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Frédéric Barbier
Histéria do Livro
Tradugao:
e trad.)
Valdir Heitor Barzotto (coord., rev. técnica
téc. e trad.)
Ercilene Maria de Souza Vita (rev.
Andreza Roberta Rocha
Fabio Lucas Pierini
Luzmara Curcino Ferreira
Sidney Barbosa
Capitulo 1 ?.Q\..«.‘
A invenção da escrita.
O livro na Antigiidade
Capitulo 2 P. S6
lingia
Da alta Idade Média à época caro
Capitulo 2
1 A revolugao do Codex
1.1 A mintscula
escrita
O alfabeto latino se apresenta a principio numa
planos que se
monumental lapidar, em maiúsculas! sem base? nem
das inscricoes da
opdem aos tracos. O modelo perfeito ¢ aquele
pelo imperador no
coluna Trajano em Roma (113 a.C.), construida
alto a baixo dois
centro das bibliotecas romanas e que desenrola de
Uma variante
volumina ilustrando os feitos de armas do soberano.?
s de Pompéia
é a escrita que se observa sobre as inscrições nos muro
ca": as letras são
(século T 1.C), e que foi designada como a “Tústi
s seguidamente
mais estreitas e possibilitam que se erga a mao meno
os titulos de certos
durante a escrita. Essa escrita serd utilizada para
X).
manuscritos até a baixa época carolingia (século
século 1 a.C.,
Uma ruptura cronológica maior tem lugar no
quando a ampliagao das praticas ligadas a escrita se faz sentir na
desta. Ela passa da capital onipresente, derivada
própria torma
as formas cada vez mais cursivas €
de inscrições monumentais,
as hastes acima €
simplificadas, nas quais comecam a aparecer
a leitura se encontra
abaixo da linha: a rapidez da escrita € maior €
facilitada pelo fato de que os elementos especificos das letras são
A cursiva € seus derivados são a escrita mais
mais aparentes.
que se desenvolve
divulgada na Roma antiga. A civilização urbana
ação das tarefas, o
sob o Império supde de fato uma especializ
de uma maneira geral,
descnvolvimento das fungdes de relações e,
sso se modifica
um conhecimento mais amplo da escrita.é O proce
século 1V, quando se passa pouco a pouco
ainda a contar do
Frédéric Barbier
as de
da maidscula à uncial (dominada pelas formas arredondad
nga de
certas letras, sobretudo D, E e M, ¢ caracterizada pela prese
mento
pequenas hastes), depois a semi-uncial’ Enfim, o desenvolvi
or
dessas formas cursivas e a reorganizacio dos gestos do escrit
de maneira
levam 2 aparicdo de uma nova escrita, chamada,
'
aproximativa, a minuscula:
1.2 O Codex
da
É muito surpreendente constatar que 0s anos sombrios
ce, a0
Baixa Antigúidade são precisamente aqueles em que apare
maiores
lado da minúscula, uma forma material nova, destinada aos
o codex, ou livro dobrado e encadernado, do
desenvolvimentos:
difícil
qual o suporte é de agora em diante o pergaminho (é mais
ar
fazer códices em papiro).é O termo latim codex nos faz remont
conhecida,
vários séculos atrás, uma vez que sua primeira aparição
almente de uma
por meio de Martial, data de 85. Trata-se origin
madeira (lat. caudex), depois, por extensão, de uma
lâmina de
quais
reunião de lâminas mantidas juntas por um laço e sobre as
contas ou outros apontamentos sem valor durável.
são anotadas
no Fayoum, o “Cahier de Theodoros”, consiste em
Descoberto
tardio:” é um
exemplo excepcional, mesmo sendo relativamente
Ao
56
Historia do Livro
nte men te cod ice s), pois que , em 67, ele pede a Timoteo que
(apare
onado:
os traga depois de ter sido aprisi
(..). Somente Lucas está comigo
Esforce-te para vir perto de mim eu deixei
vocé (). O casaco que
(..). Pegue Marcos ¢ traga-o com os
bém
, traga-o quando vier, € tam
em Troas, na casa de Carpus
..‘“
livros, sobretudo os pergaminhos.
lia, cuja tradição é muito
O texto central da Igreja é a Bíb sínodo de
(massOrético) é fixado pelo
complexa. O cânone judeu
e a Lei (a Torab: o Pentateuco””),
Yebnah (90/100 d.C.) e compreend thoubim)*' A
tm)” e os Escritos hagiograficos (Ke
os Profetas (Nebi ias,
duç ão em gre go dos Set ent a aí adiciona sete outros livros: Tob
tra abeus I e
Judith, Sabedoria de Salomão, Eclesiastes, Baruch I, Mac
sendo que este conjunto definido
11 (os livros deuterocanônicos), o Concílio de
como canônico pel os cristãos será confirmado pel
fazem parte, cujas pseudo epigrafes
Trento.?2 Outros livros não canone
por certas Igrejas orientais. O
530, entretanto, reconhecidos incide
dois conjuntos: o primeiro
do Novo Testamernto reagrupa sobre
sobre a vida de Jesus (os outros evangelhos), o segundo,
zag ao da Igre ja Pri mit iva (os Atos dos Apostolos e um
a organi um
O Apocalipse de João constitui
importante conjunto de cartas).
livro 2 parte, que fecha o conjunto.
avelmente
(Evangelbos sinopticos), mas enriquece ta mbém consider
a Cesaréia que vird
a biblioteca e prepara seu catdlogo.” É ainda
€ aos copistas
Hilaire de Poitiers ( 367) ao curso de seu exilio e
o para fazer
de Cesaréia) que se dirigira o imperador Constantin
nados às, novas
fabricar os cinqiienta exemplares da Biblia desti
]
igrejas de sua nova capital, Constantinopla.
são, muito
Em seguida, os acervos de Constantinopla
a Igreja de Roma
particularmente importantes. No Ocidente,
que desaparecem
possui arquivos € uma biblioteca muito ricos
qual se estende
durante a persegui¢io de Diocleciano (303-311), ao
Mas o Edito de —
expressamente a destruicio dos livros cristios.
¢, rapidamente,
Milão institui a liberdade religiosa no Império (313)
(367-384) ter de
o8 acréscimos retomam a ponto de Dâmaso 1
Igreja. Jerônimo fala
construir um edificio para os archivia da
taceum romanae
de pesquisas que ele só pode executar na char
te suas viagens, ele
ecclesiae (os arquivos da Igreja de Roma): duran
lhard longamente
copiard em Treves dois livios de Hilario e traba
catastrofe sobrevém
(382-385) nas coleções romanas. Uma nova
pelos Visigodos
com a invasio barbara de 410 e a tomada de Roma
em durante o século
d-Alaric.?® Entretanto, os acervos se reconstitu
V. O papa Agapito faz construir uma nova biblioteca (535-530) e
antigo chanceler
colabora com Cassiodoro (em torno de 485-580),
de conservagao e
de Theodorico, o qual funda uma instituicao
de Vivarium,”
de pesquisa. Trata-s¢ da biblioteca do monastério
e que foi a primeira
que conhecemos pelo texto das Institutiones®
da Bibiia em latim sob
coleção a ter disposto da versao completa
precisaria consultar 0s
uma forma reagrupada (anteriormente,
: diferentes volumes de cada livro):
uma tradução feita a partir dos Setenta e
O codex grandior tinha
havia feito diretamente
revisada por Jerdnimo; aquela que Jerônimo
o outro manuscrito. (Pierre
sobre o hebreu, a Vulgata, ocupava (...)
Petimengin)?’
além do mais, em Vivarium, na reorganizagao
Trabalha-se,
s (capitula) numerados
*. do texto sagrado, com a divisão em capitulo
em uso até a reforma parisiense do
—— um sistema que estard
%
o
Historia do Livro
3 O monaquismo
3.1 O monaquismo oriental
Um lado muito importante da tradi¢io escrita nos vem do
mundo regular, e primeiramente dos eremitas e dos monges do Oriente
(inicio do século IV). O primeiro, Antdnio (1356), se estabeleceu no
deserto e fundou a tradição do eremitismo, antes que Pacome (1346)
estabelecesse, por volta de 325, uma primeira comunidade organizada
e regulada, no Alto-Egito. Muitas outras fundagoes seguiram. Apesar
do desnudamento quase completo desses “padres do deserto”, o
livro não estava ausente das ermitagens e certos monges tinham, eles
mesmos, uma atividade de copistas. Comumente cles possuem, no
deserto, apenas um manuscrito, raramente VArios, € OS assuntos são
exclusivamente religiosos: a Biblia, sobretudo o Novo Teslamenlo ¢
o livro dos Salmos, com comentarios, mas também os Apophtegmaes
dos Padres do deserto, etc.
Cassiano, que é feito monge em Belém, permanece no Baixo-
Egito entre 385 ¢ 400 e redigird suas [nstitutions e suas Conferences,
cuja influéncia sera considerdvel sobre os estabelecimentos
mondsticos no Ocidente (Provence). A tendéncia a0 crescimento
das bibliotecas conservadas nas células é julgada negativamente:
Os profetas escreveram livros, depois vieram os padres que
os colocaram em prética. Aqueles que vieram depois deles os
aprenderam de cor. Depois a geragao presente veio e 0s copiou €
colocou, indteis, nos balcões...ºº
59
Frédéric Barbier
60
Histéria do Livro
”
Solssons eLaon
St-Warxiriile *
Jumibges Sl-Danls. sd *
o e Relms
Ruel Cholles
» Luxeull
e StBenok
e Marmoutiers o Amerre
- e Tours
@ (Nolmoutier LR
, * Ugugê
Poltlers
e Limoges
4 A renascença carolingia
4.1 A renovatio imperi
a Antigtiidade,
Ao mundo aniigo, aberto, sucedeu-se, na Baix
mente, ¢ mesmo
um mundo fechado (economicamente, politica
esmo e onde a pratica
sobre o plano demogréfico), fechado sobre sim
Em consequência,
da escrita regride de maneira muito sensivel.
da escrita, seguindo
desenvolvem-se numerosas práticas regionais
relação à evolução dominante: em uma
modelos “aberrantes” em
se multiplicam a
palavra, a escrita se fragmenta e seus modelos
-maiúscula. Um
partir de dois arquétipos de maiúsculas e da semi
é constituído pela escrita insular, assim chamada
bom exemplo
Britânicas.
porque sua geografia inicial é aqu'eiá das ilhas
víngeos aos
A mudança progressiva de dinastia (dos Mero
ri (restabelecimento do
Carolíngeos), mais ainda a renovatio impe
Império), conduzido por Carlos Magno no fim do século VIII, é
reorganização profunda da Igreja, que se
acompanhado de uma
zação da regra
apóia nos monasterios (onde se rórla uma generali
e paralelamente um
beneditina) e sobre o papado. Desenvolve-s
orno à latinidade
esforço considerável sobre o plano da língua (ret
gos € da escrita
— clássica), do ensino, da conservação dos textos anti
lectuais, ele faz vir
* ela mesma. Carlos Magno sabe se rodear de inte
a, e mesmo Alcuin,
para perto dele Paul Diacre e Paulo de Pisa, da Itáli
dulfo se refugiará no
velho chefe da escola capitular de York. Theo
coração de Aix-la-Chapelle depois da invasão da Espanha pelos
fundação da escola
muçulmanos. O movimento se apóia sobre a
copais (Lyon, Reims,
do Palais e de importantes escolas epis
e das grandes
Soissons, Laon, Maienca, Cologne), ¢ sobre a atividad
Histéria do Livro
uma centena de
Tours, cuja copia talvez tenha se apoiado sobre
manuscritos difundidos através do Império.
manuscritos
Mesmo que se avalic em nove mil o nimero de
um namero que da a medida do
carolingios hoje conservados,
nua um objeto
trabalho de cópia efetuada à época, o codex conti
mais ricas contam
raro e muito oneroso, sendo que as bibliotecas
Por outro lado,
algumas dezenas, raramente mais de cem volumes.
e nao-cursiva, € 4
a minúscula carolina é uma escrita fracionada
Mas, a0 lado
oralidade continua a dominar as praticas de leitura.
a importancia
desses caracteres arcaicos, não se poderia subestimar
s que 0s_
* da Renascenca carolingia. É nos manuscritos carolingio
redescobriram a literatura classica, a partir,
humanistas italianos
carolina que eles
sobretudo, do século XIV ¢ € na mindscula
OS primeiros
se inspiraram para criar sua propria escrita — €
"
caracteres tipográficos romanos.
fazer. Primeiramente,
Vocês sabem o que o copista tem o hábito de
aminho de sua
ele começa por limpar com uma raspadeira o perg
pesadas. Em seguida, com
semente ¢ tirar dela.as impure as mais
ele faz desaparecer completamente os pêlos e
uma pedra pomes,
a não será de boa
os ligamentos. Se ele não procede assim, a escrit
— u
qualidade e não poderá durar muito tempo...””
se recorra,
A raridade e a carcstia do suporte explicam que
E}ue consiste em apagar
quando é o caso, à técnica do palimpsesto,*®
lugar: mergulhado
um primeiro texto para copiar. outro em seu
ho € em seguida
no leite durante uma noite inteira, © pergamin
a cal.
passado a pedra-pomes € branqueado
fase diretamente
O trabalho compreende, em seguida, uma
do manuscrito em vista da copia:
consagrada a “paginacao”
, depois das linhas
delimitaciio, pautagdo das margens do texto
. As bases do
grafite;??
propriamente ditas, com estilete ou com
compasso. A demarcagdo
enquadramento são estabelecidas com
o que se preveja, um
pode ser mais ou menos complexa segundo
io em linhas longas ou
texto simples ou em Versos, uma disposic
interlineares,” dos espaçoS j
em colunas, comentários marginais ou
etc. A folhabassa enfim ao
reservados a iluminuras ou à ilustração,
aqueles da rubricagao,”
ateliê dos copistas, depois, se for o caso,
encadernacao. Certos ateliés de encadernação
da iluminura e da
mondsticas puderam ser identificados gracas
ligados às casas
am para
notadamente ao estudo de instrumentos que eles utilizar
Que se trate de escrever, de ler, de rubricar
decoragio das capas. 2 il AL &
5 & € 118 C <
spensdvel — inclusive para
instrumento de trabalho as vezes indi
pe, o Qusado, era miope
os leitores: o duque de Borgonha, Feli
a dourada que lhe havia
e lia apenas gragas aos óculos de prat
Conservam-se mesmo
fabricado o ourives Hennequin de Hachet.
escrita de muito pequeno moédulo, cuja capa
manuscritos de uma
ssem 05 óculos”*
foi evidentemente cavada para que af se coloca
5.2 À composição
evolui, evidentemente,
A apresentação do livro manuscrito
a em que o codex se
de maneira muito profunda entre a époc
65
Frédéric Barbier
66
Historia do Livro
ento essencial de
construcoes simbalicas. Ela constitui um elem
diferentes podem
numerosos manuscritos medievais. Trés modelos
a letra enfeitada e, enfim,
ser distinguidos: a ilustragao, a inicial ou
as bordas.
ionar a utilizagao
e Pergaminbo tingido. Limitar-nos-ems-a menc
uma pratica
de um suporte (pergaminho) de cor, segundo
rio bizantino
conhecida durante a Antigiidade, presente no Impé
ao de manuscritos
e importada para o Ocidente para a realizag
é tingido em cor
destinados ao imperador. O pergaminho
ele € pintado, até
purpura, as vezes preta, mais freqiientemente
nele se escreve com
recoberto de uma folha de ouro, sendo que
-s¢ de volumes
tinta de ouro ou de prata. Em todos os €asos, trata
extremamente preciosos, como o Fvangeliaire de Sinope (Codex
Manuscritos sirio-palestinos do século VI, escrito
Sinopensis),
ho purpura A
em maiúscula 2 tinta de ouro sobre pergamin
o por
tintura do pergaminho € praticada mais tardiamente, tend
s alemães
exemplo um certo numero de manuscritos imperiai
hov na
da época ottoniana, ou ainda ao Evangeliaire de Stra
s, do
biblioteca desse monastério (Praga), até o Livro de Hora
duque Galeas Maria Sforza,” etc.
Os mais antigos exemplos de textos ilustrados
- Jlustracées.
II de nossa era €
conhecidos hoje são os volumind do século
raramente textos
portam geralmente tratados cientificos, mais
a inserção da imagem
literários* A forma material do rolo impõe
sposto nos codices
nas colunas de escrita e esse dispositivo € tran
im do secuio 1V),”
da Baixa Anuguidade: no Virgue du Vaticarn
os, em geral sobre
as pinturas se apresentam em quadros geomeétric
ram. Encontra-se
a página onde figura a passagem que elas ilust
ocupa uma superficie
* também a imagem de pagina inteira, que
tivas, O retrato
igual aquela da justificação. Ao lado de cenas narra
segundo um modelo
do autor constitui um tema muito frequente,
que será conservado na Idade Média para os evangelistas ou
no relato (retrato
para os diferentes protagonistas que aparccem
-se igualmente
do santo cuja vida é apresentada, etc.). Conserva
escrito no século VII, em maidscula e
o Peniateuco de Tours,
ilustrada com quatorze pinturas de pagina inteira®
67
Frédéric Barbier
escravo secretário.
ra,
Pode-se legitimamente pensar que a textualizagao® melho
ra:
depois do século VIII, por conseqiiéncia da contribuição barba
que lhes
para os carolingios, trata-se de assimilar a cultura latina
ção
&, a priori, tornada estrangeira, e de se fixar diretamente à tradi
os barbaros
imperial que eles querem reanimar. Ora, desde então,
falam uma lingua diferente do latim (a lingua vulgar, ancestral do
praticamente,
francês e do alemão) e lhes falta então analisi-lo para,
na minúscula
traduzi-lo: de onde a reforma da escrita (que resulta
(carolinã) e uma textualiza¢io bastante clarificada. Os escribas
68
História do Livro
o
colocam então em obra um conjunto de técnicas novas assegurand
s ¢
o enquadramento do texto através de seus dispositivos formai
facilitando-sua leitura e sua compreensio: as palavras sao isoladas
normalizada
umas das outras, o uso de maidsculas é relativamente
pensavel €
e, sobretudo, a andlise lógica tornada praticamente indis
os. A
facilitada pelo desenvolvimento de sinais de pontuação divers
única divisio interna ao texto mesmo permanece aquela, eventual,
dos “livros” (não ha capitulos, etc.).
Essa sutileza crescente da textualizagao facilita em principio
r nos
uma pratica silenciosa da leitura, a qual pôde se desenvolve
o das regras
meios mais abertos ao livro: é possivel que a difusã
facilitado
monásticas que impuseram o silêncio tenha igualmente
S seu sucesso. Certos documentos, excepcionais, testemunham
familiaridade de uma camada muito pequena da
1 extrema
com o mundo da escrita: o Sermon sur Jonas é um
populagao
redigido sobre palimpsesto, € em partes em notas
fragmento
tironianas, e constitui um resumo preparado em lingua vulgar por
um eclesiastico do inicio do século X antes de subir ao trono “
de da articulação
Enfim, é necessário não subestimar a complexida
entre a arte da leitura.e aquela da memória. Por volta de 1322,
certos heréticos valdoistas
Evangelhos ¢ as Epistolas em lingua vulgar
tinham os
e mesmo em latim, pois alguns o entendem.
ordinariamente
sabem ler e lêem em um livro aquilo que eles
Alguns também
não fazem
anunciam e pregam. [Outros pregadores. 20 contrariol
ler, mas
uso de nenhum livro, sobretudo aqueles que não sabem
aprenderam seu discurso de cor. ?
6 No Mediterrâneo oriental
69
Frédéric Barbier
entais
Rav ena , Ven eza ), é a reg iao mais aberta as influéncias ori
Sul, exemplo, no
mas também, por
— em Vencza, principalmente,
nos anos 1100.
scriptorium de Monte Cassino
na como um intermedidrio
É lógico que Bizâncio funcio e
ado na tra dic io do pen sam ento grego da Antigiidade
privil egi
nsm iss io ao Oci den te. No entanto, 4 lógica do processo
em sua tra a
principais explicam que a herang
é mais complexa: dois fatores ente
amplam
tenha sido por muito tempo
grega no Ocidente
ima da — e que , ape sar das aparéncias, continua Em
sub est lugar
. Trata-se primeiramente do
partes do mesmo modo hoje ainda
ocupado pela tradição Jatina,
evidentemente preponderante tenha
a tra nsf eré nci a cul tur al pro veniente do mundo helénico
que
o bas tan te amp lam ent e na Roma antiga. O segundo
funcionad que
a religiosa € sobre o fato de
ponto ancora-se sobre a escolh Mmesmo
seja ao
que é um império grego,
o Império- bizantino, sal
a terr a da ort odo xia e esc ape assim a0 modelo univer
tempo
nda de rom ana . O Gra nde Cisma de 1054 tem por efeito
da crista ino.
te o aporte intelectual bizant
ocultar amplamente no Ociden tada no
ret ant o, a cul tur a liv res ca € muito profundamente implan
Ent rica sociabilidade
uma
se organiza e se desenvolve
Império, onde
se mei o que o Oci den te, tendo partido a procura de
culta. É nes rard no
a uma idade de ouro, encont
uma Antigiiidade assimilada ir
ore s que lhe permitirdo redescobr
século XIV os primeiros mediad
a Grécia sonhada.
& lmanos e os; livros
6.2 Os mu icu
a pregar em Meca €
Mohammed (570-632) comega
Quando o
bia (po r vol ta de 615) , ele é o intermediario (0 profeta) pel
na Ara mensagem
qual Deus transmite sua mensagem a0s homens: essa
dos atos e das palavras do
relatos
é o Cordo. Mais tarde, os ados
rec olh ido s por seu s dis cip ulos, são igualmente integr
profeta, ores (os califas),
na Lei. Desde a épo ca de seus primeiros sucess
difundido
abe lec e-s e ent do o tex to definitivo do Cordo, que É
est erial é
vol umi na, dep ois cód ices cuja apresehmção mat
pelos
ent e cui dad a (ca lig raf ia e ornamentos). A amplitude
Pparticularm artesanato de
de um
mação rápida
desse comércio explica a for
Ti
Frédéric Barbier
72
Historia do Livro
E Notas
' Letra maitiscula. 5
> Empattement designa a base da letra (alto a baixo). Em fundição tipogrifica, a presenga ¢ a forma
tem juncio,
da juncio que permitem identificar certas grandes familias de caracteres: a Antiga ndo
no Elzevir, as junções sio triangul ares; elas são filiforme s ¢ retas em Didot
von Erlach
3 O modelo é retomado na época moderna: em Viena, o arquiteto Johan Bernhard Fischer a um
constrói, a partir de 1715, a igreja Saint-Charles- Borromé e (Karlskt rche), cuja fachada apresent
em volumen da coluna
pórtico em colunas e duas “colunas triunfais” que retomam o dispositivo
Trajano. Acontece o mesmo em Paris com a coluna Vendôme , que Napolea o fez erguer em 1806, 2
gloria dos soldados que tinham combatido em Austerlitz.
de Vindolanda (perto do muro de Adriano, fronteira entre a In-
i Como testemunham as tabuletas
do fim do século e sio hoje conservados no Museu Britinico
glaterra e a Escócia), que datam
(Londres).
3 O Bréviatre d Alaric dá a “lei visigótica” promulgada por essc rei em 506. Conserva-se o texto num
talvez em Lyon, numa uncial extremamente regular, no século VI
manuscrito de 332 ff. copiadas
é
(Munich, Bayerische Staatsbibilothek, Clm 22501
Staél é uma das primeiras
$ Codex (pl. Codices): livro encadernado, por oposição ao volumen. Mme de
contar na história mais de dez sécnlos durante
2 propor reavaliar esses “séculos sombrios": “Pode-se
os quais acreditou-se muito geralmente que o espírito humano retroced eu. Mas (...) eu não penso
imensos
que a espécie humana regrediu durante essa época; eu acredito, ao contrário, que passos
quanto pelo desenvol-
foram dados no curso desses dez séculos, tanto pela propagação das luzes,
De la litteratur e..., nova ed., Paris, 1991, p.
vimento das faculdades intelectuais...” (G. de STAEL,
162-163 (“Garnier-Flamarion™)
7 Informação de C. Huré, em Tous les savoirs du monde..., Paris, 1996, p. 52, nº. 3.
de papel
5 O caderno designa o conjunto de folhas constituídas por uma só folha de pergaminho ou
copiado ou passada pela prensa ¢, em seguida, dobrada.
? Ais : prancheta de madeira que formam as capas da encadernação.
Hoje conservado em Verona.
" Roma, Biblioteca Apostólica Vaticana, Vat. Gr. 1209.
Cod. Guelf. 36.23 Aug. Fol. (Irália do Norte.
1 Corpus agrimensorum Romanorum, Wolfenbiitel, HAB
de Bobbio, passa em seguida
século VD. Esse Codex Acerianus, a princípio integrado às coleções no
na Holanda, a partir de onde, no século XVII, ele entra
para a biblioteca de Petrus Scriverius,
acervo de Wonfenbútel.
13 Leitura em voz alta, murmurada ou simplesmente acompanhada pelo movimento de lábios.
73
Frédéric Barbier
a concavidade da
rna ção que cor res pon de à costura dos cadernos, oposta tes) ou “grega”
14 Lombada: parte da encade as. Lombada pode ser * nervos” (as nervuras são apa ren
folh
outra extremidade das bada).
idas na espessura da lom temunhos de
(as nervuras são esc ond
ça da arei a que exp lic am que os principais tes
iente e 2 presen cobriram papiros,
15 É a aridez do meio amb e, no Fayoum, onde se des
1. O mesmo ocorre em
oási s de Oxy rhy nqu
Egito: no
que dispomos vêm do
fragmento do evangelho de João do século
portando principalmente um
o. para ser tocada pelos
Toura, perto do Cair
mus ica is, cuja mús ca é copiada ou impressa
sas peç as
16 No século XIX: numero strados.
regi
amadores jamais serão
Stuttgart, Weimar, 1998, t. V, col. 548-551.
1 Der Neue Pauly...,
1V, 9 à 13
3 fle dpitreG Timotée,
, Número: Deuteronomio.
1 Génese, Êxodo, Levitico josué a Malaquias.
s e Pro fet as propriamente ditos : de Codex leningradensis
20 Ljvros his tór ico
heb rai ca com ple ta, hoje conservado, é o
rito da Bibl ia t
n O mais antigo manusc
e data de 100 8 deuteroncandnicos
tes tan tes não rec onhecem os sete livros ité ascétique et mystique,
22 o5 Igrejas pro
Ghe lli nck , $J.) no Dictionaire de spiritual
(de J. De
23 Artigo “Bibliothêques”
col una s 1589 e seguintes. tradução grega de Áquila
reu não-vocalizado, a
t. 1 (par is, 1937 ),
iva men te: o text o heb
volta de 200 a.C.), aque-
24 A5 colunas apresenta
m sucess
Sím aco (po r volt a de 200) , aquela dos Setenta (por reu em alfabeto grego
(135 a.C.), a tradução de a de 180 a.C.), enfim 2 transliteração do texto heb
Bernard de Montfaucon
primeira vez por Dom
volt
la de Teodoção (por lic ado s pela o da
(com vocalização). Os
Hexapl e são pub tradução latina e do text
em Pari s (171 3), com acréscimo de uma
rin
(1655-174D), por L. Gué
Vulgata (por Albaric).
5 ISIDORE DE SEVILLE,
V1, 6, 1. rados romanos se refugiam
mai ore s do epi sód io de 410: um certo número de let (Santo Agostinho começa
2 puas consequéncias vatório da cultura antiga dos principais
por um tempo um conser po de Roma torma sc umuivos
na África, que se torna 413) ; por out ro lado , o bis existem no
a publicar La cité de DieAou lado em de livros € arq
de Rom a, outras grandes coleções
personagens da Igreja. o, ete
Trêves, Cartag
ocidente, em Milão, a antiga Skylletion (Ca
ldbria)
a fun dad a em 546 proxima a squillace, .
27 Cas 1937
.B. Mynors, Oxford,
i sen ato ris Institutiones, ed. R.A aparecidos: o primeiro, em nove
arium, todos 0s três des
28 Cas sio dor
s da Bíbl ia em Viv
que traz O text o de Sao Jeronimo, em
29 Existem três exemplare os; © seg und o,
em setenta e um livr e 760 folhetos. É este
volumes subdivididos traz 2 vetu s lating em setenta livros século,
636 folhas; o terceiro,
© Codex gra ndi or, iado em Roma no VI
o Codex Amiatinus, cop ada de uma pin tura
último manuscrito que
serve de mod elo par a
de Wea rmo uth -Ja rro w, e ilu str
lfrid (690-716) , Aa de ati nus
oferecido ao opapae porscriCeo e mesma O Codex Ami
om0 refrare de Cassindnr
t
iepiesenta
Lurentienne de Floren
ce.
LT, La vie quoti-
& hoje con ser vad o em
Bel lef ont ain e, 198 5, nº 285 (citado por L. REGNAU
esmes-
2 Serie des anonymes... Sol ert en Egypte au IV siecle,
Paris, 1990, p. 106)
dienne des Per es du dés "
da por Sulpice Sévere. tir do fim do século X:
o apogeu é
» Cuja vida serd redigi , 0 mon ast éri o ren asc e 2 par
enos em 883 Gelasio 11.
22 Destruída pelos sarrac Etiene IX, Victor T e
ngi do qua ndo trés aba des sao eleitos papas, res do Egito, mas também
leitu-
ati ent e aqueles dos pad
os, esp eci alm Bas ile .
Seus comentari Regras de
3) Leitura da Biblia € das dos Padres) e das
tad os de Cas sia no, das Vitae Patrum (Vi ulo V.
ra dos tra no fim do séc
s são cri sti ani zad as a partir de Roma eses em 824. O úni
co
As ilhas Brilan ica
to Com gal l, des tru ida pelos dinamarqu (po r volt a
a de 559 por san onatre de Bangor
Casa fundada por volt ori um pri mit ivo é constituído pela Antiph
script
vestigio da atividade do .
iana, Milão)
de 685) (Biblioteca ambros 1995. vium
36 Codices Sangal lenses, Sig ingen,
mar retérica e dialétca), © quadri
e onde se estuda o trivium (gramatica, ses fenômenos, ver
P.
y Dirigido por Alcuin a) € 2 teo log ia. Sobre o conjunto des
, musica, astronomi
(aritmérica, geometria
T4
Histéria do Livro
75
Frédéric Barbier
76