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Gestão na

Saúde e SUS
Os Avanços e Desafios do Sistema Único de Saúde (SUS)

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª M.ª Solange Spanghero Mascarenhas Chagas

Revisão Textual:
Prof.ª M.ª Selma Aparecida Cesarin
Os Avanços e Desafios do Sistema
Único de Saúde (SUS)

• Introdução;
• SUS – Avanços a Comemorar;
• SUS – Desafios a Superar.

OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Mostrar que para que se tenha um trabalho de qualidade e com envolvimento, é necessário
que se conheça o contexto social e político que envolve os programas de saúde do nosso país;
• Abordar os principais avanços e desafios do SUS, pois conhecer a nossa história e os movi-
mentos sociais é de fundamental importância para se entender os pensamentos que in-
fluenciaram as ações implementadas.
UNIDADE Os Avanços e Desafios do Sistema Único de Saúde (SUS)

Contextualização
Não resta qualquer dúvida que o SUS representa uma conquista histórica do Brasil.
Para reflexão, torna-se necessário ter uma compreensão histórica, no âmbito social,
político e econômico dos últimos anos.

Precisamos entender que se de um lado temos os avanços significativos importantes


para a população brasileira, de outros, as dificuldades e desafios que são produtos da si-
tuação socioeconômica e cultural e que necessitam de compromisso dos sujeitos sociais
que, em constantes debates, vêm elaborando saídas para resolução dos problemas que
insurgiram ao longo do tempo.

Para que se tenha um trabalho de qualidade e com envolvimento, é necessário que se


conheça o contexto social e político que envolve os programas de saúde do nosso país.

Na unidade, abordaremos os principais avanços e desafios do SUS, pois conhecer a


nossa história e os movimentos sociais é de fundamental importância para se entender
os pensamentos que influenciaram as ações implementadas.

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Introdução
Nesta última Unidade, vamos conhecer os avanços e desafios do Sistema Único de
Saúde (SUS) nas suas duas décadas de existência. Não resta qualquer dúvida que o SUS
representa uma conquista histórica do Brasil. Para reflexão, torna-se necessário ter com-
preensão histórica, no âmbito social, político e econômico dos últimos anos.
Se de um lado temos avanços significativos importantes para a população brasileira,
de outro temos as dificuldades e desafios que são produtos da situação socioeconômica e
cultural e que necessitam de compromisso dos sujeitos sociais que, em constantes debates,
vêm elaborando saídas para resolução dos problemas que insurgiram ao longo do tempo.
Assim, nossa historia começa com os movimentos sociais que refletiram no pen-
samento de uma determinada época e que influenciaram as ações da população, aca-
baram transformando as condições de vida e modificaram as ações políticas de uma
nação, marcando uma época.
Os movimentos sociais ocasionaram transformações nas ações ligadas à saúde da
população; levando novas propostas para as políticas de saúde, que culminaram com a
queda de um modelo falido e levaram à criação do Sistema Único de Saúde (SUS).
O SUS é definido pelo artigo 198 da Constituição Federal de 1988 como ações e
serviços públicos de saúde que integram uma rede regionalizada e hierarquizada e or-
ganizada de acordo com princípios doutrinários da universalidade (garantia de atenção
à saúde a todo e qualquer cidadão, com acesso a todos os serviços públicos de saúde),
equidade (assegura ações e serviços de todos os níveis de acordo com a complexidade,
sem privilégios e sem barreiras) e integridade (Cada pessoa é um todo indivisível e inte-
grante de uma comunidade e as ações de promoção, proteção e recuperação da saúde
formam também um todo indivisível e não podem ser compartimentalizadas) e com
princípios organizativos da hierarquização (os serviços devem ser organizados em níveis
de complexidade crescente, dispostos numa área geográfica e com definição da popu-
lação atendida), descentralização (redistribuição das responsabilidades quanto às ações
e serviços de saúde entre os vários níveis de governo) e participação dos cidadãos (é a
garantia constitucional de que a população participará do processo de formulação das
políticas de saúde e do controle de sua execução em todos os níveis).

Importante!
Apesar de sua definição ter ocorrido em 1988, sua regulamentação só foi possível em
1990, “com a Lei 8.080 (Lei Orgânica da Saúde) e a 8.142 que dispõe sobre as condições
para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento
dos serviços, como a construção de modelo de atenção instrumentalizado pela epide-
miologia, um sistema regionalizado com base municipal e o controle social”.

O processo de implantação do SUS foi orientado por instrumentos chamados Nor-


mas Operacionais, que definem as competências de cada campo de governo e as con-
dições necessárias para que Estados e Municípios possam assumir as responsabilidades
e prerrogativas dentro do Sistema.

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UNIDADE Os Avanços e Desafios do Sistema Único de Saúde (SUS)

Em 2006, aconteceu o Pacto pela Saúde, movimento este de mudança, que não é
uma norma operacional, mas um acordo interfederativo, que articula o Pacto pela Vida,
o Pacto em Defesa do SUS e o Pacto de Gestão. Este se insere num sentido de gestão
pública por resultados e de responsabilização sanitária, estende a discussão da Saúde
para fora dos limites setoriais e aprofunda a descentralização do SUS para Estados e
municípios de forma compartilhada.

Assim, o SUS é uma política pública jovem; no entanto, tem com capacidade de se reno-
var sempre.

SUS – Avanços a Comemorar


O SUS, apesar do pouco tempo de existência, tem sido capaz de estruturar e con-
solidar um sistema público de saúde de enorme importância e que apresenta resultados
inquestionáveis para a população brasileira.

A extensão dos números e a qualidade de programas abarrotam os avanços conseguidos


e isso pode ser analisado nas perspectivas das estruturas existentes, dos processos de pro-
dução de serviços, dos resultados sanitários e da opinião da própria população brasileira.

O SUS se forma por meio de uma rede de diversos serviços que, com aproximada-
mente de 6 mil hospitais, com mais de 440 mil leitos contratados e 63 mil unidades
ambulatoriais, ainda conta com cerca de 26 mil equipes de saúde da família, 215 mil
agentes comunitários de saúde e 13 mil equipes de saúde bucal, prestando serviços de
atenção primária em mais de 5 mil municípios brasileiros5.

Algumas estruturas e os processos produtivos mostram evoluções muito positivas,


como se pode observar, a partir de exemplos selecionados:
• A evolução das equipes do Programa Saúde da Família (PSF) no período de 1994
a 2006, quando passa de 300 para 26 mil equipes. Cobertura de 78,6 milhões de
habitantes (44,4% da população brasileira);
• O Programa Nacional de Imunizações (PNI), que tem 33 anos de existência, é um
programa exitoso. A febre amarela e a varíola foram erradicadas. Há mais de uma
década e meia, não se registra nenhum caso novo de poliomielite; há controle da
tuberculose infantil, tétano e muitas doenças prevenidas com vacinação;
• Meta atingida de cobertura vacinal vem superando os índices almejados dos países
desenvolvidos;
• Na saúde mental, no período 1995-2004, dá-se uma queda de 46,43% nas inter-
nações hospitalares e um incremento de 765,67% nos atendimentos psicossociais
ambulatoriais, revelando que a política nacional de desospitalização e humanização
da atenção aos portadores de sofrimento mental;
• O Sistema Nacional de Transplantes, instituído em 1997, é o maior programa público
de transplante de órgãos do mundo. Envolve 555 estabelecimentos de saúde, 1.376
equipes de transplantes e está presente em 23 Estados da federação brasileira;

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• O Programa de Controle do HIV/AIDS é referência internacional, tanto no tratamen-
to, quanto na prevenção. O Brasil adotou uma estratégia que mantém em equilíbrio as
ações de prevenção e assistência, com vantagem comparativa em todos os sentidos.
Isso foi possível graças à combinação de vários fatores: intervenção precoce que con-
tou com ampla participação da sociedade civil, a institucionalização de um programa
nacional, que opera de forma descentralizada, o financiamento com recursos próprios
das ações de prevenção e assistência, sendo a participação de recursos externos da
ordem de apenas 10% do total do financiamento do programa, a política de direitos
humanos inserida em todas as frentes de trabalho e o acesso universal ao tratamento;
• Aumento da esperança de vida dos brasileiros; a taxa de mortalidade infantil caiu
de 31,34 óbitos de menores de 1 ano por mil nascidos vivos para 24,11 em to-
das as regiões do país, sendo este decréscimo maior relativamente nas Regiões
Nordeste e Norte; diminuição da desnutrição infantil; queda de mortalidade por
doenças como diarréia entre outros indicadores;
• Realização de 85% de todos os procedimentos de alta complexidade do país.

Em 2002, foi realizada uma pesquisa nacional de opinião a respeito do SUS pelo
CONASS (por meio do Instituto Vox Populi), que permitiu compreender as percepções
da população brasileira acerca do SUS. A avaliação geral expressa no percentual que
considera que o sistema funciona bem ou muito bem é de 45,2% nos usuários exclusivos
do SUS, 41,6% nos usuários não exclusivos do SUS e 30,3% nos não-usuários.

Você pode acessar a pesquisa completa, disponível em: https://bit.ly/2J8olnE

SUS – Desafios a Superar


Apesar dos avanços do SUS, os problemas persistem e precisam ser enfrentados
para consolidá-lo como um sistema público universal que possa prestar serviços de
qualidade à população brasileira. Dentre os problemas, distinguem-se: o desafio da uni-
versalização; o desafio do financiamento; o desafio do modelo institucional; o desafio do
modelo de atenção à saúde; o desafio da gestão do trabalho; e o desafio da participação
social, conforme serão descritos a seguir.
• Desafio do financiamento: O SUS foi construído com base no princípio principal
da universalização, expresso na Saúde como direito de todos os brasileiros, a ser
provida como dever de Estado. Entretanto, não tem sido possível construir a univer-
salização da Saúde, instituída constitucionalmente;
• Desafio do financiamento: Este pode ser analisado em vários aspectos. O mais
comum é o da insuficiência dos recursos financeiros para se construir um sistema
público universal. Sabe-se que se gasta pouco e mal em Saúde no país, especial-
mente no que dizer respeito ao gasto público. O desafio do financiamento na Saúde
tem de ser enfrentado tanto na quantidade como na qualidade do gasto. Haverá de
se aumentar o gasto em Saúde, como também melhorar sua qualidade;

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UNIDADE Os Avanços e Desafios do Sistema Único de Saúde (SUS)

• Desafio do modelo institucional: “O Brasil é um país federativo e, por essa razão,


o modelo institucional do SUS foi construído para ser operado pela trina federativa.
Os entes federados mantêm, entre si, diretamente ou pela mediação de instituições
de gestão compartilhada e de controle social, complexas inter-relações”.

O modelo institucional do SUS tem sido considerado uma prática de governo de êxito
de políticas públicas, tanto que tem servido de modelo para outros setores governamentais,
como os de segurança pública e assistência social. No entanto, há desafios a superar, como
a crise do federalismo fiscal e as suas repercussões na Saúde, além do modelo descentrali-
zador adotado na Saúde;
• Desafio do modelo de atenção à saúde: O modelo de atenção à saúde do SUS
é semelhante a quase todos os sistemas de saúde universais, por ser voltado para
o atendimento às condições agudas e não presta para responder, com eficiência
e efetividade, a uma situação epidemiológica marcada pelo predomínio das con-
dições crônicas. O modelo de atenção à saúde do SUS vive, portanto, uma grave
crise, representada pela incoerência entre a situação de saúde do Brasil e a resposta
social organizada para responder a essa situação. Esse desafio só será superado por
uma mudança no modelo de atenção à saúde vigente no sistema público brasileiro;
• Desafio da gestão do trabalho: Apresentar essa discussão para o campo da
Saúde é um desafio, vez que se trata de uma área multi e interdisciplinar que com-
preende diversas atividades que vão desde a produção até serviços que abrangem
a indústria de equipamentos e medicamentos, prestação de serviços médicos, em
nível hospitalar, ambulatorial ou de unidades de saúde, produção de conhecimento
e informação. Ainda, o foco principal dessas atividades são as pessoas e, portanto,
o processo de trabalho é pautado na relação entre as pessoas. Há necessidade de
implantação de redes de atenção com obediência a uma hierarquia de princípios,
de uma gestão das relações de trabalho com aplicação de modelo tecnológico de
trabalho, no qual o trabalhador possa ter qualificação profissional, gerando autono-
mia e criatividade;
• Desafio da participação social: A expressão “Participação Social” surgiu e foi am-
plamente assumida no âmbito do SUS a partir da aprovação da Lei n. 8.142/1990,
que dispõe sobre os conselhos e conferências de saúde e a expressão “partici-
pação da comunidade”, que consta da Constituição Federal (art. 198) e da Lei
n. 8.080/1990 (art. 7º), é parte desse contexto, no âmbito dos princípios e diretri-
zes do SUS. Sabe-se que participação da comunidade assinala para a formulação
de estratégias de democratização do setor público de saúde. A capacidade da so-
ciedade de criar, construir e implementar as várias formas de participação guarda
relação direta com o grau de consciência política, de organização e de mobilização
da própria sociedade.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Leitura
SUS – avanços e desafios
Conselho Nacional de Secretários de Saúde
https://bit.ly/31JUc4h

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UNIDADE Os Avanços e Desafios do Sistema Único de Saúde (SUS)

Referências
ALEXANDRE, L. B. S. P. Os avanços e desafios do SUS nas duas décadas de existên-
cia. In: AGUIAR, Z. N. SUS: Sistema Único de Saúde – antecedentes, percurso, pers-
pectivas e desafios. São Paulo: Martinari, 2011.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Política nacional de


promoção da saúde / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde. – Brasília:
Ministério da Saúde, 2006. 60p. (Série B. Textos Básicos de Saúde).

ALMEIDA, E. S. Distritos sanitários: concepção e organização, volume 1. Série Saúde


& Cidadania. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública de São Paulo, 1998. Disponível
em: <www.http://www.saude.sc.gov.br/gestores/sala_de_leitura/saude_e_cidadania/
ed_01/02.html>.

BRASIL. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Para entender a gestão do


SUS / Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Brasília: CONASS, 2003.

________. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. SUS: avanços e desafios./


Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Brasília: CONASS, 2006.164p.

________. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. A saúde na opinião dos brasi-


leiros. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Brasília (DF): Conas, 2003.

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