1) Casal que vive em situação de rua, retirando o sustento da venda de sucata e
papelão. Mulher deu a luz a uma menina, com 2,0Kg, sem sinal de síndrome de abstinência. Considerando os dispositivos constitucionais e legais sobre criança e adolescente, qual seria o encaminhamento? Acolhimento da recém-nascida em SAICA ou Família Acolhedora? Inserção dessa família em albergue e programa promoção social e familiar e de moradia? Qual, ou quais?
Ao considerar a responsabilidade do Estado brasileiro de assegurar direitos humanos e
das mulheres, adolescentes e crianças é de prioridade absoluta que se verifique a mulheres, no caso em tela temos que ambos os pais da recém-nascida, em situação de rua que sejam usuárias de drogas, como por exemplo o crack ou outras. Averiguada a situação acima, temos uma nota técnica do Ministério da Saúde dispondo que o imediato afastamento da criança de sua mãe, sem o devido apoio e acompanhamento antes, durante, ou após o nascimento, bem como sem uma criteriosa avaliação pormenorizada da situação, caracteriza deflagrante violação dos direitos humanos e constitucionais. Ambos, Constituição Federal (“CF”) e Estatuto da Criança e do Adolescente (“ECA”), trazem que as crianças têm direito a convivência e comunitária, portanto, tal ato seria um desrespeito direto a essas normas. Ao verificarmos os princípios que norteiam a assistência social no Brasil, temos a matricialidade sociofamiliar que é a centralidade da família como núcleo social fundamental para a efetividade de todas as ações e serviços da política de assistência social. A criança não pode e não deve ser submetida a situações que coloquem em risco a sua integridade e saúde física, sendo obrigação do Estado zelar por esses direitos dela. O ECA dispõe em seu artigo 23 que as crianças têm direito à convivência familiar objetivando que seja proporcionado a ela um ambiente seguro que garanta a sua proteção, cuidado e afeto necessários ao seu pleno desenvolvimento. É necessário aqui visar o melhor para a criança, e sob a análise minuciosa se o melhor for considerado retirar ou manter a menina em seu ceio familiar deverá ser feito sob um critério que abarque todas as consequências aplicáveis. No caso concreto temos que a criança não tem sinais de abstinência e por todos os motivos expostos tenho que a retirada, quem dirá imediata, da recém-nascida de seus pais é uma burla aos princípios e normas brasileiras gravíssima, quase como se fosse uma coação. Entretanto, o meu entendimento não poderia ser mais dissonante da realidade. Não há política de moradia, de transferência de renda, de vagas em creches, questões de saúde. Dessa forma, percebe-se que a questão não são os pais estarem em situação de rua, já que teriam condições de dedicar todos os cuidados necessários para sua criação a não ser pela parte financeira que implica em outras dificuldades como alimentação o que coloca a criança em risco de saúde. O que entramos aqui é uma grotesca falha nas políticas públicas que não dão conta do conjunto de vulnerabilidades a que essas mulheres estão expostas. Antes de apontar o correto encaminhamento, acho necessário dispor sobre os SAICAS que têm por objetivo, conforme o site da Prefeitura Municipal de São Paulo, acolher e garantir proteção integral à criança em situação de risco pessoal e social ou de abandono. O serviço dos SAICAS oferece acolhimento provisório e excepcional para crianças e adolescentes de ambos os sexos, inclusive com deficiência, em situação de medida de proteção e em situação de risco pessoal. Entretanto eles só recolhem crianças a partir dos 11 meses. Os pais apresentando todos os requisitos para manter essa criança a não ser recursos financeiros deveriam ser encaminhados a um programa social como o respectivo cadastramento de ambos os pais nos programas sociais do governo, para o atendimento médico no sistema público de saúde, para o registro de um emprego formal, como por exemplo o Centro Pop.