentos negros.
4. Panafricanismo
a. Movimento político - pode haver ideias panafricanas dentro dos movimentos
acima mencionados - não tem uma vertente cultural tao forte
b. Pós Conferência de Berlim – 1884/85
c. Objetivos – descolonização da África, união da África dividida por fronteiras
coloniais artificiais, criação de um estado africano continental
d. Marcus Garvey – ideologia segregacionista, invertida, radical [expulsão dos
brancos] – reação psicologicamente compreensível face à injustiça sofrida por
africa, contudo perde pela sua intensa agressão.
e. OUA (1963) »» União Africana (2002) – afirma promover a democracia e o
desenvolvimento económico [possivelmente não muito bem sucedida ??]
5.
Franz Fanon
Dados Biográficos:

▪ Psiquiatra, filósofo, revolucionário anti-colonialista.


▪ Os seus estudos concentram-se na psicopatologia da colonização e nas consequências
socioculturais e psiquiátricas da descolonização.
Frantz Fanon: a problematização da relação entre o racismo e a cultura

✓ Dados biográficos
o Teórico Marcante das teorias pós-coloniais
o Descendente de escravos africanos- cresceu numa família de classe média o que
lhe permitiu a continuação dos estudos
Close Reading do Texto “Racismo e Cultura” – pág. 273-285

✓ Texto inicialmente elaborado no primeiro congresso de escritores negros em Paris.


Contudo, não se tornou obsoleto, permanece relevante
Considerações da oradora:
▪ Com esta afirmação podemos dizer que a cultura de um certo grupo social humano pode ser entendida pela
maneira como este confronta a alteridade. A cultura é precisamente o processo de comunicação e encontro
entre o “eu” e o outro. O racismo é uma das mensagens possíveis que esta certa cultura transmite.

Considerações minhas:
Reflexões alargadas sobre racismo e cultura
▪ O racismo como um mero elemento de um sistema de dominação e exploração
mais alargado. Apesar de visibilidade do racismo ele não é o determinante, os sistemas
já lá esta
o “O racismo insere-se na exploração desavergonhada de um grupo de homens por outro que
chegou a um estádio de desenvolvimento técnico superior”
o “Não é possível subjugar homens sem logicamente os inferiorizar de um lado a outro”
▪ Tudo começa com uma subjugação técnica, militar, económica, a partir daí o racismo
surge como uns instrumentos, mas acima de tudo uma justificação.
o Empreendimento económico “a guerra é um negócio comercial gigantesco. A
primeira necessidade é a escravização”:
▪ Encara como absoluto. Repete várias vezes que ou há culturas com racismo ou culturas
com racismo, que todas as culturas coloniais são racistas, porque o racismo não é algo à
parte, extra, ele permeia toda a estrutura social de uma cultura que se construiu com base
na exploração de outra.
o “Numa cultura com racismo a adequação das relações económicas e da ideologia
é perfeita”
▪ 1ª Fase – Racismo Biológico – ausência de integração cortical, etc..
o Contudo, este evoluiu, sofisticou-se racismo cultural.
▪ 2ª Fase – Racismo Cultural
o Não discrimina o homem individual, mas subtilmente, uma forma de existir.
o Destruição dos valores culturais – desvalorização da linguagem, técnicas,
tradições – os valores ridicularizados, esmagados, esvaziados.
o Quando termina o estado do racismo biológico o racismo é descartado como um
estado emocional de só alguns (nesses casos até se afirma que a sociedade
progrediu, mas é ilusório) - racismo não é um sentimento natural, é uma
ferramenta de opressão
▪ “o racismo não é, pois, uma constante do espirito humano, é uma disposição inscrita
num sistema determinado”
▪ O colonialismo é um sistema de opressão e sem racismo essa opressão não é
possível
▪ Objetificação – as tradições dos oprimidos aparecem mais como características
do que como elementos iguais aos nossos – exemplo, artistas danças, nunca
características que possam rivalizar em importância.
▪ Deixa de aparecer como cultura como expressão de um eu, como subjetivo e
passa a ser inadequado, inerte, no novo contexto, torna-se quase uma marca do
oprimido, do primitivo. Em vez de ser uma cultura fecunda, como resposta à
vivencia do ser humano, torna-se como uma característica antiquada, um
símbolo, porque eles agora estão a viver de uma maneira diferente, que não é a
deles. [pós assimilação] Estes hábitos jogam contra eles.
o A cultura deixou de ser dinâmica, de estar viva.
o Exotismo – simplificação da cultura do oprimido “encontram-se
características, curiosidades, nunca uma estrutura”
▪ O homem negro torna-se um operário, por necessidades da evolução das técnicas
de produção, industrialização – daí que o racismo tenha necessidade de se
justificar – se o racismo biológico se mantivesse ele não poderia exercer funções
do homem branco.

Consequências no colonizado
▪ Num primeiro momento, tenta assimilar-se, desracializar-se. Afinal todos os seus
esquemas de referência foram liquidados.
▪ A alienação nunca é totalmente conseguida porque ele limita a evolução do oprimido,
não o deixa aceder a certas coisas, não é igual, logo não destrói completamente a sua
cultura, apenas a mutila e despreza
o Mesmo tentativas enganadoras de manter e valorizar organismos tradicionais
estão destinadas a falhar “decalcados caricaturalmente sobre instituições
outrora fecundas”
o Culpabilidade, inferioridade – autopejoração
▪ Fanon utiliza vocabulário económico para mostrar como o esquema mental do oprimido
se adequa perfeitamente á do opressor.

Após a tomada de consciência
▪ . Contudo, a opressão, a desigualdade mantém-se. “o oprimido verifica como um escândalo a
manutenção do racismo e do desprezo a seu respeito” “Os trabalhadores descobrem finalmente que a
exploração do homem, base de um sistema, toma diversos rostos”
▪ O oprimido começa a questionar a necessidade da sua assimilação
o Afigura-se inexplicável sem motivo inexato – ou seja apercebe-se que o motivo
da sua opressão certamente não estava no facto de a sua cultura ser inferior, caso
contrário teria cessado com a aculturação
▪ Quando o oprimido volta a reencontrar a sua cultura – tendência para a sobrevalorizar
devido à culpa.
o Origina uma cultura da cultura – o que ele cultiva não é um puro regresso aos
hábitos passados, é uma apologia do regresso a esses comportamentos – é uma
cultura de valorizar a sua própria cultura (tradicional), eles não tinham
necessidade originalmente de valorizar o que faziam.
o Paradoxo entre o desenvolvimento intelectual, técnico do oprimido com a base
emocional simples e pura do seu reencontro com a cultura
▪ É caricatural, “a cultura capsulada, vegetativa, após a dominação
estrangeira, é revalorizada. Não é repensada, retomada, dinamizada de
dentro”
o Contudo, este reencontro tem importância subjetiva, permitirá aos oprimidos
lutar pela sua liberdade
▪ Será agressivo, no sentido em que o não quererá contacto do opressor
com a sua cultura, terá atitudes indefensáveis. Contudo, jamais utilizará
o racismo como ferramenta.
o Do documento da oralidade “The disparagement of african religion and its oral
traditions ended with political independence from colonial rule when the search
began for their own cultural roots by African intellectuals”
Final (idealista)

▪ Depois de todos estes desenvolvimentos e no decurso da luta da nação oprimida, os


argumentos da nação opressora vão se revelar estéreis. “O ocupante já não compreende”
▪ O autor considera que a partir desta incompreensão – as duas culturas poderão enriquecer-
se de igual para igual (a cultura africana também se atualizará)
▪ Tal como Cesaire ele defende o contato, uma vez excluído o estatuto colonial,
▪ Paralelo entre confronto dos oprimidos com os opressores e o confronto de cultura com
cultura. “Racismo e Cultura”
10. Arte Africana
A cultura do hip hop em Angola: rap, kuduro e resistência
Relação Portugal-Angola “(Portugal) tornou-se conivente com tudo isto, porque está economicamente
muito dependente de Angola”. “[...] já fiz a minha leitura de qual é a relação de Portugal com Angola. É
uma relação de extrema dependência. Nós fomos aí comprar as empresas-chave e os setores-chave de
Portugal. Portugal acabou por ser a lavandaria do dinheiro sujo de Angola porque precisava de dinheiro”

A música como missão especial de cidadania


Acessibilidade - A cultura do hip hop chega a mais pessoas do que a literatura. Nem toda a gente vai ler, por exemplo,
Pepetela, ou outro romance angolano. Mas todos ouvem música.

Expressão de Identidade - “Antes de eu começar a participar nessas coisas (ações de protesto) a minha música já era
bastante militante. No meu entender, tudo o que eu faço é reclamar o meu espaço enquanto cidadão”

Pintura em Moçambique
1. A cena adivinha
a. Os dentes mostram que elas estão como um cara de transe,
há alguma preocupação, talvez por alguma catástrofe
natural ou conflitos de grupo ou entre grupos. Na
adivinhação tenta-se criar uma confiança no grupo,
aceder ao futuro desse mesmo grupo
b. O pintor pertence à cidade de Ronga - ao invés de cobras,
pode ser a presença dos espíritos invocados.
c. Cubismo, Surrealismo, Expressionismo.

Malangatana Valente Ngwenya – Artista da Revolução


Biografia:

▪ A sua vida foi marcada pelo ativismo político na FRELIMO.


▪ Em 1965-66 passou 18 meses na prisão, por defender o colonialismo
▪ Valorização/afirmação de uma identidade africana, com aspetos culturais particulares
▪ Distanciamento da cultura ocidental
▪ Expressão de um posicionamento político e social
▪ Denúncia e revisitação das atrocidades do colonialismo
▪ Denúncia do sofrimento causado pelas guerras (luta pela libertação e guerra civil)
▪ Dinamização das artes em Moçambique

Mulher – Papel central na “No percurso artístico deste mestre, a mulher assume um
sua obra- As mulheres são as
papel central (...). Embora nascido numa sociedade
guardiãs, pois são elas que
preponderantemente patriarcal, começou por nos dizer
transmitem a tradição uma
que vê a mulher como o pilar da sociedade moçambicana,
vez que são elas que cuidam
onde assume o papel de mãe e pai. Por isso, quando lhe
das crianças. Neste quadro
há muitas cabeças para
pedimos para definir Mulher, respondeu-nos: a mulher é
representar o povo, pelo pai.”
facto de estar em grupo.
A mulher assume ambos os papéis, muitas vezes - por
exemplo, no colonialismo, quando os homens passavam
muito tempo fora de casa. O mote pode também ser o
facto de a mãe proteger o filho como o homem protegeu o país: a mulher como um
pilar da sociedade.
Violencia (1970)

A Luta pela Independência

Os moçambicanos participaram do lado


português no colonialismo, quase metade
do exército era composto por
moçambicanos. As pessoas punham-se do
lado que tinha mais chance de ganhar essa
guerra. Mostra a violência contra o seu
próprio povo.

Documento Malangatana
▪ “His works depict the concerns and struggles of ordinary people as well as their resilience and capacity
for love. They also show the violence and barbarities they have endured while fighting for
independence. Some of the drawings are graphic representations of prison life. These are important
themes, useful for revolutions”
▪ “The revolution gave him a sharpened awareness of himself not just as an individual artist but as one
with social responsibilities, one who is part of a larger community”
▪ “A unique case of an African artist who developed without having been subjected to a process of
apprenticeship that would mould him in western values”
▪ Themes that showed the rituals and concerns of his own people - traditional healings, sorcery, and
monsters - were chosen. He also depicted the tragic consequences of war - violence, hunger, and death.
Ironically many of these latter were brought into a white setting, the living rooms of colonials.
▪ predomina em sua obra a simbiose entre seres mitológicos e religião, como na representação de um
feiticeiro ao portar um crucifixo mostra o sincretismo entre a religiosidade do colonizado e a influência
do colonizador. É mediante a presença desses seres mitológicos assustadores e nas formas zoomórficas
dos homens, perdidos, comprimidos no espaço asfixiante da superfície pintada a revelar-nos a
irracionalidade do colonialismo, a desumanidade da guerra colonial e da guerra de desestabilização
no pós-independência, que renascem figuras metamórficas, monstros que permeiam o imaginário
moçambicano, violentado com tantos anos de guerra, em cores contrastantes e impactantes
▪ Fases:
o Expressionismo crítico – influenciado pelo neo-realismo – que efetua a denúncia do
colonialismo, dos trabalhos f orçados, dos cruzamentos culturais resultantes da imposição
do cristianismo, das injustiças e misérias presentes no cotidiano dos bairros de caniço.
o A do expressionismo marxista, onde se depreende um didatismo pictural em prol da luta de
libertação e dos ideais da revolução;
o A do onirismo cósmico e telúrico em que predominam o encarnado, os elementos do universo
mítico moçambicano, os monstros, as unhas, os dentes, enfim, o horror e o sangue próprios
de um contexto de guerra e violência

Importância da Arte - Democratização da arte e da cultura na rua


▪ A arte de rua tem uma presença democrática – também não gera um lucro imediato, ainda
que os artistas gostassem de viver dela.
▪ Algo que não teria valor pelo colonialismo permite agora às pessoas mostrar orgulho no
que são e penso
▪ O prazer na arte ainda, como algo que é bonito, as pessoas têm direito ao prazer, a viver
em locais bonitos ainda que sejam bairros precários
Bairro Central no centro de Maputo
▪ pessoas negras encadeadas – situação colonial
▪ Postura de revolta
▪ Objetivo – reabilitar o orgulho do povo moçambicano
▪ Colonizadores a darem cabo do corpo negro de uma maneira grotesca, mas o exército da
Frelimo chega e combate os invasores.
▪ Símbolos comunistas – remete para o regime que a Frelimo irá adotar após a
independência.
• Criação de espaços de memória e reabilitação do colonizados, agora libertos. –
• Estes espaços narram de diferente forma os elementos que o governo que está em vigor
considera importante – uma mudança de governo pode levar a uma mudança de espaços
de memória. – qual a memória que ajuda a viver em paz no presente. No caso dos
moçambicanos é esta a narrativa autorizada pela Frelimo. – Memória Oficial
Capulana:
▪ simbolo de estatuto – quantas mais capulanas a mulher tem mais o marido lhe pode
comprar
▪ expressa um tipo de resistência e orgulho cultural e nacional
▪ simbolo de progresso pessoal “gosto de manter as capulanas, assim eu estou a crescer e
não a voltar para trás”
▪ Sul de Moçambique – patriarcal – problemas que as mulheres expressam na conversa –
figuras paternais ausentes
Things Fall Apart – 1958
Autor – Chinua Achebe

▪ Cresceu no seio de culturas contrastantes: aprendeu a língua inglesa e a doutrina cristã.


▪ Detinha um fascínio pela cultura ibo (igbo) e a sua ancestralidade. Renegou o seu nome
britânico Albert para usar apenas o seu nome Ibo.
▪ Revoltou-se contra a literatura europeia sobre África - não passavam de retratos de uma
conceção, bastante aquém da realidade, construída por estrangeiros: « Eu não me via como um
africano naqueles livros. Eu estava do lado dos homens brancos contra os selvagens. O homem branco era bom, racional,
inteligente e corajoso. Os selvagens que estavam contra ele eram sinistros e estúpidos, nunca caracterizados com algo
superior à astúcia. Eu os odiava»

Interpretação:

▪ O autor, anticolonialista, que criticou Joseph Conrad, é ainda assim capaz de ver que a
sua própria cultura tinha praticas nocivas, ele não idealiza a sua própria cultura. Não é
uma acusação simplista do colonialismo.
▪ Romance de difícil interpretação - ambiguidade dos benefícios e estragos do colonialismo
e cristianismo.

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