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Alexander Romanovich Luria foi um neuropsicólogo russo-soviético nascido em 16 de julho

de 1902 conhecido como o pai da neuropsicologia moderna e contribuiu significativamente


para o entendimento dos processos psíquicos. Luria desenvolveu uma série de testes
neuropsicológicos durante seu trabalho clínico com pacientes neurológicos vítimas da
Segunda Guerra Mundial, a partir do qual fez análises do funcionamento de várias partes do
cérebro e suas funções integrativas.

Alexander Romanovich Luria (russo: Алекса́ ндр Рома́ нович Лу́ рия; Cazã, 16 de julho de 1902
— Moscou, 14 de agosto de 1977) foi um famoso psicólogo soviético especialista em psicologia
do desenvolvimento. Foi um dos fundadores de psicologia cultural-histórica onde se inclui o
estudo das noções de causalidade e pensamento lógico–conceitual da atividade teórica como
função do sistema nervoso central.

Vida e obra
Filho de pais judeus, nasceu em Kazan, uma região central a leste de Moscou. Estudou o Curso
de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Kazan (graduado em 1921) e graças ao seu
interesse em psicologia e à sua erudição, em 1924, foi convidado a participar do recém criado
Instituto de Psicologia de Moscou. Estudou no Instituto médico de Kharkov e no Instituto Médico
de Moscou graduando-se em medicina em 1937, onde depois foi professor (1944). Obteve seu
doutorado em Pedagogia (1937) e Ciências Médicas (1943).
Ao longo de sua carreira, Luria trabalhou em uma extensiva variedade de áreas científicas e em
diversas instituições, a exemplo da Academia Comunista de Educação (1920-30s) e Instituto
Defectologia Experimental (1920-30s, 1950-60s) ambos em Moscou); Academia Ucraniana de
Psiconeurologia (Kharkov, no início dos anos trinta); Institutos Reunidos de Medicina
Experimental; Instituto de Neurocirurgia de Burdenko (no final dos anos trinta) e outras
instituições.
No início dos anos trinta, Luria foi para a escola médica. Durante a guerra, continuou seu
trabalho no Instituto de Psicologia de Moscou. Durante um determinado período, ele ficou
afastado do Instituto de Psicologia, principalmente como resultado da intensificação do anti-
semitismo e optou por pesquisar crianças mentalmente retardadas no Instituto de Defectologia
durante os anos cinquenta.
A partir de 1945, trabalhou na Universidade de Moscou, o que foi essencial para fundação da
Faculdade de Psicologia desta universidade, onde ele depois chefiou os Departamentos de
Psicopatologia e Neuropsicologia.
Enquanto era estudante em Kazan, estabeleceu a Associação Psicanalítica Kazan e trocou
[1]
cartas com Sigmund Freud (1856-1939). Posteriormente, segundo Ayan, o psicólogo editor da
[1]
Gehirn & Geist, Luria, na época da publicação de seus trabalhos sobre linguagem e
neuropsicologia (1947), negou publicamente sua ligação com Freud e influência da teoria
psicanalítica, visando evitar perseguição política. Observe-se que o mesmo não aconteceu com
seu contemporâneo Roman Jakobson (1896 - 1982) que residia fora da URSS onde as
[2]
referências aos estudos de Freud sobre afasia foram mantidos.
Em 1923, com seu trabalho sobre tempos de reação associados a processos de pensamento,
conquistou uma colocação no Instituto de Psicologia de Moscou. Lá, ele desenvolveu o “método
motor combinado", que ajudava diagnosticar processos específicos de pensamento, criando o
primeiro dispositivo efetivo detector de mentira. Esta pesquisa foi publicada no EUA em 1932 e
em russo apenas em 2002.
Em 1924, Luria conheceu Lev Vygotsky (1896-1934) que grandemente o influenciaria. Junto
com Alexei Nikolaievich Leontiev (1904-1979), estes três psicólogos lançaram um projeto para
desenvolver uma psicologia radicalmente nova. Esta aproximação inter - relacionou “análises
“culturais” e ”históricas" à "psicologia instrumental" usualmente conhecida em nossos dias, como
psicologia cultural-histórica. Ela enfatiza o papel mediador da cultura, particularmente da
linguagem, no desenvolvimento de funções mentais superiores na ontogênese e filogênese.
Nos anos trinta Luria, deu continuidade ao seu trabalho com as expedições para pesquisas de
neuropsicologia e cultura na Ásia Central. Sob supervisão de Vygotsky, Luria investigou várias
mudanças psicológicas (inclusive percepção, resolução de problemas, e memória) que se
sucederam como resultado de reeducação e desenvolvimento cultural que aquelas minorias (as
aldeias nômades do Uzbekistão e da Khirgizia) se submeteram nas intervenções do governo
revolucionário. O que tem sido considerado como uma importante contribuição ao estudo da
[3][4]
linguagem verbal.
Posteriormente ele estudou gêmeos idênticos e fraternais nos grandes internatos escolares para
determinar a interação da multiplicidade de fatores genético e culturais que interferem no
desenvolvimento humano. No início de seus estudos neuropsicológicos no final dos anos 30,
como também ao longo da vida acadêmica pós-guerra, ele concentrou-se no estudo da afasia,
focalizando a relação entre linguagem, pensamento e funções corticais. Especialmente o
[5]
desenvolvimento da compensação de funções corticais na reabilitação da afasia.
Durante Segunda Guerra Mundial, Luria liderou uma equipe de pesquisa no Hospital do Exército
para desenvolver métodos de reabilitação de deficiências orgânicas psicológicas em pacientes
com lesões no cérebro. O trabalho sobre a avaliação das funções cognitivas associadas às
áreas lesionadas do cérebro o levou a ser considerado o pai da Neuropsicologia. Outra grande
contribuição foi em relação à formulação do conceito de Neuroplasticidade, o que influenciou os
estudos atuais em Neurociências a respeito da possibilidade de reabilitação cognitiva a partir da
transformação dos neurônios através do contato com estímulos ambientais.
Morreu, em Moscou aos 75 anos, alguns anos depois de publicar os estudos de casos
realizados nesse período, praticamente dando início à Neuropsicologia que conhecemos hoje.

Neuropsicologia
Foi pelo seu trabalho no Hospital do Exército que se originaram suas principais contribuições à
Neuropsicologia. Destacam-se dois entre os estudos de caso realizados, um apresenta S.V.
Shereshevskii, jornalista russo com uma memória aparentemente ilimitada (1968), em parte
devido à sua acentuada sinestesia. Este caso foi apresentado em um livro The Mind of a
Mnemonist (A Mente de um Memorioso). O outro livro de Luria relativamente bem conhecido é
The Man with a Shattered World (O Homem com um Mundo Despedaçado), um penetrante
relato de Zasetsky, um homem que sofreu uma lesão cerebral traumática (1972). Estes estudos
de caso ilustram os principais métodos de Luria de combinar as medidas clássicas de anamnese
e diagnóstico com registro detalhado (psicométrico) da função alterada e sua progressiva
reabilitação.
As contribuições suas e de Vygostski à localização das funções cerebrais modificou as noções
de centros da ação reflexa a partir dos analisadores corticais fixos propostos por Pavlov (1849-
1929), como centros da ação reflexa para um sistema de localização funcional dinâmica e
mutável. A neuroplasticidade das funções nervosas está entre as suas principais contribuições à
neurociência moderna. Seus estudos com Vygotski, referem-se à instalação, perda e
recuperação de funções ao nível do sistema nervoso central considerando tanto as variáveis
que interferem na filogênese – ou história evolutiva da espécie, como a partir das formações
sociais histórico-culturalmente definidas além da ontogênese ou história individual.
Gray's FIG. 726 – Face lateral do hemisfério cerebral esquerdo.

Gray's Fig. 727 - Superfície medial do hemisfério cerebral esquerdo.

Na avaliação da interação entre o cérebro e os processos mentais humanos Luria identificou


três unidades básicas, ou sistemas funcionais cuja participação torna-se necessária para
qualquer tipo de atividade mental:
(1) Unidade da atenção, ou de regulação do tônus ‘otimal’ e vigília que envolve camadas do
córtex e o sistema reticular ativador;
(2) Unidade de codificação e processamento, um sistema funcional para obter, processar e
armazenar as informações que chegam do mundo exterior (e dos aparelhos de seu próprio
corpo) localizada nos lobos occipital, temporal e parietal;
(3) Unidade de planificação ou destinada a programar, regular e verificar a atividade mental.
Esse terceiro bloco, localizado basicamente no lobo frontal, elabora programas de
comportamento, assegura e regula sua realização e participa do controle do seu cumprimento.
A abordagem neuropsicológica de Luria veio a dar origem a diversas teorias, entre as quais a
teoria de processamento cognitivo PASS, de Das, Kirby e Naglieri. Um dos divulgadores do
método de descrição refinada da história clínica ao estilo Luria com análises étno -
neuropsicosensoriais foi Oliver Sacks (1933 - 2015) com suas diversas contribuições de
descrições do mundo psicossocial dos portadores de alterações neurológicas e sensoriais.

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